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16/10/2018 Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa
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16/10/2018 Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa
da referida CBJ…
9. Por escritura de cessão de quotas datada de 26 de Outubro de
2006 averbada pela apresentação n.º 7 de 02.11.2006, C… cedeu na
totalidade a única quota que detinha na firma no valor nominal €
124.699,48 a favor de ANAB…
10. Por fax datado de 26 de Janeiro de 2006, a ora executada
comunicou ao Banco … - instituição bancária que veio a
incorporar em 2003 o Banco N…. C.. entretanto extinto - a
renúncia à gerência referida em 5 e o cancelamento de todos os
cheques emitidos, conforme cópia do escrito constante de fls. 41 e
42, cujo teor dá-se aqui por integralmente reproduzido.
11. Desde 11 de Janeiro de 2006 que o referido C… deixou a
gerência da ora executada e desde 02 de Novembro de 2006 que
cedeu a quota que possuía na ora executada.
12. À data de 15.01.2007, data de emissão do cheque dado à
execução, a única pessoa que podia obrigar a executada B…Ldª era
a actual gerente CBJ…
13. O cheque dado à execução foi emitido na sequência da
celebração, em 5 de Setembro de 2005, do Contrato de Promessa de
Cessão de Quotas referido em 16.
14. O exequente desconhecia que desde 11 de Janeiro de 2006 C…
deixou a gerência da executada e que desde 2 de Novembro de 2006
cedeu a quota que possuía na sociedade.
15. O executado C…, apresentou-se sempre ao exequente, como
sendo sócio gerente da executada.
16. O executado C… celebrou em 5 de Setembro de 2005, com o
exequente, um Contrato de Promessa de Cessão de Quotas, no qual
prometeu ceder-lhe a quota que possuía juntamente com a mulher
NMAJ…, na sociedade N…Ldª pelo preço de € 250.000,00,
conforme escrito junto a fls. 52 a 55, cujo teor dá-se por
integralmente reproduzido.
17. O exequente e o executado C… acordaram na Cláusula
Terceira, a forma seguinte de pagamento:
- No acto de assinatura do contrato de promessa a entrega da
quantia de € 100.000,00 a título de sinal e princípio de pagamento,
pelo promitente cessionário, ora exequente.
- O remanescente no valor de € 150.000,00 a pagar em oito
prestações no valor de € 18.750,00, cada uma, vencendo-se a
primeira três meses após a data da assinatura e outorga da
escritura definitiva de cessão de quotas e as restantes sete
prestações venciam-se sucessivamente de três em três meses a
contar da data da 1.ª prestação.
18. Conforme consta na Cláusula Quarta do Contrato de Promessa
de Cessão de Quotas, o executado C… entregou ao exequente, o
cheque dos presentes autos, para garantia de devolução da quantia,
no valor de € 100.000,00 (cem mil euros) entregue a título de sinal.
19. Conforme consta na Cláusula Quinta do Contrato de Promessa
de Cessão de Quotas, o referido cheque devia ser devolvido no acto
da escritura.
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II.2. Apreciando.
Quanto à questão de saber se o cheque dado à execução é exequível
e pode obrigar a executada
seus fins; direitos e obrigações esses que não sejam vedados por lei;
direitos e obrigações que não sejam inseparáveis da personalidade
singular.
Em conformidade com os enunciados limites, o nº 3 do mencionado
artigo 6º determina que se considera contrária ao fim da sociedade, a
prestação de garantias reais ou pessoais a dívidas de outras
entidades, salvo se existir justificado interesse próprio da sociedade
garante ou se se tratar de sociedade em relação de domínio ou de
grupo.
Consistindo a capacidade jurídica na aptidão para ser titular de um
círculo maior ou menor de relações jurídicas, é o conjunto das
competências dos seus órgãos que assegura a actuação da capacidade
de gozo de cada pessoa colectiva. Mas uma coisa é o complexo dos
poderes funcionais conferidos a cada órgão para o desempenho dos
fins da pessoa colectiva, outra é a medida dos direitos ou vinculações
de que a pessoa colectiva pode ser titular ou estar adstrita.
A actuação «ultra vires» - para além das forças do mandato recebido
- diz respeito aos meios ou condições de exercício de que a pessoa se
pode servir para o desempenho da sua actividade e não propriamente
ao fim ou objecto social - Prof. Oliveira Ascensão, «Direito
Comercial», IV, Lisboa 2000, designadamente págs. 59/62; Prof.
Carvalho Fernandes, «Teoria Geral de Direito Civil», 2.ª ed., 1995, I,
págs. 489/493.
O que aqui está em causa é a capacidade jurídica ou capacidade de
gozo da pessoa colectiva e não a problemática que se prende com a
sua capacidade de exercício ou capacidade de agir, segundo outra
terminologia.
Sendo lucrativo o fim das sociedades Comerciais, e mesmo que se
considere que o lucro não tem de ser aferido acto a acto, mas sim no
conjunto da actividade da pessoa colectiva, a verdade é que parece
inquestionável que a prestação de garantias reais ou pessoais a
dívidas de outras entidades, em princípio, afastar-se-ia do intuito
lucrativo. Mas, para de dúvidas não possam subsistir, o n.º 3 do artigo
6.º determina expressamente que tal prestação é contrária ao fim da
sociedade.
Consagram-se, contudo, duas importantes ressalvas: salvo se existir
justificado interesse próprio da sociedade garante ou tratando-se de
sociedades em relação de domínio ou de grupo…”[21].
Também no Acórdão do STJ, de 17.06.2004, se realçou que “…A
regra geral é, com efeito, a de excluir dos fins da sociedade comercial
a prestação de garantias reais ou pessoais a dívidas de outras
entidades (art.º 6.º, 2, CSC). É limitação que o legislador enquadrou
no âmbito da capacidade jurídica das sociedades comerciais, e que,
por isso, funciona seja qual for o objecto social, salvo a existência de
regimes especiais, como o das instituições de crédito e sociedades
financeiras. Não cabe dúvida de que o aval é uma garantia pessoal
(art.º 30.º, LULL) e que, por isso, está fora, em princípio, do elenco de
operações que a sociedade comercial, toda e qualquer sociedade
comercial, pode realizar. Em princípio, dizíamos, porque a segunda
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parte do citado n.º 2, do art.º 6.º, CSC, ressalva os casos em que exista
“justificado interesse próprio da sociedade garante” ou uma “relação
de domínio ou de grupo” entre a garante e a beneficiária da garantia.
O justificado interesse próprio há-de compreender-se por referência
ao fim da sociedade, que é a obtenção e distribuição dos lucros da
actividade económica correspondente ao objecto fixado no contrato
ou nas deliberações sociais pertinentes. Mas, para saber se
determinado acto é necessário ou conveniente à prossecução daquele
fim (na expressão do n.º 1, do citado art.º 6.º), importa não o
considerar isoladamente, mas perspectivá-lo no encadeamento de
actos que fazem a vida da empresa. Sendo assim, tirando as
proibições expressamente consagradas na lei ou as limitações que
decorram da natureza das coisas (quer dizer, as relativas a actos que
pressuponham a personalidade individual), a capacidade jurídica das
sociedades tem uma amplitude tendencialmente ilimitada. E, nesse
enquadramento, a prestação de garantias a dívidas de terceiro inclui-
se no fim social, isto é, no âmbito da capacidade de exercício de
direitos da sociedade, desde que orientada (tal prestação) pelo
superior interesse da sociedade garante (o interesse próprio ou o
interesse do grupo de sociedades em que se insere). Uma vez satisfeito
esse requisito, que, aliás, deve acompanhar todo e qualquer acto
praticado pelos órgãos e representantes da sociedade, a prestação de
garantias, pessoais ou reais, passa a ser uma operação do âmbito
normal da capacidade das sociedades comerciais […].
Há que distinguir entre modelos de gestão e modelos de
representação.
Os poderes de representação dos administradores e o consequente
âmbito da vinculação da sociedade anónima (art.º 408.º e 409.º, CSC)
são coisas distintas dos poderes de gestão, em que se inclui o de
prestação de cauções e garantias pessoais ou reais pela sociedade
(cfr. art.º 406.º, f, CSC), englobando, aqui, a caução ou garantia quer
de dívidas próprias, quer de dívidas alheias. O acto de representação
pode ser regular e já o não ser o acto de gestão que lhe está na
origem. No caso dos autos, as partes não discutem que a assinatura
de dois administradores, como foi o caso, bastava, em princípio, para
a representação em forma da sociedade.
Ora, «os actos praticados pelos administradores, em nome da
sociedade e dentro dos poderes que a lei lhes confere, vinculam-na
para com terceiros, não obstante as limitações constantes do contrato
de sociedade ou resultantes de deliberações dos accionistas, mesmo
que tais limitações estejam publicadas» (art.º 409.º, 1, CSC). É, no
dizer do próprio, preâmbulo do DL 262/86, de 02/09, que aprovou o
CSC, a adaptação da lei portuguesa à Primeira Directiva CEE, de
09/03/1968, directiva esta que, acrescentamos, se destinou a
«coordenar as garantias que, para a protecção dos interesses dos
sócios e de terceiros, são exigidas nos Estados-Membros à sociedades,
na acepção do segundo parágrafo do artigo 58.º do Tratado, a fim de
tornar equivalentes essas garantias em toda a Comunidade».
Quem contrate com uma sociedade comercial não tem que se
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