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ARTIGO
Ariana Kelly Leandra Silva da Silva
Universidade Federal do Pará (UFPA)
Resumo
O artigo discute a Diversidade Sexual e de Gênero enquanto possibilidade
de construção de sujeitos sociais críticos, que reproduzam em sociedade
uma nova mentalidade em relação à orientação sexual, dirimir o
preconceito e encontrar mecanismos para que a violência de gênero seja
mitigada. O objetivo é ponderar sobre a construção do sujeito crítico e
participante em sociedade. O método de pesquisa é a análise qualitativa
sobre o tema. Os resultados apontam à reflexão filosófica sobre estigmas da
sexualidade humana. Concluímos informando que a educação de gênero e
diversidade é um caminho eficaz para suscitar debates em torno da
negatividade do preconceito sexual e que relações de poder em sociedade
possam ser reexaminadas como decorrência de um país mais harmonioso
socialmente.
Palavras-
Palavras-chave: diversidade; sexualidade; gênero; construção social.
Abstract
The article discusses the Sexual and Gender Diversity as a possibility of
building critical social subjects, which reproduce a new mentality in society
in relation to sexual orientation, dispel prejudice and find ways that gender
violence is mitigated. The goal is to ponder the construction of critical
subject and participant in society. The research method is qualitative
analysis on the subject. The results point to the stigma of philosophical
reflection on human sexuality. He concluded by stating that education and
gender diversity is an effective way to provoke discussion around the
negativity of sexism and power relations in society can be reviewed as a
result of a more socially harmonious.
Keywords:
Keywords diversity; sexuality; gender; social construction.
Resumen
El artículo aborda la diversidad sexual y de género como una posibilidad de
la construcción de sujetos sociales críticos, que reproducen una nueva
mentalidad en la sociedad en relación con la orientación sexual, disipar
prejuicios y encontrar mecanismos de la violencia de género se mitiga. El
objetivo es reflexionar sobre la construcción de sujetos y participante
fundamental en la sociedad. El método de investigación es un análisis
Palabras clave
clave:
lave: diversidad; sexualidad; género; construcción social.
intolerância de tal forma que possamos de poder que perpetuam violências e regras
orientar a capacidade cognitiva e formativa sociais específicas, como os padrões culturais
do ser humano para que, finalmente, seja um “heterossexuais”, a saber: o Casamento, a
indivíduo eminentemente humano. Reitero Família Tradicional, o sexo “apenas” entre
dizendo que o ser humano precisa se pessoas de gêneros opostos e demais formas
“humanizar”, conhecer direitos, desenvolver de padronização de comportamentos sexuais
aspectos sociais da vida cidadã, manifestar e sociais.
suas inquietudes e conquistar referências de Ressignificar valores como a ética, o
respeito mútuo, especialmente entre as respeito mútuo e atitudes práticas de
chamadas minorias sociais5. combate às delimitações e estereótipos de
É inconcebível que no Sistema "masculinidade" e "feminilidade", são
Educacional não façamos tamanha discussão. possibilidades educacionais necessárias para
A própria Escola enquanto Instituição precisa que os comportamentos citados sejam
aprimorar conhecimentos e compreender que revistos e (re) avaliados na vida social e
a sociedade é dinâmica, que caminha em cultural, e, finalmente, as rotulações e as
constante transformação histórica e que os imposições ideológicas e simbólicas entrem
aclamados processos educacionais baseados em debate. O aprendizado da liberdade
na Teoria da Educação necessitam de práxis humana "está dentro da cabeça” 6, como diria
social – sem "pragmatismos" forçados – para o poeta. Não vamos longe: não é à toa que
que ações concretas, eficazes, de diálogos e Marta7, no “país do futebol” masculino – leia-
reconhecimentos de que podemos – e se Brasil – é a melhor jogadora de futebol do
devemos – transmutar o desnivelamento Planeta, pelo quinto ano consecutivo,
social, cultural e simbólico que ainda "habita" quebrando um "paradigma", confundindo a
o ensino brasileiro (assim como o todo social) regra da coerção dos fatos sociais de
sejam de fato, fatos. "normalidade" apenas com o seu "talento
Nesse contexto, o processo que deve natural" e, a partir de fatos como esse, como
ser iniciado começa por mudanças de valores num “ponta pé”, é urgente que a abertura de
sociais que se mostrem conservadores, com a discussões seja analisada em torno das
“quebra” de paradigmas que reproduzam relações de gênero e dos preconceitos
preconceitos e que devem ser conquistados velados – e anunciados – na Sociedade
através de modificações profundas das Brasileira.
estruturas estruturantes, como diria Bourdieu
(2003), englobando a sociedade em longo 2. Preconceito
Preconceito enquanto dinâmica social
prazo, sendo inegável o sintoma das relações
O entendimento sobre preconceito é
algo dinâmico, pois envolve relações de poder
5 “Numa sociedade global uma minoria é uma
em diversas instâncias: sociais, políticas,
sociedade particular caracterizada por aspirar a um
modo de viver próprio que a distingue do conjunto e econômicas, culturais, simbólicas e também o
que, de certo modo, a põe à parte. Uma minoria não que aprendemos a conceituar por "raça" ou
está necessariamente afastada ou isolada da sociedade
nacional. É por isso que nem sempre se identifica com
um grupo marginal e não é necessariamente objeto de 6 Música: “Liberdade Pra Dentro Da Cabeça” – Grupo:
segregação. Uma minoria constitui-se como Natiruts - Composição: Alexandre Carlo. Letra:
coletividade ou comunidade particular na base da raça, “Liberdade Prá dentro da cabeça... Desigualdades que a
da língua, da religião ou de um gênero de vida e de luta, A fim de encontrar, A liberdade e a paz, Que a
cultura muito diferentes do resto do país ou conjunto. alma precisa ter...”.
7
Deste modo se criam ligações afetivas e afinidades que Marta Vieira da Silva, mais conhecida como Marta
tendem a afastar este grupo do resto da população (Dois Riachos, 19 de fevereiro de 1986), é uma
ainda que ele se encontre disperso” (Dicionário de futebolista brasileira que joga como atacante. Hoje,
Ciências Sociais Alain Birou, Publ. D. Quixote, nº5, atua na Suécia. Melhor jogadora do mundo pela FIFA:
Lisboa 1982). 2006, 2007, 2008, 2009 e 2010.
de todas as observações e estranhamentos seja tratada como uma prática social pela
sociais, partindo do pressuposto que a Instituição Escola.
interpretação dos modos de ser e de agir As relações de gênero, de separações
sociais é dinâmica, deve suscitar o históricas entre "meninos" e "meninas" e que
pensamento crítico, englobando atitudes ainda hoje causam polêmicas dentro das
coerentes para que mais e mais violências escolas são atitudes conservadoras que
sejam evitadas. refletem a quase inexistência de um debate
Existem variadas formas de ver o que problematize determinados
"Outro10", de compartilhar experiências comportamentos que são incompreensíveis
culturais diferentes, de compreender na Pós-Modernidade. O que mais maltrata o
universos sociais, sexuais, políticos e ser humano que sofre alguma forma de
econômicos baseados em relações humanas opressão é a "naturalização" de determinadas
de tolerância, respeito, amizade, "marcas" – estigmas – que deixam profundas
solidariedade e cidadania no que tange ao cicatrizes sociais, causando transtornos na
pleno reconhecimento de que é preciso saúde mental – emocional/sentimental – do
conquistar a igualdade partindo da garantia indivíduo afetado, e por essa razão
de “ter direito” à diferença, de ser diferente, precisamos debater diuturnamente as
de introduzir um diálogo amplo, sincero, relações sociais apontadas para que
aberto, amoroso, concreto e sem estigmas, consigamos naturalizar, entre todos e todas, o
que normalmente estão baseados em respeito, a dignidade e a tolerância humana.
preconceitos absolutamente intolerantes, ou Quando falamos em Direitos
como diria Vera Candau (2008: 5): “É Humanos12, Sexualidade, Preconceito,
necessário garantir a igualdade a partir do Discriminação, "Normalidade",
reconhecimento da diferença e, "Anormalidade", o que é ou não é natural
consequentemente, do respeito a ela”. Desse entre duas pessoas na sua vida amorosa ou
modo, a pedofilia, a homofobia11, as inúmeras afetiva, nos remetemos a complexas formas
violências no espaço escolar, o preconceito de apropriação da sexualidade. No entanto,
social e outras formas latentes de "relações discutir a Sexualidade implica também discutir
anômicas" na sociedade, de rompimento com sexo, amor, respeito, tabu, IST's – Infecções
o que é eminentemente "humano", de perda Sexualmente Transmissíveis –, gravidez,
de identidades sociais que contribuem para a preservativo e uma série de conceitos que
guetização das ditas "minorias", são assuntos tem um caráter multitransversal e que,
que devem ser abordados em sala de aula de lamentavelmente, a grade curricular do
forma interdisciplinar para que a diversidade Sistema de Ensino Brasileiro caminha a passos
lentos na consolidação dos mesmos, ou por
10
A concepção Geertziana a respeito do Outro, falta de programas adequados ou porque
significa o modo de pensar o mundo do nativo, daquilo
talvez não encontre "necessidade" para os
que Clifford Geertz (2000: 87) chamou de “experiência
próxima”, qual seja, a vivência peculiar de um grupo assuntos em questão, afinal, são situações
local. O antropólogo norte americano também que podem trazer à tona a "orientação
convocava os sujeitos sociais a conhecerem a si sexual" dos sujeitos sociais in loco e que, por
mesmos antes de estranharem o Outro: o preconceitos diversos, permanecem
comportamento cultural de diversos povos nas
"secretos" no obscurantismo da
inúmeras sociedades humanas.
11
A homofobia (homo= igual, fobia=do Grego φόβος
12
"medo"), é um termo utilizado para identificar o ódio, a Os Direitos Humanos são os direitos e liberdades
aversão ou a discriminação de uma pessoa contra básicos de todos os seres humanos. Normalmente o
homossexuais e, consequentemente, contra a conceito de direitos humanos tem a idéia também de
homossexualidade, e que pode incluir formas sutis, liberdade de pensamento e de expressão, e a
silenciosas e insidiosas de preconceito e discriminação igualdade perante a lei. Fonte:
contra homossexuais. Fonte: http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_i
http://pt.wikipedia.org/wiki/Homofobia nter_universal.htm
cidadãos não as conhecem e mesmo para nossas teorias, monografias, textos, artigos e
uma faixa etária inicial, é necessário discutir, sem medo, todos os aspectos da
contextualizar o discurso e demonstrar a elas Sexualidade e assim contribuir para a
e eles que a Orientação Sexual e a disseminação do respeito, do amor mútuo e
Sexualidade são garantias de todo cidadão e com a diminuição das violências na Escola e
que a busca da Cidadania, da Sexualidade e também dos espaços que estão fora de seus
do Respeito implica a discussão dos mesmos. muros.
A sexualidade é uma reflexão que ainda Joan Scott (2009) reflete a realidade
é uma espécie de "tabu" e que remete muito social que, ao longo do processo de
mais o lado "reprodutivo", do "papel da constatação humana da categoria "gênero",
procriação", dos métodos anticoncepcionais, amadurece a discussão em torno do conceito,
do combate à natalidade, do que antes visto como sinônimo de "mulheres",
propriamente ao exercício de "feminismo", "marxismo", mas que, na
autoconhecimento, do respeito ao outro e da verdade, formulam construções de sujeitos
"significação" do que vem a ser "sexo", sociais que simbolizam, significam e
"sexualidade", "prazer", "HIV", "hetero ou contextualizam categorias que legitimam as
homo", "orientação sexual" (conforme reza o relações de gênero que hoje conhecemos:
PCN), assim como uma infinidade de
conceitos que fazem parte do cenário do que A linguagem é o centro da teoria
lacaniana; é a chave do acesso da criança
conhecemos por "Sexualidade", de maneira
à ordem simbólica. Através da linguagem
ampla. a identidade de gênero é construída.
Discutir a sexualidade é discutir a vida Segundo Lacan, o fato é o significante
(direito fundamental do ser humano central da diferença sexual, mas o sentido
garantido por Lei). É discutir o preconceito do falo tem que ser lido de forma
metafórica [...]. O princípio de
sexual, a violência contra a orientação sexual
masculinidade baseia-se na repressão
"homo", a discriminação, a exclusão de necessária dos aspectos femininos – do
grupos ditos "minoritários" (e que, na potencial bissexual do sujeito; e introduz
verdade, compostos por um sem número de o conflito na oposição entre o masculino
pessoas) e, especialmente, é discutir o amor e o feminino. Desejos reprimidos estão
presentes na unidade e subvertendo sua
ao outro, o respeito, o ser tolerante e,
necessidade de segurança. Ademais, as
sobretudo, conviver em harmonia com todos idéias conscientes do masculino e do
os grupos e sujeitos sociais que compõe a feminino não são fixas, já que elas variam
grande massa de cidadãos-trabalhadores que segundo os usos do contexto [...]. Essa
foram culturalmente "educados" sob a pecha interpretação implica também que o
sujeito se encontra num processo
do machismo, do behaviorismo e de nuances
constante de construção e oferece um
que, ao contrário de combater o ódio social meio sistemático de interpretar o desejo
contra o que a sociedade intitula de consciente e inconsciente, referindo-se à
"diferente" ou "anormal", aprofunda ainda linguagem como um lugar adequado para
mais a reprodução do preconceito e da falta a análise. Enquanto tal, considero-a
de informação que condiciona o "padrão" instrutiva (Scott, 2009, p. 10-11).
coercitivo que culminam nos fatos da
discriminação social e da negligência A desconstrução do preconceito contra
intelectual e política e que na, verdade, mulheres, negros e negras, homossexuais,
precisam de uma "libertação social" que tanto pobres, indígenas, sem-terra e despossuídos é
buscamos e que, por vezes, nos acomodamos um fato a ser construído. A exclusão social
por motivos diversos. atinge, especialmente, o gênero "mulher" que
O exercício do conhecimento começa ainda grita por condições de "igualdade"
através da socialização do mesmo. Devemos sociopolítica e humana. O contexto social da
por em prática o nosso aprendizado, as Educação é uma das vias de acesso ao
vida sexual – e humana –está coadunado com estatais, na formulação da lei, nas
a conformação familiar, escolar, pessoal, hegemonias sociais (1993, p. 88-89).
pública, privada, de abstração da realidade e
da concretização de atitudes de combate à Desse modo, a construção da
discriminação, como atua o Movimento LGBT sexualidade é diária. Constante. Contra todas
Brasileiro que luta pelo direito à livre as formas de poder, de discriminação, de
expressão e por Direitos Humanos, assim preconceitos, de (i) legitimidade sexual e de
como da idéia do que vem a ser sexo (prática imposições culturais, que devem ser
sexual), o sexo do corpo (gênero e fisiologia), analisadas na Escola (e na sociedade) de
a identidade de gênero (quem eu sou na maneira clara, objetiva, madura, rotineira,
sociedade), a orientação sexual (condição sem medos ou valores tradicionais para que
biossocial), e também, o significado cultural e possamos por em prática todo o conteúdo
político de visibilidade dessa construção de teórico que adotamos como significante da
sujeitos históricos, logo, sujeitos políticos e vida social e, assim, ter alunos e alunas,
comprometidos com a dinâmica social, que cidadãos e cidadãs, realmente livres de toda
deve ser exercitada também, na Escola (assim forma de discriminação.
como em toda a construção da vida
cotidiana), que levante a bandeira contra toda 5. Direitos Humanos e Sexuais na Diversidade:
Diversidade:
forma de dominação ideológica e hegemônica Considerações Finais
de poder, como diria Michel Foucault (1993)
em "História da Sexualidade I: A Vontade de A regulação da sexualidade através de
Saber": normas jurídicas, de políticas de cuidado com
a saúde, com programas juvenis de
Dizendo poder, não quero significar 'o aconselhamento familiar para mães e pais
poder', como um conjunto de instituições jovens, a realidade de Infecções Sexualmente
e aparelhos garantidores da sujeição dos Transmissíveis (IST's e AIDS) e a deflagração
cidadãos em um estado determinado. de direitos reprodutivos e sexuais demarcam
Também não entendo poder como um
modo de sujeição que, por oposição à
sobremaneira o que a sociedade brasileira
violência, tenha a forma de regra. Enfim, adotou como "regulamentação" a fim de
não o entendo como um sistema geral de estabelecer linhas de ação nas políticas
dominação exercida por um elemento ou públicas na área da saúde (Lei do SUS -
grupo sobre o outro e cujos efeitos, por 8080/90) e na área jurídica (Direitos
derivações sucessivas, atravessem o
corpo social inteiro. A análise em termos
Humanos).
de poder não deve postular, como dados A sexualidade juvenil é uma questão
iniciais, a soberania do Estado, a forma da que necessita de discussão acerca do
lei ou a unidade global de uma contexto social em que jovens das diversas
dominação; estas são apenas e, antes de classes sociais estão inseridos, através de
mais nada, suas formas terminais. Parece-
me que se deve compreender o poder,
fatos, valores morais e éticos, práticas
primeiro, como a multiplicidade de culturais, visões de mundo locais e globais,
correlações de forças imanentes ao grupos de pertença e construção de
domínio onde se exercem as constitutivas personalidades que possam vir a identificar o
de sua organização; o jogo que, através "homem" e a "mulher" em torno da garantia
de lutas e afrontamentos incessantes as
transforma, reforça, inverte; os apoios
de sua própria vida sexual, que é diversa, qual
que tais correlações de força encontram seja: hetero, homo, bi ou transexual.
umas nas outras, formando cadeias ou Muitas práticas sociais que violam
sistemas ou ao contrário, as defasagens e direitos humanos podem ter indícios nos
contradições que as isolam entre si; processos de segregação social em que
enfim, as estratégias em que se originam
e cujo esboço geral ou cristalização
homens e mulheres com menor poder
institucional toma corpo nos aparelhos aquisitivo (e de poder) estão sujeitos e são