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DIP oral

O que é DIP?

FERRER CORREIA: DIP é o ramo da ciência jurídica onde se procuram formular os princípios e
regras conducentes à determinação da lei ou das leis aplicáveis às questões emergentes das
relações jurídico-privadas de carácter internacional e, bem assim, assegurar o reconhecimento
no Estado do foro das situações jurídicas puramente internas de questões situadas na órbita de
um único sistema de Direito estrangeiro (situações internacionais de conexão única, situações
relativamente internacionais.

DIP: ramo do direito que tem por objeto situações transnacionais (privadas internacionais-
questões emergentes das relações jurídico-privadas de carácter internacional) e regulação
destas situações – Escola de Lisboa (LP e Dário). Escola de coimbra defende que DIP não tem
uma função de regulação mas meramente de determinação da competência

O que entende por situação jurídica internacional?


Situação que transcende a esfera social de um Estado soberano e entra em contacto com outras
sociedades estaduais, colocando-se, portanto, um problema de determinação do Direito
aplicável que deva ser resolvido pelo DIP. Preferível ao conceito ambíguo de “situação
internacional”, que pode confundir-se com o conceito de relação internacional, relevante para o
DIP público.

Carácter transnacional das situações reguladas:


O recurso ao adjetivo “transnacional” permite evitar a ambiguidade da palavra internacional.
Trata- se, com efeito, de situações que transcendem a esfera social de um Estado soberano,
entrando em contato com outras sociedades estaduais.
São múltiplos os fatores que podem dar à situação este carácter transnacional: a nacionalidade
dos sujeitos, o seu domicílio ou residência habitual, o lugar do seu estabelecimento, o lugar da
sede do ente coletivo, etc.
As situações transnacionais carecidas de regulação jurídica são, na maioria dos casos,
apreciadas segundo o DIP de uma ordem jurídica estadual.

Quais os valores que regem DIP?


• Dignidade da pessoa humana: valor fundamental da OJ portuguesa, consagrado
constitucionalmente (artigo 1o CRP). É nesse valor que se funda o reconhecimento da
personalidade jurídica e, por consequência, o reconhecimento de direitos de
personalidade a todos os seres humanos. 

o Projeções em DIP:
▪ Reconhecimento de personalidade jurídica aos cidadãos estrangeiros
(reconhecimento aos 
 estrangeiros, em território nacional, de suscetibilidade de serem
titulares de direito).
• Base legal: 15o/1 CRP + 14o CC. 

• Fundamento: seria totalmente contrário ao princípio em questão que se
recusasse a uma 
 pessoa a suscetibilidade de ser titular de direitos perante a
ordem jurídica nacional, pela 
 circunstância de ela ser nacional de um país
estrangeiro. 

▪ Estatuto pessoal das pessoas singulares – as matérias que se
considerarem incluídas no estatuto 
 pessoal das pessoas singulares – capacidade,
relações familiares, relações sucessórias, etc. – são submetidas à lei pessoal (entre nós
é, em princípio, a lei da nacionalidade). 

• Base legal: artigo 25o CC + 31o/1 CC. 

• Fundamento: porque é que as pessoas singulares têm uma lei que as acompanha onde
quer que elas se encontrem, onde quer que ajam? Porque é que eles precisam de estar
sujeitos à mesma lei independentemente do país onde se encontrem ou residam?
Justamente, porque se assim não fosse, essas pessoas facilmente se veriam
despojadas de qualidades que têm de acordo com a lei do país de que são originários.
Ex.: poderia perfeitamente acontecer que uma pessoa que é tida como casada perante o
Direito de certo país, quando se encontrasse noutro já não lhe fosse reconhecida essa
sua condição. 
 Ora, isto geraria uma instabilidade muito grande na regulação do
estatuto pessoal e entravaria muito o tráfego jurídico internacional. Seria uma solução
contrária à salvaguarda da dignidade da pessoa humana. Assim, este estatuto pessoal
das pessoas singulares: 

o Evita despojamento de qualidade que os cidadãos têm de acordo com a lei do país de que são
originários;
o Pressupõe que se reconheçam às pessoas singulares certos estados, certas qualidades, em
que a pessoa está investida de acordo com a lei do país que é originária, e que isso aconteça
onde quer que a pessoa se encontre.
• Autonomia privada: possibilidade de os interessados escolherem a lei aplicável a certas
relações privadas (internacionais) em que intervêm, nomeadamente em matéria contratual.
o Projeções em DIP:
 ▪ Base legal: artigo 3o/1 (RR I), no tocante às obrigações contratuais. ▪
Fundamento:
• Segurança jurídica: quando se diz que as pessoas podem escolher a lei aplicável a
determinadas situações privadas internacionais, nomeadamente em matéria contratual,
está-se evidentemente a favorecer a certeza quanto ao Direito aplicável – sabe-se, à
partida, qual a lei que vai reger aquela situação jurídica. 

• Liberdade nas regulações das situações jurídicas: reconhece-se aos interessados uma
certa esfera de liberdade nas regulações das situações jurídicas em que intervêm,
permitindo-se que as pessoas escolham o regime jurídico que têm por mais ajustado a
essas situações jurídicas. 
 o Note-
sequeestafaculdadenãoéreconhecidaemtodososdomínios:hámatérias em que a escolha
da lei aplicável não é permitida. 

• Tutela da confiança: trata-se de salvaguardar as expetativas legitimas das pessoas nas
situações jurídicas. o Projeções em DIP:
▪ Fundamento: este valor tem, em DIP, a máxima importância. As situações privadas
internacionais, pelo facto de estarem conexas com mais de uma ordem jurídica – havendo na
prática alguma incerteza quanto ao regime jurídico que se lhes vai aplicar -, reclamam uma
regulação jurídica que acautele o mais possível a tutela das expetativas legitimas. Ora, dai que
este valor tem de ser necessariamente tomado em consideração em DIP. Em que medida?
• Admitindo a aplicação pelos tribunais portugueses das leis estrangeiras, isto é,
reconhecendo em território nacional eficácia à lei estrangeira. Temos de admitir que, em
princípio, a tutela da confiança reclama que em certas situações, quando estas situações
tenham uma ligação estreita com certa lei estrangeira, que devemos aplicar essa mesma lei
estrangeira em território nacional.
o Ora, isto nem sempre foi assim. Ainda atualmente, alguns autores defendem que a solução
deva passar pela aplicação sistemática da lei do Estado do foro às situações privadas
internacionais. Assim, quer isto dizer que o tribunal do nosso país, confrontado com uma
questão privada internacional, deveria aplicar necessariamente a sua própria lei e nunca uma lei
estrangeira.
▪ Argumento(s) contra: se assim fosse, defraudar-se-ia, em muitas situações, as expetativas
legitimas dos interessados (p.e., o negocio jurídico considerado válido à luz de certo pais
estrangeiro onde foi celebrado, lei pela qual as parte contavam que se regesse o contrato,
poderia ser considerado invalido se submetido a determinada lei nacional). Assim, esta solução
não é conforme a tutela da confiança.
• Evitar a formação de situações claudicantes, isto é, situações jurídicas que produzam
certos efeitos em determinada ordem jurídica, mas que depois não são reconhecidos
noutras ordens jurídicas com as quais têm conexões significativas. Há efetivamente que
procurar acautelar que uma situação jurídica válida e constituída eficazmente segundo certa lei,
com que tem uma conexão estreita, seja reconhecida nas demais ordens jurídicas em que essa
situação seja invocada.
o No OJ português, essa preocupação encontra-se estabelecida no artigo 31o/2.
 ▪
Desvioàaplicaçãodaleidanacionalidadedaspessoassingulares
às matérias relacionadas com o seu estatuto pessoal.
• Regra geral: a lei das pessoas singulares é a lei da nacionalidade, o que significa que os
negócios jurídicos pertinentes ao estatuto pessoal das pessoas singulares – casamento,
adoção, perfilhação, testamento, etc. - se devem conformar, em princípio, com a lei da
nacionalidade dos interessados; isto é o mesmo que dizer que, no respeitante a essas
matérias, os portugueses estão sujeitos à lei portuguesa. 

• Desvio/Exceção à aplicação da lei da nacionalidade: sob certas condições, é possível
aplicar a estas matérias a lei da residência habitual, desde que ela se considere
competente. 

o Ratio: Portugal tem uma vastíssima comunidade de emigrantes radicados em países
estrangeiros; essas pessoas celebram quotidianamente negócios jurídicos referentes ao seu
estatuto pessoal: casam, adotam, perfilham, etc. Ora, evidentemente que a maior parte destes
negócios jurídicos é celebrada de acordo com a lei do país onde estão radicados – onde
residem habitualmente -, e não de acordo com a lei portuguesa.
 Se se recusasse, em Portugal,
qualquer efeito a esses negócios jurídicos, as expetativas legitimas dessas pessoas seriam
violentadas, sendo necessário introduzir um desvio à aplicação da lei da nacionalidade nestas
matérias – é o que dispõe o artigo 31o/2.
• Casos em que certo negócio jurídico que é aparentemente válido e eficaz segundo certa
lei, que quem celebrou julgava que era aplicável ao caso, mas que não é de acordo com a
lei realmente aplicável, pode ser reconhecido em território nacional – artigo 28o CC + 13o
RRI.
o Trata-se aí da proteção da aparência, a aparência da validade de um negócio jurídico que não
é efetivamente válido segundo a lei que lhe deve ser aplicada, mas que alguém fundadamente
pensou eu era válido de acordo com certa lei e que, por isso, é reconhecido em território
nacional.
• Casos em que o DIP português introduz desvios e limitações à aplicação da lei em
princípio aplicável.
o É o que acontece nos casos de reenvio ou devolução – arts. 17o e seguintes CC. O nosso DIP
privado manda aplicar a uma questão privada internacional certa lei estrangeira, e essa lei, por
seu turno, remete para uma terceira legislação que se considera aplicável. Em certas situações,
o artigo 17o aceita que em vez de se aplicar a lei que nós, em princípio, considerávamos
competente, se aplique aquela terceira legislação para a qual remete aquela lei que nós
consideramos competente.
o Damesmaforma,ascláusulasdeexceçãoconsagramaaplicabilidadeexcecional,não da lei que é
competente segundo a nossa norma de conflitos, mas de uma outra lei que tem uma conexão
mais estreita com o caso.
• Reconhecimento em território nacional de sentenças e outros atos públicos
estrangeiros.
o Ofactode,emcertopaísestrangeiro,tersidoproferidaumasentençaquetransitou em julgado,
produz os seus efeitos normais nesse país e que depois é reconhecida em Portugal gera
expetativas legítimas que a situação que é objeto dessa sentença possa ver-se reconhecida
além-fronteiras.
• Igualdade perante a Lei: trata-se de oferecer tratamento igual a situações iguais, decorrente
do principio da igualdade. o Projeções em DIP:
▪ Fundamento: corolário da Justiça: tratar de forma igual o que é igual e de forma diferente o que
é diferente. Este é um princípio geral da OJ portuguesa.
• Casos em que, para uma mesma situação privada internacional – para as questões dela
emergentes – se considerem competentes os tribunais de dois ou mais países diferentes.
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Direito Internacional Privado | Darja Zimina
o Isto acontece porque não há critérios para a regulação da competência internacional. Mesmo
na OJ portuguesa, há critérios concorrentes que muitas vezes concorrem entre si. Assim, pode
acontecer que a mesma situação de vida - p.e., o mesmo contrato que dê azo a um litígio –
possa ser julgado pelos tribunais dos países A, B e C concorrentemente. Este fenómeno pode
ser cingido por Convenções Internacionais em que os Estados se ponham de acordo sobre a
competência internacional, mas dificilmente será suprimível. Assim, é preciso:
▪ Evitar que a parte vá propor a ação perante o tribunal onde antevê
que conseguirá ter uma solução mais favorável aos seus interesses. Ora, esta situação
lesa o princípio da igualdade, na medida em que a parte expedita vai conseguir
manipular o desfecho da ação a seu favor.→Fenómeno forum shopping. 

▪ Assegurar o mais possível a realização da harmonia jurídica
internacional, isto é, assegurar, independentemente da pluralidade de tributais
potencialmente competentes, que o resultado da causa seja o mesmo onde quer que a
ação seja proposta. Claro que aqui ressalva-se a dificuldade de julgar a ação do mesmo
modo – que é quase impossível de assegurar -, mas garantir, pelo menos, que esta seja
julgada por aplicação da mesma lei. Isto, com o fundamento de garantir o princípio da
igualdade. 

• Neste campo, algumas soluções (DMV):
 o Consagração na legislação de cada país de
elementos
de conexão nas regras que sejam amplamente aceites
na ordem internacional.
 o Quando não haja consenso quanto às soluções das
questões privadas através de elementos de conexão, consagrá-las através da figura do reenvio.
Assim, permitir que numa situação em que a nossa lei remete para certa lei estrangeira e esta,
por seu turno, para uma terceira legislação ou devolve para a lei do foro, permitir que nessa
situação esse reenvio seja tomado em consideração pelos nossos tribunais. Isto faz com que os
nossos tribunais apliquem à questão privada internacional a mesma lei que seria aplicada pelo
tribunal estrangeiro a que essa mesma situação poderia ser submetida.
o Reconhecimento de sentenças estrangeiras;
 o Reconhecimento da litispendência
internacional – se foi proposta uma ação em primeiro lugar perante certo tribunal estrangeiro, o
tribunal português já não
vai poder julgar essa causa.

• Valores sociais:
 o Proteção da parte mais fraca na relação jurídica: esta preocupação
não é privativa de DIP, sendo
transcendente a todo o Direito Civil. No plano do DIP, essa preocupação é visível na medida em
que em certas situações típicas se procura favorecer a parte mais franca na relação jurídica,
mandando aplicar a sua lei à situação jurídica internacional, quando essa lei lhe seja mais
favorável.
▪ Exemplo: esta solução é consagrada em matéria:
• De contratos de consumo - artigo 6o/1 RRI, que manda aplicar, sob certos pressupostos,

 a LRH do consumidor (considerado a parte fraca na relação jurídica) desde que esta o

 proteja mais acentuadamente do que, p.e., a lei escolhida para reger o contrato; 

• De contrato individual de trabalho (artigos 6o e seguintes CT); 

• Etc. 
 o
Eficiênciaeconómica:valorquecertasnormasdeDIPtêmemconsideração,eaíestamostam
bémperante um valor social (de natureza económica). Em DIP, este valor reflete-se em
matéria de contratos internacionais, em que foi entendido aplicar a lei que mais favoreça
uma regulação eficiente do ponto de vista económico dessas situações jurídicas – uma
regulação que permita a redução dos custos das transações. Isto é assegurado através
da aplicação da lei do país de que é originário o produto ou serviço cuja proteção está
em causa às obrigações emergentes de um contrato internacional. Isto porque, dessa
forma, se assegura que o devedor desse produto veja aplicada a sua própria lei a todos
os contratos que celebre, tendo em vista a exportação desses mesmo produtos ou
serviços. 
 ▪
Exemplo:umaempresaestabelecidaemPortugalqueexportaosseusprodutosparatodaaEur
opa, se visse os seus contratos submetidos à lei de qualquer país de onde exporta os
seus produtos ou serviços, é evidente que iria encarecer a sua atividade, na medida em
que ela ia ter que consultar todas essas leis para ver, designadamente, quais as
responsabilidades em que incorre como fornecedor para esse efeito (contratação de
advogado é um custo de transação). Ora, em alguns casos poderia até não ter interesse
em contratar, dadas as elevadas responsabilidades a que algumas legislações nacionais
hoje submetem, por exemplo, o produtor. 
 ▪ Artigo 4o/2 RRI: esta disposição
estabelece exatamente que é a LRH do devedor da prestação característica que se
deve aplicar às obrigações contratuais subsidiariamente. Isto porque, é a parte que deve
aquela prestação do contrato que o caracteriza, que a permite reconduzir a certo tipo
legal ou social. Com isto assegura-se, exatamente, que a empresa que exporta os seus
produtos, os seus serviços para outros países, veja os seus contratos sistematicamente
submetidos à sua própria lei. Portanto, consagra-se uma solução que é justamente
conforme com a preocupação da eficiência económica, e com a redução dos custos de
transação. No fundo, trata-se de aplicar a lei do país de origem dos produtos e serviços
que são colocados em circulação no mercado internacional – a chamada lex originis. 


• EM SUMA 
 Estes valores não são privativos do DIP. São valores comuns a outros
ramos da OJ, são valores fundamentais da nossa OJ. O que há de específico no DIP
são as projeções que esses valores aqui têm, são as regras que visam concretizá- los.
Isto significa que, por conseguinte, a chamada justiça do Direito Internacional Privado –
a justiça que se pretende, exatamente, com todos estes valores – não é uma justiça
diferente de outras disciplinas, de outros ramos do Direito. 


A justiça do DIP é material como qualquer outra coisa do direito privado – e não meramente
formal, como durante muito tempo se tinha concebido:
• Salvaguarda da Dignidade da Pessoa Humana; 

• Autonomia Privada; 

• Tutela da Confiança; 

• Princípio da Igualdade; 

• Proteção da Parte mais fraca; 

• Salvaguarda da Eficiência Económica.
 O que é diferente é somente o modo como se
dá a realização a esses valores – isto é, a sua concretização. Essa 
 concretização
pressupõe regras que visam determinar o direito aplicável às situações privadas
internacionais em conformidade com esses valores. Assim, se o DIP é uma disciplina
autónoma, com autonomia face a outros ramos do direito privado, isso não é porque
tenha uma justiça particular, uma justiça própria. Isso acontece porque tem um objeto
próprio - as situações privadas internacionais -, e um método próprio da regulação
dessas mesmas situações. 
 Isto, para dizer que a perspetiva em que assenta hoje o
DIP, é a de rejeitar a ideia de que o Direito Internacional Privado é um ramo puramente
formal, um direito sobre direito assente numa justiça formal. Pelo contrário: o DIP tem
uma função material de prover à resolução de conflitos de interesses nas situações
privadas internacionais, e essa resolução faz-se em conformidade com os valores
fundamentais da nossa OJ. 


Quais os setores de DIP que conhece?


Para Ferrer Correia existem três problemas/questões ligadas ao DIP:
- Conflitos de leis

- Competência internacional

- Reconhecimento das sentenças estrangeiras

O que entende por direito de conflitos?


Sector do DIP, que tem por objeto situações privadas internacionais e por função a sua
regulação, através da determinação da lei aplicável.

Quais os métodos de regulação que conhece?


- Método jurisdicionalista
- Método substancialista
- Método conflitual ou de conexão

O que entende por método jurisdicionalista?

Esta expressão vem, evidentemente, da palavra jurisdição e assenta essencialmente na ideia de


que, cada jurisdição que caiba prover à resolução de uma situação privada internacional aplica
em princípio unicamente o seu próprio direito a essa questão, isto é, o direito que está vigente na
sua própria OJ.

Atualmente, este método é ainda aplicado nalguns países – nomeadamente, em alguns estados
norte-americanos, onde os tribunais têm tradicionalmente preferência pela aplicação da sua
própria lei, embora deva acrescentar-se que é em alguma medida mitigada porque os tribunais
não julgam todas as situações privadas internacionais que lhes são submetidas; há no direito
americano a possibilidade de o tribunal declinar julgar a causa justamente com o fundamento em
foro inconveniente, nas situações em que a ligação com a sua própria OJ é demasiado frouxa.

 António Menezes Cordeiro defende este ponto de vista entre nós, apresentando em
muitos escritos publicados a preferência por esta solução de os tribunais portugueses
aplicarem somente o direito português à s questõ es privadas internacionais.

 Esta solução é adotada pela Lei 7/2004 de 07/01, alterada pela Lei 46/2012 de 29/08
nomeadamente no artigo 5o/3. Assim, qualquer que seja a origem dos serviços, desde
que exteriores à União, os tribunais portugueses aplicaráo sempre a lei portuguesa.
 No Direito Comunitário, encontramos hoje uma regra sobre os processos de insolvência
internacionais que procura de alguma forma adotar esta solução, fazendo convergir os
critérios de competência internacional e os critérios de determinação da lei aplicável,
sendo que, em princi ́pio, o tribunal competente para julgar a insolvência internacional,
aplicará sempre a sua lei.

Quais as vantagens e as desvantagens deste método?

Vantagens:

 Do ponto de vista da boa administração da justiça:


o Evita o erro judiciário: se os tribunais de cada país aplicarem unicamente a sua
própria lei, é natural que ministrem uma justiça tecnicamente mais
aperfeiçoada, porque normalmente os tribunais de cada pai ́s apenas sáo
versados na lei desse mesmo país e, portanto, se aplicarem esta lei há o
mínimo de garantias de que náo cometeráo com especial facilidade o chamado
erro judiciário.

o Menor dispêndio de recursos econó micos e de tempo na administração da


justiça – economia processual: se um tribunal tiver de averiguar qual a lei
estrangeira aplicável ao mérito da causa, demorará mais tempo a julgar a causa
e, porventura, essa demonstração do teor da lei estrangeira aplicável implicará
para o tribunal ou para as partes custos que iráo onerar a administração da
justiça.
Inconvenientes:

 Do ponto de vista dos valores essenciais desta disciplina, e os quais náo podem deixar
de ser tidos em conta na resolução das questõ es privadas internacionais:
o Tutela da Confiança: este é, como suprarreferido, um dos objetivos
fundamentais a que se encontra subordinada esta disciplina – aliás, como a
generalidade de disciplinas de direito privado. Se um Tribunal português aplicar
a uma determinada situaçaõ privada internacional que náo tem quaisquer
ligações, ou que não tinha pelo menos quando se constituiu, quaisquer ligações
com a OJ portuguesa, pode este chegar a uma conclusão que redunde na
violência de uma lesão das expetativas legi ́timas das partes.

o Igualdade entre as partes: havendo duas situações ligadas a mais do que a


uma OJ, sendo potencialmente competentes os tribunais de dois ou mais
pai ́ses, o que a parte mais expedita que quer assegurar que vai obter ganhos de
causa na ação que vai instaurar faz é propor a ação nos tribunais do pai ́s onde
antevê que vai obter um resultado mais favorável aos seus interesses (fó rum
shopping), acabando por pô r em causa a igualdade entre as partes. Isto porque,
a parte que propuser primeiro a ação consegue obter uma vantagem sob a
outra, na medida em que vai conseguir manipular os efeitos sobre essa ação.
Ora, o fó rum shopping é altamente favorecido pelo facto de os tribunais desses
pai ́ses aplicarem unicamente a sua pró pria lei à s questóes privadas
internacionais. Se, pelo contrário, todos se orientarem pelos mesmos critérios
de determinação da lei aplicável, procurando assegurar a Harmonia Juri ́dica
Internacional, tal não sucederia.

O que entende por método substancialista?

Método substancialista: orientação segundo a qual a regulação das situações privadas


internacionais deve preferencialmente ser levada a cabo através de normas materiais, normas
de direito substantivo, na medida em que elas próprias oferecem a solução material para o caso
em apreço.
Neste âmbito, no último século foram levados a cabo esforços muito significativos em vários
países no plano internacional e supranacional, havendo hoje um largo número de convenções
internacionais que visam justamente unificar em certos ramos de direito as normas aplicáveis às
situações com carácter internacional.

Quais as correntes que conhece?

Uma primeira corrente pensa ser necessário não apenas unificar as normas materiais, aplicáveis
em certos ramos de direito e especificamente em situações internacionais, mas unificar todo o
Direito (no que toca às situações puramente internas, inclusive), ou pelo menos, todo o Direito
privado e não apenas no que toca á relação das situações internacionais. É o caso do CC
Europeu que visa a unificação do Direito Privado – projeto paralelo ao da Constituição Europeia
– regência apresenta bastante dúvidas em relação a este projeto tanto ao nível da sua
necessidade como ao nível da legitimidade tendo em conta o principio da subsidiariedade do
direito comunitário em vigor;

Uma segunda corrente defende que o direito uniforme deve surgir não do topo para a base, mas
da base para o topo, devendo formar-se, sobretudo, por via consuetudinária. Fala-se, a este
respeito de uma Lex Mercatória, a Lei do Mercado, uma lei que surgiria e que seria constituída
pelo usos e costumes do comércio internacional, pela jurisprudência dos tribunais arbitrais, pelos
contratos tipo, adotados no comércio internacional. Não há, porém, unanimidade sobre o que se
deva entender por Lex Mercatória. É um ponto que divide muito a doutrina1. A questão que se
tem, porém, colocado, é a de saber em que medida, seja qual for o entendimento que se prefira,
é que os tribunais nacionais podem recorrer a essa dita Lex Mercatória.
 DMV defende que, mesmo na arbitragem internacional por escolha das partes, estas
raramente o farão, uma vez que o conteúdo desta Lei do Mercado é de tal forma
indefinido e incerto – teor, regras, etc. -, que seria muito pouco imprudente, da parte do
advogado, que aconselhasse a parte a escolher esta Lei. O que pode acontecer é os
tribunais judiciais ou arbitrais, ao integrarem ou a interpretarem as disposições negociais
celebradas pelas partes, recorrerem para uma tal lei.

Por fim uma terceira corrente surgiu recentemente nos EUA a ideia do recurso à chamada
autorregulação. Assim, seriam os próprios interessados a regular as relações jurídicas de que
são partes, quer através dos contratos, quer através de códigos de conduta, ou de outros
instrumentos resultantes, por exemplo, do labor de instituições, de empresas ou de profissionais
que atuam em certos setores – p.e., há, entre nós, códigos de conduta de publicidade (o que não
significa que sejam observados, mas somente que existem). Há quem defenda que esta via já é
utilizada para regular certos domínios, nomeadamente o comércio eletrónico na área do
comércio que contende com a regulação dos nomes de domínio – isto, porque a regulação
desses bens imateriais que têm grande valia no comércio internacional (havendo quem lhe
chame de petróleo da Internet), é essencialmente levada a cabo pela autorregulação, na medida
em que não existem muitas leis nacionais sobre esta matéria.

 DMV: esta não é, porém, a via preferencial, na medida em que há inúmeros interesses
públicos e interesses da parte mais fraca a acautelar, não sendo estes devidamente
protegidos pela autorregulação, mas por normas de direito estatual. Assim, não é
possível afastar o direito dos Estados, pelo que quer esta expressão, quer as restantes
do método substancialista, não oferecem a chave para o nosso problema.


O que entende por método conflitual ou de conexão?

É o método que assenta no recurso a regras de conflitos de lei no espaço (ou regras
de conexão). Estas regras resultam da circunstância de as mesmas situações de vida estarem
conexão com duas ou mais OJ nacionais – daí, conflitos de leis no espaço. De acordo com este
método, deve-se promover à regulação destas situações internacionais (ou plurilocalizadas) com
recurso à aplicação da lei designada através de uma regra de conflitos da lei no espaço, que têm
como peça nuclear (como elemento chave) o elemento de conexão – que nos vai indicar a lei
aplicável. Em suma, este método traduz-se em submeter as questões internacionais a uma ou
mais leis com as quais elas se encontrem conexas.

De acordo com a regência esta é a orientação mais conforme os valores de DIP. Isto porque,
quando se manda aplicar a uma situação privada internacional a lei que tem a conexão mais
estreita, a lei que está mais fortemente ligada aos factos que estão perante o tribunal, por via de
regra essa há de corresponder à lei com cuja aplicação as partes contavam, por estar mais
fortemente conectada com a situação. Assim, não se poderá dizer que as partes estariam
espantadas com a sua aplicação. Assim, o valor da tutela da confiança está acautelado.

Além disso, este método de regulação das situações privadas internacionais manifesta a sua
superioridade em relação a todos os outros, na medida em que assegura alguma coordenação
entre os direitos nacionais, uma vez que assegura que dada uma situação privada internacional,
há um critério para achar a regulação dessas situações, suprimindo a diversidade dos direitos
nacionais (que é o grande inconveniente da via substancialista). Note-se, porém, que a
diversidade é um bem em si mesmo, devendo ser preservado, por várias ordens de razões:

 Empobrecimento da diversidade cultural: o direito é uma manifestação cultural e, se nós


o uniformizarmos, reduz-se a diversidade cultural e a humanidade empobrece; 

 A falta de competitividade entre diversos modelos de resolução das mesmas situações
da vida: o próprio progresso do Direito depende, em alguma medida, da diversidade das
soluções nacionais, na medida em que todos aprendemos uns com os outros e
normalmente os sistemas jurídicos nacionais só evoluem dado o exemplo de outros
sistemas jurídicos que apresentam soluções que segundo determinado ponto de vista se
manifestam superiores. 


O que se entende por norma de conflitos?

“Definição” - A regra de conflitos destaca um elemento da situação de facto susceptível de


apontar para uma, e apenas uma, das leis em concurso.

As normas de conflito do Código Civil não apresentam qualquer tipo de solução para a resolução
do caso mas indicam qual o ordenamento jurídico que irá regular o caso.

Lima Pinheiro
3 caracteristicas:
- normas de conflitos são:
 normas de conduta e de regulação
o normas de regulação indireta - não dão diretamente soluções de direito
material- não criam direito nem impõe deveres- remetem para normas que
regulam essas condutas.
o Fazem essa regulação indiretamente, remetendo para direito material
o Lima pinheiro diz que esta característica que está presente em todas as normas
de conflitos- a doutrina de coimbra considera que não são normas de regulação
indireta
 Normas de conflitos são fundamentalmente formais – destina-se a obter a justiça formal
e não material- as normas de conflito determinam o direito competente
independentemente da solução material em concreto- despreocupação com o direito
material.
o Contudo à situações em que as normas conflitos atendem ao resultado material
em concreto – nomeadamente no art 22º - os princípios referidos no artigo são
princípios de direito material- por isso não se pode dizer que as normas de
conflito são absolutamente formais.
o Há ainda situações mais evidentes de normas de conflitos que atendem ao
resultado material- normas de conflitos materialmente orientada (36º forma da
declaração – está preocupada com a situação a validade formal do negócio-
mesmo quando é escolhida a lei competente está preocupada com
considerações de direito material
 Normas que utilizam de elementos de conexão
o O processo indireto ou conflitual consiste assim no recurso a uma norma de
conflitos ou mais amplamente a uma valoração conflitual, para a determinação
do direito material aplicável. Estas normas de conflitos denominam-se de
normas de conexão quando conectam uma situação da vida, ou um seu
aspecto, com o Direito aplicável, mediante um elemento ou factor de conexão.
o Neste âmbito consideram-se juridicamente relevantes e decisivos para a
determinação do Direito aplicável os seguintes factores de conexão:
 Vínculos jurídicos (vg nacionalidade)
 Laços fácticos (vg residência habitual)
 Consequências jurídicas (vg lugar do efeito lesivo)
 Factos jurídicos (vg designação do Direito aplicável, pelos
interessados);
 Art 52º
 Existem normas de conflitos que não têm elementos de conexão – é
aplicada a lei mais adequada à resolução do caso.

Qual o objeto e a função da norma de conflitos?

O objeto da norma de conflitos é o mesmo que o objeto do DIP enquanto ramo de Direito: a
situação transnacional. Isto, segundo LP. Para a Escola de Coimbra, o objeto da norma de
conflitos seriam as normas materiais. (Pelo que me recordo das aulas práticas, o resultado é o
mesmo numa ou outra conceção. Contudo, usemos o entendimento de Coimbra, visto ter
suporte legal em artigos como o 15o CC.)
Quanto à teleologia das NdC, diga-se que os interesses particulares assumem grande
importância para este ramo do Direito. Mas aqui entram também interesses legislativos e do
Estado.
Por fim, o que há de comum a todas as NdC é a regulação das situações transnacionais
mediante um processo conflitual ou indireto ( função técnico-jurídica).

Distinga regulação direta de regulação indireta


A distinção entre a regulação indireta e direta deve fazer-se em função da necessidade ou
desnecessidade de uma valoração conflitual.

A valoração conflitual consiste na avaliação do elemento de conexão mais adequado para a


determinação do Direito aplicável a uma categoria de situações ou a uma questão jurídica com
vista a formular uma norma de conflitos; mas pode consistir também numa apreciação casuística
dos lações que uma situação concreta apresenta com os Estados envolvidos ou num juízo sobre
a adequação material de determinado Direito para reger uma determinada categoria de
situações.

O processo indireto ou conflitual consiste no recurso a uma norma de conflitos ou mais


amplamente a uma valoração conflitual, para a determinação do direito material aplicável - Esta
é a regra geral da regulação das situações transnacionais na ordem jurídica estadual. Ao passo
que no processo direto ou material se procede diretamente à aplicação de Direito material sem a
mediação de uma valoração conflitual/ ou de uma norma de conflitos, designadamente através
de três técnicas de regulação directa.

Só em 3 casos se verifica uma regulação direta de situações transnacionais no seio da ordem


jurídica estadual, nomeadamente quando o Direito material do foro for aplicado a quaisquer
situações independentemente de comportarem elementos de estraneidade – seriam reguladas
como se de situações puramente internas se tratasse.
Trata-se de uma técnica de regulação direta que prescinde de normas de conflitos.

O que entende por conceito quadro?


CONCEITO QUADRO = objeto da norma, parte da norma de direito internacional privado que
corresponde a um instituto jurídico de direito privado.

Quais as modalidades de conexão que conhece?

Conexáo simples ou singular: existe quando a norma de conflito aponta para uma única ordem
jurídica por via de um só elemento (ex.: arts. 30o; 33o/1; 46o/1 CC).
Conexáo múltipla: quando as normas de conflito apresentam vários elementos de conexáo:

Conexóes sucessivas ou subsidiárias: está-se perante duas ou mais elementos da conexáo os


quais só́ se irão aplicar caso falhe os anteriores (ex.: art. 52o/1 e 2 CC);

Conexáo alternativa: prevê várias conexõ es como possi ́veis, mas apenas uma vai ser aplicada
com vista á obtenção do resultado (ex.: art. 65o/1 CC);

Conexóes cumulativas: vai-se aplicar duas leis pessoais simultaneamente, ou seja, aplicam-se
ambas (ex.: art. 33o/3 e 4 CC);

Conexáo condicional: quando o segundo elemento de conexáo chamado para regular o caso vai
limitar a aplicabilidade da primeira lei (ex.: art. 55o/2 CC).
Conexáo móvel ou variável: aqueles elementos de conexáo que poderáo sofrer alterações
(ex.: nacionalidade, residência habitual); frente a Conexõ es imóveis ou invariáveis: fixam um
momento em concreto e de nenhum modo se pode alterar (ex.: lugar da celebração do ato). Há
casos em que se pode imobilizar um elemento de conexão mó vel, art. 53o CC: elemento de
conexão móvel é a lei nacional dos nubentes e este elemento é imobilizado “ao tempo da
celebração do casamento”. Há casos em que, se consegue fixar o momento da determinação de
um elemento de conexão móvel, art. 55o/1 e 52o CC: elemento de conexão mó vel é a lei
nacional mas o indeterminismo reside no facto de náo se saber quando é que se irá determinar
a lei nacional dos cônjuges. Estatuto suspenso: o elemento de conexão é fixo ou imó vel, mas
em termos tais que o seu conteú do apresenta-se temporariamente indeterminado (ex.: art. 62o
CC). Sucessáo de estatuto: quando se verifica a existência de sucessõ es de leis aplicáveis em
consequência de uma alteração do elemento de conexão utilizado quando existe duas
sucessõ es que sucedem no tempo. O problema da sucessão de estatutos verificase pela
existência de sucessão de leis aplicáveis em consequência de uma alteração do conteúdo
concreto do elemento de conexão utilizado pela norma de conflito. Art. 29o CC – uma vez maior
sempre maior – art. 65o CC – uma vez capaz, sempre capaz.
Distinga normas de conflito bilaterais de normas de conflito unilaterais
As normas unilaterais só determinam a aplicação do Direito do próprio foro.
As normas bilaterais ou plurilaterais tanto remetem para o Direito do foro como para o Direito
estrangeiro.

O que entende por normas de conflitos bilaterais imperfeitas?


Normas de conflitos bilaterais imperfeitas.
Tanto remetem para a lei nacional como para a lei estrangeira, mas elas só se ocupam de
algumas hipóteses que apresentam com o estado do foro alguma ligação. Por exemplo, o art.
51o CC, porque nós termos deste artigo determina-se que o casamento de dois parceiros em
Portugal pode ser celebrado segundo a forma prescrita na lei nacional dos contraentes. Depois,
temos o art. 51o/2 CC que admite idêntica solução para o casamento celebrado no estrangeiro
por dois portugueses. Ou ainda, o casamento celebrado no estrangeiro por um português e um
estrangeiro. Mas este artigo 51o não prevê a hipótese de dois cidadãos estrangeiros celebrarem
no estrangeiro o casamento. Por isso nós dizemos que está é uma norma de conflitos bilateral
imperfeita, porque não prevê a hipótese de casamento no estrangeiro por dois estrangeiros.
Depois, aqui por analogia, vamos aplicar a lei nacional dos nubentes estrangeiros, mas é apenas
por analogia.

As regras de conflito de leis no espaço podem considerar se subordinadas à CRP?

Questão muito discutida nos anos 50/60 do século XX, havendo autores na Alemanha e em Itália
que defendiam que as regras de conflitos eram regras que não dependiam de um juízo de
constitucionalidade, não se podendo colocar o problema da sua compatibilidade com a CRP com
base em dois argumentos principais:

▪ Ferrer Correia. A justiça que era visada por estas normas de conflitos era uma justiça
essencialmente formal, ditada essencialmente por um objetivo de assegurar a harmonia
internacional de julgados, e sendo assim, o DIP era um domínio livre da CRP.

• Nota: esta ideia está claramente desmentida, até através das regras de conflitos que têm a
preocupação de salvaguardar a parte da posição mais fraca na relação jurídica (p.e., normas
sobre os contratos celebrados pelo consumidor, que mandam aplicar a lei do consumidor aos
contratos internacionais, com o intuito de assegurar ao consumidor (parte mais fraca) uma certa
proteção). Assim, o DIP não fecha os olhos ao resultado a que conduz a aplicação de certa lei.
Muitas vezes, a própria escolha da lei é condicionada em função do resultado a que levará.

▪ O que está aqui em causa são normas sobre normas, sendo que as normas de conflito limitar-
se- iam a dizer quando é que outras normas são aplicáveis. Também aqui, a CRP não teria
qualquer interferência.
 Atualmente, esta posição encontra-se francamente ultrapassada – tanto entre nós, como
no estrangeiro. Reconhece-se hoje que o direito de conflitos está sujeito à CRP,
variando somente os argumentos para sustentar tal posição.
o Posição alemã (Ac. TC Alemão) + Posição da jurisprudência espanhola +
Jorge Miranda: as normas de conflitos são normas como quaisquer outras, e,
portanto, devem a sua conformidade à Constituição. 


o Posição Moura Ramos, DMV e LP: se no DIP estão em causa aos valores
comuns a uma pluralidade de ramos da nossa OJ e que têm também a sua
expressão em DIP, então não há como subtrair este ramo do direito à CRP. Se
é verdade que não se trata de um ramo do direito puramente formal, também
não se pode dizer que se trata de um ramo que se caracteriza por ter uma
justiça própria: a sua justiça é a justiça que enforma os demais ramos do direito
privado. Como argumento, note-se que o artigo 52o/2 CC foi considerado
inconstitucional na sua versão anterior, com base na violação do princípio da
igualdade (artigos 13o e 36o/3 CRP). Tudo isto derivou também do interessa da
mulher em ver regulada a sua situação conjugal por uma lei que lhe estivesse
intimamente ligada. Assim, é de aderir à posição de que as normas de DIP não
são axiologicamente neutras. Em suma, o direito ordinário está sujeito à CRP e
o DIP é direito ordinário e não exclusivamente formal, pelo que deve a sua
lealdade à Constituição. 


As normas materiais da OJ estrangeira para a qual remetem as nossas regras de conflito de leis
no espaço, podem ver recusada a sua aplicação pelos tribunais portugueses com o fundamento
de que são contrárias à CRP?

Ferrer Correia: podemos resolver este problema recorrendo a uma regra geral da Teoria Geral
do Direito dos Conflitos que é a reserva da ordem pública internacional (artigo 22o CC) que
refere que se a aplicação de uma lei estrangeira conduzir a resultados ofensivos do princípio da
ordem pública internacional, podemos recusar a aplicação dessa norma estrangeira. Entre esse
princípio da ordem pública internacional encontrar-se-ão os princípios constitucionais e, como
tal, encontramos aqui uma saída para o problema.
 Apreciação: esta solução prende-se com a dificuldade da observância dos requisitos da
reserva de ordem pública, requisitos dos quais depende para intervir em cada caso: a)
incompatibilidade manifesta entre os resultados de aplicação da norma estrangeira e os
princípios da ordem pública internacional e b) existência de um nexo espacial relevante
entre a nossa ordem jurídica e a situação a regular. Ora, a reserva da ordem pública só
funciona mediante o preenchimento destes requisitos. Porém, pode haver casos que
independentemente de estarem preenchidos os requisitos, ser necessário fazer
prevalecer as normas constitucionais sobre uma regra estrangeira, pelo que esta
solução é insatisfatória.

Jorge Miranda: defende que todas as normas estrangeiras estão sujeitas à fiscalização da sua
constitucionalidade do ponto de vista da nossa própria CRP, na medida em que os tribunais
portugueses não podem aplicar normas contra a Constituição (artigo 204o CRP), valendo isto
quer a norma em causa seja a portuguesa, quer seja estrangeira.

 Apreciação: esta posição também não é inteiramente satisfatória porque efetivamente


há casos em que uma norma material estrangeira é contrária à nossa CRP, mas não se
justifica, atendendo às conexões espaciais que o caso tem com a nossa OJ, que a
nossa CRP intervenha, opondo-se à aplicação da norma estrangeira. Exemplo: o artigo
36o/2 da CRP confere o direito ao divórcio; hoje eu posso casar um membro de
qualquer confissão religiosa, estando casado na forma prevista por essa religião, existe
a possibilidade do casamento ser dissolvido por divórcio em Portugal. Mas quererá isto
dizer que todos os estrangeiros que porventura queiram pedir aqui o seu divórcio, só
tenham nacionalidade do país estrangeiro, vivem no país estrangeiro e tenham casado
no país estrangeiro, possam pedir aqui a dissolução por divórcio ao abrigo do artigo
supra? Portugal tornar-se-ia no paraíso dos divórcios internacionalmente. Isto não teria
sentido; a nossa CRP não quis consagrar o direito ao divórcio universalmente, para
todos sem qualquer distinção; mas pressupõe que entre os cônjuges, o casamento a
dissolver tenha um mínimo de ligação e, portanto, pode levar a situações desajustadas
sob este ponto de vista. Por esta teoria também não chegaremos aos resultados mais
adequados

Dário Moura Vicente (solução intermédia): a nossa CRP não pode obstar à aplicação de
todas e quaisquer normas estrangeiras contrárias às suas prescrições porque nem sempre isso
se justificará, mas também temos de admitir que a nossa CRP pode funcionar para além do
âmbito que caberia através da ordem publica internacional. Isto consegue-se com apelo a uma
figura que são as normas internacionalmente imperativas, normas de aplicação imediata ou
normas de aplicação necessária. Há normas, reconhece-se hoje pela doutrina, cujo âmbito de
aplicação material excede o âmbito da ordem jurídica a que elas pertencem, mesmo que não
pertençam à lei designada pela norma de conflitos, essas normas podem-se aplicar a certa
situação privada internacional. Isto, porque isso é exigido no caso concreto pela realização do
seu objeto e fim.

Em que medida os nossos tribunais podem recusar a aplicação de uma lei estrangeira, não por
contrariar a nossa CRP, mas por contrariar as normas da constituição do país onde é originária.

O princípio que devemos ter aqui em conta é o princípio da harmonia de julgados. Isto, porque
há a preocupação que norteia a nossa disciplina jurídica, de assegurar que as situações
privadas internacionais que chegam aos nossos tribunais sejam julgados, tanto quanto possível,
de acordo com os mesmos critérios pelos quais o seriam por um tribunal estrangeiro a que a
mesma situação pudesse ser submetida. Assim, procura-se identidade pelo menos na lei
aplicável ao caso.

Note-se, no entanto, que é necessário distinguir várias situações:


 A norma material que é invocada perante tribunal português pelo órgão estrangeiro foi
declarada inconstitucional pelo pai ́s ao qual pertence com força obrigató ria geral. Neste
caso, a harmonia de julgados reclama que náo apliquemos essa norma de outro modo,
na medida em que o nosso tribunal daria uma solução diferente daquela a que chegaria
o tribunal de origina da norma.

 Essa norma náo foi declarada inconstitucional com força obrigatória geral.

 Pode haver casos em que no Estado estrangeiro a que essa norma pertence náo há
controlo da constitucionalidade das leis por tribunais comuns – p.e., a França, onde só o
conselho constitucional é que pode declarar a inconstitucionalidade de uma norma (os
tribunais comuns náo estáo autorizados a fazê-lo). Se assim é, o tribunal português não
pode recusar a aplicação de uma norma francesa mesmo que seja arguida
inconstitucionalidade da norma, se um tribunal homólogo náo o poderia fazer.

 Se no país estrangeira da norma em causa há́ controlo da constitucionalidade das leis


ordinárias pelos tribunais comuns – fiscalização difusa da constitucionalidade (como é o
caso dos EUA) -, ai ́ a situação é diferente. Já́ não se pode negar legitimidade ao tribunal
português de negar a aplicação da lei estrangeira, mas há́ que fazer uma distinção:
o Ou a norma estrangeira em causa não foi objeto de nenhuma declaração de
inconstitucionalidade no pais estrangeiro ou o foi por um no irrelevante de
declarações de inconstitucionalidade, havendo um insignificativo de decisões
→não seria prudente o Tribunal português recusar a sua aplicação.

o Ou há́ de facto uma maioria de decisão (uma corrente jurisprudencial) nesse


sentido, e, como tal, justamente para assegurar a harmonia de julgados, poder-
se-ia recusar a aplicação dessa norma, mas também com a máxima prudência:
tem de se tratar de uma situação em que a inconstitucionalidade é mais ou
menos evidente; se a situação for controvertida ou duvidosa, o mais prudente
será o nosso tribunal não se antecipar ao que os tribunais estrangeiros fariam.

Como são resolvidos a situações de conteúdo múltiplo do elemento de conexão nacionalidade ?

Quando se trata de um sujeito que tem nacionalidade portuguesa e uma outra nacionalidade
prevalece semore a nacionalidade portuguesa – art 27º da lei da nacionalidade

Quando se trata de um sujeito que tem duas ou mais nacionalidade estrangeiras


releva apenas a nacionalidade do Estado em cujo território o plurinacional tenha a sua residência
habitual ou, na falta desta, a do Estado com o qual mantenha uma vinculação mais estreita»-
Porém importa neste segundo caso ter em conta a jurisprudência Michelletii – esta abre uma
exceção a esta regra.

O que defende a jurisprudência Michelleti?

Jurisprudência Michelleti – afirma que deve prevalecer a nacionalidade do estado membro ainda
que as normas de direito interno estabeleçam outra nacionalidade- afastamento por força do
primado do Direito Europeu face às normas internas – apenas se aplica se estiver em causa as
liberdades comunitárias.

De acordo com o art 49º do TFUE são proibidas as restrições à liberdade de estabelecimento
dos nacionais de um Estado-Membro no território de outro Estado-Membro, sendo que o
conceito de estabelecimento compreende tanto o acesso às atividades não assalariadas e o seu
exercício, como a constituição e a gestão de empresas e designadamente de sociedades.

Importa ainda salientar que o artigo 49.° do TFUE reconhece que beneficiam da liberdade de
estabelecimento as pessoas que tenham a qualidade de «nacionais de um Estado-membro».
Embora a definição das condições de aquisição e de perda da nacionalidade seja, nos termos do
direito internacional, da competência de cada Estado-membro, que deve exercê-la no respeito
pelo direito comunitário, não cabe à legislação de um Estado-membro restringir os efeitos da
atribuição da nacionalidade de outro Estado-membro, exigindo um requisito suplementar para o
reconhecimento
dessa nacionalidade com vista ao exercício das liberdades fundamentais previstas pela lei
comunitária.

Assim e a partir da leitura deste artigo e tendo em conta jurisprudência anterior, nomeadamente
do Ac. do TJ de 7 de julho de 1992, Mario Vicente Micheletti, proc. n.º C-369/90 importa agora
saber se as disposições do direito comunitário em matéria de liberdade de estabelecimento
impedem que um Estado-membro recuse reconhecer essa liberdade a um cidadão de outro
Estado-membro que possua simultaneamente a nacionalidade de um país terceiro, pelo facto de
a legislação do Estado de acolhimento o considerar cidadão de Estado terceiro.

Em situação similar, foi do entendimento do tribunal que não seria aceitável uma interpretação
do art 49º do TFUE nos termos da qual, quando um cidadão de um Estado-membro possua
simultaneamente a nacionalidade de um Estado terceiro, os outros Estados-membros possam
sujeitar o reconhecimento da qualidade de cidadão comunitário a uma condição como a
residência habitual do interessado no território do primeiro Estado. É ainda referido por este
mesmo acórdão que esta conclusão seria reforçada pelo facto de qualquer outra posição do
tribunal ter por consequência que o âmbito de aplicação pessoal das regras comunitárias sobre a
liberdade de estabelecimento poderia variar de Estado-membro para Estado-membro.

Assim sendo, basta que P apresente um dos documentos necessários para comprovar a sua
qualidade de nacional de um Estado Membros, neste caso de Itália, para que os outros Estados
membros, neste caso a Espanha, não possa contestar essa qualidade pelo facto deste possuir
igualmente a nacionalidade mexicana, que nos termos da legislação espanhola prevalece sobre
a Italiana. Em suma, concluímos que o direito comunitário não permite que um Estado-membro
recuse o benefício dessa liberdade a um cidadão de outro Estado-membro, que possua
simultaneamente a nacionalidade de um Estado terceiro, pelo facto de a legislação do Estado de
acolhimento o considerar nacional de Estado terceiro.

Qual o âmbito de aplicação da jurisprudência Michelleti – quando é que releva a nacionalidade


comunitária?

Dário Moura Vicente: a nacionalidade comunitária só releva quando:


 Estiver em causa uma das quatro liberdades fundamentais – circulação de pessoas,
mercadorias, serviços e capitais.
o Isto significa que já não releva para efeitos de aplicação de normas de conflitos,
onde se remete para o artigo 28o da Lei da Nacionalidade;
o Note-se, porém, que dada a jurisprudência Garcia Avello (em 2003, o TJUE
recusou que se atendesse à nacionalidade do estado estrangeiro para efeitos
de exercício do direito ao nome, estando em causa a composição do nome de
duas crianças plurinacionais), o Prof. aceita que se esteja a caminhar, no
âmbito da U.E., para uma situação de primazia da nacionalidade comunitária
aplicada à resolução de todas as questões de DIP e não somente quando às
liberdades comunitárias.
 Só dentro do Quadro do Tratado.


Lima Pinheiro: em caso de conflito de plurinacionalidade, sendo a primeira comunitária e a


segunda não, prevalece
aquela primeira, quando estiver em causa uma das 4 liberdades fundamentais. Assim, a
jurisprudência comunitária é extensível para efeitos de aplicação de normas de conflitos

 Argumento: princípio da harmonia jurídica interna, na medida em que se evita, desta


forma, que exista uma contradição dentro de um mesmo OJ, facto que só favoreceria a
insegurança e a incerteza jurídica, através da adoção de soluções contraditórias.
o A pessoa seria tratada para uns efeitos como nacional de um EM e para outros
efeitos como nacional de um Estado Terceiro;
 Limite: a extensão desta jurisprudência só vale para os conflitos em que está em causa
1 ou mais nacionalidades de EM e 1 ou mais nacionalidades de Estados terceiros, não
se aplicando:
o Se estiverem em conflito 2 ou mais nacionalidades de EM;

o Se estiverem em conflito 2 ou mais nacionalidades de Estados Terceiros;

o Se o conflito for entre nacionalidades do foro e nacionalidades estrangeiras,
porque prevalece o artigo 27o da Lei da Nacionalidade.

Como é determinada a lei pessoal no caso de concurso negativo ou conflito negativo de


nacionalidade?

Nos casos de concurso negativo ou de conflito negativo de nacionalidade (apátridas):


funciona o critério de se procurar uma conexão subsidiária para determinar a lei pessoal da
pessoa singular; portanto, desistimos da nacionalidade e recorremos, como manda o artigo 32o
(+ Convenção dos Apátridas, cuja compatibilidade é duvidosa):
 À residência habitual ou ao domicílio legal da pessoa em questão – se for interdito;

 Não havendo residência habitual, à sua residência excecional; 

 Em último caso, ao seu paradeiro (onde se encontrar). 

o LP não concorda em nome da conexão mais estreita. Seria aplicar uma lei
que pode não ter qualquer tipo de conexão com o individuo.

O que entende e qual a relevância da jurisprudência Stefan Grunkin?

De acordo com a jurisprudência Stefan Grunkin:


 O Tribunal de Justiça declarou existir uma conexão com o direito comunitário no que
respeita a menores nacionais de um Estado-Membro que residam legalmente no
território de outro Estado-Membro (v. acórdão Garcia Avello, já referido, n.° 27),
Estamos assim perante uma situação que cai no âmbito de aplicação do tratado CE.

 Não parece haver no acórdão qualquer tipo de descriminação uma vez que todos os
envolvidos tinham unicamente a nacionalidade do 1º Estado

 Embora, no estado atual do direito comunitário, as regras sobre o apelido das pessoas
sejam da competência dos Estados-Membros, estes devem, no exercício dessa
competência, respeitar o direito comunitário, a menos que esteja em causa uma
situação interna que não tenha nenhuma conexão com o direito comunitário.

 Uma norma de conflitos nos termos da qual o nome de uma pessoa deve ser
determinado de acordo com a lei da sua nacionalidade não é, por si só, incompatível
com o disposto nos artigos 12.° CE, 17.° CE ou 18.° CE;

 Porém, uma norma deste tipo deve ser aplicada de modo a respeitar o direito que
assiste a todos os cidadãos da União de circularem e permanecerem livremente no
território dos Estados-Membros;
 O artigo 21º TFUE opõe-se a que as autoridades de um Estado-Membro, em aplicação
do direito nacional que usa a nacionalidade como conexão exclusiva para
determinação do apelido, recusem o reconhecimento do apelido de um menor, tal
como determinado e registado noutro Estado-Membro onde esse menor nasceu e
reside desde essa data, que, como os seus pais, tem unicamente a nacionalidade do
primeiro Estado-Membro.

 Com efeito, o facto de ser obrigado a usar, no Estado-Membro de que o interessado


tem a nacionalidade, um nome diferente do que foi atribuído e registado no
Estado-Membro de nascimento e residência pode entravar o exercício do direito de
circular e permanecer livremente no território dos Estados-Membros, consagrado no
artigo 21º TFUE

 A este respeito, a diversidade de apelidos pode causar sérios inconvenientes ao


interessado tanto no âmbito público como no âmbito privado, derivados do facto de, por
ter só uma nacionalidade, o Estado-Membro de que é um nacional, único competente
para esses efeitos, irá emitir-lhe um passaporte com um nome diferente daquele que
recebeu no Estado de nascimento e residência.

 Neste contexto o interessado pode ter de dissipar dúvidas sobre essa identidade e
afastar suspeitas de falsas declarações suscitadas pela divergência entre os dois
apelidos sempre que o interessado tiver de fazer prova da sua identidade no
Estado-Membro de residência. Além disso, em relação às certidões, certificados e
diplomas ou a qualquer outro documento em que se reconheça um direito, essa
divergência de apelidos pode suscitar dúvidas quanto à autenticidade dos documentos
apresentados ou à veracidade dos dados contidos nesses documentos.

 Em suma, o direito à livre circulação não é respeitado quando um cidadão foi registado
com um determinado nome, de acordo com o disposto na lei aplicável no seu lugar de
nascimento, antes de ser necessário o registo do seu nome noutro Estado, e lhe é
seguidamente imposto o registo de um nome diferente noutro Estado-Membro;
 Tendo em conta o facto de o interessado ter um apelido diferente cada vez que passa
a fronteira entre os dois Estados-Membros em questão, a conexão com a
nacionalidade que tem por objectivo garantir que o nome de uma pessoa possa ser
determinado de modo contínuo e estável, leva a um resultado contrário do pretendido,
de modo que essa recusa não pode ser justificada.
 Um entrave à livre circulação desta ordem só se pode justificar com base em
considerações objectivas e se for proporcional ao objectivo legitimamente prosseguido
(v., neste sentido, acórdão de 11 de Setembro de 2007, Comissão/Alemanha,
C-318/05, Colect., p. I-6957, n.° 133 e jurisprudência aí referida).
 Consequentemente, as autoridades de um Estado-Membro não podem, quando
procedem ao registo do nome de um cidadão da União, recusar automaticamente o
reconhecimento de um nome com o qual já tinha sido legalmente registado de acordo
com as normas de outro Estado-Membro, salvo se este reconhecimento colidir com
razões imperativas de ordem pública que não admitam excepções.».
 No caso em concreto as considerações de facilidade administrativa que levaram a
Alemanha a proibir os apelidos compostos não bastam para justificar um entrave à livre
circulação.
Em que casos pode ser o negócio jurídico celebrado em Portugal ser anulado com fundamento a
incapacidade nos termos do art 28º CC?

De acordo com o art 28º do CC, o negócio jurídico celebrado em Portugal por pessoa que seja
incapaz segundo a lei pessoal competente não será anulado com fundamento na incapacidade
no caso de a lei interna Portuguesa se aplicável, considerar essa pessoa como capaz; Esta
exceção cessa contudo se a outra parte conhecia desta incapacidade ou no caso o negócio
jurídico ser unilateral, pertencer ao domínio da família, sucessões ou respeitar à disposição de
imóveis situados no estrangeiro.

 Caso não se verifique nenhuma das exceções do nº2 deste artigo, o negócio não poderá
ser anulado com o fundamento em incapacidade (p.ex:menoridade). Ainda que a
mudança da lei pessoal não prejudique a maioridade adquirida segundo a lei pessoal
anterior (29º CC) (lei da nacionalidade do individuo – 31ºCC neste caso a lei argelina)
esta norma de conflito impede a invocação desta incapacidade, uma vez que em
Portugal a maioridade adquire-se aos 18 anos. Assim sendo, segundo a lei portuguesa
A já tem capacidade para celebrar este negócio.

Que tipo de norma é o art 28ºCC?

 A norma de conflito prevista no artigo 28º é uma norma de conflito unilateral, uma vez
que só determina a aplicação do direito do próprio foro:

o Art. 28o, no 1: a capacidade é, em princípio, regida pela lei pessoa (art. 25o).
Porém, o negócio jurídico celebrado em Portugal por pessoa que seja incapaz
segundo a lei pessoal competente não pode ser anulado no caso de a lei interna
portuguesa, se fosse aplicável, considerar essa pessoa como capaz. Esta
norma é de algum modo bilateralizada pelo art. 28o, no 3 – norma de conflitos
unilateral especial que se reporta a questões parcelares.

o Esta é uma norma unilateral especial, uma vez que se encontra numa relação
de especialidade com outras normas de conflitos, unilaterais ou bilaterais:
 Dentro das normas especiais encontramos 3 modalidades, sendo que
neste caso em concreto estaremos perante uma norma unilateral
especial que se reporta a questões parciais que, em principio, estaria
englobadas no domínio de aplicação de outras normas de conflito
(neste caso dentro do âmbito do direito dos contratos)

Qual a função das normas de conflito unilaterais?


 As normas de conflitos unilaterais realizam um processo de regulação indireta de
situações transnacionais mas por meio do chamamento do Direito do foro. Não têm, por
isso, uma dupla função (como as normas de conflitos bilaterais).
 Um sistema de Direito de Conflitos como o português assenta em normas de conflitos
bilaterais que estão conjugadas com normas sobre a sua interpretação e aplicação. Este
sistema é enformado por um conjunto de princípios e valores conflituais;
 As normas de conflito unilaterais são por vezes encaradas de normas adversas ou pelo
menos agnósticas ao “ sistema de normas de conflitos” e às quais não se aplicariam as
normas coadjuvantes das normas de conflito gerais-
 LIMA PINHEIRO considera que esta visão é demasiado simplista, uma vez que não é
de excluir que certas normas unilaterais sejam “conformes ao sistema” e, por isso, não
são necessariamente “adversas” ou “estranhas” a esse sistema de normas de conflitos.
Para o autor a melhor perspetiva é a que encara os elementos unilaterais como
complemento necessário do sistema de conflitos de base bilateral – Deve-se favorecer o
seu enquadramento sistemático e bilateralização tendo em conta as finalidades gerais
do sistema de Direito Internacional Privado. O autor assinala ainda a especial abertura e
dinamismo do sistema de direito de conflitos .
 António Ferrer Correia por seu lado, critica as soluções unilaterais de que resulta a
extensão da esfera de aplicabilidade do Direito material do foro e defende que, por
forma geral as soluções poderia ter sido bilateralidadas
Isto fazer uma última ressalva quanto às normas unilaterais gerais – estas ao contrário do que
ocorre nomeadamento no ordenamento jurídico francês, não vigoram no sistema jurídico
português – estas referem-se a estados ou categorias de relações jurídicas.

Suponha que não existem os artigos 25.º a 32.º do Código Civil e que, em vez deles, a nossa
norma de conflitos era a seguinte: «as normas relativas ao estado e capacidade das pessoas
aplicam-se aos portugueses, mesmo que residentes em país estrangeiro». Que tipo de norma é
esta? É admissível no nosso ordenamento?

 A norma em causa seria uma norma unilateral de caracter geral – a sua redação é
idêntica ao art 3º/3 do CC fr.- este tipo de normas não vigoram no ordenamento jurídico
Português e dizem respeito a estados ou categorias de relações-
o estas referem-se a estados ou categorias de relações jurídicas

 Enquanto que na norma bilateral, o “chamamento” do Direito estrangeiro decorre, em


princi ́pio, do mesmo elemento de conexão que define a esfera de aplicaçáo da lei do
foro (vg: o Direito português é aplicável á capacidade de um português do mesmo
modo que o Direito espanhol é aplicável á capacidade de um espanhol). O Direito
estrangeiro é aplicável em “igualdade de circunstâncias” com o Direito do foro. Já o
unilateralismo, por seu lado, é suspeito de levar a um favorecimento da esfera de
aplicaçáo do Direito do foro em detrimento do Direito estrangeiro.

Quais as vantagens e as desvantagens do unilateralismo?

 Vantagens: as normas unilaterais maximizam a aplicação da lei do foro

 Desvantagens: conduzem à desarmonia internacional de soluções, aumentando o risco


de os tribunais dos diferentes Estados apreciarem segundo Direitos diversos uma
mesma situação.

 Podemos então concluir que o unilateralismo como sistema geral continua a ser uma criação
intelectual dos professores e dos teóricos do Direito como assinala VItta. Em contraste com a
realidade do método bilateral, que se desenvolveu gradualmente e que continua a
desenvolver.se na vida jurídica de quase todos os países, Porém ainda que o bilateralismo seja
preponderante nos sistemas de DIP, náo encontramos actualmente sistemas puramente
unilateralistas ou puramente bilateralistas.
Como se resolve as situações que se encontram fora da esfera de aplicação na norma
uniliateral?

O que se verificou face às normas de conflitos unilaterais foi que os tribunais dos diferentes
estados, quando chamados a apreciar situações que caíam fora da esfera do foro, integravam
lacunas mediante uma bilateralização das normas unilaterais

 Procedimento de bilateralização destas normas unilaterais:

o quando num Estado vigore uma norma de conflitos unilateral e a situação em


causa se situe fora da esfera de aplicação do Direito do foro, os tribunais desse
Estado integram a lacuna mediante a bilateralização da norma unilateral.

Esta operação pressupõe

o A existência de uma lacuna

o Generalização da norma

Num sistema jurídico em que não haja normas bilaterais (mas táo-só normas unilaterais), surge
uma lacuna sempre que não seja aplicável o Direito do foro a certos estados ou categorias de
relações jurídicas, assim sendo, uma vez que a norma apenas estabelece a competéncia do
Direito do foro para reger o estado e a capacidade dos nacionais (art. 3o, no3 Code Civil),
suscita-se uma lacuna quando se coloca o problema do Direito aplicável aos estrangeiros.

Importa fazer a seguir uma generalização da norma (esta deverá ser feita pelos juízes e tribunais
do Estado) – deste processo retirar-se-ia que o estado e a capacidade são regidos pelo direito
da nacionalidade. Ou seja, aplicando esta solução ao caso em concreto, A teria razão e poderia
anular o negócio jurídico celebrado uma vez que não teria capacidade para o celebrar aos olhos
da lei argelina que rege o seu estado e capacidade, independentemente do facto de este ter
celebrado o negócio e residir em Portugal (estrangeiro).

Que tipo de sistema é o sistema português?

O nosso sistema é bilateralista

Só são admitidas no nosso OJ normas unilaterais especiais – exemplos de especialidade: 28º face ao 25º

Norma de conflitos unilateral ad hoc – 23º/1 CCG – faz apenas referência a uma norma material ou a nº
restrito de normas materiais gerais

Enquanto nas unilaterais gerais a falta de aplicação de conflitos leva logo à existência de uma lacuna
sendo possível nestes caso proceder a uma bilateralização da normas especiais são muito mais
complicadas de proceder a essa bilateralização uma vez que a falta de aplicação dessa norma não
gerará automaticamente uma lacuna.

Qual a estrutura das normas de conflitos?


A norma de conflitos é composta pela previsão e pela estatuição

O que entende por previsão?

A previsão é a situação da vida que a norma de conflitos visa regular, situação que terá de caracteri ́stico,
em princi ́pio, a circunstância de ser uma situaçaõ plurilocalizada, uma situação com caráter internacional.

A previsão (= conceito-quadro) da norma de conflitos define assim os pressupostos de cuja verificação


depende a sua aplicação, delimitando o seu objecto e o seu âmbito material.

Nestes termos, a maior parte das normas de conflitos delimitam as situações da vida através de conceitos
técnico-jurídicos, correspondendo a categorias de situações ou a questões parciais (como a capacidade)
ou seja através de conceitos quadro

Conceito-quadro: é o conceito através do qual a regra de conflitos delimita o seu objeto, a sua previsão.
É, assim, um conceito que visa abarcar uma pluralidade de realidades jurídicas muito diferentes, podendo
acontecer a regra de conflitos atribuir competência a uma lei estrangeira e na lei estrangeira nós
podemos encontrar figuras e institutos jurídicos que não têm um correspondente exato na nossa OJ.
Assim, os conceitos através dos quais a regra de conflitos delimita o seu objeto tem de ser bastante
vastos, no sentido de que possam abarcar todas as figuras jurídicas de leis estrangeiras que nas leis em
que se integram exerçam as mesmas funções que os institutos ou as figuras jurídicas homólogas
desempenham no OJ do estado do foro.

O que entende por Estatuição?

Estatuição: esta consiste na consequência juri ́dica que a norma desencadeia, sendo tradicionalmente
identificada com a conexão - no sentido de o chamamento de certa lei ou de certas leis a aplicarem-se à
situação privada internacional, isto é, da atribuição de competência a certa lei para regular determinada
categoria de questões suscitadas pela situação privada internacional em causa.

Distinga normas de conflitos unilaterais de normas de conflito bilaterais

Regras de conflitos unilaterais: tratando-se de regras de conflito que têm a particularidade de somente
designar quando é que se aplicam as normas materiais do direito do estado do foro, isto é, limitam-se a
delimitar e a circunscrever o âmbito de aplicação espacial das normas jurídicas do estado do foro.

Regras de conflitos bilaterais: sáo os casos mais comuns de regras de conflitos, na medida em que a
maior parte das regras de conflitos vigentes entre nós ter caráter bilateral. Tal significa dizer que tanto
remetem para a lei do foro, como para uma lei estrangeira – seja essa lei qual for.

▪ DMV: sem prejuízo de, na doutrina, ter vigorado esta designação, melhor se diriam regras de conflitos
multilaterais.

O que entende por regras de conflitos bilaterais imperfeitas?

Estas sáo regras que tanto remetem para a lei do foro, como para uma lei estrangeira, mas com a
característica particular de se reportarem a certa categoria de situações juri ́dicas que são normalmente
as situações que têm de certa forma conexão com o direito do Estado do foro.

Exemplo:
• Artigo 51o CC. Ocupa-se da forma do casamento.

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