Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
3
justiça. O poder judiciário tem sentido a pressão da população ávida É claro, que a garantia à razoável duração do processo e aos meios Tal instituto deu um impulso ao princípio da efetividade da jurisdição
por ver a efetividade da justiça. que garantam a celeridade de sua tramitação não deve ser entendida no processo de conhecimento ao atribuir ao juiz o poder no curso do
Hans Kelsn, considerado o principal representante da chamada de forma estanque, quando a própria norma relativiza, ao referir um processo de deferir medidas típicas de execução. O processo
Escola Positivista do Direito, concluiu que o importante não é saber critério: a razoabilidade. O que se pretende é evitar são dilações cautelar, visivelmente, perdeu espaço.
de imediato a resposta, mas não parar de questionar. indevidas, mas ao mesmo tempo uma prestação jurisdicional Não se pode esquecer ainda, os procedimentos previstos na Lei do
O impulso em busca de um ideal estimula os homens. São os acelerada, imprudente, que ponha em risco a qualidade da entrega Juizado Especial Cível, Mandado de Segurança, Ações Coletivas,
sonhos, que nos mantém vivos e esperançosos, não importando da prestação jurisdicional (GUAGLIARIELLO, 2008, p. 02). que visam agilizar a jurisdição, assim como as audiências
onde estejam as soluções. Não há dúvida de que a demora do processo sempre foi um entrave preliminares e o próprio procedimento sumário.
Dinamarco adverte, acertadamente, que “o processo, além de para a efetividade do direito de acesso à justiça. Já que ao Estado Disse bem o grande escritor Machado de Assim: "A justiça é cega,
produzir um resultado justo, precisa ser justo em si mesmo, e, coube a proibição da justiça de mão própria há que se conferir ao daí não se ruborizar com os comentários do povo".
portanto, na sua realização, devem ser observados aqueles cidadão um meio adequado e tempestivo para dirimir os conflitos. É A lentidão da justiça macula a dignidade da pessoa humana, não há
standards previstos na Constituição Federal, que constituem óbvio que se o tempo do processo prejudica a parte que tem razão, como escamotear o notória descaso que envolve os Poderes
desdobramento da garantia do due process of law” (DINAMARCO, seria ingenuidade imaginar que a demora do mesmo não beneficia Constituídos. A angustia da espera, a dor e desespero dos
Cândido. Instituições de direito processual civil, v. 1. 6.a ed. São ao que não têm interesse no cumprimento das normas (MARINONI, anônimos que buscam a justiça todos os dias não é capaz de
Paulo: Malheiros, 2009). 2004, p. 02). sensibilizar a pesada máquina que se tornou a justiça. Parece ter se
Não há dúvidas do interesse do Estado em tornar a justiça mais No entendimento de Canotilho “ao demandante de uma proteção tornado comum em nosso país, as autoridades publicas omiscuirem-
efetiva e por sua vez mais célere, entretanto os esforços jurídica deve ser reconhecida a possibilidade de, em tempo útil [...], se de suas obrigações, para as quais foram empossadas. O Estado
empenhados não alcançam o volume de ações que são distribuídas obter uma sentença executória com força de caso julgado” parece ter deixado de ser um ente que tutela o cidadão, tornando-se
diariamente em todas as Comarca do país. Assevera ainda o autor Português: “a justiça tardia equivale a uma um verdadeiro leviatã que consome o dinheiro dos pesados impostos
Tal situação avilta diretamente a dignidade daquele que depende da denegação da justiça”. Isto não equivale dizer que proteção judicial que impõe sobre o cidadão, sem devolver o mesmo o que é de
justiça e das decisões dos tribunais. em tempo adequado seja dizer justiça acelerada, o que significaria direito, e, pior, aviltando seus direitos elementares, pisando na
Algumas vezes o tempo corre contra aquele que depende da Justiça, com toda certeza diminuição de garantias materiais que pode dignidade.
a angustia do processo, o estresse causado pela demora acaba por conduzir a uma justiça pronta, mas materialmente injusta (2003, p. O século XX findou-se com um Poder Judiciário, desestruturado,
minar as esperanças da pessoa, que já não acredita numa decisão 499). com funcionários despreparados para funções que ocupa, com
que lhe devolverá seu direito, em função da demora das decisões. Há que se ter em conta que tanto o direito ao processo célere, insuficiência de magistrados, e não raras às vezes, notabilizado pelo
Seu direito vai se perdendo no tempo. quanto o direito ao contraditório, bem como a ampla defesa, são nepotismo e corporativismo. Pompa dos Tribunais tenta ofuscar a
A grande discussão dos operadores da justiça tem sido sua direitos e garantias. Os quais, em princípio, não devem conflitar, mas falta de atenção aos órgãos de primeira instancia. O Executivo, cada
efetividade. Não faz sentido abrir as portas para o acesso à justiça, se harmonizar na busca da efetividade. vez mais se desviando do cumprimento do seu dever, levando o
com mais celeridade. Enquanto detentor do monopólio da jurisdição, “Da mesma forma, se de um lado da balança encontramos o povo para o descrédito em seus governantes, contribuindo para a
o Estado, precisa propiciar mecanismos que visam garantir a princípio da celeridade do processo, que visa a sua utilidade, não desvalorização do voto. Por vez, um legislativo subjugado a
efetividade desta, num período razoável. É indispensável podemos sacrificar o ideal de justiça da decisão, que demanda um interesses, quando não próprios, de uma minorias e cada vez mais
compreender a importância que os princípios fundamentais processo dialético-cognitivo exauriente que, por sua vez, demanda longe dos anseios do povo. Enfim, o vocábulo Autoridade parece ter
assumem na hermenêutica jurídica. Aquele o qual é dado à tempo. É por isso que o Poder Constituinte Derivado inseriu perdido seu verdadeiro sentido, o Poder que é dado não é mais
interpretação das normas não pode mais esquecer que a morosidade mecanismo harmonizador ao determinar que a duração do processo devolvido em serviço.
da justiça se torna instrumento de degradação do ser humano. seja razoável” (Guagliariello, 2008, p. 02). A indiferença pela sofrimento do outro tomou conta de parte da
Diante disso, há que se estabelecer um ponto de equilíbrio entre a população. A classe abastada vê fechada em seus condomínios de
A DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO E SUAS IMPLICAÇÕES celeridade e o devido processo legal, “volta o discurso sobre a luxo, cercados de segurança, interpreta como natural a miséria que
NA EFETIVIDADE DA JUSTIÇA instrumentalidade das formas no procedimento e a séria advertência se espalha pelo país, não só uma miséria sócio – econômica, mas
O processo é por assim dizer o carro que conduz a ação, e a sobre a sua função vital no direito processual moderno” uma miséria intelectual. Há muitos que não conseguem mais se
inúmeras dobras que foram sendo criadas ao longo do tempo tem (DINAMARCO, 2008, p. 344). levantar de onde estão. A desconfiança tomou conta do povo. Não
sido verdadeiros entraves nas efetivação da justiça. Em vista disto se faz necessária a adoção de mecanismos (meios e há mais a quem socorrer, não há mais instâncias isentas e
Não há dúvida de que o instrumento se tornou obsoleto, e não mais procedimentos) que visam um acesso cada vez mais adequado à imparciais. Não há que zele mais pela causa do pobre cada vez mais
satisfaz os anseios dos tempos atuais. justiça para tornar o processo mais justo e efetivo. tendo que vender sua dignidade por um preço vil e afrontante.
O princípio da duração razoável do processo está previsto no art. 5º, Não sendo prestado uma jurisdição eficiente e efetiva, que garanta a Em vista da morosidade, e muitas vez da inércia da não cega, mas
inc. LXXVIII, da Constituição Federal, por força da Emenda tramitação do processo num período razoável e adequado, torna-se bastante míope justiça, os jurisdicionados se vêem abandonados a
Constitucional n. 45, de 08 de dezembro de 2004. Estabelece o inócuo o acesso ao judiciário própria sorte, clamando no deserto pela falta, sem resposta diante de
mencionado dispositivo que “a todos, no âmbito judicial e O legislador infraconstitucional tem inovado, neste sentido, o sistema uma máquina pesada e arcaica que não consegue mais manobrar
administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e jurídico pátrio com a edição de leis que contemplem esse escopo. E seus próprios membros. A justiça parece ter envelhecido, está
os meios que garantam a celeridade de sua tramitação” (BRASIL, merece destaque o instituto da tutela antecipada e da tutela inibitória, acometida de uma grave doença o desinteresse pela pessoa
2008, p.9). que constituem os mais importantes institutos do processo civil humana. O Autor se tornou apenas um número num volumoso
O Princípio de duração razoável do processo está ligada à contemporâneo, até a entrada em vigor do referido instituto, em processo, empilhado em salas escuras e mofadas, sem janelas,
efetividade da prestação da tutela jurisdicional, num período 1994, o procedimento comum do processo de conhecimento não esperança de ver solucionada seu pedido. Esqueceu o principal da
razoável, objetivando atingir o escopo da utilidade, sem, entretanto tinha aptidão para evitar a violação de um direito, e a liminar era elemento da justiça, o jurisdicionado, a pessoa, dotado de dignidade.
prejudicar o ideal de justiça da decisão. concedida apenas em determinados procedimentos especiais. Flávia Piovesan assevera com clareza
4
“(...) o valor da dignidade da pessoa humana impõem-se “sobrenatural” sobre a vida das pessoas) que tendem a reduzir as
como núcleo básico e informador de todo o ordenamento relações sociais a seu aspecto material, ao poder de compra,
jurídico, como critério e parâmetro de valoração a orientar culmina em uma realidade de exclusão social e tratamento
a interpretação e compreensão do sistema constitucional.” degradante, indigno a uma grande parcela da sociedade em nosso
E assim sendo, não há como fugir das insuperáveis palavras do país. Os direitos fundamentais fruto de lutas e conquistas históricas,
escritor José Saramago que reflete sobre a morte da Justiça. cuja observância é a garantia essencial da dignidade humana são
“(...) Suponho ter sido a única vez que, em qualquer parte desconsiderados em uma persistência quase inabalável, sobretudo
do mundo, um sino, uma câmpula de bronze inerte, depois no que tange a efetivação da justiça.
de tanto haver dobrado pela morte de seres humanos, A dignidade é qualidade inerente à condição humana. O
chorou a morte da Justiça. Nunca mais tornou a ouvir-se ordenamento jurídico que adota a dignidade humana como princípio
aquele fúnebre dobre da aldeia de Florença, mas a Justiça norteador, veda a coisificação e a instrumentalização do ser humano.
continuou e continua a morrer todos os dias. Agora O Direito não decreta a dignidade humana, posto que essa seja
mesmo, neste instante em que vos falo, longe ou aqui ao atributo inerente da vida humana; a sua recepção na condição de
lado, à porta de nossa casa, alguém a está matando. De princípio constitucional faz apenas o seu reconhecimento, com a
cada vez que morre, é como se afinal nunca tivesse imantação de direitos fundamentais destinados a amparar a garantia
existido para aqueles que nela tinham confiado, e nela da existência digna.
esperavam o que da Justiça todos temos o direito de Os direitos constitucionais não podem ser considerados mais ou
esperar: justiça, simplesmente justiça. Não a que se menos importante, ou ainda, mais ou menos aplicáveis – por serem
envolve em túnicas de teatro e nos confunde com flores de todos igualmente assegurados na Carta Magna. A compreensão de
vã retórica judicialista, não a que permitiu que lhe que o tratamento aos direitos humanos tem que respeitar a diferença
vendassem os olhos e viciassem os pesos da balança, não e a necessidade de cada um é que possibilitará a obediência nos
a da espada que sempre corta mais para um lado que para mais variados níveis de todos esses direitos. A supremacia do
o outro, mas uma justiça pedestre, uma justiça mercado não pode ditar as normas preferenciais, em detrimento das
companheira cotidiana dos homens, uma justiça para quem demais. Ainda que tal posição seja revestida de pretensões utópicas,
o justo seria o mais exato e rigoroso sinônimo do ético. (...) fica como inspiração a lição de Eduardo Galeno ao ensinar que a
Uma justiça exercida pelos tribunais, sem dúvida, sempre “utopia serve para nos fazer caminhar, ainda que para horizonte
que a isso os determinasse a lei, mas também, e, distante”.
sobretudo, uma justiça que fosse a emanação espontânea Em vista de tudo isto concluímos que há que se refletir sobre a
da própria sociedade em ação, uma justiça em que se efetividade da justiça e suas implicações na dignidade da pessoa
manifestasse, como um iniludível imperativo moral, o humana, que não pode mais continuar sendo aviltada diante da
respeito pelo direito a ser que a cada ser humano assiste.” morosidade da justiça.
A justiça é simbolicamente representada pela escultura de uma Não há mais espaço para uma justiça que não ouve o clamor do
deusa grega, cuja imagem se apresenta com os olhos vendados, povo, que não se efetiva, não há espaço para uma justiça que não se
com uma espada em punho e segurando uma balança. Esta sensibiliza com a perda da identidade sobre tudo de nossas crianças
imagem, de maneira inversa, acaba ilustrando bem a prática de em situação iminente de riscos, que tem seus nomes trocados por
justiça na atualidade, ou seja, ao contrário de ser uma justiça codinomes aviltantes, como: “delinqüentes, infrator, avião, pivete,
imparcial, ela é cega e infelizmente está desequilibrada, pois julga, trombadinha, pixote, de menor”.
muitas vezes, desprezando critérios éticos, que conduzem à vida, e Não há mais espaços para operadores do direito que usam sua
estabelecendo, em suas sentenças, dois pesos e duas medidas, oratória, recursos jurídicos e passe de mágicas para protelar, atenuar
gerando impunidade. Assim, a espada sempre termina virando para ou mesmo escamotear culpas evidentes, tais atitude fere e infringi
o lado daqueles que não se utilizam de espertezas e falcatruas, de nossos princípios constitucionais, sobretudo o contido no artigo 1º, III
tal forma que a balança, normalmente corrompida, acaba pendendo – in verbis “A republica Federativa do Brasil, formada pela união,
em detrimento daqueles que dispõem de meios e bens materiais. indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-
“A injustiça é uma e indivisível: ataca-la e faze-la recuar, aqui e ali, é se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
sempre fazer avançar a justiça.” D. Helder. III- a dignidade da pessoa humana.
CONCLUSÃO
O Estado Democrático de direito, garantido no artigo 1º da INFORMAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS
Constituição Pátria, necessita percorrer um longo caminho até ser CUNHA, Maria Neusa Fernandes da. A dignidade da pessoa humana
efetivados na prática, seus princípios norteadores, sobretudo o e a efetivação da justiça. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XV, n. 103,
principio da dignidade da pessoa humana, posto que os direitos ago 2012. Disponível em: <http://www.ambito
fundamentais - bases garantidoras da existência digna – são juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=12111>.
constantemente inobservados e aviltados. A interposição das “regras Acesso em out 2013
do mercado” (esse ente sem rosto, mas com poder quase
5