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Auto sabotagem, uma reação de angústia

frente ao sucesso
Posted on16 de novembro de 2015AuthorFlávia Tereza1 Comentário

Por Flávia Tereza

Um estudante se dedica o ano inteiro estudando todos os dias, inclusive nos finais de
semana e feriados, para passar no concurso que tanto deseja. Porém, no dia da prova diz
que “deu um branco” e, por mais que ele diga que o conteúdo estava claramente ao seu
alcance, inexplicavelmente, tudo que ele estudou se tornou inacessível naquele momento.
Diante disso, ele se coloca a estudar mais e mais, já que há três anos ele tenta obter êxito
nesta decisão de se tornar servidor público. Como é possível, neste contexto, um vacilo
cometido pelo estudante no momento final e decisivo?

Freud (1916), no texto Os arruinados pelo êxito, aponta algo sobre a relação entre o êxito
e o fracasso: “Parece ainda mais surpreendente, e na realidade atordoante, quando, na
qualidade de médico, se faz a descoberta de que as pessoas ocasionalmente adoecem
precisamente no momento em que um desejo profundamente enraizado e de há muito
alimentado atinge realização. Então, é como se elas não fossem capazes de tolerar sua
felicidade, pois não pode haver dúvida de que existe uma ligação causal entre seu êxito e
o fato de adoecerem.” (p. 331).

No mesmo texto ele cita a anamnese de uma mulher, em que viu a oportunidade de
compreender e descrever sobre essas ocorrências trágicas: “Era bem nascida e bem
educada; no entanto, ainda muito jovem, não pôde conter seu gosto de viver; fugiu de
casa e perambulou pelo mundo em busca de aventuras, até travar conhecimento com um
pintor, que não só pôde apreciar seus encantos femininos mas também captar, apesar de
sua degradação, as qualidades mais requintadas que ela possuía. Levou-a para viver com
ele e ela provou ser uma companheira fiel, parecendo apenas carecer de reabilitação social
para alcançar felicidade completa. Após muitos anos de vida em comum, o pintor
conseguiu fazer com que a família dele se reconciliasse com ela; estava então preparado
para torná-la sua esposa legítima. Foi nesse momento que ela começou a desmoronar.
Descuidou da casa da qual agora estava prestes a tornar-se dona por direito; imaginou-se
perseguida pelos parentes dele, que desejavam fazê-la parte da família; proibiu ao amante,
com seu ciúme insensato, todo contato social; prejudicou-o em seu trabalho artístico, e
logo sucumbiu a uma doença mental incurável.”

Mesmo que esses dois casos citados apresentem diferenças em seus contextos, podemos
pensar que, de alguma forma, ao se aproximarem da realização, ambos seguiram em
direção contrária ao êxito. É difícil constatar essa dinâmica, pois, ao idealizar o sucesso,
inicialmente, podemos entendê-lo como algo bom e que seja o oposto da angústia, mas,
ao contrário disso, a clínica psicanalítica traz casos como estes e ainda outros em que
muitas vezes a queixa não aponta para um sintoma específico, mas para um sentimento
de fracasso que repetidamente tende a aparecer.

Essas pessoas apresentam graves problemas em usufruir plenamente a satisfação de seus


desejos, encontrando diariamente meios que operem contra suas realizações. Realizar o
desejo traz angústia e ansiedade, levando-nos a pensar que esta realização pode estar na
via contrária de algumas ideias significantes. “As coisas nunca dão certo pra mim”, “Não
tenho tempo”, “Isso não é pra mim”, etc. Frases como estas fazem parte de um rico
discurso do sujeito que busca sustentar a ideia de que não pode ter o direito de se sentir
feliz atendendo aos seus desejos. Existem ainda outros dispositivos sabotadores que o
impede de obter sucesso em suas ações, tais como: falta de tempo, desorganização,
descontrole financeiro, falta de foco e atenção, intolerância e impaciência, medo de se
arriscar e sair da zona de conforto, que são, na verdade, as famosas des-culpas. Portanto,
não fazer uma prova porque não quer se sair mal na colocação, mesmo tendo estudado,
seria medo do fracasso ou medo do sucesso?

No texto Os arruinados pelo êxito, Freud destaca o sentimento de culpa, que torna
intolerável qualquer possibilidade de sucesso. Tal como o castigo, o sentimento de culpa
priva o sujeito de desfrutar de suas realizações, de modo que ele deve, sob o instrumento
da angústia, fracassar. Ao avesso do que se espera, há uma reação de angústia frente ao
sucesso e esta incide na tentativa de cumprir com um ideal em que nada pode faltar. Este
ideal está na ordem do impossível, pois nos constituímos na falta e pela falta, ou seja, a
falta é fundamental. É a partir da falta que nos tornamos desejantes.

Apesar de não me aprofundar aqui a respeito dessa constituição subjetiva, é preciso


entender sobre um conceito importante de Lacan, o objeto a. No contexto desta discussão,
o que precisa ser dito é que, fundamentalmente, o objeto a é resultado de uma equação,
ou melhor, é o resto de uma divisão do sujeito. Portanto, se o sujeito foi dividido, isto
implica que não é inteiro e, se houve uma divisão em que se perdeu algo, o sujeito passa
a procurá-lo e buscá-lo incansavelmente, por isso é chamado de objeto causa de desejo.
Na tentativa de que nada falte, o sujeito é levado a incorporar o objeto. Neste caso, ele
deixa de operar como objeto faltante ou objeto causa de desejo para ser objeto de desejo
para o Outro. Esta é uma tentativa mal sucedida e angustiante de completude, pois, para
não se dar conta da falta, ele sai da posição de sujeito.

Lacan vai dizer que o objeto da angústia aparece como algo que supõe tamponar a falta,
e é a ausência do objeto a, como causa de desejo, que faz com que isso aconteça. Para
Lacan (2005, p. 116), o objeto a “[…] é uma precessão essencial”, pois ele está atrás do
desejo, ele é causador de desejo, o que é totalmente diferente de ser o objeto de desejo.

Para alguns sujeitos, o sucesso e a felicidade deveriam ser sem falta, como isso não é
possível, de alguma forma fracassam para aliviar a angústia. E, no fracasso, eles
encontram uma forma de gozar da condição de derrotado e fracassado. É como se
ouvissem uma voz (do Outro, do pai) que impera e impõe o fracasso como castigo,
evitando o sucesso que não lhes é devido. Sendo assim, inevitavelmente surgirá a questão
da repetição do fracasso como um fantasma. Esse fracasso pode ser um traço de caráter e
o sujeito poderá seguir em sua vida sem buscar uma análise, por não se tratar de um
sintoma, mas de um traço da subjetividade difícil de negociar.

Marta Gerez (2009) concorda com Freud na possibilidade de saída pela via do amor: “No
tipo de caráter dos que fracassam (por culpa) triunfam (em sua ambição) não é possível
fazer circular a culpabilidade pelo caminho da dívida simbólica, uma vez que se trata de
sujeitos que não suportam receber os dons do pai. Impossível sustentar a transferência
pelo viés do dom do amor. Incidência da “instância crítica” pela via do pior da culpa do
pai. Questão de Freud insiste na análise de “Rosmersholm”, a qual, anos mais tarde, na
carta a Romain Rolland (1937, p. 77), confrontará com esse avesso da covardia culposa
que configura o ato de “ir mais além do pai” graças aos dons do pai.”.

Neste sentido, para ultrapassar o pai, antes é preciso reconhecer sua própria falta
(castração), e a solução seria a dissolução do ódio pela via do amor. Na carta a Romain
ou Um distúrbio de memória na Acrópole, Freud (1936, p. 239) se vê às voltas com um
desejo antigo de visitar Atenas, surgindo-lhe a seguinte afirmação: “bom demais para ser
verdade”.

Ainda sobre esta experiência, o autor acrescenta que: “Pode ser que um sentimento de
culpa estivesse vinculado a satisfação de havermos realizado tanto: havia nessa conexão
algo de errado, que desde os primeiros tempos tinha sido proibido. Era alguma coisa
relacionada com as críticas da criança ao pai, como a desvalorização que tomou o lugar
da supervalorização do início da infância. Parece como se a essência do êxito consistisse
em ter realizado mais do que o pai realizou, e como se ainda fosse proibido ultrapassar o
pai.” (FREUD, 1936, p. 245).

Assim, o sujeito, ao se deparar com o êxito (ultrapassar o pai), se angustia por não poder
ir além do pai, ele precisa fracassar. Na visita à Acrópole de Atenas, Freud foi além do
pai e encontrou como saída o reconhecimento de sua filiação, “respeito filial” (1936, p.
245).

Algo interessante marca o percurso de Lacan neste sentido. Para quem já leu ou ouviu o
autor dizer que, apesar de alguns analistas se intitularem Lacanianos, ele era Freudiano,
fica bem claro o que ele quis dizer sobre isso. Lacan reconheceu Freud como o pai da
psicanálise e, servindo-se dele, pôde ir além de Freud.

Diante disso, a saída da angústia frente ao sucesso aponta para uma direção de análise
que instaure o desejo do sujeito. Quando este for levado à reconhecer sua falta abdicando
de uma ideia de completude, alcançará aquilo que está na ordem mais próxima do
possível, não total, mas castrado, ou seja, aquela posição em que o objeto a opere como
causa de desejo

FREUD, S. (1916) Alguns tipos de caráter encontrados no trabalho psicanalítico. Edição


Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Vol. XIV. Rio
de Janeiro: Imago, 1996.

GEREZ, Ambertín, Marta (2009) As vozes do supereu. Edição Cia. de Freud. Rio de
Janeiro, 2009.

FREUD, S. (1936) Um distúrbio de memória na Acrópole. Edição Standard Brasileira


das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Vol. XXII. Rio de Janeiro: Imago,
1996.

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