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Abstract
Diabetes is classified as a heterogeneous group of metabolic disorders characterized by hyperglycemia resulting from defects in insu-
lin action, secretion, or both. In type 1 diabetes (T1DM), beta-pancreatic cell destruction leads to insulin deficiency. Type 2 diabetes
(T2DM) is a result of defects in the production and action of insulin and in the regulation of hepatic glucose production. Gestational
diabetes (GDM) is associated with both insulin resistance and its decreased production. Cinnamon is a spice obtained from several
species of trees of the genus Cinnamomum, family Lauraceae, and in Greek it means "sweet wood". Since ancient times it has been
used for the manufacture of volatile oils, and the bark of wood, as spice. The first reported properties are its antioxidant action, an-
ti-diabetic effects and antimicrobial and antifungal actions. The major bioactive compound of cinnamon is still unclear: it seems to be
cinnamaldehyde, but other compounds have shown action. The main mechanisms suggested for the hypoglycaemic action of cinnamon
are gastric emptying reduction, inhibition of α-glycosidase and pancreatic α-amylase enzymes, increase of GLP-1 levels, activation of
insulin receptors, increase in gene expression and greater GLUT-4 translocation, activation of GLUT-1, reduction of gluconeogenesis
and increased glycogenesis, increased expression of PPAR-α and PPAR-γ. In vitro and in vivo studies favor the use of cinnamon for
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glycemic control but the reduced "n" of the studies and the conflicting, contradictory and heterogeneous evidences make the cinnamon
efficacy questionable. Conclusion: there are few studies about cinnamon in T1DM, with no significant effects in humans; in T2DM, the
effects are better in decompensated patients; in GDM, it is not recommended to extrapolate data to humans. The toxicity of cinnamon
is low, and its use is safe for up to 4 months, according to studies. Usual doses (powder or dry extract): 500 mg to 6 g/day.
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Adriano Cavalcanti Nóbrega e Camila Komatsu
D
Diabetes mellitus é classificado como um sistema HLA classe II) e fatores ambientais, sendo
grupo heterogêneo de distúrbios metabólicos os principais: infecções virais, hipovitaminose D,
caracterizados por hiperglicemia resultante de introdução precoce ao leite de vaca e interrupção
defeitos na ação da insulina, na secreção desta, precoce do aleitamento materno. Já o tipo 1B
ou em ambas. Tem sua classificação etiológica (idiopático) é a minoria dos casos de DM1, tem
dividida em tipo 1 (autoimune ou idiopático), tipo causa desconhecida e caracteriza-se pela ausência
2, gestacional e outros tipos específicos. Há, ainda, de marcadores de autoimunidade e pela não
duas categorias de risco aumentado conhecidas associação ao sistema HLA1.
como pré-diabetes: a glicemia de jejum alterada Já o diabetes tipo 2, que corresponde a 90-95%
e a tolerância diminuída à glicose1. dos casos, é resultante de defeitos na produção
No diabetes tipo 1 ocorre destruição das e ação da insulina e na regulação da produção
células beta-pancreáticas, levando à deficiência hepática de glicose (disfunção de células alfa)
de insulina. Corresponde a 5-10% dos casos (Figura 1). Apresenta intensa associação entre
de diabetes e é mais comum em crianças e genética e ambiente, é mais comum após 40 anos e
adolescentes. O tipo 1A (autoimune) apresenta está relacionada com sobrepeso/obesidade (achado
intensa associação entre genética (associada ao comum ao diagnóstico)1.
Hiperglicemia
Fígado Tecido adiposo e muscular
Resistência à Insulina
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Uso da canela na prevenção e tratamento do diabetes mellitus
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Adriano Cavalcanti Nóbrega e Camila Komatsu
WAT Fígado
Pâncreas
2. Inibição da amilase pancreática
PPAR-α PPAR-γ
Intestino Delgado
ACO LPL 3. Inibição da glicosidase
CD36
GLUT4
Glicose
Redução da
Resistência à 4. Melhora da fosforilação do
Insulina Célula
receptor de insulina
Aumento da
Aumento da Redução da síntese de
atividade de PK atividade de PEPCK glicogênio
PK: piruvato quinase; PEPCK: fosfoenolpiruvato carboxiquinase; PPAR-gama: receptor ativado por proliferadores de
peroxissoma gama; WAT: tecido adiposo branco; ACO: acil-CoA oxidase; GLUT-4: proteína transportadora de glicose-4;
LPL: lipoproteína lipase; CD36: Transportador de ácidos graxos
Fonte: Adaptado de: Medagama9.
Shen et al. 10 avaliaram os efeitos não Altschuler et al.11 realizaram o primeiro ensaio
insulinodependentes da canela em ratos induzidos com canela em pessoas com DM1. Em um estudo
ao DM1 e não tratados. Para isso, compararam duplo-cego, placebo, randomizado, 72 indivíduos
grupo placebo versus grupo tratado com extrato usaram 1 g de canela em pó ou placebo por 90 dias.
aquoso de canela (CE) na dose de 30 mg/kg/dia por Foram avaliados HbA1c, total de insulina utilizada
Revista Brasileira de Nutrição Funcional
22 dias. Houve redução da glicemia e nefropatia, ao dia e efeitos adversos (hipoglicemia). Nenhum
aumento na regulação da UCP-1, aumento na benefício foi encontrado com o uso da canela em
translocação de GLUT-4 para a membrana no indivíduos diabéticos tipo 1.
tecido adiposo marrom e músculo esquelético. Em ratos diabéticos tipo 2, Babu et al. 7
Como conclusão, os autores afirmam que “a canela utilizaram 5, 10 e 20 mg/kg/dia durante 45
apresentou efeitos antidiabéticos independentes da dias, comparando-os a ratos saudáveis e ratos
insulina, pois aumentou a atividade mitocondrial diabéticos usando glibenclamida. Houve redução
e a captação periférica de glicose”. significativa (p<0,05) de GJ, HbA1c e colesterol
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Uso da canela na prevenção e tratamento do diabetes mellitus
foram de 120 mg a 6 g/dia (extrato aquoso ou Anand et al.18 demonstraram que o uso agudo
pó) durante 4 a 18 semanas. Houve redução por até 4 dias de C. zeylanicum em doses de 100,
significativa de GJ, CT, LDL, TG e aumento de 200 ou 400 mg/kg em ratos não induziu a morte ou
HDL comparado ao grupo controle, sem efeito mudança comportamental e não gerou mudanças
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nas funções renais ou hepáticas, como se pôde • Para efeitos na HbA1c, é necessária duração
ver através dos níveis séricos de ALT, AST, FAL, mínima de 2 a 3 meses, mas muitos dos estudos
creatinina e bilirrubinas totais. utilizaram período menor em suas metodologias.
Medagama 9, ofertando doses de 400 mg/ Como utilizar a canela na prática clínica:
kg (equivalente a 600 a 2.400 mg/kg) a adultos • Todos os estudos clínicos randomizados,
também não demonstrou riscos, parecendo o placebo-controlados, com humanos utilizaram
cinamaldeído não ter efeito tóxico mesmo 20 C. cassia. A C. zeylanicum (“verdadeira”) possui
vezes acima da dose estimada, apresentando, menor teor de cumarina, porém não foi utilizada.
portanto, margem de segurança elevada, ainda que Canela em pó foi a forma mais utilizada9;
os efeitos sejam contraditórios de acordo com as • Doses mais comuns: 500 mg a 6 g/dia, sempre
meta-análises apresentadas anteriormente. junto às refeições, podendo dividir a dose total em
A C. cassia, em doses de até 6 g/dia, não 2-3 vezes ao dia9;
apresentou evento adverso significante13. Todavia, • Decocção de canela em pau: colocar 2 a 3
em 4 ocasiões houve relato de erupção cutânea, ramos em 150-200 ml de água morna e deixar por
urticária, náusea e hipoglicemia13. A C. cassia 5 a 15 minutos; tomar 1 a 3 vezes ao dia;
possui alto teor de cumarinas9, possivelmente, • Em preparações culinárias: bebidas, vitaminas,
associado aos efeitos acima relatados. Embora os sucos, chás, cafés, chocolates, carnes, aves,
estudos clínicos com C. cassia não demonstrem canjicas, arroz doce, esfirras, quibes etc.
efeitos adversos em curto prazo (< 4 m), os riscos
com o uso prolongado são desconhecidos9. Conclusões
Considerações sobre os estudos apresentados9:
• Estudos in vitro e in vivo favorecem o uso • Canela em diabetes tipo 1: há poucos estudos,
da canela (em pó ou como extrato seco) para o sem efeitos significativos em humanos;
controle glicêmico; • Canela em diabetes tipo 2: efeitos melhores
• “N” reduzido nos estudos em animais em pacientes descompensados;
ou com humanos e as evidências conflitantes, • Canela em diabetes gestacional: não
contraditórias e heterogêneas tornam a eficácia recomendado extrapolar dados para humanos;
da canela para o diabetes questionável; • Toxicidade: baixa. Cumarinas presentes na
• O principal composto bioativo da canela ainda C. cassia podem exercer algum efeito nefro ou
não está esclarecido: parece ser o cinamaldeído, hepatotóxico em uso prolongado;
porém outros compostos têm demonstrado ação • Tempo de uso: seguro por até 4 meses,
biológica; segundo os estudos.
• Estudos utilizaram canela isolada ou associada • O uso da canela deve ser entendido como
a tratamentos convencionais, podendo causar tratamento complementar. A base da prevenção e
redução dos efeitos da canela ou competição entre do tratamento do diabetes está no estilo de vida
as ações; (sono, dieta, exercício, estresse).
• Melhora de controle glicêmico, lipidograma • A canela é uma das especiarias mais antigas e
e composição corporal foram vistas em ratos mais utilizadas na história da humanidade. Embora
diabéticos (STZ), mas não nos ratos saudáveis; os estudos sejam controversos quanto ao seu
• Em humanos, efeitos são mínimos quando o efeito terapêutico no diabetes, seu uso é seguro,
controle glicêmico está próximo do normal (GJ e seu impacto gastronômico justifica o estimulo
ou HbA1c), sendo mais significativos quando os
à prescrição
valores de baseline são mais altos;
Revista Brasileira de Nutrição Funcional
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