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A CIVILIZAÇÃO DA ESTERILIDADE

Julian Assange já se tornou uma figura lendária. Pai do Wikileaks, que jogou no ventilador uma
pequena fração da hipocrisia diplomática e da mentira que correm no esgoto da humanidade,
vive homiziado na embaixada equatoriana em Londres. Tem contra si acusações – forjadas ou
não,- que o jogariam atrás das grades assim que trespassasse a porta de saída daquela
representação diplomática. É um ícone do vazamento de informações secretas, seguido de perto
pelo ex-técnico da CIA, Edward Snowden. Pois Julian Assange, tão celebrado quando interessa
à esquerda, manifestou-se, em seu exílio equatoriano, sobre os problemas demográficos que a
Europa já enfrenta. Como a conhecemos, morrerá de velha, eis que não há reposição de
gerações. Assange atribuiu a três fatores o que denomina esterilidade europeia: capitalismo,
ateísmo e feminismo. Não lembro de ter visto alguma repercussão sobre isto na mídia.

Indicar livros é uma prática que pode ser generosa ou invasiva. Pelas mãos de meu pai li obras
muito interessantes, como “A madona de cedro” ,“A cidade e as serras”, “Grego procura grega”,
“O auto da compadecida” e outros tantos. Recusar uma sugestão de leitura, porém, pode ser
embaraçoso. Certa feita me empurraram, debaixo de muita insistência, um livro de psicografia.
Como não acredito nisto, foi constrangedor devolvê-lo sem ter chegado sequer à metade.
Deveria ter sido mais sincero na largada, denunciando que não haveria casamento entre um livro
que para seu dono era uma preciosidade e um sujeito para o qual aquilo não passa de
subliteratura melosa, um arremedo da sabedoria cristã. A verdade vos libertará também serve
para as coisas miúdas e confesso ter falhado por não encontrar um jeito delicado de dizer não.

Um amigo me sugeriu “A civilização do espetáculo”, de Vargas Llosa. A obra aborda alguns


problemas que a todos preocupam, porque neles identifica-se a decadência da humanidade. A
obra começa discorrendo sobre cultura, abastardada pela visão ressentida da esquerda de que
as elites culturais nada fizeram pela humanidade. A palavra de ordem foi massificar a cultura.
Ora, produzir bons vinhos exige método e paciência, mas há quem prometa produzir vinhos com
teor alcoólico de 14% sem passar por barril ... Metaforicamente, produziram uma “cultura” no
nível de vinho que só serve para sagu. Pior que isto, servem este vinho - cuja maior utilidade
seria a de coadjuvar bolinhas de mandioca,- como um vinho transcendente, daqueles que não
seria exagerado beber de joelhos ... Combater elites culturais é um erro grosseiro. Coisa de
quem acredita que na Grécia antiga havia Aristóteles e Platões a mancheias .. Bolas, o ouro é o
que é não apenas por suas propriedades, mas porque não tem a disponibilidade das areias.

Llosa cita Steiner, segundo o qual a morte de Deus entre os homens “não significou o advento
do paraíso na terra, e sim do inferno”. Cita Debord, autor de “A Sociedade do Espetáculo”, para
quem o triunfo do capitalismo fez com que a alienação monopolizasse a vida social,
transformando o que era espontâneo, autêntico e ingênuo em algo artificial e falso. Porque no
mundo das coisas “o espetáculo é a ditadura efetiva da ilusão na sociedade moderna”.

Penso que o autor escorrega algumas vezes, como no terreno da sexualidade, defendendo
situações que não se pode endossar, como também o faz ao imaginar que lei e cultura tudo
resolvem. Critica o relativismo que instalou-se na avaliação cultural mas ele próprio defende o
relativismo como um dos princípios elementares da vida democrática. Nada que surpreenda em
um autor que se diz “completamente incapaz de acreditar na divindade do Nazareno”.

De qualquer forma, Llosa mostra notável domínio sobre o que se entendia como cultura. Entre
críticas ao que se passa, afirma que o esnobismo tem dominado a visitação de lugares famosos
pelos turistas pós-modernos, que na verdade não se interessam pelo passado ou pela arte
clássica, antes perseguem em relances apenas uma certa consciência cultural. Como negar que
fomos massificados e que o único valor é o comercial? Ou não é bom “o que tem sucesso e é
vendido; mau o que fracassa e não conquista o público”?

O grande mérito de Llosa foi resgatar autores como T.S.Eliot, que pontificou que “ a cultura se
transmite através da família”. Quando esta não funciona, o resultado é a deterioração. Como se
vê, não há nada de novo sob o sol. O que podem fazer os bem intencionados? Abdicando da
busca quase sempre vaidosa de originalidade e da aprovação de seus pares, creio que podem
simplesmente perseguir a verdade. Que jamais se deixa arranhar pelo estéril relativismo.

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