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o Carnaval em dois ou
três mundos
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Para quem quer que more no Brasil hoje, é difícil deixar de ouvir
músicas de Carnaval ou ver imagens de Carnaval o ano inteiro, sobre
tudo do Ano~novo em diante. Com a aproximação da Terça-feira
Gorda, ou de Carnaval, os jornais trazem mais notícias carnavalescas,
e cada vez aumenta a especulação sobre as relativas chances de dife
rentes “escolas de samba” vencerem a competição, muito antes de os
espectadores entrarem na Passarela do Samba no Rio ou em São Pau
lo e o grande espetáculo começar. O Carnaval é apresentado como
uma especialidade brasileira e visto como tal não apenas pela Riotur,
oórgão de turismo do Rio de Janeiro, mas também por muito^brasi-
leiros comuns.
O Carnaval não é apenas um tema de romances e filmes sobre o
Brasil, como Orfeu negro (1958), de Marcei Carné, mas também um
tema recorrente na própria cultura brasileira. O roteiro de Orfeu ne
gro foi obra do poeta Vinicius de Moraes, que adaptou sua peça Or
feu da Conceição , e a música do filme composta por Luís Bonfá e An-
tonio Carlos Jobim, mais conhecido como “Tom”. Outros exemplos
literários incluem Carnaval (1919), de Manuel Bandeira, Carnaval
carioca (1923), de Mário de Andrade, e o primeiro romance de Jorge
Amado, O país do Carnaval (1932), Algumas das melhores músicas
de Chico Buarque, Gilberto Gil e outros importantes compositores
foram originalmente compostas para determinados carnavais. Sobre
representações do Carnaval na cultura popular, basta assistir a séries
como Carnaval Duchen (Rádio e TV Record), Meu Carnaval não era
assim (TV Tupi) ou Carnaval do passado (TV Rio).
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A VISÃO DA EUROPA
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VARIEDADES DE HISTÓRIA CULTURAL
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A TRADUÇÃO DA CULTURA
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cultura africana.
Primeiro, a importância e o papel ativo de mulheres nos carnavais
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que o lugar da mulher era em geral na sacada, observando (e às vezes
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falecido Don Julio Caro Baroja, mas este não era um tema principal
do Carnaval europeu. 8
Por outro lado, no Novo Mundo, apesar da transplantação do
patriarcalismo — descrito por escritores latino-americanos, de
Gilberto Freyre a Gabriel Garcia Márquez — , as mulheres há muito
têm sido mais visíveis e ativas no Carnaval Assim, em 1826, um ofi
cial inglês em Trinidad observou que “um grupo de mulheres, tendo
se transformado em um grupo de bandoleiros, atacou-me nos meus
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A TRADUÇÃO DA CULTURA
A VISÃO DA ÁFRICA
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A dança é o lugar ocupado pelos elementos africanos no Carnaval e
em outras festividades latino-americanas. A comemoração da festa de
Corpus Christi no Brasil colonial, na província de Minas Gerais, por
exemplo, incluía carros alegóricos e danças de negros com bandeiras,
instrumentos de percussão e músicas — todos elementos a serem
encontrados mais tarde nos carnavais brasileiros. A tradição do mara-
catu, cucumbi, congada ou “reis do Congo55, a entronização de reis e
rainhas negras vestidas com fantasias deslumbrantes na festa de
Nossa Senhora do Rosário, mais uma vez em Minas Gerais, também
foram transferidos para o Carnaval.14
A transição das irmandades que organizavam essas festividades
para as sociedades carnavalescas e escolas de samba posteriores foi
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12 Alencar (1965).
54 Amuchástegui (1988), 158ff.; Ortiz (1954), 204.
14 Real (1967), xv; Meyer (1993), 161-74.
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fácil.15 As próprias irmandades provavelmente atraíam os negros * .^ v* . j . •» * . _
eram celebradas não apenas com procissões, mas com danças tradicid*
nais africanas, e combinadas com outros festejos, como a comemoraçãig
da ascensão de Afonso, rei do Congo. Embora os missionários acredi§
tassem que haviam convertido os africanos ao cristianismo, é e x tre m a i»
mente provável, no mínimo, que as pessoas do Congo se vissem
porando rituais exóticos ocidentais à religião local. A síntese ou sin d ã^ ^ ^
tismo entre as tradições do cristianismo e as africanas muitas vezes
observada nos casos do Brasil e Cuba já havia começado na próprill^^,
África.17 Por trás desses rituais, é possível às vezes vislumbrar elememlISl-1
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19 Real (1967), xvi-xvii; Fry (1988), 232-63; Risério (1981), 13, 17.
20 Ranger (1975), 34, 167ff.
21 Backman (1952).
22 Fortes (1987), 51.
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A TRADUÇÃO DA CULTURA
27 Bastide (1958), 248; Real (1967), 57; Risério (1981), 12, 52, 55-6.
28 Landes (1947), 71ff., !42ff.
29 Real (1967), 67.
30 Bastide (1958), 194. Sobre umbanda e Carnaval, DaMatta (1978), 136.
31 Harley (1950); cf. Sieber (1962).
32 Hil! (1972), 12.
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A TRADUÇÃO DA CULTURA
AS TRAJETÓRIAS DO CARNAVAL
3» Soihet (1993).
*9 Drewal (1989), 225; Baroja (1965), 174.
4» Real (1967), 58; Hanlon (1993), 155.
^ Ortiz (1952).
42 Burke (1978), 178ff., 207ff., 270f£, 281f£; cf. Pereira (1994), introdução.
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A TRADUÇÃO DA CULTURA
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VARIEDADES DE HISTÓRIA CULTURAL
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Unidade e variedade na
história cultural