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Facto do Príncipe
Índice
Introdução ......................................................................................................................... 3
1. Facto do príncipe nos diferentes ordenamentos jurídicos europeus Error! Bookmark
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1.1 Ordenamento jurídico francês e o fait du prince .... Error! Bookmark not defined.
1.2 Ordenamento jurídico espanhol e o hecho del principe .......................................... 6
1.3 Ordenamento jurídico italiano e o facto do príncipe .............................................. 6
2. O paradigma nacional no que concerne à figura do facto principe .............................. 7
2.1 Suum cuique tribuere .............................................................................................. 8
3. Receção da figura do facto do príncipe no Código dos Contratos Públicos............... 10
4. Distinção da figura do fait du prince de outras figuras afins ..................................... 12
4.1 O facto do príncipe e os poderes de conformação da relação jurídico-contratual 12
4.2 O facto do príncipe e a teoria da imprevisão ........................................................ 12
5.Conceção útil e pragmática da teoria do facto do príncipe.......................................... 14
6. Hipótese real de uma eminente situação de facto do príncipe .................................... 17
7. A tutela do cocontratante da Administração aquando da modificação do contrato do
administrativo por facto do príncipe ............................................................................... 18
7.1 A reposição do equilibrio financeiro do contrato artigo 282º CCP ...................... 18
7.2 Facto do príncipe praticado por entidade à relação jurídica contratual ................ 18
8. Conclusão ................................................................................................................... 19
9. Bibliografia ................................................................................................................. 20
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Introdução
Um pequeno passo na busca de algo maior.
O tema que propus aprofundar prende-se com a modificação objetiva do contrato
por fait du prince. Esta figura surge na ordem jurídica francesa por criação jurisprudencial
no séc.XX através das “mãos” do Conceil d’Etat. Cabe por isso mesmo fazer uma breve
referência aos acórdãos onde pela primeira vez se começou a falar na modificação dos
contratos administrativos.
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O Conceil d’ Etat fixou desde logo que o risco da variação dos preços das
matérias-primas seria da responsabilidade da companhia de iluminação, fruto das
circunstancias económicas próprias do risco de mercado. No entanto atendendo ao caso
o Conceil d’Etat acabou por considerar que fruto da impossibilidade de prever o aumento,
que ultrapassou limites extremos, do preço do carvão, a compagnie generale d’ eclairage
não poderia ser responsabilizada por não lhe ser possível assegurar o funcionamento do
serviço, nas condições originalmente estabelecidas.
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O Facto do Príncipe
1. Diferentes ordenamentos jurídicos europeus
A figura do facto do príncipe é alvo de diferentes conceções quer a nível europeu
quer a nível interno, nos diferentes Estados. Neste sentido cumpre desde logo estabelecer
aquele que é o paradigma europeu em relação a figura em apreço de maneira a que, de
forma mais clara, se consiga perceber o porquê da necessidade que se procura satisfazer
neste trabalho e que consiste em atribuir a figura do facto do príncipe um conteúdo útil e
pragmático dirigido essencialmente para a vida prática, deixando de lado o plano teórico
que apesar da grande importância de que é dotado, poderia levar e levaria certamente,
como irá ser fácil de perceber, a que se considerasse esta figura como algo indeterminado
incerto e pouco proveitoso quando chamado à colação.
Badaoui sustenta que o fait du prince tanto pode ser praticado pelo contraente
público como por outras entidades publicas estranhas á relação contratual.
Benoit defende uma conceção restritiva de fait du prince afirmando só caber no seu
âmbito as operações materiais com repercussões sobre o contrato praticado pelo
contraente publico numa qualidade distinta da de contratante.
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Começando desde logo pela opinião dos Professores Drs. Freitas do Amaral e
Viera de Andrade cumpre referir que ambos entendem que a figura do facto do príncipe
diz respeito apenas e só aos atos politico-legislativos do poder soberano. No que concerne
as suas consequências apenas faria sentido falar numa indemnização integral quando o
contraente publico é o Estado. Nos restantes casos terá de dar lugar a uma indemnização
pelo sacrifício na medida em que esta implica uma compensação pelos prejuízos e não
uma reparação integral dos danos.
No que concerne ao Professor Dr. Marcello Caetano numa primeira fase do seu
pensamento verificava-se uma grande preocupação em enfocar a manutenção da natureza
contratual dos contratos sujeitos a um regime de Direito Administrativo, face ao conflito
da proclamação de um poder de modificação unilateral dos contratos administrativos com
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A Professora Dra. Maria João Estorninho entende que a figura do fait du prince
está ultrapassada, preconizando o abandono desta construção doutrinal e jurisprudencial.
O poder de a administração contratante impor a modificação unilateral do contrato ou das
condições de execução já tinha consagração legal no artigo 180º do CPA e deve ser
claramente distinguida das situações em que se verifica um agravamento contratual que
fruto de atuações publicas de carater geral que tem efeitos sobre o contrato pese embora
o não tenham diretamente por objeto. As repercussões de atos externos ao contrato devem
ser reconduzidas consoante os casos à teoria da responsabilidade por atos da função
legislativa ou à teoria da imprevisão em sede de responsabilidade contratual.
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No que concerne ao facto do príncipe este designa tão somente as medidas gerais
que resultam de uma atuação exterior ao contrato administrativo mas que causam uma
perturbação significativa da sua equação económico-financeira. O autor começa por
integrar no campo de aplicação da teoria do fait du prince todas as medidas gerais
adotadas quer pela autoridade contratante quer por outra entidade publica terceira face ao
contrato.
Neste sentido o autor acaba por distinguir no que concerne as consequências de tais
atos as situações e que os mesmos sejam praticados pelo contraente publico, dando
origem a uma indeminização pelos lucros cessantes e danos emergentes e as situações em
que os atos advenham de uma entidade estranha ao contrato, dando neste caso apenas
direito ao cocontratante o direito a requerer a modificação do contrato nos termos do
artigo 437º CC.
Em suma o autor acaba por defender uma conceção ampla mitigada do fait du prince
uma vez que por um lado engloba as medidas levadas a cabo pelo contraente publico ou
por outras entidades administrativas ou legislativas mas por outro lado não atribui aos
atos praticados por estas a consequência típica inerente à teoria do facto do príncipe, (
reposição do equilíbrio financeiro do contrato).
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Assim tudo se baseia num critério de forma: ato individual e concreto vs ato geral
e abstrato. Parece evidente que o critério de forma por si só não é suficiente para traçar
uma fronteira entre os dois institutos até porque mesmo o critério de forma apresenta
duvidas na medida em que se afigura controvertido saber desde logo se as designadas
medidas gerais ou normativas se circunscrevem a medidas que relevam do
desenvolvimento da função politica e legislativa ou se também se encontram abrangidas
medidas adotadas no exercício da função administrativa, de natureza normativa, como os
regulamentos.
Segundo o disposto no artigo 314 nº1 CCP o facto do príncipe seria concebido
como uma decisão do contraente publico adotada fora do exercício dos seus poderes de
conformação contratual que provocaria uma alteração das circunstancias em que as partes
fundarão a decisão de contratar.
Posto nestes termos aquilo que temos no Código de 2008 e que passou para o
Código de 2018, é uma teoria da imprevisão “mascarada” de facto do príncipe algo que
se deve, aparentemente, ao Professor Dr. Mário Aroso de Almeida no decurso do
procedimento de elaboração do código dos contratos públicos de 2008.
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Ora se é verdade que, como referem os Professores Doutores Marcelo Rebelo de Sousa
e André Salgado de Matos, “o facto do príncipe pode suscitar problemas idênticos àqueles
que decorrem do exercício dos poderes de modificação e resolução unilateral do
contrato” tal não quer dizer que estejamos a falar das mesmas figuras.
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É nesta lógica que em 1916 surge, aquando do acórdão Compagnie génerale d’eclairage
de Bordeux, a chamada teoria da imprevisão. No entanto não é possível confundir ou
aglutinar o facto do príncipe e a teoria da imprevisão numa só figura. O facto do príncipe
distingue-se desde logo no que concerne á fonte de onde provém, na medida em que
enquanto este tem sempre origem num ato de poder, a alteração das circunstâncias pode
decorrer de um conjunto vasto de fontes, sejam elas naturais, jurídicas ou económicas.
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A primeira ideia que deve ficar assente é a de que o facto do príncipe integra
apenas atos lícitos do poder, praticados no plano exterior a relação jurídico-contratual
pelo contraente publico no exercício de poderes gerais que titula ou por um ente publico
terceiro ao contrato e que determinam uma tutela jurídica acrescida ao cocontratante
lesado.
Posto nestes termos levaria e levou a que se entendesse que o facto do príncipe se
consubstancia num ato licito de poder que por qualquer forma afeta a relação jurídico-
contratual administrativa, levando à sua modificação ou extinção. O facto do príncipe
seria fruto de atos jurídicos praticados por entidades publicas no exercício de poderes de
autoridade, havendo até quem entendesse que em bom rigor se deveria incluir nesta
conceção também as entidades privadas no exercício de poderes públicos. Entender assim
a teoria do fait du prince levaria a que mais uma vez se acertasse em cheio com a seta no
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Assim esta figura caracteriza-se, por oposição quer aos poderes de conformação
da relação jurídico-contatual quer ao instituto das alterações das circunstancias, devido
ao facto dos atos de poder se localizarem num plano extracontratual e para além disso
serem dotados de uma incidência direta e especial sobre o contrato administrativo.
Como refere Ana Gouveia Martins “A administração não pode ficar sequestrada
dos seus poderes normativos, legais e regulamentares pelo simples facto de o exercício
do poder afetar ainda que indiretamente uma relação contratual na qual é parte, sob pena
de tal corporizar uma inadmissível renuncia genérica de poderes públicos”
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No entanto parece estranho que quando uma lei da Assembleia da República afeta
a continuação de um contrato administrativo celebrado pelo Governo se considere ser o
ato praticado pelo contraente público. Cabe considerar nestes casos que estamos perante
órgãos específicos que são autónomos e previamente incumbidos pela Constituição da
República Portuguesa de uma função estatal e que nessa medida devem ser considerados
para efeitos de aplicação da teoria do fait du prince como não integrando o mesmo ente
público, na medida em que se revela impossível reduzir tais órgão a meras unidades
funcionais.
Deve ser tida em conta a singular posição que o sujeito publico ocupa, os
conhecimentos privilegiados que detêm e bem assim a particular relação de confiança que
se estabelece com o cocontratante.
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por se encontrar em oposição com uma lei que se insere no quadro legal
superveniente.
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Estar-se-á claramente diante de uma medida geral que não tendo o contrato
celebrado pelo Governo com a Lusoponte por objeto, terá sobre o mesmo um impacto
determinante. Estaremos perante uma medida praticada pelo Governo, num plano
extracontratual, para lá das prerrogativas que titula enquanto contraente público, ao
abrigo dos seus poderes gerais de soberania politico-legislativos.
Nestes termos cumpre referir que ao abrigo do artigo 314º nº1 al a) CCP o Governo
enquanto contraente público terá de satisfazer o direito à reposição do equilíbrio
financeiro do contrato do qual a Lusoponte passará a ser titular.
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Conclusão
Com origem em França, a verdade é que as interpretações doutrinarias e
jurisprudenciais da figura do facto do príncipe são as mais variadas, tendo todas elas,
como espero ter deixado claro, os seus pontos de contacto e as suas diferenças.
Nesta exposição o principal objetivo foi demonstrar como ainda existe espaço para
esta figura no ordenamento jurídico português de uma forma autónoma. Não cabe atribuir
ao facto do príncipe um caracter obsoleto, mostra-se mais vantajoso encarar a figura de
uma perspetiva pragmática dotada de um interesse próprio e de utilidade para os juristas.
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Cumpre ainda assim deixar uma nota, numa perspetiva utópica das relações intra-
administrativas, no sentido de se apelar a um esforço comunicacional entre os diferentes
sectores da administração pública portuguesa de modo a que a politica comum levada a
cabo por todos eles permita que, cada vez mais, se assistam a menos situações que levem
a aplicação do instituto do facto do príncipe porque apenas e só nessa medida é possível
admitir que a figura do facto do príncipe se torne num instituto desatualizado. Até la
nunca deixará de ser necessária a individualização, conceptualização e adoção desta
figura, para que de forma mais correta se permita conjugar os interesses em jogo no
âmbito de qualquer relação jurídico contratual pública. Não se entendendo o problema
nestes termos, estar-se-ia a dotar os contratos públicos de um caráter pouco atrativos para
os particulares, fruto do grande risco que seria contratar com a administração pública.
Bibliografia
CLAUDIA DE MOURA ALVES SAAVEDRA PINTO, O Facto do príncipe e os Contratos
Administrativos, Almedina, Coimbra, 2013;
MÁRIO AROSO DE ALMEIDA, Teoria geral do Direito Administrativo, Almedina, Coimbra, 2016;
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MARCELLO CAETANO, Manual de Direito Administrativo, 10ª edição, vol. II, Almedina,
Coimbra, 2013;
Jurisprudência
Acórdão do Conseil D’Etat, 10 de janeiro de 1902, Compagnie nouvelle du gaz
de Deville-lès-Rouen;
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