Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
Introdução
Ao longo do século XX a forma de ver, pensar e fazer arquitetura sofreu grandes alterações, passando
pelo período moderno, que pretendia contrariar os ecletismos e afastar-se das normas clássicas,
procurando refletir os pensamentos e ações do homem através da arquitetura. No entanto, entre 1940 e
1970 a busca constante do homem pela originalidade e pela novidade dá origem a uma crise, que acaba
por se refletir num novo movimento: o pós-modernismo. Progressivamente, o racionalismo associado ao
projeto moderno é substituído pela abstração e uma liberdade artística e formal ausente de valores. Esta
mudança radical no pensamento do arquiteto reflete-se claramente na sua forma de fazer (e diria mesmo
sentir) a arquitetura, mas o movimento neovanguardista nota-se também em outras áreas artísticas,
nomeadamente a pintura, a escultura, a música, a literatura, e até mesmo no cinema e na fotografia.
No desenvolvimento deste ensaio, proposto no âmbito da disciplina de Teoria 1, eu pretendo focar-me nas
primeiras áreas referidas: a pintura e escultura, e a sua relação arquitetura. Porque razão é que uma
alteração no pensamento moderno referente à arquitetura implica uma igual mudança em outras áreas
ligadas às artes? Em que medida é que é possível estabelecer uma relação entre as mesmas, tendo em
conta que acompanham a mesma linha de pensamento ao longo dos séculos, atuando como um só, apesar
de abrangerem objetos de estudo distintos?
Analisando estas questões a nível nacional e internacional, mediante a exemplificação de casos concretos
e através da análise da obra de alguns arquitetos e teóricos portugueses e internacionais do período em
questão, procuro responder às questões anteriormente colocadas, percebendo de que forma é que será
possível estabelecer uma ligação entre as áreas referidas, ou em que medida estas estarão relacionadas.
1
MONTANER, Josep Maria, A Modernidade Superada: ensaios sobre a arquitetura contemporânea, Barcelona:
Editora Gustavo Gili, 2014 (2ªed), p. 121
Página | 1
A relação entre a arquitetura e as artes no pós-modernismo: evolução no contexto português
Carolina Varela | Teoria 1 | Turma 4 | Grupo 1 | 2017/2018 | Exercício 2
Página | 2
A relação entre a arquitetura e as artes no pós-modernismo: evolução no contexto português
Carolina Varela | Teoria 1 | Turma 4 | Grupo 1 | 2017/2018 | Exercício 2
Podemos dizer, por fim, que a Arquitetura Pós-Moderna está associada a um ativismo crítico;
este que surge de mutações culturais, tecnológicas e ecológicas, da exploração espacial, da
introdução da High Tech ao mundo e da necessidade social de superar as falhas que o
Modernismo apresentava.
II
Após a Segunda Guerra Mundial, nos finais dos anos 60, a arquitetura moderna começa a sofrer
críticas à sua homogeneidade e standartização que a tornavam monótona, e imparcial (ou
indiferente) às diferenças de lugar. O excesso de racionalismo adotado no período moderno,
levou a que a arquitetura que era feita fosse talvez demasiado independente do espaço
envolvente, o que começava a criar descontentamento, especialmente entre teóricos e arquitetos.
Para combater essa monotonia, como referido anteriormente, entre 1960 e 1970 surgem os
primeiros indícios de ‘combate’ aos princípios modernistas: o pós-modernismo.
Este último ponto leva-nos a falar num outro artigo: A criatividade, escrito pelo professor de
Física Teórica no Birbeck College da Universidade de Londres, David Bohm. Pelo título
percebemos à partida a relação que se estabelece entre ambos os artigos, no entanto, David
Bohm, como cientista que é – ainda que à partida seja estranho um cientista escrever para uma
revista de arquitetura -, reflete sobre os problemas criativos que serão comuns entre as duas
profissões. Uma frase que li e que me parece que dá início ao artigo da melhor forma, é a sua
humildade ao admitir que a criatividade não é algo que se possa definir por meio de palavras – o
que levanta logo a questão: então sobre o que iremos ler? Mas somos surpreendidos pela sua
abordagem ao assunto – pondo o artista e o cientista no mesmo patamar, Bohm alerta-nos para o
facto de que tanto um como o outro sofrerem de momentos de incerteza, e por vezes medo (de
errar) relativamente aos seus trabalhos. Uma coisa é certa, qualquer que seja a área de estudo ou
trabalho de cada um, nunca devemos temer errar, porque é precisamente o erro que nos faz
crescer.
Talvez este último tema não pareça, à partida, relacionar-se com o assunto em questão, mas se
Página | 3
A relação entre a arquitetura e as artes no pós-modernismo: evolução no contexto português
Carolina Varela | Teoria 1 | Turma 4 | Grupo 1 | 2017/2018 | Exercício 2
adotarmos uma perspetiva diferente em relação ao objeto de estudo, podemos justificar a radical
mudança e evolução de pensamento do homem ao longo do século XX com o erro. O pós-
modernismo surge como oposição ao movimento moderno, que consecutivamente veio quebrar
com as regras adotadas no período anterior. O que nos permite falar de vários períodos
arquitetónicos ou artísticos é justamente o erro, e a tentativa de o corrigir, a procura incessante
pela perfeição que acaba por se revelar inatingível porque há-de aparecer sempre alguém com
novas ideias ou ideais, que na altura se julgam mais corretos que os anteriores.
Agora que já percebemos o contexto em que estamos inseridos, podemos finalmente falar do
assunto no qual incide este ensaio: as artes integradas – pintura, escultura e arquitetura. Mas
serão as artes integradas umas nas outras? A pintura e a escultura integradas na arquitetura? O
escultor António Alfredo, esclarece-nos minimamente acerca deste assunto, num artigo
intitulado A arte integrada. A posição destas três áreas sofreu alterações ao longo dos anos,
tendo começado como uma só, e sendo cada vez mais focada num único objeto de estudo
específico na atualidade. O arquiteto acaba por ser o ‘personagem’ que tem de dominar
minimamente todas as áreas, conjugando-as da melhor forma possível na sua arquitetura.
A vontade de rutura dos códigos e convenções previamente estabelecidos no mundo das artes e
da arquitetura acaba por se revelar um dos principais obstáculos ao enraizamento das
vanguardas na sociedade, que rejeita esta proposta devido à sua ‘hostilidade para com o público.
Aldo Rossi e Robert Venturi, dois arquitetos muito importantes desta altura, tentam reconstruir
um elo comunicativo entre a arquitetura e a coletividade através das memórias e de linguagens
convencionais, respetivamente. Peter Eisenman é outro arquiteto que defende os novos
caminhos vanguardistas.
A exclusão é substituída pela inclusão, a ordem pela fragmentação, assume-se uma posição
antifuncionalista. Peter Einsman e Rem Koolhaas são exemplos de abstração, ao acompanharem
2
ALFREDO, António, s.a. junho de 1964, “Acerca da arte integrada”, p.15
Página | 4
A relação entre a arquitetura e as artes no pós-modernismo: evolução no contexto português
Carolina Varela | Teoria 1 | Turma 4 | Grupo 1 | 2017/2018 | Exercício 2
os seus projetos com textos – o que não era muito comum anteriormente. As casas de Frank O.
Gehry (imagem 1) são um excelente exemplo de uma arquitetura contemporânea, e uma prova
viva em como a artes (neste caso a escultura) podem e devem viver em conformidade com a
arquitetura, dado que ele recorre a formas muito pouco convencionais, consideradas
escultóricas, na resolução dos seus projetos – apresentando uma estrutura labiríntica do
inconsciente. Esta é uma prova em como o espírito vanguardista é consubstancial ao ser humano
contemporâneo e em como, apesar das crises reais da modernidade, voltam a ressurgir
estratégias inovadoras.
Incidindo concretamente no assunto que nos trouxe aqui, falemos então na relação entre as artes
e a arquitetura: quando se concebe uma obra arquitetónica, intervém o arquiteto, o pintor e o
escultor, como uma só consciência - o que já se via muito no século XV. De que forma é que
isto acontece? Simples. Se confrontarmos simultaneamente as três áreas, chegaremos à
conclusão que o pintor imagina a luz de um espaço proposto (em tela), o escultor cria uma
espacialidade em uma determinada volumetria, e o arquiteto reestrutura o espaço, conjugando
essa volumetria com a luz-sombra de forma organizada, tentando exprimir uma certa beleza.
Aqui nenhuma delas se apresenta como um ato isolado, mas como um conjunto –
provavelmente é por isso que vemos muitos arquitetos serem pintores ou escultores, e vice-
versa.
Em noções espaciais, os três também se encontram: um pintor pinta uma tela com determinadas
dimensões, e respetivo grau de pormenor, e se aumentar ou diminuir a escala isso vai ter
consequências na sua obra. Um escultor pode conceber obras singulares concretas – como a
figura humana – ou pode optar por criar uma espacialidade que se aproxima à arquitetura, e que
também sofre alterações se o espaço em si for alterado, porque é uma obra que estabelece
relações entre o espaço interno/externo, e o objeto/homem. Um exemplo muito claro disso são
as obras do escultor Richard Serra (imagem 2). Autores como John Hejduk ou Adolfo Natalini
misturam poesia, pintura e arquitetura; a estética pitoresca (desenvolvida na Inglaterra e na
Holanda) é inspirada na pintura proveniente do classicismo francês; as composições dos jardins
desenhados por William Kent, Horace Walpole e Henry Hoare (entre outros), tentam recriar as
paisagens de Nicolas Poussin e de Claude Le Lorrain.; Le Corbusier, na Ville Radieuse
(imagem 3), reflete o desmembramento das partes dos objetos levados a cabo pelo purismo e
pelo cubismo.
O pós-modernismo em Portugal
Em Portugal estes ideais também eram sentidos, e apesar de ser um país mais pequeno isso não
se refletiu na arquitetura. Na Escola do Porto, maioritariamente, formaram-se grandes arquitetos
que acabaram por ser reconhecidos internacionalmente, nomeadamente Siza Vieira e Souto
Mouro, bem como Paulo Mendes da Rocha, que apresenta uma obra igualmente minimalista e
contida. Ambos assumem a materialidade e a extrema unidade como valores máximos,
renunciando a tudo o que seja secundário em primazia do essencial, restringindo-se às ideias
básicas, recorrendo à presença e textura de malhas geométricas simples, numa arquitetura que
fala por si, demonstrando uma grande qualidade.
Página | 5
A relação entre a arquitetura e as artes no pós-modernismo: evolução no contexto português
Carolina Varela | Teoria 1 | Turma 4 | Grupo 1 | 2017/2018 | Exercício 2
III
Conclusão
“O espaço possui os seus valores próprios, assim como os sons e os perfumes têm uma cor e os
sentimentos, um peso”3
Bibliografia
Aulas teóricas
Revista A Arquitetura
ALMEIDA, Pedro Vieira, s.a. julho de 1963, “Ensaio sobre o espaço da arquitetura”, p. 20-21
SOUSA, Ernesto de, s.a. maio/junhode 1965, “Conhecimento da escultura portuguesa: uma descoberta
por fazer”, p. 115 - 123
SOUSA, Ernesto de, s.a. março /abril de 1967, “O exotismo e o espaço na arte portuguesa quinhentista”,
p.75
PORTAS, Nuno, s.a. maio/junho de 1968, “Desenho e apropriação do espaço da habitação”, p. 124 – 128
3
MONTANER, Josep Maria, A Modernidade Superada: ensaios sobre a arquitetura contemporânea,
Barcelona: Editora Gustavo Gili, 2014 (2ªed)
Página | 6
A relação entre a arquitetura e as artes no pós-modernismo: evolução no contexto português
Carolina Varela | Teoria 1 | Turma 4 | Grupo 1 | 2017/2018 | Exercício 2
PARENT, Claude, s.a. setembro/outubro de 1970, “A arquitetura e o design face a face”, p.155
FERNANDES, José Manuel, s.a. abril/maio de 1979, “Para o estudo da arquitetura modernista em
Portugal: a evolução estilística (II), p. 38 – 47
Índice de imagens
Imagem 1 Imagem 2
Imagem 3
Página | 7