Este é um período de transformação, de abstinência dos costumes
passados e diários da vida do iaô. O iniciado é um ser que está ressurgindo, portanto, em sinal de entendimento do seu novo status e de humildade, ele passará a comer com a mão para se adequar e entender o que realmente tem valor.
Por que o iaô só pode sentar e dormir em esteira durante seu
resguardo? Tudo que se refere ao iaô tem o sentido de humildade, de renascimento, de afastamento do contato com o seu antigo cotidiano. Ele precisa, durante este período, estar em contato direto com o seu lado religioso
Por que o iaô não pode dormir de barriga para cima?
Não só o iaô, mas também todos os adeptos da religião não devem dormir nesta posição. Uma das explicações mais plausíveis é a de que os órgãos reprodutores, controlados por Oxum e pelas Iyamís, não devem ficar expostos e sem defesa, precisando de resguardo contra as más influências. Esta também é a posição das pessoas que morrem, que se encontram junto a Iku (a morte). A posição ideal é a de lado, em posição fetal.
Por que os iniciados só devem usar o sabão-da-costa em seu banho?
Este é um sabão neutro e purificador, confeccionado com ervas e favas, que deveria ser utilizado por todas as pessoas iniciadas no candomble.
Por que o iaô de quelê não pode se olhar no espelho?
O espelho tem mais relação com o sentido da hierarquização no candomblé, porque no passado ele era de uso exclusivo da realeza, dos mais abastados e dos mais velhos. Se o iaô é um recém-iniciado, usá-lo é uma quebra das normas!
Por que o iaô precisa andar de cabeça baixa?
Em respeito aos preceitos que levou em sua cabeça, e também para interiorizar-se com seu orixá. Ambos estão em um momento de união, de confraternização, quando cada momento pertence somente a eles. Este recolhimento só é conseguido sem a participação de outras pessoas. O período do uso do quelê é revestido de intensa sensibilidade a tudo e a todos. O iaô sente-se, em alguns momentos, abandonado, em outros rebela-se, porque está há muito tempo sem poder satisfazer suas vaidades ou necessidades. Encontra-se carente e solitário e um simples olhar pode despertar-lhe recordações, desejos, pensamentos e tudo isto deve ser evitado, para o seu próprio bem. Manter-se de cabeça baixa é, então, um modo de mantê-lo um pouco distante das demais pessoas. É também um modo encontrado pelos mais antigos de mostrar ao iaô que existe uma hierarquia para com os seus mais velhos. Esta submissão é necessária, desde que não seja transformada em humilhação. Ela deve ser ensinada como sendo um sinal de respeito àqueles que também já passaram por este período. É um procedimento já bem enraizado na religião e, como tal, deve ser obedecido, sem , contudo, permitir que a deptos mal informados possam tratar com inferioridade os iniciantes da religião.
Por que o iaô anda descalço na casa de candomblé?
Para demonstrar seu respeito a Ilê, a terra, e ser humilde perante os orixás. O sapato isola a ligação do homem com a energia que provém da terra. Colocar o pé no chão cria um inter relacionamento íntimo e firme com o poder da terra e com as forças da natureza. As próprias divindades agem assim quando chegam ao aiê! Se o homem não copiá-las, toda a hierarquização não tem sentido!
Por que o iaô não deve cruzar os braços na casa de candomblé?
Esta é uma proibição que deveria ser estendida a todos os adeptos do candomblé. Esta é a posição adotada pelos guerreiros poderosos, os jagún/ajagún, perante os homens, em sinal de superioridade, prepotência, autoridade e virilidade. Cruzar os braços pode mostrar a essas divindades que estamos querendo competir com eles, ou então conclamando-os a guerrear. É uma posição que também pode desagradar a Exu, o senhor dos cruzamentos.
Por que o iaô não pode andar sozinho na rua?
O recém-iniciado possui, neste período, muitas oscilações em seu novo contato com o mundo exterior. Qualquer perigo, susto ou perturbação pode desestabilizá-lo. Neste momento, seu orixá, para ajudá-lo ou protegê-lo, poderá se posicionar. Sendo assim, é necessário que o iaô tenha sempre ao seu lado uma pessoa preparada para qualquer casualidade, agindo como seu guardião e protetor.
Por que o iaô não deve estar na rua em determinados horários?
Em quase todas as religiões, certos horários, como seis horas da manhã, meio-dia, seis horas da noite e meia-noite são considerados sagrados e até perigosos. São horários principais e divisórios do dia e da noite. No candomblé, seis horas da manhã é considerada uma “hora fria”, sem vida, pois a claridade é pouca e o Sol não está em sua força total, não transmitindo segurança nem calor. É o momento de mudança da noite para o dia, em que reinam as divindades limítrofe s, que lidam tanto com a vida quanto com a morte. Meio-dia (12 horas), quando o Sol já está a pino e muito forte, é o horário mais usado para se fazer grandes feitiços nas encruzilhadas. Seis horas da noite (18h) é um horário limítrofe do dia com a noite, o ponto de interferência das energias que agem à noite (as Eléiyes e Exus). Meia-noite (O hora) é outro horário poderoso para as magias dos cruzamentos. Então, se em algum desses horários o recém-iniciado tiver realmente necessidade de estar na rua , ou precisar atravessar encruzilhadas, precisa recolher-se em algum lugar ou estabelecimento e esperar passar alguns minutos para poder prosseguir no seu caminho. Por que muitas vezes o quelê do iaô arrebenta? O quelê é uma aliança com o orixá. Se este se ressente, por qualquer motivo, um de seus fios pode arrebentar, para não permitir que o orí se desestabilize ou se desestruture.
pós a retirada do quelê ainda existe algum resguardo?
A Sim. O chamado “resguardo de Exu”, que deve ser cumprido durante sete dias com muito cuidado, pois é a prova final da sua iniciação. Toda a sua abnegação e resignação agora são testadas por Exu. Após este período acontece a sua liberdade total!