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AUTOCUIDADO E FORMAÇÃO - INTERAÇÕES POSSÍVEIS NO PROJETO

CUIDANDO DO MESTRE DA PRIMEIRA INFÂNCIA1

Clara Maria Miranda de Sousa


Mestre em Educação (UPE)
claradassis@gmail.com

Marcelo Silva de Souza Ribeiro


Dr. em Educação. Professor da Univasf
mribeiro27@gmail.com

Introdução
Entendendo que a saúde docente é uma questão ainda periférica nas
preocupações dos setores da educação, os professores, muitas vezes, têm
dificuldades de encontrar um contexto de cuidado e de desenvolver práticas de
autocuidado, o que certamente termina por influenciar a qualidade dos processos
formativos, sobretudo os que são voltados para as crianças inseridas nas instituições
dedicadas a Primeira Infância.
O presente relato de experiência tem como objetivo refletir criticamente sobre
alguns os itinerários formativos em autocuidado desenvolvido pelo Projeto Cuidando
do Mestre da Primeira Infância, junto a professores (as) da Educação Infantil em cinco
escolas da rede municipal de Petrolina – PE. Tal projeto é fruto da parceria entre
Universidade Federal do Vale do São Francisco e Secretaria Municipal de Educação
de Petrolina, tendo como foco a saúde e o bem estar dos docentes da rede municipal
de ensino. O projeto foi contemplado, desde setembro de 2017, com financiamento
para a integração de 10 estudantes de 05 cursos, sendo: Psicologia, Educação Física,
Enfermagem, Ciências Sociais e Medicina, coordenados por um professor-orientador.
A equipe foi inserida em cinco Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) da
rede de Petrolina – PE.
Esse projeto se justifica na dimensão do acentuado número de imensas doenças
que vão aparecendo relacionadas ao trabalho, de maneira a afetar tanto a saúde física
quando mental dos profissionais, aqui de maneira particular aos professores da
educação infantil. O professor da educação infantil mantém um ritmo de trabalho

1
Trabalho apresentado no V (IN)FORMACCE - Colóquio de Estudos, Pesquisas e Intervenções em
Currículo e Formação, Salvador, 2018. Publicado nos ANAIS do evento. Acesso em
http://www.informacce.faced.ufba.br/modulos/submissao/Upload-429/105458.pdf
bastante acentuado, chegando a oito horas por dia junto a turma no qual está
vinculada. Para tanto, as atividades profissionais incluem diferentes níveis de
atividades físicas e psíquicas do indivíduo, constituindo uma elevação de trabalho
docente.

Caminhos dos acontecimentos


O projeto Cuidando do Mestre da Primeira Infância agrega os diversos teóricos
que se envolvem com a perspectiva de cuidado a partir de si mesmo. Na perspectiva
do cuidado difundido por Heidegger (2002) e Boff (1999; 2013), o cuidado suscita
criatividade e inventividade. Somos, pois, convocados a vivenciar o cuidado
assumindo a responsabilidade pelo bem viver humano, traçado nesse projeto
inicialmente por professores (as) da rede municipal de ensino de Petrolina, inseridos
no contexto das instituições escolares voltadas à Primeira Infância, pensando num
bem viver, trabalhar, alegrar-se e vivenciar as práticas com leveza e sensibilidade a
partir de um olhar e espaço de autocuidado.
O projeto tem como eixos norteadores: autocuidado com a psique, autocuidado
com o corpo, autocuidado com as relações, autocuidado com o bem estar ambiental
e autocuidado com o sentido de vida. Estes são tomados como inspiração para o
referido projeto, uma vez que norteiam as ações das práticas com os professores das
instituições da Primeira Infância.
Para tanto, os 10 estudantes se subdividiram em duplas e realizaram os primeiros
contatos com a escola - campo de atuação das atividades relacionadas ao
autocuidado. Cada dupla realizou visitas semanais na escola, levantando demandas
e os modos como podem ser articuladas as oficinas junto aos professores (as) da
Educação Infantil.
Uma vez por mês, a partir de uma negociação com os grupos de professores, os
estudantes estimularam a participação nas oficinas, escutando os desejos dos grupos.
Assim, as oficinas foram desenvolvidas com diferentes temáticas, a partir de cada
realidade, já que cada escola é vista pelo projeto de maneira singular, percebendo os
tempos e os modos em como trabalhar o autocuidado com esses professores.
Os estudantes participaram de momentos de supervisão, através da discussão das
vivências no cotidiano da escola e nas oficinas promovidas com os grupos, trazendo
à tona possibilidades, dificuldades e maneiras de alcançar os professores quanto ao
autocuidado. O grupo de estudantes foi estimulado ao desenvolvimento de um
blogger2, de modo que outros pudessem conhecer e quem sabe se animar para
realização de atividades relacionadas ao autocuidado. Desse modo, a formação é
constante, seja na leitura de textos teóricos, discussões, mas também no estar junto
às pessoas que fazem a escola ser o espaço educacional para a vida.

O acontecer dos acontecimentos


Ao longo dos meses de setembro a dezembro de 2017, os estudantes
passaram por momentos formativos em que, antes de irem a campo, junto aos docentes
nos contextos escolares, desenvolveram e participaram de encontros formativos, que
integraram experiências práticas e reflexões relacionadas ao autocuidado. Foram efetivados
10 encontros, organizados pelos próprios estudantes através de reflexões temáticas e
vivências de práticas grupais, abordando a autonomia, a responsabilidade pelo bem estar, as
relações de cuidado e a atenção para consigo mesmo.
Em março de 2018 os estudantes foram destinados as CMEIs escolhidas pela
secretaria de educação para o desenvolvimento do projeto. No total foram realizadas até o
dado momento da escrita desse relato, 25 oficinas nas cinco escolas em que o projeto está
inserido, ao longo dos meses de março a julho de 2018. Alcançando um número de cerca de
50 professoras, 30 auxiliares de sala, 10 assistentes de educação especial, 5 gestoras e 5
coordenadoras pedagógicas. Além de muitas das oficinas terem a participação de auxiliares
de serviços gerais e merendeiras. Pode-se supor que cerca de 120 profissionais das CMEIs
são participantes das oficinas. Assim, um número de 900 crianças, de 0 a 5 anos, foram
atendidas pela proposta formativa em autocuidado indiretamente por meio das equipes das
CMEIs.
Várias dimensões foram contempladas na vivência dessas oficinas, como também nas
visitas semanais realizadas nas CMEIs, dentre elas pontuamos: desenvolvimento pessoal,
escuta dos sentimentos em relação a si mesmo, reconhecimento dos valores, cuidado
com a saúde física, práticas de atividades físicas, valorização das relações familiares,
amizades, com as crianças que fazem parte das turmas e colegas de trabalho,
responsabilidades pelos laços afetivos, capacidade de trabalho em grupo,
preocupação com o bem estar das pessoas, contato com a natureza e uso consciente
dos recursos disponíveis.
Para tanto, os momentos em que os estagiários estão presentes semanalmente
são vivenciados pela aproximação e participação no cotidiano das professoras,

2
O blogger pode ser acessado pelo endereço: http://cuidandodomestre.wordpress.com/
realizando orientações e estando aberto a diálogos quanto as demandas suscitadas
por quem pertence à comunidade escolar. Já nas oficinas são garantidos o espaço de
itinerário formativo e reflexivo sobre si mesmo(a), compartilhando elementos práticos
que poderão se tornar hábito para melhoria do autocuidado, como: práticas de
relaxamento, momentos dialógicos, escuta do corpo por meio de Análise
Bioenergética e Yoga, vivência de atividade física, momentos grupais com dinâmicas
para compreensão da posição de si mesmo no trabalho de grupo, além de espaços
de desenvolvimento de habilidades como toque, olhar, escuta, práticas para vivenciar
a compreensão de si a partir do outro e planos de autocuidado.
Percebeu-se por meio do acompanhamento realizado, nos momentos de
supervisão e nas visitas as CMEIs, que a aderência ao projeto inicialmente causou
alguns impactos, isso por conta de poucos espaços de tempo reservados para
práticas formativas que pense na perspectiva do autocuidado. Assim, os estudantes
buscaram estratégias para a realização das oficinas de autocuidado. Quando os
grupos compreenderam que o projeto teria como caráter o respeito ao lugar e aos
tempos de cada pessoa, as escolas se abriram para suas devidas realizações.
Os resultados são visíveis nas realidades das escolas, desde uma proximidade
maior por parte das professoras, como o autocuidado desenvolvido e buscado por
cada pessoa. As formações desenvolvidas nas oficinas lançam um olhar para
perceber o ser integralmente, nas dimensões física, perceptiva, cognitiva e afetiva. O
autocuidado expandiu a amorosidade nos contextos escolares através da realização
de atividades cotidianas como o caso do correio amigo, em que há trocas de bilhetes
entre os funcionários das escolas. No aspecto relacional, os estudantes
percebem que houve maior abertura para o diálogo, o respeito, a escuta, o espaço de
cada um e o interesse.
Nas visitas semanais os estudantes estimularam para que cada professora
refletisse sobre os momentos na sua vida em que se sentiu cuidada e planos de
autocuidado médio e longo prazo para continuar refletindo e vivenciando o sentido
existencial da vida, compreendendo-se como ser de cuidado no mundo. Isso, porque
compreendemos que a formação é um exercício de levar o ser a ter autonomia em
suas ações mobilizadoras dentro da sua realidade.
Um dado importante é que por meio do itinerário formativo e prático, as
professoras estão aos poucos inserindo em seus cotidianos junto as crianças práticas
de autocuidado, seja pelo diálogo como exercícios corporais. Desse modo,
indiretamente os professores e funcionários das escolas foram beneficiados e
consequentemente as crianças no qual estão interligados. Com isso, cada professor
está se tornando um agente multiplicador do Projeto Cuidando do Mestre da Primeira
Infância, uma vez que este projeto visa a efetivação de práticas de autocuidado no
contexto de trabalho.

Considerações
Projetos como o do Cuidando do Mestre da Primeira Infância possibilitam a
vivência prática e reflexiva de autocuidado num constante trajeto formativo, em que
não se encerrará pela finalização de uma ou outra etapa, mas que estará na vida de
cada pessoa que dele experimentar. Não somente os professores atingidos pelo
projeto, ou as equipes e crianças das CMEIs, mas os próprios estudantes saem um
pouco mais atentos quanto ao autocuidado e porque não dizer a equipe que coordena
o projeto, pensando que a maior tecnologia existente para o favorecimento de melhor
bem estar e novas sinalizações para com o aspecto de cuidado é a relação.
Por fim, visualiza-se que os professores participantes desse projeto encontraram
nas oficinas de autocuidado, espaços de prazer, em que puderam refletir sobre si e
buscarem alternativas para melhorar o seu bem estar. Em relação aos espaços, os
participantes se sentem mais próximos uns dos outros e em tentativas de práticas de
autocuidado enriquecendo suas vidas e entendendo que o cuidado deve ser um
processo de construção e muito necessário para melhoria de vida pessoal e
profissional.

Referências
BOFF, L. O cuidado necessário: na vida, na saúde, na educação, na ética e na
espiritualidade. Petrópolis, RJ: Vozes. 2013.
_______________. Saber cuidar: ética do humano, compaixão pela terra.
Petrópolis, RJ: Vozes; 1999.
HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Parte I. 15 ed. Petrópolis, Rio de Janeiro:
Vozes, 2002.

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