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Resumo: Pode-se dizer que, do ponto de vista normativo, os direitos da pessoa idosa no mundo e, especifi-
camente, no Brasil, avançaram bastante. Entretanto, o maior desafio hoje é a garantia desses direitos pelo
poder público e pela sociedade em geral. O objetivo do presente artigo é discutir o processo de conquista de
direitos e os obstáculos postos na sua efetivação, considerando o contexto contemporâneo adverso, que põe
em risco o desmonte dos direitos já conquistados, tendo em vista a nova fase capitalista e a busca de super-
lucros mediante a reestruturação produtiva e a globalização, passando por cima de conquistas sociais histó-
ricas.
Palavras-chave: Direitos. Envelhecimento. Políticas Sociais.
Abstract: It can be said that, from a normative point of view, the rights of the elderly in the world and specif-
ically in Brazil, well advanced. However, the biggest challenge today is the guarantee of those rights by the
government and society in general. The purpose of this article is to discuss the process of gaining rights and
the obstacles put in its implementation, considering the adverse contemporary context, which endangers the
dismantling of rights already won, in view of the new capitalist stage and the pursuit of super-profits
through productive restructuring and globalization, passing over historic social achievements.
Keywords: Rights. Aging; Social Policies.
1 Graduanda em Serviço Social da Universidade Federal do Piauí (UFPI, Brasil). Bolsista do Programa de
Iniciação Científica. E-mail: <paulinhaferreira17@hotmail.com>.
2 Assistente Social. Pós-doutorado em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(PUC-SP, Brasil). Doutora em Políticas Públicas pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA, Brasil).
Professora do curso de Serviço Social e da Pós-Graduação em Políticas Públicas da Universidade Federal do
Piauí (UFPI, Brasil). Coordenadora da pesquisa “Direitos da Pessoa Idosa” financiada pelo CNPq (Edital
Ciências Humanas, 2013). E-mail: < solangemteixeira@hotmail.com>.
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A
o longo dos anos, em consequên- alguma renda, até os que permanecem
cia de mudanças ocorridas (e em situação asilar e/ou não têm mais
ocorrentes) na estrutura etária da condições (sejam elas físicas, psicológicas,
sociedade, as pirâmides etárias em todo o financeiras) de garantir o seu sustento e
mundo vêm se modificando e retratando cuidado, e os que se encontram, de algu-
um crescimento em seu topo, o que sim- ma forma, desassistidos pelo Estado.
boliza uma visível transição demográfica. Mais que isso, deve-se avaliar esta plura-
Significa dizer que houve um aumento lidade também entre os “idosos dos ido-
significativo do número de pessoas ido- sos”, ou seja, a faixa etária com idade
sas, evidenciando que o envelhecimento mais avançada dentro do segmento da
populacional é um fenômeno verificado terceira idade, que diz respeito à “popu-
mundialmente e reconhecido também na lação idosa que está envelhecendo”, como
realidade brasileira. Essa transição demo- aponta Camaraño (apud BRASIL, 2006).
gráfica com aumento da população de
idosos tornou-se possível por diversos O envelhecimento populacional vem im-
fatores, entre eles o avanço da medicina, pondo grandes desafios às políticas pú-
que resultou no aumento da expectativa blicas de um modo geral ao tempo em
de vida. que ganha visibilidade e penetração na
agenda pública não só devido às discus-
Embora observado como uma realidade – sões sobre o processo de envelhecer como
e não apenas como uma possibilidade – também pela importante participação dos
palpável em muitos países, o processo de movimentos sociais que lutaram, e ainda
envelhecimento necessita de maior aten- lutam, pelos direitos da população idosa,
ção do poder público para que a velhice pela universalização e efetivação de direi-
possa ser vivenciada de forma digna, tos humanos fundamentais, como o direi-
saudável e com pleno gozo de direitos e to à vida, à saúde, à igualdade e à digni-
garantias civis, políticas e sociais. É fato dade, que devem estar assegurados em
que os idosos encontram-se positivados todas as fases da vida do indivíduo, so-
em legislações as mais diversas, entretan- bretudo na velhice. O objetivo deste arti-
to, enfrentam dificuldades em sua efeti- go é discutir os direitos da pessoa idosa e
vação. Nesse sentido, faz-se mister o en- problematizar sua capacidade de efetiva-
tendimento do idoso como sujeito de di- ção em contexto de crise fiscal do Estado
reitos que necessita de atenção especial, e precarização das políticas sociais.
tendo em vista que pertence a uma parce-
la crescente da população. Contudo, esse 1 Especificação dos direitos: em cena os
contingente populacional não deve ser direitos da pessoa idosa
homogeneizado, pois a faixa etária que
compõe os chamados idosos, no Brasil, Não há como tratar do tema dos direitos
considerados a partir de 60 (sessenta) a- da pessoa idosa sem fazer referência aos
nos de idade, é heterogênea e plural, en- direitos do homem, de um modo geral,
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até se chegar à especificidade dos direi- pação e das transformações das condições
tos, incluindo-se aí a maneira como tais de vida que essas lutas produzem [...]
direitos foram conquistados, as lutas tra- [sendo assim], são mutáveis, ou seja, sus-
vadas em prol deles, e a verificação se, de cetíveis de transformação e ampliação”
fato, estão sendo garantidos democrati- (BOBBIO, 2004, p. 51-52).
camente. Como acertadamente assevera
Bobbio (2004, p. 21), há uma relação in- Em contraposição a essa ideia, tem-se, por
trínseca entre os direitos do homem e a outro lado, o paradigma jusnaturalista, o
democracia, tendo em vista que “sem di- qual defende a ideia de que os direitos
reitos do homem reconhecidos e protegi- são inerentes ao homem, à condição hu-
dos não há democracia [...], e democracia mana, e é essa condição que justifica e
é sociedade dos cidadãos [que só se reco- explica a garantia desses direitos. Há ain-
nhecem enquanto tal] quando lhes são da algumas outras contradições quando
ofertados alguns direitos fundamentais”. os direitos se apresentam como conces-
sões do Estado, surgidos naturalmente ou
Em uma época onde são prezados valores até mesmo derivados da força divina.
como o individualismo, o imediatismo e,
sobretudo, a exploração máxima da capa- Os direitos humanos, vistos sob a ótica
cidade funcional do corpo humano, é que privilegia o seu desenvolvimento
preciso que a problemática do envelhe- histórico, em detrimento do fundamento
cimento esteja cada vez mais presente nas jusnaturalista, têm, como um de seus re-
discussões acerca dos direitos do homem presentantes, Bobbio (2004), que argu-
e do cidadão. Da mesma forma, também é menta sobre o tema dos direitos apontan-
importante a efetivação dos direitos da do-os como uma construção humana his-
população idosa para além do normativo, tórica, que ocorreu de maneiras e em é-
pois somente a garantia escrita desses pocas diferentes em vários países e socie-
direitos nos instrumentos legais através dades, ou seja,
da Constituição Federal, da Política Na-
cional do Idoso e do Estatuto do Idoso [...] por mais fundamentais que sejam, são
não assegura, de imediato, uma velhice direitos históricos nascidos em certas cir-
cunstâncias, caracterizadas por lutas em de-
vinculada à melhoria das condições de
fesa de novas liberdades contra velhos po-
vida. deres, e nascidos de modo gradual, não to-
dos de uma vez e nem de uma vez por to-
Assim como o tema envelhecimento não é das (BOBBIO, 2004, p. 25).
homogêneo entre as leis e os autores, o
dos direitos humanos também não o é, Visualizar os direitos a partir da sua cons-
trazendo consigo alguns paradigmas e trução sócio-histórica implica dizer que
divergências quanto ao seu surgimento. eles surgem, desenvolvem-se, ampliam-se
Por um lado, os direitos aparecem como e transformam-se em diferentes períodos
surgidos e conquistados historicamente, históricos de acordo com as configurações
emergindo “gradualmente das lutas que e os anseios de cada época, em que velhos
o homem trava por sua própria emanci- direitos vão desaparecendo e sendo subs-
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tituídos por novos direitos, quando uns vos e nações, a fim de se preservar o
são encarados como mais importantes do mundo e a humanidade.
que outros, passando a ser classificados e
divididos em gerações. Embora essa clas- Ainda que essas três gerações supracita-
sificação por gerações não seja aceita de das sejam encontradas com maior fre-
maneira unânime pelos autores, pois al- quência na literatura referente aos direi-
guns consideram mais pertinente a ex- tos, alguns autores já trazem os chamados
pressão dimensão, é bastante recorrente. direitos de quarta geração, os quais se
referem “aos efeitos cada vez mais trau-
Couto (2006) afirma que uma das manei- máticos da pesquisa biológica, que permi-
ras de se compreender mais claramente o tirá manipulações do patrimônio genético
campo dos direitos é organizá-lo a partir de cada indivíduo” (BOBBIO, 2004, p. 25).
das suas três gerações. Na primeira gera-
ção, inserem-se os direitos que só podem Assim sendo, essas duas últimas gerações
ser exercidos individualmente – civis e de direitos constituem uma categoria no-
políticos – e são de liberdade negativa, ou va, onde se situam e se constroem os
seja, opõem-se à presença do Estado para chamados “novos direitos”, que só são
serem exercidos livremente. possibilitados pela evolução histórica da
sociedade, que vai trazendo à tona a ne-
Os direitos de segunda geração – os direi- cessidade e a exigência de novas garanti-
tos sociais – evidenciados no século XX, as. Nessa perspectiva, pode-se dizer que
embora se constituindo desde o final do esses “novos direitos” instituídos no sé-
século XIX, ao contrário dos primeiros, culo XX, e também no XXI, são desafiado-
necessitam da intermediação do Estado res porque
para provê-los e, mesmo que exercidos de
forma individual, é no âmbito do Estado [...] não dizem respeito a grandes interesses
que os homens buscam o seu cumprimen- agregados e homogêneos, mas a diversifi-
cados interesses difusos, multidimensio-
to. Os direitos sociais visam construir
nais, referidos a questões que são vitais pa-
uma sociedade mais igualitária e minimi- ra todos os habitantes da Terra. Incluem-se
zar as desigualdades existentes na socie- aí tanto os direitos vinculados ao gênero, às
dade, sendo que o Estado é o principal várias fases da vida (crianças, terceira ida-
agente promotor e garantidor desses di- de), aos estados excepcionais da existência,
ao meio ambiente e à natureza, quanto os
reitos. direitos associados à integridade genética
das pessoas, por exemplo (NOGUEIRA,
Nesse sentido, Couto (2006) faz referência 2005, p. 8).
aos chamados direitos de terceira gera-
ção, dos quais são exemplo os vinculados A diversificação e multiplicação dos di-
ao meio ambiente e à natureza, à paz, à reitos, todo esse processo, como argu-
autodeterminação dos povos, ou seja, di- menta Nogueira (2005, p. 8), “[...] expan-
reitos de interesses difusos e heterogê- diu e recriou a cidadania, associando a ela
neos. Tais direitos originam-se pela preo- novos temas e novas dimensões”.
cupação com a boa convivência entre po-
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processo de envelhecimento deve ser vi- mente, este dever, por gerir fundos públi-
venciado em condições dignas de vida, cos e ter funções sociais e políticas na re-
de saúde e de sobrevivência, que podem produção social dos seus cidadãos.
ser viabilizadas em grande parte quando
os direitos são garantidos de fato, e não Nesse sentido, destaca-se o primeiro
apenas escritos. princípio que orienta a PNI: em seu Arti-
go 3º, afirma que “[...] a família, a socie-
A supracitada legislação assinala, indubi- dade e o Estado têm o dever de assegurar
tavelmente, uma progressiva sensibiliza- ao idoso todos os direitos da cidadania,
ção dos governos, de modo a garantir os garantindo sua participação na comuni-
direitos da pessoa idosa, mas também e, dade, defendendo sua dignidade, bem-
além disso, é resultado das lutas dos mo- estar e o direito à vida” (BRASIL, 2010a,
vimentos e organizações da sociedade p. 6). Nesse sentido, a PNI reafirma direi-
pela defesa dos direitos dos idosos, que tos garantidos constitucionalmente, mas
passam a ser percebidos como cidadãos aponta “a participação da sociedade civil
inseridos no Estado Democrático de Di- como espaço de efetivação de serviços e
reito, desfrutando dos direitos humanos proteção social ao idoso, em especial, a
fundamentais e também dos direitos ci- modalidade não mercantil, como a famí-
vis, políticos e sociais garantidos legal- lia” (TEIXEIRA, 2008, p. 279).
mente.
Evidenciar a família como espaço priori-
A Política Nacional do Idoso avança na tário no cuidado com o idoso, por um
efetivação dos direitos desse segmento, lado, avança na perspectiva de acionar a
pois, além de regulamentá-los, também institucionalização (o abrigamento e asi-
cria o Conselho Nacional do Idoso e dá lamento) do indivíduo apenas como úl-
outras providências, com a finalidade de, tima opção, o que pode trazer, em muitos
conforme o artigo 1º, criar condições para casos, efeitos positivos, tendo em vista
a promoção da “sua autonomia, integra- que o idoso estaria em convívio com os
ção e participação efetiva dos idosos na seus familiares, evitando assim o isola-
sociedade” (BRASIL, 2010a). No entanto, mento, que poderia levar a graves conse-
e apesar de atestar direitos formalmente, quências, como depressão, por exemplo.
essas garantias não se expressam por Por outro lado, pode implicar a responsa-
completo em ações efetivas, pois limitam bilização das famílias que, por vezes, já se
a sua realização no momento em que os encontram fragilizadas, sem condições de
princípios e diretrizes da PNI dividem cuidar dele. Essa perspectiva reforça,
responsabilidades, na garantia dos direi- mais uma vez, a redução do Estado, que
tos, pautando-se na descentralização da dirige suas ações apenas para casos de
execução e implementação das políticas extrema pobreza.
ao direcioná-las para a sociedade civil
(organizações não governamentais, famí- Nessa direção, a Política Nacional do Ido-
lia e mercado). Entretanto, é incontestável so traz em seu Artigo 4º, que trata das
que cabe ao Poder Público, prioritaria- diretrizes, a “[...] priorização do atendi-
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Sob vários aspectos, o Estatuto do Idoso tos, sobretudo direitos sociais, que de-
avança sobre a PNI, mas, por outro lado, pendem sobremaneira do Estado para
assim como a PNI, embora busque firmar serem efetivados, não podendo ser viabi-
as responsabilidades do Estado quanto às lizados numa perspectiva universalizante
ações voltadas para a pessoa idosa, não em instâncias outras, como o mercado e
deixa de dividi-las com as ONGs e o Ter- as organizações não governamentais. Es-
ceiro Setor, que passam a ser correspon- tes, embora por vezes acabem protagoni-
sáveis, cogestores pela execução da políti- zando ações que refletem positivamente
ca. Sobre isso, consta, no Artigo 46: “A na garantia dos direitos e na melhoria de
política de atendimento ao idoso far-se-á vida dos indivíduos, inclusive dos idosos,
por meio do conjunto articulado de ações não são capazes de absorver a demanda
governamentais e não governamentais da da população, a qual só pode ser ampla-
União, dos Estados, do Distrito Federal e mente atendida pelo poder público, que
dos Municípios” (BRASIL, 2010b, p. 22). tem de fato capacidades financeiras e es-
Esse compartilhamento de responsabili- truturais de provê-la, ofertando-lhe a de-
dades, inserindo a sociedade civil, as vida proteção social. Isso representa um
ONGs e o Terceiro Setor como executores desafio para a efetivação dos direitos no
de políticas sociais, impõe limites na im- contexto atual, impregnado pelos ditames
plementação das políticas. As parcerias do neoliberalismo, que prega a redução
público-privadas, adaptadas aos princí- dos gastos sociais.
pios neoliberais, de acordo com o men-
cionado por Teixeira (2008), trazem am- 4 Desafios na garantia dos direitos da
biguidades, configurando um novo modo pessoa idosa
de administrar a proteção social que deve
ser promovida pelo Estado: Todas essas ações, iniciativas e políticas
direcionadas à população idosa, resguar-
[...] de um lado, a lei define como compe- dadas as suas limitações, são imperativas
tência dessas organizações a participação para esse setor da população. No entanto,
ativa e crítica na formulação da política [...],
cabe fazer referência aos desafios de se
de outro, legitima a divisão de responsabi-
lidades nas ações de proteção social, com a concretizar direitos e de consolidar, no
participação destas na execução das políti- contexto atual, de políticas sociais sob os
cas, assumindo funções do Estado na prote- moldes neoliberais. Põe-se, então, como
ção social (TEIXEIRA, 2008, p. 293). um dos principais desafios, o de se uni-
versalizar e democratizar direitos que
Conquanto seja necessário uma democra- passam a ser administrados, cada vez
tização em relação à participação da soci- com mais frequência, na esfera privada –
edade, imprimindo suas necessidades e nas instituições da sociedade civil organi-
levando as suas demandas para o poder zada, como as ONGs e o Terceiro Setor –
público, abrindo, assim, canais de parti- e ainda a instância do mercado onde só
cipação pelo viés do controle social, é in- quem acessa os direitos é quem pode pa-
trincado passar para esta sociedade a res- gar por eles.
ponsabilidade de viabilizar para si direi-
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Todavia, a esfera privada só pode atender não possui condições de comprá-los, deverá
limitadamente e de modo restrito os inte- acessá-los através da benevolência da soci-
edade, que retoma o papel de responsável
resses da coletividade, tendo em vista que por atender às demandas sociais (COUTO,
não consegue abranger as demandas so- 2006, p. 72).
ciais, inclusive a dos idosos, que são mui-
to complexas e necessitam cada vez mais Assim, as políticas sociais brasileiras,
da participação do Estado como instância num contexto neoliberal que reorganiza
primeira (e por excelência) de garantia e as funções do aparelho estatal de modo a
efetivação de direitos sociais à população. diminuir sua responsabilização com o
É fato que “não existe direito sem sua atendimento das refrações da questão
realização e sem suas mediações e a polí- social, apresentam aspectos negativos,
tica social é sem dúvida mediação fun- imensos obstáculos a sua efetivação, re-
damental”, sendo que, sob a perspectiva portando-os como obrigação da socieda-
neoliberal, passa a operar “de forma des- de civil de respeitá-los, garanti-los e pro-
contínua, incompleta, seletiva” (YAZBEK, movê-los.
2009, p. 64) e ainda de modo desintegra-
do, dificultando ainda mais a universali- Conclusão
zação dos direitos sociais, que são os que
mais padecem com esse reordenamento Diante do exposto, pode-se asseverar que,
das políticas sociais. Verifica-se, então, perante o aumento da população idosa,
uma contradição imposta pelo neolibera- envelhecer é um processo atual e cada
lismo: por um lado, intensifica os pro- vez mais palpável na realidade brasileira.
blemas sociais, tendo em vista que desre- Com efeito, nos últimos anos, a sociedade
gulamenta e dificulta o usufruto dos di- alcançou importantes vitórias quanto aos
reitos (sociais) da população e exime o direitos da pessoa idosa, tanto em nível
Estado de sua responsabilidade; por ou- internacional quanto no Brasil, com a a-
tro, a intensificação desses problemas faz provação de legislações que aderiram a
com que a população careça de uma par- ações postas nas discussões mundiais,
ticipação mais efetiva do Estado na ga- que caminham no sentido de voltar os
rantia de tais direitos. Além disso, como olhos do poder público, e também da so-
salienta Soares (apud COUTO, 2006, p. ciedade, para as demandas de um seg-
70), “os direitos sociais perdem identida- mento da população que está em proces-
de e a concepção de cidadania se restrin- so de crescimento: a pessoa idosa. Toda-
ge” nesse contexto de ajuste neoliberal. via, ainda são observadas deficiências e
Outro aspecto mencionado por Couto, entraves quanto à efetivação de tais direi-
quanto aos direitos sociais no neolibera- tos, que ainda não conseguiram refletir
lismo, é que, por completo uma melhoria nas condi-
ções de vida dos idosos, evidenciando,
[...] retoma a lógica do mercado e da filan- como salientam Camaraño e Pasinato
tropia para o atendimento das demandas
(2004, p. 282), que a “[...] legislação é bas-
[...]. Se o indivíduo tem dinheiro, deverá
comprá-los no mercado, transitando, assim, tante rica e avançada, no entanto a prática
da ótica do direito para a mercadoria. Se é pouco satisfatória”.
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Sendo assim e tendo em vista que a popu- BRASIL. Lei nº 8.842, de 4 de janeiro de
lação idosa constitui um segmento da 1994. Política Nacional do Idoso. Brasília.
população bastante diversificado e hete- Reimpresso em maio, 2010a.
rogêneo, é imperativo que existam políti-
cas sociais que atendam as suas necessi- BRASIL. Lei nº 10.741, de 1º de outubro
dades e promovam sua inclusão na soci- de 2003. Estatuto do Idoso. 4. ed. Brasília.
edade. Mas não basta apenas desenvolver Reimpressão em maio, 2010b.
políticas para a terceira idade; conside-
rando-se que o envelhecimento é um pro- BRASIL. Portaria nº 2.258, de 19 de outu-
cesso desenvolvido ao longo da vida e a bro de 2006. Política Nacional de Saúde
atenção e os cuidados devem ser estendi- da Pessoa Idosa.
dos para os mais jovens, eles podem sig-
nificar qualidade de vida e acesso a me- CAMARAÑO, A. A.; PASINATO, M. T.
lhores condições para se envelhecer com Os novos idosos brasileiros: muito além
dignidade e cidadania. dos sessenta? Rio de Janeiro: IPEA, 2004.