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Apelação Cível n. 2014.

026695-5, de Itajaí
Relator: Des. Luiz Fernando Boller

APELAÇÃO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE


IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA JULGADA
IMPROCEDENTE. CONDUTA ÍMPROBA ATRIBUÍDA AO
SECRETÁRIO DE SAÚDE COORDENADOR TÉCNICO DO
MUNICÍPIO. ALEGADA INOBSERVÂNCIA DA JORNADA
DE TRABALHO DE 40 HORAS SEMANAIS.
APELO DO PARQUET. APONTADA INASSIDUIDADE.
RÉU QUE, NAS TARDES DE SEGUNDAS, QUARTAS E
QUINTAS-FEIRAS, EXERCIA ATIVIDADE PARTICULAR
COMO MÉDICO, E, NAS MANHÃS DAS QUINTAS-FEIRAS
COMO PROFESSOR, MINISTRAVA AULAS EM
UNIVERSIDADE, COMPROMETENDO SOBREMANEIRA A
CARGA HORÁRIA EXIGIDA PARA A FUNÇÃO
COMISSIONADA. QUEBRA DE LISURA NO TRATO COM
A RES PUBLICA NO QUE COMPETE AOS ORDINÁRIOS
PARÂMETROS DA PONTUALIDADE. FUNÇÃO DE
CHEFIA E ASSESSORAMENTO, CONTUDO, QUE
GUARDA EXCEPCIONAL FLEXIBILIDADE QUANTO À
OBSERVÂNCIA DA CARGA HORÁRIA DE TRABALHO.
INEXISTÊNCIA DE PROVAS DE QUE O DESEMPENHO
INTERMITENTE DO MUNUS TIVESSE CAUSADO DANOS
AO ERÁRIO MUNICIPAL.
REMESSA OFICIAL. INAPLICABILIDADE EM SEDE DE
AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA.
"[...] Não há que se falar em aplicação subsidiária do art.
19 da Lei 4.717/65, mormente por ser o reexame necessário
instrumento de exceção no sistema processual, devendo,
portanto, ser interpretado restritivamente; [...] (Resp
1220667/MG, rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j.
04-09-2014) [...]" (TJSC, Reexame Necessário n.
2015.015311-8, de Criciúma, rel. Des. Carlos Adilson Silva, j.
12/05/2015).
RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. REEXAME
NECESSÁRIO NÃO CONHECIDO.
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível n.
2014.026695-5, da comarca de Itajaí (Vara da F. Púb. E. Fisc. A. do Trab. e Reg.
Púb.), em que é apelante Ministério Público do Estado de Santa Catarina, e
apelado Lírio Eing:

A Primeira Câmara de Direito Público decidiu, por votação unânime,


conhecer do recurso, todavia negando-lhe provimento, e não conhecer do
reexame necessário. Custas legais.
O julgamento, realizado nesta data, foi presidido pelo
Excelentíssimo Senhor Desembargador Carlos Adilson Silva, com voto, e dele
participou o Excelentíssimo Senhor Desembargador Substituto Paulo Henrique
Moritz Martins da Silva. Funcionou como representante do Ministério Público o
Procurador de Justiça Narcísio Geraldino Rodrigues.
Florianópolis, 13 de outubro de 2015.

Luiz Fernando Boller


RELATOR

Gabinete Des. «Relator atual do processo sem tratamento»


RELATÓRIO

Cuida-se de apelação cível interposta pelo Ministério Público do


Estado de Santa Catarina, contra sentença prolatada pelo juízo da Vara da
Fazenda Pública, Executivos Fiscais, Acidentes do Trabalho e Registros Públicos
da comarca de Itajaí, que nos autos da Ação Civil Pública por Ato de Improbidade
Administrativa nº 033.12.012538-5 (disponível em <http://esaj.tjsc.Jus
.br/cpopg/show.do?processo.codigo=0X0008C970000&processo.foro=33> acesso nesta data),
ajuizada contra Lírio Eing, julgou improcedente o pedido, nos seguintes termos:
[...] O Ministério Público do Estado de Santa Catarina ajuizou a presente
ação civil pública em desfavor de Lírio Eing por alegados atos de improbidade
administrativa, relacionados a práticas ilegais no cumprimento de horário e
desempenho no cargo público ocupado pelo demandado, acusando-o de
acumular indevidamente mais de um cargo/função pública e privada, impedindo
a perfeita realização dos serviços, gerando lesão ao erário e ferindo preceitos
constitucionais e legais, constituindo ato de improbidade repudiada pela lei,
segundo dispõe o art. 9º, 10 e 11 da Lei de Improbidade Administrativa, nº
8.429/92.
Para tanto, objetivou, em síntese, a exoneração do requerido do cargo
público ocupado, o que pediu liminarmente, e a condenação dele nas sanções
do art. 12, inc. I, II e III da Lei nº 8.429/92, inclusive o ressarcimento aos cofres
públicos do valor indevidamente recebido referente ao período em que foi
remunerado pelo Poder Público Municipal. O ato ímprobo consiste na
impossibilidade do requerido estar exercendo a função pública adequadamente,
frente a outros tantos compromissos que ele assumiu profissionalmente (fls.
02/14).
[...]
Importa dizer, de início, que o caso concreto não trata especificamente da
possibilidade ou não de cumulação de cargos públicos, mas de notória
incompatibilidade de horários entre atividades pública e particular, muito embora
a questão da cumulatividade (art. 37, XVI e XVII, da CF/88) possa servir de
fundamento de fundo ao decisum.
No caso em tela é fato incontroverso que o demandado, em um mesmo
período, exercia cargo comissionado municipal (primeiro como Coordenador
Técnico da Secretaria de Saúde, fl. 34, depois como Secretário Municipal de
Saúde de Itajaí - fls. 15/16), com dever de jornada diária de 40 (quarenta) horas
semanais (art. 28, § único, da Lei Municipal nº 2.960/95), e, concomitantemente,
exercia as atividades privadas de: médico particular (fl. 45), nas segundas,
quartas e quintas-feiras; professor universitário, com carga de 8 (oito) horas aula
às quintas-feiras e outras 5 (cinco) horas como supervisor, nessa mesma
função, em horário não definido (fl. 31); e, Coordenador Técnico do Hospital
Marieta (fl. 28).

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[...]
Muito embora existam condutas reprováveis socialmente, há que se
entender que nem todas elas são suscetíveis às penas por improbidade
administrativa. A lei de improbidade é restritiva, pois nem todo ato ilegal é
ímprobo, o que reiteradamente afirmam os julgados pátrios. Nesse norte,
registra o STJ:
"É cediço que a má-fé é premissa do ato ilegal e ímprobo.
Consectariamente, a ilegalidade só adquire o status de improbidade quando a
conduta antijurídica fere os princípios constitucionais da Administração Pública
coadjuvados pela má-fé do administrador. A improbidade administrativa, mais
que um ato ilegal, deve traduzir, necessariamente, a falta de boa-fé, a
desonestidade, o que não restou comprovado nos autos pelas informações
disponíveis no acórdão recorrido, calcadas, inclusive, nas conclusões da
Comissão de Inquérito. [...]" (STJ - RESP 480387/SP, Min. Luiz Fux).
É para evitar situações como a em debate que determinados cargos
públicos requerem a exclusividade, um compromisso do contratado para
dedicação integral ao serviço.
Infelizmente, nosso país permite, por meio da política, inúmeros cargos de
"confiança", sem um rígido controle de horário, disciplina e compromisso.
Por outro lado, há pessoas, com capacidade elevada, que em menor
tempo e esforço conseguem desenvolver atividades designadas em
comparação a outros que têm o mesmo munus público, embora o serviço
público seja visto pela maioria como ineficiente em nosso país. Inevitavelmente
existirão aqueles que tão somente cumprem horário e outros que realmente
produzem.
Marino Pazzaglino Filho explica que:
"O vocábulo latino improbitate, como já salientado, tem o significado de
`desonestidade´ e a expressão improbus administrador quer dizer
`administrador desonesto ou de má-fé´" (Marino Pazzaglino Filho. Lei de
improbidade administrativa comentada. 3 ed. Atlas. P. 113).
Por tais razões, o caso deve ser analisado como um todo, a fim de
verificar se realmente houve infringência aos deveres administrativos, prejuízo
ao erário e má-fé do demandado.
O depoimento pessoal do demandado, fls. 191/193, traz a confissão do
mesmo quanto às alegadas cumulações de atividades descritas na inicial.
Também comprova que o demandado, ao contrário da exigência legal municipal
(art. 28 da Lei nº 2.960/95), cumpria carga horária menor na atividade pública
comissionada, pois atendia em seu consultório particular segundas, quartas e
quintas-feiras das 14h às 16:30h. Ademais, considerando as atividades de
professor e Coordenador Técnico, não há dúvidas que seria impossível uma
dedicação exclusiva ao serviço público com carga de 40 (quarenta) horas
semanais.
Apesar do demandado ter alegado a prestação de serviço em finais de
semana e feriados, nota-se não haver qualquer prova disso, ônus do qual não
se desincumbiu na forma do art. 333, inciso II, do CPC. O que se provou foi o
acobertamento dos superiores hierárquicos quanto ao dever de exigir o
cumprimento da jornada normal, muito embora justifiquem a desnecessidade de

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"controle ponto" (fl. 48).
Colhe-se do depoimento pessoal à fl. 192:
"[...] nunca recebeu informação de que deveria cumprir carga horária
especifica, seja na atividade de Coordenador, seja como Secretário, e apenas
após o ajuizamento da ação pelo Ministério Público foi que tomou conhecimento
de que existiria essa obrigação genérica a todo funcionário público de
cumprimento de carga horária de 40 (quarenta) horas; que reitera que nunca lhe
foi dito e também nunca perguntou, nunca recebeu qualquer comunicação por
escrito ou verbal de que teria que cumprir carga horária de 40 (quarenta) horas
semanais, recebeu apenas as atribuições que deveria cumprir naquelas
funções, tendo lhe sido explicado ainda que deveria estar a disposição da
secretaria 24 (vinte e quatro) horas por dia, ou seja, atender sempre que fosse
necessário, o que sempre fez [...]"
O Ministério Público, por sua vez, não comprovou nenhum ato de
ineficiência no serviço prestado diretamente pelo demandado. Já as
testemunhas trazidas pelo mesmo atestam que ele cumpriu seus deveres no
que toca à atividade de coordenadoria da Secretaria de Saúde.
Ricardo, fls. 194/195, disse:
"[...] que como Coordenador Técnico o requerido cumpria jornada às
terças e sextas, chegando às 7 (sete) horas da manhã e saindo a noite sem
hora determinada; que às segundas, quartas e quintas o requerido não tinha
horário fixo na secretaria, algumas vezes lá comparecia ou quando chamado
para resolver alguma necessidade daquela pasta". Dada a palavra ao Dr.
Procurador do Requerido reperguntado respondeu: "que considerando esses 2
(dois) dias inteiros por semana e os outros comparecimentos que citou, acredita
que o requerido chegava a cumprir 40 (quarenta) horas semanais; que várias
vezes levou documentos da secretaria para que o requerido assinasse em
horário posterior à jornada normal (durante o dia) de trabalho". Dada a palavra à
Dra. Promotora de Justiça reperguntado respondeu: "que o requerido tinha as
chaves de acesso ao gabinete da secretaria". [...]"
Já Luiz C. Pissetti, fls.196/197, afirmou:
"[...] que reafirma não existir um expediente fixo, por sua experiência sabe
dizer que um Secretário Municipal está permanentemente a disposição, há dias
em que cumpre 8 (oito) horas, outros um pouco menos e outros um pouco mais,
no entanto, acredita que em média um Secretário Municipal cumpre mais de 40
(quarenta) horas semanais, isso em razão dos vários compromissos
extraordinários que normalmente assume quem exerce esse cargo; que
segundo documentos que voltou a consultar, são muitas as atividades do
Coordenador Técnico de saúde, explicando também que em relação ao
requerido, ele cumpria todas essas atribuições seja como Coordenador, seja
como Secretário Municipal, exemplificando que o Coordenador deve ter contato
com os postos de saúde e toda a rede de atendimento".
Pelo exposto, não há qualquer prova de que, muito embora não cumprindo
a carga máxima exigida pelo Município de Itajaí, o demandado tenha agido de
forma ímproba, falha ou desonesta em sua atividade. Ademais, a má-fé não
pode ser presumida, já que a própria Administração Pública, por meio dos
superiores hierárquicos do demandado, no caso o Prefeito, não exigiam

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comprometimento diferente do comissionado.
A desacumulação, como já ocorreu, seria medida imperativa e eventual
dano só poderia ser apurado administrativamente, como mesmo aponta o
ementário do TCU colacionado pela autora à fl. 209, mas não é caso de
improbidade como mesmo afirma o TJSC:
AÇÕES CIVIS PÚBLICAS. ACUMULAÇÃO DE CARGOS.
INCOMPATIBILIDADE DE HORÁRIO DEMONSTRADA. IRREGULARIDADE
EVIDENTE. DESACUMULAÇÃO QUE SE IMPÕE. SERVIÇO
INEQUIVOCAMENTE PRESTADO. AUSÊNCIA DE DANO AO ERÁRIO. MÁ-FÉ
NÃO EVIDENCIADA. RESSARCIMENTO INDEVIDO. SANÇÕES
INAPLICÁVEIS. PRECEDENTES DE CORTE SUPERIOR.
"Na hipótese de acumulação de cargos, se consignada a efetiva prestação
de serviço público, o valor irrisório da contraprestação paga ao profissional e a
boa-fé do contratado, há de se afastar a violação do art. 11 da Lei nº
8.429/1992, sobretudo quando as premissas fáticas do acórdão recorrido
evidenciam a ocorrência de simples irregularidade e inexistência de desvio ético
ou inabilitação moral para o exercício do `munus publico´. (Precedente: REsp
996.791/PR, Rel. Min. Herman Benjamin, 2ª Turma, j. em 8.6.2010, DJe
27.4.2011). Agravo regimental improvido." (STJ - AgRg no REsp n.
1.245.622/RS, rel. Min. Humberto Martins, j. 16.6.2011) (TJSC, Apelação Cível
n. 2011.078064-5, de Curitibanos, rel. Des. João Henrique Blasi, j. 10-12-2013).
Assim, não havendo qualquer prova que conduza a ineficiência dos
serviços públicos prestados no cargo comissionado, ainda que sem
exclusividade total, ma-fé ou dano efetivamente suportado pelo erário, não há
como enquadrar o demandado em práticas ímprobas na forma da Lei nº
8.429/92.
III - DISPOSITIVO:
Ex positis, na forma do art. 269, inciso I, do Código de Processo Civil,
JULGO IMPROCEDENTES os pedidos formulados na presente ação autuada
sob o nº 033.12.012538-5, ajuizada pelo representante do Ministério Público do
Estado de Santa Catarina em desfavor de Lírio Eing.
Não há condenação em despesas processuais e honorários advocatícios
(art.18 da Lei nº 7.347/85 e STJ, REsp nº 493.823).
Sentença sujeita ao reexame necessário. [...] (fls. 226/236).
Fundamentando a insurgência, o Ministério Público do Estado de
Santa Catarina traçou breve síntese da demanda, consubstanciada na
propositura da actio subjacente contra Lírio Eing, trazendo à lume a prática de ato
de improbidade administrativa decorrente da "incompatibilidade de horário para o
exercício de cargo público - Coordenador Técnico da Secretaria de Saúde
(12/03/2009 a 29/03/2010 e de 29/03/2011 a 02/01/2013) e Secretário Municipal
de Saúde (30/03/2010 a 28/03/2011) - que tinham carga horária de 40 (quarenta)
horas semanais [...]" (fl. 239), concomitantemente com "o exercício das atividades

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profissionais de médico, professor da Univali e Diretor Técnico do Hospital
Marieta Konder Bornhausen [...]" (fl. 240).
O apelante aduziu que o magistrado sentenciante, "mesmo
reconhecendo que o apelado não cumpria a carga horária, nem exercia
integralmente as funções do cargo ocupado [...]" (fl. 242), deixou de reconhecer a
improbidade estampada nos autos, aduzindo que "se o servidor deixar de cumprir
sua carga horária, ele trabalha menos do que deveria e consequentemente não
está atuando com eficiência [...]" (fl. 243).
Anotou, conforme consta na Representação Anônima, que o
apelado seria um funcionário ineficaz no exercício do cargo, e, ainda,
"beneficiado por não prestar serviço e receber no final do mês [...]" (fl. 244).
Delineou que as testemunhas são "companheiros de partido político
[...]" (fl. 244), e que a "testemunha Pisseti, ocupa o mesmo cargo público que o
apelado, e portanto deve defender tal posição, pois deve ser de seu interesse
[...]" (fl. 244).
Acerca do testigo de Ricardo Reiser, pontuou que este "não trouxe
prova da eficiência do trabalho do apelado [...]. Ao contrário, em suas
declarações há prova do descumprimento da lei [...]" (fl. 244), sendo que "o
apelado utilizava-se de funcionários públicos, pagos pelo município, para atender
as suas exigências, assinar documentos em sua residência, pois no horário que
deveria estar trabalhando na Secretaria da Saúde estava em seu consultório
particular [...]" (fl. 245).
Refutou o fundamento delineado pelo togado singular de que "a
desacumulação deveria ser apurada administrativamente [...] uma vez que a ação
não foi proposta por acumulação de cargos, mas por incompatibilidade de horário
para o exercício de cargo público [...]" (fl. 245), em desrespeito ao art. 28,
parágrafo único da Lei Municipal nº 2.960/95, enaltecendo, outrossim, que "deixar
para que tais situações sejam resolvidas no âmbito administrativo é tudo que o
administrador deseja [...]" (fl. 245).

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Prezou pela busca do comprometimento com a ética e com os
princípios administrativos, donde, a seu ver, "não deve ser considerada a
ausência de má-fé, pois o apelado tinha consciência que não cumpria a carga
horária exigida pelos cargos em comissão por ele ocupados [...]" (fl. 245).
Detalhou que o recorrido recebeu, no período de março de 2009 a
maio de 2012, remuneração média mensal de R$ 8.000,00 (oito mil reais), e que
não trabalhava aproximadamente 64 (sessenta e quatro) horas mensais, donde
adviria uma "prejuízo ao erário de aproximadamente R$ 121.600,00 (cento e vinte
e um mil e seiscentos reais) [...]" (fl. 246), termos em que bradou pelo
conhecimento e provimento do recurso (fls. 238/248).
Recebido o apelo nos efeitos suspensivo e devolutivo (fl. 249), ato
contínuo, o parquet colacionou novas provas (fls. 250/259).
A par disso, sobrevieram as contrarrazões, onde Lírio Eing refutou
as teses manejadas pelo apelante, clamando pelo conhecimento e
desprovimento do recurso (fls. 261/268).
Ascendendo a esta Corte, foram os autos por sorteio originalmente
distribuídos ao Desembargador Newton Trisotto (fl. 272), vindo-me conclusos em
razão do superveniente assento nesta Câmara.
Em Parecer de lavra da Procuradora de Justiça Gladys Afonso, o
Ministério Público opinou pelo conhecimento e provimento da insurgência (fls.
274/291).
É, no essencial, o relatório.

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VOTO

Conheço do recurso porque, além de tempestivo, atende aos


demais pressupostos de admissibilidade.
Muito embora o magistrado sentenciante tenha ordenado a remessa
oficial, declino deste mister, já que, nas ações de improbidade administrativa,
"não há que se falar em aplicação subsidiária do art. 19 da Lei 4.717/65,
mormente por ser o reexame necessário instrumento de exceção no sistema
processual, devendo, portanto, ser interpretado restritivamente; [...] (Resp
1220667/MG, rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 04-09-2014) [...]" (Reexame
Necessário n. 2015.015311-8, de Criciúma, rel. Des. Carlos Adilson Silva, j.
12/05/2015).
Pois bem.
O Ministério Público do Estado de Santa Catarina intentou a
subjacente Ação Civil Pública por Ato de Improbidade Administrativa contra Lírio
Eing, alegando a "incompatibilidade de horário, praticada por este, para o
exercício de cargo público - Coordenador Técnico da Secretaria de Saúde
(12/03/2009 a 29/03/2010 e de 29/03/2011 a 02/01/2013) e Secretário Municipal
de Saúde (30/03/2010 a 28/03/2011) - que tinham carga horária de 40 (quarenta)
horas semanais [...]" (fl. 239), concomitantemente com "o exercício das atividades
profissionais de médico, professor da Univali e Diretor Técnico do Hospital
Marieta Konder Bornhausen [...]" (fl. 240).
A respeito, Waldo Fazzio Júnior ensina que as atitudes contidas na
Lei de Improbidade Administrativa não se encerram nela mesma, até porque,
"tanto o enriquecimento ilícito como a lesão ao erário ou o atentado aos princípios
administrativos não são atos de improbidade administrativa; são efeitos de atos
de improbidade administrativa [...]. O ato de improbidade é o agir ou não agir [...]".
(Improbidade administrativa e crimes de prefeitos. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2003,
p. 177 - grifei).

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Tal diretriz reluz que o "agir ou não agir" não precisa estar inserido
necessariamente na lei de regência da matéria.
Portanto, não haverá no referido comando normativo, a extenuante
menção dos pormenores que se afiguram tangíveis para subsunção dos fatos à
Lei nº 8.429/92. Ou seja, não há a menção taxativa de que "não cumprir a carga
horária do funcionalismo público" constitui "ato de improbidade administrativa".
A dedução de que ocorreu um ato ímprobo exsurgirá, a bem da
verdade, da detida perquirição da conduta do agente - ponderada com o
elemento volitivo -, em sobreposição às normas e princípios vigentes em nosso
ordenamento legal pátrio.
Ora, numa escalada de averiguação dessas ações frente à res
publica, e que atentam contra o zelo e urbanidade que se espera da pessoa nela
investida, é fácil criar uma dicotomia, a partir do simples senso comum, de que
um ato pode ser bom ou ruim, perpassando por moral ou imoral, desaguando,
finalmente, na resolução: ímprobo ou não.
Apesar do Poder Judiciário não erigir sua jurisdição precipuamente
sobre o senso comum, mas, sim, sobre a Lei, é notável pensar que esta última
tem sua gênese interligada justamente ao clamor do povo, por ser a Lei a
máxima vontade da sociedade, ao menos no plano abstrato.
Faço este adendo para chamar a atenção de que, talvez, em
nenhum outro ramo do direito da coletividade haja tanta simetria entre aquilo que
o povo presa - "não vilipendiar a coisa alheia" -, com o que a norma estigmatizou:
o respeito à coisa pública.
Estabelecida esta premissa, de que o gérmen da imoralidade é
perceptível aos olhos do cidadão comum, é de simplória cognição admitir que o
não cumprimento da assiduidade no serviço público gera ruidosos contratempos
à máquina pública, seja por descompromisso com a população, seja por desleixo
com os afazeres administrativos, sendo um ato que carrega em sua origem a
pecha pejorativa, isso até que se demonstre o contrário.

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Transmudando esse cenário para o caso em liça, resta averiguar se
há aquele elemento a mais que enseja a materialização da conduta ímproba por
parte de Lírio Eing, necessariamente mais densa do que aquilo que o senso
comum conclama.
Voltando, pois, com maior ênfase para a rotina de trabalho do réu,
segundo esclarecimentos prestados pelo próprio, dessume-se que:
[...] 1º Antecipo-me dizendo que tenho os seguintes vínculos funcionais:
a) de 40 (quarenta) horas semanais, com a Prefeitura Municipal de Itajaí,
onde exerço o cargo de Coordenador Técnico da Secretaria de Saúde, cujos
encargos não exigem a formação em medicina;
b) sem carga horária definida, com o Hospital e Maternidade Marieta
Konder Bornhausen, onde exerço a função de Diretor Técnico, privativo de
Médico;
c) com a UNIVALI-Universidade do Vale do Itajaí, onde atendo no
ambulatório, apenas às quintas-feiras, das 8:00h às 10:30 horas.
2º) No consultório médico atendo às segundas, quartas e quintas-feiras,
das 14h às 16:30 horas, como faz prova minha agenda de trabalho,
apresentada nesta data e que fica à disposição de Vossa Senhoria para
conferência a qualquer tempo, já que por questão de ética profissional e de
sigilo não posso juntá-la aos autos, até porque envolve nomes de terceiras
pessoas que, por certo, não gostariam de serem expostas. [...] (fl. 43).
Tal como diagramado pelo parquet (fl. 08), ao exercer suas
atividades funcionais particulares, o réu cumpre a seguinte carga horária:

Turno 2ª Feira 3ª Feira 4ª Feira 5ª Feira 6ª Feira


Manhã 8h - 10:30h
Tarde 14h - 16:30h 14h - 16:30h 14h - 16:30h

Em paralelo a isto, por estar vinculado ao quadro de funcionários


públicos do Município de Itajaí desde 12/03/2009, na condição de ocupante do
cargo em comissão de Coordenador Técnico (fl. 34), tendo sido posteriormente
alçado ao posto de Secretário da Saúde de 05/02/2010 a 29/03/2011 (fls. 14/16),
quando retornou, então, à primeira função, deveria Lírio Eing observar
normalmente o Regime Jurídico Único dos Servidores Públicos Civis do
respectivo ente federado, in casu, a Lei nº 2.960/1995, visto que,
Art. 28 - O ocupante de cargo de provimento efetivo fica sujeito à jornada
de trabalho prevista no § 2º do artigo 39 e incisos XIII e XIV, do art. 7º, ambos
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da Constituição Federal, conforme regulamentação municipal.
Parágrafo Único. O ocupante de cargo em comissão, além do
cumprimento do estabelecido neste artigo, é submetido ao regime de integral
dedicação ao serviço, podendo ser convocado sempre que houver interesse da
Administração.
A Constituição Federal, por sua vez, estabelece:
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que
visem à melhoria de sua condição social:
[...]
XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e
quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução
da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho; [...].
Acerca da respectiva jornada, o Diretor Administrativo do Município
de Itajaí esclareceu que esta se circunscrevia ao período de 40h (quarenta horas)
semanais (fl. 33).
Logo, desnecessário mencionar que a "conta", por enquanto, "não
fecha", assim assumido pelo próprio apelado, ao discorrer que no período
vespertino das segundas, quartas e quintas-feiras (esta pela manhã, também),
dedicava-se aos seus afazeres privados.
Entretanto, em sua defesa Lírio Eing aduz que exerceu "inúmeras
atividades que não dependem do horário normal de expediente", destacando:
[...] a) reuniões com os médicos da Rede Municipal, principalmente para
tratar de exames não constantes da Tabela SUS;
b) reuniões com os prestadores de serviço de Secretaria, normalmente
fora do horário normal de expediente, para tratar de questões referentes à área
de saúde pública;
c) avaliação do faturamento de prestadores de serviços;
d) preparação de concursos públicos e processos seletivos;
e) auxiliar o Secretário da pasta, quando solicitado;
f) acompanhar o funcionamento do atendimento médico da rede básica de
saúde, inclusive dos Postos que atendem 24 (vinte e quatro) horas;
g) avaliar os exames de alto custo;
h) consultoria à auditoria médica, muitas vezes em ambiente hospitalar.
[...] (fl. 113)
Nessa toada, garantiu que "o exercício de tais atividades não pode
ser comprovado apenas com documentos, razão pela qual, no curso da instrução
processual, haverá de fazê-lo, com testemunhas [...]" (fl. 113).
Registre-se, antes, a intempestiva contradita levantada pelo

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Ministério Público - de que as testemunhas são "companheiros de partido político
[...]" (fl. 244) -, já que não redarguida tal irresignação a tempo e modo no 1º Grau,
nos moldes do art. 414, § 1º, do Código de Processo Civil (fl. 173).
Superado tal ponto, do testemunho prestado por Ricardo Reiser
colhe-se o excerto de que:
[...] Acredita que o requerido chegava a cumprir 40 (quarenta) horas
semanais; que várias vezes levou documentos da secretaria para que o
requerido assinasse em horário posterior à jornada normal (durante o dia) de
trabalho. [...] (fl. 194).
Já Luiz Carlos Pissetti declarou que:
[...] há dias em que cumpre 8 (oito) horas, outros um pouco menos e
outros um pouco mais, no entanto acredita que em média um Secretário
Municipal cumpre mais de 40 (quarenta) horas semanais, isso em razão dos
vários compromissos extraordinários que normalmente assume quem exerce
esse cargo; que segundo documentos que voltou a consultar, são muitas
atividades do Coordenador Técnico da Saúde, explicando também que em
relação ao requerido, ele cumpria todas essas atribuições seja como
Coordenador, seja como Secretário Municipal, exemplificando que o
Coordenador deve ter contato com os postos de saúde e toda a rede de
atendimento. [...] (fl. 196).
Por conseguinte, reconheço, sim, a possibilidade de Lírio Eing ter
enfrentado com afinco a carga horária notoriamente defasada, o que lhe exigiria a
tarefa extenuante de complementar 15 (quinze) horas semanais, segundo
cálculos hipotéticos por ele mesmo aferidos (fl. 114).
Rendendo discussão a esta vertente, Valerio Mazzuoli e Waldir
Alves sobressaem que:
[...] Hoje em dia é absolutamente comum um profissional, v.g., trabalhar
pela manhã na capital paulista e a tarde ou de noite na capital mineira, dadas as
facilidades modernas do transporte aéreo (número diário de voos, possibilidade
de voos sem escalas ou conexões etc.). Não raro é menos demorado
locomover-se (pela via aérea) de Porto Alegre a Curitiba, ou de Cuiabá para
Brasília, que se deslocar de automóvel, de um bairro a outro da cidade de São
Paulo em dia de grande trânsito!
Todos esses aspectos, que a modernidade apresenta, em termos de
logística de transporte, devem ser levados em conta para analisar a
compatibilidade de horários de um servidor público que acumula cargos.
O que não pode o servidor fazer é sobrepor horários de trabalho
relativamente aos dois cargos em causa, como ocorre, v.g., nos períodos:
diurno, das 8 às 18:30h, e noturno, das 18 às 22h, em que o horário das 18 às
18:30h se sobrepõem. [...] (Acumulação de cargos públicos: uma questão de
Gabinete Des. «Relator atual do processo sem tratamento»
aplicação da Constituição. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013, p.
47).
Com efeito, é preciso assentar que se Lírio Eing optou por colocar o
exercício de suas atividades privadas à frente das responsabilidades públicas,
causando conflito de horários, provocando a atuação do órgão ministerial, o
exercício da jurisdição, o dispêndio de tempo de autoridades públicas, causando
toda uma movimentação do aparato estatal, acabou por materializar o sinal de
que, no mínimo, fez algo de diferente, que chamou a atenção da sociedade,
transbordando o que se infere normalmente do cotidiano.
Logo, ao criar uma rotina extraordinária daquilo que se reconhece
como a praxe no funcionalismo público, invocou para si um cenário de exceção.
Gizo: no âmbito da Administração Pública de Itajaí, conforme consta
do art. 164 da Lei Municipal nº 2.960/95,
[...] A duração do serviço nas repartições municipais será de 08 (oito)
horas diárias e quarenta e quatro horas semanais, nela se enquadrando todos
os servidores, ressalvados os casos especiais definidos em lei ou por ato do
Chefe do Poder Executivo. (grifei).
Inexistindo evidências de que a municipalidade tenha implementado
alguma espécie de aferição diferenciada do munus desempenhado por seus
Coordenadores Técnicos/Secretários, tampouco que tenha fomentado e
regulamentado a instituição de um critério de "produtividade", com foco
eminentemente no "resultado" - abrandando a detida aferição da jornada de
trabalho -, remanesce inabalável o postulado básico que jorra luz para qualquer
integrante da Administração Pública: a necessária observância da assiduidade.
Consequentemente, se alguém dissente da normalidade e invoca
para si uma prerrogativa funcional deve, a seu encargo, produzir prova da lisura
de sua conduta, asserção que, em termos processuais, recai na máxima da
distribuição do ônus probante, cuja diretriz é ditada pelo art. 333 do Código de
Processo Civil:
[...] O ônus da prova incumbe:
I - ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito;
II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo
do direito do autor.
Gabinete Des. «Relator atual do processo sem tratamento»
Assim, por tratar-se de um cenário de exceção, seria preciso admitir
que durante o período em que Lírio Eing esteve imiscuído em sua função pública,
veio a laborar com afinco em todas as semanas, certamente no período noturno,
para diminuir a lacuna da sua decotada jornada de trabalho.
Ocorre que tudo o que foi até agora extenuantemente reproduzido
acerca da jornada de trabalho, condiz com o trivial do funcionalismo público. É o
caso, por exemplo, do próprio inc. X, do art. 116 da Lei nº 8.112/90, que preza
pela "assiduidade e a pontualidade" no respectivo regime.
Deste modo, lançando os olhos pelo que é comum, evidentemente
que se chegará a conclusão de que houve quebra, no mínimo, de lisura no trato
com a Administração Pública.
Porém, não há a contumaz sedimentação no âmbito do Poder
Público - seja a nível federal, estadual ou municipal -, de uma completa
elucidação do regime de labor a que estão sujeitos os ocupantes de cargos em
comissão.
De igual sentir, no Município de Itajaí, embora haja dicção legal que
trata do expediente nas repartições, não há impedimento para que a função
desempenhada pelo Secretário seja realizada de forma intermitente.
Ressaio que o próprio art. 19, § 1º, da Lei nº 8.112/90, aduz que "o
ocupante de cargo em comissão ou função de confiança submete-se a regime de
integral dedicação ao serviço, observado o disposto no art. 120, podendo ser
convocado sempre que houver interesse da Administração [...]" (grifei), o que
evidencia a existência daquele notório colóquio da "exceção da exceção".
Não se trata de privilégio, tampouco de prerrogativa; mas de
excepcionalidade.
O cargo em comissão, notadamente o de Secretário de Saúde ou o
de Coordenador Técnico, traduz convenientemente o aspecto de Direção e
Chefia, cuja confiança depositada a ele flexibiliza a peremptória observância da
carga horária, e, via de consequência, deste chancelar obrigatoriamente a sua

Gabinete Des. «Relator atual do processo sem tratamento»


"ficha ponto".
Neste sentido, para que se atingisse as raias da improbidade, seria
preciso que a referida "dissensão à regra comum" se equiparasse ao que
doutrina e a jurisprudência convencionaram aquilatar como uma atitude ímproba.
Isto porque, segundo Fábio Medina Osório, "toda improbidade
deriva de uma imoralidade administrativa, mas nem toda imoralidade constitui
uma improbidade administrativa [...]" (Teoria da improbidade administrativa: má
gestão pública; corrupção; ineficiência. 2 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2010, p. 80 - grifei).
E segue o jurista pontuando:
[...] Repita-se que pode existir vulneração de normas de lealdade
institucional sem que isso desemboque na improbidade administrativa, em razão
da ausência de gravidade na culpa ou reprovação mais intensa do
comportamento doloso. Será desleal, no plano da improbidade, quem despreze
ou ignore deveres públicos com uma peculiar gravidade de seu comportamento.
Poderá haver deslealdade funcional que mereça resposta apenas no direito
disciplinar, ou noutras vertentes do direito administrativo sancionador. [...] (Ibid.
p. 125).
Não há a mínima evidência de que o Poder Executivo local deixou
de receber, por exemplo, investimentos e aporte de recursos federais ou
estaduais na área da saúde, em decorrência do apelado ter deixado de "bater o
ponto", ou que os Postos de Saúde deixaram de ser bem atendidos em razão de
sua eventual negligência, e que, ainda assim, constituiriam atos ímprobos.
Enfim, não houve a tangível comprovação do descumprimento do
art. 184 da Lei Orgânica do Município de Itajaí (disponível em <http://portaldocidadao
.itajai.sc.gov.br/servico_link/28> acesso nesta data), que assim dispõe:
[...] São competências do Município, exercidas pela Secretaria de Saúde
ou equivalente:
I - assistência à saúde;
II - garantir aos profissionais da saúde a isonomia salarial, admissão
através de concurso público, incentivo à dedicação exclusiva e tempo integral,
capacitação e reciclagem permanentes, condições adequadas de trabalho para
a execução de suas atividades em todos os níveis;
III - a direção do Sistema Unificado de Saúde-SUS no âmbito do Município
em articulações com a Secretaria Estadual de Saúde;
IV - a elaboração a atualização periódica do Plano Municipal de Saúde,

Gabinete Des. «Relator atual do processo sem tratamento»


em termos de prioridades e estratégias municipais, em consonância com o
Plano Estadual de Saúde e de acordo com as diretrizes do Conselho Municipal
de Saúde;
V - a elaboração e utilização da proposta orçamentária do Sistema
Unificado de Saúde-SUS para o Município;
VI - a administração do Fundo Municipal de Saúde;
VII - a proposição de projetos de lei municipais que contribuam para
viabilizar e concretizar o Sistema Unificado de Saúde no Município;
VIII - A compatibilização e complementação das normas técnicas do
Ministério da Saúde e da Secretaria Estadual de Saúde, de acordo com a
realidade municipal;
IX - a administração execução das ações e serviços de saúde e de
promoção nutricional, de abrangência municipal ou inter-municipal;
X - a formulação da política de recursos humanos na esfera municipal, de
acordo com as políticas nacional e estadual de desenvolvimento de recursos
humanos para a saúde;
XI - a implantação do Sistema de Informação em Saúde, no âmbito
municipal, em conformidade com o Estadual;
XII - o acompanhamento, avaliação e divulgação dos indicadores de
morbi-mortalidade no âmbito do Município;
XIII - o planejamento e execução das ações de vigilância epidemiológica
no âmbito do Município, em articulação com o nível estadual;
XIV - o planejamento e execução das ações de controle do meio ambiente
e de saneamento básico no âmbito do Município, em articulação com os demais
órgãos governamentais;
XV - a normalização e execução, no âmbito do Município, da política
nacional de insumos e equipamentos para a saúde;
XVI - a execução, no âmbito do Município, dos programas e projetos
estratégicos para o enfrentamento das prioridades nacionais, estaduais e
municipais, assim como situações emergenciais;
XVII - a complementação das normas referentes às relações com o setor
privado e a celebração de contratos com serviços privados de abrangência
municipal;
XVIII - o planejamento e execução das ações de controle das condições e
dos ambientes de trabalho e dos problemas de saúde com eles relacionados;
XIX - a celebração de consórcios inter-municipais, para formação de
Sistemas de Saúde, quando houver indicação técnica e consenso das partes.
Como visto, não houve por parte do parquet um entrelaçamento
mais contundente entre a conduta de Lírio Eing e eventuais prejuízos ao ente
federado.
Deste modo, percebe-se que a celeuma ganhou contornos que se
reportam mais para o "ressarcimento ao erário", como um fim em si mesmo, do
que propriamente um embate voltado para o reconhecimento da improbidade,

Gabinete Des. «Relator atual do processo sem tratamento»


cuja comprovação só então constituiria em baliza para a tomada de providências
reparatórias.
Assim, a conjuntura não concretizada nos autos é a de que "a
violação aos princípios deve ser conjugada com a comprovação do dolo e o nexo
de causalidade entre ação/omissão e a respectiva violação ao princípio aplicável
à Administração. [...]" (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de
improbidade administrativa. 2ª ed. São Paulo: Método, 2014, p. 89).
A inobservância destes preceitos leva à conclusão de que o ato
trazido à luz poderia ser questionável, talvez passível de instruir um contencioso
administrativo disciplinar - isso se, e somente se, ficasse contundentemente
comprovada a falta com seus deveres funcionais, o que, todavia, não ocorreu na
espécie -, mas insuficiente para caracterizar improbidade.
Nessa linha:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.
ACUMULAÇÃO DE CARGO COM EMPREGO PÚBLICO. DÚVIDAS QUANTO
À INCOMPATIBILIDADE DE HORÁRIOS. JORNADA DE TRABALHO
DIFERENCIADA. SERVIÇOS DEVIDAMENTE PRESTADOS. INEXISTÊNCIA
DE DANOS AO ERÁRIO E DE PREJUÍZO À POPULAÇÃO LOCAL. DOLO OU
MÁ-FÉ NÃO EVIDENCIADOS. INAPLICABILIDADE DAS SANÇÕES.
SENTENÇA REFORMADA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO (Apelação
Cível n. 2013.072705-8, de Taió, rel. Des. Stanley da Silva Braga, j.
05/05/2015).
No mesmo sentido, dos julgados do Tribunal de Justiça do Rio
Grande do Sul:
AÇÃO DE IMPROBIDADE. CUMULAÇÃO DE CARGOS. MOTORISTA.
MEMBRO DO CONSELHO TUTELAR. ASSIDUIDADE. FALTA AO SERVIÇO.
1. Nem toda ilegalidade se constitui em ato de improbidade administrativa.
A cumulação do cargo efetivo de motorista e da função temporária de membro
do Conselho Tutelar pode configurar ilícito administrativo, mas não ato de
improbidade administrativa. Com efeito, o exame desta questão é matéria
jurídica de certa complexidade que afasta a reprovabilidade exigida para a
configuração do ato de improbidade administrativa.
2. As faltas injustificadas ao serviço constituem-se em infração
administrativa que ensejam a aplicação das sanções administrativas. Todavia,
não se pode reputá-las ato de improbidade administrativa sob pena de se tornar
todo ilícito disciplinar em ato ímprobo. Recurso provido. Voto vencido (Apelação
Cível nº 70055214332, de Esteio, Rela. Desa. Maria Isabel de Azevedo Souza,
j. 28/11/2013)

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Dessarte, manifesto-me no sentido de conhecer do apelo, todavia
negando-lhe provimento.
De outro vértice, pronuncio-me pelo não conhecimento do reexame
necessário.
É como penso. É como voto.

Gabinete Des. «Relator atual do processo sem tratamento»


Declaração de voto vencedor do Exmo. Sr. Des. Subst. Paulo
Henrique Moritz Martins da Silva

VOTO

Acompanhei o d. Relator para negar provimento ao recurso.


Contudo, data venia, ouso divergir parcialmente de Sua Excelência, no que tange
ao excertos da fundamentação a seguir grifados:

[...]
Com efeito, é preciso assentar que se Lírio Eing optou por colocar o
exercício de suas atividades privadas à frente das responsabilidades
públicas, causando conflito de horários, provocando a atuação do órgão
ministerial, o exercício da jurisdição, o dispêndio de tempo de autoridades
públicas, causando toda uma movimentação do aparato estatal, acabou por
materializar o sinal de que, no mínimo, fez algo de diferente, que chamou a
atenção da sociedade, transbordando o que se infere normalmente do cotidiano.
[...]
Não há a mínima evidência de que o Poder Executivo local deixou de
receber, por exemplo, investimentos e aporte de recursos federais ou estaduais
na área da saúde, em decorrência do apelado ter deixado de "bater o ponto", ou
que os Postos de Saúde deixaram de ser bem atendidos em razão de sua
eventual negligência, e que, ainda assim, constituiriam atos ímprobos.
[...]
A inobservância destes preceitos leva à conclusão de que o ato trazido à
luz poderia ser questionável, talvez passível de instruir um contencioso
administrativo disciplinar - isso se, e somente se, ficasse contundentemente
comprovada a falta com seus deveres funcionais, o que, todavia, não ocorreu na
espécie -, mas insuficiente para caracterizar improbidade.
[...] (f. 302/320)

Como se sabe, as normas de regência dos ocupantes de cargo em

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comissão são bem diferenciadas quando comparadas às do servidor efetivo.
É pacífica a jurisprudência no sentido de que tais agentes não têm
direito ao pagamento de horas-extras, justamente porque "na remuneração do
cargo em comissão e da função de confiança já está implicitamente prevista a
carga de trabalho dilatada, inclusive em horários noturnos e fins de semana e
feriados" (TJSC, AC n. 2014.078685-9, de Campo Erê, rel. Des. Jaime Ramos,
Quarta Câmara de Direito Público, j. 21-5-2015).
Colhe-se de voto proferido pelo Des. Luiz Cézar Medeiros:

[...] observa-se que a característica maior do cargo em comissão é a sua


livre nomeação, em razão da confiança que o superior hierárquico tem sobre a
pessoa e o trabalho do comissionado, o que justifica, conforme disposição
constitucional, o ingresso no funcionalismo público de pessoas sem o ônus da
aprovação em concurso público, sabidamente, um dos postulados mais
marcantes do quadro funcional do Estado.
Esse entendimento permite que se diga com segurança que a
ausência de remuneração de jornada extraordinária daqueles que exercem
esse tipo de cargo, mormente os de chefia, não implica em locupletamento
indevido da Administração Pública, pois se é permitido que alguém
ingresse no funcionalismo público sem a aprovação em concurso público,
nada mais justo que, em contrapartida, essa pessoa ofereça seus
préstimos sempre que for convocada, mesmo que essa convocação seja
extraordinária ou até mesmo noturna, como o caso dos autos. Aliás, é
precisamente nisso que consiste a confiança, o que justifica a persistência
no ordenamento jurídico administrativo de cargos dessa natureza.
(grifou-se) (AC n. 2003.006371-4, de Criciúma, rel. Des. Luiz Cézar Medeiros,
Segunda Câmara de Direito Público, j. 11-8-2003).

Pela mesma razão de direito, é possível afirmar que o servidor


comissionado não está atrelado a horários rígidos.
Se, por um lado, pode ser convocado a qualquer momento, por
outro também lhe é dado cumprir sua carga de trabalho em momentos
diferenciados, desde que as atividades que lhe são afetas sejam desempenhadas
a contento.

No caso dos autos, há prova de que o requerido cumpriu todas as

Gabinete Des. «Relator atual do processo sem tratamento»


obrigações decorrentes do posto que ocupava – Coordenador Técnico.
O Secretário de Saúde informou que o apelado estava dispensado
do registro do ponto "devido à grande variação nos horários de trabalho" (f. 48).
A testemunha Ricardo Reiser afirmou que o requerido, às terças e
sextas-feiras, chegava às sete horas da manhã e saía à noite, sem hora
determinada (f. 194). Além disso, "que várias vezes levou documentos da
secretaria para que o requerido assinasse em horário posterior à jornada normal"
(f. 194).
Muitas das atividades desempenhadas pelo réu sequer podiam ser
realizadas durante o horário de expediente (reuniões com prestadores de serviço,
por exemplo) e outras demandavam deslocamentos para outros órgãos
(consultoria em ambiente hospitalar, acompanhamento dos postos de saúde etc).
Como destacado pelo Des. Luiz Fernando Boller:

Não há a mínima evidência de que o Poder Executivo local deixou de


receber, por exemplo, investimentos e aporte de recursos federais ou estaduais
na área da saúde, em decorrência do apelado ter deixado de "bater o ponto", ou
que os Postos de Saúde deixaram de ser bem atendidos [...].

Apesar de não haver norma específica a respeito, é evidente que o


servidor comissionado está muito mais sujeito a um juízo de produtividade do
que de assiduidade. Quanto mais no caso dos autos, em que os postos
ocupados pelo réu demandavam um sem-número de reuniões em horários não
convencionais, visitas e atendimentos a qualquer hora do dia ou da noite.
Essa é a realidade de muitos agentes públicos dos três Poderes em
qualquer esfera – municipal, estadual e federal.
Pode ser vista, inclusive, no Poder Judiciário, com assessorias
permanentemente à disposição e que cumprem horários diferentes a depender
da rotina estabelecida em cada gabinete – de juiz de 1º grau ou Desembargador,
qualquer que seja o caso.
E como bem destacou o Des. Luiz Fernando Boller, "não se trata de

Gabinete Des. «Relator atual do processo sem tratamento»


privilégio, tampouco de prerrogativa; mas de excepcionalidade" (f. 316).
Não se está aqui a defender que os ocupantes de cargo em
comissão ou função de confiança estão dispensados de trabalhar.
Bem ao revés.
É preciso deixar claro que esses agentes, como qualquer outro,
devem fazer jus à remuneração e ao posto que ocupam.
Mas tal há de ser aferido pelo resultado do labor, não pelo
quantitativo de horas dispendidas dentro da repartição.
No ponto, aliás, vale destacar o que foi consignado pelo MM. Juiz
Carlos Roberto da Silva:

[...] há pessoas, com capacidade elevada, que em menor tempo e esforço


conseguem desenvolver atividades designadas em comparação a outros que
têm o mesmo múnus público, embora o serviço público seja visto pela maioria
como ineficiente em nosso país. Inevitavelmente existirão aqueles que tão
somente cumprem horário e outros que realmente produzem. (grifou-se)

As atividades devem ser desempenhadas, com qualidade e com o


mínimo de recursos – ou seja, com eficiência. O que fica em segundo plano é a
aferição do horário de trabalho, que deve ser flexível pela própria natureza das
atividades desempenhadas – chefia, direção ou assessoramento.
Por essas razões, não vejo como se possa cogitar de falta funcional
ou de que o demandado deixou de cumprir integralmente o que se esperava
quando ocupava o cargo de Coordenador.
A meu sentir, não é o caso de "eventual negligência" ou de se abrir
a possibilidade de apuração em "contencioso administrativo disciplinar", muito
menos de supor que o réu colocou "o exercício de suas atividades privadas à
frente das responsabilidades públicas".

Em suma, não consegui vislumbrar ilegalidade de qualquer espécie


a macular o histórico funcional do apelado.

Gabinete Des. «Relator atual do processo sem tratamento»


Florianópolis, 4 de novembro de 2015.

Paulo Henrique Moritz Martins da Silva

Gabinete Des. «Relator atual do processo sem tratamento»

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