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Cristiane Cardoso
Profª. Drª do curso de Geografia da UFRRJ - Instituto Multidisciplinar
Coordenadora do Subprojeto PIBID-Geografia IM
Email: cristianecardoso1987@yahoo.com.br
I. Introdução
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determinados conteúdos poderia ser uma saída para tentar fazer da aula de Geografia
algo realmente diferente e com significado para o estudante.
A interdisciplinaridade na geografia é algo que deveria ser completamente natural,
já que é uma disciplina que para ser compreendida precisa dialogar com outras áreas do
conhecimento. Não é possível compreender um espaço sem analisar a dinâmica
climática, populacional, econômica, geológica, geomorfológica, política, histórica.
SANTOS (2002, p. 205) afirma que “as novas atividades exigem um lugar no espaço e
impõem uma nova arrumação para as coisas, uma disposição diferente para os objetos
geográficos, uma organização do espaço diferente daquela que antes existia”. Assim o
espaço é produzido pelas diferentes ações e práticas sociais dos indivíduos, que o
modificam através do trabalho e da tecnologia em função de suas necessidades sociais,
econômicas, políticas e ambientais.
Yi-Fu Tuan já em 1983 no seu trabalho Espaço e Lugar: a perspectiva da
experiência faz alusão ao emprego da Literatura pelos geógrafos dividindo o processo
em três modos. Primeiramente, sobre como é possível fazer reflexões sobre a vida e
experiência humana, juntamente com suas relações, oferecendo assim, sugestões para
compreensão do espaço social. Segundo, uma suprarrealidade que mostra as diferentes
percepções ambientais e os valores de uma cultura, oferecendo ao geógrafo, enquanto
historiador, no levantamento de ideias. Por fim, uma audaciosa tentativa de obter um
equilíbrio entre o subjetivo e o objetivo, como um modo de síntese geográfica.
Uma das contribuições que a Literatura pode oferecer ao ensino de Geografia são
os subsídios para a desconstrução da educação tradicional que ainda vigora nas aulas de
Geografia. Muitas vezes, a metodologia utilizada pelo professor ao passar os conteúdos
para os alunos é unicamente o livro didático, instrumento de trabalho presente na escola
e muitas vezes o único disponível (não que ele não seja importante, mas não pode ser o
único instrumento para o docente e discente). O livro didático é idealizado como objeto
primordial para aprendizagem. Dessa forma, os importantes conceitos geográficos
tornam-se subjetivos e apenas conceituais, pois, muitas vezes, distanciam-se da
realidade do aluno.
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Neste contexto, o professor é a voz ativa, sua posição é o de transmitir
determinados conteúdos, não dando espaço para que os alunos interajam ou reflitam
criticamente sobre os conteúdos aprendidos. O processo avaliativo também retrata esta
prática, sendo realizada através da memorização dos conteúdos. Os Parâmetros
Curriculares Nacionais (1997) abordam esta visão:
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A Geografia enquanto ciência que analisa e reflete sobre o espaço está
intrinsecamente ligada a outras ciências que também objetivam a análise do espaço. O
conceito da interdisciplinaridade contribui para realização de uma ponte entre as áreas
do conhecimento, formando um leque de opções que podem ser usados para enriquecer
o ensino, tanto metodológica como cientificamente. A interdisciplinaridade contribui
para que o aluno consiga compreender através da ligação com as outras ciências, a sua
realidade e os outros assuntos pertinentes em qualquer abordagem, seja social, cultural
ou econômica.
Assim, uma das saídas pode estar em trabalhar as disciplinas sob forma de projetos
pode ser uma saída para a escola, mas não projetos individuais, projetos integrativos
reais. Para JAPIASSU (1976, p.74): “A interdisciplinaridade caracteriza-se pela
intensidade das trocas entre os especialistas e pelo grau de interação real das disciplinas
no interior de um mesmo projeto de pesquisa”. Referente a isso, ARALDI (2000), diz
que a importância de construir um ensino interdisciplinar reside na integração do ensino
à realidade, formando alunos capazes de compreender a sociedade da qual fazem parte
como sujeitos. (ARALDI, 2000, p. 75)
A partir dessa interdisciplinaridade, o indivíduo pode ser capaz de criar
percepções sobre os lugares e paisagens que está inserido, formando laços e opiniões
sobre o espaço analisado. Portanto, cada indivíduo, a partir do lugar vivido, das
experiências e dos grupos sociais, cria símbolos e significados tornando-se um agente
ativo na construção do espaço geográfico e agentes na sua própria formação e
construção do seu conhecimento.
Dessa forma, a Literatura, por relatar os mais diversos aspectos da vida do homem,
torna-se uma importante aliada ao ensino da Geografia por também ser um caminho
para a compreensão da relação que o homem obtém com o espaço, mas precisa estar
integrada com esta disciplina.
As obras literárias são capazes de construir e compreender espaços, levam o leitor
a uma realidade distante através de narrativas que fazem com que o estudante viva
determinados espaços a partir do olhar de personagens e autores. Uma das formas de
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compreensão dos acontecimentos relatados pelos personagens do texto literário se dá a
partir do imaginário que faz ligação das imagens, lugares e paisagens com as
experiências que já foram vivenciadas pelo leitor, criando representações formadas pela
percepção social, isso porque a “[...] imaginação redimensiona as realidades, reconstrói
o mundo e a relação do ser humano com ele [...]” (ARAÚJO, 2010, p. 35)
A Literatura, enquanto descrição da relação do homem com o meio em que vive,
permite ainda que o leitor reconheça sua própria realidade, identificando-se com o
personagem. Esse reconhecimento pode ser dado em várias vertentes da vida humana,
tanto social, cultural e econômica, quanto natural. Nessa fase de aproximação do
leitor/personagem é que a percepção com o real está mais acentuada e podem ser
estudados diversos aspectos geográficos que o texto literário proporciona. Isso porque
O quadro 01 traz algumas obras que podem ser utilizadas na sala de aula.
Trouxemos duas obras para cada região do Brasil, bem como o autor, o ano de
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publicação e algumas vertentes geográficas que podem ser abordadas disciplinarmente
ou de forma interdisciplinar. Vale lembrar que as vertentes geográficas expostas no
quadro são possibilidades de trabalho, muitas outras podem ser trabalhadas, não temos
a pretensão de esgotar essa temática.
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Sul O tempo e o vento1 Erico Veríssimo 1949- O papel do homem na cultura
1962 gaúcha;
Decadência social gaúcha na
passagem para o séc. XX
causada por interesses e jogos
políticos;
Formação do estado do Rio
Grande do Sul.
Norte Marajó Dalcídio Jurandir 1947 Desafios econômicos e
democráticos do início do séc.
XX;
Estruturação social.
Norte Contos Amazônicos Inglês de Sousa 1893 Cultura (lendas e histórias) da
Amazônia;
Embates sociais e políticos do
final do séc. XIX;
Relação homem e meio
ambiente.
Centro- Poemas dos Becos de Goiás e Cora Coralina 1965 Identificação do indivíduo
Oeste Estórias mais com o local vivido;
Cultura do povo do Centro-
Oeste;
Aspecto social em relação às
lavadeiras, lavradores, crianças
abandonadas, etc.
Centro- Bem sabe Goiás da sua Miguel Jorge 2004 Paisagem de Goiás;
Oeste linguagem Importância dos rios de Goiás
para o meio ambiente.
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O tempo e o vento é uma obra que foi composta por três romances, sendo eles: O Continente, O Retrato
e O Arquipélago. A obra narra 200 anos do processo de formação do estado do Rio Grande do Sul.
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à sociedade em que vive, pois, segundo TOMITA (1999), “(...) é importante que
estimule o educando a indagar-se o porquê das coisas para o mesmo não se conformar
com a simples situação dos fatos, mas partir uma análise criteriosa com uma visão
crítica.” (TOMITA 1999, p. 13)
As contribuições que a Literatura oferece ao ensino de Geografia são múltiplas,
pois proporciona diversas atividades que ainda são pouco exploradas no ensino básico.
Assim como também, cria oportunidades de enriquecer o convívio social e tornar a
disciplina mais atrativa.
As reflexões sobre o tema da interdisciplinaridade no ensino de Geografia a partir
da contribuição da Literatura não se limitam ao atual trabalho, uma vez que nota-se a
necessidade de pôr em prática o que aqui foi pensado e desenvolvido e muitos caminhos
podem ser seguidos já que cada realidade é única e diversificada.
A importância de pôr em prática as reflexões aqui obtidas é de transformar o
aluno/leitor em um sujeito ativo socialmente, estimular o pensamento crítico acerca da
sociedade em que vive, criar percepções sobre as transformações das diferentes
paisagem do Brasil e consideramos que o relato dos textos literários pode nos auxiliar
neste processo, acentuando a compreensão do contexto em que as histórias se sucederam
e assim, entender como os espaços geográficos se criam e recriam e como se dão as
relações sociais, naturais e econômicas do local estudado. Consequentemente, tornar o
ensino de Geografia mais lúdico, crítico, reflexivo e principalmente mais atrativo.
Para isso precisamos pensar na obra literária como uma ferramenta que pode
auxiliar no desenvolvimento de um trabalho interdisciplinar real, envolvendo as diversas
áreas do conhecimento.
Por fim, estima-se que o presente artigo possa corroborar com professores que
procuram novas metodologias de ensino a partir do uso da Literatura e que os mesmos,
possam compreender a importante contribuição que a interdisciplinaridade oferece a
todos os níveis de ensino e disciplinas, principalmente, ao campo da Geografia.
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V. BIBLIOGRAFIA
ARALDI, Adriana Rosinha, e In. REGO Nelson, SUERTEGARY Dirce, HEINDRICH Álvar.
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UFRGS: Orgs. Geografia e Educação: Geração de Ambiências, 2000.
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(Coleção a obra-prima de cada autor).
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Verissimo, Luis Fernando. As Aventuras da Família Brasil. - Rio de Janeiro: Objetiva, 2005.
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