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16/10/2018 Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa

Acórdãos TRL Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa


Processo: 14818/07.0YYLSB-A.L1-7
Relator: MARIA AMÉLIA RIBEIRO
Descritores: OPOSIÇÃO À EXECUÇÃO
CHEQUE BANCÁRIO
GERENTE
VINCULAÇÃO DA SOCIEDADE
CAPACIDADE
Nº do Documento: RL
Data do Acordão: 30-06-2011
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Meio Processual: APELAÇÃO
Decisão: IMPROCEDENTE
Sumário: I. Ao apresentar como garantia de um negócio pessoal um cheque
da sociedade, o gerente age com falta de poderes para vincular a
sociedade, visto que se trata de um acto que transcende a
capacidade jurídica da própria sociedade (artºs 6º e 260º do
CSCom e 160º CC).
(Sumário da Relatora)
Decisão Texto Parcial:
Decisão Texto Integral: Acordam na Relação de Lisboa
7.ª Secção
Recorrente/Exequente: A…
Recorrida/Executada/Oponente: “B…, Ldª”
I. Pedido: Revogação da decisão que, julgando procedente a
oposição à execução apresentada pela ora recorrida, declarou, em
consequência, a extinção da execução, e a sua substituição por
outra que determine o prosseguimento da execução.
Por apenso aos autos de execução em que é exequente A… e
executada “B…, Ld.ª”, veio esta última deduzir oposição à mesma.
Para tanto, alegou, em síntese, que: tem por objecto a exploração e
gestão de unidades hoteleiras e similares, no âmbito do que se
obrigava, tanto nas relações internas, como externas, com a
assinatura de um gerente, o qual a partir de 15.01.2004 passou a
ser o sócio e também executado C…, o qual renunciou à gerência e
foi, posteriormente, substituído; por escritura de cessão de quotas
datada de 26.10.2006 o executado C… cedeu a totalidade da única
quota que detinha na empresa pelo valor nominal de € 124.699,48,
tendo renunciado à gerência em 11.01.2006, tendo a executada
colocado a referida renúncia ao Banco … (que veio incorporar em
2003 o Banco N…C… entretanto extinto); desde essa data, e devido
à situação de inibição de emissão de cheques por parte de C…, o
Banco … nunca mais emitiu cheques a favor da ora executada; a
exequente executou um cheque do extinto Banco N…C…, datado
de 15.01.2007, subscrito por C… no valor de € 100.000,00, execução
essa que, de acordo com o exequente, se baseia numa dívida
comercial; desde 11.01.2006, que C… deixou de ser gerente, tendo
cedido a quota que ali tinha em 02.11.2006; na data aposta no
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cheque do Banco N.. C.. (extinto em 2003), de 15.01.2007, o mesmo


referenciado ex-gerente, já não era sócio nem gerente da executada,
não podendo, por conseguinte, obrigá-la, sendo pois inexequível no
que à executada se refere; a única pessoa que, à data de 15.01.2007,
podia obrigar a executada era a actual gerente D…, sendo certo
que, logo em 11.01.2006 a executada comunicou à instituição
bancária a nova gerência e o cancelamento de todos os cheques
anteriormente emitidos; a executada não tem qualquer relação
comercial com o exequente, não reconhecendo, por isso, qualquer
dívida comercial para com este.
Conclui, pois, que, não havendo qualquer relação negocial entre a
executada e o exequente, não há base para reclamar qualquer
montante a título de dívida comercial. Ao executar o cheque, o
exequente tentou, assim, obter para si uma vantagem patrimonial
sem suporte numa qualquer dívida que para com ele tenha a
executada. Por isso, a utilizar o meio judicial para obter um
benefício que sabe não lhe pertencer, o exequente litiga, com
manifesta má-fé.

O exequente contestou, excepcionando a exequibilidade do título e


opondo-se à sua condenação como litigante de má-fé. Alega, em
síntese, que: a executada deu à execução um cheque de € 100.000,00
à ordem do exequente e a sacar sobre o Banco N..C…, assinado por
C…, na qualidade de seu sócio-gerente e na sequência da
celebração, em 05.09.2005, de um contrato promessa de cessão de
quotas, tendo o cheque sido devolvido por motivo de saque
irregular; o executado C… apresentou-se sempre ao exequente e na
comunidade como sócio-gerente da executada, com poderes para
assinar o cheque dos autos e, consequentemente, com poderes para
vincular a sociedade; o executado celebrou com o exequente um
contrato promessa de cessão de quotas, no qual prometeu ceder-lhe
a quota que possuía juntamente com a mulher na sociedade N…,
Ld.ª, pelo preço de € 250.000,00, tendo-lhe, nesse contexto, o
executado C… entregue o cheque dos autos, para garantia da
devolução da quantia no valor de € 100.000,00, entregue a título de
sinal, cheque que deveria ser devolvido no acto da escritura; a
escritura não se realizou por incumprimento do contrato promessa
imputável ao executado; nessa altura, o exequente entregou-lhe as
chaves da Residencial com a denominação social N.., Ld., que
estava a explorar desde 05.09.2005 e, em contrapartida, aquele
comprometeu-se a devolver-lhe a quantia de € 100.000,00 recebida
a título de sinal; o executado recebeu as chaves do exequente, mas
não lhe devolveu a quantia de € 100.000,00 até à presente data; em
05.09.2005, o executado era sócio-gerente da executada e tinha
poderes para vincular a sociedade; a executada foi interpelada por
CR com AR para pagar a quantia exequenda e o sócio AB…
reconheceu a dívida, mas não a pagou apesar do compromisso
nesse sentido; vistos os art.os 260.º, n.º 1, do CSC, e 46.º, al. c), do
CPC, o exequente não tem necessidade de alegar a causa da relação
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jurídica subjacente, atento o disposto no art.º 458.º/1, CC.; se o


cheque dos autos não for considerado título executivo nos termos
atrás expostos, continuará, no entanto, a ser um documento
particular constitutivo da obrigação subjacente e, assim, título
executivo, nos termos do art.º 46.º, c), do CPC; no que toca à
litigância de má-fé, não estão preenchidos os requisitos que
fundamentam a violação do dever de probidade que o art.º 264.º,
do CPC, impõe às partes. Conclui pela improcedência da oposição.

A executada respondeu, alegando, em síntese, que: desconhecia o


contrato celebrado entre o executado C… e a exequente e que, de
qualquer modo, a leitura do mesmo basta para demonstrar que a
executada não é parte do negócio em causa nem o executado C…
actuou na qualidade de seu sócio-gerente, sendo, pois, apenas este e
a sua mulher os únicos devedores da exequente. Manteve, pois, a
posição sustentada no requerimento inicial.

Foi proferida decisão que, julgando procedente a oposição,


considerou, consequentemente, extinta a execução.

É contra esta decisão que se insurge o exequente, interpondo o


presente recurso de apelação, no qual formula as conclusões, que
seguidamente se sintetizam:
1. No presente caso, o recorrente preencheu e assinou o cheque em
questão no dia 05.09.2005, com poderes para o acto, e em nome da
recorrida.
2. Acordaram as partes na entrega do cheque dos autos, a título de
garantia da devolução da quantia de € 100.000,00, a título de sinal.
3. Consequentemente, a recorrida assumiu cumulativamente com o
recorrente a devolução dessa quantia, caso não se realizasse a
escritura de cessão da quota que este possuía juntamente com a
mulher na sociedade N…, Lda., em 05.09.2005.
4. Assim, no caso presente, a recorrida assumiu com o recorrente a
obrigação de garantir a devolução da quantia de € 100,000,00.
5. O recorrente não excluiu a sociedade como devedora por força
da celebração de contrato-promessa de cessão de quotas, mas
exigiu como garantia o referido cheque.
6. As partes são, pois, solidariamente responsáveis (art.º 55.º/1,
CPC).
7. Sucede que a recorrida, em 05.09.2005, não cumpriu a obrigação
a que se vinculou nem o seu gerente comunicou ao recorrente a sua
renúncia ou cessão de quotas.
8. Por outro lado, ao ser interpelada para pagar a quantia de €
100.000,00, nem sequer respondeu.
9. A recorrida não provou, como lhe competia, que o recorrente, na
data da execução do cheque, sabia das limitações do então sócio-
gerente e legal representante da sociedade, sendo certo que na
comunidade o recorrente sempre se apresentou como gerente da
recorrida.

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10. Os gerentes respondem para com a sociedade, nos termos do


art.º 72.º do CSC pelos danos que tenham causado por actos ou
omissões, podendo também os sócios propor acções de
responsabilidade, nos termos do art.º 77.º do mesmo diploma.
11. Assim, o cheque dado à execução preenche os requisitos do
título executivo, nos termos do art.º 46.º, al. c), do CPC.
12. O credor está dispensado de provar a relação fundamental, cuja
existência se presume, até prova em contrário, a realizar pela
devedora.
13. A declaração contida no cheque é sempre um negócio
unilateral.
14. A questão substantiva aqui em realce consiste em saber se do
apresentado cheque consta ou não a promessa da prestação do
objecto da obrigação exequenda. Ou seja: a declaração unilateral
que se lê no documento ("Pague-se por este cheque a quantia de €
100.000,00").
15. A recorrida deu ao banco uma ordem de pagamento, em caso
de incumprimento do contrato promessa de cessão de quotas,
celebrado entre as partes.
16. A recorrida, através do seu sócio-gerente, reconheceu, na
altura, dever ao recorrente a quantia inscrita no cheque.
17. Por isso, apesar de o recorrente não ser o gerente à data da
propositura da execução, pôde apresentar o cheque a pagamento
no banco.
18. Caso o cheque não significasse o reconhecimento da obrigação
de pagar, o recorrente não o teria recebido.
19. Não houve qualquer enriquecimento sem causa por parte do
recorrente.

Não houve contra-alegações.

II.1 O âmbito objectivo do recurso é definido pelas conclusões do


recorrente (art.os 684.º, n.º 3 e 690.º, do CPC), importando, assim,
decidir as questões nelas colocadas e, bem assim, as que forem de
conhecimento oficioso, exceptuando-se aquelas cuja decisão fique
prejudicada pela solução dada a outras, nos termos do art.º 660.º,
n.º 2, do CPC.
Sendo certo que, na falta de especificação no requerimento de
interposição, o recurso abranja tudo o que na parte dispositiva da
sentença for desfavorável ao recorrente (art.º 684.º, n.º 2, do CPC),
esse objecto, assim delimitado, pode vir a ser restringido (expressa
ou tacitamente) nas conclusões da alegação (n.º 3 do mesmo art.º
684.º).
Assim, todas as questões de mérito que tenham sido objecto de
julgamento na sentença recorrida e que não sejam abordadas nas
conclusões da alegação do recorrente, mostrando-se objectiva e
materialmente excluídas dessas conclusões, têm de se considerar
decididas e arrumadas, não podendo delas conhecer o Tribunal de
recurso, que, aliás, não está adstrito à apreciação de todos os

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argumentos produzidos em alegação, mas apenas – e com liberdade


no respeitante à indagação, interpretação e aplicação das regras de
direito (art. 664.º, 1.ª parte, do CPC, aplicável ex vi do art.º 713.º,
n.º 2, do mesmo diploma) – de todas as “questões” suscitadas, e que,
por respeitarem aos elementos da causa, definidos em função das
pretensões e causa de pedir aduzidas, se configurem como
relevantes para conhecimento do respectivo objecto.
Por fim, há que ter em conta que, como meio impugnatório de
decisões judiciais, o recurso visa tão só suscitar a reapreciação do
decidido, não comportando, assim, ius novarum, i.e., a criação de
decisão sobre matéria nova não submetida à apreciação do
Tribunal a quo.
Assim, e considerando as conclusões do apelante, a questão
essencial a decidir consiste em saber se o cheque dado à execução é
exequível.

II.1 O Tribunal de primeira instância considerou como assentes os


seguintes factos:

1. A… instaurou, em 18.05.2007, execução para pagamento de


quantia certa contra C… e B…, Ld.ª e deu à execução o cheque nº
..., no valor de € 100.000,00 (cem mil euros), à ordem do exequente,
sacado sobre conta bancária do Banco N…C…, a qual está em
nome da executada B…Ldª, assinado por C…, e com data de
emissão de 15.01.2007, junto a fls. 9 dos autos de execução, cujo
teor dá-se aqui por integralmente reproduzido.
2. O cheque referido em 1. foi devolvido em 18.01.2007 com a
menção “saque irregular”.
3. A executada B…, Ld.ª é uma sociedade que tem por objecto a
exploração e gestão de unidades hoteleiras e similares, conforme
cópia de certidão comercial junta a fls. 33 a 40 destes autos, cujo
teor dá-se aqui por integralmente reproduzido, consubstanciada na
exploração e gestão do Hotel …, sito na freguesia de …, concelho
de ….
4. A ora executada obrigava-se dentro e fora da sociedade com a
assinatura de um gerente, que a partir de 15 de Novembro de 2004
pertencia ao sócio e ora também executado C….
5. Conforme apresentação n.º 112 de 19.01.2006 foi registada a
renúncia à gerência do referido C…, com efeitos a partir de
11.01.2006, tendo em sua substituição sido registado conforme
apresentação n.º 113 de 19.01.2006 para o cargo de gerente da
firma IMHK.
6. Conforme apresentação n.º 5 de 16.10.2006, IMHK… viu o seu
cargo de gerente destituído e substituído na gerência por NAC…
pela apresentação n.º 6 de 16.10.2006.
7. Cargo esse de gerência que veio a ser objecto de renúncia pela
apresentação n.º 9 de 02.11.2006, sendo substituído no cargo de
gerência por CBJ… pela apresentação n.º 10 de 02.11.2006.
8. Cargo de gerência que se mantém até à presente data em nome
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da referida CBJ…
9. Por escritura de cessão de quotas datada de 26 de Outubro de
2006 averbada pela apresentação n.º 7 de 02.11.2006, C… cedeu na
totalidade a única quota que detinha na firma no valor nominal €
124.699,48 a favor de ANAB…
10. Por fax datado de 26 de Janeiro de 2006, a ora executada
comunicou ao Banco … - instituição bancária que veio a
incorporar em 2003 o Banco N…. C.. entretanto extinto - a
renúncia à gerência referida em 5 e o cancelamento de todos os
cheques emitidos, conforme cópia do escrito constante de fls. 41 e
42, cujo teor dá-se aqui por integralmente reproduzido.
11. Desde 11 de Janeiro de 2006 que o referido C… deixou a
gerência da ora executada e desde 02 de Novembro de 2006 que
cedeu a quota que possuía na ora executada.
12. À data de 15.01.2007, data de emissão do cheque dado à
execução, a única pessoa que podia obrigar a executada B…Ldª era
a actual gerente CBJ…
13. O cheque dado à execução foi emitido na sequência da
celebração, em 5 de Setembro de 2005, do Contrato de Promessa de
Cessão de Quotas referido em 16.
14. O exequente desconhecia que desde 11 de Janeiro de 2006 C…
deixou a gerência da executada e que desde 2 de Novembro de 2006
cedeu a quota que possuía na sociedade.
15. O executado C…, apresentou-se sempre ao exequente, como
sendo sócio gerente da executada.
16. O executado C… celebrou em 5 de Setembro de 2005, com o
exequente, um Contrato de Promessa de Cessão de Quotas, no qual
prometeu ceder-lhe a quota que possuía juntamente com a mulher
NMAJ…, na sociedade N…Ldª pelo preço de € 250.000,00,
conforme escrito junto a fls. 52 a 55, cujo teor dá-se por
integralmente reproduzido.
17. O exequente e o executado C… acordaram na Cláusula
Terceira, a forma seguinte de pagamento:
- No acto de assinatura do contrato de promessa a entrega da
quantia de € 100.000,00 a título de sinal e princípio de pagamento,
pelo promitente cessionário, ora exequente.
- O remanescente no valor de € 150.000,00 a pagar em oito
prestações no valor de € 18.750,00, cada uma, vencendo-se a
primeira três meses após a data da assinatura e outorga da
escritura definitiva de cessão de quotas e as restantes sete
prestações venciam-se sucessivamente de três em três meses a
contar da data da 1.ª prestação.
18. Conforme consta na Cláusula Quarta do Contrato de Promessa
de Cessão de Quotas, o executado C… entregou ao exequente, o
cheque dos presentes autos, para garantia de devolução da quantia,
no valor de € 100.000,00 (cem mil euros) entregue a título de sinal.
19. Conforme consta na Cláusula Quinta do Contrato de Promessa
de Cessão de Quotas, o referido cheque devia ser devolvido no acto
da escritura.

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20. A escritura não se realizou.


21. O executado C…, em 5 de Setembro de 2005, era sócio gerente
da executada.
22. A executada foi interpelada, mediante carta registada, com
aviso de recepção, pelo exequente, para efectuar o pagamento da
quantia exequenda, conforme escritos juntos a fls. 56 a 58, cujo
teor dá-se aqui por integralmente reproduzido.

II.2. Apreciando.
Quanto à questão de saber se o cheque dado à execução é exequível
e pode obrigar a executada

Vem o apelante sustentar a exequibilidade do título executivo em


causa nos autos – o cheque -, alegando, em síntese, que o mesmo
reúne os pressupostos de que depende o reconhecimento como
título executivo, nos termos dos art.os 45.º e 46.º, n.º 1, c), do CPC.
Assim, o co-executado C…, ao celebrar, em 05.09.2005, o contrato-
promessa com o exequente e ora apelante, teria efectivamente
agido no uso dos poderes de gerência que, então, detinha na
sociedade ora executada (art.º 260.º, do CSC), ficando, assim, esta
também obrigada perante o exequente, juntamente com o co-
executado S... (e a mulher deste), através da emissão do cheque dos
autos, cheque esse sacado sobre a conta bancária da executada no
então BNC.
Defende, assim, o apelante que nos encontramos perante uma
situação de assunção (cumulativa) de dívida, em que os executados
são responsáveis, solidariamente, perante o exequente. Para mais, a
assunção de dívida não está sujeita à forma especial, nos termos do
art.º 219.º, do CC.
Por outro lado, a execução foi proposta contra as pessoas que no
título tenham a posição de devedores (art.º 55.º, do CPC), sendo
certo que a recorrida não logrou demonstrar que, à data da
apresentação do cheque a pagamento, a apelante sabia da renúncia
do executado C…, que, a ter agido fora dos seus poderes, terá que
responder perante a executada, nos termos dos art.os 72.º e 77.º, do
CSC.
Alega, finalmente, que não tinha necessidade de demonstrar a
causa da relação jurídica subjacente, face ao disposto no art.º 458.º,
n.º 1, do CC, sendo que a declaração contida no cheque é sempre
um negócio unilateral, desde que preenchido de harmonia com as
regras do art.º 1.º da LUCH.

Salvo melhor opinião, entendemos que não assiste razão ao


apelante.
Pode-se definir a assunção de dívida como uma forma de
transmissão, a título singular, de uma dívida que tanto pode
operar-se por contrato entre o antigo e o novo devedor, desde que
ratificado pelo credor[1], como por um contrato entre o novo
devedor e o credor, com ou sem consentimento do antigo devedor
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(art.º 595.º, n.º 1, a) e b), do CPC).


Nesta circunstância, apenas há uma alteração subjectiva da relação
obrigacional, não resultando afectada a obrigação no seu conteúdo.
É ainda de notar, que, em muitos casos, a assunção da dívida não
opera a substituição do antigo devedor pelo novo devedor[2],
ficando, assim, este colocado ao lado do devedor primitivo, que
mantém a sua posição. Nesses casos, fala-se, então, em “…assunção
cumulativa de dívida, de co-assunção de dívida ou de assunção
multiplicadora ou reforçativa, para distinguir de outro tipo de
situações (assunção liberatória ou privativa)…”[3], ou, ainda, em
“…acessão ou adjunção à dívida...”[4].
Assim, e para que o antigo devedor seja exonerado, é necessário
que, a par da transmissão, haja uma declaração expressa nesse
sentido por parte do credor. Caso contrário, antigo e novo devedor
respondem solidariamente (art.º 595.º, n.º 2, do CPC).
No caso dos autos, e estando em causa um cheque, já Pinto Furtado
assinalava que a natureza da declaração cartular constitui um acto
unilateral, revestindo a natureza de uma verdadeira declaração de
vontade por parte do emitente que, nos casos de títulos de créditos
mais evoluídos, se estrutura “…ora como uma «ordem de
pagamento» (o “pagará(ão) V. Exa(s).”, da «letra», e o “Pague por
este cheque”) ora como uma promessa de facto próprio (o
“pagarei(emos)”, da «livrança»), constituindo, no primeiro caso, uma
«ordem», um «iussum», moldado dogmaticamente sobre a
«delegação activa» do direito comum, que o nosso Código Civil inclui
difusamente na figura do «contrato de assunção de dívida» (arts.
595-600)…”[5].
De todo o modo, é bom não esquecer que, tal como se salientou no
Acórdão do STJ, de 22.04.1997, “…A assunção de dívida opera uma
mudança na pessoa do devedor, mas sem que haja alteração do
conteúdo e identidade da obrigação. A assunção não é negócio
abstracto, devendo procurar-se o seu regime, através do contrato que
as partes, com ela, tiveram em vista realizar. Os actos de comércio
não se presumem gratuitos; pelo contrário, presumem-se
onerosos…”[6].
Ponto fundamental é, portanto, apurar se se verifica qualquer das
situações previstas no art.º 595.º do CC e, concomitantemente, qual
o negócio que está na origem da obrigação que o novo devedor
pretende assumir, ou seja, a relação jurídica subjacente (art.º 22.º
da LUCH).
No entendimento do apelante, o simples facto de o cheque emitido e
entregue pelo executado C… ser de uma conta bancária de que é
titular a executada e ora apelada “B…Ldª” e da qual era gerente,
na altura, o referido C…, é o bastante para que, sem mais, se
conclua, sem margem para dúvidas, que a apelada ficou vinculada
pelo acto praticado por aquele, ficando, assim, também como co-
obrigada perante o exequente.
Salvo o devido respeito, não podemos acolher tal entendimento.
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Já na sentença recorrida, se tinha precisamente salientado que “…


resultou demonstrado que o cheque dado à execução foi emitido no
âmbito de um contrato-promessa de cessão de quotas ajustado entre
C… e mulher e o exequente, em que aquele interveio em nome
pessoal, e não na qualidade de gerente da sociedade executada (vide
factos provados n.os 13 e seguintes). Ou seja, apurou-se a
inexistência de uma relação jurídica subjacente à emissão do cheque
dado à execução entre a oponente (titular da conta bancária sobre a
qual foi sacado o cheque dado à execução) e o exequente…”,
concluindo-se, pois, que “…por estarmos no âmbito das relações
imediatas e em face da inexistência de uma relação jurídica
subjacente à emissão do cheque dado à execução entre a oponente,
em nome da qual está a conta bancária sacada pelo cheque dado à
execução, e o exequente, e de o subscritor do cheque não dispor de
poderes para vincular a oponente B…Ldª na data nele constante
como a da sua emissão e de a executada não ter sido parte no
contrato de cessão de quotas mencionado no facto provado n.º 16,
cumpre concluir pela inexistência ou inexequibilidade do título
executivo que suporta a execução a que a executada/oponente B…
Ldª se opôs…”.
Ora, a nosso ver, a razão de ser que obsta a que a executada e ora
apelada possa ser accionada pelo apelante vai mais longe do que a
simples constatação da inexistência de uma relação jurídica
subjacente entre ambos ou, até, com a problemática do poder
representativo do então sócio-gerente C… para poder vinculá-la
perante o exequente: ela tem, sim, a ver com a própria capacidade
da apelada de poder prestar uma garantia a uma dívida de outra
entidade (no caso, o seu próprio sócio-gerente).
A propósito da capacidade da sociedades comerciais, dispõe o art.º
6.º do CSC o seguinte: “…1. A capacidade da sociedade compreende
os direitos e as obrigações necessárias ou convenientes à prossecução
do seu fim, exceptuados aqueles que lhe sejam vedados por lei ou
sejam inseparáveis da personalidade singular.
2. As liberalidades que possam ser consideradas usuais, segundo as
circunstâncias da época e as condições da própria sociedade, não são
havidas como contrárias ao fim desta.
3. Considera-se contrária ao fim da sociedade a prestação de
garantias reais ou pessoais a dívidas de outras entidades, salvo se
existir justificado interesse próprio da sociedade garante ou se se
tratar de sociedade em relação de domínio ou de grupo.…”.
Já no tocante à vinculação, e uma vez que nos encontramos perante
uma sociedade por quotas, prescreve o art.º 260.º do CSC que:
“…1. Os actos praticados pelos gerentes, em nome da sociedade e
dentro dos poderes que a lei lhes confere, vinculam-na para com
terceiros, não obstante as limitações constantes do contrato social ou
resultantes de deliberações dos sócios.
2. A sociedade pode, no entanto, opor a terceiros as limitações de
poderes resultantes do seu objecto social, se provar que o terceiro
sabia ou não podia ignorar, tendo em conta as circunstâncias que o
http://www.dgsi.pt/jtrl.nsf/33182fc732316039802565fa00497eec/53f7724512a2c6a680257917003c9877?OpenDocument 9/24
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acto praticado não respeitava essa cláusula e se, entretanto, a


sociedade o não assumiu, por deliberação expressa ou tácita dos
sócios.
3. O conhecimento referido no número anterior não pode ser provado
apenas pela publicidade dada ao contrato da sociedade.
4. Os gerentes vinculam a sociedade, em actos escritos, apondo a sua
assinatura com indicação dessa qualidade…”.
Como se viu, é justamente no âmbito da problemática ligada à
vinculação da sociedade que a apelante põe a questão da
vinculação da executada e ora apelada ao acto praticado pelo seu
sócio-gerente, o que, salvo o devido respeito, não está correcto.
Como ensina Raúl Ventura, “…As restrições ao poder representativo
dos gerentes não devem ser confundidas com as limitações à
capacidade da sociedade. Por definição, os gerentes só podem
vincular a sociedade em actos para os quais esta tenha capacidade;
faltando a capacidade da sociedade, o acto não pode ser praticado,
em nome da sociedade, seja quem for que a represente.
A capacidade da sociedade por quotas está fixada no art.º 6.º CSC;
ela compreende os direitos e obrigações necessários ou convenientes
à prossecução do seu fim, exceptuados aqueles que lhes sejam
vedados por lei ou sejam inseparáveis da personalidade singular […].
Dois casos de incapacidade, praticamente relevantes, estão
expressamente previstos no art.º 6.º, n.os 2 e 3. As liberalidades que
possam ser consideradas usuais, segundo as circunstâncias da época
e as condições da própria sociedade, não são havidas como contrárias
ao fim desta; portanto, para liberalidades não cobertas por este
preceito, a sociedade é incapaz. Considera-se contrário ao fim da
sociedade – e, portanto, a sociedade é incapaz – a prestação de
garantias reais ou pessoais a dívidas de outras entidades, salvo se
existir justificado interesse próprio da sociedade garante ou se se
tratar de sociedades em relação de domínio ou de grupo.
Intimamente relacionado com o art.º 260.º, está o art.º 6.º, n.º 4,
segundo o qual, as cláusulas contratuais e as deliberações sociais que
fixem à sociedade determinado objecto ou proíbam a prática de certos
actos não limitam a capacidade da sociedade, mas constituem os
órgãos da sociedade o dever de não excederem esse objecto ou de não
praticarem esses actos. Se as cláusulas do objecto limitassem a
capacidade da sociedade, os actos dos gerentes que não as
respeitassem não criariam válidos direitos e obrigações da sociedade,
por falta de capacidade de gozo desta e daí derivariam as naturais
consequências, como por exemplo, a indiferença do conhecimento da
cláusula por terceiros contratantes. Do ponto de vista contrário, para
que a sociedade possa ser vinculada por actos dos gerentes que
excedam o objecto social, é logicamente indispensável que a
sociedade possua a correspondente capacidade de gozo, de direitos e
de obrigações…”[7].
A questão fundamental, está, pois, no problema da capacidade da
própria executada e ora apelada, ou seja, no domínio do já citado
art.º 6.º CSC: será que a entrega do cheque em causa nos autos
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como garantia do contrato-promessa de cessão de quotas celebrado


entre a exequente e ora apelante, e o co-executado C… - que,
segundo o que foi apurado, sempre se apresentou ao exequente
como sendo sócio-gerente da executada (facto n.º 15) -, está
compreendida nos direitos e obrigações necessárias ou convenientes
à prossecução do fim da executada? Haverá um justificado
interesse próprio da própria executada?
A nosso ver, a resposta é negativa.
Num estudo realizado a este propósito, Carlos Osório de Castro
chama a atenção para o facto de que o art.º 6.º, n.º 1, do CSC, vem
limitar a capacidade das sociedades comerciais aos direitos e às
obrigações necessários e convenientes à prossecução do seu fim,
enquanto que o n.º 3 do mesmo preceito legal vem excluir a
possibilidade dessa necessidade ou conveniência no tocante à
prestação de garantias a dívidas de outras entidades (salvo, é claro,
o referenciado justificado interesse próprio ou de uma relação de
domínio ou de grupo), ao declarar expressamente que tal prestação
se considera contrária ao fim da sociedade, ou seja, remetendo
directamente para o n.º 1 e negando, assim, a capacidade de gozo
da sociedade para a prática dos actos em causa, com a consequente
nulidade, nos termos do art.º 294.º do CC[8].
É, no fim de contas, o afloramento legal da doutrina ultra vires[9],
segundo a qual a capacidade das sociedades e doutras pessoas
colectivas está limitada a quanto seja necessário ou conveniente ao
cumprimento das suas finalidades e objectos e, por outro lado, uma
transposição para o direito comercial do princípio da especialidade
consagrado no art.º 160.º do CC para as pessoas colectivas em
direito civil, embora sem o alcance absoluto que lhe é conferido por
este artigo, no sentido de que a actividade jurídica não pode
ultrapassar os limites do escopo que lhes é assinalado pelos
estatutos[10]. Ou seja, falando o n.º 1 do art.º 6.º do CSC em “fim”
e não dos “fins” (como refere o art.º 160.º do CC), haverá que
situá-lo no âmbito do fim mediato da sociedade, e não no seu
objecto, ou fim imediato (a este se refere, naturalmente, o n.º 4 do
art.º 6.º do CSC). Quer isto dizer que a questão se põe, pois, ao
nível da obtenção de lucros através da actividade da sociedade, e da
sua posterior repartição entre os sócios (fim mediato), e não no
plano do ramo ou ramos de actividade a desenvolver pela mesma,
que constitui o seu objecto (ou fim imediato). Esta distinção, aliás,
consta do próprio art.º 980.º do CC, que trata da noção do contrato
de sociedade. Assim, como princípio, devem ser considerados nulos
os actos de natureza não lucrativa praticados por uma sociedade,
em consequência de falta de capacidade jurídica[11].
Significa isto que, conjugando os n.os 1 a 3 do art.º 6.º do CC,
retira-se a regra de que serão contrários ao fim social todos os
negócios gratuitos, ou seja, aqueles em que a sociedade age com “…
a consciência e a vontade negocial de dar […] uma prestação, uma
vantagem, sem contrapartida (no todo ou em parte)…”[12].
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A excepção é, como se viu, a consagrada no n.º 3 do art.º 6.º do


CSC, ou seja, o já referido justificado interesse próprio da
sociedade garante, o que significa, por outro lado, que só são
contrárias ao fim da sociedade a prestação de garantias reais ou
pessoais a dívidas de outras entidades quando estas sejam
efectuadas a título gratuito. Como salienta Osório de Castro, “…se
a sociedade receber uma contrapartida e o negócio for, por
conseguinte, oneroso, a conformidade com o fim social (com o escopo
lucrativo) está «ipso facto» assegurada, pelo que a capacidade da
sociedade decorre logo do disposto no art.º 6.º, n.º 1. Faltando a
contrapartida é que será caso para indagar se não haverá,
porventura, um interesse económico alheio ao conteúdo do acto…”,
acrescentando ainda que “…intercedendo uma relação de domínio
ou de grupo entre as sociedades garante e garantida, a lei presume
«juris et de jure» a existência de um justificado interesse próprio.
Note-se, porém, que a sociedade garante há-de necessariamente ser a
sociedade dominante ou directora – sendo o caso o inverso, não
vemos razão para que a existência do interesse se presuma. Por outra
via, a prestação gratuita de garantia a dívida de qualquer sócio
(mesmo tratando-se da sociedade dominante), ainda que situada
dentro da capacidade da sociedade, será sempre nula, por violação do
princípio da proibição da restituição das entradas…”[13].
Esta limitação é perfeitamente compreensível, uma vez que,
tratando-se de negócios gratuitos, e que não trazem à sociedade
nenhumas vantagens, mesmo indirectas, estão, pois, em causa, não
apenas os interesses da sociedade e dos sócios, como os interesses
dos credores sociais, dado o perigo de diminuição do património.
Daí que se possa dizer que o n.º 3 do art.º 6.º do CSC consagra uma
proibição absoluta no sentido de ser “…absolutamente vedado aos
órgãos sociais prestarem gratuitamente garantias a dívidas de
entidades com as quais a sociedade não esteja em relação de domínio
ou de grupo se não existira para tanto um justificado interesse
próprio…”[14].
Para Osório de Castro, fica “…a cargo do terceiro o ónus da
alegação e da prova de que o interesse existe…”, não esquecendo,
porém, que “…outros fazem recair o ónus inverso sobre quem
invoca a nulidade…”[15]. E, é claro, estando a prestação de
garantia, como acto gratuito, fora da esfera da capacidade da
sociedade, será perfeitamente irrelevante que o correspondente
acto tenha sido efectuado com intervenção de todos ou alguns dos
gerentes, administradores ou directores (mesmo que com a
anuência dos sócios, seja esta prévia ou posterior), e mesmo que
estes tenham “…protestado falsamente existir um justificado
interesse próprio da mesma sociedade na prestação da garantia, com
a intenção de induzir a contraparte em erro e de a levar a concluir o
negócio de que ela de outra forma se teria abstido…” sem prejuízo,
claro está, da responsabilização civil dos mesmos (a qual se cingirá
ao interesse contratual negativo), e que se poderá estender à
própria sociedade garante, nos termos do art.º 500.º do CC,
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aplicável ex vi art.º 6.º, n.º 5, do CSC[16].


Osório de Castro chega, assim, às seguintes conclusões:
“…1.ª - Nos termos do art.º 6.º, n.º 1 C.S.C., a capacidade de uma
sociedade é medida pelo seu fim mediato, que é a obtenção de lucros,
pelo que não compreende a prática de actos gratuitos (de natureza
não lucrativa);
2.ª – Porém, a inexistência de um espírito de liberalidade, ou o facto
de a sociedade agir por motivos não altruísticos, mas interessados –
conseguir vantagens da contraparte ou de terceiros – intervém como
facto impeditivo da incapacidade, por força do art.º 6.º, n.os 2 e 3 do
C.S.C.;
3.ª – A sociedade que invoque a nulidade da prestação de garantias a
dívidas de outras entidades só tem assim de alegar e provar o carácter
gratuito do acto; é ao beneficiário da garantia que, para repelir essa
arguição, incumbe o ónus de demonstrar a existência de um
justificado interesse próprio da sociedade garante (o qual se presume,
«juris et de jure», havendo uma relação de domínio ou de grupo entre
as sociedades garante e garantida)[17];
4.ª – O justificado interesse próprio, suporá apenas que o móbil dos
gerentes, administradores ou directores, ao prestarem a garantia,
tenha sido o de satisfazer certo interesse económico da sociedade
garante, e não o de proporcionar uma vantagem ao credor ou ao
devedor (em si e por si);
5.ª – A incapacidade da sociedade para a prática de actos gratuitos
com fim desinteressado é uma incapacidade de gozo, como tal
insusceptível de ser suprida ou sanada pela intervenção de todos os
gerentes, administradores ou directores (ou mesmo de todos os
associados);
6.ª – O beneficiário de garantia prestada por uma sociedade a dívida
de outra entidade que tenha confiado na existência de um justificado
interesse próprio por efeito de uma actuação dos gerentes,
administradores ou directores contrária às regras da boa-fé poderá
responsabilizá-los pessoalmente, nos termos do art.º 27.º do C.Cv.
(bem como à sociedade, nos termos do art.º 6.º, n.º 5, do C.S.C.) – mas
nunca o dolo daqueles que justamente não podem praticar o acto em
nome e por conta da sociedade poderá arredar uma incapacidade de
gozo, estabelecida no interesse de terceiros…”[18].
E tem sido também este o sentido da nossa jurisprudência, embora
com divergências no que toca a quem compete o ónus da prova do
justificado interesse próprio da sociedade garante[19].
Assim, entre outros, pode-se citar o Acórdão do STJ, de 28.10.2003,
no qual, a propósito do art. 6.º, n.os 1 e 3 do C.S.C., se sustentou
que "…Ora, como resulta inequivocamente da lei (veja-se a própria
epígrafe do preceito - CAPACIDADE -) estamos em pleno domínio da
capacidade de gozo da sociedade, que, como resulta do nº. 1 do
preceito abrange os direitos e obrigações necessários ou convenientes
à prossecução do seu fim (cfr. também art. 160º do C.C.), daí que,
considerando-se contrário ao fim social a prestação de garantias
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reais ou pessoais a dívidas de outras entidades (sejam entes colectivos


ou pessoas singulares), tal significa que tais actos, salvaguardadas as
excepções previstas na parte final do nº. 3, estão fora da capacidade
jurídica das sociedades, faltando-lhes, em absoluto o direito de se
obrigarem nas referidas condições, além de que, estaremos, então,
perante a prática de actos proibidos por lei de carácter imperativo
[…].
Daí que a violação da regra genérica contida na primeira parte do nº.
3 do dispositivo em análise gere nulidade e não simples anulabilidade
(como seria o caso, se estivéssemos perante a falta de capacidade de
exercício), uma vez que se trata de falta de capacidade jurídica ou de
gozo de direitos, como se infere do art. 294º do C.C. (cfr. Mota Pinto -
Teoria Geral - 3ª ed. - pág. 245). E compreende-se que a sanção seja a
nulidade dado os interesses em presença que passam pela defesa do
interesse da sociedade enquanto tal, do interesse dos seus sócios e do
interesse dos credores sociais, designadamente contra os actos lesivos
dos próprios sócios ou da respectiva administração ou gerência.
Refira-se a propósito que é diferente a situação prevista no nº. 4, já
que a prática de actos contrários aos estatutos ou a deliberações
sociais não afecta a capacidade de gozo da sociedade. Aqui estamos
perante a prática de actos "ultra vires", ali perante a falta absoluta
de capacidade jurídica. (cfr. Osório de Castro – “Da Prestação de
Garantias por Sociedades a Dívidas de outra Sociedade” - «Rev.
Ordem dos Adv.», ano 56 - Agosto). […].
Como se viu, a regra geral contida na 1ª parte do nº. 3 do art. 6º, cede
perante as excepções previstas na parte final do preceito, isto é, no
caso de existir justificado interesse próprio da sociedade garante ou
de se tratar de sociedades em relação de domínio ou de grupo. Em
tais hipóteses a sociedade possuirá plena capacidade de gozo para a
prestação da garantia. Por conseguinte, a verificação dessas
situações excepcionais aparecem como condição de validade das
garantias prestadas e por isso têm de ser provadas pelo beneficiário
da garantia que dela se quiser prevalecer. (…) O interesse próprio da
sociedade para o efeito em questão, tem de ser objectivamente
apreciado e resultará das circunstâncias concretas que, em cada caso
enquadram ou determinam a concessão da garantia e há-de traduzir-
se na obtenção de uma qualquer vantagem para a sociedade ainda
que eventualmente de forma indirecta…”[20].
No mesmo sentido, o Acórdão do STJ, de 13.05.2003, onde se
sustentou que “…O artigo 160º do C. Civil estabelece para as pessoas
colectivas o princípio da especialidade, segundo o qual a capacidade
das pessoas colectivas abrange todos os direitos e obrigações
necessários ou convenientes à prossecução dos seus fins,
exceptuando-se os direitos e obrigações vedados por lei ou que sejam
inseparáveis da personalidade singular.
O artigo 6.º n.º 1 do C. das Sociedades Comerciais veio reproduzir na
prática o referido artigo do C. Civil. A capacidade de gozo das
pessoas colectivas sofre assim restrições de três ordens: só integra os
direitos e obrigações necessários ou convenientes à prossecução dos
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seus fins; direitos e obrigações esses que não sejam vedados por lei;
direitos e obrigações que não sejam inseparáveis da personalidade
singular.
Em conformidade com os enunciados limites, o nº 3 do mencionado
artigo 6º determina que se considera contrária ao fim da sociedade, a
prestação de garantias reais ou pessoais a dívidas de outras
entidades, salvo se existir justificado interesse próprio da sociedade
garante ou se se tratar de sociedade em relação de domínio ou de
grupo.
Consistindo a capacidade jurídica na aptidão para ser titular de um
círculo maior ou menor de relações jurídicas, é o conjunto das
competências dos seus órgãos que assegura a actuação da capacidade
de gozo de cada pessoa colectiva. Mas uma coisa é o complexo dos
poderes funcionais conferidos a cada órgão para o desempenho dos
fins da pessoa colectiva, outra é a medida dos direitos ou vinculações
de que a pessoa colectiva pode ser titular ou estar adstrita.
A actuação «ultra vires» - para além das forças do mandato recebido
- diz respeito aos meios ou condições de exercício de que a pessoa se
pode servir para o desempenho da sua actividade e não propriamente
ao fim ou objecto social - Prof. Oliveira Ascensão, «Direito
Comercial», IV, Lisboa 2000, designadamente págs. 59/62; Prof.
Carvalho Fernandes, «Teoria Geral de Direito Civil», 2.ª ed., 1995, I,
págs. 489/493.
O que aqui está em causa é a capacidade jurídica ou capacidade de
gozo da pessoa colectiva e não a problemática que se prende com a
sua capacidade de exercício ou capacidade de agir, segundo outra
terminologia.
Sendo lucrativo o fim das sociedades Comerciais, e mesmo que se
considere que o lucro não tem de ser aferido acto a acto, mas sim no
conjunto da actividade da pessoa colectiva, a verdade é que parece
inquestionável que a prestação de garantias reais ou pessoais a
dívidas de outras entidades, em princípio, afastar-se-ia do intuito
lucrativo. Mas, para de dúvidas não possam subsistir, o n.º 3 do artigo
6.º determina expressamente que tal prestação é contrária ao fim da
sociedade.
Consagram-se, contudo, duas importantes ressalvas: salvo se existir
justificado interesse próprio da sociedade garante ou tratando-se de
sociedades em relação de domínio ou de grupo…”[21].
Também no Acórdão do STJ, de 17.06.2004, se realçou que “…A
regra geral é, com efeito, a de excluir dos fins da sociedade comercial
a prestação de garantias reais ou pessoais a dívidas de outras
entidades (art.º 6.º, 2, CSC). É limitação que o legislador enquadrou
no âmbito da capacidade jurídica das sociedades comerciais, e que,
por isso, funciona seja qual for o objecto social, salvo a existência de
regimes especiais, como o das instituições de crédito e sociedades
financeiras. Não cabe dúvida de que o aval é uma garantia pessoal
(art.º 30.º, LULL) e que, por isso, está fora, em princípio, do elenco de
operações que a sociedade comercial, toda e qualquer sociedade
comercial, pode realizar. Em princípio, dizíamos, porque a segunda
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parte do citado n.º 2, do art.º 6.º, CSC, ressalva os casos em que exista
“justificado interesse próprio da sociedade garante” ou uma “relação
de domínio ou de grupo” entre a garante e a beneficiária da garantia.
O justificado interesse próprio há-de compreender-se por referência
ao fim da sociedade, que é a obtenção e distribuição dos lucros da
actividade económica correspondente ao objecto fixado no contrato
ou nas deliberações sociais pertinentes. Mas, para saber se
determinado acto é necessário ou conveniente à prossecução daquele
fim (na expressão do n.º 1, do citado art.º 6.º), importa não o
considerar isoladamente, mas perspectivá-lo no encadeamento de
actos que fazem a vida da empresa. Sendo assim, tirando as
proibições expressamente consagradas na lei ou as limitações que
decorram da natureza das coisas (quer dizer, as relativas a actos que
pressuponham a personalidade individual), a capacidade jurídica das
sociedades tem uma amplitude tendencialmente ilimitada. E, nesse
enquadramento, a prestação de garantias a dívidas de terceiro inclui-
se no fim social, isto é, no âmbito da capacidade de exercício de
direitos da sociedade, desde que orientada (tal prestação) pelo
superior interesse da sociedade garante (o interesse próprio ou o
interesse do grupo de sociedades em que se insere). Uma vez satisfeito
esse requisito, que, aliás, deve acompanhar todo e qualquer acto
praticado pelos órgãos e representantes da sociedade, a prestação de
garantias, pessoais ou reais, passa a ser uma operação do âmbito
normal da capacidade das sociedades comerciais […].
Há que distinguir entre modelos de gestão e modelos de
representação.
Os poderes de representação dos administradores e o consequente
âmbito da vinculação da sociedade anónima (art.º 408.º e 409.º, CSC)
são coisas distintas dos poderes de gestão, em que se inclui o de
prestação de cauções e garantias pessoais ou reais pela sociedade
(cfr. art.º 406.º, f, CSC), englobando, aqui, a caução ou garantia quer
de dívidas próprias, quer de dívidas alheias. O acto de representação
pode ser regular e já o não ser o acto de gestão que lhe está na
origem. No caso dos autos, as partes não discutem que a assinatura
de dois administradores, como foi o caso, bastava, em princípio, para
a representação em forma da sociedade.
Ora, «os actos praticados pelos administradores, em nome da
sociedade e dentro dos poderes que a lei lhes confere, vinculam-na
para com terceiros, não obstante as limitações constantes do contrato
de sociedade ou resultantes de deliberações dos accionistas, mesmo
que tais limitações estejam publicadas» (art.º 409.º, 1, CSC). É, no
dizer do próprio, preâmbulo do DL 262/86, de 02/09, que aprovou o
CSC, a adaptação da lei portuguesa à Primeira Directiva CEE, de
09/03/1968, directiva esta que, acrescentamos, se destinou a
«coordenar as garantias que, para a protecção dos interesses dos
sócios e de terceiros, são exigidas nos Estados-Membros à sociedades,
na acepção do segundo parágrafo do artigo 58.º do Tratado, a fim de
tornar equivalentes essas garantias em toda a Comunidade».
Quem contrate com uma sociedade comercial não tem que se

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preocupar com as limitações que o contrato de sociedade estabeleça


aos poderes dos administradores ou gerentes que se apresentem a
negociar ou com a ligação entre o negócio e o objecto social.
Desde que os administradores ou gerentes que intervieram em nome
da sociedade perfaçam o mínimo legal ou estatutário de
representação, o que interessa (a quem com eles entre em negócio) é
saber se o acto não é legalmente vedado à sociedade, e se está
compreendido nos poderes de gestão legalmente atribuídos aos
administradores ou gerentes designadamente, quanto à anónima, os
elencados nas diversas alíneas do art.º 406.º, CSC. Nada mais.
A representação, ainda que não seja fiel à gestão, ou, mesmo, aos
estatutos, não deixa, por isso, de ser eficaz para com os terceiros que
negoceiam com a sociedade.
Ponto é que, repete-se, a representação respeite a acto não proibido
legalmente à sociedade e tenha sido exercida dentro dos poderes que
a lei confere aos administradores ou gerentes, isto é, relativamente a
actos que sejam legalmente considerados de gestão ou administração.
A infidelidade dos administradores ou gerentes ao pacto ou às
deliberações dos sócios é, nestas circunstâncias, problema interno. A
menos, é claro, que o desvio do fim, se for esse o caso, seja do
conhecimento da outra parte no contrato (cfr., quanto à sociedade
anónima, o n.º 2, do art.º 409.º, CSC). O problema não é, pois, de
representação, mas, sim, de capacidade da sociedade…”.

Acórdão da Relação do Porto, de 20.05.1999


“…O direito que estatui sobre o exercício da capacidade das
sociedades comerciais tem em vista a realização do seu
escopo…”[22].

Acórdão da Relação do Porto, de 29.09.2008.


“…Em princípio são nulos os actos gratuitos das sociedades
comerciais na medida em que se trata de actos sem contrapartidas
que se traduzem num mero desvalor para a sociedade, sendo
contrários ao seu fim lucrativo. A prestação gratuita de garantias só
não será nula quando se verifiquem duas situações: a)- caso exista
um justificado interesse da sociedade garante; b)- quando se trate de
sociedade em relação de domínio ou de grupo…”[23].
Assente que as sociedades por quotas como é o caso da ré
D………….. lda, podem ser vinculadas pelos actos dos seus
gerentes, que são quem as pode representar, art.º 260 CSC,
também será indiscutível que nem todos e quaisquer actos dos
gerentes são idóneos à vinculação jurídica das mesmas. É que,
qualquer acto - praticado pelos gerentes em nome da sociedade -
que extravase a capacidade jurídica daquela será um acto nulo.
A capacidade jurídica das sociedades está, entre nós, prevista e
regulada - em termos gerais para todas as sociedades comerciais -
no artigo 6.° CSC que consagra uma solução intermédia entre as
chamadas teoria da ilimitação da capacidade (em que se entende
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que a sociedade tem capacidade para praticar todos e quaisquer


actos ainda que contrários ao objecto e fim sociais e teoria ultra
vires (de acordo com a qual os actos praticados por uma sociedade
para além do seu objecto são actos nulos, não podendo sequer ser
ratificados pelos sócios. Naquele dispositivo legal, são considerados
dois segmentos no que reporta à capacidade das sociedades
comerciais: o que resulta do fim social (que se entende limitativo da
capacidade da sociedade - cfr. artigo 6.°, n.º 1, CSC) e o que resulta
do objecto social (que a nossa lei, na esteira da Primeira Directiva
sobre Sociedades expressamente estabelece não limitar a
capacidade das sociedades - cfr. artigo 6.°, n.º 4, CSC). Donde que,
o artigo 6.°, n.º 1, CSC estabeleça uma limitação à capacidade das
sociedades comerciais: enquanto se entende que a mesma apenas
"compreende os direitos e as obrigações necessários ou
convenientes à prossecução do seu fim"
O fim das sociedades comerciais - como, de resto, o fim de toda e
qualquer sociedade - é o escopo lucrativo, é a obtenção de lucro
(cfr. artigo 980.° CC), pelo que todos os actos, ainda que praticados
pelos gerentes de uma Sociedade por Quotas, contrários àquele fim
lucrativo serão nulos por violação de uma norma legal imperativa
(cfr. artigo 294.° CC).
Do que vem exposto, se pode concluir que, em princípio, são nulos
os actos gratuitos das, sociedade comerciais na medida em que se
trata de actos sem contrapartidas se traduzem num mero desvalor
para a sociedade, sendo, contrários ao seu fim lucrativo.
Dado que são actos nulos, pode essa nulidade, nos termos gerais,
ser invocada a todo o tempo e por qualquer interessado (cfr. artigo
286.° CC). Por outro lado e quanto à definição do que sejam actos
gratuitos temos que o artigo 6.°, n.º 3, CSC prescreve que a
prestação de garantias (reais ou pessoais) gratuitas a terceiros é,
em princípio, contrária ao fim da sociedade e, portanto, nula. A
prestação gratuita de garantias só não será - nos termos da
disposição em análise - nula, quando se verifique uma de duas
situações: a) caso exista um justificado interesse da sociedade
garante; b) quando se trate de sociedade em relação de domínio ou
de grupo. Ainda e não menos importante é a regra que determina
que os gerentes vinculam a sociedade em actos escritos, apondo a
sua assinatura com a indicação dessa qualidade, ou ao menos por
modo que ao interprete seja mister induzir que foi essa a qualidade
com que as partes concluíram o negócio. art.º 260.º n.º 4 do CSC e
Acórdão Uniformizador de Jurisprudência, n.º 1/2002, in DR, I -
Série A, n.º 20, de 24.01.2002, págs. 498 e segs..
Teoricamente «a assunção de divida consiste em mediante negócio
jurídico um terceiro se constituir devedor da divida em que outro
se achava constituído, tomando a forma de co - assunção quando o
antigo devedor subsiste ao lado do novo devedor.» (Vaz Serra,
BMJ, 72/193) Trata-se de situação em que o novo devedor contrai
uma obrigação independente do devedor originário, assumindo
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como «própria uma divida alheia juntamente ao devedor


anterior»; da natureza especial desta obrigação, resulta a
exigibilidade que para o novo devedor subsista um interesse real na
obrigação e não apenas um interesse pessoal em ajudar o devedor.
É que a situação pode apenas reconduzir-se a mera fiança. Por isso
é que a distinção na prática entre a fiança e a co-assunção, de
divida, (se faz de acordo com o critério da opinião dominante, Vaz
Serra, BMJ 72), a partir da ponderação finalística da conduta
impondo-se que para que a situação seja de co assunção o novo
devedor tenha interesse real na obrigação, e não somente interesse\
pessoal em ajudar o devedor.
A distinção das figuras em concreto, dependerá, pois sempre da
interpretação do negócio isto é da finalidade do acordo e das
demais circunstâncias.
Será fiança ou co-assunção de divida consoante estejamos perante
uma ou outra.
O fiador responde por uma dívida de outrem, enquanto o novo
devedor, no caso de co-assunção, responde por uma dívida sua.
Por outro lado saber se as partes quiseram uma ou outra coisa, é
questão de interpretação. A importância desta matéria tem que ver
ainda com o facto de a assunção de dívida em si mesma não estar
sujeita a formalidades, salvas as que forem impostas pela natureza
da obrigação assumida. Isto sem prejuízo de em regra, existir uma
relação jurídica entre o antigo e o novo devedor e, nessa relação, se
impor observar as regras formais respectivas: portanto, se o novo
devedor assume a dívida do antigo em virtude de doação, haverá
que observar as regras de forma das doações, que forem
porventura aplicáveis. ...(Vaz Serra, BMJ 72, pg 194 e seg)
Seja o caminho seguido, o do entendimento do negócio da 3.ª ré
como o de co-assunção de divida perante a autora por doação às
demais co RR, seja o entendimento de que se tratou de vontade de
prestar fiança imperfeitamente expressa teremos que o negócio
será sempre nulo por falta de forma legal prescrita, o que é de
conhecimento oficioso, art.º 942.º 2, 628.º 595, 220 e 286.º, todos do
CC). A nulidade do negócio da terceira ré com a autora implica a
restituição de tudo o que se entendeu ter sido prestado ao abrigo do
mesmo negócio por esta.
Acórdão da Relação de Lisboa, de 29.06.2010
“…A assunção de dívida é a operação pela qual um terceiro
(assuntor) se obriga perante o credor a efectuar a prestação devida
por outrem. As sociedades podem validamente praticar actos
gratuitos, nomeadamente prestar garantias a dívidas de terceiros
quando a esses actos presida um interesse próprio da sociedade
garante. No caso concreto não está provado nenhum facto do qual
resulte que a sociedade tenha um justificado interesse na assunção da
dívida perante o exequente. Ao invés, resulta do depoimento de parte
do exequente que a assunção de dívida se destinou apenas a
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prosseguir o interesse do terceiro devedor e o interesse do exequente.


Portanto, a assunção de dívida pela sociedade é um acto nulo, porque
contrário à lei, nos termos dos art.º 280.º n.º 1 e 294.º do Código
Civil…”[24].

“…Como ensina Antunes Varela «Não bastam a existência e a


validade da dívida para garantir a eficácia do compromisso
tomado pelo assuntor, com o fim de liberar o primitivo obrigado. É
necessária ainda a validade do próprio contrato de transmissão de
dívida; de contrário, se este for declarado nulo ou anulado, a
obrigação do primitivo credor renasce, (…). Tratando-se de
assunção cumulativa, a nulidade ou anulação do contrato, tem
como resultado a eliminação da obrigação do novo devedor,
persistindo apenas o dever de prestar a cargo do primitivo
obrigado.» (in Manual…, págs. 363/364)».
Ora, entendendo-se que a sociedade “C” – Comércio e Preparação
de Carnes Lda.» quis assumir a dívida de “F” para com o
exequente temos de atender ao disposto no art.º 6.º do Código das
Sociedades Comerciais.
Assim, este normativo, sob a epígrafe «Capacidade» dispõe nos n.os
1, 2 e 3:
«1. A capacidade da sociedade compreende os direitos e as
obrigações necessárias ou convenientes à prossecução do seu fim,
exceptuados aqueles que lhe sejam vedados por lei ou sejam
inseparáveis da personalidade singular.
2. As liberalidades que possam ser consideradas usuais, segundo as
circunstâncias da época e as condições da própria sociedade, não
são havidas como contrárias ao fim desta.
3. Considera-se contrária ao fim da sociedade a prestação de
garantias reais ou pessoais a dívidas de outras entidades, salvo se
existir justificado interesse próprio da sociedade garante ou se se
tratar de sociedade em relação de domínio ou de grupo.»
A assunção da dívida de “F” não pode ser considerada uma
liberalidade prevista no n.º 2 do art.º 6.º do CSC pelo que tem de
ser considerada contrária ao fim da sociedade “C” – Comércio e
Preparação de Carnes Lda.» de harmonia com a previsão do n.º 3
do art.º 6.º do CSC.
Dada a sua pertinência para a questão em apreço passamos a citar
o Ac. do STJ de 17/9/2009 (Proc. 267/09.9YFLSB.S1 – in
www.dgsi.pt):
«1. validade e eficácia da obrigação de assunção de dívida
assumida pela sociedade Q…- Lda.
1.1. Considerou-se no acórdão recorrido que a obrigação assumida
pela Q. – Lda. era nula desde logo porque se traduzia na prática de
um acto gratuito, contrário ao seu fim lucrativo.
Preconiza o n.º 1 do art.º 6.º do CSC (…).
Para no n.º 3 se dispor (…).
Deste normativo, em consonância, aliás, com o disposto no art.º

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160.º do C. Civil, não decorre uma incapacidade absoluta das


sociedades para a prática de liberalidades. Apenas na ponderação
do circunstancialismo que acompanhou a situação concreta se deve
aferir da licitude, ou não, da liberalidade efectuada pelos órgãos
sociais da sociedade. E este entendimento aparece corroborado
quando o n.º 2 do citado art.º 6.º determina que as liberalidades que
possam ser consideradas usuais, segundo as circunstâncias da época
e as condições da própria sociedade, não são havidas como contrárias
ao fim desta.
As sociedades podem validamente praticar actos gratuitos,
nomeadamente prestar garantias a dívidas de terceiros quando a
esses actos presida um interesse próprio da sociedade garante,
ainda que deles não decorra uma vantagem económica imediata.
Basta que haja o objectivo de ser alcançado um fim conveniente à
prossecução de vantagens de cariz económico da sociedade e não de
proporcionar uma vantagem ao credor garantido.
A não se demonstrar um justificado interesse em vista da
prossecução de vantagens lucrativas da sociedade garante, então o
acto de prestação de garantia é nulo, porque contrário à lei, na
conformidade do disposto nos art.º 280.º, n.º 1 e 294.º do C.Civil.».
No caso concreto não está provado nenhum facto do qual resulte
que a sociedade tenha um justificado interesse na assunção da
dívida de “F” perante o exequente. Ao invés, resulta do depoimento
de parte do exequente que a assunção de dívida se destinou apenas
a prosseguir o interesse do devedor “F” e o interesse do exequente.
Portanto, a assunção de dívida pela “C” Lda.» é um acto nulo,
porque contrário à lei, nos termos dos art. 280.º n.º 1 e 294.º do
Código Civil.
Sendo nula a obrigação principal, neste caso a obrigação de
assunção de dívida, é também nula a fiança (art.º 285.º do mesmo
diploma legal).

No caso dos autos, estamos no âmbito das relações imediatas e


torna-se necessário que o exequente demonstre a relação causal
geradora de direitos e obrigações entre a oponente e o exequente
que legitimasse a emissão do cheque – cfr. art.º 22.º da Lei
Uniforme Relativa ao Cheque.
Por seu turno, resultou demonstrado que o cheque dado à execução
foi emitido no âmbito de um contrato-promessa de cessão de quotas
ajustado entre C… e mulher e o exequente, em que aquele interveio
em nome pessoal, e não na qualidade de gerente da sociedade
executada (vide factos provados n.os 13 e seguintes).
Ou seja, apurou-se a inexistência de uma relação jurídica
subjacente à emissão do cheque dado à execução entre a oponente
(titular da conta bancária sobre a qual foi sacado o cheque dado à
execução) e o exequente.
A considerar-se que tal inexistência não assume relevância, não
afectando o título executivo, haveria lugar ao enriquecimento sem
causa da parte do exequente à custa da executada, ora oponente, o

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que não é permitido pelo direito e conduziria à restituição do que


houvesse recebido – cfr. art.º 473.º e ss. do Código Civil.
Acresce que, na data da emissão do cheque – 15/01/2007 -, C… não
era gerente da sociedade executada, ora oponente, pelo que não
dispunha de poderes para vinculá-la, conforme resulta do disposto
no art.º 260.º do Código das Sociedades Comerciais.
Dispõe o art.º 260.° n.º 1, do C.S.C.: «Os actos praticados pelos
gerentes, em nome da sociedade e dentro dos poderes que a lei lhes
confere, vinculam-na para com terceiros, não obstante as limitações
constantes do contrato social ou resultantes de deliberações dos
sócios».
Além de que, ainda que se considerasse que o cheque dado à
execução tivesse sido efectivamente emitido em 05/09/2005, data em
que C… ainda era gerente da executada, sempre seria de
considerar que tal cheque não vinculava a oponente, uma vez que a
mesma não é parte no aludido contrato de cessão de quotas
referido no facto provado n.º 16.
Nesta conformidade, por estarmos no âmbito das relações
imediatas e em face da inexistência de uma relação jurídica
subjacente à emissão do cheque dado à execução entre a oponente,
em nome da qual está a conta bancária sacada pelo cheque dado à
execução, e o exequente, e de o subscritor do cheque não dispor de
poderes para vincular a oponente B…Ldª na data nele constante
como a da sua emissão e de a executada não ter sido parte no
contrato de cessão de quotas mencionado no facto provado n.º 16,
cumpre concluir pela inexistência ou inexequibilidade do título
executivo que suporta a execução a que a executada/oponente B…
Ldª se opôs.

III. Pelo exposto, e de harmonia com as disposições legais citadas,


nega-se provimento à apelação, confirmando-se, assim, a decisão
recorrida.
Custas pelo recorrente.
Lisboa, 30 de Junho de 2011

Maria Amélia Ribeiro


Graça Amaral
Ana Resende
--------------------------------------------------------------------------------------
--
[1] Como ensinam Pires de Lima e Antunes Varela, essa ratificação
tanto pode ser expressa, como tácita: por exemplo, o credor aceitar
juros do novo devedor, a concessão de um prazo para o
cumprimento, a aceitação de um pagamento parcial. Não havendo
ratificação, mas apenas uma concertação entre antigo e novo
devedor, a assunção será convertível, muitas vezes, por obediência
à vontade presumível ou conjectural das partes, em mera promessa
de liberação (PIRES DE LIMA, Fernando Andrade e ANTUNES
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VARELA, João de Matos, Código Civil (Anotado), Vol. I, 2.ª Edição


Revista e Actualizada, Coimbra Editora, s.d., pp. 535-537).
[2] Também denominado assuntor, ou seja, aquele que assume uma
dívida de outrem, obrigando-se perante o respectivo credor a
realizar a prestação.
[3] PRATA, Ana, Dicionário Jurídico, Vol. I, 5.ª Edição, Almedina,
2008, p. 187.
[4] PIRES DE LIMA, Fernando Andrade e ANTUNES VARELA,
João de Matos, Código Civil (Anotado), Vol. I, 2.ª Edição Revista e
Actualizada, Coimbra Editora, s.d., p. 535.
[5] PINTO FURTADO, Jorge Henrique da Cruz, Títulos de Crédito
(Letra – Livrança - Cheque), Almedina, 2000, p. 57.
[6] Rel. Cons. Lopes Pinto (disponível em www.dgsi.pt).
[7] VENTURA, Raúl, Sociedades por Quotas (Comentário ao Código
das Sociedades Comerciais), Vol. III, Almedina, 1991, pp. 169-170
(sublinhado nosso).
[8] OSÓRIO DE CASTRO, Carlos, “Da Prestação de Garantias
por Sociedades a Dívidas de Outras Entidades”, in Revista da
Ordem dos Advogados, Ano 56 (Agosto de 1996), II, p. 566.
[9] Esta expressão deriva do direito sucessório (ultra vires
hereditatis, ou seja, para além das forças da herança) e significa que
os actos praticados excedem, ultrapassam a própria capacidade de
agir da sociedade ou, noutro plano, que os actos praticados pelos
titulares do órgão de uma sociedade se situam para além da força
de poderes funcionais com que são contemplados (PINTO
FURTADO, Jorge Henrique da Cruz, Curso de Direito das
Sociedades, 2.ª Edição, Almedina, 1986, p. 193 e nota 1).
[10] OSÓRIO DE CASTRO, Carlos, “Da Prestação de Garantias
por Sociedades a Dívidas de Outras Entidades”, in Revista da
Ordem dos Advogados, Ano 56 (Agosto de 1996), II, pp. 577-578.
[11] OSÓRIO DE CASTRO, Carlos, “Da Prestação de Garantias
por Sociedades a Dívidas de Outras Entidades”, in Revista da
Ordem dos Advogados, Ano 56 (Agosto de 1996), II, pp. 578-579.
[12] ANDRADE, Manuel de, Teoria Geral da Relação Jurídica, Vol.
II, Coimbra Editora, 1983, p. 56 (apud OSÓRIO DE CASTRO,
Carlos, “Da Prestação de Garantias por Sociedades a Dívidas de
Outras Entidades”, in Revista da Ordem dos Advogados, Ano 56
(Agosto de 1996), II, p. 579 e nota (25)).
[13] OSÓRIO DE CASTRO, Carlos, “Da Prestação de Garantias
por Sociedades a Dívidas de Outras Entidades”, in Revista da
Ordem dos Advogados, Ano 56 (Agosto de 1996), II, pp. 580-581 e
nota (28) (sublinhado nosso). Este autor destaca, aliás, a afirmação
de Raúl Ventura, de que “…a prestação de garantias é um acto que
ultrapassa sempre os limites do objecto social…” (p. 585, nota (36)).
[14] OSÓRIO DE CASTRO, Carlos, “Da Prestação de Garantias
por Sociedades a Dívidas de Outras Entidades”, in Revista da
http://www.dgsi.pt/jtrl.nsf/33182fc732316039802565fa00497eec/53f7724512a2c6a680257917003c9877?OpenDocument 23/24
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Ordem dos Advogados, Ano 56 (Agosto de 1996), II, p. 588, o qual


realça que tal justificado interesse próprio é qualquer interesse
económico, e não necessariamente um interesse que esteja em
consonância com o objecto social.
[15] OSÓRIO DE CASTRO, Carlos, “Da Prestação de Garantias
por Sociedades a Dívidas de Outras Entidades”, in Revista da
Ordem dos Advogados, Ano 56 (Agosto de 1996), II, p. 590.
[16] OSÓRIO DE CASTRO, Carlos, “Da Prestação de Garantias
por Sociedades a Dívidas de Outras Entidades”, in Revista da
Ordem dos Advogados, Ano 56 (Agosto de 1996), II, pp. 591-592.
[17] No mesmo sentido, escreveu João Labareda (in Direito
Societário Português, Algumas Questões, Quid Juris, 1998, p. 190):
“… A ocorrência de, pelo menos, uma das situações referidas na
parte final do nº 3 do art. 6 constituiu condição de validade das
garantias prestadas pela sociedade a dívidas de terceiro e, deve por
conseguinte, ser provada pelo beneficiário para poder prevalecer-se
delas. É, pois, o credor quem tem de provar que a sociedade garante
[…] tem justificado interesse próprio na prestação da garantia…”.
No mesmo sentido, ainda, se pronuncia Coutinho de Abreu (Curso
de Direito Comercial, Vol. II, Das Sociedades, Almedina, 2007, p.
197): “…se a sociedade garante […] invocar a nulidade da garantia,
não é a ela que cabe o ónus de alegar e provar a inexistência de
justificado interesse próprio. É o credor da entidade cuja dívida foi
garantida que deve provar se quiser ver reconhecida a validade da
garantia, que se verifica a excepção prevista na 2ª parte do nº 3 do
art. 6, isto é, que a sociedade garante tinha justificado interesse
próprio na prestação da garantia…” (sublinhado nosso).
[18] OSÓRIO DE CASTRO, Carlos, “Da Prestação de Garantias
por Sociedades a Dívidas de Outras Entidades”, in Revista da
Ordem dos Advogados, Ano 56 (Agosto de 1996), II, pp. 592-593
(sublinhado nosso).
[19] Assim, o Acórdão do STJ, de 17.06.2004 (Rel. Cons. Quirino
Soares, disponível em www.dgsi.pt), onde se defendeu que “…
Compete à sociedade comercial que garantiu um crédito de terceiro o
ónus de alegar e provar que a garantia não satisfez um justificado
interesse seu, sob pena de o acto dever ser considerado como
conforme ao fim social…”.
[20] Rel. Cons. Moreira Alves (disponível em www.dgsi.pt;
sublinhado nosso).
[21] Rel. Cons. Pinto Monteiro (disponível em www.dgsi.pt).
[22] Rel. Des. Custódio Montes (disponível em www.dgsi.pt).
[23] Rel. Des. Isoleta Costa (disponível em www.dgsi.pt).
[24] Rel. Des. Anabela Calafate (disponível em www.dgsi.pt).

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