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Olá Peregrinos!
Hoje trago a tradução do ensaio "The Craft Today" de Roy Bowers, mais conhecido como
Robert Cochrane, o falecido Magister e fundador do The Clan of Tubal-Cain. Este ensaio
foi publicado originalmente em novembro de 1964, na revista Pentagram.
É interessante notar que, quase 50 anos após este ensaio ter sido escrito, ele se mantém
extremamente atual, tratando de temas que podemos observar claramente aqui no Brasil nos
dias de hoje.
A Arte Hoje
por Roy Bowers (a.k.a. Robert Cochrane)
A Bruxaria Moderna pode ser descrita como uma tentativa do homem do século XX negar
as responsabilidades do século XX. É uma crença segura e ingênua que a Natureza é
sempre boa e amável. Também é uma crença, ou assim parece ser, de que se você
pessoalmente pode ir ao contrário à evolução do pensamento, então talvez o resto do
mundo pudesse seguir o exemplo. Boa o suficiente, a Arte é todas as coisas para todos os
homens, se ela for uma simples crença panteísta para aqueles que acham isto, assim ela se
tornou, já que os Mistérios foram evoluídos a todos os homens, e o Homem foi evoluído
aos Mistérios. Qual das necessidades guia alguém a perguntar o que os Mistérios são?
O valor da Velha Arte hoje é aquele no qual jazem as sementes da Antiga Tradição de
Mistério. Através disto o bruxo pode perceber os inícios daquela sabedoria final,
conhecimento deles mesmos e de seus motivos. Os Mistérios genuínos estão abertos a
todos, porque alguém tendo experiência suficiente pode entender aquela Mensagem básica.
Fechar a mente humana a fim de proteger isto de circunstâncias externas que são hostis, não
é um caminho para descobrir aquilo dentro de si mesmo que é mais profundo, mas um
retorno a uma mãe claustrófóbica que eventualmente sufocará a criança. Se, como é
alegado, os Deuses são amáveis e Eles são todas as coisas, então por que o bruxo do século
XX corre tão rapidamente para longe deles na prática da "velha Arte antiga"? Na tradição
supersticiosa fossilizada existem segredos profundos escondidos, segredos dobrados dentro
das crenças e ações mais medíocres. Estes grandes segredos, segredos da alma e do destino,
são somente aparentes na luz aberta, não no mundo ilusório da Ye Olde English Wiccen. Se
os bruxos devem sobreviver, então a religião deve sofrer algumas mudanças violentas e
radicais. Mudanças que abrirão o ritual para exame, de forma que o conteúdo espiritual
possa ser claramente visto. Mudanças que devem chutar mais muitas vacas sagradas para
ver se estas vacas velhas ainda dão leite. A filosofia inerente da Arte sempre foi fluida, e
fluida deve se tornar novamente antes de seu último sopro ofegante sob uma pilha de tolice
bolorenta, teologia e filosofia meio assadas. Os bruxos não podem mais retroceder no
mundo, não há lugar para nós nesta sociedade a menos que tenhamos algo válido para
oferecê- la, e participar em sua evolução social.
Tradução: Draku-Qayin
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Arthame - O Coletor de Sangue
A origem do termo é incerta. Alguns dizem que o termo provém do grego Athanatus,
"Aquele que não morre", mas parece que essa origem é incorreta. Andrew Chumbley, por
sua vez, traça a origem da palavra para o termo Adh'amme ou Al-dhamme, uma faca ritual
utilizada pelo culto feiticeiro marroquino conhecido como Dhu'lqarneni. Adh'amme
significa literalmente "Coletor de Sangue"; tal origem do termo é também defendida pelo
conhecido escritor e ocultista Idres Shah. Uma terceira origem para o termo, diz que ele
vem do latim artavus, significando "faca de pena", sendo uma pequena faca utilizada para
afiar as penas dos escribas. Tal termo é bem atestado no latim medieval, embora não seja
uma palavra comum. Esta última terminologia é também atestada pelo grimório já citado.
Independente da origem do termo, fica claro que sua primeira aparição textual ocorreu no já
citado grimório medieval Clavicula Salomonis, e este grimório é sem a menor sombra de
dúvidas um referencial para toda a Magia Ocidental, desde as Ordens Herméticas, Guildas
de Magos, Religiões Neopagãs e Irmandades de Bruxaria Tradicional; mesmo que alguns
grupos neguem veementemente tal influência e origem, tal indicativo histórico é inegável.
Até mesmo o traçado de Círculos Mágicos utilizando um punhal de cabo negro, como
utilizado por diversos grupos hoje em dia, tem sua origem nesta importante gramática.
Seu é o poder da Conjuração, e seu significado interno na Arte Sábia está ligado ao
Sacrifício. Sua lâmina de fio duplo, é como a Língua Bifurcada da Serpente, onde habitam
as correntes que tanto libertam das amarras, quanto destroem. Mais intimamente, a
extremidade dupla do Arthame relaciona-se à "Adoração por Ambas as Mãos" dos
Feiticeiros, bem como o caminho de subida e descida; e seu caminho duplo leva até a ponta
da lâmina, a Unidade, a união de todas as dualidades. A ponta da lâmina é assim, o foci do
Intento e do Desígnio do Feiticeiro.
Como Regalia de Conjuração, seu mistério reside no Chamado e Controle de diversos tipos
de espíritos, e ele encerra o poder de cortar o ar sutil da Área Ritual, cortar varas e bastões
sagrados da Arte, traçar signos de Chamado e de Envio, comandar espíritos indóceis e
principalmente para cortar a carne e extrair as oferendas de sangue. Deste modo, seu nome
como o "Coletor de Sangue" é extremamente apropriado. E é por este motivo que, ao
contrário do que pregam muitos autores modernos, sua lâmina deve sim ter o fio afiado.
É também dito no saber da Arte, que o Punhal Sagrado é a hipóstase da Grande Lâmina
forjada nas forjas de Tubal-Caim, nos fogos de Tubalo, a lâmina vinda da materia prima
estelar caída na terra e transmutada pelo Mistério da Forja.
De acordo com as Chaves de Salomão, o punhal de cabo negro deve ser gravado com
alguns símbolos em seu cabo e em sua lâmina, então, para sua Consagração, sua lâmina é
colocada no fogo até ficar em brasa, por três vezes, e em cada uma delas, deve ser resfriada
numa mistura de sangue de gato preto e sumo de uma espécie de cicuta (Conium
maculatum). Após isso, o punhal é fumigado e aspergido devidamente, juntamente com as
palavras corretas de Consagração, e por fim ele é envolvido num pedaço de seda negra; isto
deve ser feito no Dia e Hora de Saturno. De acordo com o grimório, este punhal é usado
para fazer os círculos da arte mágica, e para promover medo e terror nos espíritos.
O Arthame está sob o aegis do Daemon que preside sobre todos os atos de Sacrifício, e é
para este Daemon que o Instrumento deve ser primeiramente dedicado.
É aqui que presenteio aos Peregrinos um Encantamento da Lâmina, que poderá ser usado
para a dedicação e consagração deste tão famoso, e tão mau compreendido, Instrumento da
Arte Mágica.
Por meio de Ti, que toda Forma seja Sacrificada para se tornar Força.
Por meio de Ti, que toda Força possa ser reunida para se tornar Forma.
Pelo Caminho de Subida e Descida, o Axis Mundi, sê Tu o Ponto Único de Nosso Intento.
Oh Prego que Nunca Esfria! Tomador do Juramento mais Íntimo no Ádito do Antigo.
De Metal, Madeira e Ossos.
És Tu quem abre amplamente os Portais,
És Tu quem atrai a Luz das Estrelas,
És Tu que Convocas, que lanças e que expulsas.
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O Forcado: o Mastro Bifurcado do Diabo -
Bruxaria Tradicional
por Draku-Qayin
Assim, o Forcado carrega duas atribuições primarias de uso, servindo como Altar e Ídolo
do Mestre das Bruxas, e também servindo como Bastão e Cetro da Autoridade do Magister
dentro de um círculo de Iniciados. É dito na Tradição que, na ausência de uma pessoa
merecedora de portar a “Máscara do Diabo”, isto é, de exercer o ofìcio de Magister, o
Forcado será utilizado como ícone visível do Mestre e Líder.
Uma Cruz com a Chama - Villa
Draconis, M G
Num nìvel mais interno, o Forcado simboliza a “corrente dupla”, bem como a Dupla
Observação dos Bruxos, e aqui ele também se relaciona com a forma totêmica da Serpente.
Sim, seus dois dentes representando aqui as duas serpentes gêmeas do caminho, a Serpente
do Archote e a Serpente do Relâmpago. Analisando por este simbolismo interno, é possível
associar o Forcado com o instrumento de Mercúrio, o Cajado conhecido como „Caduceu de
Hermes‟; esta relação é interessante, tendo visto que Mercúrio é o Patrono dos Magos e
Feiticeiros. Sabemos que um dos atributos do Diabo é como o Psicopompo, ou o Guia das
Almas, e esta atribuição é dada desde longo tempo ao famoso deus Greco-Romano Hermes-
Mercúrio.
O prego fincado na bifurcação tem uma dupla relação; a primeira é aquela encontrada no
folclore de algumas regiões da Europa, onde o ferro inibe que o Poder se perca do
Instrumento. A segunda, é que o prego representaria a Estrela Polar (atualmente Polaris, a
Cauda da Ursa Menor) que marca o eixo da Terra, assim é fácil entender o Forcado como
um representante fixo do Axis Mundi, servindo como uma „ponte‟ entre os Mundos
Empìreo, Terreno e Infernal. Se uma „escada de nós‟ é pendurada no Forcado, esta relação
aumenta, e o Instrumento passa a servir literalmente como um meio para a manifestação
dos espíritos, similarmente como o Poteau Mitan de um Hounfor de Vodou Haitiano, que é
um mastro central no local das cerimônias que serve como ponte aos espíritos.
Finalmente, o Forcado representa a Cruz do Sacrifício, onde o Deus Sacrificial é morto para
a sobrevivência de seu povo; este tema se repete em diversas culturas antigas, e atinge sua
apoteose na história do Cristo sacrificado na Cruz. Para a Irmandade de Bruxaria
Tradicional conhecida como Via Vera Cruz, o Forcado e a Cruz Tau carregam este
simbolismo místico.
Num dia e numa hora diurna de Mercúrio, quando este estiver dignificado nos céus, deve o
buscador entrar no reinado da Floresta Verde, e lá, pela escolha prévia ou pelo guia de seu
espírito familiar, se dirigir até a árvore de onde tomará o ramo para seu Instrumento, um
ramo belo e frondoso que deve conter uma terminação bifurcada. Com o auxílio de seus
instrumentos de corte, como um bolline ou uma foice, deve ele cortar o ramo escolhido,
num único golpe, e em agradecimento ao espírito da dríade, oferecer uma gota de seu
próprio sangue no ferimento causado na árvore pelo corte do galho. Mel, vinho e leite
podem também ser ofertados aos pés da árvore, como um sinal de reconhecimento e
respeito.
O feiticeiro então levará o galho escolhido para sua alcova, e lá o preparará de acordo com
a estética única da Arte. Lixará sua madeira, pintará ou esculpirá os sigilos de sua Arte na
extensão da vara, e envernizará seu instrumento com resinas naturais e perfumadas.
Ele então guardará o objeto até a noite do Solstício de Inverno, quando sairá para o campo
próximo à meia-noite, e fincará o Mastro na Boa Terra. Lá, quando o Sol atingir seu ponto
mais baixo, o feiticeiro fará inicialmente uma oferenda para os espíritos daquela terra e para
seus próprios Mortos Poderosos e Ancestrais, e então encravará um prego de ferro na
extremidade bifurcada da vara, tendo em mente que este ato estará trazendo para seu
instrumento a potência estelar da “Estrela-Prego”.
Ele então fumigará o objeto com a fumaça de ervas doces e resinas sagradas, oferecerá um
pouco de vinho tinto misturado com leite e mel aos pés do Forcado, e retirando seu próprio
sangue do dedo anular da mão esquerda, o oferecerá nos dois chifres, na extremidade
bifurcada e na base do Instrumento.
Tendo assim feito, ele tomará uma corda feita de couro ou algodão, com a sua própria
medida – da cabeça aos pés – e nela fará oito nós, cada um em homenagem a um dos
pontos do Compasso dos Bruxos. Ele então enrolará esta corda ao redor do Forcado, e
proseguirá recitando o seguinte Encantamento:-
Ouvi todos vós, espíritos desta terra, e daí testemunho a estas minhas palavras de
conjuração, pois nesta noite do Sol Enegrecido, eu convoco o Diabo, Mestre e Guia das
Bruxas, para habitar dentro deste objeto sagrado da Arte.
Ouvi todos vós, Mortos Poderosos, e por vosso auxílio concedei Poder para este Cetro da
Arte!
Sê Tu como o cajado de peregrinação de Caim, para que eu possa ter firmeza em minha
caminhada, e para que eu possa abrir o caminho diante de mim!
Sê Tu como as Serpentes Gêmeas da Criação e Destruição!
Sê Tu como o Dragão, Glorioso nos Céus e nos Abismos!
Sê Tu como os espíritos do Carneiro, do Touro, do Veado e do Bode, para olhar
atentamente sobre os Quatro Caminhos da Encruzilhada!
Sê Tu uma ponte para os espíritos acima e abaixo!
Sê Tu a Verdadeira Cruz do Sacrifício e do Renascimento!
Tua é a Chama eterna da Iniciação, transmitida de geração para geração, do primeiro ao
último morto do Sangue-Bruxo.
Teu é o Poder de Conjurar e Comandar os espíritos.
Tua é a bênção que se espalha por esta terra.
Teu é o Poder, Oh Cajado do Andarilho Noturno!
In Nomine Qayin! Amém + “
Então, acenda uma vela no topo do Forcado, no meio de seus chifres, cuspa três vezes no
solo, no ponto onde ele está enterrado, como uma oferenda final, e contemple a chama que
brilha entre os Chifres do Mestre.
+
Nota [1]: Acre do Sangue, ou Blood-Acre, é um termo comumente usado em algumas
vertentes da Arte Tradicional Inglesa para designar o Círculo Sagrado, ou área ritualística.
O Bastão Reto é associado também aos poderes dos Witchfathers, enquanto o Bastão
Tortuoso associado as Witchmothers.
Tendo estas duas hipóstases principais do Bastão em mente, podemos então prosseguir para
suas diversas outras formas, que entre as mais conhecidas estão: o Mastro Forcado que é
também conhecido como "Gwelen" entre os bruxos tradicionais da Cornualha; o Tridente,
que simboliza os poderes das correntes duais, e também é conside rado o Cetro Real do
Iniciador Oculto, o bastão mágico do destino nascido das chamas do Sangue-Bruxo; e
também a 'Árvore Fetiche', que é uma vara comprida, maior em altura do que os
participantes de um ritual, que serve como uma ponte entre os reinos celestial, terreno e
infernal.
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“Fui até o sapo que vive sob o muro, Eu o encontrei e ele veio ao meu chamado.”
(Masque of Queens, de Ben Jonson)
Dentro do imaginário popular, seja nos contos de fadas, na arte lúdica, ou na superstição,
sapos, magia e bruxas estão bastante ligados. É fácil reconhecer isto nas famosas lendas de
príncipes que se tornam sapos por meio dos encantamentos de uma bruxa, ou nas imagens e
retratações feitas por artistas durante a Idade Média, onde a figura da bruxa muitas vezes
era encontrada junto de sapos. Como é sabido dentro dos meios Tradicionais da Arte, as
lendas, contos populares e superstições guardam resquícios de costumes mágicos antigos, e
este ensaio tem a intenção de explanar sobre as associações mágicas existentes no sapo, e
sua importância para a chamada Bruxaria Tradicional.
O sapo é um anfíbio que vive em ambientes úmidos, principalmente pela necessidade de
seus ovos e girinos. Existem cerca de 4.800 espécies de sapos, e estes se distinguem das rãs
pelas membranas interdigitais menos desenvolvidas e pela pele mais seca e rugosa. Quase
todos os sapos da família Bufonidae tem duas glândulas na parte de trás da cabeça. Em
estado de irritação ou medo, estes sapos liberam substâncias venenosas destas glândulas.
Estas substâncias, chamadas de bufotoxinas são psicoativas, em maior ou menor escala,
dependendo da espécie do sapo, por isso, eles são chamados de “Sapos Psicoativos”. O
Sapo do Rio Colorado (Bufo alvarius) contém as bufotoxinas 5-MeO-DMT e bufotenina,
enquanto as outras espécies contém apenas a bufotenina. Ambas são substâncias
classificadas como “Triptaminas Alucinógenas”, que podem causar efeitos alucinógenos
quando a pele ou veneno do sapo são fumados ou assimilados pela língua. Ao contrário da
crença popular, o veneno dos sapos não causa verrugas. Em algumas tradições Xamânicas
das Américas, eram usadas combinações destes venenos para se alcançar comunhão com o
Mundo Espiritual e para a transcendência do Xamã. Na Europa, as bruxas também se
utilizavam de bufotenina, assim como de ervas e fungos alucinógenos, para entrarem em
comunhão com o Senhor Chifrudo e seguirem para o Verdadeiro Sabbat, que é o Local de
Poder no Outro Mundo, onde ocorre o Congresso com o Espírito, ao invés da concepção
moderna de Rito Sazonal.
“No século XVI, os círculos bruxos do noroeste da Espanha utilizavam o sangue do sapo
para confeccionar seus ungüentos de vôo. Em 1525 Maria de Ituren confessou ter digerido
um ungüento de vôo a partir de pele de sapo e tanchagem, sem dúvida misturados em uma
base oleosa. As bruxas suecas fabricavam os seus ungüentos com gordura de sapo, saliva
de serpente e plantas venenosas. Os covens alemães têm a reputação de fritar os sapos
para preparar tais ungüentos. Os ungüentos a base de gordura de sapos eram também
utilizados pelas bruxas húngaras e do Leste da Europa para chegar ao êxtases do “vôo
pelo espírito”.” [1] O Sapo tem há muito tempo uma conexão com o Mistério, os Segredos
e os Poderes Noturnos. São animais reservados, que aparecem somente durante a noite, e
sempre ligados a ambientes aquáticos e úmidos; o sapo habita tanto na terra como na água,
passando de um ambiente para o outro confortavelmente, o que o torna um ser associado ao
“trânsito entre os mundos” , e ligando-o como mensageiro entre a terra e o submundo. É
interessante notar como até mesmo esta idéia, do sapo como guardião dos mundos, está
presente em lendas e contos antigos e modernos; um exemplo disto é o recente filme O
Labirinto do Fauno de Guillermo del Toro, onde um grande sapo que habita em uma árvore
é o guardião da chave para o Reino Subterrâneo, e a personagem Ofélia só consegue
adquirir tal chave após destruir o sapo, uma
clara referência à Ordália. Também por habitar
em regiões pantanosas, o sapo é especialmente
sagrado para as deidades ctônicas, mais uma
associando-o ao mundo inferior.
As referências mais antigas do uso dos Toad-Bone Charms aparecem na História Natural de
Plínio, em aproximadamente 77 d.C. Os poderes atribuídos por Plínio ao Osso de Sapo,
entre os quais o de domar animais, seduzir, favorecer o amor e causar a discórdia, são os
mesmos do rito inglês. Vemos aqui claramente um indício da antiguidade de tal Mistério.
Plínio também descreveu como proteger magicamente as colheitas das tempestades,
colocando um sapo em um pote e enterrando-o nos campos. As referências de Plínio são
repetidas por Agrippa em seu Filosofia Oculta, escrito aproximadamente em 1509 e
publicado na Alemanha em 1531. Scot, em Discoverie of Witchcraft, 1584, também cita o
uso do osso de sapo como um amuleto de bruxaria, onde novamente a carne do sapo é
devorada por formigas e os ossos usados para se produzir prodígios mágicos, para o bem e
para o mal. Segundo a magia medieval, para tornar-se amado, deve-se colocar um sapo
morto num recipiente de barro, cheio de furos, e colocar este recipiente no topo de um
formigueiro. Depois que as formigas consumirem toda a carne, deve-se moer os ossos até
virar pó e misturá-lo com sangue de morcego, e então jogar este pó na comida e bebida da
pessoa de quem se deseja o amor. O pó dos ossos de sapos também era utilizado na magia
medieval para a abertura de portas e cadeados trancados.
[1] – Jackson, Nigel A. – “Call of the Horned Piper”, Capall Bann Publishing.
[3] – Mais informações sobre este Mistério podem ser encontradas no “One: The Grimoire
of the Golden Toad” de Andrew D. Chumbley, publicado pela Xoanon Publishing.
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O Mestre Chifrudo da Encruzilhada
por Draku-Qayin
Nas palavras de Nicholaj de Mattos Frisvold: "O Diabo" tem executado uma grande
mascarada a fim de fazer do poder das bruxas um poder difícil de obter. Você o encontra no
disfarce de santos e deuses mortais, como heróis e poderes sem nome de antes dos homens
antigos. O Diabo segura as chaves de ouro e prata, mistérios profundos na compreensão por
aqueles que reivindicam possuir os poderes conferidos pelo Diabo na bruxa. A iniciação em
um clã ou convento só carrega os pontos das pontes de comando, o Magister sendo um
Pontífice por assim dizer, para o acesso ao poder bruxo, mas no fim, todos os Peregrinos
devem eles próprios, em certo ponto viajar a fora para encontrar o Homem-Negro entre os
Véus e se submeterem aos testes que são sempre uma questão de fazer ou quebrar na
aquisição dos poderes.
Ainda falando sobre a Encruzilhada, vemos seu reflexo no Mistério do Castelo, conforme
exposto pelo falecido bruxo tradicional Robert Cochrane. O Castelo é a composição dos
quatro elementos, e ainda assim o centro da própria Encruzilhada. É o Local do Poder, onde
se reúnem as forças criativas, onde se ocultam os poderes ancestrais. E como um ponto
central, a Encruzilhada é então o eixo, o Axis Mundi, o pólo que une os poderes das estrelas
acima do Domínio Empíreo com os poderes abaixo do sangue, terra, fogo e dos Mortos
Poderosos do Domínio Infernal. E mais profundamente podemos afirmar então que a
Encruzilhada é o ponto onde ambos os mundos se encontram, e não existe mais distinção
entre eles. Nela temos que buscar aniquilar nossas limitações, e é lá que o Diabo balançará
nossas crenças, destruindo conceitos, abalando nossas vidas, pois é isso que ele faz, destrói
totalmente nossas estruturas e crenças pré-estabelecidas, e no fim, somente aquilo que é
verdadeiramente firme, verdadeiramente fundamentado, somente isto restará; literalmente,
ele “separa o joio do trigo” em nossas vidas. Na Encruzilhada nos tornamos
verdadeiramente Unos com os Poderes, e lá reside este poder de Iconoclastia, onde
quebramos os ídolos falsos de nossas próprias limitações, e achamos a Distinção. O sorriso
do Diabo se mostra novamente aqui como Oportunidade.
O Tridente é o símbolo do Diabo por excelência, e se notarmos bem, ele apresenta a mesma
forma da Encruzilhada; é um sìmbolo da Cruz Bifurcada. Este emblema representa „Vìcio‟
e „Virtude‟, e o ponto de interseção do Tridente simboliza as nossas escolhas entre essas
duas qualidades – mais uma vez, Oportunidade e Escolha. É o Diabo que carrega o Tridente
nas mãos, assim, podemos ver que é ele quem apresenta essas opções de escolha para nós,
igualmente como na simbologia da Encruzilhada. Se olharmos com mais precisão para a
imagem do Tridente, percebemos também certa similaridade com a própria imagem
Iconográfica tradicional do Diabo, as duas pontas da extremidade semelhantes aos chifres, e
a ponta central semelhante à tocha entre os chifres, o sinal da Iluminação Divina. Deidades
como Shiva e Esù carregam o Tridente em suas mãos, bem como os espíritos chamados de
Exus na feitiçaria brasileira conhecida como Kimbanda, ou mesmo certos demônios dos
grimórios de magia medieval. De forma semelhante no Tantra (prática mística indiana),
conforme explica o praticante Rafael Espadine, o tridente representa uma confluência de
poderes e sua transcendência. Sua coluna central ligada aos três mundos (infernal, terreno e
empíreo) e representa o canal central de poder do corpo por onde a Kundalini, energia
primordial, deve ascender para se libertar dos domínios materiais. O Trishula aponta para o
cruzamento dos canais e onde se cruzam no ponto entre as sobrancelhas para, a partir dai
subirem pelo chakra do topo do crânio (comparável a tocha entre os chifres) sendo esse o
canal central da ascensão espiritual.
Outro emblema portado pelo Mestre do Sabbat, muito conhecido na literatura a respeito de
nossa Arte, é o Mastro Forcado (ou Estaca). Trata-se normalmente de um galho de árvore,
que termina numa forquilha, escolhido de determinadas madeiras, e que serve propriame nte
de Altar em algumas das ramificações da Arte Tradicional, como o Clã de Tubal-Caim e a
Cornish Tradition – tradições estas algumas vezes referidas como “Stang Traditions”
exatamente pelo uso focado do Mastro Forcado em seus rituais. É sabido que a Cult us
Sabbati também se utiliza do Mastro em seus ritos, conforme podemos observar em “The
Azoëtia” de Andrew D. Chumbley. Tal Mastro é um repositório da Deidade Chifruda, uma
representação fetichistica do Diabo e também um Cetro de Autoridade Divina. Sua
forquilha simboliza exatamente os chifres do Deus feiticeiro. Seus usos mais comuns são
três: servir de Altar no centro dos Círculos, servir de Altar no limite Norte dos Círculos –
aqui, mais propriamente sendo o Ícone do Diabo como o Guardião dos Portais – e, em
última instância, servindo como o Cetro do Magister, o líder de um Conciliábulo. Uma vela
normalmente é acesa entre os “chifres” do Mastro Forcado, e os adeptos acendem suas
próprias velas nesta Chama Central. O Mastro Forcado também carrega a semelha nça da
Cruz Tau, e assim está ligado ao Mistério do Sacrifício do Rei Salvador, como também ao
Arcano XII do Tarot. Isto o relaciona com o Cristo, e também com Odin. Neste caso vemos
o “Mistério do sacrificar a si para si próprio” e a obtenção da Sabedoria e Iluminação –
aqui, vemos mais uma vez o ato Sacrificatório do Diabo e sua relação com a Encruzilhada
do Iconoclasta. Tal relação é de vital importância aos bruxos da Via Vera Cruz e seus
Mistérios internos. Não nos esqueçamos que para o Misticismo Cristão, a Tentação do
Diabo para o Cristo é vista como uma provação do próprio Cristo, e não o Diabo
meramente um inimigo tolo e invejoso. E o que é a „Tentação‟ senão a própria Ordália?
O Diabo, por meio de todos estes Mistérios, é também o Senhor da Morte, sendo ele a
própria Morte per se. E muito mais além de ser somente o Ceifador, ele é também a força e
forma coletiva dos Mortos Poderosos, aqueles que habitam nos Campos de Elphame, que é
o Inferno. Inferno, de Inferius, o Reino Inferior, abaixo da Terra, o Mundo Subterrâneo.
Tão comuns são os relatos de viagens ao Reino das Fadas por meio da descida por algum
túnel ou acesso cavernoso. Como sabemos, Fadas não são os seres elementais conforme
erroneamente muitos autores pregam infundadamente, mas sim, os espíritos dos mortos.
Como Senhor da Morte, e a Morte propriamente, temos uma relação com o planeta Saturno,
e chegamos aqui ao „Senhor do Desgoverno‟, como mais um dos inúmeros atributos do
Deus dos Bruxos. É na Saturnália, antigo festival de origem romana, que o Reinado do
Senhor do Desgoverno acontece. A Saturnália começa na entrada do Sol em Capricórnio –
o Bode Celestial – que é tanto o Signo Zodiacal relatado ao Diabo por razões óbvias, como
também um Signo que está sob a regência de Saturno, “O Grande Maléfico” da Astrologia
Tradicional. Saturno é também o Senhor do Tempo, de acordo com Agrippa „o pai dos
deuses... autor da contemplação secreta, destruição e preservação de todas as coisas‟. De
acordo com o ocultista, astrólogo tradicional e também feiticeiro Nigel A. Jackson em sua
obra “Masks of Misrule”: “No nìvel mais esotérico da faceta Saturnina do Chifrudo, se
incorpora sua regência como o Senhor da Noite dos Deuses. Ele é aquele que semeia as
sementes de todas as formas no campo da eternidade, Mestre dos Espaços Exteriores e
Guardião da Soleira da Porta das esferas estelares – o Antigo, Senhor do Tempo Infinito
que testa o iniciado e nos guia além dos cìrculos finitos do tempo e espaço”. A Saturnália
era o período da inversão e do desregro, onde a ordem social era invertida, e todo tipo de
folia e liberação eram permitidas. É dela que surgem as origens de nosso Carnaval. E é
interessante notar que é disto que surgem também os conceitos de inversão nos rituais
Sabbáticos da Arte, como a Dança ao Contrário, a recitação do Pai-Nosso de traz para
frente, a própria inversão dos sentidos no Sabbat Onírico. Isto está intimamente ligado ao
padrão mágico de “ir contra a corrente”, onde nos voltamos contra o grão, para acessar a
essência verdadeira daquilo que foi invertido, como quando voltamos uma fita VHS para
chegar ao seu início, e vemos as imagens e sons ao contrário. A inversão gera a trilha para a
verdadeira natureza de um princípio.
Além das Encruzilhadas, seus locais de adoração incluem cemitérios, r uínas, locais
desolados, celeiros, florestas e velhas igrejas abandonadas. Seus animais sagrados, bodes,
veados, touros e outros animais chifrudos, englobam a serpente, o cavalo, o dragão e o sapo
(mais informações sobre sapos no Apêndice Sapos e Bruxas). Suas plantas são as
venenosas, aquelas presentes no Cálice da Intoxicação Sagrada, e entre elas temos especial
apreço pela Mandrágora e pela Datura, esta popularmente chamada de “Trombeta do
Diabo”. Sim, o Diabo é o Senhor do Veneno que gera Vida e do Remédio que leva a Morte.
Em seu Cálice temos que beber, para matar nosso „Eu Profano‟, custe o que custar, pois a
Ordália não vem sem lágrimas e sem dor.
Foi ele, em seu aspecto mais Saturnino que instigou Caim a matar Abel, tornando assim
Caim no primeiro Feiticeiro, e avatar do próprio Diabo. Somente por sua Ordália, por seu
Exílio e sua Melancolia típicas de Saturno é que o caminho se faz presente para buscar a
Beleza e Realização de Vênus, que brilha com a Doçura das Eras. É com o Diabo que
buscamos o Congresso naquilo que conhecemos como Sabbat. Até mesmo o Sabbat, o
Campo-do-Bode onde ocorrem os intercursos com os Poderes, o mundo Astral e Onírico
fora do tempo e eternamente infinito, tem seu nome vindo de Saturno – Shabbatai em
Hebraico é a palavra para o planeta Saturno.
O Diabo é o Verdadeiro Deus dos Bruxos e Feiticeiros, é o Pai de Toda Arte, e real ponto
central de Adoração. É Ele a quem veneramos e prestamos culto e ao mesmo tempo é Ele a
quem enfrentamos cara a cara, e lutamos até o sangue cair no solo, pois tolo é aquele que
vende sua alma, este não é o Verdadeiro Feiticeiro, mas sim um Escravo que tombou diante
das Ordálias da Encruzilhada. Ele é o Todo Erótico e o Antigo senhor do Tempo-sem-
Tempo. É Ele quem traz as Oportunidades e indica as escolhas. É o Iniciador verdadeiro,
que faz romper os poderes do Sangue-Bruxo nas veias dos nascidos da Arte. E é ele quem
manifesta o „Sonho feito Carne‟.
+++++++
Este blog passou por reformulação, e eis que aqui estou de volta, para falar dos assuntos do
meu cotidiano... pois aqui é a minha Encruzilhada, na qual aqueles que tem Honra são bem
vindos...
Para iniciar, reproduzo aqui um Ritual de Bruxaria Tradicional, publicado primeiramente
na antiga revista O Caldeirão (atualmente Revista Crux) citado aqui com permissão do
Editor, para aqueles que desejam conhecer o que é um rito de Bruxaria Tradicional.
Boa Leitura!!!
Tome agora a guirlanda de rosas em tuas mãos e reze solenemente a cada passo
tomado:
Oh Sagrado São Pedro, Senhor das Chaves, Senhor do Portal, A Pedra da Sabedoria.
Garanta-me a chave e abra a porta. Siga-me no Caminho do Dragão. Que assim seja.
Amém
Na 77ª. oração feita para louvar a encruzilhada, você beijará a cruz e dirá:
Comentário do Editor: O ritual aqui descrito foi apresentado como uma cortesia de uma
irmandade da Arte Tradicional conhecida externamente como Via Vera Cruz, e adaptado de
seu grimório de rituais e ensinos “The Basilikah of the Dark Sainthood”. A irmandade hoje
reúne diferentes raízes de práticas da Arte Tradicional e busca reunir estes ensinamentos e
poderes a um formato especialmente apropriado para os praticantes brasileiros. A Via Vera
Cruz segue uma jornada iniciática tripartida arraigada em uma entrada Cainita e um
caminho Sethiano, exemplificado no mistério ritual conhecido como Os Três Círculos do
Exílio. Estamos orgulhosos em apresentar esta forma de abordagem tradicional aos poderes
ancestrais e esperamos que nossos leitores achem esta contribuição estimulante e
interessante. Contatos: http://www.viaveracruz.kit.net
Por Azazayin
Magister Via Vera Cruz
O Sabbath das Bruxas, o vôo noturno e suas orgias diabólicas na Sombra do Tempo são
idéias que têm seguido o imaginário da bruxa por vários séculos, e estes talvez seja aqui o
ponto de fusão entre a bruxa e o vampiro viajante.
Desde os escritores romanos Apuleius e Ovídio estas idéias têm sido carregadas nos nomes
strix ou striga, que ainda encontramos no Strigoii romeno, sendo um tipo parecido ao
Varcolac, aproximadamente traduzido como „pele-de- lobo‟. Isto ainda se preserva nas
terras latinas sob o termo stregone. Ainda há o termo romeno strigele para denotar as luzes
flutuantes encontradas nas florestas e montanhas, freqüentemente ao redor das Árvores de
poder em noites eleitas. Estas luzes eram conhecidas como sendo os duplos das bruxas,
tanto exorcizados ou quando se reuniam no Sabbath. É também interessante mencionar que
os remanescentes de mitos contam como nove fusos são colocados no sepulcro onde se
acredita que o strigoi descansa, como o poder das Nornes (ou Parcas), e o tecer de seu fio
de prata da viagem noturna, que se acreditava impedi- los de se erguer na noite. São
chocante as relações entre vampiros, lobos e bruxas encontradas nos mitos por toda parte
do continente, especialmente em regiões eslavas. O motivo indica que stregoni eram
intimamente ligados à terra e ao ar. Enquanto em vida eles partiam em peles das bestas de
Saturno, os lobos, subindo da cama de Saturno, feita da terra fria úmida, e da morte como
repouso nas sombras da Noite. Na morte do corpo físico eles saíam como morcegos e
pássaros da noite, especialmente a coruja.
Este mistério é melhor explicado ao observarmos Odinn, desde que aqui encontramos um
formato muito completo para compreender a complexidade da bruxa-vampira. Einherjar,
Fylgja (ou duplo/fetch),Hugr e Hamingja são os elementos que fazem do reino da anatomia
esotérica dos vampiri.
Fylgja ou fetch (duplo) eram os animais familiares, guerreiros sempre foram considerados
como possuidores de um fylgje que era de uma natureza agressiva ou inspiradora de temor,
como lobo ou urso.
Hamingja, por outro lado, era considerado um dom particular relacionado às habilidades
mágicas e em particular para fornecer fertilidade, e como tal, relacionado ao hug ou
hugr,que na realidade é o poder que manifesta propriamente em Eros ou o Amor. U m
exemplo foi o rei Erik Aarsael, que foi o rei dos suecos por somente um ano, de 1087 a
1088, que parecia possuir este poder em particular. Ele foi realmente o último dos reis
pagãos e se tornou um símbolo de sorte graças aos seus poderes e atordoante hab ilidade
mágica de fertilizar o que era considerado estéril. O último blot em Uppsala foi liderado por
este rei, o que o coloca em uma relação particularmente forte com o inteiro cortejo dos
vanir e aesir, mas em particular Odinn e Freya.
Lendas sobre skinleaping [NT: troca de pele], shapeshifting [NT: mudança de forma] e
licantropia são encontradas em todas as partes no mundo, do Jaguar aliado Canaima na
América do Sul, via os seres-javalis na Turquia às formas de lobo mais difundidas na
Europa. Em todas as instâncias estes mitos contêm elementos contrários à ordem natural,
freqüentemente em termos da organização religiosa exotérica ou como conseqüência de
algum fato inevitável de natureza cósmica, tal como o sétimo filho nascido de um sétimo
filho, especialmente marcado e assim, nascido maldito por assim dizer. O ministro Robert
Kirk que escreveu a Nação Secreta, parecia ser o sétimo filho de um sétimo filho e é
curioso que ele reportou estes procedimentos íntimos com os Sidhe das terras pantanosas e
colinas ocas. As lendas do rei Lycaon, fundador do reino de Arcadia nas montanhas da
Grécia carrega todos estes motivos. Lycaon foi o pai da musa Callisto e eles estavam
criando o filho Nyctimus (noite) que era filho de Zeus. A lenda diz que Lycaon sacrificou
Nyctimus e serviu sua carne à Zeus que repeliu o prato de seu próprio filho e amaldiçoou
Lycaon, transformando-o em um lobo. Pausanias apresenta uma versão ligeiramente
diferente do mito, aqui somos informados que Lycaon sacrificou uma criança no altar de
Zeus Lycaeus (nomeado como a montanha onde o altar se encontrava) e a criança se
transformou em um lobo. Existem várias explicações destes fenômenos, variando de uma
ofensa deliberada ou indeliberada à Zeus e que resulta nesta maldição, como na teoria de
Robert Smith, que vê Lycaeus como centro de reverência de uma tribo de lobos nas
montanhas e que Zeus simplesmente usurpou seu santuário trazendo o corpo de Nyctimus e
deste modo, trazendo a luz. Ainda outro comentarista sugeriu que o sacrifício humano dado
à Zeus convocou a deidade para descer na forma de um lobo, e nesta forma, consumir sua
oferenda.
Os solstícios são pontos importantes para o vôo do Sabbath, como também vemos nas
declarações contemporâneas de supostos cultos de bruxas do passado, mas na realidade isto
tem pouco a ver com estes pseudo- mistérios, relativos aos estados angulares do giro
cósmico que têm flutuado através dos grupos contemporâneos que alegam possuir qualquer
percepção dentro disto. Na realidade, o solstício de Inverno e Verão são os pontos onde a
segunda visão é mais clara, desde que temos aqui a noite mais longa e o mais curto dia, um
excesso de Noite no Inverno e um excesso de Luz no Verão, sendo os signos cardeais
Capricórnio e Câncer, e assim, Saturno e Lua, Terra e Água, a real constituição do homem
no pico de sua atividade marcada pelo Sol Invictus entrando nestes dois signos. Vemos uma
transição similar com Hécate, mas devemos enfocar no formato em que ela emergiu dentro
do tempo de Plutarco, os Hinos órficos e homéricos, isto é, em cerca de 500 a.C. No Hino
homérico para Deméter, Hécate é mencionada como o propolos e opaõn de Perséfone, sua
companheira e guia. Todas as deidades com a habilidade de liderar uma katabasis (descida
ao Mundo Inferior) naturalmente seriam deidades sujeitas ao domínio das artes fúnebres e
necromânticas, de psychagõgia ou goetia, o que significa que Dionysius, Apollo, Orpheus e
Hermes seriam deidades de importância para os goes, assim como Prosérpina, Deméter,
Kore e Hécate. Como para Hécate, ao redor do Século V a.C., ela era megisté, a maior, e
acompanhada por Zeus e Cybele nos distritos vizinhos da Frígia. Encontramos aqui
múltiplos aspectos relacionados à Hécate; Pausanias a honrou como a „portadora da luz‟,
um epitáfio mais comumente usado para honrar Phosphorus, na cidade de Lagina ela era
honrada como kleidos agõge, a processadora da chave – e acima de tudo como uma
protetora das cidades e portais, daí a importância da lâmina em sua representação triforme.
Na Cidade de Thasos, ela fora colocada em cada um dos três portais da cidade, e em
Rhodes ela era adorada juntamente a Apollo e Hermes.
A transição de Hécate, de uma honrada portadora da luz e proteção, para a senhora dos
fantasmas e uma patrona Noturna dos párias foi relacionada ao interesse crescente
emmetempsychosis, ou reencarnação e conseqüentemente especulações sobre como a vida
e as circunstâncias afetavam a transmigração da alma dentro de um novo vaso corpóreo.
Hécate como a protetora das parteiras e Virgens tinha uma importância particular na
segurança do parto, desde que havia a crença de que Virgens que morriam jovens sem dar à
luz sofriam a danação ou maldição por sua inabilidade de realizar sua obrigação/destino –
isto é, se tornar uma mãe. A reputação de Hécate começou a se inutilizar e mudar, até que
foi vista como uma protetora dos párias e os vis fantasmas da noite. Ela era encontrada na
encruzilhada da noite e também passou a ser encontrada nos ossuários, e assim criou-se
uma associação com skia ou sombras, que eram as almas vis dos mortos- vivos
transformados em fantasmas bravos, aõrai (literalmente alguém que morre muito jovem).
Existia também a classe de fantasmas vingativos chamada de alastõr, que era intimamente
ligada com a morte prematura e a necessidade de cumprir seu destino ou „missão humana‟.
Disto, uma avaliação firme da existência de fantasmas femininos malévolos ameaçando
crianças ainda não-nascidas e jovens virgens se tornou cada vez mais forte, e de acordo,
observamos o crescimento de amuletos contra gelloudes (fantasmas hostis), strix, lamiae e
mormõ. Hécate como uma guardiã do portal, especialmente ao Submundo, empreendeu
naturalmente muitos destes aspectos noturnos, vingativos e frios, mas apesar disto sua
Graça e Majestade vivem em sua representação tripartida de três faces, com Chave, Lâmina
e Tocha. Ela era ao mesmo tempo a possuidora da chave, a protetora e a portadora da luz.
Esta transição é semelhante ao que aconteceu com Lilith, hoje vista ou como uma demônia
vil e sanguinária ou um símbolo feminista e depravado de domínio sobre o abuso
masculino.
É interessante ver que os três animais sagrados para Hécate eram a porca negra, a égua e a
cadela. Animais associados com a segunda visão (cachorros), viagem entre os mundos
(cavalos), pesadelos (porcos e éguas) e todos estão relacionados à fertilidade e luxúria. A
companheira e guia de Perséfone, e como tal, um ícone digno a qualquer um que busca
trilhar o Caminho Infernal. Curiosamente os mesmos animais também têm uma relação
particular com Odinn, outro viajante do Entre-Mundos.
A guarda contra vampiros são papoula e espinhos protetores, assim como redes de pesca,
nós e rosas - a beleza que cresce dos espinhos. Estas proteções feitas na forma de teia de
aranhas e colocadas do lado de fora das portas e portões pegarão qualquer mal apontado em
sua direção, e os voadores noturnos serão emaranhados em seu próprio reflexo.
Os vampiros estão além de tempo e espaço, vivem em uma eternidade na duração da vida
corpórea que têm, imortalidade e eternidade são a promessa destes viajantes da noite. O
blackthorn é sua natureza e whitethorn é sua ruína e fim. Foi sugerido que a estaca que
acaba com o estado de morto- vivo é roseira ou whitethorn.
As trilhas de espíritos sempre seguem linhas retas, e é por isso que no Brasil ainda existe o
velho costume rural da procissão fúnebre feita pelas curvas e ganchos da estrada,
literalmente, e jamais levar o morto à estrada reta para o cemitério, desde que isto
representará a estrada de sua ressurreição como morto- vivo.
Outro unguentum de fontes tradicionais indica raiz de alcaçuz, raiz de mandrágora, flores e
folhas de Datura melli, Beladona, Anis e óleo. Esta receita também foi encontrada
incluindo variantes de acônito/monkshood, com o qual aconselho extremo cuidado.
Ainda outra da Escandinávia, indica uma decocção de amanita muscaria seca e então uma
pomada ou óleo de acônito/monkshood, mandrágora e meimendro – receita que acredito
que deve ser usada com precaução extrema dada as propriedades chtonicas desta mistura
que pode resultar em coma, e no pior caso induzir a um pesadelo contínuo e eterno.
Como visto, o acônito é um ingrediente freqüente nos unguentuns, mas deve ser informado
que este é um veneno radical que pode paralisar de forma eficaz a respiração, e é bom saber
que a Beladona é seu antídoto. Caso você queira testar o nível de sua sensib ilidade com este
gênio selvagem, corte seu próprio Monte de Vênus (o monte do dedo polegar) suavemente
e coloque um pedaço da raiz no ferimento. Deixe-o lá por dez a quinze minutos e remova-o.
Permaneça tranqüilo e receptivo por uma hora e veja se este encontro gerou qualquer efeito.
Você levará o bastão para um rio na hora quando Vênus estiver subindo e lavá-lo com
vinho tinto e leite, rezando para as fadas lhe observarem. Então declare este seu bastão
como a escada para o Sabbath. Pique a si mesmo e unja o topo e fim com seu sangue.
No dia seguinte, quando Vênus subir ao céu, você tomará uma corda de couro da altura de
seu corpo e fará nove nós na corda, um nó para cada uma das Três Nornes e sua localização
tríplice no tempo e espaço. Você então amarrará a corda ao redor de seu bastão.
Na terceira noite você trará o bastão ao mesmo local onde você o lavou trazendo uma faca.
Você esculpirá no ponto mais baixo da escada a runa Hagal e cantará com as palavras de
distinção Hel- Hagal-Hela enquanto entalha. Você então esculpirá o pé das bruxas no topo,
no coração da divisão das estradas e cantará, no idioma dos pássaros:-
Algiz-Algiza-Holda-Algiz.
Laguz-Freya-Laugar
Unja o bastão com sopro e óleo e deixe-o descansar em um tecido escuro até a lua cheia em
um lugar escuro, evite a exposição ao Sol.
Na noite designada, quando Vênus se elevar, tome seu bastão e seu vinum sabbati ou
unguentum sabbati e posicione-se frente ao norte e aguarde até que a Lua esteja flutuando
diante de seus olhos. Você então fará uma petição para que a Lua tome você em suas asas, e
assim você poderá viajar para o Convento Oculto, ungindo a si próprio.
A Lua está cheia e fértil e eu os convido, Mortos Poderosos, para que se ergam do
Sepulcro e Alcova, da Lagoa e Casa de Madeira
Você então alimentará a terra com vinho e amêndoas, segurará a escada em sua mão
esquerda e visualizará as legiões com rostos de crânios subindo do solo.
Por seu sangue eu chamo por Ele, que cavalga à fora na Caçada Selvagem
Agora você recitará as runas da jornada e enfocará no Pé das Bruxas e ascenderá para o
lugar sagrado atrás da Lua, através do poço de espinhos e permitirá às Bruxas da Terra, o
próprio Fauno ou seu famulus levarem- no pela escada e dentro do Círculo do Sabbath.
Quando você quiser retornar do Conclave Noturno no Montículo das Fadas, você
novamente agarrará a escada e gritará:-
Então você irá, ao retornar, deixar uma oferenda de figo, maçã e água ao genii loci e ao
belo povo daquele lugar particular.
Usando o mesmo local repetidamente para o vôo do Sabbath você conseguirá gerar um
portal e haverá uma crescente facilidade para cruzar os reinos.
Agora, isto dito, somente aqueles sábios de coração decifrarão entre fantasia e chegada,
então meça seus desejos conforme você toma o vôo, pois a jornada ao Mestre pode ser a
jornada do tolo, na mesma medida que o vôo do mundo...
A palavra inglesa antiga Wyrd é derivada do proto- germânico *wurþiz, do proto indo-
europeu *wrti-, um abstrato verbal da raiz *wert- "tornar" (do Latim vertere), relacionado
ao verbo inglês arcaico weorþan, que significa "crescer como, tornar-se". Em seu sentido
literal, refere-se "àquilo que se torna, que se passa".
O termo ørlǫg é proveniente de ór "fora, de, além" e lǫg "lei", e deve ser interpretado
literalmente como "além da lei", ou como "lei fundamental/absoluta/primária". Isto
certamente se refere à Lei trazida por Júpiter/Zeus, em oposição ao mundo de riquezas
ilimitadas da Era do Ouro de Saturno/Cronos, com o qual as bruxas estariam conectadas até
mesmo pela arte da necromancia. A referência pode ser encontrada na mutação da palavra
Wyrd em Weird (estranho, esquisito), e em especial no que se relaciona ao aspecto das
Irmãs Wyrd representadas em Macbeth, de Shakespeare.
++++++++++++
Oráculos foram esculpidos em madeira exatamente por isto. O conhecimento dos nossos
ancestrais, as árvores, foi comunicado à Odin, o deus-homem da Escandinávia, pela escolha
das runas em seu ato de auto-sacrifício para ele mesmo. Por este ato e por esta ação ele se
aprofundou para dentro da memória arcana dos deuses e homens e recuperou esta
sabedoria. Nosso familiares, sejam eles cachorros ou sapos, pássaros ou serpentes, gatos ou
javalis, são testemunhas vivas à nossa linhagem, nosso senso de afinidade com a natureza,
nossa corda de sangue que se estende através do tempo e dentro do círculo do Um.
Muito tem sido dito sobre o Sangue-Bruxo e a marca, e pouco devo dizer aqui sobre este
mistério da arte sábia, mas sob os nossos pés descansa o primeiro passo para esta
realização. Pelo despertar dos Silentes que descansam dentro da lama e terra, água e raízes
do planeta em si, o legado do Sábio deve estar evidente, assim, você clama no vale do
conhecimento, mas pode receber somente o eco de sua própria fantasia, ou realmente a voz
que fala ao herdeiro vivo.
Então, você deve aderir a este primeiro mandamento, que deves venerar aos Mortos
Poderosos solenemente, pois neles jazem as raízes do sangue para o verdadeiro tornar.
Escolha bem se a Lua deve ser de Sangue ou Leite e sob esta Lua, oculta ou exposta, é que
você irá à árvore poderosa que será um Carvalho, Mangueira ou Salgueiro, ou aque la que
seu Coração te disser. Em sua raiz você adaptará de seus galhos caídos uma cruz com
braços iguais, e a prenderá com a grama ou vinha. Esta cruz será colocada no lado do norte
da árvore e você deve falar para a cruz as seguintes palavras:
Você então traçará o sinal da terra para proteção e comunicação, assim como o andarilho
solitário nos ensinou, e que é conhecido como a bússola do sábio e o capacete de Ygg, com
farinha branca como osso, ou pó de ossos propriamente. Você então colocará a cruz sobre
ele e com vinho e leite alimente a cruz e o solo, em cada ponto da cruz e seu centro, e você
então declarará aos poderes dos Antigos de que você tem clara determinação e pura
orientação:
Agora levante a cruz e faça um buraco pequeno no centro do sinal. Alimente este buraco
com uma única gota de seu próprio sangue, tirado do dedo mais longo em sua mão
esquerda. Você então colocará três feijões pretos em sua boca para tomar sua saliva.
Coloque-os no buraco juntamente com uma moeda de prata. Coloque a cruz sobre o buraco
e chame aos Mortos Poderosos:
Deite agora sua cabeça sobre a cruz e permita que o espírito ouça da necrópole sob as raízes
para tomá- lo e responder à você, guiá-lo e abençoá- lo. Você então trará a cruz para sua
alcova, e à noite, quando você quiser que seu sangue corra em suas veias e lhe ensine sobre
suas necessidades, você a colocará em um altar no nível de sua cabeça, com um copo de
vinho tinto de sangue, e a água deve estar nos lados da cruz. Se você achar que cabe
decorar a cruz, faça-o com folhas de bambu. Por este ato necromântico o morto deve falar,
e o sangue voltar contra o grão, para que você veja teu legado e a sabedoria, ou loucura que
vem disto.
Por Azazayin
Comentário do editor: Este ritual faz parte do corpus da Via Vera Cruz, um círculo
tradicional da Arte Sábia, gentilmente cedido para publicação.
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As idéias sustentadas pelas pessoas, a respeito do Ofício e da Arte das Bruxas são muitas, e
freqüentemente distorcidas pelas concepções profanas de nossa era. Especialmente popular
tem sido a idéia de fusionar ciência profana com conhecimento tradicional e criar corpos
ecléticos de conhecimento, com reivindicações de algum tipo de procedência ou aspiração
genuína. Na verdade não precisamos olhar muito longe para encontrar a herança Sábia. A
terra que pisamos carrega a sabedoria dos Ancestrais Sábios e dos Mortos Poderosos.
Aqueles que anteriormente colocaram sua marca sobre – e dentre – a terra repousam bem
debaixo de seus pés. A Arte não repousa nas mentes profanas e reformadas dos ocultistas
modernos que visam reformar e revitalizar o Ofício, para trazê- la em concordância com as
tendências e modismos de nossa era. O Sábio irá se apegar à tradição, a tradição que nos foi
dada pelos doutores dos planetas, bruxas, sábios e magos do passado, aqueles que eram
bem versados na Arte Sem Nome e que trouxeram a Arte até nossos dias. Falo de pessoas
como Nicholas Culpepper, Al Biruni, Ptolomeu, Cornelius Agrippa, Platão, Ficino,
William Lilly, Elias Ashmole e tantos outros que transmitiram a Arte no passado para
nosso sábio benefício no presente. O homem moderno tende a ver esses guardiões da
sabedoria como ultrapassados e arcanos à luz da revolução tecnológica da era moderna, que
tem tornado a comunicação e conhecimento cada vez mais e mais acessíveis. Esta idéia
comumente sustentada de progresso vai contra o fluxo natural, e o homem está
gradualmente perdendo seu contato com a natureza e as fontes da Arte. O homem está
constantemente negligenciando sua ancestralidade espiritual e insiste em reinventar
ferramentas e técnicas que acredita serem melhores.
Tomemos um exemplo, a astrologia. Anterior ao século XVIII, a astrologia era uma arte
baseada na distinta idéia de que o mundo era um universo holístico e divino, onde as
interações e inter-relações aconteciam o tempo todo, o natural e o sobrenatural não eram
separados e, definitivamente, as manifestações natura is possuíam causas e relações
sobrenaturais. A astrologia costumava ser uma arte solidamente fundamentada na crença de
que a criação era geocêntrica e holística. A astrologia moderna, por outro lado, adotou para
si o campo da psicologia e, ao invés de ler soluções e predições num contexto hermético,
como os doutores planetários clássicos faziam, temos agora astrólogos que usam as estrelas
para mapear tipos de personalidade, negligenciando a maioria dos fatores tão importantes
para interpretação de uma carta clássica. Creio que isso seja devido tanto pela
complexidade da arte como também pelo fato de que a arte clássica demanda que você se
curve à sabedoria dos ancestrais. Em um egoísta, onde o egocentrismo nos circunda como
montanhas gigantes, o homem sente que a adesão às regras da ancestralidade significa o
sacrifício da integridade e da individualidade, não vendo que voltando- nos para a sábia
ancestralidade podemos nos tornar elos vivos à cadeia de sabedoria ainda vivente e pronta
para ser abraçada.
Os sábios que desvelam a atemporal arte podem parecer ultrapassados em sua completa
adesão ao tradicionalismo nas premissas da herança de nossos ancestrais espirituais, e
podemos dizer que eles seguem contra a corrente, sustentando o ouro do passado enquanto
deixam a argila e o limo das invenções modernas e profanas serem levadas pelo rio Lethe,
esquecidas por aqueles da Arte Sábia, como se seu valor fosse julgado ser de menor
qualidade. Os Bruxos da Vera Cruz sempre irão contra a corrente em sua aspiração pela
tradição, e tal é o caso da maioria das organizações tradicionais do Ofício. Passarei aqui
uma simples prática para que o peregrino se reconecte com a Terra. Por terra me refiro a
este mesmo solo em que você está pisando, e aos homens e mulheres que co m seu sangue e
sua vida contribuíram para que você fosse o último elo em sua corrente de ancestralidade
sanguínea.
Como Cornelius Agrippa afirmou: "O semelhante está em outras coisas, as quais afetam a
mente com um forte desejo". Ele falava aqui do desejo criativo da mente (Nous) do homem,
faculdade que torna possível o vínculo do celestial ao infernal. Mas para que isto seja
efetuado precisamos trabalhar na corrente da analogia e simpatia. Isto significa que
precisamos trabalhar na linha de ressonância com a terra e o que pode despertar os Mortos
Poderosos da própria terra. Mas antes de podermos alcançar isto precisamos nos relacionar
com nosso sangue ancestral. A melhor maneira de fazer isso é indulgir ao que os sábios
gregos e goes chamavam de Katharmoi, ou purificações. Essas purificações eram feitas
através das orações e da água, mas hoje em dia deparamos com outras questões que
também precisam ser identificadas, como o estado disfuncional de co-dependência social
que indulge no bode espiatório – para usarmos a linguagem da psicologia vulgar e popular.
O homem moderno tende a julgar muito facilmente e a recusar-se a tomar responsabilidade
por suas ações. Com que freqüência você não ouviu dizerem que fizeram o que foi feito por
causa de outra pessoa? Quantas vezes não é culpa da própria relutância em se resolver às
complicações relacionadas a um pai abusivo ou uma mãe insana? Ao invés de entender
como estes fatores potencialmente maléficos contribuíram às ordálias que lhes capacitaram
a alcançar seu potencial, o homem vulgar vê a ordália como obstáculo. Então, a primeira
parte do exercício é fazer uma lista de seus ancestrais e um poema que celebrará cada um
deles. Quatro ou cinco linhas serão suficientes. O ideal será traçar sete gerações, mas em
nosso mundo moderno, isto raramente é possível. O mais longe que se puder ir, já será bom
o suficiente. Muitos dos que lêem a isto agora irão objetar, e declarar que os pais abusivos
não merecem um poema, hino ou ao menos um elogio. Não é bem assim, ao menos uma
mãe insana e má teve um útero que o trouxe à vida, então tome por aí. Comece com o
ventre divino que fez o milagre da vida possível, todo o resto é só comportamento mediado
por algo externo, ou algo externo integrado como verdade. Tomemos um exemplo extremo,
uma mãe e pai que abusam de seus filhos sexualmente e com violência. Como um elogio
pode ser composto em tais condições extremas?
Oh, Útero divino / Caverna sem defeitos de Deus / Escondido dentro da carne da
decadência / tu foste um abrigo para meu habitar / Por teu útero eu te saúdo XX e eu louvo
os poderes divinos que fizeram teu útero minha primeira casa.
Oh pai severo do chicote / sem ti eu nunca seria / Esteja em paz Senhor do chicote / Deixa
tua violência descansar e me conceda o acesso a terra de Hades / Pai, eu te saúdo por teu
nome XX / Eu louvo os poderes que fizeram tua semente crescer em mim.
De tal forma, evitamos comentar sobre as ações propriamente. Precisamos assumir que
todas as pessoas nascem boas e abençoadas, o que quer que venha depois pode trazer ao
alinhamento ou para fora do alinhamento da condição humana abençoada pré-destinada.
Poucas pessoas chegam a nós por uma ancestralidade composta de pessoas que atuam como
boas e abençoadas; ao contrário, caem presas de suas maldições familiares. Libertemos
disto e deixemos a dor do abuso seguir para o túmulo do abusador. Você não é seus pais, e
as más condutas de outras pessoas não são suas. Então, ao purificar sua ancestralidade ao
lidar com estes fatores, você está preparando a você mesmo para encontrar a ancestralidade
espiritual dos sábios caminhando pela terra hoje em dia. Você é o que você é, e o que
importa é que você está resoluto em sua afirmação de se tornar o melhor que o seu
potencial pode se tornar. Toda ação e intento carrega a semente da lição, faça isto bem e
tome a lição em nome do seu anjo e pelo aperfeiçoamento de sua natureza.
Você selecionará as ervas de acordo com seu signo ascendente e fará delas um condensador
fluídico. A essa tintura herbácea você misturará vinho tinto doce. Antes do encontro com os
espíritos da terra, você tomará um copo desse vinho, irá misturá- lo com água, e tomará um
banho. Leve então o vinho remanescente a um lugar solitário, que você crê que ressoe com
algo inominado em sua alma, e você se sentará nesse lugar e afirmará seu nome e
ancestralidade aos espíritos deste pedaço particular de terra. Em silêncio você se sentará,
alimentará a terra com uma vela branca e um copo do vinho que preparou, dizendo:
Oh gentis espíritos da árvore que alcança os céus, eu alimentei tuas raízes infernais e peço
permissão para entrar no reino dos mortos-vivos e seres feéricos. Vejam-me enquanto
partilho da mesma essência
Você beberá um copo cheio de vinho e acenderá a vela. Você verá sua alma ser preenchida
pelas virtudes do vinho e dirá:
Não há saudações para concluir este ritual; ao invés disso, você deverá buscar reunir itens
deste local que parecem ser de importância para continuidade do trabalho aqui iniciado, e
assim, deixará tudo nas mãos dos espíritos guias da terra. Se eles ouviram seu chamado
você saberá; e se você fingiu ouvir o chamado, eles te perseguirão e você sofrerá por s ua
falta de honestidade e honra. Então, para você que meramente busca clamar o poder para si,
cuidado, pois o Senhor dos poderes é verdadeiramente „dos diabos‟ e como todo diabo, o
teste será radical, e se você perder, perderá tudo e se ganhar, ganhará tudo.
+++++++
De Clavis Argentum
Por Draku-Qayin
Os Sonhos são os caminhos para os Oráculos de Deuses e Demônios. É por meio dos
Sonhos, Oneiroi, os misteriosos filhos de Hypnos, que caminhamos nas Estradas Tortuosas
que guiam rumo ao Verdadeiro Sabbat. É no Reinado dos Sonhos que podemos contemplar
o brilho da Verdadeira Cruz, e é lá que se corporifica o Campo onde o Congresso com os
Espíritos dos Mortos Poderosos é concedido. É nos Sonhos onde ocorre nosso encontro
com o Mestre Chifrudo e com a Rainha de Elphame, com as Hostes de Anjos e Demônios e
todo Cortejo Oculto da Arte Sábia
Mas deve-se ter em mente que, quando falamos em Sonhos, não estamos nos referindo aos
sonhos mundanos do dia a dia. Conforme explica Agrippa: Por sonho, neste sentido, não
me refiro aos sonhos vãos ou à imaginação ociosa, pois estes são fúteis e nada têm de
divinatório, surgindo apenas das observações diárias e de algum distúrbio no corpo. Pois
quando a mente está ocupada demais e esgotada de tanta preocupação, ela provoca sugestão
naquele que dorme. Chamo de Sonho, aqui, aquilo que é causado pelas influências
celestiais no fantástico espírito, mente ou corpo, se estão todos bem dispostos”.[1]
Este tipo de Sonho é o que o Feiticeiro Inglês Nigel A. Jackson chama de Via Nocturna,
que conforme a definição do mesmo “é uma seqüência de „Sonhos Lúcidos‟ usada na
Convenção do Espírito da Caça como um portal contemplativo/onírico para o Conclave
Sabbático”. [2] Isto é o “Sonho feito Carne”, como dito pelo falecido sábio Andrew
Chumbley.
Diversos são os meios para se chegar à Verdadeira Encruzilhada, como o uso das ervas de
consolo (Solanacae) em Ungüentos e Vinum Sabbati; a prática das “Escadas de Bruxas”
como foco devocional em um rosário comumente composto de um cordão com nós, onde a
repetição de determinado mantra ou prece leva a um estado de transe; o uso de certas runas
que despertam os poderes para o Vôo Noturno; Azazayin trata claramente deste assunto em
seu ensaio Monasterium Unguentum Umbrae. [3]
Para ter acesso aos Reinos Oníricos, nos quais o Congresso com os Espíritos é concedido, a
fórmula abaixo é indicada. Com ela, uma pedra especialmente abençoada se tornará o Vaso
para a Chave de Prata, que concederá o acesso aos Portais de Hypnos, sua abertura e a
Visão das maravilhas existentes no Campo do Bode.
Para executar este Ritual é necessário observar o Céu, e escolher corretamente a data de sua
execução. A Lua deve estar em seu período crescente, ou seja, entre a Lua Nova e os três
primeiros dias de Lua Cheia. Deve ela também estar dignificada por Dominação, habitando
na Nona Casa do Céu, sem nenhuma aflição vinda de Marte, Saturno ou Cauda Draconis,
ou seja, não estando em Conjunção, Oposição ou Quadratura com nenhum deles.
O Peregrino que deseja se aventurar nos Reinos Oníricos deve conseguir uma pedra
chamada Selenita[4], bem como uma pequena caixa de madeira com tampa onde esta pedra
possa ser guardada. Três das seguintes ervas devem ser escolhidas pelo feiticeiro: lavanda
(Lavandula augustifolia ou Lavandula officinalis), artemísia (Artemisia vulgaris), absinto
(Artemisia absinthium) camomila (Matricaria recutita), rosas (Rosa spp), cânfora
(Cinnamomum camphora), Trombeta-do-Diabo (Datura stramonium ou Datura
brugmancia), Dama-da-Noite (Cestrum nocturnum), jasmim (Jasminum officinale), jasmim
estrelado (Jasminum nitidum) ou anis-estrelado (Illicium verum). O feiticeiro deverá
também conseguir um incenso no aroma de uma das ervas citadas, uma única vela branca,
Água Benta de Igreja e um pouco de azeite puro de oliva.
O feiticeiro erigirá um pequeno altar com esses itens, no centro de seu local de trabalho. Ele
se voltará para o leste e vibrará o nome Michael. Ao sul ele vibrará Auriel. Ao oeste
Raphael e ao norte Gabriel. Ele então acenderá a vela branca, e em seguida acenderá o
incenso na chama da vela.
O feiticeiro tomará as três ervas escolhidas, uma a uma, em suas mãos, e pedirá
intimamente ao Daemon daquela planta que traga o poder de acessar os Reinados dos
Sonhos, o acesso ao Congresso na Encruzilhada do Sabbat, e então colocará a erva dentro
da caixinha de madeira. Após ter colocado as três ervas na caixinha, ele então molhará seus
dedos indicador e médio no Azeite, e marcará o Sigillum Diaboli na pedra enquanto diz:-
“Mestre da Encruzilhada,
Senhor que habita no local onde dois caminhos se encontram e quatro caminhos partem,
Por meio de teus poderes e da graciosa Lua, encante este Vaso para que ele se torne
preenchido pelos poderes da Chave de Prata.
Pelo teu cajado que abre os caminhos e pela graça e beleza da Rainha de Elphame,
Amém +”
Ele pegará então a pedra Selenita em suas mãos, e a colocará para receber a fumaça do
incenso, prosseguindo invocando os Poderes Lunares utilizando o Hino Órfico da Lua:-
Durante a recitação do Hino, deve o feiticeiro visualizar que dos céus o Pneuma da Lua
desce até seu corpo como uma bela luz prateada, e de seu corpo é transmitido para a pedra
por meio de suas mãos.
Ele finalizará o ritual aspergindo a Água Benta três vezes sobre a pedra e dizendo:-
A pedra, que agora é o próprio receptáculo da Chave de Prata, deve ser guardada dentro da
caixa forrada de ervas, esta tampada e deixada no Altar até a vela se consumir por
completo.
Símbolos e sigilos podem ser pintados ou gravados na caixa, de acordo com a orientação do
Gênio ou Juno do praticante, como também seu conhecimento pessoal de simbologia. A
caixa deve sempre ser mantida no Altar pessoal.
Para acessar os Reinos dos Sonhos, escolha uma noite específica, tire a Chave de Prata da
caixa, coloque-a debaixo de seu travesseiro e reze o Hino Órfico dos Sonhos, pedindo em
seguida a orientação desejada ou o acesso aos Festins na Encruzilhada. Um incenso de
lavanda aceso e uma beberagem de camomila antes de se deitar auxiliam no despertar dos
poderes da Chave.
“A Ti eu invoco, abençoado poder dos Sonhos [Oneiroi] Divinos, anjo dos destinos
futuros, as asas rápidas são tuas:
Grande fonte dos Oráculos para a Humanidade, quando se infiltra suavemente, e sussurras
para a mente,
Através do silencioso e doce sono e o obscurecer da noite, teu poder despertas a luta
intelectual;
Para as almas silentes a vontade do céu relatas, e silenciosamente revelas seus destinos
futuros.
Eternamente amigável para a justa mente sagrada e pura, aos ritos sagrados inclinada;
Por isso com esperança agradável teus sonhos inspiram, felicidade antecipada para aquele
que tudo deseja.
Tuas Visões manifestam o destino descoberto, que métodos melhores podem mitigar nossas
aflições;
Revele que ritos aos Deuses imortais agradam, e quais os meios para satisfazer sua ira:
Para sempre tranqüilo é o fim do bom homem, cuja vida, teus sonhos previnem e defendem.
Mas dos maus torna-se oposto à bênção, tua forma invisível, o anjo da angústia;
Nenhum meio para deter a maléfica aproximação eles encontram, pensativos com temores,
e cegos ao futuro.
Vinde, poder abençoado, os símbolos que revelam quais decretos do céu são
misteriosamente ocultos,
Sinais somente presentes para a mente merecedora, nenhum mau presságios revelas do
gênero monstruoso.”
Lembre-se sempre que a Chave só deve ser usada aos fins sublimes da Arte, e quando se
necessita de orientação pelo Oráculo de Oneiroi. Utilizar a Chave de Prata para fins
mundanos, ou apenas para testar seus poderes, levam a loucura e aos reinados sombrios da
insanidade.
[1] Agrippa, Cornélio – Três Livros de Filosofia Oculta – Livro 1, Cap.LIX “Da
Adivinhação pelos Sonhos”
[2] Jackson, Nigel – Masks of Misrule – Cap.05 “The Man in Black & the Road to te
Sabbat”
[4] A Selenita pode ser substituída pela pedra conhecida como Opala, que terá um efeito tão
bom quanto, e uma ou outra podem ser combinadas com a Hagstone, para o acesso aos
Campos do Sabbat, o Acre do Diabo.
OBS* Nenhuma parte deste ensaio pode ser publicada em qualquer fonte sem a prévia
autorização do autor.
Escrito por Draku-Qayin vel Sabatraxas (a.k.a. Adriano Carvalho)
Redgrove (1989:115-120) apóia a Deusa Negra como a mulher primal, uma deusa primal,
uma Rainha de Encantamentos, de Magia negra e todas as coisas ocultas; seu esplendor
oculto é a inspiração de poetas e reis. Mais adiante, ele posiciona esta Deusa Negra como
cognata ao Espírito Santo, Sabedoria - a amante Abisag de Sunam do Rei Salomão... "Foi
Eu quem cobriu a Terra como uma névoa. Sozinha eu fiz um circuito do céu e atravessei as
profundezas do abismo... Quem de mim se alimenta ficará com fome de mais, e quem de
mim bebe terá sede de mais..." (Ibid). Redgrove a percebe como um succubus,
assombrando o mundo dos sonhos noturnos - os reinos de Hecate, a remetente dos sonhos.
Todos os aspectos da Deusa são explicados por Redgrove (1989:117) como psico-erótico,
multifacetado, subliminal e físico de uma só vez. Além disso, como uma forma de
sabedoria, ele vê a deusa negra Hecate como a luz radiante - a chama escura, dama-estrela e
portal para outros mundos (1989:138). Ainda mais interessante, ele a assume como Maria-
Lúcifer, a lumen naturae, a illuminatrix da alma (ibid:156) Mas, será que podemos
substanciar essa fenomenal suposição? Sim, nós podemos. Mitologias históricas fornecem
material de origem relevante, sobre o qual o leitor é encorajado a tecer suas próprias
conclusões.
Dentro dos Mistérios Órficos, Nyx, um negro espírito alado, levantou-se do Vazio do Kaos
para deitar o ovo cósmico de prata contendo o dourado espírito alado do amor, Eros -
também conhecido como Phanes o Revelador, cuja beleza radiante iluminou a Terra. Nyx, a
Mãe Noite primal, dentro de seu reino estrelado também deu à luz as Fates (Destinos), as
Hesperides, as Fúrias e Nêmesis (George 1992:112-117). Como a mitologia evoluiu, a
precedência era classificada como dia e luz; todas as coisas sinônimas à noite escura
ficaram exiladas ao chthonic (de 'khthonios' - dentro ou fora da Terra), isto é: fertilidade,
parto, abundância, colheitas, destino e morte, reino do sub mundo, regiões astrais, o mundo
dos sonhos, e a psique interna. Com efeito, Hecate se desenvolveu como a guardiã desses
lugares sombrios e solitários, e de seus inerentes Mistérios ocultos. Atos obscuros do
mistério sexual, Kundalini, profecia, inspiração e adivinhação, todos vieram de dentro de
seu dom. Criaturas da noite - corujas, cachorros e cavalos se tornaram seus totens, assim
como o fizeram todas as criaturas do submundo aquático - cobras, serpentes, aranhas, sapos
e rãs. (Ibid) Como Dama da Transe-Formação, sua luz divina de gnose é secretada por seus
poderes chthonicos de vida e morte; sua sexualidade voraz leva suas vítimas em um abraço
profético de regeneração. Suas sacerdotisas legendárias levavam os agonizantes através de
uma morte extática pelas suas convulsões orgásticas (George 1992:111).
Ultimamente ligada à lua negra, anteriormente Hecate sempre havia sido a deusa da
iluminação da alma. Tempo e destino estão dentro de seu domínio; muitos de seus epítetos
revelam seus inúmeros papéis e formas - Sábia, Rainha das Sombras, Senhora da Iniciação,
Guardiã do Portal, Condutora de Almas, e A Brilhante (www.hecate.org.uk/history.html).
Para os místicos, a Noite Escura é a profundeza do amor (Eros) e luz (Phanes). George
(1992: 118) afirma que dentro filosofia Oriental o preto representa o estado informe da
matéria pura e um todo unificado, sem nenhuma separação. Isso é um truísmo refletido
dentro da Nyx grega e a Nut egípcia, ambas carregam a mensagem eterna da matrix
universal como uma expressão do verdadeiro amor (sabedoria e compreensão/compaixão),
da qual a ignorância induz ao medo e vazio.
Waterson (1999:190) recebeu muitas críticas dos acadêmicos por promover a idéia de que
Hecate é derivada de Hekt, uma deusa egípcia de cabeça de sapo, deusa do nascimento,
morte e ressurreição, parteira dos deuses, mas sua teoria é merecedora de uma melhor
inspeção. Esta deusa primal criativa parece ter ajudado Osíris a se levantar dos mortos,
precedendo o papel adotado por Ísis. Além disso, seu símbolo, o sapo, foi mais adiante
adotado pelos Cristãos para representar a ressurreição de Cristo. Foram encontrados em
numerosas luminárias cerâmicas com a inscrição: “Eu sou a ressurreição”. O eminente
egiptólogo Wallis Budge (1971:63) explica que dentre os ritos fúnebres egípcios, o amuleto
de sapo (juntamente com o escaravelho) era colocado sobre a múmia, para mostrar o poder
de ressurreição de Hekt sobre o mesmo.
Mais tarde a mitologia grega revelou que Hecate, assim como Lucifer/Lux (luz) nasce de
Nyx/Nox (escuridão). Bem antes disso, contudo, ela era originalmente uma deidade da
Trácia e foi adotada no panteão grego como uma Titã, uma deidade pré-olímpica. Ela era
descrita como uma bonita donzela com cabelos adornados por estrelas que iluminavam as
trevas. Sua tocha em chamas revelava seu papel como illuminatrix e Condutora (a que guia
os mortos) através de seus três reinos - os Céus, Terra e os Mares/Mundo Subterrâneo.
Como já demonstrado, somente mais tarde, quando foi consignada ao Inferno, ela assumiu
o papel mais sinistro de tomadora de almas. Curiosamente seu dia de festa é 13 de agosto,
como uma deusa de fertilidade, e é um dia em que ela é propícia a evitar desastres que
acontecem às colheitas. É notavelmente perto de 15 de agosto, quando acontece a festa da
Santa Virgem Maria, a qual mais tarde assumiu essa função!
Em cada uma de suas quatro mãos (às vezes seis), Hecate maneja um objeto; uma chave
que destranca os mistérios ocultos e a sabedoria da vida após a morte; uma corda/flagelo
que representa tanto o cordão umbilical (permitindo nascimento) e o laço (morte); e a
adaga, o símbolo da verdadeira vontade, que corta a ilusão e divide a corda (permitindo o
nascimento) e o laço (facilitando a libertação da alma). Em sua quarta mão (nesta ou ainda
nas três restantes) ela eleva a tocha (ou tochas) de iluminação e iniciação. Assim pode-se
ver que ela preenche todos os papéis de Creatrix, Illuminatrix e Initiatrix - a (verdadeira)
Deusa Tripla (de tripla face) (George 1992:142-45).
O mundo obscuro dos sonhos é onde George (1992:148) acredita que nós estejamos
encapsulados, dentro do seio nutritício de Hecate; isolados do tempo e espaço, suspensos
no tempo liminar, nós alcançamos um "ponto silencioso" (uma praxis mágica de não-ser).
Este nosso momento de "nos tornarmos" é onde ela está, a verdadeira Dama do nosso
destino. Nossa submissão total a ela traz as recompensas da verdadeira gnose. Hecate guia
o peregrino verdadeiro, Hecate abençoa a criança recém nascida, e Hecate protege e guia a
alma em sua jornada final. Lembre-se, esta bela e jovem fada-madrinha usa uma coroa de
estrelas. É notado que os devotos dos Oráculos Caldeus planejaram promovê- la como
Sortieria (Salvadora), uma deidade celeste e princípio cosmológico da alma cósmica, não
diferentemente da 'alma mundial' dos Neo-Platonistas (Robert von Rudolf). Na Ásia Menor,
por volta de 800 a.C., Hecate fazia parte da trindade de Cybele, da Mãe, Filha e Filho como
Hecate e Hermes. Ainda por volta de 400 d.C. seus papéis se desenvolveram como a
sombria e sinistra espreitadora de cemitérios, perscrutadora de almas, Rainha da Bruxaria e
Feitiçaria, a patronesse de Circe e Medeia (ibid). Os Romanos a transformaram, aliando-a
com Diana Triformus, e uma vez mais, compartilhada com Proserpina (Perséfone).
Picknett e Prince (1997: 85) relatam como Madalena é a forma por trás da
Virgem/Madonna Negra e como um arcebispo dominicano se refere à ela como ambos,
illuminati (A iluminada) e illuminatrix, papéis que lhe foram atribuídos dentro do
Gnosticismo. Lendas afirmam que no final de sua vida ela vivia em uma caverna no Sul da
França, previamente usada como foco de adoração a Diana Lucifera (a Illuminatrix). A
discutível sociedade secreta conhecida como o Priorado de Sião também venera a Madonna
Negra como a Notre Dame de Lumiere ou 'Nossa senhora da Luz ' (ibid: 101). Eles também
insinuam seu papel como o de uma sacerdotisa de Isis, uma hierodule sagrada e initiatrix
dos Mistérios - mas espere, Isis não está fora de lugar aqui? Essa associação não devia ser
com Hecate? Picknett e Prince (111) vão adiante ao relatar como nos Pirineus, na catedral
de St. Betrand-de-Commings, existe uma escultura que representa uma mulher alada e com
pés de pássaro, dando luz a uma figura dionisíaca, com reminiscências ao Green Man. A
mãe desta figura luciferiana é sugerida como sendo Lilith, e pode mesmo o ser. Mas
lembre-se que assim como Hecate, Brimo deu à luz a Brimos, o salvador. Também é
notável que lendas abundam dentro da região da Senhora Herodias, a líder da noite,
megeras e bruxas. Herodias é um freqüente pseudônimo de Hecate, que compartilha dos
mesmos totens, os animais noturnos. Além disso, pesquisadores franceses ligam Pedaque, a
Rainha das Bruxas de pés de ganso à “'Rainha de Céu” - e assim, por uma associação
moderna, à Isis. Contudo esse título é um epíteto mais antigo de Hecate, e os pés de pássaro
trazem à mente outra rainha associada com sabedoria e gnose: Sheba, a sacerdotisa Abisag
de Sunam do Rei Salomão.
Nos textos de Nag Hammadi, do Pistis Sophia ou Virgin of Light, Madalena é fortemente
associada com Sophia, a companheira de Deus - que é tanto a Palavra como a Sabedoria.
Os estudiosos agora acreditam que os fortes elementos de erotismo prevalecentes entre os
textos revelam a natureza verdadeira dessa relação. As serpentes sempre denotaram
sabedoria e estas também são totens de Hecate (Picknett & Prince 1997: 142-43): Sophia é
a juíza dos mortos, ainda outro papel muito mais atribuído à Hecate do que à Isis. Além
disso, foram os Cristãos Gnósticos (romanos) que identificaram Sophia com Isis. De seus
pontos de vista cultural, Isis se tornou a predominante "Rainha do Céu", usurpando várias
pretendentes mais antigas à este título. A imagem de Isis amamentando o jovem Horus
adquiriu por preempção a imagem da Madonna e sua Criança, adotada mais tarde pelos
iconógrafos Cristãos. Para os Romanos, Isis representava mais do que eles percebiam que
fosse a Mãe Universal, divorciada da morte e de todas as matérias impuras. Os romanos
espalharam a popularidade de Isis ao longo do seu império. Antes disso ela havia sido uma
das várias deidades egípcias femininas e menos importantes do que Nut, Neith, Maat e
Hathor. Enquanto sua popularidade cresceu, a de Hecate minguou. Assim denegrida como a
Senhora da Bruxaria e Feitiçaria ela se imortalizou, despojada de seu verdadeiro lugar
dentro da mídia popular e pública. Mas, em todo o sentido da palavra, Hecate foi ao
Inferno, onde seus mistérios continuaram a ser apreciados por todos aqueles que
conheceram suas verdadeiras origens.
Disfarçada como Sophia, seu papel como salvadora dentro dos reinos obscuros de filosofia
afetaram profundamente os eruditos, alertas às suas verdadeiras formas de illuminatrix e
initiatrix. Um estudioso medieval em particular reporta sua experiência tumultuosa com ela
em trabalho seminal de Gerhard Wehr, The Mystical Marriage (1990:77) “... Logo depois
de várias tempestades sentimentais, meu espírito atravessou os portões do Inferno para a
divindade nascida dentro de mim, e eu estava cercado por amor como uma noiva querida é
abraçada pelo seu noivo. Sobre o que é esse triunfo espiritual é algo que eu não posso
escrever ou falar. Não pode ser comparado com qualquer coisa exceto receber a vida em
meio à morte, realmente era como vida para alguém que se levanta dos mortos”. Palavras
proféticas, realmente, e aqueles que experimentaram tal envolvente elevação sentirão
facilmente uma empatia. Ainda além da beleza e filosofia da nobre Sophia, é Sophia
Prounicos a prostituta gratuita - e somente a partir dela a sabedoria é completamente
alcançada, uma fusão total do espírito magicamente transposto via ato sexual, o sacramento
definitivo, uma transe- formação completa de mente, corpo e espírito, iluminação e
completa gnose - o dom de Hecate, A Dama do "Caminho".
Picknett e Prince (1997:338-39) explicam como Maria de Betânia untou os pés e cabelos de
Jesus com óleo aromático; um ritual realizado somente por uma hierodule, uma sacerdotisa
que através desse ato proclama a “realeza” de Jesus. Sua soberania sagrada é executada
pelos ritos de “horasis” (toque divino), ou orgasmo de corpo inteiro, facilitado somente
através do sexo sagrado. Novamente, esses ritos sagrados eram realizados dentro de todas
as antigas escolas de Mistérios antigos pelas hierodules ao fazer Osíris o rei, assim como
Tammuz e Dionísio. Assim a prostituta se torna santa e o rei, divino. Esse ato sagrado
permite à completa e definitiva deusa (Hecate) se manifestar. Neste caso dentro de
Madalena, não como uma sacerdotisa de Isis, mas de Hecate. Ela é a Cara Amada, a
Madonna Negra - a deusa escura e terrível. Ao longo do tempo sua Magia seduziu, destruiu
e reanimou todos os que sucumbem ao seu abraço. Picknett e Prince (1997:430) enfatizam
que a Deusa Mandeana (seita gnóstica) Ruha, regente dos reinos das trevas, também é vista
como o Espírito santo.
Redgrove (1989:156) declara que Hecate é Maria- Lúcifer, o 'lumen naturae', a radiante
escuridão e iluminadora da alma. Hecate de três faces, a Dama da Psique, que fica na
encruzilhada de nosso inconsciente olhando as idas e voltas dentro de nossas vidas. Suas
funções cumprem um paradoxo de critérios; de cura, de destruição, de sabedoria, de
demência e de vida e morte (George 1992:145-47). Aqui, neste labirinto mental, nós
enfrentamos nossos demônios, nossas subversões negativas. Aqui ela nos desnuda de
nossas ilusões, eliminando todas as facetas que negam nossa inteireza. Ao amá- la estamos
amamos a nós mesmos... A revelação da Gnose verdadeira é a realização da Divindade
inerente de si próprio.
Bibliografia:
Goddess in World Mythology, M.A. & D. Myers-Imel (Oxford University Press 1993);
Mysteries of the Dark Moon, Demetra George (HarperCollins USA 1992);
Nightside of Eden, Kenneth Grant (Skoob Publishing 1996);
The Templar Revelation, Lynn Picknett & Clive Prince (Corgi 1997);
The Black Goddess and the Sixth Sense, P.Redgrove (Paladin 1989);
Horned Owl Library, R. von Rudolf (www.islandnet.com/~hornowl/libray/Hekate.html);
Egyptian Magick, E.A.Wallis Budge (Dover Publications USA 1971);
Gods of Ancient Egypt, Barbara Watterson (Branley Books 1999);
The Mystical Marriage, G. Wehr (Aquarian Press 1990) e www.hecate.org.uk/history.html
Mas a Bruxaria Tradicional existe sim, e ela é bem distinta do que é apresentado pela
maioria, e logo como tal ela é muito diferente da Wicca.
É com o intuito de apontar essas diferenças que este pequeno ensaio foi escrito, onde
apresentaremos alguns tópicos para mostrar as diferenças de práticas, costumes, crenças e
pensamentos que existem entre a conhecida Wicca e a não tão conhecida Bruxaria
Tradicional. Tais distinções são em certo ponto diametralmente opostas umas das outras, o
que vem a mostrar a singularidade de cada uma delas.
Devemos deixar claro antes de prosseguir que em momento algum estamos dizendo que
uma é melhor que a outra. Em momento algum estaremos invalidando o caminho espiritual
de qualquer pessoa, nem que uma é a Verdadeira em detrimento da outra. Cada caminho é
válido para seu praticante, desde que praticado com sinceridade. Este pequeno ensaio é
apenas uma coletânea de tópicos que visam demonstrar as diferenças citadas, evitando
assim errôneas citações comuns como “Bruxaria Tradicional é uma Tradição da Wicca” ou
“Bruxaria Tradicional é a Religião pura dos Celtas”, ou mesmo “Bruxaria Tradicional é a
Bruxaria mais Natural”; essas são algumas das muitas afirmações que são ditas diariamente
pelos meios de comunicação, mas que constituem inverdades sobre a verdadeira natureza
da mesma. Então, que fique bem claro que este autor não vem aqui escrever em detrimento
da Religião Wicca, muito pelo contrário. Este é um ensaio de esclarecimento, e da mesma
forma como Wiccanos sérios e sinceros não gostam de ver barbáries que muitas vezes são
praticadas sob o nome da Wicca, nós Bruxos Tradicionais também não gostamos de ver
praticas que nada se relacionam com nosso Ofício sendo classificadas como tal.
Este ensaio foi escrito como complemento de um ensaio prévio intitulado “A Distinção das
Três Artes” de meu querido Frater Settubal, e está redigido na forma de uma entrevista,
como um F.A.Q., onde diversas perguntas foram formuladas a respeito das distinções entre
as duas Artes citadas.
Não, somos considerados um Ofício e não uma Religião per se. É claro que do ponto de
vista do atual uso da palavra, qualquer forma de culto ou veneração está intimamente ligada
à religiosidade, mas não chamamos nossa Arte de Religião pelo motivo a seguir. Religião,
conforme a etimologia desta palavra provém de Religare, indicando uma “re- ligação” com
a/as divindade/s. Para a Wicca o homem precisa se re-conectar, se re- ligar com a
Divindade, criar um laço, um elo. Nós Bruxos Tradicionais não vemos a necessidade de
uma re-ligação, pois cremos que já nascemos totalmente conectados com nossas
Divindades Tutelares. Isso é muito expresso no conceito que temos de Sangue-Bruxo.
Como não temos a necessidade do “religare”, e este conceito não tem nenhuma função
dentro da Arte Tradicional, costumamos dizer que não somos uma Religião, e sim um
Ofício. A Bruxaria Tradicional é então, até certo po nto, uma forma de religiosidade se
encaramos o significado usual da palavra, como um “culto prestado a divindade”, mas se
desvincula totalmente da palavra quando esta é usada no sentido de “re- ligação”. Um
comentário a parte, mas de toda forma interessante, é que os Judeus têm a mesma visão,
não se consideram uma Religião, pois crêem que nunca estiveram afastados ou desligados
de sua divindade, não precisando assim de um “religare”.
É comum ver praticantes da Wicca afirmarem que toda Bruxaria é sinônimo de Wicca, e
que qualquer coisa que não se enquadre em Wicca não é Bruxaria. O que você diz a esse
respeito?
Vamos falar sobre a palavra „Bruxaria‟. Esta é uma palavra que pode ser aplicada para
diversos fins. Muitas pessoas querem “monopolizar” a palavra Bruxaria para que ela se
aplique somente as suas práticas de adoração, e tudo o que não se encaixa nisso afirmam
não ser Bruxaria. Isso é um grande erro. Apenas como exemplo simples e rápido, na
Nigéria temos o culto das Iyami, que em nada se assemelha com o culto da deusa e de seu
consorte, com as celebrações sazonais e lunares da conhecida Wicca; e mesmo assim este
culto é um culto de Bruxaria. Outro exemplo é a Kimbanda nascida no Brasil, culto de exus
e pombas-giras, que é um sistema que nasceu da influência da religiosidade africana
mesclada com a feitiçaria européia; aqui temos novamente uma forma de Bruxaria.
Olhando mundo a fora temos as mais diversas formas de culto que se enquadram na
terminologia “Bruxaria”, umas totalmente diferentes das outras, e nem por isso elas deixam
de ser Bruxaria. O grande problema que vejo no cenário atual são autores e pessoas
quererem monopolizar o termo somente para suas práticas, e isso é muito comum nos
meios Wiccanos, como se Wicca fosse a única detentora desta palavra; que fique claro que
Wicca não é sinônimo de Bruxaria. Ela pode se chamar de Bruxaria? Pode, claro. Mas ela
não é nem de longe a única forma. Um Wiccano pode afirmar de boca cheia que “aquele
ritual de exus não é Wicca”, e ele está 100% certo, mas ele nunca pode afirmar “aquele
ritual de exus não é bruxaria”, pois ai ele estará “monopolizando” um termo que não é
somente dele. É ai que mora o perigo.
Como Bruxo Tradicional, posso afirmar até certo ponto o que é e o que não é Bruxaria
Tradicional. Mas em momento algum negarei que o culto de Iyami, o culto de Kimbanda, o
Palo Mayombe, entre centenas de outras práticas não são Bruxaria, pois são. Não existe
monopólio desta palavra, exatamente por não poder haver generalização dela.
A Wicca é dividida em diversas vertentes que são chamadas de „Tradições‟. Cada uma com
suas práticas particulares, mas todas contendo certos pontos em comum, como a adoração
da Deusa. Como isso ocorre em Bruxaria Tradicional?
Bem, a Bruxaria Tradicional deve ser primeiramente definida. Entendemos por Bruxaria
Tradicional toda forma de Bruxaria diferentes da atual corrente da Bruxaria Moderna. Por
Tradicional também entendemos uma corrente que é transmitida de um ponto ao outro, sem
quebras ou interrupção, que mantém sua essência inalterada, mas que é fluída em seu
movimento para frente [1]. Tradicionalismo, como entendido por Bruxos Tradicionais, está
relacionado à transcendência unitária presente nas “religiões”, esta visão de unidade
transcendente também é chamada de Filosofia Perene [2].
Em Bruxaria Tradicional há também diversas vertentes, das quais os termos mais comuns
são Clã, Família ou Ponto de Poder. Cada Clã é considerado como realmente uma família, e
tem suas práticas próprias, liturgias, rituais e modos de interação com o mundo. Na
essência, todo Clã de BT carrega a mesma unidade transcendente, conforme já dissemos,
mas muitas de suas práticas podem variar diametralmente.
Enquanto na Wicca, diversas pessoas pelo mundo podem seguir a mesma „Tradição‟, mas
nunca se conhecerem, já que seus pequenos grupos (comumente chamados Covens) são
autônomos, não há uma centralização, e mesmo que diversos grupos da mesma „Tradição‟
possam ter relações mutuas entre si, isso não constitui uma regra, o que na Bruxaria
Tradicional é totalmente diferente. Todos num Clã, independente do número de pessoas que
existam nele, se conhecem e sabem quem são os membros de sua “famìlia”. É impossìvel,
por exemplo, que haja um grupo do Clã de Tubal-Caim na Inglaterra e outro grupo do
mesmo Clã nos Estados Unidos, e que membros do primeiro não conheçam os membros do
segundo. Exatamente como numa família, os membros podem estar distanciados por limites
geográficos, mas toda a família se conhece. Por isso costumamos chamar nossas famílias de
Ponto de Poder, pois diversos grupos, Conciliábulos, Conventos e Círculos podem existir,
mas todos giram igualmente em torno de um ponto central. Em Bruxaria Tradicional é
regra que essa centralização. Por isso também que algumas vezes os grupos de bruxos
pertencentes a um mesmo Clã são chamados de „Célula‟, pois os Clãs atuam em uma
estrutura celular, toda célula é sujeita a um ponto central, e tais “Covens” não são
independentes como ocorre na Wicca.
Não, de forma alguma. E isso é muito relacionado ao que disse acima. Dentro do sistema da
Wicca, qualquer membro Iniciado quando atinge determinado Grau de Iniciação é
considerado Alto sacerdote e Alta Sacerdotisa. Esse título também é usado na Wicca para
definir os líderes de um Coven. Na Bruxaria Tradicional o Magister (também conhecido
por Diabo) e a Dama são os líderes e mantenedores do Clã como um todo. Na Wicca, como
já foi dito, os Covens são autônomos, logo uma Alta Sacerdotisa e um Alto Sacerdote de
um Coven Wiccano também são autônomos e não devem satisfações para nenhuma
Autoridade Central. Na Bruxaria Tradicional, todos os membros e todos os Conciliábulos
estão sujeitos a Autoridade Central expressa na figura do Magister e da Dama. Cada
pequena Célula normalmente tem uma pessoa que atua no ofício de liderança, mas como
nossos grupos não são autônomos, mesmo esses lideres estão sujeitos a esta autoridade
central. Outra distinção que podemos dar é que, enquanto na Wicca dentro de um Círculo
quem guia e lidera é a Alta Sacerdotisa, em um Clã da Arte Tradicional esta liderança está
nas mãos do Magister e/ou do Líder Masculino da Célula, por diversas razões diferentes.
É visto que a Arte Tradicional fala muito sobre Sabbats. O que são os Sabbats para os
Bruxos Tradicionais?
Para a Wicca os Sabbats são rituais celebrados em datas pré-determinadas, oito vezes ao
ano, como festejos sazonais. Isso é completamente diferente na Arte Feiticeira Tradicional.
Para nós, o Sabbat não é uma data ou um ritual, e sim um local, um “ponto de encontro”,
aquilo que costumamos chamar de “a Encruzilhada”. Este local não é um lugar físico,
material, mas sim um local etéreo e espiritual que se localiza em um determinado ponto do
Plano Astral. Como tal, consideramos o Sabbat como o Ponto do Congresso; por Congresso
entendemos uma reunião entre diversos tipos de espíritos que se tornam um no Sabbat. O
Bruxo realmente “voa” até o Sabbat, em seu corpo espiritual comumente chamado de Fetch
(algo como “Duplo Astral”) e lá encontra com todo o Conclave dos Vivos e dos Mortos
Abençoados e Sábios da Arte. É no Sabbat que comungamos com nossos Deuses, nossos
Mortos e nos tornamos um com a figura divina central, o Diabo. Diversos são nossos meios
para o Ingresso no Sabbat, como o uso dos famigerados Vinum e Unguentum Sabbati,
filtros preparados com base em substâncias enteó genas, consumo de certos cogumelos
sagrados e técnicas de projeção em rituais, bem como o trabalho intenso da magia onírica
[3].
Você citou uso de substâncias enteógenas e consumo de certos cogumelos sa grados. Então
a Bruxaria Tradicional se utiliza de substâncias psicoativas?
Sim, sempre se utilizou e sempre irá se utilizar, pois são chaves de poder magicamente
potentes e insubstituíveis. É claro que não recomendo o uso de nenhuma substância
psicoativa por nenhuma pessoa que não tenha um profundo conhecimento do tema, e sem a
supervisão de alguém preparado. Tais “Sacramentos” como chamamos, são usados somente
em determinados momentos, para determinados fins, e totalmente de forma sagrada. Somos
contra o uso destas substâncias para o mero entretenimento, como as drogas recreativas.
Nosso respeito com os Genii de certas plantas e cogumelos é tão grande, como o respeito
que um membro do culto do Santo Daime tem com sua beberagem sagrada, e assim como
eles nunca permitiríamos o uso dos nossos Sacramentos por pessoas que visam meramente
diversão e entretenimento.
Você também cita algumas vezes os termos Deuses e o termo Diabo. Sabemos que a Wicca
procura uma forma de religiosidade baseada no Paganismo, de certo modo reconstruindo
cultos à deidades de panteões antigos. Como isso ocorre na Fé Sem-Nome? Bruxos
Tradicionais são Pagãos?
Não somos Pagãos. Nossa Fé e nosso Culto são baseados naquilo que chamamos Adoração
de Dupla Observação, ou seja, dentro de nosso sistema temos tanto elementos Cristãos
como elementos de algumas Escolas de Mistério Pagãs; há também elementos Judaicos,
que formam muito da estrutura de toda a Magia Ocidental, e sim, por mais que neguem até
mesmo a Wicca contém esses elementos, vide a Tradição Alexandrina da Wicca.
A Wicca se baseia num culto Duoteísta, onde todas as deusas de quaisquer civilizações são
facetas da Deusa Wiccana e o mesmo com os deuses masculinos. Algumas vertentes
Wiccanas inclusive consideram suas duas divindades como arquétipos, o que se relaciona
muito com a Psicologia Junguiana. Na Wicca também, os seguidores consideram a sua
Deusa como imanente, habitando em tudo, e deste modo sendo a principal divindade da
Criação e do Universo.
A Bruxaria Tradicional tem outra visão de divindade. Primeiramente, vemos que os Deuses
da Bruxaria são exatamente isso, Deuses patronos do Ofício das Bruxas, assim como os
antigos tinham um deus que era patrono dos ferreiros, já outro deus era patrono dos
guerreiros, e assim por diante. Cada divindade sendo individual, e regendo sobre um
determinado ofício; assim o Diabo é o deus patrono do ofício das bruxas em diversos Clãs
da Arte Tradicional, enquanto para outros a deidade patrona seria a Rainha de Elphame.
Isso é o que se costuma chamar de Divindade Tutelar, e para citar um exemplo, a divindade
tutelar do Clã de Tubla-Caim é Tubal-Caim, outros Clãs e Irmandades têm outras deidades
tutelares, e essas deidades não são vistas como “a mesma deidade com outro nome”, mas
sim deidades específicas. Há Clãs, como a Arte de Pickingill, que prestam adoração para a
Senhora Vênus e Quatro Deuses Chifrudos. Outros Clãs prestam adoração apenas para a
figura do Diabo, como o Bode Negro do Sabbat. Outros por sua vez adoram um panteão
com um número específico de deuses. A distinção também ocorre na visão de divindade,
pois enquanto a Wicca vê suas deidades como as supremas criadoras, conforme expus
acima, os Bruxos Tradicionais tendem a ver sua ou suas divindades como deuses regentes
da Arte da Bruxaria, e não deuses primordiais e criadores de tudo. Tomemos um rápido
exemplo na antiga Grécia, onde a divindade das Bruxas era Hécate pelo que nos conta sua
mitologia. Hécate não era uma deusa criadora do mundo ou do universo, ela era a deusa da
bruxaria, a deidade tutelar do ofício das bruxas, enquanto Hefesto seria a divindade tutelar
do ofício dos ferreiros. Tomemos o culto de Orixá como outro exemplo, cada Orixá é a
divindade regente de algo, como Ogun o regente dos ferreiros e da guerra, Yemoja
divindade regente do rio (e no Brasil também uma divindade dos mares), e assim segue.
Cada Orixá é único, e não múltiplas manifestações de uma mesma deidade. Então, assim
como há divindade dos ferreiros, divindade dos cavaleiros, divindade das artes, divindade
das plantações, há também certas divindades da Bruxaria.
Muitos ramos da Bruxaria Tradicional aderem a um foco de Mitos Luciferianos, então você
poderá encontrar Clãs que tem adoração a Azazel, a Lúcifer, a Shemyaza [4]. Outra visão
diferente é acerca do que chama-se “Sagrado Feminino”. Em Bruxaria Tradicional não há
enfoque nisso, pois para nós o Sagrado não tem sexo. Trabalhamos com o nosso Sagrado,
que independe de sexismos. Este conceito de “Sagrado Feminino” ou “Sagrado Masculino”
ou até mesmo, como vem surgindo atualmente, “Sagrado Homossexualismo” é totalmente
estranho para nós.
Exatamente, a Bruxaria é vista, nas sábias palavras de Robert Cochrane como a última
Escola de Mistérios sobrevivente no ocidente. Ela contém alguns elementos de fertilidade,
em suas práticas mais mundanas de feitiços, mas este não é o foco da Bruxaria Tradicional.
Principalmente do século XVIII para cá, a Bruxaria tornou-se cada vez mais uma Escola de
Mistérios que busca a Gnose, ou seja, a Sabedoria Divina que traz a Iluminação,
Iluminação esta que liberta seus adeptos das amarras da ignorância. Muito de Cristianismo
Gnóstico se assimilou a certas práticas de Bruxaria, e alguns grupos se consideram
buscadores de uma Gnose Luciferiana.
E sobre a questão da evocação dos Mortos? Quais as diferenças que se apresentam entre
ambas?
Este é o Mistério dos Bruxos, e não posso revelar muita coisa sobre o tema. Apenas que
para as linhagens da Arte Sem-Nome, este é um conceito que distingue os Bruxos dos não-
Bruxos, e está relacionado ao Atavismo que vem através de diversos fatores e encarnam em
um verdadeiro feiticeiro. É dito que o Sangue-Bruxo é a descendência Real de Caim ou
Seth, filhos do primeiro homem, Adão. Está também relacionado ao Mistério do Casamento
entre o Céu e a Terra, quando os Anjos Caìdos uniram sua semente com as “filhas dos
homens”, gerando assim uma raça hìbrida, parte humana, parte angelical, os Bruxos. Os
Anjos Caídos aqui estão também relacionados aos mitos ingleses das Fadas, e daí podemos
entender mais sobre o que é conhecido como “Sangue das Fadas”.
A Wicca contém códigos de ética baseadas na Lei Tripla e no Dogma que diz “Faça o que
desejar se mal nenhum causar”. A Bruxaria Tradicional tem algo similar?
Não. Cada Clã, Irmandade e Ponto de Poder tem suas próprias leis internas que dizem
respeito apenas para si próprios. Cremos que somos responsáveis por nossos atos, mas não
temos uma “Lei” que afirma que tudo o que é feito nos retornará. Sobre o Dogma da
Wicca, creio que a resposta de Robert Cochrane se aplica não só no Clã de Tubal-Caim,
mas acaba servindo como o pensamento de muitos outros Bruxos Tradicionais, que é “Não
Faça o que desejar, faça o que precisa ser feito”. Com base nisso, fazemos em nossos
círculos fechados tanto feitiçaria para fins benéficos, como para fins maléficos se assim for
realmente necessário, não temendo uma retaliação dos deuses, demônios e espíritos com os
quais trabalhamos.
É sabido que na Wicca existem duas formas de Iniciação ao Culto. A Iniciação tradicional,
onde um Iniciado faz o Rito com o Iniciante e normalmente tem 3 graus, e a auto- iniciação
onde a própria pessoa se inicia. Como isso funciona na Bruxaria Tradicional?
Bem, sei que na Wicca esse é um assunto que gera muita polêmica, pois alguns aceitam a
chamada auto- iniciação, enquanto outros são diametralmente opostos. Na Bruxaria
Tradicional não existe este tipo de conflito, pois as coisas são claras.
Auto-Iniciação é algo inexistente em Bruxaria Tradicional. Como alguém pode se dar algo
que não tem? Há sim uma modalidade conhecida na Arte e no Folclore europeu, mas que é
chamada de Iniciação Solitária, que é extremamente diferente de Auto-Iniciação. Por Auto-
Iniciação se entende que a própria pessoa irá se inic iar (ênfase no termo “auto”), algo que
não condiz com o Tradicionalismo e a transmissão de poderes e linhagens. Já, Iniciação
Solitária funciona da seguinte forma: o aspirante àquele empowerment em particular fará
uma série de ritos, e somente se os augúrios e sinais esperados destes ritos realmente
acontecerem a pessoa será então Iniciada pela divindade; ou seja, não depende apenas do
desejo da pessoa em se iniciar, fazer um ritual e pronto, mas sim de uma quantidade de
sinais e augúrios. Para ilustrar melhor isso, tomemos como exemplo o tão conhecido Toad-
Rite do folclore inglês. De um antigo artigo meu sobre Sapos e Bruxaria extraio o seguinte
parágrafo que explica de forma clara o que é uma Iniciação Solitária:
Complementando este parágrafo acima, mesmo o aspirante tendo conseguido passar por
todas as provações, e assim conseguir estar cara a cara com o Iniciador Chifrudo, o Diabo,
ainda assim não é garantida da Iniciação. Ele só será Iniciado e receberá os poderes do
Diabo após um combate com o mesmo, no qual o Mestre Negro tentará lhe roubar o osso.
O Mestre só lhe transmitirá o poder se o aspirante for determinado o bastante para manter
seu Toad-Bone Charme consigo até o final da Ordália [6]. Com este parágrafo que cita a
forma de obtenção da Iniciação Solitária dos Toad-Witches, creio que a distinção entre
Auto-Iniciação e Iniciação Solitária está mais do que explicada.
+++
Finalizando este ensaio sobre o quão distintas são as duas Artes, creio que não haverá mais
dúvidas aos simpatizantes e estudantes. Como disse no início deste texto, minha intenção
não é negar uma em detrimento da outra, mas sim apenas mostrar que são duas práticas
completamente diferentes, que carregam apenas o nome „bruxaria‟ em comum.
Amém.
[3] - Recomendo o ensaio Monasterium Unguentum Umbrae pelo Magister da Via Vera
Cruz, Azazayin.
[4] - Sobre este tema, o livro “Os Pilares de Tubal-Caim” de Nigel Jackson e Mike Howard
são de especial indicação, bem como o “Book of Fallen Angels” de Mike Howard. Ambos
autores Bruxos Tradicionais conhecidos.
[5] - Para um conhecimento mais profundo deste tema, sugiro a leitura do artigo de
Azazayin, Magister da Via Vera Cruz, intitulado “O Sangue dos Mortos”.
[6] - Recomendo a leitura do livro- grimório One, the Grimoire of the Golden Toad, de
Andrew Chumbley, para melhor compreensão da Iniciação Solitária dos Bruxos-Sapos.
"Em seu mais básico aspecto a corda atada pode ser descrita como aquele que permite nos
mover de um ponto a outro, ela nos lembra que começamos o caminho em um ponto (ou
nó) e terminamos em outro, totalmente diferente... eles pode m estar separados mas estão
conectados.”
SHANI OATES
Me considero suspeito para falar de escadas bruxas, pois já tanta coisa por ai que minha
cabeça já está tonta. Contudo desenvolvi uma forma de acessar esse mundo onírico das
bruxas. Esta escada também tem um ponto que eu gosto, eu também uso ela para proteção,
causar loucura e as ditas 'amarrações', bastando alterar sua intenção, feitiçaria pura.
Contudo vou lhes passar uma corda que pode lhes servir de escada para o mundo onírico e
rosário, dedicado ao espírito da deusa bruxa Hecate.
Você precisará de cordas (ou fitas) nas cores verde, preto e vermelho, a corda deve possuir
a sua medida, para isso meça, com a corda, do alto da sua cabeça até a ponta de seus pés, e
ali corte as cordas. Comece este rito na Lua Nova.
Primeiro vamos ao trançar a corda, isso requer prática, que tal treinar? Durante o
trançamento você deverá entoar uma cantiga que fala do mistério das cordas e meditar nas
transformações:
Agora chegou a hora de fazer nove nós, que são os nove nomes de Nossa Senhora. No
Compasso da Arte Mágica, sentado ao centro e mirando ao norte, acenda uma vela e ao
lado coloque um copo com leite e gotas de seu sangue chame aos Ancestrais e a divina
Hecate Adonaia, a Deusa das Chaves e Segredos, para dividir de sua oferenda de Sangue e
Leite e testemunharem seu ato.
Siga o rito repetindo as palavras abaixo de acordo com nó, não se esqueça que isto é pra
memorizar, ou pode criar uma rima própria,essa rima pode conter os nove nomes de
Hecate, como no original que realizo, mas por motivos de que sei que vocês podem tomar
algumas decisões próprias eu dou a vocês uma rima bem fraca:
1° Nó: Com Um eu começo, no caminho de Ingresso
2° Nó: Em Dois eu me divido, chamo à Rainha de todos os Espíritos
3° Nó: De Três em Três, Diavolo Diavolo
4° Nó: Quatro com Quatro! Eia Rei Diabo!
5° Nó: Ao Caminho de Vênus o quinto nó dedico!
6° Nó: Com Seis eu vos chamo, Espíritos das Estrelas!
7° Nó: Ao Sete qualifico os Antigos!
8° Nó: No Oitavo chamo ao Bode e à Serpente
9° Nó: Pois no Nono termino, de volta ao Reino Antigo!
Medite. Sem pressa alguma, este é um momento de percepção onde você deverá reconhecer
o Caminho da Escada, sempre para através dos tempos, acima, para cima, como numa
espiral ascedente. Deixe os detalhes aparacerem para você, pois se for permitido a ti este
conhecimento eles se revelarão a você. Ao último nó, amarre o cordão em sua cintura, a
altura do umbigo, e diga:
Ficará com o cordão por uma semana, ou seja, até a Lua Crescente (lembre-se de perguntar-
se qual a relação entre o Ciclo da Lua e as etapas da Escada. Chega a Lua crescente retire o
cordão e guarde em uma caixa de madeira, pintada de preto e com o Signo de Saturno
desenhado ao lado do Signo de Vênus, em cima da caixa. Dentro, coloque ali uma flor de
significado em sua Arte, pessoalmente usei uma flor de trombeteira (trombeta do diabo,
datura stramonium / datura suaveolens). O leite e sangue utilizados na oferenda deverá ser
derramado sobre as raízes frondosas de uma árvore que tenha escolhido. Não se esqueça de
agradecer. Ingratos não atingem muitas coisas.
A caixa deverá ficar fechada até a Lua Cheia, sendo que três dias antes da Lua Cheia você
tomará a cada dia um banho especifico. No primeiro dia você tomará um banho para
purificar-se de influências negativas. No segundo dia tomará banho de Angélica (angelica
officinalis) para aproximar os espíritos dos Ancestrais. E por fim, no terceiro dia você
tomará banho com sete folhas ou flores de Trombeta-do-Diabo, para propiciar seu corpo
onírico na viajem pela Escada. Para cada banho faça uma oração de acordo com a
necessidade (este banho deverá ser tomado antes de dormir). Se possível é melhor colher as
ervas frescas.
Chegado o dia de Lua Cheia, ao crepúsculo deste dia, faça um altar com uma vela e uma
taça de vinho tinto (ou cerveja), se possível queime um incenso, e coloque a caixa frente a
estes implementos. Abra a caixa e olhando para a Escada ore em voz alta aos Espíritos de
Teu Sangue, aos Deuses da Arte Bruxa. Para isso você pode dizer as seguintes palavras:
Poderes da Corda de Meu Sangue!
Tu és o cordão umbilical que liga a Vida com a Morte
e a Morte com a Vida!
Ouça o Som de minha Voz!
Levantem! Poderes da Corda!
Espíritos Atados! Ergam-se!
Do Nascimento ao Amor!
Do Amor à Maternidade!
Da Maturidade à Sabedoria!
Da Sabedoria até a Morte!
Amarre novamente a corda em sua cintura e aguarde a luz da vela se extinguir, observe o
mundo se tornando escuro enquanto bebe do vinho que divide com os Espíritos da Corda,
beba e assista este banquete de silêncio e beleza, até o fim da bebida e da vela. Se possível
a meia noite vá para um lugar onde tenha luz da lua e realize novamente uma ultima oração
de gratidão.
Sua Escada está pronta, partindo daqui você deverá meditar na corda e descobrir seus
poderes. Com o tempo que fiz esta prática esses momentos mágicos do Sonhar
aumentaram, tornaram mais vivos os encontros na meia noite dos mortos. Como disse no
inicio, esta não é uma legitima escada, vinda de bruxas antigas, é a minha escada, enquanto
não acho uma boa receita, essa têm valido a pena.
GRIGORI HOKMA