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planejamento urbano
em Campo Grande
e a criação do
Planurb
ISBN 978-85-909782-1-3
Campo Grande
Mato Grosso do Sul
2012
EDIÇÃO DO AUTOR
Raízes do planejamento urbano
em Campo Grande e a criação do Planurb
Ângelo Marcos Vieira de Arruda
Capa:
Gutemberg Weingartner
Revisão linguística:
Lúcia Helena Paula do Canto
Diagramação e editoração eletrônica:
Marília Leite
Finalização de imagens e de arquivos:
Lennon Godoi
Fotolito, impressão e acabamento:
Gibim Gráfica e Editora
Fotos:
Acervo Planurb,
Acervo Arca,
Arquivos do autor e
demais créditos referenciados
O livro que você vai ler conta a história da criação desses dois organismos
públicos municipais e para que essa história fosse bem contada, cuidei de pro-
cessar uma visão mais abrangente da cidade, de sua trajetória no planejamento
e, com esse olhar mais 360°, acabei construindo uma trajetória do planejamento
urbano em Campo Grande, e dei o nome de Raízes do Planejamento Urbano
em Campo Grande e a Criação do Planurb.
Durante anos, acalentei vontade de escrever este livro. Mas nunca fui in-
fluenciado. Sempre achei que outro poderia escrevê-lo. Até que um dia algo
aconteceu. E o que aconteceu foi ter somado 1987 com 25 e a conta ter dado
2012. Aí pensei. O Planurb que ajudei a criar completa 25 anos de fundação em
2012. Logo, é chegada a hora de fazer pesquisa e escrever algo.
Sérgio Zaratin
Arquiteto e urbanista e consultor da
Unidade de Planejamento Urbano de Campo Grande
em 1987 e 1988
Prefácio 5
Introdução 23
Introdução 23
mistocles Paes de Souza Brazil ajudado por Leonel balho de demarcar terras na fronteira, teve contacto
Velasco. Na prática, o rossio da época equivale ao com tribos indígenas e pôde dedicar-se a pesquisar
termo hoje conhecido como Perímetro Urbano de os seus costumes descritos em livro, com desenhos
Campo Grande. O que foi aprovado e demarcado em bico de pena, publicado em 1936, na coleção
no começo do século, 6.540 hectares, é equivalente a “Brasiliana”, editado pela Companhia Editora Na-
18% do atual perímetro de 2012, e quando a cidade cional com o título “A vida entre os índios guaicu-
só tinha 1.200 habitantes. rus”, tomo 60.
O rossio de 1910, já era suficiente para abrigar Contudo, quem acabou elaborando o projeto
a população de 2010, que era de 786 mil habitantes da planta de Campo Grande foi o primeiro enge-
segundo a Fundação Instituto Brasileiro de Geogra- nheiro que residiu por aqui: Nilo Javary Barém, for-
fia e Estatística (FIBGE). mado em agronomia no Rio Grande do Sul – pro-
vavelmente na Escola de Agronomia e Veterinária
de Porto Alegre –, contratado pela Intendência em
A Planta Urbana de 1o de junho de 1909, passando a ser, também, o pri-
Campo Grande e o rossio meiro engenheiro servidor público. Apesar de di-
plomado em agronomia, Nilo Barém era perito em
agrimensura e em construções rurais, advindas de
No início de 1909, o engenheiro francês Emílio
sua formação na escola superior, o que lhe permitiu
Rivasseau esteve na vila. Era um agrimensor que
atuar como projetista e demarcador de terras.
prestava serviços à Companhia Matte Larangei-
ra, desde 1894, na fronteira com o Paraguai e que Com as reviravoltas políticas e com o entra e
se ofereceu ao Intendente municipal para os ser- sai de alguns intendentes no início do século XX,
viços de elaboração de um plano de alinhamento Nilo Barém chegou, inclusive, a ocupar o cargo de
das ruas. Rivasseau não elaborou a planta da Vila, Intendente municipal entre os meses de setembro e
embora desde 1906 houvesse uma autorização da outubro de 1910. Seu grande trabalho foi elaborar
Câmara para contratar os serviços profissionais, os rumos urbanísticos para Campo Grande, que, até
mas fez vários levantamentos nas propriedades ru- aquele momento, não dispunha de nenhum traçado
rais circunvizinhas e desenhou muitas plantas de de ruas. Na função de engenheiro municipal,
antigas divisões e demarcações de terras em Mato responsabilizou-se, também, pela aprovação de
Grosso, sendo, inclusive, de sua autoria um dos pri- projetos e expedição de alvarás de construção, na
meiros mapas da parte sul do Estado de Mato Gros- seção de engenharia, entre os anos de 1909 e 1920.
so, em 1919, e uma definição cartográfica da região Seu Plano de Alinhamento de Ruas e Praças
do Nabileque onde viviam os índios Guaicuru. de Campo Grande foi aprovado em 18 de junho de
Emílio Rivasseau trabalhou em Mato Grosso 1909, pela Resolução no 21, da Câmara de Vereado-
de 1890 a 1920 e foi funcionário da Repartição de res, cujo texto de denominação das ruas foi apre-
Terras, Minas e Colonização do Estado. Por seu tra- sentado pelo vereador José Vieira Damas. A planta
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rancado); à oeste, até o Bairro Amambay (quartéis) trouxe grandes novidades para Campo Grande, em
e ao sul, pouco após o Córrego Prosa. termos urbanísticos: dividiu a cidade em zonas de
construção, criou a Zona Central ou Comercial, a
Com o rossio implantado, a cidade foi se estru-
Industrial, a Residencial e as Zonas Mistas.
turando com edifícios públicos, instalações milita-
res (quartéis, hospital) e, em 1921, foi aprovado um A questão do parcelamento do solo foi tratada
novo Código de Posturas contendo requisitos urba- em seu artigo 7o quando determina a testada míni-
nísticos importantes, tais como: a continuidade de ma do lote em 12,00 m e a profundidade de 30,00
vias com a mesma faixa de domínio e o primeiro m, exceção para a área central, que poderia ser de
bairro de Campo Grande – o Amambaí, interligan- 10,00 m (na região central as subdivisões de lotes,
do o sítio urbano aos quartéis do Exército, que se antes desta lei, eram de 20,00 m, no mínimo). A ori-
instalaram na parte oeste da cidade. gem do padrão do lote de 12x30 m de Campo Gran-
de data, portanto, de 1941.
A Resolução no 43, de 27 de abril de 1921, pro-
mulgada por Arlindo de Andrade Gomes, Inten- Mais importante que o tamanho do lote é o
dente municipal, estabeleceu o Código de Posturas que está escrito no parágrafo segundo, do Art. 9o:
do Município. “nos arruamentos deverão ser observados as áreas
de 20% (vinte por cento) para ruas e 20% (vinte por
cento) para as praças e jardins”.
Os projetos do Como no final da década de 1930, além das
Escritório Saturnino de Brito quadras originais de 1909 só havia o Bairro Amam-
baí (década de 1920) e o Cascudo (1936), atual São
Foi com o Escritório Saturnino de Brito, con- Francisco, esse dispositivo foi importante para re-
tratado para elaborar projetos de saneamento bási- gular as áreas de praças dos loteamentos aprova-
co, que a cidade, no final da década de 1930, já com dos de 1941 até a década de 1970.
mais de 20.000 habitantes, possuiu seu primeiro
plano de uso do solo, ao lado do planejamento de
expansão da rede de água e de esgotamento. 1948: marco do planejamento
Por força da Lei federal de 1937 e pelas dire- democrático e participativo
trizes do trabalho de Saturnino de Brito, em 1941,
é editado o Código de Obras da cidade, que deter- É de 1948 – com a aprovação da Lei municipal
mina o primeiro zoneamento dos usos e diretrizes no 24, de 6 de abril, assinada por Fernando Correa
para loteamento. Esse dispositivo legal foi aplicado da Costa –, a data de criação da Comissão do Plano
a todos os empreendimentos da cidade até o final da Cidade de Campo Grande, com várias atribui-
da década de 1960. ções, dentre elas, “elaborar o Plano Diretor para o
O Decreto-lei no 39, de 31 de janeiro de 1941, desenvolvimento e melhoramento da cidade” e “fi-
assinado pelo Prefeito Eduardo Olímpio Machado, xar as condições de loteamentos de terrenos para a
Introdução 27
água da cidade (a atual Guariroba); propunha uma coletiva, de todos os moradores, para se transfor-
reserva onde atualmente se localiza o Parque dos Po- mar em um comércio de índices e de manchas urba-
deres (Parque do Leste); e criava o Núcleo Industrial. nas. Mudar a legislação para atender empresários
Do ponto de vista da política urbana, o PDDI, que queriam instalar seus empreendimentos em
apesar de burocrata e de ter sido elaborado sem a área cuja lei não permitia, era fato corriqueiro na
participação popular, pode ser considerado progres- década de 1980, quando a cidade explodia, em ter-
sista, pois propunha uma lei de uso do solo urbano mos de crescimento demográfico, por conta da sua
baseada nos princípios da normatização por zonas nova condição de capital.
de uso; uma nova legislação de parcelamento do
solo urbano que passou a exigir infraestrutura básica
nos empreendimentos de loteamento e outros. PLANURB e o CMDU: 1987
Todas essas propostas viraram texto legal con-
A cidade de Campo Grande assistiu, durante
tido na Lei municipal no 1.429, de 24 de janeiro de
muitas décadas, à elaboração de leis e normas urba-
1973, e suas alterações posteriores.
nísticas, especialmente de uso, ocupação e parcela-
O arquiteto paranaense Jaime Lerner que, como mento do solo, sem que houvesse a participação da
Prefeito de Curitiba e ex-diretor do Instituto de Pes- comunidade técnica nem da empresarial, política
quisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), ou popular.
tinha levado a cabo, naquela cidade, propostas urba-
nas que a grande imprensa divulgou como exitosas, O processo de planejamento ocorrido foi pu-
veio a Campo Grande, em 1977, a convite do prefeito ramente tecnocrático: contratava-se uma empresa
da época, engenheiro Marcelo Miranda Soares, e ela- para elaborar planos para a cidade crescer e se de-
borou um Plano de Diretrizes de Estruturação Urba- senvolver calcada nos ideais obreiros da época: pla-
na de Campo Grande, que contemplava a prioridade nos havia para dar sustentação às obras que seriam
no uso do solo combinado com um sistema viário e executadas com dinheiro público, a fundo perdido.
de transporte urbano por meio de corredores, que Nessa lógica, não havia necessidade de um ór-
resultou na Lei no 1.747 de 29 de maio de 1978. gão de planejamento urbano para pensar e repensar
Lerner elaborou uma proposta com a partici- a cidade; não havia a necessidade de construir um
pação de alguns arquitetos locais que à época tra- corpo técnico voltado para a formação em planeja-
balhavam no setor público, mas, o município não mento público. Dessa forma, se não havia planeja-
possuía, ainda, um órgão de planejamento urbano mento urbano municipal, não havia também diretri-
que pudesse acompanhar e monitorar a execução zes para loteamento, grandes edificações e outras.
das propostas, o que acarretou modificações seto- A cidade foi crescendo e, sem acompanha-
riais na supracitada lei, todas com a finalidade de mento ou monitoramento para corrigir as distor-
alterar o zoneamento, considerado rígido e implan- ções geradas pelas normas urbanísticas, mudanças
tado por meio de obras públicas. foram feitas na legislação, atendendo a interesses
A ocupação do solo urbano da capital de Mato já citados. Ao mesmo tempo, já na década de 1980,
Grosso do Sul foi deixando de ser uma atividade os índices de crescimento demográfico batiam nas
Introdução 29
Ao alto, Rua 13 de Maio com
primeiras instalações de
comércio (década de 1910).
Reprodução: Album Graphico do
Estado de Matto-Grosso.
Antecedentes históricos
1. A data de fundação de Campo Grande deveria ser 21 de junho de 1872 e não a comemo-
rada em 26 de agosto de 1899.
2. Esta Praça, antes de sua atual denominação, era chamada de Praça Municipal ou Jardim Público e depois Praça da Liber-
dade.
3. Havia ainda Corumbá (1850), Paranaíba (1857), Miranda (1871), Nioaque (1890) e Coxim (1898).
Naquela década, as
edificações existentes na
Vila se localizavam ao
longo de uma viela – a
atual Rua 26 de Agosto
Ao alto, detalhe da planta original do rossio de 1910 de –, chamada de Rua Velha, construídas em taipa,
Themistocles Paes de Souza Brazil. Acima, planta do usando madeira da região, com apenas um pavi-
Plano de Alinhamento de Ruas de Campo Grande mento. Rústica, a arquitetura evidencia sua época e
de 1909 de Nilo Javary Barém.
as condições sociais de seus habitantes.
Fonte: Arquivo Histórico de Campo Grande (Arca).
Após o início das obras militares, a adminis- A curta Resolução, aprovada em 1o de dezem-
tração sentiu a necessidade de instalar as unida- bro tinha a seguinte redação:
Ao lado, planta de
Campo Grande de 1922.
Na página 37, reprodução
da planta do Bairro
Amambaí de 1921.
Arquivo: Ângelo Arruda.
4. Essa Resolução, base jurídica e urbanística de criação do bairro Amambaí, encontra-se no livro de Atas no 4 da Câmara
de Vereadores.
5. Camillo Boni (1889-1974), filho de Domenico e Rita Boni, nasceu em 21 de agosto, na cidade
de Moderna, Itália, e em 1909 diplomou-se como perito em Agrimensura, Arquitetura e Enge-
nharia no Reggio Instituto Técnico Jacoppo Barozzi. Aos 25 anos de idade foi convocado para
lutar na Primeira Guerra Mundial e, depois de terminada a batalha, casou-se com Dina Dolfi
Boni (1879-1929) e transferiu-se para o Brasil, tendo chegado a São Paulo em 1918. Após resi-
dir um ano na capital paulista, fixou residência em Campo Grande. Na condição de italiano,
fez diversos contatos com padres da Missão Salesiana de Mato Grosso, tendo recebido como
encomenda de trabalho, projetar a Catedral de São José, igreja matriz da cidade, no terreno
hoje ocupado pela Praça do Rádio Clube, que acabou não sendo construída. Esse foi seu pri-
meiro projeto em Campo Grande, uma catedral em estilo neogótico, com torre central e duas
entradas laterais. Em 1921, Boni foi convidado a assumir a função de engenheiro municipal e
de Chefe da Seção de Engenharia da Intendência municipal, órgão responsável pelo controle
de obras públicas e de aprovação de projetos, na gestão dos prefeitos Arlindo de Andrade Gomes e Arnaldo Estevão de
Figueiredo. Durante toda a sua gestão, promoveu uma grande revolução na cidade de Campo Grande. Só saiu da cidade
em 1938, a convite da Congregação dos Padres Redentoristas Americanos para assumir a construção de obras religiosas nas
cidades interioranas de Aquidauana e Bela Vista. No ano em que assume essa função, estava iniciando as obras de constru-
ção dos quartéis militares e, assim, Boni teve bons contatos com os profissionais encarregados pela obra, da Construtora de
Santos, principalmente Armando de Arruda Pereira, engenheiro chefe do escritório em Campo Grande. No ano de 1934,
obteve do CREA/SP a licença no 1.665, para exercer a profissão de Arquiteto e de Construtor, já que seu curso técnico de
Modena não era superior pleno. (Foto de Camillo Boni - Arquivo: Ângelo Arruda)
6. Fonte: Arquivo Histórico de Campo Grande, livro de correspondência da Prefeitura de Campo Grande: Correspondências
expedidas, ano de 1937.
7. Nomes constantes das cartas endereçadas pelo Prefeito de Campo Grande. No caso de F. Saturnino de Brito Filho, o en-
dereço do escritório constante da Carta era: Rua Mauá, 7 - salas 1516 e 1517 - Rio de Janeiro.
8. Antônio Lopes Lins, em seu livro Eduardo Olímpio Machado: o homem, o meio e seu tempo, afirma que ao chegar à Caixa
Econômica Federal, agência centro do Rio de Janeiro, o Prefeito de Campo Grande foi orientado a contratar os serviços do
Escritório Saturnino de Brito, pela sua tradição em fazer tais serviços para diversas cidades brasileiras.
9. Os sócios eram: Fernando Geraldo Saturnino Rodrigues de Brito, arquiteto formado em 1934 pela Escola Nacional de
Belas Artes que trabalhou com Luís Nunes, no DAU em Recife, em 1934 e tinha carteira CREA 2.284/D. Já Francisco Rodri-
gues Saturnino de Brito Filho era engenheiro civil e de minas, formado em 1931, na Politécnica do RJ, carteira CREA 587/D.
13. Desde 1905, a cidade já tinha normas urbanísticas expressas em Código de Posturas, mas nenhuma delas tratava do zonea-
mento da cidade. O zoneamento como função surge nos anos de 1930, após a Carta de Atenas do CIAM de 1931.
Em outubro de 1977, Mato Grosso foi dividido A cidade, como capital do novo Estado, desen-
por lei complementar federal e criado o Estado de volveu-se em uma enorme velocidade. Com taxa
Mato Grosso do Sul. A instalação da nova unida- média geométrica de crescimento de 8% ao ano, a
de federada deu-se em janeiro de 1979. Esse fato população dobrou, mais uma vez, de uma década
político alterou as relações econômicas, sociais e para a outra, atingindo mais de 250 mil habitantes,
culturais da nova capital, Campo Grande. A atra- e apresentando fluxo migratório interno e externo
ção pelo novo Estado, fonte de riqueza, pela soja intenso, aumentando a pressão no setor habitacio-
e pelo gado, centro do poder político estadual e nal e nos serviços públicos. Empresas de construção
de localização estratégica em relação a São Paulo, civil se instalaram; a nova legislação urbanística e
trouxe mudanças nas relações empresariais locais e de edificações, então em vigor, limitou, entre outras
migrantes das mais variadas regiões. coisas, o gabarito dos edifícios em 12 pavimentos.
Ao lado,
Rua Cândido Mariano,
sentido centro-bairro
(década de 1970).
Acervo: Arquivo Histórico de
Campo Grande (Arca).
14. Analisando os documentos da época, não encontramos citação dos nomes dos membros dessa Comissão.
15. O arquiteto carioca Harry James Cole se formou na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Brasil, no Rio de
Janeiro, em 1954, e trabalhou como arquiteto e urbanista até 1980. Cole fez um curso de especialização em planejamento
urbano na Inglaterra e nesse período também trabalhou no Departamento de Arquitetura do London County Council. Essa
experiência marcou profundamente seus trabalhos profissionais, que apresentam fortes ressonâncias do urbanismo inglês.
Atuando profissionalmente no Brasil, Cole foi partícipe de importantes acontecimentos no campo do planejamento urbano
no Brasil entre 1957 e 1973, como a construção de Brasília, a implementação dos planos de desenvolvimento integrado e
a concepção do Programa Cura, além de ter elaborado inúmeros trabalhos urbanísticos em seu escritório, o HJ Cole Ar-
quitetos + Associados S/C Ltda. até o final dos anos de 1970. Fonte: Tese de Doutorado Maria Cecilia Lucchese, Escola de
Engenharia de São Carlos USP 2009
Durante esse tempo, de 1979 a 1985, a Câmara Acima, reprodução da capa do projeto
de Vereadores, mais uma vez, autoriza o Poder Exe- Estrutura Urbana de Campo Grande.
cutivo a criar o órgão de planejamento da cidade. Em Arquivo: Ângelo Arruda.
nicipal e, desse evento, germinaram diversas propos- Os novos vereadores eleitos em 1982, espe-
tas importantes, dentre elas, a necessidade imperiosa cialmente Juvêncio César da Fonseca, Fausto Matto
de criar o órgão de planejamento urbano da cidade. Grosso e Américo Nicollati, elegeram como priori-
dades de seus mandatos, as questões urbanas e fun-
Vivia-se um período de transição entre o fim
diárias da cidade e, com isso, havia espaço para dis-
da ditadura militar e o processo de redemocrati-
cutir a criação de um organismo municipal que se
zação, que acaba sendo instalada em 1984 com a
responsabilizasse pelo planejamento urbano, visto
vitória de Tancredo Neves para a Presidência da
que ainda não havia uma estrutura municipal en-
República. A cidade recém-instalada como capital
carregada de estudar, pesquisar e planejar a cidade,
do mais novo Estado do país, Mato Grosso do Sul,
com todos os problemas urbanos.
sofria com a urbanização desenfreada, a criação de
favelas por toda parte e a inconsequente alta dos Uma oportunidade de criar o órgão de pla-
preços dos imóveis, fruto, de acordo com o merca- nejamento urbano surgiu quando da discussão e
do imobiliário, do engessamento urbanístico pro- aprovação da legislação de favelas (Lei municipal no
vocado pela aplicação da lei de uso do solo em vi- 2.223/1984, que criava o Programa de Regularização
gor, desde 1978, a Lei municipal no 1.747/1978. e Assentamento de Favelas) e um artigo foi incluído
como emenda desses vereadores que pleiteavam a
Ocupação de áreas privadas e públicas por fa-
criação do Planurb em 1984, quando era Prefeito o
mílias em busca de oportunidades de emprego e mo-
pecuarista Lúdio Martins Coelho. A classe política
radia, geralmente migrantes da zona rural ou de ou-
culpava o surgimento de favelas em Campo Grande
tros estados; ônibus superlotados sem uma política
pela ausência de uma política urbana.
de transporte urbano; mais de 80 mil lotes vazios em
contraste com uma imensidão de glebas vazias no pe- Mas foi o vereador Fausto Matto Grosso que,
rímetro urbano; défice de salas de aula e de unidades por meio de emenda ao Projeto de lei no 19, de 31
de saúde, dentre outros problemas, eram o retrato de de agosto de 1984, do Poder Executivo, propôs uma
Campo Grande em 1982, quando das eleições gerais. reformulação da estrutura básica da administração
17. Os trabalhos que foram realizados por essa equipe constam do Capítulo 4.
Em Campo Grande, a comunidade técnica era Mas o decreto de sua criação deixava bem claro
muito expressiva nas entidades que funcionavam que a autonomia do Poder Executivo estava garan-
naquele ano de 1987: a Associação de Engenheiros tida, pois a conveniência ou não de usar o parecer
e Arquitetos de Campo Grande; o Instituto de Ar- do CMDU para as propostas da administração era
quitetos do Brasil, Seção Mato Grosso do Sul; e a do Prefeito Municipal e com isso estavam preserva-
Associação dos Geógrafos do Brasil, Seção de Mato das as relações de poder e as relações sociais. Para
Grosso do Sul. Poucos profissionais estavam inte- a administração municipal, os pareceres do CMDU
ressados na discussão, mas havia sempre muito es- deveriam servir de subsídios para o aperfeiçoamen-
paço para proposições. to dos projetos e das ideias que começavam a brotar
sobre os problemas urbanísticos em geral.
O CMDU foi criado com uma composição de
O CMDU Plenário bastante interessante: a sociedade civil or-
ganizada era majoritária, ou seja, do total de 18 con-
O CMDU foi criado como órgão de natureza selheiros, as entidades indicavam 13.
consultiva e esse era um ponto de partida na sua O Prefeito Municipal era sempre o Presiden-
construção: seu papel na administração e suas re- te desse Conselho e havia a escolha de dois cargos
lações com o poder legislativo municipal. Tudo em para ajudar em sua estruturação: o 1o e o 2o secretá-
1987 era novo e, apostar em um conselho deliberati- rios, eleitos por seus pares em Plenário. Cada con-
vo no ato de sua criação, era arriscar demais e abrir selheiro indicado como titular deveria ter sempre
fendas com os vereadores que deveriam enxergar um suplente, para substituí-lo em suas faltas e im-
esse novo organismo como um aliado do processo pedimentos, com mandato de apenas um ano, ga-
de debates sobre os problemas da cidade. rantida a recondução.
18. As entidades sociais nos movimentos urbanos, que contribuíram de forma destacada no processo de resistência e derru-
bada da ditadura militar, durante as décadas de 1960 e 1970. Período esse, em que os direitos civis foram fortemente restrin-
gidos, e as organizações sociais foram proibidas de atuar politicamente. Tal proibição abriu espaço para que as Associações
de Moradores servissem como forma de atuação política e iniciassem importantes processos de luta, buscando conquistar
melhores condições de vida, a volta ao estado de direito, com a correspondente liberdade de expressão e prática cotidiana
da democracia. (BASSUL, 2005).
Entretanto, o Plano foi iniciado, debatidas suas Cálculos de áreas estimativas foram realizados
diretrizes do Plano de Massa e não foi concluído. e, após esse levantamento de campo de 1987, pas
No decorrer do processo de sua construção, diver- samos a conhecer a cidade melhor. Com esses da-
sas entidades do CMDU afirmavam e confirmavam dos, surgiam as primeiras ideias dos novos espaços
a prioridade de rever a legislação de uso e de ocu- urbanos, indicados na Tabela 1 (página seguinte).
20. Essa ação chegou a ser criticada por alguns técnicos e por setores da cidade. Mas depois a história comprova que foi
uma decisão acertada, pois a Lei de Uso do Solo acabou conferindo à cidade um conjunto normativo que deu fôlego para a
elaboração do Plano Diretor em outras bases urbanísticas. Ver Ebner (1999) e Yonamine (2005).
Reprodução
de capas dos
trabalhos
pioneiros.
Arquivo:
Ângelo Arruda.
21. Participaram desse trabalho todos os técnicos do Planurb e da Semur, coordenados por Ângelo Marcos Vieira de Arruda
e Maria Lucia Torrecilha.
22. A Lei no 1.747, de 1978, foi elaborada sob consultoria do Escritório Jaime Lerner em 1977.
Ao lado, vista
panorâmica da cidade.
Arquivo: Gutemberg Weingartner.
Fonte: Planurb
Regiões Urbanas
Variáveis Campo
Grande Total Centro Segredo
No final de 1877, ele e outros moradores cons- Ainda na mesma década, a parte oeste da re-
troem a primeira igreja da vila e, nessa época, a gião centro inicia sua urbanização com a implanta-
atual Rua 26 de Agosto, antiga Rua Velha (primeira ção do bairro Amambaí, projetado pelo engenheiro
rua da vila), começa a ser ocupada pelos migrantes italiano Camillo Boni. Com a ferrovia NOB, chegam
oriundos de várias partes. A vila cresce rapidamen- imigrantes de todas as partes, principalmente ára-
te, impulsionada pela crescente economia do gado. bes, italianos, espanhóis e portugueses. Os primei-
Em 1905, a Intendência Municipal aprova o primei- ros se estabelecem na Rua 14 de Julho em ativida-
ro Código de Posturas da cidade. Em 1909, a pedido des comerciais. Os demais, em sua maioria, eram
do Intendente Municipal, o engenheiro agrimensor construtores e contribuem para edificar a cidade.
Nilo Javary Barém elabora a primeira planta urba- Nos anos de 1930, já com 25 mil habitantes, Campo
na da vila, denominada Plano de Alinhamento das Grande apresenta um enorme crescimento, desper-
Ruas e Praças, criando os quarteirões centrais des- tando no governo estadual, com sede em Cuiabá,
de a Rua Dom Aquino até a Rua 26 de Agosto (Nor- grande interesse em promover mais investimentos
te-Sul) e da Av. Calógeras até a Rua Arthur Jorge na região. Obras de pavimentação asfáltica e drena-
(Leste-Oeste). Estava configurada, assim, por meio gem e a construção de equipamentos urbanos trans-
de uma planta urbana, a cidade de Campo Grande. formam a paisagem da cidade. No final da década,
Logo depois, chega a ferrovia Noroeste do Brasil, vários edifícios são construídos: os cines Alhambra
em 1914, e, com o fim da Primeira Guerra Mundial, e Rialto, o edifício José Abrão (atual Hotel America-
a cidade cresce econômica e demograficamente. no), a Igreja Matriz de São José, dentre outros. Com
2 A Região Urbana do Segredo dade Católica Dom Bosco (UCDB), está implantada
na região.
Situada na par- Cortada pelo Córrego Segredo – e este é o mo-
te norte da cidade, tivo de seu nome – a região possui atrativos natu-
possui uma estrutura rais de grande beleza, com a presença de nascentes
urbana marcada por desse córrego, com destaque para a área do Jardim
usos tradicionalmen- Botânico – com 179 hectares, instituída pelo Decre-
te rurais – chácaras de to estadual n° 7.119, de 17 de março de 1993 – e para
recreio ou de produ- a reserva ambiental de propriedade do Ministério
ção de hortifrutigran- do Exército localizada ao lado da Rua Marques do
jeiros destinados ao Herval, conhecida como corredor da Nova Lima.
Nos anos de 1980, com a construção do conjun- Na área ambiental, a região do Bandeira abri-
to habitacional Moreninhas, com 4 mil casas popu- ga a Lagoa do Itatiaia, localizada no bairro de mes-
lares, a região do Bandeira atinge seus limites ao sul, mo nome, um dos mais expressivos ecossistemas
tendo, inclusive, que aumentar o perímetro urbano de Campo Grande e que está declarada, no Plano
da cidade para atender essa situação. As Moreni- Diretor, como área especial de Interesse Ambiental,
nhas, durante muito tempo, foi considerada uma re- além das nascentes dos córregos Bandeira, Bálsamo
gião-problema em termos urbanos. Com seus mais e Lageado, inclusive com a presença da estação de
de 20 mil moradores é, isoladamente, maior que a tratamento de água que abastece parte da cidade de
maioria dos municípios do Estado. Apesar desse Campo Grande.
JUVÊNCIO CÉSAR DA FONSECA, PREFEITO MU- a convivência democrática, o avanço social e político, a
NICPAL DE CAMPO GRANDE, CAPITAL DO ESTADO melhoria da qualidade de vida da população;
DE MATO GROSSO DO SUL, no uso das atribuições que lhe II. vincular as ações dos diversos órgãos da Administra-
confere o artigo 89, inciso I, cominado com o § 2º do artigo ção Municipal a política e planos estabelecidos de forma
69 da Lei Complementar nº 07, de 20.11.81 (Lei Orgânica dos integrada, considerando suas repercussões mútuas e seu
Municípios), promulga a seguinte lei: impacto sobre a estrutura territorial do Município e o
meio-ambiente;
III. promover as medidas necessárias à cooperação e ar-
TÍTULO I ticulação da atuação municipal com a dos demais níveis
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS de governo;
IV. assegurar a ampla discussão das políticas, diretrizes
CAPÍTULO I e planos municipais, segundo as normas estabelecidas
DOS OBJETIVOS nesta lei;
V. estimular e garantir a participação da comunidade nas
Art. 1º – Para os efeitos desta lei, compete à Administração tomadas de decisão sobre o desenvolvimento e organiza-
Municipal, atendendo as peculiaridades locais e as diretri- ção territorial e espacial do Município;
zes federais e estaduais: VI. preservar e valorizar os recursos naturais, os elemen-
I. promover o desenvolvimento municipal através de tos do acervo cultural e o patrimônio histórico, artístico e
um processo de planejamento permanente, objetivando ambiental do Município;
Nasceu em Penedo, AL, em 1957. Estudou Arquitetura Grande e Secretário de Finanças da Abea. Foi Vice-Presiden-
e Urbanismo na Universidade Federal de Pernambuco onde te da Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA)
se graduou em 1979. Em 1980, mudou-se para Campo Gran- e membro da FNA na Confederação Nacional dos Profis-
de e trabalhou dois anos com o arquiteto Jurandir Santana sionais Liberais (CNPL). É membro do Instituto Histórico e
Nogueira e desenvolveu mais de 50 projetos, dentre eles, Geográfico de Mato Grosso do Sul, do Conselho Curador da
como coautor, o da Assembleia Legislativa e do Tribunal de Fundação Contar. Foi Assessor Técnico de Arquitetura da
Justiça do Estado, obras do conjunto arquitetônico do Par- Casa da Memória Arnaldo Estevão de Figueiredo; do Con-
que dos Poderes. selho Regional do Centro de Campo Grande e Secretário-
Em 1983, iniciou a carreira docente no Curso de Ar- -Geral da organização não governamental Ferroviva.
quitetura do Centro de Ensino Superior Plínio Mendes dos Foi Presidente da Federação Nacional dos Arquitetos
Santos (Cesup), ministrando aulas de Projeto e montou es- e Urbanistas, de 2004 a 2010; mestre em Arquitetura pela
critório em sociedade com a arquiteta Denise de Moraes. Em Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), dou-
1984, assumiu a Diretoria-Geral da Secretaria de Planejamen- tor em Educação pela UFMS e professor pesquisador dessa
to e Coordenação Geral de MS. Em 1987, fundou e assumiu Universidade, no Curso de Arquitetura e Urbanismo.
a Diretoria Executiva da Unidade de Planejamento Urbano É autor dos livros “Parcelamento do Solo Urbano em
de Campo Grande (Planurb) e desenvolveu, com sua equipe, Campo Grande: visão crítica e roteiro legal”; “Arquitetu-
a nova legislação urbanística da cidade de Campo Grande. ra em Campo Grande”, com Gogliardo Vieira Maragno e
Em 1989, assumiu a função de Secretário-Adjunto de Mário Sérgio Sobral Costa; “Almanarq: dicas úteis para os
Trabalho de MS e, em 1990, trabalhou na área de turismo arquitetos e urbanistas”, com Kelson Senra e Eneida Hoelz;
do Estado. Em 1993, fundou o Sindicato dos Arquitetos de “Arquitetura e Urbanismo em Campo Grande na Década de
MS, sendo seu primeiro presidente. Naquele ano, voltou a 30”; “Pioneiros da Arquitetura e da Construção em Campo
ministrar aulas no Curso de Arquitetura na cadeira de Pla- Grande”; “FNA 25 Anos de Luta”; “Plano Diretor de Tere-
nejamento Urbano e Regional. Em 1994, fundou a empresa nos: a voz da comunidade no planejamento de uma cidade
Atelier de Arquitetura S/C Ltda. em sociedade com Gogliar- de pequeno porte” e “Experiências em Habitação de Interes-
do Maragno, que foi fechada em 2003. se Social no Brasil”, com Yara Medeiros; “Campo Grande:
É autor de vários projetos, dentre eles, o Centro Médi- arquitetura, urbanismo e memória”; e “História da Arquite-
co do Servidor Público Municipal. Já foi Presidente do Sin- tura de Mato Grosso do Sul: origens e trajetórias”.
dicato dos Arquitetos e Urbanistas de MS, conselheiro do É articulista do site midiamax.com desde 2002 e do jor-
Crea-MS, membro da Comissão do Solo Urbano de Campo nal diário O Estado de MS.