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TALHA DOURADA

Contexto

O alcance da costa do Malabar, na Índia, por Vasco da Gama, e das terras de Santa Cruz, por Pedro
Álvares Cabral, propiciou consideráveis repercussões não só nas esferas social, económica, política e
religiosa, mas também artística. Um encontro com povos até aí desconhecidos, um encontro de
culturas e estéticas distintas, cuja dialética concretizou-se na assimilação e construção de novas formas
de expressão. Neste estreitamento de relações deveu-se ao papel desempenhado pelos transmissores
da Fé Católica, com particular realce para as ordens religiosas que se instalaram nos territórios
coloniais. Numa primeira fase, a necessidade de satisfação dos “caprichos” religiosos no território da
Índia e o desejo de luxo dos reinóis, resultaram com a ida de numerosas obras de arte – alfaias,
esculturas, pinturas, retábulos, etc. – da metrópole.

Durante as primeiras décadas do século XVI pensou-se poder fornecer a generalidade das igrejas com
retábulos com pinturas sobre tábua, como era então vulgar no Reino, mas o clima e mesmo condições
da viagem mudaram essa perspetiva, e os responsáveis pela construção das igrejas passaram a mandar
fazer localmente retábulos com estruturas arquitetónicas de madeira ou a emoldurar baixos ou
médios relevos. Consequentemente, Isto trouxe um problema acrescido, o da mão-de obra. Tornou-
se imperativo o recurso à produção local. Contudo, as autoridades políticas e religiosas não aceitaram
com facilidade que a execução de obras de arte sacra fosse fruto do labor de artistas pagãos, , pois
realizavam obras das diferentes religiões como hindu, e muçulmana, pelo que os conselhos provinciais
de Goa proibiam essa prática, reservando-a apenas para os que se convertiam ao cristianismo.
Contudo, a repetição dos decretos revela que as proibições não eram acatadas, segundo Pedro Dias a
realidade é que na segunda metade do século XVI, os gentios esculpiam, pintavam e faziam alfaias de
culto. O recurso à mão-de-obra local, educada num misto de tecnologias e formas europeias e hindus,
determina a existência de uma miscigenação artística, uma fusão dos léxicos europeu e oriental.
RETÁBULOS

Segundo o historiador Pedro Dias, na vigência do estilo renascença, o primeiro retábulo importante que
houve na India foi o da Igreja de Santa Catarina, pintadas por Garcia Fernandes em Lisboa, um pouco
antes de 1540. Já o retábulo que atualmente se encontra na capela -mor da igreja da Nossa senhora do
Rosário (Velho de Goa), pode ser datado do fim da vigência da renascença e do início do maneirismo ,
e ilustra o mesmo tipo de organização. Para as obras de grande envergadura da segunda metade do
século XVI houve recurso a artistas com boa formação, nomeadamente nas igrejas da Companhia de
Jesus. O retábulo -mor da igreja do colégio de São Paulo de Goa, tinha uma forma idêntica ao dos
grandes retábulos feitos para a catedral de Portalegre e para a igreja do Carmo de Coimbra, por
exemplo, com as suas tabuas hagiográficas sobrepostas com esculturas de vulto colocadas com nichos
ou nos intercolúnios.

Os retábulos que se aproxima mais dos modelos maneiristas reinóis, e que foram traçados
indiscutivelmente por um artista europeu erudito e bom conhecedor da tratadística, são os dois que Análise do
se podem admirar nos arcos-capelas do topo de duas das naves do grande claustro do convento de retábulo no
Santa Mónica de Goa. O desenho e a estrutura sobrepõem-se à decoração: dois pares de colunas claustro do
coríntias sobre pedestais suportam o entablamento retilíneo, sobre o qual foi construído um frontão convento de
que possui uma pintura no espelho. No centro há um nicho sobrepujado por uma meia cúpula onde foi Santa Mónica
posta uma escultura de Cristo Salvador do Mundo num lado, e de santo agostinho no outro. No terço de Goa.
inferior das colunas e nos pedestais podem ver-se esquemas decorativos que se inspiram em gravuras
de Cornelis Bos e de Vredman De vries, embora não haja nenhuma copia literal. As cabeças dos
querubins, no entanto, pela sua execução , denunciam a participação de mão de obra local.

De entre todos os altares de estilo maneirista avulta o da capela-mor da sé catedral, que foi começado
por volta de 1630 e concluído em 1634. Tem quatros planos sobrepostos e três verticalmente. A
estrutura arquitetónica é serliana, interpretada livremente por executantes poucos habituados ao
desenho maneirista ornamental italiana e flamengo. A igreja católica foi ao encontro do gosto indiano ,
adotando volumes gordos , vincados e artificiosos, a cor berrante e o ouro. Inversamente, a perspetiva ,
a definição de planos , os pontos de fuga , a proporção e o decoro não se integravam nas suas
preocupações estéticas. O que lhes interessava eram os símbolos, a riqueza e o colorido com que se
apresentavam. Ainda na catedral de Goa encontramos um conjunto interessante de retábulos
maneiristas, colocados nas capelas laterais que se abrem para a nave do flanco direito. Para alem do
plano central pleno, onde se desenrola cada historia, há um banco corrido com pedestais nos extremos,
onde se apoiam os conjuntos de duplas colunas compósitas com o terço inferior decorado de grutescos
e dos dois superiores estriados sustentados por um entablamento com um friso reto a suportar um
corpo quadrangular vazado por um óculo redondo e terminado por um frontão triangular. Segundo
Pedro Dias, o autor dos riscos foi um engenheiro ou arquiteto com gosto pelas soluções serlianas.

A transição do maneirismo para o Barroco não se fez por um corte, por uma oposição de um estilo ao
outro, mas através da inclusão de elementos que viriam a ser emblemáticos do barroco , como é a
junção de e colunas salomónicas a uma compartimentação do espaço ainda clássica. O efeito assim
obtido é estranho, mas para quem est+a habituado a ver os retábulos do Reino, nai deve ter causado
qualquer problema aos tracistas e entalhadores luso-indianos que, assim, modernizavam as suas obras,
sem darem conta ou sem se preocuparem com os anacronismos criados. A primeira manifestação clara
da estética barroca na retabilista indo-portuguesa traduz-se pela inclusão de colunas salomónicas nestas
estruturas pesadas e lisas de raiz maneirista. O que se conserva na capela mor da igreja do colégio de
Rachol que data os finais do século XVII, é um exemplo entre os vários que existem.

Parece claro que os tracistas luso-indianos tinham serias dificuldades em abandonar as grandes
superfícies planas que vigoravam desde o renascimento, ou pelo menos, do maneirismo, mas a coluna
salomónica era um tópico inultrapassável. Esta utilização de coluna torsa em estruturas maneiristas
pode detetar-se em todo o território indiano onde houve igrejas do Padroado Portugues como
aconteceu na igreja de Santana de Talaulim, na igreja do convento de São Francisco, no altar de Nossa
Senhora das Dores, na sé de Goa e na igreja de nossa senhora dos remédios em Diu.

Uma obra de grande erudição é o retábulo mor do Bom Jesus, data do fim do século XVII ou dos
primeiros tempos do século seguinte. É uma alegoria ao triunfo de Santo Inácio, em que avulta a figura
de loyola, sobre uma base cónica invertida sob um resplendor com a forma de sol raiado, onde se vê o
emblema da Companhia de Jesus. Na estrutura há um elemento estranho, a inclusão de uma pilastra
entre as colunas salomónicas que sustentam o entablamento. O coroamento é excecionalmente rico e
complexo, mas com maior limpeza formal, notando-se que houve uma preocupação em conhecer um
trabalho pujante e com a liberdade que o barroco permite.

No final do século XVIII apareceu na região de Goa um novo tipo de retábulo , influenciado já pelo estilo
neoclássico, em que o branco substitui a cobertura total do ouro, e este aparece esparsamente, com
recurso a estípites, colunas de fustes canelados, grandes camarins com tronos para a exposição do
santíssimo sacramento, com os espelhos dos degraus ainda com decoração rococó, como acontece na
igreja paroquial de Nerul. Mas os melhores exemplares desta tipologia são os que pertencem à igreja do
colégio de São Boaventura de Goa, hoje na igreja matriz de maçupa.

À semelhança do que se verificou no continente, a talha revelou -se um componente muito eficaz para
a criação de ambientes cénicos, teatrais e comunicativos no interior das igrejas católicas,
fundamentais pelo seu carácter pedagógico, intentos ainda mais prementes num território onde as
dificuldades de comunicação entre os sacerdotes e os gentios eram um entrave à transmissão das
mensagens bíblicas. Os interiores sumptuosamente ornados revelavam-se, assim, armas eficazes por
captarem o mundo sensorial das populações, a sua afetividade, predispondo-os para a aceitação e
interiorização efectiva da espiritualidade cristã.

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