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Ação:
Espaço:
Tempo:
Personagens
• Caracterização:
o Física – exteriormente, como é a personagem. Ex.: alta, magra.
o Psicológica – como está o seu interior. Ex.: contente, corajosa.
o Direta – caracterização feita diretamente. Ex.: Ela é linda.
o Indireta – os traços da personagem são deduzidos por outras descrições. Ex.:
Leonor, levantou-se lentamente e tarde. Indicia um certo cansaço da
personagem.
• Relevo:
o Protagonista – personagem principal
o Secundária – age ao lado da principal, mas não é à sua volta que gira a ação.
o Figurante – não participa nem pala na ação. Ex.: Os jogadores passaram atrás
da Rita, sem serem notados.
• Composição:
o Modelada – ela muda a sua atitude ao longo da obra.
o Plana – mantém a sua atitude desde o início até ao desfecho da obra.
o Tipo- representa um tipo social, com os seus traços específicos. Por norma é
também plana. Ex.: burguesia
Narrador:
• Presença
o Autodiegético – participa como personagem principal.
o Homodiegético – participa como personagem secundária.
o Heterodiegético – não participa na ação.
• Ciência
o Omnisciente – sabe tudo o que ocorre dentro e fora das personagens.
o Interna – relata sobre o ponto de vista de uma personagem.
o Externa – só sabe o que é observável pelo exterior.
• Posição:
o Objetiva – relata sem emoções, como se de um jornalista se tratasse.
o Subjetiva – relata, recorrendo a emoções.
Estrutura
O livro assemelha apresentar um encontro entre dois homens: Reis e Pessoa. Porém, à medida
que vamos lendo a obra, vamo-nos deparando com um Portugal e uma Europa que estão
oprimidos por regimes fascistas e nazistas. Já para não falar na relação amorosa de Reis com
Lídia e Marcenda, mulheres de odes ricardianas, que ganham aqui vida.
O narrador discorre observações exteriores a Ricardo Reis, da mesma forma que o observa de
dentro para fora. A voz pode passar de uma primeira pessoa, para uma terceira, do presente
para o passado.
Nesta estrutura, existem duas ações fundamentais: a das relações amorosas do protagonista
com Lídia e Marcenda e a dos encontros entre Reis e Pessoa.
Estrutura interna:
Embora nas suas odes Ricardo Reis viva as disciplinas do Estoicismo e do Epicurismo, nesta obra,
ele materializa esse amor e põe à prova esse amor. Dando vida à Lídia das Odes, Saramago,
transforma-a numa criada de hotel. Este amor é clandestino e transgressor, entre um hóspede
e a criada de hotel. Entre Lídia e Reis, a atração sexual é evidente, embora os episódios amorosos
sejam apresentados com uma certa timidez, delicadeza, moderação: «poucas palavras, muitos
silêncios, gestos afetuosos, indícios, olhares, entendimentos mudos.»2
Marcenda é outra personagem das suas Odes e também ela se envolve com Reis. Esta é uma
mulher submissa devido à sua condição social e física, uma vez que não mexe o braço esquerdo.
O nome Marcenda já significa “murchar”, denunciando desde logo um possível futuro de
submissão e enfraquecimento. Socialmente obediente, controla as suas emoções, não
ultrapassando as cartas escritas e o beijo apaixonado. Prefere não arriscar num novo estilo de
vida com Ricardo Reis, não casando com ele. A sua maior limitação emocional advém da sua
condução física, atribuída hipoteticamente a causas psíquicas.
Lídia é enérgica, corajosa e não renuncia o seu amor por Ricardo Reis. Antagonismo de
Marcenda.
O desfecho é também ele diferente: Lídia fica grávida e abandonada, rejeitada perante o
progressivo apagamento de Reis; Marcenda impõe o seu afastamento radical.
1
Entre Nós e as Palavras, Santillana, Português 12 ano.
2
Maria Almira Soares, O ano da morte e Ricardo Reis- José Saramago, col. Ler os clássicos de hoje, Texto,
2017, p.22.
3
AA.VV., Mensagens, Português 12 ano, Texto.
O amor é ainda representado na conversa entre Reis e o ortónimo. A mulher surge como algo
enigmático, um quebra-cabeças e uma charada. A mulher é analisada sobre o ponto de vista
preconceituoso e machista: Lídia acaba por ter uma condição superior a uma criada do hotel e
Marcenda recusa-se a ser o que a condição de mulher culta, rica, socialmente bem inseria
poderia prometer.
4
Manual 12 ANO, Novo Plural 12
A cidade de Lisboa:
Em Portugal existia:
Na Europa:
Espanha: golpe político chefiado pelo general Franco, com o objetivo de instalar a
ditadura; a democracia é derrubada.
França: em 1936 ocorre uma grande agitação social por direitos sociais; a esquerda
sobe ao poder.
Intertextualidades
Fernando Pessoa: referências textuais com a poesia de Fernando Pessoa e com os seus
heterónimos. Viaja pelo território labiríntico e ambíguo da poesia pessoana.
Linguagem e estilo
Lê o texto.
Ricardo Reis dissera ao gerente, Mande-me o pequeno-almoço ao quarto, às nove e meia, não
que pensasse dormir até tão tarde, era para não ter de saltar da cama
estremunhado, a procurar enfiar os braços nas mangas do roupão, a tentear os
chinelos, com a impressão pânica de não ser capaz de mexer-se tão depressa quanto
era merecedora a paciência de quem lá fora sustentasse nos braços ajoujados a grande bandeja
com o café e o leite, as torradas, o açucareiro, talvez uma compota de cereja ou laranja, ou uma
fatia de marmelada escura, granulosa, ou pão de ló, ou vianinhas de côdea fina, ou arrufadas,
ou fatias paridas, essas sumptuosas prodigalidades de hotel, se o Bragança as
usa, a ver vamos, que este é o primeiro pequeno-almoço de Ricardo Reis desde
que chegou. Em ponto, garantira Salvador, e não garantira em vão, que
pontualmente está Lídia batendo à porta, dirá o bom observador que é isso
impossível para quem ambos os braços tem ocupados, muito mal estaríamos nós de servos se
os não escolhêssemos entre os que têm três braços ou mais, é o caso desta vossa criada, que
sem entornar uma gota de leite consegue bater suavemente com os nós dos dedos
na porta, continuando a mão desses dedos a segurar a bandeja, será preciso ver para
acreditar, e ouvi-la, O pequeno-almoço do senhor doutor, foi ensinada a dizer assim, e,
embora mulher nascida do povo, tão inteligente é que não esqueceu até hoje. Se
esta Lídia não fosse criada, e competente, poderia ser, pela amostra, não menos
excelente funâmbula, malabarista ou prestidigitadora, génio adequado tem
ela para a profissão, o que é incongruente, sendo criada, é chamar-se Lídia, e
não Maria. Está já composto Ricardo Reis de vestuário e modos, barba feita,
roupão cingido, abriu mesmo meia janela para arejar o quarto, aborrece os odores
noturnos, aquelas expansões do corpo a que nem poetas escapam. Entrou enfim a criada, Bom
dia, senhor doutor, e foi pousar a bandeja, menos prodigamente oferecendo do
que se imaginara, mas mesmo assim merece o Bragança nota de distinção, não admira que
tenha tão constantes hóspedes, alguns não querem outro hotel quando vêm a Lisboa.
Ricardo Reis retribui a salvação, agora diz, Não, muito obrigado, não quero mais nada,
é a resposta à pergunta que uma boa criada sempre fará, Deseja mais alguma coisa, e, se lhe
dizem que não, deve retirar-se discretamente, se possível recuando, voltaras costas seria
faltar ao respeito a quem nos paga e faz viver, mas Lídia, instruída para duplicar
as atenções, diz, Não sei se o senhor doutor já reparou que há cheia no Cais do
Sodré, os homens são assim, têm um dilúvio ao pé da porta e não dão por ele,
dormiram a noite toda de um sono, se acordaram e ouviram cair a chuva foi como
quem apenas sonha que está chovendo e no próprio sonho duvida do que sonha,
quando o certo certo foi ter chovido tanto que está o Cais do Sodré alagado, dá a
água pelo joelho daquele que por necessidade atravessa de um lado para outro,
descalço e arregaçado até às virilhas, levando às costas na passagem do vau uma senhora
idosa, bem mais leve que a saca de feijão entre a carroça e o armazém.
SARAMAGO, José (2016). O Ano da Morte de Ricardo Reis . Porto: Porto Editora, pp.
61-63
Lê o excerto
Ricardo Reis diz, Lá lhe ficou uma lembrança, o Pimenta responde, Muito
obrigado ao senhor doutor, quando quiser alguma coisa é só dizer, todas estas
palavras são inúteis, e isso ainda é o melhor que podemos dizer delas, quase
todas, em verdade, hipócritas, razão tinha aquele francês que disse que a palavra
foi dada ao homem para disfarçar o pensamento, enfim, teria razão o tal, são
questões sobre as quais não devemos fazer juízos perentórios, o mais certo é ser
a palavra o melhor que se pôde arranjar, a tentativa sempre frustrada para
exprimir isso a que, por palavra, chamamos pensamento. Os dois moços de fretes
já sabem aonde devem levar as malas, Ricardo Reis disse-o depois de se ter
retirado Pimenta, e agora sobem a rua, vão pela calçada para maior desafogo do
transporte […]. A meio da rua têm os moços de fretes de chegar-se para um
lado, e então aproveitam para arrear a carga, respirar um pouco, porque
vem descendo uma fila de carros elétricos apinhados de gente loura de cabelo e
rosada de pele, são alemães excursionistas, operários da Frente Alemã do
Trabalho, quase todos vestidos à moda bávara, de calção, camisa e suspensórios,
o chapelinho de aba estreita, pode se ver facilmente porque alguns dos elétricos
são abertos, gaiolas ambulantes por onde a chuva entra quando quer, de pouco
valendo os estores de lona às riscas, que irão dizer da nossa civilização
portuguesa estes trabalhadores arianos, filhos de tão apurada raça […].
SARAMAGO, José, 2016. O Ano da Morte de Ricardo Reis . 22.ª ed. Porto: Porto
Editora (pp. 250-252) (1.ª ed. 1984)
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Quer que mande fazer outras torradas, aquecer outra vez o café, Não é preciso,
fico bem assim, o apetite também não era grande, entretanto levantara-se e para
sossegá-la pusera-lhe a mão no braço, sentia a cetineta da manga, o calor da pele,
Lídia baixou os olhos, depois deu um passo para o lado, mas a mão acompanhou-
a, ficaram assim alguns segundos, enfim Ricardo Reis largou-lhe o braço, e ela
agarrou e levantou a bandeja, as porcelanas tremiam, parecia que se estava dando
um abalo de terra com o epicentro neste quarto duzentos e um, mais
precisamente no coração desta criada, e agora afasta-se, tão cedo não vai serenar,
entrará na copa e pousará a louça, a mão pousará no lugar onde a outra esteve,
gesto delicado que há de parecer impossível em pessoa de tão humilde profissão,
é o que estará pensando quem se deixe guiar por ideias feitas e sentimentos
classificados, como talvez seja o caso de Ricardo Reis que neste momento se
recrimina acidamente por ter cedido a uma fraqueza estúpida, Incrível o que eu
fiz, uma criada, mas a ele o que lhe vale é não ter de transportar nenhuma bandeja
com louça, então saberia como podem tremer igualmente as mãos de um
hóspede.
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Marcenda sobe o último lanço, só então ele repara que não acendera a luz da
escada, vai recebê-la quase às escuras, e enquanto hesita sobre o que deve fazer,
acender, não acender, há um outro nível do pensamento em que se exprime uma
surpresa, como foi possível aparecer tão luminoso o sorriso dela, visto cá de cima,
diante de mim agora, que palavras irão ser ditas, não posso perguntar, Então
como tem passado, ou exclamar plebeiamente, Ora viva quem é uma flor, ou
lamentar-me, romântico, Já não a esperava, desesperava, por que tardou tanto,
ela entrou, eu fecho a porta, nenhum de nós disse ainda uma palavra. Ricardo
Reis pega-lhe na mão direita, não para a cumprimentar, apenas quer guiá-la neste
labirinto doméstico, para o quarto nunca, por impróprio, para a sala de jantar
seria ridículo, em que cadeiras da comprida mesa se sentariam, um ao lado do
outro, defronte, e aí quantos seriam, inúmeros ele, ela decerto não única, seja
então para o escritório, ela num sofá, eu noutro, entraram já, estão enfim todas as
luzes acesas, […]
Ricardo Reis avançou um passo, ela não se mexeu, outro passo, quase lhe toca,
então Marcenda solta o cotovelo, deixa cair a mão direita, sente-a morta como a
outra está, a vida que há em si divide-se entre o coração violento e os joelhos
trémulos, vê o rosto do homem aproximar-se devagar, sente um soluço a formar-
se-lhe na garganta, na sua, na dele, os lábios tocam-se, é isto um beijo, pensa, mas
isto é só o princípio do beijo, a boca dele aperta-se contra a boca dela, são os lábios
dele que descerram os lábios dela, é esse o destino do corpo, abrir-se, agora os
braços de Ricardo Reis apertam-na pela cintura e pelos ombros, puxam-na, e o
seio comprime-se pela primeira vez contra o peito de um homem, ela
compreende que o beijo ainda não acabou, que neste momento não é sequer
concebível que possa terminar, e voltar o mundo ao princípio, à sua primeira
ignorância, compreende também que deve fazer mais
alguma coisa que estar de braços caídos, a mão direita sobe até ao ombro de
Ricardo Reis, a mão esquerda está morta, ou adormecida, por isso sonha, e no
sonho relembra os movimentos que fez noutro tempo, escolhe, liga, encadeia os
[…]
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