Вы находитесь на странице: 1из 456

THOMAS ICE

A BATALHA DE
GOGUE E MAGOGUE
UMA INTERPRETAÇÃO DE
EZEQUIEL 38 & 39
EBOOK - 1ª EDIÇÃO - 2015
Traduzido do original em inglês: “An Interpretation of Ezekiel 38 &
39”- Série de Artigos Pre-Trib Research Center
El Cajon, CA 92021 – EUA.
Tradução: Jamil Abdalla Filho Revisão: Sérgio Homeni, Ione Haake,
Célia Korzanowski Edição: Arthur Reinke
Capa e Layout: Roberto Reinke Passagens da Escritura segundo a
versão Almeida Revisada e Atualizada – (SBB), exceto quando
indicado em contrário: Nova Versão Internacional - NVI, Almeida
Corrigida e Revisada Fiel – ACF ou Almeida Revista e Corrigida –
ARC.
Todos os direitos reservados para os países de língua portuguesa.
Copyright 2015 Actual Edições
Ebook ISBN - 978-85-7720-113-6
R. Erechim, 978 – B. Nonoai
90830-000 – PORTO ALEGRE – RS/Brasil Fones (51) 3241-5050 e
0300 789.5152
www.chamada.com.br - pedidos@chamada.com.br
ÍNDICE
Introdução
1. Real ou Apenas Imaginário?
2. Ezequiel 38.1-2
3. Ezequiel 38.2
4. Ezequiel 38.2 (cont. 1)
5. Ezequiel 38.2 (cont. 2)
6. Ezequiel 38.2-4
7. Ezequiel 38.4
8. Ezequiel 38.4 (cont.)
9. Ezequiel 38.5-6
10. Ezequiel 38.6
11. Ezequiel 38.7-8
12. Ezequiel 38.8
13. Ezequiel 38.8-9
14. Ezequiel 38.10-12
15. Ezequiel 38.12-13
16. Ezequiel 38.13-16
17. Ezequiel 38.17-19
18. Ezequiel 38.20-23
19. Ezequiel 39.1-3
20. Ezequiel 39.4-6
21. Ezequiel 39.7-10
22. Ezequiel 39.11-13
23. Ezequiel 39.17-20
24. Vários Pontos de Vista
25. Vários Pontos de Vista – (continuação 1)
26. Vários Pontos de Vista – (continuação 2)
27. Vários Pontos de Vista – (continuação 3)
28. Armagedom?
29. No Fim do Milênio?
30. Ezequiel 38 e 39 - Resumindo
INTRODUÇÃO

A batalha contra Gogue e Magogue, descrita


nos capítulos 38 e 39 do livro de Ezequiel, é um dos
aspectos mais debatidos no campo da profecia
bíblica. O comentarista bíblico Ralph Alexander
declarou que “um dos enigmas da profecia bíblica
que ainda perduram é o acontecimento que diz
respeito a Gogue e Magogue descrito em Ezequiel
38 e 39”.[1] Quase todos os aspectos dessa antiga
profecia têm sido objeto de debate, inclusive se seu
cumprimento ocorreu no passado ou se ainda
aguarda um cumprimento futuro. Quais são os
povos envolvidos nessa profecia e que relação eles
teriam com as nações da atualidade? Como
devemos interpretar as armas descritas nesse texto?
Caso se trate de um acontecimento futuro, em que
ocasião do cronograma profético isso deve se
cumprir? Aí está a razão pela qual pretendo fazer
uma análise meticulosa dessa importante passagem
bíblica.
1. REAL OU APENAS
IMAGINÁRIO?

Quando se lida com essa ou com qualquer


outra profecia bíblica, um dos primeiros
procedimentos cabíveis é o de verificar se Deus e
Ezequiel pretendiam que tal profecia realmente se
cumprisse na história. Em apoio à nossa convicção
de que todas as profecias da Bíblia foram
enunciadas com o intuito de se cumprirem ao
longo da história, constata-se que não há nada nessa
profecia que sugira o contrário. Entretanto, há uma
corrente de interpretação, principalmente entre os
eruditos liberais, que defende a concepção de que a
passagem de Ezequiel (ou a maioria dos textos
proféticos) não foi pronunciada com o intuito de se
cumprir na história. Tal concepção é geralmente
denominada de idealismo. O idealista não crê que a
Bíblia indique o momento específico dos
acontecimentos, nem acredita que possamos prever
com precisão o tempo exato de sua ocorrência. Por
isso, os idealistas contemplam as passagens
proféticas como se fossem um mestre que ensina
verdades grandiosas sobre Deus, as quais se
aplicam à nossa vida na atualidade. Os idealistas
sustentam que a Bíblia usa passagens proféticas
para apresentar princípios inseridos “numa
mensagem que é universal e imutável. Essa
mensagem não se limita a nenhuma época ou local
específico, ainda que seus termos e expressões
retratem cenas de países que estão ao redor do mar
Mediterrâneo, bem como de outras localidades do
Oriente Médio”.[2]
Entre os defensores de uma interpretação
idealista e não-histórica da profecia bíblica,
encontra-se Brent Sandy, como se pode constatar
em seu livro Plowshares & Pruning Hooks (i.e.,
“Relhas de Arado e Podadeiras”).[3] Típico
daqueles que estão sob o feitiço da atual influência
pós-moderna, esse autor supervaloriza o processo
interpretativo à custa de se chegar a uma teologia
definida. A duplicidade de Brent Sandy fica
evidente no seguinte excerto de seu livro: As
limitações da profecia como fonte de informação
para o futuro foram comprovadas através de
exemplos extraídos de várias partes das Escrituras.
Ficou bem claro que o elemento predicativo da
profecia é mais translúcido do que transparente. A
profecia é sempre exata no que pretende revelar,
mas raramente revelam informações que nos
permitam saber o futuro com antecedência. Figuras
de linguagem têm a função de descrever, não os
detalhes do que está para acontecer, mas sim a
seriedade do que vai acontecer.[4]
Numa postura tão típica daqueles evangélicos
que desejam classificar a profecia bíblica dentro de
uma categoria ou gênero literário específico
denominado “apocalíptico”, Sandy declara que “os
intérpretes devem evitar o julgamento de muitos
pormenores da profecia; do começo ao fim das
Escrituras há uma abundância de temas proféticos
inequívocos, centrados na segunda vinda de Jesus, o
Messias”.[5] Então, Sandy, conclui: “Se minhas
conclusões sobre a linguagem da profecia e da
apocalíptica estiverem corretas, todos os sistemas
de escatologia ficam sujeitos a uma reavaliação”.[6]
Isso não deve ser surpresa, uma vez que Brent
Sandy está preso a uma mentalidade pós-moderna
defensora de que a correta interpretação da
mensagem escatológica da Bíblia resulta da
combinação de todos os diferentes pontos de vista
proféticos.[7]
Um aspecto claro na postura de Sandy e no
ponto de vista da “erudição” evangélica emergente
é o de que a profecia não deve ser interpretada
literalmente, como os dispensacionalistas a têm
interpretado. Eles alegam que isso se pode constatar
principalmente porque as porções proféticas da
Bíblia são apocalípticas e seu propósito não era o de
serem interpretadas literalmente. Eles talvez não
sejam capazes de lhe dizer o que esses trechos das
Escrituras realmente significam, mas uma coisa eles
sabem: que profecia bíblica não deve ser
interpretada literalmente (ou seja, de acordo com a
abordagem histórica e gramatical) e que os textos
proféticos versam fundamentalmente sobre
conceitos e princípios, não sobre acontecimentos
históricos que se cumprirão no futuro. “O
entendimento ‘mítico’ dessas nações e da profecia
que as relaciona falha em nos transmitir o sentido
de um acontecimento concreto e literal que parece
ser justificado pelo que é descrito em Ezequiel –
especialmente no que concerne aos capítulos 38–
39”.[8]

VÁRIOS PONTOS DE VISTA


SOBRE A ÉPOCA EM QUE
ISSO SE CUMPRIRÁ O
ESPECIALISTA EM PROFECIA
BÍBLICA, MARK HITCHCOCK,
COMENTA O SEGUINTE: “DE
LONGE, A QUESTÃO MAIS
POLÊMICA QUE SE LEVANTA
EM EZEQUIEL 38–39 É A DA
OCASIÃO OU ÉPOCA QUE SE
DARÁ ESSA INVASÃO. É
MUITO DIFÍCIL PRECISAR O
MOMENTO ESPECÍFICO DA
INVASÃO”.[9]
Não há dúvida de que esse é o maior obstáculo
a vencermos na busca do entendimento dessa
passagem. Na verdade, as diferentes concepções são
denominadas de acordo com o ponto de vista de
alguém acerca da época em que esses
acontecimentos se cumprirão.
Entre os que crêem que a invasão liderada por
Gogue é histórica, há aqueles que acreditam que ela
já se cumpriu. O intérprete preterista Gary DeMar,
por exemplo, declara que “a batalha mencionada
em Ezequiel 38 e 39 é nitidamente um fato
antigo...”[10] Em que momento da história DeMar
acredita que ocorreu essa batalha? Para surpresa
geral, DeMar e apenas alguns comentaristas
persistem na concepção de que os capítulos 38 e 39
de Ezequiel se cumpriram nos acontecimentos
registrados no capítulo 9 do livro de Ester,
aproximadamente em 473 a.C., durante os dias da
rainha Ester da Pérsia.[11] Os outros pontos de
vista que interpretam essa invasão como um
acontecimento histórico situam sua ocorrência
num momento ainda futuro em relação aos nossos
dias.
Tim LaHaye e Jerry Jenkins, em seu best-seller
intitulado Left Behind[12] (“Deixados Para Trás”),
situa essa invasão de Israel imediatamente antes do
Arrebatamento da Igreja. O ponto forte dessa
concepção é o de que ela propicia um
esclarecimento para a queima das armas de guerra
por sete anos, conforme menciona o texto de
Ezequiel 39.9. Entretanto, Tim LaHaye me disse
pessoalmente que, apesar de retratar uma
interpretação pré-arrebatamento do texto de
Ezequiel 38 e 39 em seu romance Best-seller, ele
tende a situar esse texto depois do Arrebatamento,
mas antes da tribulação.
O próximo ponto de vista, o qual vem a ser o
que defendo na atualidade, é o de que os
acontecimentos descritos em Ezequiel 38 e 39 se
cumprirão após o Arrebatamento, mas antes da
tribulação. Eles ocorrerão no intervalo de dias,
semanas, meses ou anos entre o Arrebatamento e o
começo da tribulação de sete anos.[13] Essa
concepção proporciona uma harmonização
explicativa para os sete anos mencionados em
Ezequiel 39.9. Sempre tenho considerado que um
dos pontos fortes dessa concepção é a maneira pela
qual ela pode preparar o palco para o cenário
bíblico da tribulação. Se a tribulação fosse
prontamente precedida por uma fracassada invasão
regional da terra de Israel, ou seja, uma invasão
empreendida pela Rússia e seus aliados islâmicos,
isso eliminaria grande parte da atual influência
russa e islâmica no mundo atual, o que permitiria o
surgimento de uma orientação mundial centrada na
Europa. Dessa forma, a tribulação chegaria ao seu
fim com um ataque de todas as nações do mundo
contra Israel em Armagedom. Isso também poderia
preparar o terreno para a reconstrução do templo
judeu em consequência de uma humilhação
islâmica.
Talvez a concepção mais amplamente
defendida e divulgada dentro da literatura
dispensacionalista seja a de que essa invasão
ocorrerá por volta da metade do período de sete
anos da tribulação. Essa posição geralmente
identifica a profecia de Ezequiel 38 e 39 como uma
invasão empreendida pelo rei do norte, a qual é
mencionada em Daniel 11.40. Outro importante
argumento baseia-se na afirmação de que “...e todos
eles habitarão seguramente” (Ez 38.8), um resultado
da falsa paz promovida pelo Anticristo na primeira
metade do período da tribulação. Essa concepção
tem muitos aspectos a seu favor.
Um expressivo número de catedráticos da
Bíblia acredita que o acontecimento envolvendo
Gogue e Magogue seja sinônimo daquilo a que o
livro de Apocalipse faz alusão como a Campanha
do Armagedom (Ap 16.16).[14] Uma vez que o
Armagedom será uma enorme invasão do território
de Israel pouco antes da Segunda Vinda de Cristo e
a invasão de Israel, descrita em Ezequiel 38 e 39,
está prevista para o “fim dos anos” (Ez 38.8) e “nos
últimos dias” (Ez 38.16), só pode se tratar do mesmo
acontecimento. Um ponto de vista parecido, mas
com ligeiras diferenças, é o de que a invasão
ocorrerá depois da Segunda Vinda, no intervalo
entre a tribulação e o inicio do Milênio. O principal
argumento em favor dessa concepção é o de que
Israel estaria habitando em segurança (Ez 38.8).
O último dos principais pontos de vista é o de
que a batalha, mencionada em Ezequiel 38 e 39,
acontecerá no final do Milênio. O fundamento
dessa concepção é relevante porque o texto de
Apocalipse 20.7-9 faz referência a um conflito no
fim do Milênio, quando Satanás será solto. O
versículo 8 afirma: “e [Satanás] sairá a seduzir as
nações que há nos quatro cantos da terra, Gogue e
Magogue, a fim de reuni-las para a peleja. O número
dessas é como a areia do mar”. A força desse ponto
de vista é óbvia, pois Gogue e Magogue são
especificamente mencionados no texto.
Em nosso próximo capítulo, iniciarei um
estudo sistemático do texto de Ezequiel 38 e 39,
enquanto analisamos o assunto que nos ajudará a
entender o que o Senhor queria dizer nesta
impressionante profecia. Maranata!

NOTAS
1
Ralph H. ALEXANDER, “A Fresh Look at Ezekiel 38 and 39”,
publicado no Journal of The Evangelical Theological
Society, vol. 17 (edição de verão, 1974), p. 157.
2
Simon J. KISTEMAKER, “Revelation”, in: New Testament
Commentary, , Grand Rapids: Baker, 2001, p. 43.
3
D. Brent SANDY, Plowshares & Pruning Hooks: Rethinking
the Language of Biblical Prophecy and Apocalyptic,
Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 2002.
4
Sandy, Plowshares, p. 197.
5
Sandy, Plowshares, p. 203.
6
Sandy, Plowshares, p. 206.
7
Sandy, Plowshares, p. 250, nota de rodapé 14.
8
Jon Mark RUTHVEN, The Prophecy That Is Shaping History:
New Research on Ezekiel’s Vision of the End, Fairfax, VA:
Xulon Press, 2003, p. 30.
9
Mark HITCHCOCK, Iran The Coming Crisis: Radical Islam, Oil
And The Nuclear Threat, Sisters, OR: Multnomah, 2006, p.
178.
10
Gary DEMAR, “Ezekiel’s Magog Invasion: Future or
Fulfilled?”, publicado no periódico Biblical Worldview
Magazine, vol. 22, edição de dezembro de 2006, p. 5.
11
Gary DEMAR, End Times Fiction: A Biblical Consideration of
the Left Behind Theology, Nashville: Thomas Nelson, 2001,
p. 12-15.
12
Tim LAHAYE e Jerry JENKINS, Left Behind: A Novel of the
Earth’s Last Days, Wheaton, IL: Tyndale, 1995, p. 9-15.
13
Arnold FRUCHTENBAUM defende este ponto de vista em seu
livro The Footsteps of the Messiah: A Study of the
Sequence of Prophetic Events, Tustin, CA: Ariel Ministries,
2003 p. 106-125.
14
Esse ponto de vista é defendido por Dave HUNT no livro How
Close Are We?, Eugene, OR: Harvest House,1992.
2. EZEQUIEL 38.1-2

“Veio a mim a palavra do Senhor, dizendo:


Filho do homem, volve o rosto contra Gogue, da
terra de Magogue, príncipe de Rôs, de Meseque e
Tubal; profetiza contra ele”.

“Esta foi a última mensagem da série de seis


oráculos noturnos anunciados por Ezequiel”,
comenta Ralph Alexander. “O foco central de todas
essas mensagens que Deus lhe revelara à noite era a
posse da terra de Israel. Essa série de oráculos
noturnos foi enunciada a fim de encorajar os
exilados judeus com o fato de que Deus finalmente
removeria esses invasores e devolveria essa terra a
Israel”.[1] Uma mensagem realmente maravilhosa
para aqueles que na atualidade amam o povo de
Israel e ainda aguardam o dia em que ela há de se
cumprir!
Essa profecia se divide em duas partes
principais. Na primeira parte, Ezequiel revela a
invasão da terra de Israel por Gogue e seus aliados
(Ez 38.1-16). A segunda parte dessa profecia revela-
nos o juízo de Deus que sobrevirá a Gogue e seus
confederados (Ez 38.17 – 39.16). Essa
impressionante profecia começa com a menção
feita por Ezequiel de que não fora sua ideia tratar
desse assunto da invasão de Gogue à Israel; pelo
contrário, fora Deus que decretara e comunicara
essa profecia por meio desta revelação verbal: “Veio
a mim a palavra do Senhor, dizendo...”.

“FILHO DO HOMEM...”
Ao longo de todo o seu livro, Ezequiel é
denominado de “filho do homem”. A expressão
“filho do homem” é usada 93 vezes no livro de
Ezequiel em referência ao próprio profeta e sua
primeira menção ocorre em Ezequiel 2.1. Por que
Ezequiel é chamado por Deus de “filho do homem”
tantas vezes nas ocasiões em que estava para
receber alguma revelação da parte do Senhor?
Parece que o termo “filho do homem” ressalta sua
humanidade em relação a Deus. Em outras
palavras, Deus é o Revelador enquanto Ezequiel, na
condição de ser humano, é o receptor da
mensagem divina que deve transmitir aos outros
seres humanos. Dessa forma, Ezequiel nos
transmite a infalível profecia desses dois capítulos,
a qual certamente há de se cumprir.

“...VOLVE O ROSTO CONTRA


GOGUE...”
Ezequiel é orientado a voltar seu rosto
“contra” Gogue. O dicionário léxico de hebraico
Brown, Driver & Briggs (BDB) explica que a palavra
hebraica traduzida por “contra” é uma preposição
que indica “movimento para certa direção ou
direção em determinado sentido (seja no plano
físico ou mental)”.[2] O BDB acrescenta ainda que
se esse “movimento para certa direção ou direção
em determinado sentido” for “de caráter hostil
dentro do contexto em que se encontra”, assume
uma conotação negativa e pode ser traduzido pelo
termo “contra”. Ezequiel recebe a ordem de mover
o seu rosto em direção à nação de Gogue, porque o
Senhor é contra ele. Mais adiante na frase, é dito a
Ezequiel: “profetiza contra ele”, ou seja, contra
Gogue. O sentido desse texto é o de que Deus incita
o ataque de Gogue a Israel, todavia o Senhor se
opõe a Gogue e seus aliados. Mas apenas me diga:
Afinal, quem é Gogue? A identidade de Gogue tem
sido um assunto tremendamente debatido.
O nome próprio hebraico Gog (i.e., Gogue)
ocorre 12 vezes no Antigo Testamento Hebraico.[3]
Com exceção de uma, todas as suas ocorrências se
dão nos capítulos 38 e 39 do livro de Ezequiel (Ez
38.2,3,14,16,18; 39.1 (duas vezes), 39.11 (três vezes)
e 15). A única ocorrência fora do livro de Ezequiel é
a de 1Crônicas 5.4, que diz: “O filho de Joel:
Semaías, de quem foi filho Gogue, de quem foi filho
Simei”. Exceto por demonstrar que realmente se
trata de um nome próprio, a referência bíblica de
1Crônicas não contribui em nada para a nossa
análise desses capítulos de Ezequiel e não tem
nenhuma relação com o Gogue mencionado na
profecia de Ezequiel. A despeito de quem seja
Gogue, o contexto de Ezequiel revela que parece ser
uma pessoa, um líder e um governante contra
quem Ezequiel devia profetizar por ordem de Deus.
Em virtude do uso frequente de “Gogue” nessa
passagem, Mark Hitchcock declara: “concluímos,
portanto, que Gogue é a pessoa ou a nação mais
importante dessa coalizão”.[4]
Essa passagem afirma que Gogue é da “...terra
de Magogue...” Alguns dizem que Gogue é uma
referência ao Anticristo. Porém, Charles Feinberg
está correto ao declarar: “Quanto a isso não há o
menor indício na Bíblia, nem nos escritos extra-
bíblicos”.[5] Alguns sugeriram que Gogue é um
nome “arbitrariamente derivado do nome do país,
Magogue, mas isso não procede, porque o termo
Gogue ocorre em 1Crônicas 5.4”.[6] “O nome
Gogue significa “elevado, supremo, uma elevação
ou uma montanha alta”[7] As únicas referências ao
termo Gogue no livro de Ezequiel ocorrem nessa
passagem profética em estudo e, fora da Bíblia,
praticamente não existe nenhuma informação sobre
Gogue no registro histórico. Entretanto, as
Escrituras declaram que, ao liderar a invasão da
terra de Israel, Gogue virá do “...extremo norte...”
(Ez 38.6 – ACF). Louis Bauman cita o que L. Sale-
Harrison escreveu em seu livreto The Coming Great
Northern Confederacy (i.e., “A Futura Confederação
Poderosa do Norte”): “É interessante observar que a
própria palavra Cáucaso quer dizer ‘Fortaleza de
Gogue’. Os termos ‘Gogue’ e ‘Chasan’ (i.e., fortaleza)
são as duas palavras orientais das quais deriva o
termo Cáucaso”.[8] Portanto, não parece
irrelevante fazer-se referência a Gogue dentro dos
limites territoriais da Rússia, pois é provável que
Gogue proceda dessa região No entanto, quem seria
Gogue, então? Bauman afirma: “Sem dúvida a
Rússia fornecerá o homem – não o Anticristo –
que encabeçará aquela que é conhecida pela
maioria dos estudiosos da Bíblia como ‘a grande
confederação de nações do nordeste’ e a liderará até
o seu trágico destino nos montes da terra de Israel”.
[9] Hitchcock acredita que “a razão pela qual
Gogue foi destacado onze vezes por Deus nesses
capítulos se deve ao fato de que Gogue é o general
que comandará essa coalizão de nações na sua
portentosa campanha militar contra Israel”.[10]
Hall Lindsey declara: “Gogue é o nome simbólico
do chefe da nação e Magogue é a sua terra. Ele
também é o príncipe de povos antigos
denominados Rôs, Meseque e Tubal”.[11] Arnold
Fruchtenbaum nos diz: “A identidade de Gogue só
poderá ser revelada com precisão na época daquela
invasão, porque ‘Gogue’ não é um nome próprio,
mas trata-se de um título que designa o governante
de Magogue, assim como os termos ‘Faraó’, ‘Kaiser’
e ‘Czar’ foram títulos que designavam governantes,
não nomes próprios”.[12]

A TERRA DE MAGOGUE O
TEXTO BÍBLICO AFIRMA QUE
GOGUE, O COMANDANTE DA
INVASÃO À TERRA DE
ISRAEL, É “DA TERRA DE
MAGOGUE”. O NOME
PRÓPRIO MAGOGUE OCORRE
QUATRO VEZES NO TEXTO
HEBRAICO DO ANTIGO
TESTAMENTO.[13] O TERMO
MAGOGUE É USADO DUAS
VEZES NESSA PASSAGEM QUE
É OBJETO DE NOSSA
ANÁLISE (EZ 38.2; 39.6)
E OCORRE DUAS VEZES NAS
GENEALOGIAS (GN 10.2 1CR
1.5). O TEXTO DE GÊNESIS
10.2 DECLARA: “OS FILHOS
DE JAFÉ SÃO: GOMER,
MAGOGUE, MADAI, JAVÃ,
TUBAL, MESEQUE E TIRAS”. A
PASSAGEM DE 1 CRÔNICAS
1.5 É BASICAMENTE UMA
REPETIÇÃO DA INFORMAÇÃO
GENEALÓGICA PROVENIENTE
DE GÊNESIS 10.2. O FATO
DE MAGOGUE OCORRER NA
TABELA DAS NAÇÕES (CF.
GÊNESIS 10)[14]
PROPORCIONA A BASE PARA
SE MAPEAR O DESLOCAMENTO
DE UM DOS MAIS ANTIGOS
DESCENDENTES PÓS-
DILUVIANOS DE NOÉ.
Parece que Ezequiel usa os nomes dos povos
originalmente mencionados na tabela das nações,
relacionando esses povos ao lugar em que viviam
no sexto século a.C., época esta em que a profecia
de Ezequiel foi enunciada. Dessa forma, se
conseguirmos desvendar onde esses povos se
localizavam no sexto século a.C., seremos capazes
de desvendar quem seriam seus atuais
descendentes. Creio que conseguiremos cumprir
esse objetivo, a fim de sabermos quem estará
envolvido nessa batalha, caso esta ocorra em nossos
dias.
É honesto de nossa parte dizer que muitos
estudiosos da Bíblia e especialistas nas profecias
identificariam os descendentes de Magogue com o
antigo povo que conhecemos pelo nome de Citas.
Chuck Missler comenta que uma vasta coletânea de
historiadores antigos “identificou Magogue com os
Citas que habitavam o sul da Rússia no século 7
a.C.”.[15] Entre esses antigos historiadores estão:
Hesíodo, Josefo, Philo e Heródoto.[16] Josefo viveu
no primeiro século d.C. e declarou: “Magogue deu
origem aos “Magogueanos”, assim chamados por
causa dele, mas denominados de Citas pelos
gregos”.[17] Bauman nos diz que, depois do
Dilúvio, Magogue e seus descendentes devem ter
emigrado para o norte e que “os Magoguitas se
desdobraram em duas raças distintas; uma Jafeíta
ou européia e outra Turaniana ou asiática”.[18]
Quem eram os Citas? Edwin Yamauchi
menciona que os Citas se dividiram em dois
grupos; um mais estrito e outro mais amplo. “No
sentido estrito, os Citas eram as tribos que viveram
na região denominada por Heródoto de Citia (i.e.,
aquele território situado ao norte do mar Negro)”,
comenta Yamauchi. “No sentido mais amplo, o
termo ‘Citas’ pode se referir a algumas das muitas
outras tribos que habitavam nas vastas estepes da
Rússia, estendendo-se da Ucrânia no oeste até a
região da Sibéria no leste”.[19]

NOTAS
1
Ralph ALEXANDER, Ezekiel, Chicago: Moody Press, 1976, p.
118.
2
Francis BROWN, S. R. DRIVER, e C. A. BRIGGS, Hebrew and
English Lexicon of the Old Testament, Londres: Oxford,
1907, edição eletrônica.
3
Baseado na pesquisa feita pelo programa de computador
Accordance, versão 6.4.
4
Mark HITCHCOCK, After The Empire: Bible Prophecy in Light
of the Fall of the Soviet Union, Wheaton, IL: Tyndale House
Publishers, 1994, p. 16.
5
Charles Lee FEINBERG, The Prophecy of Ezekiel, Chicago:
Moody Press, 1969, p. 220.
6
FEINBERG, Ezekiel, p. 220.
7
HITCHCOCK, After The Empire, p. 17.
8
Louis S. BAUMAN, Russian Events in the Light of Bible
Prophecy, Nova York: Fleming H. Revell, 1942, p. 23.
9
BAUMAN, Russian Events, p. 26.
10
HITCHCOCK, After The Empire, p. 17.
11
Hal LINDSEY, The Late Great Planet Earth, Grand Rapids:
Zondervan Publishing House, 1970, p. 63.
12
Arnold FRUCHTENBAUM, Footsteps of the Messiah: A Study of
the Sequence of Prophetic Events, Tustin, CA: Ariel Press,
(1982) 2003, p. 106.
13
Baseado na pesquisa feita pelo programa de computador
Accordance, versão 6.4.
14
A tabela das nações é um termo usado para descrever o
registro dos descendentes de Noé e de seus três filhos:
Sem, Cam e Jafé. Todo ser humano que se encontra no
planeta Terra descende de Noé e de seus três filhos. Se
conseguíssemos traçar nossa genealogia, a ponto de
retroceder ao máximo no registro, constataríamos que
todos nós descendemos de Noé através de Sem, ou de
Cam, ou de Jafé.
15
Chuck MISSLER, The Magog Invasion, Palos Verdes, CA:
Western Front, 1995, p. 29.
16
MISSLER, Magog Invasion, p. 29-31.
17
Flavius JOSEPHUS, Antiquities of the Jews, vol. 1, vi, i, citado
por HITCHCOCK na obra After The Empire, p. 19.
18
BAUMAN, Russian Events, p. 23.
19
Edwin M. YAMAUCHI, Foes from the Northern Frontier, Grand
Rapids: Baker, 1982, p. 62.
3. EZEQUIEL 38.2

“...Filho do homem, volve o rosto contra Gogue,


da terra de Magogue, príncipe de Rôs, de
Meseque e Tubal; profetiza contra ele”.

Já vimos que o termo Magogue é uma


referência aos antigos Citas, ancestrais daqueles
povos que posteriormente se estabeleceram ao
longo das regiões leste e norte do mar Negro. “Os
descendentes do remoto Magogue – os Citas –
foram os primeiros habitantes do planalto da Ásia
central e, mais tarde, parte dessa população se
deslocou para a região norte do mar Negro. A terra
natal dos antigos Citas é atualmente ocupada por
repúblicas que constituíam a extinta União
Soviética, tais como a do Cazaquistão, Quirguízia,
Uzbequistão, Turcomenistão, Tadjiquistão e
Ucrânia”.[1] Mas quem é “o príncipe de Rôs”?
O ATAQUE A RÔS A
IDENTIDADE DE RÔS É UM
DOS ASSUNTOS MAIS
CONTROVERSOS E DEBATIDOS
DE TODA A PROFECIA
REFERENTE A GOGUE E
MAGOGUE, EMBORA NÃO
DEVESSE SER ASSIM. CREIO
QUE QUANDO SE CONSIDERA
AS EVIDÊNCIAS, A
ESMAGADORA MAIORIA DOS
INDÍCIOS APONTA PARA O
FATO DE QUE SEJA UMA
REFERÊNCIA AOS RUSSOS
DOS DIAS ATUAIS.
CONTUDO, PRECISAMOS
PRIMEIRAMENTE ANALISAR
AS EVIDÊNCIAS ANTES DE
CHEGAR A TAL CONCLUSÃO.
Como crítico de profecia, o preterista Gary
DeMar argumenta que “em Ezequiel 38.2 e 39.1, a
palavra hebraica ro’sh é traduzida como se fosse o
nome de uma nação. Acredita-se que essa nação
seja a Rússia porque a sonoridade do termo Rôs
assemelha-se à da palavra Rússia”.[2] Em seguida,
DeMar faz a seguinte citação: “Edwin M.
Yamaushi, notável historiador e arqueólogo cristão,
escreve que Rôs pode não ter nada a ver com a
atual Rússia”.[3] Num programa de rádio chamado
Bible Answer Man, que foi ao ar em outubro de
2002, o apresentador, Hank Hanegraaff, perguntou
a Gary DeMar o que ele achava da postura de Tim
LaHaye em identificar Rôs como Rússia, já que
essas duas palavras soam muito parecido. DeMar
respondeu: “A idéia de se utilizar uma palavra do
hebraico, que soa de modo semelhante a uma
palavra em inglês, para, com base nisso, criar toda
uma posição escatológica é... um absurdo”. Como
demonstrarei mais adiante, essa identificação da
palavra hebraica ro’sh com o nome Rússia não se
baseia em semelhança de sonoridade. Isso não
passa de um frívolo espantalho que DeMar constrói
para dar a impressão de que ele faz uma crítica
relevante ao ponto de vista que defendemos nessa
questão. Em seguida DeMar declara: “A melhor
tradução do texto de Ezequiel 38.2 é ‘o príncipe
supremo (i.e. cabeça) de Meseque e Tubal’”.[4]
No que diz respeito à possibilidade de uma
invasão russo-islâmica contra Israel no fim dos
tempos, Marvin Pate e Daniel Hays afirmam
categoricamente o seguinte: “O termo bíblico Rôs
não tem nada a ver com a Rússia”.[5] Esses autores
posteriormente declaram de forma dogmática que
“essas posições não são bíblicas [...] uma invasão da
terra de Israel por parte de uma coalizão islâmica
liderada pela Rússia não está para acontecer”.[6]
Uma questão crucial no processo de definir se
Rôs é ou não uma referência à Rússia está em
determinar se o termo hebraico ro’sh deve ser
entendido como um nome próprio (i.e., o ponto de
vista que o identifica com a Rússia) ou deve ser
interpretado como um adjetivo (i.e., o ponto de
vista que não o identifica com a Rússia) e ser
traduzido em português pela palavra “chefe”.
Trata-se de um divisor de águas para todo aquele
que deseja entender corretamente esse texto das
Escrituras.

RAZÕES PELAS QUAIS RÔS É


UMA REFERÊNCIA À RÚSSIA
AGORA GOSTARIA DE TRATAR
DAS RAZÕES PELAS QUAIS
RÔS DEVE SER
INTERPRETADO COMO UM
SUBSTANTIVO (I.E., UM
NOME) EM VEZ DE
ADJETIVO, PARA ENTÃO
CONSIDERAR SE É OU NÃO
UMA REFERÊNCIA À RÚSSIA.
A PALAVRA HEBRAICA RO’SH
SIMPLESMENTE SIGNIFICA
“CABEÇA”, “TOPO”,
“PRINCIPAL”, OU “CHEFE”.
[7] É UM TERMO BASTANTE
COMUM, MUITO USADO EM
TODAS AS LÍNGUAS
SEMÍTICAS. ELE OCORRE
CERCA DE 750 VEZES NO
ANTIGO TESTAMENTO,
JUNTAMENTE COM SUAS
RAÍZES E DERIVADOS.[8]
O problema é que a palavra ro’sh que ocorre
em Ezequiel pode ser traduzida tanto como um
nome próprio quanto como um adjetivo. Várias
versões da Bíblia em inglês traduzem o termo ro’sh
como um adjetivo, ao usarem a palavra “chefe”. O
mesmo ocorre com as versões da Bíblia em
português. As versões Almeida Revista e Corrigida –
ARC, Nova Versão Internacional – NVI, Almeida
Corrigida Fiel – ACF e A Bíblia de Jerusalém adotam
essa mesma linha de tradução. Entretanto, as
versões Almeida Revista e Atualizada – ARA e a
Tradução Brasileira traduzem o termo ro’sh como
um nome próprio que indica certa localização
geográfica. O peso da evidência apóia a tradução
desse termo como um nome próprio, numa
confirmação da opção feita por estas últimas
traduções citadas. Há cinco argumentos em favor
dessa concepção interpretativa.
Em primeiro lugar, os eminentes catedráticos
em língua hebraica, C. F. Keil e Wilhelm Gesenius,
defendem a concepção de que a melhor tradução
do termo ro’sh em Ezequiel 38.2-3 e Ezequiel 39.1 é
a de um nome próprio que se refere a uma
localização geográfica.[9] Gesenius, que faleceu em
1842 e é considerado pela moderna erudição em
linguística como um dos mais notáveis catedráticos
da língua hebraica, demonstrou sua plena
convicção de que o termo Rôs (do heb. ro’sh),
referido em Ezequiel 38, é um nome próprio que
identifica a Rússia. Ele asseverou que a palavra Rôs,
em Ezequiel 38.2,3 e 39.1, é um “nome próprio que
designa uma nação do norte, mencionada junto
com Meseque e Tubal; sem sombra de dúvida uma
referência aos Russos, os quais são citados pelos
escritores bizantinos do século X, sob o designativo
os Rôs, que habitavam ao norte do Tauro [...]
vivendo às margens do rio Rha (i.e., rio Volga)”.
[10]
Essa identificação feita por Gesenius não pode
ser tratada com indiferença, como DeMar tenta
tratá-la. Até onde se sabe, Gesenius nem mesmo
era um pré-milenista. Ele não tinha nenhum
esquema escatológico do fim dos tempos ao qual se
apegar. No entanto, Gesenius declara sem hesitar
que o termo ro’sh, mencionado nos capítulos 38 e
39 de Ezequiel, refere-se à Rússia. Na edição
original de seu léxico, publicada em latim, Gesenius
reserva quase uma página inteira de notas que
tratam da palavra Rôs e do povo de Rôs citados em
Ezequiel 38–39. Essa página de notas não consta de
nenhuma das traduções do léxico de Gesenius em
inglês. Aqueles que discordam de Gesenius não
conseguiram refutar o considerável conjunto de
evidências que ele apresentou para demonstrar que
Rôs é a Rússia.[11] Eu não sei o que DeMar diria
acerca dessas evidências, já que em seus escritos ele
nunca comentou a respeito.
Em segundo lugar, a Septuaginta, que vem a
ser a tradução grega do Antigo Testamento, traduz
o termo hebraico ro’sh pelo nome próprio Ros. Tal
fato é especialmente relevante porque a Septuaginta
foi traduzida apenas três séculos depois que o livro
de Ezequiel foi escrito (obviamente muito mais
próximo do original que qualquer tradução
moderna).[12] A tradução errônea que muitas
versões modernas apresentam do termo ro’sh como
um adjetivo (i.e., “cabeça” ou “chefe”) remonta à
Vulgata Latina elaborada por Jerônimo, a qual só
surgiu por volta do ano 400 d.C.[13] James Price,
titulado com um Ph.D. em língua hebraica pela
Universidade de Dropsie que, em termos
acadêmicos, é a mais proeminente universidade
judaica dos Estados Unidos, afirma o seguinte: “A
origem da tradução ‘...príncipe e chefe de Meseque e
de Tubal’ remonta à Vulgata Latina. Os primeiros
tradutores da Bíblia para a língua inglesa
dependeram demasiadamente da versão latina
quando precisavam de ajuda na tradução de textos
mais difíceis. É evidente que eles adotaram a opção
feita por Jerônimo no texto de Ez 38.2,3 e 39.1”.[14]
Price ainda explica a razão dessa tradução errônea
nos seguintes termos: Por volta do segundo século
d.C., a familiaridade com a antiga terra de Rôs
evidentemente diminuíra. O fato de que a palavra
hebraica ro’sh era de uso comum para designar o
conceito de “cabeça” ou “chefe”, influenciou Áquila
a interpretar ro’sh como um adjetivo, contrariando
a LXX [i.e., Septuaginta] e a normalidade das
convenções gramaticais. Jerônimo adotou o
precedente aberto por Áquila e, assim, restringiu
ainda mais o conhecimento da antiga Rôs, ao
remover seu nome da Bíblia Latina.
Por volta do sexto século d.C., a antiga Rôs já se tornara totalmente
desconhecida no Ocidente, de modo que os primeiros tradutores da
Bíblia para o inglês foram influenciados pela Vulgata Latina na
violação das normas gramaticais hebraicas ao traduzirem o texto de
Ezequiel 38–39. Depois que o precedente foi aberto em inglês, todas
as versões inglesas subseqüentes o perpetuaram até este século
[i.e., o século vinte], quando algumas versões modernas se tornaram
exceção. Esse antigo e errôneo precedente não deve ser
perpetuado.[15]
Clyde Billington explica o motivo pelo qual
Jerônimo contrariou a esmagadora evidência para
optar por uma tradução que se desvia do padrão de
normalidade: O próprio Jerônimo admite que não
baseou sua decisão em considerações gramaticais!
Ao que parece, Jerônimo percebeu que a gramática
hebraica favorece a tradução “... príncipe de Rôs, de
Meseque e Tubal”, e não dá apoio à própria tradução
por ele feita nos seguintes termos: “... príncipe-
chefe de Mosoch et Thubal”. Contudo Jerônimo
negou-se a traduzir o termo hebraico ro’sh como
um nome próprio porque “não conseguimos
encontrar nenhuma menção do nome dessa raça
[i.e., o povo de Rôs] em Gênesis, nem noutros
lugares das Escrituras, muito menos nos escritos de
Josefo”. Foi esse argumento não gramatical que
convenceu Jerônimo a adotar a opção feita por
Áquila de traduzir o termo ro’sh como um adjetivo
[i.e., “chefe”] em Ezequiel 38–39.[16]
Em terceiro lugar, muitos dicionários e
enciclopédias bíblicos, ao tratarem do termo Rôs,
apóiam a concepção de que se trata de um nome
próprio nas suas ocorrências em Ezequiel 38, a
exemplo do Novo Dicionário da Bíblia, do Wycliffe
Bible Dictionary e da International Standard Bible
Encyclopedia.
Em quarto lugar, o termo Rôs é mencionado,
pela primeira vez, em Ezequiel 38.2, para então ser
repetido em Ezequiel 38.3 e 39.1. Se o termo
hebraico ro’sh fosse simplesmente um título, é
muito provável que fosse omitido nestas duas
últimas ocorrências, visto que, na língua hebraica,
os títulos são geralmente abreviados quando se
repetem.

NOTAS
1
Mark HITCHCOCK, After The Empire: Bible Prophecy in Light
of the Fall of the Soviet Union, Wheaton, IL: Tyndale House
Publishers, 1994, p. 23.
2
Gary DEMAR, Last Days Madness: Obsession of the
Modern Church, Powder Springs, GA: American Vision,
1999, p. 363.
3
DEMAR, Last Days Madness, p. 363. Citação extraída da
obra de Edwin M. YAMAUCHI intitulada Foes from the
Northern Frontier: Invading Hordes from the Russian
Steppes, Grand Rapids: Baker Book House, 1982, p. 20.
4
DEMAR, Last Days Madness, p. 365.
5
C. Marvin PATE e J. Daniel HAYS, Iraq-Babylon of the End
Times?, Grand Rapids: Baker Books, 2003, p. 69.
6
PATE e Hays, Iraq, p. 136.
7
Francis BROWN, S. R. DRIVER, and C. A. BRIGGS, Hebrew and
English Lexicon of the Old Testament, Londres: Oxford,
1907, edição eletrônica.
8
Baseado em pesquisa realizada através do programa de
computador Accordance, versão 6.4.
9
C. F. KEIL, Ezekiel, Daniel, Commentary on the Old
Testament, traduzido por James Martin, reimpressão,
Grand Rapids: Eerdmans Publishing Company, 1982, p.
159. Wilhelm GESENIUS, Gesenius’ Hebrew-Chaldee
Lexicon to the Old Testament, reimpressão, Grand Rapids:
Eerdmans Publishing Company, 1949, p. 752.
10
GESENIUS, Lexicon, p. 752.
11
Clyde E. BILLINGTON, Jr., “The Rosh People in History and
Prophecy (Part One)”, publicado no periódico Michigan
Theological Journal 3:1, edição de primavera, 1992, p. 62-
63.
12
As antigas traduções gregas elaboradas por Símaco e
Teodócio também traduziram o termo hebraico ro’sh,
mencionado em Ezequiel 38–39, por um nome próprio.
BILLINGTON, “The Rosh People in History and Prophecy (Part
One)”, p. 59.
13
Clyde E. BILLINGTON, Jr., “The Rosh People in History and
Prophecy (Part Two)”, publicado no periódico, Michigan
Theological Journal 3:1, edição de primavera, 1992, p. 54-
61.
14
James D. PRICE, “Rosh: An Ancient Land Known to Ezekiel”,
publicado no periódico Grace Theological Journal 6:1,
1985, p. 88.
15
PRICE, “Rosh: An Ancient Land”, p. 88.
16
BILLINGTON, “The Rosh People in History and Prophecy (Part
One)”, p. 60.
4. EZEQUIEL 38.2
(CONT. 1) “FILHO DO
HOMEM, VOLVE O
ROSTO CONTRA GOGUE,
DA TERRA DE
MAGOGUE, PRÍNCIPE DE
RÔS, DE MESEQUE E
TUBAL; PROFETIZA
CONTRA ELE”.

Num quinto argumento, a evidência mais


contundente em favor da interpretação do termo
hebraico ro’sh como um nome próprio, é o simples
fato de que tal tradução é a mais precisa. G. A.
Cooke, um catedrático em hebraico, traduz o texto
de Ezequiel 38.2 desta forma: “...o governante de
Rôs, Meseque e Tubal”. Segundo ele, esse “é o modo
mais natural de se traduzir o texto hebraico”.[1] Por
que essa seria a maneira mais natural de se traduzir
o texto hebraico? O termo ro’sh ocorre no estado
construto da sintaxe hebraica na relação com
Meseque e Tubal, formando uma seqüência
gramatical de três substantivos. Alguns preferem
dizer que ro’sh é um substantivo que funciona
como um adjetivo, já que deveria haver uma
conjunção “e” se a intenção fosse a de constituir
uma seqüência de três substantivos. A mesmíssima
construção hebraica ocorre no texto de Ezequiel
38.8, bem como em 27.13, e nessas passagens os
gramáticos identificam claramente uma sequência
de três substantivos, ainda que originalmente não
conste a conjunção “e” em todos os termos desses
dois textos. As gramáticas hebraica e árabe apóiam
o uso de ro’sh como um substantivo (veja, também,
Ezequiel 38.3 e 39.1). Na realidade, a sintaxe
hebraica exige que o termo ro’sh seja traduzido
como um substantivo. Nunca houve nenhum
precedente na gramática hebraica que possa ser
citado em favor da tradução do termo ro’sh como
um adjetivo. Pelo contrário, na sintaxe hebraica não
se pode quebrar a cadeia de construto dos três
substantivos que se encontram nesse tipo de arranjo
gramatical.[2] Randall Price, outro erudito em
língua hebraica, declara: “tanto no âmbito
linguístico quanto no âmbito histórico, o
argumento em favor de se traduzir o termo ro’sh
por um nome próprio em vez de um adjetivo é
sólido e convincente”.[3]
À luz de evidências tão contundentes, não é de
admirar que o catedrático em língua hebraica,
James Price, chegue à seguinte conclusão: Já foi
comprovado que ro’sh era um lugar bem conhecido
na antigüidade, como atestam as numerosas e
variadas referências a esse nome na literatura
antiga. Também já foi demonstrado que a
ocorrência de um adjetivo entre um substantivo no
estado construto e seu nomen rectum é altamente
improvável, não havendo nenhum exemplo claro
de tal ocorrência na Bíblia Hebraica. Além do mais,
já ficou provado que a interpretação de ro’sh como
um substantivo está em perfeita harmonia com a
sintaxe e com a gramática da língua hebraica.
Conclui-se, portanto, que ro’sh não pode ser tratado
como um adjetivo nas referências que são feitas em
Ezequiel 38–39, mas deve ser interpretado como
um substantivo. Por isso, a única tradução
adequada da frase que se encontra em Ez 38.2,3 e
39.1 é: “... príncipe de Rôs, de Meseque e Tubal”.[4]
Clyde Billington afirma que “os parâmetros da
língua hebraica [...] determinam que ro’sh seja
traduzido como um nome próprio, não como um
adjetivo, [...] Não obstante, é preciso salientar que
os argumentos gramaticais em favor da tradução de
ro’sh como um nome próprio nos capítulos 38 e 39
de Ezequiel são argumentos conclusivos que
realmente não deixam nenhuma abertura relevante
para um debate”.[5] O que Gary DeMar diria sobre
essas evidências? Eu não sei, já que nunca o vi fazer
qualquer referência a tais argumentos. DeMar é
meramente propenso a fazer declarações
dogmáticas contrárias a isso, sustentando sua
posição sem fundamentá-la em evidências
concretas.
Portanto, após demonstrar que ro’sh deve ser
traduzido como um nome próprio de âmbito
geográfico, nossa próxima tarefa é definir
geograficamente a que localidade se refere.

EVIDÊNCIAS HISTÓRICAS E
GEOGRÁFICAS QUE
IDENTIFICAM RÔS COM A
RÚSSIA CLYDE BILLINGTON
ESCREVEU UMA SÉRIE DE
TRÊS ENSAIOS ACADÊMICOS
PARA UM JORNAL TEOLÓGICO
NOS QUAIS APRESENTA
VASTA EVIDÊNCIA
HISTÓRICA, GEOGRÁFICA E
TOPONÍMICA[6] DE QUE O
NOME RÔS [DO HEB. RO’SH]
NÃO SOMENTE DEVE SER,
MAS REALMENTE É
IDENTIFICADO COMO O POVO
RUSSO DA ATUALIDADE.[7]
NA APRESENTAÇÃO DE SUA
PESQUISA ELE INTERAGE
COM OS MELHORES
COMENTÁRIOS E COM AS
MAIS DESTACADAS
AUTORIDADES DE NOSSOS
DIAS. BILLINGTON
COMENTA: “TAMBÉM FICA
CLARO QUE JERÔNIMO, AO
DECIDIR PELA TRADUÇÃO DE
RO’SH COMO UM ADJETIVO
EM VEZ DE UM NOME
PRÓPRIO, BASEOU SUA
DECISÃO NUM ARGUMENTO
AGRAMATICAL, A SABER,
QUE UM POVO DENOMINADO
RO’SH NÃO É REFERIDO NA
BÍBLIA, NEM NOS ESCRITOS
DE JOSEFO”.[8] CONTUDO,
HÁ CONSIDERÁVEL
EVIDÊNCIA HISTÓRICA EM
FAVOR DO FATO DE QUE UM
LUGAR DENOMINADO RO’SH
ERA BEM CONHECIDO NO
MUNDO ANTIGO. AINDA QUE
ESSA PALAVRA OCORRA NUMA
VARIEDADE DE LÍNGUAS,
NAS QUAIS PODEM OCORRER
DIVERSAS FORMAS DE
GRAFIA, É BASTANTE
EVIDENTE QUE O TERMO SE
REFERE AO MESMO POVO EM
QUESTÃO.
Na realidade, é muito provável que o nome
Rôs derive do nome Tiras, mencionado na tabela
das nações, conforme consta em Gênesis 10.2.
Billington ressalta a tendência acádia de suprimir
ou alterar o som da letra “t” no início de um nome,
especialmente se a sonoridade da letra “t” inicial for
seguida pelo som da letra “r”. Se a letra “t” no início
do nome Tiras for suprimida, restará o termo
“Ras”.[9] É coerente que Ras ou Rôs seja
relacionado em Gênesis 10, uma vez que todas as
outras nações referidas em Ezequiel 38.1-6 já
tinham sido alistadas naquele texto. Isso significa
que é errônea a alegação feita por Jerônimo de que
ro’sh não ocorre na Bíblia nem nos escritos do
historiador Josefo. Se Tiras e seus descendentes são
aparentemente o mesmo povo que, mais tarde, veio
a ser denominado de Rôs, pode-se dizer, então, que
Rôs é aludido tanto na tabela das nações quanto nos
escritos de Josefo.
Rôs (ou Ras) é identificado nas inscrições
egípcias como um lugar que já existia em 2600 a.C.
Há uma inscrição egípcia posterior, datada
aproximadamente de 1500 a.C., que se refere a uma
terra chamada Reshu localizada ao norte do Egito.
[10] O nome geográfico Ro’sh (ou seus equivalentes
nos respectivos idiomas) é encontrado pelo menos
vinte vezes em outros documentos da antiguidade.
Ocorre três vezes na Septuaginta (cuja sigla é LXX),
dez vezes nas inscrições do rei Sargão, uma vez no
cilindro de Assurbanipal, dez vezes nos anais de
Senaqueribe e cinco vezes nas inscrições das
tabuinhas ugaríticas.[11] Billington rastreia o povo
de Rôs, desde os seus registros históricos mais
remotos até os dias do profeta Ezequiel, já que tal
povo é mencionado várias vezes durante esse
período histórico.[12]
É evidente que Rôs ou Tiras era um lugar bem
conhecido nos dias de Ezequiel. No século VI a.C.,
época em que Ezequiel escreveu sua profecia,
vários agrupamentos do povo de Rôs viviam numa
região situada ao norte do mar Negro. Ao nos
aproximarmos do século VIII a.C., Billington cita
uma série de referências históricas para demonstrar
que “há evidência sólida de que um dos
agrupamentos do povo de Rôs estava relacionado
com as montanhas do Cáucaso”.[13] Acerca desse
mesmo período de tempo, Billington acrescenta:
“Até existe um documento cuneiforme da época do
reinado do rei assírio Sargão II (o qual governou
entre 722-705 a.C.) que, na verdade, especifica os
nomes de todos os três povos [i.e., Rôs, Meseque,
Tubal] mencionados por Ezequiel nos capítulos 38
e 39”.[14] Billington conclui essa seção de sua
pesquisa histórica da seguinte maneira: Portanto,
nos registros assírios dos séculos IX – VII a.C. há
evidências históricas irrefutáveis em favor da
existência de um povo denominado Rôs/Rashu.
Essas mesmas fontes assírias também mencionam
Meseque e Tubal, nomes estes que aparecem junto
com o nome de Rôs em Ezequiel 38–39. É obvio
que os Assírios tinham conhecimento do povo de
Rôs, assim como Ezequiel os conhecia. Deve-se
salientar que Ezequiel escreveu o Livro de Ezequiel
apenas cerca de 100 anos após a escrita dos textos
assírios que ainda existem e mencionam os povos
de Rôs, Meseque e Tubal.[15]

SERÁ QUE O NOME RÚSSIA


DERIVA DO NOME RÔS?
O antigo povo de Rôs, que numa retrospectiva
remonta a Tiras, um dos filhos de Jafé (Gn 10.2), e
que migrou para as montanhas do Cáucaso no sul
da Rússia, é uma das fontes genéticas da
composição étnica do povo russo atual. Contudo,
será que o nome Rússia é originário do termo
bíblico Rôs usado em Ezequiel 38.2? Já constatamos
que Marvin Pate e Daniel Hays afirmaram
categoricamente: “O termo bíblico Rôs não tem
nada a ver com a Rússia”.[16] A afirmação desses
dois autores é típica da mentalidade de muitos
críticos atuais. Mas será que o peso da evidência
conduz realmente a tal conclusão? Não creio! Passo
a enunciar as razões pelas quais discordo.
Em primeiro lugar, precisamos estar cientes
de que o Antigo Testamento hebraico foi traduzido
para a língua grega durante o terceiro século a.C.,
tradução essa que ficou conhecida como
Septuaginta (cuja abreviatura é LXX). A Septuaginta
traduziu a palavra hebraica ro’sh em todas as suas
ocorrências no Antigo Testamento pela palavra
grega Ros (ou Rhos). A Igreja em seus primórdios
adotou com muita frequência a Septuaginta como
seu Antigo Testamento preferido. A Septuaginta até
hoje é usada nos países de fala grega como a
principal tradução do Antigo Testamento.
Billington nos diz: “Os primeiros escritores cristãos
ortodoxos gregos, fazendo uso do modo pelo qual a
Septuaginta transliterou o nome hebraico ro’sh
[pelo termo Ros], identificaram o povo de Rôs,
citado nos capítulos 38 e 39 de Ezequiel, com a
etnia Rus localizada no norte da Rússia e da
Ucrânia”.[17] Esses povos seriam aqueles que
viviam próximo, mais precisamente ao norte, dos
povos de fala grega. Tamanha proximidade pode
significar que eles tinham total clareza acerca de
quem identificavam e, de fato, esses escritores os
identificaram como sendo o povo de Rôs.
Maranata!
NOTAS: 1 G. A. COOKE, A CRITICAL AND EXEGETICAL
COMMENTARY ON THE BOOK OF EZEKIEL, THE
INTERNATIONAL CRITICAL COMMENTARY, ORG.,
EDIMBURGO: T & T CLARK, 1936, P. 408-09.
JOHN B. TAYLOR CONCORDA COM COOKE AO AFIRMAR
QUE “SE UM NOME DE LUGAR PODE SER
CONFIRMADO, A MELHOR TRADUÇÃO SERIA, ENTÃO,
‘PRÍNCIPE DE RÔS, DE MESEQUE E DE TUBAL’”.
JOHN B. TAYLOR, EZEKIEL: AN INTRODUCTION &
COMMENTARY, TYNDALE OLD TESTAMENT
COMMENTARIES, ORG. GERAL, E D. J. WISEMAN,
DOWNERS GROVE, IL: INTER-VARSITY PRESS,
1969, P. 244. PORTANTO, ESSA VEM A SER A
TRADUÇÃO POR EXCELÊNCIA. PARA TER ACESSO A
UMA EXPLANAÇÃO MAIS DETALHADA E COMPLETA DO
EMBASAMENTO GRAMATICAL E FILOLÓGICO QUE
FAVORECE A TRADUÇÃO DE RÔS COMO UM NOME DE
LUGAR, VEJA: JAMES D. PRICE, “ROSH: AN
ANCIENT LAND KNOWN TO EZEKIEL”, PUBLICADO NO
GRACE THEOLOGICAL JOURNAL 6:1, 1985, P. 67-
89.
2
Resumo gramatical proveniente da obra de Jon Mark
RUTHVEN, The Prophecy That Is Shaping History: New
Research on Ezekiel’s Vision of the End, Fairfax, VA: Xulon
Press, 2003, p. 21-23.
3
Randall PRICE, “Ezekiel”, publicado na obra organizada por
Tim LAHAYE e Ed HINDSON, The Popular Bible Prophecy
Commentary, Eugene, OR: Harvest House Publishers,
2007, p. 190.
4
PRICE, “Rosh: An Ancient Land,”, p. 88-89.
5
Clyde E. BILLINGTON, Jr. “The Rosh People in History and
Prophecy”, Parte 1, publicado no Michigan Theological
Journal 3:1, Edição de Primavera, 1992, p. 56.
6
Toponímico se refere à ciência que estuda os nomes dos
lugares.
7
BILLINGTON, “The Rosh People”, Parte 1, p. 55-65; Clyde E.
BILLINGTON, Jr., “The Rosh People in History and Prophecy”,
Parte 2, Michigan Theological Journal 3:2, Edição de
Outono, 1992, p. 144-75; Clyde E. BILLINGTON, Jr., “The Rosh
People in History and Prophecy”, Parte 3, Michigan
Theological Journal 4:1, Edição de Primavera, p. 36-63.
8
BILLINGTON, “The Rosh People”, Parte 1, p. 56.
9
BILLINGTON, “The Rosh People”, Parte 2, p. 166-67.
10
BILLINGTON, “The Rosh People”, Parte 2, p. 145-46.
11
PRICE, “Rosh: An Ancient Land”, p. 71-73.
12
BILLINGTON, “The Rosh People”, Parte 2, p. 143-59.
13
BILLINGTON, “The Rosh People”, Parte 2, p. 170.
14
BILLINGTON, “The Rosh People”, Parte 2, p. 170.
15
BILLINGTON, “The Rosh People”, Parte 2, p. 172.
16
C. Marvin PATE e J. Daniel HAYS, Iraq – Babylon of the End
Times?, Grand Rapids: Baker Books, 2003, p. 69.
17
BILLINGTON, “The Rosh People”, Parte 3, p. 39.
5. EZEQUIEL 38.2
(CONT. 2)

“Filho do homem, volve o rosto contra Gogue,


da terra de Magogue, príncipe de Rôs, de
Meseque e Tubal; profetiza contra ele”.

Nos capítulos anteriores já verificamos que a


versão grega do Antigo Testamento traduziu o
termo hebraico ro’sh como um nome próprio e o
identificou com o povo que habitava na região sul
da Rússia e na Ucrânia. Tal tradução indica que os
judeus de fala grega residentes no norte da África
acreditavam que Rôs era um nome próprio e se
referia a um povo conhecido. Após fornecer uma
quantidade impressionante de informações para
defender a concepção de que o antigo povo de Rôs
se identifica com os russos da atualidade, Clyde
Billington declara:
Portanto, é praticamente certo que o antigo povo a quem os gregos
denominavam de Tauroi / Tursenoi era idêntico ao povo conhecido
na Bíblia como “Tiras”. Esse mesmo povo de Tiras, mencionado em
Gênesis 10.2, também era conhecido em outras línguas por uma
variedade de nomes que se baseavam no nome “Tiras”. Observe,
por exemplo, os seguintes nomes: Taruisha (em língua hitita), Turus /
Teresh (em egípcio), Tauroi Tursenoi (em grego) e Tauri Etruscan
(em latim).[1]

Em segundo lugar, Billington afirma: “A partir


de uma variedade de fontes, sabe-se que um povo
denominado Rôs ou Rus vivia na mesma área
próxima ao mar Negro, onde o povo Tauroi
habitava”.[2] Billington ainda nos diz que “os
primeiros escritores cristãos bizantinos
identificaram o povo de Rôs, mencionado em
Ezequiel 38–39, com um antigo agrupamento
populacional do sul da Rússia ao qual chamavam
de Ros”.[3] Além disso, temos a informação de que
“os gregos bizantinos usaram a grafia da LXX [i.e.,
da Septuaginta] para esse nome (i.e., Ros), porque
inquestionavelmente identificaram o povo Ros Rus
russo que vivia no sul da Rússia como o povo Rôs
mencionado em Ezequiel 38–39”.[4]
Em terceiro lugar, “é fato notório que o
primeiro Estado Russo foi fundado por um povo
conhecido como Varegues de Rus”.[5] Muitos
estudiosos da atualidade, como Edwin Yamauchi,
defendem a concepção de que o nome Rus, do qual
deriva o nome Rússia da atualidade, é uma palavra
finlandesa que se refere aos invasores suecos que
vieram do norte, não do povo Rôs que habitava no
sul. Ele afirma que o designativo Rus só foi referido
naquela região a partir da Idade Média, quando foi
trazido pelos Vikings.[6] Entretanto, apesar de
Yamauchi ser um acadêmico respeitado, sua
conclusão dogmática está em franca oposição à
sólida evidência histórica exposta pelo catedrático
em língua hebraica Gesenius, bem como por James
Price e Clyde Billington.
Billington apresentou seis objeções à alegação
feita por Yamauchi de que Rus é originário do
norte e não do sul. Na primeira objeção, o uso
bizantino do termo Rus para se referir àqueles que
posteriormente vieram a ser chamados de russos
antecede em centenas de anos o argumento de que
é oriundo do norte. A segunda objeção baseia-se no
fato de que as fontes bizantinas nunca se referiram
a Rôs como um povo que imigrou do norte para o
sul. Eles “viveram por muito tempo na região do
mar Negro, da Rússia, da Ucrânia e da Criméia, e
nenhuma fonte bizantina faz qualquer menção de
que sua terra natal fosse a Escandinávia”.[7]
Na terceira objeção, uma vez que várias
formas de grafia referentes ao povo de Rôs foram
usadas no decorrer da história e remontam ao
segundo século a.C., é muito improvável que os
finlandeses tenham inventado o nome Rus.
Na quarta objeção, “não há nenhuma razão
plausível que obrigasse o povo de Rôs a adotar o
nome estrangeiro finlandês “Ruotsi”, após migrar
para o sul da Rússia”.[8]
Na quinta objeção, “todos os eruditos da
atualidade concordam que os Varegues nunca se
denominaram “Rôs” (nem foram assim chamados
pelos outros povos) quando viviam perto dos
finlandeses na Escandinávia”.[9]
Na sexta e última objeção, os registros
Bizantinos e Ocidentais indicam que houve um
povo localizado no sul da Rússia que já se
denominava “Rus”, muitos anos antes da invasão de
povos oriundos do norte.[10]
Quando se faz uma análise cuidadosa das
evidências históricas, fica claro que os Varegues
que migraram da Escandinávia para o sul da Rússia
eram denominados de “Rus” e já eram conhecidos
por esse nome muitos anos antes de se mudarem
para aquela região. Billington resume nos seguintes
termos: “como foi demonstrado no argumento
acima, o povo Rus Varegue recebeu esse nome em
decorrência do nome que designava o povo nativo,
chamado Rôs, que em tempos remotos viveu no
território situado ao norte do mar Negro. Em
outras palavras, houve dois povos chamados Rôs: o
povo original Rôs Sármata e o povo Varegue Rus”.
[11]
A essa altura, já deve estar claro que o termo
Rôs de fato se refere ao atual povo russo. As
evidências, tanto gramaticais quanto históricas,
foram apresentadas. Essa é a razão pela qual eu
concordo com todas as conclusões de Billington,
quando declara:
1. O texto de Ezequiel 38–39 realmente
menciona um povo chamado Rôs que, nos Últimos
Dias, será aliado de Meseque, Tubal e Gogue.
2. Houve povos denominados Rôs que
viveram ao norte de Israel nas montanhas do
Cáucaso e ao norte dos mares Negro e Cáspio.
3. Um dos povos denominados Rôs que
viviam ao norte de Israel, veio, com o passar do
tempo, a se chamar “Russos”.
4. O nome Russo deriva do termo “Rôs” (do
heb. ro’sh) que se encontra no texto de Ezequiel 38–
39.
5. Portanto, fica claro que, nos Últimos Dias,
os povos russos estarão envolvidos na invasão da
terra de Israel junto com Meseque, Tubal e Gogue.
[12]

QUEM É MESEQUE?
Agora, volto-me para tarefa bem mais fácil de
identificar a quem o termo “Meseque” se refere. O
nome “Meseque” ocorre 10 vezes no Antigo
Testamento Hebraico,[13] o que inclui sua primeira
ocorrência na Tabela das Nações (Gn 10.2). Em
Gênesis 10, Meseque é alistado como um dos filhos
de Jafé. A linhagem genealógica de Gênesis 10 se
repete por duas vezes no livro de Crônicas (1Cr
1.5,17). Além das referências feitas no Salmo 120.5
e em Isaías 66.19, as outras ocorrências do nome
Meseque se encontram em Ezequiel (Ez 27.13;
32.26; 38.2,3; 39.1). Todas as referências feitas nos
capítulos 38 e 39 de Ezequiel agrupam “Rôs,
Meseque e Tubal”, tal como acontece no texto de
Isaías 66.19, todavia numa ordem diferente. Mark
Hitchcock diz o seguinte:
Tudo o que se sabe no Antigo Testamento sobre Meseque é que ele
e seus parceiros, Javã e Tubal, negociavam com a antiga cidade de
Tiro, exportando escravos e utensílios de bronze em troca das
mercadorias de Tiro. É só isso que a Bíblia menciona sobre o
Meseque da antiguidade. No entanto, a história antiga tem muito a
nos dizer sobre o povo do Meseque da antiguidade e sua
localização.[14]

No passado, alguns estudiosos da Bíblia


ensinaram que Meseque é uma referência a Moscou
e, portanto, diz respeito à Rússia. Esse é o ponto de
vista da Bíblia de Scofield, de Harry Rimmer[15] e
de Hal Lindsey.[16] Sobre Meseque, Rimmer
afirma: “Seus descendentes vieram a ser chamados
de ‘Mushki’, de onde se origina o velho termo
‘Moscovitas’. Com o tempo, este último termo
passou a ser usado para designar todos os russos
oriundos de Moscou e seus arredores”.[17] A
identificação de Meseque com Moscou baseia-se
pura e simplesmente numa semelhança de
sonoridade. Não existe nenhum embasamento real
e histórico que apoie essa concepção, pelo que deve
ser rejeitada.
Em sua dissertação sobre a tabela das nações,
Allan Ross, fundamentado nas informações
históricas e bíblicas, declara:
Tubal e Meseque sempre são mencionados juntos na Bíblia. Eles
são os representantes das nações militares do norte que exportavam
escravos e cobre (Ezequiel 27.13; 38.2; 39.1; 32.26 e Isaías 66.19).
Heródoto situou a localização desses povos na costa norte do Mar
Negro (III, 94). Josefo os identificou como sendo os Capadócios [...]
Meseque deve se localizar na região dos montes Moschian próxima
à Armênia. Seu movimento migratório ocorreu em direção ao norte,
a partir do leste da Ásia Menor até o mar Negro.[18]

A região situada a sudeste do mar Negro


corresponde na atualidade ao território da Turquia.
Hitchcock comenta: “Em todos os momentos que
marcaram a história do povo de Meseque, eles
ocupavam o território que atualmente pertence à
nação da Turquia”.[19] Não se trata de uma
conclusão polêmica, já que praticamente todos os
especialistas no assunto concordam com esse ponto
de vista.

QUEM É TUBAL?
O nome “Tubal” ocorre 8 vezes na Bíblia
Hebraica[20] (Gn 10.2; 1Cr 1.5; Is 66.19; Ez 27.13;
32.26; 38.2,3; 39.1). Na tabela das nações (Gn 10.2),
Tubal é identificado como o quinto filho de Jafé e
irmão de Meseque. Como já foi mencionado por
Ross, todas as vezes que a Bíblia faz referência a
Tubal, o nome deste é relacionado junto com o de
Meseque, tal como se verifica em Ezequiel 28.
Alguns mestres da profecia bíblica têm
ensinado que Tubal é a origem da atual cidade de
Tobolsk na Rússia. Esse ponto de vista se tornou
popular por influência da Bíblia de Scofield e de
vários outros catedráticos. Entretanto, como se deu
no caso de Meseque, tal concepção se desenvolveu
a partir da semelhança fonética entre Tubal e
Tobolsk, carecendo, portanto, de um sólido
embasamento histórico. O registro histórico, à
semelhança do que ocorreu com Meseque, indica
que Tubal e seus descendentes imigraram para a
região situada a sudeste do mar Negro onde hoje se
localiza a Turquia. É evidente que os povos de
Meseque e Tubal formaram a base populacional do
país que na atualidade chamamos de Turquia.
Nos dias atuais, a Turquia é considerada um
país secularizado e laico. Contudo, a história da
Turquia revela um país que durante muito tempo
foi dominado pelo islamismo e que, por centenas
de anos, encabeçou o Império Muçulmano. A
Turquia está apenas a um passo de voltar à sua
herança política islâmica, o que proporcionaria
aquele ingrediente que faltava para se aliar com os
outros países muçulmanos que um dia invadirão
Israel. Maranata!

NOTAS
1
Clyde E. BILLINGTON, Jr., “The Rosh People in History and
Prophecy”, Parte 3, Michigan Theological Journal 4:1,
Edição de Primavera, 1993, p. 42-44.
2
BILLINGTON, Op. cit., Parte 3, p. 44.
3
BILLINGTON, Op. cit., Parte 3, p. 48.
4
BILLINGTON, Op. cit., Parte 3, p. 50.
5
BILLINGTON, Op. cit., Parte 3, p. 51.
6
Edwin M. YAMAUCHI, Foes from the Northern Frontier, Grand
Rapids, MI: Baker, 1982, p. 20.
7
BILLINGTON, Op. cit., Parte 3, p. 52.
8
BILLINGTON, Op. cit., Parte 3, p. 53.
9
BILLINGTON, Op. cit., Parte 3, p. 53.
10
BILLINGTON, Op. cit., Parte 3, p. 52-53.
11
BILLINGTON, Op. cit., Parte 3, p. 57.
12
BILLINGTON, Op. cit., Parte 3, p. 62.
13
Baseado em pesquisa realizada através do programa de
computação Accordance, versão 6.9.2.
14
Mark HITCHCOCK, After The Empire: Bible Prophecy in Light
of the Fall of the Soviet Union, Wheaton, IL: Tyndale House
Publishers, 1994, p. 56.
15
Harry RIMMER, The Coming War and the Rise of Russia,
Grand Rapids: Eerdmans, 1940, p. 55-56.
16
Hal LINDSEY, The Late Great Planet Earth, Grand Rapids:
Zondervan, 1970.
17
RIMMER, The Coming War, p. 55-56.
18
Allen P. ROSS, “The Table of Nations in Genesis”,
dissertação apresentada para obtenção do título de ThD,
Dallas Theological Seminary, 1976, p. 204-05.
19
Mark HITCHCOCK, Iran The Coming Crisis: Radical Islam, Oil,
And The Nuclear Threat, Sisters, OR: Multnomah, 2006, p.
184.
20
Baseado em pesquisa realizada através do programa de
computação Accordance, versão 6.9.2.
6. EZEQUIEL 38.2-4

“Filho do homem, volve o rosto contra Gogue,


da terra de Magogue, príncipe de Rôs, de
Meseque e Tubal; profetiza contra ele e dize:
Assim diz o Senhor Deus: Eis que eu sou contra
ti, ó Gogue, príncipe de Rôs, de Meseque e
Tubal. Far-te-ei que te volvas, porei anzóis no
teu queixo e te levarei a ti e todo o teu exército,
cavalos e cavaleiros, todos vestidos de
armamento completo, grande multidão, com
pavês e escudo, empunhando todos a espada”.

Agora que os participantes dessa invasão já


foram identificados no versículo 2, passo a
considerar aquilo que a Palavra do Senhor declara
sobre eles. Na primeira parte do versículo,
constatamos que Ezequiel é orientado a voltar seu
rosto na direção daquela coalizão de nações. Essa
declaração implica que se trata realmente de um
grupo de nações historicamente conhecidas. No
final do versículo 2 temos a informação de que
Ezequiel devia profetizar “...contra ele...”. O
pronome “ele” se refere a Gogue, o líder da invasão.
O verbo hebraico traduzido por “profetizar” é uma
palavra de uso comum e nesse contexto transmite a
noção de que Ezequiel estava para contar
antecipadamente a história futura de Gogue e da
coalizão de nações por ele encabeçada. A
preposição hebraica traduzida por “contra”
comunica a idéia de que não se trata de uma
profecia positiva e benéfica para Gogue e seus
aliados. Pelo contrário, tal profecia é contrária a
Gogue porque Deus se opôs a ele, como
confirmaremos gradativamente na continuação
desse texto.

DEUS CONTRA GOGUE NO


VERSÍCULO 3, O SENHOR
DEUS MANDA EZEQUIEL
ANUNCIAR QUE ELE (I.E.,
DEUS) É CONTRA GOGUE. A
PREPOSIÇÃO “CONTRA”,
MENCIONADA NO VERSÍCULO
3, É DIFERENTE DAQUELA
QUE É USADA NO VERSÍCULO
2. AQUI NO VERSÍCULO 3,
A PREPOSIÇÃO “CONTRA”
COMUNICA A IDÉIA DE
MOVIMENTO, DE MODO QUE A
AÇÃO DESSA PROFECIA
ENUNCIADA POR DEUS SE
DIRIGE CONTRA GOGUE. AS
DUAS PREPOSIÇÕES SÃO
MUITO SEMELHANTES E
PARECE QUE AMBAS SÃO
USADAS PARA ENFATIZAR O
FATO DE QUE DEUS ESTÁ
CONTRA GOGUE. COMO
OBSERVAREMOS MAIS
ADIANTE NESSE TEXTO, É
PROVÁVEL QUE GOGUE PENSE
QUE É O GRANDE
ARTICULADOR DESSA
COALIZÃO PARA ATACAR
ISRAEL, MAS, NA
REALIDADE, É DEUS QUEM,
NO FIM DAS CONTAS,
PROMOVE ESSE TREMENDO
ACONTECIMENTO (CONFIRA
OS VERSÍCULOS 4 E 8). A
DISPOSIÇÃO DE SE COLOCAR
CONTRA GOGUE, VERIFICADA
NOS VERSÍCULOS 2 E 3,
ABRE O CAMINHO PARA O
CLARO PRONUNCIAMENTO QUE
DEUS FAZ NO VERSÍCULO 4.
“ANZÓIS NO TEU QUEIXO”
A primeira frase do versículo 4 diz: “Far-te-ei
que te volvas...”. A palavra hebraica traduzida por
“volvas” é shuv. Significa basicamente “mover-se na
direção oposta àquela em que antes se movia (...)
virar, voltar”.[1] No contexto teológico, é a palavra
clássica usada no Antigo Testamento para designar
a ação de “arrepender-se”, termo esse
freqüentemente usado por Jeremias. “O verbo, com
mais de 1.050 ocorrências, assume a 12ª posição
entre as palavras que ocorrem com mais freqüência
no Antigo Testamento”.[2] O sentido no qual essa
palavra é tão freqüentemente usada no Antigo
Testamento comunica a noção de arrependimento,
como no caso do arrependimento de Israel que
abandona seus pecados e se volta para o Senhor. É o
mesmo sentido no qual arrependimento é usado por
pregadores como João Batista no Novo Testamento.
De fato, no judaísmo ortodoxo da atualidade,
quando um judeu não praticante começa a praticar
sua religião, tal iniciativa é denominada “fazer o
shuvah” ou demonstrar “arrependimento”.
Entretanto, no contexto de Ezequiel 38, a utilização
dessa forma intensiva do termo hebraico shuv (i.e.,
a raiz do tempo polel) em relação a Gogue não
significa um arrependimento religioso ou
espiritual, mas se refere a uma mudança nos planos
de alguém. C. F. Keil comenta o seguinte: “Aqui
neste capítulo e em Ezequiel 39.2, o termo significa
desencaminhar ou levar ao desvio da atitude
anterior, a saber, induzir ao erro ou seduzir, no
sentido de instigar para que se tome uma iniciativa
perigosa”.[3] Que iniciativa poderia ser mais
perigosa do que a de entrar em guerra contra Deus
e contra Seu povo, Israel?
Uma vez que Deus expressa o desejo de que
Gogue rume para o sul e desça para atacar Israel, o
verbo hebraico natan é usado para explicar o meio
que Deus empregará para que isso ocorra. O
Senhor vai “por” ou “colocar” anzóis no queixo de
Gogue. Keil afirma o seguinte: “Gogue é retratado
como uma fera indomável que é obrigada a seguir
seu líder (cf. Is 37.29); assim, o conceito
transmitido é o de que Gogue se vê compelido a
obedecer ao comando de Deus contra a sua própria
vontade”.[4] Lawson Younger explica o significado
e uso da palavra hebraica traduzida por “anzol”
deste modo: Embora o significado literal do termo
hebraico hah seja “espinho”, no Antigo Testamento
esse termo é usado metaforicamente para designar
um anzol. Na maioria de suas ocorrências, a palavra
hah é usada no contexto militar para descrever um
gancho (i.e., argola) que transpassa o nariz ou a
bochecha dos cativos de guerra, como por exemplo:
de Senaqueribe, em cujo nariz Deus poria um anzol
(2Rs 19.28; Is 37.29; de Jeoacaz, que foi levado com
ganchos para a terra do Egito (Ez 19.4); de
Zedequias, levado cativo para a Babilônia com
gancho (Ez 19.9); de Faraó, em cuja mandíbula
Deus engancharia anzóis (Ez 29.4); e de Gogue, em
cujo queixo Deus também poria anzóis (Ez 38.4).[5]
Assim como, ao longo da história, todas as
hostes de inimigos de Israel não quiseram fazer
aquilo que Deus lhes ordenara, assim também
Gogue, a exemplo de Faraó, será levado a cumprir a
vontade de Deus, mesmo que as intenções de
Gogue sejam diametralmente opostas, numa
comprovação da figura do anzol que Deus usa
nesse texto. Mark Hitchcock comenta: “Como uma
argola que transpassa o nariz de um cativo de
guerra ou como um grande anzol enganchado nas
mandíbulas de um crocodilo, Deus desentocará
Gogue e seus aliados para que empreendam essa
invasão no exato momento em que Ele estiver
pronto para lidar com eles. Deus cumprirá o que
ordenou e agirá de acordo com o Seu cronograma”.
[6] Arnold Fruchtenbaum faz um resumo dessa
parte do texto, lembrando-nos do seguinte: Quem
está no controle é Deus; é Ele que promove a
invasão. Portanto, quando se estuda esse texto,
deve-se notar a soberania de Deus nessa invasão.
Será o meio pelo qual Deus punirá a Rússia por
seus pecados. O principal pecado da Rússia é o seu
longo histórico de anti-semitismo, um problema
que até hoje perdura na Rússia.[7]

A MONTAGEM DO PALCO NA
RÚSSIA E NO IRÃ DE QUE
MODO ALGUNS ASPECTOS DOS
PRIMEIROS VERSÍCULOS DE
EZEQUIEL 38 MONTAM
ATUALMENTE O PALCO PARA
O FUTURO CUMPRIMENTO
DESSA PROFECIA? ENQUANTO
ALGUNS PAÍSES ALIADOS DE
GOGUE APARECEM DE VEZ EM
QUANDO NOS NOTICIÁRIOS,
A RÚSSIA E O IRÃ NO
PRESENTE MOMENTO TÊM
FEITO “BASTANTE BARULHO”
E CHAMADO A ATENÇÃO NO
CENÁRIO GEOPOLÍTICO.
ALÉM DO MAIS, PARA
AQUELES QUE NÃO ESTÃO
ATENTOS AO QUE ACONTECE
NA TURQUIA, DEVE-SE
DIZER QUE O PARLAMENTO
TURCO ESTÁ NA IMINÊNCIA
DE SER CONTROLADO PELA
ALA MUÇULMANA RADICAL.
SE OS MUÇULMANOS
RADICAIS CONSEGUIREM SEU
INTENTO, FARÃO COM QUE A
TURQUIA RETORNE AO
DOMÍNIO ISLÂMICO, O QUE
SIGNIFICA DIZER ADEUS À
DEMOCRACIA.
Mart Zuckerman, editor do U. S. News &
World Report, declarou: “Numa entrevista
concedida há vários anos, o presidente russo
Vladimir Putin criticou a decisão dos Estados
Unidos de entrarem em guerra contra o Iraque e
me disse o seguinte: ‘a verdadeira ameaça é o Irã’.
Ele estava certo, porém a Rússia passou a fazer
parte do problema, não da solução”.[8] Não é
nenhum segredo que a Rússia tem desempenhado o
papel de capacitar o Irã, a ponto de este chegar ao
topo do ranking de países traiçoeiros que ameaçam
provocar uma enorme desestabilização da presente
ordem mundial. “E a Rússia tornou essa ameaça
ainda mais real, pois vendeu as instalações da usina
nuclear de Bushehr ao Irã e assinou contratos para
vender mais equipamentos a fim de angariar
recursos que financiem sua própria indústria
nuclear. É como um diplomata americano
declarou: ‘Esse negócio com o Irã é um tremendo
anzol preso no queixo da Rússia’”.[9] O senhor
poderia repetir esta última afirmação? O diplomata
americano reiterou: “Esse negócio com o Irã é um
tremendo anzol preso no queixo da Rússia”. É
exatamente isso! O diplomata americano utilizou a
frase proveniente da profecia bíblica para descrever
o papel que a Rússia atualmente tem assumido na
sua relação com o Irã.
Alguns que desprezam nossa perspectiva da
profecia bíblica já disseram que, em face da queda
do Império Soviético (i.e., a antiga União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas), uma invasão
liderada pela Rússia parece muito pouco provável
do ponto de vista geopolítico. Contudo, é preciso
sempre ressaltar o fato de que essa profecia faz
menção a um ataque contra Israel liderado pela
Rússia, não pela União Soviética. Desde a queda do
Império Soviético, os russos continuam a manter
relações amistosas com a maioria dos países
islâmicos, principalmente com aquelas nações do
Oriente Médio. Do ponto de vista geopolítico, não
seria nenhuma surpresa ver a Rússia se unir aos
países islâmicos, como o Irã, num ataque-surpresa
contra Israel.
Por mais de quinze anos tenho conjecturado
se o “anzol” que Deus usará no queixo de Gogue
(para levar uma Rússia relutante a descer num
ataque contra a terra de Israel) não poderia ser esta
situação hipotética que descrevi para o Hal Lindsey
em 1991, durante uma entrevista em rede nacional
de televisão,[10] no dia em que a primeira Guerra
do Golfo terminou: “Eu posso ver os muçulmanos
se dirigirem aos russos a fim de lhes dizer que os
Estados Unidos da América abriram um
precedente para que uma potência estrangeira
invada o Oriente Médio com o objetivo de corrigir
um erro percebido (os Estados Unidos já fizeram
isso de novo em anos recentes, quando invadiram o
Iraque e o Afeganistão)”. Com base nisso, a Rússia
também deveria ajudar seus amigos muçulmanos,
liderando-os numa invasão avassaladora de Israel, a
fim de resolver o conflito no Oriente Médio em
favor dos países islâmicos. Seria esse o “anzol” no
queixo de Gogue? Só o tempo poderá dizer.
Entretanto, algo está acontecendo no Oriente
Médio e parece que as impressões digitais da Rússia
se encontram por toda parte. O que se sabe pela
predição bíblica é que tal coalizão e invasão
ocorrerão somente “... no fim dos anos” (Ez 38.8).
NOTAS 1 G. JOHANNES BOTTERWECK, HELMER RINGGREN, E
HEINZ-JOSEF FABRY, ORGANIZADORES, THEOLOGICAL
DICTIONARY OF THE OLD TESTAMENT [TDOT], VOL.
XIV, GRAND RAPIDS: EERDMANS, 2004, P. 464.
2
BOTTERWECK, RINGGREN, e FABRY, TDOT, vol. XIV, p. 472.
3
C. F. KEIL, Ezekiel, Daniel, Commentary on the Old
Testament, traduzido por James Martin, reimpressão,
Grand Rapids: Eerdmans Publishing Company, 1982, p.
161.
4
KEIL, Ezekiel, Daniel, p. 161.
5
Willem A. VANGEMEREN, org. geral, New International
Dictionary of Old Testament Theology & Exegesis, 5 vols.,
Grand Rapids: Zondervan, 1997, vol. 2, p. 44.
6
Mark HITCHCOCK, After The Empire: Bible Prophecy in Light
of the Fall of the Soviet Union, Wheaton, IL: Tyndale House
Publishers, 1994, p. 104.
7
Arnold FRUCHTENBAUM, Footsteps of the Messiah: A Study of
the Sequence of Prophetic Events, Tustin, CA: Ariel Press,
(1982), 2003, p. 109.
8
Mortimer B. ZUCKERMAN, “Moscow’s Mad Gamble,”, publicado
no U. S. News & World Report, edição eletrônica, 30 de
janeiro de 2006, p. 1.
9
ZUCKERMAN, “Moscow’s Mad Gamble”, p. 1.
10
No programa de entrevistas “The Praise the Lord”, exibido
pela rede de TV Trinity Broadcasting Network.
7. EZEQUIEL 38.4

“Far-te-ei que te volvas, porei anzóis no teu


queixo e te levarei a ti e todo o teu exército,
cavalos e cavaleiros, todos vestidos de
armamento completo, grande multidão, com
pavês e escudo, empunhando todos a espada”.

Ao analisarmos com mais profundidade esta


profecia, constatamos que Deus porá anzóis no
queixo de Gogue, príncipe de Rôs, o qual, como já
verificamos, é uma referência à Rússia dos dias
atuais. Nesse caso, Gogue parece ser um indivíduo
russo que vai liderar a nação russa e seus aliados
num ataque ao povo de Israel reagrupado em sua
terra. Essa é a situação que basicamente se pode
vislumbrar no cenário geopolítico da atualidade. O
palco já está montado para tal ataque.

UMA VARA DE DISCIPLINA?


Talvez alguns argumentem que a invasão
liderada por Gogue já aconteceu na ocasião da
disciplina de Deus sobre Israel no século VI a.C.
Randall Price comenta o seguinte: O papel
desempenhado por Gogue, contudo, é diferente
daquele desempenhado pelos invasores do passado,
tais como os Assírios e Babilônios, os quais foram
denominados por Deus de “a vara da minha ira”
(cf. Isaías 10.5). Por um lado, a decisão intencional
de invadir (Ezequiel 38.11) é motivada pelos
próprios desejos de Gogue (versículos 12 e 13), por
outro lado, Gogue é compelido a invadir (como se
fosse puxado com anzóis presos à sua mandíbula;
cf. versículo 4) a fim de possibilitar uma
demonstração do poder e da intervenção de Deus
em favor de Israel perante as nações (versículos 21
e 23; Ez 39.27), bem como perante o próprio povo
de Israel (Ez 39.28).[1]
Dessa forma, parece improvável que essa
profecia se refira a uma ação disciplinar de Deus no
passado, quando Ele usou outras nações para
castigar Israel, a exemplo do que fez por intermédio
dos assírios (em 722 a.C.) contra o Reino do Norte
[i.e., Israel] e por intermédio dos babilônios (em
586 a.C.) contra o Reino do Sul [i.e., Judá]. Se este
fosse o caso, Deus não interviria em favor de Israel
como Ele o faz nesse texto de Ezequiel. A história
demonstra que, quando Deus utiliza uma nação
pagã para disciplinar Israel, Ele nunca intervém
para proteger o povo judeu durante tais invasões.

“...E TE LEVAREI A
TI...”
À medida que continuamos a olhar mais
atentamente para o texto de Ezequiel 38.4,
percebemos que o Senhor, depois de por anzóis no
queixo de Gogue, há de levá-lo para fora de seu
território. O verbo hebraico traduzido por “...eu
[Deus] te levarei a ti [Gogue]” conjuga-se num
tempo cuja ação é causativa, numa implicação de
que Deus usará o anzol no queixo de Gogue para
desentocá-lo de seu lugar.[2] É preciso reiterar que
Gogue não instigaria tudo isso, se Deus não
interviesse, tirando-o de seu território para levá-lo à
sua destruição final.
O PODERIO BÉLICO DE
GOGUE QUANDO GOGUE
ATACAR ISRAEL, VIRÁ COM
TODO O SEU “...EXÉRCITO,
CAVALOS E CAVALEIROS...”. A
PALAVRA HEBRAICA
TRADUZIDA POR “EXÉRCITO”
(DO HEB., HAYIL)
SIGNIFICA BASICAMENTE
“FORÇA OU PODER”[3],
DEPENDENDO DO QUE É
MENCIONADO NO CONTEXTO.
É O PRINCIPAL TERMO
HEBRAICO USADO PARA
DESIGNAR “EXÉRCITO” NO
ANTIGO TESTAMENTO, MAS
TAMBÉM POSSUI O SENTIDO
ABSTRATO DE “FORÇA”,
“RIQUEZA”, OU, EM TERMOS
MAIS CONCRETOS, “TROPAS
MILITARES”,[4] JÁ QUE É
PRECISO MUITO DINHEIRO
PARA SUSTENTAR UM
EXÉRCITO PODEROSO NO
CAMPO DE COMBATE. EM
EZEQUIEL 38.15, ESSA
PALAVRA É USADA
NOVAMENTE PARA DESCREVER
GOGUE E SEUS ALIADOS,
DESTA VEZ ASSOCIADA COM
O ADJETIVO “PODEROSO”.
EM OUTRAS PALAVRAS, O
TERMO HEBRAICO HAYIL
TRANSMITE A IDÉIA DE
PODERIO MILITAR E SEU
CAMPO SEMÂNTICO NÃO SE
LIMITA AO CONCEITO DE
EXÉRCITO DA ANTIGUIDADE.
UMA VEZ QUE O TERMO
“TODO(S)” É EMPREGADO
PARA QUALIFICAR A
PALAVRA “EXÉRCITO”, A
IMPLICAÇÃO É A DE QUE,
NÃO APENAS UMA PARTE,
MAS O EXÉRCITO INTEIRO
VIRÁ PARA INVADIR
ISRAEL.
A próxima descrição literal é a de que esse
exército invasor contará com “cavalos e cavaleiros”.
O significado de “cavalos” é óbvio, ao passo que
“cavaleiros”, nesse contexto, seriam aqueles
soldados que montam cavalos para fins militares.
No Antigo Testamento, os cavaleiros sempre se
diferenciam daqueles soldados que conduzem bigas
[i.e., carros de guerra atrelados a cavalos]. Charles
Feinberg chega a esta conclusão: “A menção de
cavalos e cavaleiros não pode ser interpretada de
modo restritivo para dar a entender que esse
exército se constituiria total ou essencialmente de
cavalaria”.[5] A afirmação de Feinberg se
fundamenta no fato de que o texto anteriormente
menciona “...todo o teu exército...”, o que incluiria
todos os elementos do poderio bélico daquele que
parte para o ataque. Se este for o caso, é possível
que a cavalaria tenha sido destacada e
especificamente mencionada por ser a força
ofensiva mais potente de um invasor nos dias de
Ezequiel. Além disso, cavalos denotam um meio de
transporte, enquanto cavaleiros denotam os
próprios militares.
A última parte do versículo 4 relata o modo
pelo qual os militares estão paramentados: “...todos
vestidos bizarramente, congregação grande, com
escudo e rodela, manejando todos a espada”. Essa é
uma referência aos cavaleiros, os quais na sua
totalidade estão “vestidos bizarramente”. A palavra
hebraica, traduzida nessa versão de Almeida Revista
e Corrigida pelo termo “bizarramente” (do heb.,
miklol), é um vocábulo interessante que ocorre
somente aqui neste texto e em Ezequiel 23.12. Seu
significado é definido de forma variada, como, por
exemplo: “magnificamente”, “com primor” ou
“com todo tipo de armadura”. “Existe pouco
consenso quanto à correta tradução desse termo”, já
que ele é usado apenas duas vezes. “Em ambas as
ocorrências, esse termo é utilizado num contexto
que retrata a esplêndida aparência dos militares.
Uma tradução mais literal poderia ser esta:
‘trajados por completo’ ou ‘totalmente equipados’”.
[6] Ou seja, esses invasores contarão com o melhor
equipamento bélico disponível naqueles dias; eles
não estarão mal armados para o seu intento. Além
de estarem bem equipados, eles virão em grande
número para o ataque a Israel.
O texto diz que esse imponente exército possui
“pavês e escudo” (ARA) para se proteger. A palavra
hebraica traduzida por “pavês” (do heb., tsinnah) se
refere a “um escudo grande que protege o corpo
inteiro”[7], enquanto o termo traduzido por
“escudo” (do heb., magen) diz respeito a um
“escudo menor ou broquel que o guerreiro maneja
para se defender”.[8] Esses equipamentos bélicos
exemplificam a excelente condição de armamento
que os invasores de Israel terão à sua disposição.
Keil assinala: “Além das armas defensivas, a saber,
o escudo maior e o escudo menor, eles
empunharão espadas na qualidade de armas
ofensivas”.[9] A palavra hebraica herev, traduzida
por “espada”, “pode designar dois armamentos: 1) a
adaga de dois gumes (i.e., fios) ou espada curta (Jz
3.16,21); e 2) a espada curva de um único fio ou
espada longa”.[10] Uma vez que esses soldados
estarão montados em cavalos, faria mais sentido
supor que a espada descrita nesse texto seja a
espada longa, a qual já tem sido historicamente o
armamento predileto da cavalaria. A espada curta
não seria uma arma muito eficaz ao ser manejada
de cima de um cavalo. “O versículo demonstra que
Javé (do heb., YHWH) está trazendo Gogue
totalmente armado”.[11] Quanto maior o oponente
maior a chance de que Israel reconheça que está
encalacrado numa situação humanamente
impossível. Uma situação impossível requer uma
intervenção divina. Assim, Deus será muito mais
glorificado quando destruir por completo os
invasores de Israel.

E QUANTO AOS ARMAMENTOS?


Os críticos da nossa concepção futurista de
interpretação dessa passagem apontam para o fato
de que o texto afirma que os invasores serão
cavaleiros nas suas montarias, os quais usam, como
armamento, espadas e lanças, “indicadores de uma
batalha antiga da era pré-industrial”,[12] insiste o
preterista Gary DeMar. Sem lidar com outros
detalhes desse texto, DeMar afirma que essa
profecia já se cumpriu e fundamenta seu
argumento apenas nos tipos de arma mencionados
na passagem. “As armas são antigas, porque a
batalha ocorreu na antigüidade”.[13] Mas, em que
ocasião do passado tal profecia se cumpriu? DeMar,
aparentando um semblante sério, persiste em dizer
que ela se cumpriu nos dias de Ester.[14]
John Walvoord admite o seguinte: “Do ponto
de vista bélico moderno, é evidente que são
armamentos antiquados. Isso, certamente, gera um
problema”.[15] Entretanto, sem abandonar os
princípios da interpretação literal, Walvoord
sustenta que há uma solução para esse problema.
Ele alista estas três sugestões propostas: A primeira
é a de que Ezequiel faz uso de uma linguagem que
lhe era familiar – as armas que eram comumente
utilizadas na sua época – com o intuito de prever
armamentos modernos. O que ele está dizendo é
que quando esse exército vier, mostrar-se-á
totalmente equipado com armas de guerra. Tal
interpretação também tem problemas. O texto nos
diz que eles [i.e., os habitantes de Israel] usariam as
hastes de madeira das lanças, os arcos e flechas,
como combustível para acender o fogo. Se essas
armas são símbolos, seria difícil acender fogo de
verdade com algo simbólico [...]
Uma segunda solução sugere que essa batalha seria precedida por
um acordo de desarmamento entre as nações. Se esse for o caso,
seria necessário recorrer secretamente às armas primitivas de fácil
fabricação para que um ataque-surpresa fosse concretizado. Tal
concepção permitiria que esse texto fosse interpretado de modo
literal.
Uma terceira solução se baseia na premissa de que o atual uso de
mísseis de guerra chegará a tal ponto de desenvolvimento naqueles
dias, que os mísseis rastrearão e se dirigirão contra qualquer
quantidade considerável de metal. Sob tais circunstâncias, seria
necessário abandonar o uso de armas de metal, substituindo-as por
armas de madeira, tal como está indicado no texto pelas armas
primitivas. Qualquer que seja a explicação, a interpretação mais
plausível é a de que a passagem se refira a armas reais, colocadas
em uso com urgência por causa das circunstâncias peculiares
daquele momento.[16]
NOTAS 1 RANDALL PRICE, COMENTÁRIOS NÃO
PUBLICADOS SOBRE AS PROFECIAS DE EZEQUIEL,
2007, P. 42.
2
Francis BROWN, S. R. DRIVER e C. A. BRIGGS, Hebrew and
English Lexicon of the Old Testament, Londres: Oxford,
1907, edição eletrônica.
3
G. Johannes BOTTERWECK e Helmer RINGGREN, orgs.,
Theological Dictionary of the Old Testament, vol. IV, Grand
Rapids: Eerdmans, 1980, p. 349.
4
BOTTERWECK e RINGGREN, TDOT, vol. IV, p. 353.
5
Charles Lee FEINBERG, The Prophecy of Ezekiel, Chicago:
Moody Press, 1969, p. 220-21.
6
R. Laird HARRIS, Gleason L. ARCHER, Jr., e Bruce K. W ALTKE,
orgs. , Theological Wordbook of the Old Testament, 2
vols., Chicago: Moody Press, 1980, vol. 1, p. 442.
7
BROWN, DRIVER, e BRIGGS, Hebrew Lexicon, edição eletrônica.
8
BROWN, DRIVER, e BRIGGS, Hebrew Lexicon, edição eletrônica.
9
C. F. KEIL, Ezekiel, Daniel, Commentary on the Old
Testament, traduzido por James Martin, reimpressão,
Grand Rapids: Eerdmans Publishing Company, 1982, p.
162.
10
G. Johannes BOTTERWECK e Helmer Ringgren, orgs.,
Theological Dictionary of the Old Testament, vol. V, Grand
Rapids: Eerdmans, 1986, p. 155.
11
John W. W EVERS, The New Century Bible Commentary:
Ezekiel, Grand Rapids: Eerdmans, 1969, p. 202.
12
Gary DEMAR, Last Days Madness: Obsession of the
Modern Church, Powder Springs, GA: American Vision, p.
367.
13
Gary DEMAR, “Ezekiel’s Magog Invasion: Future or
Fulfilled?” Publicado na revista Biblical Worldview
Magazine, vol. 22, edição de Dezembro de 2006, p. 6.
14
DEMAR, Last Days Madness, p. 368-69; veja também, Gary
DEMAR, End Times Fiction: A Biblical Consideration of the
Left Behind Theology, Nashville: Thomas Nelson, 2001, p.
12-15.
15
John F. W ALVOORD, The Nations in Prophecy, Grand Rapids:
Zondervan, 1967, p. 115.
16
W ALVOORD, The Nations, p. 115-16.
8. EZEQUIEL 38.4
(CONT.) “FAR-TE-EI
QUE TE VOLVAS, POREI
ANZÓIS NO TEU QUEIXO
E TE LEVAREI A TI E
TODO O TEU EXÉRCITO,
CAVALOS E
CAVALEIROS, TODOS
VESTIDOS DE
ARMAMENTO
COMPLETO, GRANDE
MULTIDÃO, COM PAVÊS
E ESCUDO,
EMPUNHANDO TODOS A
ESPADA”.

Ao continuarmos a analisar essa descrição do


armamento e do meio de transporte que Gogue e
seus aliados invasores usarão, temos de deixar o
próprio texto nos dizer o que significa. “O ataque
real das tropas russas é retratado numa nítida
imagem”, declara William Hull, que ainda
descreve: “Tanques de guerra excelentes,
transportes mecanizados de tropas, armas
poderosas e todo o equipamento bélico de última
geração se movem como uma onda avassaladora
que invade a terra”. Hull conclui dizendo:
“Ezequiel o retrata assim: ‘... montados todos a
cavalo... ’. Aqui, de novo, os estudiosos da Bíblia se
equivocam quando enfatizam aquilo em que
estarão montados, em vez de enfatizarem o fato de
que eles estarão montados”.[1] Randall Price
observa que alguns “consideram tais termos
‘profeticamente anacrônicos’ (ou
fenomenológicos), já que Ezequiel não tinha
nenhum referencial para descrever armamentos
desta era futura”.[2] Esse é um ponto de vista que
outrora cheguei a defender, como mencionarei
mais adiante.
Gary DeMar faz uma crítica a tal abordagem
interpretativa, quando diz: “Se alguém como Tim
LaHaye for fiel à sua reivindicação de literalidade,
terá de admitir que aquele ataque russo,
reproduzido por ele e Jerry Jenkins na série
“Deixados Para Trás”, devia ser uma representação
literal dos elementos da batalha, tal como foram
retratados em Ezequiel 38 e 39”.[3] DeMar
prossegue: “Como é que Hitchcock, Ice e LaHaye
podem saber que isso era realmente o que o
Espírito Santo quis dizer, se o texto é
suficientemente claro em não apresentar nenhum
adereço moderno?”[4] Talvez o que vou dizer
surpreenda a alguns, mas creio que DeMar esteja
fundamentalmente certo ao nos criticar nesse
ponto, apesar de estar comprovadamente
equivocado acerca de tantos outros aspectos da
profecia registrada em Ezequiel 38 e 39.

A INTERPRETAÇÃO LITERAL
BERNARD RAMM, QUE NÃO
SERIA MUITO SIMPÁTICO À
NOSSA CONCEPÇÃO DE
INTERPRETAÇÃO DA
PROFECIA BÍBLICA, CITA
WEBSTER PARA DEFINIR O
QUE VEM A SER LITERAL
NOS SEGUINTES TERMOS: “É
A CONSTRUÇÃO E
IMPLICAÇÃO NATURAIS OU
HABITUAIS DE UM ESCRITO
OU EXPRESSÃO; AQUILO QUE
SEGUE O SENTIDO COMUM E
EVIDENTE DAS PALAVRAS; O
QUE NÃO É ALEGÓRICO OU
METAFÓRICO”.[5] CHARLES
RYRIE ELABORA UMA AMPLA
DEFINIÇÃO DO QUE VEM A
SER INTERPRETAÇÃO
LITERAL, ENUNCIANDO-A DA
SEGUINTE FORMA: ISSO, ÀS
VEZES, É CHAMADO DE
PRINCÍPIO HISTÓRICO-
GRAMATICAL DE
INTERPRETAÇÃO, JÁ QUE O
SIGNIFICADO DE CADA
PALAVRA É DETERMINADO
POR CONSIDERAÇÕES
GRAMATICAIS E
HISTÓRICAS. ESSE
PRINCÍPIO TAMBÉM PODE
SER DENOMINADO DE
INTERPRETAÇÃO NORMAL,
VISTO QUE O SIGNIFICADO
LITERAL DAS PALAVRAS É O
ACESSO NORMAL PARA SUA
COMPREENSÃO EM TODAS AS
LÍNGUAS. TAMBÉM PODE SER
CHAMADO DE INTERPRETAÇÃO
CLARA E SIMPLES PARA QUE
NINGUÉM TENHA DE ACEITAR
A NOÇÃO EQUIVOCADA DE
QUE O PRINCÍPIO DE
INTERPRETAÇÃO LITERAL
DESCONSIDERA AS FIGURAS
DE LINGUAGEM. TODOS OS
SÍMBOLOS, FIGURAS DE
LINGUAGEM E TIPOS SÃO
INTERPRETADOS DE FORMA
CLARA NESSE MÉTODO E
ELES, DE MODO NENHUM,
SÃO ANTAGÔNICOS À
INTERPRETAÇÃO LITERAL.
AFINAL DE CONTAS, A
PRÓPRIA EXISTÊNCIA DE
QUALQUER SENTIDO NUMA
FIGURA DE LINGUAGEM
DEPENDE DA REALIDADE DO
SIGNIFICADO LITERAL DOS
TERMOS RELACIONADOS. AS
FIGURAS MUITAS VEZES
TORNAM O SENTIDO MAIS
CLARO, GRAÇAS AO
SIGNIFICADO LITERAL,
NORMAL, SIMPLES E CLARO
QUE ELAS TRANSMITEM AO
LEITOR.[6]
O comentarista E. R. Craven assinala: O
literalista (assim chamado) não é aquele que nega o
fato de que a linguagem figurada e os símbolos são
usados em profecia. Também não é aquele que
nega a realidade de que grandiosas verdades
espirituais estão demonstradas nos textos
proféticos; ele simplesmente mantém a postura de
que as profecias devem ser interpretadas de modo
normal (i.e., de acordo com as leis de linguagem
aprendidas) como qualquer outra declaração é
interpretada, ou seja, aquilo que é nitidamente
figurativo sendo considerado como tal”.[7]
David Cooper apresenta uma definição
clássica do princípio hermenêutico de interpretação
literal na sua “Regra Áurea de Interpretação”, que
diz: “Quando o sentido claro de um texto das
Escrituras se enquadra dentro do bom senso, não
procure outro sentido; portanto, interprete cada
palavra em seu sentido simples, comum, habitual e
literal, a menos que os fatos do contexto imediato,
estudados à luz de passagens correlatas e de
verdades fundamentalmente óbvias, indiquem
nitidamente o contrário”.[8] Em outras palavras,
precisa haver uma base literária no texto de
qualquer declaração para que uma palavra ou frase
não seja interpretada literalmente. Deixa-se o uso
da interpretação literal somente quando se pode
demonstrar que uma figura de linguagem ou uma
metáfora faz mais sentido em determinado
contexto do que o sentido simples, claro e literal.
Em suma, o dito de Cooper afirma que uma palavra
ou frase deve ser interpretada literalmente, a não
ser que haja uma razão no texto para interpretá-la
como uma figura de linguagem ou uma metáfora.
Mathew Waymeyer fornece uma regra prática
muito útil ao declarar: “Para que seja considerada
simbólica, a linguagem em questão precisa
apresentar: 1) algum grau de absurdez, quando
interpretada literalmente; e, 2) algum grau de
clareza, quando interpretada simbolicamente”.[9]

O SIGNIFICADO LITERAL SE
OS TERMOS “EXÉRCITO”,
“CAVALOS E CAVALEIROS”,
“PAVÊS E ESCUDO” E
“ESPADA”, ENCONTRADOS
NESSE TEXTO, NÃO PARECEM
FIGURAS DE LINGUAGEM,
NEM SÍMBOLOS, A
COERÊNCIA INTERPRETATIVA
EXIGE QUE TAL BATALHA
SEJA LUTADA COM ESSAS
ARMAS. ESSES ARMAMENTOS
DE GUERRA NÃO PODEM SER
INTERPRETADOS COMO
SÍMILES DE ARMAMENTOS
MODERNOS PORQUE NÃO HÁ
INDICADORES TEXTUAIS DO
TIPO “COMO” OU
“SEMELHANTE A”. NÃO
PARECE HAVER NENHUMA
FIGURA DE LINGUAGEM QUE
DE VEZ EM QUANDO OCORRA
SEM O USO DE “COMO” OU
“SEMELHANTE A”. POR
EXEMPLO, JESUS DECLAROU:
“EU SOU A PORTA”, “EU SOU
O PÃO DA VIDA”, ETC.
EMBORA ESSAS EXPRESSÕES
EM SI E POR SI MESMAS
NÃO SEJAM FIGURAS DE
LINGUAGEM, FICA CLARO,
NOS SEUS RESPECTIVOS
CONTEXTOS, QUE JESUS AS
USAVA METAFORICAMENTE.
CONTUDO, NÃO HÁ NADA NO
CONTEXTO DE EZEQUIEL 38
QUE APONTE PARA O FATO
DE O PROFETA EZEQUIEL
PREVER ARMAMENTOS
MODERNOS, AINDA QUE USE
UMA TERMINOLOGIA
CONHECIDA DE SUA ÉPOCA.
Durante a elaboração desta série sobre
Ezequiel 38 e 39, enquanto refletia de forma mais
crítica sobre a interpretação literal e sua relação
com essa passagem, passei a discordar da afirmação
que eu e Mark Hitchcock fizemos, quando
dissemos o seguinte: “Ezequiel se expressou numa
linguagem que as pessoas do seu tempo podiam
entender. Se ele tivesse falado de aviões de caça
MIG-29, de mísseis disparados a laser, de tanques
de guerra e de fuzis de assalto, esse texto não faria o
menor sentido até a chegada do século vinte”.[10]
Sou forçado a concordar com DeMar quando diz:
“É preciso forçar demais a leitura e interpretação da
Bíblia para fazer com que o texto de Ezequiel 38 e
39 se encaixe dentro das realidades militares atuais
que incluem aviões a jato, mísseis, explosivos e
armamentos atômicos”.[11] Apesar de crer que
DeMar esteja certo nessa afirmação, isso não
significa que sua conclusão esteja correta. Ele
declara: “As armas são antigas porque a batalha
ocorreu na antigüidade”.[12] De fato esses
armamentos eram usados na antigüidade, mas
alguns deles são usados até hoje. Além disso,
DeMar ignora muitos fatos textuais ou não
interpreta literalmente aquelas expressões
cronológicas como “depois de muitos dias” (Ez
38.8), sobretudo, “no fim dos anos” (Ez 38.8) e “nos
últimos dias” (Ez 38.16), expressões estas que
consideraremos mais adiante em nossa análise.
Creio que o intérprete futurista Paul Lee Tan
colocou muito bem a questão nos seguintes termos:
Algumas profecias, quando descrevem batalhas
escatológicas, predizem que os armamentos
utilizados nesses combates serão arcos e flechas,
bigas e cavalos, além de lanças e escudos. Seria o
caso de interpretá-las literalmente? Se formos
rigorosamente fiéis ao cenário próprio do estilo
profético, temos de considerar que essas armas são
as mesmas a serem usadas no contexto
escatológico. Elas não podem ser equiparadas aos
dispositivos bélicos modernos que são muito
diferentes, a exemplo da bomba-H ou dos aviões a
jato supersônicos. O interessante é que os
equipamentos bélicos referidos na profecia, apesar
de existirem há séculos, não se tornaram obsoletos.
O cavalo, por exemplo, ainda é usado como arma
de guerra em certos tipos de terreno.[13]
Sem ter a pretensão de ser dogmático nessa
questão, creio que a concepção que mais faz sentido
é a que ouvi do pastor Charles Clough,[14] numa
aula gravada em fita cassete por volta do fim da
década de 1960 ou no início da década de 1970. Na
época, Clough era um meteorologista capacitado e
experiente que sustentava a concepção de que os
acontecimentos do período da Tribulação
poderiam danificar os modernos sistemas de
armamento a ponto de torná-los inoperantes. Mais
tarde, Clough trabalhou por quase 25 anos como
meteorologista do exército dos Estados Unidos,
onde pesquisou o impacto das condições
atmosféricas sobre os sistemas de armamento. Ele
ainda defende aquela mesma concepção até hoje.
Price explica o seguinte: Entretanto, se as condições
ou o local do combate impedirem o uso de uma
tecnologia bélica mais avançada, não há nenhuma
razão pela qual essas armas rudimentares não
possam ser usadas numa batalha futura. Os
combates que são travados em certos terrenos
acidentados do Oriente Médio, a exemplo da região
montanhosa do Afeganistão (cf., Ez 39.2-4), têm
obrigado exércitos da atualidade a usarem cavalos;
outrossim, arcos e flechas continuam a ser
utilizados em vários campos de combate. Além
disso, se a batalha ocorrerá no período da
Tribulação, as condições preditas para esse
momento da história, tais como atividade sísmica,
chuvas de meteoro, aumento dos efeitos solares,
entre outras catástrofes cósmicas e terrestres
(Mateus 24.7; Apocalipse 6.12-14; 8.7-12; 16.8-9,18-
21), poderiam causar tantos transtornos ambientais
que a tecnologia atual (dependente da orientação
por satélite, de sistemas computadorizados e de
estabilidade meteorológica) falharia por completo.
Em tais condições, a maioria de nossas armas
modernas seria inútil e armas mais rudimentares
teriam de substituí-las. De qualquer forma, não há
nenhuma razão para relegar esse texto ao passado,
com base num suposto anacronismo de linguagem.
[15]
NOTAS 1 WILLIAM L. HULL, ISRAEL: KEY TO
PROPHECY, GRAND RAPIDS: ZONDERVAN, 1957, P.
35-36 (A ÊNFASE É DO AUTOR ORIGINAL).
2
Randall PRICE, Comentários não publicados das profecias de
Ezequiel, 2007, p. 42.
3
Gary DEMAR, “Ezekiel’s Magog Invasion: Future or
Fulfilled?”, publicado na revista Biblical Worldview
Magazine, vol. 22, edição de Dezembro de 2006, p. 4.
4
DEMAR, “Ezekiel’s Magog Invasion,”, p. 6 (a ênfase em
itálico é do autor original).
5
Bernard RAMM, Protestant Biblical Interpretation, 3ª Ed,
Grand Rapids: Baker, 1970, p. 119.
6
Charles C. RYRIE, Dispensationalism, Chicago: Moody,
(1965), 1995, p. 80-81 (a ênfase em itálico é do autor
original).
7
E. R. CRAVEN e J. P. LANGE, orgs. Commentary on the Holy
Scriptures: Revelation, Nova York: Scribner, 1872, p. 98 (a
ênfase em itálico é do autor original).
8
David L. COOPER, The World ‘s Greatest Library Graphically
Illustrated, Los Angeles: Biblical Research Society, (1942),
1970, p. 11.
9
Matthew W AYMEYER, Revelation 20 and the Millennial
Debate, The Woodlands, TX: Kress Christian Publications,
2004, p. 50 (a ênfase em itálico é do autor original).
10
Mark HITCHCOCK and Thomas ICE, The Truth Behind Left
Behind: A Biblical View of the End Times, Sisters, OR:
Multnomah Press, 2004, p. 47.
11
DEMAR, “Ezekiel’s Magog Invasion”, p. 4.
12
DEMAR, “Ezekiel’s Magog Invasion”, p. 6.
13
Paul Lee TAN, The Interpretation of Prophecy, Winona
Lake, IN: Assurance Publishers, 1974, p. 223.
14
Naquela época, Charles A. CLOUGH era pastor da Lubbock
Bible Church na cidade de Lubbock, Texas, EUA.
15
PRICE, Comentários não publicados de Ezequiel, p. 42.
9. EZEQUIEL 38.5-6

“...persas e etíopes e Pute com eles, todos com


escudo e capacete; Gômer e todas as suas tropas;
a casa de Togarma, do lado do Norte, e todas as
suas tropas, muitos povos contigo”.

Os versículos 5 e 6 completam a relação de


aliados que atacarão Israel sob a liderança de
Gogue. A identidade do primeiro aliado parece
estar muito clara, já que seu antigo nome é
amplamente conhecido ao longo da história, até
mesmo nos dias atuais. Os “persas” eram os
habitantes da antiga Pérsia e constituem a maioria
populacional do país que atualmente se denomina
Irã. O consenso entre os intérpretes futuristas da
profecia bíblica converge para o fato de que a Pérsia
histórica corresponde inequivocamente ao Irã da
atualidade. Mark Hitchcock comenta o seguinte:
“O nome Pérsia, escrito nos anais de toda a história
antiga, foi substituído pelo nome Irã, um termo de
uso estrangeiro, em março de 1935”[1].

IRÃ E RÚSSIA QUALQUER


PESSOA QUE VEM
ACOMPANHANDO O
NOTICIÁRIO DESSES
ÚLTIMOS ANOS ESTÁ CIENTE
DA RELAÇÃO AMISTOSA E
CORDIAL QUE A RÚSSIA E O
IRÃ TÊM MANTIDO. A
RÚSSIA SE TORNOU A
FORNECEDORA DE MUITOS
DOS ELEMENTOS QUE O IRÃ
PRECISA PARA DESENVOLVER
SUA BOMBA NUCLEAR. É
EVIDENTE QUE O IRÃ
ALMEJA CONTROLAR TODO O
ORIENTE MÉDIO PARA QUE
POSSA PROPAGAR SUA
CONCEPÇÃO ISLÂMICA E
CONSIGA ALCANÇAR SEU
OBJETIVO DE UNIFICAR O
MUNDO MUÇULMANO SOB O
GOVERNO DE UMA ÚNICA
AUTORIDADE, UM LÍDER
IRANIANO. EM VÁRIAS
OCASIÕES, TODOS PUDERAM
OUVIR O EX-PRESIDENTE
IRANIANO, MAHMOUD
AHMADINEJAD, DECLARAR
SEU DESEJO DE FAZER
ISRAEL SUMIR DO MAPA.
NOS ÚLTIMOS QUINZE ANOS,
TODOS OS GOVERNOS
ISRAELENSES AFIRMARAM
REITERADAMENTE QUE O IRÃ
É A MAIOR AMEAÇA A
ISRAEL. HOJE EM DIA,
MUITOS SE PERGUNTAM
SOBRE A POSSIBILIDADE DE
ISRAEL SER FORÇADO A
AGIR PREVENTIVAMENTE,
TALVEZ COM A COOPERAÇÃO
DOS ESTADOS UNIDOS, PARA
ELIMINAR O POTENCIAL
NUCLEAR DO IRÃ ANTES QUE
ESSE PROJETO CHEGUE AO
SEU OBJETIVO CONCRETO DE
PRODUZIR ARMAS
NUCLEARES. A RESPOSTA
CERTA A ESSA INDAGAÇÃO
AINDA PERMANECE
DESCONHECIDA E É POUCO
PROVÁVEL QUE ALGUM DOS
NOVOS PRESIDENTES QUEIRA
SE ENVOLVER NUMA
EMPREITADA DESSAS.
Há uma grande probabilidade de que o Irã seja
o aliado-chave da Rússia, quando esta comandar o
ataque de invasão a Israel nos últimos dias. Talvez o
Irã se aproveite dessa nova postura belicosa que o
presidente russo Vladimir Putin demonstra para
com os países do Ocidente, especialmente em
relação ao Estados Unidos. Independente do modo
pelo qual esses acontecimentos se desdobrem no
futuro, uma coisa é certa: os russos e o Irã
desenvolvem no presente momento aquele tipo de
relação que pode facilmente culminar na iniciativa
de invadir Israel, tal como o profeta Ezequiel
predisse.[2]

ETIÓPIA A VERSÃO DA
BÍBLIA QUE COSTUMO USAR
NA LÍNGUA INGLESA, THE
NEW AMERICAN STANDARD
BIBLE, TRADUZ O TERMO
HEBRAICO CUSH POR
ETIÓPIA. MUITAS
TRADUÇÕES DA BÍBLIA EM
INGLÊS APENAS
TRANSLITERARAM O
VOCÁBULO ORIGINAL PELO
TERMO “CUSH” [N. DO T.:
A EXEMPLO DA ANTIGA
TRADUÇÃO BRASILEIRA QUE
TRANSLITEROU A PALAVRA
ORIGINAL PELO TERMO
“CUS”]. O VOCÁBULO CUSH
OCORRE 29 VEZES NA
BÍBLIA HEBRAICA.[3] O
TEXTO DE GÊNESIS 2.13
MENCIONA UM TERRITÓRIO
ANTEDILUVIANO QUE SE
DENOMINAVA CUXE. AS TRÊS
OCORRÊNCIAS DESSE TERMO
NA TABELA DAS NAÇÕES
[CF., GN 10] SE REFEREM
A CUXE QUE ERA
DESCENDENTE DE CAM. A
MAIORIA DAS OUTRAS
OCORRÊNCIAS SE ENCONTRA
NOS LIVROS DE ISAÍAS E
EZEQUIEL (13 VEZES),
REFERINDO-SE À MESMA
REGIÃO MENCIONADA NO
TEXTO DE EZEQUIEL 28.5.
UM DICIONÁRIO LÉXICO DE
HEBRAICO AFIRMA QUE O
TERMO CUSH DIZ RESPEITO
ÀS “TERRAS DO NILO, AO
SUL DO EGITO, IMPLICANDO
A NÚBIA E O NORTE DO
SUDÃO, O PAÍS QUE É
BANHADO PELO SUL DO MAR
VERMELHO”.[4]
Outro dicionário declara que Cush “se refere à
região imediatamente ao sul e a leste do Egito,
incluindo a atual Núbia, o Sudão e a Etiópia dos
escritores clássicos”.[5] Dessa forma, a Bíblia
localiza claramente o território de Cuxe ao sul do
Egito, onde se encontra a atual nação do Sudão.
Hoje em dia, o Sudão é um dos países
muçulmanos mais militantes do mundo. Hitchcock
comenta: “A atual nação do Sudão é um dos únicos
três países islâmicos no mundo inteiro que mantêm
um governo muçulmano militante”.[6] Eu fiquei
surpreso ao saber que “o Sudão é o país de maior
extensão territorial do continente africano e que
possui uma população de 26 milhões de
habitantes”. É interessante observar que o Irã e o
Sudão se tornaram aliados muito próximos nos
últimos vinte anos. Esses dois países celebraram
acordos comerciais, fizeram alianças militares e o
Irã ainda coordena bases de treinamento terrorista
no território sudanês.[7] O Sudão foi o país que
protegeu e abrigou Osama Bin Laden no período de
1991 a 1996, antes que ele fosse para o Afeganistão.
[8] Se tomarmos por base esse alinhamento de
nações que vemos nos dias atuais, não seria
surpresa nenhuma conjecturar que o Sudão será
um aliado que vem do sul para invadir a terra de
Israel nos últimos dias, junto com a Rússia, o Irã e
outros povos.
PUTE PUTE É OUTRA
TRANSLITERAÇÃO DO TERMO
ORIGINAL HEBRAICO E
OCORRE APENAS SETE VEZES
NO ANTIGO TESTAMENTO.[9]
POR DUAS VEZES É USADO
NO REGISTRO GENEALÓGICO
PARA SE REFERIR AO FATO
DE QUE PUTE É UM DOS
DESCENDENTES DE CAM (GN
10.6; 1CR 1.8). NAS
OUTRAS CINCO
OCORRÊNCIAS, ESSE NOME É
USADO PELOS PROFETAS
PARA SE REFERIREM A PUTE
COMO UMA NAÇÃO,
GERALMENTE NO CONTEXTO
MILITAR, A EXEMPLO DO
QUE ENCONTRAMOS NO TEXTO
DE EZEQUIEL 38. UM
DICIONÁRIO LÉXICO
HEBRAICO AFIRMA: “É
PROVÁVEL QUE NÃO SEJA O
MESMO QUE PUTE, MAS SE
REFIRA À LÍBIA”.[10]
“PARECE QUE DESDE A
ÉPOCA EM QUE FOI ESCRITA
A ANTIGA CRÔNICA DA
BABILÔNIA, ‘PUTU’ ERA
UMA TERRA ‘LONGÍNQUA’,
SITUADA A OESTE DO
EGITO, A QUAL NA
ATUALIDADE
CORRESPONDERIA À LÍBIA”.
[11] “NA OCASIÃO DESSA
INVASÃO”, ASSINALA
RANDALL PRICE, “ESSES
PAÍSES ESTARÃO NA
COMPANHIA DE OUTRAS
NAÇÕES (CF., EZ 38.5)
QUE REPRESENTAM AS
OUTRAS TRÊS DIREÇÕES DA
BÚSSOLA, A SABER: A
PÉRSIA (O ATUAL IRÃ) QUE
VEM DO LESTE; CUXE (O
NORTE DO SUDÃO) QUE VEM
DO SUL; E PUTE (A ATUAL
LÍBIA) QUE VEM DO
OESTE”.[12]
Tal como o Irã e o Sudão, a Líbia é um país
islâmico radical, que, até pouco tempo, foi
comandado por um ditador, o coronel Muamar
Kadafi. Semelhante ao Irã, Kadafi tentou
desenvolver armas nucleares no passado, mas
alegava que já tinha abandonado suas tentativas de
produzi-las. Hitchcock faz a seguinte observação:
“A nação da Líbia tem sido uma fonte ininterrupta
de terrorismo e de problemas tanto para o Ocidente
quanto para Israel. Certamente a Líbia não perderia
a oportunidade de unir forças com o Sudão, o Irã, a
Turquia e com as repúblicas muçulmanas da
extinta União Soviética para esmagar o Estado
Judeu”.[13]

EQUIPADOS PARA MATAR O


VERSÍCULO 5 TERMINA COM
ESTA DECLARAÇÃO:
“...TODOS COM ESCUDO E
CAPACETE”. JÁ
VERIFICAMOS NO VERSÍCULO
4 QUE A PALAVRA HEBRAICA
TSINNÁ, TRADUZIDA POR
“PAVÊS” [ARA] OU POR
“ESCUDO” [ARC], REFERE-
SE A “UM GRANDE ESCUDO
QUE PROTEGE O CORPO
INTEIRO”.[14] NO
VERSÍCULO 4 ESTÁ
ESCRITO: “...GRANDE
MULTIDÃO, COM PAVÊS E
ESCUDO...”, PORÉM O
VERSÍCULO 5 AFIRMA:
“...COM ESCUDO E
CAPACETE...”. O TERMO
HEBRAICO KOBÁ SE REFERE
A UM “CAPACETE” QUE
GERALMENTE ERA FEITO DE
BRONZE.[15] TODAS AS
SEIS[16] OCORRÊNCIAS
DESSE VOCÁBULO NO ANTIGO
TESTAMENTO HEBRAICO
DENOTAM UM CAPACETE DE
METAL USADO POR SOLDADOS
PARA SE PROTEGEREM NUM
CONFRONTO MILITAR.
ASSIM, ESSE TEXTO
DESTACA O FATO DE QUE
“TODOS” OS INVASORES,
PORTANDO ARMAMENTOS
BÉLICOS, ESTARÃO BEM
EQUIPADOS PARA SUA
INVASÃO À TERRA DE
ISRAEL. PRICE DIZ QUE
ESSA PASSAGEM BÍBLICA
RETRATA UM CENÁRIO NO
QUAL “ISRAEL SE
ENCONTRARÁ INDEFESO,
‘CERCADO’ DE INIMIGOS
POR TODOS OS LADOS”.[17]
GÔMER O NOME GÔMER, QUE
É UMA TRANSLITERAÇÃO DO
VOCÁBULO ORIGINAL,
OCORRE CINCO VEZES NO
ANTIGO TESTAMENTO
HEBRAICO,[18] SEM CONTAR
AQUELAS OCORRÊNCIAS QUE
DESIGNAM A ESPOSA
TEIMOSA E INFIEL DO
PROFETA OSÉIAS. COM
EXCEÇÃO DO USO FEITO
PELO PROFETA EZEQUIEL,
TODOS OS DEMAIS USOS DO
NOME GÔMER SE ENCONTRAM
NOS REGISTROS
GENEALÓGICOS (CF., GN
10.2-3; 1CR 1.5-6). NA
“TABELA DAS NAÇÕES” (GN
10.2; 1CR 1.5), GÔMER É
MENCIONADO COMO UM DOS
FILHOS DE JAFÉ. A
QUESTÃO É A SEGUINTE:
ONDE OS DESCENDENTES DE
GÔMER RESIDEM NOS DIAS
ATUAIS? “SEUS
DESCENDENTES SÃO
NORMALMENTE
IDENTIFICADOS COMO
CIMÉRIOS, UM POVO QUE
SOBE AO PALCO DA
HISTÓRIA NO SÉCULO VIII
A.C., ORIUNDO DO
TERRITÓRIO SITUADO AO
NORTE DO MAR NEGRO”.[19]
JON RUTHVEN ELABOROU UM
MAPA QUE LOCALIZA GÔMER
E SEUS DESCENDENTES COMO
UM POVO QUE SE
ESTABELECEU NA REGIÃO AO
NORTE DOS MARES NEGRO E
CÁSPIO.[20] TODAVIA, OS
DESCENDENTES DE GÔMER
FORAM EXPULSOS DESSA
REGIÃO E SE DIRIGIRAM
PARA “...O TERRITÓRIO DA
CAPADÓCIA, QUE
ATUALMENTE CORRESPONDE À
REGIÃO CENTRAL E CENTRO-
NORTE DA TURQUIA. O
HISTORIADOR JOSEFO
REFERIU-SE AO POVO DA
GALÁCIA COMO
DESCENDENTES DE GÔMER.
ELE AFIRMOU QUE O POVO A
QUEM OS GREGOS CHAMAVAM
DE GÁLATAS ERAM OS
GOMERITAS”.[21] HOJE EM
DIA, ESSES “GOMERITAS”
VIVEM NA PARTE CENTRO-
OESTE DA TURQUIA.
PORTANTO, OS
DESCENDENTES DE GÔMER,
JUNTAMENTE COM ALGUNS
OUTROS POVOS QUE AINDA
TEMOS DE CONSIDERAR,
APONTAM PARA O FATO DE
QUE A ATUAL TURQUIA SE
TORNARÁ UM DOS ALIADOS
QUE INVADIRÃO A TERRA DE
ISRAEL.
O texto bíblico afirma: “...Gômer e todas as
suas tropas...”. A partir de declarações
anteriormente feitas nessa profecia, já estava claro
que muitas nações sobrevirão contra Israel e, neste
ponto, fica evidente que os descendentes de Gômer
farão parte dessa aliança invasora. Maranata!
NOTAS 1 MARK HITCHCOCK, AFTER THE EMPIRE: BIBLE
PROPHECY IN LIGHT OF THE FALL OF THE SOVIET
UNION, WHEATON, IL: TYNDALE HOUSE
PUBLISHERS, 1994, P. 72.
2
Para ter acesso a dois livros mais recentes que enfocam os
acontecimentos atuais na sua relação com a invasão
imposta por Gogue e Magogue, veja: Mark HITCHCOCK, Iran
The Coming Crisis: Radical Islam, Oil, And The Nuclear
Threat, Sisters, OR: Multnomah, 2006; bem como, Joel C.
ROSENBERG, Epicenter: Why The Current Rumblings in The
Middle East Will Change Your Future, Carol Stream, IL:
Tyndale House Publishers, 2006.
3
Baseado em pesquisa realizada através do programa de
computador Accordance, versão 7.3.
4
Ludwig KOEHLER e Walter BAUMGARTNER, The Hebrew and
Aramaic Lexicon of the Old Testament, versão eletrônica,
Leiden, Holanda: Koninklijke Brill, 2000.
5
R. Laird HARRIS, Gleason L. ARCHER, Jr., e Bruce K. W ALTKE,
organizadores, Theological Wordbook of the Old
Testament, 2 vols., Chicago: Moody Press, 1980, vol. 1, p.
435.
6
HITCHCOCK, After The Empire, p. 79. Pelo menos essa era a
situação em 1994.
7
HITCHCOCK, After The Empire, p. 79-83.
8
HITCHCOCK, Iran The Coming Crisis, p. 185.
9
Baseado em pesquisa realizada através do programa de
computador Accordance, versão 7.3.
10
KOEHLER e BAUMGARTNER, The Hebrew Lexicon, versão
eletrônica.
11
HITCHCOCK, Iran The Coming Crisis, p. 185.
12
Randall PRICE, “Ezekiel”, publicado no The Popular Bible
Prophecy Commentary: Understanding the Meaning of
Every Prophetic Passage, organizado por Tim LAHAYE e Ed
HINDSON, Eugene, OR: Harvest House Publishers, 2006, p.
191.
13
HITCHCOCK, After The Empire, p. 85-86.
14
Francis BROWN, S. R. DRIVER, e C. A. BRIGGS, Hebrew and
English Lexicon of the Old Testament, Londres: Oxford,
1907, edição eletrônica.
15
BROWN, DRIVER, e BRIGGS, Hebrew Lexicon, edição eletrônica.
16
Baseado em pesquisa realizada através do programa de
computador Accordance, versão 7.3.
17
PRICE, “Ezekiel”, p. 191.
18
Baseado em pesquisa realizada através do programa de
computador Accordance, versão 7.3.
19
HARRIS, ARCHER, e W ALTKE, Theological Wordbook, vol. 1, p.
168.
20
Jon Mark RUTHVEN, The Prophecy That Is Shaping History:
New Research on Ezekiel’s Vision of the End, Fairfax, VA:
Xulon Press, 2003, p. 81.
21
HITCHCOCK, After The Empire, p. 62.
10. EZEQUIEL 38.6

“Gômer e todas as suas tropas; a casa de


Togarma, do lado do Norte, e todas as suas
tropas, muitos povos contigo”.

Ainda existe uma última etnia alistada entre


aquelas que, junto com Gogue, marcharão para
atacar Israel. A última relacionada nesse texto é
Beth-Togarmah.

BETH-TOGARMAH OU “CASA
DE TOGARMA”
Beth-Togarmah é a transliteração inglesa de
duas palavras do texto original hebraico. Beth é o
termo hebraico normalmente utilizado para
designar “casa” ou “lugar de” e ocorre mais de duas
mil vezes na Bíblia Hebraica.[1] Togarmah é um
substantivo que ocorre 4 vezes na Bíblia Hebraica.
[2] O nome Togarma é usado por duas vezes no
registro genealógico para se referir a um dos filhos
de Gômer (Gn 10.3; 1Cr 1.6). As duas outras
ocorrências desse termo se encontram em Ezequiel
(Ez 27.14; 38.6). O prefixo hebraico Beth só é usado
nessas duas ocorrências em Ezequiel para formar o
termo composto que se traduz por “casa de
Togarma”. O texto de Ezequiel 27.14 se refere ao
comércio desenvolvido por esse povo quando diz:
“Os da casa de Togarma, em troca das tuas
mercadorias, davam cavalos, ginetes e mulos”. Na
verdade, “Heródoto a menciona [i.e., Togarma]
pela fama de seus cavalos e mulas”.[3]
Mark Hitchcock comenta o seguinte: “A
maioria dos estudiosos da Bíblia e da história antiga
relaciona a Togarma bíblica com a antiga cidade
Hitita de Tegarma, um importante centro urbano
situado no leste da Capadócia (atual Turquia)”.[4]
Jon Mark Ruthven concorda, ao declarar:
“Indivíduos da ‘casa de Togarma’ podem ter feito
parte dos dois grandes movimentos migratórios
jafetitas em direção ao extremo norte, ocorridos
respectivamente no segundo e primeiro milênios
a.C., e podem ter sido incorporados à matriz
populacional das atuais Rússia e Turquia”.[5]
Hitchcock traça o movimento migratório de
Togarma da seguinte forma: Togarma era o nome
tanto de um distrito quanto de uma cidade
localizada na fronteira de Tubal, a leste da
Capadócia. Togarma ficou conhecida na história
por diferentes designativos, tais como: Tegarma,
Tagarma e Takarama. Os antigos assírios se
referiram a essa cidade pelo nome de Til-garimmu.
Um dos mapas da The Cambridge Ancient History
situa Til-garimmu na fronteira nordeste de Tubal, a
saber, na região nordeste da atual Turquia.
Gesenius, o erudito em língua hebraica, identificou
Togarma como uma nação do norte, onde cavalos e
mulas são abundantes, localizada na antiga
Armênia. O antigo território da Armênia situa-se
atualmente dentro dos limites territoriais da
Turquia.[6]
Hitchcock conclui: “Contudo, ainda que os
eruditos demonstrem uma leve divergência quanto
à localização exata da antiga Togarma, eles sempre
a identificam como uma cidade ou um distrito que
se situava dentro do território nacional da Turquia
dos dias atuais”.[7]
É interessante observar que não há nenhuma
nação árabe entre as nações que se aliarão à Rússia
para invadir Israel. Entretanto, todos esses aliados
da Rússia são países islâmicos ou muçulmanos. O
Irã não é uma nação árabe; pelo contrário, os
iranianos são persas.

“...DO LADO DO NORTE...”


A passagem bíblica afirma que “a casa de
Togarma” vem “...do lado do norte...”. Essa frase se
compõe de duas palavras no original hebraico. A
palavra traduzida por “norte” significa exatamente
isso, ao passo que a palavra traduzida pela
expressão “do lado do” comunica a idéia de
“extremo”, “região longínqua” ou parte mais
distante de qualquer referencial mencionado no
contexto.[8] A associação dessas duas palavras na
mesma frase ocorre por cinco vezes na Bíblia
Hebraica (Sl 48.3; Is 14.13; Ez 38.6,15; 39.2). Sua
ocorrência em Isaías se encontra numa das cinco
afirmações futuras de Satanás na ocasião de sua
rebelião contra Deus “Tu dizias no teu coração: Eu
subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o
meu trono e no monte da congregação me assentarei,
nas extremidades do Norte”. O salmista declara o
seguinte sobre Jerusalém: “Seu santo monte, belo e
sobranceiro, é a alegria de toda a terra; o monte Sião,
para os lados do Norte, a cidade do grande Rei”. O
monte Sião ficava no limite norte da antiga
Jerusalém. Os outros três usos dessa associação de
palavras se encontram nos capítulos 38 e 39 de
Ezequiel. As outras duas ocorrências em Ezequiel
38 e 39 se referem a Gogue nos seguintes termos:
“Virás, pois, do teu lugar, dos lados do Norte, tu e
muitos povos contigo, montados todos a cavalo,
grande multidão e poderoso exército” (Ez 38.15);
“Far-te-ei que te volvas e te conduzirei, far-te-ei subir
dos lados do Norte e te trarei aos montes de Israel”
(Ez 39.2). Por isso, o texto menciona que a “casa de
Togarma” (i.e., Beth-Togarmah) vem das partes
remotas do norte, assim como Gogue, que é a
Rússia dos dias atuais, também virá dessa região.
Hitchcock levanta a seguinte questão: “Se a Rússia é
o ponto geográfico mais distante ao norte de Israel,
será que essa afirmação significa que Togarma
procederá da extinta União Soviética?”. Ele mesmo
responde à sua indagação: “A resposta a essa
pergunta é não. Forçar uma localização geográfica
para Togarma que seja totalmente incoerente com
o testemunho claro da história antiga seria uma
grave distorção das evidências. Além do mais, a
Turquia da atualidade se encaixa nitidamente na
descrição que o texto faz porque se localiza no
extremo norte da Terra Prometida”.[9]

“...E TODAS AS SUAS


TROPAS...”
A última parte do versículo 6 afirma que a casa
de Togarma virá das bandas do norte com “...todas
as suas tropas, muitos povos contigo”. O vocábulo
hebraico traduzido por “tropas” é usado por seis
vezes no Antigo Testamento Hebraico e todas as
suas ocorrências se encontram no livro de Ezequiel
(Ez 12.14; 17.21; 38.6,9,22; 39.4).[10] Com exceção
de dois usos dessa palavra, todas as demais
ocorrências aparecem em Ezequiel 38 e 39. Alguns
eruditos declaram que esse vocábulo diz respeito a
uma “asa” ou um “parâmetro”,[11] porém nesses
contextos citados o termo se refere nitidamente a
tropas militares. Alguns sugerem que essa palavra
pode ter a conotação de tropas no flanco ou nas alas
de uma unidade militar e seria uma expressão
idiomática hebraica para designar todo o
contingente do exército de algum povo ou de
alguém. O ponto relevante é que se alguém leva
suas tropas a se posicionarem até os flancos,[12]
isso implica utilizar todo o contingente de
infantaria que alguém poderia arregimentar. Assim,
a tradução mais clara e coerente dessa palavra
original hebraica é “tropas” (no sentido de forças
armadas).
A última frase do versículo 6 deixa claro que a
soma total da casa de Togarma incluirá muitos
povos com ele. Essa frase ocorre outras duas vezes
na Bíblia Hebraica, ambas em Ezequiel 38
(versículos 9 e 15). O versículo 9 se refere à coalizão
inteira que atacará Israel, ao passo que, no versículo
15, os “muitos povos” se referem aos países
participantes da coalizão que será comandada por
Gogue. O uso da expressão “...muitos povos
contigo...” nos versículos 9 e 15 apresenta uma leve
diferença do versículo 6, pois nos versículos 9 e 15 a
construção da frase vem precedida da conjunção
“e”. A frase no versículo 6 não apresenta a
conjunção “e” o que implica em que a expressão
“...muitos povos contigo” se encontra em aposição
[i.e., como aposto] à frase anterior “...e todas as suas
tropas...”. Portanto, a frase “...muitos povos contigo”
é uma descrição das tropas que a casa de Togarma
trará em sua companhia para o ataque a Israel.

FALANDO FRANCAMENTE
AGORA QUE TERMINAMOS A
ANÁLISE DA RELAÇÃO DE
POVOS QUE SE UNIRÃO À
RÚSSIA NO ATAQUE QUE
ESTA COMANDARÁ CONTRA
ISRAEL, PERCEBEMOS QUE
QUATRO DOS NOMES
RELACIONADOS NESSE TEXTO
DE EZEQUIEL SÃO
ANCESTRAIS DAQUELAS
ETNIAS QUE ATUALMENTE
CONSTITUEM A POPULAÇÃO
DA TURQUIA. TODOS OS
QUATRO, MESEQUE, TUBAL,
GÔMER E A CASA DE
TOGARMA, SÃO FORTES
INDICADORES DE QUE A
TURQUIA SERÁ UM DOS
PAÍSES-MEMBROS DESSA
COALIZÃO DIABÓLICA. MAS,
DIANTE DO ALINHAMENTO
DAS NAÇÕES NOS DIAS
ATUAIS, SERIA POSSÍVEL O
ENVOLVIMENTO DA TURQUIA
NESSA ALIANÇA?
Hoje em dia, a Turquia não se encontra
alinhada com a Rússia e com o Irã por ter se
tornado tecnicamente um Estado secular com uma
herança muçulmana após o colapso do império
Turco-Otomano no final da Primeira Guerra
Mundial. Já faz tempo que a Turquia se tornou
membro da OTAN [i.e., Organização do Tratado
do Atlântico Norte] e tem expressado o desejo de se
identificar não com a Ásia, mas com a Europa,
muito provavelmente por razões econômicas. A
Turquia é um país cuja menor parte do território se
encontra na Europa e a maior parte está situada na
Ásia. Além disso, a Turquia já solicitou
oficialmente o ingresso como país-membro da
União Européia, onde qualquer pessoa que esteja
num dos seus países-membros pode se deslocar
livremente para outra localidade que se encontre
dentro limites geográficos da União Européia. Os
demais países-membros estão preocupados porque
temem que, se for admitida como membro da
União Européia, a Turquia possa se tornar um
canal através do qual os muçulmanos se
deslocariam para inundar o restante da Europa com
a sua presença. Embora a Turquia continue no
processo de cumprir requisitos para ingressar na
União Européia, é praticamente certo que no fim
tal ingresso seja rejeitado. A partir do momento
que forem rejeitados pela União Européia, os turcos
vão buscar alinhamento com a Rússia, bem como
com seus países-irmãos islâmicos.
Nos últimos anos contemplou-se a emergência
de uma maioria islâmica no Parlamento da Turquia
e o seu atual primeiro-ministro é muçulmano. A
dissolução da antiga União Soviética envolveu a
independência destas cinco repúblicas islâmicas:
Cazaquistão, Uzbequistão, Quirguistão,
Turcomenistão e Tajiquistão. Hitchcock salienta
que “a Turquia tem sido atraída por essas ex-
repúblicas soviéticas e tem se aproximado delas por
razões econômicas, além de manter fortes laços
lingüísticos e étnicos com tais países. Todos esses
países falam variações do idioma turco, com
exceção do Tajiquistão, onde a língua se assemelha
ao farsi iraniano”.[13] A Turquia se considera o
desenvolvedor econômico dos vastos recursos
naturais que se encontram nesses cinco novos
países, tais como: ouro, prata, urânio, petróleo,
carvão e gás natural. Depois de ser desprezada pela
Europa, a Turquia terá motivos de sobra para
entrar numa aliança com a Rússia e com suas
nações-irmãs muçulmanas, o que deixará o palco
preparado para o cumprimento dessa profecia.
Maranata!
NOTAS 1 DE ACORDO COM UMA PESQUISA REALIZADA
ATRAVÉS DO PROGRAMA DE COMPUTADOR
ACCORDANCE, VERSÃO 7.3, ESSE TERMO OCORRE
2.047 VEZES.
2
Baseado em pesquisa realizada através do programa de
computador Accordance, versão 7.3.
3
S. Fisch, Ezekiel: Hebrew Text & English translation with an
Introduction and Commentary, Londres: The Soncino
Press, 1950, p. 182.
4
Mark Hitchcock, After The Empire: Bible Prophecy in Light
of the Fall of the Soviet Union, Wheaton, IL: Tyndale House
Publishers, 1994, p. 63.
5
Jon Mark Ruthven, The Prophecy That Is Shaping History:
New Research on Ezekiel’s Vision of the End, Fairfax, VA:
Xulon Press, 2003, p. 102.
6
Hitchcock, After The Empire, p. 63-64.
7
Hitchcock, After The Empire, p. 64.
8
Ludwig Koehler e Walter Baumgartner, The Hebrew and
Aramaic Lexicon of the Old Testament, versão eletrônica,
Leiden, Holanda: Koninklijke Brill, 2000.
9
Hitchcock, After The Empire, p. 64-65.
10
Baseado em pesquisa realizada através do programa de
computador Accordance, versão 7.3.
11
Koehler e Baumgartner, Hebrew Lexicon, versão eletrônica.
12
C. F. Keil, Ezekiel, Daniel, Commentary on the Old
Testament, traduzido para o inglês por James Martin;
reimpressão; Grand Rapids: Eerdmans Publishing
Company, 1982, p. 161.
13
Hitchcock, After The Empire, p. 66.
11. EZEQUIEL 38.7-
8

“Prepara-te, sim, dispõe-te, tu e toda a multidão


do teu povo que se reuniu a ti, e serve-lhe de
guarda. Depois de muitos dias, serás visitado; no
fim dos anos, virás à terra que se recuperou da
espada, ao povo que se congregou dentre muitos
povos sobre os montes de Israel, que sempre
estavam desolados; este povo foi tirado de entre
os povos, e todos eles habitarão seguramente”.

Os seis primeiros versículos da profecia


registrada no capítulo 38 de Ezequiel delineiam
“quem” estaria envolvido numa invasão ao
território de Israel, enquanto os versículos 7 a 9
informam “onde” e “quando” esse acontecimento
ocorrerá. Essa nova seção (versículos 7-9) começa
com uma provocação da parte de Deus a Gogue e
sua coalizão, a fim de se certificar que eles estejam
realmente prontos para invadir Israel.

DEUS PROVOCA GOGUE O


VERSÍCULO 7 COMEÇA COM O
MESMO VERBO HEBRAICO
USADO DE FORMA REPETIDA
E CONSECUTIVA NA FRASE.
O VERBO “PREPARAR” ESTÁ
DISPOSTO DESSA FORMA NA
MESMA FRASE COM A
FINALIDADE DE
INTENSIFICAR SEU
SIGNIFICADO. EM OUTRAS
PALAVRAS, DEUS ESTÁ
AVISANDO A GOGUE E A
SEUS ALIADOS QUE É BOM
ESTAREM CERTOS DE QUE SE
PREPARARAM AO MÁXIMO
PARA SEU ATAQUE A
ISRAEL, PORQUE, NO
FUNDO, TRATA-SE DE UM
ATAQUE A DEUS, SITUAÇÃO
ESSA PARA A QUAL SERES
HUMANOS NUNCA ESTÃO
REALMENTE PREPARADOS.
CHARLES FEINBERG
COMENTA: “COM NOTÓRIA E
ABSOLUTA IRONIA,
EZEQUIEL SOLICITA QUE
GOGUE ESTEJA PLENAMENTE
PREPARADO PARA ESSE
CONFRONTO E QUE TOME
PROVIDÊNCIAS PARA QUE
SEUS ALIADOS ESTEJAM COM
TUDO PRONTO PARA A
OCASIÃO”.[1]
A última frase do versículo 7 diz: “...e serve-lhe
de guarda”. O substantivo hebraico traduzido por
“guarda” significa “sentinela” ou “vigia” e no modo
em que se encontra tem a conotação de “manter
vigilância”, “montar guarda fortemente armada” e
“ficar de prontidão”.[2] O Senhor provoca Gogue
ainda mais, quando o desafia, como líder da
coalizão, a garantir que está vigilante e que guarda
os exércitos que a ele se aliaram a fim de protegê-
los contra qualquer mal que lhes sobrevenha. É
uma sarcástica advertência feita a Gogue e seus
comparsas, porque, apesar de se reunirem com o
propósito de varrer Israel do mapa, eles é que serão
destroçados.

“DEPOIS DE MUITOS DIAS”


Quando Ezequiel inicia o versículo 8 e diz:
“Depois de muitos dias, serás visitado...”, fica
evidente que a soberania de Deus continua a ser o
tema de maior destaque dessa profecia. Em última
análise, toda essa operação é idéia de Deus e,
conforme Ele mesmo declarou no versículo 4:
“...porei anzóis no teu queixo e te levarei a ti e todo o
teu exército...”, eles serão levados a investir contra
Israel. Agora Ezequiel afirma que Deus está
convocando Gogue e sua coalizão para um ataque a
Israel de modo que se cumpra o propósito do
Senhor. “O coração do homem traça o seu caminho,
mas o Senhor lhe dirige os passos” (Provérbios 16.9).
A exata expressão hebraica, traduzida pela frase
“depois de muitos dias”, só ocorre mais uma vez no
Antigo Testamento, em Josué 23.1: “E sucedeu que,
muitos dias depois que o Senhor dera repouso a Israel
de todos os seus inimigos em redor, e sendo Josué já
velho e entrado em dias” (ACF e ARC). Uma vez
que o contexto governa o tempo proposto numa
frase adverbial temporal, fica claro que os “muitos
dias” mencionados no contexto do livro de Josué se
referem a alguns anos, porque todos esses “muitos
dias” se passaram durante o tempo de vida de
Josué. Uma frase hebraica semelhante é usada por
quatro vezes no Antigo Testamento (1Rs 18.1; Ec
11.1; Is 24.22; Jr 13.6); três dessas quatro
ocorrências se assemelham à que é usada em Josué
23.1, porém a que ocorre em Isaías 24.22 se
encontra dentro de um contexto escatológico,
nestes termos: “Naquele dia, o Senhor castigará, no
céu, as hostes celestes, e os reis da terra, na terra.
Serão ajuntados como presos em masmorra, e
encerrados num cárcere, e castigados depois de muitos
dias. A lua se envergonhará, e o sol se confundirá
quando o Senhor dos Exércitos reinar no monte Sião e
em Jerusalém; perante os seus anciãos haverá glória”
(Isaías 24.21-23). C. F. Keil, ao escrever no século
dezenove, afirmou: “A primeira cláusula traz uma
lembrança tão forte de Isaías 24.22 que a ação nessa
passagem dificilmente poderia ser confundida; de
modo que Ezequiel usa essas palavras no mesmo
sentido que Isaías usou”.[3] O contexto faz nítida
referência a um acontecimento futuro que, até
agora, não ocorreu. A expressão “depois de muitos
dias”, que se encontra no versículo 22, é uma
provável referência ao período de mil anos revelado
em Apocalipse 20.2-7.
A duração do tempo, indicada na frase “depois
de muitos dias”, é determinada por fatores presentes
no contexto, os quais claramente apontam para um
período mais longo que o tempo de vida de um ser
humano. Em breve, quando eu fizer uma análise
das outras expressões que indicam tempo nesse
contexto, verificaremos que “o texto é enfático ao
demonstrar que essa invasão e suas consequências
foram previstas muito tempo antes”.[4] Keil
comenta: “a expressão ‘depois de muitos dias’, isto
é, após um longo tempo [...] significa apenas o
decurso de um período prolongado; [...] trata-se do
fim dos dias, do último tempo, não do futuro em
geral, mas do futuro final, daquele período
messiânico em que se concretizará o Reino de
Deus”.[5] Feinberg declara o seguinte: “O
referencial de tempo indicava que o ataque do
inimigo não ocorreria por um longo período de
tempo. Os acontecimentos aqui preditos não
deviam ser esperados para o período da vida de
Ezequiel, nem para os dias de seus
contemporâneos”.[6]

“NO FIM DOS ANOS”


A frase “depois de muitos dias” não é o único
indicador da época em que tal invasão ocorrerá. No
texto original hebraico, essa expressão temporal é
imediatamente seguida pela frase “...no fim dos
anos...”. Ambas as frases devem se referir ao mesmo
período de tempo. À semelhança da expressão
anterior, se esta última não está qualificada por algo
como, por exemplo, os últimos dias da vida de uma
pessoa, só pode se referir a todo o período da
história. Uma expressão quase idêntica é usada no
versículo 16 desse mesmo capítulo, quando Deus
declara: “...Nos últimos dias, hei de trazer-te contra a
minha terra...”. Em todo o Antigo Testamento, a
expressão “no fim dos anos” só ocorre neste texto de
Ezequiel. Contudo, se a expressão “nos últimos dias”
é usada no versículo 16 para descrever o mesmo
acontecimento, pode-se concluir com segurança
que a expressão “nos últimos dias”, usada com mais
frequência, tem significado análogo à expressão “no
fim dos anos”. Tal conclusão baseia-se no fato de
que as frases “depois de muitos dias” e “no fim dos
anos” ocorrem atreladas no versículo 8. Feinberg
esclarece: “o referencial cronológico foi claramente
enunciado na expressão ‘no fim dos anos’, que é
equivalente à expressão ‘nos últimos dias’ do
versículo 16”.[7]
Quando se faz uma pesquisa no Antigo
Testamento sobre o uso de terminologia
semelhante à expressão “no fim dos anos”,
mencionada em Ezequiel 38.8, encontramos três
outras frases correlatas.[8] Selecionei dentre essas
frases aquelas ocorrências que possuem significado
profético, cujo cumprimento ainda acontecerá no
futuro. A primeira expressão é “nos últimos dias”
(Dt 4.30; 31.29; Is 2.2; Jr 23.20, 30.24, 48.47, 49.39;
Ez 38.16; Dn 2.28, 10.14; Os 3.5; Mq 4.1); a outra
expressão é “tempo do fim” (Dn 8.17,19; 11.27,35,40;
12.4,9,13). O fato de Ezequiel utilizar as três
expressões (i.e., “depois de muitos dias”, “no fim dos
anos” e “nos últimos dias”) oferece forte
embasamento para a concepção de que essa batalha
se dará num tempo ainda vindouro. Randall Price
comenta: “Embora a expressão “últimos dias” possa
se referir ao período da Tribulação, não é uma
terminologia técnica específica para designá-la,
pois os parâmetros contextuais e a variedade de
usos lhe permitem ser empregada em diferentes
sentidos”.[9] Assim, as frases que mencionam a
expressão “últimos dias” se referem à septuagésima
semana da profecia de Daniel (a saber, o período da
Tribulação), ao reino milenar de Cristo (i.e., o
Milênio) e também podem se referir a alguns
acontecimentos que hão de ocorrer imediatamente
antes da Tribulação, como, por exemplo, a invasão
de Israel promovida por Gogue e Magogue. Mark
Hitchcock assinala: “Essas frases são usadas no
Antigo Testamento por quinze vezes ao todo.
Sempre são empregadas em referência ao período
da Tribulação (Dt 4.30; 31.29) ou ao Milênio (Is 2.2;
Mq 4.1). Ainda que tais expressões não
identifiquem o momento específico dessa invasão,
indicam claramente que tal ocasião acontecerá num
período de tempo que, da perspectiva de nossos
dias, ainda é futuro”.[10]

“TERRA QUE SE RECUPEROU


DA ESPADA”
A próxima frase desse texto declara: “...virás à
terra que se recuperou da espada...”. A terra para a
qual Gogue e seus aliados se dirigirão a fim de
invadir é, sem sombra de dúvida, a terra de Israel. É
interessante que esse texto descreve a terra de Israel
como uma terra que se recuperou da espada. O
termo hebraico traduzido por “recuperou” é um
verbo geralmente utilizado para designar o ato de
“virar-se”, “retornar” ou “arrepender-se”.[11]
Portanto, o sentido no qual aqui se usa o verbo
hebraico shuv é o de aludir a um povo que outrora
estava na terra de Israel; foi removido dessa terra,
mas agora foi trazido de volta à terra de onde é
oriundo. Nesse caso, eles foram trazidos de volta ou
retornaram à terra de Israel. Em toda a história
mundial, sabe-se que os judeus são o único povo
que foi removido de sua terra natal, ficou disperso
entre a maioria das nações e voltou para sua terra
natal. Isso explica a razão pela qual a versão que uso
da Bíblia em inglês (The New American Standard
Bible – NASB) traduziu esse verbo hebraico pela
palavra “restore” [N. do T.: Em português:
“restaurar, recuperar, reconstituir, restabelecer”].
Em outras palavras, os judeus estão retornando à
sua terra natal, onde essa recuperação tem se
cumprido e onde muitas outras predições bíblicas
ainda se cumprirão. Maranata!
NOTAS 1 CHARLES LEE FEINBERG, THE PROPHECY
OF EZEKIEL, CHICAGO: MOODY PRESS, 1969, P.
221.
2
Ludwig Koehler e Walter Baumgartner, The Hebrew and
Aramaic Lexicon of the Old Testament, versão eletrônica,
Leiden, Holanda: Koninklijke Brill, 2000.
3
C. F. Keil, Ezekiel, Daniel, Commentary on the Old
Testament, traduzido para o inglês por James Martin,
reimpressão; Grand Rapids: Eerdmans Publishing
Company, 1982, p. 162.
4
Jon Mark Ruthven, The Prophecy That Is Shaping History:
New Research on Ezekiel’s Vision of the End, Fairfax, VA:
Xulon Press, 2003, p. 123.
5
Keil, Ezekiel, p. 163.
6
Feinberg, Ezekiel, p. 221.
7
Feinberg, Ezekiel, p. 221.
8
Baseado em pesquisa realizada através do programa de
computador Accordance, versão 7.3.
9
Randall Price, Comentários Não Publicados Sobre as
Profecias de Ezequiel, 2007, p. 40.
10
Mark Hitchcock, After The Empire: Bible Prophecy in Light
of the Fall of the Soviet Union, Wheaton, IL: Tyndale House
Publishers, 1994, p. 126.
11
Koehler e Baumgartner, Hebrew Lexicon, versão eletrônica.
12. EZEQUIEL 38.8

“Depois de muitos dias, serás visitado; no fim


dos anos, virás à terra que se recuperou da
espada, ao povo que se congregou dentre muitos
povos sobre os montes de Israel, que sempre
estavam desolados; este povo foi tirado de entre
os povos, e todos eles habitarão seguramente”.

O verso 8 é o mais longo versículo de Ezequiel


38–39 e descreve o momento em que essa invasão
da terra de Israel acontecerá. Nesse versículo, há
um total de sete frases descritivas que nos
informam a ocasião em que esse episódio ocorrerá.
Já analisamos as primeiras três frases e verificamos
que essa invasão se dará “depois de muitos dias”, “no
fim dos anos” e quando a terra de Israel se recuperar
“...da espada”. É preciso ter em mente o fato de que
esse acontecimento só ocorrerá quando todos os
sete indicadores descritos nessas frases estiverem
presentes ao mesmo tempo.

ISSO SE CUMPRIU NA ÉPOCA


DE ESTER?
O intérprete preterista Gary DeMar propôs
uma interpretação muito esquisita quanto à época
em que a invasão comandada por Gogue teria
ocorrido. Ele argumenta que a batalha descrita em
Ezequiel 38–39 já se cumpriu em 473 a.C., nos dias
da rainha Ester da Pérsia, por ocasião dos
acontecimentos descritos no capítulo 9 do livro de
Ester.[1]
DeMar alega que os paralelos entre a batalha
mencionada em Ezequiel 38–39 e a batalha
mencionada no livro de Ester são “inequívocos”.[2]
Há um monte de problemas nessa concepção e o
menor deles não se encontra nas sete frases de
Ezequiel 38.8. Na comparação da profecia de
Ezequiel com o relato de Ester, certas similaridades
escassas não determinam tal relação de
cumprimento; pelo contrário, o grande número de
diferenças evidencia que a concepção de DeMar é
impossível. Ao que parece, o único motivo para que
DeMar defenda um ponto de vista como esse, é seu
desejo obsessivo de evitar qualquer profecia de
cumprimento futuro referente à nação de Israel.
Tal obsessão cega seus olhos para o claro
significado desse texto.
Abaixo relaciono algumas incoerências mais
evidentes e problemáticas desse ponto de vista:
Ezequiel 38–39: Ester 9:
– A terra de Israel é invadida (38.16) por – Os judeus são atacados nas cidades de todo
uma coalizão de vários exércitos. Os inimigos o império Persa (127 províncias; Et 9.30) por
tombam nos montes de Israel (39.4). Gogue, supostas gangues de pessoas inimigas, não
o líder dessa invasão, é enterrado em Israel exércitos, e se defendem (9.2). Os inimigos são
(39.11). mortos em todo o Império Persa.
– Durante um período de sete meses, os – Não há necessidade de limpar a terra, porque
judeus sepultarão os corpos dos inimigos os cadáveres não se encontram em Israel.
invasores para limpar a terra de Israel
(39.12).
– Os invasores são destruídos por um – Os agressores são mortos pelo próprio povo
terremoto arrasador na terra de Israel, por judeu, auxiliados por governantes locais das
lutas internas, por pragas, bem como por fogo províncias (9.3-5).
que cai do céu (38.19-22). Deus destrói os
inimigos de Israel de modo sobrenatural.
– Os invasores vêm do extremo oeste, como – O território do Império Persa não incluía essas
a antiga Pute (atual Líbia; Ez 38.5) e do regiões. Sua extensão territorial no extremo oeste
extremo norte, como Magogue, a terra dos chegava até Cuxe (atual Sudão; Et 8.9) e no
citas. extremo norte chegava até a região situada
abaixo do mar Negro e do mar Cáspio.
– Deus envia fogo sobre Magogue e nos – Não há nada que se assemelhe a isso em
que habitam nas ilhas (39.6). Ester 9.

Uma importante pergunta que podemos


levantar a essa altura é a seguinte: Se o texto de
Ezequiel 38–39 se cumpriu através dos
acontecimentos descritos em Ester 9, por que isso
passou despercebido nos dias de Ester? Por que não
há nenhuma menção desse extraordinário
cumprimento da profecia de Ezequiel no livro de
Ester? A resposta é mais do que óbvia. Os fatos
relatados em Ester 9 não são o cumprimento de
Ezequiel 38–39. Na realidade, um importante
feriado judaico, chamado Purim (Et 9.20-32), foi
instituído a partir do que se passou naquele
episódio mencionado em Ester. É um festivo
feriado anual que celebra o livramento efetuado por
Deus para tirar Israel das mãos de seus inimigos. A
celebração do Purim inclui a leitura pública do livro
de Ester, porém não existe nenhuma tradição
desenvolvida, ou de que se tenha notícia, na qual os
judeus façam a leitura de Ezequiel 38–39 como se
houvesse alguma relação com a observância dessa
festa. Se o texto de Ezequiel 38–39 tivesse se
cumprido nos acontecimentos narrados em Ester, o
povo judeu, sem dúvida, teria desenvolvido uma
tradição ritual de ler também a passagem de
Ezequiel nessa celebração.
Além disso, por que não existe nenhum
erudito judeu que ao longo da história tenha
reconhecido tal cumprimento profético? O
consenso entre os comentaristas judeus sempre foi
o de que a profecia acerca de Gogue refere-se a
acontecimentos previstos para o tempo do fim.
Para falar a verdade, essa batalha é o ponto focal de
sua concepção profética escatológica, a qual,
segundo eles, se cumprirá imediatamente antes da
chegada do Messias. Rafael Eisenberg, um rabino
da atualidade, faz o seguinte resumo da tradição
judaica no que diz respeito à batalha de Gogue
descrita em Ezequiel:
Nossos profetas e sábios predisseram que, antes da chegada do
Messias, o Império Perverso, Roma (que, como já demonstramos, é
a Rússia dos dias atuais), recuperará sua antiga grandeza. Nos dias
pré-Messiânicos, a Rússia se expandirá e conquistará o mundo
inteiro, de modo que seu governante, “o qual será tão perverso
quanto Hamã”, se levantará e conduzirá as nações do mundo todo
até Jerusalém a fim de aniquilar Israel [...] Naquele momento, os
milagres portentosos que executarão a grande vingança contra os
inimigos de Israel e a destruição final do Império Perverso,
convencerão o mundo de que somente Deus é o Juiz e Governante
do Universo.[3]

Outra razão simples pela qual podemos


entender que essa invasão ainda se dará no futuro é
o fato de que nenhum acontecimento semelhante
aos que estão descritos em Ezequiel 38–39 já
ocorreu no passado. Apenas considere o seguinte:
Em que ocasião histórica se pode dizer que Israel
foi invadido por todas aquelas nações alistadas no
texto de Ezequiel 38.1-6? Ou ainda: Quando foi que
Deus destruiu um exército invasor dessa natureza,
com fogo e enxofre lançados do céu, com pestes,
terremotos e lutas autodestrutivas entre os soldados
invasores (Ez 38.19-22)?
A resposta é: Nunca. Esse é o motivo pelo qual
Ezequiel descreve uma invasão que ainda
acontecerá no futuro, até mesmo para o nosso
referencial de tempo. Agora passaremos a examinar
os últimos quatro indicadores do versículo 8.

“POVO QUE SE CONGREGOU


DENTRE MUITOS POVOS”
A quarta frase descritiva afirma: “...ao povo que
se congregou dentre muitos povos sobre os montes de
Israel...”. A expressão “ao povo que se congregou” é a
tradução de um único vocábulo hebraico, o verbo
qabats que significa “reunir”, “congregar” ou
“ajuntar”. Trata-se do termo geralmente usado para
designar a ação de coletar algo, como, por exemplo,
os produtos agrícolas no tempo da colheita. Nesse
texto, o verbo se encontra flexionado no tempo
hebraico Pual [4] e no modo particípio, o que nesse
contexto implica, por elipse, que Deus é Quem
trouxe esse povo de volta e os congregou na terra
de Israel. Mas, de onde Ele os ajuntou?
Deus os ajuntou dentre muitas nações. A
palavra traduzida por “nações” é o termo hebraico
de uso comum ‘am, usado por cerca de 3.000
vezes[5] no Antigo Testamento e significa
simplesmente “povo, povos, nação ou nações”.[6]
Charles Feinberg ressalva: “Isso não pode ser referir
ao exílio babilônico; pelo contrário, refere-se a uma
dispersão mundial”.[7] C. F. Keil concorda e
acrescenta: “A expressão ‘congregou dentre muitos
povos’ também aponta para uma realidade muito
além do exílio babilônico, a saber, a dispersão de
Israel pelo mundo todo, um fato que só ocorreu
depois da segunda destruição de Jerusalém”.[8]
Esses repatriados se estabeleceriam “...sobre os
montes de Israel”. Jerusalém é uma cidade situada
nos montes de Israel. Por conseguinte, desde 1967 o
novo Estado de Israel assumiu o controle da antiga
cidade conhecida como Jerusalém.

“QUE SEMPRE ESTAVAM


DESOLADOS”
A quinta frase descritiva afirma: “...que sempre
estavam desolados...”. Mas, o que estava em
contínua desolação? Essa frase faz alusão à terra de
Israel que esteve continuamente desolada. O termo
hebraico traduzido por “desolados” ocorre 50 vezes
no Antigo Testamento,[9] com especialidade nos
livros proféticos para se referir às ruínas de
Jerusalém, de Israel e, por vezes, do Egito, como
resultado do juízo de Deus. O advérbio “sempre”
modifica o termo “desolados” e transmite a idéia de
“prosseguir sem interrupção, continuamente”.[10]
O rabino Fisch explica o seguinte: “O termo
hebraico aqui traduzido por ‘sempre’ significa ‘por
um longo tempo’, implicando o período do exílio”.
[11] Porém, que exílio? Seria uma referência aos 70
anos de exílio na Babilônia ou se refere aos quase
2.000 anos de exílio mundial que a maior parte da
população judaica ainda experimenta? Feinberg
assevera: “Isso diz respeito a um período de tempo
mais longo do que os setenta anos de exílio na
Babilônia”.[12] Keil também comenta que nesse
texto “o termo ‘sempre’ denota um período de
devastação da terra [de Israel] muito mais longo do
que durou a devastação imposta pelos caldeus”.[13]
NOTAS
1
Gary DeMar, End Times Fiction: A Biblical Consideration of
The Left Behind Theology , Nashville: Thomas Nelson
Publishers, 2001, p. 12-15.
2
DeMar, End Times Fiction, p. 13.
3
Rafael Eisenberg, A Matter of Return: A Penetrating
Analysis of Yisrael’s Afflictions and Their Alternatives,
Jerusalém: Feldheim Publishers, 1980, p. 155,citado na
obra de Randall Price, The Temple and Bible Prophecy: A
Definitive Lookat Its Past, Present, and Future, Eugene,
OR: Harvest House, 2005, p. 459. Para uma visão geral
das concepções judaicas sobre a invasão de Gogue a
Israel, descrita em Ezequiel 38–39, veja a obra de Price,
The Temple and Bible Prophecy, p. 458-61.
4
O tempo verbal hebraico Pual denota uma qualidade de ação
intensiva na voz passiva.
5
Baseado em pesquisa realizada através do programa de
computador Accordance, versão 7.3.
6
Ludwig Koehler e Walter Baumgartner, The Hebrew and
Aramaic Lexicon of the Old Testament, versão eletrônica,
Leiden, Holanda: Koninklijke Brill, 2000.
7
Charles Lee Feinberg, The Prophecy of Ezekiel, Chicago:
Moody Press, 1969, p. 222.
8
C. F. Keil, Ezekiel, Daniel, Commentary on the Old
Testament, traduzido para o inglês por James Martin,
reimpressão; Grand Rapids: Eerdmans Publishing
Company, 1982, p. 164.
9
Baseado em pesquisa realizada através do programa de
computador Accordance, versão 7.3.
10
Francis Brown, S. R. Driver, e C. A. Briggs, Hebrew and
English Lexicon of the Old Testament, Londres: Oxford,
1907, edição eletrônica.
11
Rabbi Dr. S. Fisch, Ezekiel: Hebrew Text & English
Translation With An Introduction and Commentary,
Londres: The Soncino Press, 1950, p. 254.
12
Feinberg, Ezekiel, p. 222.
13
Keil, Ezekiel, p. 164.
13. EZEQUIEL 38.8-
9

“Depois de muitos dias, serás visitado; no fim


dos anos, virás à terra que se recuperou da
espada, ao povo que se congregou dentre muitos
povos sobre os montes de Israel, que sempre
estavam desolados; este povo foi tirado de entre
os povos, e todos eles habitarão seguramente.
Então, subirás, virás como tempestade, far-te-ás
como nuvem que cobre a terra, tu, e todas as
tuas tropas, e muitos povos contigo”.

As últimas duas das sete frases descritivas que


se encontram no versículo 8 serão analisadas a
partir de agora. Essas frases proporcionam a
estrutura que nos permite apontar com mais
precisão a época em que essa invasão ocorrerá.

“TIRADO DE ENTRE OS
POVOS”
A sexta frase descritiva do versículo 8 declara:
“este povo foi tirado de entre os povos...”. O termo
hebraico vav disjuntivo no início da construção
dessa frase mantém uma relação de contraste com a
frase anterior: “...ao povo que se congregou dentre
muitos povos sobre os montes de Israel, que sempre
estavam desolados...”. No hebraico o sujeito é
feminino e só pode se referir à terra.[1] O sentido é
o seguinte: O povo da terra de Israel (ou seja, os
judeus). Esse sentido apóia a posição fortemente
polêmica de que, na concepção divina, o povo a
quem pertence a terra de Israel é o povo judeu.
O verbo hebraico yatsa’ é usado mais de mil
vezes no Antigo Testamento e significa “sair de”
(“vir para fora”) ou “ir adiante” (“avançar para
algum lugar”).[2] Neste caso, porém, o verbo se
encontra no tronco verbal hebraico do Hofal, que
implica uma qualidade de ação causativa na voz
passiva e significa que o povo judeu “foi trazido” ou
“foi tirado” de entre as nações, não por si mesmo,
mas por alguém que o trouxe. Quem seria esse
“alguém”? Chega-se à conclusão de que Deus é o
agente da passiva e, portanto, é Aquele que faria
com que os judeus fossem trazidos de volta à terra
de Israel. Nesse texto, a locução verbal “...foi
tirada...” dá apoio à concepção latente de que Deus
controla soberanamente todas as nações – tanto
Israel quanto os gentios. Os gentios são destacados,
no início do versículo 8, como aqueles que, ao
serem “visitados”, receberiam uma convocação para
invadir a terra de Israel. Os judeus, por sua vez, são
destacados nessa frase descritiva, como objeto do
cuidado de Deus, pois é Ele quem, de fato, os traz
de volta à sua Terra Prometida.
No texto hebraico, essa frase descritiva é
formada apenas por três palavras e literalmente
expressa o seguinte: “mas é tirada de entre os povos”.
[3] Ao fazer-se uma leitura disso no seu contexto,
como sempre se deve fazer na leitura de qualquer
texto, percebe-se que a expressão “é tirada”, da
frase literal acima, faz referência à terra e mantém
relação com a segunda parte da frase anterior, que
diz: “...os montes de Israel, que sempre estavam
desolados...”. Nesse caso, de que maneira a terra de
Israel pode ser tirada de entre os povos ou nações e
ser trazida de volta? Isso só faz sentido se a
referência for ao povo que é trazido de volta à terra,
razão pelo que a maioria dos tradutores da Bíblia
acrescenta o termo “povo”, num esforço de tornar
mais claro o sentido do texto original hebraico.

“E TODOS ELES HABITARÃO


SEGURAMENTE”
A última frase descritiva declara: “...e todos eles
habitarão seguramente”. No texto original, tal frase
também é formada apenas por três palavras
hebraicas e conclui essa longa sentença. O verbo
hebraico yashav é usado por mais de mil vezes no
Antigo Testamento e, em geral, significa “assentar”,
“permanecer”, “habitar ou morar”.[4] Por isso que
em muitas traduções da Bíblia em inglês se usa o
verbo “viver” (do inglês: to live), para diferenciar
aquilo que alguém faz quando permanece por um
período de tempo em determinado lugar ou
território daquilo que alguém faz quando está
apenas visitando.
A próxima palavra hebraica é o substantivo
betah, traduzido pelo advérbio “seguramente”. Tem
havido muita discussão sobre o exato significado
dessa palavra no contexto em que se encontra. Os
dicionários léxicos da língua hebraica informam
que esse vocábulo, em geral, significa “segurança”
ou “convicção”, e explicam que seu campo
semântico se assemelha ao da palavra “confiança”.
[5] No texto hebraico, esse termo freqüentemente é
usado no “caso construto” com o verbo “habitar”, a
exemplo deste texto de Ezequiel, e ocorre 160 vezes
em toda a Bíblia Hebraica.[6] É usado nos livros de
Levítico e Deuteronômio como uma promessa feita
pelo Senhor de que, se o povo judeu obedecer à Lei
de Deus, Ele fará com que a nação de Israel habite
em segurança na sua terra (Lv 25.18,19; 26.5; Dt
12.10). Esse termo é usado em todos os livros
históricos e proféticos do Antigo Testamento como
um referencial que serve para aferir se Israel está ou
não habitando em segurança na terra. Na realidade,
essa frase é usada em Jeremias 49.31, num contexto
de invasão semelhante ao de Ezequiel 38, onde se
lê: “Levantai-vos, ó babilônios, subi contra uma nação
que habita em paz e confiada, diz o Senhor; que não
tem portas, nem ferrolhos; eles habitam a sós”. É o
mesmo sentido no qual o termo foi usado em
Ezequiel 38.8. “Entretanto, esse sentido geral
muitas vezes apresenta uma amplitude semântica
negativa [...] para indicar uma falsa segurança”.[7]
O contexto apóia a conotação de falsa segurança
nesta ocorrência do termo, em face da iminente
invasão. Por outro lado, é possível que o termo não
seja usado no sentido ilusório de falsa segurança,
porque Deus vai livrar miraculosamente a nação de
Israel.
Alguns intérpretes tentaram igualar a noção de
habitar seguramente com habitar pacificamente.
Eles dizem que essa passagem descreve uma
situação na qual Israel se encontra em paz com
todos os seus vizinhos e nenhum destes representa
uma ameaça para os judeus. Não se pode confirmar
essa noção pelo significado da palavra hebraica
betah, nem pelo contexto dessa passagem. Arnold
Fruchtenbaum comenta o seguinte: “Em nenhum
lugar desse texto há qualquer alusão de que Israel
estaria vivendo em paz. Pelo contrário, a descrição
é de que Israel estaria simplesmente habitando em
segurança, o que significa ‘confiança’, a despeito de
quanto dure um estado de guerra ou de paz. Nas
várias descrições que essa passagem apresenta sobre
Israel, pode-se comprovar que todas são verídicas
na realidade do Estado de Israel atual”.[8]
A última palavra hebraica dessa frase foi
traduzida pela expressão “...todos eles...”. A quem se
refere essa expressão? Só pode se referir a todos
aqueles que estiverem vivendo em segurança na
terra de Israel. Todos os que voltaram para os
montes de Israel habitam seguros. Charles Feinberg
conclui: “Por fim eles são retratados como
indivíduos que habitam em segurança; todos eles
vistos assim, sem medo de uma invasão ou de uma
deportação”.[9] Isso prepara o palco para os
comentários do próximo versículo, onde Deus
novamente se dirige a Gogue e a seu exército
invasor.

GOGUE SOBE AO ATAQUE


PERCEBE-SE QUE A AÇÃO
MENCIONADA NO VERSÍCULO
9 OCORRERÁ A PARTIR DO
MOMENTO QUE TODAS AS
CONDIÇÕES ESTABELECIDAS
NO VERSÍCULO 8 SE
CUMPRIREM. “JUSTAMENTE
QUANDO MENOS SE ESPERA E
SEM O MENOR AVISO, O
INIMIGO DESCERÁ NUMA
INVESTIDA CONTRA OS
EXILADOS QUE RETORNARAM,
COMO UMA TEMPESTADE
REPENTINA”.[10] O VERBO
HEBRAICO TRADUZIDO POR
“SUBIRÁS” É MUITO COMUM
E SE TORNA UMA EXPRESSÃO
IDIOMÁTICA QUANDO É
USADO NO CONTEXTO
MILITAR EM QUE ALGUÉM
SOBE PARA UMA BATALHA OU
, AINDA, NUMA REFERÊNCIA
À TERRA DE ISRAEL,
QUANDO ALGUÉM SOBE, A
DESPEITO DA DIREÇÃO DO
MOVIMENTO DESSA PESSOA.
UMA TEMPESTADE COM
DENSAS NUVENS DUAS
SÍMILES SÃO USADAS PARA
DESCREVER O MODO PELO
QUAL A INVASÃO LIDERADA
POR GOGUE OCORRERÁ. A
PRIMEIRA SÍMILE É “VIRÁS
COMO TEMPESTADE”. UM
DICIONÁRIO LÉXICO
HEBRAICO AFIRMA QUE O
USO DA PALAVRA
“TEMPESTADE” NESSE TEXTO
“SIGNIFICA REALMENTE
‘UMA TEMPESTADE QUE
IRROMPE DE FORMA
VIOLENTA E REPENTINA’”.
[11] ASSIM, A INVASÃO DE
ISRAEL POR GOGUE SERÁ
REPENTINA E INESPERADA
COMO UMA TEMPESTADE QUE
SE FORMA RAPIDAMENTE E,
LOGO EM SEGUIDA, LIBERA
SUA FÚRIA NUMA IRRUPÇÃO
QUE PEGA MUITA GENTE
DESPREVENIDA.
A segunda símile descreve o tamanho do
exército invasor na sua extensão e amplitude. O
verbo hebraico kassot [forma léxica: kassah] é usado
somente onze vezes na Bíblia Hebraica e possui a
conotação de não apenas “cobrir”, mas cobrir algo
com o propósito de ocultá-lo.[12] Dessa forma
vemos que o tamanho numérico dos exércitos
invasores comandados por Gogue será tão grande
que suas tropas cobrirão a terra a tal ponto de não
ser possível ver o solo sobre o qual elas se movem.
A última frase descritiva do versículo declara:
“...tu, e todas as tuas tropas, e muitos povos contigo”.
O pronome “tu” refere-se ao próprio Gogue. Como
foi descrito no capítulo anterior, Gogue virá com
todas as suas tropas. Em outras palavras, Gogue não
estará sozinho, pois contará com a expressiva
cooperação de diversos povos, já mencionados
anteriormente, como aliados nessa invasão à terra
de Deus, Israel. O rabino Fisch salienta que a
mesma descrição é usada no texto de Jeremias 4.13,
que diz: “Eis aí que sobe o destruidor como nuvens; os
seus carros, como tempestade; os seus cavalos são
mais ligeiros do que as águias. Ai de nós! Estamos
arruinados!”. Fisch, então, conclui que essa
descrição feita no texto de Ezequiel “é uma figura
do poderio e da aparência pavorosa dos exércitos
de Gogue que se aproximam”.[13] Feinberg afirma
que “a terra será coberta e sufocada pela imensa
multidão dos seguidores de Gogue, tal como uma
nuvem que encobre o território abaixo dela. Gogue
tomará todas as providências para ter muitos
aliados e para contar com um número suficiente de
mercenários que lhe possibilitem concretizar seu
plano satânico”.[14] É possível que Israel seja pego
de surpresa, mas o Senhor Deus de Israel nunca
“...dormita, nem dorme...”. Ele está de guarda e
lutará a favor de Israel quando essa terrível força
invasora vinda do norte surgir de repente na
história. Afinal de contas, o Senhor Deus de Israel é
quem dará início a esses acontecimentos ainda
futuros. Maranata!
NOTAS 1 A ÊNFASE EM ITÁLICO É ORIGINAL;
RABINO DR. S. FISCH, EZEKIEL: HEBREW TEXT &
ENGLISH TRANSLATION WITH AN INTRODUCTION AND
COMMENTARY, LONDRES: THE SONCINO PRESS,
1950, P.254-55.
2
Ludwig Koehler e Walter Baumgartner, The Hebrew and
Aramaic Lexicon of the Old Testament, versão eletrônica,
Leiden, Holanda: Koninklijke Brill, 2000.
3
Fisch, Ezekiel, p. 254.
4
Francis Brown, S. R. Driver, e C. A. Briggs, Hebrew and
English Lexicon of the Old Testament, Londres: Oxford,
1907, edição eletrônica.
5
Brown, Driver, e Briggs, Hebrew Lexicon, edição eletrônica;
bem como, Koehler e Baumgartner, Hebrew Lexicon,
versão eletrônica.
6
Baseado em pesquisa realizada através do programa de
computador Accordance, versão 7.4.2.
7
G. Johannes Botterweck, e Helmer Ringgren, orgs.,
Theological Dictionary of the Old Testament, vol. II, Grand
Rapids: Eerdmans, 1977, p. 89.
8
Arnold Fruchtenbaum, Footsteps of the Messiah: A Study of
the Sequence of Prophetic Events, Tustin, CA: Ariel Press,
(1982) 2003, p. 117.
9
Charles Lee Feinberg, The Prophecy of Ezekiel, Chicago:
Moody Press, 1969, p. 222.
10
Feinberg, Ezekiel, p. 222.
11
Koehler e Baumgartner, Hebrew Lexicon, versão eletrônica.
12
Brown, Driver, e Briggs, Hebrew Lexicon, edição eletrônica;
bem como, Koehler e Baumgartner, Hebrew Lexicon,
versão eletrônica.
13
Fisch, Ezekiel, p. 255.
14
Feinberg, Ezekiel, p. 222.
14. EZEQUIEL
38.10-12

“Assim diz o Senhor Deus: Naquele dia, terás


imaginações no teu coração e conceberás mau
desígnio; e dirás: Subirei contra a terra das
aldeias sem muros, virei contra os que estão em
repouso, que vivem seguros, que habitam, todos,
sem muros e não têm ferrolhos nem portas; isso
a fim de tomares o despojo, arrebatares a presa
e levantares a mão contra as terras desertas que
se acham habitadas e contra o povo que se
congregou dentre as nações, o qual tem gado e
bens e habita no meio da terra”.

Os versículos 10 a 13 registram as intenções


dos invasores. O Deus da Bíblia não tem a menor
dificuldade de conhecer os pensamentos e
intenções da mente e do coração de uma pessoa
(Hb 4.12-13) para, assim, nos revelar as motivações
de alguém. Ainda que o Senhor ponha “...anzóis no
[...] queixo...” de Gogue para trazer os invasores à
terra de Israel, o processo do pensamento humano
se revela nessa parte do texto.

MÁS INTENÇÕES A
EXPRESSÃO “O SENHOR DEUS”
É UM DESIGNATIVO QUE
DENOTA “O SOBERANO
SENHOR DAS NAÇÕES”.[1] A
EXPRESSÃO “NAQUELE DIA”
É UMA REFERÊNCIA AO
TRECHO ANTERIOR QUE
MENCIONA O FATO DE
ISRAEL ESTAR NOVAMENTE
ESTABELECIDO NA SUA
TERRA, ALÉM DE FAZER
ALUSÃO AO MOMENTO EM QUE
A INVASÃO OCORRERÁ. É
NAQUELE DIA QUE
“...TERÁS IMAGINAÇÕES NO
TEU CORAÇÃO...”. O TERMO
HEBRAICO TRADUZIDO POR
“IMAGINAÇÕES” É DAVAR,
UM SUBSTANTIVO MUITO
USADO QUE, DEPENDENDO DO
CONTEXTO, SE TRADUZ EM
GERAL POR “PALAVRA”,
“DISCURSO” OU “COISA”.
[2] NESSE CONTEXTO EM
QUESTÃO, O VOCÁBULO QUE
MELHOR TRADUZ ESSA
PALAVRA HEBRAICA “NÃO
SERIA O TERMO
‘PALAVRAS’, MAS, SIM,
‘COISAS’ QUE VÊM À MENTE
DELE. OS VERSÍCULOS 11 E
12 NOS DIZEM QUE COISAS
SERIAM ESSAS”.[3] A
LÍNGUA HEBRAICA NÃO
POSSUI UMA PALAVRA QUE
DESIGNE “MENTE”, APESAR
DE SER ESTE O TERMO
USADO NA TRADUÇÃO
INGLESA [I.E., THE NEW
AMERICAN STANDARD BIBLE;
O TERMO INGLÊS “MIND”]
DA QUAL FAÇO CITAÇÕES EM
TODOS OS CAPÍTULOS DESSA
SÉRIE DE ESTUDOS. ESSE É
SEGURAMENTE O SENTIDO DA
PALAVRA HEBRAICA LEVAV,
QUE FOI TRADUZIDA POR
“MENTE” [N. DO T.:
INCLUSIVE EM ALGUMAS
TRADUÇÕES DA BÍBLIA EM
PORTUGUÊS] E QUE
SIGNIFICA BASICAMENTE
“HOMEM INTERIOR” OU
“CORAÇÃO”.[4] DESSE
MODO, A ATIVIDADE
INTERNA DE PENSAR FOI
ATRIBUÍDA AO “CORAÇÃO”.
NO CONTEXTO DESSA
PASSAGEM, O TEXTO FAZ
ALUSÃO A COISAS QUE SE
PASSARÃO NO HOMEM
INTERIOR, AS QUAIS
SERIAM “PENSAMENTOS”.
O versículo 10 se conclui com a frase “...e
conceberás mau desígnio”. No texto original tal frase
se compõe de três palavras hebraicas. “Conceberás”
é o verbo hebraico hashav que significa “tecer” e,
quando diz respeito ao coração ou à mente,
comunica a idéia de elaborar, maquinar ou
conceber um plano.[5] O substantivo procede
exatamente da mesma raiz do verbo. Nesse caso,
uma tradução literal expressaria a idéia de
“conceber pensamentos”. Contudo, se a terceira
palavra dessa frase é um adjetivo que significa
“mau”,[6] não resta mais dúvida de que o sentido
desse texto se refere a um plano maligno concebido
contra o povo escolhido de Deus, Israel. Portanto,
esse versículo parece nos dizer que, embora a idéia
geral de atacar Israel seja um desdobramento do
plano soberano de Deus (Ez 38.4), os detalhes são
concebidos e desenvolvidos na mente de Rôs e de
seus comparsas invasores. Em virtude de se
caracterizar como uma conspiração ou plano
humano, Rôs e seus aliados agressores são
responsabilizados.

A REVELAÇÃO DO PLANO A
TRAMA MALIGNA É
DESVENDADA NO VERSÍCULO
11. OS PENSAMENTOS
PERVERSOS DE RÔS
ANUNCIAM: “SUBIREI CONTRA
A TERRA DAS ALDEIAS SEM
MUROS...”. O VERSÍCULO 11
RELATA A PERCEPÇÃO DE
RÔS ACERCA DO
REAGRUPAMENTO DE ISRAEL
NAQUELE MOMENTO DA
HISTÓRIA. NÃO HÁ NENHUMA
RAZÃO PARA SE PENSAR QUE
A DESCRIÇÃO FEITA POR
RÔS É INCORRETA. O VERBO
ORIGINAL TRADUZIDO POR
“SUBIR” É UM TERMO MUITO
COMUM NO HEBRAICO E QUER
DIZER “ASCENDER, SUBIR”.
É COMUMENTE USADO EM
REFERÊNCIA A ALGUÉM QUE
SE DIRIGE À TERRA DE
ISRAEL OU À JERUSALÉM
ORIUNDO DO EXTERIOR. NÃO
EXISTE NENHUMA NUANCE
MILITAR NO CAMPO
SEMÂNTICO DESSE
VOCÁBULO.[7] NESSE
TEXTO, A TERRA DE ISRAEL
É DESCRITA DESTAS QUATRO
SEGUINTES MANEIRAS: 1)
“...TERRA DAS ALDEIAS SEM
MUROS...”; 2) “...OS QUE
ESTÃO EM REPOUSO...”; 3)
“...QUE VIVEM SEGUROS...”;
E, 4) “...QUE HABITAM,
TODOS, SEM MUROS E NÃO TÊM
FERROLHOS NEM PORTAS...”.
A primeira caracterização de Israel como uma
terra de aldeias sem muros implica que eles não
construirão muralhas de proteção ao redor de suas
aldeias como nos tempos antigos. Randall Price
comenta o seguinte: “Só a Cidade Antiga de
Jerusalém tem um muro e a parte moderna da
cidade permanece fora desse muro desde o fim do
século dezenove”.[8] Isso provavelmente significa
que a nação de Israel ficará sem proteção contra
invasores, já que, nos tempos antigos, essa era a
finalidade de se construir muralhas. O rabino Fisch
declara: “Israel não terá feito nenhum preparativo
no sentido de construir muros ao redor das cidades
para se precaver contra algum ataque”.[9]
A segunda frase descreve um povo que está
em repouso. O particípio hebraico shaqat retrata
um povo que está “quieto, calmo, tranqüilo e
descansando”.[10] Esse verbo foi usado com
freqüência nos livros de Josué e Juízes para
salientar a tranqüilidade e o descanso resultantes
das vitórias militares de Israel sobre os cananeus, à
medida que os hebreus conquistavam a terra sob a
liderança de Josué.[11] Tal termo diz respeito a
serenar ou descansar de conflitos militares. O
terceiro termo hebraico é betah que ocorre no
versículo 8. Já verificamos anteriormente que essa
palavra se refere a Israel vivendo em segurança, o
que implica confiança.[12]
A quarta caracterização retrata todos eles
vivendo sem muros, sem ferrolhos e sem portas. Já
vimos antes que viver literalmente sem muros
implica que nenhuma de suas cidades ou vilas terá
aquilo que os antigos construíam para conter um
exército invasor. Essa imagem é reforçada pela
informação de que eles não terão ferrolhos, nem
portas, obviamente porque suas cidades não terão
muros. Ferrolhos e portas eram dispositivos de
defesa muito importantes localizados nas muralhas
das cidades da antiguidade.
O que isso significa em relação à invasão? Em
primeiro lugar, essa passagem apresenta a situação
da perspectiva de Gogue, o qual pensa que Israel
não se encontra devidamente protegido e, por isso,
está vulnerável a um ataque-surpresa. Em segundo
lugar, Price salienta que “a segurança de Israel se
baseia no poderio de suas forças armadas, as quais
são consideradas dentre as melhores do mundo e já
têm defendido o país contra adversidades
avassaladoras em várias invasões ocorridas no
passado”.[13] Em terceiro lugar, tais condições
nunca se concretizaram na história de Israel em
momento algum do passado, de modo que só pode
se referir a um tempo ainda futuro, como já
verificamos pela análise das expressões “depois de
muitos dias” e “no fim dos anos” (Ez 38.8). Keil
assevera: “Esta descrição do modo de vida de Israel
também aponta para tempos posteriores que vão
muito além da época do exílio na Babilônia”.[14]

EM BUSCA DE DINHEIRO NO
VERSÍCULO 12, DEUS
REVELA DUAS RAZÕES QUE
EXPLICAM A MOTIVAÇÃO DE
GOGUE AO INVADIR ISRAEL
NO FUTURO. TAIS RAZÕES
SÃO INDICADAS POR ESTAS
DUAS ORAÇÕES ADVERBIAIS
DE FINALIDADE: A
PRIMEIRA É: “...A FIM DE
TOMARES O DESPOJO...”; A
SEGUNDA É: “...ARREBATARES
A PRESA...”. EM AMBOS OS
CASOS O TEXTO HEBRAICO
UTILIZA A MESMA PALAVRA
POR DUAS VEZES, A SABER,
UM VERBO NO MODO
INFINITIVO SEGUIDO POR
UM SUBSTANTIVO CONSTRUTO
AO VERBO, A FIM DE EXPOR
O MOTIVO DE GOGUE PARA
ESSA INVASÃO.
A primeira frase: “...a fim de tomares o
despojo...”, procede da palavra-raiz hebraica shalal e
significa “reunir-se ou ajuntar-se com a finalidade
de roubar ou saquear”.[15] Portanto, uma vez que o
verbo e o substantivo originam-se da mesma raiz
hebraica, seu significado seria algo como “despojar
o despojo”. No entanto, essa construção gramatical
não soa bem em outras línguas. A construção
pleonástica hebraica seria traduzida com mais
propriedade pela expressão “apreender o despojo”,
mesmo que na tradução se perca a noção de que
ambas as palavras originais procedem da mesma
raiz hebraica.
A segunda frase pleonástica hebraica,
traduzida por “...arrebatares a presa...”, procede da
raiz hebraica bazaz e significa “saquear, pilhar,
despojar, roubar”.[16] Dessa forma, o sentido em
hebraico seria: “espoliando o espólio”. O termo
original comunica a idéia de dividir o espólio ou
despojo apreendido num ataque ou conquista
militar. Assim, o motivo claro para essa invasão é
de obter riqueza e bens materiais. Charles Feinberg
assinala o seguinte: “O inimigo, ávido pela riqueza
de Israel, embarcará numa campanha de
dominação militar que visa o lucro”.[17]
O restante do versículo 12 reforça as duas
declarações de abertura referentes à motivação de
Gogue para invadir Israel. Uma terceira oração
adverbial de finalidade afirma: “...para tornares a
tua mão contra os lugares desertos que se acham
presentemente habitados, e contra o povo que foi
congregado dentre as nações, o qual adquiriu gado e
bens...” (Tradução Brasileira). A noção de “alguém
tornar a sua mão contra” projeta a imagem de uma
pessoa que dá uma virada de 180 graus, mudando
da direção em que estava para empreender um
ataque na outra direção. Isso é descrito no versículo
10, à medida que Gogue elabora um plano maligno,
porém deve ser visto como um instrumento
humano que faz parte de todo aquele processo
originalmente iniciado pelo próprio Deus (Ez 38.2-
4). A imagem retratada na última parte do versículo
12 piora a situação dos maus pensamentos de
Gogue, por fazer alusão ao retorno de Israel à sua
terra, a qual, durante a ausência dos judeus, ficara
desolada e desértica, mas, com o regresso deles, se
torna uma terra produtora de riqueza, a tal ponto
de Gogue e seus aliados invasores quererem invadi-
la para tomar essa riqueza para si. Israel já
sobreviveu mais de 2 mil anos de dispersão entre as
nações e Deus tem trazido os judeus de volta à sua
terra, na qual eles se tornam altamente produtivos e
prósperos, para que Gogue e seus aliados sejam
instigados a atacá-los com o intuito de roubar as
riquezas recém-adquiridas de Israel. Maranata!
NOTAS 1 MERRILL F. UNGER, UNGER’S
COMMENTARY ON THE OLD TESTAMENT,
CHATTANOOGA, TN: AMG PUBLISHERS, (1981)
2002, P. 1578.
2
Francis Brown, S. R. Driver, e C. A. Briggs, Hebrew and
English Lexicon of the Old Testament, Londres: Oxford,
1907, edição eletrônica.
3
C. F. Keil, Ezekiel, Daniel, Commentary on the Old
Testament, traduzido para o inglês por James Martin;
reimpressão, Grand Rapids: Eerdmans Publishing
Company, 1982, p. 164.
4
Brown, Driver, e Briggs, Hebrew Lexicon, edição eletrônica.
5
Ludwig Koehler e Walter Baumgartner, The Hebrew and
Aramaic Lexicon of the Old Testament, versão eletrônica,
Leiden, Holanda: Koninklijke Brill, 2000.
6
Brown, Driver, e Briggs, Hebrew Lexicon, edição eletrônica.
7
Koehler e Baumgartner, Hebrew Lexicon, versão eletrônica.
8
Randall Price, Comentários Não Publicados Sobre as
Profecias de Ezequiel, 2007, p. 40.
9
S. Fisch, Ezekiel:Hebrew Text & English Translation With An
Introduction and Commentary, Londres: The Soncino
Press, 1950, p.255.
10
Brown, Driver, e Briggs, Hebrew Lexicon, edição eletrônica.
11
Ver: Josué 11.23; 14.15; Juízes 3.11,30; 5.31; 8.28.
12
Ver, Thomas Ice, “Ezekiel 38 and 39, Part XIII,” no periódico
Pre-Trib Perspectives, edição de Fevereiro de 2008, p. 6-
7.
13
Price, Comentários Não Publicados de Ezequiel, p. 40-41.
14
Keil, Ezekiel, p. 165.
15
Koehler e Baumgartner, Hebrew Lexicon, versão eletrônica.
16
Brown, Driver, e Briggs, Hebrew Lexicon, edição eletrônica.
17
Charles Lee Feinberg, The Prophecy of Ezekiel, Chicago:
Moody Press, 1969, p. 222.
15. EZEQUIEL
38.12-13

“...isso a fim de tomares o despojo, arrebatares a


presa e levantares a mão contra as terras
desertas que se acham habitadas e contra o povo
que se congregou dentre as nações, o qual tem
gado e bens e habita no meio da terra. Sabá e
Dedã, e os mercadores de Társis, e todos os seus
governadores rapaces te dirão: Vens tu para
tomar o despojo? Ajuntaste o teu bando para
arrebatar a presa, para levar a prata e o ouro,
para tomar o gado e as possessões, para saquear
grandes despojos?”

Por duas vezes o livro de Ezequiel menciona


que Israel e Jerusalém habitam no centro da terra.
“Assim diz o Senhor Deus: Esta é Jerusalém; pu-la no
meio das nações e terras que estão ao redor dela” (Ez
5.5). O rabino Fisch afirma: “Baseando-se em
Ezequiel, Dante situa Jerusalém no centro do
mundo, tendo o rio Ganges como limite a leste e as
colunas de Hércules como limite a oeste”.[1] Israel
e sua cidade principal, Jerusalém, foram criados
por Deus e posicionados no centro da Terra para
que possam ser uma luz para as nações, conforme o
Senhor expressara o desejo de usar essa nação para
propagar Sua mensagem pelo mundo inteiro. O
rabino Fisch assinala: “Jerusalém foi instituída para
ser o centro de irradiação do conhecimento de
Deus para todos os povos”.[2] É nesse contexto que
a passagem de Ezequiel 38.12 faz alusão ao fato de
que a nação de Israel se situa “...no meio da terra...”.

ISRAEL: O CENTRO DO
MUNDO NA TRADUÇÃO QUE
COSTUMO USAR DA BÍBLIA
EM INGLÊS, A THE NEW
AMERICAN STANDARD BIBLE,
A PALAVRA HEBRAICA
TRADUZIDA POR “MUNDO” É,
NA REALIDADE, O TERMO
GERALMENTE USADO PARA
DESIGNAR “TERRA”. O
TERMO HÁ’ARETZ OCORRE
MAIS DE 2.500 VEZES NO
ANTIGO TESTAMENTO
HEBRAICO[3] E É USADO EM
CINCO SENTIDOS BÁSICOS:
1) SOLO, TERRA; 2) UMA
DETERMINADA ÁREA DE
TERRA; 3) UM TERRITÓRIO
OU PAÍS; 4) TODO O
PLANETA TERRA; 5) AS
PROFUNDEZAS DA TERRA OU
MUNDO SUBTERRÂNEO.[4]
NESSE CONTEXTO DE
EZEQUIEL TRATA-SE DE UMA
CLARA REFERÊNCIA À TERRA
INTEIRA. É IMPORTANTE
SALIENTAR QUE O TEXTO
ORIGINAL UTILIZA A
PALAVRA “TERRA” EM VEZ
DE “MUNDO”, JÁ QUE A
PALAVRA “MUNDO” PODE
DENOTAR A DIMENSÃO
POPULACIONAL, NÃO A
DIMENSÃO GEOGRÁFICA
TERRITORIAL. ESSE TEXTO
ENFATIZA O FATO DE ESTAR
SITUADO NO CENTRO DE
TODA A EXTENSÃO
TERRITORIAL DA TERRA – O
UMBIGO GEOGRÁFICO. O
VOCÁBULO HEBRAICO
TRADUZIDO POR “MEIO” OU
“CENTRO” SIGNIFICA
LITERALMENTE “O UMBIGO”,
[5] TAL “COMO O UMBIGO
SE SITUA NO CENTRO DO
CORPO HUMANO”.[6]
Por que a localização de Israel é mencionada
nesse trecho da passagem? Concordo com esta
opinião do rabino Fisch: “Isso é mencionado para
enfatizar a malignidade do plano de Gogue. Este
habita no extremo norte, a uma grande distância da
terra de Israel, de modo que o povo judeu não
poderia ter nenhum projeto agressivo contra ele”.
[7] C. F. Keil faz eco dessa concepção do rabino
Fisch, descrevendo-a como um dos dois motivos
pelos quais Gogue e seus aliados intentam a
invasão: Essa expressão figurada precisa ser
explicada a partir do texto de Ezequiel 5.5: “...Esta é
Jerusalém; pu-la no meio das nações e terras que estão
ao redor dela”. O umbigo não é o tipo de figura de
linguagem que denote as montanhas, mas significa
o território situado no meio da Terra. Portanto,
trata-se da terra mais gloriosa e mais ricamente
abençoada; por conseguinte, os que lá habitam
ocupam a posição mais exaltada entre as nações.
Nesse caso, o desejo cobiçoso de se apoderar dos
bens do povo de Deus e a inveja de sua posição
exaltada no centro do mundo são os motivos que
impelem Gogue a ingressar na sua empreitada
predatória contra o povo que vive em profunda
paz.[8]
A crença de que Israel possui um status
especial e se encontra numa exclusiva localização
global, elucida esta famosa declaração rabínica,
resultante dessas duas passagens do livro de
Ezequiel: Assim como o umbigo se encontra no
centro do corpo humano, assim também a terra de
Israel é o umbigo do mundo [...] situada no centro
do mundo, de modo que Jerusalém se situa no
centro da terra de Israel; o Santuário se situa no
centro de Jerusalém; o Santo dos Santos se situa no
centro do Santuário; a Arca da Aliança se situa no
centro do Santo dos Santos; e a pedra fundamental
diante do Santo dos Santos, porque a partir dela o
mundo foi fundado.[9]
Muitos comentaristas que já analisaram esse
texto enfatizam que, do ponto de vista humano, o
lucro econômico é o único motivo da invasão
empreendida por Gogue. Entretanto, essa última
frase do versículo 12 deixa claro que eles também
invadirão aquela terra por inveja do status especial
que Deus conferiu a Israel e, por conseguinte, de
sua exclusiva localização geográfica.

SABÁ E DEDÃ QUEM SÃO


SABÁ E DEDÃ? “NÃO É
DIFÍCIL IDENTIFICAR SABÁ
E DEDÃ. ELES SE
LOCALIZAM NO PAÍS QUE
ATUALMENTE SE DENOMINA
ARÁBIA SAUDITA”.[10]
ARNOLD FRUCHTENBAUM
ESCLARECE: “SABÁ E DEDÃ
SÃO DISTRITOS SITUADOS
NO NORTE DA ARÁBIA”.[11]
CONFORME É INDICADO NO
CONTEXTO DESSA PASSAGEM,
ESSES DOIS POVOS ERAM
CONHECIDOS POR SUA
ATIVIDADE COMERCIAL, DAÍ
SEU INTERESSE EM QUE O
VIZINHO ISRAEL SEJA
INVADIDO POR GOGUE, A
SABER, “...PARA TOMAR O
DESPOJO...”. RANDALL PRICE
LOCALIZA SABÁ NO QUE
HOJE SE CONHECE COMO
IÊMEN, SITUANDO-O NA
REGIÃO SUL DA PENÍNSULA
ARÁBICA E LOCALIZA DEDÃ
NA ATUAL ARÁBIA SAUDITA.
[12] A DESPEITO DE SUA
LOCALIZAÇÃO EXATA NA
PENÍNSULA ARÁBICA, NÃO
PARECE HAVER NENHUMA
DÚVIDA DE QUE SEJA UMA
REFERÊNCIA À ARÁBIA
SAUDITA E TALVEZ A
OUTROS PAÍSES ÁRABES QUE
OCUPAM ATUALMENTE AQUELA
PENÍNSULA.
TÁRSIS O TEXTO REVELA
QUE SABÁ E DEDÃ ESTÃO EM
PERFEITA SINTONIA COM
“...OS MERCADORES DE TÁRSIS,
E TODOS OS SEUS
GOVERNADORES RAPACES...”.
O QUE SIGNIFICA A FRASE:
“OS MERCADORES DE TÁRSIS”?
SEMELHANTE ÀQUELES DE
SABÁ E DEDÃ, O TEXTO
INFORMA QUE ELES SÃO
NEGOCIANTES OU
COMERCIANTES. MAS ONDE
TÁRSIS SE LOCALIZAVA?
Ao que parece, Társis era uma rica
comunidade comercial situada num dos extremos
do mundo mediterrâneo. “Társis é o antigo nome
de Tartessos, situada na Espanha dos dias atuais”.
[13] Essa concepção é corroborada por obras
clássicas de referência da língua hebraica.[14] Por
exemplo, Ludwig Koehler e Walter Baumgartner
afirmam o seguinte no seu dicionário léxico da
língua hebraica: “Estes apontam para a Espanha
com sua riqueza em recursos minerais. Társis pode
ter sido uma cidade localizada na região da foz do
rio Guadalquivir. Apesar de algumas variações, esse
é provavelmente o ponto de vista mais aceito na
atualidade”.[15] “Lemos frequentemente no Antigo
Testamento a expressão “navios de Társis”, numa
referência a embarcações de grande porte para
navegação em alto mar (Ez 27.25), que
transportavam todo tipo de carga preciosa,
especialmente metais como prata e ouro (1Rs 10.22;
22.49; 2Cr 9.21; Is 60.9; Jr 10.9; Ez 38.13), além de
ferro, estanho e chumbo (Ez 27.12)”.[16]
O Dr. Barry Fell, professor em Harvard,
elaborou um estudo exaustivo sobre essas questões
e sua relação com as atividades na América pré-
colombiana. O Dr. Fell declara o seguinte: Na
Bíblia temos a informação de que os “navios de
Társis” eram as maiores embarcações marítimas de
que se tem conhecimento no mundo semítico e
esse designativo acabou por ser aplicado a qualquer
navio grande para travessias marítimas [...] os
navios de Társis se tornaram proverbiais como uma
expressão de poderio marítimo [...]
Não é improvável que os mercadores de Társis tenham alguma
relação com a migração transatlântica dos celtas, quando vieram
para a América. Na verdade, James Whittall, com quem discuti a
decifração das inscrições de Tartessos aqui nos Estados Unidos,
acha que os celtas americanos foram propositalmente trazidos para
cá pelos fenícios, os quais desejavam fomentar o desenvolvimento
de comunidades mineradoras dedicadas à exploração dos recursos
naturais americanos, para que pudessem comercializar com essas
comunidades. Se essa hipótese estiver correta, as embarcações de
Tartessos certamente desempenharam um importante papel na
migração dos celtas para a Nova Inglaterra.[17]

Parece ser uma base relevante para dar apoio à


concepção de que os mercadores de Társis estão
relacionados com os navegadores fenícios que
viveram há 3 mil anos. Tais mercadores
obviamente estabeleceram entrepostos comerciais
espalhados ao longo das diversas rotas que
percorriam. O Dr. McBirnie talvez esteja muito
certo quando conclui o seguinte: Foi somente nos
últimos seis anos que se lançou bastante luz sobre a
localização histórica da antiga Társis. Ensaios
acadêmicos publicados em revistas arqueológicas e
livros escritos antes disso, parecem ter valor
bastante limitado. Em alguns casos, confundem
mais do que ajudam, apesar do prestigio de seus
autores. As razões da certeza nessa identificação se
encontram nas recentes descobertas arqueológicas
que confirmam o fato de que os especialistas do
passado estavam corretos durante todo o tempo
quando identificaram Társis como uma potência
colonizadora situada na Europa Ocidental, com
sede na Espanha.[18]
Assim, a expressão “mercadores de Társis”
parece se referir à comunidade comercial e
marítima dos fenícios, que há 3 mil anos se situava
na Espanha, durante a época do rei Salomão. Nos
últimos 500 anos, os mercadores de Társis se
desdobraram naquelas que hoje são as nações
mercantilistas da Europa Ocidental, tais como: a
Espanha, a Holanda e a Grã-Bretanha. Hitchcock
conclui nos seguintes termos: “Társis, ou a Espanha
da atualidade, pode ter sido usada por Ezequiel
para representar todas as nações ocidentais com as
quais a Arábia Saudita vai se unir para revelar essa
invasão [...] É muito provável que Ezequiel tenha
usado a longínqua colônia de Társis no extremo
oeste para tipificar o império do Anticristo no final
dos tempos”.[19] Maranata!
NOTAS 1 S. FISCH, EZEKIEL: HEBREW TEXT &
ENGLISH TRANSLATION WITH AN INTRODUCTION AND
COMMENTARY, LONDRES: THE SONCINO PRESS,
1950, P. 25.
2
FISCH, Ezekiel, p. 25.
3
Baseado em pesquisa realizada através do programa de
computador Accordance, versão 7.4.2.
4
Ludwig KOEHLER e Walter BAUMGARTNER, The Hebrew and
Aramaic Lexicon of the Old Testament, versão eletrônica,
Leiden, Holanda: Koninklijke Brill, 2000.
5
KOEHLER e BAUMGARTNER, Hebrew Lexicon, versão eletrônica.
6
FISCH, Ezekiel, p. 25.
7
FISCH, Ezekiel, p. 25.
8
C. F. KEIL, Ezekiel, Daniel, Commentary on the Old
Testament, traduzido para o inglês por James Martin;
reimpressão, Grand Rapids: Eerdmans Publishing
Company, 1982, p. 166.
9
Midrash Tanchuma, Qedoshim.
10
Mark HITCHCOCK, After The Empire: Bible Prophecy in Light
of the Fall of the Soviet Union, Wheaton, IL:Tyndale House
Publishers, 1994, p. 100.
11
Arnold FRUCHTENBAUM, Footsteps of the Messiah:A Study of
the Sequence of Prophetic Events, Tustin, CA: Ariel Press,
(1982) 2003, p. 111.
12
Randall PRICE, “Ezekiel”, publicado na obra de Tim LaHaye e
Ed Hindson, orgs., The Popular Bible Prophecy
Commentary, Eugene, OR: Harvest House Publishers,
2007, p.191.
13
HITCHCOCK, After The Empire, p. 100-101.
14
Veja: Francis BROWN, S. R. DRIVER, e C. A. BRIGGS, orgs., The
New Brown-Driver-Briggs Hebrew Lexicon of the Old
Testament, Nova York: Oxford University Press, edição
revisada, 1977, p. 1076-77; e Wilhelm GESENIUS, Gesenius’
Hebrew & Chaldee Lexicon, Grand Rapids: Eerdmans
Publishing Company, 1949, p. 875.
15
KOEHLER e BAUMGARTNER, Hebrew Lexicon, versão eletrônica.
16
R. Laird HARRIS, Gleason J. ARCHER, Jr., e Bruce K. Waltke,
orgs., Theological Wordbook of the Old Testament, 2 Vols.,
Chicago: Moody Press, 1980, II:981.
17
Barry FELL, America B. C., Nova York: Pocket Books, 1976
(1989), p. 93-94.
18
W. S. MCBIRNIE, Antichrist, Dallas: Acclaimed Books, 1978,
p. 62.
19
HITCHCOCK, After The Empire, p. 101
16. EZEQUIEL
38.13-16

“...Sabá e Dedã, e os mercadores de Társis, e


todos os seus governadores rapaces te dirão:
Vens tu para tomar o despojo? Ajuntaste o teu
bando para arrebatar a presa, para levar a prata
e o ouro, para tomar o gado e as possessões,
para saquear grandes despojos? Portanto, ó filho
do homem, profetiza e dize a Gogue: Assim diz o
Senhor Deus: Acaso, naquele dia, quando o meu
povo de Israel habitar seguro, não o saberás tu?
Virás, pois, do teu lugar, dos lados do Norte, tu e
muitos povos contigo, montados todos a cavalo,
grande multidão e poderoso exército; e subirás
contra o meu povo de Israel, como nuvem, para
cobrir a terra. Nos últimos dias, hei de trazer-te
contra a minha terra, para que as nações me
conheçam a mim, quando eu tiver vindicado a
minha santidade em ti, ó Gogue, perante elas”.
Ao que parece, Sabá, Dedã e os mercadores de
Társis são claramente uma comunidade comercial
que não está envolvida na invasão, mas questiona,
de fora, a motivação dos invasores. “Vens tu para
tomar o despojo? Ajuntaste o teu bando para
arrebatar a presa, para levar a prata e o ouro, para
tomar o gado e as possessões, para saquear grandes
despojos?” Apesar de todo esse questionamento, eles
também deixam transparecer o que se passa no seu
íntimo e revelam as mesmas intenções dos
invasores, as quais também estão expressas no
versículo 12.

O OBJETIVO DOS INVASORES


UMA VEZ QUE A MAIOR
PARTE DO LINGUAJAR DOS
INVASORES SE EXPRESSA NO
VERSÍCULO 12, NÃO RESTA
NENHUMA DÚVIDA DE QUE,
EM TERMOS HUMANOS, O
OBJETIVO DOS INVASORES É
O DE ROUBAR A RIQUEZA DE
ISRAEL. AO LONGO DOS
ANOS, MUITOS
COMENTARISTAS DA BÍBLIA
TÊM ESPECULADO SOBRE
AQUILO QUE PERTENCE A
ISRAEL E QUE SERIA
OBJETO DO DESEJO DOS
INVASORES. ALGUNS DELES
JÁ ALEGARAM QUE SERIA A
RIQUEZA MINERAL DO MAR
MORTO, O RESERVATÓRIO
MAIS RICO EM SAIS
MINERAIS DO MUNDO.
CONTUDO, ARNOLD
FRUCHTENBAUM, RESSALVA O
SEGUINTE: “A RÚSSIA
TAMBÉM PODERIA OBTER OS
RECURSOS MINERAIS DO MAR
MORTO SE INVADISSE A
JORDÂNIA”.[1] QUAISQUER
QUE SEJAM OS FATORES
ESPECÍFICOS, UMA COISA É
CERTA: A DESCRIÇÃO
CUMULATIVA DOS
VERSÍCULOS 12 E 13 DEIXA
CLARO QUE ISRAEL TEM
RIQUEZA E QUE ELES
INVADIRÃO O TERRITÓRIO
DE ISRAEL PARA SE
APODERAREM DESSA
RIQUEZA.
Não há dúvida nenhuma de que Israel é, de
longe, o país mais rico daquela região. Hoje em dia,
o Estado de Israel demonstra ser uma economia
produtiva que cresce através de pesquisa e
desenvolvimento na área de tecnologia. Além disso,
em termos agrícolas, Israel é provavelmente o país
mais produtivo do mundo per capita. Já faz longo
tempo que Israel mantém a hegemonia na
comercialização de diamantes e é o líder mundial
na produção de produtos farmacêuticos genéricos.
A Wikipedia declara que “Israel é considerado um
dos países mais avançados do sudoeste da Ásia no
que se refere ao desenvolvimento econômico e
industrial [...] No ranking mundial das nações que
mais possuem empresas startup [N. do T.: Uma
empresa com custos de manutenção muito baixos,
mas que consegue crescer rapidamente e gerar
lucros cada vez maiores], Israel classifica-se em
segundo lugar (só perde para os Estados Unidos),
além do fato de ser o país, situado fora da América
do Norte, que conta com o maior número de
empresas participantes da NASDAQ”.[2]
Independente dos atrativos específicos que
instiguem tal invasão, esse texto bíblico deixa claro
que Israel será invadido com o propósito de
roubarem suas riquezas.

PROFECIA CONTRA GOGUE


UMA NOVA SEÇÃO COMEÇA
COM OS VERSÍCULOS 14-16.
DEUS UTILIZOU A
EXPRESSÃO “FILHO DO
HOMEM” POR 93 VEZES
NESTE LIVRO PARA SE
REFERIR AO PROFETA
EZEQUIEL.[3] SEGUNDO C.
F. KEIL, ESSA EXPRESSÃO
“DENOTA O HOMEM PELA
PERSPECTIVA DE SUA
CONDIÇÃO NATURAL [...]
IMPLICA A FRAQUEZA E
FRAGILIDADE DO HOMEM EM
CONTRASTE COM DEUS”.[4]
O RESTANTE DESSE
VERSÍCULO É UMA
REPETIÇÃO DE FRASES QUE
JÁ ANALISAMOS, COM
EXCEÇÃO DE UMA QUE DIZ:
“...NÃO O SABERÁS TU?” ESSA
FRASE É A TRADUÇÃO DE
APENAS DUAS PALAVRAS
HEBRAICAS. O VOCÁBULO
ORIGINAL TRADUZIDO POR
“NÃO” OCORRE NO COMEÇO
DESTA FRASE: “ACASO,
NAQUELE DIA, QUANDO O MEU
POVO DE ISRAEL...”. APESAR
DO TERMO ORIGINAL
TRADUZIDO POR “NÃO”
OCORRER NO MEIO DESSA
PASSAGEM, ESTÁ
RELACIONADO
GRAMATICALMENTE COM A
OUTRA PALAVRA ORIGINAL,
OU SEJA, O VERBO
HEBRAICO “SABER”, E
EXERCE A FUNÇÃO DE NEGÁ-
LO. KEIL EXPLICA COM
PRECISÃO NOS SEGUINTES
TERMOS: “TU SABERÁS, OU
PERCEBERÁS, QUE ISRAEL
HABITA SEGURO, LIVRE DE
QUALQUER EXPECTATIVA DE
UMA INVASÃO HOSTIL”.[5]
O RABINO FISCH FAZ ECO
ÀS PALAVRAS DE KEIL E
DIZ: “A SITUAÇÃO DE PAZ
E CONFIANÇA DE ISRAEL O
DEIXOU DESPREVENIDO, DE
MODO QUE TU O ESCOLHERÁS
PARA SER TUA VÍTIMA”.[6]
CHARLES FEINBERG
CONSIDERA A “SUPOSTA
SEGURANÇA” DE ISRAEL E
AFIRMA: “NÃO HÁ A MENOR
DÚVIDA DE QUE SE TRATA
DE UMA PERGUNTA
RETÓRICA. O SENHOR
DEMONSTROU PLENO
CONHECIMENTO DO FATO DE
QUE GOGUE ESTARÁ CIENTE
DA SITUAÇÃO POLÍTICA DE
ISRAEL, PARA TER A
CERTEZA DE QUE DEVE
ATACAR”.[7]
O Senhor continua a se dirigir a Gogue e
declara: “Virás, pois, do teu lugar...”. Onde é o lugar
de Gogue? Como está registrado no versículo 6,
Gogue é oriundo “...do extremo norte...” (cfe., Nova
Versão Internacional – NVI). Já analisamos essa
frase quando explicamos o versículo 6 e a expressão
hebraica é a mesma tanto naquele versículo quanto
neste, exceto pelo fato de que a preposição hebraica
de origem, traduzida por “do”, ocorre apenas no
versículo 15, ao passo que no versículo 6 ela está
implícita. Essa mesma expressão ainda aparece no
texto de Ezequiel 39.2. Assim, o texto por três vezes
destaca o fato de que Gogue virá das partes mais
remotas do norte. Jon Ruthven assinala: “É
impressionante que uma tribo do povo ‘meschera’,
cujo território incluía a área da atual cidade de
Moscou, capital do tradicional povo ‘Rus’, situa-se
precisamente ao norte de Israel”.[8] Se alguém
traçar uma linha reta vertical partindo de Jerusalém
em direção ao Polo Norte, passará muito perto de
Moscou. Na realidade, o único país que se localiza
no extremo norte, a partir do referencial geográfico
de Israel, é a Rússia. A região sul da Rússia começa
ao norte do mar Negro, de modo que a Rússia é o
único país cujo território inteiro está situado ao
norte do mar Negro. Já que não temos muitas
opções, “é uma chance em uma”, fica evidente que
Gogue é a Rússia, fato esse que confirma a outra
informação obtida até o presente momento na
análise de Ezequiel 38.
O restante do versículo 15 menciona o fato de
que Gogue virá com um exército enorme que
engloba muitos povos aliados a ele. Eu já analisei
esses termos em versículos anteriores dessa mesma
passagem.

POR QUE EU, SENHOR?


O versículo 16 conclui a seção na qual Deus
esclarece a “razão” pela qual Ele agirá
soberanamente na história para que a invasão de
Gogue a Israel se concretize. Esse versículo deixa
claro que o Senhor Deus de Israel vê essa invasão
liderada por Gogue como um ataque direto contra
Ele mesmo. Deus assevera a Gogue: “...subirás
contra o meu povo de Israel...”; “...hei de trazer-te
contra a minha terra...”; e, ainda, “...para que as
nações me conheçam a mim...” (grifo do autor em
negrito). Gogue descerá para invadir o imóvel de
propriedade de Deus, “como uma nuvem encobre a
terra”. Charles Dyer considera o seguinte: “Esse
espantoso exército passará por cima de todos os
obstáculos sem o menor esforço, tal como uma
nuvem que se move pelo céu”.[9] Essa será a
realidade até que Deus tome a decisão de intervir
em favor do Seu povo e da Sua terra.
Independente do que o mundo pensa e do que
os meios de comunicação vão dizer sobre Israel
naquele dia, o Senhor Deus declara que a nação
invadida é, conforme Suas próprias palavras, “o
meu povo de Israel”. Como o apóstolo Paulo escreve
acerca de Israel no Novo Testamento: “Deus não
rejeitou o seu povo, a quem de antemão conheceu...”
(Rm 11.2). Baseado em quê Paulo podia fazer tal
afirmação? Ele pôde dizer isso “...porque os dons e a
vocação de Deus são irrevogáveis” (Rm 11.29). No
entanto, muitas pessoas em nossos dias sofrem sob
o efeito ilusório e falso da “Teologia da
Substituição”, cuja concepção propõe que Deus
substituiu “o meu povo de Israel” pela Igreja. É
evidente que a Igreja, composta pelos eleitos de
Deus dentre os judeus e os gentios, também é o
povo de Deus na presente era. Contudo, Deus não
extinguiu o Israel étnico e nacional, pelo contrário,
Ele tornará a concentrar Sua atenção no povo judeu
após o Arrebatamento da Igreja.
O Senhor também chama a terra de Israel de
“a minha terra”. Em outras palavras, Seu povo de
Israel estará vivendo em Sua terra, que também se
denomina Israel, nos últimos dias, quando Gogue e
seu bando descerão para atacá-los. Portanto, esse
texto deixa muito claro que um ataque contra o
povo de Deus e contra a terra de Deus é um ataque
contra o próprio Deus. Essa é a razão pela qual,
apesar de Israel ser pego de surpresa e estar
desprevenido, Deus intervirá para defendê-lo. Com
que finalidade Ele defenderá Seu povo e Sua terra?
Ele os defenderá, segundo Suas próprias palavras,
“...para que as nações me conheçam a mim, quando
eu tiver vindicado a minha santidade em ti, ó Gogue,
perante elas” (Ez 38.16).
Essa seção do texto se encerra com a
declaração do propósito de Deus, que é o alvo final
e supremo, de trazer Gogue para que empreenda
um ataque contra o Seu povo “nos últimos dias” (Ez
38.14). O objetivo de Gogue, do ponto de vista
humano, já foi verificado anteriormente (Ez 38.10-
13), mas o propósito supremo é o de ensinar as
nações a reconhecerem o Senhor. Isso se
concretizará quando Deus Se utilizar de Gogue para
demonstrar Sua santidade perante as nações,
enquanto o mundo inteiro observa. Deus vai
mobilizar Gogue, tal como levantou a Faraó na
ocasião do Êxodo, para mostrar Seu poder e
santidade quando Ele, logo em seguida, o abater.
Fisch declara: “Embora tenhamos a informação de
que o propósito da campanha militar de Gogue seja
motivado pelo desejo cobiçoso de destruir e tomar
o despojo, tal ato foi projetado na sabedoria de
Deus para levar a humanidade à constatação de que
Ele é o Rei do universo”.[10] Portanto, a intenção
de Deus em tudo isso é a de demonstrar não só
quem Ele é, mas também aquilo que Ele valoriza
neste mundo. Ele é um Deus santo que deu aquela
terra a Israel e que conhece a maneira certa de
proteger Seu povo. Que todos nós aprendamos essa
lição. Maranata!
NOTAS 1 ARNOLD FRUCHTENBAUM, FOOTSTEPS OF THE
MESSIAH: A STUDY OF THE SEQUENCE OF PROPHETIC
EVENTS, TUSTIN, CA: ARIEL PRESS, (1982),
2003, P. 111.
2
Wikipédia, acessado em 13 de maio de 2008.
3
Baseado em pesquisa realizada através do programa de
computador Accordance, versão 7.4.2.
4
C. F. KEIL, Ezekiel, Daniel, Commentary on the Old
Testament, traduzido para o inglês por James Martin;
reimpressão, Grand Rapids: Eerdmans Publishing
Company, 1982, p. 47.
5
KEIL, Ezekiel, p. 167.
6
S. FISCH, Ezekiel: Hebrew Text & English Translation With An
Introduction and Commentary, Londres: The Soncino
Press, 1950, p. 256.
7
Charles Lee FEINBERG, The Prophecy of Ezekiel, Chicago:
Moody Press, 1969, p. 224.
8
Jon Mark RUTHVEN, The Prophecy That Is Shaping History:
New Research on Ezekiel’s Vision of the End, Fairfax, VA:
Xulon Press, 2003, p. 39.
9
Charles H. DYER, “Ezekiel”, publicado no The Bible
Knowledge Commentary: Old Testament, organizado por
John F. W ALVOORD e Roy B. ZUCK, Colorado Springs, CO:
Victor Books, 1985, p. 1301.
10
FISCH, Ezekiel, p. 257.
17. EZEQUIEL
38.17-19

“Assim diz o Senhor Deus: Não és tu aquele de


quem eu disse nos dias antigos, por intermédio
dos meus servos, os profetas de Israel, os quais,
então, profetizaram, durante anos, que te faria
vir contra eles? Naquele dia, quando vier Gogue
contra a terra de Israel, diz o Senhor Deus, a
minha indignação será mui grande. Pois, no
meu zelo, no brasume do meu furor, disse que,
naquele dia, será fortemente sacudida a terra de
Israel”.

À medida que entramos em mais uma seção


desse texto profético, verificamos que o Senhor se
dirige novamente a Ezequiel para predizer a futura
vitória de Deus sobre Gogue e seus aliados (Ez
38.17-23). Pela quinta e última vez no capítulo 38,
essa profecia é identificada como a palavra do
Senhor. Mark Hitchcock lembra o seguinte: “Em
Ezequiel 38–39 lemos por sete vezes estas mesmas
palavras: ‘Assim diz o Senhor Deus’ (Ez
38.1,10,14,17; 39.1,17,25). O refrão ‘diz o Senhor
Deus’ ainda ocorre por oito vezes. Fica evidente que
Deus não deseja que percamos de vista este fato:
Trata-se da Sua Palavra”.[1] Essa profecia começa
com a pergunta feita pelo Senhor a Gogue. Tal
indagação decorre do versículo anterior (Ez 38.16) e
diz respeito à forma pela qual o próprio Deus
vindicará Sua santidade aos olhos de Gogue e das
nações.

MAS, QUAL É A PERGUNTA?


É como se Deus estivesse provocando Gogue
com essa pergunta, a qual revela a absoluta
confiança de Deus no resultado desse encontro.
Nessa seção do texto profético (Ez 38.17-23), Deus
responde às perguntas: “O quê?” e “Como?”. A
primeira pergunta, “O quê?”, é respondida nos
versículos 17 e 18, ao passo que a segunda pergunta,
“Como?”, é respondida nos versículos 19 a 23. A
pergunta que confronta Gogue é a seguinte: “Não és
tu aquele de quem eu disse nos dias antigos, por
intermédio dos meus servos, os profetas de Israel, os
quais, então, profetizaram, durante anos, que te faria
vir contra eles?”. A construção gramatical hebraica
leva o leitor a esperar por uma resposta afirmativa.
[2] Mas, então, onde se encontram as outras
profecias do Antigo Testamento às quais o Senhor
se refere nesse texto? Randall Price responde a essa
indagação nos seguintes termos: A declaração
introdutória desta derrota (cf. versículo 17) parece
implicar que já havia alguma predição anterior
sobre a invasão liderada por Gogue nos escritos de
outros profetas. Entretanto, a ambiguidade desta
expressão “não és tu aquele...” (apesar de estar
subentendido, desde o versículo 16, que esse texto
se refere a Gogue), proferida por Deus no passado
remoto, revela que a referência está em aberto para
outros “Gogues” típicos, cujas ações contra Israel
incitaram uma poderosa demonstração de força da
parte de Deus. O exército de Gogue se constituirá
de tropas multinacionais e algumas das nações nele
representadas são alvo de profecias específicas
pronunciadas contra elas pelos antigos profetas de
Israel, a exemplo de: Cuxe/Etiópia (Isaías 18.1-7) e
Arábia (Isaías 21.13-17). Contudo, não há nenhuma
necessidade de qualquer referência direta feita a
Gogue por algum dos antigos profetas de Israel,
porque todos os invasores de outrora foram tipos
que apontam para Gogue e seus aliados como seu
antítipo.[3]
No versículo 18, o Senhor continua Sua
resposta à pergunta “O quê?”, referente à invasão da
terra de Israel por Gogue, ao asseverar: “...a minha
indignação subirá às minhas narinas...” [conforme a
Tradução Brasileira]. O Senhor utiliza três palavras
hebraicas para descrever Sua reação a essa invasão
da terra de Israel. Pela ordem em que elas ocorrem
no texto hebraico, verificamos que a primeira
palavra é ‘alah, um verbo hebraico de uso comum
que ocorre mais de 1.200 vezes no Antigo
Testamento Hebraico[4] e significa “ascender,
escalar, exaltar, elevar”,[5] mas nesse contexto se
traduz por “subirá”.
A segunda palavra é o substantivo hebraico
hema’, que significa “calor, peçonha ou veneno (de
animais), fúria, ira, raiva”[6], todavia nessa
passagem é traduzido por “indignação”. Esse
vocábulo ocorre 120 vezes na Bíblia Hebraica e a
maioria das suas ocorrências diz respeito à ira
humana ou divina (110 vezes).[7] O uso de hema’
em referência à ira humana ocorre apenas 25 vezes,
ao passo que esse termo hebraico é usado por 85
vezes para se referir à ira divina e a maioria das
ocorrências se encontra no livro de Ezequiel (31
vezes).[8] Assim, verificamos que ira justa do
Senhor se acumula e é liberada na história como
Sua indignação divina.
A terceira e última palavra hebraica utilizada
pelo Senhor nessa frase é o substantivo ‘af, que
significa “nariz, face, narina, ira”,[9] o qual ocorre
155 vezes no Antigo Testamento Hebraico[10] e se
traduz nessa frase pela expressão “minhas narinas”.
Os substantivos hebraicos ocorrem não apenas no
singular ou no plural, mas também podem se
apresentar na forma dual. “Quando o termo se
refere ao nariz, a forma singular é usada; todavia,
quando ocorre na forma dual, diz respeito à face ou
às narinas”.[11] Aqui nesse contexto, a indignação
do Senhor se expressa pela forma dual, numa
ênfase, portanto, às narinas, as quais se tornam
muito evidentes em alguns animais quando ficam
nervosos e começam a resfolgar pelas narinas,
bufando de raiva. Então, os termos hema’ e ‘af são
classificados juntos em referência a Deus aqui nessa
frase, de forma que a expressão denota o tipo mais
forte da ira de Deus, aquele tipo de indignação que
leva à ação. Keil descreve tal ocorrência como uma
“expressão de antropopatismo, a saber, ‘minha ira
sobe até o meu nariz’ [...] A explosão de ira se
mostra na respiração intensa, quando o homem
encolerizado inspira e expira pelo nariz”.[12] A
nítida mensagem desse texto é a de que Deus
chegou ao limite de Sua paciência e, a partir
daquele momento, Seus atos de indignação jorrarão
contra Gogue e seus aliados.

COMO ISSO VAI ACONTECER?


A última seção do capítulo 38 (versículos 19-
23) inicia com uma revelação feita pelo Senhor
sobre a atitude que terá para defender Seu povo,
Israel. A primeira parte do versículo 19 declara:
“...no meu zelo, no brasume do meu furor...”. Mais
uma vez, essa frase contém três importantes
palavras hebraicas no texto original, as quais
demonstram que o dicionário léxico não esgotou o
campo semântico dos termos no versículo anterior,
quando descreveu a grande indignação dirigida
contra Gogue e os outros invasores. A primeira
palavra é o substantivo hebraico qin’ah, traduzido
por “zelo”, que ocorre 17 vezes no Antigo
Testamento Hebraico e a maioria das ocorrências
se encontra em Ezequiel (7 vezes).[13] Seu
significado básico é o de “zelo” por algo (nesse caso,
o zelo de Deus por Sua valiosa propriedade neste
mundo, Israel), bem como o “ciúme” e a
“indignação” que se manifestam quando outra
pessoa tenta invadir e tomar posse daquela
propriedade.[14] Chega-se a uma compreensão
mais clara da atitude do Senhor para com Seu povo
e Sua terra, a terra de Israel, dois capítulos antes,
onde se lê no livro de Ezequiel o seguinte:
“Portanto, assim diz o Senhor Deus: Certamente, no
fogo do meu zelo [i.e., “ciúme”], falei contra o resto
das nações e contra todo o Edom. Eles se apropriaram
da minha terra, com alegria de todo o coração e com
menosprezo de alma, para despovoá-la e saqueá-la.
Portanto, profetiza sobre a terra de Israel e dize aos
montes e aos outeiros, às correntes e aos vales: Assim
diz o Senhor Deus: Eis que falei no meu zelo [i.e.,
“ciúme”] e no meu furor, porque levastes sobre vós o
opróbrio das nações” (Ezequiel 36.5-6; grifo do autor
em negrito).
O mesmo ciúme que Deus expressa no
capítulo 36 se consuma em Ezequiel 38.19, no que
se refere à esposa de Javé, Israel. Charles Feinberg
afirma: “A paciência de Deus se esgotaria com as
repetidas tentativas dos inimigos de aniquilar Israel.
O próprio Senhor se encarregará da destruição dos
inimigos de Israel, não optando pela ajuda de
nenhum agente secundário por se tratar de um
juízo cabal e irreversível”.[15]
O segundo substantivo que encontramos nessa
passagem é o vocábulo hebraico ‘esh, que significa
“fogo” e foi traduzido por “brasume”.[16] A
terceira palavra do texto hebraico é ‘evrah, que foi
traduzida por “furor”[17] no versículo 19 e está
numa relação de construto com o termo
“brasume”. Quando considerados juntos, esses dois
termos formam a declaração mais forte sobre a ira
de Deus que se pode obter – é ardente, pegando
fogo. “Essas palavras expressam a intensidade da
demonstração de vingança da parte de Deus contra
os invasores de Sua terra (‘meus montes’; Ez 38.21)”.
[18]
Mas, então, o que o “brasume do... furor” de
Deus o leva a declarar? Deus “...disse que, naquele
dia, será fortemente sacudida a terra de Israel”. A
expressão “naquele dia” se refere ao dia em que
Gogue e seus comparsas invadirão a terra de Israel.
Nessa ocasião, Deus contra-atacará os intrusos ao
infligir um terrível terremoto na terra de Israel.
Price explica: De acordo com os versículos 19b-21,
um terremoto divinamente decretado será tão
severo que desorientará as tropas multinacionais de
Gogue e as levará a um estado de confusão a ponto
de guerrearem entre si. Ao que parece, esse
terremoto vai deflagrar depósitos vulcânicos
naquela região, os quais lançarão uma chuva de
rocha derretida e de enxofre incandescente (lava
vulcânica) sobre o exército de Gogue, de modo que
as tropas inimigas sejam totalmente destruídas
antes que possam desferir um único ataque a Israel
(versículo 22).[19]
Maranata!
NOTAS 1 MARK HITCHCOCK, AFTER THE EMPIRE: BIBLE
PROPHECY IN LIGHT OF THE FALL OFTHE SOVIET
UNION, WHEATON, IL:TYNDALE HOUSE PUBLISHERS,
1994, P. 174.
2
C. F. KEIL, Ezekiel, Daniel, Commentary on the Old
Testament, traduzido para o inglês por James Martin;
reimpressão, Grand Rapids: Eerdmans Publishing
Company, 1982, p. 168.
3
Randall PRICE, Comentários Não Publicados Sobre as
Profecias de Ezequiel, 2007, p. 42.
4
Baseado em pesquisa realizada através do programa de
computador Accordance, versão 7.4.2.
5
Francis BROWN, S. R. DRIVER, e C. A. BRIGGS, Hebrew and
English Lexicon of the Old Testament, Londres, edição
eletrônica.
6
Ludwig KOEHLER e Walter BAUMGARTNER, The Hebrew and
Aramaic Lexicon of the Old Testament, versão eletrônica,
Leiden, Holanda: Koninklijke Brill, 2000.
7
G. Johannes BOTTERWECK e Helmer RINGGREN, orgs.,
Theological Dictionary of the Old Testament, vol. IV, Grand
Rapids: Eerdmans, 1980, p. 462.
8
BOTTERWECK e RINGGREN, Theological Dictionary, vol. IV, p.
464.
9
KOEHLER e BAUMGARTNER, Hebrew Lexicon, versão eletrônica.
10
Baseado em pesquisa realizada através do programa de
computador Accordance, versão 7.4.2.
11
Willem A. VANGEMEREN, org. geral, New International
Dictionary of Old Testament Theology & Exegesis, 5 vols.,
Grand Rapids: Zondervan, 1997, vol.1, p. 463.
12
KEIL, Ezekiel, p. 169.
13
Baseado em pesquisa realizada através do programa de
computador Accordance, versão 7.4.2.
14
Definição originária de Koehler e Baumgartner, Hebrew
Lexicon, versão eletrônica.
15
Charles Lee FEINBERG, The Prophecy of Ezekiel, Chicago:
Moody Press, 1969, p. 225.
16
KOEHLER e BAUMGARTNER, Hebrew Lexicon, versão eletrônica.
17
KOEHLER e BAUMGARTNER, Hebrew Lexicon, versão eletrônica.
18
Randall PRICE, “Ezekiel”, publicado na obra de Tim LaHaye e
Ed Hindson, orgs., The Popular Bible Prophecy
Commentary, Eugene, OR: Harvest House Publishers,
2007, p. 193.
19
PRICE, Comentários Não Publicados Sobre Ezequiel, p. 42.
18. EZEQUIEL
38.20-23

“...de tal sorte que os peixes do mar, e as aves do


céu, e os animais do campo, e todos os répteis
que se arrastam sobre a terra, e todos os homens
que estão sobre a face da terra tremerão diante
da minha presença; os montes serão deitados
abaixo, os precipícios se desfarão, e todos os
muros desabarão por terra. Chamarei contra
Gogue a espada em todos os meus montes, diz o
Senhor Deus; a espada de cada um se voltará
contra o seu próximo. Contenderei com ele por
meio da peste e do sangue; chuva inundante,
grandes pedras de saraiva, fogo e enxofre farei
cair sobre ele, sobre as suas tropas e sobre os
muitos povos que estiverem com ele. Assim, eu
me engrandecerei, vindicarei a minha santidade
e me darei a conhecer aos olhos de muitas
nações; e saberão que eu sou o Senhor”.
Em conseqüência do terremoto que ocorrerá
na terra de Israel, já descrito no versículo 19, o
versículo 20 mostra o reflexo da grandiosidade dos
atos poderosos do Senhor por toda parte, tanto nos
céus quanto na terra. Em todas as três esferas de
ação – terra, mar e ar – em toda parte da criação de
Deus, as criaturas saudarão reverentemente a
demonstração do poder do Senhor em favor de Sua
nação eleita, Israel.

TREMOR, ESTRONDO E
DESLIZAMENTO A ORDEM
NATURAL E AMBIENTAL DO
MAR, DA TERRA E DOS CÉUS
SERÁ GRANDEMENTE
TRANSTORNADA PELA
DEMONSTRAÇÃO DE PODER DO
SENHOR NO TERRITÓRIO DE
ISRAEL. ESSE TEXTO
CARACTERIZA A REAÇÃO
HUMANA AO QUE DEUS
EXIBIRÁ PORTENTOSAMENTE
NA TERRA DE ISRAEL,
DESTA MANEIRA: “...E TODOS
OS HOMENS QUE ESTÃO SOBRE A
FACE DA TERRA TREMERÃO
DIANTE DA MINHA
PRESENÇA...”. CHARLES
FEINBERG ASSINALA: “A
SEQÜÊNCIA SERÁ, EM
PRIMEIRO LUGAR, O
TERREMOTO; DEPOIS VÊM: A
ANARQUIA NAS TROPAS
INVASORAS, A PESTE E OS
DESASTRES NATURAIS. O
VIOLENTO ABALO SÍSMICO,
PROVOCADO POR DEUS NA
TERRA, AFETARÁ TODAS AS
DIMENSÕES DA NATUREZA,
TANTO A NATUREZA ANIMADA
QUANTO A INANIMADA”.[1]
GOGUE, ARMADO ATÉ OS
DENTES, ATACARÁ ISRAEL,
MAS DEUS, COM UMA
“SIMPLES” SACUDIDA DO
SOLO, FARÁ COM QUE AS
TROPAS INVASORAS SEJAM
TOTALMENTE EXTERMINADAS.
ESSA PASSAGEM BÍBLICA
DEIXA CLARO QUE A
EXCELÊNCIA DAS FORÇAS
ARMADAS DE ISRAEL E DE
SEUS MODERNOS ARMAMENTOS
(INCLUSIVE ARMAS
NUCLEARES) NÃO TEM
NENHUMA RELAÇÃO COM A
DESTRUIÇÃO DE GOGUE E
SEUS ALIADOS.
As últimas três frases do versículo 20
descrevem com mais detalhes o “terremoto na terra
de Israel”. Em conseqüência desse abalo sísmico,
“...os montes serão deitados abaixo, os precipícios se
desfarão, e todos os muros desabarão por terra”. O
texto já tinha feito alusão ao fato de que a invasão
empreendida por Gogue acontecerá “...sobre os
montes de Israel...” (v. 8). Se um exército inimigo
quiser ultrapassar a barreira natural das montanhas
de Israel para entrar no território israelense precisa,
primeiramente, encontrar uma passagem ou um
atalho. Nas guerras que o atual Estado de Israel teve
de enfrentar desde sua fundação, essa tem sido uma
pedra de tropeço para o exército sírio e de outros
países árabes, quando tentaram atacar o território
israelense. Eles têm enfrentado grande dificuldade
de atravessar aquelas montanhas. Entretanto, nessa
invasão predita, Deus, não as forças de defesa de
Israel (em inglês: Israel Defense Forces – IDF), é
Quem destruirá por completo o inimigo, a partir do
momento em que o terremoto do Senhor
literalmente puxar o tapete de debaixo dos pés
daqueles invasores. Não há dúvida de que isso vai
eliminar uma grande parcela das tropas invasoras.

“FOGO AMIGO”
No contexto das guerras atuais, quando
alguém mata acidentalmente outro soldado do
mesmo exército, tal fato é chamado de “fogo
amigo”. Eu li recentemente que nos campos de
combate da atualidade o percentual de mortes por
“fogo amigo” é de 20 por cento, em virtude do
grande poder de fogo dos exércitos modernos. O
versículo 21 deixa absolutamente claro que a única
matança que os invasores da terra de Israel farão
sob o comando de Gogue será o massacre de seus
próprios companheiros de armas. O Senhor Deus
afirma: “Chamarei contra Gogue a espada em todos
os meus montes [...] a espada de cada um se voltará
contra o seu próximo”. Ao que parece, diante da
confusão gerada no terremoto ordenado pelo
Senhor e do terrível abalo das montanhas de Israel,
os exércitos de Gogue vão amargar uma
assombrosa quantidade de “fogo amigo” naquele
momento em que o Senhor os conturbar, levando-
os a se voltarem um contra o outro.
Imagine o terrível constrangimento e a
humilhação que o povo de Gogue vai amargar na
sua própria terra, quando descobrir que as forças de
defesa de Israel nem precisaram entrar em
combate, porque grande parte dos soldados de
Gogue e de seus aliados se matou mutuamente.
Após uma análise mais aprofundada, os aliados de
Gogue vão constatar que lutaram, na verdade,
contra o Deus de Israel e, por isso, não tiveram a
mínima chance! No entanto, esse não é o único
meio que Deus utilizará para derrotar os invasores.

DEUS PERTURBA GOGUE O


PAI DO CHAMADO “ROCK
CRISTÃO” OU “MÚSICA
EVANGÉLICA
CONTEMPORÂNEA”, LARRY
NORMAN, MORREU NO ANO DE
2008. EU COSTUMAVA OUVIR
SUAS MÚSICAS E UMA DAS
MINHAS FAVORITAS SE
DENOMINAVA SIMPLESMENTE
MOSES [EM PORTUGUÊS:
“MOISÉS”]. A LETRA DA
MÚSICA SE REFERE À
OCASIÃO EM QUE MOISÉS
TIROU OS FILHOS DE
ISRAEL DO EGITO,
CONDUZINDO-OS À TERRA
PROMETIDA. UMA DAS
ESTROFES DESSA MÚSICA
DIZ O SEGUINTE: MOISÉS
SABIA QUE DEUS ESTAVA
FALANDO COM ELE.
Por isso, partiu para o Egito com força e vigor; então Moisés
perturbou o Faraó; ele o perturbou e o perturbou...
até que conseguisse a libertação do seu povo.
Ele usou moscas perturbadoras de verdade![2]

Assim como Deus se utilizou de moscas


perturbadoras para irritar o Faraó na ocasião do
Êxodo, Ele novamente fará uso de “moscas
perturbadoras de verdade”, bem como de peste,
para perturbar Gogue e seus exércitos, só que, desta
vez, com o intuito de proteger Seu povo de uma
invasão. Além do terremoto e do “fogo amigo”, o
Senhor usará outros meios para derrotar os
inimigos de Israel, conforme é mencionado no
versículo 22: “Contenderei com ele por meio da peste
e do sangue; chuva inundante, grandes pedras de
saraiva, fogo e enxofre farei cair sobre ele, sobre as
suas tropas e sobre os muitos povos que estiverem com
ele”.
O substantivo hebraico traduzido por “peste” é
usado para designar uma epidemia, como, por
exemplo, a “Peste Bubônica”, que pode ser causada
pela picada de um inseto.[3] Contudo, nesse caso,
não seriam as moscas nem os mosquitos que lhes
causariam doenças; pelo contrário: Deus é quem
vai perturbá-los. Junto com a palavra “peste” foi
usado outro substantivo hebraico, traduzido por
“sangue”, que, no contexto em que se encontra, faz
alusão a “sangue derramado violentamente”[4] na
ocasião do juízo de Deus. O verbo principal, que
governa todas as ações mencionadas no versículo
22, é o termo hebraico traduzido nessa passagem
pela palavra “contenderei”. Portanto, esse texto
mostra que toda a peste, chuva torrencial, granizo,
fogo e enxofre são juízos de Deus contra Gogue e
seus comparsas invasores. A primeira metade do
versículo nos diz que o Senhor contenderá em juízo
contra os invasores, utilizando-se da pestilência que
causará o derramamento de sangue ou a morte do
exército de Gogue. A segunda parte do versículo
parece revelar os diferentes tipos de peste que
provocarão a morte dos inimigos de Deus e de
Israel. Assim como no Êxodo de Israel ao sair do
Egito, o Senhor miraculosamente fará cair do céu a
chuva torrencial, o granizo, o fogo e o enxofre sobre
os invasores no momento em que atacarem Israel.
É provável que as pedras de granizo atinjam
exclusivamente os inimigos de Deus e de Israel, a
exemplo do que se percebe em Apocalipse 16.21,
pela reação hostil de blasfemarem contra Deus.
Além disso, não somente enxofre, mas também
fogo cairá do céu para atingir as pessoas. Fogo e
enxofre foram os únicos elementos usados por
Deus para destruir as cidades de Sodoma e
Gomorra (Gênesis 19.24), porém, aqui neste caso, o
que se tem é uma mistura de fogo com chuva
torrencial. Essa será uma inacreditável combinação
de pragas destruidoras que levarão os invasores da
terra de Israel à morte. Eu me pergunto: Será que a
Organização das Nações Unidas (ONU) ou algum
órgão semelhante vai se reunir em conselho para
votar pela condenação de Deus por esses atos?

A GLÓRIA DE DEUS GOGUE


ATACARÁ ISRAEL MOTIVADO
PELA VISÃO ARROGANTE DE
ENALTECER SUA PRÓPRIA
GLÓRIA. ENTRETANTO, DEUS
É AQUELE QUE VAI GANHAR
A TREMENDA NOTORIEDADE
EM TODOS ESSES
ACONTECIMENTOS. O
VERSÍCULO 23 DECLARA:
“ASSIM, EU ME
ENGRANDECEREI, VINDICAREI A
MINHA SANTIDADE E ME DAREI
A CONHECER AOS OLHOS DE
MUITAS NAÇÕES; E SABERÃO
QUE EU SOU O SENHOR”.
O Senhor concretizará três objetivos
específicos ao derrotar essa coalizão de exércitos
que atacará a Sua terra, Israel. Essas três lições
objetivas de Deus são ensinadas com o uso de três
verbos hebraicos. Em primeiro lugar, Deus se
“engrandecerá” através desses acontecimentos,
como expressa o verbo hebraico gadal, conjugado
no tempo hitpael que implica uma ação reflexivo-
intensiva. A raiz da palavra gadal significa “tornar-
se grande”. No tronco hebraico hitpael, tem o
sentido de “magnificar-se” ou “demonstrar que é
grande”.[5] É exatamente isso que o Senhor Deus
de Israel fará, quando derrotar sozinho todo esse
enorme exército que virá contra Israel. Deus
acrescentará mais essa evidência à longa lista de
feitos extraordinários que Ele realizou desde o
passado (por exemplo, a Criação, o Dilúvio, o
Êxodo, etc.), pela qual Deus tem provado
historicamente, tanto no tempo quanto no espaço, a
Sua grandeza.
Em segundo lugar, o Senhor utiliza o termo
qadash, outro verbo hebraico no tempo hitpael.
Acredita-se que a raiz da palavra qadash significaria
“cortar”, daí decorre o significado básico de
“separar” para uso especial. O termo “santo” (do
heb. qadosh) tem direta relação etimológica com
qadash e transmite a idéia de separar algo do uso
comum para aplicá-lo em ocasiões especiais. Usado
nesse texto no tronco hebraico hitpael, o termo
significaria “revelar-se ou mostrar-se como santo”.
[6] No contexto dessa passagem o termo notifica
que o Senhor provará ao mundo que Ele é santo,
separado de todos os outros seres de modo especial,
e que Ele é o único e verdadeiro Deus, pois
ninguém é capaz de fazer aquilo que Ele, a essa
altura, terá feito contra os inimigos de Israel.
Em terceiro lugar, Deus se pronuncia com o
termo hebraico yada‘, um verbo muito usado que
significa “saber” ou “vir a conhecer”, em geral
através da experiência ou da interação com alguém
ou alguma coisa. Nesse caso, o termo yada‘ ocorre
no tempo hebraico nifal cujo sentido se expressa na
voz passiva ou reflexiva.[7] Nesse contexto,
portanto, a palavra exprime a noção de que Deus
deseja que o mundo venha a conhecer ou perceba
que Ele é o Senhor Deus de Israel, sob o efeito da
ocorrência desses fatos. Maranata!
NOTAS 1 CHARLES LEE FEINBERG, THE PROPHECY OF
EZEKIEL, CHICAGO: MOODY PRESS, 1969, P. 225-
26.
2
Larry NORMAN, “Moses”, lançada no álbum Upon This Rock,
Nova York: Capitol Records, 1969.
3
Ludwig KOEHLER e Walter BAUMGARTNER, The Hebrew and
Aramaic Lexicon of the Old Testament, versão eletrônica,
Leiden, Holanda: Koninklijke Brill, 2000.
4
KOEHLER e BAUMGARTNER, Hebrew Lexicon, versão eletrônica.
5
KOEHLER e BAUMGARTNER, Hebrew Lexicon, versão eletrônica.
6
KOEHLER e BAUMGARTNER, Hebrew Lexicon, versão eletrônica.
7
KOEHLER e BAUMGARTNER, Hebrew Lexicon, versão eletrônica.
19. EZEQUIEL 39.1-
3

“Tu, pois, ó filho do homem, profetiza ainda


contra Gogue e dize: Assim diz o Senhor Deus:
Eis que eu sou contra ti, ó Gogue, príncipe de
Rôs, de Meseque e Tubal. Far-te-ei que te volvas
e te conduzirei, far-te-ei subir dos lados do
Norte e te trarei aos montes de Israel. Tirarei o
teu arco da tua mão esquerda e farei cair as tuas
flechas da tua mão direita”.

Enquanto escrevo (N.Ed.: ano de 2008) esta


seção de nossa análise sobre a futura campanha
militar de Gogue contra Israel, acabamos de
constatar o ataque da Rússia à Geórgia com o
intuito de assumir o controle do sul da Ossétia,
uma província situada no território da Geórgia. A
Rússia também bombardeou várias cidades
importantes em toda a Geórgia e enviou sua
infantaria mecanizada para invadir e ocupar
determinados territórios localizados dentro dos
limites geográficos da Geórgia. Essa é a primeira
vez que a Rússia invade outro país, desde a invasão
do Afeganistão na década de 1970 pela antiga União
Soviética. Por que os russos empreenderam essa
invasão agora? A Stratfor Intelligence Report
apresenta a seguinte análise: Portanto, a guerra na
Geórgia é o retorno público e notório da Rússia à
posição de grande potência. Isso não é algo que
aconteceu de repente, pelo contrário, é um
processo que se desdobra desde que Putin assumiu
o poder e que, nos últimos cinco anos, tem se
intensificado cada vez mais. Em parte isso tem a ver
com o aumento do poderio russo, mas tem muito
mais a ver com o fato de que as guerras no Oriente
Médio deixaram os Estados Unidos em
desequilíbrio e com menos recursos. Como já
escrevemos anteriormente, esse conflito criou uma
janela de oportunidade. O objetivo da Rússia é usar
tal janela de oportunidade para exigir o
reconhecimento de uma nova realidade em toda
aquela região, enquanto os Estados Unidos se vêem
amarrados em outra região e dependem da Rússia.
Essa guerra está muito longe de ser uma surpresa.
Ela já tinha sido arquitetada há meses. Porém, os
alicerces geopolíticos dessa guerra vêm sendo
construídos desde 1992. A Rússia durante muitos
séculos tem se mostrado como um império. Estes
últimos 15 anos, ou um pouco mais, não
correspondem a uma nova realidade, mas
representam uma anomalia que devia ser corrigida.
Agora essa anomalia realmente está sendo
corrigida.[1]
Com isso não quero dizer que esse
acontecimento da guerra na Geórgia se enquadre
diretamente no contexto da invasão de Gogue à
terra de Israel; todavia, parece ser um
acontecimento relevante na sinalização de que o
“urso Russo” voltou a ficar à espreita. Quando se
junta essa invasão do território da Geórgia ao fato
de que a Rússia retomou os vôos de seus aviões
bombardeiros Bear Tu-95 ao longo da fronteira
americana, perto do Alasca,[2] acrescentando-se,
ainda, o fato de que Putin ameaçou instalar mísseis
novamente em Cuba,[3] percebe-se que a Rússia é
muito mais agressiva e anti-ocidental do que tem
aparentado nos últimos quinze anos. Tudo isso
pode ser indício de que a Rússia, após um período
de dormência, esteja agora interessada em agressão
militar.
Os críticos da posição, que defende o
cumprimento futuro da profecia referente a Gogue
e Magogue, ridicularizam, muitas vezes, a
possibilidade de que isso ocorra por causa do
colapso da antiga União Soviética (eu nunca vi
nenhuma exigência textual de que a Rússia tenha
de liderar a União Soviética como condição para
que essa profecia se cumpra. O fato de que a Rússia
continua a existir como nação é a única condição
requerida nessa profecia).
Gary North declarou o seguinte: “A Rússia foi
o principal candidato. Contudo, depois de 1991,
ficou difícil defender esse ponto de vista por razões
óbvias. O colapso da União Soviética criou um
grande problema para os teólogos do
Dispensacionalismo e seus autores populares”.[4] É
evidente que a atual tentativa da Rússia, de ter a
hegemonia sobre a Geórgia, não implica que Putin
está tentando recriar o antigo Império Soviético.
Isso realmente é sinal de que a Rússia, detentora de
muita riqueza gerada pela produção de petróleo
nos últimos anos, procura se rearmar para que
possa ser a maior potência daquela região.
Friedman esclarece: Putin não queria restaurar a
União Soviética; o que ele realmente queria era
restabelecer a esfera de influência dos russos na
região da antiga União Soviética. Para conseguir
isso, ele tinha que fazer duas coisas. Em primeiro
lugar, tinha que devolver ao exército russo a
credibilidade como força de combate, pelo menos
no contexto daquela região. Em segundo lugar,
Putin tinha que provar que as garantias ocidentais,
inclusive a adesão como membro da OTAN, não
significavam nada diante do poderio russo. Ele não
queria um confronto direto com as tropas da
OTAN, mas queria enfrentar e derrotar uma força
militar que, de fato, estivesse estreitamente
alinhada com os Estados Unidos da América e que
contasse com o apoio bélico, auxílio e orientação
dos americanos, bem como fosse abertamente vista
como uma nação sob a proteção dos Estados
Unidos. A Geórgia era a escolha perfeita.

EZEQUIEL 39
Ao completarmos nossa análise e comentário
do capítulo 38 do livro de Ezequiel, viramos, agora,
a página para estudarmos o capítulo 39 dessa
extraordinária profecia. Arnold Fruchtenbaum
comenta que o princípio de interpretação, por ele
denominado de Lei de Recorrência, se aplica no
capítulo 39.[5] Ele descreve esse princípio nos
seguintes termos: Essa lei considera o fato de que,
em algumas passagens das Escrituras, ocorre o
relato de um acontecimento seguido de um
segundo relato do mesmo acontecimento, este
último mais detalhado do que o primeiro. Nesse
caso, a situação quase sempre envolve dois blocos
de texto bíblico. O primeiro bloco de texto
apresenta a descrição de um acontecimento
conforme ele ocorre em seqüência cronológica. Em
seguida, vem um segundo bloco de texto que trata
do mesmo acontecimento e do mesmo período de
tempo, apresentando, contudo, mais detalhes do
que se passa no transcurso daquele acontecimento.
[6]
Fruchtenbaum afirma que Ezequiel 39 “repete
uma parte do relato apresentado no primeiro bloco
de texto e acrescenta outros detalhes referentes à
destruição do exército invasor”.[7] Talvez o Senhor
repita algumas profecias com o fim de deixar
realmente bem entendida a importância daquilo
que Ele está dizendo. Nesse caso, a profecia
referente a Gogue ganharia dupla importância por
causa dessa ênfase. O segundo pronunciamento da
profecia sobre a invasão liderada por Gogue se
conclui em Ezequiel 39.16. O trecho de Ezequiel
39.1-6 é a primeira seção desse capítulo que reitera
a informação acerca do local dessa destruição.

O SEGUNDO VERSÍCULO,
IGUAL AO PRIMEIRO
EZEQUIEL, QUE É CHAMADO
DE “FILHO DO HOMEM” NO
VERSÍCULO UM, RECEBE
ESTA ORDEM: “...PROFETIZA
AINDA CONTRA GOGUE E DIZE:
ASSIM DIZ O SENHOR DEUS: EIS
QUE EU SOU CONTRA TI, Ó
GOGUE, PRÍNCIPE DE RÔS, DE
MESEQUE E TUBAL”. ESSE
TEXTO É UMA REPETIÇÃO
IDÊNTICA DAQUILO QUE
ESTÁ REGISTRADO EM
EZEQUIEL 38.3, SOBRE O
QUE JÁ FIZ COMENTÁRIOS
NAQUELA RESPECTIVA SEÇÃO
DE NOSSA ANÁLISE. POR
QUE FOI REPETIDO? CREIO
QUE O CONTEÚDO DO
VERSÍCULO 1 É EXATAMENTE
O MESMO QUE SE ENCONTRA
NO CAPÍTULO 38, PARA
MOSTRAR QUE É UMA
PROFECIA REFERENTE ÀS
MESMAS ENTIDADES E
ACONTECIMENTOS JÁ
PREDITOS NA SEÇÃO
ANTERIOR. É POR ESSA
RAZÃO QUE O SENHOR, APÓS
ESTABELECER A LIGAÇÃO
DISSO COM O CAPÍTULO
ANTERIOR EM EZEQUIEL
39.1, PASSA A
ACRESCENTAR MAIS
INFORMAÇÕES SOBRE ESSE
ACONTECIMENTO NO TEXTO
DE EZEQUIEL 39.3-6.
O versículo 2 declara: “Far-te-ei que te volvas e
te conduzirei, far-te-ei subir dos lados do Norte e te
trarei aos montes de Israel”. Esse versículo parece
ser a síntese do que está escrito em Ezequiel
38.4,6,8 e 15, sobre o que já fiz comentários em
seção anterior de nossa análise. C. F. Keil faz esta
observação: “Então, os elementos essenciais do
capítulo 38.4-15 são resumidos brevemente no
versículo 2”.[8] Charles Feinberg afirma: “A
declaração sobre fazer com que Gogue se “volva”
(v.2) traz consigo a idéia de compulsão”.[9]
Entretanto, a frase “...e te conduzirei...” não ocorre
no capítulo anterior. Na realidade, o texto de
Ezequiel 39.2 é a única referência na qual esse verbo
é usado em todo o Antigo Testamento Hebraico.
[10] O termo transmite a idéia básica de “caminhar
ao lado de”,[11] como alguém que caminha ao lado
de um animal, a exemplo de um cão, conduzindo-o
pela coleira. Esse verbo está conjugado no tempo
hebraico Piel que determina uma ação intensiva na
voz ativa. Assim, a imagem que esse texto retrata é
a do Senhor conduzindo Gogue e seus aliados até os
montes de Israel, como se conduz um animal pela
coleira. A passagem não deixa a menor dúvida de
que a suprema causa motivadora dessa invasão, a
despeito da ação humana, é a vontade soberana de
Deus.

O DESARMAMENTO DE GOGUE
O VERSÍCULO TRÊS
ASSEVERA: “TIRAREI O TEU
ARCO DA TUA MÃO ESQUERDA E
FAREI CAIR AS TUAS FLECHAS
DA TUA MÃO DIREITA”.
AMBAS AS FRASES SÃO
EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS
HEBRAICAS QUE RETRATAM A
AÇÃO DO SENHOR, NÃO DE
ISRAEL, AO DESARMAR
GOGUE, ARRANCANDO DAS
MÃOS DELE O ARCO, QUE É
UMA ALUSÃO ÀS ARMAS OU
AOS SISTEMAS DE
ARMAMENTO DE GOGUE
(SEJAM ELES QUAIS
FOREM). O SENHOR TAMBÉM
VAI TIRAR A MUNIÇÃO
USADA POR GOGUE DURANTE
ESSA FUTURA INVASÃO, TAL
COMO AFIRMA: “...E FAREI
CAIR AS TUAS FLECHAS DA TUA
MÃO DIREITA”. EM TERMOS
SIMPLES E CLAROS, O
SENHOR DESARMARÁ GOGUE
PARA DEFENDER A NAÇÃO DE
ISRAEL. KEIL EXPLICA:
“NA TERRA DE ISRAEL, O
SENHOR VAI GOLPEAR AS
ARMAS DE GOGUE PARA
ARRANCÁ-LAS DE SUAS
MÃOS, I.E., TORNANDO-O
INCAPAZ DE COMBATER
[...] ENTREGANDO GOGUE E
TODO O SEU EXÉRCITO POR
PRESA DESTINADA À
MORTE”.[12]
Assim, o capítulo 39 começa com uma breve
visão panorâmica e um resumo de muitas coisas
que já tinham sido reveladas no capítulo anterior. O
Senhor assegura Sua intensa vigilância sobre essa
futura batalha na qual Ele protegerá Seu povo.
Além disso, podemos testemunhar a postura atual
de alguns dos atores que vão desempenhar seu
papel nessa terrível invasão, tais como a Rússia e o
Irã que já têm manifestado a sua beligerância.
Maranata!
NOTAS 1 GEORGE FRIEDMAN, “THE RUSSO-GEORGIAN
WAR AND THE BALANCE OF POWER”, PUBLICADO NO
STRATFOR GEOPOLITICAL INTELLIGENCE REPORT,
EDIÇÃO DE 12 DE AGOSTO DE 2008, ATRAVÉS DO
SITE: WWW.STRATFOR.COM.
2
“Russia’s Bear bomber returns”, edição eletrônica da BBC
News, veiculada no dia 10 de setembro de 2007, através
do site: www.news.bbc.co.uk/2/hi/europe/6984320.stm.
3
“Putin eyes renewed Russian ties with Cuba”, edição
eletrônica da CNN, veiculada no dia 4 de agosto de 2008,
através do site:
http://www.cnn.com/2008/WORLD/europe/08/04/russia.cuba.ap/
4
Gary NORTH, “The Unannounced Reason Behind American
Fundamentalism’s [& Virtually All Evangelicalism] Support for
the State of Israel”, publicado em 19 de Julho de 2000,
através do site: www.tks.org/GaryNorth.htm.
5
Arnold FRUCHTENBAUM, Footsteps of the Messiah: A Study of
the Sequence of Prophetic Events, Tustin, CA: Ariel Press,
(1982), 2003, p. 6.
6
FRUCHTENBAUM, Footsteps, p. 6. Fruchtenbaum classifica as
seguintes passagens bíblicas como exemplos da Lei de
Recorrência: Gênesis 1 e 2; Isaías 30 e 31; Ezequiel 38 e
39; Apocalipse 17 e 18.
7
FRUCHTENBAUM, Footsteps, p. 6.
8
C. F. KEIL, “Ezekiel, Daniel”, Commentary on the Old
Testament, traduzido para o inglês por James Martin,
reimpressão, Grand Rapids: Eerdmans Publishing
Company, 1982, p. 171.
9
Charles Lee FEINBERG, The Prophecy of Ezekiel, Chicago:
Moody Press, 1969, p. 228.
10
Baseado em pesquisa realizada através do programa de
computador Accordance, versão 7.4.2.
11
Ludwig KOEHLER e Walter BAUMGARTNER, The Hebrew and
Aramaic Lexicon of the Old Testament, versão eletrônica,
Leiden, Holanda: Koninklijke Brill, 2000.
12
KEIL, Ezekiel, p. 171.
20. EZEQUIEL 39.4-
6

“Nos montes de Israel, cairás, tu, e todas as tuas


tropas, e os povos que estão contigo; a toda
espécie de aves de rapina e aos animais do
campo eu te darei, para que te devorem. Cairás
em campo aberto, porque eu falei, diz o Senhor
Deus. Meterei fogo em Magogue e nos que
habitam seguros nas terras do mar; e saberão
que eu sou o Senhor”.

O texto de Ezequiel 38.8 faz a seguinte


declaração a Gogue, como líder dos invasores:
“...virás à terra que se recuperou da espada, ao povo
que se congregou dentre muitos povos sobre os montes
de Israel, que sempre estavam desolados...”. Em
contrapartida, como está escrito em Ez 39.4, Deus
fará a Gogue o seguinte: “Nos montes de Israel,
cairás...”. Gogue pretende fazer uma coisa, mas
Deus, ao defender Israel, Seu povo, faz com que o
desenlace seja totalmente diferente do que Gogue
pretendia.

PRESA FÁCIL O VERBO


HEBRAICO TRADUZIDO POR
“CAIR” É UM TERMO COMUM
QUE NESSE CONTEXTO
SIGNIFICA TOMBAR EM
COMBATE. POR SER USADO
DE FORMA CORPORATIVA
PARA SE REFERIR A TODAS
AS FORÇAS ARMADAS
INVASORAS, I.E., “...TU, E
TODAS AS TUAS TROPAS, E OS
POVOS QUE ESTÃO
CONTIGO...”, ESSE TERMO
DESIGNA A DERROTA DOS
EXÉRCITOS INVASORES.[1]
OS VOCÁBULOS “TROPAS” E
“POVOS” JÁ FORAM USADOS
ANTERIORMENTE EM EZ
38.6. PELO CONTEXTO
ANTERIOR, FICA EVIDENTE
QUE ESSA “QUEDA” DOS
INIMIGOS RESULTA DA
INTERVENÇÃO MIRACULOSA
DE DEUS EM FAVOR DE
ISRAEL. ARNOLD
FRUCHTENBAUM DESCREVE OS
MONTES DE ISRAEL DA
SEGUINTE FORMA: ELES SE
ESTENDEM AO LONGO DA
REGIÃO CENTRAL DO PAÍS,
COMEÇANDO NO EXTREMO SUL
DO VALE DE JEZREEL, NA
ALTURA DA CIDADE DE
JENIN (DENOMINADA NA
BÍBLIA DE EN-GANIM), E SE
PROLONGAM NA DIREÇÃO SUL
ATÉ DESAPARECEREM AO
NORTE DE BERSEBA NO
NEGUEBE. É NESSES MONTES
QUE SE SITUAVAM AS
FAMOSAS CIDADES BÍBLICAS
DE DOTÃ, SIQUÉM,
SAMARIA, SILÓ, BETEL,
AI, RAMÁ, BELÉM, HEBROM,
DEBIR E, SOBRETUDO, A
CIDADE DE JERUSALÉM, QUE
PARECE SER OBJETIVO DO
EXÉRCITO INVASOR.
Aqui temos outro exemplo da maneira pela qual a “Guerra dos Seis
Dias” definiu o cenário para o cumprimento da profecia. Até à
“Guerra dos Seis Dias”, todos os montes de Israel, com exceção de
uma pequena cadeia montanhosa da Jerusalém Ocidental, estavam
completamente nas mãos dos árabes jordanianos. Somente a partir
de 1967 é que os montes de Israel passaram a se localizar em
Israel, montando, assim, o palco para o cumprimento dessa profecia.
[2]

Visto que Deus é quem trará esse exército


invasor, Ele também aproveitará a ocasião para
alimentar as Suas criaturas com a carne desses
invasores. “...a toda espécie de aves de rapina e aos
animais do campo eu te darei, para que te
devorem...”. O verbo “dar” é usado aqui no sentido
de “preparar, oferecer, colocar” perante alguém.[3]
Nessa frase, o verbo hebraico é conjugado no
tempo “perfeito profético”,[4] implicando que,
apesar de o texto se referir a um acontecimento
futuro, é mais bem traduzido como se já tivesse
ocorrido, a saber, “eu te dei”. O motivo pelo qual
Deus usou o perfeito profético está no fato de que,
quando o Senhor prediz algum acontecimento, a
ocorrência deste é tão certa que pode ser declarado
como se já tivesse acontecido, ainda que esteja
previsto para o futuro. Dessa forma, o Senhor
oferecerá os inimigos de Israel como uma refeição
para as aves e animais, à semelhança de um garçom
que prepara a mesa e serve um banquete aos
convidados. A menção feita às “aves” e “animais do
campo” diz respeito às criaturas que comerão os
cadáveres. A expressão “toda espécie” modifica
especificamente a referência feita às aves.[5]
Charles Feinberg faz a seguinte observação: Devido
à enorme carnificina, os sepultamentos não serão
uma prioridade, nem estarão na ordem do dia. O
Senhor já decidiu que os restos mortais fiquem à
disposição das aves de rapina e dos animais
selvagens. Essa ausência de sepultamento era
repugnante, especialmente no Oriente Médio. A
imagem retratada no versículo 4 antecipa o que é
declarado com mais detalhes nos versículos 17-20.
[6]
O versículo 5 expande o conteúdo do versículo
4 e emprega um jogo de palavras ao usar a palavra
“campo”. No mesmo campo em que os animais
selvagens vagueiam o Senhor destruirá os exércitos
de Gogue, a saber, “em campo aberto”. Os invasores
nunca chegarão aos centros populacionais de Israel
para atacá-los; em vez disso, eles morrerão
literalmente “...sobre a face do campo...” (ARC).
Trata-se de uma expressão idiomática que designa
campo “aberto”. Eles tombarão em campo aberto
simplesmente porque o Senhor Deus de Israel
declarou que é assim que eles cairão. Tudo o que
Deus comanda na natureza acontece como Ele
ordena; de igual modo, todas as sentenças de juízo
do Senhor Deus se cumprirão.

“FOGO... NAS TERRAS DO


MAR”
O versículo 6 assevera: “Meterei fogo em
Magogue e nos que habitam seguros nas terras do
mar; e saberão que eu sou o Senhor”. A palavra
hebraica traduzida por “fogo” é o substantivo mais
comum para designar “fogo”, usado por 376 vezes
em todo o Antigo Testamento.[7] O verbo hebraico
traduzido por “meter” se encontra no tempo Piel
que denota uma ação intensiva da parte de Deus. O
termo “fogo” também foi usado num contexto
anteriormente próximo, junto com “...chuva
torrencial, grandes pedras de saraiva,... e enxofre...”
(Ez 38.22). Se “fogo e enxofre” são usados numa
descrição semelhante, pode-se concluir que o
Senhor empregará fogo e enxofre da mesma forma
que usou no caso de Sodoma e Gomorra (Gn
19.24).
Alguns intérpretes da Bíblia entendem que o
cumprimento dessa profecia se dará por meio de
um ataque nuclear. Por exemplo, o catedrático em
Bíblia, Chuck Missler, declara o seguinte em seu
comentário sobre esse versículo: “Alguns analistas
acham que o texto sugere a possibilidade de um
ataque nuclear com mísseis intercontinentais. Em
face da atual proliferação de armas nucleares no
mundo todo, tal perspectiva é assustadoramente
plausível”.[8] O problema que vejo na relação de
um ataque nuclear com esse versículo é que o texto
bíblico enfatiza claramente que o próprio Deus
enviará fogo do céu. A passagem afirma: “E enviarei
um fogo sobre Magogue e entre os que habitam
seguros nas ilhas...” (Ez 39.6 – ARC). O texto que
está diante de nós demonstra nitidamente que o
próprio Deus enviará fogo sobre os invasores num
ato de juízo. Em nenhum lugar o texto menciona
que o Senhor usará agentes desvinculados da
coalizão invasora para executarem Seus juízos. Ao
invés disso, Deus já demonstrou, ao longo de toda a
história, que é absolutamente capaz de cumprir
sozinho aquilo que predisse nessa profecia.
Eu creio que nas ocasiões em que a Bíblia
assevera que Deus ou um anjo executa um juízo, tal
afirmação deve ser interpretada como indício de
que Deus, na verdade, é Quem realiza diretamente
aquele feito. Minha convicção é a de que essas
declarações bíblicas não nos permitem interpretá-
las como possíveis referências à atividade humana,
a exemplo de uma guerra nuclear que caracteriza a
ação do homem contra o próprio homem. Os
primeiros cinco selos de juízo, descritos em
Apocalipse 6, seriam um exemplo da maneira pela
qual Deus utiliza agentes humanos para
executarem uma sentença de juízo. Entretanto, o
texto bíblico mostra que todo o restante dos selos,
as trombetas e as taças de juízo são efetuados
diretamente por Deus, usando, muitas vezes, Seus
anjos para executarem esses feitos sobrenaturais.
Aqui temos um importante aspecto bíblico, a saber:
Deus é Aquele que realiza essas coisas, visto que
Deus é Quem declaradamente utiliza meios
sobrenaturais para alcançar esses fins, tal como Ele
agiu no caso de Sodoma e Gomorra, na ocasião do
Êxodo de Israel do Egito, e ainda agirá muitas vezes
durante o período da Tribulação (Apocalipse 4-19).
O texto bíblico diz: “[Eu, o Senhor] Meterei fogo em
Magogue e nos que habitam seguros nas terras do
mar”. Portanto o texto afirma com clareza que
Deus executará isso diretamente, já que não há
nenhuma menção de agentes humanos. Observe
que a ênfase geral de toda essa passagem bíblica é a
que o próprio Senhor age contra Gogue em favor de
Israel (Ez 39.1-7). No versículo 1 está escrito: “Eis
que eu sou contra ti, ó Gogue...”. No versículo 2:
“Far-te-ei que te volvas...”. No versículo 3: “Tirarei o
teu arco da tua mão esquerda...”. No versículo 4:
“...eu te darei, para que te devorem”. No versículo 5:
“...porque eu falei, diz o Senhor Deus”. No versículo
6: “Meterei fogo em Magogue [...] e saberão que eu
sou o Senhor”. No versículo 7: “Farei conhecido o
meu santo nome no meio do meu povo de Israel e
nunca mais deixarei profanar o meu santo nome; e as
nações saberão que eu sou o Senhor, o Santo em
Israel”. Em outras palavras, Deus realiza tudo isso
de modo que Ele mesmo receba a notoriedade e a
glória.
O fogo de juízo que o Senhor enviará sobre “as
terras do mar” é provavelmente uma referência à
destruição da terra natal de Gogue, i.e. Magogue, e
das longínquas terras natais de seus aliados (“as
terras do mar”; cfe., Ez 26.15,18; 27.3,6-7,15,35), que
habitam seguros nesses lugares. A suprema lição
será a de ensiná-los que Ele é Deus. Alguns
acreditam que isso se refira à destruição de todas as
terras litorâneas ou de todas as nações do mundo
que habitam em segurança. Tal concepção é
improvável pelo fato de que o foco de todo esse
texto se concentra em Gogue e sua coalizão de
invasores. A lógica do Senhor nesse caso é a
seguinte: Gogue e seus aliados atacam os
moradores de Israel “...que vivem seguros...” (Ez
38.8,11); então, Deus responde em retaliação contra
a terra natal dos invasores, onde o texto diz: “...que
habitam seguros...” (Ez 39.6) ou onde supunham, na
sua arrogância, que estavam seguros.
Fruchtenbaum assinala que a derrota de Gogue
“fará com que a Rússia deixe de ser uma força
política influente nas questões internacionais”.[9]
Assim, aos olhos do mundo, Israel parecia
destinado à aniquilação em conseqüência do ataque
de uma poderosa coalizão, mas o Senhor interveio
em defesa de Israel e virou a mesa sobre os
inimigos, destruindo as terras de origem dos
invasores, as quais estes supunham estar em
segurança. Maranata!
NOTAS 1 LUDWIG KOEHLER E WALTER BAUMGARTNER, THE
HEBREW AND ARAMAIC LEXICON OF THE OLD
TESTAMENT, VERSÃO ELETRÔNICA, LEIDEN,
HOLANDA: KONINKLIJKE BRILL, 2000.
2
(Grifo do autor original em itálico) Arnold FRUCHTENBAUM,
Footsteps of the Messiah: A Study of the Sequence of
Prophetic Events, Tustin, CA: Ariel Press, (1982), 2003, p.
114.
3
KOEHLER e BAUMGARTNER, Hebrew Lexicon, versão eletrônica.
4
Rabino Dr. S. FISCH, Ezekiel: Hebrew Text & English
Translation With An Introduction and Commentary,
Londres: The Soncino Press, 1950, p. 259.
5
C. F. KEIL, Ezekiel, Daniel, Commentary on the Old
Testament, traduzido para o inglês por James Martin;
reimpressão; Grand Rapids: Eerdmans Publishing
Company, 1982, p. 171.
6
Charles Lee FEINBERG, The Prophecy of Ezekiel, Chicago:
Moody Press, 1969, p. 229.
7
Baseado em pesquisa realizada através do programa de
computador Accordance, versão 7.4.2.
8
Chuck MISSLER, The Magog Invasion, Palos Verdes, CA:
Western Front, 1995, p. 179.
9
FRUCHTENBAUM, Footsteps, p. 115.
21. EZEQUIEL 39.7-
10

“Farei conhecido o meu santo nome no meio do


meu povo de Israel e nunca mais deixarei
profanar o meu santo nome; e as nações saberão
que eu sou o Senhor, o Santo em Israel. Eis que
vem e se cumprirá, diz o Senhor Deus; este é o
dia de que tenho falado. Os habitantes das
cidades de Israel sairão e queimarão, de todo, as
armas, os escudos, os paveses, os arcos, as
flechas, os bastões de mão e as lanças; farão fogo
com tudo isto por sete anos. Não trarão lenha do
campo, nem a cortarão dos bosques, mas com as
armas acenderão fogo; saquearão aos que os
saquearam e despojarão aos que os despojaram,
diz o Senhor Deus”.

Por que o Senhor Deus de Israel trará Gogue e


seu exército esmagador para atacar Israel naquele
momento da história? A principal declaração de
propósito, que abrange toda essa passagem bíblica,
é apresentada nos versículos 7 e 8, onde está escrito:
“Farei conhecido o meu santo nome no meio do meu
povo de Israel...”; em conseqüência disso, Deus
assegura: “...nunca mais deixarei profanar o meu
santo nome...” (Ez 39.7). O fato de Deus ser santo é
algo muito importante para Ele próprio, ainda que
isso seja tremendamente desvalorizado em nossos
dias, até mesmo nos círculos cristãos que se
denominam evangélicos. O mais provável é que
exista uma relação entre a mudança de
comportamento nacional de Israel e a restauração
dessa nação marcada por sua conversão, conforme
foi descrito anteriormente no capítulo 37. Esses
versículos reafirmam a iniciativa divina acerca
dessa invasão e elaboram sobre a queda de Gogue e
sobre os propósitos de Deus.[1]

SANTO, SANTO, SANTO POR


TRÊS VEZES O TERMO
HEBRAICO QADOSH,
TRADUZIDO POR “SANTO”, É
USADO NO VERSÍCULO 7;
POR DUAS VEZES OCORRE NA
EXPRESSÃO “...O MEU SANTO
NOME...” E AINDA OCORRE
UMA VEZ NA EXPRESSÃO
“...O SANTO DE ISRAEL”. ESSA
PALAVRA HEBRAICA
SIGNIFICA “SEPARADO PARA
USO ESPECIAL; TRATADO
COM RESPEITO; RETIRADO
DO USO COMUM”.[2] PARECE
QUE A OCORRÊNCIA
ENVOLVENDO GOGUE E
MAGOGUE ACONTECERÁ
NAQUELE MOMENTO DA
HISTÓRIA EM QUE O SENHOR
ESTIVER PARA INTERVIR NA
ORDEM HISTÓRICA COM A
FINALIDADE DE SANTIFICAR
SUA REPUTAÇÃO, BEM COMO
A REPUTAÇÃO DE ISRAEL,
ENTRE AS NAÇÕES DESTE
MUNDO. E. W.
HENGSTENBURG ASSINALA O
SEGUINTE: O SANTO NOME
DE DEUS (V. 7) É SEU
CARÁTER, DECORRENTE DE
SUAS ANTIGAS
MANIFESTAÇÕES AO LONGO
DA HISTÓRIA, COMO DEUS,
NO PLENO SENTIDO DO
TERMO, O ABSOLUTO, O
TRANSCENDENTEMENTE
GLORIOSO, SEPARADO
INCONDICIONALMENTE DE
TODA FALSIDADE E
IMPOTÊNCIA. DEUS TORNA
SEU NOME CONHECIDO NO
MEIO DE SEU POVO QUANDO
ESTE COMPROVA DE NOVO O
CARÁTER HISTÓRICO DE
DEUS; QUANDO ELE CONCEDE
A SEU POVO A VITÓRIA
SOBRE O MUNDO IDÓLATRA,
QUE SE ENFURECE CONTRA
ELES. DEUS PROFANARIA
SEU NOME SE ABANDONASSE
CONTINUAMENTE SEU POVO
NAS MÃOS DO MUNDO
IDÓLATRA, TAL COMO
FIZERA NA ÉPOCA DO
PROFETA POR CAUSA DA
APOSTASIA DELES.[3]
É através da evidente intervenção miraculosa
em favor do Seu povo que Deus restaura o
relacionamento tenso com Israel. O Senhor declara:
“...nunca mais deixarei profanar o meu santo
nome...” (Ez 39.7). O verbo hebraico halal, que
nesse texto foi traduzido por “profanar”, significa
basicamente “poluir, corromper, macular ou
profanar”.[4] Nesse contexto, o verbo ocorre no
tempo hebraico do Hifil, que denota ação causativa.
Assim, o termo significa “permitir que seja
profanado ou maculado”.[5] Deus não mais
permitirá que Seu santo nome ou Sua reputação
seja profanada, nem pelo Seu próprio povo, nem
pelas nações do mundo todo. Charles Feinberg
explica: O verdadeiro caráter de Deus ficará visível
em seu devido esplendor, tanto por ser justo quanto
por ser poderoso. Tal ênfase brota desse conceito
que permeia todo o livro de Ezequiel porque esse é
o plano de Deus em toda a história e não existe
concepção mais importante do que essa em todo o
universo. O que traz estabilidade e valor para a vida
sobre a terra é a verdade determinante de que um
Deus de santidade, sabedoria, amor e verdade
executa continuamente Sua bendita vontade em
todo o universo e entre as inteligências por Ele
criadas.[6]
Se na mente de alguém pairava alguma dúvida
sobre a certeza do cumprimento desses
acontecimentos preditos, o versículo 8 reitera sua
inevitabilidade, já que o próprio Deus cuidará para
que tudo isso se cumpra, como está escrito: “Eis que
vem e se cumprirá, diz o Senhor Deus; este é o dia de
que tenho falado”. Na verdade, é provável que em
toda a Bíblia não exista outra passagem que dê tanta
ênfase à certeza do cumprimento de um fato
predito, como esse texto de Ezequiel 38–39. Charles
Feinberg declara o seguinte: “Talvez haja alguns
que, de fato, pensem que as coisas podem ser
alteradas ou manipuladas do jeito que eles querem.
Para esses, chega a mensagem de que não há como
escapar do que foi predito, pois é tão certo como se
já tivesse acontecido. Quando Deus prediz algo, Ele
também deixa patente que pode concretizar aquilo
que predisse”.[7] Os seres humanos podem até
pensar que são os atores principais, mas quando a
verdade é revelada, constata-se que Deus é a força
motriz de todos os acontecimentos.
Qual será o impacto sobre a nação de Israel
quando contemplar a glorificação de Deus em
todos esses acontecimentos? É evidente que “ocorre
um reavivamento em Israel, fazendo com que
muitos judeus se convertam ao Senhor”.[8]

QUEIMANDO POR SETE ANOS


O QUE SE QUER DESTACAR
NESSA PASSAGEM, QUANDO
SE REFERE À QUEIMA DOS
DESPOJOS DE GUERRA, NOS
VERSÍCULOS 9 E 10? “AO
INVÉS DE SIMPLESMENTE
DESTRUIR AS ARMAS DE
GUERRA, ESTAS SERÃO
USADAS COMO COMBUSTÍVEL
EM BENEFÍCIO DOS
ISRAELENSES”.[9] POR QUE
ELES QUEIMARIAM AS ARMAS
AO INVÉS DE APENAS
ELIMINÁ-LAS? RANDALL
PRICE SUGERE O SEGUINTE:
“ESSA IRÔNICA DEPOSIÇÃO
DE ARMAS PROJETADAS PARA
MATAR AS PESSOAS SERÁ
CONSIDERADA UM DESPOJO
“...AOS QUE OS DESPOJARAM...
[I.E., PRETENDIAM
DESPOJÁ-LOS]” (V.10B).
[10] O VERSÍCULO 10
INDICA QUE, DURANTE ESSE
PERÍODO DE SETE ANOS, OS
ISRAELENSES NÃO
PRECISARÃO USAR OS
RECURSOS NATURAIS DE SEU
TERRITÓRIO COMO
COMBUSTÍVEL, POIS “NÃO
TRARÃO LENHA DO CAMPO,
NEM A CORTARÃO DOS
BOSQUES, MAS COM AS ARMAS
ACENDERÃO FOGO; SAQUEARÃO
AOS QUE OS SAQUEARAM E
DESPOJARÃO AOS QUE OS
DESPOJARAM, DIZ O SENHOR
DEUS” (EZ 39.10).
O fato de que essas armas serão queimadas por
sete anos fornece um indicador de tempo que
poderia nos ajudar a discernir o momento, dentro
do cronograma profético de Deus, em que essa
batalha ocorrerá. Fruchtenbaum diz o seguinte:
“Esses sete meses de sepultamento dos corpos e
sete anos de queima das armas são cruciais para
que se possa definir com precisão o momento em
que essa invasão acontecerá. Para que uma
concepção interpretativa esteja correta, deve
obrigatoriamente satisfazer às exigências impostas
por esses sete meses e sete anos”.[11]
Creio que essa invasão liderada por Gogue se
dará provavelmente depois do Arrebatamento da
Igreja, mas antes do início da Tribulação. Um dos
principais fatores que fundamentam minha
convicção é o período de sete anos mencionado
neste trecho dessa passagem bíblica. Parece pouco
provável que essa queima das armas por sete anos
passe para o período de mil anos do Reino, após a
Segunda Vinda do Senhor Jesus. O Dr. Price
explana sobre essas questões nos seguintes termos:
Se essa batalha acontecesse depois do
Arrebatamento, mas antes do início da
septuagésima semana profética de Daniel, haveria
bastante tempo e liberdade de movimento, ainda
durante a primeira metade da Tribulação (i.e. o
período de tempo caracterizado por aquela falsa
paz oferecida a Israel na aliança firmada pelo
Anticristo), para o cumprimento dessa tarefa. Além
disso, a alusão de que não haverá necessidade de
cortar e recolher lenha dos bosques (versículo 10)
faria mais sentido se esse episódio ocorresse antes
da primeira trombeta apocalíptica de juízo, quando
a terça parte de todas as árvores será queimada
(Apocalipse 8.7). Se essa batalha estivesse prevista
para acontecer em algum momento do período da
Tribulação, as pessoas não teriam tempo de
concluir essa tarefa antes da ferrenha perseguição
que ocorrerá nos últimos 42 meses daquele período
(cf. Mateus 24.16-22), quando o Remanescente
Judeu se verá forçado a fugir para o deserto a fim
escapar do sanguinário ataque satânico (Apocalipse
12.6). Embora não haja nenhuma razão que impeça
a queima das armas durante o Reino Milenar, já
que outras armas serão convertidas em utensílios
produtivos e pacíficos no Milênio (Isaías 2.4), a
renovação da natureza e o aumento da
produtividade, característicos desse período (Isaías
27.6; Zacarias 8.12; Miquéias 4.4), poderiam
argumentar contra tal necessidade.[12]
Quando se considera o momento da
ocorrência dessa batalha, é preciso levar em conta
quatro observações fundamentais.[13] Em primeiro
lugar, o povo de Israel deveria estar de volta à sua
terra e se constituir novamente como nação,
situação essa que já é realidade hoje em dia. Em
segundo lugar, os locais que ficaram desolados
dentro do próprio território de Israel deveriam ser
habitados, exatamente como tem acontecido nos
dias atuais. Em terceiro lugar, “Israel deveria
habitar em ‘aldeias sem muros’, uma boa descrição
dos kibutzim da atualidade”.[14] Em quarto lugar,
Israel deveria “habitar seguro”. Fruchtenbaum
afirma: “Em todo esse texto, não existe nenhuma
alusão a que Israel estaria vivendo em paz. Em vez
disso, o texto menciona que Israel estaria vivendo
‘em segurança’, termo esse que originalmente
significa ‘com confiança’, a despeito de ocorrer
durante um estado de guerra ou de paz”.[15]
Ao que parece, apesar de eu acreditar que essa
batalha vai ocorrer após o Arrebatamento e antes
do início da Tribulação, o palco, no entanto, já está
montado em nossos dias para que os
acontecimentos preditos se cumpram. A Rússia já
está novamente à espreita e a Pérsia (i.e., o Irã) é
um dos seus aliados mais chegados. O mundo se
aproxima a cada dia desse iminente confronto.
Maranata!
NOTAS 1 LAMAR EUGENE COOPER, SR., THE NEW
AMERICAN COMMENTARY, EZEKIEL, NASHVILLE, TN:
BROADMAN & HOLMAN PUBS., 1994, P. 341.
2
Ludwig KOEHLER e Walter BAUMGARTNER, The Hebrew and
Aramaic Lexicon of the Old Testament, versão eletrônica,
Leiden, Holanda: Koninklijke Brill, 2000.
3
E. W. HENGSTENBURG, The Prophecies of The Prophet Ezekiel
Elucidated , Minneapolis: James Publications, (1869),
1976, p. 341.
4
Francis BROWN, S. R. DRIVER, e C. A. BRIGGS, Hebrew and
English Lexicon of the Old Testament, Londres: Oxford,
1907, edição eletrônica.
5
KOEHLER e BAUMGARTNER, Hebrew Lexicon, versão eletrônica.
6
Charles Lee FEINBERG, The Prophecy of Ezekiel, Chicago:
Moody Press, 1969, p. 229.
7
FEINBERG, Ezekiel, p. 229.
8
Arnold FRUCHTENBAUM, Footsteps of the Messiah: A Study of
the Sequence of Prophetic Events, Tustin, CA: Ariel Press,
(1982), 2003, p. 115.
9
Randall PRICE, “Ezekiel”, publicado na obra organizada por
Tim LAHAYE e Ed HINDSON, The Popular Bible Prophecy
Commentary, Eugene, OR: Harvest House Publishers,
2007, p. 194.
10
Randall PRICE, “Comentários Não Publicados Sobre as
Profecias de Ezequiel”, 2007, p. 43.
11
(Grifo do autor original em itálico) FRUCHTENBAUM, Footsteps,
p. 117.
12
PRICE, “Comentários Não Publicados”, p. 43.
13
Essas observações são feitas por FRUCHTENBAUM, em
Footsteps, p. 117.
14
FRUCHTENBAUM, Footsteps, p. 117.
15
FRUCHTENBAUM, Footsteps, p. 117.
22. EZEQUIEL
39.11-13

“Naquele dia, darei ali a Gogue um lugar de


sepultura em Israel, o vale dos Viajantes, ao
oriente do mar; espantar-se-ão os que por ele
passarem. Nele, sepultarão a Gogue e a todas as
suas forças e lhe chamarão o vale das Forças de
Gogue. Durante sete meses, estará a casa de
Israel a sepultá-los, para limpar a terra. Sim,
todo o povo da terra os sepultará; ser-lhes-á
memorável o dia em que eu for glorificado, diz o
Senhor Deus”.

A matança que o Senhor executará quando


defender Israel do ataque de Gogue e suas tropas
será tão grande e expressiva que o texto bíblico
emprega dez versículos para descrever o processo
de limpeza e de sepultamento dos cadáveres após a
batalha (Ez 39.11-20). O plano de Gogue,
arquitetado para culminar na morte física da nação
de Israel, será invertido por Deus de tal maneira
que proporcione uma oportunidade de vida
espiritual para Israel (Ez 39.25-39).

O TÚMULO DE GOGUE NOSSA


FAMÍLIA MOROU POR CINCO
ANOS NA CIDADE DE
FREDERICKSBURG,
VIRGÍNIA, EUA, EM MEADOS
DA DÉCADA DE 1990. À
MEDIDA QUE A PESSOA SE
FAMILIARIZA COM ESSA
CIDADE, UMA DAS
PRIMEIRAS COISAS QUE SE
NOTA É UM MORRO, ONDE
CERCA DE 10 MIL SOLDADOS
DA UNIÃO FORAM
ENTERRADOS, QUE LÁ SE
ENCONTRA COMO UM
MEMORIAL EM HONRA AOS
ESFORÇOS DESSES SOLDADOS
NA BATALHA DE
FREDERICKSBURG, DURANTE
A GUERRA CIVIL NORTE-
AMERICANA. NO COMEÇO EU
ME PERGUNTAVA POR QUE OS
SOLDADOS CONFEDERADOS DO
NORTE FORAM ENTERRADOS
NO SUL. POR FIM, ENTENDI
A RAZÃO PELA QUAL
AQUELES SOLDADOS FORAM
SEPULTADOS NUMA
LOCALIDADE DO SUL DOS
ESTADOS UNIDOS. A
CARNIFICINA NA REFERIDA
BATALHA FOI TÃO
DESMEDIDA QUE, EM SÃ
CONSCIÊNCIA, NÃO HAVIA
MEIOS DE TRASLADAR OS
RESTOS MORTAIS PARA SEUS
RESPECTIVOS LARES NOS
ESTADOS DO NORTE. UM
DESTINO SEMELHANTE
AGUARDA OS SOLDADOS QUE
INVADIREM ISRAEL DURANTE
A FUTURA INVASÃO
LIDERADA POR GOGUE.
Assim como aqueles soldados invasores,
oriundos dos estados do norte dos EUA foram
sepultados exatamente onde tombaram, na Batalha
de Fredericksburg, assim também acontecerá a
Gogue e suas hordas, conforme está escrito:
“Naquele dia, darei ali a Gogue um lugar de sepultura
em Israel...“ (Ezequiel 39.11a). Lembre-se do
contexto de todo esse episódio que envolve Gogue e
Magogue. Em primeiro lugar, é o Senhor que põe
anzol no queixo de Gogue e de seus aliados a fim de
trazê-los à terra de Israel (Ez 38.12). Da perspectiva
humana, Gogue é motivado pela ambição de tomar
o despojo de Israel (Ez 38.12), mas o propósito
divino nessa invasão é o de glorificar a Deus e
santificar o Nome do Senhor (Ez 38.23). Portanto, o
propósito de Deus se cumprirá, ao passo que a
intenção de Gogue será frustrada e os invasores
serão despojados para a glória de Deus. Assim
como o local de sepultamento em Fredericksburg é
um memorial em honra aos soldados da União
mortos naquela batalha, assim também o túmulo de
Gogue, dentro do território de Israel, será um
testemunho daquilo que Deus poderosamente
efetuou.
O texto menciona que a localização desse
memorial será “...o vale dos Viajantes, ao oriente do
mar...”. “A quantidade de cadáveres será tão grande
que somente um vale profundo comportaria os
restos mortais deles”.[1] Em que lugar de Israel se
situa esse vale? Segundo Fruchtenbaum, “o lugar
desse sepultamento será num dos vales situados a
leste do mar Mediterrâneo, o que indicaria um
local no vale do Jordão, ao norte do Mar Morto,
lugar esse que será devidamente renomeado no
futuro”.[2] Charles Dyer acrescenta o seguinte: O
vale no qual o exército de Gogue será sepultado fica
na parte leste (i.e., “ao oriente do”) do Mar Morto,
dentro do território da atual Jordânia. A frase “...o
vale dos Viajantes, ao oriente do mar...”, poderia ser
traduzida como um nome próprio. É possível que
seja uma referência aos “montes de Abarim”,
situados a leste do mar Morto, os quais Israel
atravessou na sua jornada para a Terra Prometida
(cf. Nm 33.48). Se for esse o caso, o enterro de
Gogue será no vale de Abarim, do outro lado da
parte israelense do Mar Morto, na terra de Moabe.
Contudo, o sepultamento será em Israel pelo fato
de que Israel teve o domínio desse território
durante alguns períodos de sua história (cf. 2Sm
8.2; Sl 60.8).[3]
Depois dessa batalha e do sepultamento, o
texto afirma: “Ele bloqueará o caminho dos
viajantes...” (NVI). Isso significa que o acesso será
obstruído por uma enorme quantidade de corpos
dos soldados mortos, a ponto de impedir o
caminho, dificultando a passagem dos viajantes por
aquele local espantoso.[4] Randall Price comenta:
“A matança será tão grande que os cadáveres do
exército de Gogue entulharão um vale inteiro,
bloqueando a passagem dos viajantes por aquela
localidade”.[5] A localização desse lugar de
sepultamento indica que o provável trajeto dos
invasores começa a partir do norte; segue em
direção ao sul até o vale do Jordão; eles chegam à
margem norte do mar Morto com o intuito de se
deslocarem na direção oeste até Jerusalém. O
Senhor vai destroçar os invasores quando
começarem a se mover para o oeste em direção da
Sua cidade, Jerusalém.
Em Ez 39.11b está escrito: “...e ali sepultarão a
Gogue e a toda a sua multidão, e lhe chamarão o vale
da multidão de Gogue [do heb. Hamon-Gogue]”
(ARC). Essa multidão de invasores chegará a seu
fim num vale, onde provavelmente as equipes de
sepultamento apenas cobrirão os corpos com terra,
formando um cemitério pelo enterro em massa. O
termo hebraico hamon significa “multidão” ou
“aglomeração”.[6] Assim, “uma nova cidade será
edificada com vista para o cemitério”,[7] que se
chamará pelo nome “multidão de Gogue” para
celebrar esse tremendo acontecimento na história.

SETE MESES DE
SEPULTAMENTO “DURANTE
SETE MESES, ESTARÁ A CASA DE
ISRAEL A SEPULTÁ-LOS, PARA
LIMPAR A TERRA” (EZ
39.12). A EXPRESSÃO
“CASA DE ISRAEL” SE REFERE
AO POVO JUDEU QUE JÁ
VOLTOU À SUA TERRA NATAL
(EZ 38.8) E ATUALMENTE
VIVE NA TERRA PROMETIDA.
O POVO JUDEU TERÁ DE
ENTERRAR OS CADÁVERES
“...PARA LIMPAR A TERRA”.
QUAIS SÃO OS REQUISITOS
JUDAICOS PARA QUE TAL
LIMPEZA SEJA REALIZADA?
PRICE APONTA OS
SEGUINTES PROCEDIMENTOS
ADOTADOS ATUALMENTE EM
ISRAEL QUE TÊM RELAÇÃO
COM ESSE TEXTO: COM BASE
NESSE VERSÍCULO, OS
RABINOS ESTABELECERAM,
POR INFERÊNCIA, A
DECISÃO JUDICIAL (NO
HEB. HALACHÁ) DE QUE
TODAS AS SEPULTURAS
DEVEM SER MARCADAS. NO
ESTADO DE ISRAEL DOS
TEMPOS MODERNOS, UM
GRUPO NÃO-GOVERNAMENTAL
DE JUDEUS ORTODOXOS,
CONHECIDO PELO ACRÔNIMO
HEBRAICO ZACA (QUE
SIGNIFICA:
“IDENTIFICAÇÃO DAS
VÍTIMAS DE DESASTRES”),
É DESIGNADO PARA REMOVER
CUIDADOSAMENTE TODOS OS
RESTOS MORTAIS HUMANOS
APÓS UM ATENTADO SUICIDA
À BOMBA, A FIM DE
RESTAURAR A ORDEM E
EVITAR A IMPUREZA
CERIMONIAL NA TERRA DE
ISRAEL. SEGUNDO A LEI
JUDAICA (I.E. HALACHÁ),
OS MORTOS DEVEM SER
ENTERRADOS IMEDIATAMENTE
PORQUE OS CADÁVERES (OU
MESMO ALGUNS POUCOS
OSSOS) SÃO FONTE DE
CONTAMINAÇÃO RITUAL PARA
A TERRA (CF. NM 19.11-
22; DT 21.1-9). A
PASSAGEM DE EZEQUIEL
36.17-21 JÁ ESTABELECERA
A RELAÇÃO ENTRE PUREZA
CERIMONIAL E SANTIDADE
DIVINA, DE MODO QUE O
TEXTO AQUI NESTE TRECHO
MENCIONA POR TRÊS VEZES
A NECESSIDADE DE “LIMPAR
A TERRA” (VERSÍCULOS 12,
14 E 16).[8]
O texto afirma que esse processo de
sepultamento durará sete meses. Por que vai
demorar tanto tempo para que essa tarefa seja
concluída? Em primeiro lugar, porque o número
imenso de invasores mortos simplesmente fará com
que a própria tarefa de sepultamento seja
assustadoramente morosa. Em segundo lugar, sem
dúvida nenhuma Fruchtenbaum está correto
quando declara: “Uma vez que os exércitos serão
destruídos nos montes de Israel, muitos corpos
cairão nas fendas escarpadas, o que dificultará sua
localização. Isso exigirá que o governo autorize o
uso de equipamentos especiais durante sete meses,
a fim de que esses corpos sejam localizados e
sepultados naquele específico vale”.[9]

COMEMORAÇÃO DO
SEPULTAMENTO “SIM, TODO O
POVO DA TERRA OS
SEPULTARÁ...” (EZ 39.13A).
ESSA DECLARAÇÃO DÁ
SUSTENTAÇÃO AO FATO DE
QUE O MASSACRE SOFRIDO
PELAS TROPAS INVASORAS
SERÁ TÃO DEVASTADOR QUE
TODO O POVO DA TERRA DE
ISRAEL VAI TER DE SE
MOBILIZAR PARA ENTERRAR
OS CORPOS. AO QUE
PARECE, A POPULAÇÃO
GERAL DE ISRAEL
PRECISARÁ DEIXAR SEUS
EMPREGOS NORMAIS PARA
REALIZAR ESSA TAREFA
(VEJA: EZ 39.14-16).
TALVEZ A POPULAÇÃO EM
GERAL TENHA DE SE
ENVOLVER NA LIMPEZA
INICIAL ATÉ QUE
ESPECIALISTAS ASSUMAM A
TAREFA E CONCLUAM TODO O
TRABALHO.[10] O FATO DE
QUE ESSA LIMPEZA SERÁ
TRABALHOSA E DEMORADA
PODE EXPLICAR A RAZÃO
PELA QUAL UMA CIDADE
SURGIRÁ NAQUELA
LOCALIDADE, COM VISTA
PARA O VALE. NOS ESTADOS
UNIDOS, QUANDO SE
DESCOBRE PETRÓLEO EM
DETERMINADO LUGAR OU
QUANDO ACONTECE UMA
“CORRIDA DO OURO”,
CIDADES SURGEM
SUBITAMENTE NAS
PROXIMIDADES DO LOCAL DE
INTERESSE. POR
SEMELHANTE MODO, PODE
SER QUE O SURGIMENTO
SÚBITO DA CIDADE QUE SE
CHAMARÁ HAMONÁ (I.E.,
“FORÇAS” OU “MULTIDÕES”)
SEJA MOTIVADO PELA
NECESSIDADE DE SE
CONSTRUIR UM ACAMPAMENTO
DE BASE PARA AS PESSOAS
QUE TRABALHAREM NESSE
SEPULTAMENTO.
Esse projeto de sepultamento envolvendo todo
o povo de Israel, segundo diz o texto, “...ser-lhes-á
memorável o dia em que eu for glorificado, diz o
Senhor Deus” (Ez 39.13). A expressão hebraica
traduzida por “ser-lhes-á memorável” se encontra no
caso construto relacionando “para eles” com
“memorável”. O vocábulo traduzido por
“memorável” é um termo hebraico comum[11] que,
em geral, se traduz pela palavra “nome”. Todavia,
nesse contexto, o sentido desse termo traz
nitidamente a noção de “tornar célebre um nome”
ou “tornar-se famoso”.[12] Essa é a razão pela qual
o termo “memorável” é uma excelente tradução da
palavra hebraica Shem (i.e., “nome”) nesse
contexto. Assim, depois desse processo de enterro,
a comemoração do sepultamento, feita pelo povo
de Israel, se tornará célebre naquele dia. Mais do
que isso, o texto diz que é por causa da fama e do
renome de Seu povo que o Senhor Deus será
glorificado através desses acontecimentos. Por que,
do ponto de vista de Deus, isso será visto como um
episódio glorioso e honroso para o Senhor? Será
visto como algo glorioso porque, através desse
acontecimento, Deus provará para Israel e para
todas as nações do mundo que Ele, o Senhor Deus
de Israel, é capaz de manter as promessas que fez
ao povo de Sua Aliança, Israel. Maranata!

NOTAS 1 ROBERT JAMIESON, A. R. FAUSSET, ET AL..,


A COMMENTARY, CRITICAL AND EXPLANATORY, ON THE
OLD AND NEW TESTAMENTS, OAK HARBOR, WA:
LOGOS RESEARCH SYSTEMS, INC., 1997, EZEQUIEL
39.11.
2
Arnold G. FRUCHTENBAUM, The Footsteps of the Messiah: A
Study of the Sequence of Prophetic Events, edição
revisada, Tustin, CA: Ariel Ministries, 2003, p. 116.
3
(Grifo do autor original) Charles H. DYER, “Ezekiel”, publicado
na obra organizada por John F. W ALVOORD e Roy B. ZUCK,
The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the
Scriptures, Old Testament, Wheaton, IL: Victor Books,
1983-1985, p. 1302.
4
DYER, “Ezekiel”, p. 1302.
5
Randall PRICE, “Ezekiel”, publicado na obra organizada por
Tim LAHAYE e Ed HINDSON, The Popular Bible Prophecy
Commentary, Eugene, OR: Harvest House Publishers,
2007, p. 194.
6
Ludwig KOEHLER e Walter BAUMGARTNER, The Hebrew and
Aramaic Lexicon of the Old Testament, versão eletrônica,
Leiden, Holanda: Koninklijke Brill, 2000.
7
FRUCHTENBAUM, Footsteps, p. 117.
8
Randall PRICE, “Comentários Não Publicados Sobre as
Profecias de Ezequiel”, 2007, p. 44.
9
FRUCHTENBAUM, Footsteps, p. 116.
10
DYER, Ezekiel, p. 1302.
11
Ocorre 864 vezes, segundo pesquisa realizada através do
programa de computador Accordance, versão 7.4.2.
12
KOEHLER e BAUMGARTNER, The Hebrew and Aramaic Lexicon,
versão eletrônica.
23. EZEQUIEL
39.17-20

“Tu, pois, ó filho do homem, assim diz o Senhor


Deus: Dize às aves de toda espécie e a todos os
animais do campo: Ajuntai-vos e vinde, ajuntai-
vos de toda parte para o meu sacrifício, que eu
oferecerei por vós, sacrifício grande nos montes
de Israel; e comereis carne e bebereis sangue.
Comereis a carne dos poderosos e bebereis o
sangue dos príncipes da terra, dos carneiros, dos
cordeiros, dos bodes e dos novilhos, todos
engordados em Basã. Do meu sacrifício, que
oferecerei por vós, comereis a gordura até vos
fartardes e bebereis o sangue até vos
embriagardes. À minha mesa, vós vos fartareis
de cavalos e de cavaleiros, de valentes e de todos
os homens de guerra, diz o Senhor Deus”.
Esse texto emprega uma quantidade enorme
de terminologia referente aos aspectos da limpeza
que acontecerá logo depois da batalha na qual Deus
aniquilará Gogue (Ez 39.9-20). “As primeiras
instruções tratam da deposição das armas (v. 9-10),
as quais devem ser queimadas como combustível
[...] As instruções seguintes (Ez 39.11-20) tratam da
devida destinação dada aos corpos dos soldados do
exército de Gogue que forem mortos”.[1]

MEU SACRIFICIO O DR.


RANDALL PRICE ASSINALA O
SEGUINTE: “PODE SER QUE
DUAS FASES DE ELIMINAÇÃO
SEJAM CONSIDERADAS NESSA
PASSAGEM. A PRIMEIRA
FASE DE ELIMINAÇÃO SERIA
AQUELA REALIZADA PELOS
ANIMAIS SELVAGENS QUE SE
JUNTARÃO PARA REDUZIR OS
CADÁVERES A ESQUELETOS
(V.18-20)”. ESSA SERIA A
FASE QUE ESTÁ SOB NOSSA
ANÁLISE NESTE MOMENTO.
PRICE ACRESCENTA: “ENTÃO
OS OSSOS DO INIMIGO
SERÃO DEVIDAMENTE
ENTERRADOS POR ‘...TODO O
POVO DA TERRA...’”.
(V.13).[2]
No versículo 17, o Senhor Deus manda que o
profeta Ezequiel convoque toda espécie de aves e de
feras do campo, de modo que venham de toda
parte e se ajuntem para, nas próprias palavras do
Senhor: “...o meu sacrifício, que eu oferecerei por vós,
sacrifício grande nos montes de Israel...”. Nesse caso,
é o Senhor, por intermédio da palavra do Seu
profeta, que arrebanha essa quantidade enorme de
animais para se banquetearem com o que Ele lhes
oferece. Parece que o Senhor revela um propósito
irônico nessa passagem. A ironia está no fato de que
anteriormente Gogue e seus exércitos atacaram
Israel com o objetivo declarado: “...a fim de tomares
o despojo, arrebatares a presa...” (Ez 38.12). No
entanto, pela intervenção do Senhor, Gogue e seus
aliados se tornam a presa sobre a qual os animais
selvagens e aves se banqueteiam. Keil faz o seguinte
comentário: “Junto com o recolhimento das armas
que posteriormente serão queimadas, ocorrerá o
espólio do inimigo que tombou na batalha (v.10b);
nessa ocasião, os israelitas farão com o inimigo
aquilo que este queria fazer com eles (Ez 38.12), de
modo que o povo de Deus se apossará da riqueza
de seus inimigos (cf. Jr 30.16)”.[3]
O Senhor denomina o massacre sofrido pelos
invasores de “meu sacrifício” oferecido às aves e
animais do campo. O Senhor afirma que oferecerá
em sacrifício essa refeição, para, então, chamá-la de
um “...sacrifício grande nos montes de Israel”. Assim,
a palavra hebraica traduzida por “sacrifício” é usada
por três vezes no versículo 17. Fisch, um rabino
judeu, menciona que judeus traduzem esse termo
por “festa ou banquete”, mas seu significado literal
é “sacrifício”. “As duas idéias estão interligadas,
pois geralmente uma se tornava ocasião para a
outra. Para um israelita, o sacrifício, aqui descrito, é
uma paródia sombria do verdadeiro sacrifício, já
que os ‘convidados’ beberão o sangue, um ritual
absolutamente proibido em Israel”.[4]

O CARDÁPIO O SENHOR
ESPECIFICA O CARDÁPIO
QUE SERÁ OFERECIDO AOS
ANIMAIS CARNICEIROS E
AVES QUE PARTICIPARÃO
DESSE BANQUETE. ENTRE AS
OPÇÕES DESCRITAS PELO
SENHOR ESTÃO “A CARNE
DOS PODEROSOS” E O
“SANGUE DOS PRÍNCIPES DA
TERRA” (EZ 39.18). O
TERMO HEBRAICO TRADUZIDO
POR “PODEROSOS” É A
FORMA PLURAL DA PALAVRA
HEBRAICA QUE SE TRADUZ
POR “FORTE” E SIGNIFICA:
“HOMEM PODEROSO, HOMEM
FORTE OU HOMEM VALENTE;
I.E., AQUELE QUE, ALÉM
DE FORTE, TEM PODER
POLÍTICO OU PODERIO
MILITAR”.[5] PORTANTO, O
TEXTO FAZ REFERÊNCIA A
TROPAS MILITARES DE
ELITE, COMO OS SOLDADOS
DE NOSSAS FORÇAS
ESPECIAIS DE COMBATE. O
OUTRO TERMO HEBRAICO QUE
DENOTA UM LÍDER HUMANO
SIGNIFICA LITERALMENTE
“LÍDER, GOVERNANTE,
CHEFE, PRÍNCIPE, I.E.,
AQUELE QUE GOVERNA OU
REGE UM GRUPO, SEJA ELE
ESCOLHIDO POR SUA
CAPACIDADE, SEJA POR
LINHAGEM SANGUÍNEA”.[6]
EM OUTRAS PALAVRAS, NÃO
APENAS OS MILITARES DE
ELITE SERÃO ANIQUILADOS,
MAS TAMBÉM SEUS
GOVERNANTES. O TEXTO
HEBRAICO PODERIA APENAS
TER MENCIONADO OS
PRÍNCIPES, O QUE
BASTARIA PARA QUE
ENTENDÊSSEMOS QUE É UMA
REFERÊNCIA AOS PRÍNCIPES
DA TERRA. ENTRETANTO, A
EXPRESSÃO “DA TERRA” FOI
REGISTRADA PROVAVELMENTE
PARA INDICAR QUE OS
MELHORES DA TERRA FORAM
DESTRUÍDOS PELO
GOVERNANTE DO CÉU E DA
TERRA, A SABER, O
PRÓPRIO SENHOR.
Ao descrever a matança de Seus inimigos, o
Senhor faz uso da terminologia de um banquete
sacrificial e equipara a carnificina humana com os
animais que freqüentemente eram oferecidos em
sacrifício durante os cultos de Israel no Templo. Só
que dessa vez, a verdadeira oferta sacrificada são os
inimigos de Israel, os quais serão servidos aos
animais do campo e aos pássaros. “Era normal que
as pessoas matassem e comessem os animais
sacrificados. Aqui, todavia, os homens dos exércitos
de Gogue serão mortos e oferecidos em sacrifício;
eles é que serão comidos pelos animais”.[7] “Os
animais mencionados estão numa relação figurada
com as diferentes categorias de homens mortos”.[8]
“Para dar o devido destaque a essa concepção, as
aves de rapina e animais predadores são
convocados por Deus a se reunirem para a refeição
que lhes foi preparada”. A cena aqui retratada de
uma refeição sacrificial se baseia em Isaías 34.6 e
Jeremias 46.10. Em harmonia com essa imagem, os
inimigos abatidos são descritos como animais
engordados para o sacrifício, carneiros, cordeiros,
bodes e novilhos; sobre isso, Grotius salientou
corretamente que “essas espécies de animais,
geralmente utilizadas nos sacrifícios, devem ser
interpretadas como diferentes estirpes de homens,
a saber, governantes, generais e soldados, como o
Dicionário Caldeu também menciona”.[9]
Esta frase: “...todos engordados em Basã” se
refere primeiramente a um “animal cevado”, ou
seja, um mamífero relativamente jovem (em geral,
da espécie bovina), selecionado para consumo
dentre os animais desmamados.[10] Em segundo
lugar, Basã diz respeito ao “território fértil limitado
pelo rio Jaboque ao sul, pelo mar da Galiléia a
oeste, e por uma linha imaginária que se dirige para
o leste desde o monte Hermom ao norte até a
cordilheira do Haurã, a leste”.[11] Como ressalta
Charles Feinberg: “Basã era um território famoso
pela excelência de suas pastagens e pelo gado bem
nutrido”.[12] Hoje em dia, se você viaja até as
colinas de Golã, em Israel, vai constatar que é a
principal região onde o gado pasta nos campos e
onde a pecuária mais se desenvolve.
O versículo 19 também revela aspectos
irônicos. Gogue e seus comparsas atacam Israel
com o propósito de saquear e levar o despojo da
terra, mas, ao invés disso, eles é que são derrotados
e despojados. Nesse caso, Gogue e seus exércitos
proporcionarão a gordura e o sangue com os quais
os animais e as aves ficarão enfastiados e
embriagados. Para tanto, é preciso haver um
excesso de comida e de bebida. Pois é exatamente
isso que vai acontecer nessa ocasião da derrota de
Gogue nos montes de Israel.
O versículo 20 afirma: “À minha mesa, vós vos
fartareis...”. Feinberg comenta o seguinte: “O
banquete sacrificial, mencionado no versículo 19, é
referido no versículo 20 como ‘minha mesa’ porque
é o Senhor que oferece o banquete. É uma imagem
que comunica muito bem a idéia de grande
carnificina, de juízo merecido e de condenação
irrevogável”.[13] Dessa maneira, aquilo que foi dito
simbolicamente no versículo 18, a saber: “Comereis
a carne dos poderosos e bebereis o sangue dos
príncipes da terra, dos carneiros, dos cordeiros, dos
bodes e dos novilhos...”, o versículo 20 reafirma
literalmente: “À minha mesa, vós vos fartareis de
cavalos e de cavaleiros, de valentes e de todos os
homens de guerra...”. Mais uma vez fica evidente
que o foco dessa passagem se concentra no fato de
que nosso Soberano Senhor é Aquele que tem o
controle da história, bem como é Aquele que
superintende todo esse acontecimento, ainda que
Gogue e seus aliados tenham seus motivos para tal
invasão. O texto afirma que essa mensagem na
íntegra é uma declaração do “...Senhor Deus”, o Rei
que governa tanto o céu como a terra.

CONCLUSÃO APESAR DO
CAPÍTULO 39 DE EZEQUIEL
AINDA TER NOVE
VERSÍCULOS ATÉ O SEU
FIM, A PROFECIA DA
BATALHA DE GOGUE E
MAGOGUE TERMINA NO
VERSÍCULO 20. O DR.
PRICE EXPLICA O
SEGUINTE: AS ALUSÕES À
GUERRA DE GOGUE
ENCERRAM-SE NO VERSÍCULO
22, DE MODO QUE O FOCO
DA PASSAGEM SE VOLTA
EXCLUSIVAMENTE PARA O
LIVRAMENTO QUE DEUS
EFETUOU EM FAVOR DE SEU
POVO NO PASSADO E PARA A
DEVOÇÃO DOS ISRAELITAS
AO SENHOR QUANDO ELES
FUTURAMENTE FOREM
RESTAURADOS. OS
VERSÍCULOS 21 E 22 SÃO
VERSOS DE TRANSIÇÃO QUE
REITERAM O PROPÓSITO
DIVINO PARA A DERROTA DE
GOGUE, A SABER, FORNECER
INFORMAÇÃO REVELADORA
SOBRE DEUS PARA AS
NAÇÕES (V.21) E PARA
ISRAEL (V.22).[14]
Durante as próximas etapas de nossa análise,
este autor usará as informações reunidas nas etapas
anteriores para aplicá-las ao mundo
contemporâneo ou ao mundo futuro, nas diversas
possibilidades que fluem indutivamente do texto.
Algumas questões que precisam ser levantadas são
as seguintes: Quando, onde, por que e o que deve
acontecer para que essa profecia se cumpra
futuramente na história. Maranata!
NOTAS 1 RANDALL PRICE, “EZEKIEL”, PUBLICADO NA
OBRA ORGANIZADA POR TIM LAHAYE E ED HINDSON,
THE POPULAR BIBLE PROPHECY COMMENTARY,
EUGENE, OR: HARVEST HOUSE PUBLISHERS, 2007,
P. 194.
2
PRICE, “Ezekiel”, p. 194.
3
Carl Friedrich KEIL e Franz DELITZSCH, Commentary on the
Old Testament, Peabody, MA: Hendrickson, 2002, vol. 9, p.
338.
4
Rabbi Dr. S. FISCH, Ezekiel: Hebrew Text & English
Translation With An Introduction and Commentary,
Londres: The Soncino Press, 1950, p. 262.
5
James SWANSON, Dictionary of Biblical Languages With
Semantic Domains: Hebrew (Old Testament), edição
eletrônica, Oak Harbor: Logos Research Systems, Inc.,
1997, DBLH 1475, #1.
6
SWANSON, Dictionary of Biblical Languages, DBLH 5954, #1.
7
John F. W ALVOORD, Roy B. ZUCK e DALLAS THEOLOGICAL
SEMINARY, The Bible Knowledge Commentary: An
Exposition of the Scriptures, Wheaton, IL: Victor Books,
1983–1985, vol. 1, p. 1302.
8
Charles Lee FEINBERG, The Prophecy of Ezekiel, Chicago:
Moody Press, 1969, p. 231.
9
KEIL e DELITZSCH, Commentary, vol. 9, p. 339.
10
Swanson, Dictionary of Biblical Languages, DBLH 5309.
11
Robert Laird HARRIS, Gleason Leonard ARCHER e Bruce K.
W ALTKE, Theological Wordbook of the Old Testament,
edição eletrônica, Chicago: Moody Press, 1980–1999, p.
137.
12
FEINBERG, Ezekiel, p. 231.
13
FEINBERG, Ezekiel, p. 231.
14
PRICE, “Ezekiel”, p. 194.
24. VÁRIOS PONTOS
DE VISTA

Depois de completar essa análise e visão geral


do texto de Ezequiel 38–39.20, volto-me para a
questão referente ao momento em que esse
episódio acontecerá ou aconteceu na história. Quais
seriam os diversos pontos de vista referentes ao
momento exato da ocorrência dessa campanha
militar? Há, no mínimo, sete diferentes pontos de
vista acerca da ocasião do cumprimento da batalha
de Gogue e Magogue.
Os sete pontos de vista nem sequer levam em
conta as outras possibilidades que surgem dentro
de uma abordagem interpretativa historicista e
idealista. Não vou considerar essas duas
perspectivas de interpretação pelo fato de que o
sistema interpretativo historicista em grande parte
já está morto, exceto por alguns grupos sectários
que o advogam, ao passo que o método
interpretativo idealista, por sua própria definição,
se recusa a analisar a cronologia dos
acontecimentos proféticos. Isso deixa o estudante
da Bíblia com duas opções muito claras, a saber: a
concepção de um cumprimento no passado ou a
concepção de um cumprimento no futuro.
Aqueles que acreditam que essa profecia se
cumpriu no passado são chamados de preteristas,
os quais defendem dois pontos de vista. O primeiro
ponto de vista, sustentado por Gary DeMar e
alguns poucos preteristas, defende a concepção de
que essa batalha já se cumpriu nos acontecimentos
descritos no capítulo 9 do livro de Ester.[1] Assim,
ele acredita que essa profecia se cumpriu no quinto
século a.C., durante o reinado do rei persa Xerxes I
(486–465 a.C.). Embora existam outros sub-pontos
de vista dentro do preterismo, o segundo ponto de
vista é o de que “a maioria dos preteristas entende
que essa profecia se cumpriu no segundo século
a.C., na ocasião em que os sírios invadiram a
Palestina e foram derrotados por Judas Macabeu”.
[2]
O outro grupo representativo é formado por
aqueles que acreditam que essas profecias ainda se
cumprirão no futuro, apesar dos diferentes pontos
de vista. O primeiro ponto de vista defende a
concepção de que a profecia referente a Gogue se
cumprirá antes do período da Tribulação (embora
seja pouco provável, poderia ocorrer antes do
Arrebatamento da Igreja).[3] Um segundo ponto de
vista entende que esses acontecimentos preditos
ocorrerão durante a primeira metade da
Tribulação, quase no momento central desse
período.[4] O terceiro ponto de vista sustenta que o
Armagedom e a invasão liderada por Gogue são o
mesmo acontecimento, o qual ocorrerá na ocasião
da Segunda Vinda.[5] O quarto ponto de vista
defende a concepção de que esses acontecimentos
se darão no começo do Milênio.[6] O último ponto
de vista propõe que essa invasão liderada por
Gogue acontecerá no fim do Milênio.[7]

CUMPRIU-SE NO PASSADO?
Após analisar os dois pontos de vista que
defendem um cumprimento no passado, tenho de
confessar que, dentre as sete concepções
apresentadas, a concepção menos provável é a que
DeMar defende, quando alega que a invasão
liderada por Gogue se cumpriu nos dias da rainha
Ester. DeMar afirma que as predições de Ezequiel
38–39 se cumpriram “literalmente” naqueles
acontecimentos descritos no capítulo 9 do livro de
Ester, durante os dias da rainha Ester da Pérsia, em
cerca de 470 a.C. DeMar declara que as
semelhanças entre a batalha descrita em Ezequiel
38–39 e os fatos relatados no livro de Ester são
“inconfundíveis”.[8] Porém DeMar, na sua
interpretação literal, não leva em conta uma série
de diferenças claras entre os textos de Ezequiel 38–
39 e Ester 9. Uma simples leitura dessas duas
passagens bíblicas comprova que esses textos não
podem estar descrevendo o mesmo acontecimento.
Abaixo relaciono algumas das incoerências
mais evidentes e problemáticas do ponto de vista de
DeMar, numa análise comparativa que demonstra
sua impossibilidade:
Ezequiel 38–39 Ester 9
A terra de Israel é invadida (38.16) por uma Os judeus são atacados nas cidades de
coalizão de vários exércitos. Os inimigos tombam todo o império Persa (127 províncias; Et 9.30)
nos montes de Israel (39.4). Gogue, o líder dessa por supostas gangues de pessoas inimigas,
invasão, é enterrado em Israel (39.11). não exércitos, e se defendem (9.2). Os
inimigos são mortos em todo o império
Persa.
Durante um período de sete meses, os judeus Não há necessidade de limpar a terra,
sepultarão os corpos dos inimigos invasores para porque os cadáveres não se encontram em
limpar a terra de Israel (39.12). Israel.
Os invasores são destruídos por um terremoto Os agressores são mortos pelo próprio
arrasador na terra de Israel, por lutas internas povo Judeu, auxiliados por governantes
(aliados que lutam entre si), por pragas, bem locais das províncias (9.3-5).
como por fogo e enxofre que caem do céu
(38.19-22). Deus destrói os inimigos de Israel
sobrenaturalmente.
Os invasores vêm do extremo oeste, como a O território do império Persa não incluía
antiga Pute (atual Líbia; Ez 38.5) e do extremo essas regiões. Sua extensão territorial no
norte, como Magogue, a terra dos Citas. extremo oeste chegava até Cuxe (atual
Sudão; Et 8.9) e no extremo norte chegava
até a região situada abaixo do mar Negro e
do mar Cáspio.
Deus mete fogo em Magogue e nos que Não há nada que se assemelhe a isso em
habitam nas ilhas (39.6). Ester 9.

O texto de Ezequiel claramente descreve uma


invasão-surpresa que envolve exclusivamente a
terra de Israel, ao passo que o texto de Ester 9 se
refere aos judeus dispersos por todas as 127
províncias do Império Persa (Ester 9.30), os quais
sabiam o dia exato (o “... dia treze do duodécimo mês
que é o mês de Adar...”, conforme Ester 9.1) em que
o edito do rei seria executado. Na profecia de
Ezequiel não há nenhuma menção de que alguém
seja morto por enforcamento, como Hamã e seus
dez filhos foram sentenciados e mortos numa forca
(Ester 9.13). Por que a terra de Israel nem sequer é
mencionada no texto de Ester 9, mas a capital
persa, Susã, e os nomes de muitas outras
localidades do Império Persa são referidos? Na
profecia de Ezequiel, a Pérsia é um dos invasores de
Israel que serão aniquilados pelo Senhor, ao passo
que no relato de Ester, o rei da Pérsia e muitos
outros persas auxiliaram os judeus a se defenderem
e derrotarem os antissemitas, num acontecimento
histórico que ocorreu na Pérsia.
Além disso, se tomarmos por base o capítulo 9
de Ester, não se pode dizer que os judeus que
viviam na Pérsia tinham sido reagrupados dentre as
nações e viviam tranquilos na terra de Israel, como
Ezequiel claramente descreve. Ao invés disso, os
judeus, mencionados no livro de Ester, estavam
comprometidos com a luta que requeria a coragem
da rainha Ester. Essas diferenças são tão distintas
como o dia e a noite.
Uma importante pergunta que poderíamos
levantar a essa altura é a seguinte: Se a profecia de
Ezequiel 38–39 se cumpriu literalmente durante
aqueles acontecimentos registrados em Ester 9, por
que ninguém percebeu isso nos dias de Ester? Por
que não houve nenhuma menção no livro de Ester
a esse grande cumprimento da profecia de
Ezequiel? E mais, por que não houve sequer um
erudito judeu naquela época (ou posteriormente)
que reconhecesse tal cumprimento profético?
A resposta é mais do que óbvia. Os
acontecimentos relatados em Ester 9 não são o
cumprimento histórico da profecia de Ezequiel 38
– 39. Para falar a verdade, um importante feriado
judaico, chamado Purim foi instituído a partir
daquele episódio ocorrido nos dias de Ester (Et
9.20-32). Trata-se de um feriado anual muito
festivo que comemora o livramento efetuado por
Deus ao tirar Israel das mãos de seus inimigos. A
celebração do Purim inclui a leitura pública do livro
de Ester, porém não existe nenhuma tradição que
tenha se desenvolvido, ou de que se tenha notícia,
na qual os judeus façam a leitura de Ezequiel 38–
39, como se houvesse alguma relação com a
observância dessa festa. Se o texto de Ezequiel 38–
39 tivesse se cumprido nos acontecimentos
narrados em Ester, o povo judeu, sem dúvida, teria
desenvolvido uma tradição ritual de ler também a
passagem de Ezequiel durante essa celebração.
Felizmente, o texto de Ezequiel efetivamente
nos informa o momento em que essa invasão há de
acontecer. Em Ezequiel 38.8, o profeta declara que
essa invasão ocorrerá especificamente “no fim dos
anos” [ou “nos últimos anos”]. É a única ocorrência
dessa expressão hebraica em todo o Antigo
Testamento.
Outra expressão semelhante a essa ocorre mais
adiante, no versículo 16 desse mesmo capítulo: “[...]
Nos últimos dias, hei de trazer-te contra a minha
terra...” (grifo do autor). Essa expressão é usada no
Antigo Testamento para se referir ao último
momento da angústia de Israel ou à restauração
definitiva de Israel para participar do Reino
Messiânico (veja: Is 2.2; Jr 23.20; 30.24; Oséias 3.5;
Miquéias 4.1). Semelhantemente, a expressão “nos
últimos dias” que ocorre no texto de Ezequiel 38.16
é um termo técnico que se refere ao fim dos
tempos, segundo esclarece o catedrático em língua
hebraica Horst Seebass. Seebass afirma que essa
expressão diz respeito ao “modo pelo qual a
história chegará ao seu ponto culminante, nesse
caso, ao seu resultado final”.[9] Portanto, Ezequiel
nos informa que essa invasão ocorrerá no momento
final da história, em preparação para o
estabelecimento do reino messiânico de Cristo.
Outra razão muito simples, pela qual podemos
entender que essa invasão ainda ocorrerá no futuro,
se encontra no fato de que nenhum acontecimento
parecido (nem de longe) com aqueles que estão
descritos em Ezequiel 38–39 já se deu no passado.
Pare para pensar um pouco. Quando a terra de
Israel foi invadida por todas aquelas nações
relacionadas em Ezequiel 38.1-6? Ou, ainda,
quando foi que Deus destruiu um exército invasor
como esse, utilizando-se de fogo e enxofre vindos
do céu, pragas, terremotos e lutas internas entre os
próprios invasores (Ez 38.19-22)?
A resposta é: Nunca! Aí está a razão pela qual
o profeta Ezequiel descreve essa invasão como um
episódio que, até mesmo para nós, ainda é futuro.
O único possível motivo para que DeMar e outros
preteristas relacionem os fatos registrados em Ester
9 com os acontecimentos profetizados em Ezequiel
38–39 é a sua busca desesperada de evitar a
possibilidade de que se considere um cumprimento
ainda futuro para essa profecia, pois isso
prejudicaria as concepções que eles já propuseram
e publicaram de um cumprimento no passado.

CONCLUSÃO
A cena de uma invasão maciça da terra de
Israel no fim dos tempos, pelos povos mencionados
no texto de Ezequiel, nunca foi vista na história,
apesar das alegações em contrário. Desde a época
da profecia de Ezequiel, nenhum episódio da
história remota de Israel até os dias atuais sequer
chega perto de uma correlação ou encaixe com
aqueles detalhes registrados em Ezequiel 38 – 39
(muito menos o que consta em Ester 9). Por isso,
partindo-se do pressuposto óbvio de que uma
profecia deve se cumprir literalmente, essa profecia
referente à invasão liderada por Gogue deve
aguardar um cumprimento que, mesmo da
perspectiva de nossos dias, ainda se dará no futuro.
Assim, o texto profético de Ezequiel 38–39 retrata
uma futura invasão de Israel no fim dos tempos,
imposta pela Rússia e seus aliados, como o Irã e
outros povos citados (todos esses, na atualidade, são
nações islâmicas que menosprezam e odeiam
Israel). Maranata!
NOTAS
1
Veja: Gary DEMAR, End Times Fiction: A Biblical
Consideration of the Left Behind Theology, Nashville:
Thomas Nelson, 2001, p. 12-15; veja também: DEMAR, Last
Days Madness: Obsession of the Modern Church, Powder
Springs, GA: American Vision, 1999, p. 368-69. DeMar
segue a mesma linha de pensamento do seu colega
preterista James Jordan, na obra que este escreveu
intitulada: Esther: In the Midst of Covenant History,
Niceville, FL: Biblical Horizons, 1995.
2
Jay ROGERS, “Does the Bible predict a Russian invasion of
Israel?”, artigo publicado em abril de 1997 no site da
Internet:
http://www.forerunner.com/predvestnik/X0058_Russia_Israel.html
acessado em 12 de março de 2009.
3
Veja: Arnold G. FRUCHTENBAUM, The Footsteps of the
Messiah: A Study of the Sequence of Prophetic Events,
edição revisada; Tustin, CA: Ariel Ministries, 2003, p. 117-
125. Veja, também, como Tim LAHAYE e Jerry JENKINS
retrataram esses acontecimentos em sua obra Left Behind:
A Novel of the Earth’s Last Days, Wheaton, IL: Tyndale,
1995.
4
Veja: Mark HITCHCOCK, Iran – The Coming Crisis: Radical
Islam, Oil, and The Nuclear Threat, Sisters, OR:
Multnomah, 2006, p. 177-89.
5
Veja: Louis S. BAUMAN, Russian Events in the Light of Bible
Prophecy, Nova York: Fleming H. Revell, Company, 1942,
p. 174-75.
6
Veja: Arno C. GAEBELEIN, The Prophet Ezekiel, Nova York:
Our Hope, 1918, p. 252-55.
7
Veja: Ralph ALEXANDER, Ezekiel, Chicago: Moody Press,
1976, p. 127-29.
8
DEMAR, End Times Fiction, p. 13.
9
Horst SEEBASS, Theological Dictionary of the Old Testament,
organizado por G. Johannes BOTTERWECK e Helmer
RINGGREN, traduzido para o inglês por John T. Willis; Grand
Rapids: William B. Eerdmans, 1977, vol. 1, p. 211-12.
25. VÁRIOS PONTOS
DE VISTA –
(CONTINUAÇÃO 1) O
SEGUNDO PONTO DE
VISTA PRETERISTA,
OU SEJA, A
CONCEPÇÃO DE QUE
AS PREDIÇÕES
REGISTRADAS NO
TEXTO DE EZEQUIEL
38–39 SE CUMPRIRAM
NO PASSADO,
DEFENDE A
PERSPECTIVA DE QUE
ESSA PROFECIA “SE
CUMPRIU NO SÉCULO
II A.C., QUANDO OS
SÍRIOS INVADIRAM A
PALESTINA E FORAM
DERROTADOS POR
JUDAS MACABEU”.[1]
UM INTÉRPRETE
PRETERISTA AFIRMOU
QUE ESSA É A
CONCEPÇÃO MAIS
AMPLAMENTE
DIFUNDIDA E
DEFENDIDA PELA
MAIORIA DOS
PRETERISTAS,
PORÉM, AO
PESQUISAR EM MINHA
BIBLIOTECA PESSOAL
E NOS SITES
PRETERISTAS DE
MAIOR EXPRESSÃO,
NÃO ENCONTREI
PRATICAMENTE
NENHUM PRETERISTA
QUE TENHA ESCRITO
ALGO SOBRE O
SIGNIFICADO DESSA
PROFECIA. COMO
SEMPRE, MUITOS
PRETERISTAS
ARGUMENTAVAM QUE
TAL PROFECIA NÃO
SIGNIFICA AQUILO
QUE OS INTÉRPRETES
FUTURISTAS DIZEM
QUE ELA SIGNIFICA,
MAS ESSES
PRETERISTAS
RARAMENTE TÊM
TEMPO PARA NOS
EXPLICAR COM
DETALHES O QUE
ELES CRÊEM QUE
ESSA PASSAGEM
BÍBLICA SIGNIFICA.
É MUITO DIFÍCIL
ACHAR UM
COMENTÁRIO BÍBLICO
SEQÜENCIAL,
ESCRITO POR UM
INTÉRPRETE
PRETERISTA, QUE
COMENTE PALAVRA
POR PALAVRA DAS
ESCRITURAS SEGUNDO
A PERSPECTIVA
PRETERISTA. NESSE
CASO, COMENTAREI
EM LINHAS GERAIS
OS PONTOS DE VISTA
QUE ELES ADVOGAM.
UM CUMPRIMENTO PROFÉTICO
NO SÉCULO II A.C.
Max King, um preterista convicto, fez o
seguinte comentário sobre a identidade de Gogue e
Magogue: “Ezequiel faz uso desses nomes para se
referir ao poder dos Selêucidas, especialmente
quando atingiu o seu apogeu nos dias de Antíoco
Epifânio”.[2] Em seguida, Max King acrescentou
uma nota de rodapé citando o amilenista que não é
preterista, William Hendrikson,[3] para apoiar sua
afirmação. Dessa forma, sem fornecer muitos
detalhes, os que advogam essa concepção acreditam
que “a opressão imposta ao povo de Deus por
‘Gogue e Magogue’ é uma referência, feita no livro
de Ezequiel, à terrível perseguição imposta por
Antíoco Epifânio, governante da Síria”.[4]
Diferente daquela concepção de Gary DeMar que
analisamos na seção anterior, esse último ponto de
vista admite, pelo menos, que os invasores
realmente sobrevirão à terra de Israel, como se
observa na profecia de Ezequiel. O intérprete
preterista Vic Reasoner declara o seguinte: “O
contexto de Ezequiel estava descrevendo a
insurreição dos Macabeus no Século II antes de
Cristo”.[5]
Embora seja verdade que Antíoco Epifânio,
governante da Síria, invadiu Israel no Século II a.C.,
pouquíssimas semelhanças existem entre essa
invasão e aquela que foi predita nessa passagem de
Ezequiel. Para começar, a invasão inicial de Israel
empreendida por Antíoco foi bem sucedida de
modo que ele conseguiu oprimir o povo judeu. Só
depois de um período de vida sob o domínio
opressor da Síria que a revolta dos Macabeus teve
início e, por fim, foi vitoriosa. Na descrição da
invasão de Gogue à terra de Israel, o texto de
Ezequiel não indica em nenhum momento que os
invasores obteriam algum êxito na sua tentativa,
muito menos que conseguiriam estabelecer um
período de ocupação da terra de Israel. Na profecia
de Ezequiel, o Senhor destroça os exércitos
invasores no momento em que eles invadem Israel.
A principal característica da Revolta dos Macabeus
foi a nítida participação do elemento humano como
instrumento para derrotar os Selêucidas que
ocupavam a terra de Israel, ao passo que, na
profecia de Ezequiel, Deus não utiliza seres
humanos para derrotar Gogue e seus exércitos; em
vez disso, Ele próprio os derrota através de atos
miraculosos (Ez 38.21-22).
A revolta dos Macabeus não ocorreu depois de
um reagrupamento internacional dos judeus na sua
terra, vindos de todas as partes do mundo, como é
o que vai acontecer no episódio da invasão de Israel
liderada por Gogue. Além disso, se orgulho
nacionalista judaico estava em alta durante a
revolta dos Macabeus, tal orgulho nacionalista não
fará parte do avivamento espiritual que sucederá ao
povo Judeu, em consequência do livramento que o
Senhor lhes concederá na ocasião do ataque de
Gogue (Ez 38.23). Quando foi que Deus meteu fogo
“...em Magogue e nos que habitam seguros nas terras
do mar...”, de modo que Magogue e as nações
chegassem a reconhecer o que Deus afirma de Si
mesmo: “...eu sou o Senhor” (Ez 39.6)? Em que
ocasião os Judeus da época dos Macabeus
queimaram, por sete anos, as armas de guerra ou
enterraram, por sete meses, os cadáveres dos
invasores (Ez 39.9-16)? Essas coisas todas não
aconteceram, de fato, no Século II a.C., nem em
época alguma, o que nos leva a concluir que ainda
estão por se cumprir no futuro. O exército invasor,
predito em Ezequiel, virá “...dos últimos confins do
norte...” (Ez 38.15; TB – Tradução Brasileira), não
do norte próximo, onde a Síria se localiza. Ezequiel
afirma que essa invasão acontecerá “...no fim dos
anos...” (Ez 38.8) e “...nos últimos dias...” (Ez 38.16).
Se o ponto de vista que defende um cumprimento
profético no período dos Macabeus estivesse
correto, isso teria ocorrido a cerca de 2.200 anos
atrás, na metade da história humana, não no fim
desta, muito menos nos últimos dias.
É curioso que a ampla maioria dos Judeus
Ortodoxos da atualidade está convencida de que a
campanha militar de Gogue e Magogue é um
acontecimento que ainda ocorrerá no futuro. Se
essa profecia realmente tivesse se cumprido no
Século II a.C., os rabinos judeus, desde aquela
época até os dias de hoje, teriam reconhecido tal
cumprimento profético. Em vez disso, os detalhes
dessa famosa batalha não se cumpriram em
momento nenhum do passado, mas aguardam seu
cumprimento literal no futuro.

A CONCEPÇÃO PRÉ-
TRIBULACIONISTA À MEDIDA
QUE MUDO A DIREÇÃO DE
NOSSA ANÁLISE, DEIXANDO
OS PONTOS DE VISTA QUE
PROPÕEM UM CUMPRIMENTO
DESSE TEXTO DE EZEQUIEL
NO PASSADO PARA AQUELES
PONTOS DE VISTA QUE
DEFENDEM A IDÉIA DE QUE
ESSA INVASÃO LIDERADA
POR GOGUE SE CUMPRIRÁ NO
FUTURO, A PRIMEIRA
CONCEPÇÃO COM A QUAL NOS
DEPARAMOS PROPÕE QUE
ESSE ACONTECIMENTO
OCORRERÁ ANTES DO
PERÍODO DA TRIBULAÇÃO. A
MAIORIA DOS QUE ADVOGAM
ESSE PONTO DE VISTA
ACREDITA QUE A REFERIDA
INVASÃO SE CUMPRIRÁ
DEPOIS DO ARREBATAMENTO
DA IGREJA, MAS ANTES DO
INÍCIO DA TRIBULAÇÃO,
DURANTE O INTERVALO DE
TEMPO QUE PODE SER DE
DIAS, SEMANAS, MESES, OU
ATÉ MESMO, DE ALGUNS
ANOS. NO ENTANTO, ALGUNS
QUE TAMBÉM ADVOGAM O
PONTO DE VISTA DE UM
CUMPRIMENTO AINDA
FUTURO, ADMITEM A
POSSIBILIDADE DE QUE
ESSE ACONTECIMENTO
PROFÉTICO SE CUMPRA
ANTES MESMO DO
ARREBATAMENTO.
Creio que este último ponto de vista é o que
faz mais sentido, apesar de admitir a existência de
alguns problemas nessa concepção para os quais
ainda não encontro respostas satisfatórias. Na
realidade, um dos aspectos que geram mais dúvida
nessa concepção é o que se refere ao momento
exato desse acontecimento no cronograma
profético de Deus. Não estou totalmente satisfeito
com nenhum dos possíveis pontos de vista acerca
do momento em que essa batalha se cumprirá na
história. Contudo, até esta etapa de minhas
pesquisas, encontro-me firmemente posicionado
no campo do cumprimento pré-tribulacionista
dessa profecia referente a Gogue, embora eu ainda
não tenha a resposta para algumas perguntas que se
levantam.
Se fizéssemos um levantamento dos pontos de
vista que 25 anos atrás eram defendidos pelos
intérpretes futuristas sobre o momento em que se
cumprirá a profecia de Ezequiel 38 e 39, a
concepção nitidamente predominante seria a de
que esse episódio profético se cumprirá
aproximadamente na metade do período da
Tribulação. Naquela época, proeminentes
especialistas em profecia bíblica, tais como, Hal
Lindsey, John Walvoord, J. Dwight Pentecost e
Charles Ryrie, defendiam claramente esse ponto de
vista. Porém, na atualidade, eu diria que o ponto de
vista mais amplamente aceito pelos especialistas em
profecia bíblica é aquele que defende um
cumprimento pré-tribulacionista dessa profecia
referente a Gogue e Magogue. Entre os que
advogam essa concepção se incluem: Chuck Smith,
Chuck Missler, Arnold Fruchtenbaum, Randall
Price, Tim LaHaye e Joel Rosenberg. A seguir,
menciono alguns dos argumentos que alicerçam
essa concepção.
Em primeiro lugar, Fruchtenbaum descreve a
concepção pré-tribulacionista de interpretação
desse texto de Ezequiel nos seguintes termos: [...] a
invasão russa ocorrerá antes que a Tribulação de
fato comece. A partir do texto de Ezequiel 38.1–
39.16, tal ponto de vista chega a certas conclusões.
Em primeiro lugar, que Israel seria estabelecido
antes da Tribulação e estaria habitando em
segurança. Em segundo lugar, que a aliança liderada
pela Rússia invadiria Israel durante esse momento
de segurança que antecede à Tribulação. Em
terceiro lugar, que essa aliança seria destruída
dentro do território de Israel, antes da Tribulação.
[6]
Essa concepção dá ênfase ao fato de que, na
ocasião dessa invasão, o povo de Israel já terá sido
trazido de volta e reagrupado na sua terra,
retornando das nações para onde foi espalhado pelo
poder da espada (Ez 38.8,12). Isso significa que, na
época da invasão liderada por Gogue, os Judeus
terão acabado de retornar à terra de Israel, após
terem sido enviados para o exílio entre as nações
pela força da espada, que seriam as invasões
romanas ocorridas nos anos 70 d.C. e 135 d.C.
respectivamente. Essa é a atual situação do Estado
de Israel da modernidade. Fruchtenbaum declara:
Depois de 1.900 anos, 46 invasões e da Guerra da
Independência, aquela terra voltou a ser judaica e
está livre da dominação estrangeira. Os Judeus que
hoje vivem em Israel vieram de aproximadamente
80 a 90 países diferentes. Os lugares que estavam
continuamente abandonados e desertos, agora são
habitados (Ez 38.8,12). Hoje em dia, os israelenses
estão reconstruindo seus lugares antigos,
transformando-os em modernas cidades e
metrópoles.[7]
Talvez o argumento mais forte em favor desse
ponto de vista refira-se ao fato de que, se esse
acontecimento for pré-tribulacionista (isto é, se
ocorrer antes do período da Tribulação vindoura),
haverá tempo suficiente para enterrar os mortos
durante sete meses (Ez 39.12) e para queimar os
armamentos de guerra durante sete anos (Ez 39.9).
Fruchtenbaum, mais uma vez, explica: Situar essa
invasão no começo do período da Tribulação não
causa nenhum problema na relação com os sete
meses preditos na profecia, mas gera problemas na
relação com os sete anos também preditos. Isso
implicaria um momento no qual Israel estará em
fuga e não terá tempo de concluir a queima das
armas [...] o ponto de vista que defende um
cumprimento antes do período da Tribulação é a
única concepção que não entra em conflito nem
com os sete meses, nem com os sete anos preditos.
Segundo esse ponto de vista, os Judeus
continuariam a habitar na sua Terra após essa
invasão e permaneceriam lá até a metade do
período da Tribulação. Assim, os sete meses de
sepultamento não se constituem num conflito. Os
sete anos também não entram em conflito com essa
interpretação, pois eles começariam antes da
Tribulação e, se necessário, poderiam se estender
até a metade desse período. Segundo esse ponto de
vista, tal invasão deve ocorrer, no mínimo, três anos
e meio (ou mais tempo) antes do início da
Tribulação.[8]
Randall Price, um dos defensores da
concepção pré-tribulacionista de interpretação
desse texto, mostra uma nuance um pouco
diferente sobre aquele período de sete anos da
queima das armas de guerra, quando afirma: Se os
“sete anos” durante os quais Israel queimará as
armas das nações derrotadas forem os “sete anos”
do período da Tribulação (Daniel 9.27; Apocalipse
11.2), esse fato, junto com a realidade do cemitério
de Gogue e da multidão de mortos (Ezequiel 39.11-
16), servirá de testemunho, durante toda a
Tribulação, da promessa do juízo universal das
nações, bem como da completa restauração de
Israel pela evidência da intervenção divina na
ocasião do Segundo Advento de Cristo.[9]
NOTAS 1 JAY ROGERS, “DOES THE BIBLE PREDICT A
RUSSIAN INVASION OF ISRAEL?”, ARTIGO
PUBLICADO EM ABRIL DE 1997 NO SITE DA
INTERNET:
HTTP://WWW.FORERUNNER.COM/PREDVESTNIK/X0058_RUSSIA_
ACESSADO EM 12 DE MARÇO DE 2009.
2
Max R. KING, The Cross and The Parousia of Christ: The
Two Dimensions Of One Age-Changing Eschaton,
Warren, OH: The Parkman Road Church of Christ, 1987, p.
235.
3
William HENDRIKSON, More than Conquerors: An
Interpretation of the Book of Revelation, Grand Rapids:
Baker Book House, 1982, p. 193-95. Por sua vez,
Hendrikson declara que sua interpretação é a mesma que
consta na obra de E. W. HENGSTENBERG, The Revelation of
St. John, 2 vols., 1851.
4
HENDRIKSON, More than Conquerors, p. 193.
5
Vic REASONER, A Fundamental Wesleyan Commentary on
Revelation, Evansville, IN: Fundamental Wesleyan
Publishers, 2005, p. 482.
6
Arnold G. FRUCHTENBAUM, The Footsteps of the Messiah: A
Study of the Sequence of Prophetic Events, edição
revisada, Tustin, CA: Ariel Ministries, 2003, p. 121.
7
FRUCHTENBAUM, Footsteps, p. 121.
8
(Grifo do autor original), FRUCHTENBAUM, Footsteps, p. 122-23.
9
Randall PRICE, “Ezekiel”, publicado na obra organizada por
Tim LaHaye e Ed Hindson, The Popular Bible Prophecy
Commentary, Eugene, OR: Harvest House Publishers,
2007, p. 192.
26. VÁRIOS PONTOS
DE VISTA –
(CONTINUAÇÃO 2) O
ARGUMENTO EM FAVOR
DA INTERPRETAÇÃO
DE QUE A INVASÃO
LIDERADA POR GOGUE
E MAGOGUE OCORRERÁ
DEPOIS DO
ARREBATAMENTO, MAS
ANTES DO PERÍODO
DA TRIBULAÇÃO,
BASEIA-SE NA
INFORMAÇÃO
FORNECIDA PELO
PRÓPRIO TEXTO DE
QUE ESSA INVASÃO
ACONTECERÁ “DEPOIS
DE MUITOS DIAS” E
“NO FIM DOS ANOS”
(EZ 38.8), BEM
COMO “NOS ÚLTIMOS
DIAS” (EZ 38.16).
TAIS EXPRESSÕES
SÃO INDICADORES
CRONOLÓGICOS QUE
SITUAM ESSES
ACONTECIMENTOS
QUASE NO FIM DA
HISTÓRIA, POR
SEREM FRASES QUE
SE REFEREM
EXCLUSIVAMENTE AO
PERÍODO DA
HISTÓRIA MUNDIAL.
EM TODO O ANTIGO
TESTAMENTO, A
EXPRESSÃO “NO FIM
DOS ANOS” (OU,
“NOS ÚLTIMOS ANOS”)
OCORRE SOMENTE
NESSA PASSAGEM,
PORÉM, SE A
EXPRESSÃO “NOS
ÚLTIMOS DIAS” É
USADA NO VERSÍCULO
16 PARA DESCREVER
O MESMO
ACONTECIMENTO,
CONCLUI-SE COM
SEGURANÇA QUE A
FRASE “NOS ÚLTIMOS
DIAS”, USADA COM
MAIS FREQUÊNCIA, É
SINÔNIMA DA
EXPRESSÃO “NO FIM
DOS ANOS”. TAL
CONCLUSÃO SE
BASEIA NO FATO DE
QUE AS EXPRESSÕES
“DEPOIS DE MUITOS
DIAS” E “NO FIM DOS
ANOS” SÃO USADAS
SEQUENCIALMENTE
JUNTAS NO
VERSÍCULO 8.
CHARLES FEINBERG
AFIRMA: “O
REFERENCIAL DE
TEMPO FOI
NITIDAMENTE
DECLARADO NA
EXPRESSÃO ‘NO FIM
DOS ANOS’ QUE É
EQUIVALENTE À
EXPRESSÃO ‘NOS
ÚLTIMOS DIAS’ DO
VERSÍCULO 16”.[1]

Ao fazermos uma pesquisa em todo o Antigo


Testamento, à procura da ocorrência de
terminologia semelhante a essa expressão “no fim
dos anos” de Ezequiel 38.8, encontramos três outras
frases correlatas.[2] Eu selecionei apenas aquelas
referências bíblicas nas quais essas expressões
ocorrem num sentido profético, cujo cumprimento
ainda acontecerá no futuro. A primeira expressão é
traduzida por “no fim dos dias” ou “nos últimos
dias” (cf. Dt 4.30; 31.29; Is 2.2; Jr 23.20; 30.24; 48.47;
49.39; Ez 38.16; Dn 2.28; 10.14; Os 3.5; Mq 4.1); a
última expressão é traduzida por “tempo do fim”
(Dn 8.17,19; 11.27,35,40; 12.4,9,13). O fato de
Ezequiel fazer uso de três expressões (“depois de
muitos dias”, “no fim dos anos” e “nos últimos dias”)
proporciona uma base ainda mais forte para a
concepção de que essa batalha acontecerá numa
ocasião ainda futura.
Randall Price explica o seguinte: “Embora a
expressão ‘no fim dos dias’ possa se referir ao
período da Tribulação, não se trata de uma
terminologia específica para designar esse período,
pois a estrutura contextual e as variedades de uso
permitem que tal expressão seja empregada de
diferentes maneiras”.[3] Portanto, as referências
que essas frases fazem aos últimos dias ou ao fim
dos dias podem designar a septuagésima semana da
profecia de Daniel, ou seja, o período da
Tribulação, bem como podem ser alusões ao reino
milenar de Cristo (i.e., o Milênio) ou mesmo a
certos acontecimentos que podem se cumprir
imediatamente antes da Tribulação, tais como a
invasão liderada por Gogue e Magogue. Mark
Hitchcock assinala: “Essas expressões são usadas ao
todo por quinze vezes no Antigo Testamento. Elas
são sempre empregadas para se referir ora ao
período da Tribulação (Dt 4.30) ora ao Milênio (Is
2.2; Mq 4.1). Ainda que essas frases não
especifiquem o momento exato da invasão, elas são
indicadores claros de um período de tempo que,
pelo referencial de nossos dias, ainda se cumprirá
no futuro”.[4]
Por esse motivo, a predição de que esse
acontecimento ocorrerá no fim dos dias ou no fim
dos anos da história, possibilita a concepção de um
cumprimento pré-tribulacionista, pois considera
que essa invasão pode acontecer depois do
Arrebatamento, mas imediatamente antes do início
daquele período de sete anos da Tribulação. Na
verdade, o texto assevera que essa invasão resultará
numa ocasião para que se cumpra o que Deus
afirma: “Farei conhecido o meu santo nome no meio
do meu povo de Israel...” (Ezequiel 39.7). Esse pode
ser o estímulo inicial para que milhares de Judeus
se convertam a Cristo durante a primeira metade
do período da Tribulação que logo se seguirá.

ALGUMAS OBJEÇÕES ALGUNS


TÊM LEVANTADO OBJEÇÕES
QUANTO À CRONOLOGIA
APRESENTADA NESSE PONTO
DE VISTA, POR SE
BASEAREM EM CERTAS
AFIRMAÇÕES ENCONTRADAS
EM EZEQUIEL 38.11. ESSE
TEXTO DESCREVE A TERRA
DE ISRAEL, NA OCASIÃO
DESSA INVASÃO, DE QUATRO
MANEIRAS, A SABER: 1)
“...A TERRA DAS ALDEIAS SEM
MUROS...”; 2) “...OS QUE
ESTÃO EM REPOUSO...”; 3)
“...QUE VIVEM SEGUROS...”;
“...QUE HABITAM, TODOS, SEM
MUROS E NÃO TÊM FERROLHOS
NEM PORTAS...”.
A primeira caracterização de Israel como uma
terra de aldeias sem muros implica que eles não
construirão muralhas de proteção ao redor de suas
aldeias, como se fazia nos tempos antigos.
Entretanto, alguns alegam que Israel construiu
recentemente o muro de separação para se manter
afastado da população árabe. Nesse caso, isso
implicaria que a situação de Israel na atualidade
não condiz com esse aspecto requerido no texto.
Price faz a seguinte observação: “Só a área da
cidade denominada de Jerusalém Antiga possui um
muro e a cidade moderna está situada fora dos
limites desse muro desde o final dos idos de 1800”.
[5] Talvez isso signifique que a nação de Israel
estará desprotegida quanto a uma invasão, já que
esse era o propósito de se construir muralhas nos
tempos antigos. O rabino Fisch declara: “Israel não
terá tomado nenhuma medida preventiva contra
ataques, mediante a construção de muros ao redor
de suas cidades”.[6] Nos dias atuais, é evidente que
nenhuma muralha da antiguidade teria a mínima
condição de proteger qualquer cidade contra a
invasão de um exército moderno. Em vez disso, o
texto quer dizer que Israel não estará preocupado
com sua defesa e será surpreendido por esse ataque.
Isso, porém, não descarta o que ocorre em Israel
nos dias atuais. A maior parte desse muro de
separação que recentemente foi construído é, na
realidade, uma cerca projetada para separar judeus
de árabes. Tal muro não ofereceria real proteção,
caso um exército moderno resolvesse invadir.
A segunda frase caracteriza a população de
Israel como pessoas que estão em repouso. O
particípio hebraico saqat descreve um povo que
está “tranquilo, em descanso e sereno”.[7] Esse
verbo foi usado com frequência nos livros de Josué
e de Juízes para destacar a tranquilidade ou o
descanso resultante das vitórias militares de Israel
sobre os Cananeus, à medida que os israelitas
conquistavam aquela terra sob o comando de Josué.
[8] O termo significa estar tranquilo ou descansado
no que diz respeito a conflitos militares. Tenho de
admitir que, dentre as quatro descrições que
parecem corresponder com a atual situação de
Israel, essa segunda caracterização é a menos
provável em nossos dias. Talvez ela se torne
realidade num futuro próximo ou imediatamente
antes do Arrebatamento da Igreja. Não precisaria
muito para que essa situação viesse a se concretizar
no Estado de Israel dos tempos modernos.
A terceira expressão descritiva é a tradução do
termo hebraico betah que foi usado em Ezequiel
38.8. Os dicionários léxicos da língua hebraica
informam que esse vocábulo, em geral, significa
“segurança” ou “convicção”, e explicam que seu
campo semântico se assemelha ao da palavra
“confiança”.[9] No texto hebraico, esse termo
frequentemente é usado no caso construto com o
verbo “habitar”, a exemplo deste texto de Ezequiel,
e ocorre 160 vezes em toda a Bíblia Hebraica.[10] É
usado nos livros de Levítico e Deuteronômio como
uma promessa feita pelo Senhor de que, se o povo
judeu obedecer à Lei de Deus, Ele fará com que a
nação de Israel habite em segurança na sua terra
(Lv 25.18,19; 26.5; Dt 12.10). Esse termo é usado em
todos os livros históricos e proféticos do Antigo
Testamento como um referencial que serve para
aferir se Israel está ou não habitando em segurança
na terra. Na realidade, essa frase é usada em
Jeremias 49.31, num contexto de invasão
semelhante ao de Ezequiel 38, onde se lê o seguinte:
“Levantai-vos, ó babilônios, subi contra uma nação
que habita em paz e confiada, diz o Senhor; que não
tem portas, nem ferrolhos; eles habitam a sós”. É o
mesmo sentido no qual o termo foi usado em
Ezequiel 38.8. “Entretanto, esse sentido geral
muitas vezes apresenta uma amplitude semântica
negativa [...] para indicar uma falsa segurança”.[11]
O contexto apóia a conotação de falsa segurança
nesta ocorrência do termo, em face da iminente
invasão. Por outro lado, é possível que o termo não
seja usado no sentido ilusório de falsa segurança,
porque Deus vai livrar miraculosamente a nação de
Israel.
Alguns intérpretes tentaram igualar a noção de
habitar “seguramente” com habitar “pacificamente”.
Eles dizem que essa passagem descreve uma
situação na qual Israel se encontra em paz com
todos os seus vizinhos e nenhum destes representa
uma ameaça para os Judeus. Não se pode confirmar
essa noção pelo significado da palavra hebraica
betah, nem pelo contexto dessa passagem. Arnold
Fruchtenbaum comenta o seguinte: “Em nenhum
lugar desse texto há qualquer alusão de que Israel
estaria vivendo em paz. Pelo contrário, a descrição
é de que Israel estaria simplesmente habitando em
segurança, o que significa ‘confiança’, a despeito de
quanto dure um estado de guerra ou de paz. Nas
várias descrições que essa passagem apresenta sobre
Israel, pode-se comprovar que todas são verídicas
na realidade do Estado de Israel atual”.[12]
A quarta caracterização retrata todos eles
vivendo sem muros, sem ferrolhos e sem portas. Já
vimos antes que viver literalmente sem muros
implica que nenhuma de suas cidades ou vilas terá
aquilo que os antigos construíam para conter um
exército invasor. Essa imagem é reforçada pela
informação de que eles não terão ferrolhos [i.e.,
trancas], nem portas, obviamente porque suas
cidades não terão muros. Ferrolhos e portas eram
dispositivos de defesa muito importantes
localizados nas muralhas das cidades da
antiguidade.
O que isso significa em relação à invasão? Em
primeiro lugar, essa passagem apresenta a situação
da perspectiva de Gogue, o qual pensa que Israel
não se encontra devidamente protegido e, por isso,
está vulnerável a um ataque-surpresa. Em segundo
lugar, Price salienta que “a segurança de Israel se
baseia no poderio de suas forças armadas, as quais
são consideradas dentre as melhores do mundo e já
têm defendido o país contra adversidades
avassaladoras em várias invasões ocorridas no
passado”.[13] Em terceiro lugar, tais condições
nunca se concretizaram na história de Israel em
momento algum do passado, de modo que só pode
se referir a um tempo ainda futuro, como já
verificamos pela análise das expressões “depois de
muitos dias” e “no fim dos anos” (Ez 38.8). Keil
assevera: “Esta descrição do modo de vida de Israel
também aponta para tempos posteriores que vão
muito além da época do exílio na Babilônia”.[14]
NOTAS 1 CHARLES LEE FEINBERG, THE PROPHECY OF
EZEKIEL, CHICAGO: MOODY PRESS, 1969, P. 221.
2
Baseado em pesquisa realizada através do programa de
computador Accordance, versão 7.3.
3
Randall PRICE, Comentários Não Publicados Sobre as
Profecias de Ezequiel, 2007, p. 40.
4
Mark HITCHCOCK, After The Empire: Bible Prophecy in Light
of the Fall of the Soviet Union, Wheaton, IL: Tyndale House
Publishers, 1994, p. 126.
5
PRICE, Comentários Não Publicados de Ezequiel, p. 40.
6
S. FISCH, Ezekiel: Hebrew Text & English translation with an
Introduction and Commentary, Londres: The Soncino
Press, 1950, p. 255.
7
Francis BROWN, S. R. DRIVER, e C. A. BRIGGS, Hebrew and
English Lexicon of the Old Testament, Londres: Oxford,
1907, edição eletrônica.
8
Confira os seguintes textos: Josué 11.23; 14.15; Juízes
3.11,30; 5.31; 8.28.
9
BROWN, DRIVER, e BRIGGS, Hebrew Lexicon, edição eletrônica;
bem como, KOEHLER e BAUMGARTNER, Hebrew Lexicon,
versão eletrônica.
10
Baseado em pesquisa realizada através do programa de
computador Accordance, versão 7.4.2.
11
G. Johannes BOTTERWECK, e Helmer RINGGREN, orgs.,
Theological Dictionary of the Old Testament, vol. II, Grand
Rapids: Eerdmans, 1977, p. 89.
12
Arnold FRUCHTENBAUM, Footsteps of the Messiah: A Study of
the Sequence of Prophetic Events, Tustin, CA: Ariel Press,
(1982) 2003, p. 117.
13
PRICE, Comentários Não Publicados de Ezequiel, p. 40-41.
14
C. F. KEIL, Ezekiel, Daniel, Commentary on the Old
Testament, traduzido para o inglês por James Martin,
reimpressão; Grand Rapids: Eerdmans Publishing
Company, 1982, p. 165.
27. VÁRIOS PONTOS
DE VISTA –
(CONTINUAÇÃO 3) AO
CONTINUAR MINHA
DEFESA DA
CONCEPÇÃO PRÉ-
TRIBULACIONISTA/PÓS-
ARREBATAMENTO
ACERCA DA OCASIÃO
EM QUE SE CUMPRIRÁ
A BATALHA DE GOGUE
E MAGOGUE,
EXPRESSO MINHA
CRENÇA DE QUE A
SITUAÇÃO DE ISRAEL
NO PRESENTE
MOMENTO, MEADOS DO
ANO DE 2009, É
MUITO SEMELHANTE
AO QUE ESTÁ
DESCRITO NA
PASSAGEM DE
EZEQUIEL, COM
EXCEÇÃO DA
REFERÊNCIA FEITA
EM EZEQUIEL 38.11,
DE QUE ISRAEL
ESTARÁ “...EM
REPOUSO...” NO
INSTANTE EM QUE
ESSA INVASÃO
OCORRER. O
PARTICÍPIO
HEBRAICO SHAQAT
DESCREVE UM POVO
QUE ESTÁ
“TRANQÜILO, EM
DESCANSO E
SERENO”.[1] ESSE
TERMO SIGNIFICA
“ESTAR TRANQÜILO”
OU “DESCANSADO” NO
QUE DIZ RESPEITO A
CONFLITOS
MILITARES, O QUE
NÃO PARECE SER A
SITUAÇÃO DE ISRAEL
NOS DIAS ATUAIS.
EM VEZ DISSO,
OCORRE EXATAMENTE
O CONTRÁRIO, JÁ
QUE A NAÇÃO VIVE
EM CONSTANTE
CONFLITO COM SEUS
INIMIGOS. RON
RHODES, UM DOS QUE
CONCORDAM COMIGO
QUANTO AO MOMENTO
EXATO EM QUE SE
DARÁ ESSA INVASÃO,
DECLARA O
SEGUINTE: “A
PALAVRA HEBRAICA
USADA NESSE TEXTO
TRANSMITE A IDÉIA
DE ESTAR TRANQÜILO
OU SERENO. NOS
DIAS ATUAIS, PODE
ATÉ SER QUE ISRAEL
DESFRUTE DE CERTO
SENSO DE SEGURANÇA
EM VIRTUDE DE SEU
GRANDE PODERIO
MILITAR, MAS A
NAÇÃO NÃO SE
ENCONTRA ‘EM
REPOUSO’ NAQUELE
SENTIDO DESCRITO
POR EZEQUIEL”.[2]
JÁ QUE TODOS OS
PONTOS DE VISTA
TÊM PROBLEMAS, EU,
ATÉ AGORA, NÃO
ENCONTREI UMA
RESPOSTA QUE
EQUACIONE ESTA
ÚLTIMA
INCONGRUÊNCIA NA
CONCEPÇÃO QUE
ADVOGO. SÓ POSSO
DIZER QUE É
PROVÁVEL QUE ALGUM
ACONTECIMENTO
OCORRA DEPOIS DO
ARREBATAMENTO, MAS
ANTES AINDA DA
TRIBULAÇÃO,
DURANTE O QUAL
ISRAEL VENHA A SE
ENCONTRAR NA
CONDIÇÃO ACIMA
DESCRITA.
Outro argumento que se desdobra
logicamente desse ponto de vista é o de que se essa
invasão ocorresse antes da Tribulação e resultasse
na destruição da Rússia, do Irã e de seus comparsas
muçulmanos não-árabes, teria de se percorrer um
longo caminho para erradicar o Islã, eliminando a
ameaça que este representa no cenário atual. Isso
criaria no mundo uma lacuna de poder da qual o
Anticristo, líder do ressurgido Império Romano, se
aproveitaria.
Além disso, a Tribulação começa com uma
tentativa de invadir Israel na qual Deus intervirá
em favor de Seu povo. Dessa forma, Deus preparará
o palco para os acontecimentos subseqüentes. A
tentativa feita por Gogue de acabar com Israel no
início da Tribulação será frustrada e essa é uma
lição que o Anticristo terá aprendido no final da
Tribulação. Em virtude da intervenção e proteção
de Deus, o Anticristo chegará à conclusão de que é
preciso reunir todos os exércitos do mundo para
acabar com a nação de Israel. Entretanto, na Sua
Segunda Vinda gloriosa, o próprio Jesus intervirá
novamente, dessa vez, na ocasião de Sua volta
pessoal e visível para proteger a todo remanescente
Judeu que a essa altura terá se convertido a Cristo.

A CONCEPÇÃO MIDI-
TRIBULACIONISTA A
SEGUNDA CONCEPÇÃO
FUTURISTA ACERCA DO
MOMENTO EXATO EM QUE SE
CUMPRIRÁ A INVASÃO DE
GOGUE E MAGOGUE SUSTENTA
QUE TAL INVASÃO SE DARÁ
EM ALGUM INSTANTE DA
METADE DA SEPTUAGÉSIMA
SEMANA DA PROFECIA DE
DANIEL, GERALMENTE
CONHECIDA COMO
TRIBULAÇÃO. ESSA É A
CONCEPÇÃO MAIS
AMPLAMENTE ACEITA POR
AQUELES QUE ACREDITAM
QUE ESSE ACONTECIMENTO
OCORRERÁ NUM TEMPO QUE,
PARA NÓS, AINDA É
FUTURO. ENTRE OS QUE
ADVOGAM ESSA MESMA
CRONOLOGIA DA INVASÃO
LIDERADA POR GOGUE E
MAGOGUE ESTÃO OS
SEGUINTES: JOHN F.
WALVOORD,[3] PAUL
BENWARE,[4] J. DWIGHT
PENTECOST,[5] MARK
HITCHCOCK,[6] E HAL
LINDSEY.[7] SE EU NÃO
CRESSE QUE A CAMPANHA
MILITAR DE GOGUE
OCORRERÁ EM ALGUM
MOMENTO ENTRE O
ARREBATAMENTO E O INÍCIO
DA TRIBULAÇÃO, APOIARIA
ESSE ÚLTIMO PONTO DE
VISTA.
Alguns que defendem essa concepção
acreditam que a invasão encabeçada por Gogue
acontecerá imediatamente antes do ponto médio
daquele período da Tribulação, enquanto outros
crêem que essa invasão ocorrerá imediatamente
depois do ponto médio da septuagésima semana da
profecia de Daniel. Outros, ainda, advogam que
não se deve assumir uma posição quanto ao
momento exato dessa invasão, mas apenas ter uma
compreensão de que, em termos gerais, ela vai
ocorrer na metade do período da Tribulação.
Mesmo assim, esses pontos de vista são geralmente
agrupados como uma única perspectiva.

“O REI DO NORTE”
Essa concepção pode se tornar muito
complicada quando seus defensores tentam
estabelecer uma ligação entre a profecia de Ezequiel
38–39 e outras passagens bíblicas, como, por
exemplo, Daniel 11.40-45. Uma vez que os
acontecimentos mencionados no capítulo 11 de
Daniel são claramente previstos para ocorrer
dentro do período da Tribulação e que “o rei do
Norte” (Dn 11.40) é considerado uma referência ao
Gogue da profecia de Ezequiel, isso situa o
momento da invasão no ponto mediano da
Tribulação de sete anos.[8] O grande problema
dessa concepção é que o “rei do Norte”, referido em
Daniel, não é o Gogue da profecia de Ezequiel.
A expressão “rei do Norte” é usada por sete
vezes no Antigo Testamento e todas as suas
ocorrências se encontram em Daniel 11 (versículos
6, 7, 11, 13, 15, 40).[9] Quase todos os intérpretes
futuristas acreditam que a profecia registrada em
Daniel 11.1-35 se cumpriu no passado,
especificamente no segundo século a.C. Os reis do
Norte e do Sul, mencionados nos versículos 1-35 se
referem claramente ao “conflito entre os Ptolomeus
e Selêucidas (Dn 11.5-20). Os Ptolomeus, que
governaram o Egito, eram chamados de reis ‘do
Sul’. Os Selêucidas, que governaram a Síria ao norte
de Israel, eram chamados de reis ‘do Norte’”.[10] O
último uso da expressão “rei do Norte” ocorre no
versículo 40, dentro de um contexto alusivo ao
futuro. John MacArthur declara: “Aqui o texto
menciona a grande batalha final na qual o último
exército que vem do Norte contra-ataca a última
potência africana que vem do Sul. O Anticristo não
permitirá tal retaliação e aproveitará a
oportunidade para revidar e vencer, derrotando
ambos os exércitos referidos, como está registrado
nos versículos 41s.”.[11] Portanto, não é provável
que a expressão “o rei do Norte” seja uma referência
à invasão liderada por Gogue, predita em Ezequiel
38 e 39. A expressão “o rei do Norte” não é sinônima
da expressão “...do extremo norte...” (Ez 38.6;
conforme a Nova Versão Internacional – NVI),
principalmente porque as outras seis ocorrências da
expressão “o rei do Norte” se referem claramente ao
rei da Síria.
Outras objeções à prática de estabelecer uma
relação de correspondência entre essas duas
passagens bíblicas se baseiam nas diferenças
gritantes entre a invasão descrita em Ezequiel e a
batalha descrita em Daniel. Embora ambas estejam
prevista para acontecer “no tempo do fim...” (Dn
11.40), o texto bíblico afirma que “...o rei do Sul
lutará com ele, e o rei do Norte arremeterá contra
ele...” (Dn 11.40). Trata-se de uma batalha que
envolve o rei do Sul e o rei do Norte, o qual
“...entrará nas terras, e as inundará, e passará” (v.
40b). Isso não tem o mesmo sentido do texto de
Ezequiel 39.4, onde se verifica que Gogue invadirá
Israel, bem como será totalmente destruído nos
montes de Israel. A passagem de Daniel relata que
eles entrariam em combate na terra de Israel,
atravessariam o território israelense e avançariam
para outros países. Na realidade, o texto alista Israel
como um dos países invadidos nessa ocasião (Dn
11.41).
OUTRAS OBJEÇÕES ARNOLD
FRUCHTENBAUM RELACIONA
OUTROS ARGUMENTOS
CONTRÁRIOS A ESSE PONTO
DE VISTA: EM SEGUNDO
LUGAR, É DIFÍCIL
COMPREENDER O MOTIVO
PELO QUAL DEUS
INTERVIRIA EM FAVOR DE
ISRAEL NESSE MOMENTO DA
HISTÓRIA E, LOGO DEPOIS,
PERMITIRIA O
DESENCADEAMENTO DOS
ACONTECIMENTOS QUE SE
DARÃO DURANTE A SEGUNDA
METADE DO PERÍODO DA
TRIBULAÇÃO , CAUSANDO UM
GRANDE DANO A ISRAEL.
EM TERCEIRO LUGAR [...] É
UM EQUÍVOCO IDENTIFICAR
“O REI DO NORTE”,
MENCIONADO EM DANIEL
11.40, COM O GOGUE
REFERIDO EM EZEQUIEL
38.1–39.16. AO LONGO DE
TODO O LIVRO DE DANIEL
SÃO FEITAS REFERÊNCIAS
AO REI DO SUL E AO REI DO
NORTE. A PRIMEIRA
EXPRESSÃO, “REI DO SUL”,
SE APLICA COERENTEMENTE
AO EGITO, INCLUSIVE A
REFERÊNCIA FEITA NO
VERSÍCULO 40. A OUTRA
EXPRESSÃO SE APLICA
COERENTEMENTE À SÍRIA,
EXCETO QUANDO OS
PROPOSITORES DESSE PONTO
DE VISTA PASSAM A
ANALISAR O VERSÍCULO 40;
ELES, ENTÃO, ATRIBUEM A
REFERÊNCIA FEITA NESSE
VERSÍCULO À RÚSSIA E,
ASSIM, IDENTIFICAM ESSA
PASSAGEM COM O TEXTO DE
EZEQUIEL 38 E 39. PORÉM,
TANTO O CONTEXTO QUANTO
A COERÊNCIA EXIGIRIAM
QUE A REFERÊNCIA FEITA
NO VERSÍCULO 40 SE
APLIQUE À SÍRIA. A
INVASÃO MENCIONADA EM
DANIEL 11.40 É DIFERENTE
DA INVASÃO DESCRITA EM
EZEQUIEL 38 E 39. TRATAR
TODAS AS OCORRÊNCIAS DA
EXPRESSÃO “O REI DO NORTE”
NO LIVRO DE DANIEL COMO
UMA REFERÊNCIA À SÍRIA
E, ENTÃO, CONSIDERAR DN
11.40 COMO A ÚNICA
EXCEÇÃO QUE SE REFERE À
INVASÃO LIDERADA PELA
RÚSSIA SÓ PARA ENCAIXÁ-
LO CRONOLOGICAMENTE NA
METADE DO PERÍODO DA
TRIBULAÇÃO, É UMA
EXEGESE INCOERENTE E
EQUIVOCADA. EM QUARTO
LUGAR, ESSE PONTO DE
VISTA FALHA NO
EQUACIONAMENTO DO
PROBLEMA DOS SETE MESES
E DOS SETE ANOS. ESSA
CONCEPÇÃO MIDI-
TRIBULACIONISTA DE
INTERPRETAÇÃO DO TEXTO
OBRIGARIA QUE OS SETE
MESES DE SEPULTAMENTO
DOS INIMIGOS MORTOS
OCORRESSE NA SEGUNDA
METADE DA TRIBULAÇÃO,
UMA OCASIÃO EM QUE OS
JUDEUS ESTARÃO EM FUGA E
NÃO TERÃO CONDIÇÕES DE
ENTERRAR SEUS PRÓPRIOS
MORTOS, QUANTO MAIS OS
CORPOS DOS INVASORES
RUSSOS [...] A SITUAÇÃO
DOS JUDEUS NA METADE DO
PERÍODO DA TRIBULAÇÃO
NÃO PERMITIRÁ UM TEMPO
DE SETE MESES DE
SEPULTAMENTO, MUITO
MENOS A CONSTRUÇÃO DE
UMA CIDADE. NO QUE SE
REFERE AOS SETE ANOS DE
QUEIMA DOS ARMAMENTOS,
ESSA CONCEPÇÃO
INTERPRETATIVA TAMBÉM
EXIGIRIA QUE OS JUDEUS
QUEIMASSEM AS ARMAS DOS
INIMIGOS DURANTE A
SEGUNDA METADE DA
TRIBULAÇÃO, QUANDO, NA
REALIDADE, ESTARÃO
FUGINDO DA SUA TERRA.
ALÉM DO MAIS, TAL PONTO
DE VISTA OBRIGARIA QUE
ELES CONTINUASSEM ESSA
QUEIMA DURANTE O
MILÊNIO, POR MAIS 3 ANOS
E MEIO, O QUE É
INCOERENTE COM A
PURIFICAÇÃO QUE O
MESSIAS EFETUARÁ NAQUELA
TERRA E COM A RENOVAÇÃO
RESULTANTE. DURANTE A
SEGUNDA METADE DA
TRIBULAÇÃO, AS AFLIÇÕES
QUE OS JUDEUS
ENFRENTARÃO CERTAMENTE
OS LEVARIAM À TENTATIVA
DE PRESERVAR ESSAS ARMAS
E MANTÊ-LAS EM SEU
PODER, EM VEZ DE QUEIMÁ-
LAS.[12]
Em outras palavras, a fundamentação
principal dos proponentes de tal concepção para
situarem o momento dessa batalha na metade do
período da Tribulação baseia-se na suposta relação
do texto de Daniel com a passagem de Ezequiel. No
entanto, se a referida relação se prova incongruente
e ilógica, não há motivo relevante para se apoiar a
interpretação de um cumprimento midi-
tribulacionista do acontecimento predito no texto
de Ezequiel.
NOTAS 1 FRANCIS BROWN, S. R. DRIVER, E C. A.
BRIGGS, HEBREW AND ENGLISH LEXICON OF THE OLD
TESTAMENT, LONDRES: OXFORD, 1907, EDIÇÃO
ELETRÔNICA.
2
Ron RHODES, Northern Storm Rising: Russia, Iran, and the
Emerging End-Times Military Coalition Against Israel,
Eugene, OR: Harvest House Publishers, 2008, p. 173.
3
John F. W ALVOORD, The Nations in Prophecy, Grand Rapids:
Zondervan, 1967, p. 113-15.
4
Paul N. BENWARE, Understanding End Times Prophecy,
edição revisada e expandida, Chicago: Moody Press, 2006,
p. 310-12.
5
J. Dwight PENTECOST, Things To Come: A Study in Biblical
Eschatology, Grand Rapids: Zondervan, 1958, p. 344-55.
6
Mark HITCHCOCK, Iran The Coming Crisis: Radical Islam, Oil,
And The Nuclear Threat, Sisters, OR: Multnomah, 2006,
pp. 184-86, 202.
7
Hal LINDSEY e C. C. CARLSON, The Late Great Planet Earth,
Grand Rapids: Zondervan, 1970, p. 153-pp. 153-63.
8
Veja a obra de HITCHCOCK, Iran The Coming Crisis, p. 202;
bem como a obra de LINDSEY, Late Great, p. 157-60.
9
Baseado em pesquisa realizada através do programa de
computador Accordance, versão 8.1.3.
10
John F. W ALVOORD, Roy B. ZUCK e Dallas Theological
Seminary, The Bible Knowledge Commentary: An
Exposition of the Scriptures, Wheaton, IL: Victor Books,
1983–1985, vol. 1, p. 1368.
11
John MACARTHUR, Jr., The MacArthur Study Bible, edição
eletrônica, Nashville: Word Publishers, 1997, Dn 11.40.
12
(Ênfase do autor original em itálico) Arnold G. FRUCHTENBAUM,
The Footsteps of the Messiah: A Study of the Sequence of
Prophetic Events, edição revisada; Tustin, CA: Ariel
Ministries, 2003, p. 118-19.
28. ARMAGEDOM?

O ponto de vista que defende a concepção de


que a batalha descrita em Ezequiel 38 e 39
acontecerá no fim do período da Tribulação e que
ela corresponde à campanha militar do
Armagedom, não é amplamente aceito hoje em dia.
Na realidade, dentre os que eu conheço
pessoalmente, a única pessoa que advogava esse
ponto de vista era Dave Hunt.[1] Louis Bauman e
Harry Ironside, mestres especializados na Bíblia
que viveram naquela geração anterior à nossa, são
alguns dos que adotaram essa concepção
interpretativa.[2]
Não há dúvida de que o Armagedom se
constituirá numa grande invasão do território de
Israel (mais especificamente, de Jerusalém) por
tropas internacionais, ao fim do período da
Tribulação, episódio esse que envolverá a
intervenção pessoal de Jesus Cristo em defesa e
proteção de Israel. Há semelhanças gerais entre a
batalha descrita na passagem de Ezequiel 38 e 39 e a
batalha do Armagedom, porém, são as diferenças
entre elas que se tornam decisivas na comprovação
de serem ou não a mesma batalha.
A primeira diferença marcante é a de que os
invasores mencionados em Ezequiel procedem de
determinados países, não de todas as nações do
mundo. Já no caso do Armagedom, o Senhor
declara: “...eu ajuntarei todas as nações para a peleja
contra Jerusalém...” (Zc 14.2). Portanto, o
acontecimento relacionado com Gogue se
configura numa invasão de âmbito regional, ao
passo que o Armagedom envolve todos os países do
mundo que se aliam para uma investida contra
Jerusalém. Trata-se de uma gritante diferença.
A segunda diferença marcante é observada por
Fruchtenbaum, ao comentar que “a invasão,
descrita em Ezequiel, vem do norte, mas no
Armagedom, a invasão procede de todo o planeta
Terra”.[3]
A terceira diferença marcante é a de que a
invasão liderada por Gogue foi claramente predita
para ocorrer num momento em que Israel estiver
“...em repouso...” (Ez 38.8,11,14) e habitar “seguro”
(Ez 38.11) na sua terra. Em toda a história de Israel,
é provável que não haja um período de tempo mais
ameaçador e perigoso do que aquele momento do
final da Tribulação e dos acontecimentos relativos
ao Armagedom. Isso dificilmente se encaixa na
descrição feita no texto de Ezequiel.
A quarta diferença marcante é salientada por
Mark Hitchcock, quando declara que “o texto de
Ezequiel não menciona a ocorrência de nenhuma
batalha militar além do fato de que os próprios
invasores matarão uns aos outros. A destruição se
dará fundamentalmente por intervenção divina,
através de uma convulsão cataclísmica da natureza
(Ez 38.20-23). Na conflagração do Armagedom,
haverá uma intensa batalha entre o Senhor,
acompanhado de Seus exércitos, e as nações
reunidas para lutarem contra Ele, durante a qual o
Rei dos reis matará Seus inimigos com a espada que
sai da Sua boca e triunfará como o grande vencedor
(Ap 19.11-15)”.[4] Em outras palavras, cada uma
dessas duas passagens bíblicas em estudo descreve
situações contrastantes que comprovam o fato de
que se tratam de duas campanhas militares
totalmente diferentes.
A quinta diferença marcante se verifica neste
comentário de Fruchtenbaum: “O propósito da
invasão Russa é o de tomar o despojo; o propósito
da Campanha do Armagedom é o de destruir todos
os Judeus”.
A sexta diferença marcante, na continuação do
comentário de Fruchtenbaum, é a de que “no
contexto da invasão mencionada em Ezequiel há
um protesto contra tal invasão; na Campanha do
Armagedom não há nenhum protesto, porque
todas as nações do mundo estão envolvidas”.[5]
A sétima diferença marcante é a seguinte: Se
essas duas campanhas militares fossem uma única e
mesma batalha, não haveria tempo suficiente para
que Israel enterrasse seus inimigos mortos (i.e. 7
meses), nem para queimar os armamentos de
guerra (i.e. 7 anos; cf. Ez 39.9,12). O texto bíblico
implica que o reino de mil anos [i.e. o Milênio] terá
seu início setenta e cinco dias depois da volta de
Cristo e seu começo ocorrerá após uma limpeza do
que resultou do julgamento da Tribulação (Is 2.1-4;
65.17-25; Dn 12.11-12).
A oitava diferença marcante entre essas duas
batalhas é observada por Ron Rhodes, ao afirmar
que “no Armagedom, a Besta é quem comanda a
campanha da invasão (Apocalipse 19.19), ao passo
que Gogue é o líder do exército invasor referido na
profecia de Ezequiel” (Ezequiel 38.7).
A nona diferença, na sequência da observação
de Ron Rhodes, é a seguinte: “Os exércitos reunidos
para o Armagedom entram em formação de
combate contra Jesus Cristo (Apocalipse 19.19), o
que não se verifica na coalizão militar que vem do
norte, conforme registra o livro de Ezequiel”.[6]
Quanto mais se percebe as diferenças entre
esses dois acontecimentos, mais se constata que eles
não podem ser o mesmo episódio. Os detalhes de
cada uma dessas ocorrências simplesmente não se
encaixam. Talvez essa seja a razão pela qual
praticamente nenhum intérprete evangélico da
atualidade advoga esse ponto de vista. A maioria
dos que defendem essa concepção de igualar
cronologicamente a profecia de Ezequiel 38 e 39
com o Armagedom, como se fossem o mesmo
acontecimento, é formada por intérpretes da Bíblia
que viveram no passado.

NO COMEÇO DO MILÊNIO?
A quarta concepção de interpretação futurista
situa cronologicamente os acontecimentos descritos
em Ezequiel 38 e 39 no começo do Milênio. Esse
também não é um ponto de vista amplamente
aceito. O Dr. Elliott Johnson, professor do Dallas
Theological Seminary (i.e. Seminário Teológico de
Dallas) apresentou um ensaio teológico em defesa
dessa concepção perante o Pre-Trib Study Group
(i.e. Grupo de Estudos Pré-Tribulacionistas) no ano
de 1993, intitulada “The Time Placement of Ezekiel
37–39” (i.e. “A Localização Cronológica da Profecia
de Ezequiel 37–39”). Arno Gaebelein também
advogou esse ponto de vista, há cerca de 100 anos
atrás, no seu comentário do livro de Ezequiel.[7] De
todas as concepções de interpretação futurista, esta
última me parece a menos provável pelas razões a
seguir.
Em primeiro lugar, pelo que está escrito nos
capítulos 13 e 25 de Mateus (veja, também: Jr
25.32-33; Ap 19.15-18), sabe-se que nenhum
descrente terá permissão de entrar no Milênio [i.e.
o reino milenar de Cristo]. “Assim será na
consumação do século: sairão os anjos, e separarão os
maus dentre os justos, e os lançarão na fornalha
acesa; ali haverá choro e ranger de dentes” (Mt 13.49-
50). “Então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita
[i.e. os crentes]: Vinde, benditos de meu Pai! Entrai
na posse do reino que vos está preparado desde a
fundação do mundo” (Mt 25.34). “Então, o Rei dirá
também aos que estiverem à sua esquerda [i.e. os
descrentes]: Apartai-vos de mim, malditos, para o
fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos” (Mt
25.41). Assim, fica absolutamente claro que os
Judeus e Gentios vivos, que entrarem no Milênio
com seus corpos mortais, constituirão a população
inicial do Reino, composta de 100 por cento de
crentes em Cristo. Ninguém, em sã consciência,
sugeriria que Gogue pode ser um crente em Cristo
que comandará um poderoso exército de crentes
num ataque a Israel durante o Milênio. Portanto, os
invasores só podem ser descrentes, o que, se a
invasão ocorresse no Milênio, exigiria centenas de
anos para que essas pessoas nascessem e chegassem
à quantidade numérica descrita em Ezequiel. Isso
não parece factível.
Em segundo lugar, porque “o texto de Isaías
2.4 elimina a possibilidade de que haja uma guerra
durante o reino milenar de Cristo. Só no fim do
Milênio é que irromperá uma guerra, quando
Satanás for solto de sua prisão de mil anos
(Apocalipse 20.7-9)”.[8]
Em terceiro lugar, porque não faz o menor
sentido, diante das condições em vigor durante o
Milênio, conceber a noção de que a terra de Israel
estaria contaminada por sete meses, após ser
invadida por Gogue (Ez 39.12), quando, na
realidade, a terra estará limpa e purificada.
Em quarto lugar, Rhodes assinala que “o texto
de Isaías 9.4-5 prediz que todas as armas de guerra
serão destruídas logo depois da inauguração do
Reino Milenar de Cristo, de modo que a coalizão
militar que vem do norte não teria nenhum
armamento”.[9]
Essa concepção de que a invasão comandada
por Gogue ocorrerá no começo do Milênio tem
pouquíssimo embasamento, exceto pelo aspecto
isolado de que Israel estará vivendo em paz naquele
momento em que for invadido pela coalizão militar
que vem do norte. De fato, essa situação de paz será
a condição de Israel no início e durante todo o
Milênio, porém, além dessa semelhança, não existe
nenhuma similaridade entre o começo do Milênio e
essa profecia de Ezequiel prevista para se cumprir
nos “...últimos dias...”.

NO FIM DO MILÊNIO?
A última concepção de interpretação futurista
propõe que a invasão liderada por Gogue e
Magogue se cumprirá no final do Milênio, na
ocasião daquela breve rebelião mencionada em
Apocalipse 20.7-10. O ponto forte dessa concepção
é o fato de que os nomes de Gogue e Magogue são
especificamente citados nesse texto, como está
escrito: “Quando, porém, se completarem os mil anos,
Satanás será solto da sua prisão e sairá a seduzir as
nações que há nos quatro cantos da terra, Gogue e
Magogue, a fim de reuni-las para a peleja. O número
dessas é como a areia do mar. Marcharam, então,
pela superfície da terra e sitiaram o acampamento dos
santos e a cidade querida; desceu, porém, fogo do céu
e os consumiu” (Ap 20.7-19).
Um expressivo número de intérpretes da
Bíblia acredita que a situação descrita nesse texto
indica o momento exato em que se cumprirá a
profecia de Ezequiel.[10] O erudito evangélico,
Ralph Alexander, um dos defensores desse ponto
de vista, declara o seguinte: A maioria dos
comentaristas da Bíblia entende que esses
acontecimentos preditos em Ezequiel 38–39 se
cumprirão depois do Milênio, conforme é descrito
em Apocalipse 20.7-10. A força do argumento em
favor dessa posição está na explícita referência a
Gogue e Magogue no texto de Apocalipse 20.8. O
uso desses termos precisa ser explicado. O contexto
do Milênio certamente se enquadraria no requisito
textual da habitação pacífica, próspera e segura de
Israel na sua terra. A restauração já teria
acontecido. As nações estariam presentes para
testemunhar a rebelião de “Gogue”. Por certo
haveria tempo suficiente para o sepultamento dos
corpos e para a queima das armas.[11]
Paul Tanner também defende esse ponto de
vista nos seguintes termos: Já que existe uma
importante batalha prevista para o final do Milênio,
confronto esse que o apóstolo João relaciona com
Gogue e Magogue, por que não entender que se
trata da mesma batalha mencionada em Ezequiel
38–39? Um aspecto em comum entre essas duas
batalhas é que ambas dirigem seu ataque a Israel.
Isso proporciona o desfecho perfeito que dá sentido
à história bíblica. No texto de Gn 15.18-21, Deus se
compromete, por meio de uma aliança, a fazer de
Israel uma nação e a dar aos Judeus essa terra
especial. No fim do Milênio quando for solto,
Satanás empreenderá um último e desesperado
esforço para aniquilar Israel, a menina dos olhos de
Deus. Se conseguisse fazer com que Deus deixasse
de cumprir a promessa que fez para Israel, Satanás
derrotaria os propósitos de Deus e, assim,
conquistaria a vitória final.[12]
NOTAS 1 DAVE HUNT, HOW CLOSE ARE WE? COMPELLING
EVIDENCE FOR THE SOON RETURN OF CHRIST, EUGENE,
OR: HARVEST HOUSE PUBLISHERS, 1993, P. 267-70.
2
Louis S. BAUMAN, Russian Events in the Light of Bible
Prophecy, Nova York: Fleming H. Revell Company, 1942, p.
180-89; Harry A. IRONSIDE, Ezekiel the Prophet, Neptune,
NJ: Loizeaux Brothers, 1949, p. 265.
3
Arnold G. FRUCHTENBAUM, The Footsteps of the Messiah: A
Study of the Sequence of Prophetic Events, edição
revisada; Tustin, CA: Ariel Ministries, 2003, p. 119.
4
Mark HITCHCOCK, After The Empire: Bible Prophecy in Light
of the Fall of the Soviet Union, Wheaton, IL: Tyndale House
Publishers, 1994, p. 130.
5
FRUCHTENBAUM, Footsteps of the Messiah, p. 119.
6
Ron RHODES, Northern Storm Rising: Russia, Iran, and the
Emerging End-Times Military Coalition Against Israel,
Eugene, OR: Harvest House Publishers, 2008, p. 187.
7
Arno C. GAEBELEIN, The Prophet Ezekiel, Nova York: Our
Hope, 1918, p. 252-55.
8
RHODES, Northern Storm Rising, p. 189.
9
RHODES, Northern Storm Rising, p. 189.
10
Por exemplo, A. B. DAVIDSON, The Book of Ezekiel,
Cambridge: Cambridge University Press, 1892, p. 301;
Henry L. ELLISON, Ezekiel: The Man and His Message,
Grand Rapids: Eerdmans, 1959, p. 133; J. Paul TANNER,
“Rethinking Ezekiel’s Invasion By Gog”, publicado no
periódico Journal of the Evangelical Theological Society,
março de 1996, vol. 39, p. 29-45.
11
Ralph H. ALEXANDER, “Ezekiel”, publicado na obra de Frank E.
Gaebelein, org. geral, The Expositor’s Bible Commentary,
12 vol., Grand Rapids: Zondervan, 1986, vol. 6, p. 940.
12
TANNER, “Rethinking”, p. 45.
29. NO FIM DO
MILÊNIO?

O último ponto de vista sobre o momento em


que ocorrerá a invasão de Gogue à terra de Israel
defende a concepção de que, segundo o
cronograma profético de Deus para o fim dos
tempos, tal invasão acontecerá no fim do Milênio.
Após ter apresentado essa concepção no capítulo
anterior, passarei, agora, a expor uma série de
motivos que demonstram a falha desse ponto de
vista na interpretação do texto de Ezequiel 38–39,
sobretudo porque o final do Milênio redunda no
fim da história e no começo da eternidade.

DIFERENÇAS NO PROCESSO
DE ESTUDO BÍBLICO,
QUANDO SE NOTA UMA OU
MAIS SEMELHANÇAS EM DOIS
TEXTOS DISTINTOS, É
MUITO COMUM CHEGAR-SE À
CONCLUSÃO DE QUE ESSES
DOIS TEXTOS SE REFEREM
AO MESMO ACONTECIMENTO.
É POSSÍVEL QUE SE
REFIRAM AO MESMO
ACONTECIMENTO COMO
TAMBÉM É POSSÍVEL QUE
NÃO SE REFIRAM. QUANDO
SE PENSA QUE EXISTEM
SEMELHANÇAS ENTRE
PASSAGENS BÍBLICAS, É AÍ
QUE AS DIFERENÇAS ENTRE
OS RESPECTIVOS TEXTOS SE
TORNAM AINDA MAIS
IMPORTANTES. EM GERAL,
QUANDO EXISTEM MUITAS
DIFERENÇAS ENTRE DOIS OU
MAIS TEXTOS BÍBLICOS, O
MELHOR QUE SE TEM A
FAZER É ASSUMIR
CONCLUSIVAMENTE QUE
ESSES VÁRIOS TEXTOS SE
REFEREM A ACONTECIMENTOS
DISTINTOS. CREIO QUE
ESSE SEJA O CASO DA
ANÁLISE COMPARATIVA
ENTRE OS TEXTOS DE
APOCALIPSE 20 E EZEQUIEL
38–39. PARA QUE SE
CHEGUE À CONCLUSÃO DE
QUE ESSAS DUAS PASSAGENS
BÍBLICAS FAZEM
REFERÊNCIA AO MESMO
ACONTECIMENTO, É PRECISO
QUE AS DIFERENÇAS ENTRE
ESSES TEXTOS SEJAM
PRIMEIRAMENTE
HARMONIZADAS.
Arnold Fruchtenbaum identifica estas duas
objeções a esse ponto de vista, as quais considera
irreconciliáveis: Contudo, há duas objeções muito
importantes a essa concepção. A primeira diz
respeito ao fato de que a invasão predita em
Ezequiel vem do norte; a invasão predita em
Apocalipse vem de todas as partes do mundo. A
segunda alega que esse ponto de vista também
falha em solucionar o problema dos sete meses e
sete anos. Esta Terra atual será aniquilada logo
depois da invasão mencionada em Apocalipse, de
modo que não haveria tempo (nem lugar!) para os
sete meses de sepultamento, muito menos para os
sete anos de queima das armas. Isso exigiria que o
referido sepultamento e a referida queima
continuassem dentro da nova ordem, a do Estado
Eterno.[1]
A primeira objeção levantada por
Fruchtenbaum implica que a invasão sob o
comando de Gogue é claramente predita no livro
de Ezequiel como um punhado de nações (i.e., uma
invasão regional) que vêm do norte, ao passo que o
ataque a Jerusalém é predito como uma invasão de
muitos indivíduos que procedem de todas as
nações do mundo, significando, portanto, que a
invasão registrada em Apocalipse vem de todas as
direções. O texto de Ezequiel menciona que Gogue,
um ser humano, será o líder da invasão predita pelo
profeta, ao passo que o próprio Satanás (i.e., um ser
de natureza angelical) será o líder do episódio
predito em Apocalipse 20. John Walvoord
concorda com isso e declara que “não existe nada
no contexto de Ezequiel 38–39 que se assemelhe à
batalha mencionada em Apocalipse”.[2] Walvoord
levanta a seguinte pergunta: “Então, por que o
apóstolo João utiliza a expressão ‘Gogue e
Magogue’?”. Afinal, isso seria um ponto forte dessa
concepção. O próprio Walvoord responde a sua
pergunta nos seguintes termos: As Escrituras não
explicam essa expressão. Para falar a verdade, tal
expressão pode ser tirada da frase sem causar
qualquer alteração no sentido da mesma. No texto
de Ezequiel 38, Gogue era o governante e Magogue
era o povo governado, de modo que ambos estavam
em rebelião contra Deus e eram inimigos de Israel.
Talvez esses termos possam ser usados em sentido
simbólico, assim como alguém pode se referir à
vida de uma pessoa dizendo que ela passou por um
“Waterloo”. Em termos históricos, esse nome diz
respeito à derrota de Napoleão em Waterloo, na
Bélgica, mas pode representar simbolicamente
qualquer desastre de grandes proporções. Aqui
nesse texto de Apocalipse, os exércitos vêm
motivados pelo mesmo espírito de oposição a Deus
que se encontra na passagem de Ezequiel 38.[3]
Ao que me parece, a segunda objeção
levantada por Fruchtenbaum se constitui num
problema insuperável para o referido ponto de
vista. Embora Paul Tanner, um dos defensores
desse ponto de vista, afirme, em termos gerais, que
“certamente haveria tempo hábil para o
sepultamento dos corpos e para a queima das
armas”,[4] ele não fornece nenhum detalhe mais
específico sobre esse assunto. Ralph Alexander faz
uso de uma generalização semelhante quando
declara que “haveria, sem dúvida, tempo suficiente
para o sepultamento dos corpos e para a queima
das armas”.[5] Dessa forma, acho que Alexander
teria de pressupor um período de sete anos cuja
ocasião se estenderia para além dos mil anos
preditos em Apocalipse 20. Entretanto, o texto de
Ezequiel 39.12 afirma que o propósito do
sepultamento dos inimigos mortos é “...para limpar
a terra”. Por que a terra precisaria ser limpa ou
purificada, se no final do Milênio já haverá uma
estrondosa destruição dos céus e da terra por fogo?
O fluxo do texto de Apocalipse deixa claro que
Satanás e todos aqueles que participarem da
rebelião mundial contra Deus sofrerão um juízo
instantâneo que lhes sobrevirá de imediato. Então,
há uma mudança de cenário nos próximos
versículos de Apocalipse 20, v. 11-15, para focalizar
a cena do Julgamento do Grande Trono Branco,
seguida pela cena do “...novo céu e nova terra...” nos
capítulos 21 e 22. O texto de Apocalipse 21.1
acrescenta a seguinte frase: “...pois o primeiro céu e a
primeira terra passaram...”.

A DESTRUIÇÃO POR FOGO NO


TEXTO ORIGINAL DE
APOCALIPSE, HÁ DUAS
PALAVRAS GREGAS QUE
REQUEREM UMA ATENÇÃO
ESPECIAL. A PRIMEIRA SE
ENCONTRA NO TEXTO DE
APOCALIPSE 20.9, QUANDO
DIZ QUE “...DESCEU, PORÉM,
FOGO DO CÉU E OS
CONSUMIU”, OU SEJA,
CONSUMIU AQUELAS PESSOAS
QUE VIERAM DE TODAS AS
NAÇÕES DA TERRA E QUE
SITIARAM A CIDADE DE
JERUSALÉM. A PALAVRA
GREGA TRADUZIDA POR
“CONSUMIU” É O VERBO
KATAPHAGO, CUJO
SIGNIFICADO GERAL É O DE
“CONSUMIR PELO ATO DE
COMER; DEVORAR”. UM
DICIONÁRIO LÉXICO DA
LÍNGUA GREGA ENQUADRA O
USO QUE O TEXTO DE
APOCALIPSE 20.9 FAZ
DESSA PALAVRA DENTRO DO
CAMPO SEMÂNTICO DE
“DESTRUIR COMPLETAMENTE”
E, “NO QUE SE REFERE AO
FOGO: CONSUMIR OU
QUEIMAR ALGUÉM”.[6] A
CLARA IMPLICAÇÃO DESSA
PALAVRA É A DE QUE NÃO
RESTARÃO CADÁVERES PARA
SEREM SEPULTADOS, PORQUE
AQUELAS PESSOAS
MENCIONADAS NO TEXTO
SERÃO QUEIMADAS E,
PORTANTO, CONSUMIDAS
PELO FOGO QUE DEUS
ENVIARÁ DO CÉU. POR
ISSO, A OCORRÊNCIA DESSA
PALAVRA NÃO PERMITE
NENHUMA RELAÇÃO COM
AQUELE PERÍODO DOS SETE
ANOS DE PURIFICAÇÃO DA
TERRA DE ISRAEL PREVISTO
NA PROFECIA DE EZEQUIEL.
A outra palavra grega se encontra em
Apocalipse 21.1 que diz: “Vi novo céu e nova terra,
pois o primeiro céu e a primeira terra passaram...”. O
termo “passaram” é a tradução do verbo grego
parerhomai que significa basicamente “ir embora;
partir; perecer”. O dicionário léxico da língua grega
afirma que no contexto dessa passagem a palavra
tem o sentido de “descontinuar um estado ou
condição; desaparecer”.[7] Esse texto bíblico,
juntamente com Apocalipse 20.9, alicerça o
conceito de que os céus e a Terra, que agora
existem, serão destruídos quando o período de mil
anos chegar ao fim, fato esse que impede o
cumprimento dos detalhes preditos em Ezequiel
39.9-16 no mesmo momento histórico de
Apocalipse 20 e que, portanto, inviabiliza a
concepção proposta por esse último ponto de vista.
Além do mais, a passagem bíblica de 2Pedro
3.10-13 se refere à futura destruição dos céus e terra
atuais, numa linguagem sincronizada com o que
está escrito em Apocalipse 20 e 21. “Virá,
entretanto, como ladrão, o Dia do Senhor, no qual os
céus passarão com estrepitoso estrondo, e os
elementos se desfarão abrasados; também a terra e
as obras que nela existem serão atingidas. Visto que
todas essas coisas hão de ser assim desfeitas, deveis
ser tais como os que vivem em santo procedimento e
piedade, esperando e apressando a vinda do Dia de
Deus, por causa do qual os céus, incendiados, serão
desfeitos, e os elementos abrasados se derreterão.
Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos
novos céus e nova terra, nos quais habita justiça”.
Grande parte do vocabulário usado no texto de
Apocalipse também se encontra em 2Pedro. Nesse
caso, chega-se à conclusão de que essa passagem de
2Pedro 3 é uma expansão do que o apóstolo João
viu e registrou em Apocalipse. Isso significa que,
depois dos mil anos do reinado de Cristo, este
planeta Terra em que vivemos será queimado e
totalmente destruído. Talvez isso explique a razão
pela qual Deus enviará fogo do Céu sobre os
rebeldes que sitiarem Jerusalém, já que tal ato
divino seria a primeira etapa da destruição total do
planeta Terra. Portanto, não há como forçar uma
interpretação de que os detalhes da invasão
mencionada em Ezequiel se refiram ao mesmo
acontecimento predito em Apocalipse.

MAIS ALGUMAS DIFERENÇAS


QUANTO MAIS EU ANALISO
COMPARATIVAMENTE OS
DETALHES DO TEXTO DE
EZEQUIEL COM O TEXTO DE
APOCALIPSE 20.7-10, MAIS
EU PERCEBO QUE OS
ACONTECIMENTOS PREDITOS
NESSAS PASSAGENS
BÍBLICAS SÃO NITIDAMENTE
DIFERENTES. OUTRO
DETALHE VERIFICADO NO
TEXTO DE EZEQUIEL, QUE
NÃO FAZ O MENOR SENTIDO
À LUZ DE APOCALIPSE 20,
É O FATO DE QUE GOGUE E
SEUS ALIADOS NA INVASÃO
SERÃO SEPULTADOS PELOS
ISRAELENSES NUM VALE
QUE, SEGUNDO O TEXTO, SE
LOCALIZA A LESTE DO MAR
MEDITERRÂNEO. CHARLES
DYER ACRESCENTA O
SEGUINTE: O VALE ONDE O
EXÉRCITO DE GOGUE SERÁ
SEPULTADO SE LOCALIZA
“AO ORIENTE” DO MAR
MORTO, NUM TERRITÓRIO
QUE ATUALMENTE PERTENCE
À JORDÂNIA. NA FRASE “O
VALE DOS VIAJANTES”, A
EXPRESSÃO “DOS
VIAJANTES” PODE SER
INTERPRETADA COMO UM
NOME PRÓPRIO HEBRAICO. É
POSSÍVEL QUE SE REFIRA
AOS “MONTES DE ABARIM”,
SITUADOS A LESTE DO MAR
MORTO, OS QUAIS ISRAEL
ATRAVESSOU NO SEU
PERCURSO PARA A TERRA
PROMETIDA (CF. NM
33.48). SE FOR ESSE O
CASO, O SEPULTAMENTO DE
GOGUE OCORRERÁ NO VALE
DE ABARIM, DO OUTRO LADO
DA PARTE DO MAR MORTO
QUE PERTENCE A ISRAEL, A
SABER, NA TERRA DE
MOABE. CONTUDO, O TEXTO
DE EZEQUIEL DIZ QUE O
SEPULTAMENTO SERÁ “EM
ISRAEL”, PELO FATO DE QUE
ISRAEL DETEVE O CONTROLE
DAQUELA REGIÃO DURANTE
ALGUNS PERÍODOS DE SUA
HISTÓRIA (CF. 2SM 8.2;
SL 60.8).[8]
Essa falta de sincronia entre os detalhes das
duas passagens bíblicas examinadas demonstra que
elas não tratam do mesmo acontecimento.
Por que o Senhor determinaria que Israel
fizesse do local de sepultamento de Gogue um
memorial para as futuras gerações, se Ele já sabia
que estava prestes a queimar e destruir todo o
planeta? Isso não faz sentido! Mark Hitchcock
salienta que “esses capítulos estão inseridos num
contexto que prediz a restauração de Israel (Ez 33–
39), vindo, em seguida, uma descrição do Templo
que existirá no Milênio e dos sacrifícios que nele
serão oferecidos (Ez 40–48). A invasão, registrada
nos capítulos 38 e 39, faz parte da restauração de
Israel, a qual, em termos cronológicos, se cumprirá
antes que o Reino Milenar de Cristo seja
oficialmente estabelecido.[9]
NOTAS 1 ARNOLD G. FRUCHTENBAUM, THE FOOTSTEPS OF
THE MESSIAH: A STUDY OF THE SEQUENCE OF
PROPHETIC EVENTS, EDIÇÃO REVISADA; TUSTIN,
CA: ARIEL MINISTRIES, 2003, P. 121.
2
John F. W ALVOORD, Roy B. ZUCK e DALLAS THEOLOGICAL
SEMINARY., The Bible Knowledge Commentary: An
Exposition of the Scriptures, Wheaton, IL: Victor Books,
1983 – 1985), vol. 2, p. 981.
3
W ALVOORD, The Bible Knowledge Commentary, vol. 2, p.
981.
4
J. Paul TANNER, “Rethinking Ezekiel’s Invasion By Gog”,
publicado no Journal of the Evangelical Theological
Society, March 1996, vol. 39, p. 45.
5
Ralph H. ALEXANDER, “Ezekiel”, publicado na obra organizada
por Frank E. GAEBELEIN, The Expositor’s Bible Commentary,
12 vol., Grand Rapids: Zondervan, 1986, vol. 6, p. 940.
6
William ARNDT, Frederick W. DANKER e Walter BAUER, A
Greek-English Lexicon of the New Testament and Other
Early Christian Literature, 3ª edição, Chicago: University of
Chicago Press, 2000, p. 532.
7
ARNDT, DANKER e BAUER, A Greek-English Lexicon, p. 103.
8
(Grifo do Autor Original), Charles H. DYER, “Ezekiel”,
publicado na obra organizada por John F. W ALVOORD e Roy
B. ZUCK, The Bible Knowledge Commentary: An Exposition
of the Scriptures, Old Testament, Wheaton, IL: Victor
Books, 1983–1985, p. 1302.
9
Mark HITCHCOCK, After The Empire: Bible Prophecy in Light
of the Fall of the Soviet Union, Wheaton, IL: Tyndale House
Publishers, 1994, p. 134.
30. EZEQUIEL 38 E
39 - RESUMINDO

Nesta última etapa de nossa análise da invasão


de Gogue e seus aliados à terra de Israel, conforme
foi predita nos capítulos 38 e 39 do livro de
Ezequiel, quero resumir minhas conclusões, as
quais já foram apresentadas e defendidas ao longo
desse tratamento interpretativo detalhado que
dedicamos a essa passagem bíblica. Não
reapresentarei os pontos de vista e aspectos dos
quais discordo; ao invés disso, mostrarei uma
sinopse de minhas conclusões sobre esse texto.
OS ATORES
Os invasores parecem ser uma coligação de
muçulmanos, não oriundos de povos árabes,
liderada por um russo. O texto declara que Gogue,
o líder dessa coalizão, é oriundo “da terra de
Magogue”, além de se referir a ele como “príncipe de
Rôs” (Ez 38.2). Essas expressões descritivas se
referem claramente a um líder russo que
comandará a invasão.
Na seqüência de nossa análise, examinei a lista
de invasores que se juntarão a Gogue como aliados.
Meseque e Tubal sempre são citados juntos na
Bíblia (Ez 38.3). Eles viviam naquele território que
hoje se conhece como Turquia. A Pérsia é
facilmente identificável porque foi mencionada por
várias vezes na Bíblia e corresponde atualmente ao
país denominado Irã (Ez 38.5). A Etiópia é
identificada pelo nome Cuxe, transliterado da
palavra hebraica Kush, um povo que habitava no
território imediatamente ao sul do Egito, onde o
país do Sudão se localiza na atualidade (Ez 38.5).
Pute se situa nas proximidades do Sudão e
corresponde ao país que hoje se conhece como
Líbia (Ez 38.5). Os atuais descendentes de Gômer e
de Bete-Togarma são identificados como etnias que
também habitam hoje em dia nas regiões central e
oeste do território da Turquia. O exército invasor
virá do norte, numa investida para atacar Israel.
É possível que outras nações, não identificadas
especificamente como “atores nesse palco” da
tentativa de invadir Israel, também venham a se
envolver. Também é possível que certos povos
identificados em Ezequiel se esparramem para
dentro do território de países adjacentes. Temos
um exemplo disso nos Curdos, um grupo étnico
que se encontra espalhado em regiões do Irã, da
Turquia e do Iraque.

A SITUAÇÃO DE ISRAEL
O texto bíblico nos informa que, no momento
dessa invasão, Israel já terá se recuperado da espada
(Ez 38.8), o que só pode se referir à sua situação
atual ou a alguma ocasião depois de nossos dias.
Essa recuperação da espada deve ter relação com as
derrotas judaicas nos anos 70 d.C. e 135-136 d.C.,
quando a longa Diáspora dos Judeus teve início e
também deve estar relacionada com o
reagrupamento de Israel “...que se congregou dentre
muitos povos...” (v. 8). Em conjunto com as
expressões “...depois de muitos dias...” e “...no fim
dos anos...” (Ez 38.8), parece claro que o texto faz
alusão a um episódio que ainda vai acontecer no
futuro, provavelmente associado com o período da
Tribulação.
Esse texto prediz que toda a nação de Israel
estaria “...habitando seguramente...” na sua terra
quando a invasão ocorrer (Ez 38.8). Creio que esse
fato seja o maior desafio à concepção, por mim
defendida, de que essa invasão acontecerá depois
do Arrebatamento da Igreja, mas antes do começo
da 70ª semana profetizada por Daniel, a saber, antes
da Tribulação vindoura. Alguns intérpretes têm
tentado igualar o conceito de viver “seguramente”
com o de viver “pacificamente”. Tais intérpretes
afirmam que essa passagem descreve uma situação
em que Israel estaria vivendo em paz com todos os
países vizinhos e que nenhum destes seria uma
ameaça para os judeus. Essa interpretação não tem
nenhuma sustentação no significado da palavra
hebraica betah, nem é apoiada pelo contexto da
passagem. Arnold Fruchtenbaum comenta o
seguinte:
Em nenhum lugar desse texto há qualquer alusão de que Israel
estaria vivendo em paz. Pelo contrário, a descrição é de que Israel
estaria simplesmente habitando em segurança, o que significa
“confiança”, a despeito de quanto dure um estado de guerra ou de
paz. Nas várias descrições que essa passagem apresenta sobre
Israel, pode-se comprovar que todas são verídicas na realidade do
Estado de Israel atual.[1]

Ao que parece, o texto indica que Israel já


estaria de volta à sua terra e que certo período de
tempo já teria decorrido, pois os judeus são
descritos na passagem como um povo que habita
seguro na sua terra e que produziu grande riqueza,
riqueza essa que será o motivo dos povos aliados
para invadir (Ez 38.10-12). Não há dúvida de que
essa é a situação de Israel hoje em dia. Na realidade,
diante da atual crise econômica mundial, Israel tem
se saído melhor do que qualquer outra nação.
O MOMENTO EXATO
Como salientei anteriormente, creio que a
invasão terá relação com o período da Tribulação,
razão pela qual acredito que o ataque dessa coalizão
invasora se dará após o Arrebatamento, mas antes
da Tribulação. O Arrebatamento encerra a Era da
Igreja, porém não marca o início da Tribulação
propriamente dita. O período de sete anos da
Tribulação começará no exato momento em que o
Anticristo, oriundo do Império Romano
revitalizado, fizer uma aliança para proteger Israel
(Dn 9.24-27). Portanto, o intervalo de tempo pode
ter a duração de alguns dias, semanas, meses ou
anos, a fim de que o palco esteja totalmente pronto
para os acontecimentos que se sucederão nesse
período de sete anos.
O texto de Ezequiel 39.9 prediz o seguinte: “Os
habitantes das cidades de Israel sairão e queimarão,
de todo, as armas, os escudos, os paveses, os arcos, as
flechas, os bastões de mão e as lanças; farão fogo com
tudo isto por sete anos”. O fato de que essas armas
serão queimadas por sete anos fornece um
indicador de tempo que poderia nos ajudar a
discernir o momento, dentro do cronograma
profético de Deus, em que essa batalha ocorrerá.
Fruchtenbaum diz o seguinte: “Esses sete meses de
sepultamento dos corpos e sete anos de queima das
armas são cruciais para que se possa definir com
precisão o momento em que essa invasão
acontecerá. Para que uma concepção interpretativa
esteja correta, deve obrigatoriamente satisfazer às
exigências impostas por esses sete meses e sete
anos”.[2] Parece pouco provável que essa queima
das armas por sete anos passe para o período de mil
anos do reino, após a Segunda Vinda do Senhor
Jesus. O Dr. Price explana sobre essas questões nos
seguintes termos:
Se essa batalha acontecesse depois do Arrebatamento, mas antes
do início da septuagésima semana profética de Daniel, haveria
bastante tempo e liberdade de movimento, ainda durante a primeira
metade da Tribulação (i.e. o período de tempo caracterizado por
aquela falsa paz oferecida a Israel na aliança firmada pelo Anticristo),
para o cumprimento dessa tarefa. Além disso, a alusão de que não
haverá necessidade de cortar e recolher lenha dos bosques (v. 10)
faria mais sentido se esse episódio ocorresse antes da primeira
trombeta apocalíptica de juízo, quando a terça parte de todas as
árvores será queimada (Apocalipse 8.7). Se essa batalha estivesse
prevista para acontecer em algum momento do período da
Tribulação, as pessoas não teriam tempo de concluir essa tarefa
antes da ferrenha perseguição que ocorrerá nos últimos 42 meses
daquele período (cf. Mateus 24.16-22), quando o Remanescente
Judeu se verá forçado a fugir para o deserto a fim escapar do
sanguinário ataque satânico (Apocalipse 12.6). Embora não haja
nenhuma razão que impeça a queima das armas durante o Reino
Milenar, já que outras armas serão convertidas em utensílios
produtivos e pacíficos no Milênio (Isaías 2.4), a renovação da
natureza e o aumento da produtividade, característicos desse
período (Isaías 27.6; Zacarias 8.12; Miquéias 4.4), poderiam
argumentar contra tal necessidade.[3]

O Dr. Ron Rhodes escreveu há pouco tempo


um livro excelente sobre o texto de Ezequiel 38 e
39, intitulado Northern Storm Rising [i.e.
“Tempestade que Vem do Norte”][4]. O Dr.
Rhodes compara a atual preparação para os
acontecimentos preditos na profecia de Ezequiel ao
ajuntamento de nuvens negras antes de uma
tempestade. É isso mesmo! Hoje em dia, temos
testemunhado os preparativos e o posicionamento
político-ideológico das nações que foram preditas
na profecia para invadir Israel.
Os últimos anos testemunharam a
aproximação entre o Irã e a Rússia, os quais têm se
empenhado juntos para ajudar o Irã a se tornar
uma potência nuclear. Não há a menor dúvida de
que a Rússia capacitou o Irã a construir seu reator
nuclear e de que os russos têm ajudado os iranianos
tanto a desenvolverem quanto a montarem bombas
atômicas. Pela primeira vez na história foi noticiado
que a Rússia e o Irã planejam realizar exercícios
militares em conjunto.[5] Não há como se
equivocar quanto ao objetivo do programa nuclear
iraniano, pois, o ex-presidente do Irã, Mahmoud
Ahmadinejad, fez declarações, por inúmeras vezes,
sobre sua intenção de varrer Israel do mapa.
Em face da atual situação entre Israel e Irã, se
conjecturarmos que o momento dessa invasão
poderia estar próximo, talvez um dos “...anzóis no...
queixo...” de Gogue pudesse ser um ataque
israelense às instalações nucleares do Irã. Somente
um ataque bem sucedido de Israel poderia
proporcionar uma sensação de segurança, ainda
que temporária, já que afastaria a ameaça nuclear
iraniana. No entanto, o Irã poderia apelar para a
Rússia e seus aliados, alegando que já chegara a
hora de se envolverem no conflito, a fim de
aniquilarem os judeus “...que vivem seguros...” na
sua terra e tomarem os despojos durante essa
investida. Afinal, o Irã poderia se queixar para a
Rússia, a outra superpotência do mundo, que os
Estados Unidos já intervieram naquela região, pelo
menos duas vezes nos últimos 20 anos e ainda se
encontram em operação militar no Oriente Médio.
Por que a Rússia não poderia fazer o mesmo em
favor de seus aliados?
Hoje em dia a Turquia não se encontra
alinhada com a Rússia e com o Irã por ter se
tornado tecnicamente um Estado secular com uma
herança muçulmana após o colapso do Império
Turco-Otomano no final da Primeira Guerra
Mundial. Já faz tempo que a Turquia se tornou
membro da OTAN [Organização do Tratado do
Atlântico Norte] e tem expressado o desejo de se
identificar, não com a Ásia, mas com a Europa,
muito provavelmente por razões econômicas. A
Turquia é um país cuja menor parte do território se
encontra na Europa e a maior parte está situada na
Ásia. Além disso, a Turquia já solicitou
oficialmente o ingresso como país-membro da
União Européia, onde qualquer pessoa que esteja
num dos seus países-membros pode se deslocar
livremente para outra localidade que se encontre
dentro dos limites geográficos da União Européia.
Os demais países-membros estão preocupados
porque temem que, se for admitida como membro
da União Européia, a Turquia possa se tornar um
canal através do qual os muçulmanos se
deslocariam para inundar o restante da Europa com
a sua presença. Embora a Turquia continue no
processo de cumprir requisitos para ingressar na
União Européia, é praticamente certo que no fim
tal ingresso seja rejeitado. A partir do momento
que forem rejeitados pela União Européia, os turcos
vão buscar alinhamento com a Rússia, bem como
com seus países-irmãos islâmicos.
Nos últimos anos contemplou-se a emergência
de uma maioria islâmica no Parlamento da Turquia
e o seu atual primeiro-ministro é muçulmano. A
dissolução da antiga União Soviética envolveu a
independência destas cinco repúblicas islâmicas:
Cazaquistão, Uzbequistão, Quirguistão,
Turcomenistão e Tajiquistão. A Turquia se
considera o desenvolvedor econômico dos vastos
recursos naturais que se encontram nesses cinco
novos países, tais como: ouro, prata, urânio,
petróleo, carvão e gás natural. Depois de ser
desprezada pela Europa, a Turquia terá motivos de
sobra para entrar numa aliança com a Rússia e com
suas nações-irmãs muçulmanas, o que deixará o
palco preparado para o cumprimento dessa
profecia. Maranata!
NOTAS
1
Arnold FRUCHTENBAUM, Footsteps of the Messiah: A Study of
the Sequence of Prophetic Events, Tustin, CA: Ariel Press,
(1982) 2003, p. 117.
2
(Grifo do autor original em itálico) FRUCHTENBAUM, Footsteps,
p. 117.
3
Randall PRICE, “Comentários Não Publicados Sobre as
Profecias de Ezequiel”, 2007, p. 43.
4
Ron RHODES, Northern Storm Rising: Russia, Iran, and the
Emerging End-Times Military Coalition Against Israel,
Eugene, OR: Harvest House Publishers, 2008.
5
DEBKAfile, “Russia’s first Persian Gulf naval presence
coordinated with Tehran”, publicado em 2 de junho de 2009
no site da Internet: www2.debka.com/headline.php?
hid=6095.

Вам также может понравиться