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Além das vidas perdidas e famílias destruídas, dos feridos e de outros prejuízos
imensuráveis – ambientais, sociais e econômicos – se os ”acidentes” citados no
parágrafo acima forem aqueles que ocuparam as manchetes do nosso país nos
últimos anos, encontraremos, como denominadores praticamente comuns a
todos eles, a negligência, a imprudência, a omissão e a impunidade.
Média de um acidente aéreo a cada dois dias. Dez acidentes com vítimas fatais
em rompimentos de barragens desde 2001, de uma série de dezenas de
incidentes registrados. Uma ciclovia que ‘consegue’ desabar três vezes em três
anos. Este é o Brasil e sua “sucessão de fatos e desastres evitáveis”, nas palavras
da procuradora-geral Raquel Dodge.
Sim, evitáveis. Recente levantamento feito pelo jornal O Globo apontou que ao
menos 1774 pessoas morreram desde 2007 em acidentes aéreos, desabamentos,
incêndios e naufrágios que poderiam ter sido evitados ou, ao menos, atenuados,
se regras tivessem sido seguidas, fiscalizações fossem feitas corretamente e os
alertas, respeitados.
“Apenas” esses três aspectos do caso Brumadinho revelam e dão uma amostra
de como as coisas muitas vezes acontecem no País, com as conhecidas
consequências que, periodicamente, nos assombram.
Do outro lado, temos muitas empresas que não seguem à risca os preceitos
fundamentais de segurança nas suas operações, tampouco os princípios éticos e
de compliance que podem frear e evitar os casos de corrupção, maquiagem de
dados, entre outros desvios de conduta.
Temos ainda o Judiciário, por tantas vezes ineficiente e moroso, e que, com isso,
só faz robustecer a certeza de impunidade no meio social.
Por fim, e com papel não menos fundamental nesse contexto, temos engenheiros
e outros profissionais da área tecnológica que, por vezes, esquecem dos
princípios que estão muito claros no Código de Ética de nossas profissões,
especialmente no Artigo 8º, incisos III e IV, que dizem, respectivamente: “A
profissão é alto título de honra e sua prática exige conduta honesta, digna e
cidadã”; e “A profissão realiza-se pelo cumprimento responsável e competente
dos compromissos profissionais, munindo-se de técnicas adequadas,
assegurando os resultados propostos e a qualidade satisfatória nos serviços e
produtos e observando a segurança nos seus procedimentos”.
É sempre bom reforçar que ter ética profissional não significa, apenas, não ser
corrupto. Ser um profissional ético é ter consciência plena do seu papel social,
saber o tamanho exato de suas responsabilidades e não, simplesmente,
emprestar seu nome e assinatura a um documento. Ter ética é saber impor, sem
hesitação, seus conhecimentos técnicos, sempre que necessário, sem nunca abrir
mão deles, não importa a pressão que houver. Porque nenhum emprego do
mundo vale a consciência limpa, e dinheiro algum pode restaurar vidas perdidas.
Chega de lama.
Engª. Fátima Có
Presidente do Crea-DF