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Este artigo foi elaborado como trabalho final da disciplina de Psicologia da Educação
musical. O mesmo pretende trazer alguns elementos sobre a abordagem da música na sala de
aula da educação básica utilizando como ferramentas da educação musical a percussão e os
ritmos da cultura popular afro-brasileira a luz de conceitos como os de ‘estado de fluxo’,
‘atenção’, ‘profanação’ e ‘tecnologia’.
Na primeira parte é feita uma discussão sobre o caráter da educação e a escolha dos
conteúdos ministrados na escola e especificamente na disciplina de artes/música. Em seguida
trago para a discussão conceitual os termos ‘estado de fluxo’, ‘atenção’, ‘profanação’,
‘tecnologia’ e seus desdobramentos. Por fim é abordada a questão da inserção dos ritmos da
cultura popular afro-brasileira na educação básica - que ganharam maior espaço com a
aprovação da lei 10.639/03 - e também a questão sobre o uso da percussão como ferramenta
para educação musical.
Introdução
Em 2008 foi sancionada pelo governo federal a lei nº 11.769, que versa sobre o ensino
de música nas escolas brasileiras. Esta Lei representa um avanço para esta área que até então
era secundarizada no ensino formal, porém, de lá até os dias atuais, não tivemos um plano de
implementação da lei, e as iniciativas para implementação da mesma acabam sendo
individuais, por parte dos professores e/ou por boa vontade de alguns gestores escolares ou de
secretarias da educação. A efetiva aplicação da lei esbarra em variadas dificuldades: desde a
ausência de diretrizes e de materiais didáticos, passando pela falta de mão de obra qualificada
ou de qualificação para a mão de obra disponível, a precariedade da infra-estrutura dos
espaços educacionais e até o desinteresse dos estudantes.
Pretende-se com esta pesquisa investigar um caminho para implementação da Lei
11.769/08, através de uma didática de ensino de música no ambiente escolar que irá se utilizar
de instrumentos de percussão e de ritmos de algumas das manifestações da cultura popular
afro-brasileira.
Os ritmos oriundos dessas manifestações populares e seus instrumentos de percussão
têm presença marcante na cultura brasileira. A pesquisa quer portanto, compreender o uso
pedagógico-musical possível na sala de aula da educação básica de elementos constitutivos da
cultura musical brasileira.
No ano de 2003 foi aprovada a Lei 10.639, que aponta sobre a importância e
obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira na educação básica. As
possibilidades de aplicação pedagógica do conteúdo que versa a lei são muito abrangentes e
de 2003 para cá um vasto material acadêmico vem sendo produzido sobre a aplicação da Lei
10.639/03 - especialmente nas disciplinas escolares de História e Língua Portuguesa. Porém,
cabe destacar que no campo das Artes, em especial na Música o volume de material
produzido ainda é bastante escasso. Deste modo o presente artigo, que não preencherá a
lacuna existente, será propositivo e abrirá possibilidades de trabalho sobre o tema.
Adolescentes dedicam muito de seu tempo à escuta musical. Tanto nas atividades
escolares, de lazer ou mesmo na realização de tarefas domésticas, os jovens normalmente
escutam música durante muitas horas por dia (VALDÍVIA, 1999 apud SOUZA, 2009, p. 41).
Na maior parte das vezes estão envolvidos com a música que está circulando nos meios de
comunicação. É preciso aqui dizer que em 1999 a pesquisa da autora já revelava estes fatos e
que, de lá até os dias atuais vivemos a popularização dos iphones e celulares, com grande
capacidade de armazenamento de arquivos de áudio e aplicativos de música. Isto faz crer que
os adolescentes ouçam ainda mais música atualmente do que na época da pesquisa – há quase
20 anos.
A música enquanto linguagem socialmente construída – a partir do som como matéria
prima – é uma realidade em praticamente todas as culturas. A sensibilidade a música é deste
modo, algo que independe de vontade individual ou dom inato. Também não é uma questão
mística ou de empatia, mas sim construída num processo onde, a capacidade auditiva, a
emotividade, etc..., são educadas para reagir ao estímulo musical (PENNA, 2015). Portanto
para sermos sensíveis a música é necessário passar por algum processo de musicalização.
Segundo GAINZA (1988), musicalizar é: tornar o sujeito sensível a música, desenvolver no
mesmo, instrumentos de percepção, para que ele atribua significado ao material
sonoro/musical que recebe.
O ‘desenvolvimento de percepção musical’ é uma atividade que não contribui
diretamente para a extração de mais-valia e/ou acúmulo de capital (MEZÁROS, 2008),
portanto, improdutivas dentro da lógica do sistema econômico. Este aspecto conecta-se
diretamente ao essencial da escola segundo Masschelein e Simons (2015) que é a idéia de
‘suspensão’.
‘Suspensão’ é para eles “[...] tornar algo inoperante, ou, em outras palavras, tirá-lo da
produção, liberando-o, retirando-o de seu contexto normal’ (MASSCHELEIN, SIMONS,
2015, pág 17). Isso significa que ao ser abordado na escola, um assunto/tema foi retirado de
seu circulo convencional, deixou de ser propriedade de um grupo social ou geração
particulares. A escola, segundo os autores, será não somente uma “[...] interrupção
temporária do tempo (passado e futuro), mas também a remoção das expectativas,
necessidades, papéis e deveres ligados a um determinado espaço fora da escola”
(MASSCHELEIN, SIMONS, 2015, pág. 20). Sobre isso, concordo com Penna, quando afirma
que “ nada é significativo no vazio, mas apenas quando relacionado e articulado ao quadro
das experiências acumuladas, quando compatível com os esquemas de percepção
desenvolvidos” (PENNA, 2015, p.33).
A Flow Theory surgiu na psicologia por volta da década de 1990, elaborada por
Csikszentmihaly. O autor irá dizer que o envolvimento com alguma atividade onde o estado
de presença em tal atividade é tão grande que todo o resto “desaparece” pode ser chamado de
‘experiências ótimas ou estado de fluxo’. Nestes a “[...] experiência é tão agradável que as
pessoas a realizam pela simples razão de a realizar” (Csikszentmihaly, 2002:20 apud
CUNHA, 2013, p.51). Estas experiências, segundo Cunha (2013), trazem uma ampliação da
sensação de participação e podem determinar o conteúdo e sentido da própria vida.
‘Atenção’ é um termo utilizado por Masschelein e Simons (2015) para remeter a uma
das características do fenômeno escolar. O termo irá traduzir um dos aspectos que é imanente
ao fato docente.
A escola é o tempo e o lugar onde temos um cuidado especial e interesse nas coisas,
ou, em outras palavras, a escola focaliza a nossa atenção em algo. A escola (com seu
professor, disciplina escolar e arquitetura) infunde na nova geração uma atenção
para com o mundo: as coisas começam a falar (conosco). A escola torna o indivíduo
atento e garante que as coisas – destacadas de usos privados e posições – tornem-se
“reais”, [...] trata-se do momento mágico quando alguma coisa fora de nós mesmos
nos faz pensar [...] Nesse momento mágico, algo de repente deixa de ser uma
ferramenta ou um recurso e se torna uma coisa real [...]. (MASSCHELEIN,
SIMONS, 2015, p.28)
Parece-me que a ‘atenção’ para Masschelein e Simons, desde o ponto de vista da
pedagogia, e o ‘estado de fluxo’ para Csikszentmihaly, desde o ponto de vista da psicologia
são, senão a mesma coisa, coisas muito semelhantes ou pelo menos muito conectadas.
Sobre o ‘estado de fluxo’, Cunha (2013) escreve que o indivíduo em tal estado tem a
sua energia concentrada na atividade a executar. Nele não haverá espaço para outros
sentimentos ou pensamentos. (CSIKZENTMIHALY, 1990 apud CUNHA, 2013) Afirma
ainda que a sensação resultante do prazer da satisfação de necessidades biológicas e/ou sociais
põe em ordem a consciência.
Já sobre ‘atenção’, Masschelein e Simons nos dizem que através dela algo que é real
“[...] se torna parte do mundo em que/pelo qual estamos imediatamente envolvidos,
interessados, curiosos, e assim também algo que se torna um interesse (algo que não é nossa
propriedade, mas que é compartilhado entre nós)” (MASSCHELEIN, SIMONS, 2015 p.27).
Penso então, que estes termos, oriundos de diferentes fontes teóricas, mas que
possuem uma simbiose conceitual, devem aparecer a partir de agora neste trabalho conectados
da seguinte forma: ‘estados de fluxo/atenção’.
Fluxo/Atenção em Música
[...] o saber do fazer e o saber do pensar popular. É a cultura ingênua, não oficial,
não-dominante, que mesmo quando resultante de expropriações e imposições no
passado, resiste como modo de pensar sentir e fazer do povo. [...] Consiste num
conjunto de práticas ambíguas e contraditórias, que se realizam nos interstícios da
cultura dominante, recusando-a, aceitando-a ou confortando-se a ela [...] espaço de
disputa, no qual se reproduzem simbolicamente as relações de forças sociais e de
poder vigentes na sociedade – a cultura popular é percebida sempre do ponto de
vista de suas relações de forças sociais. (DOMINGUES, 2011, p. 416)
Considerações Finais
Referências
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança. 5. Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
MASSCHELEIN, Jan; SIMONS, Maarten. Em defesa da escola: uma questão pública. 2 ed.
Belo Horizonte: Autêntica, 2014. Coleção: Experiência e Sentido. 112p. Disponível em:
<https://pt.slideshare.net/Prometeusone/em-defesa-da-escola-uma-questao-publica-jan-
masschelein-e-maarten-simons>
MATEIRO, Teresa; SCHIMIDT, Beatriz Woeltje. Práticas percussivas nas aulas de música
do ensino fundamental. DA Pesquisa, v.11, n.17, p.83-100, dezembro 2016. Disponível em:
<file:///E:/textos%20referencia/6901-28395-1-PB.pdf>.
PENNA, Maura. Música(s) e seu ensino. 2. Ed. Porto Alegre: Sulina, 2015. 247 p.