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APRECIAÇÃO DA POLÍTICA E DA ESTRATÉGIA NACIONAL DE DEFESA SOB A
ÓTICA DAS TENDÊNCIAS GLOBAIS PARA AS PRÓXIMAS DUAS DÉCADAS E
DE SEUS REFLEXOS PARA A DEFESA NACIONAL.
RESUMO: Da análise do jogo do poder entre as potências globais, o trabalho inicia destacando
a postura por elas adotada nos conflitos por choque interesses, quando lhes são vitais ou
afetem suas posições de poder, e os previsíveis reflexos dessas disputas para o Brasil no
futuro. A seguir, é feita uma apreciação dos estudos sobre tendências globais para as
próximas duas décadas, elaborados por organismos e instituições nacionais e estrangeiras de
alto nível, destacando as relacionadas direta ou indiretamente ao campo militar. As visões
alienígenas foram traduzidas para a realidade, desafios e interesses nacionais e apreciadas
quanto aos reflexos para a defesa do Brasil, que deveriam ser considerados na atualização da
Política e da Estratégia Nacional de Defesa (PND e END). Ao longo do texto, são feitos
comentários sobre a situação atual do País diante do contexto apreciado e elaboradas
indicações para estratégias e ações que respondam aos desafios visualizados. Para tanto, são
apontadas lacunas e inconsistências significativas na PND e na END, acompanhadas de
sugestões para aperfeiçoar esses documentos; são apresentadas ameaças potenciais ao País;
identificadas áreas estratégicas de interesse da defesa; e visualizadas possíveis ações
militares de uma ameaça aos nossos interesses vitais. No final, surge uma proposta sumária
de poder militar capaz de conferir capacidade dissuasória extrarregional ao Brasil no futuro.
Palavras chave: poder, tendências, política, estratégia, ameaças, defesa.
1. INTRODUÇÃO
“Se você conta com a segurança e não pensa no perigo, se você
não sabe o suficiente para estar atento quando chegarem os
inimigos, é como o pardal fazendo ninho em uma tenda, um peixe
nadando em um caldeirão – não duram um dia”. Chuko Liang (181-
234 DC).
A história é marcada por uma perene disputa entre as nações num mundo
pleno de ameaças e conflitos. Sempre houve assimetrias entre os países,
escalonados de acordo com distintos status de poder nacional. Pode-se avaliar a
capacidade de um país projetar poder considerando a quantidade e qualidade dos
recursos disponíveis, a liberdade de ação para atuar internacionalmente e a vontade
da sociedade assumir os riscos de fazê-lo. Ainda assim, não é algo absoluto, mas
sim relativo, em função de diversos fatores como o valor dos interesses em disputa,
o tipo de conflito vivido e outras variáveis.
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das tendências globais, nas próximas duas décadas, muitos dos quais não foram
considerados nas atualizações da PND e da END.
“Em 2025 o Brasil estará provavelmente exercendo uma liderança regional de maior
influência, tornando-se o ator principal entre os seus pares, nos fóruns sul-americanos, mas,
apesar de seu papel crescente como grande produtor de energia, e do papel que vem
desempenhando nas conferências de comércio, irá demonstrar habilidades limitadas de se
projetar para além de seu continente e assumir um papel central das questões mundiais”.
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produzidas por índices combinando fatores ponderados - pesos diferentes - do PIB,
gastos de defesa, população e tecnologia” (grifos nossos).
“Tal sistema entrelaça atores que compartilham valores, normas, símbolos, que possuem
identidade comum (---). A comunidade de segurança (---) por Karl Deutsch (1957) implica
em região político-geográfica na qual o uso da violência é impensável, (---) os problemas
sociais comuns devem ser resolvidos por meio de mudanças graduais e pacíficas”
(OLIVEIRA e BECARD, 2010, p.11).
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b. Necessidade versus escassez de recursos na origem de conflitos.
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A tendência histórica mostra a dificuldade para se encontrar soluções de
consenso nos desafios à ordem internacional quando há ou multipolaridade ou
multilateralismo, ascensão de novas potências e visões de futuro distintas entre
vários países, como ocorre na ONU. Além disso, a falta de estadistas no cenário
internacional, com capacidade de liderança e visão de mundo menos egoísta,
particularmente nas potências do Eixo, torna improvável a criação de um ambiente
de ampla cooperação e entendimento quando estão em jogo interesses vitais de
cada país. O trecho a seguir, grifado por este autor, demonstra a mentalidade
prevalecente:
Uma assertiva a ser encarada com reservas, pois sugere uma governança
global assimétrica em que alguns, logicamente as potências do Eixo, serão mais
iguais entre os iguais. A ONU não foi indicada como líder do processo e manteve-se
a ideia de um mundo desigualmente constituído. Na verdade, nenhuma instituição
ou aliança atual e, dificilmente surgirá alguma nas próximas décadas, terá condições
de desempenhar imparcialmente tal liderança. Permanece válida a histórica
necessidade de as nações disporem de forte poder nacional para ter o máximo de
liberdade de ação no jogo do poder mundial. Disputas para garantir acesso
privilegiado a recursos estratégicos, controlar áreas geopolíticas e exercer
preeminência seja no comércio internacional seja nas expressões militar e científico-
tecnológica serão desafios que afetarão a defesa nacional e a projeção de poder.
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Os EUA deixaram de ser a potência hegemônica, mas continuarão sendo o
país mais poderoso nas próximas décadas. A nação americana está tomando
consciência de seus limites para exercer liderança e agir mundialmente sem o
concurso de parceiros de peso. Os custos são muito elevados e a dispersão de
esforços leva à perda do foco na maior ameaça a seu protagonismo, representada
pela ascensão da China. Na Ásia Central, a Rússia e a China tendem a limitar o
poder dos EUA e da OTAN no curto prazo. No Oriente Médio, porém, com o apoio
de Turquia, Israel e Arábia Saudita os EUA continuarão sendo proeminentes,
embora venham a enfrentar a projeção de seus antigos rivais e a ascensão do Irã
como potência regional. Na América do Sul, será comentado adiante.
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QUADRO 1 - Possibilidades de rupturas de tendências.
Sustainable tendencies in international politics could be interrupted by negative cenarios.
- Leading nuclear powers could stake on confrontation and hegemony in mutual relations.
- Nuclear disarmament could come to a standstill.
- Arms race will begin in Outer Space.
- China will continue to build up its own nuclear-missile potential and to create space and cyber weapons.
- China as a “global political newcomer” with its growing economic and financial capabilities could behave
sometimes unpredictably.
- Northeast Asia and North Pacific could be regarded by the Chinese military-industrial complex as a natural
sphere of influence.
- Some regional conflicts (India versus Pakistan, Middle East) could create threats of using nuclear weapons
and others (Central Asia) could also go beyond control.
- Political situation in Iran and North Korea could follow scenarios of conservation of power in the hand of
current leaders. It could speed up proliferation of WMD.
- International community could be unable to prevent falling of WMD into the hands of terrorists.
Fonte: Strategic Global Outlook 2030, p. 44.
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O Brasil está defasado em poder nacional para enfrentar um cenário repleto
de rivais disputando espaços entre si e com o País em áreas estratégicas que lhe
são vitais. Com novos atores na América do Sul, a exploração dos recursos
nacionais passa a ser, também, interesse direto deles e nada impede que, ao invés
de entrar em conflito, o Eixo faça acordos entre si com imposições ao Brasil, a
exemplo do que os Impérios fizeram na China no século XIX. A propósito, confira-se
o que diz a Academia Russa de Ciências (Strategic Global Outlook 2030) a respeito
das relações da Rússia com a América Latina:
“RISKS: Rising competition between major powers for resources and markets in these
regions. OPPORTUNITIES: Coordination among major powers and transnational
corporations, on one hand, and authorities of these regions and their big businesses, on the
other, in natural resources development. This could lead to sharing profits instead of
unproductive rivalry” (grifos nossos).
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O Brasil não é alvo do terrorismo internacional, mas pode vir a sê-lo, na
medida em que amplie sua projeção mundial e se envolva em questões afetas a
interesses de grupos terroristas. Os chamados grandes eventos, que serão
realizados no País até 2016, poderão servir de palco a atentados contra países
alvos do terrorismo internacional. Neste caso, a ameaça é real e justifica o emprego
de setores específicos das FA nacionais em ações preventivas e, se for o caso,
também nas repressivas.
“No Brasil, o cenário da segurança pública não pode ser analisado sem considerar o papel
do chamado crime organizado, que não se deve confundir com a criminalidade comum, sem
estrutura orgânica. O crime organizado se apresenta como uma pirâmide (CARDOSO,
2005, p. 87) onde, no topo - chefia e staff - são desenvolvidas atividades com fachada legal
para a lavagem de dinheiro, a corrupção e a infiltração em instâncias do poder, a fim de
assegurar a sobrevivência da organização e o financiamento do nível médio. Nesse último,
estão quadrilhas armadas, que promovem o narcotráfico, estabelecem domínios territoriais
e realizam ações violentas, conferindo poder ao topo da pirâmide. Na base, ficam as
comunidades desassistidas pelo Estado e sob o domínio das gangues, que nelas
conseguem recursos humanos para mobiliar as quadrilhas. (---) Há vínculos entre o crime
organizado e lideranças em setores influentes da sociedade, inclusive nas esferas do poder,
no Brasil e em países vizinhos. Em alguns desses últimos (---) as lideranças são acusadas
de ligação direta com o narcotráfico e o contrabando” (grifos nossos).
A falta de uma ação firme dos governos Federal e estaduais, por meio da
justiça e do Ministério Público, para neutralizar o topo da pirâmide do crime
organizado; a ineficácia dos órgãos de segurança pública, para reduzir o poder das
quadrilhas criminosas nos grandes centros urbanos e o narcotráfico desde as
fronteiras; a deficiência das políticas públicas na área social, para afastar as
comunidades do crime organizado; tudo aliado à crise de valores que contamina a
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sociedade em todos os níveis estão no cerne deste problema. São problemas afetos
diretamente a outras instâncias do Estado e só eventualmente à expressão militar,
quando falharem os órgãos deles encarregados.
“O aumento da demanda por energia em todo o mundo cria oportunidades para o crime
expandir suas atividades através de vínculos diretos com fornecedores de energia e com os
líderes dos países onde esses fornecedores estão localizados. Com os suprimentos de
energia cada vez mais concentrados em países de governança fraca, com práticas de
corrupção antigas e em que não há predominância da lei, há um alto potencial de infiltração
pelo crime organizado”.
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soberana de áreas ricas em recursos estratégicos, por países que ainda tenham
parte de seu território não desenvolvida e não integrada ao núcleo de poder do
Estado, a exemplo da Amazônia brasileira. Será usado o discurso dos “espaços
comuns” conjugado com o da proteção ao meio ambiente – “Amazônia, patrimônio
da humanidade”. Associada a outras considerações, esta tendência é parte de um
cenário mais amplo de ameaças potenciais ao Brasil, como se verá adiante.
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l. Ciência, tecnologia e inovação farão o diferencial.
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enfrentará por ter negligenciado ciência, tecnologia e inovação, industrialização
nacional e defesa por tanto tempo.
- Centros de gravidade (CG) continuarão sendo os alvos na guerra convencional, reunindo esforços nas
dimensões política, social, científico-tecnológica, econômica e militar.
- Ampliação de alianças militares para incrementar capacidades tecnológicas.
- Possibilidade de armamentismo em regiões instáveis e proliferação de mísseis balísticos e ADM.
- Incremento da utilização de drones e da robótica em atividades militares.
- Conflitos serão mais tecnológicos (domínios espacial, aéreo, marítimo, informacional e cibernético).
- Incremento de conflitos assimétricos (conflitos inicialmente convencionais passarão a assimétricos).
- Forças terrestres atuando mais em áreas urbanas.
- Agilidade e precisão das atividades de inteligência.
- Importância da coordenação civil-militar.
- Desenvolvimento de sistemas de defesa antiacesso por não potências.
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As FA devem estar em condições de fazer a guerra convencional e não só
combater como também realizar a guerra assimétrica. Esta última tem sido
negligenciada em nossos estudos e planejamentos, pois muitos ainda não
perceberam que ela não se restringe a uma simples guerrilha. Os ensinamentos
podem ser buscados, também, em movimentos libertadores como o de Gandhi na
Índia, em movimentos sociais, em vários episódios históricos e atuais, como a
“Primavera Árabe”, e em outros eventos. Muitos conflitos assimétricos nas últimas
décadas têm terminado com a vitória do mais fraco, se não militar, ao menos
política, embora a um custo bastante elevado. Por isso, não deve ser o modelo
prioritário de guerra.
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aos próprios desafios, entre os quais a possibilidade de sofrer bloqueios ou invasões
de áreas do território, ainda que limitadas e temporárias, como se verá adiante.
AGRESSOR
SISTEMA
SISTEMA
SISTEMA
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a. Política Nacional de Defesa.
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QUADRO 4 - Ambiente regional e entorno estratégico.
- Nº 4.1: no entorno estratégico, deveriam ser incluídos os países de língua portuguesa como de interesse
para os laços de cooperação.
- Nº 4.3: deveria ser incluída a cooperação militar e a formação de uma comunidade regional de segurança
entre os fatores que contribuem para reduzir a possibilidade de conflitos.
- Nº 4.4: deveria ser inserido que a promoção da expansão ideológica na região e a leniência com o crime
transnacional prejudicam a confiança mútua, cooperação, segurança, estabilidade e integração regional.
QUADRO 5 - O Brasil.
- Nº 5.1: a profundidade estratégica deveria ser destacada também como fator de segurança, conferindo a
possibilidade de sobreviver e reverter situações adversas em conflitos armados, pois é praticamente
impossível a ocupação militar de grandes áreas do território nacional por tempo prolongado.
- Nº 5.2: o litoral deve ser considerado uma das macrorregiões, ao se tratar de defesa nacional, pois exige
um planejamento abrangente englobando simultaneamente as Regiões Norte, NE, SE e Sul.
- Nº 5.4: destacar a importância da Amazônia brasileira também sob o ponto de vista político-militar, como
será esclarecido adiante.
- Nº 5.5: lembrar que o Brasil está também no Atlântico Norte, haja vista o Amapá e o nosso entorno
estratégico, Colômbia, Venezuela e as guianas. Portanto, é área de interesse direto da OTAN.
- Nº 5.6: incluir o conceito de sistema de defesa antiacesso.
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b. Estratégia Nacional de Defesa.
“Disposição para mudar é o que a Nação está a exigir agora de si mesma, de sua
liderança, de seus marinheiros, soldados e aviadores. Não se trata apenas de financiar e de
equipar as Forças Armadas. Trata-se de transformá-las para melhor defenderem o Brasil”.
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estudiosos civis e de militares da reserva. Além disso, os textos finais, em função
das estruturas hierarquizadas, refletem a ideia do decisor em cada escalão, que
pode não ser a melhor. É aí que entrariam as duas Comissões. Ao apreciar os
projetos em pauta, elas deveriam ouvir civis estudiosos e militares da reserva, em
audiências públicas e, em audiências reservadas, altos chefes militares, que teriam
o compromisso de emitir sua própria opinião. Afinal, é desperdício não conhecer o
pensamento pessoal de profissionais em quem a Nação investiu mais de trinta anos
em preparação contínua. Assunto de tamanha relevância não deve ficar subordinado
a interpretações retrógradas do que sejam hierarquia e disciplina intelectual. Tal
procedimento deveria ser comum a qualquer projeto de defesa cuja tramitação fosse
da alçada do Congresso, pois ali está, em última instância, a própria Nação. De
posse do contraditório, as Comissões enviariam os questionamentos,
reconhecidamente relevantes, ao ministro da defesa, solicitando resposta por escrito
ou sua presença para defender a posição do Ministério em audiência reservada, se
necessário o sigilo.
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capacidade de causar danos irremediáveis em curto prazo, neutralizando ameaças
seja pela antecipação seja pelo revide a uma agressão em comprovado andamento.
Requer forças com poder de choque e de fogo, bem como prontidão para resposta
imediata por meio de ações ofensivas de profundidade e duração compatíveis com o
poder oponente e capacidade de permanecer na ação. A efetiva letalidade reporta-
se às partes da END que tratam da indústria nacional de defesa, ciência, tecnologia
e inovação e mobilização nacional. Existe um desconforto quanto ao uso de
determinados conceitos, subordinando defesa nacional a um nefasto discurso
politicamente correto. O poder de uma diretriz pode ser verificado pelo que está
sendo implantado ao terem constado na END anterior as diretrizes referentes a
monitoramento/controle e mobilidade. Entraram em execução os projetos dos
sistemas de vigilância, da “nova família de blindados” e o da aeronave de transporte
KC-390. Se constasse “letalidade”, o setor de defesa despertaria para o projeto de
defesa antiacesso, necessariamente conjunto, até hoje nem mesmo pensado.
Deveriam ser transferidos para Rio Branco (AC) e Belém (PA) os comandos
de uma das brigadas mecanizadas do Rio Grande do Sul e o de uma das brigadas
motorizadas do Nordeste. Não se pode enfraquecer significativamente o Sul, o
Centro e o Sudeste, onde está o núcleo de poder do País. Além disso, o litoral do
Brasil é muito mais exposto a uma potência extrarregional, o que torna incoerente
considerar o Oeste prioritário ou com o mesmo nível do Atlântico Sul, quando se
pretende desenvolver a dissuasão extrarregional.
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- Localização: fornecida pelo sistema de monitoramento e vigilância, que deve ser
integrado e não singular como está ocorrendo, cuja missão é alertar da aproximação
e localizar a concentração e o desdobramento de forças inimigas.
- Proteção: resultado do sistema de defesa antiacesso.
- Mobilidade: estratégica e tática.
- Letalidade: poder de fogo com precisão e poder de choque.
- Adaptabilidade: para atuar em diferentes ambientes de conflitos.
- Elasticidade: fruto da mobilização de efetivo e material.
- Sustentabilidade: fruto de logística que assegure a permanência na ação.
Dtz 21. “As Forças Armadas deverão, também, estar habilitadas a aumentar
rapidamente os meios humanos e materiais disponíveis para a defesa. Exprime-se o
imperativo de elasticidade em capacidade de mobilização nacional e militar”. É
fundamental a capacidade de mobilização nacional de emergência nos conflitos
futuros, devendo ser avaliado se ela seria parte da fase de preparo ou da fase de
emprego. A rapidez é fator decisivo, pois a etapa de guerra convencional dos
conflitos armados será decidida em curto lapso, não havendo tempo para a
mobilização de grande vulto. No planejamento da mobilização, deverá ser
estabelecido um momento inicial de emergência, cuja finalidade será atender com
rapidez as necessidades de 13 brigadas operacionais (ver p. 44, § 2), que deveriam
ser mínimas; e, em seguida, as das reservas regionais do teatro de operações.
Posteriormente, seriam atendidas as demandas das reservas gerais, se fosse
decretada a mobilização nacional completa, no prosseguimento do conflito. A
mobilização de emergência requer uma indústria nacional de defesa desenvolvida,
além de outras capacidades inerentes às infraestruturas estratégicas existentes no
Brasil, como transportes, abastecimento, energia e outras.
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rivais estão projetando a cooperação militar em nosso entorno, ocupando espaços
que poderiam ser objeto de nossa estratégia de cooperação.
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Outro conceito que merece ser apreciado é o de “novas ameaças”. Desde a
queda da União Soviética, o conceito foi se firmando e acabou sendo indevidamente
adotado por países não desenvolvidos ou emergentes. O discurso era válido para a
aliança ocidental, que deixava de ter a ameaça soviética ao território de seus países
e precisava de desafios (pretextos na realidade) para justificar sua projeção
internacional. Foram identificadas como “novas ameaças” as questões ambientais,
problemas sociais, crime transnacional, terrorismo, violações aos direitos humanos e
aos de minorias e proliferação de ADM, entre outras. Todas estão diretamente
situadas no campo da segurança e apenas indiretamente no da defesa, portanto,
são de responsabilidade, inicialmente, de outras instâncias do Estado e não das FA.
Colocar “novas ameaças” como encargo das FA é desviá-las da defesa da Pátria,
missão prioritária e identificadora dessas instituições. Se as instâncias encarregadas
não estão sendo efetivas, cabe aperfeiçoá-las e não substituí-las, pois FA não são
agências multitarefas. As potências têm respaldado sua ingerência internacional
nessas questões, como forma de camuflar interesses outros que não podem
declarar. Deve ser lembrada a campanha dos EUA, no início dos anos 1990, no
sentido de as FA sul-americanas se voltarem a essas questões, delegando àquela
potência a defesa do continente.
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2010, já não se atém ao Art. 6° do Tratado de Washington, que limitava sua atuação
global.
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Humanos – 3ª edição – preconiza tornar constitucionais os instrumentos
internacionais de direitos humanos ainda não ratificados pelo Congresso Nacional
(p.27). Caso isso aconteça, tornar-se-ão letras mortas as 18 ressalvas constantes na
decisão do Supremo Tribunal Federal referente à demarcação da TI Raposa Serra
do Sol, que resguardam, ao menos parcialmente, as necessidades da defesa
nacional em todas TI do País. Por outro lado, os indígenas podem cobrar do governo
brasileiro o cumprimento da Declaração desde já. Não sendo atendidos, caso se
revoltem e haja repressão pelo governo, podem solicitar a intervenção das Nações
Unidas com base na Responsabilidade de Proteger, Resolução da ONU de 2005.
Seriam centenas de TI, em todo o Brasil, com autonomia maior que a dos estados
da Federação.
TERRAS INDÍGENAS
2012
PRESSÕES
POLÍTICAS
ECONÔMICAS
PSICOSSOCIAIS
INFLUÊNCIA DE ONGs
ABDICAÇÃO VOLUNTÁRIA
NENHUMA
DE SOBERANIA AMEAÇA
MILITAR
Fonte: http://revolucaoinstitucional.blogspot.com.br/2012/07/revolucao-institucional-sociedade.html.
Inscrições e adendos a cargo do autor.
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americanos e nem desejam criar áreas de atrito com os EUA e seus aliados, de
quem recebem recursos e apoio, uma vez que a limitação de soberania das nações
amazônicas é interesse do Eixo do Poder. Além disso, os EUA não têm, em seu
território, uma Amazônia onde a soberania seja contestada internacionalmente, por
não estar ocupada, desenvolvida e integrada.
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espaço rico, vital para o País e para potências rivais necessitadas de recursos ou
dependentes de bases em terra no caso de conflito no Atlântico Sul.
RR FOZ
AMZ
NE
HE
OBJETIVO NA AMAZÔNIA?
ATAQUE À AMAZÔNIA?
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Um questionamento é se um conflito contra uma potência, em função de
disputa por interesses na Amazônia, levaria necessariamente à ocupação
temporária de parte daquela região. Seria uma campanha com muitas baixas do
oponente, de longa duração e com resultados incertos após evoluir da fase
convencional para a assimétrica. Tal desgaste seria evitado, por exemplo, mediante
uma operação aeronaval para bloquear a bacia petrolífera de Campos (RJ),
racionando ou impedindo o fornecimento de petróleo e gás para o continente até que
o Brasil concordasse com imposições que satisfizessem os desígnios do oponente.
Daí a necessidade de um sistema de defesa antiacesso, cujos mísseis lançados,
também, de plataformas terrestres móveis tornariam difícil a permanência de uma
esquadra ocupando a bacia petrolífera.
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FIGURA 5 - Ações prováveis de uma ameaça.
Ataque Cibernético
aos Sistemas Críticos
DANOS À INFRAESTRUTURA
“MOEDA DE TROCA”
SOBERANIA COMPARTILHADA
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aumentar o seu poder militar progressivamente para, ao menos, diminuir o desnível
atual e aproximar-se do que seria a capacidade de dissuasão defensiva-ofensiva.
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Os demais componentes do Eixo do Poder, junto aos dois principais, vão procurar
moldar a agenda internacional (globalização, segurança e governança
internacionais, recursos estratégicos, “novas ameaças”, espaços comuns e outros
temas) à feição de seus interesses, intervindo inclusive pela força, em conjunto, em
coalizões parciais ou isoladamente, quando houver consenso ou liberdade de ação.
Não é preciso se tornar um império global, pois esse nível de poder não
parece levar a um futuro pacífico, ao criar necessidades que obrigam a agir em
escala mundial, provocando constantes e estressantes conflitos para uma nação. O
Brasil tem recursos de toda ordem que, se explorados e desenvolvidos de forma
sustentável, proporcionarão grande independência, por não ser necessário obtê-los
em outros países em grande quantidade, motivo dos permanentes contenciosos das
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potências globais. No campo militar, especificamente, bastaria ao País ter FA que,
embora convencionais e menos poderosas relativamente, tivessem a capacidade de
causar danos por iniciativa e resposta, a um custo elevado para o oponente, fator
dissuasório a ser considerado por uma potencial ou real ameaça.
Existem muitos óbices para alcançar esses propósitos, não só pelas reações
dos rivais alienígenas, alguns do próprio entorno, mas principalmente pela alienação
da Nação e da liderança nacional com relação aos assuntos de defesa. A falta de
visão desta última põe em risco o porvir do País e a segurança das próximas
gerações ao priorizar interesses imediatistas, atendendo a pressões internacionais,
como se constata na Amazônia - questões indígena e ambiental -, ao se dobrar a
imposições relativas ao desenvolvimento do poder militar, pela incúria com a defesa
nacional e pela ausência de política industrial e científico-tecnológica autônoma. O
discurso é nacionalista, mas ilusório, pois a prática é servil.
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Finalizando, nada será possível se não houver a mudança de mentalidade
da liderança e da Nação, de modo a conferir alta prioridade ao investimento na
defesa propriamente dita, ou seja, descontando a parcela do orçamento para
pagamento de pessoal (cerca de 80% do total). Como isso não deverá ocorrer,
mantida a tendência histórica de descuido com as FA e considerado o tremendo
hiato com as potências globais, ampliado nas duas últimas décadas, o Brasil não
desenvolverá a dissuasão extrarregional com relação ao Eixo do Poder e pagará um
preço elevado em algum momento até 2032, por ser uma potência secundária e
dependente.
Porém, a Nação esteja ciente de que seus militares de mar, terra e ar jamais
deixarão de cumprir o dever para com a Pátria, mesmo diante dos maiores desafios
e sacrifícios, pois a ela todo soldado é – em coração e mente – leal e dedicado.
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LUIZ EDUARDO ROCHA PAIVA
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BIBLIOGRAFIA E REFERÊNCIAS
NYE JR, Joseph S. O Futuro do Poder, São Paulo: Editora Benvirá, 2012.
ONU, Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas, Nova York, EUA, 2007.
49
ROCHA PAIVA, Luiz Eduardo. Perspectivas de emprego das Forças Armadas
internamente, num contexto de agravamento das ameaças à segurança pública ou
de tensões sociais, em função da legislação nacional, Brasília: EME/7ªSCh, 2012.
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