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London/New
York: Routledge, 2005, pp. 44-87.
“These considerations should draw our attention to one important point. When
Descartes says that ‘cogito’ is indubitable he surely is assuming some kind of direct
awareness of an actual thought-process. The existence or actuality of thought should
surely be construed as part of the datum of the cogito. Therefore, Descartes’s
principle, ‘whatever thinks exists,’ should perhaps be read along something like the
following lines: whatever is actually thinking, has actual thoughts, must itself be an
actual being, an existing thing. When it is read in this way worries about predication
of possibles (or fictitious entities, or essences) do not seem to obtrude” (p. 58).
Segundo a autora, o cogito carrega em si 5 teses: (1) eu penso; (2) eu sou uma coisa
que pensa; (3) o pensamento é uma das minhas propriedades essenciais; (4) o
pensamento é a minha única propriedade essencial; (5) eu sou essencialmente uma
coisa pensante, mas não essencialmente material.
Quais delas são afirmadas no argumento do cogito presente na 2ª Meditação?
Segundo Wilson, a 2ª Meditação afirma (1), (2) e (3). Ademais, Descartes defende
uma versão atenuada das teses (4) e (5), a saber: (4*) O pensamento é a única
propriedade que sei ser essencial a (ou inseparável de) mim; (5*) Eu não sei se o
pensamento é idêntico a alguma propriedade corporal.
A tese (4) não é afirmada ainda em seu sentido forte, porque, na 2ª Meditação,
Descartes inclui no pensamento atividades corporais como sentir.
A tese (5) não é afirmada, porque não se sabe ainda se os corpos existem e, portanto,
só poderá ser demonstrada na 6ª Meditação.
Objetivos do argumento da cera: (a) mostrar que o conhecimento dos corpos que se
adquire através dos sentidos e da imaginação não é mais claro e distinto do que o
conhecimento da mente; (b) mostrar que os corpos só são conhecidos clara e
distintamente através do pensamento, e não dos sentidos e da imaginação; (c) mostrar
qual é o conteúdo do conhecimento claro e distinto que se pode ter da natureza do
corpo; (d) mostrar mais detalhes sobre a natureza da mente (opinião de Wilson); (e)
fundamentar a distinção entre mente e corpo que será defendida na 6ª Meditação.
De modo similar a Martial Gueroult, Wilson afirma que existe uma certa assimetria
ao tratar do conhecimento do corpo e do conhecimento da mente. No caso da mente,
há um conhecimento não só da sua existência, mas também da sua essência (ao
menos na 2ª Meditação, do pensamento e dos modos do pensamento; não se mostra
ainda que o cogito é essencialmente pensamento). No caso do corpo, há um
conhecimento da essência do corpo (a saber, do elenco dos atributos presentes no
corpo: extensão, mutabilidade e flexibilidade), mas não de sua existência.
Nas palavras da autora: “What we find distinctly given in ourselves, with respect to
ourselves, are both our essential faculties, and non-essential faculties and states.
What we find distinctly given in ourself, with respect to bodies, is only their abstract
concept” (p. 72).
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Obs. (1): Talvez, a 2ª Meditação só introduza a definição verdadeira do corpo e da
mente (a saber, aquela definição que elenca as propriedades de algo). A verdadeira
definição (ou seja, aquela definição que determina a propriedade principal e, logo, a
essência de algo) do corpo e da mente seja posta, respectivamente, na 5ª e na 6ª
Meditações.
O Princípios da Filosofia (II, art. 3, 4, e 11) deixa claro o motivo de cor, som, figura,
tamanho e etc., não fazerem parte do conceito de corpo: pode-se abstrair estas
qualidades sem que o conceito de corpo seja diminuído; contudo, não se pode
abstrair a extensão sem que o conceito de corpo seja diminuído. Em outras palavras,
cor, som, figura e etc. não podem ser concebidos sem que seja pressuposto um corpo
e, consequentemente, uma determinada extensão; mas o corpo e a extensão podem
ser concebidos sem que seja pressuposto algum tipo de cor, figura e etc. O corpo e a
extensão podem ser concebidos sem incluir em si figura, cor e etc., mas cor, figura e
etc. não podem ser concebidas sem incluir em si corpo e extensão.
A autora parece querer responder à seguinte pergunta: porque o argumento da cera
liga não só a extensão à essência do corpo (algo que parece ser uma característica do
corpo enquanto tal), mas também a mutabilidade e a flexibilidade (algo que parece
ser uma característica de corpos individuais)? Interpretando Princípios da Filosofia
(parte II), a autora dirá que a natureza dos corpos enquanto tais consiste na extensão,
ou seja, no fato de ser composto de partes e de estas partes estarem sujeitas ao
movimento. As propriedades que são concebidas clara e distintamente do corpo (a
saber, os modos) se reduzem à extensão, ou seja, elas são explicadas pela interação e
pelo movimento destas partes. Assim, mutabilidade significa que um corpo está
sujeito a diferentes movimentos, pois estes movimentos decorrem dos movimentos
de suas partes; a flexibilidade significa, segundo Wilson, que um corpo pode assumir
diferentes formatos, pois esta mudança de figura decorre das diferentes
configurações que as suas partes podem assumir [dúvida: mutabilidade e
flexibilidade seriam, portanto, modos da extensão?].
“The point that Descartes is beginning to try to get across in the wax discussion is the
conclusion required (as he sees it) for his physics: that it is the nature of any body at
all (just) to be something extended, flexible and movable. And he thinks in
recognizing this we must necessarily recognize at the same time that it is ‘the mind’
rather than sense that perceives the nature of body” (p. 81).
O conhecimento da essência dos corpos oferece também uma nova informação sobre
a natureza da mente: ela tem capacidades que não se identificam com os processos
mecânicos que ocorrem na imaginação e nos sentidos. Em outras palavras, o
conhecimento que se tem do corpo pelo pensamento (ou pela mente) mostra que não
está na essência do pensamento (ou da mente) nenhum tipo de processo físico-
mecânico. Isto será importante para a distinção entre mente e corpo na 6ª Meditação.
O conhecimento da mente é mais evidente do que o do corpo: toda a vez que a mente
realiza um juízo sobre um determinado corpo, ela tem evidência imediata de que ela
existe (isto nada mais é do que um corolário do argumento do cogito). Entretanto,
este mesmo juízo não garante a existência deste corpo ao qual o juízo se dirige (tendo
em vista a hipótese do Gênio Maligno).