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Sistema de Aterramento em Linhas de Transmissão Frente à Descargas Atmosféricas

Julho/2017
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Sistema de Aterramento em Linhas de Transmissão Frente à


Descargas Atmosféricas
Hugo Daniel Castro Silva Nogueira – hugnogueira@hotmail.com
MBA em Projeto, Execução e Controle de Engenharia Elétrica
Instituto de Pós-Graduação - IPOG
São Luís, MA, 04 de dezembro de 2016

Resumo
Este trabalho tem como objetivo apresentar conceitos fundamentais sobre aterramento de
linhas de transmissão frente a descargas atmosféricas. O desenvolvimento do trabalho se deu
de forma teórica através de informações disponíveis na literatura especializada. Inicialmente,
são enfatizados conceitos introdutórios sobre aterramento elétrico, comentando sobre os
principais elementos e suas funcionalidades. O fenômeno da descarga atmosférica é descrito,
dando ênfase aos seus principais parâmetros de interesse e incidência desses fenômenos em
linhas de transmissão. São abordados os efeitos destes surtos no sistema de isolamento e as
possíveis falhas que resultam em interrupções no fornecimento de energia elétrica. Por fim, é
analisado o comportamento do aterramento de linhas de transmissão frente aos fenômenos
atmosféricos e são feitos comentários sobre sua influência na minimização de seus efeitos e
melhoria do desempenho das linhas. A constante melhoria do aterramento nas linhas de
transmissão aumentam a confiabilidade do sistema elétrico de potência, implicando
diretamente na redução de custos operacionais.

Palavras-chave: Aterramento Elétrico. Descargas Atmosféricas. Linhas de Transmissão.

1. Introdução
O sistema elétrico de potência (SEP) é um conjunto de equipamentos interligados que operam
de maneira coordenada, sejam destinados a geração, transmissão ou distribuição de energia,
com a finalidade de fornecer energia elétrica aos consumidores, dentro de certos padrões de
qualidade (confiabilidade e disponibilidade), segurança e custos. Neste trabalho, a área do
SEP considerada é o sistema de transmissão de energia elétrica.
As sobretensões nesse sistema podem ser geradas por correntes e por tensões transitórias após
operações de chaveamento e eliminação de faltas, durante condições anormais de operação,
ou por fontes externas, neste caso sendo originadas por descargas atmosféricas.
Segundo Pinheiro (2008:1),as descargas atmosféricas podem atingir diretamente a linha de
transmissão em diferentes pontos, podendo incidir na estrutura da torre, nos condutores fase
ou nos cabos pára-raios. Nesses casos, são geradas sobretensões associadas às correntes
provenientes dos surtos atmosféricos que podem resultar em falhas de isolamento da linha de
transmissão (LT), conseqüentemente ocasionando um desligamento da mesma, interrompendo
o fluxo de energia elétrica para os consumidores. As interrupções no fornecimento, assim
como os danos aos equipamentos do sistema devido a esse surto, além da queda do padrão de

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qualidade de energia, resultam em grandes prejuízos financeiros às concessionárias e aos


consumidores de energia elétrica.
Desta maneira, um sistema de transmissão de energia elétrica deve estar provido de proteção
contra essas descargas, caso contrário, elevadas tensões superiores à suportabilidade do
isolamento podem ocasionar um curto-circuito monofásico levando ao desligamento da linha.
A prática mais tradicional para a proteção da linha de transmissão contra os efeitos das
descargas atmosféricas consiste no uso de cabos pára-raios ao longo da linha protegendo os
condutores fases de energia de possíveis incidências diretas. Associado aos cabos de
blindagem, o sistema de aterramento através de cabos contrapesos constitui um papel
essencial na proteção da linha de transmissão e na minimização dos efeitos dos surtos
atmosféricos.
Portanto, a compreensão do comportamento do sistema de aterramento e de sua influência no
desempenho da linha frente a descargas atmosféricas consiste em um importante objeto a ser
investigado.
Segundo Pinheiro (2008:36), estudos revelam que a maioria dos desligamentos de linhas de
transmissão se deve as descargas atmosféricas, cerca de 70% no Brasil, mostrando a
importância do problema. Isto reforça a necessidade do aterramento de linhas de transmissão
e suas contribuições para a minimização dos efeitos dos surtos atmosféricos.

2. Sistema de Aterramento em Linhas de Transmissão

2.1 Conceitos de Aterramento Elétrico


Segundo Visacro Filho (2002:11) O termo aterramento elétrico pode ser definido como uma
forma de conectar propositalmente uma estrutura condutora de corrente elétrica à terra, com a
finalidade de prover um caminho a correntes indesejáveis pelo sistema através de uma
impedância de aterramento. Basicamente um sistema de aterramento se divide em três
componentes:
- Eletrodos de aterramento (eletrodo natural e convencional);
- Conexões e condutores elétricos que ligam os pontos do sistema;
- O solo que envolve os eletrodos.
As redes de alta e baixa tensão estão sempre sujeitas a surtos de tensões, originados de
descargas atmosféricas ou inerentes ao próprio sistema. Para garantir que o sistema de
potência opere de forma confiável, segura e sem interrupções é necessário o seu aterramento,
possibilitando que os dispositivos de proteção atuem e escoem as correntes indesejáveis para
a terra.
Conforme Kinderman (1995:1), o aterramento elétrico tem como objetivos:
- Proteção de pessoas e equipamentos contra potenciais perigosos que possam se desenvolver
- na área da instalação;

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- Fornecer um caminho de impedância adequada para a terra das correntes de neutro dos
circuitos e equipamentos;
- Estabelecer um referencial para a instalação;
- Escoar para a terra as correntes provenientes de descargas atmosféricas.
Em linhas de transmissão, um aterramento deve ser projetado levando em consideração a
capacidade de escoamento de descargas elétricas atmosféricas; uma vez bem projetado, o
mesmo deve ser integrado ao sistema de proteção contra descargas atmosféricas. Para se
dimensionar um adequado sistema de aterramento, é de fundamental importância que se faça
um estudo das características do solo e da instalação (PINHEIRO, 2008:50).

2.2 Descargas Atmosféricas


2.2.1 Conceitos das Descargas Atmosféricas
Conforme Araújo (2010:37), alguns termos básicos que envolvem o assunto e seus conceitos
são:
- Descarga atmosférica: descarga elétrica proveniente da atmosfera, consistindo em um ou
mais impulsos de vários kA;
- Raio: um dos impulsos elétricos de uma descarga atmosférica para a terra;
- Relâmpago: luz gerada pelo arco elétrico do raio;
- Trovão: ruído produzido pelo deslocamento do ar devido ao súbito aquecimento pela
descarga do raio.
- Nível Ceraúnico (NC): por definição, corresponde ao número de dias de trovoadas em uma
determinada região, no período de um ano;
- Densidade de descargas: é a quantidade de descargas que ocorrem em uma determinada área
de 1 km² no período de um ano;
- Linhas Isoceraúnicas: são linhas que interligam localidades com um mesmo nível
ceraúnico.

2.2.2 Descargas Atmosféricas entre Nuvem e Solo


Apesar da maioria das descargas ocorrerem dentro das nuvens, as descargas entre os meios
nuvem e solo são as que despertam mais interesse nas análises aplicadas ao sistema de energia
elétrica. Sua denominação é feita de acordo com o sentido do movimento da carga que a
origina e a sua polaridade. Segundo o INPE, as descargas entre nuvem e solo podem ser do
tipo nuvem-solo (positiva ou negativa) ou solo-nuvem (positiva ou negativa). As que são
orientadas no sentido nuvem-solo correspondem a cerca de 99%, enquanto que as solo-nuvem
são raras, geralmente ocorrendo no topo de montanhas ou estruturas muito elevadas. Quanto a
sua polaridade, em média, cerca de 90% das descargas que ocorrem entre os meios nuvem e
solo são negativas e 10% são positivas.
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Sendo assim, conforme Salari Filho (2006:34), as descargas entre nuvem e solo podem ser
classificadas da seguinte forma:
- Descarga Descendente Negativa: é o tipo mais comum, envolvendo principalmente
estruturas não muito altas como as linhas de transmissão;
- Descarga Descendente Positiva: é menos comum, ocorrendo quando as nuvens são mais
baixas e descargas são originadas da parte superior que contém as cargas positivas das
nuvens. Esta descarga é, em regra geral, de maior intensidade que a descendente negativa;
- Descarga Ascendente Negativa: é típica de regiões montanhosas e de estruturas altas (como
torres de telecomunicação), a mais rara de todas as descargas;
- Descarga Ascendente Positiva: também ocorre em altos de montanhas e estruturas elevadas.
Os quatro tipos de descargas entre nuvem e solo estão ilustrados a seguir na Figura 1.

Figura 1- Tipos de descargas entre nuvem e solo (SALARI FILHO, 2006:35) V = Direção da descarga;
1-Descarga negativa descendente;2-Descarga positiva descendente;
3-Descarga positiva ascendente;
4-Descarga negativa ascendente.

2.2.3 Parâmetros Relevantes das Correntes das Descargas Atmosféricas


Para uma melhor compreensão do efeito das descargas atmosféricas nas linhas de transmissão
é necessário o conhecimento dos principais parâmetros das ondas de corrente de tais
fenômenos.
Em poucas palavras, essa corrente pode ser modelada em termos dos valores agregados aos
seguintes parâmetros (PINHEIRO, 2008:20):
- Amplitude da corrente ou corrente de pico Ip;
- Tempo de Frente;

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- Tempo de meia onda.


O exemplo de forma de onda pode ser observado na Figura 2.

Figura 2 - Típica forma de onda da corrente de uma descarga descendente negativa, adaptada de Silva (2007:6)

2.2.3.1 Amplitude da Corrente


A amplitude da corrente de uma descarga atmosférica para a terra é o parâmetro mais
importante para dimensionamento das características de projeto de linha de transmissão, tanto
para sua proteção como para seu desempenho, pois determina a amplitude das sobretensões
desenvolvidas no sistema. Quanto maior for a amplitude desta corrente, maior será o risco de
rompimento da isolação das linhas (CUNHA, 2010:24).
Alguns pesquisadores em geral sugerem, através de diversas medições, que o valor mediano
de pico da primeira corrente de descarga negativa é da ordem de 30 kA, mas existem registros
de medições realizadas na estação do Morro do Cachimbo que evidenciam valores mais
elevados para a região, em torno de 45 kA (CUNHA, 2010:25).
Cabe ressaltar que a corrente de pico da forma de onda, observada na Figura 2, típica das
descargas atmosféricas descendentes negativas é caracterizada por dois valores (PINHEIRO,
2008:21):
- Ip1 = primeiro pico da corrente de descarga;
- Ip2 = segundo pico da corrente de descarga.
O segundo pico da corrente de descarga é o de maior valor, sendo este geralmente utilizado
nos estudos de estimação dos parâmetros das descargas atmosféricas. Ocorre em torno de 5 a
10 µs após o primeiro (PINHEIRO, 2008:22).
A título ilustrativo, quando uma corrente de retorno da ordem de 30 kA atinge uma linha de
transmissão que tem uma impedância de surto de 400 Ω, uma sobretensão de 600 kV pode ser
produzida, assumindo a divisão de corrente. Essa sobretensão pode romper as isolações da
linha para a terra, entre linhas adjacentes e de outros equipamentos interligados a ela. Essa

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mesma corrente fluindo para o solo através de uma impedância de aterramento de 10 Ω pode
aumentar o potencial para 300 kV, podendo causar arcos elétricos na superfície (VERNON,
2010:58).
2.2.3.2 Tempo de Frente
Outro parâmetro importante da corrente proveniente das descargas atmosféricas é o tempo de
frente. Diferentes definições são aplicadas a este termo em toda a literatura, de forma
simplificada, define-se como o tempo que decorre desde o início da onda impulsiva da
descarga até o alcance do seu primeiro pico (CUNHA, 2010:24).
Dois tipos de tempo de frente são observados na Figura 2 (anteriormente mostrada): T10 e
T30, também representados, respectivamente, como T10/90 e T30/90. Ou seja, são faixas de
tempo que representam o crescimento da amplitude da corrente. No primeiro tipo, leva-se em
consideração o tempo necessário para o módulo da corrente de descarga aumentar de 10% a
90% do valor do primeiro pico. No segundo, somente é modificado o ponto de início da
análise, visto que este considera a partir de 30% do valor do primeiro pico de corrente
(PINHEIRO, 2008:25).
A influência deste parâmetro no desempenho de linhas de extra-alta tensão está diretamente
associada ao comportamento dos isolamentos do sistema quanto à suportabilidade frente às
sobretensões provenientes das descargas e sua duração na torre (CUNHA, 2010:24). “Quanto
menores os tempos de frente da corrente de surto, maiores sobretensões serão geradas sobre
os isoladores de linhas de transmissão” (PINHEIRO, 2008:25).
2.2.3.3 Tempo de Meia Onda
O tempo de meia onda, de cauda ou de descida de uma descarga atmosférica deve ser levado
em conta no que diz respeito às solicitações térmicas dos equipamentos de proteção contra
surtos atmosféricos nos sistemas de energia, ou seja, quanto maior for o valor desse
parâmetro, o risco de danificação destes equipamentos poderá ser maior. Isso se deve ao fato
de que os dispositivos de proteção estarão submetidos a uma grande quantidade de energia
por um tempo maior (PINHEIRO, 2008:27).
Assim como o tempo de frente, o tempo de meia onda apresenta algumas definições com
relação aos pontos iniciais para determinar o seu intervalo. Alguns trabalhos consideram que
o ponto inicial se dá no instante em que o módulo da corrente vale zero, outros consideram no
instante em que vale 2 kA (PINHEIRO, 2008:27). Na Figura 2, anteriormente disposta, o Tmo
(tempo de meia onda) tem como instante inicial o ponto em que o módulo da corrente vale
10% do seu valor de pico e possui como instante final o ponto da cauda (descida) em que a
amplitude atinge 50% do valor de pico.
2.3 Descargas Atmosféricas em Linhas de Transmissão
As descargas atmosféricas incidentes em linhas de transmissão constituem um grande
problema para a transmissão de energia elétrica. Alguns parâmetros da linha como a altura da
torre, posicionamento dos cabos pára-raios, impedâncias de surtos e de aterramento,
suportabilidade, entre outros e parâmetros associados à descarga atmosférica possuem
bastante influência no desempenho de uma LT (ZANETTA, 2003:692). A seguir, serão

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descritos os tipos de incidência de descargas em linhas de transmissão e como esses


parâmetros influenciam em seu desempenho.
2.3.1 Incidência de Descargas Atmosféricas nas Linhas de Transmissão
As descargas atmosféricas são responsáveis pelo maior percentual de desligamento de linhas
de transmissão, cerca de 70% no Brasil. A grande quantidade de desligamentos das linhas
resulta em impactos significativos na confiabilidade do sistema de energia elétrica. Uma
análise econômica revela que os prejuízos podem chegar a de R$600 milhões/ano devido aos
desligamentos e danos aos equipamentos (PINHEIRO, 2008:36).
O conhecimento da dinâmica que envolve os desligamentos das linhas de transmissão por
descargas atmosféricas possibilita estudos de melhoria do seu desempenho, aumentando a
qualidade de energia entregue aos consumidores e reduzindo o número de desligamentos.
Os desligamentos das linhas de transmissão provocados por descargas atmosféricas ocorrem
com o estabelecimento de sobretensões nas cadeias de isoladores das linhas ou em seus
condutores, ocasionando assim rupturas do seu isolamento e um curto-circuito para a terra.
Por sua vez, as correntes de curto-circuito por serem relativamente altas sensibilizam os
dispositivos de proteção que atuam no desligamento preventivo da linha (CUNHA, 2010:7).
2.3.1.1 Nível de Isolamento
Para cada classe de tensão de linha de transmissão, as concessionárias de energia associam
valores de NBI (Nível Básico de Isolamento) que representam valores mínimos de
sobretensão suportáveis pelos isoladores presente no sistema (SILVA, 2007:8). A Tabela 1
apresenta alguns valores de tensão de operação e seus respectivos NBI’s.

Nível de Tensão de
NBI (kV) Nº de Isoladores
Operação da Linha (kV)
230 975 11-14
345 1240 15-19
500 1612 22-28
Tabela 1 - Valores típicos de NBI e número de isoladores associados às tensões de operação (CUNHA, 2010:8)

De modo geral, para tensões acima de 345 kV os níveis de isolamento das linhas de
transmissão são relativamente altos, formando cadeias mais robustas; logo alguns efeitos das
descargas atmosféricas são desprezíveis, desde que as linhas sejam projetadas adequadamente
(PINHEIRO, 2008:37).
2.3.1.2 Ponto de Incidência de Descargas Atmosféricas em LT’s
A análise do comportamento dos sistemas de energia frente às descargas atmosféricas pode
ser feita levando consideração o ponto de incidência desses surtos ao longo da linha de
transmissão. De modo geral, as descargas podem ser classificadas como diretas ou indiretas
(SILVA, 2007:9). Resumem-se da seguinte forma:
- Descargas Diretas: Incidentes diretamente nos cabos condutores, pára-raios ou nas estruturas
das torres;

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- Descargas Indiretas: Incidências próximas às linhas.


2.3.1.2.1 Modelo Eletrogeométrico
O método do Modelo Eletrogeométrico é comumente utilizado para fazer análises quanto ao
ponto de incidência das descargas. Este modelo foi desenvolvido e calibrado após extensas
pesquisas em desligamentos de linhas de transmissão, na tentativa de relacionar a corrente
proveniente das descargas e sua trajetória, parâmetros geométricos da linha e o ponto de
incidência (PINHEIRO, 2008:42).
Para compreender melhor esse modelo, deve ser considerada a distância de atração criada pela
ponta da descarga piloto. Essa distância compreende uma região pela qual a descarga
atmosférica pode ser desencadeada. Um condutor presente na região coberta pela distância de
atração será atingido pelo raio (ZANETTA, 2010:454). A Figura 3 ilustra o canal ionizado e a
distância de atração.

Figura 3 - Canal ionizado e distância de atração (ZANETTA, 2010:454)

No entanto, para a análise do ponto de incidência em linhas de transmissão, a sua referência


deixa de ser a ponta da descarga piloto e passa a ter como referência as distâncias de atração
produzidas pelos condutores, cabos pára-raios e solo (PINHEIRO, 2008:43).
Diversos pesquisadores desenvolveram relações empíricas para relacionar o raio de atração,
com a amplitude da corrente. Essa distância de atração pode ser expressa, para os cabos das
linhas e solo, através da Equação 1 a seguir, desenvolvida por Love (ZANETTA, 2010:454).

(1)

Onde:
rs = distância de atração (m);
I = Amplitude da corrente da descarga atmosférica (kA).
Com a geometria da linha como referência, as distâncias de atração de uma linha de
transmissão de 3 condutores de fase e 2 cabos pára-raios para uma determinada corrente de
descarga, ficam como mostrado na Figura 4 (ZANETTA, 2010:455).

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Figura 0 - Distâncias de atração dos cabos (ZANETTA, 2010:455)

Da Figura 4, percebe-se que os condutores de fase c1 e c2 estão expostos a certas descargas e


que apenas o condutor central está totalmente protegido pelos cabos pára-raios e pelos outros
dois condutores.
Segundo (ZANETTA, 2010:456), a superfície de exposição do condutor delimitada pelo seu
raio de atração rs sofre mudanças de acordo com o valor da amplitude da corrente da descarga
atmosférica, ou seja, quanto maior em módulo for essa corrente, cresce também o raio de
atração dos cabos pára-raios, oferecendo assim uma maior proteção para condutores de fase
energizados. Se as curvas dos cabos pára-raios traçadas pelo seu raio de atração se
interceptarem com as do solo, o sistema terá uma proteção total para os condutores de fase.
Para correntes de menor amplitude percebe-se que a proteção oferecida pelos cabos de
blindagem é menor, ou seja, os cabos fase ficam mais expostos, porém as sobretensões
impostas por essas correntes são de menor amplitude e na maioria dos casos suportáveis para
as cadeias de isoladores (ZANETTA, 2010:456).
A Figura 5 ilustra as diferentes superfícies criadas pelas distâncias de atração com a variação
da amplitude da corrente da descarga.

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Figura 5 - Superfície de exposição em função da corrente de descarga (ZANETTA, 2010:455)


De fato, da Figura 5, é possível perceber as diferentes superfícies de exposição do cabo
condutor de acordo com a amplitude da corrente. Para uma corrente de raio I1 o condutor, o
cabo-guarda e o solo apresentam um raio de atração rs1, como as superfícies de exposição do
cabo-guarda e do solo não se interceptam, o condutor apresenta então uma superfície de
exposição delimitada pela linha tracejada e acaba exposto a essa descarga. Para outra corrente
de raio I2 < I1 com distância de atração rs2 o mesmo acontece, porém a superfície de
exposição do cabo condutor é menor. Para uma corrente I3 maior ainda que as anteriores com
distância de atração rs3, as superfícies de exposição do cabo-guarda e do solo agora se
interceptam protegendo o condutor de fase (PINHEIRO, 2008:45)(ZANETTA, 2010:456).
Dessa maneira o projeto de blindagem das fases das linhas de transmissão frente às descargas
atmosféricas pode ser traçado de acordo com a suportabilidade dos isoladores às sobretensões
impostas pelas descargas, no intuito de não permitir que haja uma interrupção na transmissão
de energia elétrica por intermédio desses surtos (ZANETTA, 2010:456). Nos estudos de
desempenho de linhas considera-se inicialmente o valor mínimo de amplitude de corrente de
descarga que pode causar uma quebra no isolamento da linha com seu conseqüente
desligamento em caso de falha de blindagem. De posse desse valor são traçadas as distâncias
de atração dos cabos condutores de fase e do solo. Os cabos pára-raios devem ser
dimensionados de tal forma que possuam distâncias de atração que englobem todos os cabos
condutores não os deixando expostos, logo a linha estará totalmente blindada para descargas
cujas amplitudes possam acarretar um desligamento (ROCHA, 2009:12).
2.3.1.2.2 Descarga Indireta
As descargas atmosféricas do tipo nuvem-ar (começam na nuvem e terminam no ar) que
incidem nas proximidades das linhas de transmissão são ditas descargas indiretas. As
sobretensões provenientes dessas descargas nas linhas, também conhecidas como tensões
induzidas, são provocadas pelo campo eletromagnético que as “iluminam” e transmitem
energia para elas. Associada à onda de tensão induzida, existe uma onda de corrente que
trafega pelos condutores das linhas. Essas tensões têm a intensidade dependente do valor de
pico da corrente e do tempo de frente de onda da descarga (SILVA, 2007:9). A Figura 6
ilustra esse fenômeno.

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Figura 6 - Descarga indireta, campo eletromagnético induzindo sobretensões na linha (SILVA, 2007:10)

As sobretensões induzidas nas linhas raramente excedem 500 kV. Logo para as linhas de
transmissão com tensão de operação acima de 69 kV e com blindagem de cabos pára-raios os
efeitos das descargas indiretas são perfeitamente suportáveis, pois geralmente o nível de
isolamento dessas linhas é suficiente para suportarem as sobretensões (PINHEIRO, 2008:55).
Os efeitos das descargas indiretas são mais significantes para sistemas de baixa e média
tensão, em geral para as linhas de distribuição que por sua vez possuem um nível de
isolamento mais baixo, podendo ocorrer falhas no isolamento e consequentemente
desligamentos (CUNHA, 2010:8).
2.3.1.2.2 Descarga Direta
São consideradas descargas diretas todo surto atmosférico que atingir diretamente qualquer
componente da linha de transmissão. Algumas literaturas consideram descargas diretas apenas
as que incidirem nos cabos condutores das linhas e quando atingem os demais componentes
são classificadas como indiretas. Neste trabalho considera-se a primeira classificação.
A incidência direta de descargas nas linhas é o fenômeno que tem maior probabilidade de
provocar desligamentos. Existem três mecanismos básicos de ruptura de isolamento devido a
esse tipo de surto e o seu local de incidência (CUNHA, 2010:8):
- Descarga direta nos cabos condutores, ocasionando descarga disruptiva no isolamento ou
flashover;
- Descarga direta nos cabos pára-raios ou torres, ocasionando descarga disruptiva de retorno
ou backflashover;
- Descarga direta nos cabos pára-raios a meio de vão, ocasionando a ruptura a meio de vão.
O flashover é o mecanismo de falha de isolamento devido à incidência direta de uma descarga
atmosférica nos cabos condutores. Essa incidência está associada à falha de blindagem
proporcionada pelos cabos pára-raios aos cabos condutores ou na inexistência destes (SILVA,
2007:11).
Ao atingir os cabos condutores da linha de transmissão, a corrente de descarga se divide em
duas ondas de corrente de amplitude aproximadamente iguais que se deslocam para ambos os
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lados da linha a partir do ponto de incidência em direção aos isoladores, conforme mostra a
Figura 7(CUNHA, 2010:8).

Figura 7 - Incidência direta nos cabos condutores de uma linha de transmissão (PINHEIRO, 2008:47)

No caso de ruptura do isolamento, o isolador é submetido a uma sobretensão que estabelece


um arco elétrico entre os condutores energizados e a estrutura aterrada (torre). A corrente
proveniente da descarga atmosférica flui rapidamente por esse arco em direção a terra. Na
maioria dos casos, o arco elétrico é sustentado pela própria tensão de operação da linha, pois
uma vez estabelecido, este não precisa de um valor elevado de tensão para se manter. Nessa
situação, a sustentação do arco elétrico configura um curto-circuito fase-terra, originando
correntes consideradas destrutivas para o sistema que sensibilizarão os dispositivos de
proteção, que por sua vez irão desligar a linha (SILVA, 2007:12).
Se não houver o flashover ou atenuação significativa, o surto se propagará em direção às
subestações existentes nas extremidades da linha, podendo ocasionar danos aos equipamentos
que lá operam. O valor máximo que pode atingir a subestação é limitado pela suportabilidade
da linha (PINHEIRO, 2008:48).
As atenuações e distorções que o surto de tensão sofre durante a sua propagação ao longo da
linha se devem basicamente às dissipações de energia na resistência da linha e ao efeito
corona. O aumento da resistência da linha se dá pelo efeito pelicular. No entanto, o efeito
corona é o que apresenta atenuações e distorções mais significativas aos surtos atmosféricos
(PINHEIRO, 2008:48).
O backflashover é uma disrupção na cadeia de isoladores de uma linha de transmissão devido
à incidência de descargas atmosféricas diretamente nos cabos pára-raios ou nas torres. O
fenômeno descrito pode ser visto na Figura 8 a seguir (CUNHA, 2010:10).

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Figura 8 - Incidência de descargas atmosférica nos cabos pára-raios e o blackflashover (CUNHA, 2010:10)

Os cabos pára-raios têm a finalidade de evitar que as descargas atmosféricas atinjam os


condutores fase da linha de transmissão e a condução das correntes provenientes dessas
descargas para estruturas aterradas. Ao incidirem sobre o condutor de blindagem ou nas torres
das linhas, a onda de corrente criada pela descarga atmosférica se propaga através das
estruturas buscando se descarregar no solo através do aterramento. Associada a esta corrente
se propaga também uma onda de tensão cuja amplitude é dada aproximadamente pelo produto
da amplitude da onda de corrente e a impedância de surto da linha (SILVA, 2007:12).
As ondas de tensão e correntes que se propagam em direção ao solo, quando encontram a
primeira torre aterrada, se dividem em componentes. Uma parcela é refletida, a outra continua
viajando nos cabos e outra desce a estrutura aterrada em direção ao solo. Quando a onda de
sobretensão atinge o solo, ela é refletida (com polaridade negativa) devido à descontinuidade
da impedância de surto da torre com a impedância de aterramento (CUNHA, 2010:9):
O backflashover é o mecanismo responsável pela maior parte dos desligamentos não-
programados (por descargas atmosféricas) de linhas de transmissão que possuem cabo de
blindagem (CUNHA, 2010:9). Nesse contexto é necessário um dimensionamento correto dos
sistemas de aterramento, que possuem como objetivo principal a obtenção de valores mínimos
para a impedância de aterramento das torres de transmissão, pois esta reduz de forma
significante a sobretensão o topo da torre após a reflexão dos surtos (PINHEIRO, 2008:80).
Vale ressaltar que a incidência de descargas atmosféricas nos cabos pára-raios resulta em uma
sobretensão no ponto de incidência muito maior do que quando estas incidem nas torres. Isso
se deve ao fato da impedância de surto equivalente vista do ponto de incidência ser
relativamente maior (PINHEIRO, 2008:52).

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O fenômeno da ruptura a meio de vão é mais comum nas linhas de transmissão que
apresentam espaçamento reduzido entre os cabos fase e os cabos pára-raios ou que possuam
vãos extensos, acima de 300 m (CUNHA, 2010:12).
Este fenômeno ocorre quando uma descarga atmosférica incide nos cabos pára-raios no meio
do vão entre as torres de transmissão. A corrente produzida por essa descarga incidente no
condutor de blindagem se divide em duas parcelas aproximadamente iguais que fluem para
ambos os lados da linha.
Como já visto anteriormente, associadas a essas correntes são produzidas ondas de tensão
que, dependendo de suas magnitudes, podem ou não prejudicar o isolamento da linha. No
caso da ruptura a meio de vão, a sobretensão resultante (no ponto de incidência do surto) entre
o condutor de blindagem e o energizado pode ser da ordem de três a quatro vezes superior à
sobretensão resultante no isolamento no caso de incidência nas torres, pois a parcela que é
refletida no aterramento da torre pode levar um tempo da ordem do tempo de frente para
voltar ao ponto de incidência (SILVA, 2007:16).
A sobretensão resultante entre os condutores de fase e de blindagem, dependendo de sua
magnitude, rompe a rigidez dielétrica do ar presente entre o espaçamento desses condutores
através do campo elétrico produzido, que deve ter um valor médio maior do que 623 kV/m
(CUNHA, 2010:12).
2.4 Sistema de Aterramento
2.4.1 Configurações de aterramento das linhas de transmissão
Basicamente, o sistema de aterramento de uma torre de transmissão é composto por eletrodos
enterrados, a certa profundidade, verticalmente e/ou horizontalmente. Os eletrodos verticais
são hastes cilíndricas de copperweld ou grelhas dispostas no pé da torre (PINHEIRO,
2005:21). A Figura 9 mostra um arranjo de hastes verticais ao redor da torre. A grelha
constitui uma estrutura formada por vários elementos metálicos próximos, em forma de
pirâmide, pode alcançar profundidades de 2,4 m (SOARES Jr, 1996:39). Os eletrodos
horizontais são denominados de cabos contrapeso, que são constituídos de condutores longos
de cobre ou ferro galvanizado, de secção cilíndrica ou em formas de fitas e quem podem ser
enterrados em várias profundidades, de acordo com o projeto. Com estes podem ser feitos
diversos arranjos de forma radial ou paralela, com a finalidade de facilitar o escoamento da
corrente de impulso atmosférico e diminuir a tensão no topo da torre (PINHEIRO, 2005:21).

Figura 9 - Arranjo de hastes verticais (PINHEIRO, 2005:21)

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Alguns arranjos de cabos contrapeso podem ser vistos a seguir na Figura 10.

Figura 10 - Arranjos de cabos contrapeso (PINHEIRO, 2005:23)

Para as torres metálicas autoportantes, os cabos contrapesos partem dos pontos de injeção de
corrente que são as quatro pernas da torre. Em cada ponto de contato com o solo é colocada
uma grelha, onde são conectados os cabos contrapesos a aproximadamente 0,5 m de
profundidade, partindo em direção radial e em seguida longitudinal, acompanhando
paralelamente a faixa de passagem (SOARES Jr, 1996:41). A configuração deste aterramento
é mostrada na Figura 11.

Figura 11 - Configuração de aterramento para torre metálica autoportante (SOARES Jr, 1996:40)

Esse tipo de configuração é utilizado em vários sistemas de transmissão com tensões


operacionais entre 69 e 345 kV. Para cada sistema se tem uma faixa de passagem diferente,
logo apresenta também um comprimento diferente para a porção do cabo contrapeso que parte
radialmente da grelha, conforme pode ser visto na Tabela 2 (SOARES Jr, 1996:40).

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Tensão da Linha Faixa de Passagem


L2 (m)
(kV) D (m)
69 23 11,2
138 23 11,2
230 38 21,8
345 50 30,3
Tabela 2 - Faixa de passagem e distância radial dos sistemas que utilizam torres metálicas autoportantes
(SOARES Jr, 1996:40)

2.4.2 Propagação das Ondas no Aterramento


Para uma melhor compreensão da influência do aterramento no desempenho de uma linha de
transmissão frente às descargas atmosféricas deve se observar como as ondas de corrente e
tensão se propagam pela estrutura da torre e pelo sistema de aterramento, e como estes
mecanismos se comportam, em especial o sistema de aterramento, para que não tenha uma
sobretensão resultante no topo da torre capaz de romper o isolamento das linhas de
transmissão (SOARES Jr, 1996:16).
Para efeito de análise considera-se um sistema típico de transmissão de energia constituído de
torres autoportantes, cabos pára-raios, sistema de aterramento e condutores de fase conectados
a torre através das cadeias de isoladores.
Algumas considerações são feitas para que se caracterize a influência do aterramento no
estabelecimento da sobretensão resultante na parte superior da torre. É considerada apenas a
parcela de corrente que desce a torre de transmissão que tem o seu valor de impedância de
surto aproximado para a ordem de 150 Ω. A configuração de aterramento dispõe de cabos
contrapesos e grelhas, conforme a Figura 12, de torres metálicas autoportantes (SOARES Jr,
1996:15).

Figura 12 - Configuração de aterramento, composta por grelha e cabos contrapeso (SOARES Jr, 1996:15)

Normalmente, as torres de transmissão por serem isoladas dos cabos condutores de energia
elétrica não apresentam tensão em sua estrutura, mas em condições anormais como na

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incidência de descargas atmosféricas nas linhas de transmissão, sobretensões podem ser


geradas nessas partes (SOARES Jr, 1996:16).
A estrutura de uma torre de transmissão é o principal caminho para escoar correntes
provenientes de descargas atmosféricas para o solo. Associada a essas correntes são geradas
ondas de tensão de grande magnitude na parte superior da torre, submetendo as cadeias de
isoladores a elevadas diferenças de potencial, podendo exceder o limite de suportabilidade
destas. Consequentemente ocorrerá uma falha no sistema através do estabelecimento de um
arco elétrico entre os condutores fase e a torre, resultando em um curto-circuito e
posteriormente na interrupção do suprimento de energia elétrica (SOARES Jr, 1996:16).
Com essas considerações feitas é importante analisar o efeito da impedância da torre, a
reflexão negativa no aterramento, a reflexão positiva nas extremidades dos cabos contrapesos
e o efeito de dispersão de corrente nas grelhas.
2.4.2.1 Efeito da impedância da torre
Estudos realizados através da colocação de elos magnéticos nas torres de transmissão revelam
que a parcela da corrente que desce pela estrutura da torre possui um valor mediano de pico
da ordem de 22 kA. Para análise, considera-se que essa onda de corrente tenha um valor de
pico de 10 kA. O valor da impedância de surto da torre é de 150 Ω, isso significa que uma
onda de tensão com valor de pico de 1500 kV trafega pela estrutura da torre, conforme mostra
a Figura 13. Vale ressaltar que uma sobretensão dessa magnitude excede certos limites dos
níveis básicos de isolamento das torres, podendo acarretar o desligamento da linha (SOARES
Jr, 1996:16).

Figura 13 - Ondas de corrente e tensão na estrutura da torre (SOARES Jr, 1996:17)

2.4.2.2 Reflexão negativa no aterramento

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Quando a onda de tensão produzida na torre atinge a sua base, ou seja, seu aterramento, duas
novas ondas são originadas correspondentes aos fenômenos de reflexão e refração de ondas.
A intensidade dessas ondas depende da impedância de surto da torre e da impedância de
aterramento, a regulagem é feita por um coeficiente , calculado através da Equação 2,
mostrada abaixo (SOARES Jr, 1996:17).

(2)

Para o caso analisado, considera-se a impedância de surto da torre (ZT) da ordem de 150 Ω e a
impedância de aterramento (ZG) igual a 30 Ω. Este valor de impedância de aterramento é
considerado um valor aceitável, atendendo de forma confiável as respostas aos impulsos
atmosféricos (SOARES Jr, 1996:17)
Na Figura 14, pode-se perceber o efeito benéfico da reflexão negativa na sobretensão
resultante no topo da torre para um valor de impedância de aterramento igual a 30 Ω.

Figura 14 - Representação da onda de tensão refletida negativa se sobrepondo a onda de tensão original,
resultando em uma terceira onda no topo da torre, para Zater = 30 Ω (SOARES Jr, 1996:18)

Na Figura 15, a seguir, apresenta as diferentes ondas resultantes com a variação da


impedância de aterramento.

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Figura 15 - Superposição de ondas refletidas com ondas incidentes para diferentes valores de impedância de
aterramento (SOARES Jr, 1996:18)

Das figuras anteriores (14) e (15), pode-se inferir que a onda refletida negativamente depende
expressivamente da impedância de aterramento, e quanto menor for essa impedância, maior
será a amplitude da onda refletida em módulo. O tempo de tráfego da onda desde o topo da
torre até a sua base e desta até o topo novamente, em um percurso inverso, corresponde ao
intervalo de tempo 2Γ1 que é aproximadamente da ordem de 0,2 µs (SOARES Jr, 1996:19).
2.4.2.3 Reflexão positiva na extremidade do cabo contrapeso
Como já visto a onda incidente ao chegar ao aterramento origina duas outras ondas, uma
refletida e outra refratada. Para continuar a análise, considera-se a parcela refratada da onda
incidente na torre que é transmitida para os cabos contrapesos, (Figura 16),

Figura 16 - Ondas transmitidas para os cabos contrapeso (SOARES Jr, 1996:19)

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A corrente transmitida tem uma parcela dissipada de forma divergente para o solo devido à
presença das grelhas nas quatro pernas da torre. Na forma de onda, a outra parcela se propaga
através dos cabos contrapesos até a sua extremidade. Neste local, considerando o cabo
contrapeso representado por uma linha de transmissão, a condição de linha aberta
(impedância infinita) é atribuída. Logo, a onda de tensão que atinge a extremidade da onda é
refletida com o coeficiente de reflexão (Γ2) em função da impedância de surto do cabo
contrapeso (Zcp) e da impedância de linha aberta (Z2), conforme Equação 2. Como a
impedância de linha aberta é igual a infinito, o coeficiente de reflexão é igual a unidade, logo
a onda é refletida positivamente e se propaga de volta pelo cabo contrapeso até atingir a base
da torre, onde novamente uma parcela é dissipada de forma divergente na grelha e outra
parcela é transmitida para a torre. Pelo fato dessa onda ser positiva, esta acaba contribuindo
para o aumento da tensão no topo da torre e conseqüentemente na cadeia de isoladores,
superpondo-se as outras duas ondas, a incidente e a refletida negativamente (SOARES Jr,
1996:20). A superposição de ondas pode ser vista na Figura 17, para este caso desconsidera-se
o efeito dispersivo nas grelhas e as atenuações.

Figura 17 - Onda de tensão resultante no topo da torre após o efeito das reflexões negativas e positivas
(SOARES Jr, 1996:20)

O intervalo 2Γ2 equivale a aproximadamente a 1,2 µs, que corresponde ao tempo de tráfego
da onda de tensão do topo da torre até a extremidade do cabo contrapeso e deste até o topo
novamente (SOARES Jr, 1996:21).
2.4.2.4 Atenuações na propagação da onda no sistema de aterramento
Além dos efeitos de reflexão das ondas, outros dois são responsáveis pela redução da
amplitude da onda de tensão refletida positivamente. O primeiro efeito, conforme mencionado
anteriormente, corresponde a parcela de corrente dissipada divergentemente nas grelhas
quando a onda é refratada para o sistema de aterramento, logo a magnitude da onda de tensão
que trafega pelo cabo contrapeso é menor (SOARES Jr, 1996:22).
O outro efeito implica na atenuação das ondas de tensão e corrente que se propagam nos
cabos contrapesos devido a estes estarem inseridos em um meio com perdas, no caso o solo
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(SOARES Jr, 1996:22). A Figura 18 mostra a onda resultante após os efeitos de atenuação e
dispersão.

Figura 1 - Onda resultante no topo da torre após o efeitos da dispersão e atenuação (SOARES Jr, 1996:22)

É importante salientar que ambos os efeitos acarretam em benefícios para sobretensão


resultante na cadeia de isoladores, pois contribuem para a sua diminuição.

3. Conclusão
A maioria dos desligamentos que ocorrem em linhas de transmissão, resultando em
interrupções no fornecimento de energia elétrica aos consumidores, é decorrente de descargas
atmosféricas. Como consequências, além de prejuízos com a danificação de equipamentos,
geram também significativos prejuízos financeiros para as concessionárias e consumidores.
Logo, é necessário que se tenha uma atenção maior para este problema e através de estudos
que objetivam a proteção das linhas contra a incidência destes fenômenos atmosféricos e a
minimização de seus efeitos se fazem de grande valia.
Desse modo, foi possível perceber e verificar o desempenho que o aterramento das linhas de
transmissão exerce frente a esses surtos atmosféricos, minimizando sobretensões resultantes
no topo das torres, onde são localizadas as cadeias de isoladores, e dessa maneira não
permitindo, em alguns casos se bem projetado, que essas sobretensões não ultrapassem o
valor de suportabilidade dessas cadeias, o que garante o isolamento dos condutores
energizados.
Além disso, alguns conceitos relevantes ao tema foram reunidos e analisados, como
características e parâmetros importantes relativos às descargas atmosféricas, bem como os
seus diferentes pontos de incidência nas linhas de transmissão e seus respectivos fenômenos;

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conceitos introdutórios sobre o aterramento elétrico e seus componentes; e por fim o


comportamento das ondas de tensão e corrente no aterramento face aos surtos atmosféricos.
Verificaram-se os diversos modelos de estruturas de torres de transmissão de energia elétrica
e suas respectivas configurações de aterramento de pé de torre, assim como o efeito que cada
componente do sistema de aterramento possui na propagação das ondas.
O presente trabalho possibilita continuidade para uma análise mais profunda acerca do
desempenho do sistema de transmissão frente a esses fenômenos, através da realização de
estudos de casos e simulações computacionais, possibilitando inclusive estudos de novas
propostas de configurações de aterramento de pé de torre.

Referências
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Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2003. 720p.

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