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Anna Kingsford

Anna Bonus Kingsford foi uma médica, escritora e mística britânica, filha de John
Bonus, nascida em Maryland Point em 16 de setembro de 1846 e uma das primeiras
mulheres inglesas, depois de Elizabeth Garrett Anderson, a obter um diploma de
Medicina.

Lutou contra a sociedade machista da época, contra vivissecção de animais durante as


experiências científicas e nas salas de aula, lutou a favor do vegetarianismo e,
sobretudo, lutou por uma nova interpretação das escrituras sagradas cristãs, que
denominou de Novo Evangelho da Interpretação. As obras mais importantes são: The
Perfect Way, or, the Finding of Christ (O Caminho Perfeito, ou, a Descoberta de
Cristo); Clothed with the Sun (Vestida com o Sol) e The Credo of Christendom (O
Credo do Cristianismo). Todas essas obras, entre várias outras, se encontram on-line no
site dedicado às suas obras, e de Edward Maitland, que foi seu grande colaborador e
biógrafo.

Kingsford presidiu por um breve período a Sociedade Teosófica na Inglaterra, tendo


sido, ao lado de Helena Blavatsky e outros, uma das promotoras dessa organização.
O Resgate do Cristianismo Budista:
a Relevância da Mensagem

da Dra. Anna Kingsford

Arnaldo Sisson Filho

Roda e Cruz
2010

O Resgate do Cristianismo Budista:


a Relevância da Mensagem

da Dra. Anna Kingsford

Arnaldo Sisson Filho

Roda e Cruz
2010

O Resgate do Cristianismo Budista:


a Relevância da Mensagem
da Dra. Anna Kingsford

Arnaldo Sisson Filho

Roda e Cruz
2010

SUMÁRIO
– Informações Iniciais e Nota da Edição (nesta página)
– O Resgate do Cristianismo Budista: a Relevância da Mensagem da
Dra. Anna Kingsford
Apresentação do Orador
Colóquio com o Grupo Anna Kingsford
– Textos e Citações Complementares
Em Memória de Anna Kingsford (Samuel Hopgood Hart)
O Vegetarianismo e a Bíblia (Edward Maitland)
Citações sobre o Cristianismo Budista e Interpretações dos
Símbolos
– Bibliografia Citada

CITAÇÕES SOBRE O CRISTIANISMO BUDISTA

E INTERPRETAÇÕES DOS SÍMBOLOS


[NOTA: As repetições existentes entre os textos anteriores e as citações, ou mesmo
entre as próprias citações, visam dar destaque aos conteúdos, que nos parecem tão
relevantes quanto ainda pouco conhecidos.]

A) SOBRE O CRISTIANISMO BUDISTA

A.1)

“Da união espiritual na fé una do Buda e do Cristo nascerá a esperada


redenção do mundo”. [Anna Kingsford e Edward Maitland, The Perfect
Way; or, the Finding of Christ (O Caminho Perfeito; ou, a Descoberta de
Cristo), p. 252].

A.2)

“Em resumo, não são dois Evangelhos, mas dois aspectos, o externo
e o interno, de um mesmo Evangelho. Pois o Budismo encontra sua tradução
e complementação no Cristianismo, e o Cristianismo encontra sua concepção
e seu alicerce no Budismo”. [Bertram McCrie, The Living Truth in
Christianity (A Verdade Viva no Cristianismo), pp. 26-27].

A.3)

“O Cristianismo foi introduzido no mundo com uma relação especial


com as grandes religiões do Oriente, e sob a mesma regência divina. E muito
longe de ser concebido como um rival e suplantador do Budismo, ele era a
direta e necessária continuação desse sistema. E os dois são apenas partes de
um todo contínuo e harmonioso, no qual a parte que veio por último é
somente o indispensável acréscimo e complemento da parte que veio
anteriormente. (...)

Se não fosse por Buda, não poderia ter havido Jesus, nem teria ele
sido suficiente para atender ao homem integral; pois o homem deve ter a
Mente iluminada antes que as Afeições possam ser despertadas. Nem teria
sido o Buda completo sem Jesus. Buda completou a regeneração da Mente; e
por meio de sua doutrina e prática os homens são preparados para a graça
que vem por meio de Jesus. Motivo pelo qual nenhum homem pode ser
propriamente cristão, se não for também e primeiramente budista.

Assim, as duas religiões constituem, respectivamente, o aspecto


exterior e o aspecto interior do mesmo Evangelho, os alicerces estando no
Budismo – incluindo nesse termo o Pitagorianismo – e a iluminação estando
no Cristianismo. E da mesma forma que sem o Cristianismo o Budismo está
incompleto, assim também o Cristianismo sem o Budismo é ininteligível”.
[Anna Kingsford e Edward Maitland, The Perfect Way; or, the Finding of
Christ (O Caminho Perfeito; ou, a Descoberta de Cristo), pp. 250-251].

A.4)

“Do mesmo modo que não fazia parte do projeto dos Evangelhos
representar o percurso inteiro do Homem Regenerado, também não fazia
parte desse projeto fornecer, no que diz respeito à vida e doutrina religiosa,
um sistema integral e completo, independentemente dos que o antecederam.

Por ter uma relação especial com o Coração e o Espírito do Homem,


e dessa forma com o núcleo da célula e com o Santo dos Santos do
Tabernáculo, o Cristianismo, em sua concepção original, delegou a
regeneração da Mente e do Corpo (...), ou o dualismo exterior do
Microcosmo, a sistemas já existentes e amplamente conhecidos e praticados.

“Esses sistemas eram dois em número, ou melhor, eram como dois


modos ou expressões do sistema uno, cujo estabelecimento constituiu a
“Mensagem” que antecedeu o Cristianismo pelo período cíclico de
seiscentos anos. Esse sistema era a Mensagem na qual os “Anjos” estiveram
representados em Gautama Buda e Pitágoras.

No caso desses dois profetas e redentores, praticamente


contemporâneos, o sistema era, tanto na sua doutrina quanto na sua prática,
essencialmente um e o mesmo. E suas relações com o sistema de Jesus,
como seus necessários pioneiros e antecessores, encontram reconhecimento
nos Evangelhos na alegoria da Transfiguração.

Os personagens que aparecem nesse evento – Moisés e Elias – são


correspondentes hebraicos de Buda e de Pitágoras. E eles são descritos como
tendo sido vistos pelos três apóstolos nos quais são representadas,
respectivamente, as funções distintamente exercidas por Pitágoras, por Buda
e por Jesus; ou seja, Obras, Compreensão e Amor, ou Corpo, Mente e
Coração.

E pela sua reunião no Monte está representada a união dos três


elementos, e a complementação de todo o sistema abrangido pelos três por
Jesus, como o representante do Coração ou daquilo que é Mais Interno, e,
em um sentido especial, como o “amado Filho de Deus”.

O Cristianismo, então, foi introduzido no mundo com uma relação


especial com as grandes religiões do Oriente, e sob a mesma regência divina.
E muito longe de ser concebido como um rival e suplantador do Budismo,
ele era a direta e necessária continuação desse sistema. E os dois são apenas
partes de um todo contínuo e harmonioso, no qual a parte que veio por
último é somente o indispensável acréscimo e complemento da parte que
veio anteriormente”. [Anna Kingsford e Edward Maitland, The Perfect Way;
or, the Finding of Christ (O Caminho Perfeito; ou, a Descoberta de Cristo),
pp. 249-251]

A.5)

“Pois o fato é que a doutrina de Buda, com suas Quatro Nobres


Verdades, e seu Nobre Óctuplo Caminho, sua ilimitada compaixão em
relação a toda a vida senciente, seu lógico ensinamento ético de
desenvolvimento através da conquista de si mesmo e da autocultura, sua
simples e não obstante profunda análise do sofrimento e da tristeza com o
método da libertação desses (...), sua regeneração completa da mente, seus
elevados códigos de moralidade e padrão de tolerância, paz e caridade – essa
doutrina é a indispensável precursora e intérprete da doutrina de Cristo”.
(Bertram McCrie, A Verdade Viva no Cristianismo, p. 26).

A.6)

“... não fazia parte desse projeto [do Cristianismo original] fornecer,
no que diz respeito à vida e doutrina religiosa, um sistema integral e
completo, independentemente dos que o antecederam.

(...) o Cristianismo, em sua concepção original, delegou a


regeneração da Mente e do Corpo (...), ou o dualismo exterior do
Microcosmo, a sistemas já existentes e amplamente conhecidos e praticados.

Esses sistemas eram dois em número, ou melhor, eram como dois


modos ou expressões do sistema uno, cujo estabelecimento constituiu a
“Mensagem” que antecedeu o Cristianismo pelo período cíclico de
seiscentos anos. Esse sistema era a Mensagem na qual os “Anjos” estiveram
representados em Gautama Buda e Pitágoras.

(...) suas relações com o sistema de Jesus, como seus necessários


pioneiros e antecessores, encontram reconhecimento nos Evangelhos na
alegoria da Transfiguração.

Os personagens que aparecem nesse evento – Moisés e Elias – são


correspondentes hebraicos de Buda e de Pitágoras. Eles são descritos como
vistos pelos três apóstolos nos quais são representadas, respectivamente, as
funções distintamente exercidas por Pitágoras, por Buda e por Jesus; ou seja,
Obras, Compreensão e Amor, ou Corpo, Mente e Coração. (...)

O Cristianismo, então, foi introduzido no mundo com uma relação


especial com as grandes religiões do Oriente, e sob a mesma regência divina.
E muito longe de ser concebido como um rival e suplantador do Budismo,
ele era a direta e necessária continuação desse sistema. E os dois são apenas
partes de um todo contínuo e harmonioso, no qual a parte que veio por
último é somente o indispensável acréscimo e complemento da parte que
veio anteriormente.

Buda e Jesus são, portanto, necessários um ao outro. E no sistema


integral assim completado Buda é a Mente e Jesus é o Coração; Buda é o
geral, Jesus é o particular, Buda é o irmão do universo, Jesus é o irmão dos
homens; Buda é a Filosofia, Jesus é a Religião; Buda é a Circunferência,
Jesus é o Interno; Buda é o Sistema, Jesus é o ponto de Radiação; Buda é a
Manifestação, Jesus é o Espírito; em síntese, Buda é o “Homem”, Jesus é a
“Mulher”.

Se não fosse por Buda, não poderia ter havido Jesus, nem teria ele
sido suficiente para atender ao homem integral; pois o homem deve ter a
Mente iluminada antes de que as Afeições possam ser despertadas. Nem
teria sido o Buda completo sem Jesus. Buda completou a regeneração da
Mente; e por meio de sua doutrina e prática os homens são preparados para a
graça que vem por meio de Jesus. Motivo pelo qual nenhum homem pode
ser propriamente cristão, se não for também e primeiramente budista.

Assim, as duas religiões constituem, respectivamente, o aspecto


exterior e o aspecto interior do mesmo Evangelho, os alicerces estando no
Budismo – incluindo nesse termo o Pitagorismo – e a iluminação estando no
Cristianismo. E da mesma forma que sem o Cristianismo o Budismo está
incompleto, assim também o Cristianismo sem o Budismo é ininteligível.

(...) da união espiritual na fé una do Buda e do Cristo nascerá a


redenção vindoura do mundo.

(...) Aqueles que buscam casar Buda a Jesus são do celestial e


superior; e aqueles que se interpõem ou se objetam ao casamento são do
astral e do inferior”. [Anna Kingsford e Edward Maitland, The Perfect Way;
or, the Finding of Christ (O Caminho Perfeito; ou, a Descoberta de Cristo),
p. 249-256]

A.7)

“É tão somente a doutrina do Karma e da continuidade das


existências que explica as desigualdades e desarmonias da vida e que
justifica a Justiça Divina. E, vista desse ponto de vista, a vida tem uma
amplitude muito maior do que aquela que é compatível com a idéia de uma
única existência, e que torna a alma independente da disciplina da
experiência terrena, uma vez que tal experiência é completamente negada
para um vasto número daqueles que morrem na infância. O fato de que as
escrituras cristãs não reconheçam explicitamente essa doutrina não
representa nenhum argumento contra o fato de que ela seja uma doutrina
cristã. Essa doutrina já estava no mundo no Budismo; e o Cristianismo,
como o complemento e o coroamento do Budismo, não tinha nenhuma
necessidade de reiterá-la”. [Anna Kingsford e Edward Maitland, The Credo
of Christendom (O Credo do Cristianismo), pp. 143-144]

A.8)

“A fé cristã é a herdeira direta da velha fé romana. Roma foi a


herdeira da Grécia, e a Grécia do Egito, de onde se originaram o legado de
Moisés e o ritual hebraico.

O Egito foi apenas o foco de uma luz cuja verdadeira fonte e centro
era o Oriente em geral – Ex Oriente Lux. Pois o Oriente, em todos os
sentidos, geograficamente, astronomicamente e espiritualmente, é sempre a
fonte de luz.

Mas, embora originalmente derivada do Oriente, a Igreja de nossos


dias e de nosso país é modelada diretamente a partir da mitologia greco-
romana, e de lá retira todos os seus ritos, doutrinas, cerimônias, sacramentos
e festivais.

Portanto, a exposição que será feita sobre o Cristianismo Esotérico


tratará mais especificamente dos mistérios do Ocidente, uma vez que suas
idéias e sua terminologia são para nós mais atrativas e próximas do que as
concepções não artísticas, a metafísica não familiar, o espiritualismo
melancólico e a linguagem pouco sugestiva do Oriente.

Extraindo sua essência-vital diretamente da fé pagã do velho mundo


Ocidental, o Cristianismo mais proximamente se parece com seus pai e mãe
imediatos, do que com seus ancestrais remotos, e será, então, melhor exposto
com referência a suas fontes da Grécia e de Roma, do que com referência a
seus paralelos bramânicos e védicos.

A Igreja cristã é católica, ou então ela não é nada que mereça, em


absoluto, o nome de Igreja. Pois católico significa universal, todo-abarcante:
– a fé que sempre e em todos os lugares foi recebida. A prevalecente visão
limitada desse termo é errada e prejudicial.

A Igreja cristã foi inicialmente chamada de católica porque ela


abarcava, compreendia e tornou seu o passado religioso de todo o mundo.
Reunindo em sua figura central – do Cristo – e em torno dessa figura todas
as características, lendas e símbolos até então pertencentes às figuras centrais
das dispensações anteriores, proclamando a unidade de toda aspiração
humana, e formulando em um grande sistema ecumênico as doutrinas do
Oriente e do Ocidente.

Assim, a Igreja católica é védica, budista, zend-avesta e semítica. Ela


é egípcia, hermética, pitagórica e platônica. Ela é escandinava, mexicana e
druídica. Ela é grega e romana. Ela é científica, filosófica e espiritual.
Encontramos em seus ensinamentos o panteísmo do Oriente, e o
individualismo do Ocidente. Ela fala a língua e pensa os pensamentos de
todos os filhos dos homens; e em seu templo todos os deuses estão em um
lugar sagrado.

Eu sou vedantina, budista, helenista, hermética e cristã, porque eu


sou católica. Pois nessa única palavra todo o Passado, Presente e Futuro
estão abarcados.

Como Santo Agostinho e outros dos Padres (Pais) da Igreja


verdadeiramente declararam, o Cristianismo não contém nada de novo a não
ser o seu nome, estando próximo dos antigos desde o seu início. E as várias
seitas, que retém apenas uma porção da doutrina católica, são apenas como
cópias incompletas de um livro, do qual capítulos inteiros foram retirados,
ou como representações de uma peça teatral na qual apenas alguns de seus
personagens e de suas cenas foram mantidos”. [Anna Kingsford e Edward
Maitland, The Credo of Christendom (O Credo do Cristianismo), pp. 94-96]

A.9)

“Agora, uma das mais deploráveis características do Sacerdotalismo


é sua habitual intolerância a todas as outras formas de fé e sistemas
religiosos, a despeito de sua antiguidade, autenticidade, semelhanças
fundamentais e credibilidade.

O Sacerdotalismo não os vê como amigos, mas como rivais e


inimigos; que não devem ser entendidos, apreciados e – ao menos em parte –
assimilados, mas que devem ser ignorados, depreciados e contestados.

Essa atitude é justificada pelo Sacerdotalismo como sendo zelo por


seus próprios princípios particulares, mas isso, na verdade, não é nada mais
que intolerância nascida da ignorância.

Exatamente essa atitude em relação àquele sistema religioso em


particular denominado de Budismo, que precedeu o advento do Cristianismo
por cerca de cinco ou seis séculos, tem sido algo próximo de uma atitude
suicida ao real sucesso do Cristianismo, tendo se provado desastrosa para
sua capacidade de influenciar a todos, exceto aos ignorantes e elementares,
aos preconceituosos e às classes conservadoras ainda dominadas pelo
Sacerdotalismo.

Pois o fato é que a doutrina de Buda, com suas Quatro Nobres


Verdades e seu Nobre Óctuplo Caminho, sua ilimitada compaixão em
relação a toda a vida senciente, seu lógico ensinamento ético de
desenvolvimento através da conquista de si mesmo e da autocultura, sua
simples e não obstante profunda análise do sofrimento e da tristeza, com o
método da libertação desses estando disponível a todos, sua regeneração
completa da mente, seus elevados código de moralidade e padrão de
tolerância, paz e caridade – essa doutrina é a indispensável precursora e
intérprete da doutrina de Cristo. Em resumo, não são dois Evangelhos, mas
dois aspectos, o externo e o interno, de um mesmo Evangelho. Pois o
Budismo encontra sua tradução e complementação no Cristianismo, e o
Cristianismo encontra sua concepção e seu alicerce no Budismo.

Visto dessa forma, o Cristianismo, como religião, assume a obra de


aperfeiçoar o homem em seu coração, a partir daquele grau de regeneração
parcial a que o Budismo, como filosofia, já o conduziu em sua mente; e
assim o Cristianismo descreve e trata apenas dos estágios finais de todo o
grande trabalho.

Se isso fosse reconhecido, as sérias deficiências referentes às bases, e


aquelas falhas racionais, intelectuais e morais que confrontam os estudantes
ponderados e imparciais do sistema cristão, seriam amplamente
reconhecidas, e um passo adiante seria dado em direção à reabilitação,
enquanto um todo vivo, da tão mutilada fé.

Quão pouco conhecem o Cristianismo aqueles que conhecem


somente um Jesus histórico, e deixam de levar em conta o caminho de Buda,
como uma escada que deve ser subida para que se alcance o estado de
Jesus!” (Bertram McCrie, A Verdade Viva no Cristianismo, pp. 26-27).

B) SOBRE A INTERPRETAÇÃO DOS SÍMBOLOS

B.1)

“Uma vez erguido o véu do simbolismo da face divina da Verdade,


todas as Igrejas são similares, e a doutrina básica de todas é idêntica (...).
Grega, Hermética, Budista, Vedantina, Cristã – todas essas Lojas dos
Mistérios são essencialmente unas e são idênticas em doutrina. (...)

Nós sustentamos que nenhum credo eclesiástico isolado é


compreensível somente por si mesmo, se não for interpretado com o auxílio
de seus antecessores e de seus contemporâneos.

Por exemplo, estudantes de teologia cristã somente aprenderão a


entender e a apreciar o verdadeiro valor e significado dos símbolos que lhes
são familiares por meio do estudo da filosofia Oriental e do idealismo pagão.
Pois o Cristianismo é o herdeiro dessa filosofia e desse idealismo, e o
que há de melhor em seu sangue vem das veias dessa filosofia e desse
idealismo.

E visto que todos os seus grandes antecessores ocultaram por trás de


suas fórmulas e ritos externos – os quais são meras cascas e coberturas para
entreter os pobres de entendimento – as verdades internas ou ocultas
reservadas ao iniciado, assim também o Cristianismo reserva aos buscadores
sérios e aos pensadores mais profundos os Mistérios internos verdadeiros,
que são unos e eternos em todos os credos e igrejas desde o princípio do
mundo.

Esse significado verdadeiro, interior e transcendental é a Presença


Real velada nos Elementos do Divino Sacramento: – a substância mística e a
verdade simbolizadas sob o pão e o vinho das antigas orgias de Baco, e
agora da nossa própria Igreja Católica.

Para aquele não sábio, que não pensa profundamente, que é


supersticioso, os elementos físicos são a finalidade do rito; para o iniciado, o
vidente, o filho de Hermes, eles são apenas os sinais externos e visíveis
daquilo que é sempre, e necessariamente, interno, espiritual e oculto”.
[Citado por Samuel H. Hart, em seu Prefácio à Quinta Edição (pp. 12-13),
da obra The Perfect Way (O Caminho Perfeito). Citação extraída de Life of
Anna Kingsford (Vida de Anna Kingsford), Vol. II, pp. 123-124.]

B.2)

“E é sempre pela crucificação e morte na cruz da renúncia daquele


velho Adão, o ser inferior, e a ressurreição e ascensão para uma condição de
perfeição verdadeira que a salvação é finalmente alcançada. E a razão pela
qual todas essas verdades eternas na história da alma foram centralmente
colocadas na vida do profeta de Nazaré é simplesmente porque,
reconhecendo nele os sinais ou testemunho de sua realização de perfeição
num grau nunca antes alcançado, e em sua história as adequadas
correspondências simbólicas, o Espírito Divino, sob cuja inspiração os
Evangelhos foram compostos, o selecionou como o ícone das possibilidades
da humanidade em geral.

Porém, mesmo rejeitando dessa maneira como sendo idólatra, como


uma blasfêmia, e como perniciosa no mais alto grau à doutrina, conforme ela
é comumente conhecida, da Redenção, Reconciliação ou Salvação
Vicária [N.T.: Aquela realizada por alguém em lugar de outro; no caso o
sacrifício de Jesus Cristo para nos redimir do pecado, para nos reconciliar
com Deus.], ainda assim vemos em Cristo Jesus o “único Filho gerado por
Deus” (“Filho único de Deus”) (João 3:16, 18). E ainda assim nos apegamos
a Seu sangue e a sua cruz como os únicos meios da salvação.
Mas é o Cristo Jesus dentro de nós, ou o homem que renasceu de
alma e espírito puros, como o próprio Jesus declarou que todos devem nascer
– exatamente do mesmo modo como se descreve que Ele nasceu – a quem
buscamos para nos salvar. E os meios são Sua cruz de auto-sacrifício,
renúncia, e pureza de vida; e a recepção em nós mesmos daquele “Sangue de
Deus” que não é nenhum sangue meramente físico – com o qual as
imperfeições morais não possuem nenhuma relação – mas que é a vida de
Deus, o próprio Espírito puro, o qual é Deus, e o qual Deus está sempre
derramando em abundância para o bem de Suas criaturas, dando a elas de
sua própria vida e substância.

Quão perniciosa é a doutrina da redenção (ou reconciliação) vicária,


conforme ela é comumente aceita, é algo que pode ser visto pelas atuais
condições do mundo: intelectualmente, moralmente e espiritualmente, não
menos do que fisicamente. O homem sempre se constrói segundo a imagem
de seu Deus, isto é, segundo a sua idéia de Deus. E acreditando em um Deus
que é injusto, egoísta e cruel, o homem não pode ser senão injusto, egoísta e
cruel.

É precisamente essa má representação do caráter divino, e essa


perversão da verdadeira e da única possível doutrina da reconciliação ou
redenção, em uma doutrina que faz a salvação do homem um processo
externo a si mesmo, e dependente da ação de outro que não ele mesmo, que,
por meio da falsificação do Cristianismo, provocou o seu fracasso. E, ao
invés de um mundo ordenado por princípios de justiça, simpatia e pureza,
nos legou um mundo de más ações, de egoísmo e de sensualismo”. [Anna
Kingsford e Edward Maitland, Addresses and Essays on Vegetarianism
(Palestras e Ensaios sobre o Vegetarianismo), capítulo O Vegetarianismo e
a Bíblia, pp. 222-223].

B.3)

“É esse processo de transmutação, ou redenção do Espírito da


Matéria, tanto na dimensão individual quanto na universal, que constitui o
tema das sagradas escrituras, o objeto de todas as religiões verdadeiras, e a
tarefa de todas as verdadeiras igrejas. E são os vários estágios desse processo
que constituem respectivamente a Queda de Adão por meio da submissão da
Eva dentro dele à serpente da Matéria; a descida de Israel, ou da Alma, até o
Egito, ou o mundo e os sentidos; e o Êxodo ou fuga do mundo através da
água da separação e consagração até o deserto, até a região erma da
experiência beneficente; e a travessia do rio Jordão, ou rio da purificação,
para tomar posse da terra prometida da perfeição”. [Anna Kingsford e
Edward Maitland, Addresses and Essays on Vegetarianism (Palestras e
Ensaios sobre o Vegetarianismo), capítulo O Vegetarianismo e a Bíblia, p.
221].
B.4)

“É o ser espiritual do homem – o Cristo Jesus dentro dele – que é o


tema do Credo cristão. “O Credo dos Apóstolos é um resumo da história
espiritual de todos aqueles que se tornam, pela re-generação, ‘Filhos de
Deus’”. [Edward Maitland, The Life of Anna Kingsford (A Vida de Anna
Kingsford), vol. I, p. 315]

B.5)

“A Bíblia, em síntese, pode ser definida como uma coleção de


parábolas narrando a história da Alma, desde sua primeira descida na
matéria, até o seu retorno final para sua condição original de puro espírito. E
como a Alma passa pelo mesmo processo quer se trate de uma só ou de
muitas – seja uma pessoa, uma igreja, uma raça, ou mesmo o universo como
um todo – a narrativa que descreve, ou a parábola que representa a história
de um, igualmente o faz para todos. E os mesmos termos, que são três em
número, abrangem todo o processo.

Esses termos são Geração, Degeneração e Regeneração, e esses,


portanto, sendo aplicados à Alma, são o tema da Bíblia, conforme agora
mostraremos, e não a história física, ou qualquer pessoa ou povo seja lá qual
for, muito embora sejam descritos em termos derivados de pessoas ou de um
povo. E tomar tais pessoas, povos ou um outro símbolo por qualquer outra
coisa que não sejam os seus apropriados papéis de símbolos, e ignorando o
seu verdadeiro significado, e dar-lhes a honra devida apenas àquilo que de
fato eles significam trata-se, em linguagem bíblica, de cometer idolatria.

Pois, ao assim proceder, nós materializamos mistérios espirituais, e


conferimos à Forma a consideração devida apenas à Substância. Onde quer
que compreendamos como coisas Sensoriais coisas que tão somente
pertencem ao Espírito, encobrindo assim as verdadeiras feições da Divindade
com representações falsas e espúrias, nós cometemos o que a Bíblia
considera como o mais repugnante dos pecados, e nos tornamos idólatras e,
ao mesmo tempo, nos identificamos com aquela escola materialista que está
rapidamente se espalhando pelo mundo com o objetivo declarado de
erradicar a própria idéia de Deus e de Alma.

Isso porque “Idolatria é Materialismo, o pecado comum e original


dos homens, o qual substitui o Espírito pela Aparência, a Substância pela
Ilusão, e conduz tanto o Ser moral quanto o Ser intelectual ao erro, de modo
que eles substituem o superior pelo inferior, e o elevado pelo superficial. É
esse falso fruto que atrai os sentidos externos, a tentação da serpente no
começo do mundo”; e isso tanto para a raça quanto para cada indivíduo onde
e quando quer que tenha vivido, pois todos estão sujeitos à sua atração.

Devemos então saber, para a reta compreensão das escrituras


místicas, que em seu sentido esotérico, ou interior e real, elas não tratam de
coisas materiais, mas de realidades espirituais; e que nem Adão é um homem
real, porém antes denota a personalidade inferior ou força intelectual em
todo ser humano; nem Eva uma mulher real, mas denota o elemento
feminino em todo o ser humano, a saber, a Alma ou consciência moral; e ela
é, portanto, chamada de a “Mãe dos que Vivem”, ou seja, dos que estão
espiritualmente vivos – aqueles nos quais a Alma alcançou autoconsciência.

Tampouco o Éden é um lugar real, mas uma condição de inocência


anterior a uma queda de uma altura alcançada. Nem é a Árvore da Vida no
meio do Éden uma árvore real, porém Deus estabelecido no meio do
Universo como sua vida. Do mesmo modo que não é o homem feito de
imediato à imagem e semelhança de Deus, mas somente após longas eras de
desenvolvimento, começando nas formas inferiores da vida vegetal, e
seguindo sua elevação através de muitas formas, até que ele alcança a forma
humana; e mesmo então ele não é feito à imagem de Deus, não é
verdadeiramente homem no sentido bíblico e místico. Pois nesse sentido faz-
se necessário algo mais do que o homem físico, mais do que o homem
intelectual, mais até mesmo do que o homem moral, para tornar-se um
homem.

Para ser feito à imagem e semelhança de Deus ele deve atingir sua
maioridade espiritual, através do desenvolvimento da consciência de sua
natureza espiritual. Ele deve ser alma tanto quanto corpo; Eva tanto quanto
Adão; assim como no mundo físico, também no plano espiritual ele requer a
mulher para lhe fazer um homem, e a mulher mística é a Alma. Antes do seu
advento (da Alma), ele é o homem apenas materialístico e rudimentar, é
homem apenas na forma, e é um animal em todos os outros aspectos.

Mas ela vem finalmente, manifestada como tão somente a Alma pode
fazer, quando seu ser inferior está envolto em profundo sono, e ele acorda
para descobrir-se plenamente homem, à imagem de Deus, macho e fêmea, no
sentido que ele representa os dois aspectos, masculino e feminino da
Deidade, o poder divino e o amor divino, e também os Sete Espíritos através
dos quais Deus cria todas as coisas. Assim constituído ele é de fato Homem,
pois ele é uma manifestação de Deus, por cujo espírito, operando dentro
dele, ele tem sido criado. E criado desse modo tem sido e será todo o homem
que jamais viveu ou viverá”. [Anna Kingsford e Edward Maitland,
Addresses and Essays on Vegetarianism (Palestras e Ensaios sobre o
Vegetarianismo), capítulo O Vegetarianismo e a Bíblia, pp. 216-218].

B.6)

“Se apenas uma vez pudermos ler a Bíblia com a visão não
obscurecida pelo véu de sangue, e não distorcida pelo preconceito, então
todo o seu mistério – o mistério de nossa queda e de nossa redenção – torna-
se claro como o céu sem nuvens. Pois, então, podemos identificar como algo
que ocorre em nossas próprias almas todo o processo, desde o começo até o
fim, que a Bíblia, do Gênesis até o Apocalipse, apresenta sob a forma de
símbolos e parábolas, precisamente como fez Nosso Senhor ele mesmo”.
[Anna Kingsford e Edward Maitland, Addresses and Essays on
Vegetarianism (Palestras e Ensaios sobre o Vegetarianismo), capítulo O
Vegetarianismo e a Bíblia, p. 221].

B.7)

“A Regeneração nos mistérios hebreus é simbolizada pela fuga do


Egito – o corpo, e, portanto, terra de aprisionamento para a alma – através do
Mar Vermelho para o Deserto do Pecado, o cenário da provação no qual os
quarenta dias místicos estão expressos em um período semelhante de anos.

A Redenção é representada pela travessia do Jordão, que separa esse


deserto da provação da terra prometida da perfeição e repouso espiritual.
Esse Jordão, ou rio do julgamento, não poderia ser atravessado por Moisés,
pois ele tinha falhado na provação de sua iniciação.

A libertação final de Israel estava reservada a Joshua, um nome


idêntico a Jesus, que se manteve fiel em todos os momentos. O Jordão
corresponde ao rio Aqueronte dos mistérios do Olimpo, o qual todas as
almas, ao descer ao mundo inferior, eram obrigadas a atravessar. E o Limbo,
o Paraíso, o Avernus, os Campos Elísios, o Tártaro, o Purgatório e o
repouso, todos denotam, sob diversos nomes, não localidades, porém esferas
ou condições de existência, igualmente reconhecidos nos sistemas hebreu,
pagão e cristão, e existindo no próprio homem”. [Anna Kingsford e Edward
Maitland, The Credo of Christendom (O Credo do Cristianismo), p. 102]

B.8)

“Adão”, “Eva”, “Cristo”, “Maria” e o Restante – Simbolizam os


Vários Elementos Espirituais que Constituem o Indivíduo e Seus Estados.

O tópico de sua segunda palestra (…) foi a segunda cláusula do


Credo: “E em Cristo Jesus, Seu único Filho, nosso Senhor; que é concebido
pelo Espírito Santo, nascido da Virgem Maria”.

Com relação a essa cláusula, ela disse que ao insistir na significação


esotérica como sendo a única verdadeira e de valor, estamos simplesmente
revertendo ao costume antigo e original.

É a aceitação do Credo em seu sentido exotérico [ou externo] e


histórico que é realmente moderna. Pois todos os Mistérios Sagrados eram
originalmente vistos como espirituais, e apenas quando eles passaram das
mãos de iniciados devidamente instruídos para aquelas do ignorante e do
vulgar é que eles se tornaram materializados e degradados ao nível em que
atualmente se encontram.
A verdade esotérica desse artigo do Credo pode ser entendida
somente por meio de um conhecimento anterior, primeiro, da constituição do
homem e, em seguida, do significado dos termos empregados na formulação
da doutrina religiosa.

Essa doutrina denota um conhecimento perfeito da natureza humana,


e os termos pelos quais ela é expressa – “Adão”, “Eva”, “Cristo”, “Maria” e
o restante – simbolizam os vários elementos espirituais que constituem o
indivíduo, os estados pelos quais ele passa, e a meta que ele finalmente
alcança no percurso de sua evolução espiritual.

Pois, como São Paulo diz: “essas coisas são uma alegoria” (Gálatas
4:24); e para compreendê-las é necessário conhecer os fatos aos quais elas se
referem. Conhecendo esses fatos, não temos nenhuma dificuldade de
reconhecer a origem de tal representação e de aplicá-la a nós mesmos.

Assim, “Adão” é o homem meramente externo e mundano, ainda que


desenvolvendo no devido tempo a consciência de “Eva” ou a Alma – pois a
alma é sempre a “Mulher” – tornando-se um ser dual constituído de matéria
e espírito.

Como “Eva”, a Alma cai sob o domínio desse “Adão”, e tornando-se


impura através da sujeição à matéria, dá nascimento a Caim, que,
representando a natureza inferior, é descrito como cultivando os frutos do
chão.

Mas, como “Maria”, a Alma readquire sua pureza e é descrita como


sendo virgem, no que diz respeito à matéria e, se polarizando para Deus,
torna-se mãe de Cristo ou o Homem Regenerado, o qual tão somente é o
Filho Único de Deus e Salvador do homem no qual ele é gerado. Razão pela
qual Cristo é tanto o processo como o resultado do processo. Assim sendo,
ele não é “o Senhor”, mas “nosso Senhor”. O Senhor é Adonai, a Palavra,
subsistindo eternamente no céu; e Cristo é sua contraparte no homem”.
[Edward Maitland, The Life of Anna Kingsford (A Vida de Anna
Kingsford), vol. II, pp. 197-198.]

B.9)

“Assim a alma é ao mesmo tempo Filha, Esposa e Mãe de Deus. Ela


é quem esmaga a cabeça da Serpente. E da alma triunfante surge o Homem
Regenerado, o qual, como o produto de uma alma pura e do espírito divino, é
referido como sendo nascido da água (Maria) e do Espírito Santo.

As afirmações de Jesus para Nicodemos são explícitas e conclusivas


quanto à natureza puramente espiritual tanto da entidade designada como
"Filho do Homem", quanto do processo da sua geração. Esteja encarnado ou
não, o "Filho do Homem" está necessariamente sempre “no Céu” – seu
próprio “reino interior”. Do mesmo modo os termos que descrevem sua
paternidade são destituídos de qualquer referência física. “Virgem Maria” e
“Espírito Santo” são sinônimos, respectivamente, de “Água” e do “Espírito”;
e esses, novamente, denotam os dois constituintes de todo ser regenerado,
que são sua alma purificada e o espírito divino. De modo que o dito de Jesus
– “Vós deveis nascer novamente da Água e do Espírito”, foi uma declaração,
primeiro, de que é necessário para cada um nascer da maneira na qual se diz
que ele mesmo nasceu; e, segundo, que a narrativa do Evangelho acerca do
seu nascimento se trata, realmente, de uma apresentação, dramática e
simbólica, da natureza da regeneração”. [Anna Kingsford e Edward
Maitland, The Perfect Way; or, the Finding of Christ (O Caminho Perfeito;
ou, a Descoberta de Cristo), p. 143.

O VEGETARIANISMO E A BÍBLIA
(Edward Maitland)

[FONTE: Addresses and Essays on Vegetarianism (Palestras e Ensaios sobre o


Vegetarianismo). Anna Kingsford e Edward Maitland. Editado por Samuel
Hopgood Hart. John M. Watkins, Londres, 1912. 227 pp. (214-224). Obra no site
www.anna-kingsford.com na íntegra.]

(p. 214) [N.T.: Essa numeração refere-se às paginas no original.]

1. [N.T.: Essa numeração refere-se aos parágrafos no original.]

HÁ muitas pessoas para as quais os argumentos de natureza


científica, social, econômica e até mesmo de ordem moral a favor de uma
dieta vegetariana não são suficientes, mas que requerem, além disso, a
sanção da Bíblia. Como estamos preparados para enfrentar questionamentos
também sob esse aspecto, elaboramos este breve ensaio para responder o que
poderia ser chamado de dificuldades religiosas cristãs no caminho do
vegetarianismo.

Os leitores notarão, à medida que avançarmos, que não fazemos


nenhum questionamento quanto à autoridade da Bíblia. O único
questionamento, se é que é um questionamento, será quanto à interpretação
da Bíblia, ou pelo menos quanto a certas partes da mesma. E com o intuito
de merecer uma leitura paciente e tolerante das passagens que possam diferir
das crenças que os leitores possam estar acostumados, desde logo lembrarei
que a crença da infalibilidade da Bíblia é uma coisa – e é algo compatível
com o espírito de humildade que é o único com o qual deveríamos nos
aproximar das coisas sagradas – mas a crença na infalibilidade de nossa
própria interpretação da Bíblia é outra coisa, a qual é incompatível com
aquele espírito de humildade.
Naturalmente, esse preâmbulo pode ser totalmente supérfluo, pois
pode ocorrer que os pontos de vista que expressamos já sejam os dos
leitores. Contudo, seja esse ou não o caso, faz-se necessário para uma ampla
defesa de nossa Causa que esse preâmbulo seja feito.

2. Em primeiro lugar, então, qual a natureza e o propósito da Bíblia?


Ela é, antes de qualquer outra coisa, um livro religioso; não um livro
científico ou histórico, mas sim uma obra religiosa. E, assim sendo, como a
religião não é algo que se direciona principalmente aos sentidos externos ou
à razão, mas algo que se relaciona com a Alma, o apelo (chamamento) da
Bíblia não é principalmente para os sentidos externos ou para a razão, mas
para a Alma.

3. Se concordarmos com essas premissas, então também não


deveremos ter qualquer dificuldade em concordar com as premissas que
seguem. Como a Alma não é perecível como o corpo, mas é imortal, e pode
tornar-se eterna, os ensinamentos que são necessários para ela não devem se
referir a pessoas, coisas ou eventos que sejam do tempo e transitórios, mas

(p. 215)

devem consistir em verdades que são eternas e, portanto, passíveis de uma


perpétua aplicabilidade.

4. Do mesmo modo, uma vez que a Bíblia – sendo um livro religioso


e que se dirige à Alma, ou à parte espiritual do homem – trata de coisas
internas e espirituais, e não com coisas externas e materiais, é na sua
significação espiritual, não na forma externa, que consiste o seu verdadeiro
valor e onde ele deve ser buscado.

5. Quanto a esse último ponto a própria Bíblia se manifesta


categoricamente, dizendo que a Letra é algo morto e que mata, e que apenas
o Espírito tem vida e dá vida. E não apenas isso, mas a Bíblia insiste também
sobre a necessidade do leitor ou ouvinte ter um sentido interno próprio, tão
somente por meio do qual o sentido interno da Bíblia pode ser discernido.
Assim, constantemente é dito, em relação a alguma afirmação cujo
significado principal esteja tão profundamente contido de modo a se
constituir em um mistério: – “O que tiver ouvidos para ouvir, que ouça”. E
constantemente ela se refere com reprimenda a pessoas que têm olhos que
não vêem e ouvidos que não ouvem o significado místico escondido sob suas
frases simbólicas.
Desse modo, longe de aprovar a concordância (aceitação) cega e não
inteligente, a Bíblia repetidamente exalta um Espírito de Compreensão
(Entendimento) como sendo o principal dos dons (dádivas) divinos. E ao
assim fazer, como podemos observar, a Bíblia não é inconsistente consigo
mesma quando ao enumerar as graças divinas da Fé, Esperança e Caridade,
ela declara que a principal delas é a Caridade. Pois a Caridade é uma com o
Amor, e o Amor é um com a Simpatia, e a Simpatia é o primeiro e o último
passo da Compreensão (Entendimento). Assim, é para a vossa Compreensão
(para o vosso Entendimento) que apelamos no que diz respeito ao
reconhecimento daquilo que apresentaremos nesta ocasião.

6. Das premissas assim estabelecidas, decorre a seguinte importante


conclusão, a qual é uma chave-mestra para a interpretação das Escrituras: –
Tudo o que há de mais verdadeiro na Bíblia é espiritual, e nenhum dogma ou
doutrina são verdadeiros quando pareçam ter um significado físico, ou que
não seja espiritual. Se forem verdadeiros e, contudo, nos pareçam ter uma
significação material, é porque nós ainda não os resolvemos, e assim se
constituem para nós num mistério, para o qual ainda temos que buscar a
interpretação. Aquilo que é verdadeiro é para o Espírito tão somente. (1)

7. Então, não apenas a Bíblia se dirige à Alma, mas ela contém, e é, a


história da Alma. E ela está escrita – como seria de se esperar de sua origem
egípcia – em hieróglifos, ou em símbolos sagrados, o método usual para os
egípcios, e deles adotado pelos hebreus; ou, também poderia ser, o

(p. 216)

método dos hebreus, o povo sagrado, desde o princípio, e que esse método
tenha sido introduzido por eles no Egito.

Esse método de escrever consiste em descrever coisas espirituais e


que pertencem à Alma, como figuras ou em termos derivados do mundo
físico. De modo que o que se significa não é o animal, a planta, a pessoa, ou
outro objeto desenhado ou escrito, mas sim uma outra coisa, a qual o tal
objeto foi selecionada para representar, e da qual ele se torna o símbolo, o
tipo ou a representação.

Tendo sido escrita dessa maneira, a Bíblia, ou pelo menos a sua parte
espiritual e não meramente histórica, é um hieróglifo, denotando sob a forma
de vários objetos físicos – tais como a narrativa de eventos aparentemente
mundanos, e biografias aparentemente de pessoas reais, entre outras coisas
do mundo natural – processos que são puramente espirituais e místicos.

A Bíblia, em síntese, pode ser definida como uma coleção de


parábolas narrando a história da Alma, desde sua primeira descida na
matéria, até o seu retorno final para sua condição original de puro espírito. E
como a Alma passa pelo mesmo processo quer se trate de uma só ou de
muitas – seja uma pessoa, uma igreja, uma raça, ou mesmo o universo como
um todo – a narrativa que descreve, ou a parábola que representa a história
de um, igualmente o faz para todos. E os mesmos termos, que são três em
número, abrangem todo o processo.

Esses termos são Geração, Degeneração e Regeneração, e esses,


portanto, sendo aplicados à Alma, são o tema da Bíblia, conforme agora
mostraremos, e não a história física, ou qualquer pessoa ou povo seja lá qual
for, muito embora sejam descritos em termos derivados de pessoas ou de um
povo. E tomar tais pessoas, povos ou um outro símbolo por qualquer outra
coisa que não sejam os seus apropriados papéis de símbolos, e ignorando o
seu verdadeiro significado, e dar-lhes a honra devida apenas àquilo que de
fato eles significam trata-se, em linguagem bíblica, de cometer idolatria.

Pois, ao assim proceder, nós materializamos mistérios espirituais, e


conferimos à Forma a consideração devida apenas à Substância. Onde quer
que compreendamos como coisas Sensoriais coisas que tão somente
pertencem ao Espírito, encobrindo assim as verdadeiras feições da Divindade
com representações falsas e espúrias, nós cometemos o que a Bíblia
considera como o mais repugnante dos pecados, e nos tornamos idólatras e,
ao mesmo tempo, nos identificamos com aquela escola materialista que está
rapidamente se espalhando pelo mundo com o objetivo declarado de
erradicar a própria idéia de Deus e de Alma.

8. Isso porque “Idolatria é Materialismo, o pecado comum e original


dos homens, o qual substitui o Espírito pela Aparência, a Substância pela
Ilusão, e conduz tanto o Ser moral quanto o Ser intelectual ao

(p. 217)

erro, de modo que eles substituem o superior pelo inferior, e o elevado pelo
superficial. É esse falso fruto que atrai os sentidos externos, a tentação da
serpente no começo do mundo”; (1) e isso tanto para a raça quanto para cada
indivíduo onde e quando quer que tenha vivido, pois todos estão sujeitos à
sua atração.

9. Devemos então saber, para a reta compreensão das Escrituras


místicas, que em seu sentido esotérico, ou interior e real, elas não tratam de
coisas materiais, mas de realidades espirituais; e que nem Adão é um homem
real, porém antes denota a personalidade inferior ou força intelectual em
todo ser humano; nem Eva uma mulher real, mas denota o elemento
feminino em todo o ser humano, a saber, a Alma ou consciência moral; e ela
é, portanto, chamada de a “Mãe dos que Vivem”, ou seja, dos que estão
espiritualmente vivos – aqueles nos quais a Alma alcançou autoconsciência.
Tampouco o Éden é um lugar real, mas uma condição de inocência
anterior a uma queda de uma altura alcançada. Nem é a Árvore da Vida no
meio do Éden uma árvore real, porém Deus estabelecido no meio do
Universo como sua vida. Do mesmo modo que não é o homem feito de
imediato à imagem e semelhança de Deus, mas somente após longas eras de
desenvolvimento, começando nas formas inferiores da vida vegetal, e
seguindo sua elevação através de muitas formas, até que ele alcança a forma
humana; e mesmo então ele não é feito à imagem de Deus, não é
verdadeiramente homem no sentido bíblico e místico. Pois nesse sentido faz-
se necessário algo mais do que o homem físico, mais do que o homem
intelectual, mais até mesmo do que o homem moral, para tornar-se um
homem.

Para ser feito à imagem e semelhança de Deus ele deve atingir sua
maioridade espiritual, através do desenvolvimento da consciência de sua
natureza espiritual. Ele deve ser alma tanto quanto corpo; Eva tanto quanto
Adão; assim como no mundo físico, também no plano espiritual ele requer a
mulher para lhe fazer um homem, e a mulher mística é a Alma. Antes do seu
advento (da Alma), ele é o homem apenas materialístico e rudimentar, é
homem apenas na forma, e é um animal em todos os outros aspectos.

Mas ela vem finalmente, manifestada como tão somente a Alma pode
fazer, quando seu ser inferior está envolto em profundo sono, e ele acorda
para descobrir-se plenamente homem, à imagem de Deus, macho e fêmea, no
sentido que ele representa os dois aspectos, masculino e feminino da
Deidade, o poder divino e o amor divino, e também os Sete Espíritos através
dos quais Deus cria todas as coisas. Assim constituído ele é de fato Homem,
pois ele é uma manifestação de Deus,

(p. 218)

por cujo espírito, operando dentro dele, ele tem sido criado. E criado desse
modo tem sido e será todo o homem que jamais viveu ou viverá.

10. Porém o processo inclui um ponto chamado de Queda.


Entregando-se aos impulsos externos da natureza inferior, antes que ela seja
suficientemente forte para resisti-los, Eva estende sua mão e apanha o fruto
que, como ela é espiritual e ele é material – é Matéria – é proibido para ela.
Em outras palavras, e despido de alegoria, a Alma, ou ser superior, cai sob o
poder do ser inferior e perde a intuição do Espírito, e o homem, não mais
sendo por ela sustentado, a segue em sua queda.

Assim, o ser inferior, com os seus apetites e os seus pensamentos,


torna-se o único regente, e a sua prole é Caim, o assassino e até mesmo
torturador de seus irmãos, humanos e animais. E quando Abel, que como
ministro da Alma e de suas intuições representa o profeta, oferece a Deus as
“primícias de seu rebanho” (Gênesis 4:4), ou seja, quando o “Cordeiro” de
um coração puro e gentil faz sua aparição, ele é em seguida assassinado por
Caim, o qual, como o escravo dos sentidos, ofertando os “produtos do solo”
(Gênesis 4:3), ou da natureza inferior, representa o sacerdote. (1)

11. Nesse sentido, então, Abel não promoveu nenhum derramamento


de sangue e não foi agente da morte de criaturas inocentes, tanto para
sacrifício quanto para alimento. Seu “Cordeiro” significava simplesmente os
mais santos e elevados dons espirituais, “Cordeiro” que, rejeitado e
assassinado desde o começo do mundo, é apresentado no Apocalipse como
finalmente ocupando o trono de Deus, cercado de todos aqueles que,
redimidos em razão de o terem seguido, têm o nome do Pai escrito em suas
frontes.

Pois é ainda a Alma que, sob a representação da mulher, quando


purificada da Matéria, torna-se a Noiva do Espírito, e Mãe dos que vivem
eternamente; enquanto que é a Alma que persiste no mal que é denominada
de “Mãe das Abominações”, e que compartilha da desgraça da “Babilônia”,
ou “aquela grande cidade”, o mundo ou sistema de civilização no qual a
Matéria é exaltada e posta no sagrado lugar de Deus e da Alma, e o corpo é
feito como sendo tudo e por tudo.

12. A mesma verdade espiritual reaparece muitas e muitas vezes nos


livros sagrados, sob várias formas alegóricas. Sempre são a ternura de
coração e a pureza de hábitos os acompanhantes da vida superior; sempre
são o derramamento de sangue e o comer carnes os resultados de uma queda
para um nível inferior. A estória do Dilúvio ilustra a mesma verdade, e à
matança de animais acrescenta

(p. 219)

a bebedeira. Nessa parábola, o homem é representado, depois de um período


de decadência até um extremo materialismo, como uma vez mais, sob uma
enchente de intuição, recuperando aquelas alturas da perfeição – a plena
consciência de sua natureza espiritual.

Mas tão logo ele desce do monte da purificação e regeneração, ele


vai novamente para a indecência e o derramamento de sangue, de tal modo
que a Deidade é representada como tendo desistido dele, o considerando
perdido e sem esperanças, dizendo que não haveria mais utilidade em puni-
lo, e dando-lhe relutante permissão para usar a carne como seu alimento.
Pois tal é o óbvio e verdadeiro sentido da passagem tão confusamente
traduzida no nono capítulo do Gênesis. E, contudo, constantemente
encontramos uma permissão, que foi o resultado de uma queda, colocada
como uma escusa para declinar de fazermos um esforço de recuperação!

Que tal recuperação não é vista na Bíblia como sendo impossível é


mostrado pela escolha de um símbolo de esperança – o arco-íris com os seus
sete raios. Pois esse é novamente o símbolo da Mulher ou Alma, a qual,
quando restaurada na pureza, e divinamente iluminada, manifesta os Sete
Espíritos de Deus. Essa é uma realização para a qual a Alma sempre guarda
a potencialidade em seu seio, e em virtude disso um dia será novamente a
produtora de homens “feitos à imagem de Deus”.

13. A contenda, já referida, entre profeta e sacerdote, como sendo


respectivamente ministros da Alma e dos sentidos, da vida pura e do
derramamento de sangue, é levada adiante através de toda a Bíblia, até que
ela culmina no assassinato pelos sacerdotes do maior dos profetas. Pois os
profetas não faziam derramamento de sangue; e todas as narrativas que
representam Moisés, Samuel, Elias, e outros profetas como estando
engajados na matança de pessoas de seu povo ou de tribos vizinhas –
narrativas que pelo seu horror aparente são de imediato obstáculos para os
fiéis e uma oportunidade de zombaria para os descrentes – representam
simplesmente os conflitos da Alma com as más tendências do homem que
ela anima.

E se, além disso, tivessem os tradutores da Bíblia sido devidamente


talhados para essa tarefa, primeiro, pela posse do necessário conhecimento
de Hebraico; em segundo lugar, pela posse do necessário discernimento das
coisas divinas; e em terceiro lugar, por estarem livres de inclinações prévias
em favor de uma concepção sanguinária do caráter divino, eles teriam
trazido para o inglês [N.T.: Língua do original.], os nomes das vítimas
desses massacres, ao invés de mantê-los no original; e desse modo teríamos
visto nessas narrativas apenas uma antecipação do método seguido nas obras
O Progresso do Peregrino e Guerra Santa

(p. 220)

de Bunyan.

Quanto aos próprios escritores da Bíblia, podemos crer que, caso eles
pudessem ter antevisto a que profundezas de estupidez (insensibilidade) um
regime de carne e de estimulantes pode reduzir um povo de outro modo não
carente de inteligência, depois de viver por dois mil anos com esse regime –
a estupidez demonstrada por tomarmos suas parábolas como verdades
literais – eles teriam renunciado de imediato ao seu método favorito, e falado
diretamente.

14. O método empregado por Moisés não era nenhum outro senão o
método que foi acima descrito. Instruído em todos os Mistérios da religião
dos egípcios, ele os ministrou como mistérios para o seu próprio povo,
ensinando a seus iniciados o espírito dos hieróglifos celestes, e pedindo-lhes
que quando celebrassem festivais para Deus, que carregassem em procissão,
com músicas e danças, aqueles animais sagrados que fossem relacionados
com a dada ocasião, em vista do seu significado interior. E desses animais
ele especialmente designou machos de um ano, sem mancha ou defeito, para
significar que é necessário acima de todas as coisas que o homem dedique ao
Senhor seu intelecto e sua razão, e isso desde o começo e sem a menor
reserva.

Os sacerdotes, então, foram idólatras, os quais, vindo depois de


Moisés, e pondo sob a forma escrita aquelas coisas que pela palavra de sua
boca havia comunicado a Israel, substituíram os verdadeiros significados das
coisas pelos seus meros símbolos materiais, e derramaram sangue inocente
nos puros altares do Senhor. (1)

15. Os profetas desse modo, como já foi dito, não promoviam


derramamento de sangue. Não trataram de coisas materiais, porém com
significados espirituais. Seus cordeiros sem manchas, suas pombas brancas,
seus bodes, seus carneiros, e outras criaturas sagradas, são signos e símbolos
dos vários dons e graças que as pessoas místicas devem oferecer aos céus.
Sem tais sacrifícios não há remissão do pecado.

Mas quando o sentido místico foi perdido, então a matança


(carnificina) veio em conseqüência. Os profetas se extinguiram da face da
terra, e os sacerdotes passaram a reger o povo. Então, quando a voz dos
profetas novamente se levantou, eles foram obrigados a falar diretamente, e
declararam abertamente que os sacrifícios para Deus não são a carne de
touros ou o sangue de bodes, porém santos votos e sagradas ações de graças,
que são suas contrapartes místicas. Pois, assim como Deus é um Espírito,
assim também são espirituais os Seus sacrifícios. É apenas tolice e
ignorância oferecer carne e bebida material para o puro Poder e o Ser
essencial.

Em vão, mesmo para nós, os

(p. 221)

profetas têm falado, e em vão tem Cristo se manifestado. (1) Pois todo o
tema principal do ensinamento de Cristo e a moral da vida de Cristo, por
meio dos quais ele vindicou ao mesmo tempo a Lei e os Profetas, é que um
homem não pode ser salvo por nenhum ato de outro, ou por qualquer
processo que ocorra fora dele mesmo; que “ninguém pode por qualquer meio
redimir seu irmão, nem pagar a Deus um resgate por ele (pagar o seu preço)”
(Salmos 49:8); e que, portanto, nenhum tipo de oferenda queimada, ou de
oferenda pelos pecados, nem qualquer sacrifício físico ou material seja lá
qual for, pode salvar um homem de seus pecados e de suas conseqüências,
mas tão somente um coração humilde e arrependido, e um espírito puro
dentro do próprio homem, e uma vida de acordo com isso.

Se apenas uma vez pudermos ler a Bíblia com a visão não


obscurecida pelo véu de sangue, e não distorcida pelo preconceito, então
todo o seu mistério – o mistério de nossa queda e de nossa redenção – torna-
se claro como o céu sem nuvens. Pois, então, podemos identificar como algo
que ocorre em nossas próprias almas todo o processo, desde o começo até o
fim, que a Bíblia, do Gênesis até o Apocalipse, apresenta sob a forma de
símbolos e parábolas, precisamente como fez Nosso Senhor ele mesmo.

E, assim fazendo, nós chegamos a conhecer de forma absoluta, pela


experiência individual de nossas próprias almas que o segredo e o método do
Cristo não é nenhum outro do que aquele processo interior de purificação e
regeneração, tão somente por meio do qual o espírito no homem retorna a
sua condição original de pureza, tornando-o um homem novo, uno com
Deus, que é puro Espírito.

É esse processo de transmutação, ou redenção do Espírito da Matéria,


tanto na dimensão individual quanto na universal, que constitui o tema das
Sagradas Escrituras, o objeto de todas as religiões verdadeiras, e a tarefa de
todas as verdadeiras igrejas. E são os vários estágios desse processo que
constituem respectivamente a Queda de Adão por meio da submissão da Eva
dentro dele à serpente da Matéria; a descida de Israel, ou da Alma, até o
Egito, ou o mundo e os sentidos; e o Êxodo ou fuga do mundo através da
água da separação e consagração até o deserto, até a região erma da
experiência beneficente; e a travessia do rio Jordão, ou rio da purificação,
para tomar posse da terra prometida da perfeição.

Novamente, são esses vários estágios desse processo que estão


representados na história do Evangelho do típico homem regenerado. Sejam
eles chamados de água e espírito, ou de alma pura e a divina operação que
nela ocorre, ou da Virgem Maria e o Espírito Santo, é desses dois dentro de
cada homem que finalmente é redimido, que

(p. 222)

o homem novo, ou o homem regenerado, o Cristo Jesus – que sempre é o


“único Filho gerado por Deus” (“Filho único de Deus”) (João 3:16, 18) – é
produzido.

E é sempre pela crucificação e morte na cruz da renúncia daquele


velho Adão, o ser inferior, e a ressurreição e ascensão para uma condição de
perfeição verdadeira que a salvação é finalmente alcançada. E a razão pela
qual todas essas verdades eternas na história da alma foram centralmente
colocadas na vida do profeta de Nazaré é simplesmente porque,
reconhecendo nele os sinais ou testemunho de sua realização de perfeição
num grau nunca antes alcançado, e em sua história as adequadas
correspondências simbólicas, o Espírito Divino, sob cuja inspiração os
Evangelhos foram compostos, o selecionou como o ícone das possibilidades
da humanidade em geral.
16. Porém, mesmo rejeitando dessa maneira como sendo idólatra,
como uma blasfêmia, e como perniciosa no mais alto grau à doutrina,
conforme ela é comumente conhecida, da Redenção ou Reconciliação
Vicária [N.T.: Aquela realizada por alguém em lugar de outro; no caso o
sacrifício de Jesus Cristo para nos redimir do pecado, para nos reconciliar
com Deus.], ainda vemos em Cristo Jesus o “único Filho gerado por Deus”
(“Filho único de Deus”) (João 3:16, 18). E ainda nos apegamos a Seu sangue
e a sua cruz como os únicos meios da salvação.

Mas é o Cristo Jesus dentro de nós, ou o homem que renasceu de


alma e espírito puros, como o próprio Jesus declarou que todos devem nascer
– exatamente do mesmo modo como se descreve que Ele nasceu – a quem
buscamos para nos salvar. E os meios são Sua cruz de auto-sacrifício,
renúncia, e pureza de vida; e a recepção em nós mesmos daquele “Sangue de
Deus” que não é nenhum sangue meramente físico – com o qual as
imperfeições morais não possuem nenhuma relação – mas que é a vida de
Deus, o próprio Espírito puro, o qual é Deus, e o qual Deus está sempre
derramando em abundância para o bem de Suas criaturas, dando a elas de
sua própria vida e substância.

17. Quão perniciosa é a doutrina da redenção (ou reconciliação)


vicária, conforme ela é comumente aceita, é algo que pode ser visto pelas
atuais condições do mundo: intelectualmente, moralmente e espiritualmente,
não menos do que fisicamente. O homem sempre se constrói segundo a
imagem de seu Deus, isto é, segundo a sua idéia de Deus. E acreditando em
um Deus que é injusto, egoísta e cruel, o homem não pode ser senão injusto,
egoísta e cruel.

É precisamente essa má representação do caráter divino, e essa


perversão da verdadeira e da única possível doutrina da reconciliação ou
redenção, em uma doutrina que faz a salvação do homem um processo
externo a si mesmo, e dependente da ação de outro que não ele mesmo, que,
por meio da falsificação do Cristianismo, provocou o seu fracasso. E, ao
invés de um mundo ordenado por princípios de justiça, simpatia e

(p. 223)

pureza, nos legou um mundo de más ações, de egoísmo e de sensualismo.

De acordo com o verdadeiro Evangelho, conforme declarado pelos


profetas, a substância da humanidade não é material e criada, mas sim
espiritual e divina. E o homem se eleva além de sua natureza inferior até sua
natureza superior ao subordinar os primeiros aos últimos, elevando-se assim
totalmente ao superior, tornando-se com isso divino – pois entre Espírito e
Matéria não há linha fronteiriça. Esse conhecimento era o tesouro sem preço
do qual Israel, ao fugir ou libertar-se, “despojou os egípcios”. (Êxodo 12:36)
Esse era o grande segredo de todos os sagrados mistérios desde o princípio.
Ao contrário desse, trata-se de um falso evangelho, aquele que tendo
origem nos sacerdotes, e desafiando ao mesmo tempo o intelecto e a
intuição, atribui a salvação a uma operação vicária, e, ao invés do sacrifício
de nossa própria natureza inferior para a nossa natureza superior, e de nós
mesmos para os demais, insiste no sacrifício de nossa natureza superior para
a inferior, e dos outros para nós mesmos.

É dessa inversão da ordem divina que o hábito de comer carne e a


vivissecção – aquela mais infernal de todas as práticas que sugiram do
abismo sem fundo da natureza inferior do homem – são os diretos e
inevitáveis resultados. E até que a ordem divina seja restaurada, tanto em ato
quanto em pensamento, pela renúncia da doutrina do sacrifício vicário,
conforme comumente sustentado, e pela conseqüente reabilitação do caráter
de Deus, todos os nossos esforços de melhoramento devem ser em vão;
nossa civilização será tão somente uma falsificação, um simulacro desse
termo; e nossa moralidade e religião serão coisas das quais se pode dizer que
estaríamos melhor sem elas.

18. Em conclusão: aquilo que buscamos não é uma reforma de


instituições meramente, ou a promoção de benefícios materiais meramente,
mas sim uma radical renovação da própria Substância dos homens em todos
os planos de suas naturezas, com vistas à realização daquilo que há tanto
tempo foi prometido: “novos céus e nova terra onde habitará a Retidão (a
Justiça)” (2 Pedro 3:13), e o advento daquele perfeito estado, a Nova
Jerusalém, ou Cidade que tem Deus como sua luz, a luz que desce do céu da
região celestial do próprio homem, aquele reino dos céus que está dentro
dele mesmo, mas o qual jamais pode ser realizado por aqueles que persistem
em ordenar suas vidas de modo a tornarem necessários o derramamento de
sangue e a injustiça.

19. “Ele te mostrou, ó homem, o que é bom; e o que o Senhor exige


de ti: nada mais do que agir com justiça, gostar do amor, e caminhar
humildemente com o teu Deus!” (Miquéias 6:8) “Eles

(p. 224)

não ferirão e nem destruirão em toda a minha montanha sagrada, disse o


Senhor”. (Isaías 65:25)

20. Se nos for perguntado, qual a fonte, e qual a autoridade para essa
interpretação, responderemos que há apenas uma fonte e autoridade para a
verdade, e essa é a Alma do próprio homem, e que para obter acesso a esse
lugar, e conhecer a doutrina, é necessário fazer a Vontade do Pai, e viver a
vida pura que é requerida.
Pois a Alma vê divinamente, e nunca esquece aquilo que uma vez
aprendeu. E tudo o que ela conhece está a serviço daquele que para com ela
tem os devidos cuidados e a cultiva. Dela advém, diretamente e sem mescla
de adulteração humana, aquilo que recém foi dito. E não há nenhuma outra
fonte ou método de revelação divina.

É verdade, como se supõe geralmente, que a revelação divina é


pronunciada por uma voz vinda do céu. Mas o céu é o mais íntimo santuário
do templo do próprio homem, e a voz é a de Deus lá falando. Somente onde
o terreno, o qual é o corpo, é puro e é nutrido com pureza, de modo que
nenhuma exalação nociva surja para obscurecer a atmosfera, é que homem e
sua Alma podem entabular conversação direta.

Vivendo da maneira que o mundo vive hoje, ele não pode conhecer
as potencialidades da humanidade. Daí segue que ele diviniza uma espécie
mais adiantada, à custa do resto da raça, quando na verdade todos são
divinos, se apenas os deixarem assim ser. E a revelação é, tanto quanto a
razão, o atributo natural do homem. Que tão somente viva com pureza, e ele
reverterá a Queda.

NOTAS DE RODAPÉ

(215:1) Vide a Iluminação de Anna Kingsford “Concerning the Prophecy of


the Immaculate Conception” (Sobre a Profecia da Imaculada Conceição),
em Clothed with the Sun (Vestida com o Sol), Parte I, nº. 3.

(217:1) Vide a Iluminação de Anna Kingsford “Concerning the


Interpretation of the Mystical Scriptures” (Sobre a Interpretação das
Escrituras Místicas), em Clothed with the Sun (Vestida com o Sol), Parte I,
nº. 5.

(218:1) Vide o Prefácio Biográfico, p. 28.

(220:1) Vide a Iluminação de Anna Kingsford “Concerning the


Interpretation of the Mystical Scriptures” (Sobre a Interpretação das
Escrituras Místicas), em Clothed with the Sun (Vestida com o Sol), Parte I,
nº. 5, pp. 20-21; e Prefácio, p. 28 ante.

(221:1) Vide a Iluminação de Anna Kingsford “Concerning the


Interpretation of the Mystical Scriptures” (Sobre a Interpretação das
Escrituras Místicas), em Clothed with the Sun (Vestida com o Sol), Parte I,
nº. 5, pp. 18-19.
[Tradução: Arnaldo Sisson Filho. O texto em inglês é domínio público, porém a
tradução não é. O texto pode ser usado para propósitos não comerciais, desde que a
notificação de propriedade seja deixada intacta.]

“Em resumo, não são dois Evangelhos, mas dois aspectos, o externo e o interno, de um
mesmo Evangelho. Pois o Budismo encontra sua tradução e complementação no
Cristianismo, e o Cristianismo encontra sua concepção e seu alicerce no Budismo”. [The
Living Truth in Christianity (A Verdade Viva no Cristianismo), pp. 26-27]

……………….

“O Cristianismo foi introduzido no mundo com uma relação especial com as


grandes religiões do Oriente, e sob a mesma regência divina. E muito longe de ser
concebido como um rival e suplantador do Budismo, ele era a direta e necessária
continuação desse sistema. E os dois são apenas partes de um todo contínuo e harmonioso,
no qual a parte que veio por último é somente o indispensável acréscimo e complemento
da parte que veio anteriormente. (…)

Se não fosse por Buda, não poderia ter havido Jesus, nem teria ele sido suficiente
para atender ao homem integral; pois o homem deve ter a Mente iluminada antes que as
Afeições possam ser despertadas. Nem teria sido o Buda completo sem Jesus. Buda
completou a regeneração da Mente; e por meio de sua doutrina e prática os homens são
preparados para a graça que vem por meio de Jesus. Motivo pelo qual nenhum homem
pode ser propriamente cristão, se não for também e primeiramente budista.

Assim, as duas religiões constituem, respectivamente, o aspecto exterior e o


aspecto interior do mesmo Evangelho, os alicerces estando no Budismo – incluindo nesse
termo o Pitagorianismo – e a iluminação estando no Cristianismo. E da mesma forma que
sem o Cristianismo o Budismo está incompleto, assim também o Cristianismo sem o
Budismo é ininteligível”. [The Perfect Way; or, the Finding of Christ (O Caminho
Perfeito; ou, a Descoberta de Cristo), pp. 250-251]

……………….

“Do mesmo modo que não fazia parte do projeto dos Evangelhos representar o
percurso inteiro do Homem Regenerado, também não fazia parte desse projeto fornecer,
no que diz respeito à vida e doutrina religiosa, um sistema integral e completo,
independentemente dos que o antecederam.

Por ter uma relação especial com o Coração e o Espírito do Homem, e dessa forma
com o núcleo da célula e com o Santo dos Santos do Tabernáculo, o Cristianismo, em sua
concepção original, delegou a regeneração da Mente e do Corpo (…), ou o dualismo
exterior do Microcosmo, a sistemas já existentes e amplamente conhecidos e praticados.

“Esses sistemas eram dois em número, ou melhor, eram como dois modos ou
expressões do sistema uno, cujo estabelecimento constituiu a “Mensagem” que antecedeu
o Cristianismo pelo período cíclico de seiscentos anos. Esse sistema era a Mensagem na
qual os “Anjos” estiveram representados em Gautama Buda e Pitágoras.
No caso desses dois profetas e redentores, praticamente contemporâneos, o
sistema era, tanto na sua doutrina quanto na sua prática, essencialmente um e o mesmo.
E suas relações com o sistema de Jesus, como seus necessários pioneiros e antecessores,
encontram reconhecimento nos Evangelhos na alegoria da Transfiguração.

Os personagens que aparecem nesse evento – Moisés e Elias – são


correspondentes hebraicos de Buda e de Pitágoras. E eles são descritos como tendo sido
vistos pelos três apóstolos nos quais são representadas, respectivamente, as funções
distintamente exercidas por Pitágoras, por Buda e por Jesus; ou seja, Obras, Compreensão
e Amor, ou Corpo, Mente e Coração.

E pela sua reunião no Monte está representada a união dos três elementos, e a
complementação de todo o sistema abrangido pelos três por Jesus, como o representante
do Coração ou daquilo que é Mais Interno, e, em um sentido especial, como o “amado
Filho de Deus”.

O Cristianismo, então, foi introduzido no mundo com uma relação especial com
as grandes religiões do Oriente, e sob a mesma regência divina. E muito longe de ser
concebido como um rival e suplantador do Budismo, ele era a direta e necessária
continuação desse sistema. E os dois são apenas partes de um todo contínuo e harmonioso,
no qual a parte que veio por último é somente o indispensável acréscimo e complemento
da parte que veio anteriormente”. [The Perfect Way; or, the Finding of Christ (O Caminho
Perfeito; ou, a Descoberta de Cristo), pp. 249-251]

……………….

“Pois o fato é que a doutrina de Buda, com suas Quatro Nobres Verdades, e seu
Nobre Óctuplo Caminho, sua ilimitada compaixão em relação a toda a vida senciente, seu
lógico ensinamento ético de desenvolvimento através da conquista de si mesmo e da
autocultura, sua simples e não obstante profunda análise do sofrimento e da tristeza com
o método da libertação desses (…), sua regeneração completa da mente, seus elevados
códigos de moralidade e padrão de tolerância, paz e caridade – essa doutrina é a
indispensável precursora e intérprete da doutrina de Cristo”. (A Verdade Viva no
Cristianismo, p. 26)

……………….

“… não fazia parte desse projeto [do Cristianismo original] fornecer, no que diz
respeito à vida e doutrina religiosa, um sistema integral e completo, independentemente
dos que o antecederam.

(…) o Cristianismo, em sua concepção original, delegou a regeneração da Mente


e do Corpo (…), ou o dualismo exterior do Microcosmo, a sistemas já existentes e
amplamente conhecidos e praticados.

Esses sistemas eram dois em número, ou melhor, eram como dois modos ou
expressões do sistema uno, cujo estabelecimento constituiu a “Mensagem” que antecedeu
o Cristianismo pelo período cíclico de seiscentos anos. Esse sistema era a Mensagem na
qual os “Anjos” estiveram representados em Gautama Buda e Pitágoras.
(…) suas relações com o sistema de Jesus, como seus necessários pioneiros e
antecessores, encontram reconhecimento nos Evangelhos na alegoria da Transfiguração.

Os personagens que aparecem nesse evento – Moisés e Elias – são


correspondentes hebraicos de Buda e de Pitágoras. Eles são descritos como vistos pelos
três apóstolos nos quais são representadas, respectivamente, as funções distintamente
exercidas por Pitágoras, por Buda e por Jesus; ou seja, Obras, Compreensão e Amor, ou
Corpo, Mente e Coração. (…)

O Cristianismo, então, foi introduzido no mundo com uma relação especial com
as grandes religiões do Oriente, e sob a mesma regência divina. E muito longe de ser
concebido como um rival e suplantador do Budismo, ele era a direta e necessária
continuação desse sistema. E os dois são apenas partes de um todo contínuo e harmonioso,
no qual a parte que veio por último é somente o indispensável acréscimo e complemento
da parte que veio anteriormente.

Buda e Jesus são, portanto, necessários um ao outro. E no sistema integral assim


completado Buda é a Mente e Jesus é o Coração; Buda é o geral, Jesus é o particular,
Buda é o irmão do universo, Jesus é o irmão dos homens; Buda é a Filosofia, Jesus é a
Religião; Buda é a Circunferência, Jesus é o Interno; Buda é o Sistema, Jesus é o ponto
de Radiação; Buda é a Manifestação, Jesus é o Espírito; em síntese, Buda é o “Homem”,
Jesus é a “Mulher”.

Se não fosse por Buda, não poderia ter havido Jesus, nem teria ele sido suficiente
para atender ao homem integral; pois o homem deve ter a Mente iluminada antes de que
as Afeições possam ser despertadas. Nem teria sido o Buda completo sem Jesus. Buda
completou a regeneração da Mente; e por meio de sua doutrina e prática os homens são
preparados para a graça que vem por meio de Jesus. Motivo pelo qual nenhum homem
pode ser propriamente cristão, se não for também e primeiramente budista.

Assim, as duas religiões constituem, respectivamente, o aspecto exterior e o


aspecto interior do mesmo Evangelho, os alicerces estando no Budismo – incluindo nesse
termo o Pitagorismo – e a iluminação estando no Cristianismo. E da mesma forma que
sem o Cristianismo o Budismo está incompleto, assim também o Cristianismo sem o
Budismo é ininteligível.

(…) da união espiritual na fé una do Buda e do Cristo nascerá a redenção vindoura


do mundo.

(…) Aqueles que buscam casar Buda a Jesus são do celestial e superior; e aqueles
que se interpõem ou se objetam ao casamento são do astral e do inferior”. [The Perfect
Way; or, the Finding of Christ (O Caminho Perfeito; ou, a Descoberta de Cristo), p. 249-
256]

……………….

“É tão somente a doutrina do Karma e da continuidade das existências que explica


as desigualdades e desarmonias da vida e que justifica a Justiça Divina. E, vista desse
ponto de vista, a vida tem uma amplitude muito maior do que aquela que é compatível
com a idéia de uma única existência, e que torna a alma independente da disciplina da
experiência terrena, uma vez que tal experiência é completamente negada para um vasto
número daqueles que morrem na infância. O fato de que as escrituras cristãs não
reconheçam explicitamente essa doutrina não representa nenhum argumento contra o fato
de que ela seja uma doutrina cristã. Essa doutrina já estava no mundo no Budismo; e o
Cristianismo, como o complemento e o coroamento do Budismo, não tinha nenhuma
necessidade de reiterá-la”. [The Credo of Christendom (O Credo do Cristianismo), pp.
143-144]

……………….

“A fé cristã é a herdeira direta da velha fé romana. Roma foi a herdeira da Grécia,


e a Grécia do Egito, de onde se originaram o legado de Moisés e o ritual hebraico.

O Egito foi apenas o foco de uma luz cuja verdadeira fonte e centro era o Oriente
em geral – Ex Oriente Lux. Pois o Oriente, em todos os sentidos, geograficamente,
astronomicamente e espiritualmente, é sempre a fonte de luz.

Mas, embora originalmente derivada do Oriente, a Igreja de nossos dias e de nosso


país é modelada diretamente a partir da mitologia greco-romana, e de lá retira todos os
seus ritos, doutrinas, cerimônias, sacramentos e festivais.

Portanto, a exposição que será feita sobre o Cristianismo Esotérico tratará mais
especificamente dos mistérios do Ocidente, uma vez que suas idéias e sua terminologia
são para nós mais atrativas e próximas do que as concepções não artísticas, a metafísica
não familiar, o espiritualismo melancólico e a linguagem pouco sugestiva do Oriente.

Extraindo sua essência-vital diretamente da fé pagã do velho mundo Ocidental, o


Cristianismo mais proximamente se parece com seus pai e mãe imediatos, do que com
seus ancestrais remotos, e será, então, melhor exposto com referência a suas fontes da
Grécia e de Roma, do que com referência a seus paralelos bramânicos e védicos.

A Igreja cristã é católica, ou então ela não é nada que mereça, em absoluto, o nome
de Igreja. Pois católico significa universal, todo-abarcante: – a fé que sempre e em todos
os lugares foi recebida. A prevalecente visão limitada desse termo é errada e prejudicial.

A Igreja cristã foi inicialmente chamada de católica porque ela abarcava,


compreendia e tornou seu o passado religioso de todo o mundo. Reunindo em sua figura
central – do Cristo – e em torno dessa figura todas as características, lendas e símbolos
até então pertencentes às figuras centrais das dispensações anteriores, proclamando a
unidade de toda aspiração humana, e formulando em um grande sistema ecumênico as
doutrinas do Oriente e do Ocidente.

Assim, a Igreja católica é védica, budista, zend-avesta e semítica. Ela é egípcia,


hermética, pitagórica e platônica. Ela é escandinava, mexicana e druídica. Ela é grega e
romana. Ela é científica, filosófica e espiritual.

Encontramos em seus ensinamentos o panteísmo do Oriente, e o individualismo


do Ocidente. Ela fala a língua e pensa os pensamentos de todos os filhos dos homens; e
em seu templo todos os deuses estão em um lugar sagrado.
Eu sou vedantina, budista, helenista, hermética e cristã, porque eu sou católica.
Pois nessa única palavra todo o Passado, Presente e Futuro estão abarcados.

Como Santo Agostinho e outros dos Padres (Pais) da Igreja verdadeiramente


declararam, o Cristianismo não contém nada de novo a não ser o seu nome, estando
próximo dos antigos desde o seu início. E as várias seitas, que retém apenas uma porção
da doutrina católica, são apenas como cópias incompletas de um livro, do qual capítulos
inteiros foram retirados, ou como representações de uma peça teatral na qual apenas
alguns de seus personagens e de suas cenas foram mantidos”. [The Credo of Christendom
(O Credo do Cristianismo), pp. 94-96]

……………….

“Agora, uma das mais deploráveis características do Sacerdotalismo é sua habitual


intolerância a todas as outras formas de fé e sistemas religiosos, a despeito de sua
antiguidade, autenticidade, semelhanças fundamentais e credibilidade.

O Sacerdotalismo não os vê como amigos, mas como rivais e inimigos; que não
devem ser entendidos, apreciados e – ao menos em parte – assimilados, mas que devem
ser ignorados, depreciados e contestados.

Essa atitude é justificada pelo Sacerdotalismo como sendo zelo por seus próprios
princípios particulares, mas isso, na verdade, não é nada mais que intolerância nascida da
ignorância.

Exatamente essa atitude em relação àquele sistema religioso em particular


denominado de Budismo, que precedeu o advento do Cristianismo por cerca de cinco ou
seis séculos, tem sido algo próximo de uma atitude suicida ao real sucesso do
Cristianismo, tendo se provado desastrosa para sua capacidade de influenciar a todos,
exceto aos ignorantes e elementares, aos preconceituosos e às classes conservadoras ainda
dominadas pelo Sacerdotalismo.

Pois o fato é que a doutrina de Buda, com suas Quatro Nobres Verdades e seu
Nobre Óctuplo Caminho, sua ilimitada compaixão em relação a toda a vida senciente, seu
lógico ensinamento ético de desenvolvimento através da conquista de si mesmo e da
autocultura, sua simples e não obstante profunda análise do sofrimento e da tristeza, com
o método da libertação desses estando disponível a todos, sua regeneração completa da
mente, seus elevados código de moralidade e padrão de tolerância, paz e caridade – essa
doutrina é a indispensável precursora e intérprete da doutrina de Cristo. Em resumo, não
são dois Evangelhos, mas dois aspectos, o externo e o interno, de um mesmo Evangelho.
Pois o Budismo encontra sua tradução e complementação no Cristianismo, e o
Cristianismo encontra sua concepção e seu alicerce no Budismo.

Visto dessa forma, o Cristianismo, como religião, assume a obra de aperfeiçoar o


homem em seu coração, a partir daquele grau de regeneração parcial a que o Budismo,
como filosofia, já o conduziu em sua mente; e assim o Cristianismo descreve e trata
apenas dos estágios finais de todo o grande trabalho.

Se isso fosse reconhecido, as sérias deficiências referentes às bases, e aquelas


falhas racionais, intelectuais e morais que confrontam os estudantes ponderados e
imparciais do sistema cristão, seriam amplamente reconhecidas, e um passo adiante seria
dado em direção à reabilitação, enquanto um todo vivo, da tão mutilada fé.

Quão pouco conhecem o Cristianismo aqueles que conhecem somente um Jesus


histórico, e deixam de levar em conta o caminho de Buda, como uma escada que deve ser
subida para que se alcance o estado de Jesus!” (A Verdade Viva no Cristianismo, pp. 26-
27)

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