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A BATALHA DE
GOGUE E MAGOGUE
UMA INTERPRETAÇÃO DE
EZEQUIEL 38 & 39
EBOOK - 1ª EDIÇÃO - 2015
Traduzido do original em inglês: “An Interpretation of Ezekiel 38 &
39”- Série de Artigos Pre-Trib Research Center
El Cajon, CA 92021 – EUA.
Tradução: Jamil Abdalla Filho Revisão: Sérgio Homeni, Ione Haake,
Célia Korzanowski Edição: Arthur Reinke
Capa e Layout: Roberto Reinke Passagens da Escritura segundo a
versão Almeida Revisada e Atualizada – (SBB), exceto quando
indicado em contrário: Nova Versão Internacional - NVI, Almeida
Corrigida e Revisada Fiel – ACF ou Almeida Revista e Corrigida –
ARC.
Todos os direitos reservados para os países de língua portuguesa.
Copyright 2015 Actual Edições
Ebook ISBN - 978-85-7720-113-6
R. Erechim, 978 – B. Nonoai
90830-000 – PORTO ALEGRE – RS/Brasil Fones (51) 3241-5050 e
0300 789.5152
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ÍNDICE
Introdução
1. Real ou Apenas Imaginário?
2. Ezequiel 38.1-2
3. Ezequiel 38.2
4. Ezequiel 38.2 (cont. 1)
5. Ezequiel 38.2 (cont. 2)
6. Ezequiel 38.2-4
7. Ezequiel 38.4
8. Ezequiel 38.4 (cont.)
9. Ezequiel 38.5-6
10. Ezequiel 38.6
11. Ezequiel 38.7-8
12. Ezequiel 38.8
13. Ezequiel 38.8-9
14. Ezequiel 38.10-12
15. Ezequiel 38.12-13
16. Ezequiel 38.13-16
17. Ezequiel 38.17-19
18. Ezequiel 38.20-23
19. Ezequiel 39.1-3
20. Ezequiel 39.4-6
21. Ezequiel 39.7-10
22. Ezequiel 39.11-13
23. Ezequiel 39.17-20
24. Vários Pontos de Vista
25. Vários Pontos de Vista – (continuação 1)
26. Vários Pontos de Vista – (continuação 2)
27. Vários Pontos de Vista – (continuação 3)
28. Armagedom?
29. No Fim do Milênio?
30. Ezequiel 38 e 39 - Resumindo
INTRODUÇÃO
NOTAS
1
Ralph H. ALEXANDER, “A Fresh Look at Ezekiel 38 and 39”,
publicado no Journal of The Evangelical Theological
Society, vol. 17 (edição de verão, 1974), p. 157.
2
Simon J. KISTEMAKER, “Revelation”, in: New Testament
Commentary, , Grand Rapids: Baker, 2001, p. 43.
3
D. Brent SANDY, Plowshares & Pruning Hooks: Rethinking
the Language of Biblical Prophecy and Apocalyptic,
Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 2002.
4
Sandy, Plowshares, p. 197.
5
Sandy, Plowshares, p. 203.
6
Sandy, Plowshares, p. 206.
7
Sandy, Plowshares, p. 250, nota de rodapé 14.
8
Jon Mark RUTHVEN, The Prophecy That Is Shaping History:
New Research on Ezekiel’s Vision of the End, Fairfax, VA:
Xulon Press, 2003, p. 30.
9
Mark HITCHCOCK, Iran The Coming Crisis: Radical Islam, Oil
And The Nuclear Threat, Sisters, OR: Multnomah, 2006, p.
178.
10
Gary DEMAR, “Ezekiel’s Magog Invasion: Future or
Fulfilled?”, publicado no periódico Biblical Worldview
Magazine, vol. 22, edição de dezembro de 2006, p. 5.
11
Gary DEMAR, End Times Fiction: A Biblical Consideration of
the Left Behind Theology, Nashville: Thomas Nelson, 2001,
p. 12-15.
12
Tim LAHAYE e Jerry JENKINS, Left Behind: A Novel of the
Earth’s Last Days, Wheaton, IL: Tyndale, 1995, p. 9-15.
13
Arnold FRUCHTENBAUM defende este ponto de vista em seu
livro The Footsteps of the Messiah: A Study of the
Sequence of Prophetic Events, Tustin, CA: Ariel Ministries,
2003 p. 106-125.
14
Esse ponto de vista é defendido por Dave HUNT no livro How
Close Are We?, Eugene, OR: Harvest House,1992.
2. EZEQUIEL 38.1-2
“FILHO DO HOMEM...”
Ao longo de todo o seu livro, Ezequiel é
denominado de “filho do homem”. A expressão
“filho do homem” é usada 93 vezes no livro de
Ezequiel em referência ao próprio profeta e sua
primeira menção ocorre em Ezequiel 2.1. Por que
Ezequiel é chamado por Deus de “filho do homem”
tantas vezes nas ocasiões em que estava para
receber alguma revelação da parte do Senhor?
Parece que o termo “filho do homem” ressalta sua
humanidade em relação a Deus. Em outras
palavras, Deus é o Revelador enquanto Ezequiel, na
condição de ser humano, é o receptor da
mensagem divina que deve transmitir aos outros
seres humanos. Dessa forma, Ezequiel nos
transmite a infalível profecia desses dois capítulos,
a qual certamente há de se cumprir.
A TERRA DE MAGOGUE O
TEXTO BÍBLICO AFIRMA QUE
GOGUE, O COMANDANTE DA
INVASÃO À TERRA DE
ISRAEL, É “DA TERRA DE
MAGOGUE”. O NOME
PRÓPRIO MAGOGUE OCORRE
QUATRO VEZES NO TEXTO
HEBRAICO DO ANTIGO
TESTAMENTO.[13] O TERMO
MAGOGUE É USADO DUAS
VEZES NESSA PASSAGEM QUE
É OBJETO DE NOSSA
ANÁLISE (EZ 38.2; 39.6)
E OCORRE DUAS VEZES NAS
GENEALOGIAS (GN 10.2 1CR
1.5). O TEXTO DE GÊNESIS
10.2 DECLARA: “OS FILHOS
DE JAFÉ SÃO: GOMER,
MAGOGUE, MADAI, JAVÃ,
TUBAL, MESEQUE E TIRAS”. A
PASSAGEM DE 1 CRÔNICAS
1.5 É BASICAMENTE UMA
REPETIÇÃO DA INFORMAÇÃO
GENEALÓGICA PROVENIENTE
DE GÊNESIS 10.2. O FATO
DE MAGOGUE OCORRER NA
TABELA DAS NAÇÕES (CF.
GÊNESIS 10)[14]
PROPORCIONA A BASE PARA
SE MAPEAR O DESLOCAMENTO
DE UM DOS MAIS ANTIGOS
DESCENDENTES PÓS-
DILUVIANOS DE NOÉ.
Parece que Ezequiel usa os nomes dos povos
originalmente mencionados na tabela das nações,
relacionando esses povos ao lugar em que viviam
no sexto século a.C., época esta em que a profecia
de Ezequiel foi enunciada. Dessa forma, se
conseguirmos desvendar onde esses povos se
localizavam no sexto século a.C., seremos capazes
de desvendar quem seriam seus atuais
descendentes. Creio que conseguiremos cumprir
esse objetivo, a fim de sabermos quem estará
envolvido nessa batalha, caso esta ocorra em nossos
dias.
É honesto de nossa parte dizer que muitos
estudiosos da Bíblia e especialistas nas profecias
identificariam os descendentes de Magogue com o
antigo povo que conhecemos pelo nome de Citas.
Chuck Missler comenta que uma vasta coletânea de
historiadores antigos “identificou Magogue com os
Citas que habitavam o sul da Rússia no século 7
a.C.”.[15] Entre esses antigos historiadores estão:
Hesíodo, Josefo, Philo e Heródoto.[16] Josefo viveu
no primeiro século d.C. e declarou: “Magogue deu
origem aos “Magogueanos”, assim chamados por
causa dele, mas denominados de Citas pelos
gregos”.[17] Bauman nos diz que, depois do
Dilúvio, Magogue e seus descendentes devem ter
emigrado para o norte e que “os Magoguitas se
desdobraram em duas raças distintas; uma Jafeíta
ou européia e outra Turaniana ou asiática”.[18]
Quem eram os Citas? Edwin Yamauchi
menciona que os Citas se dividiram em dois
grupos; um mais estrito e outro mais amplo. “No
sentido estrito, os Citas eram as tribos que viveram
na região denominada por Heródoto de Citia (i.e.,
aquele território situado ao norte do mar Negro)”,
comenta Yamauchi. “No sentido mais amplo, o
termo ‘Citas’ pode se referir a algumas das muitas
outras tribos que habitavam nas vastas estepes da
Rússia, estendendo-se da Ucrânia no oeste até a
região da Sibéria no leste”.[19]
NOTAS
1
Ralph ALEXANDER, Ezekiel, Chicago: Moody Press, 1976, p.
118.
2
Francis BROWN, S. R. DRIVER, e C. A. BRIGGS, Hebrew and
English Lexicon of the Old Testament, Londres: Oxford,
1907, edição eletrônica.
3
Baseado na pesquisa feita pelo programa de computador
Accordance, versão 6.4.
4
Mark HITCHCOCK, After The Empire: Bible Prophecy in Light
of the Fall of the Soviet Union, Wheaton, IL: Tyndale House
Publishers, 1994, p. 16.
5
Charles Lee FEINBERG, The Prophecy of Ezekiel, Chicago:
Moody Press, 1969, p. 220.
6
FEINBERG, Ezekiel, p. 220.
7
HITCHCOCK, After The Empire, p. 17.
8
Louis S. BAUMAN, Russian Events in the Light of Bible
Prophecy, Nova York: Fleming H. Revell, 1942, p. 23.
9
BAUMAN, Russian Events, p. 26.
10
HITCHCOCK, After The Empire, p. 17.
11
Hal LINDSEY, The Late Great Planet Earth, Grand Rapids:
Zondervan Publishing House, 1970, p. 63.
12
Arnold FRUCHTENBAUM, Footsteps of the Messiah: A Study of
the Sequence of Prophetic Events, Tustin, CA: Ariel Press,
(1982) 2003, p. 106.
13
Baseado na pesquisa feita pelo programa de computador
Accordance, versão 6.4.
14
A tabela das nações é um termo usado para descrever o
registro dos descendentes de Noé e de seus três filhos:
Sem, Cam e Jafé. Todo ser humano que se encontra no
planeta Terra descende de Noé e de seus três filhos. Se
conseguíssemos traçar nossa genealogia, a ponto de
retroceder ao máximo no registro, constataríamos que
todos nós descendemos de Noé através de Sem, ou de
Cam, ou de Jafé.
15
Chuck MISSLER, The Magog Invasion, Palos Verdes, CA:
Western Front, 1995, p. 29.
16
MISSLER, Magog Invasion, p. 29-31.
17
Flavius JOSEPHUS, Antiquities of the Jews, vol. 1, vi, i, citado
por HITCHCOCK na obra After The Empire, p. 19.
18
BAUMAN, Russian Events, p. 23.
19
Edwin M. YAMAUCHI, Foes from the Northern Frontier, Grand
Rapids: Baker, 1982, p. 62.
3. EZEQUIEL 38.2
NOTAS
1
Mark HITCHCOCK, After The Empire: Bible Prophecy in Light
of the Fall of the Soviet Union, Wheaton, IL: Tyndale House
Publishers, 1994, p. 23.
2
Gary DEMAR, Last Days Madness: Obsession of the
Modern Church, Powder Springs, GA: American Vision,
1999, p. 363.
3
DEMAR, Last Days Madness, p. 363. Citação extraída da
obra de Edwin M. YAMAUCHI intitulada Foes from the
Northern Frontier: Invading Hordes from the Russian
Steppes, Grand Rapids: Baker Book House, 1982, p. 20.
4
DEMAR, Last Days Madness, p. 365.
5
C. Marvin PATE e J. Daniel HAYS, Iraq-Babylon of the End
Times?, Grand Rapids: Baker Books, 2003, p. 69.
6
PATE e Hays, Iraq, p. 136.
7
Francis BROWN, S. R. DRIVER, and C. A. BRIGGS, Hebrew and
English Lexicon of the Old Testament, Londres: Oxford,
1907, edição eletrônica.
8
Baseado em pesquisa realizada através do programa de
computador Accordance, versão 6.4.
9
C. F. KEIL, Ezekiel, Daniel, Commentary on the Old
Testament, traduzido por James Martin, reimpressão,
Grand Rapids: Eerdmans Publishing Company, 1982, p.
159. Wilhelm GESENIUS, Gesenius’ Hebrew-Chaldee
Lexicon to the Old Testament, reimpressão, Grand Rapids:
Eerdmans Publishing Company, 1949, p. 752.
10
GESENIUS, Lexicon, p. 752.
11
Clyde E. BILLINGTON, Jr., “The Rosh People in History and
Prophecy (Part One)”, publicado no periódico Michigan
Theological Journal 3:1, edição de primavera, 1992, p. 62-
63.
12
As antigas traduções gregas elaboradas por Símaco e
Teodócio também traduziram o termo hebraico ro’sh,
mencionado em Ezequiel 38–39, por um nome próprio.
BILLINGTON, “The Rosh People in History and Prophecy (Part
One)”, p. 59.
13
Clyde E. BILLINGTON, Jr., “The Rosh People in History and
Prophecy (Part Two)”, publicado no periódico, Michigan
Theological Journal 3:1, edição de primavera, 1992, p. 54-
61.
14
James D. PRICE, “Rosh: An Ancient Land Known to Ezekiel”,
publicado no periódico Grace Theological Journal 6:1,
1985, p. 88.
15
PRICE, “Rosh: An Ancient Land”, p. 88.
16
BILLINGTON, “The Rosh People in History and Prophecy (Part
One)”, p. 60.
4. EZEQUIEL 38.2
(CONT. 1) “FILHO DO
HOMEM, VOLVE O
ROSTO CONTRA GOGUE,
DA TERRA DE
MAGOGUE, PRÍNCIPE DE
RÔS, DE MESEQUE E
TUBAL; PROFETIZA
CONTRA ELE”.
EVIDÊNCIAS HISTÓRICAS E
GEOGRÁFICAS QUE
IDENTIFICAM RÔS COM A
RÚSSIA CLYDE BILLINGTON
ESCREVEU UMA SÉRIE DE
TRÊS ENSAIOS ACADÊMICOS
PARA UM JORNAL TEOLÓGICO
NOS QUAIS APRESENTA
VASTA EVIDÊNCIA
HISTÓRICA, GEOGRÁFICA E
TOPONÍMICA[6] DE QUE O
NOME RÔS [DO HEB. RO’SH]
NÃO SOMENTE DEVE SER,
MAS REALMENTE É
IDENTIFICADO COMO O POVO
RUSSO DA ATUALIDADE.[7]
NA APRESENTAÇÃO DE SUA
PESQUISA ELE INTERAGE
COM OS MELHORES
COMENTÁRIOS E COM AS
MAIS DESTACADAS
AUTORIDADES DE NOSSOS
DIAS. BILLINGTON
COMENTA: “TAMBÉM FICA
CLARO QUE JERÔNIMO, AO
DECIDIR PELA TRADUÇÃO DE
RO’SH COMO UM ADJETIVO
EM VEZ DE UM NOME
PRÓPRIO, BASEOU SUA
DECISÃO NUM ARGUMENTO
AGRAMATICAL, A SABER,
QUE UM POVO DENOMINADO
RO’SH NÃO É REFERIDO NA
BÍBLIA, NEM NOS ESCRITOS
DE JOSEFO”.[8] CONTUDO,
HÁ CONSIDERÁVEL
EVIDÊNCIA HISTÓRICA EM
FAVOR DO FATO DE QUE UM
LUGAR DENOMINADO RO’SH
ERA BEM CONHECIDO NO
MUNDO ANTIGO. AINDA QUE
ESSA PALAVRA OCORRA NUMA
VARIEDADE DE LÍNGUAS,
NAS QUAIS PODEM OCORRER
DIVERSAS FORMAS DE
GRAFIA, É BASTANTE
EVIDENTE QUE O TERMO SE
REFERE AO MESMO POVO EM
QUESTÃO.
Na realidade, é muito provável que o nome
Rôs derive do nome Tiras, mencionado na tabela
das nações, conforme consta em Gênesis 10.2.
Billington ressalta a tendência acádia de suprimir
ou alterar o som da letra “t” no início de um nome,
especialmente se a sonoridade da letra “t” inicial for
seguida pelo som da letra “r”. Se a letra “t” no início
do nome Tiras for suprimida, restará o termo
“Ras”.[9] É coerente que Ras ou Rôs seja
relacionado em Gênesis 10, uma vez que todas as
outras nações referidas em Ezequiel 38.1-6 já
tinham sido alistadas naquele texto. Isso significa
que é errônea a alegação feita por Jerônimo de que
ro’sh não ocorre na Bíblia nem nos escritos do
historiador Josefo. Se Tiras e seus descendentes são
aparentemente o mesmo povo que, mais tarde, veio
a ser denominado de Rôs, pode-se dizer, então, que
Rôs é aludido tanto na tabela das nações quanto nos
escritos de Josefo.
Rôs (ou Ras) é identificado nas inscrições
egípcias como um lugar que já existia em 2600 a.C.
Há uma inscrição egípcia posterior, datada
aproximadamente de 1500 a.C., que se refere a uma
terra chamada Reshu localizada ao norte do Egito.
[10] O nome geográfico Ro’sh (ou seus equivalentes
nos respectivos idiomas) é encontrado pelo menos
vinte vezes em outros documentos da antiguidade.
Ocorre três vezes na Septuaginta (cuja sigla é LXX),
dez vezes nas inscrições do rei Sargão, uma vez no
cilindro de Assurbanipal, dez vezes nos anais de
Senaqueribe e cinco vezes nas inscrições das
tabuinhas ugaríticas.[11] Billington rastreia o povo
de Rôs, desde os seus registros históricos mais
remotos até os dias do profeta Ezequiel, já que tal
povo é mencionado várias vezes durante esse
período histórico.[12]
É evidente que Rôs ou Tiras era um lugar bem
conhecido nos dias de Ezequiel. No século VI a.C.,
época em que Ezequiel escreveu sua profecia,
vários agrupamentos do povo de Rôs viviam numa
região situada ao norte do mar Negro. Ao nos
aproximarmos do século VIII a.C., Billington cita
uma série de referências históricas para demonstrar
que “há evidência sólida de que um dos
agrupamentos do povo de Rôs estava relacionado
com as montanhas do Cáucaso”.[13] Acerca desse
mesmo período de tempo, Billington acrescenta:
“Até existe um documento cuneiforme da época do
reinado do rei assírio Sargão II (o qual governou
entre 722-705 a.C.) que, na verdade, especifica os
nomes de todos os três povos [i.e., Rôs, Meseque,
Tubal] mencionados por Ezequiel nos capítulos 38
e 39”.[14] Billington conclui essa seção de sua
pesquisa histórica da seguinte maneira: Portanto,
nos registros assírios dos séculos IX – VII a.C. há
evidências históricas irrefutáveis em favor da
existência de um povo denominado Rôs/Rashu.
Essas mesmas fontes assírias também mencionam
Meseque e Tubal, nomes estes que aparecem junto
com o nome de Rôs em Ezequiel 38–39. É obvio
que os Assírios tinham conhecimento do povo de
Rôs, assim como Ezequiel os conhecia. Deve-se
salientar que Ezequiel escreveu o Livro de Ezequiel
apenas cerca de 100 anos após a escrita dos textos
assírios que ainda existem e mencionam os povos
de Rôs, Meseque e Tubal.[15]
QUEM É MESEQUE?
Agora, volto-me para tarefa bem mais fácil de
identificar a quem o termo “Meseque” se refere. O
nome “Meseque” ocorre 10 vezes no Antigo
Testamento Hebraico,[13] o que inclui sua primeira
ocorrência na Tabela das Nações (Gn 10.2). Em
Gênesis 10, Meseque é alistado como um dos filhos
de Jafé. A linhagem genealógica de Gênesis 10 se
repete por duas vezes no livro de Crônicas (1Cr
1.5,17). Além das referências feitas no Salmo 120.5
e em Isaías 66.19, as outras ocorrências do nome
Meseque se encontram em Ezequiel (Ez 27.13;
32.26; 38.2,3; 39.1). Todas as referências feitas nos
capítulos 38 e 39 de Ezequiel agrupam “Rôs,
Meseque e Tubal”, tal como acontece no texto de
Isaías 66.19, todavia numa ordem diferente. Mark
Hitchcock diz o seguinte:
Tudo o que se sabe no Antigo Testamento sobre Meseque é que ele
e seus parceiros, Javã e Tubal, negociavam com a antiga cidade de
Tiro, exportando escravos e utensílios de bronze em troca das
mercadorias de Tiro. É só isso que a Bíblia menciona sobre o
Meseque da antiguidade. No entanto, a história antiga tem muito a
nos dizer sobre o povo do Meseque da antiguidade e sua
localização.[14]
QUEM É TUBAL?
O nome “Tubal” ocorre 8 vezes na Bíblia
Hebraica[20] (Gn 10.2; 1Cr 1.5; Is 66.19; Ez 27.13;
32.26; 38.2,3; 39.1). Na tabela das nações (Gn 10.2),
Tubal é identificado como o quinto filho de Jafé e
irmão de Meseque. Como já foi mencionado por
Ross, todas as vezes que a Bíblia faz referência a
Tubal, o nome deste é relacionado junto com o de
Meseque, tal como se verifica em Ezequiel 28.
Alguns mestres da profecia bíblica têm
ensinado que Tubal é a origem da atual cidade de
Tobolsk na Rússia. Esse ponto de vista se tornou
popular por influência da Bíblia de Scofield e de
vários outros catedráticos. Entretanto, como se deu
no caso de Meseque, tal concepção se desenvolveu
a partir da semelhança fonética entre Tubal e
Tobolsk, carecendo, portanto, de um sólido
embasamento histórico. O registro histórico, à
semelhança do que ocorreu com Meseque, indica
que Tubal e seus descendentes imigraram para a
região situada a sudeste do mar Negro onde hoje se
localiza a Turquia. É evidente que os povos de
Meseque e Tubal formaram a base populacional do
país que na atualidade chamamos de Turquia.
Nos dias atuais, a Turquia é considerada um
país secularizado e laico. Contudo, a história da
Turquia revela um país que durante muito tempo
foi dominado pelo islamismo e que, por centenas
de anos, encabeçou o Império Muçulmano. A
Turquia está apenas a um passo de voltar à sua
herança política islâmica, o que proporcionaria
aquele ingrediente que faltava para se aliar com os
outros países muçulmanos que um dia invadirão
Israel. Maranata!
NOTAS
1
Clyde E. BILLINGTON, Jr., “The Rosh People in History and
Prophecy”, Parte 3, Michigan Theological Journal 4:1,
Edição de Primavera, 1993, p. 42-44.
2
BILLINGTON, Op. cit., Parte 3, p. 44.
3
BILLINGTON, Op. cit., Parte 3, p. 48.
4
BILLINGTON, Op. cit., Parte 3, p. 50.
5
BILLINGTON, Op. cit., Parte 3, p. 51.
6
Edwin M. YAMAUCHI, Foes from the Northern Frontier, Grand
Rapids, MI: Baker, 1982, p. 20.
7
BILLINGTON, Op. cit., Parte 3, p. 52.
8
BILLINGTON, Op. cit., Parte 3, p. 53.
9
BILLINGTON, Op. cit., Parte 3, p. 53.
10
BILLINGTON, Op. cit., Parte 3, p. 52-53.
11
BILLINGTON, Op. cit., Parte 3, p. 57.
12
BILLINGTON, Op. cit., Parte 3, p. 62.
13
Baseado em pesquisa realizada através do programa de
computação Accordance, versão 6.9.2.
14
Mark HITCHCOCK, After The Empire: Bible Prophecy in Light
of the Fall of the Soviet Union, Wheaton, IL: Tyndale House
Publishers, 1994, p. 56.
15
Harry RIMMER, The Coming War and the Rise of Russia,
Grand Rapids: Eerdmans, 1940, p. 55-56.
16
Hal LINDSEY, The Late Great Planet Earth, Grand Rapids:
Zondervan, 1970.
17
RIMMER, The Coming War, p. 55-56.
18
Allen P. ROSS, “The Table of Nations in Genesis”,
dissertação apresentada para obtenção do título de ThD,
Dallas Theological Seminary, 1976, p. 204-05.
19
Mark HITCHCOCK, Iran The Coming Crisis: Radical Islam, Oil,
And The Nuclear Threat, Sisters, OR: Multnomah, 2006, p.
184.
20
Baseado em pesquisa realizada através do programa de
computação Accordance, versão 6.9.2.
6. EZEQUIEL 38.2-4
A MONTAGEM DO PALCO NA
RÚSSIA E NO IRÃ DE QUE
MODO ALGUNS ASPECTOS DOS
PRIMEIROS VERSÍCULOS DE
EZEQUIEL 38 MONTAM
ATUALMENTE O PALCO PARA
O FUTURO CUMPRIMENTO
DESSA PROFECIA? ENQUANTO
ALGUNS PAÍSES ALIADOS DE
GOGUE APARECEM DE VEZ EM
QUANDO NOS NOTICIÁRIOS,
A RÚSSIA E O IRÃ NO
PRESENTE MOMENTO TÊM
FEITO “BASTANTE BARULHO”
E CHAMADO A ATENÇÃO NO
CENÁRIO GEOPOLÍTICO.
ALÉM DO MAIS, PARA
AQUELES QUE NÃO ESTÃO
ATENTOS AO QUE ACONTECE
NA TURQUIA, DEVE-SE
DIZER QUE O PARLAMENTO
TURCO ESTÁ NA IMINÊNCIA
DE SER CONTROLADO PELA
ALA MUÇULMANA RADICAL.
SE OS MUÇULMANOS
RADICAIS CONSEGUIREM SEU
INTENTO, FARÃO COM QUE A
TURQUIA RETORNE AO
DOMÍNIO ISLÂMICO, O QUE
SIGNIFICA DIZER ADEUS À
DEMOCRACIA.
Mart Zuckerman, editor do U. S. News &
World Report, declarou: “Numa entrevista
concedida há vários anos, o presidente russo
Vladimir Putin criticou a decisão dos Estados
Unidos de entrarem em guerra contra o Iraque e
me disse o seguinte: ‘a verdadeira ameaça é o Irã’.
Ele estava certo, porém a Rússia passou a fazer
parte do problema, não da solução”.[8] Não é
nenhum segredo que a Rússia tem desempenhado o
papel de capacitar o Irã, a ponto de este chegar ao
topo do ranking de países traiçoeiros que ameaçam
provocar uma enorme desestabilização da presente
ordem mundial. “E a Rússia tornou essa ameaça
ainda mais real, pois vendeu as instalações da usina
nuclear de Bushehr ao Irã e assinou contratos para
vender mais equipamentos a fim de angariar
recursos que financiem sua própria indústria
nuclear. É como um diplomata americano
declarou: ‘Esse negócio com o Irã é um tremendo
anzol preso no queixo da Rússia’”.[9] O senhor
poderia repetir esta última afirmação? O diplomata
americano reiterou: “Esse negócio com o Irã é um
tremendo anzol preso no queixo da Rússia”. É
exatamente isso! O diplomata americano utilizou a
frase proveniente da profecia bíblica para descrever
o papel que a Rússia atualmente tem assumido na
sua relação com o Irã.
Alguns que desprezam nossa perspectiva da
profecia bíblica já disseram que, em face da queda
do Império Soviético (i.e., a antiga União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas), uma invasão
liderada pela Rússia parece muito pouco provável
do ponto de vista geopolítico. Contudo, é preciso
sempre ressaltar o fato de que essa profecia faz
menção a um ataque contra Israel liderado pela
Rússia, não pela União Soviética. Desde a queda do
Império Soviético, os russos continuam a manter
relações amistosas com a maioria dos países
islâmicos, principalmente com aquelas nações do
Oriente Médio. Do ponto de vista geopolítico, não
seria nenhuma surpresa ver a Rússia se unir aos
países islâmicos, como o Irã, num ataque-surpresa
contra Israel.
Por mais de quinze anos tenho conjecturado
se o “anzol” que Deus usará no queixo de Gogue
(para levar uma Rússia relutante a descer num
ataque contra a terra de Israel) não poderia ser esta
situação hipotética que descrevi para o Hal Lindsey
em 1991, durante uma entrevista em rede nacional
de televisão,[10] no dia em que a primeira Guerra
do Golfo terminou: “Eu posso ver os muçulmanos
se dirigirem aos russos a fim de lhes dizer que os
Estados Unidos da América abriram um
precedente para que uma potência estrangeira
invada o Oriente Médio com o objetivo de corrigir
um erro percebido (os Estados Unidos já fizeram
isso de novo em anos recentes, quando invadiram o
Iraque e o Afeganistão)”. Com base nisso, a Rússia
também deveria ajudar seus amigos muçulmanos,
liderando-os numa invasão avassaladora de Israel, a
fim de resolver o conflito no Oriente Médio em
favor dos países islâmicos. Seria esse o “anzol” no
queixo de Gogue? Só o tempo poderá dizer.
Entretanto, algo está acontecendo no Oriente
Médio e parece que as impressões digitais da Rússia
se encontram por toda parte. O que se sabe pela
predição bíblica é que tal coalizão e invasão
ocorrerão somente “... no fim dos anos” (Ez 38.8).
NOTAS 1 G. JOHANNES BOTTERWECK, HELMER RINGGREN, E
HEINZ-JOSEF FABRY, ORGANIZADORES, THEOLOGICAL
DICTIONARY OF THE OLD TESTAMENT [TDOT], VOL.
XIV, GRAND RAPIDS: EERDMANS, 2004, P. 464.
2
BOTTERWECK, RINGGREN, e FABRY, TDOT, vol. XIV, p. 472.
3
C. F. KEIL, Ezekiel, Daniel, Commentary on the Old
Testament, traduzido por James Martin, reimpressão,
Grand Rapids: Eerdmans Publishing Company, 1982, p.
161.
4
KEIL, Ezekiel, Daniel, p. 161.
5
Willem A. VANGEMEREN, org. geral, New International
Dictionary of Old Testament Theology & Exegesis, 5 vols.,
Grand Rapids: Zondervan, 1997, vol. 2, p. 44.
6
Mark HITCHCOCK, After The Empire: Bible Prophecy in Light
of the Fall of the Soviet Union, Wheaton, IL: Tyndale House
Publishers, 1994, p. 104.
7
Arnold FRUCHTENBAUM, Footsteps of the Messiah: A Study of
the Sequence of Prophetic Events, Tustin, CA: Ariel Press,
(1982), 2003, p. 109.
8
Mortimer B. ZUCKERMAN, “Moscow’s Mad Gamble,”, publicado
no U. S. News & World Report, edição eletrônica, 30 de
janeiro de 2006, p. 1.
9
ZUCKERMAN, “Moscow’s Mad Gamble”, p. 1.
10
No programa de entrevistas “The Praise the Lord”, exibido
pela rede de TV Trinity Broadcasting Network.
7. EZEQUIEL 38.4
“...E TE LEVAREI A
TI...”
À medida que continuamos a olhar mais
atentamente para o texto de Ezequiel 38.4,
percebemos que o Senhor, depois de por anzóis no
queixo de Gogue, há de levá-lo para fora de seu
território. O verbo hebraico traduzido por “...eu
[Deus] te levarei a ti [Gogue]” conjuga-se num
tempo cuja ação é causativa, numa implicação de
que Deus usará o anzol no queixo de Gogue para
desentocá-lo de seu lugar.[2] É preciso reiterar que
Gogue não instigaria tudo isso, se Deus não
interviesse, tirando-o de seu território para levá-lo à
sua destruição final.
O PODERIO BÉLICO DE
GOGUE QUANDO GOGUE
ATACAR ISRAEL, VIRÁ COM
TODO O SEU “...EXÉRCITO,
CAVALOS E CAVALEIROS...”. A
PALAVRA HEBRAICA
TRADUZIDA POR “EXÉRCITO”
(DO HEB., HAYIL)
SIGNIFICA BASICAMENTE
“FORÇA OU PODER”[3],
DEPENDENDO DO QUE É
MENCIONADO NO CONTEXTO.
É O PRINCIPAL TERMO
HEBRAICO USADO PARA
DESIGNAR “EXÉRCITO” NO
ANTIGO TESTAMENTO, MAS
TAMBÉM POSSUI O SENTIDO
ABSTRATO DE “FORÇA”,
“RIQUEZA”, OU, EM TERMOS
MAIS CONCRETOS, “TROPAS
MILITARES”,[4] JÁ QUE É
PRECISO MUITO DINHEIRO
PARA SUSTENTAR UM
EXÉRCITO PODEROSO NO
CAMPO DE COMBATE. EM
EZEQUIEL 38.15, ESSA
PALAVRA É USADA
NOVAMENTE PARA DESCREVER
GOGUE E SEUS ALIADOS,
DESTA VEZ ASSOCIADA COM
O ADJETIVO “PODEROSO”.
EM OUTRAS PALAVRAS, O
TERMO HEBRAICO HAYIL
TRANSMITE A IDÉIA DE
PODERIO MILITAR E SEU
CAMPO SEMÂNTICO NÃO SE
LIMITA AO CONCEITO DE
EXÉRCITO DA ANTIGUIDADE.
UMA VEZ QUE O TERMO
“TODO(S)” É EMPREGADO
PARA QUALIFICAR A
PALAVRA “EXÉRCITO”, A
IMPLICAÇÃO É A DE QUE,
NÃO APENAS UMA PARTE,
MAS O EXÉRCITO INTEIRO
VIRÁ PARA INVADIR
ISRAEL.
A próxima descrição literal é a de que esse
exército invasor contará com “cavalos e cavaleiros”.
O significado de “cavalos” é óbvio, ao passo que
“cavaleiros”, nesse contexto, seriam aqueles
soldados que montam cavalos para fins militares.
No Antigo Testamento, os cavaleiros sempre se
diferenciam daqueles soldados que conduzem bigas
[i.e., carros de guerra atrelados a cavalos]. Charles
Feinberg chega a esta conclusão: “A menção de
cavalos e cavaleiros não pode ser interpretada de
modo restritivo para dar a entender que esse
exército se constituiria total ou essencialmente de
cavalaria”.[5] A afirmação de Feinberg se
fundamenta no fato de que o texto anteriormente
menciona “...todo o teu exército...”, o que incluiria
todos os elementos do poderio bélico daquele que
parte para o ataque. Se este for o caso, é possível
que a cavalaria tenha sido destacada e
especificamente mencionada por ser a força
ofensiva mais potente de um invasor nos dias de
Ezequiel. Além disso, cavalos denotam um meio de
transporte, enquanto cavaleiros denotam os
próprios militares.
A última parte do versículo 4 relata o modo
pelo qual os militares estão paramentados: “...todos
vestidos bizarramente, congregação grande, com
escudo e rodela, manejando todos a espada”. Essa é
uma referência aos cavaleiros, os quais na sua
totalidade estão “vestidos bizarramente”. A palavra
hebraica, traduzida nessa versão de Almeida Revista
e Corrigida pelo termo “bizarramente” (do heb.,
miklol), é um vocábulo interessante que ocorre
somente aqui neste texto e em Ezequiel 23.12. Seu
significado é definido de forma variada, como, por
exemplo: “magnificamente”, “com primor” ou
“com todo tipo de armadura”. “Existe pouco
consenso quanto à correta tradução desse termo”, já
que ele é usado apenas duas vezes. “Em ambas as
ocorrências, esse termo é utilizado num contexto
que retrata a esplêndida aparência dos militares.
Uma tradução mais literal poderia ser esta:
‘trajados por completo’ ou ‘totalmente equipados’”.
[6] Ou seja, esses invasores contarão com o melhor
equipamento bélico disponível naqueles dias; eles
não estarão mal armados para o seu intento. Além
de estarem bem equipados, eles virão em grande
número para o ataque a Israel.
O texto diz que esse imponente exército possui
“pavês e escudo” (ARA) para se proteger. A palavra
hebraica traduzida por “pavês” (do heb., tsinnah) se
refere a “um escudo grande que protege o corpo
inteiro”[7], enquanto o termo traduzido por
“escudo” (do heb., magen) diz respeito a um
“escudo menor ou broquel que o guerreiro maneja
para se defender”.[8] Esses equipamentos bélicos
exemplificam a excelente condição de armamento
que os invasores de Israel terão à sua disposição.
Keil assinala: “Além das armas defensivas, a saber,
o escudo maior e o escudo menor, eles
empunharão espadas na qualidade de armas
ofensivas”.[9] A palavra hebraica herev, traduzida
por “espada”, “pode designar dois armamentos: 1) a
adaga de dois gumes (i.e., fios) ou espada curta (Jz
3.16,21); e 2) a espada curva de um único fio ou
espada longa”.[10] Uma vez que esses soldados
estarão montados em cavalos, faria mais sentido
supor que a espada descrita nesse texto seja a
espada longa, a qual já tem sido historicamente o
armamento predileto da cavalaria. A espada curta
não seria uma arma muito eficaz ao ser manejada
de cima de um cavalo. “O versículo demonstra que
Javé (do heb., YHWH) está trazendo Gogue
totalmente armado”.[11] Quanto maior o oponente
maior a chance de que Israel reconheça que está
encalacrado numa situação humanamente
impossível. Uma situação impossível requer uma
intervenção divina. Assim, Deus será muito mais
glorificado quando destruir por completo os
invasores de Israel.
A INTERPRETAÇÃO LITERAL
BERNARD RAMM, QUE NÃO
SERIA MUITO SIMPÁTICO À
NOSSA CONCEPÇÃO DE
INTERPRETAÇÃO DA
PROFECIA BÍBLICA, CITA
WEBSTER PARA DEFINIR O
QUE VEM A SER LITERAL
NOS SEGUINTES TERMOS: “É
A CONSTRUÇÃO E
IMPLICAÇÃO NATURAIS OU
HABITUAIS DE UM ESCRITO
OU EXPRESSÃO; AQUILO QUE
SEGUE O SENTIDO COMUM E
EVIDENTE DAS PALAVRAS; O
QUE NÃO É ALEGÓRICO OU
METAFÓRICO”.[5] CHARLES
RYRIE ELABORA UMA AMPLA
DEFINIÇÃO DO QUE VEM A
SER INTERPRETAÇÃO
LITERAL, ENUNCIANDO-A DA
SEGUINTE FORMA: ISSO, ÀS
VEZES, É CHAMADO DE
PRINCÍPIO HISTÓRICO-
GRAMATICAL DE
INTERPRETAÇÃO, JÁ QUE O
SIGNIFICADO DE CADA
PALAVRA É DETERMINADO
POR CONSIDERAÇÕES
GRAMATICAIS E
HISTÓRICAS. ESSE
PRINCÍPIO TAMBÉM PODE
SER DENOMINADO DE
INTERPRETAÇÃO NORMAL,
VISTO QUE O SIGNIFICADO
LITERAL DAS PALAVRAS É O
ACESSO NORMAL PARA SUA
COMPREENSÃO EM TODAS AS
LÍNGUAS. TAMBÉM PODE SER
CHAMADO DE INTERPRETAÇÃO
CLARA E SIMPLES PARA QUE
NINGUÉM TENHA DE ACEITAR
A NOÇÃO EQUIVOCADA DE
QUE O PRINCÍPIO DE
INTERPRETAÇÃO LITERAL
DESCONSIDERA AS FIGURAS
DE LINGUAGEM. TODOS OS
SÍMBOLOS, FIGURAS DE
LINGUAGEM E TIPOS SÃO
INTERPRETADOS DE FORMA
CLARA NESSE MÉTODO E
ELES, DE MODO NENHUM,
SÃO ANTAGÔNICOS À
INTERPRETAÇÃO LITERAL.
AFINAL DE CONTAS, A
PRÓPRIA EXISTÊNCIA DE
QUALQUER SENTIDO NUMA
FIGURA DE LINGUAGEM
DEPENDE DA REALIDADE DO
SIGNIFICADO LITERAL DOS
TERMOS RELACIONADOS. AS
FIGURAS MUITAS VEZES
TORNAM O SENTIDO MAIS
CLARO, GRAÇAS AO
SIGNIFICADO LITERAL,
NORMAL, SIMPLES E CLARO
QUE ELAS TRANSMITEM AO
LEITOR.[6]
O comentarista E. R. Craven assinala: O
literalista (assim chamado) não é aquele que nega o
fato de que a linguagem figurada e os símbolos são
usados em profecia. Também não é aquele que
nega a realidade de que grandiosas verdades
espirituais estão demonstradas nos textos
proféticos; ele simplesmente mantém a postura de
que as profecias devem ser interpretadas de modo
normal (i.e., de acordo com as leis de linguagem
aprendidas) como qualquer outra declaração é
interpretada, ou seja, aquilo que é nitidamente
figurativo sendo considerado como tal”.[7]
David Cooper apresenta uma definição
clássica do princípio hermenêutico de interpretação
literal na sua “Regra Áurea de Interpretação”, que
diz: “Quando o sentido claro de um texto das
Escrituras se enquadra dentro do bom senso, não
procure outro sentido; portanto, interprete cada
palavra em seu sentido simples, comum, habitual e
literal, a menos que os fatos do contexto imediato,
estudados à luz de passagens correlatas e de
verdades fundamentalmente óbvias, indiquem
nitidamente o contrário”.[8] Em outras palavras,
precisa haver uma base literária no texto de
qualquer declaração para que uma palavra ou frase
não seja interpretada literalmente. Deixa-se o uso
da interpretação literal somente quando se pode
demonstrar que uma figura de linguagem ou uma
metáfora faz mais sentido em determinado
contexto do que o sentido simples, claro e literal.
Em suma, o dito de Cooper afirma que uma palavra
ou frase deve ser interpretada literalmente, a não
ser que haja uma razão no texto para interpretá-la
como uma figura de linguagem ou uma metáfora.
Mathew Waymeyer fornece uma regra prática
muito útil ao declarar: “Para que seja considerada
simbólica, a linguagem em questão precisa
apresentar: 1) algum grau de absurdez, quando
interpretada literalmente; e, 2) algum grau de
clareza, quando interpretada simbolicamente”.[9]
O SIGNIFICADO LITERAL SE
OS TERMOS “EXÉRCITO”,
“CAVALOS E CAVALEIROS”,
“PAVÊS E ESCUDO” E
“ESPADA”, ENCONTRADOS
NESSE TEXTO, NÃO PARECEM
FIGURAS DE LINGUAGEM,
NEM SÍMBOLOS, A
COERÊNCIA INTERPRETATIVA
EXIGE QUE TAL BATALHA
SEJA LUTADA COM ESSAS
ARMAS. ESSES ARMAMENTOS
DE GUERRA NÃO PODEM SER
INTERPRETADOS COMO
SÍMILES DE ARMAMENTOS
MODERNOS PORQUE NÃO HÁ
INDICADORES TEXTUAIS DO
TIPO “COMO” OU
“SEMELHANTE A”. NÃO
PARECE HAVER NENHUMA
FIGURA DE LINGUAGEM QUE
DE VEZ EM QUANDO OCORRA
SEM O USO DE “COMO” OU
“SEMELHANTE A”. POR
EXEMPLO, JESUS DECLAROU:
“EU SOU A PORTA”, “EU SOU
O PÃO DA VIDA”, ETC.
EMBORA ESSAS EXPRESSÕES
EM SI E POR SI MESMAS
NÃO SEJAM FIGURAS DE
LINGUAGEM, FICA CLARO,
NOS SEUS RESPECTIVOS
CONTEXTOS, QUE JESUS AS
USAVA METAFORICAMENTE.
CONTUDO, NÃO HÁ NADA NO
CONTEXTO DE EZEQUIEL 38
QUE APONTE PARA O FATO
DE O PROFETA EZEQUIEL
PREVER ARMAMENTOS
MODERNOS, AINDA QUE USE
UMA TERMINOLOGIA
CONHECIDA DE SUA ÉPOCA.
Durante a elaboração desta série sobre
Ezequiel 38 e 39, enquanto refletia de forma mais
crítica sobre a interpretação literal e sua relação
com essa passagem, passei a discordar da afirmação
que eu e Mark Hitchcock fizemos, quando
dissemos o seguinte: “Ezequiel se expressou numa
linguagem que as pessoas do seu tempo podiam
entender. Se ele tivesse falado de aviões de caça
MIG-29, de mísseis disparados a laser, de tanques
de guerra e de fuzis de assalto, esse texto não faria o
menor sentido até a chegada do século vinte”.[10]
Sou forçado a concordar com DeMar quando diz:
“É preciso forçar demais a leitura e interpretação da
Bíblia para fazer com que o texto de Ezequiel 38 e
39 se encaixe dentro das realidades militares atuais
que incluem aviões a jato, mísseis, explosivos e
armamentos atômicos”.[11] Apesar de crer que
DeMar esteja certo nessa afirmação, isso não
significa que sua conclusão esteja correta. Ele
declara: “As armas são antigas porque a batalha
ocorreu na antigüidade”.[12] De fato esses
armamentos eram usados na antigüidade, mas
alguns deles são usados até hoje. Além disso,
DeMar ignora muitos fatos textuais ou não
interpreta literalmente aquelas expressões
cronológicas como “depois de muitos dias” (Ez
38.8), sobretudo, “no fim dos anos” (Ez 38.8) e “nos
últimos dias” (Ez 38.16), expressões estas que
consideraremos mais adiante em nossa análise.
Creio que o intérprete futurista Paul Lee Tan
colocou muito bem a questão nos seguintes termos:
Algumas profecias, quando descrevem batalhas
escatológicas, predizem que os armamentos
utilizados nesses combates serão arcos e flechas,
bigas e cavalos, além de lanças e escudos. Seria o
caso de interpretá-las literalmente? Se formos
rigorosamente fiéis ao cenário próprio do estilo
profético, temos de considerar que essas armas são
as mesmas a serem usadas no contexto
escatológico. Elas não podem ser equiparadas aos
dispositivos bélicos modernos que são muito
diferentes, a exemplo da bomba-H ou dos aviões a
jato supersônicos. O interessante é que os
equipamentos bélicos referidos na profecia, apesar
de existirem há séculos, não se tornaram obsoletos.
O cavalo, por exemplo, ainda é usado como arma
de guerra em certos tipos de terreno.[13]
Sem ter a pretensão de ser dogmático nessa
questão, creio que a concepção que mais faz sentido
é a que ouvi do pastor Charles Clough,[14] numa
aula gravada em fita cassete por volta do fim da
década de 1960 ou no início da década de 1970. Na
época, Clough era um meteorologista capacitado e
experiente que sustentava a concepção de que os
acontecimentos do período da Tribulação
poderiam danificar os modernos sistemas de
armamento a ponto de torná-los inoperantes. Mais
tarde, Clough trabalhou por quase 25 anos como
meteorologista do exército dos Estados Unidos,
onde pesquisou o impacto das condições
atmosféricas sobre os sistemas de armamento. Ele
ainda defende aquela mesma concepção até hoje.
Price explica o seguinte: Entretanto, se as condições
ou o local do combate impedirem o uso de uma
tecnologia bélica mais avançada, não há nenhuma
razão pela qual essas armas rudimentares não
possam ser usadas numa batalha futura. Os
combates que são travados em certos terrenos
acidentados do Oriente Médio, a exemplo da região
montanhosa do Afeganistão (cf., Ez 39.2-4), têm
obrigado exércitos da atualidade a usarem cavalos;
outrossim, arcos e flechas continuam a ser
utilizados em vários campos de combate. Além
disso, se a batalha ocorrerá no período da
Tribulação, as condições preditas para esse
momento da história, tais como atividade sísmica,
chuvas de meteoro, aumento dos efeitos solares,
entre outras catástrofes cósmicas e terrestres
(Mateus 24.7; Apocalipse 6.12-14; 8.7-12; 16.8-9,18-
21), poderiam causar tantos transtornos ambientais
que a tecnologia atual (dependente da orientação
por satélite, de sistemas computadorizados e de
estabilidade meteorológica) falharia por completo.
Em tais condições, a maioria de nossas armas
modernas seria inútil e armas mais rudimentares
teriam de substituí-las. De qualquer forma, não há
nenhuma razão para relegar esse texto ao passado,
com base num suposto anacronismo de linguagem.
[15]
NOTAS 1 WILLIAM L. HULL, ISRAEL: KEY TO
PROPHECY, GRAND RAPIDS: ZONDERVAN, 1957, P.
35-36 (A ÊNFASE É DO AUTOR ORIGINAL).
2
Randall PRICE, Comentários não publicados das profecias de
Ezequiel, 2007, p. 42.
3
Gary DEMAR, “Ezekiel’s Magog Invasion: Future or
Fulfilled?”, publicado na revista Biblical Worldview
Magazine, vol. 22, edição de Dezembro de 2006, p. 4.
4
DEMAR, “Ezekiel’s Magog Invasion,”, p. 6 (a ênfase em
itálico é do autor original).
5
Bernard RAMM, Protestant Biblical Interpretation, 3ª Ed,
Grand Rapids: Baker, 1970, p. 119.
6
Charles C. RYRIE, Dispensationalism, Chicago: Moody,
(1965), 1995, p. 80-81 (a ênfase em itálico é do autor
original).
7
E. R. CRAVEN e J. P. LANGE, orgs. Commentary on the Holy
Scriptures: Revelation, Nova York: Scribner, 1872, p. 98 (a
ênfase em itálico é do autor original).
8
David L. COOPER, The World ‘s Greatest Library Graphically
Illustrated, Los Angeles: Biblical Research Society, (1942),
1970, p. 11.
9
Matthew W AYMEYER, Revelation 20 and the Millennial
Debate, The Woodlands, TX: Kress Christian Publications,
2004, p. 50 (a ênfase em itálico é do autor original).
10
Mark HITCHCOCK and Thomas ICE, The Truth Behind Left
Behind: A Biblical View of the End Times, Sisters, OR:
Multnomah Press, 2004, p. 47.
11
DEMAR, “Ezekiel’s Magog Invasion”, p. 4.
12
DEMAR, “Ezekiel’s Magog Invasion”, p. 6.
13
Paul Lee TAN, The Interpretation of Prophecy, Winona
Lake, IN: Assurance Publishers, 1974, p. 223.
14
Naquela época, Charles A. CLOUGH era pastor da Lubbock
Bible Church na cidade de Lubbock, Texas, EUA.
15
PRICE, Comentários não publicados de Ezequiel, p. 42.
9. EZEQUIEL 38.5-6
ETIÓPIA A VERSÃO DA
BÍBLIA QUE COSTUMO USAR
NA LÍNGUA INGLESA, THE
NEW AMERICAN STANDARD
BIBLE, TRADUZ O TERMO
HEBRAICO CUSH POR
ETIÓPIA. MUITAS
TRADUÇÕES DA BÍBLIA EM
INGLÊS APENAS
TRANSLITERARAM O
VOCÁBULO ORIGINAL PELO
TERMO “CUSH” [N. DO T.:
A EXEMPLO DA ANTIGA
TRADUÇÃO BRASILEIRA QUE
TRANSLITEROU A PALAVRA
ORIGINAL PELO TERMO
“CUS”]. O VOCÁBULO CUSH
OCORRE 29 VEZES NA
BÍBLIA HEBRAICA.[3] O
TEXTO DE GÊNESIS 2.13
MENCIONA UM TERRITÓRIO
ANTEDILUVIANO QUE SE
DENOMINAVA CUXE. AS TRÊS
OCORRÊNCIAS DESSE TERMO
NA TABELA DAS NAÇÕES
[CF., GN 10] SE REFEREM
A CUXE QUE ERA
DESCENDENTE DE CAM. A
MAIORIA DAS OUTRAS
OCORRÊNCIAS SE ENCONTRA
NOS LIVROS DE ISAÍAS E
EZEQUIEL (13 VEZES),
REFERINDO-SE À MESMA
REGIÃO MENCIONADA NO
TEXTO DE EZEQUIEL 28.5.
UM DICIONÁRIO LÉXICO DE
HEBRAICO AFIRMA QUE O
TERMO CUSH DIZ RESPEITO
ÀS “TERRAS DO NILO, AO
SUL DO EGITO, IMPLICANDO
A NÚBIA E O NORTE DO
SUDÃO, O PAÍS QUE É
BANHADO PELO SUL DO MAR
VERMELHO”.[4]
Outro dicionário declara que Cush “se refere à
região imediatamente ao sul e a leste do Egito,
incluindo a atual Núbia, o Sudão e a Etiópia dos
escritores clássicos”.[5] Dessa forma, a Bíblia
localiza claramente o território de Cuxe ao sul do
Egito, onde se encontra a atual nação do Sudão.
Hoje em dia, o Sudão é um dos países
muçulmanos mais militantes do mundo. Hitchcock
comenta: “A atual nação do Sudão é um dos únicos
três países islâmicos no mundo inteiro que mantêm
um governo muçulmano militante”.[6] Eu fiquei
surpreso ao saber que “o Sudão é o país de maior
extensão territorial do continente africano e que
possui uma população de 26 milhões de
habitantes”. É interessante observar que o Irã e o
Sudão se tornaram aliados muito próximos nos
últimos vinte anos. Esses dois países celebraram
acordos comerciais, fizeram alianças militares e o
Irã ainda coordena bases de treinamento terrorista
no território sudanês.[7] O Sudão foi o país que
protegeu e abrigou Osama Bin Laden no período de
1991 a 1996, antes que ele fosse para o Afeganistão.
[8] Se tomarmos por base esse alinhamento de
nações que vemos nos dias atuais, não seria
surpresa nenhuma conjecturar que o Sudão será
um aliado que vem do sul para invadir a terra de
Israel nos últimos dias, junto com a Rússia, o Irã e
outros povos.
PUTE PUTE É OUTRA
TRANSLITERAÇÃO DO TERMO
ORIGINAL HEBRAICO E
OCORRE APENAS SETE VEZES
NO ANTIGO TESTAMENTO.[9]
POR DUAS VEZES É USADO
NO REGISTRO GENEALÓGICO
PARA SE REFERIR AO FATO
DE QUE PUTE É UM DOS
DESCENDENTES DE CAM (GN
10.6; 1CR 1.8). NAS
OUTRAS CINCO
OCORRÊNCIAS, ESSE NOME É
USADO PELOS PROFETAS
PARA SE REFERIREM A PUTE
COMO UMA NAÇÃO,
GERALMENTE NO CONTEXTO
MILITAR, A EXEMPLO DO
QUE ENCONTRAMOS NO TEXTO
DE EZEQUIEL 38. UM
DICIONÁRIO LÉXICO
HEBRAICO AFIRMA: “É
PROVÁVEL QUE NÃO SEJA O
MESMO QUE PUTE, MAS SE
REFIRA À LÍBIA”.[10]
“PARECE QUE DESDE A
ÉPOCA EM QUE FOI ESCRITA
A ANTIGA CRÔNICA DA
BABILÔNIA, ‘PUTU’ ERA
UMA TERRA ‘LONGÍNQUA’,
SITUADA A OESTE DO
EGITO, A QUAL NA
ATUALIDADE
CORRESPONDERIA À LÍBIA”.
[11] “NA OCASIÃO DESSA
INVASÃO”, ASSINALA
RANDALL PRICE, “ESSES
PAÍSES ESTARÃO NA
COMPANHIA DE OUTRAS
NAÇÕES (CF., EZ 38.5)
QUE REPRESENTAM AS
OUTRAS TRÊS DIREÇÕES DA
BÚSSOLA, A SABER: A
PÉRSIA (O ATUAL IRÃ) QUE
VEM DO LESTE; CUXE (O
NORTE DO SUDÃO) QUE VEM
DO SUL; E PUTE (A ATUAL
LÍBIA) QUE VEM DO
OESTE”.[12]
Tal como o Irã e o Sudão, a Líbia é um país
islâmico radical, que, até pouco tempo, foi
comandado por um ditador, o coronel Muamar
Kadafi. Semelhante ao Irã, Kadafi tentou
desenvolver armas nucleares no passado, mas
alegava que já tinha abandonado suas tentativas de
produzi-las. Hitchcock faz a seguinte observação:
“A nação da Líbia tem sido uma fonte ininterrupta
de terrorismo e de problemas tanto para o Ocidente
quanto para Israel. Certamente a Líbia não perderia
a oportunidade de unir forças com o Sudão, o Irã, a
Turquia e com as repúblicas muçulmanas da
extinta União Soviética para esmagar o Estado
Judeu”.[13]
BETH-TOGARMAH OU “CASA
DE TOGARMA”
Beth-Togarmah é a transliteração inglesa de
duas palavras do texto original hebraico. Beth é o
termo hebraico normalmente utilizado para
designar “casa” ou “lugar de” e ocorre mais de duas
mil vezes na Bíblia Hebraica.[1] Togarmah é um
substantivo que ocorre 4 vezes na Bíblia Hebraica.
[2] O nome Togarma é usado por duas vezes no
registro genealógico para se referir a um dos filhos
de Gômer (Gn 10.3; 1Cr 1.6). As duas outras
ocorrências desse termo se encontram em Ezequiel
(Ez 27.14; 38.6). O prefixo hebraico Beth só é usado
nessas duas ocorrências em Ezequiel para formar o
termo composto que se traduz por “casa de
Togarma”. O texto de Ezequiel 27.14 se refere ao
comércio desenvolvido por esse povo quando diz:
“Os da casa de Togarma, em troca das tuas
mercadorias, davam cavalos, ginetes e mulos”. Na
verdade, “Heródoto a menciona [i.e., Togarma]
pela fama de seus cavalos e mulas”.[3]
Mark Hitchcock comenta o seguinte: “A
maioria dos estudiosos da Bíblia e da história antiga
relaciona a Togarma bíblica com a antiga cidade
Hitita de Tegarma, um importante centro urbano
situado no leste da Capadócia (atual Turquia)”.[4]
Jon Mark Ruthven concorda, ao declarar:
“Indivíduos da ‘casa de Togarma’ podem ter feito
parte dos dois grandes movimentos migratórios
jafetitas em direção ao extremo norte, ocorridos
respectivamente no segundo e primeiro milênios
a.C., e podem ter sido incorporados à matriz
populacional das atuais Rússia e Turquia”.[5]
Hitchcock traça o movimento migratório de
Togarma da seguinte forma: Togarma era o nome
tanto de um distrito quanto de uma cidade
localizada na fronteira de Tubal, a leste da
Capadócia. Togarma ficou conhecida na história
por diferentes designativos, tais como: Tegarma,
Tagarma e Takarama. Os antigos assírios se
referiram a essa cidade pelo nome de Til-garimmu.
Um dos mapas da The Cambridge Ancient History
situa Til-garimmu na fronteira nordeste de Tubal, a
saber, na região nordeste da atual Turquia.
Gesenius, o erudito em língua hebraica, identificou
Togarma como uma nação do norte, onde cavalos e
mulas são abundantes, localizada na antiga
Armênia. O antigo território da Armênia situa-se
atualmente dentro dos limites territoriais da
Turquia.[6]
Hitchcock conclui: “Contudo, ainda que os
eruditos demonstrem uma leve divergência quanto
à localização exata da antiga Togarma, eles sempre
a identificam como uma cidade ou um distrito que
se situava dentro do território nacional da Turquia
dos dias atuais”.[7]
É interessante observar que não há nenhuma
nação árabe entre as nações que se aliarão à Rússia
para invadir Israel. Entretanto, todos esses aliados
da Rússia são países islâmicos ou muçulmanos. O
Irã não é uma nação árabe; pelo contrário, os
iranianos são persas.
FALANDO FRANCAMENTE
AGORA QUE TERMINAMOS A
ANÁLISE DA RELAÇÃO DE
POVOS QUE SE UNIRÃO À
RÚSSIA NO ATAQUE QUE
ESTA COMANDARÁ CONTRA
ISRAEL, PERCEBEMOS QUE
QUATRO DOS NOMES
RELACIONADOS NESSE TEXTO
DE EZEQUIEL SÃO
ANCESTRAIS DAQUELAS
ETNIAS QUE ATUALMENTE
CONSTITUEM A POPULAÇÃO
DA TURQUIA. TODOS OS
QUATRO, MESEQUE, TUBAL,
GÔMER E A CASA DE
TOGARMA, SÃO FORTES
INDICADORES DE QUE A
TURQUIA SERÁ UM DOS
PAÍSES-MEMBROS DESSA
COALIZÃO DIABÓLICA. MAS,
DIANTE DO ALINHAMENTO
DAS NAÇÕES NOS DIAS
ATUAIS, SERIA POSSÍVEL O
ENVOLVIMENTO DA TURQUIA
NESSA ALIANÇA?
Hoje em dia, a Turquia não se encontra
alinhada com a Rússia e com o Irã por ter se
tornado tecnicamente um Estado secular com uma
herança muçulmana após o colapso do império
Turco-Otomano no final da Primeira Guerra
Mundial. Já faz tempo que a Turquia se tornou
membro da OTAN [i.e., Organização do Tratado
do Atlântico Norte] e tem expressado o desejo de se
identificar não com a Ásia, mas com a Europa,
muito provavelmente por razões econômicas. A
Turquia é um país cuja menor parte do território se
encontra na Europa e a maior parte está situada na
Ásia. Além disso, a Turquia já solicitou
oficialmente o ingresso como país-membro da
União Européia, onde qualquer pessoa que esteja
num dos seus países-membros pode se deslocar
livremente para outra localidade que se encontre
dentro limites geográficos da União Européia. Os
demais países-membros estão preocupados porque
temem que, se for admitida como membro da
União Européia, a Turquia possa se tornar um
canal através do qual os muçulmanos se
deslocariam para inundar o restante da Europa com
a sua presença. Embora a Turquia continue no
processo de cumprir requisitos para ingressar na
União Européia, é praticamente certo que no fim
tal ingresso seja rejeitado. A partir do momento
que forem rejeitados pela União Européia, os turcos
vão buscar alinhamento com a Rússia, bem como
com seus países-irmãos islâmicos.
Nos últimos anos contemplou-se a emergência
de uma maioria islâmica no Parlamento da Turquia
e o seu atual primeiro-ministro é muçulmano. A
dissolução da antiga União Soviética envolveu a
independência destas cinco repúblicas islâmicas:
Cazaquistão, Uzbequistão, Quirguistão,
Turcomenistão e Tajiquistão. Hitchcock salienta
que “a Turquia tem sido atraída por essas ex-
repúblicas soviéticas e tem se aproximado delas por
razões econômicas, além de manter fortes laços
lingüísticos e étnicos com tais países. Todos esses
países falam variações do idioma turco, com
exceção do Tajiquistão, onde a língua se assemelha
ao farsi iraniano”.[13] A Turquia se considera o
desenvolvedor econômico dos vastos recursos
naturais que se encontram nesses cinco novos
países, tais como: ouro, prata, urânio, petróleo,
carvão e gás natural. Depois de ser desprezada pela
Europa, a Turquia terá motivos de sobra para
entrar numa aliança com a Rússia e com suas
nações-irmãs muçulmanas, o que deixará o palco
preparado para o cumprimento dessa profecia.
Maranata!
NOTAS 1 DE ACORDO COM UMA PESQUISA REALIZADA
ATRAVÉS DO PROGRAMA DE COMPUTADOR
ACCORDANCE, VERSÃO 7.3, ESSE TERMO OCORRE
2.047 VEZES.
2
Baseado em pesquisa realizada através do programa de
computador Accordance, versão 7.3.
3
S. Fisch, Ezekiel: Hebrew Text & English translation with an
Introduction and Commentary, Londres: The Soncino
Press, 1950, p. 182.
4
Mark Hitchcock, After The Empire: Bible Prophecy in Light
of the Fall of the Soviet Union, Wheaton, IL: Tyndale House
Publishers, 1994, p. 63.
5
Jon Mark Ruthven, The Prophecy That Is Shaping History:
New Research on Ezekiel’s Vision of the End, Fairfax, VA:
Xulon Press, 2003, p. 102.
6
Hitchcock, After The Empire, p. 63-64.
7
Hitchcock, After The Empire, p. 64.
8
Ludwig Koehler e Walter Baumgartner, The Hebrew and
Aramaic Lexicon of the Old Testament, versão eletrônica,
Leiden, Holanda: Koninklijke Brill, 2000.
9
Hitchcock, After The Empire, p. 64-65.
10
Baseado em pesquisa realizada através do programa de
computador Accordance, versão 7.3.
11
Koehler e Baumgartner, Hebrew Lexicon, versão eletrônica.
12
C. F. Keil, Ezekiel, Daniel, Commentary on the Old
Testament, traduzido para o inglês por James Martin;
reimpressão; Grand Rapids: Eerdmans Publishing
Company, 1982, p. 161.
13
Hitchcock, After The Empire, p. 66.
11. EZEQUIEL 38.7-
8
“TIRADO DE ENTRE OS
POVOS”
A sexta frase descritiva do versículo 8 declara:
“este povo foi tirado de entre os povos...”. O termo
hebraico vav disjuntivo no início da construção
dessa frase mantém uma relação de contraste com a
frase anterior: “...ao povo que se congregou dentre
muitos povos sobre os montes de Israel, que sempre
estavam desolados...”. No hebraico o sujeito é
feminino e só pode se referir à terra.[1] O sentido é
o seguinte: O povo da terra de Israel (ou seja, os
judeus). Esse sentido apóia a posição fortemente
polêmica de que, na concepção divina, o povo a
quem pertence a terra de Israel é o povo judeu.
O verbo hebraico yatsa’ é usado mais de mil
vezes no Antigo Testamento e significa “sair de”
(“vir para fora”) ou “ir adiante” (“avançar para
algum lugar”).[2] Neste caso, porém, o verbo se
encontra no tronco verbal hebraico do Hofal, que
implica uma qualidade de ação causativa na voz
passiva e significa que o povo judeu “foi trazido” ou
“foi tirado” de entre as nações, não por si mesmo,
mas por alguém que o trouxe. Quem seria esse
“alguém”? Chega-se à conclusão de que Deus é o
agente da passiva e, portanto, é Aquele que faria
com que os judeus fossem trazidos de volta à terra
de Israel. Nesse texto, a locução verbal “...foi
tirada...” dá apoio à concepção latente de que Deus
controla soberanamente todas as nações – tanto
Israel quanto os gentios. Os gentios são destacados,
no início do versículo 8, como aqueles que, ao
serem “visitados”, receberiam uma convocação para
invadir a terra de Israel. Os judeus, por sua vez, são
destacados nessa frase descritiva, como objeto do
cuidado de Deus, pois é Ele quem, de fato, os traz
de volta à sua Terra Prometida.
No texto hebraico, essa frase descritiva é
formada apenas por três palavras e literalmente
expressa o seguinte: “mas é tirada de entre os povos”.
[3] Ao fazer-se uma leitura disso no seu contexto,
como sempre se deve fazer na leitura de qualquer
texto, percebe-se que a expressão “é tirada”, da
frase literal acima, faz referência à terra e mantém
relação com a segunda parte da frase anterior, que
diz: “...os montes de Israel, que sempre estavam
desolados...”. Nesse caso, de que maneira a terra de
Israel pode ser tirada de entre os povos ou nações e
ser trazida de volta? Isso só faz sentido se a
referência for ao povo que é trazido de volta à terra,
razão pelo que a maioria dos tradutores da Bíblia
acrescenta o termo “povo”, num esforço de tornar
mais claro o sentido do texto original hebraico.
MÁS INTENÇÕES A
EXPRESSÃO “O SENHOR DEUS”
É UM DESIGNATIVO QUE
DENOTA “O SOBERANO
SENHOR DAS NAÇÕES”.[1] A
EXPRESSÃO “NAQUELE DIA”
É UMA REFERÊNCIA AO
TRECHO ANTERIOR QUE
MENCIONA O FATO DE
ISRAEL ESTAR NOVAMENTE
ESTABELECIDO NA SUA
TERRA, ALÉM DE FAZER
ALUSÃO AO MOMENTO EM QUE
A INVASÃO OCORRERÁ. É
NAQUELE DIA QUE
“...TERÁS IMAGINAÇÕES NO
TEU CORAÇÃO...”. O TERMO
HEBRAICO TRADUZIDO POR
“IMAGINAÇÕES” É DAVAR,
UM SUBSTANTIVO MUITO
USADO QUE, DEPENDENDO DO
CONTEXTO, SE TRADUZ EM
GERAL POR “PALAVRA”,
“DISCURSO” OU “COISA”.
[2] NESSE CONTEXTO EM
QUESTÃO, O VOCÁBULO QUE
MELHOR TRADUZ ESSA
PALAVRA HEBRAICA “NÃO
SERIA O TERMO
‘PALAVRAS’, MAS, SIM,
‘COISAS’ QUE VÊM À MENTE
DELE. OS VERSÍCULOS 11 E
12 NOS DIZEM QUE COISAS
SERIAM ESSAS”.[3] A
LÍNGUA HEBRAICA NÃO
POSSUI UMA PALAVRA QUE
DESIGNE “MENTE”, APESAR
DE SER ESTE O TERMO
USADO NA TRADUÇÃO
INGLESA [I.E., THE NEW
AMERICAN STANDARD BIBLE;
O TERMO INGLÊS “MIND”]
DA QUAL FAÇO CITAÇÕES EM
TODOS OS CAPÍTULOS DESSA
SÉRIE DE ESTUDOS. ESSE É
SEGURAMENTE O SENTIDO DA
PALAVRA HEBRAICA LEVAV,
QUE FOI TRADUZIDA POR
“MENTE” [N. DO T.:
INCLUSIVE EM ALGUMAS
TRADUÇÕES DA BÍBLIA EM
PORTUGUÊS] E QUE
SIGNIFICA BASICAMENTE
“HOMEM INTERIOR” OU
“CORAÇÃO”.[4] DESSE
MODO, A ATIVIDADE
INTERNA DE PENSAR FOI
ATRIBUÍDA AO “CORAÇÃO”.
NO CONTEXTO DESSA
PASSAGEM, O TEXTO FAZ
ALUSÃO A COISAS QUE SE
PASSARÃO NO HOMEM
INTERIOR, AS QUAIS
SERIAM “PENSAMENTOS”.
O versículo 10 se conclui com a frase “...e
conceberás mau desígnio”. No texto original tal frase
se compõe de três palavras hebraicas. “Conceberás”
é o verbo hebraico hashav que significa “tecer” e,
quando diz respeito ao coração ou à mente,
comunica a idéia de elaborar, maquinar ou
conceber um plano.[5] O substantivo procede
exatamente da mesma raiz do verbo. Nesse caso,
uma tradução literal expressaria a idéia de
“conceber pensamentos”. Contudo, se a terceira
palavra dessa frase é um adjetivo que significa
“mau”,[6] não resta mais dúvida de que o sentido
desse texto se refere a um plano maligno concebido
contra o povo escolhido de Deus, Israel. Portanto,
esse versículo parece nos dizer que, embora a idéia
geral de atacar Israel seja um desdobramento do
plano soberano de Deus (Ez 38.4), os detalhes são
concebidos e desenvolvidos na mente de Rôs e de
seus comparsas invasores. Em virtude de se
caracterizar como uma conspiração ou plano
humano, Rôs e seus aliados agressores são
responsabilizados.
A REVELAÇÃO DO PLANO A
TRAMA MALIGNA É
DESVENDADA NO VERSÍCULO
11. OS PENSAMENTOS
PERVERSOS DE RÔS
ANUNCIAM: “SUBIREI CONTRA
A TERRA DAS ALDEIAS SEM
MUROS...”. O VERSÍCULO 11
RELATA A PERCEPÇÃO DE
RÔS ACERCA DO
REAGRUPAMENTO DE ISRAEL
NAQUELE MOMENTO DA
HISTÓRIA. NÃO HÁ NENHUMA
RAZÃO PARA SE PENSAR QUE
A DESCRIÇÃO FEITA POR
RÔS É INCORRETA. O VERBO
ORIGINAL TRADUZIDO POR
“SUBIR” É UM TERMO MUITO
COMUM NO HEBRAICO E QUER
DIZER “ASCENDER, SUBIR”.
É COMUMENTE USADO EM
REFERÊNCIA A ALGUÉM QUE
SE DIRIGE À TERRA DE
ISRAEL OU À JERUSALÉM
ORIUNDO DO EXTERIOR. NÃO
EXISTE NENHUMA NUANCE
MILITAR NO CAMPO
SEMÂNTICO DESSE
VOCÁBULO.[7] NESSE
TEXTO, A TERRA DE ISRAEL
É DESCRITA DESTAS QUATRO
SEGUINTES MANEIRAS: 1)
“...TERRA DAS ALDEIAS SEM
MUROS...”; 2) “...OS QUE
ESTÃO EM REPOUSO...”; 3)
“...QUE VIVEM SEGUROS...”;
E, 4) “...QUE HABITAM,
TODOS, SEM MUROS E NÃO TÊM
FERROLHOS NEM PORTAS...”.
A primeira caracterização de Israel como uma
terra de aldeias sem muros implica que eles não
construirão muralhas de proteção ao redor de suas
aldeias como nos tempos antigos. Randall Price
comenta o seguinte: “Só a Cidade Antiga de
Jerusalém tem um muro e a parte moderna da
cidade permanece fora desse muro desde o fim do
século dezenove”.[8] Isso provavelmente significa
que a nação de Israel ficará sem proteção contra
invasores, já que, nos tempos antigos, essa era a
finalidade de se construir muralhas. O rabino Fisch
declara: “Israel não terá feito nenhum preparativo
no sentido de construir muros ao redor das cidades
para se precaver contra algum ataque”.[9]
A segunda frase descreve um povo que está
em repouso. O particípio hebraico shaqat retrata
um povo que está “quieto, calmo, tranqüilo e
descansando”.[10] Esse verbo foi usado com
freqüência nos livros de Josué e Juízes para
salientar a tranqüilidade e o descanso resultantes
das vitórias militares de Israel sobre os cananeus, à
medida que os hebreus conquistavam a terra sob a
liderança de Josué.[11] Tal termo diz respeito a
serenar ou descansar de conflitos militares. O
terceiro termo hebraico é betah que ocorre no
versículo 8. Já verificamos anteriormente que essa
palavra se refere a Israel vivendo em segurança, o
que implica confiança.[12]
A quarta caracterização retrata todos eles
vivendo sem muros, sem ferrolhos e sem portas. Já
vimos antes que viver literalmente sem muros
implica que nenhuma de suas cidades ou vilas terá
aquilo que os antigos construíam para conter um
exército invasor. Essa imagem é reforçada pela
informação de que eles não terão ferrolhos, nem
portas, obviamente porque suas cidades não terão
muros. Ferrolhos e portas eram dispositivos de
defesa muito importantes localizados nas muralhas
das cidades da antiguidade.
O que isso significa em relação à invasão? Em
primeiro lugar, essa passagem apresenta a situação
da perspectiva de Gogue, o qual pensa que Israel
não se encontra devidamente protegido e, por isso,
está vulnerável a um ataque-surpresa. Em segundo
lugar, Price salienta que “a segurança de Israel se
baseia no poderio de suas forças armadas, as quais
são consideradas dentre as melhores do mundo e já
têm defendido o país contra adversidades
avassaladoras em várias invasões ocorridas no
passado”.[13] Em terceiro lugar, tais condições
nunca se concretizaram na história de Israel em
momento algum do passado, de modo que só pode
se referir a um tempo ainda futuro, como já
verificamos pela análise das expressões “depois de
muitos dias” e “no fim dos anos” (Ez 38.8). Keil
assevera: “Esta descrição do modo de vida de Israel
também aponta para tempos posteriores que vão
muito além da época do exílio na Babilônia”.[14]
EM BUSCA DE DINHEIRO NO
VERSÍCULO 12, DEUS
REVELA DUAS RAZÕES QUE
EXPLICAM A MOTIVAÇÃO DE
GOGUE AO INVADIR ISRAEL
NO FUTURO. TAIS RAZÕES
SÃO INDICADAS POR ESTAS
DUAS ORAÇÕES ADVERBIAIS
DE FINALIDADE: A
PRIMEIRA É: “...A FIM DE
TOMARES O DESPOJO...”; A
SEGUNDA É: “...ARREBATARES
A PRESA...”. EM AMBOS OS
CASOS O TEXTO HEBRAICO
UTILIZA A MESMA PALAVRA
POR DUAS VEZES, A SABER,
UM VERBO NO MODO
INFINITIVO SEGUIDO POR
UM SUBSTANTIVO CONSTRUTO
AO VERBO, A FIM DE EXPOR
O MOTIVO DE GOGUE PARA
ESSA INVASÃO.
A primeira frase: “...a fim de tomares o
despojo...”, procede da palavra-raiz hebraica shalal e
significa “reunir-se ou ajuntar-se com a finalidade
de roubar ou saquear”.[15] Portanto, uma vez que o
verbo e o substantivo originam-se da mesma raiz
hebraica, seu significado seria algo como “despojar
o despojo”. No entanto, essa construção gramatical
não soa bem em outras línguas. A construção
pleonástica hebraica seria traduzida com mais
propriedade pela expressão “apreender o despojo”,
mesmo que na tradução se perca a noção de que
ambas as palavras originais procedem da mesma
raiz hebraica.
A segunda frase pleonástica hebraica,
traduzida por “...arrebatares a presa...”, procede da
raiz hebraica bazaz e significa “saquear, pilhar,
despojar, roubar”.[16] Dessa forma, o sentido em
hebraico seria: “espoliando o espólio”. O termo
original comunica a idéia de dividir o espólio ou
despojo apreendido num ataque ou conquista
militar. Assim, o motivo claro para essa invasão é
de obter riqueza e bens materiais. Charles Feinberg
assinala o seguinte: “O inimigo, ávido pela riqueza
de Israel, embarcará numa campanha de
dominação militar que visa o lucro”.[17]
O restante do versículo 12 reforça as duas
declarações de abertura referentes à motivação de
Gogue para invadir Israel. Uma terceira oração
adverbial de finalidade afirma: “...para tornares a
tua mão contra os lugares desertos que se acham
presentemente habitados, e contra o povo que foi
congregado dentre as nações, o qual adquiriu gado e
bens...” (Tradução Brasileira). A noção de “alguém
tornar a sua mão contra” projeta a imagem de uma
pessoa que dá uma virada de 180 graus, mudando
da direção em que estava para empreender um
ataque na outra direção. Isso é descrito no versículo
10, à medida que Gogue elabora um plano maligno,
porém deve ser visto como um instrumento
humano que faz parte de todo aquele processo
originalmente iniciado pelo próprio Deus (Ez 38.2-
4). A imagem retratada na última parte do versículo
12 piora a situação dos maus pensamentos de
Gogue, por fazer alusão ao retorno de Israel à sua
terra, a qual, durante a ausência dos judeus, ficara
desolada e desértica, mas, com o regresso deles, se
torna uma terra produtora de riqueza, a tal ponto
de Gogue e seus aliados invasores quererem invadi-
la para tomar essa riqueza para si. Israel já
sobreviveu mais de 2 mil anos de dispersão entre as
nações e Deus tem trazido os judeus de volta à sua
terra, na qual eles se tornam altamente produtivos e
prósperos, para que Gogue e seus aliados sejam
instigados a atacá-los com o intuito de roubar as
riquezas recém-adquiridas de Israel. Maranata!
NOTAS 1 MERRILL F. UNGER, UNGER’S
COMMENTARY ON THE OLD TESTAMENT,
CHATTANOOGA, TN: AMG PUBLISHERS, (1981)
2002, P. 1578.
2
Francis Brown, S. R. Driver, e C. A. Briggs, Hebrew and
English Lexicon of the Old Testament, Londres: Oxford,
1907, edição eletrônica.
3
C. F. Keil, Ezekiel, Daniel, Commentary on the Old
Testament, traduzido para o inglês por James Martin;
reimpressão, Grand Rapids: Eerdmans Publishing
Company, 1982, p. 164.
4
Brown, Driver, e Briggs, Hebrew Lexicon, edição eletrônica.
5
Ludwig Koehler e Walter Baumgartner, The Hebrew and
Aramaic Lexicon of the Old Testament, versão eletrônica,
Leiden, Holanda: Koninklijke Brill, 2000.
6
Brown, Driver, e Briggs, Hebrew Lexicon, edição eletrônica.
7
Koehler e Baumgartner, Hebrew Lexicon, versão eletrônica.
8
Randall Price, Comentários Não Publicados Sobre as
Profecias de Ezequiel, 2007, p. 40.
9
S. Fisch, Ezekiel:Hebrew Text & English Translation With An
Introduction and Commentary, Londres: The Soncino
Press, 1950, p.255.
10
Brown, Driver, e Briggs, Hebrew Lexicon, edição eletrônica.
11
Ver: Josué 11.23; 14.15; Juízes 3.11,30; 5.31; 8.28.
12
Ver, Thomas Ice, “Ezekiel 38 and 39, Part XIII,” no periódico
Pre-Trib Perspectives, edição de Fevereiro de 2008, p. 6-
7.
13
Price, Comentários Não Publicados de Ezequiel, p. 40-41.
14
Keil, Ezekiel, p. 165.
15
Koehler e Baumgartner, Hebrew Lexicon, versão eletrônica.
16
Brown, Driver, e Briggs, Hebrew Lexicon, edição eletrônica.
17
Charles Lee Feinberg, The Prophecy of Ezekiel, Chicago:
Moody Press, 1969, p. 222.
15. EZEQUIEL
38.12-13
ISRAEL: O CENTRO DO
MUNDO NA TRADUÇÃO QUE
COSTUMO USAR DA BÍBLIA
EM INGLÊS, A THE NEW
AMERICAN STANDARD BIBLE,
A PALAVRA HEBRAICA
TRADUZIDA POR “MUNDO” É,
NA REALIDADE, O TERMO
GERALMENTE USADO PARA
DESIGNAR “TERRA”. O
TERMO HÁ’ARETZ OCORRE
MAIS DE 2.500 VEZES NO
ANTIGO TESTAMENTO
HEBRAICO[3] E É USADO EM
CINCO SENTIDOS BÁSICOS:
1) SOLO, TERRA; 2) UMA
DETERMINADA ÁREA DE
TERRA; 3) UM TERRITÓRIO
OU PAÍS; 4) TODO O
PLANETA TERRA; 5) AS
PROFUNDEZAS DA TERRA OU
MUNDO SUBTERRÂNEO.[4]
NESSE CONTEXTO DE
EZEQUIEL TRATA-SE DE UMA
CLARA REFERÊNCIA À TERRA
INTEIRA. É IMPORTANTE
SALIENTAR QUE O TEXTO
ORIGINAL UTILIZA A
PALAVRA “TERRA” EM VEZ
DE “MUNDO”, JÁ QUE A
PALAVRA “MUNDO” PODE
DENOTAR A DIMENSÃO
POPULACIONAL, NÃO A
DIMENSÃO GEOGRÁFICA
TERRITORIAL. ESSE TEXTO
ENFATIZA O FATO DE ESTAR
SITUADO NO CENTRO DE
TODA A EXTENSÃO
TERRITORIAL DA TERRA – O
UMBIGO GEOGRÁFICO. O
VOCÁBULO HEBRAICO
TRADUZIDO POR “MEIO” OU
“CENTRO” SIGNIFICA
LITERALMENTE “O UMBIGO”,
[5] TAL “COMO O UMBIGO
SE SITUA NO CENTRO DO
CORPO HUMANO”.[6]
Por que a localização de Israel é mencionada
nesse trecho da passagem? Concordo com esta
opinião do rabino Fisch: “Isso é mencionado para
enfatizar a malignidade do plano de Gogue. Este
habita no extremo norte, a uma grande distância da
terra de Israel, de modo que o povo judeu não
poderia ter nenhum projeto agressivo contra ele”.
[7] C. F. Keil faz eco dessa concepção do rabino
Fisch, descrevendo-a como um dos dois motivos
pelos quais Gogue e seus aliados intentam a
invasão: Essa expressão figurada precisa ser
explicada a partir do texto de Ezequiel 5.5: “...Esta é
Jerusalém; pu-la no meio das nações e terras que estão
ao redor dela”. O umbigo não é o tipo de figura de
linguagem que denote as montanhas, mas significa
o território situado no meio da Terra. Portanto,
trata-se da terra mais gloriosa e mais ricamente
abençoada; por conseguinte, os que lá habitam
ocupam a posição mais exaltada entre as nações.
Nesse caso, o desejo cobiçoso de se apoderar dos
bens do povo de Deus e a inveja de sua posição
exaltada no centro do mundo são os motivos que
impelem Gogue a ingressar na sua empreitada
predatória contra o povo que vive em profunda
paz.[8]
A crença de que Israel possui um status
especial e se encontra numa exclusiva localização
global, elucida esta famosa declaração rabínica,
resultante dessas duas passagens do livro de
Ezequiel: Assim como o umbigo se encontra no
centro do corpo humano, assim também a terra de
Israel é o umbigo do mundo [...] situada no centro
do mundo, de modo que Jerusalém se situa no
centro da terra de Israel; o Santuário se situa no
centro de Jerusalém; o Santo dos Santos se situa no
centro do Santuário; a Arca da Aliança se situa no
centro do Santo dos Santos; e a pedra fundamental
diante do Santo dos Santos, porque a partir dela o
mundo foi fundado.[9]
Muitos comentaristas que já analisaram esse
texto enfatizam que, do ponto de vista humano, o
lucro econômico é o único motivo da invasão
empreendida por Gogue. Entretanto, essa última
frase do versículo 12 deixa claro que eles também
invadirão aquela terra por inveja do status especial
que Deus conferiu a Israel e, por conseguinte, de
sua exclusiva localização geográfica.
TREMOR, ESTRONDO E
DESLIZAMENTO A ORDEM
NATURAL E AMBIENTAL DO
MAR, DA TERRA E DOS CÉUS
SERÁ GRANDEMENTE
TRANSTORNADA PELA
DEMONSTRAÇÃO DE PODER DO
SENHOR NO TERRITÓRIO DE
ISRAEL. ESSE TEXTO
CARACTERIZA A REAÇÃO
HUMANA AO QUE DEUS
EXIBIRÁ PORTENTOSAMENTE
NA TERRA DE ISRAEL,
DESTA MANEIRA: “...E TODOS
OS HOMENS QUE ESTÃO SOBRE A
FACE DA TERRA TREMERÃO
DIANTE DA MINHA
PRESENÇA...”. CHARLES
FEINBERG ASSINALA: “A
SEQÜÊNCIA SERÁ, EM
PRIMEIRO LUGAR, O
TERREMOTO; DEPOIS VÊM: A
ANARQUIA NAS TROPAS
INVASORAS, A PESTE E OS
DESASTRES NATURAIS. O
VIOLENTO ABALO SÍSMICO,
PROVOCADO POR DEUS NA
TERRA, AFETARÁ TODAS AS
DIMENSÕES DA NATUREZA,
TANTO A NATUREZA ANIMADA
QUANTO A INANIMADA”.[1]
GOGUE, ARMADO ATÉ OS
DENTES, ATACARÁ ISRAEL,
MAS DEUS, COM UMA
“SIMPLES” SACUDIDA DO
SOLO, FARÁ COM QUE AS
TROPAS INVASORAS SEJAM
TOTALMENTE EXTERMINADAS.
ESSA PASSAGEM BÍBLICA
DEIXA CLARO QUE A
EXCELÊNCIA DAS FORÇAS
ARMADAS DE ISRAEL E DE
SEUS MODERNOS ARMAMENTOS
(INCLUSIVE ARMAS
NUCLEARES) NÃO TEM
NENHUMA RELAÇÃO COM A
DESTRUIÇÃO DE GOGUE E
SEUS ALIADOS.
As últimas três frases do versículo 20
descrevem com mais detalhes o “terremoto na terra
de Israel”. Em conseqüência desse abalo sísmico,
“...os montes serão deitados abaixo, os precipícios se
desfarão, e todos os muros desabarão por terra”. O
texto já tinha feito alusão ao fato de que a invasão
empreendida por Gogue acontecerá “...sobre os
montes de Israel...” (v. 8). Se um exército inimigo
quiser ultrapassar a barreira natural das montanhas
de Israel para entrar no território israelense precisa,
primeiramente, encontrar uma passagem ou um
atalho. Nas guerras que o atual Estado de Israel teve
de enfrentar desde sua fundação, essa tem sido uma
pedra de tropeço para o exército sírio e de outros
países árabes, quando tentaram atacar o território
israelense. Eles têm enfrentado grande dificuldade
de atravessar aquelas montanhas. Entretanto, nessa
invasão predita, Deus, não as forças de defesa de
Israel (em inglês: Israel Defense Forces – IDF), é
Quem destruirá por completo o inimigo, a partir do
momento em que o terremoto do Senhor
literalmente puxar o tapete de debaixo dos pés
daqueles invasores. Não há dúvida de que isso vai
eliminar uma grande parcela das tropas invasoras.
“FOGO AMIGO”
No contexto das guerras atuais, quando
alguém mata acidentalmente outro soldado do
mesmo exército, tal fato é chamado de “fogo
amigo”. Eu li recentemente que nos campos de
combate da atualidade o percentual de mortes por
“fogo amigo” é de 20 por cento, em virtude do
grande poder de fogo dos exércitos modernos. O
versículo 21 deixa absolutamente claro que a única
matança que os invasores da terra de Israel farão
sob o comando de Gogue será o massacre de seus
próprios companheiros de armas. O Senhor Deus
afirma: “Chamarei contra Gogue a espada em todos
os meus montes [...] a espada de cada um se voltará
contra o seu próximo”. Ao que parece, diante da
confusão gerada no terremoto ordenado pelo
Senhor e do terrível abalo das montanhas de Israel,
os exércitos de Gogue vão amargar uma
assombrosa quantidade de “fogo amigo” naquele
momento em que o Senhor os conturbar, levando-
os a se voltarem um contra o outro.
Imagine o terrível constrangimento e a
humilhação que o povo de Gogue vai amargar na
sua própria terra, quando descobrir que as forças de
defesa de Israel nem precisaram entrar em
combate, porque grande parte dos soldados de
Gogue e de seus aliados se matou mutuamente.
Após uma análise mais aprofundada, os aliados de
Gogue vão constatar que lutaram, na verdade,
contra o Deus de Israel e, por isso, não tiveram a
mínima chance! No entanto, esse não é o único
meio que Deus utilizará para derrotar os invasores.
EZEQUIEL 39
Ao completarmos nossa análise e comentário
do capítulo 38 do livro de Ezequiel, viramos, agora,
a página para estudarmos o capítulo 39 dessa
extraordinária profecia. Arnold Fruchtenbaum
comenta que o princípio de interpretação, por ele
denominado de Lei de Recorrência, se aplica no
capítulo 39.[5] Ele descreve esse princípio nos
seguintes termos: Essa lei considera o fato de que,
em algumas passagens das Escrituras, ocorre o
relato de um acontecimento seguido de um
segundo relato do mesmo acontecimento, este
último mais detalhado do que o primeiro. Nesse
caso, a situação quase sempre envolve dois blocos
de texto bíblico. O primeiro bloco de texto
apresenta a descrição de um acontecimento
conforme ele ocorre em seqüência cronológica. Em
seguida, vem um segundo bloco de texto que trata
do mesmo acontecimento e do mesmo período de
tempo, apresentando, contudo, mais detalhes do
que se passa no transcurso daquele acontecimento.
[6]
Fruchtenbaum afirma que Ezequiel 39 “repete
uma parte do relato apresentado no primeiro bloco
de texto e acrescenta outros detalhes referentes à
destruição do exército invasor”.[7] Talvez o Senhor
repita algumas profecias com o fim de deixar
realmente bem entendida a importância daquilo
que Ele está dizendo. Nesse caso, a profecia
referente a Gogue ganharia dupla importância por
causa dessa ênfase. O segundo pronunciamento da
profecia sobre a invasão liderada por Gogue se
conclui em Ezequiel 39.16. O trecho de Ezequiel
39.1-6 é a primeira seção desse capítulo que reitera
a informação acerca do local dessa destruição.
O SEGUNDO VERSÍCULO,
IGUAL AO PRIMEIRO
EZEQUIEL, QUE É CHAMADO
DE “FILHO DO HOMEM” NO
VERSÍCULO UM, RECEBE
ESTA ORDEM: “...PROFETIZA
AINDA CONTRA GOGUE E DIZE:
ASSIM DIZ O SENHOR DEUS: EIS
QUE EU SOU CONTRA TI, Ó
GOGUE, PRÍNCIPE DE RÔS, DE
MESEQUE E TUBAL”. ESSE
TEXTO É UMA REPETIÇÃO
IDÊNTICA DAQUILO QUE
ESTÁ REGISTRADO EM
EZEQUIEL 38.3, SOBRE O
QUE JÁ FIZ COMENTÁRIOS
NAQUELA RESPECTIVA SEÇÃO
DE NOSSA ANÁLISE. POR
QUE FOI REPETIDO? CREIO
QUE O CONTEÚDO DO
VERSÍCULO 1 É EXATAMENTE
O MESMO QUE SE ENCONTRA
NO CAPÍTULO 38, PARA
MOSTRAR QUE É UMA
PROFECIA REFERENTE ÀS
MESMAS ENTIDADES E
ACONTECIMENTOS JÁ
PREDITOS NA SEÇÃO
ANTERIOR. É POR ESSA
RAZÃO QUE O SENHOR, APÓS
ESTABELECER A LIGAÇÃO
DISSO COM O CAPÍTULO
ANTERIOR EM EZEQUIEL
39.1, PASSA A
ACRESCENTAR MAIS
INFORMAÇÕES SOBRE ESSE
ACONTECIMENTO NO TEXTO
DE EZEQUIEL 39.3-6.
O versículo 2 declara: “Far-te-ei que te volvas e
te conduzirei, far-te-ei subir dos lados do Norte e te
trarei aos montes de Israel”. Esse versículo parece
ser a síntese do que está escrito em Ezequiel
38.4,6,8 e 15, sobre o que já fiz comentários em
seção anterior de nossa análise. C. F. Keil faz esta
observação: “Então, os elementos essenciais do
capítulo 38.4-15 são resumidos brevemente no
versículo 2”.[8] Charles Feinberg afirma: “A
declaração sobre fazer com que Gogue se “volva”
(v.2) traz consigo a idéia de compulsão”.[9]
Entretanto, a frase “...e te conduzirei...” não ocorre
no capítulo anterior. Na realidade, o texto de
Ezequiel 39.2 é a única referência na qual esse verbo
é usado em todo o Antigo Testamento Hebraico.
[10] O termo transmite a idéia básica de “caminhar
ao lado de”,[11] como alguém que caminha ao lado
de um animal, a exemplo de um cão, conduzindo-o
pela coleira. Esse verbo está conjugado no tempo
hebraico Piel que determina uma ação intensiva na
voz ativa. Assim, a imagem que esse texto retrata é
a do Senhor conduzindo Gogue e seus aliados até os
montes de Israel, como se conduz um animal pela
coleira. A passagem não deixa a menor dúvida de
que a suprema causa motivadora dessa invasão, a
despeito da ação humana, é a vontade soberana de
Deus.
O DESARMAMENTO DE GOGUE
O VERSÍCULO TRÊS
ASSEVERA: “TIRAREI O TEU
ARCO DA TUA MÃO ESQUERDA E
FAREI CAIR AS TUAS FLECHAS
DA TUA MÃO DIREITA”.
AMBAS AS FRASES SÃO
EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS
HEBRAICAS QUE RETRATAM A
AÇÃO DO SENHOR, NÃO DE
ISRAEL, AO DESARMAR
GOGUE, ARRANCANDO DAS
MÃOS DELE O ARCO, QUE É
UMA ALUSÃO ÀS ARMAS OU
AOS SISTEMAS DE
ARMAMENTO DE GOGUE
(SEJAM ELES QUAIS
FOREM). O SENHOR TAMBÉM
VAI TIRAR A MUNIÇÃO
USADA POR GOGUE DURANTE
ESSA FUTURA INVASÃO, TAL
COMO AFIRMA: “...E FAREI
CAIR AS TUAS FLECHAS DA TUA
MÃO DIREITA”. EM TERMOS
SIMPLES E CLAROS, O
SENHOR DESARMARÁ GOGUE
PARA DEFENDER A NAÇÃO DE
ISRAEL. KEIL EXPLICA:
“NA TERRA DE ISRAEL, O
SENHOR VAI GOLPEAR AS
ARMAS DE GOGUE PARA
ARRANCÁ-LAS DE SUAS
MÃOS, I.E., TORNANDO-O
INCAPAZ DE COMBATER
[...] ENTREGANDO GOGUE E
TODO O SEU EXÉRCITO POR
PRESA DESTINADA À
MORTE”.[12]
Assim, o capítulo 39 começa com uma breve
visão panorâmica e um resumo de muitas coisas
que já tinham sido reveladas no capítulo anterior. O
Senhor assegura Sua intensa vigilância sobre essa
futura batalha na qual Ele protegerá Seu povo.
Além disso, podemos testemunhar a postura atual
de alguns dos atores que vão desempenhar seu
papel nessa terrível invasão, tais como a Rússia e o
Irã que já têm manifestado a sua beligerância.
Maranata!
NOTAS 1 GEORGE FRIEDMAN, “THE RUSSO-GEORGIAN
WAR AND THE BALANCE OF POWER”, PUBLICADO NO
STRATFOR GEOPOLITICAL INTELLIGENCE REPORT,
EDIÇÃO DE 12 DE AGOSTO DE 2008, ATRAVÉS DO
SITE: WWW.STRATFOR.COM.
2
“Russia’s Bear bomber returns”, edição eletrônica da BBC
News, veiculada no dia 10 de setembro de 2007, através
do site: www.news.bbc.co.uk/2/hi/europe/6984320.stm.
3
“Putin eyes renewed Russian ties with Cuba”, edição
eletrônica da CNN, veiculada no dia 4 de agosto de 2008,
através do site:
http://www.cnn.com/2008/WORLD/europe/08/04/russia.cuba.ap/
4
Gary NORTH, “The Unannounced Reason Behind American
Fundamentalism’s [& Virtually All Evangelicalism] Support for
the State of Israel”, publicado em 19 de Julho de 2000,
através do site: www.tks.org/GaryNorth.htm.
5
Arnold FRUCHTENBAUM, Footsteps of the Messiah: A Study of
the Sequence of Prophetic Events, Tustin, CA: Ariel Press,
(1982), 2003, p. 6.
6
FRUCHTENBAUM, Footsteps, p. 6. Fruchtenbaum classifica as
seguintes passagens bíblicas como exemplos da Lei de
Recorrência: Gênesis 1 e 2; Isaías 30 e 31; Ezequiel 38 e
39; Apocalipse 17 e 18.
7
FRUCHTENBAUM, Footsteps, p. 6.
8
C. F. KEIL, “Ezekiel, Daniel”, Commentary on the Old
Testament, traduzido para o inglês por James Martin,
reimpressão, Grand Rapids: Eerdmans Publishing
Company, 1982, p. 171.
9
Charles Lee FEINBERG, The Prophecy of Ezekiel, Chicago:
Moody Press, 1969, p. 228.
10
Baseado em pesquisa realizada através do programa de
computador Accordance, versão 7.4.2.
11
Ludwig KOEHLER e Walter BAUMGARTNER, The Hebrew and
Aramaic Lexicon of the Old Testament, versão eletrônica,
Leiden, Holanda: Koninklijke Brill, 2000.
12
KEIL, Ezekiel, p. 171.
20. EZEQUIEL 39.4-
6
SETE MESES DE
SEPULTAMENTO “DURANTE
SETE MESES, ESTARÁ A CASA DE
ISRAEL A SEPULTÁ-LOS, PARA
LIMPAR A TERRA” (EZ
39.12). A EXPRESSÃO
“CASA DE ISRAEL” SE REFERE
AO POVO JUDEU QUE JÁ
VOLTOU À SUA TERRA NATAL
(EZ 38.8) E ATUALMENTE
VIVE NA TERRA PROMETIDA.
O POVO JUDEU TERÁ DE
ENTERRAR OS CADÁVERES
“...PARA LIMPAR A TERRA”.
QUAIS SÃO OS REQUISITOS
JUDAICOS PARA QUE TAL
LIMPEZA SEJA REALIZADA?
PRICE APONTA OS
SEGUINTES PROCEDIMENTOS
ADOTADOS ATUALMENTE EM
ISRAEL QUE TÊM RELAÇÃO
COM ESSE TEXTO: COM BASE
NESSE VERSÍCULO, OS
RABINOS ESTABELECERAM,
POR INFERÊNCIA, A
DECISÃO JUDICIAL (NO
HEB. HALACHÁ) DE QUE
TODAS AS SEPULTURAS
DEVEM SER MARCADAS. NO
ESTADO DE ISRAEL DOS
TEMPOS MODERNOS, UM
GRUPO NÃO-GOVERNAMENTAL
DE JUDEUS ORTODOXOS,
CONHECIDO PELO ACRÔNIMO
HEBRAICO ZACA (QUE
SIGNIFICA:
“IDENTIFICAÇÃO DAS
VÍTIMAS DE DESASTRES”),
É DESIGNADO PARA REMOVER
CUIDADOSAMENTE TODOS OS
RESTOS MORTAIS HUMANOS
APÓS UM ATENTADO SUICIDA
À BOMBA, A FIM DE
RESTAURAR A ORDEM E
EVITAR A IMPUREZA
CERIMONIAL NA TERRA DE
ISRAEL. SEGUNDO A LEI
JUDAICA (I.E. HALACHÁ),
OS MORTOS DEVEM SER
ENTERRADOS IMEDIATAMENTE
PORQUE OS CADÁVERES (OU
MESMO ALGUNS POUCOS
OSSOS) SÃO FONTE DE
CONTAMINAÇÃO RITUAL PARA
A TERRA (CF. NM 19.11-
22; DT 21.1-9). A
PASSAGEM DE EZEQUIEL
36.17-21 JÁ ESTABELECERA
A RELAÇÃO ENTRE PUREZA
CERIMONIAL E SANTIDADE
DIVINA, DE MODO QUE O
TEXTO AQUI NESTE TRECHO
MENCIONA POR TRÊS VEZES
A NECESSIDADE DE “LIMPAR
A TERRA” (VERSÍCULOS 12,
14 E 16).[8]
O texto afirma que esse processo de
sepultamento durará sete meses. Por que vai
demorar tanto tempo para que essa tarefa seja
concluída? Em primeiro lugar, porque o número
imenso de invasores mortos simplesmente fará com
que a própria tarefa de sepultamento seja
assustadoramente morosa. Em segundo lugar, sem
dúvida nenhuma Fruchtenbaum está correto
quando declara: “Uma vez que os exércitos serão
destruídos nos montes de Israel, muitos corpos
cairão nas fendas escarpadas, o que dificultará sua
localização. Isso exigirá que o governo autorize o
uso de equipamentos especiais durante sete meses,
a fim de que esses corpos sejam localizados e
sepultados naquele específico vale”.[9]
COMEMORAÇÃO DO
SEPULTAMENTO “SIM, TODO O
POVO DA TERRA OS
SEPULTARÁ...” (EZ 39.13A).
ESSA DECLARAÇÃO DÁ
SUSTENTAÇÃO AO FATO DE
QUE O MASSACRE SOFRIDO
PELAS TROPAS INVASORAS
SERÁ TÃO DEVASTADOR QUE
TODO O POVO DA TERRA DE
ISRAEL VAI TER DE SE
MOBILIZAR PARA ENTERRAR
OS CORPOS. AO QUE
PARECE, A POPULAÇÃO
GERAL DE ISRAEL
PRECISARÁ DEIXAR SEUS
EMPREGOS NORMAIS PARA
REALIZAR ESSA TAREFA
(VEJA: EZ 39.14-16).
TALVEZ A POPULAÇÃO EM
GERAL TENHA DE SE
ENVOLVER NA LIMPEZA
INICIAL ATÉ QUE
ESPECIALISTAS ASSUMAM A
TAREFA E CONCLUAM TODO O
TRABALHO.[10] O FATO DE
QUE ESSA LIMPEZA SERÁ
TRABALHOSA E DEMORADA
PODE EXPLICAR A RAZÃO
PELA QUAL UMA CIDADE
SURGIRÁ NAQUELA
LOCALIDADE, COM VISTA
PARA O VALE. NOS ESTADOS
UNIDOS, QUANDO SE
DESCOBRE PETRÓLEO EM
DETERMINADO LUGAR OU
QUANDO ACONTECE UMA
“CORRIDA DO OURO”,
CIDADES SURGEM
SUBITAMENTE NAS
PROXIMIDADES DO LOCAL DE
INTERESSE. POR
SEMELHANTE MODO, PODE
SER QUE O SURGIMENTO
SÚBITO DA CIDADE QUE SE
CHAMARÁ HAMONÁ (I.E.,
“FORÇAS” OU “MULTIDÕES”)
SEJA MOTIVADO PELA
NECESSIDADE DE SE
CONSTRUIR UM ACAMPAMENTO
DE BASE PARA AS PESSOAS
QUE TRABALHAREM NESSE
SEPULTAMENTO.
Esse projeto de sepultamento envolvendo todo
o povo de Israel, segundo diz o texto, “...ser-lhes-á
memorável o dia em que eu for glorificado, diz o
Senhor Deus” (Ez 39.13). A expressão hebraica
traduzida por “ser-lhes-á memorável” se encontra no
caso construto relacionando “para eles” com
“memorável”. O vocábulo traduzido por
“memorável” é um termo hebraico comum[11] que,
em geral, se traduz pela palavra “nome”. Todavia,
nesse contexto, o sentido desse termo traz
nitidamente a noção de “tornar célebre um nome”
ou “tornar-se famoso”.[12] Essa é a razão pela qual
o termo “memorável” é uma excelente tradução da
palavra hebraica Shem (i.e., “nome”) nesse
contexto. Assim, depois desse processo de enterro,
a comemoração do sepultamento, feita pelo povo
de Israel, se tornará célebre naquele dia. Mais do
que isso, o texto diz que é por causa da fama e do
renome de Seu povo que o Senhor Deus será
glorificado através desses acontecimentos. Por que,
do ponto de vista de Deus, isso será visto como um
episódio glorioso e honroso para o Senhor? Será
visto como algo glorioso porque, através desse
acontecimento, Deus provará para Israel e para
todas as nações do mundo que Ele, o Senhor Deus
de Israel, é capaz de manter as promessas que fez
ao povo de Sua Aliança, Israel. Maranata!
O CARDÁPIO O SENHOR
ESPECIFICA O CARDÁPIO
QUE SERÁ OFERECIDO AOS
ANIMAIS CARNICEIROS E
AVES QUE PARTICIPARÃO
DESSE BANQUETE. ENTRE AS
OPÇÕES DESCRITAS PELO
SENHOR ESTÃO “A CARNE
DOS PODEROSOS” E O
“SANGUE DOS PRÍNCIPES DA
TERRA” (EZ 39.18). O
TERMO HEBRAICO TRADUZIDO
POR “PODEROSOS” É A
FORMA PLURAL DA PALAVRA
HEBRAICA QUE SE TRADUZ
POR “FORTE” E SIGNIFICA:
“HOMEM PODEROSO, HOMEM
FORTE OU HOMEM VALENTE;
I.E., AQUELE QUE, ALÉM
DE FORTE, TEM PODER
POLÍTICO OU PODERIO
MILITAR”.[5] PORTANTO, O
TEXTO FAZ REFERÊNCIA A
TROPAS MILITARES DE
ELITE, COMO OS SOLDADOS
DE NOSSAS FORÇAS
ESPECIAIS DE COMBATE. O
OUTRO TERMO HEBRAICO QUE
DENOTA UM LÍDER HUMANO
SIGNIFICA LITERALMENTE
“LÍDER, GOVERNANTE,
CHEFE, PRÍNCIPE, I.E.,
AQUELE QUE GOVERNA OU
REGE UM GRUPO, SEJA ELE
ESCOLHIDO POR SUA
CAPACIDADE, SEJA POR
LINHAGEM SANGUÍNEA”.[6]
EM OUTRAS PALAVRAS, NÃO
APENAS OS MILITARES DE
ELITE SERÃO ANIQUILADOS,
MAS TAMBÉM SEUS
GOVERNANTES. O TEXTO
HEBRAICO PODERIA APENAS
TER MENCIONADO OS
PRÍNCIPES, O QUE
BASTARIA PARA QUE
ENTENDÊSSEMOS QUE É UMA
REFERÊNCIA AOS PRÍNCIPES
DA TERRA. ENTRETANTO, A
EXPRESSÃO “DA TERRA” FOI
REGISTRADA PROVAVELMENTE
PARA INDICAR QUE OS
MELHORES DA TERRA FORAM
DESTRUÍDOS PELO
GOVERNANTE DO CÉU E DA
TERRA, A SABER, O
PRÓPRIO SENHOR.
Ao descrever a matança de Seus inimigos, o
Senhor faz uso da terminologia de um banquete
sacrificial e equipara a carnificina humana com os
animais que freqüentemente eram oferecidos em
sacrifício durante os cultos de Israel no Templo. Só
que dessa vez, a verdadeira oferta sacrificada são os
inimigos de Israel, os quais serão servidos aos
animais do campo e aos pássaros. “Era normal que
as pessoas matassem e comessem os animais
sacrificados. Aqui, todavia, os homens dos exércitos
de Gogue serão mortos e oferecidos em sacrifício;
eles é que serão comidos pelos animais”.[7] “Os
animais mencionados estão numa relação figurada
com as diferentes categorias de homens mortos”.[8]
“Para dar o devido destaque a essa concepção, as
aves de rapina e animais predadores são
convocados por Deus a se reunirem para a refeição
que lhes foi preparada”. A cena aqui retratada de
uma refeição sacrificial se baseia em Isaías 34.6 e
Jeremias 46.10. Em harmonia com essa imagem, os
inimigos abatidos são descritos como animais
engordados para o sacrifício, carneiros, cordeiros,
bodes e novilhos; sobre isso, Grotius salientou
corretamente que “essas espécies de animais,
geralmente utilizadas nos sacrifícios, devem ser
interpretadas como diferentes estirpes de homens,
a saber, governantes, generais e soldados, como o
Dicionário Caldeu também menciona”.[9]
Esta frase: “...todos engordados em Basã” se
refere primeiramente a um “animal cevado”, ou
seja, um mamífero relativamente jovem (em geral,
da espécie bovina), selecionado para consumo
dentre os animais desmamados.[10] Em segundo
lugar, Basã diz respeito ao “território fértil limitado
pelo rio Jaboque ao sul, pelo mar da Galiléia a
oeste, e por uma linha imaginária que se dirige para
o leste desde o monte Hermom ao norte até a
cordilheira do Haurã, a leste”.[11] Como ressalta
Charles Feinberg: “Basã era um território famoso
pela excelência de suas pastagens e pelo gado bem
nutrido”.[12] Hoje em dia, se você viaja até as
colinas de Golã, em Israel, vai constatar que é a
principal região onde o gado pasta nos campos e
onde a pecuária mais se desenvolve.
O versículo 19 também revela aspectos
irônicos. Gogue e seus comparsas atacam Israel
com o propósito de saquear e levar o despojo da
terra, mas, ao invés disso, eles é que são derrotados
e despojados. Nesse caso, Gogue e seus exércitos
proporcionarão a gordura e o sangue com os quais
os animais e as aves ficarão enfastiados e
embriagados. Para tanto, é preciso haver um
excesso de comida e de bebida. Pois é exatamente
isso que vai acontecer nessa ocasião da derrota de
Gogue nos montes de Israel.
O versículo 20 afirma: “À minha mesa, vós vos
fartareis...”. Feinberg comenta o seguinte: “O
banquete sacrificial, mencionado no versículo 19, é
referido no versículo 20 como ‘minha mesa’ porque
é o Senhor que oferece o banquete. É uma imagem
que comunica muito bem a idéia de grande
carnificina, de juízo merecido e de condenação
irrevogável”.[13] Dessa maneira, aquilo que foi dito
simbolicamente no versículo 18, a saber: “Comereis
a carne dos poderosos e bebereis o sangue dos
príncipes da terra, dos carneiros, dos cordeiros, dos
bodes e dos novilhos...”, o versículo 20 reafirma
literalmente: “À minha mesa, vós vos fartareis de
cavalos e de cavaleiros, de valentes e de todos os
homens de guerra...”. Mais uma vez fica evidente
que o foco dessa passagem se concentra no fato de
que nosso Soberano Senhor é Aquele que tem o
controle da história, bem como é Aquele que
superintende todo esse acontecimento, ainda que
Gogue e seus aliados tenham seus motivos para tal
invasão. O texto afirma que essa mensagem na
íntegra é uma declaração do “...Senhor Deus”, o Rei
que governa tanto o céu como a terra.
CONCLUSÃO APESAR DO
CAPÍTULO 39 DE EZEQUIEL
AINDA TER NOVE
VERSÍCULOS ATÉ O SEU
FIM, A PROFECIA DA
BATALHA DE GOGUE E
MAGOGUE TERMINA NO
VERSÍCULO 20. O DR.
PRICE EXPLICA O
SEGUINTE: AS ALUSÕES À
GUERRA DE GOGUE
ENCERRAM-SE NO VERSÍCULO
22, DE MODO QUE O FOCO
DA PASSAGEM SE VOLTA
EXCLUSIVAMENTE PARA O
LIVRAMENTO QUE DEUS
EFETUOU EM FAVOR DE SEU
POVO NO PASSADO E PARA A
DEVOÇÃO DOS ISRAELITAS
AO SENHOR QUANDO ELES
FUTURAMENTE FOREM
RESTAURADOS. OS
VERSÍCULOS 21 E 22 SÃO
VERSOS DE TRANSIÇÃO QUE
REITERAM O PROPÓSITO
DIVINO PARA A DERROTA DE
GOGUE, A SABER, FORNECER
INFORMAÇÃO REVELADORA
SOBRE DEUS PARA AS
NAÇÕES (V.21) E PARA
ISRAEL (V.22).[14]
Durante as próximas etapas de nossa análise,
este autor usará as informações reunidas nas etapas
anteriores para aplicá-las ao mundo
contemporâneo ou ao mundo futuro, nas diversas
possibilidades que fluem indutivamente do texto.
Algumas questões que precisam ser levantadas são
as seguintes: Quando, onde, por que e o que deve
acontecer para que essa profecia se cumpra
futuramente na história. Maranata!
NOTAS 1 RANDALL PRICE, “EZEKIEL”, PUBLICADO NA
OBRA ORGANIZADA POR TIM LAHAYE E ED HINDSON,
THE POPULAR BIBLE PROPHECY COMMENTARY,
EUGENE, OR: HARVEST HOUSE PUBLISHERS, 2007,
P. 194.
2
PRICE, “Ezekiel”, p. 194.
3
Carl Friedrich KEIL e Franz DELITZSCH, Commentary on the
Old Testament, Peabody, MA: Hendrickson, 2002, vol. 9, p.
338.
4
Rabbi Dr. S. FISCH, Ezekiel: Hebrew Text & English
Translation With An Introduction and Commentary,
Londres: The Soncino Press, 1950, p. 262.
5
James SWANSON, Dictionary of Biblical Languages With
Semantic Domains: Hebrew (Old Testament), edição
eletrônica, Oak Harbor: Logos Research Systems, Inc.,
1997, DBLH 1475, #1.
6
SWANSON, Dictionary of Biblical Languages, DBLH 5954, #1.
7
John F. W ALVOORD, Roy B. ZUCK e DALLAS THEOLOGICAL
SEMINARY, The Bible Knowledge Commentary: An
Exposition of the Scriptures, Wheaton, IL: Victor Books,
1983–1985, vol. 1, p. 1302.
8
Charles Lee FEINBERG, The Prophecy of Ezekiel, Chicago:
Moody Press, 1969, p. 231.
9
KEIL e DELITZSCH, Commentary, vol. 9, p. 339.
10
Swanson, Dictionary of Biblical Languages, DBLH 5309.
11
Robert Laird HARRIS, Gleason Leonard ARCHER e Bruce K.
W ALTKE, Theological Wordbook of the Old Testament,
edição eletrônica, Chicago: Moody Press, 1980–1999, p.
137.
12
FEINBERG, Ezekiel, p. 231.
13
FEINBERG, Ezekiel, p. 231.
14
PRICE, “Ezekiel”, p. 194.
24. VÁRIOS PONTOS
DE VISTA
CUMPRIU-SE NO PASSADO?
Após analisar os dois pontos de vista que
defendem um cumprimento no passado, tenho de
confessar que, dentre as sete concepções
apresentadas, a concepção menos provável é a que
DeMar defende, quando alega que a invasão
liderada por Gogue se cumpriu nos dias da rainha
Ester. DeMar afirma que as predições de Ezequiel
38–39 se cumpriram “literalmente” naqueles
acontecimentos descritos no capítulo 9 do livro de
Ester, durante os dias da rainha Ester da Pérsia, em
cerca de 470 a.C. DeMar declara que as
semelhanças entre a batalha descrita em Ezequiel
38–39 e os fatos relatados no livro de Ester são
“inconfundíveis”.[8] Porém DeMar, na sua
interpretação literal, não leva em conta uma série
de diferenças claras entre os textos de Ezequiel 38–
39 e Ester 9. Uma simples leitura dessas duas
passagens bíblicas comprova que esses textos não
podem estar descrevendo o mesmo acontecimento.
Abaixo relaciono algumas das incoerências
mais evidentes e problemáticas do ponto de vista de
DeMar, numa análise comparativa que demonstra
sua impossibilidade:
Ezequiel 38–39 Ester 9
A terra de Israel é invadida (38.16) por uma Os judeus são atacados nas cidades de
coalizão de vários exércitos. Os inimigos tombam todo o império Persa (127 províncias; Et 9.30)
nos montes de Israel (39.4). Gogue, o líder dessa por supostas gangues de pessoas inimigas,
invasão, é enterrado em Israel (39.11). não exércitos, e se defendem (9.2). Os
inimigos são mortos em todo o império
Persa.
Durante um período de sete meses, os judeus Não há necessidade de limpar a terra,
sepultarão os corpos dos inimigos invasores para porque os cadáveres não se encontram em
limpar a terra de Israel (39.12). Israel.
Os invasores são destruídos por um terremoto Os agressores são mortos pelo próprio
arrasador na terra de Israel, por lutas internas povo Judeu, auxiliados por governantes
(aliados que lutam entre si), por pragas, bem locais das províncias (9.3-5).
como por fogo e enxofre que caem do céu
(38.19-22). Deus destrói os inimigos de Israel
sobrenaturalmente.
Os invasores vêm do extremo oeste, como a O território do império Persa não incluía
antiga Pute (atual Líbia; Ez 38.5) e do extremo essas regiões. Sua extensão territorial no
norte, como Magogue, a terra dos Citas. extremo oeste chegava até Cuxe (atual
Sudão; Et 8.9) e no extremo norte chegava
até a região situada abaixo do mar Negro e
do mar Cáspio.
Deus mete fogo em Magogue e nos que Não há nada que se assemelhe a isso em
habitam nas ilhas (39.6). Ester 9.
CONCLUSÃO
A cena de uma invasão maciça da terra de
Israel no fim dos tempos, pelos povos mencionados
no texto de Ezequiel, nunca foi vista na história,
apesar das alegações em contrário. Desde a época
da profecia de Ezequiel, nenhum episódio da
história remota de Israel até os dias atuais sequer
chega perto de uma correlação ou encaixe com
aqueles detalhes registrados em Ezequiel 38 – 39
(muito menos o que consta em Ester 9). Por isso,
partindo-se do pressuposto óbvio de que uma
profecia deve se cumprir literalmente, essa profecia
referente à invasão liderada por Gogue deve
aguardar um cumprimento que, mesmo da
perspectiva de nossos dias, ainda se dará no futuro.
Assim, o texto profético de Ezequiel 38–39 retrata
uma futura invasão de Israel no fim dos tempos,
imposta pela Rússia e seus aliados, como o Irã e
outros povos citados (todos esses, na atualidade, são
nações islâmicas que menosprezam e odeiam
Israel). Maranata!
NOTAS
1
Veja: Gary DEMAR, End Times Fiction: A Biblical
Consideration of the Left Behind Theology, Nashville:
Thomas Nelson, 2001, p. 12-15; veja também: DEMAR, Last
Days Madness: Obsession of the Modern Church, Powder
Springs, GA: American Vision, 1999, p. 368-69. DeMar
segue a mesma linha de pensamento do seu colega
preterista James Jordan, na obra que este escreveu
intitulada: Esther: In the Midst of Covenant History,
Niceville, FL: Biblical Horizons, 1995.
2
Jay ROGERS, “Does the Bible predict a Russian invasion of
Israel?”, artigo publicado em abril de 1997 no site da
Internet:
http://www.forerunner.com/predvestnik/X0058_Russia_Israel.html
acessado em 12 de março de 2009.
3
Veja: Arnold G. FRUCHTENBAUM, The Footsteps of the
Messiah: A Study of the Sequence of Prophetic Events,
edição revisada; Tustin, CA: Ariel Ministries, 2003, p. 117-
125. Veja, também, como Tim LAHAYE e Jerry JENKINS
retrataram esses acontecimentos em sua obra Left Behind:
A Novel of the Earth’s Last Days, Wheaton, IL: Tyndale,
1995.
4
Veja: Mark HITCHCOCK, Iran – The Coming Crisis: Radical
Islam, Oil, and The Nuclear Threat, Sisters, OR:
Multnomah, 2006, p. 177-89.
5
Veja: Louis S. BAUMAN, Russian Events in the Light of Bible
Prophecy, Nova York: Fleming H. Revell, Company, 1942,
p. 174-75.
6
Veja: Arno C. GAEBELEIN, The Prophet Ezekiel, Nova York:
Our Hope, 1918, p. 252-55.
7
Veja: Ralph ALEXANDER, Ezekiel, Chicago: Moody Press,
1976, p. 127-29.
8
DEMAR, End Times Fiction, p. 13.
9
Horst SEEBASS, Theological Dictionary of the Old Testament,
organizado por G. Johannes BOTTERWECK e Helmer
RINGGREN, traduzido para o inglês por John T. Willis; Grand
Rapids: William B. Eerdmans, 1977, vol. 1, p. 211-12.
25. VÁRIOS PONTOS
DE VISTA –
(CONTINUAÇÃO 1) O
SEGUNDO PONTO DE
VISTA PRETERISTA,
OU SEJA, A
CONCEPÇÃO DE QUE
AS PREDIÇÕES
REGISTRADAS NO
TEXTO DE EZEQUIEL
38–39 SE CUMPRIRAM
NO PASSADO,
DEFENDE A
PERSPECTIVA DE QUE
ESSA PROFECIA “SE
CUMPRIU NO SÉCULO
II A.C., QUANDO OS
SÍRIOS INVADIRAM A
PALESTINA E FORAM
DERROTADOS POR
JUDAS MACABEU”.[1]
UM INTÉRPRETE
PRETERISTA AFIRMOU
QUE ESSA É A
CONCEPÇÃO MAIS
AMPLAMENTE
DIFUNDIDA E
DEFENDIDA PELA
MAIORIA DOS
PRETERISTAS,
PORÉM, AO
PESQUISAR EM MINHA
BIBLIOTECA PESSOAL
E NOS SITES
PRETERISTAS DE
MAIOR EXPRESSÃO,
NÃO ENCONTREI
PRATICAMENTE
NENHUM PRETERISTA
QUE TENHA ESCRITO
ALGO SOBRE O
SIGNIFICADO DESSA
PROFECIA. COMO
SEMPRE, MUITOS
PRETERISTAS
ARGUMENTAVAM QUE
TAL PROFECIA NÃO
SIGNIFICA AQUILO
QUE OS INTÉRPRETES
FUTURISTAS DIZEM
QUE ELA SIGNIFICA,
MAS ESSES
PRETERISTAS
RARAMENTE TÊM
TEMPO PARA NOS
EXPLICAR COM
DETALHES O QUE
ELES CRÊEM QUE
ESSA PASSAGEM
BÍBLICA SIGNIFICA.
É MUITO DIFÍCIL
ACHAR UM
COMENTÁRIO BÍBLICO
SEQÜENCIAL,
ESCRITO POR UM
INTÉRPRETE
PRETERISTA, QUE
COMENTE PALAVRA
POR PALAVRA DAS
ESCRITURAS SEGUNDO
A PERSPECTIVA
PRETERISTA. NESSE
CASO, COMENTAREI
EM LINHAS GERAIS
OS PONTOS DE VISTA
QUE ELES ADVOGAM.
UM CUMPRIMENTO PROFÉTICO
NO SÉCULO II A.C.
Max King, um preterista convicto, fez o
seguinte comentário sobre a identidade de Gogue e
Magogue: “Ezequiel faz uso desses nomes para se
referir ao poder dos Selêucidas, especialmente
quando atingiu o seu apogeu nos dias de Antíoco
Epifânio”.[2] Em seguida, Max King acrescentou
uma nota de rodapé citando o amilenista que não é
preterista, William Hendrikson,[3] para apoiar sua
afirmação. Dessa forma, sem fornecer muitos
detalhes, os que advogam essa concepção acreditam
que “a opressão imposta ao povo de Deus por
‘Gogue e Magogue’ é uma referência, feita no livro
de Ezequiel, à terrível perseguição imposta por
Antíoco Epifânio, governante da Síria”.[4]
Diferente daquela concepção de Gary DeMar que
analisamos na seção anterior, esse último ponto de
vista admite, pelo menos, que os invasores
realmente sobrevirão à terra de Israel, como se
observa na profecia de Ezequiel. O intérprete
preterista Vic Reasoner declara o seguinte: “O
contexto de Ezequiel estava descrevendo a
insurreição dos Macabeus no Século II antes de
Cristo”.[5]
Embora seja verdade que Antíoco Epifânio,
governante da Síria, invadiu Israel no Século II a.C.,
pouquíssimas semelhanças existem entre essa
invasão e aquela que foi predita nessa passagem de
Ezequiel. Para começar, a invasão inicial de Israel
empreendida por Antíoco foi bem sucedida de
modo que ele conseguiu oprimir o povo judeu. Só
depois de um período de vida sob o domínio
opressor da Síria que a revolta dos Macabeus teve
início e, por fim, foi vitoriosa. Na descrição da
invasão de Gogue à terra de Israel, o texto de
Ezequiel não indica em nenhum momento que os
invasores obteriam algum êxito na sua tentativa,
muito menos que conseguiriam estabelecer um
período de ocupação da terra de Israel. Na profecia
de Ezequiel, o Senhor destroça os exércitos
invasores no momento em que eles invadem Israel.
A principal característica da Revolta dos Macabeus
foi a nítida participação do elemento humano como
instrumento para derrotar os Selêucidas que
ocupavam a terra de Israel, ao passo que, na
profecia de Ezequiel, Deus não utiliza seres
humanos para derrotar Gogue e seus exércitos; em
vez disso, Ele próprio os derrota através de atos
miraculosos (Ez 38.21-22).
A revolta dos Macabeus não ocorreu depois de
um reagrupamento internacional dos judeus na sua
terra, vindos de todas as partes do mundo, como é
o que vai acontecer no episódio da invasão de Israel
liderada por Gogue. Além disso, se orgulho
nacionalista judaico estava em alta durante a
revolta dos Macabeus, tal orgulho nacionalista não
fará parte do avivamento espiritual que sucederá ao
povo Judeu, em consequência do livramento que o
Senhor lhes concederá na ocasião do ataque de
Gogue (Ez 38.23). Quando foi que Deus meteu fogo
“...em Magogue e nos que habitam seguros nas terras
do mar...”, de modo que Magogue e as nações
chegassem a reconhecer o que Deus afirma de Si
mesmo: “...eu sou o Senhor” (Ez 39.6)? Em que
ocasião os Judeus da época dos Macabeus
queimaram, por sete anos, as armas de guerra ou
enterraram, por sete meses, os cadáveres dos
invasores (Ez 39.9-16)? Essas coisas todas não
aconteceram, de fato, no Século II a.C., nem em
época alguma, o que nos leva a concluir que ainda
estão por se cumprir no futuro. O exército invasor,
predito em Ezequiel, virá “...dos últimos confins do
norte...” (Ez 38.15; TB – Tradução Brasileira), não
do norte próximo, onde a Síria se localiza. Ezequiel
afirma que essa invasão acontecerá “...no fim dos
anos...” (Ez 38.8) e “...nos últimos dias...” (Ez 38.16).
Se o ponto de vista que defende um cumprimento
profético no período dos Macabeus estivesse
correto, isso teria ocorrido a cerca de 2.200 anos
atrás, na metade da história humana, não no fim
desta, muito menos nos últimos dias.
É curioso que a ampla maioria dos Judeus
Ortodoxos da atualidade está convencida de que a
campanha militar de Gogue e Magogue é um
acontecimento que ainda ocorrerá no futuro. Se
essa profecia realmente tivesse se cumprido no
Século II a.C., os rabinos judeus, desde aquela
época até os dias de hoje, teriam reconhecido tal
cumprimento profético. Em vez disso, os detalhes
dessa famosa batalha não se cumpriram em
momento nenhum do passado, mas aguardam seu
cumprimento literal no futuro.
A CONCEPÇÃO PRÉ-
TRIBULACIONISTA À MEDIDA
QUE MUDO A DIREÇÃO DE
NOSSA ANÁLISE, DEIXANDO
OS PONTOS DE VISTA QUE
PROPÕEM UM CUMPRIMENTO
DESSE TEXTO DE EZEQUIEL
NO PASSADO PARA AQUELES
PONTOS DE VISTA QUE
DEFENDEM A IDÉIA DE QUE
ESSA INVASÃO LIDERADA
POR GOGUE SE CUMPRIRÁ NO
FUTURO, A PRIMEIRA
CONCEPÇÃO COM A QUAL NOS
DEPARAMOS PROPÕE QUE
ESSE ACONTECIMENTO
OCORRERÁ ANTES DO
PERÍODO DA TRIBULAÇÃO. A
MAIORIA DOS QUE ADVOGAM
ESSE PONTO DE VISTA
ACREDITA QUE A REFERIDA
INVASÃO SE CUMPRIRÁ
DEPOIS DO ARREBATAMENTO
DA IGREJA, MAS ANTES DO
INÍCIO DA TRIBULAÇÃO,
DURANTE O INTERVALO DE
TEMPO QUE PODE SER DE
DIAS, SEMANAS, MESES, OU
ATÉ MESMO, DE ALGUNS
ANOS. NO ENTANTO, ALGUNS
QUE TAMBÉM ADVOGAM O
PONTO DE VISTA DE UM
CUMPRIMENTO AINDA
FUTURO, ADMITEM A
POSSIBILIDADE DE QUE
ESSE ACONTECIMENTO
PROFÉTICO SE CUMPRA
ANTES MESMO DO
ARREBATAMENTO.
Creio que este último ponto de vista é o que
faz mais sentido, apesar de admitir a existência de
alguns problemas nessa concepção para os quais
ainda não encontro respostas satisfatórias. Na
realidade, um dos aspectos que geram mais dúvida
nessa concepção é o que se refere ao momento
exato desse acontecimento no cronograma
profético de Deus. Não estou totalmente satisfeito
com nenhum dos possíveis pontos de vista acerca
do momento em que essa batalha se cumprirá na
história. Contudo, até esta etapa de minhas
pesquisas, encontro-me firmemente posicionado
no campo do cumprimento pré-tribulacionista
dessa profecia referente a Gogue, embora eu ainda
não tenha a resposta para algumas perguntas que se
levantam.
Se fizéssemos um levantamento dos pontos de
vista que 25 anos atrás eram defendidos pelos
intérpretes futuristas sobre o momento em que se
cumprirá a profecia de Ezequiel 38 e 39, a
concepção nitidamente predominante seria a de
que esse episódio profético se cumprirá
aproximadamente na metade do período da
Tribulação. Naquela época, proeminentes
especialistas em profecia bíblica, tais como, Hal
Lindsey, John Walvoord, J. Dwight Pentecost e
Charles Ryrie, defendiam claramente esse ponto de
vista. Porém, na atualidade, eu diria que o ponto de
vista mais amplamente aceito pelos especialistas em
profecia bíblica é aquele que defende um
cumprimento pré-tribulacionista dessa profecia
referente a Gogue e Magogue. Entre os que
advogam essa concepção se incluem: Chuck Smith,
Chuck Missler, Arnold Fruchtenbaum, Randall
Price, Tim LaHaye e Joel Rosenberg. A seguir,
menciono alguns dos argumentos que alicerçam
essa concepção.
Em primeiro lugar, Fruchtenbaum descreve a
concepção pré-tribulacionista de interpretação
desse texto de Ezequiel nos seguintes termos: [...] a
invasão russa ocorrerá antes que a Tribulação de
fato comece. A partir do texto de Ezequiel 38.1–
39.16, tal ponto de vista chega a certas conclusões.
Em primeiro lugar, que Israel seria estabelecido
antes da Tribulação e estaria habitando em
segurança. Em segundo lugar, que a aliança liderada
pela Rússia invadiria Israel durante esse momento
de segurança que antecede à Tribulação. Em
terceiro lugar, que essa aliança seria destruída
dentro do território de Israel, antes da Tribulação.
[6]
Essa concepção dá ênfase ao fato de que, na
ocasião dessa invasão, o povo de Israel já terá sido
trazido de volta e reagrupado na sua terra,
retornando das nações para onde foi espalhado pelo
poder da espada (Ez 38.8,12). Isso significa que, na
época da invasão liderada por Gogue, os Judeus
terão acabado de retornar à terra de Israel, após
terem sido enviados para o exílio entre as nações
pela força da espada, que seriam as invasões
romanas ocorridas nos anos 70 d.C. e 135 d.C.
respectivamente. Essa é a atual situação do Estado
de Israel da modernidade. Fruchtenbaum declara:
Depois de 1.900 anos, 46 invasões e da Guerra da
Independência, aquela terra voltou a ser judaica e
está livre da dominação estrangeira. Os Judeus que
hoje vivem em Israel vieram de aproximadamente
80 a 90 países diferentes. Os lugares que estavam
continuamente abandonados e desertos, agora são
habitados (Ez 38.8,12). Hoje em dia, os israelenses
estão reconstruindo seus lugares antigos,
transformando-os em modernas cidades e
metrópoles.[7]
Talvez o argumento mais forte em favor desse
ponto de vista refira-se ao fato de que, se esse
acontecimento for pré-tribulacionista (isto é, se
ocorrer antes do período da Tribulação vindoura),
haverá tempo suficiente para enterrar os mortos
durante sete meses (Ez 39.12) e para queimar os
armamentos de guerra durante sete anos (Ez 39.9).
Fruchtenbaum, mais uma vez, explica: Situar essa
invasão no começo do período da Tribulação não
causa nenhum problema na relação com os sete
meses preditos na profecia, mas gera problemas na
relação com os sete anos também preditos. Isso
implicaria um momento no qual Israel estará em
fuga e não terá tempo de concluir a queima das
armas [...] o ponto de vista que defende um
cumprimento antes do período da Tribulação é a
única concepção que não entra em conflito nem
com os sete meses, nem com os sete anos preditos.
Segundo esse ponto de vista, os Judeus
continuariam a habitar na sua Terra após essa
invasão e permaneceriam lá até a metade do
período da Tribulação. Assim, os sete meses de
sepultamento não se constituem num conflito. Os
sete anos também não entram em conflito com essa
interpretação, pois eles começariam antes da
Tribulação e, se necessário, poderiam se estender
até a metade desse período. Segundo esse ponto de
vista, tal invasão deve ocorrer, no mínimo, três anos
e meio (ou mais tempo) antes do início da
Tribulação.[8]
Randall Price, um dos defensores da
concepção pré-tribulacionista de interpretação
desse texto, mostra uma nuance um pouco
diferente sobre aquele período de sete anos da
queima das armas de guerra, quando afirma: Se os
“sete anos” durante os quais Israel queimará as
armas das nações derrotadas forem os “sete anos”
do período da Tribulação (Daniel 9.27; Apocalipse
11.2), esse fato, junto com a realidade do cemitério
de Gogue e da multidão de mortos (Ezequiel 39.11-
16), servirá de testemunho, durante toda a
Tribulação, da promessa do juízo universal das
nações, bem como da completa restauração de
Israel pela evidência da intervenção divina na
ocasião do Segundo Advento de Cristo.[9]
NOTAS 1 JAY ROGERS, “DOES THE BIBLE PREDICT A
RUSSIAN INVASION OF ISRAEL?”, ARTIGO
PUBLICADO EM ABRIL DE 1997 NO SITE DA
INTERNET:
HTTP://WWW.FORERUNNER.COM/PREDVESTNIK/X0058_RUSSIA_
ACESSADO EM 12 DE MARÇO DE 2009.
2
Max R. KING, The Cross and The Parousia of Christ: The
Two Dimensions Of One Age-Changing Eschaton,
Warren, OH: The Parkman Road Church of Christ, 1987, p.
235.
3
William HENDRIKSON, More than Conquerors: An
Interpretation of the Book of Revelation, Grand Rapids:
Baker Book House, 1982, p. 193-95. Por sua vez,
Hendrikson declara que sua interpretação é a mesma que
consta na obra de E. W. HENGSTENBERG, The Revelation of
St. John, 2 vols., 1851.
4
HENDRIKSON, More than Conquerors, p. 193.
5
Vic REASONER, A Fundamental Wesleyan Commentary on
Revelation, Evansville, IN: Fundamental Wesleyan
Publishers, 2005, p. 482.
6
Arnold G. FRUCHTENBAUM, The Footsteps of the Messiah: A
Study of the Sequence of Prophetic Events, edição
revisada, Tustin, CA: Ariel Ministries, 2003, p. 121.
7
FRUCHTENBAUM, Footsteps, p. 121.
8
(Grifo do autor original), FRUCHTENBAUM, Footsteps, p. 122-23.
9
Randall PRICE, “Ezekiel”, publicado na obra organizada por
Tim LaHaye e Ed Hindson, The Popular Bible Prophecy
Commentary, Eugene, OR: Harvest House Publishers,
2007, p. 192.
26. VÁRIOS PONTOS
DE VISTA –
(CONTINUAÇÃO 2) O
ARGUMENTO EM FAVOR
DA INTERPRETAÇÃO
DE QUE A INVASÃO
LIDERADA POR GOGUE
E MAGOGUE OCORRERÁ
DEPOIS DO
ARREBATAMENTO, MAS
ANTES DO PERÍODO
DA TRIBULAÇÃO,
BASEIA-SE NA
INFORMAÇÃO
FORNECIDA PELO
PRÓPRIO TEXTO DE
QUE ESSA INVASÃO
ACONTECERÁ “DEPOIS
DE MUITOS DIAS” E
“NO FIM DOS ANOS”
(EZ 38.8), BEM
COMO “NOS ÚLTIMOS
DIAS” (EZ 38.16).
TAIS EXPRESSÕES
SÃO INDICADORES
CRONOLÓGICOS QUE
SITUAM ESSES
ACONTECIMENTOS
QUASE NO FIM DA
HISTÓRIA, POR
SEREM FRASES QUE
SE REFEREM
EXCLUSIVAMENTE AO
PERÍODO DA
HISTÓRIA MUNDIAL.
EM TODO O ANTIGO
TESTAMENTO, A
EXPRESSÃO “NO FIM
DOS ANOS” (OU,
“NOS ÚLTIMOS ANOS”)
OCORRE SOMENTE
NESSA PASSAGEM,
PORÉM, SE A
EXPRESSÃO “NOS
ÚLTIMOS DIAS” É
USADA NO VERSÍCULO
16 PARA DESCREVER
O MESMO
ACONTECIMENTO,
CONCLUI-SE COM
SEGURANÇA QUE A
FRASE “NOS ÚLTIMOS
DIAS”, USADA COM
MAIS FREQUÊNCIA, É
SINÔNIMA DA
EXPRESSÃO “NO FIM
DOS ANOS”. TAL
CONCLUSÃO SE
BASEIA NO FATO DE
QUE AS EXPRESSÕES
“DEPOIS DE MUITOS
DIAS” E “NO FIM DOS
ANOS” SÃO USADAS
SEQUENCIALMENTE
JUNTAS NO
VERSÍCULO 8.
CHARLES FEINBERG
AFIRMA: “O
REFERENCIAL DE
TEMPO FOI
NITIDAMENTE
DECLARADO NA
EXPRESSÃO ‘NO FIM
DOS ANOS’ QUE É
EQUIVALENTE À
EXPRESSÃO ‘NOS
ÚLTIMOS DIAS’ DO
VERSÍCULO 16”.[1]
A CONCEPÇÃO MIDI-
TRIBULACIONISTA A
SEGUNDA CONCEPÇÃO
FUTURISTA ACERCA DO
MOMENTO EXATO EM QUE SE
CUMPRIRÁ A INVASÃO DE
GOGUE E MAGOGUE SUSTENTA
QUE TAL INVASÃO SE DARÁ
EM ALGUM INSTANTE DA
METADE DA SEPTUAGÉSIMA
SEMANA DA PROFECIA DE
DANIEL, GERALMENTE
CONHECIDA COMO
TRIBULAÇÃO. ESSA É A
CONCEPÇÃO MAIS
AMPLAMENTE ACEITA POR
AQUELES QUE ACREDITAM
QUE ESSE ACONTECIMENTO
OCORRERÁ NUM TEMPO QUE,
PARA NÓS, AINDA É
FUTURO. ENTRE OS QUE
ADVOGAM ESSA MESMA
CRONOLOGIA DA INVASÃO
LIDERADA POR GOGUE E
MAGOGUE ESTÃO OS
SEGUINTES: JOHN F.
WALVOORD,[3] PAUL
BENWARE,[4] J. DWIGHT
PENTECOST,[5] MARK
HITCHCOCK,[6] E HAL
LINDSEY.[7] SE EU NÃO
CRESSE QUE A CAMPANHA
MILITAR DE GOGUE
OCORRERÁ EM ALGUM
MOMENTO ENTRE O
ARREBATAMENTO E O INÍCIO
DA TRIBULAÇÃO, APOIARIA
ESSE ÚLTIMO PONTO DE
VISTA.
Alguns que defendem essa concepção
acreditam que a invasão encabeçada por Gogue
acontecerá imediatamente antes do ponto médio
daquele período da Tribulação, enquanto outros
crêem que essa invasão ocorrerá imediatamente
depois do ponto médio da septuagésima semana da
profecia de Daniel. Outros, ainda, advogam que
não se deve assumir uma posição quanto ao
momento exato dessa invasão, mas apenas ter uma
compreensão de que, em termos gerais, ela vai
ocorrer na metade do período da Tribulação.
Mesmo assim, esses pontos de vista são geralmente
agrupados como uma única perspectiva.
“O REI DO NORTE”
Essa concepção pode se tornar muito
complicada quando seus defensores tentam
estabelecer uma ligação entre a profecia de Ezequiel
38–39 e outras passagens bíblicas, como, por
exemplo, Daniel 11.40-45. Uma vez que os
acontecimentos mencionados no capítulo 11 de
Daniel são claramente previstos para ocorrer
dentro do período da Tribulação e que “o rei do
Norte” (Dn 11.40) é considerado uma referência ao
Gogue da profecia de Ezequiel, isso situa o
momento da invasão no ponto mediano da
Tribulação de sete anos.[8] O grande problema
dessa concepção é que o “rei do Norte”, referido em
Daniel, não é o Gogue da profecia de Ezequiel.
A expressão “rei do Norte” é usada por sete
vezes no Antigo Testamento e todas as suas
ocorrências se encontram em Daniel 11 (versículos
6, 7, 11, 13, 15, 40).[9] Quase todos os intérpretes
futuristas acreditam que a profecia registrada em
Daniel 11.1-35 se cumpriu no passado,
especificamente no segundo século a.C. Os reis do
Norte e do Sul, mencionados nos versículos 1-35 se
referem claramente ao “conflito entre os Ptolomeus
e Selêucidas (Dn 11.5-20). Os Ptolomeus, que
governaram o Egito, eram chamados de reis ‘do
Sul’. Os Selêucidas, que governaram a Síria ao norte
de Israel, eram chamados de reis ‘do Norte’”.[10] O
último uso da expressão “rei do Norte” ocorre no
versículo 40, dentro de um contexto alusivo ao
futuro. John MacArthur declara: “Aqui o texto
menciona a grande batalha final na qual o último
exército que vem do Norte contra-ataca a última
potência africana que vem do Sul. O Anticristo não
permitirá tal retaliação e aproveitará a
oportunidade para revidar e vencer, derrotando
ambos os exércitos referidos, como está registrado
nos versículos 41s.”.[11] Portanto, não é provável
que a expressão “o rei do Norte” seja uma referência
à invasão liderada por Gogue, predita em Ezequiel
38 e 39. A expressão “o rei do Norte” não é sinônima
da expressão “...do extremo norte...” (Ez 38.6;
conforme a Nova Versão Internacional – NVI),
principalmente porque as outras seis ocorrências da
expressão “o rei do Norte” se referem claramente ao
rei da Síria.
Outras objeções à prática de estabelecer uma
relação de correspondência entre essas duas
passagens bíblicas se baseiam nas diferenças
gritantes entre a invasão descrita em Ezequiel e a
batalha descrita em Daniel. Embora ambas estejam
prevista para acontecer “no tempo do fim...” (Dn
11.40), o texto bíblico afirma que “...o rei do Sul
lutará com ele, e o rei do Norte arremeterá contra
ele...” (Dn 11.40). Trata-se de uma batalha que
envolve o rei do Sul e o rei do Norte, o qual
“...entrará nas terras, e as inundará, e passará” (v.
40b). Isso não tem o mesmo sentido do texto de
Ezequiel 39.4, onde se verifica que Gogue invadirá
Israel, bem como será totalmente destruído nos
montes de Israel. A passagem de Daniel relata que
eles entrariam em combate na terra de Israel,
atravessariam o território israelense e avançariam
para outros países. Na realidade, o texto alista Israel
como um dos países invadidos nessa ocasião (Dn
11.41).
OUTRAS OBJEÇÕES ARNOLD
FRUCHTENBAUM RELACIONA
OUTROS ARGUMENTOS
CONTRÁRIOS A ESSE PONTO
DE VISTA: EM SEGUNDO
LUGAR, É DIFÍCIL
COMPREENDER O MOTIVO
PELO QUAL DEUS
INTERVIRIA EM FAVOR DE
ISRAEL NESSE MOMENTO DA
HISTÓRIA E, LOGO DEPOIS,
PERMITIRIA O
DESENCADEAMENTO DOS
ACONTECIMENTOS QUE SE
DARÃO DURANTE A SEGUNDA
METADE DO PERÍODO DA
TRIBULAÇÃO , CAUSANDO UM
GRANDE DANO A ISRAEL.
EM TERCEIRO LUGAR [...] É
UM EQUÍVOCO IDENTIFICAR
“O REI DO NORTE”,
MENCIONADO EM DANIEL
11.40, COM O GOGUE
REFERIDO EM EZEQUIEL
38.1–39.16. AO LONGO DE
TODO O LIVRO DE DANIEL
SÃO FEITAS REFERÊNCIAS
AO REI DO SUL E AO REI DO
NORTE. A PRIMEIRA
EXPRESSÃO, “REI DO SUL”,
SE APLICA COERENTEMENTE
AO EGITO, INCLUSIVE A
REFERÊNCIA FEITA NO
VERSÍCULO 40. A OUTRA
EXPRESSÃO SE APLICA
COERENTEMENTE À SÍRIA,
EXCETO QUANDO OS
PROPOSITORES DESSE PONTO
DE VISTA PASSAM A
ANALISAR O VERSÍCULO 40;
ELES, ENTÃO, ATRIBUEM A
REFERÊNCIA FEITA NESSE
VERSÍCULO À RÚSSIA E,
ASSIM, IDENTIFICAM ESSA
PASSAGEM COM O TEXTO DE
EZEQUIEL 38 E 39. PORÉM,
TANTO O CONTEXTO QUANTO
A COERÊNCIA EXIGIRIAM
QUE A REFERÊNCIA FEITA
NO VERSÍCULO 40 SE
APLIQUE À SÍRIA. A
INVASÃO MENCIONADA EM
DANIEL 11.40 É DIFERENTE
DA INVASÃO DESCRITA EM
EZEQUIEL 38 E 39. TRATAR
TODAS AS OCORRÊNCIAS DA
EXPRESSÃO “O REI DO NORTE”
NO LIVRO DE DANIEL COMO
UMA REFERÊNCIA À SÍRIA
E, ENTÃO, CONSIDERAR DN
11.40 COMO A ÚNICA
EXCEÇÃO QUE SE REFERE À
INVASÃO LIDERADA PELA
RÚSSIA SÓ PARA ENCAIXÁ-
LO CRONOLOGICAMENTE NA
METADE DO PERÍODO DA
TRIBULAÇÃO, É UMA
EXEGESE INCOERENTE E
EQUIVOCADA. EM QUARTO
LUGAR, ESSE PONTO DE
VISTA FALHA NO
EQUACIONAMENTO DO
PROBLEMA DOS SETE MESES
E DOS SETE ANOS. ESSA
CONCEPÇÃO MIDI-
TRIBULACIONISTA DE
INTERPRETAÇÃO DO TEXTO
OBRIGARIA QUE OS SETE
MESES DE SEPULTAMENTO
DOS INIMIGOS MORTOS
OCORRESSE NA SEGUNDA
METADE DA TRIBULAÇÃO,
UMA OCASIÃO EM QUE OS
JUDEUS ESTARÃO EM FUGA E
NÃO TERÃO CONDIÇÕES DE
ENTERRAR SEUS PRÓPRIOS
MORTOS, QUANTO MAIS OS
CORPOS DOS INVASORES
RUSSOS [...] A SITUAÇÃO
DOS JUDEUS NA METADE DO
PERÍODO DA TRIBULAÇÃO
NÃO PERMITIRÁ UM TEMPO
DE SETE MESES DE
SEPULTAMENTO, MUITO
MENOS A CONSTRUÇÃO DE
UMA CIDADE. NO QUE SE
REFERE AOS SETE ANOS DE
QUEIMA DOS ARMAMENTOS,
ESSA CONCEPÇÃO
INTERPRETATIVA TAMBÉM
EXIGIRIA QUE OS JUDEUS
QUEIMASSEM AS ARMAS DOS
INIMIGOS DURANTE A
SEGUNDA METADE DA
TRIBULAÇÃO, QUANDO, NA
REALIDADE, ESTARÃO
FUGINDO DA SUA TERRA.
ALÉM DO MAIS, TAL PONTO
DE VISTA OBRIGARIA QUE
ELES CONTINUASSEM ESSA
QUEIMA DURANTE O
MILÊNIO, POR MAIS 3 ANOS
E MEIO, O QUE É
INCOERENTE COM A
PURIFICAÇÃO QUE O
MESSIAS EFETUARÁ NAQUELA
TERRA E COM A RENOVAÇÃO
RESULTANTE. DURANTE A
SEGUNDA METADE DA
TRIBULAÇÃO, AS AFLIÇÕES
QUE OS JUDEUS
ENFRENTARÃO CERTAMENTE
OS LEVARIAM À TENTATIVA
DE PRESERVAR ESSAS ARMAS
E MANTÊ-LAS EM SEU
PODER, EM VEZ DE QUEIMÁ-
LAS.[12]
Em outras palavras, a fundamentação
principal dos proponentes de tal concepção para
situarem o momento dessa batalha na metade do
período da Tribulação baseia-se na suposta relação
do texto de Daniel com a passagem de Ezequiel. No
entanto, se a referida relação se prova incongruente
e ilógica, não há motivo relevante para se apoiar a
interpretação de um cumprimento midi-
tribulacionista do acontecimento predito no texto
de Ezequiel.
NOTAS 1 FRANCIS BROWN, S. R. DRIVER, E C. A.
BRIGGS, HEBREW AND ENGLISH LEXICON OF THE OLD
TESTAMENT, LONDRES: OXFORD, 1907, EDIÇÃO
ELETRÔNICA.
2
Ron RHODES, Northern Storm Rising: Russia, Iran, and the
Emerging End-Times Military Coalition Against Israel,
Eugene, OR: Harvest House Publishers, 2008, p. 173.
3
John F. W ALVOORD, The Nations in Prophecy, Grand Rapids:
Zondervan, 1967, p. 113-15.
4
Paul N. BENWARE, Understanding End Times Prophecy,
edição revisada e expandida, Chicago: Moody Press, 2006,
p. 310-12.
5
J. Dwight PENTECOST, Things To Come: A Study in Biblical
Eschatology, Grand Rapids: Zondervan, 1958, p. 344-55.
6
Mark HITCHCOCK, Iran The Coming Crisis: Radical Islam, Oil,
And The Nuclear Threat, Sisters, OR: Multnomah, 2006,
pp. 184-86, 202.
7
Hal LINDSEY e C. C. CARLSON, The Late Great Planet Earth,
Grand Rapids: Zondervan, 1970, p. 153-pp. 153-63.
8
Veja a obra de HITCHCOCK, Iran The Coming Crisis, p. 202;
bem como a obra de LINDSEY, Late Great, p. 157-60.
9
Baseado em pesquisa realizada através do programa de
computador Accordance, versão 8.1.3.
10
John F. W ALVOORD, Roy B. ZUCK e Dallas Theological
Seminary, The Bible Knowledge Commentary: An
Exposition of the Scriptures, Wheaton, IL: Victor Books,
1983–1985, vol. 1, p. 1368.
11
John MACARTHUR, Jr., The MacArthur Study Bible, edição
eletrônica, Nashville: Word Publishers, 1997, Dn 11.40.
12
(Ênfase do autor original em itálico) Arnold G. FRUCHTENBAUM,
The Footsteps of the Messiah: A Study of the Sequence of
Prophetic Events, edição revisada; Tustin, CA: Ariel
Ministries, 2003, p. 118-19.
28. ARMAGEDOM?
NO COMEÇO DO MILÊNIO?
A quarta concepção de interpretação futurista
situa cronologicamente os acontecimentos descritos
em Ezequiel 38 e 39 no começo do Milênio. Esse
também não é um ponto de vista amplamente
aceito. O Dr. Elliott Johnson, professor do Dallas
Theological Seminary (i.e. Seminário Teológico de
Dallas) apresentou um ensaio teológico em defesa
dessa concepção perante o Pre-Trib Study Group
(i.e. Grupo de Estudos Pré-Tribulacionistas) no ano
de 1993, intitulada “The Time Placement of Ezekiel
37–39” (i.e. “A Localização Cronológica da Profecia
de Ezequiel 37–39”). Arno Gaebelein também
advogou esse ponto de vista, há cerca de 100 anos
atrás, no seu comentário do livro de Ezequiel.[7] De
todas as concepções de interpretação futurista, esta
última me parece a menos provável pelas razões a
seguir.
Em primeiro lugar, pelo que está escrito nos
capítulos 13 e 25 de Mateus (veja, também: Jr
25.32-33; Ap 19.15-18), sabe-se que nenhum
descrente terá permissão de entrar no Milênio [i.e.
o reino milenar de Cristo]. “Assim será na
consumação do século: sairão os anjos, e separarão os
maus dentre os justos, e os lançarão na fornalha
acesa; ali haverá choro e ranger de dentes” (Mt 13.49-
50). “Então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita
[i.e. os crentes]: Vinde, benditos de meu Pai! Entrai
na posse do reino que vos está preparado desde a
fundação do mundo” (Mt 25.34). “Então, o Rei dirá
também aos que estiverem à sua esquerda [i.e. os
descrentes]: Apartai-vos de mim, malditos, para o
fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos” (Mt
25.41). Assim, fica absolutamente claro que os
Judeus e Gentios vivos, que entrarem no Milênio
com seus corpos mortais, constituirão a população
inicial do Reino, composta de 100 por cento de
crentes em Cristo. Ninguém, em sã consciência,
sugeriria que Gogue pode ser um crente em Cristo
que comandará um poderoso exército de crentes
num ataque a Israel durante o Milênio. Portanto, os
invasores só podem ser descrentes, o que, se a
invasão ocorresse no Milênio, exigiria centenas de
anos para que essas pessoas nascessem e chegassem
à quantidade numérica descrita em Ezequiel. Isso
não parece factível.
Em segundo lugar, porque “o texto de Isaías
2.4 elimina a possibilidade de que haja uma guerra
durante o reino milenar de Cristo. Só no fim do
Milênio é que irromperá uma guerra, quando
Satanás for solto de sua prisão de mil anos
(Apocalipse 20.7-9)”.[8]
Em terceiro lugar, porque não faz o menor
sentido, diante das condições em vigor durante o
Milênio, conceber a noção de que a terra de Israel
estaria contaminada por sete meses, após ser
invadida por Gogue (Ez 39.12), quando, na
realidade, a terra estará limpa e purificada.
Em quarto lugar, Rhodes assinala que “o texto
de Isaías 9.4-5 prediz que todas as armas de guerra
serão destruídas logo depois da inauguração do
Reino Milenar de Cristo, de modo que a coalizão
militar que vem do norte não teria nenhum
armamento”.[9]
Essa concepção de que a invasão comandada
por Gogue ocorrerá no começo do Milênio tem
pouquíssimo embasamento, exceto pelo aspecto
isolado de que Israel estará vivendo em paz naquele
momento em que for invadido pela coalizão militar
que vem do norte. De fato, essa situação de paz será
a condição de Israel no início e durante todo o
Milênio, porém, além dessa semelhança, não existe
nenhuma similaridade entre o começo do Milênio e
essa profecia de Ezequiel prevista para se cumprir
nos “...últimos dias...”.
NO FIM DO MILÊNIO?
A última concepção de interpretação futurista
propõe que a invasão liderada por Gogue e
Magogue se cumprirá no final do Milênio, na
ocasião daquela breve rebelião mencionada em
Apocalipse 20.7-10. O ponto forte dessa concepção
é o fato de que os nomes de Gogue e Magogue são
especificamente citados nesse texto, como está
escrito: “Quando, porém, se completarem os mil anos,
Satanás será solto da sua prisão e sairá a seduzir as
nações que há nos quatro cantos da terra, Gogue e
Magogue, a fim de reuni-las para a peleja. O número
dessas é como a areia do mar. Marcharam, então,
pela superfície da terra e sitiaram o acampamento dos
santos e a cidade querida; desceu, porém, fogo do céu
e os consumiu” (Ap 20.7-19).
Um expressivo número de intérpretes da
Bíblia acredita que a situação descrita nesse texto
indica o momento exato em que se cumprirá a
profecia de Ezequiel.[10] O erudito evangélico,
Ralph Alexander, um dos defensores desse ponto
de vista, declara o seguinte: A maioria dos
comentaristas da Bíblia entende que esses
acontecimentos preditos em Ezequiel 38–39 se
cumprirão depois do Milênio, conforme é descrito
em Apocalipse 20.7-10. A força do argumento em
favor dessa posição está na explícita referência a
Gogue e Magogue no texto de Apocalipse 20.8. O
uso desses termos precisa ser explicado. O contexto
do Milênio certamente se enquadraria no requisito
textual da habitação pacífica, próspera e segura de
Israel na sua terra. A restauração já teria
acontecido. As nações estariam presentes para
testemunhar a rebelião de “Gogue”. Por certo
haveria tempo suficiente para o sepultamento dos
corpos e para a queima das armas.[11]
Paul Tanner também defende esse ponto de
vista nos seguintes termos: Já que existe uma
importante batalha prevista para o final do Milênio,
confronto esse que o apóstolo João relaciona com
Gogue e Magogue, por que não entender que se
trata da mesma batalha mencionada em Ezequiel
38–39? Um aspecto em comum entre essas duas
batalhas é que ambas dirigem seu ataque a Israel.
Isso proporciona o desfecho perfeito que dá sentido
à história bíblica. No texto de Gn 15.18-21, Deus se
compromete, por meio de uma aliança, a fazer de
Israel uma nação e a dar aos Judeus essa terra
especial. No fim do Milênio quando for solto,
Satanás empreenderá um último e desesperado
esforço para aniquilar Israel, a menina dos olhos de
Deus. Se conseguisse fazer com que Deus deixasse
de cumprir a promessa que fez para Israel, Satanás
derrotaria os propósitos de Deus e, assim,
conquistaria a vitória final.[12]
NOTAS 1 DAVE HUNT, HOW CLOSE ARE WE? COMPELLING
EVIDENCE FOR THE SOON RETURN OF CHRIST, EUGENE,
OR: HARVEST HOUSE PUBLISHERS, 1993, P. 267-70.
2
Louis S. BAUMAN, Russian Events in the Light of Bible
Prophecy, Nova York: Fleming H. Revell Company, 1942, p.
180-89; Harry A. IRONSIDE, Ezekiel the Prophet, Neptune,
NJ: Loizeaux Brothers, 1949, p. 265.
3
Arnold G. FRUCHTENBAUM, The Footsteps of the Messiah: A
Study of the Sequence of Prophetic Events, edição
revisada; Tustin, CA: Ariel Ministries, 2003, p. 119.
4
Mark HITCHCOCK, After The Empire: Bible Prophecy in Light
of the Fall of the Soviet Union, Wheaton, IL: Tyndale House
Publishers, 1994, p. 130.
5
FRUCHTENBAUM, Footsteps of the Messiah, p. 119.
6
Ron RHODES, Northern Storm Rising: Russia, Iran, and the
Emerging End-Times Military Coalition Against Israel,
Eugene, OR: Harvest House Publishers, 2008, p. 187.
7
Arno C. GAEBELEIN, The Prophet Ezekiel, Nova York: Our
Hope, 1918, p. 252-55.
8
RHODES, Northern Storm Rising, p. 189.
9
RHODES, Northern Storm Rising, p. 189.
10
Por exemplo, A. B. DAVIDSON, The Book of Ezekiel,
Cambridge: Cambridge University Press, 1892, p. 301;
Henry L. ELLISON, Ezekiel: The Man and His Message,
Grand Rapids: Eerdmans, 1959, p. 133; J. Paul TANNER,
“Rethinking Ezekiel’s Invasion By Gog”, publicado no
periódico Journal of the Evangelical Theological Society,
março de 1996, vol. 39, p. 29-45.
11
Ralph H. ALEXANDER, “Ezekiel”, publicado na obra de Frank E.
Gaebelein, org. geral, The Expositor’s Bible Commentary,
12 vol., Grand Rapids: Zondervan, 1986, vol. 6, p. 940.
12
TANNER, “Rethinking”, p. 45.
29. NO FIM DO
MILÊNIO?
DIFERENÇAS NO PROCESSO
DE ESTUDO BÍBLICO,
QUANDO SE NOTA UMA OU
MAIS SEMELHANÇAS EM DOIS
TEXTOS DISTINTOS, É
MUITO COMUM CHEGAR-SE À
CONCLUSÃO DE QUE ESSES
DOIS TEXTOS SE REFEREM
AO MESMO ACONTECIMENTO.
É POSSÍVEL QUE SE
REFIRAM AO MESMO
ACONTECIMENTO COMO
TAMBÉM É POSSÍVEL QUE
NÃO SE REFIRAM. QUANDO
SE PENSA QUE EXISTEM
SEMELHANÇAS ENTRE
PASSAGENS BÍBLICAS, É AÍ
QUE AS DIFERENÇAS ENTRE
OS RESPECTIVOS TEXTOS SE
TORNAM AINDA MAIS
IMPORTANTES. EM GERAL,
QUANDO EXISTEM MUITAS
DIFERENÇAS ENTRE DOIS OU
MAIS TEXTOS BÍBLICOS, O
MELHOR QUE SE TEM A
FAZER É ASSUMIR
CONCLUSIVAMENTE QUE
ESSES VÁRIOS TEXTOS SE
REFEREM A ACONTECIMENTOS
DISTINTOS. CREIO QUE
ESSE SEJA O CASO DA
ANÁLISE COMPARATIVA
ENTRE OS TEXTOS DE
APOCALIPSE 20 E EZEQUIEL
38–39. PARA QUE SE
CHEGUE À CONCLUSÃO DE
QUE ESSAS DUAS PASSAGENS
BÍBLICAS FAZEM
REFERÊNCIA AO MESMO
ACONTECIMENTO, É PRECISO
QUE AS DIFERENÇAS ENTRE
ESSES TEXTOS SEJAM
PRIMEIRAMENTE
HARMONIZADAS.
Arnold Fruchtenbaum identifica estas duas
objeções a esse ponto de vista, as quais considera
irreconciliáveis: Contudo, há duas objeções muito
importantes a essa concepção. A primeira diz
respeito ao fato de que a invasão predita em
Ezequiel vem do norte; a invasão predita em
Apocalipse vem de todas as partes do mundo. A
segunda alega que esse ponto de vista também
falha em solucionar o problema dos sete meses e
sete anos. Esta Terra atual será aniquilada logo
depois da invasão mencionada em Apocalipse, de
modo que não haveria tempo (nem lugar!) para os
sete meses de sepultamento, muito menos para os
sete anos de queima das armas. Isso exigiria que o
referido sepultamento e a referida queima
continuassem dentro da nova ordem, a do Estado
Eterno.[1]
A primeira objeção levantada por
Fruchtenbaum implica que a invasão sob o
comando de Gogue é claramente predita no livro
de Ezequiel como um punhado de nações (i.e., uma
invasão regional) que vêm do norte, ao passo que o
ataque a Jerusalém é predito como uma invasão de
muitos indivíduos que procedem de todas as
nações do mundo, significando, portanto, que a
invasão registrada em Apocalipse vem de todas as
direções. O texto de Ezequiel menciona que Gogue,
um ser humano, será o líder da invasão predita pelo
profeta, ao passo que o próprio Satanás (i.e., um ser
de natureza angelical) será o líder do episódio
predito em Apocalipse 20. John Walvoord
concorda com isso e declara que “não existe nada
no contexto de Ezequiel 38–39 que se assemelhe à
batalha mencionada em Apocalipse”.[2] Walvoord
levanta a seguinte pergunta: “Então, por que o
apóstolo João utiliza a expressão ‘Gogue e
Magogue’?”. Afinal, isso seria um ponto forte dessa
concepção. O próprio Walvoord responde a sua
pergunta nos seguintes termos: As Escrituras não
explicam essa expressão. Para falar a verdade, tal
expressão pode ser tirada da frase sem causar
qualquer alteração no sentido da mesma. No texto
de Ezequiel 38, Gogue era o governante e Magogue
era o povo governado, de modo que ambos estavam
em rebelião contra Deus e eram inimigos de Israel.
Talvez esses termos possam ser usados em sentido
simbólico, assim como alguém pode se referir à
vida de uma pessoa dizendo que ela passou por um
“Waterloo”. Em termos históricos, esse nome diz
respeito à derrota de Napoleão em Waterloo, na
Bélgica, mas pode representar simbolicamente
qualquer desastre de grandes proporções. Aqui
nesse texto de Apocalipse, os exércitos vêm
motivados pelo mesmo espírito de oposição a Deus
que se encontra na passagem de Ezequiel 38.[3]
Ao que me parece, a segunda objeção
levantada por Fruchtenbaum se constitui num
problema insuperável para o referido ponto de
vista. Embora Paul Tanner, um dos defensores
desse ponto de vista, afirme, em termos gerais, que
“certamente haveria tempo hábil para o
sepultamento dos corpos e para a queima das
armas”,[4] ele não fornece nenhum detalhe mais
específico sobre esse assunto. Ralph Alexander faz
uso de uma generalização semelhante quando
declara que “haveria, sem dúvida, tempo suficiente
para o sepultamento dos corpos e para a queima
das armas”.[5] Dessa forma, acho que Alexander
teria de pressupor um período de sete anos cuja
ocasião se estenderia para além dos mil anos
preditos em Apocalipse 20. Entretanto, o texto de
Ezequiel 39.12 afirma que o propósito do
sepultamento dos inimigos mortos é “...para limpar
a terra”. Por que a terra precisaria ser limpa ou
purificada, se no final do Milênio já haverá uma
estrondosa destruição dos céus e da terra por fogo?
O fluxo do texto de Apocalipse deixa claro que
Satanás e todos aqueles que participarem da
rebelião mundial contra Deus sofrerão um juízo
instantâneo que lhes sobrevirá de imediato. Então,
há uma mudança de cenário nos próximos
versículos de Apocalipse 20, v. 11-15, para focalizar
a cena do Julgamento do Grande Trono Branco,
seguida pela cena do “...novo céu e nova terra...” nos
capítulos 21 e 22. O texto de Apocalipse 21.1
acrescenta a seguinte frase: “...pois o primeiro céu e a
primeira terra passaram...”.
A SITUAÇÃO DE ISRAEL
O texto bíblico nos informa que, no momento
dessa invasão, Israel já terá se recuperado da espada
(Ez 38.8), o que só pode se referir à sua situação
atual ou a alguma ocasião depois de nossos dias.
Essa recuperação da espada deve ter relação com as
derrotas judaicas nos anos 70 d.C. e 135-136 d.C.,
quando a longa Diáspora dos Judeus teve início e
também deve estar relacionada com o
reagrupamento de Israel “...que se congregou dentre
muitos povos...” (v. 8). Em conjunto com as
expressões “...depois de muitos dias...” e “...no fim
dos anos...” (Ez 38.8), parece claro que o texto faz
alusão a um episódio que ainda vai acontecer no
futuro, provavelmente associado com o período da
Tribulação.
Esse texto prediz que toda a nação de Israel
estaria “...habitando seguramente...” na sua terra
quando a invasão ocorrer (Ez 38.8). Creio que esse
fato seja o maior desafio à concepção, por mim
defendida, de que essa invasão acontecerá depois
do Arrebatamento da Igreja, mas antes do começo
da 70ª semana profetizada por Daniel, a saber, antes
da Tribulação vindoura. Alguns intérpretes têm
tentado igualar o conceito de viver “seguramente”
com o de viver “pacificamente”. Tais intérpretes
afirmam que essa passagem descreve uma situação
em que Israel estaria vivendo em paz com todos os
países vizinhos e que nenhum destes seria uma
ameaça para os judeus. Essa interpretação não tem
nenhuma sustentação no significado da palavra
hebraica betah, nem é apoiada pelo contexto da
passagem. Arnold Fruchtenbaum comenta o
seguinte:
Em nenhum lugar desse texto há qualquer alusão de que Israel
estaria vivendo em paz. Pelo contrário, a descrição é de que Israel
estaria simplesmente habitando em segurança, o que significa
“confiança”, a despeito de quanto dure um estado de guerra ou de
paz. Nas várias descrições que essa passagem apresenta sobre
Israel, pode-se comprovar que todas são verídicas na realidade do
Estado de Israel atual.[1]