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A Arte Hoje - Bruxaria Tradicional

Olá Peregrinos!

Hoje trago a tradução do ensaio "The Craft Today" de Roy Bowers, mais conhecido como
Robert Cochrane, o falecido Magister e fundador do The Clan of Tubal-Cain. Este ensaio
foi publicado originalmente em novembro de 1964, na revista Pentagram.

É interessante notar que, quase 50 anos após este ensaio ter sido escrito, ele se mantém
extremamente atual, tratando de temas que podemos observar claramente aqui no Brasil nos
dias de hoje.

Desejamos uma boa leitura!

A Arte Hoje
por Roy Bowers (a.k.a. Robert Cochrane)

Bruxaria, de acordo com aqueles que são


bruxos modernos, é a Arte dos Sábios. Uma
simples crença pagã, repleta de tradições
antigas que são apelando, virtudes simples, e -
se formos acreditar em seus detratores - alguns
vícios antigos. De acordo com informações
adicionais é uma religião tradicional baseada
num conceito excessivamente simplificado dos
trabalhos da Natureza. Ela é, por conclusão de
seus rituais conforme reportado, uma tentativa
de subornar a Natureza por várias ações e
crenças num estado maleável, de forma que a
Natureza funcionará de acordo com as
necessidades do coven, e o que o coven acredita
servir para sociedade em geral, ao invés da
Natureza funcionar em seu próprio caminho
doce. Se formos acreditar nas várias entrevistas exibidas pela televisão e jornais, isto tem
um efeito não na Natureza, mas na bruxa, já que existe uma informação de uma bruxa que
alegou acreditar que o sol não nasceria novamente se ela não executasse se us rituais.
A faceta interessante a ser ganha de tais chamas de publicidade é que parece que a Arte
rapidamente se tornou uma válvula de escape para todo aquele que deseja retornar a uma
forma mais simples de vida e fugir do fardo sempre crescente da sociedade contemporânea.
Em muitos casos a Arte se tornou um local de refúgio, no qual aqueles que não foram bem
sucedidos em resolver vários problemas pessoais escondem-se, enquanto a tempestade de
tecnologia, bombas de hidrogênio, e todas as outras guloseimas da civilização passam
inofensivamente por cima de suas cabeças.

A Bruxaria Moderna pode ser descrita como uma tentativa do homem do século XX negar
as responsabilidades do século XX. É uma crença segura e ingênua que a Natureza é
sempre boa e amável. Também é uma crença, ou assim parece ser, de que se você
pessoalmente pode ir ao contrário à evolução do pensamento, então talvez o resto do
mundo pudesse seguir o exemplo. Boa o suficiente, a Arte é todas as coisas para todos os
homens, se ela for uma simples crença panteísta para aqueles que acham isto, assim ela se
tornou, já que os Mistérios foram evoluídos a todos os homens, e o Homem foi evoluído
aos Mistérios. Qual das necessidades guia alguém a perguntar o que os Mistérios são?

Todo pensamento místico é baseado numa premissa importante: a compreensão da verdade


como oposta à ilusão. O estudante dos 'mistérios' é essencialmente um pesquisador atrás da
verdade, ou como as tradições antigas descreveram- na, a "Sabedoria". A Magia é somente
um subproduto da procura pela verdade, e possui uma posição inferior para a verdade.
Magia, que é o desenvolvimento da vontade total, é um produto da Alma em sua procura
pelo conhecimento final. É uma reflexão tardia num assunto muito maior, a habilidade de
usar uma força que foi percebida enquanto se procura por um objetivo mais importante
dentro do próprio eu. Nenhuma verdade esotérica genuína pode ser escrita ou colocada
dentro de um quadro intelectual de pensamento. As verdades envolvidas devem ser
participadas durante a compreensão da alma. A verdade deste grau não está sujeita ao
pensamento empírico e é somente aparente ao olho do observador, e para aqueles que têm
seguido um caminho semelhante de percepção. Ao longo da história da humanidade
existiram mitos, escolas de sabedoria e professores que mostraram um caminho para se
atingir um conhecimento de trabalho do pensamento esotérico e filosofia usando a
conclusão em lugar de método direto para instruir as abordagens para a verdade cósmica. O
segredo destes Mestres não tem nada a ver com proteger os Mistérios, já que tudo que pode
ser dito sobre os Mistérios já foi escrito no folclore, mitos e lendas. O que não está
publicada é a explicação. Era reconhecido que estas lendas, ritos e mitos eram as estradas
através de muitas camadas de consciência para a área da mente onde a alma pode existir em
sua totalidade. Isto e suas disciplinas e ensinos circundantes se tornaram o que o Ocidente
descreve como os Mistérios. Os Mistérios são, em essência, meios pelos quais o homem
pode perceber sua própria divindade inerente.

Durante a perseguição, os aderentes do sistema de Mistério foram escondidos e juntaram


forças com as crenças aborígines da massa, e assim se tornaram parte da Bruxaria
Tradicional. Os séculos passaram e o significado atrás de muitos rituais foram esquecidos,
ou encaminhados para uma observância supersticiosa da Natureza elementar. Muitos dos
velhos rituais que sobreviveram ficaram ossificados e repetidos por hábito, em lugar de pela
compreensão. Conseqüentemente eles ficaram estáticos e distantes de seu propósito
original, que era iluminar o seguidor espiritualmente. No que geralmente se passa como
Bruxaria hoje, existe tanta ilusão e desejo não resolvido como existe no mundo exterior.
Nos círculos fechados de alguns covens existe grande fanatismo e dogma maiores do que
existem em muitas seções da moribunda Igreja Cristã. Muitos bruxos parecem ter virado
suas costas para a realidade do mundo externo e ficam contentes em seguir, a moda de
papagaio, rituais e crenças que eles sabem que têm pouca ou nenhuma relação com o século
XX e suas necessidades. Não existe nenhum motivo para uma religião de fertilidade na
Europa desde o advento do arado de relha no século XIII, a descoberta da ceifa, procriação
seletiva de animais, etc. Alegar, como algumas bruxas fazem, que há uma maior
necessidade do mundo para a fertilidade da mente do que antes é subestimar fatos gerais, já
que a Europa Ocidental moralmente e socialmente avançou mais sem a Velha Arte e suas
superstições serventes do que já fez com elas.

O valor da Velha Arte hoje é aquele no qual jazem as sementes da Antiga Tradição de
Mistério. Através disto o bruxo pode perceber os inícios daquela sabedoria final,
conhecimento deles mesmos e de seus motivos. Os Mistérios genuínos estão abertos a
todos, porque alguém tendo experiência suficiente pode entender aquela Mensagem básica.
Fechar a mente humana a fim de proteger isto de circunstâncias externas que são hostis, não
é um caminho para descobrir aquilo dentro de si mesmo que é mais profundo, mas um
retorno a uma mãe claustrófóbica que eventualmente sufocará a criança. Se, como é
alegado, os Deuses são amáveis e Eles são todas as coisas, então por que o bruxo do século
XX corre tão rapidamente para longe deles na prática da "velha Arte antiga"? Na tradição
supersticiosa fossilizada existem segredos profundos escondidos, segredos dobrados dentro
das crenças e ações mais medíocres. Estes grandes segredos, segredos da alma e do destino,
são somente aparentes na luz aberta, não no mundo ilusório da Ye Olde English Wiccen. Se
os bruxos devem sobreviver, então a religião deve sofrer algumas mudanças violentas e
radicais. Mudanças que abrirão o ritual para exame, de forma que o conteúdo espiritual
possa ser claramente visto. Mudanças que devem chutar mais muitas vacas sagradas para
ver se estas vacas velhas ainda dão leite. A filosofia inerente da Arte sempre foi fluida, e
fluida deve se tornar novamente antes de seu último sopro ofegante sob uma pilha de tolice
bolorenta, teologia e filosofia meio assadas. Os bruxos não podem mais retroceder no
mundo, não há lugar para nós nesta sociedade a menos que tenhamos algo válido para
oferecê- la, e participar em sua evolução social.

Tradução: Draku-Qayin

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Arthame - O Coletor de Sangue

O Arthame, Arthana, Artanus, Arthany, Artavo, ou como é mais popularmente conhecido,


Athame, é a Faca de Conjuração do Feiticeiro. É basicamente, uma faca de fio duplo
afiado, de cabo negro.

A primeira aparição do termo é encontrada no famoso grimório medieval Clavicula


Salomonis (As Chaves de Salomão), e é para ele que devemos nos voltar para realmente
conhecer este Instrumento da Magia, ao contrário das suposições errôneas que são
veículadas à grosso modo.

A origem do termo é incerta. Alguns dizem que o termo provém do grego Athanatus,
"Aquele que não morre", mas parece que essa origem é incorreta. Andrew Chumbley, por
sua vez, traça a origem da palavra para o termo Adh'amme ou Al-dhamme, uma faca ritual
utilizada pelo culto feiticeiro marroquino conhecido como Dhu'lqarneni. Adh'amme
significa literalmente "Coletor de Sangue"; tal origem do termo é também defendida pelo
conhecido escritor e ocultista Idres Shah. Uma terceira origem para o termo, diz que ele
vem do latim artavus, significando "faca de pena", sendo uma pequena faca utilizada para
afiar as penas dos escribas. Tal termo é bem atestado no latim medieval, embora não seja
uma palavra comum. Esta última terminologia é também atestada pelo grimório já citado.

Independente da origem do termo, fica claro que sua primeira aparição textual ocorreu no já
citado grimório medieval Clavicula Salomonis, e este grimório é sem a menor sombra de
dúvidas um referencial para toda a Magia Ocidental, desde as Ordens Herméticas, Guildas
de Magos, Religiões Neopagãs e Irmandades de Bruxaria Tradicional; mesmo que alguns
grupos neguem veementemente tal influência e origem, tal indicativo histórico é inegável.
Até mesmo o traçado de Círculos Mágicos utilizando um punhal de cabo negro, como
utilizado por diversos grupos hoje em dia, tem sua origem nesta importante gramática.

Seu é o poder da Conjuração, e seu significado interno na Arte Sábia está ligado ao
Sacrifício. Sua lâmina de fio duplo, é como a Língua Bifurcada da Serpente, onde habitam
as correntes que tanto libertam das amarras, quanto destroem. Mais intimamente, a
extremidade dupla do Arthame relaciona-se à "Adoração por Ambas as Mãos" dos
Feiticeiros, bem como o caminho de subida e descida; e seu caminho duplo leva até a ponta
da lâmina, a Unidade, a união de todas as dualidades. A ponta da lâmina é assim, o foci do
Intento e do Desígnio do Feiticeiro.

Em algumas vertentes da Arte Sábia, o Punhal Sagrado é a representação divina da lâmina


do arado de Caim, a arma com a qual ele assassinou seu irmão Abel, fazendo assim o
primeiro verdadeiro Sacrifício, e à nivel mais profundo, o assassinato de sua própria
consciência profana, para o despertar do Fogo Serpentino Interno. Assim, o Arthame é o
Instrumeto da Ressurreição e do Exílio.

Como Regalia de Conjuração, seu mistério reside no Chamado e Controle de diversos tipos
de espíritos, e ele encerra o poder de cortar o ar sutil da Área Ritual, cortar varas e bastões
sagrados da Arte, traçar signos de Chamado e de Envio, comandar espíritos indóceis e
principalmente para cortar a carne e extrair as oferendas de sangue. Deste modo, seu nome
como o "Coletor de Sangue" é extremamente apropriado. E é por este motivo que, ao
contrário do que pregam muitos autores modernos, sua lâmina deve sim ter o fio afiado.

É também dito no saber da Arte, que o Punhal Sagrado é a hipóstase da Grande Lâmina
forjada nas forjas de Tubal-Caim, nos fogos de Tubalo, a lâmina vinda da materia prima
estelar caída na terra e transmutada pelo Mistério da Forja.

De acordo com as Chaves de Salomão, o punhal de cabo negro deve ser gravado com
alguns símbolos em seu cabo e em sua lâmina, então, para sua Consagração, sua lâmina é
colocada no fogo até ficar em brasa, por três vezes, e em cada uma delas, deve ser resfriada
numa mistura de sangue de gato preto e sumo de uma espécie de cicuta (Conium
maculatum). Após isso, o punhal é fumigado e aspergido devidamente, juntamente com as
palavras corretas de Consagração, e por fim ele é envolvido num pedaço de seda negra; isto
deve ser feito no Dia e Hora de Saturno. De acordo com o grimório, este punhal é usado
para fazer os círculos da arte mágica, e para promover medo e terror nos espíritos.

O Arthame está sob o aegis do Daemon que preside sobre todos os atos de Sacrifício, e é
para este Daemon que o Instrumento deve ser primeiramente dedicado.

É aqui que presenteio aos Peregrinos um Encantamento da Lâmina, que poderá ser usado
para a dedicação e consagração deste tão famoso, e tão mau compreendido, Instrumento da
Arte Mágica.

Um Encantamento para a Sacralização do Arthame


por Draku-Qayin

Santificado sê Tu, Oh Arthame Sagrado da Arte do Feiticeiro.


Do Metal caído das Estrelas és tua Origem, e nas Chamas de Tubalo ocorre tua
Transformação, para te tornar na Sacrossanta Arma do Sacrifício do Profano.
Santificado sê Tu, Oh Arthame de Caim.
Oh Tu, o Coletor do Sangue,
Instrumento Primal que fez o Sangue do Profano alimentar a Boa Terra aos meus pés.
Santificado e Amaldiçoado sê Tu, Oh Instrumento de minha Vontade, Desejo e Crença.

Por meio de Ti, que toda Forma seja Sacrificada para se tornar Força.
Por meio de Ti, que toda Força possa ser reunida para se tornar Forma.
Pelo Caminho de Subida e Descida, o Axis Mundi, sê Tu o Ponto Único de Nosso Intento.

Oh Lâmina Caída dos Céus,


Em nome de teu daemon, possa o Sopro do Dragão ser conferido em Ti.

Consagrado sê Tu pelos Fogos Estelares e pelo Véu Escuro do Firmamento.


Honra e Louvor sejam prestados para Ti, Oh Decepador e Desatador.
Una-me à Mente de Deus, assim como teu duplo fio se une em tua ponta.
Agora e sempre, teu Poder na Unidade dos Céus.
Yud, yud, yud (mantrar vibrando, visualizando a lâmina em chamas)
Liberta-me de todas as amarras Profanas.
Inicia-me nos Mistérios mais Profundos.
Lavo-te nas Águas dos Quatro Rios do Éden, possa Tu nos levar à Mente Perfeita.

Oh Prego que Nunca Esfria! Tomador do Juramento mais Íntimo no Ádito do Antigo.
De Metal, Madeira e Ossos.
És Tu quem abre amplamente os Portais,
És Tu quem atrai a Luz das Estrelas,
És Tu que Convocas, que lanças e que expulsas.

Tomador de Sangue, Iconoclasta, Empalador do Céu e do Inferno,


Lâmina colhedora do Diabo, abridor dos Caminhos da Encruzilhada,
Chave para Todos os Reinados,
Dente Afiado do Grande Dragão!
Guarra Perfuradora da Carne e do Vácuo!
Que de tua ponta possa pingar uma única gota de Néctar e uma única gota de Veneno.
Sê certeiro como o bote da Serpente!
E aqui sê Consagrado ao Serviço da Arte Feiticeira - pelos Fogos dos Céus, pelas Águas
da Criação e pela Verdadeira Cruz no centro do Grande Sabbat.

Conforme eu digo, que assim seja feito!


Amém +

+++++++
O Forcado: o Mastro Bifurcado do Diabo -
Bruxaria Tradicional
por Draku-Qayin

Este é talvez um dos mais bem conhecidos Instrumentos de


Trabalho da chamada Bruxaria Tradicional, o Forcado, Mastro
Bifurcado ou Estaca, como também é conhecida esta Regalia.

Ele é o Cetro da autoridade divina do Mestre da Encruzilhada, e é a


representação fetichistica e imagem visível do Senhor Chifrudo. É
o Bastão Sagrado do Mestre Andarilho, Caim, e é o recipiente que
guarda a força espiritual do espírito totêmico Chifrudo em suas
manifestações como o Carneiro, o Veado, o Touro e o Bode.

Utilizado desde longa data em diversas vertentes da Arte


Tradicional, seu uso se tornou mais conhecido pelo público nos
escritos de Evan John Jones, antigo Magister do Clan of Tubal
Cain, e acabou sendo introduzido nas vertentes modernas de
Bruxaria, do qual não fazia parte inicialmente.

O Forcado é em si uma longa vara de madeira com uma


terminação bifurcada, tendo normalmente um prego ou outro
objeto de ferro preso no meio de sua bifurcação. Diversas são as madeiras utilizadas na
confecção de um Forcado tradicional, dependendo do uso específico que tal objeto terá no
Cuveen ou para o praticante solitário. As madeiras mais comuns para Forcados de uso
genérico são o Freixo, o Carvalho, o Teixo, e em alguns casos o Abrunheiro (Blackthorn) –
sendo esta última madeira utilizada para Forcados de Ritos de Maléfica. Por experiência
pessoal, aqui em nossa bela terra de Vera Cruz, a madeira do Eucalipto serve muito bem
como matéria prima para a confecção deste Instrumento.

Assim, o Forcado carrega duas atribuições primarias de uso, servindo como Altar e Ídolo
do Mestre das Bruxas, e também servindo como Bastão e Cetro da Autoridade do Magister
dentro de um círculo de Iniciados. É dito na Tradição que, na ausência de uma pessoa
merecedora de portar a “Máscara do Diabo”, isto é, de exercer o ofìcio de Magister, o
Forcado será utilizado como ícone visível do Mestre e Líder.
Uma Cruz com a Chama - Villa
Draconis, M G

Como Altar, normalmente o Forcado é fincado no solo, na extremidade Norte do Acre-do-


Sangue[1], ou no centro da área ritual, tradicionalmente com o Crânio Humano consagrado
jazendo aos seus pés, e com os demais instrumentos do ritual a sua volta. Uma vela
costuma ser acesa na bifurcação da forquilha, representando assim a Chama da Sabedoria, a
Tocha Iluminada entre os chifres do Mestre, e a Chama Espiritual de transmissão do
Sangue-Bruxo. Libações são derramadas no ponto onde o Instrumento e a terra se unem.
Em muitas cerimônias, os Iniciados ao adentrarem o Círculo, carregam uma vela apagada
em mãos, e um a um, fazem uma saudação ao Forcado e acendem suas velas na chama que
foi acesa inicialmente entre seus chifres, um simbolismo de Honra e Reverência para a
Fonte de Luz, representando também o recebimento da Luz da Sabedoria pelo bruxo
diretamente da Deidade.

Num nìvel mais interno, o Forcado simboliza a “corrente dupla”, bem como a Dupla
Observação dos Bruxos, e aqui ele também se relaciona com a forma totêmica da Serpente.
Sim, seus dois dentes representando aqui as duas serpentes gêmeas do caminho, a Serpente
do Archote e a Serpente do Relâmpago. Analisando por este simbolismo interno, é possível
associar o Forcado com o instrumento de Mercúrio, o Cajado conhecido como „Caduceu de
Hermes‟; esta relação é interessante, tendo visto que Mercúrio é o Patrono dos Magos e
Feiticeiros. Sabemos que um dos atributos do Diabo é como o Psicopompo, ou o Guia das
Almas, e esta atribuição é dada desde longo tempo ao famoso deus Greco-Romano Hermes-
Mercúrio.

Dentro da estrutura de Cuveens, é costume transmitir o Forcado do Magister, de geração a


geração, para um novo membro indicado para este Ofício.

Guirlandas de Flores, Folhas e Sementes costumam decorar o Forcado, dependendo do


ritual e da estação do ano no qual uma cerimônia é realizada. Flechas cruzadas também
costumam ser penduraras no Mastro, dando assim ênfase ao aspecto do espírito do Rei
Caçador.

O prego fincado na bifurcação tem uma dupla relação; a primeira é aquela encontrada no
folclore de algumas regiões da Europa, onde o ferro inibe que o Poder se perca do
Instrumento. A segunda, é que o prego representaria a Estrela Polar (atualmente Polaris, a
Cauda da Ursa Menor) que marca o eixo da Terra, assim é fácil entender o Forcado como
um representante fixo do Axis Mundi, servindo como uma „ponte‟ entre os Mundos
Empìreo, Terreno e Infernal. Se uma „escada de nós‟ é pendurada no Forcado, esta relação
aumenta, e o Instrumento passa a servir literalmente como um meio para a manifestação
dos espíritos, similarmente como o Poteau Mitan de um Hounfor de Vodou Haitiano, que é
um mastro central no local das cerimônias que serve como ponte aos espíritos.

Finalmente, o Forcado representa a Cruz do Sacrifício, onde o Deus Sacrificial é morto para
a sobrevivência de seu povo; este tema se repete em diversas culturas antigas, e atinge sua
apoteose na história do Cristo sacrificado na Cruz. Para a Irmandade de Bruxaria
Tradicional conhecida como Via Vera Cruz, o Forcado e a Cruz Tau carregam este
simbolismo místico.

Exemplos de Forcados utilizados na Cornish Traditional Witchcraft

Um Ritual para a Construção de um Forcado

O Peregrino Solitário, desejando por meio da arte e estética da Bruxaria, construir um


Forcado para agir como o Ícone Visível do Diabo em seus ritos, pode agir da seguinte
maneira.

Num dia e numa hora diurna de Mercúrio, quando este estiver dignificado nos céus, deve o
buscador entrar no reinado da Floresta Verde, e lá, pela escolha prévia ou pelo guia de seu
espírito familiar, se dirigir até a árvore de onde tomará o ramo para seu Instrumento, um
ramo belo e frondoso que deve conter uma terminação bifurcada. Com o auxílio de seus
instrumentos de corte, como um bolline ou uma foice, deve ele cortar o ramo escolhido,
num único golpe, e em agradecimento ao espírito da dríade, oferecer uma gota de seu
próprio sangue no ferimento causado na árvore pelo corte do galho. Mel, vinho e leite
podem também ser ofertados aos pés da árvore, como um sinal de reconhecimento e
respeito.
O feiticeiro então levará o galho escolhido para sua alcova, e lá o preparará de acordo com
a estética única da Arte. Lixará sua madeira, pintará ou esculpirá os sigilos de sua Arte na
extensão da vara, e envernizará seu instrumento com resinas naturais e perfumadas.

Ele então guardará o objeto até a noite do Solstício de Inverno, quando sairá para o campo
próximo à meia-noite, e fincará o Mastro na Boa Terra. Lá, quando o Sol atingir seu ponto
mais baixo, o feiticeiro fará inicialmente uma oferenda para os espíritos daquela terra e para
seus próprios Mortos Poderosos e Ancestrais, e então encravará um prego de ferro na
extremidade bifurcada da vara, tendo em mente que este ato estará trazendo para seu
instrumento a potência estelar da “Estrela-Prego”.

Ele então fumigará o objeto com a fumaça de ervas doces e resinas sagradas, oferecerá um
pouco de vinho tinto misturado com leite e mel aos pés do Forcado, e retirando seu próprio
sangue do dedo anular da mão esquerda, o oferecerá nos dois chifres, na extremidade
bifurcada e na base do Instrumento.

Tendo assim feito, ele tomará uma corda feita de couro ou algodão, com a sua própria
medida – da cabeça aos pés – e nela fará oito nós, cada um em homenagem a um dos
pontos do Compasso dos Bruxos. Ele então enrolará esta corda ao redor do Forcado, e
proseguirá recitando o seguinte Encantamento:-

“Sagrado és Tu, Oh Poderoso e Grandioso Forcado,


Ícone Visível do Mestre Chifrudo da Encruzilhada.
Sagrado és Tu, feito de (nome da madeira escolhida) e elevado como o Altar do Mestre
Diabo!
Abençoado és Tu, que carregas entre teus Chifres o Prego que Nunca Esfria!
Abençoado és Tu, que carregas entre teus Chifres a Tocha da Sabedoria!
Abençoado és Tu, que carregas entre teus Chifres a Chama do Sangue-Bruxo!
Eu, (nome), te abençôo e te amaldiçôo!

Ouvi todos vós, espíritos desta terra, e daí testemunho a estas minhas palavras de
conjuração, pois nesta noite do Sol Enegrecido, eu convoco o Diabo, Mestre e Guia das
Bruxas, para habitar dentro deste objeto sagrado da Arte.

Ouvi todos vós, Mortos Poderosos, e por vosso auxílio concedei Poder para este Cetro da
Arte!

Sê Tu como o cajado de peregrinação de Caim, para que eu possa ter firmeza em minha
caminhada, e para que eu possa abrir o caminho diante de mim!
Sê Tu como as Serpentes Gêmeas da Criação e Destruição!
Sê Tu como o Dragão, Glorioso nos Céus e nos Abismos!
Sê Tu como os espíritos do Carneiro, do Touro, do Veado e do Bode, para olhar
atentamente sobre os Quatro Caminhos da Encruzilhada!
Sê Tu uma ponte para os espíritos acima e abaixo!
Sê Tu a Verdadeira Cruz do Sacrifício e do Renascimento!
Tua é a Chama eterna da Iniciação, transmitida de geração para geração, do primeiro ao
último morto do Sangue-Bruxo.
Teu é o Poder de Conjurar e Comandar os espíritos.
Tua é a bênção que se espalha por esta terra.
Teu é o Poder, Oh Cajado do Andarilho Noturno!
In Nomine Qayin! Amém + “

Então, acenda uma vela no topo do Forcado, no meio de seus chifres, cuspa três vezes no
solo, no ponto onde ele está enterrado, como uma oferenda final, e contemple a chama que
brilha entre os Chifres do Mestre.

Adicionalmente, se desejado, comungue com os espíritos do local, compartilhando entre si,


a terra e o Forcado, um pouco de pão fresco e vinho.

+
Nota [1]: Acre do Sangue, ou Blood-Acre, é um termo comumente usado em algumas
vertentes da Arte Tradicional Inglesa para designar o Círculo Sagrado, ou área ritualística.

O Bastão dos Bruxos - Bruxaria Tradicional


por Draku-Qayin

Instrumentos da Bruxaria Tradicional - por Enoque Zedro

O Bastão, também conhecido em algumas fontes como a Vara, o Cetro ou a Varinha, é um


Instrumento essencial na Arte da Bruxaria Tradicional. Como aconteceu com diversos
instrumentos utilizados pelos bruxos, sua origem se dá nos antigos grimórios de Magia,
mais notadamente naquele conhecido por Clavicula Salomonis.
Na verdade, existem diversos tipos de Bastões e Varas dentro da Arte Tradicional, e cada
qual terá um uso específico dentro dos trabalhos rituais e mágicos.

O Bastão em sua hipóstase simboliza inicialmente o „Bastão do Peregrino‟, ou seja, é uma


forma de cajado ou bengala, que auxilia a caminhada do bruxo, e sua constante impressão
sobre a terra conta os passos do andarilho. É, portanto, o cajado onde o feiticeiro se apóia
para trilhar sua trajetória, o símbolo daquilo que dá apoio ao praticante no decorrer de sua
peregrinação. Em sua forma de varinha, é a extensão do braço e mão do bruxo,
simbolizando assim a extensão de sua Vontade. Sendo assim, percebemos que o Bastão é o
símbolo da própria Vontade do Bruxo, e o objeto que o dá suporte em seu Caminho.

É dito em diversas vertentes da Bruxaria Tradicional que o Bastão é o Cetro da Autoridade


Divina, sendo que a função inicial de um Bastão é o de comandar os espíritos, conjurar
certos poderes e direcionar os feitiços para o alvo de seu objetivo.

Há dois tipos principais de Bastões comuns na Bruxaria Tradicional, o Bastão Reto e o


Bastão Tortuoso:

O Bastão Reto é o instrumento pelo qual o bruxo direcio na e manipula as energias de


acordo com sua Vontade e Desejo, sendo ele que abre o caminho e aponta a direção. Ele
representa a sucessão iniciática direta entre Mestre e Aprendiz, e a Tradição diz que o
Aprendiz só receberá o seu Bastão Reto das mãos de se u instrutor, no momento de sua
Iniciação, sendo conferida assim a 'Autoridade Divina' que o Bastão representa neste ato de
transmissão. Assim sendo, o Bastão Reto deve então ser coletado, esculpido e consagrado
pelas mãos do Iniciador. Somente após ter recebido seu Bastão das mãos de seu Iniciador, é
que o bruxo poderá então manufaturar outros Bastões de madeiras específicas para a sua
Arte. Este significado da transmissão da 'Autoridade Divina' está atrelado à um significado
mais profundo e interno do Bastão Reto, que é a sua associação com a "Tocha" que arde
entre os Chifres do Mestre Chifrudo, o Diabo propriamente. A chama que brilha entre os
chifres do Mestre é a Luz e a Sabedoria, é o Fogo que arde no Sangue-Bruxo, e representa o
próprio 'Poder Bruxo'. Transmitir um Bastão para um recém- iniciado, simboliza transmitir
uma tocha deste fogo, acesa diretamente na chama entre os Chifres do Mestre. Mais
profundamente, este Bastão Reto representa a própria linhagem ininterrupta do Cuveen ou
Irmandade, pois simboliza aqui a transmissão desta 'Chama', de geração para geração - ou
seja, meu Iniciador "acendeu a chama de minha tocha em sua tocha, que por sua vez foi
acesa na tocha de seu iniciador", e assim sucessivamente. E esta chama será transmitida de
"minha tocha para a tocha de meu iniciado" no momento em que eu entregar seu Bastão em
sua Iniciação. Em sua Forma, ele é feito de um ramo único da madeira escolhida, e em
comprimento costuma ser do tamanho igual ao do antebraço, do cotovelo até a ponta do
dedo médio. Seu corte, feito com o Arthame (para saber mais sobre este Instrumento leia
meu ensaio Arthame o Coletor de Sangue), deve ocorrer ao amanhecer no Dia de Mercúrio,
de preferência na época da Lua Nova, e a marcação dos símbolos e sigilos, bem como a
Consagração do Instrumento, deve ser feita no Dia e Hora de Mercúrio. As madeiras mais
tradicionais para a confecção deste Bastão são a aveleira, o sabugueiro e a roseira, mas
diversas outras madeiras podem também ser usadas, de acordo com suas propriedades
especiais como por exemplo, o Espinheiro Branco (Crataegus monogyna), que gerará um
poderoso Bastão associado aos poderes féericos, em especial para a Rainha de Elphame.
A Segunda forma principal é o Bastão Tortuoso, sendo que este simboliza a Intercessão, e
assim como o Bastão Reto é usado para comandar e direcionar, o Bastão Tortuoso serve
para atar, coagir e enfeitiçar. Ao contrário do Bastão Reto, que deve ser recebido pelas
mãos de seu Iniciador terreno, o Bastão Tortuoso é recebido pelos próprios desígnios da
natureza; assim como sua Forma se assemelha a de um relâmpago, como o relâmpago ele
poderá surgir a qualquer momento, em qualquer lugar. Um Bastão Tortuoso caído de uma
árvore atingida por um raio é, portanto, ainda mais auspicioso. Este Bastão transporta as
forças e energias repentinas, e com ele o feiticeiro pode interceder dentro de um curso
aparentemente fixo do destino, alterando-o para o propósito único de seu Intento. Devido a
sua forma serpentina, o Bastão Tortuoso é ligado a Corrente Ofídiana da Arte, sendo o
fetiche principal desta energia em Nossa Arte.

O Bastão Reto é associado também aos poderes dos Witchfathers, enquanto o Bastão
Tortuoso associado as Witchmothers.

Tendo estas duas hipóstases principais do Bastão em mente, podemos então prosseguir para
suas diversas outras formas, que entre as mais conhecidas estão: o Mastro Forcado que é
também conhecido como "Gwelen" entre os bruxos tradicionais da Cornualha; o Tridente,
que simboliza os poderes das correntes duais, e também é conside rado o Cetro Real do
Iniciador Oculto, o bastão mágico do destino nascido das chamas do Sangue-Bruxo; e
também a 'Árvore Fetiche', que é uma vara comprida, maior em altura do que os
participantes de um ritual, que serve como uma ponte entre os reinos celestial, terreno e
infernal.

O Bastão - Instrumento pertencente a Enoque Zedro


Bastões específicos para certas práticas
da Arte são também conhecidos pelos
Bruxos Tradicionais, como o 'Bastão
para Agitar' que é uma vara feita de
alguma madeira relacionada com o
Elemento Água, consagrada aos
espíritos da água e utilizada para
misturar filtros e poções, como também
o 'Bastão de Maléfica', normalmente
feito de Blackthorn (Prunus spinosa) ou
Teixo (Taxus baccata) retirado de um
cemitério, e usado para banir ou
amaldiçoar, seja um indivíduo ou um local, tornado-o infértil e desolado, e para demais
magias maléficas. Um Bastão usado para uma função específica, para invocar, evocar ou
comandar uma corrente específica de poder, deve ser feito do material correspondente
àquela corrente, como nestes dois exemplos citados.
Alguns Bastões são feitos de uma combinação de uma madeira específica e de osso
humano, sendo que esta recensão especial é utilizada para a Comunhão com os Poderes
Ancestrais e também nos trabalhos de Necromância.

Assim, concluímos que o Bastão, como Instrumento da Autoridade Divina conferida ao


bruxo, e uma Regalia de comando dos espíritos - dos vivos e dos mortos - é o Grande
Cajado de Caim, que marca seus passos, apóia o feiticeiro e lhe confere Poder neste e no
Outro Mundo.

"Pelos Bastões, Reto e Tortuoso


Pelo Forcado, Tridente e Caduceu
Pelas Serpentes do Céu e da Terra
Possam teus Passos serem ambos, Benditos e Malditos."

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Sapos e Bruxas: O Sapo como Agente Mágico no


Folclore e Costumes da Bruxaria Tradicional
Por Draku Qayin

“Fui até o sapo que vive sob o muro, Eu o encontrei e ele veio ao meu chamado.”
(Masque of Queens, de Ben Jonson)

Dentro do imaginário popular, seja nos contos de fadas, na arte lúdica, ou na superstição,
sapos, magia e bruxas estão bastante ligados. É fácil reconhecer isto nas famosas lendas de
príncipes que se tornam sapos por meio dos encantamentos de uma bruxa, ou nas imagens e
retratações feitas por artistas durante a Idade Média, onde a figura da bruxa muitas vezes
era encontrada junto de sapos. Como é sabido dentro dos meios Tradicionais da Arte, as
lendas, contos populares e superstições guardam resquícios de costumes mágicos antigos, e
este ensaio tem a intenção de explanar sobre as associações mágicas existentes no sapo, e
sua importância para a chamada Bruxaria Tradicional.
O sapo é um anfíbio que vive em ambientes úmidos, principalmente pela necessidade de
seus ovos e girinos. Existem cerca de 4.800 espécies de sapos, e estes se distinguem das rãs
pelas membranas interdigitais menos desenvolvidas e pela pele mais seca e rugosa. Quase
todos os sapos da família Bufonidae tem duas glândulas na parte de trás da cabeça. Em
estado de irritação ou medo, estes sapos liberam substâncias venenosas destas glândulas.
Estas substâncias, chamadas de bufotoxinas são psicoativas, em maior ou menor escala,
dependendo da espécie do sapo, por isso, eles são chamados de “Sapos Psicoativos”. O
Sapo do Rio Colorado (Bufo alvarius) contém as bufotoxinas 5-MeO-DMT e bufotenina,
enquanto as outras espécies contém apenas a bufotenina. Ambas são substâncias
classificadas como “Triptaminas Alucinógenas”, que podem causar efeitos alucinógenos
quando a pele ou veneno do sapo são fumados ou assimilados pela língua. Ao contrário da
crença popular, o veneno dos sapos não causa verrugas. Em algumas tradições Xamânicas
das Américas, eram usadas combinações destes venenos para se alcançar comunhão com o
Mundo Espiritual e para a transcendência do Xamã. Na Europa, as bruxas também se
utilizavam de bufotenina, assim como de ervas e fungos alucinógenos, para entrarem em
comunhão com o Senhor Chifrudo e seguirem para o Verdadeiro Sabbat, que é o Local de
Poder no Outro Mundo, onde ocorre o Congresso com o Espírito, ao invés da concepção
moderna de Rito Sazonal.

“No século XVI, os círculos bruxos do noroeste da Espanha utilizavam o sangue do sapo
para confeccionar seus ungüentos de vôo. Em 1525 Maria de Ituren confessou ter digerido
um ungüento de vôo a partir de pele de sapo e tanchagem, sem dúvida misturados em uma
base oleosa. As bruxas suecas fabricavam os seus ungüentos com gordura de sapo, saliva
de serpente e plantas venenosas. Os covens alemães têm a reputação de fritar os sapos
para preparar tais ungüentos. Os ungüentos a base de gordura de sapos eram também
utilizados pelas bruxas húngaras e do Leste da Europa para chegar ao êxtases do “vôo
pelo espírito”.” [1] O Sapo tem há muito tempo uma conexão com o Mistério, os Segredos
e os Poderes Noturnos. São animais reservados, que aparecem somente durante a noite, e
sempre ligados a ambientes aquáticos e úmidos; o sapo habita tanto na terra como na água,
passando de um ambiente para o outro confortavelmente, o que o torna um ser associado ao
“trânsito entre os mundos” , e ligando-o como mensageiro entre a terra e o submundo. É
interessante notar como até mesmo esta idéia, do sapo como guardião dos mundos, está
presente em lendas e contos antigos e modernos; um exemplo disto é o recente filme O
Labirinto do Fauno de Guillermo del Toro, onde um grande sapo que habita em uma árvore
é o guardião da chave para o Reino Subterrâneo, e a personagem Ofélia só consegue
adquirir tal chave após destruir o sapo, uma
clara referência à Ordália. Também por habitar
em regiões pantanosas, o sapo é especialmente
sagrado para as deidades ctônicas, mais uma
associando-o ao mundo inferior.

Os artistas da Idade Média retratavam os sapos


em ligação com o Diabo, e por sua vez como
Animais Familiares das Bruxas. É interessante
notar que, dentro de muitas das irmandades e
sectos de Bruxaria Tradicional, tanto os sapos,
como as serpentes e dragões são os seres diretamente ligados ao Diabo, uma das muitas
máscaras do Senhor Chifrudo das Bruxas, e ele por muitas vezes aparecia no Sabbat se
utilizando da forma de um desses seres. As bruxas também tomavam a forma de animais
para irem ao Sabbat, e uma das formas mais comuns era a do sapo. Assim como os Xamãs
americanos, elas se transfiguravam nos animais para seus ritos, e novamente aqui vemos o
autentico uso dos enteógenos[2] para tal ato sagrado. Como descrito pelo Ocultista Nigel A.
Jackson, o símbolo do Diabo pela tradição heráldica medieval, consistia em três sapos
sobre o brasão, o que afirmava a ligação com os poderes do mundo abaixo. As bruxas
bascas eram marcadas com o sinal conhecido como “Pé de Sapo”, pelo Diabo.
Encontramos em Gypsy Sorcery and Fortune Te lling de Charles G. Leland, a referência de
uma Associação de Feiticeiros da Espanha, em 1610, onde a pessoa que era admitida nesta
Ordem recebia uma marca em forma de sapo sobre sua pálpebra e que um sapo de verdade
lhe era dado como Familiar, conferindo- lhe poderes como o da invisibilidade, mudança
para a forma de animais variados e o poder de se transportar para lugares distantes. Até o
fim do século XIX, no Oeste da Inglaterra, havia uma tradição de Magia Popular
Medicinal, das quais seus praticantes, conhecidos como Toad Doctors (Médicos-Sapos)
acreditavam na cura de diversas doenças, inclusive e mais propriamente aquelas causadas
por feitiçaria, por meio do uso de um fetiche feito com a perna de um sapo vivo dentro de
um saquinho de musselina e o pendurando em torno do pescoço da pessoa doente.

No Leste da Inglaterra, principalmente no condado de Essex, há uma tradição mágica de


bruxos solitários conhecidos como Toad-Witches (Bruxos-Sapos). O folclore, mantido até
os dias de hoje, reza que há um rito solitário que visa a obtenção de poderes mágicos, mais
propriamente o poder de dominar as bestas e animais e destes especialmente o Cavalo, que
é conferido por meio de um amuleto feito do osso de um sapo. É dito que este amuleto, o
Toad-Bone Charm (Fetiche-de-Osso-de-Sapo), pode servir como uma chave em todos os
assuntos concernentes da Arte Sábia. O rito de obtenção deste amuleto é considerado dentro
da Bruxaria Tradicional, como uma Iniciação Solitária e Vertical. Ao contrário da tão
afamada “auto- iniciação” onde a pessoa faz um ritual e se considera um Iniciado, a
Iniciação Solitária depende de diversos sinais e provações para ser concluída, e se tais
sinais não forem dados, o ritual não é concluído e não há Iniciação. Dentro dos costumes
dos Toad-Witches, aquele que busca a Iniciação deve procurar um tipo específico de sapo,
sacrifica- lo com um espinho de blackthorn (Prunus spinosa) , e deixar sua carne ser comida
pelas formigas para se obter apenas os ossos. Estes ossos são então recolhidos e jogados em
uma corrente de água, e apenas um osso deve voltar para as mãos do praticante, em meio a
vários fenômenos naturais que tem por objetivo amedrontar e tirar a atenção do mesmo. Se
o osso do sapo não voltar o rito não foi bem sucedido, caso o osso retorne para suas mãos,
então ele pode prosseguir nas outras etapas do rito, as quais culminarão no encontro com o
Diabo e a Iniciação em si. O próprio sacrifício do sapo em si já é a primeira das provações
para saber se o rito poderá ou não ser feito pelo praticante. É dito que somente se pode
prosseguir neste Mistério se o modo do sacrifício for revelado por sinais e presságios; é dito
ainda que, caso nenhum presságio for recebido, sabe-se que o rito não deve ser feito, e
prosseguir é ser amaldiçoado [3].

As referências mais antigas do uso dos Toad-Bone Charms aparecem na História Natural de
Plínio, em aproximadamente 77 d.C. Os poderes atribuídos por Plínio ao Osso de Sapo,
entre os quais o de domar animais, seduzir, favorecer o amor e causar a discórdia, são os
mesmos do rito inglês. Vemos aqui claramente um indício da antiguidade de tal Mistério.
Plínio também descreveu como proteger magicamente as colheitas das tempestades,
colocando um sapo em um pote e enterrando-o nos campos. As referências de Plínio são
repetidas por Agrippa em seu Filosofia Oculta, escrito aproximadamente em 1509 e
publicado na Alemanha em 1531. Scot, em Discoverie of Witchcraft, 1584, também cita o
uso do osso de sapo como um amuleto de bruxaria, onde novamente a carne do sapo é
devorada por formigas e os ossos usados para se produzir prodígios mágicos, para o bem e
para o mal. Segundo a magia medieval, para tornar-se amado, deve-se colocar um sapo
morto num recipiente de barro, cheio de furos, e colocar este recipiente no topo de um
formigueiro. Depois que as formigas consumirem toda a carne, deve-se moer os ossos até
virar pó e misturá-lo com sangue de morcego, e então jogar este pó na comida e bebida da
pessoa de quem se deseja o amor. O pó dos ossos de sapos também era utilizado na magia
medieval para a abertura de portas e cadeados trancados.

De acordo com Andrew D. Chumbley, o falecido


Magister da Cultus Sabbati, o sapo mais indicado
para o Mistério dos Toad-Witches na Inglaterra
seria o Natterjack Toad (Bufo calamita). Este é um
sapo difícil de ser encontrado e que vive no meio da
areia.

No Brasil, temos uma espécie de sapo muito


interessante, e que é especialmente sagrado dentro
das manifestações mágicas da Irmandade de
Bruxaria Tradicional Via Vera Cruz. Este sapo é
conhecido pelo nome científico Bufo crucifer.
Como um sapo da família Bufonidae ele contém a
Bufotenina, e é encontrado em florestas densas,
rios, pântanos de água doce, jardins rurais e
florestas antigas. Infelizmente é um sapo que está
ameaçado pela perda de habitat natural. Ele é
especialmente sagrado por carregar em suas costas
uma mancha na forma semelhante de uma cruz – daì seu nome crucifer, “o que carrega a
cruz”. Neste contexto, ele serve como um elo entre céu e inferno. Além do extenso uso do
osso de sapo na Bruxaria, há também uma pedra especial, chamada de Pedra-de-Sapo ou
crepaudina, encontrada na cabeça dos sapos, dotada de poderes ditos mágicos. Nigel
Jackson cita que tal pedra cura todas as picadas e mordidas de animais e que, colocada
sobre um anel, a pedra empalidece quando na presença de venenos. Em “As You Like It”,
Shakespeare faz uma referência à crepaudina: “O sapo hediondo e venenoso tem em sua
cabeça uma pedra preciosa”. É dito também que tal pedra protege aquele que a usa como
amuleto de qualquer tipo de malefício e feitiçaria. Entre os ciganos Rom, o Diabo
normalmente aparece sob a forma de um sapo ou rã, e seu nome é “Beng”, que em Romani
significa “como uma Rã”. Para os ciganos da Romênia, a Rainha das Fadas vive sob a
aparência de um Sapo de Ouro. O Sapo é também associado às deidades obscuras bruxas
Hécate e Lilith, ambas as deidades relacionadas com a Rainha de Elphame dentro do
contexto da Arte Sábia. Outra ligação do sapo com o Reino das Fadas, e por sua vez com a
Rainha de Elphame e com o Diabo, encontra-se na antiga palavra italiana “fata”, que
significava tanto sapo quanto fada. Para a Bruxaria Italiana encontrada na Florença, como
exposta por Charles G. Leland, Diana é a “Rainha das Fadas” e um de seus animais
sagrados é o sapo. O sapo também é ligado ao conceito de fertilidade. Para os antigos
egípcios, ele era o animal sacro de Hekat, a deusa da fertilidade e encontramos nas práticas
do coven de Auldearne, em 1662, uma prática mágica curiosa para atrair a fertilidade para
os campos, onde um sapo puxava um arado pela terra enquanto os bruxos clamavam ao
Diabo pela fertilidade da Terra. O Sapo é o Animal Familiar da Bruxa, que lhe dá a chave
para o Submundo e lhe confere o Congresso com o Diabo, Mestre Chifrudo do Sabbat. Ele
é o Guardião dos Mundos, é o bruxo e é também o próprio Diabo. A ligação entre os sapos
e as bruxas são muito mais reais e próximas do que apenas o imaginário popular.

“Você pode andar pelo caminho,


Você pode falar as palavras,
Mas você pode Encantar o Cavalo?”

Possam a Bênção, a Maldição e a Sabedoria lhe serem conferidas pelo Sapo da


Encruzilhada.

Nota biográfica: Draku-Qayin é o Escriba e Convocador da Irmandade da Arte Sábia Via


Vera Cruz. Atualmente está escrevendo um livro sobre Bruxaria Tradicional, onde além de
outros temas ligados à Arte, ele também abordará os Mistérios dos Homens Sapos.

[1] – Jackson, Nigel A. – “Call of the Horned Piper”, Capall Bann Publishing.

[2] – Enteógeno ou enteogénico é um neologismo que vem do inglês: entheogen ou


entheogenic, tendo sido proposto no ano de 1973 por investigadores, como sendo o termo
apropriado para descrever estados xamânicos ou de possessão extática induzidas pela
ingestão de substâncias alteradoras da consciência.

[3] – Mais informações sobre este Mistério podem ser encontradas no “One: The Grimoire
of the Golden Toad” de Andrew D. Chumbley, publicado pela Xoanon Publishing.

Nota: Tanto o autor quanto a revista „O Caldeirão‟ não se responsabilizam e nem


incentivam o uso das substâncias citadas neste ensaio.
O Caldeirão

+++++++
O Mestre Chifrudo da Encruzilhada
por Draku-Qayin

Chegamos à Encruzilhada, o local de encontro tradicional das bruxas, espíritos, deuses e


demônios. A Encruzilhada, onde dois caminhos se cruzam e quatro caminhos partem. E é
no ponto central da Encruzilhada, na intercessão de seus caminhos, que encontramos aquele
que é chamado de “O Diabo”, o Mestre Chifrudo, o Senhor Negro do Sabbat, o Grande e
Verdadeiro Deus dos Feiticeiros. É ele o foco central da Adoração Feiticeira, é para ele que
os bruxos se voltam em Congresso, e é com ele que aprendemos as Antigas Artes Hábeis,
pois ele é o instrutor e o guia que segue os passos do Peregrino nas Estradas Tortuosas da
Arte Sem Nome.
Como todas as deidades veneradas e chamadas na Arte Sábia, o Diabo é um Poder Sem
Nome, uma força primitiva nascida do Caos Primordial, chocado do ovo de prata nos
inícios das Eras. E como tal, os nomes mundanos que utilizamos para ele, tais como Diabo,
Azazel, São Pedro, Herne, Esù ou Bucca, são apenas máscaras para identificar este Mistério
na linguagem humana. O Peregrino deve saber que tais nomes não indicam que estas
divindades, santos e avatares das crenças dos homens, sejam o mesmo ser. São apenas
nomes utilizados por questão de sincretismo, para facilitar a linguagem. Da mesma forma
Santa Barbara é utilizada para representar o Orisà Oya nos cultos de Candomblé no Brasil;
isto não significa que a Santa Barbara dos Católicos Romanos seja a mesma pessoa que
Oya, mas apenas serve como uma representação sincrética, uma máscara, para ocultar este
poder. É aqui que se aplica aquilo que é conhecido na Bruxaria como Iconostasis. O
Mistério da Iconostasis nos dá a liberdade de utilizar quaisquer que sejam as imagens e
ícones das adorações e crenças dos homens, para mascarar nossos Deuses. Tais ícones se
tornam desta forma como Vasos, e o que realmente importa é a essência contida dentro
desses Vasos. Parte do Mistério da Iconostasis está relacionado ao conceito conhecido por
Genii Loci – os Gênios Locais. Cada local, cada terra contém impressa em si a essência de
seus deuses e santos, conforme adorados pelos povos que lá habitam e habitaram. Estes são
os Gênios do Local, os espíritos daquela terra em particular. É por isso que muitas vezes
utilizamos nomes de personagens Cristãos para mascarar nossos deuses, já que o
Cristianismo marcou profundamente as crenças e idéias das pessoas em diversas terras, por
diversos séculos. Como um exemplo, é um pouco inconsistente utilizar, no Brasil, algum
nome de divindade céltica para mascarar o Diabo ou qualquer outro deus de bruxaria, tendo
visto que esta religiosidade nunca fez parte desta terra, não tendo assim raízes profundas no
conceito dos Genii Loci de nosso país. Tais máscaras podem servir muito bem nas terras de
Albion, mas não aqui. O Cristianismo é a maior crença do homem no Brasil, bem como de
grande parte do Mundo, e por isso seus ícones servem muito bem a este Mistério sincrético.
Outro exemplo de sincretismo com o Diabo que pode ser aplicado em nossa terra de Vera
Cruz está no Orisà Esù, de origem Yoruba. O Culto de Orisàs no Brasil criou raízes
extremamente firmes, com religiões como Candomblé e Umbanda. Esù se tornou uma
deidade típica do Brasil, e assim sendo, serve muito bem como um nome que pode ser
usado de Vaso para conter a essência do Mestre Negro. E aqui, mais uma vez afirmo para
deixar claro que, um bruxo no Brasil ao chamar o Diabo pelo nome de Esù ou de São
Pedro, não significa que esteja dizendo que todos são o mesmo ser, a mesma persona, mas
o bruxo apenas está rotulando o Mestre Inominável com um nome familiar e reconhecido
pelos Genii desta terra.

Sob a máscara do Diabo, ele carrega os atributos da bênção e da maldição. Ele é o


Psicopompo, pois são dele as Chaves tanto do Céu quanto do Inferno. Ele está acima dos
conceitos de bem e mal, pois ele é Poder, em sua forma crua, pura e radical. Como o
Portador das Chaves, ele é o Grande Iniciador, aquele que concede os poderes aos Bruxos
(empowerments). É ele quem abre os portais, é ele o Guardião dos Círculos, é ele que
sempre é chamado em primeiro lugar nos rituais e cerimônias, e é interessante observar que
nesta forma ele é extremamente semelhante ao supracitado Esù, como também ao Lwa
Papa Legba do Voodoo Haitiano.

Nas palavras de Nicholaj de Mattos Frisvold: "O Diabo" tem executado uma grande
mascarada a fim de fazer do poder das bruxas um poder difícil de obter. Você o encontra no
disfarce de santos e deuses mortais, como heróis e poderes sem nome de antes dos homens
antigos. O Diabo segura as chaves de ouro e prata, mistérios profundos na compreensão por
aqueles que reivindicam possuir os poderes conferidos pelo Diabo na bruxa. A iniciação em
um clã ou convento só carrega os pontos das pontes de comando, o Magister sendo um
Pontífice por assim dizer, para o acesso ao poder bruxo, mas no fim, todos os Peregrinos
devem eles próprios, em certo ponto viajar a fora para encontrar o Homem-Negro entre os
Véus e se submeterem aos testes que são sempre uma questão de fazer ou quebrar na
aquisição dos poderes.

Também conhecido na Arte da Bruxaria como o Opositor, ele é o responsável pelas


provações e testes que aparecerão durante o caminho do bruxo em sua busca. O próprio
termo Diabo é proveniente do latim Diabolus, que significa “aquele que separa” ou “aq uele
que se opõe”. Os testes são chamados de Ordálias, e se aplicam no nìvel fìsico, emocional,
psicológico e espiritual do bruxo. As provações do Diabo são muitas, e somente os fortes e
determinados conseguem vencê- las e prosseguir no Caminho Tortuoso rumo a Montanha
de Vênus. É aqui que o Diabo e a Encruzilhada se tornam Um. É no meio da Encruzilhada
que podemos observar os caminhos que partem em nossa frente, e é nela que então fazemos
nossas opções; sim, pois diante de nós se apresentam na vida diversas opções – os
caminhos que partem da Encruzilhada – e é o Diabo, como foco e ponto central da
Encruzilhada, que nos apresenta esses caminhos. Ao mesmo tempo, é Ele que se colocará
em nossa frente, como o Opositor, para testar nossa determinação de seguir em frente. O
verdadeiro bruxo, acima de toda dor e perdas, enfrenta seu Deus cara a cara, pois aquilo
que damos em oferenda tomamos de volta como nosso poder sem igual, pois para buscar a
Sabedoria não há nada e nem ninguém a que não renegarei. É assim que o Senhor Chifrudo
se apresenta como Toda Oportunidade. Com isso em mente, entendemos o porquê dele ser
a Encruzilhada propriamente; a Encruzilhada contém quatro caminhos visíveis e seu ponto
central, nos colocando no meio dela, temos então um caminho a frente, um atrás, um a
esquerda e um a direita; o caminho a frente representa o Diabo como Opositor, o que se
coloca em nossa frente e que devemos enfrentar para prosseguir; o caminho atrás é o Diabo
servindo como o guia, pois o verdadeiro guia segue os passos de seu aprendiz; os caminhos
do lado são o Diabo como companheiro, lado a lado para prosseguir, e muitas vezes como a
força radical que nos empurra para frente quando estamos em falta com nossa demanda. É
por isso que foi dito que, na Dança do Sabbat, o Diabo toma aquele que fica por último; o
Caminho da Arte não é para o fraco e temeroso.

Ainda falando sobre a Encruzilhada, vemos seu reflexo no Mistério do Castelo, conforme
exposto pelo falecido bruxo tradicional Robert Cochrane. O Castelo é a composição dos
quatro elementos, e ainda assim o centro da própria Encruzilhada. É o Local do Poder, onde
se reúnem as forças criativas, onde se ocultam os poderes ancestrais. E como um ponto
central, a Encruzilhada é então o eixo, o Axis Mundi, o pólo que une os poderes das estrelas
acima do Domínio Empíreo com os poderes abaixo do sangue, terra, fogo e dos Mortos
Poderosos do Domínio Infernal. E mais profundamente podemos afirmar então que a
Encruzilhada é o ponto onde ambos os mundos se encontram, e não existe mais distinção
entre eles. Nela temos que buscar aniquilar nossas limitações, e é lá que o Diabo balançará
nossas crenças, destruindo conceitos, abalando nossas vidas, pois é isso que ele faz, destrói
totalmente nossas estruturas e crenças pré-estabelecidas, e no fim, somente aquilo que é
verdadeiramente firme, verdadeiramente fundamentado, somente isto restará; literalmente,
ele “separa o joio do trigo” em nossas vidas. Na Encruzilhada nos tornamos
verdadeiramente Unos com os Poderes, e lá reside este poder de Iconoclastia, onde
quebramos os ídolos falsos de nossas próprias limitações, e achamos a Distinção. O sorriso
do Diabo se mostra novamente aqui como Oportunidade.

O Tridente é o símbolo do Diabo por excelência, e se notarmos bem, ele apresenta a mesma
forma da Encruzilhada; é um sìmbolo da Cruz Bifurcada. Este emblema representa „Vìcio‟
e „Virtude‟, e o ponto de interseção do Tridente simboliza as nossas escolhas entre essas
duas qualidades – mais uma vez, Oportunidade e Escolha. É o Diabo que carrega o Tridente
nas mãos, assim, podemos ver que é ele quem apresenta essas opções de escolha para nós,
igualmente como na simbologia da Encruzilhada. Se olharmos com mais precisão para a
imagem do Tridente, percebemos também certa similaridade com a própria imagem
Iconográfica tradicional do Diabo, as duas pontas da extremidade semelhantes aos chifres, e
a ponta central semelhante à tocha entre os chifres, o sinal da Iluminação Divina. Deidades
como Shiva e Esù carregam o Tridente em suas mãos, bem como os espíritos chamados de
Exus na feitiçaria brasileira conhecida como Kimbanda, ou mesmo certos demônios dos
grimórios de magia medieval. De forma semelhante no Tantra (prática mística indiana),
conforme explica o praticante Rafael Espadine, o tridente representa uma confluência de
poderes e sua transcendência. Sua coluna central ligada aos três mundos (infernal, terreno e
empíreo) e representa o canal central de poder do corpo por onde a Kundalini, energia
primordial, deve ascender para se libertar dos domínios materiais. O Trishula aponta para o
cruzamento dos canais e onde se cruzam no ponto entre as sobrancelhas para, a partir dai
subirem pelo chakra do topo do crânio (comparável a tocha entre os chifres) sendo esse o
canal central da ascensão espiritual.

Outro emblema portado pelo Mestre do Sabbat, muito conhecido na literatura a respeito de
nossa Arte, é o Mastro Forcado (ou Estaca). Trata-se normalmente de um galho de árvore,
que termina numa forquilha, escolhido de determinadas madeiras, e que serve propriame nte
de Altar em algumas das ramificações da Arte Tradicional, como o Clã de Tubal-Caim e a
Cornish Tradition – tradições estas algumas vezes referidas como “Stang Traditions”
exatamente pelo uso focado do Mastro Forcado em seus rituais. É sabido que a Cult us
Sabbati também se utiliza do Mastro em seus ritos, conforme podemos observar em “The
Azoëtia” de Andrew D. Chumbley. Tal Mastro é um repositório da Deidade Chifruda, uma
representação fetichistica do Diabo e também um Cetro de Autoridade Divina. Sua
forquilha simboliza exatamente os chifres do Deus feiticeiro. Seus usos mais comuns são
três: servir de Altar no centro dos Círculos, servir de Altar no limite Norte dos Círculos –
aqui, mais propriamente sendo o Ícone do Diabo como o Guardião dos Portais – e, em
última instância, servindo como o Cetro do Magister, o líder de um Conciliábulo. Uma vela
normalmente é acesa entre os “chifres” do Mastro Forcado, e os adeptos acendem suas
próprias velas nesta Chama Central. O Mastro Forcado também carrega a semelha nça da
Cruz Tau, e assim está ligado ao Mistério do Sacrifício do Rei Salvador, como também ao
Arcano XII do Tarot. Isto o relaciona com o Cristo, e também com Odin. Neste caso vemos
o “Mistério do sacrificar a si para si próprio” e a obtenção da Sabedoria e Iluminação –
aqui, vemos mais uma vez o ato Sacrificatório do Diabo e sua relação com a Encruzilhada
do Iconoclasta. Tal relação é de vital importância aos bruxos da Via Vera Cruz e seus
Mistérios internos. Não nos esqueçamos que para o Misticismo Cristão, a Tentação do
Diabo para o Cristo é vista como uma provação do próprio Cristo, e não o Diabo
meramente um inimigo tolo e invejoso. E o que é a „Tentação‟ senão a própria Ordália?

O Diabo, por meio de todos estes Mistérios, é também o Senhor da Morte, sendo ele a
própria Morte per se. E muito mais além de ser somente o Ceifador, ele é também a força e
forma coletiva dos Mortos Poderosos, aqueles que habitam nos Campos de Elphame, que é
o Inferno. Inferno, de Inferius, o Reino Inferior, abaixo da Terra, o Mundo Subterrâneo.
Tão comuns são os relatos de viagens ao Reino das Fadas por meio da descida por algum
túnel ou acesso cavernoso. Como sabemos, Fadas não são os seres elementais conforme
erroneamente muitos autores pregam infundadamente, mas sim, os espíritos dos mortos.
Como Senhor da Morte, e a Morte propriamente, temos uma relação com o planeta Saturno,
e chegamos aqui ao „Senhor do Desgoverno‟, como mais um dos inúmeros atributos do
Deus dos Bruxos. É na Saturnália, antigo festival de origem romana, que o Reinado do
Senhor do Desgoverno acontece. A Saturnália começa na entrada do Sol em Capricórnio –
o Bode Celestial – que é tanto o Signo Zodiacal relatado ao Diabo por razões óbvias, como
também um Signo que está sob a regência de Saturno, “O Grande Maléfico” da Astrologia
Tradicional. Saturno é também o Senhor do Tempo, de acordo com Agrippa „o pai dos
deuses... autor da contemplação secreta, destruição e preservação de todas as coisas‟. De
acordo com o ocultista, astrólogo tradicional e também feiticeiro Nigel A. Jackson em sua
obra “Masks of Misrule”: “No nìvel mais esotérico da faceta Saturnina do Chifrudo, se
incorpora sua regência como o Senhor da Noite dos Deuses. Ele é aquele que semeia as
sementes de todas as formas no campo da eternidade, Mestre dos Espaços Exteriores e
Guardião da Soleira da Porta das esferas estelares – o Antigo, Senhor do Tempo Infinito
que testa o iniciado e nos guia além dos cìrculos finitos do tempo e espaço”. A Saturnália
era o período da inversão e do desregro, onde a ordem social era invertida, e todo tipo de
folia e liberação eram permitidas. É dela que surgem as origens de nosso Carnaval. E é
interessante notar que é disto que surgem também os conceitos de inversão nos rituais
Sabbáticos da Arte, como a Dança ao Contrário, a recitação do Pai-Nosso de traz para
frente, a própria inversão dos sentidos no Sabbat Onírico. Isto está intimamente ligado ao
padrão mágico de “ir contra a corrente”, onde nos voltamos contra o grão, para acessar a
essência verdadeira daquilo que foi invertido, como quando voltamos uma fita VHS para
chegar ao seu início, e vemos as imagens e sons ao contrário. A inversão gera a trilha para a
verdadeira natureza de um princípio.

Além das Encruzilhadas, seus locais de adoração incluem cemitérios, r uínas, locais
desolados, celeiros, florestas e velhas igrejas abandonadas. Seus animais sagrados, bodes,
veados, touros e outros animais chifrudos, englobam a serpente, o cavalo, o dragão e o sapo
(mais informações sobre sapos no Apêndice Sapos e Bruxas). Suas plantas são as
venenosas, aquelas presentes no Cálice da Intoxicação Sagrada, e entre elas temos especial
apreço pela Mandrágora e pela Datura, esta popularmente chamada de “Trombeta do
Diabo”. Sim, o Diabo é o Senhor do Veneno que gera Vida e do Remédio que leva a Morte.
Em seu Cálice temos que beber, para matar nosso „Eu Profano‟, custe o que custar, pois a
Ordália não vem sem lágrimas e sem dor.
Foi ele, em seu aspecto mais Saturnino que instigou Caim a matar Abel, tornando assim
Caim no primeiro Feiticeiro, e avatar do próprio Diabo. Somente por sua Ordália, por seu
Exílio e sua Melancolia típicas de Saturno é que o caminho se faz presente para buscar a
Beleza e Realização de Vênus, que brilha com a Doçura das Eras. É com o Diabo que
buscamos o Congresso naquilo que conhecemos como Sabbat. Até mesmo o Sabbat, o
Campo-do-Bode onde ocorrem os intercursos com os Poderes, o mundo Astral e Onírico
fora do tempo e eternamente infinito, tem seu nome vindo de Saturno – Shabbatai em
Hebraico é a palavra para o planeta Saturno.

O Diabo é o Verdadeiro Deus dos Bruxos e Feiticeiros, é o Pai de Toda Arte, e real ponto
central de Adoração. É Ele a quem veneramos e prestamos culto e ao mesmo tempo é Ele a
quem enfrentamos cara a cara, e lutamos até o sangue cair no solo, pois tolo é aquele que
vende sua alma, este não é o Verdadeiro Feiticeiro, mas sim um Escravo que tombou diante
das Ordálias da Encruzilhada. Ele é o Todo Erótico e o Antigo senhor do Tempo-sem-
Tempo. É Ele quem traz as Oportunidades e indica as escolhas. É o Iniciador verdadeiro,
que faz romper os poderes do Sangue-Bruxo nas veias dos nascidos da Arte. E é ele quem
manifesta o „Sonho feito Carne‟.

Nas bênçãos e maldições das Chaves Cruzadas


Pela Hoste Bela e Feia
Possa o Diabo iluminar o Caminho Tortuoso com a Chama entre seus Chifres

+++++++

+ O Chamado aos Poderes da Encruzilhada +


Olá queridos visitantes da Encruzilhada do Sabbat.

Este blog passou por reformulação, e eis que aqui estou de volta, para falar dos assuntos do
meu cotidiano... pois aqui é a minha Encruzilhada, na qual aqueles que tem Honra são bem
vindos...
Para iniciar, reproduzo aqui um Ritual de Bruxaria Tradicional, publicado primeiramente
na antiga revista O Caldeirão (atualmente Revista Crux) citado aqui com permissão do
Editor, para aqueles que desejam conhecer o que é um rito de Bruxaria Tradicional.

Boa Leitura!!!

+ O Chamado aos Poderes da Encruzilhada +


Por Azazayin

(Medieval Enchantement Tarot - Nigel A. Jackson)


Ele está lá, no Caminho Cruzado, com o seu chifre e cajado ele está; aguardando o toque do
sino e os pés daqueles que juraram o exílio que termina em sepulcro e lágrimas. Por muitos
nomes ele foi chamado, e para manter a máscara devemos nos referir a ele como o Diabo,
ou ele que porta os chifres. Os chifres de Selene, os chifres de justaposições, os chifres de
um, e do outro, os chifres que marcam de uma condição para a outra – a santidade do
assassinato e da rebelião. A glória da Luz e o caminho da ascensão do Poder. Não seja tolo
enquanto buscas tomar o poder, pois este único piscar de um olho aos poderes que
transformam, transformam em ambos os lados. À favor e contra, como a maré, e ainda
assim entre os seus, o poder simplesmente é. E para este propósito este ritual é apresentado
para nossos leitores como um diminuto farol que revela os pontos da encruzilhada, uma
brecha na textura da noite, um sussurro no meio das legiões esquecidas. Então tome tua
vela, e que ela seja vermelha, negra ou verde, e coloque sobre teu santuário o ícone do
Diabo. Pegue uma guirlanda de rosas e conte tuas orações, Setenta, e Sete, para a perfeição
dos profetas. Saiba que o negro contém o enigma da noite, o vermelho, o enigma do
sangue, e o verde, o enigma da terra. E para as contas, que sejam de madeira, pérola ou
osso. Conheça a tua mão, peregrino, assim que elas seguem através da escada, no
congresso, e não te percas em tua jornada, pois um estranho apaixonado cai no abraço das
sereias e toda sedução e toda miséria serão os dons da encruzilhada. Cuida que teu passo
seja firme e tua mão, rápida assim como teu coração deve ser por todo o tempo, firme e
rápido no caminho da fé. Então, frente à vela, ore como é aqui apresentado:

Intercessor na Encruzilhada da Terra


Amante do obsessor de rosto de Sapo nos jardins da Noite
Senhor das muitas cidades do exílio
Mestre do Cavalo e Forcado
O que toma o juramento, o que quebra o juramento
Mestre da oportunidade
A mão que gira a roda
Instigador dos gritos ouvidos através do deserto adamantino de toda a nossa solidão
Ardoroso Senhor da Terra e forja
Tu que és ferro e ouro
Tu que és Diabo e Santo
Encontre-nos na encruzilhada da rebelião
Encontre-nos no porto do sítio
Dê-nos a chave da torre para a destruição dos inimigos
E fale por nós com doçura à Fortuna
Nós Lhe chamamos do coração da Vera Cruz
Como os filhos do exílio
Tua raça e ruína estejam sobre nossa testa
Dê-nos tua mão auxiliadora, assim como procuramos os segredos do assassinato
Ajude-nos a buscar a compreensão
Ajude-nos assim como Tu libertas os Poderes Secretos
Contra nossos opressores, bata duramente
Possa meu coração ser purificado pelo Teu fogo
Deixe somente a alma pura para trilhar o caminho sereno do Mestre
E se eu for descoberto em falta com minha demanda
Bata-me sem clemência
Possa a maldição acender as chamas em todos os cantos de minha vida
Até que a sabedoria descenda
Pelo bem de minha alma não existe coisa alguma ou alguém
Que não renegarei
Pois para buscar a sabedoria não há caminho que eu deixarei sem trilhar
Pois Tu carregas a chave para os reinos do alto e de baixo
Tu és o homem vestido em ouro e noite, nas escadas da Luz
Tu és o jovem desnudo nas Escadas do Inferno
Tu és a altura e a profundidade e o ponto entre eles
Pai, Santo, Diabo e Mestre
Tal é o nosso pedido
Então que assim seja, agora e para sempre
Das alturas às profundezas, de destro a sinistro
Nós Lhe chamamos para nos encontrar na Encruzilhada do Poder

Tome agora a guirlanda de rosas em tuas mãos e reze solenemente a cada passo
tomado:

Oh Sagrado São Pedro, Senhor das Chaves, Senhor do Portal, A Pedra da Sabedoria.
Garanta-me a chave e abra a porta. Siga-me no Caminho do Dragão. Que assim seja.
Amém

Na 77ª. oração feita para louvar a encruzilhada, você beijará a cruz e dirá:

Pai, Santo, Diabo e Mestre


Da Vera Cruz
Possam nossas orações serem ouvidas
Para a Vera Cruz
Todos os Poderes irão descender
Pois tal é meu pedido
E tal é minha oração
Assim o bom São Pedro é meu companheiro de jornada
Amém

Comentário do Editor: O ritual aqui descrito foi apresentado como uma cortesia de uma
irmandade da Arte Tradicional conhecida externamente como Via Vera Cruz, e adaptado de
seu grimório de rituais e ensinos “The Basilikah of the Dark Sainthood”. A irmandade hoje
reúne diferentes raízes de práticas da Arte Tradicional e busca reunir estes ensinamentos e
poderes a um formato especialmente apropriado para os praticantes brasileiros. A Via Vera
Cruz segue uma jornada iniciática tripartida arraigada em uma entrada Cainita e um
caminho Sethiano, exemplificado no mistério ritual conhecido como Os Três Círculos do
Exílio. Estamos orgulhosos em apresentar esta forma de abordagem tradicional aos poderes
ancestrais e esperamos que nossos leitores achem esta contribuição estimulante e
interessante. Contatos: http://www.viaveracruz.kit.net

Escrito por Draku-Qayin vel Sabatraxas (a.k.a. Adriano Carvalho)


Monasterium Unguentum Umbrae

Por Azazayin
Magister Via Vera Cruz

O Sabbath das Bruxas, o vôo noturno e suas orgias diabólicas na Sombra do Tempo são
idéias que têm seguido o imaginário da bruxa por vários séculos, e estes talvez seja aqui o
ponto de fusão entre a bruxa e o vampiro viajante.

Desde os escritores romanos Apuleius e Ovídio estas idéias têm sido carregadas nos nomes
strix ou striga, que ainda encontramos no Strigoii romeno, sendo um tipo parecido ao
Varcolac, aproximadamente traduzido como „pele-de- lobo‟. Isto ainda se preserva nas
terras latinas sob o termo stregone. Ainda há o termo romeno strigele para denotar as luzes
flutuantes encontradas nas florestas e montanhas, freqüentemente ao redor das Árvores de
poder em noites eleitas. Estas luzes eram conhecidas como sendo os duplos das bruxas,
tanto exorcizados ou quando se reuniam no Sabbath. É também interessante mencionar que
os remanescentes de mitos contam como nove fusos são colocados no sepulcro onde se
acredita que o strigoi descansa, como o poder das Nornes (ou Parcas), e o tecer de seu fio
de prata da viagem noturna, que se acreditava impedi- los de se erguer na noite. São
chocante as relações entre vampiros, lobos e bruxas encontradas nos mitos por toda parte
do continente, especialmente em regiões eslavas. O motivo indica que stregoni eram
intimamente ligados à terra e ao ar. Enquanto em vida eles partiam em peles das bestas de
Saturno, os lobos, subindo da cama de Saturno, feita da terra fria úmida, e da morte como
repouso nas sombras da Noite. Na morte do corpo físico eles saíam como morcegos e
pássaros da noite, especialmente a coruja.
Este mistério é melhor explicado ao observarmos Odinn, desde que aqui encontramos um
formato muito completo para compreender a complexidade da bruxa-vampira. Einherjar,
Fylgja (ou duplo/fetch),Hugr e Hamingja são os elementos que fazem do reino da anatomia
esotérica dos vampiri.

Primeiramente, os Einherjer eram considerados como sob a proteção especial de Odinn;


eles eram guerreiros, freqüentemente cobertos com pele de lobo, versados nas artes de
Freya (seidr) e dedicavam sua atenção espiritual para Odinn como um protetor da feitiçaria.
Basicamente, estes guerreiros eram aqueles que morriam em combate e diz-se que eles
continuam suas batalhas em Valhalla, e todo dia eles sobem para batalhar, enquanto na
noite eles se sentam na távola de Odinn em Valhalla para comer a carne do porco Saerimne
e mjoedda cabra Heidrun, que vive na raiz de Valhalla. Estes guerreiros são particularmente
favorecidos por Odinn, sendo aqueles mais valentes os que morreram em batalha
escolhidos pelas Valkyrias e trazidos para Odinn. Estes guerreiros são os que Odinn está
preparando para a batalha dos deuses na colina de Vigrid. Alguns destes guerreiros também
são levados para Folkvang, a fazenda de Freya.

Fylgja ou fetch (duplo) eram os animais familiares, guerreiros sempre foram considerados
como possuidores de um fylgje que era de uma natureza agressiva ou inspiradora de temor,
como lobo ou urso.

Hamingja, por outro lado, era considerado um dom particular relacionado às habilidades
mágicas e em particular para fornecer fertilidade, e como tal, relacionado ao hug ou
hugr,que na realidade é o poder que manifesta propriamente em Eros ou o Amor. U m
exemplo foi o rei Erik Aarsael, que foi o rei dos suecos por somente um ano, de 1087 a
1088, que parecia possuir este poder em particular. Ele foi realmente o último dos reis
pagãos e se tornou um símbolo de sorte graças aos seus poderes e atordoante hab ilidade
mágica de fertilizar o que era considerado estéril. O último blot em Uppsala foi liderado por
este rei, o que o coloca em uma relação particularmente forte com o inteiro cortejo dos
vanir e aesir, mas em particular Odinn e Freya.

Lendas sobre skinleaping [NT: troca de pele], shapeshifting [NT: mudança de forma] e
licantropia são encontradas em todas as partes no mundo, do Jaguar aliado Canaima na
América do Sul, via os seres-javalis na Turquia às formas de lobo mais difundidas na
Europa. Em todas as instâncias estes mitos contêm elementos contrários à ordem natural,
freqüentemente em termos da organização religiosa exotérica ou como conseqüência de
algum fato inevitável de natureza cósmica, tal como o sétimo filho nascido de um sétimo
filho, especialmente marcado e assim, nascido maldito por assim dizer. O ministro Robert
Kirk que escreveu a Nação Secreta, parecia ser o sétimo filho de um sétimo filho e é
curioso que ele reportou estes procedimentos íntimos com os Sidhe das terras pantanosas e
colinas ocas. As lendas do rei Lycaon, fundador do reino de Arcadia nas montanhas da
Grécia carrega todos estes motivos. Lycaon foi o pai da musa Callisto e eles estavam
criando o filho Nyctimus (noite) que era filho de Zeus. A lenda diz que Lycaon sacrificou
Nyctimus e serviu sua carne à Zeus que repeliu o prato de seu próprio filho e amaldiçoou
Lycaon, transformando-o em um lobo. Pausanias apresenta uma versão ligeiramente
diferente do mito, aqui somos informados que Lycaon sacrificou uma criança no altar de
Zeus Lycaeus (nomeado como a montanha onde o altar se encontrava) e a criança se
transformou em um lobo. Existem várias explicações destes fenômenos, variando de uma
ofensa deliberada ou indeliberada à Zeus e que resulta nesta maldição, como na teoria de
Robert Smith, que vê Lycaeus como centro de reverência de uma tribo de lobos nas
montanhas e que Zeus simplesmente usurpou seu santuário trazendo o corpo de Nyctimus e
deste modo, trazendo a luz. Ainda outro comentarista sugeriu que o sacrifício humano dado
à Zeus convocou a deidade para descer na forma de um lobo, e nesta forma, consumir sua
oferenda.

As 'Doze noites' é a extensão do calendário cristão, de 26 de dezembro até 6 de janeiro, do


período de epifania que leva ao batismo do Salvador. Mais corretame nte, este período devia
ser contado do solstício e então 12 dias progressivamente, onde cada dia é dedicado para
cada um dos cada 12 signos do zodíaco, em homenagem aos Magis-Astrólogos. Este
período marcava o fim do período de tempo que começa com Todos os Santos, Halloween
o Dia de Todas as Almas, e o dia de Reis, marcando então o dia final das festividades do
Desgoverno.

Os solstícios são pontos importantes para o vôo do Sabbath, como também vemos nas
declarações contemporâneas de supostos cultos de bruxas do passado, mas na realidade isto
tem pouco a ver com estes pseudo- mistérios, relativos aos estados angulares do giro
cósmico que têm flutuado através dos grupos contemporâneos que alegam possuir qualquer
percepção dentro disto. Na realidade, o solstício de Inverno e Verão são os pontos onde a
segunda visão é mais clara, desde que temos aqui a noite mais longa e o mais curto dia, um
excesso de Noite no Inverno e um excesso de Luz no Verão, sendo os signos cardeais
Capricórnio e Câncer, e assim, Saturno e Lua, Terra e Água, a real constituição do homem
no pico de sua atividade marcada pelo Sol Invictus entrando nestes dois signos. Vemos uma
transição similar com Hécate, mas devemos enfocar no formato em que ela emergiu dentro
do tempo de Plutarco, os Hinos órficos e homéricos, isto é, em cerca de 500 a.C. No Hino
homérico para Deméter, Hécate é mencionada como o propolos e opaõn de Perséfone, sua
companheira e guia. Todas as deidades com a habilidade de liderar uma katabasis (descida
ao Mundo Inferior) naturalmente seriam deidades sujeitas ao domínio das artes fúnebres e
necromânticas, de psychagõgia ou goetia, o que significa que Dionysius, Apollo, Orpheus e
Hermes seriam deidades de importância para os goes, assim como Prosérpina, Deméter,
Kore e Hécate. Como para Hécate, ao redor do Século V a.C., ela era megisté, a maior, e
acompanhada por Zeus e Cybele nos distritos vizinhos da Frígia. Encontramos aqui
múltiplos aspectos relacionados à Hécate; Pausanias a honrou como a „portadora da luz‟,
um epitáfio mais comumente usado para honrar Phosphorus, na cidade de Lagina ela era
honrada como kleidos agõge, a processadora da chave – e acima de tudo como uma
protetora das cidades e portais, daí a importância da lâmina em sua representação triforme.
Na Cidade de Thasos, ela fora colocada em cada um dos três portais da cidade, e em
Rhodes ela era adorada juntamente a Apollo e Hermes.

A transição de Hécate, de uma honrada portadora da luz e proteção, para a senhora dos
fantasmas e uma patrona Noturna dos párias foi relacionada ao interesse crescente
emmetempsychosis, ou reencarnação e conseqüentemente especulações sobre como a vida
e as circunstâncias afetavam a transmigração da alma dentro de um novo vaso corpóreo.
Hécate como a protetora das parteiras e Virgens tinha uma importância particular na
segurança do parto, desde que havia a crença de que Virgens que morriam jovens sem dar à
luz sofriam a danação ou maldição por sua inabilidade de realizar sua obrigação/destino –
isto é, se tornar uma mãe. A reputação de Hécate começou a se inutilizar e mudar, até que
foi vista como uma protetora dos párias e os vis fantasmas da noite. Ela era encontrada na
encruzilhada da noite e também passou a ser encontrada nos ossuários, e assim criou-se
uma associação com skia ou sombras, que eram as almas vis dos mortos- vivos
transformados em fantasmas bravos, aõrai (literalmente alguém que morre muito jovem).
Existia também a classe de fantasmas vingativos chamada de alastõr, que era intimamente
ligada com a morte prematura e a necessidade de cumprir seu destino ou „missão humana‟.
Disto, uma avaliação firme da existência de fantasmas femininos malévolos ameaçando
crianças ainda não-nascidas e jovens virgens se tornou cada vez mais forte, e de acordo,
observamos o crescimento de amuletos contra gelloudes (fantasmas hostis), strix, lamiae e
mormõ. Hécate como uma guardiã do portal, especialmente ao Submundo, empreendeu
naturalmente muitos destes aspectos noturnos, vingativos e frios, mas apesar disto sua
Graça e Majestade vivem em sua representação tripartida de três faces, com Chave, Lâmina
e Tocha. Ela era ao mesmo tempo a possuidora da chave, a protetora e a portadora da luz.
Esta transição é semelhante ao que aconteceu com Lilith, hoje vista ou como uma demônia
vil e sanguinária ou um símbolo feminista e depravado de domínio sobre o abuso
masculino.

É interessante ver que os três animais sagrados para Hécate eram a porca negra, a égua e a
cadela. Animais associados com a segunda visão (cachorros), viagem entre os mundos
(cavalos), pesadelos (porcos e éguas) e todos estão relacionados à fertilidade e luxúria. A
companheira e guia de Perséfone, e como tal, um ícone digno a qualquer um que busca
trilhar o Caminho Infernal. Curiosamente os mesmos animais também têm uma relação
particular com Odinn, outro viajante do Entre-Mundos.

A guarda contra vampiros são papoula e espinhos protetores, assim como redes de pesca,
nós e rosas - a beleza que cresce dos espinhos. Estas proteções feitas na forma de teia de
aranhas e colocadas do lado de fora das portas e portões pegarão qualquer mal apontado em
sua direção, e os voadores noturnos serão emaranhados em seu próprio reflexo.

Os vampiros estão além de tempo e espaço, vivem em uma eternidade na duração da vida
corpórea que têm, imortalidade e eternidade são a promessa destes viajantes da noite. O
blackthorn é sua natureza e whitethorn é sua ruína e fim. Foi sugerido que a estaca que
acaba com o estado de morto- vivo é roseira ou whitethorn.

As trilhas de espíritos sempre seguem linhas retas, e é por isso que no Brasil ainda existe o
velho costume rural da procissão fúnebre feita pelas curvas e ganchos da estrada,
literalmente, e jamais levar o morto à estrada reta para o cemitério, desde que isto
representará a estrada de sua ressurreição como morto- vivo.

O Reino das Nightshade

O mistério da viagem noturna é revelado no mundo silente das ervas de consolo


(Solanacae) assim como encontramos em várias receitas de Unguentum Sabbati. Iohannes
Weyer, um aluno de Cornelius Agrippa dá a seguinte fórmula: Sium (cicuta), acorum
vulgare (calamus),pentaphyllon (cinco-folhas) uespertilitoris sanguis (sangue de morcegos),
solanum somniferum (erva- moura mortífera) e oleum ou óleo.

Outro unguentum de fontes tradicionais indica raiz de alcaçuz, raiz de mandrágora, flores e
folhas de Datura melli, Beladona, Anis e óleo. Esta receita também foi encontrada
incluindo variantes de acônito/monkshood, com o qual aconselho extremo cuidado.

Ainda outra da Escandinávia, indica uma decocção de amanita muscaria seca e então uma
pomada ou óleo de acônito/monkshood, mandrágora e meimendro – receita que acredito
que deve ser usada com precaução extrema dada as propriedades chtonicas desta mistura
que pode resultar em coma, e no pior caso induzir a um pesadelo contínuo e eterno.

Como visto, o acônito é um ingrediente freqüente nos unguentuns, mas deve ser informado
que este é um veneno radical que pode paralisar de forma eficaz a respiração, e é bom saber
que a Beladona é seu antídoto. Caso você queira testar o nível de sua sensib ilidade com este
gênio selvagem, corte seu próprio Monte de Vênus (o monte do dedo polegar) suavemente
e coloque um pedaço da raiz no ferimento. Deixe-o lá por dez a quinze minutos e remova-o.
Permaneça tranqüilo e receptivo por uma hora e veja se este encontro gerou qualquer efeito.

Na realidade, eu gostaria de recomendar para o vôo do espírito ao Sabbath do Mestre o


seguinte filtro: pegue uma colher de chá de raiz de mandrágora, três folhas de Datura
stramonium ou melli e uma flor da mesma planta, uma co lher de sopa de bagas de beladona
(madura), uma colher de sopa de raiz de alcaçuz e uma colher de sopa de hissopo. Coloque
esta mistura em conhaque, o suficiente para cobrir as ervas por uma semana, e misture esta
alcolatura com 1,5 litro de vinho tinto. Deixe repousar por 24 horas e o filtro estará pronto
para consumo. Mas não é possível dar ênfase o suficiente para mostrar a atenção com o
influxo, mesmo com receitas como esta, que tem o efeito de frustrar as toxinas que apontam
para a redução da duração da vida e enviam para dentro da jornada final. Também é
possível adicionar uma flor de Lírio para este simples filtro. Mas, deve também ser dito que
estes mediadores herbários podem ser chamados pelo nome somente e deste modo o vôo
começa com os Aliados Verdes como espírito para espírito.

O Rito para Tomar Vôo

Você irá precisar de um pedaço de roseira, blackthorn, figueira ou nogueira, cortar um


bastão na forma do pé das bruxas. Você fará isto quando a Lua estiver crescente e em
Touro, Câncer ou Libra, alternativamente em um bom aspecto com Mercúrio. Você
também pode fazer isto num dia de Mercúrio em sua primeira hora noturna. Deixe uma
oferenda de café em pó, leite, vinho, três moedas e mel em gratidão ao espírito da árvore, e
em honra de Hermes, que vigiará o trabalho da escada.

Você levará o bastão para um rio na hora quando Vênus estiver subindo e lavá-lo com
vinho tinto e leite, rezando para as fadas lhe observarem. Então declare este seu bastão
como a escada para o Sabbath. Pique a si mesmo e unja o topo e fim com seu sangue.
No dia seguinte, quando Vênus subir ao céu, você tomará uma corda de couro da altura de
seu corpo e fará nove nós na corda, um nó para cada uma das Três Nornes e sua localização
tríplice no tempo e espaço. Você então amarrará a corda ao redor de seu bastão.

Na terceira noite você trará o bastão ao mesmo local onde você o lavou trazendo uma faca.
Você esculpirá no ponto mais baixo da escada a runa Hagal e cantará com as palavras de
distinção Hel- Hagal-Hela enquanto entalha. Você então esculpirá o pé das bruxas no topo,
no coração da divisão das estradas e cantará, no idioma dos pássaros:-

Algiz-Algiza-Holda-Algiz.

No centro você entalhará Laguz e cantará com a voz da água fértil:-

Laguz-Freya-Laugar

Unja o bastão com sopro e óleo e deixe-o descansar em um tecido escuro até a lua cheia em
um lugar escuro, evite a exposição ao Sol.

Na noite designada, quando Vênus se elevar, tome seu bastão e seu vinum sabbati ou
unguentum sabbati e posicione-se frente ao norte e aguarde até que a Lua esteja flutuando
diante de seus olhos. Você então fará uma petição para que a Lua tome você em suas asas, e
assim você poderá viajar para o Convento Oculto, ungindo a si próprio.

Tome a escada e crave-a ao solo repetidamente, gritando:-

Sator, Falcifer, As Bruxas da terra

A Lua está cheia e fértil e eu os convido, Mortos Poderosos, para que se ergam do
Sepulcro e Alcova, da Lagoa e Casa de Madeira

Elevem-se de seu sono e venham aos degraus da escada

Você então alimentará a terra com vinho e amêndoas, segurará a escada em sua mão
esquerda e visualizará as legiões com rostos de crânios subindo do solo.

Você então dirá:-

Do Mestre do Crânio da Terra e Vinho, Lâmina e Cruz

Por seu sangue eu chamo por Ele, que cavalga à fora na Caçada Selvagem

Mestre encapuzado do Bosque e da Pira

Sombrio na Porta e Encruzilhada

Peço-Te para abrir o Caminho Bruxo ao Sabbath


Pelas tão belas Nornes, e as Irmãs Wyrd [1]

Lance o fio de prata através da escada e monte

Mãe Nônupla, Hel, Herodias, Holda

Rainha de Elphame, Rainha do Monte Vênus

Leve-me para o Convento Oculto!

Agora você recitará as runas da jornada e enfocará no Pé das Bruxas e ascenderá para o
lugar sagrado atrás da Lua, através do poço de espinhos e permitirá às Bruxas da Terra, o
próprio Fauno ou seu famulus levarem- no pela escada e dentro do Círculo do Sabbath.

Quando você quiser retornar do Conclave Noturno no Montículo das Fadas, você
novamente agarrará a escada e gritará:-

Sator Rentum Tormentum

In Nomine Patris, Filii et Spiritus Sancti

Pelo Crânio da Sabedoria e em nome do Mestre!

Então você irá, ao retornar, deixar uma oferenda de figo, maçã e água ao genii loci e ao
belo povo daquele lugar particular.

Usando o mesmo local repetidamente para o vôo do Sabbath você conseguirá gerar um
portal e haverá uma crescente facilidade para cruzar os reinos.

Agora, isto dito, somente aqueles sábios de coração decifrarão entre fantasia e chegada,
então meça seus desejos conforme você toma o vôo, pois a jornada ao Mestre pode ser a
jornada do tolo, na mesma medida que o vôo do mundo...

NOTA: [1] Wyrd é um conceito na cultura antiga inglesa e escandinava, rusticamente


correspondendo a Destino ou Karma. O termo cognato no antigo idioma escandinavo é
Urðr, personalizado como uma das Nornes, Urðr (passado para o inglês como Urd). O
conceito correspondente a "destino" (fate) no antigo escandinavo é Ørlǫg.

A palavra inglesa antiga Wyrd é derivada do proto- germânico *wurþiz, do proto indo-
europeu *wrti-, um abstrato verbal da raiz *wert- "tornar" (do Latim vertere), relacionado
ao verbo inglês arcaico weorþan, que significa "crescer como, tornar-se". Em seu sentido
literal, refere-se "àquilo que se torna, que se passa".

O termo ørlǫg é proveniente de ór "fora, de, além" e lǫg "lei", e deve ser interpretado
literalmente como "além da lei", ou como "lei fundamental/absoluta/primária". Isto
certamente se refere à Lei trazida por Júpiter/Zeus, em oposição ao mundo de riquezas
ilimitadas da Era do Ouro de Saturno/Cronos, com o qual as bruxas estariam conectadas até
mesmo pela arte da necromancia. A referência pode ser encontrada na mutação da palavra
Wyrd em Weird (estranho, esquisito), e em especial no que se relaciona ao aspecto das
Irmãs Wyrd representadas em Macbeth, de Shakespeare.

++++++++++++

O Sangue dos Mortos


Através do planeta e da terra, através dos veios e fluxos subterrâneos o sangue dos nossos
antepassados corre. A própria Terra está em nosso sangue. Dos humanos, através dos
animais e répteis – todo o caminho volta para a Árvore dos Antigos que estende suas raízes
profundas dentre as cavernas das memórias esquecidas, onde elas nutrem sua sabedoria nos
ossos dos nossos antepassados.

Oráculos foram esculpidos em madeira exatamente por isto. O conhecimento dos nossos
ancestrais, as árvores, foi comunicado à Odin, o deus-homem da Escandinávia, pela escolha
das runas em seu ato de auto-sacrifício para ele mesmo. Por este ato e por esta ação ele se
aprofundou para dentro da memória arcana dos deuses e homens e recuperou esta
sabedoria. Nosso familiares, sejam eles cachorros ou sapos, pássaros ou serpentes, gatos ou
javalis, são testemunhas vivas à nossa linhagem, nosso senso de afinidade com a natureza,
nossa corda de sangue que se estende através do tempo e dentro do círculo do Um.

Muito tem sido dito sobre o Sangue-Bruxo e a marca, e pouco devo dizer aqui sobre este
mistério da arte sábia, mas sob os nossos pés descansa o primeiro passo para esta
realização. Pelo despertar dos Silentes que descansam dentro da lama e terra, água e raízes
do planeta em si, o legado do Sábio deve estar evidente, assim, você clama no vale do
conhecimento, mas pode receber somente o eco de sua própria fantasia, ou realmente a voz
que fala ao herdeiro vivo.
Então, você deve aderir a este primeiro mandamento, que deves venerar aos Mortos
Poderosos solenemente, pois neles jazem as raízes do sangue para o verdadeiro tornar.

O Rito para Sangrar a Noite sobre a Terra


Um ritual para alimentar as Bruxas da Terra

Escolha bem se a Lua deve ser de Sangue ou Leite e sob esta Lua, oculta ou exposta, é que
você irá à árvore poderosa que será um Carvalho, Mangueira ou Salgueiro, ou aque la que
seu Coração te disser. Em sua raiz você adaptará de seus galhos caídos uma cruz com
braços iguais, e a prenderá com a grama ou vinha. Esta cruz será colocada no lado do norte
da árvore e você deve falar para a cruz as seguintes palavras:

Quatro estradas encontram e quatro estradas partem


No centro de Tudo eu vim para comungar com os Silentes
Por esta Cruz eu chamo o legado do meu Sangue
Esta é a Verdadeira Cruz, a Cruz do peregrino que conhece sua estação e lugar de repouso
Permita-me repousar novamente nos braços de minha família
Grandes Deuses, imortais e eternos, ouçam-me, assim como os desperto de seu sono e
silêncio

Você então traçará o sinal da terra para proteção e comunicação, assim como o andarilho
solitário nos ensinou, e que é conhecido como a bússola do sábio e o capacete de Ygg, com
farinha branca como osso, ou pó de ossos propriamente. Você então colocará a cruz sobre
ele e com vinho e leite alimente a cruz e o solo, em cada ponto da cruz e seu centro, e você
então declarará aos poderes dos Antigos de que você tem clara determinação e pura
orientação:

Sob a Estrela Ressuscito a Cruz


Viajei a este ponto onde tudo está quieto
Descartarei toda falsidade e seguir adiante dentre os Pastos do reino Dourado da Rainha
Sob a estrela, permaneço erguido e não caído
Sob a estrela rezo para Ti Meu formoso daemon de minha própria essência Verdadeira
Meu espírito guarda e aliados da Noite
Todos os que me trouxeram a este Ponto
Sob a Estrela Onde eu ergo A Cruz Verdadeira que faz tremer toda a falsidade através de
seus grandes poderes
Como Um na companhia de muitos que eu ergui A Cruz Verdadeira sob a Estrela

Agora levante a cruz e faça um buraco pequeno no centro do sinal. Alimente este buraco
com uma única gota de seu próprio sangue, tirado do dedo mais longo em sua mão
esquerda. Você então colocará três feijões pretos em sua boca para tomar sua saliva.
Coloque-os no buraco juntamente com uma moeda de prata. Coloque a cruz sobre o buraco
e chame aos Mortos Poderosos:

Despertem de seu sono, oh Mortos Poderosos desta Terra Abençoada!


Despertem e levantem das câmaras silenciosas no coração da terra
Sou eu, .....que está lhes chamando
Pelo sangue e sinal
Pelo Coração e carvão Pela Lei que ata a Verdade
Pela guirlanda de rosas e o Mistério do Crânio
Através e pelos sacramentos eu lhes chamo ao banquete de Um
Venham em meu auxílio, belos e feios Hoste Feérica e noivas da Morte
Os que trocam de pele os mortos-vivos
Todos vós, sábios que um dia Caminharam sobre esta terra
Eu lhes chamo para que uma vez mais caminhem sobre este Solo
Então libertem-se do centro do silêncio
Libertem-se do centro da terra
E vejam-me, assim como desenho o sinal do Tornar-me um com o Sangue Ancestral
E vejam-me, assim como alimento o solo para despertá-los todos, para se erguerem dentre
O Banquete de Um
E comuniquem-me As respostas que busco
E dêem-me Os remédios que necessito
E venham ao meu auxílio nesta hora de Necessidade
Pelo sacramento e poder do Coração
Pelos dons e sinceridade
Pelo meu Juramento
Eu lhes chamo Para testemunhar o chamado de Um à sua própria raça
Despertem!
Despertem!
Despertem!
Amém! Amém! Amém!

Deite agora sua cabeça sobre a cruz e permita que o espírito ouça da necrópole sob as raízes
para tomá- lo e responder à você, guiá-lo e abençoá- lo. Você então trará a cruz para sua
alcova, e à noite, quando você quiser que seu sangue corra em suas veias e lhe ensine sobre
suas necessidades, você a colocará em um altar no nível de sua cabeça, com um copo de
vinho tinto de sangue, e a água deve estar nos lados da cruz. Se você achar que cabe
decorar a cruz, faça-o com folhas de bambu. Por este ato necromântico o morto deve falar,
e o sangue voltar contra o grão, para que você veja teu legado e a sabedoria, ou loucura que
vem disto.

Por Azazayin
Comentário do editor: Este ritual faz parte do corpus da Via Vera Cruz, um círculo
tradicional da Arte Sábia, gentilmente cedido para publicação.

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A Verdadeira Cruz da Terra

A Verdadeira Cruz da Terra


Por Azazayin

As idéias sustentadas pelas pessoas, a respeito do Ofício e da Arte das Bruxas são muitas, e
freqüentemente distorcidas pelas concepções profanas de nossa era. Especialmente popular
tem sido a idéia de fusionar ciência profana com conhecimento tradicional e criar corpos
ecléticos de conhecimento, com reivindicações de algum tipo de procedência ou aspiração
genuína. Na verdade não precisamos olhar muito longe para encontrar a herança Sábia. A
terra que pisamos carrega a sabedoria dos Ancestrais Sábios e dos Mortos Poderosos.
Aqueles que anteriormente colocaram sua marca sobre – e dentre – a terra repousam bem
debaixo de seus pés. A Arte não repousa nas mentes profanas e reformadas dos ocultistas
modernos que visam reformar e revitalizar o Ofício, para trazê- la em concordância com as
tendências e modismos de nossa era. O Sábio irá se apegar à tradição, a tradição que nos foi
dada pelos doutores dos planetas, bruxas, sábios e magos do passado, aqueles que eram
bem versados na Arte Sem Nome e que trouxeram a Arte até nossos dias. Falo de pessoas
como Nicholas Culpepper, Al Biruni, Ptolomeu, Cornelius Agrippa, Platão, Ficino,
William Lilly, Elias Ashmole e tantos outros que transmitiram a Arte no passado para
nosso sábio benefício no presente. O homem moderno tende a ver esses guardiões da
sabedoria como ultrapassados e arcanos à luz da revolução tecnológica da era moderna, que
tem tornado a comunicação e conhecimento cada vez mais e mais acessíveis. Esta idéia
comumente sustentada de progresso vai contra o fluxo natural, e o homem está
gradualmente perdendo seu contato com a natureza e as fontes da Arte. O homem está
constantemente negligenciando sua ancestralidade espiritual e insiste em reinventar
ferramentas e técnicas que acredita serem melhores.

Tomemos um exemplo, a astrologia. Anterior ao século XVIII, a astrologia era uma arte
baseada na distinta idéia de que o mundo era um universo holístico e divino, onde as
interações e inter-relações aconteciam o tempo todo, o natural e o sobrenatural não eram
separados e, definitivamente, as manifestações natura is possuíam causas e relações
sobrenaturais. A astrologia costumava ser uma arte solidamente fundamentada na crença de
que a criação era geocêntrica e holística. A astrologia moderna, por outro lado, adotou para
si o campo da psicologia e, ao invés de ler soluções e predições num contexto hermético,
como os doutores planetários clássicos faziam, temos agora astrólogos que usam as estrelas
para mapear tipos de personalidade, negligenciando a maioria dos fatores tão importantes
para interpretação de uma carta clássica. Creio que isso seja devido tanto pela
complexidade da arte como também pelo fato de que a arte clássica demanda que você se
curve à sabedoria dos ancestrais. Em um egoísta, onde o egocentrismo nos circunda como
montanhas gigantes, o homem sente que a adesão às regras da ancestralidade significa o
sacrifício da integridade e da individualidade, não vendo que voltando- nos para a sábia
ancestralidade podemos nos tornar elos vivos à cadeia de sabedoria ainda vivente e pronta
para ser abraçada.
Os sábios que desvelam a atemporal arte podem parecer ultrapassados em sua completa
adesão ao tradicionalismo nas premissas da herança de nossos ancestrais espirituais, e
podemos dizer que eles seguem contra a corrente, sustentando o ouro do passado enquanto
deixam a argila e o limo das invenções modernas e profanas serem levadas pelo rio Lethe,
esquecidas por aqueles da Arte Sábia, como se seu valor fosse julgado ser de menor
qualidade. Os Bruxos da Vera Cruz sempre irão contra a corrente em sua aspiração pela
tradição, e tal é o caso da maioria das organizações tradicionais do Ofício. Passarei aqui
uma simples prática para que o peregrino se reconecte com a Terra. Por terra me refiro a
este mesmo solo em que você está pisando, e aos homens e mulheres que co m seu sangue e
sua vida contribuíram para que você fosse o último elo em sua corrente de ancestralidade
sanguínea.

Como Cornelius Agrippa afirmou: "O semelhante está em outras coisas, as quais afetam a
mente com um forte desejo". Ele falava aqui do desejo criativo da mente (Nous) do homem,
faculdade que torna possível o vínculo do celestial ao infernal. Mas para que isto seja
efetuado precisamos trabalhar na corrente da analogia e simpatia. Isto significa que
precisamos trabalhar na linha de ressonância com a terra e o que pode despertar os Mortos
Poderosos da própria terra. Mas antes de podermos alcançar isto precisamos nos relacionar
com nosso sangue ancestral. A melhor maneira de fazer isso é indulgir ao que os sábios
gregos e goes chamavam de Katharmoi, ou purificações. Essas purificações eram feitas
através das orações e da água, mas hoje em dia deparamos com outras questões que
também precisam ser identificadas, como o estado disfuncional de co-dependência social
que indulge no bode espiatório – para usarmos a linguagem da psicologia vulgar e popular.
O homem moderno tende a julgar muito facilmente e a recusar-se a tomar responsabilidade
por suas ações. Com que freqüência você não ouviu dizerem que fizeram o que foi feito por
causa de outra pessoa? Quantas vezes não é culpa da própria relutância em se resolver às
complicações relacionadas a um pai abusivo ou uma mãe insana? Ao invés de entender
como estes fatores potencialmente maléficos contribuíram às ordálias que lhes capacitaram
a alcançar seu potencial, o homem vulgar vê a ordália como obstáculo. Então, a primeira
parte do exercício é fazer uma lista de seus ancestrais e um poema que celebrará cada um
deles. Quatro ou cinco linhas serão suficientes. O ideal será traçar sete gerações, mas em
nosso mundo moderno, isto raramente é possível. O mais longe que se puder ir, já será bom
o suficiente. Muitos dos que lêem a isto agora irão objetar, e declarar que os pais abusivos
não merecem um poema, hino ou ao menos um elogio. Não é bem assim, ao menos uma
mãe insana e má teve um útero que o trouxe à vida, então tome por aí. Comece com o
ventre divino que fez o milagre da vida possível, todo o resto é só comportamento mediado
por algo externo, ou algo externo integrado como verdade. Tomemos um exemplo extremo,
uma mãe e pai que abusam de seus filhos sexualmente e com violência. Como um elogio
pode ser composto em tais condições extremas?
Oh, Útero divino / Caverna sem defeitos de Deus / Escondido dentro da carne da
decadência / tu foste um abrigo para meu habitar / Por teu útero eu te saúdo XX e eu louvo
os poderes divinos que fizeram teu útero minha primeira casa.
Oh pai severo do chicote / sem ti eu nunca seria / Esteja em paz Senhor do chicote / Deixa
tua violência descansar e me conceda o acesso a terra de Hades / Pai, eu te saúdo por teu
nome XX / Eu louvo os poderes que fizeram tua semente crescer em mim.

De tal forma, evitamos comentar sobre as ações propriamente. Precisamos assumir que
todas as pessoas nascem boas e abençoadas, o que quer que venha depois pode trazer ao
alinhamento ou para fora do alinhamento da condição humana abençoada pré-destinada.
Poucas pessoas chegam a nós por uma ancestralidade composta de pessoas que atuam como
boas e abençoadas; ao contrário, caem presas de suas maldições familiares. Libertemos
disto e deixemos a dor do abuso seguir para o túmulo do abusador. Você não é seus pais, e
as más condutas de outras pessoas não são suas. Então, ao purificar sua ancestralidade ao
lidar com estes fatores, você está preparando a você mesmo para encontrar a ancestralidade
espiritual dos sábios caminhando pela terra hoje em dia. Você é o que você é, e o que
importa é que você está resoluto em sua afirmação de se tornar o melhor que o seu
potencial pode se tornar. Toda ação e intento carrega a semente da lição, faça isto bem e
tome a lição em nome do seu anjo e pelo aperfeiçoamento de sua natureza.

Agora, para conectar com a terra empenhe-se no seguinte katharmoi:

Você selecionará as ervas de acordo com seu signo ascendente e fará delas um condensador
fluídico. A essa tintura herbácea você misturará vinho tinto doce. Antes do encontro com os
espíritos da terra, você tomará um copo desse vinho, irá misturá- lo com água, e tomará um
banho. Leve então o vinho remanescente a um lugar solitário, que você crê que ressoe com
algo inominado em sua alma, e você se sentará nesse lugar e afirmará seu nome e
ancestralidade aos espíritos deste pedaço particular de terra. Em silêncio você se sentará,
alimentará a terra com uma vela branca e um copo do vinho que preparou, dizendo:

Oh gentis espíritos da árvore que alcança os céus, eu alimentei tuas raízes infernais e peço
permissão para entrar no reino dos mortos-vivos e seres feéricos. Vejam-me enquanto
partilho da mesma essência

Você beberá um copo cheio de vinho e acenderá a vela. Você verá sua alma ser preenchida
pelas virtudes do vinho e dirá:

Oh espíritos de minha natureza, virtudes de minha virtude, tomem-me e ensinem-me, dai-


me símbolos e presságios para que eu possa aprender os segredos de minha própria Cruz
Verdadeira. Pelo magistério do Caminho eu vos peço e vos imploro para abrirem as portas
para mim. Eu sou o Um, o Sangue Vívido de minha própria ancestralidade sagrada, e se o
sagrado foi profanado, eu estou aqui para uma vez mais fazer o profano tornar-se sagrado
novamente! Recebam-me então! Assim seja, mundo sem fim!
Você então visualizará com desejo, no olho de sua mente, como um raio de luz cai de sua
estrela e golpeia o chão à sua frente, fazendo uma passagem dentre a terra, dentre a árvore,
dentre a rocha ou a montanha – e você então, com a mente saturada de desejo entrará e se
renderá. O sábio saberá como caminhar daqui para além...

Não há saudações para concluir este ritual; ao invés disso, você deverá buscar reunir itens
deste local que parecem ser de importância para continuidade do trabalho aqui iniciado, e
assim, deixará tudo nas mãos dos espíritos guias da terra. Se eles ouviram seu chamado
você saberá; e se você fingiu ouvir o chamado, eles te perseguirão e você sofrerá por s ua
falta de honestidade e honra. Então, para você que meramente busca clamar o poder para si,
cuidado, pois o Senhor dos poderes é verdadeiramente „dos diabos‟ e como todo diabo, o
teste será radical, e se você perder, perderá tudo e se ganhar, ganhará tudo.

Azazayin é o Magister do conventículo da Arte Tradicional Via Vera Cruz.

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De Clavis Argentum

Ou a Chave para o Reinado dos Sonhos

Por Draku-Qayin
Os Sonhos são os caminhos para os Oráculos de Deuses e Demônios. É por meio dos
Sonhos, Oneiroi, os misteriosos filhos de Hypnos, que caminhamos nas Estradas Tortuosas
que guiam rumo ao Verdadeiro Sabbat. É no Reinado dos Sonhos que podemos contemplar
o brilho da Verdadeira Cruz, e é lá que se corporifica o Campo onde o Congresso com os
Espíritos dos Mortos Poderosos é concedido. É nos Sonhos onde ocorre nosso encontro
com o Mestre Chifrudo e com a Rainha de Elphame, com as Hostes de Anjos e Demônios e
todo Cortejo Oculto da Arte Sábia
Mas deve-se ter em mente que, quando falamos em Sonhos, não estamos nos referindo aos
sonhos mundanos do dia a dia. Conforme explica Agrippa: Por sonho, neste sentido, não
me refiro aos sonhos vãos ou à imaginação ociosa, pois estes são fúteis e nada têm de
divinatório, surgindo apenas das observações diárias e de algum distúrbio no corpo. Pois
quando a mente está ocupada demais e esgotada de tanta preocupação, ela provoca sugestão
naquele que dorme. Chamo de Sonho, aqui, aquilo que é causado pelas influências
celestiais no fantástico espírito, mente ou corpo, se estão todos bem dispostos”.[1]

Este tipo de Sonho é o que o Feiticeiro Inglês Nigel A. Jackson chama de Via Nocturna,
que conforme a definição do mesmo “é uma seqüência de „Sonhos Lúcidos‟ usada na
Convenção do Espírito da Caça como um portal contemplativo/onírico para o Conclave
Sabbático”. [2] Isto é o “Sonho feito Carne”, como dito pelo falecido sábio Andrew
Chumbley.

Diversos são os meios para se chegar à Verdadeira Encruzilhada, como o uso das ervas de
consolo (Solanacae) em Ungüentos e Vinum Sabbati; a prática das “Escadas de Bruxas”
como foco devocional em um rosário comumente composto de um cordão com nós, onde a
repetição de determinado mantra ou prece leva a um estado de transe; o uso de certas runas
que despertam os poderes para o Vôo Noturno; Azazayin trata claramente deste assunto em
seu ensaio Monasterium Unguentum Umbrae. [3]

Talismãs e Amuletos também são comuns na Arte de Evocar os Oneiroi. O famoso


grimório de magia astrológica árabe Ġāyat al- Hakim, mais conhecido como Picatrix, dá
alguns exemplos da construção de certos talismãs astrológicos indicados para causar
Sonhos. Na Arte Feiticeira das Ervas [Wortcunning Craft] temos diversos exemplos de
pacotes feitos com uma certa combinação de ervas, e que colocado abaixo do travesseiro,
despertam Sonhos Proféticos e contato com o Mundo Espiritual. É dito que um saquinho
feito com zimbro (Juniperus communis) e colocado debaixo do travesseiro desperta sonhos
proféticos a respeito do amor; um saquinho com jasmim estrelado (Jasminum nitidum),
folhas de lavanda (Lavandula augustifolia ou Lavandula officinalis) e ramos de artemísia
(Artemisia vulgaris) também colocado debaixo do travesseiro dará bons sonhos aquele que
sofre de pesadelos. Bem como o conhecido chá de camomila (Matricaria recutita) tomado
antes de deitar, tão recomendado para o bom sono.
O trabalho mágico onírico, para ser bem sucedido, deve ser orientado pela Lua. A Lua é
considerada astrologicamente como a lente que reflete os poderes dos planetas e estrelas
para a Terra. Ela é desta forma, uma mensageira, e por isso, associada com os Sonhos
Visionários e Mensagens Divinas. Gabriel, o Anjo Mensageiro é também o Anjo da Lua. É
por isso que, o poder onírico concedido pelas forças lunares é aqui chamado de Chave de
Prata. Este poder intenta-se corporificar num Vaso apropriado, que no Ritual a seguir é uma
pedra conhecida como Selenita, conhecida pelos Homens Sábios por seus poderes em
despertar sonhos místicos.

O Ritual da Chave de Prata

Para ter acesso aos Reinos Oníricos, nos quais o Congresso com os Espíritos é concedido, a
fórmula abaixo é indicada. Com ela, uma pedra especialmente abençoada se tornará o Vaso
para a Chave de Prata, que concederá o acesso aos Portais de Hypnos, sua abertura e a
Visão das maravilhas existentes no Campo do Bode.

Para executar este Ritual é necessário observar o Céu, e escolher corretamente a data de sua
execução. A Lua deve estar em seu período crescente, ou seja, entre a Lua Nova e os três
primeiros dias de Lua Cheia. Deve ela também estar dignificada por Dominação, habitando
na Nona Casa do Céu, sem nenhuma aflição vinda de Marte, Saturno ou Cauda Draconis,
ou seja, não estando em Conjunção, Oposição ou Quadratura com nenhum deles.

O Peregrino que deseja se aventurar nos Reinos Oníricos deve conseguir uma pedra
chamada Selenita[4], bem como uma pequena caixa de madeira com tampa onde esta pedra
possa ser guardada. Três das seguintes ervas devem ser escolhidas pelo feiticeiro: lavanda
(Lavandula augustifolia ou Lavandula officinalis), artemísia (Artemisia vulgaris), absinto
(Artemisia absinthium) camomila (Matricaria recutita), rosas (Rosa spp), cânfora
(Cinnamomum camphora), Trombeta-do-Diabo (Datura stramonium ou Datura
brugmancia), Dama-da-Noite (Cestrum nocturnum), jasmim (Jasminum officinale), jasmim
estrelado (Jasminum nitidum) ou anis-estrelado (Illicium verum). O feiticeiro deverá
também conseguir um incenso no aroma de uma das ervas citadas, uma única vela branca,
Água Benta de Igreja e um pouco de azeite puro de oliva.

O feiticeiro erigirá um pequeno altar com esses itens, no centro de seu local de trabalho. Ele
se voltará para o leste e vibrará o nome Michael. Ao sul ele vibrará Auriel. Ao oeste
Raphael e ao norte Gabriel. Ele então acenderá a vela branca, e em seguida acenderá o
incenso na chama da vela.

O feiticeiro tomará as três ervas escolhidas, uma a uma, em suas mãos, e pedirá
intimamente ao Daemon daquela planta que traga o poder de acessar os Reinados dos
Sonhos, o acesso ao Congresso na Encruzilhada do Sabbat, e então colocará a erva dentro
da caixinha de madeira. Após ter colocado as três ervas na caixinha, ele então molhará seus
dedos indicador e médio no Azeite, e marcará o Sigillum Diaboli na pedra enquanto diz:-

“Mestre da Encruzilhada,

Senhor que habita no local onde dois caminhos se encontram e quatro caminhos partem,

Portador dos Chifres de Selene,

Oh Diabo, ouça minha oração!

Por meio de teus poderes e da graciosa Lua, encante este Vaso para que ele se torne
preenchido pelos poderes da Chave de Prata.

Assim, o Caminho estará aberto para mim!

Assim, os Portais do Sabbat serão abertos para mim!

Assim, dançarei a dança reversa no Campo do Bode, nos Prados de Josafá!

Pelo teu cajado que abre os caminhos e pela graça e beleza da Rainha de Elphame,

Pelos poderes da Verdadeira Cruz,

Eman Hetan! Eman Hetan! Eman Hetan!

Amém +”

Ele pegará então a pedra Selenita em suas mãos, e a colocará para receber a fumaça do
incenso, prosseguindo invocando os Poderes Lunares utilizando o Hino Órfico da Lua:-

Hino Órfico para a Lua

“Ouça Deusa Rainha, difundindo luz prateada,

Aquela do chifre de touro que vaga pela escuridão da Noite.

Cercada de estrelas, e com largo circuito

Tocha da noite estendida, pelos céus tu passeias:

Fêmea e Macho com raios emprestados Tu brilhas,


E agora de orbe cheia, tendendo a minguar,

Mãe das eras, lua que produz frutos,

Cujo orbe âmbar faz a Noite tardia refletida:

Amante dos cavalos, esplêndida, rainha da Noite,

Poder que a tudo vê, enfeitada da luz estelar.

Amante da vigilância, inimiga da discórdia,

Em paz se rejubila, e de vida prudente:

A Bela lâmpada da Noite é teu ornamento e amiga,

Que dá aos trabalhos da Natureza seu destino final.

Rainha das estrelas, Esposa de Todos, Diana, salve!

Ornada com um gracioso robe e brilhante véu;

Venha, Deusa abençoada, prudente, estrelada, brilhante,

Venha lâmpada lunar de luz esplêndida e singela,

Brilhe nesses ritos sagrados com raios prósperos,

E por favor, aceita esta suplicante prece mística.”

Durante a recitação do Hino, deve o feiticeiro visualizar que dos céus o Pneuma da Lua
desce até seu corpo como uma bela luz prateada, e de seu corpo é transmitido para a pedra
por meio de suas mãos.

Ele finalizará o ritual aspergindo a Água Benta três vezes sobre a pedra e dizendo:-

“In nomine Patris, et Fillii et Spiritus Sancti. Amém.”

A pedra, que agora é o próprio receptáculo da Chave de Prata, deve ser guardada dentro da
caixa forrada de ervas, esta tampada e deixada no Altar até a vela se consumir por
completo.
Símbolos e sigilos podem ser pintados ou gravados na caixa, de acordo com a orientação do
Gênio ou Juno do praticante, como também seu conhecimento pessoal de simbologia. A
caixa deve sempre ser mantida no Altar pessoal.

Para acessar os Reinos dos Sonhos, escolha uma noite específica, tire a Chave de Prata da
caixa, coloque-a debaixo de seu travesseiro e reze o Hino Órfico dos Sonhos, pedindo em
seguida a orientação desejada ou o acesso aos Festins na Encruzilhada. Um incenso de
lavanda aceso e uma beberagem de camomila antes de se deitar auxiliam no despertar dos
poderes da Chave.

Hino Órfico de Oneiroi

“A Ti eu invoco, abençoado poder dos Sonhos [Oneiroi] Divinos, anjo dos destinos
futuros, as asas rápidas são tuas:
Grande fonte dos Oráculos para a Humanidade, quando se infiltra suavemente, e sussurras
para a mente,
Através do silencioso e doce sono e o obscurecer da noite, teu poder despertas a luta
intelectual;
Para as almas silentes a vontade do céu relatas, e silenciosamente revelas seus destinos
futuros.
Eternamente amigável para a justa mente sagrada e pura, aos ritos sagrados inclinada;
Por isso com esperança agradável teus sonhos inspiram, felicidade antecipada para aquele
que tudo deseja.
Tuas Visões manifestam o destino descoberto, que métodos melhores podem mitigar nossas
aflições;
Revele que ritos aos Deuses imortais agradam, e quais os meios para satisfazer sua ira:
Para sempre tranqüilo é o fim do bom homem, cuja vida, teus sonhos previnem e defendem.
Mas dos maus torna-se oposto à bênção, tua forma invisível, o anjo da angústia;
Nenhum meio para deter a maléfica aproximação eles encontram, pensativos com temores,
e cegos ao futuro.
Vinde, poder abençoado, os símbolos que revelam quais decretos do céu são
misteriosamente ocultos,
Sinais somente presentes para a mente merecedora, nenhum mau presságios revelas do
gênero monstruoso.”

Lembre-se sempre que a Chave só deve ser usada aos fins sublimes da Arte, e quando se
necessita de orientação pelo Oráculo de Oneiroi. Utilizar a Chave de Prata para fins
mundanos, ou apenas para testar seus poderes, levam a loucura e aos reinados sombrios da
insanidade.

[1] Agrippa, Cornélio – Três Livros de Filosofia Oculta – Livro 1, Cap.LIX “Da
Adivinhação pelos Sonhos”
[2] Jackson, Nigel – Masks of Misrule – Cap.05 “The Man in Black & the Road to te
Sabbat”

[3] Azazayin – Monasterium Unguentum Umbrae – O Caldeirão Ed. XVI

[4] A Selenita pode ser substituída pela pedra conhecida como Opala, que terá um efeito tão
bom quanto, e uma ou outra podem ser combinadas com a Hagstone, para o acesso aos
Campos do Sabbat, o Acre do Diabo.

Nota Biográfica: Draku-Qayin é o Escriba e Convocador da Irmandade de Bruxaria


Tradicional conhecida como Via Vera Cruz. Autor do livro “O Caminho do Dragão – Uma
Introdução à Bruxaria Tradicional” (prelo), tarólogo há muitos anos, e atualmente é
também estudante de Astrologia Tradicional.

OBS* Nenhuma parte deste ensaio pode ser publicada em qualquer fonte sem a prévia
autorização do autor.
Escrito por Draku-Qayin vel Sabatraxas (a.k.a. Adriano Carvalho)

Hécate, A Sombria Amante da Alma - Bruxaria


Tradicional

“A Deusa Negra é, até agora, pouca coisa mais do


que uma palavra de esperança murmurada entre os
poucos que serviram seus aprendizados à Deusa
Branca - ela levará homem de volta àquele instinto
certeiro de amor que há muito tempo se perdeu por
orgulho intelectual…” (Robert Graves)

Quem é essa presença magnética e que forças nos


compelem a segui- la? Ambas, a história e a
mitologia demonstram uma tradição discernível de
initiatrix feminina. Uma linha tênue liga os
Mistérios da sabedoria antiga à Europa Cristã
medieval, no florescer do Renascimento literário o
domínio dos poetas de século XII, cujas metáforas
poderosas e alegorias prevaleceram como uma
conjunção esotérica e erótica entre a mídia ortodoxa
medieval. Dentro do culto gnóstico da Virgem
Negra no sul da França medieval, ela é por vezes chamada de "A Notre Dame de Lumiere";
e isso é sugerido por Peter Redgrove (1989:134) como sendo em igual extensão à Deusa
Negra, Mary Lucifer, a doadora-da-luz - Madalena, cujo símbolo é a rosa, e a rosa também
é a flor de Vênus, cuja total florescência exemplifica amor sagrado/secreto. Mas ela
também representa a sabedoria esotérica dos mistérios femininos, a ambos, carnal e
religioso. Essa informação "sub-rosa" era revelada somente aos iniciados que buscavam
esclarecimento e gnose.

Poeticamente, Redgrove descreve as engrenagens esotéricas em jogo por trás do disfarce do


gênero conhecido como 'o amor cortês'; como a energia sexual radiada dos olhos do amado,
fundindo no corpo sutil do amante, iluminando e elevando o espírito (ibid). Lembrando que
os olhos são as janelas para a alma, esta emanação de 'luz' - o poder psíquico da alma - mais
adiante é explicada como segue: “... O invisìvel assim se torna sensìvel pela operação de
espìritos dependentes do funcionamento fisiológico do corpo”.(ibid). Tal preliminar
intelectual induziu à radiação dos kalas(1) que explodiram em ondas miasmáticas de
pneuma orgasmos(2), secreções somáticas absorvidas e transformadas nos atos de
comunhão. Redgrove (1989:48) expressa essa força da Deusa Negra como “a luz negra se
dobrando como os loa, tecendo sua teia ao redor de tudo que está dentro de seu aperto, ela é
a luz da revelação dentro da escuridão.” Estas poderosas palavras evocativas sugerem o
papel de 'Destino', cujos processos alquímicos maithunic(3) eram movidos pelas mulheres
que operam sob o papel tradicional de hierodule ou initiatrix sexual, mas a quem elas
estavam representando?

A Virgem Negra era um símbolo da alma, um portal no supraconsciente, a encruzilhada dos


sentidos. Como prostituta e deusa escura, ela guia os mistérios da morte e renascimento,
revelando o seu conhecimento herético da menstruação e magia Kundalini; sua sabedoria
serpentina, explorada nos reinos dos sonhos onde as experiências reveladoras são de
maravilhar (Redgrove 1989:136-38). Estas imagens evidenciam uma deusa de longe mais
velha, mais antiga. A Madonna Negra na catedral de Chartres na França é conhecida como
Notre Dame de Souterrain, ou 'Nossa senhora do Subterrâneo' (Picknett & Prince:
1197:151). Talvez nossa primeira dica de Hecate? Maria é constantemente retratada como
uma fiandeira, fazendo alusão ao seu papel como a senhora do destino - outro papel mais
tradicionalmente atribuído a Hecate.

Redgrove (1989:115-120) apóia a Deusa Negra como a mulher primal, uma deusa primal,
uma Rainha de Encantamentos, de Magia negra e todas as coisas ocultas; seu esplendor
oculto é a inspiração de poetas e reis. Mais adiante, ele posiciona esta Deusa Negra como
cognata ao Espírito Santo, Sabedoria - a amante Abisag de Sunam do Rei Salomão... "Foi
Eu quem cobriu a Terra como uma névoa. Sozinha eu fiz um circuito do céu e atravessei as
profundezas do abismo... Quem de mim se alimenta ficará com fome de mais, e quem de
mim bebe terá sede de mais..." (Ibid). Redgrove a percebe como um succubus,
assombrando o mundo dos sonhos noturnos - os reinos de Hecate, a remetente dos sonhos.
Todos os aspectos da Deusa são explicados por Redgrove (1989:117) como psico-erótico,
multifacetado, subliminal e físico de uma só vez. Além disso, como uma forma de
sabedoria, ele vê a deusa negra Hecate como a luz radiante - a chama escura, dama-estrela e
portal para outros mundos (1989:138). Ainda mais interessante, ele a assume como Maria-
Lúcifer, a lumen naturae, a illuminatrix da alma (ibid:156) Mas, será que podemos
substanciar essa fenomenal suposição? Sim, nós podemos. Mitologias históricas fornecem
material de origem relevante, sobre o qual o leitor é encorajado a tecer suas próprias
conclusões.

Dentro dos Mistérios Órficos, Nyx, um negro espírito alado, levantou-se do Vazio do Kaos
para deitar o ovo cósmico de prata contendo o dourado espírito alado do amor, Eros -
também conhecido como Phanes o Revelador, cuja beleza radiante iluminou a Terra. Nyx, a
Mãe Noite primal, dentro de seu reino estrelado também deu à luz as Fates (Destinos), as
Hesperides, as Fúrias e Nêmesis (George 1992:112-117). Como a mitologia evoluiu, a
precedência era classificada como dia e luz; todas as coisas sinônimas à noite escura
ficaram exiladas ao chthonic (de 'khthonios' - dentro ou fora da Terra), isto é: fertilidade,
parto, abundância, colheitas, destino e morte, reino do sub mundo, regiões astrais, o mundo
dos sonhos, e a psique interna. Com efeito, Hecate se desenvolveu como a guardiã desses
lugares sombrios e solitários, e de seus inerentes Mistérios ocultos. Atos obscuros do
mistério sexual, Kundalini, profecia, inspiração e adivinhação, todos vieram de dentro de
seu dom. Criaturas da noite - corujas, cachorros e cavalos se tornaram seus totens, assim
como o fizeram todas as criaturas do submundo aquático - cobras, serpentes, aranhas, sapos
e rãs. (Ibid) Como Dama da Transe-Formação, sua luz divina de gnose é secretada por seus
poderes chthonicos de vida e morte; sua sexualidade voraz leva suas vítimas em um abraço
profético de regeneração. Suas sacerdotisas legendárias levavam os agonizantes através de
uma morte extática pelas suas convulsões orgásticas (George 1992:111).

Ultimamente ligada à lua negra, anteriormente Hecate sempre havia sido a deusa da
iluminação da alma. Tempo e destino estão dentro de seu domínio; muitos de seus epítetos
revelam seus inúmeros papéis e formas - Sábia, Rainha das Sombras, Senhora da Iniciação,
Guardiã do Portal, Condutora de Almas, e A Brilhante (www.hecate.org.uk/history.html).
Para os místicos, a Noite Escura é a profundeza do amor (Eros) e luz (Phanes). George
(1992: 118) afirma que dentro filosofia Oriental o preto representa o estado informe da
matéria pura e um todo unificado, sem nenhuma separação. Isso é um truísmo refletido
dentro da Nyx grega e a Nut egípcia, ambas carregam a mensagem eterna da matrix
universal como uma expressão do verdadeiro amor (sabedoria e compreensão/compaixão),
da qual a ignorância induz ao medo e vazio.

Waterson (1999:190) recebeu muitas críticas dos acadêmicos por promover a idéia de que
Hecate é derivada de Hekt, uma deusa egípcia de cabeça de sapo, deusa do nascimento,
morte e ressurreição, parteira dos deuses, mas sua teoria é merecedora de uma melhor
inspeção. Esta deusa primal criativa parece ter ajudado Osíris a se levantar dos mortos,
precedendo o papel adotado por Ísis. Além disso, seu símbolo, o sapo, foi mais adiante
adotado pelos Cristãos para representar a ressurreição de Cristo. Foram encontrados em
numerosas luminárias cerâmicas com a inscrição: “Eu sou a ressurreição”. O eminente
egiptólogo Wallis Budge (1971:63) explica que dentre os ritos fúnebres egípcios, o amuleto
de sapo (juntamente com o escaravelho) era colocado sobre a múmia, para mostrar o poder
de ressurreição de Hekt sobre o mesmo.

Mais tarde a mitologia grega revelou que Hecate, assim como Lucifer/Lux (luz) nasce de
Nyx/Nox (escuridão). Bem antes disso, contudo, ela era originalmente uma deidade da
Trácia e foi adotada no panteão grego como uma Titã, uma deidade pré-olímpica. Ela era
descrita como uma bonita donzela com cabelos adornados por estrelas que iluminavam as
trevas. Sua tocha em chamas revelava seu papel como illuminatrix e Condutora (a que guia
os mortos) através de seus três reinos - os Céus, Terra e os Mares/Mundo Subterrâneo.
Como já demonstrado, somente mais tarde, quando foi consignada ao Inferno, ela assumiu
o papel mais sinistro de tomadora de almas. Curiosamente seu dia de festa é 13 de agosto,
como uma deusa de fertilidade, e é um dia em que ela é propícia a evitar desastres que
acontecem às colheitas. É notavelmente perto de 15 de agosto, quando acontece a festa da
Santa Virgem Maria, a qual mais tarde assumiu essa função!

Em cada uma de suas quatro mãos (às vezes seis), Hecate maneja um objeto; uma chave
que destranca os mistérios ocultos e a sabedoria da vida após a morte; uma corda/flagelo
que representa tanto o cordão umbilical (permitindo nascimento) e o laço (morte); e a
adaga, o símbolo da verdadeira vontade, que corta a ilusão e divide a corda (permitindo o
nascimento) e o laço (facilitando a libertação da alma). Em sua quarta mão (nesta ou ainda
nas três restantes) ela eleva a tocha (ou tochas) de iluminação e iniciação. Assim pode-se
ver que ela preenche todos os papéis de Creatrix, Illuminatrix e Initiatrix - a (verdadeira)
Deusa Tripla (de tripla face) (George 1992:142-45).

Tanto Hecate quanto Hermes compartilham o papel de "Condutor de Almas" e "Protetor


das Encruzilhadas" e caminhos secretos dos planos mentais e físicos. Hermes
freqüentemente se posta de pé ao lado de Hectarea, uma forma tríplice de Hecate, completa
com suas três cabeças e seis braços. Acredita-se que sejam amantes ou companheiros, e eles
são curandeiros, protetores da energia lunar e arautos da morte. Fazendo a ponte entre os
mundos, eles revelam o passado, presente e futuro simultaneamente, conferindo visões
proféticas e comunicação ancestral. De seu mundo crepuscular de ilusões, seus dons de
encantamento asseguram o arrebatamento e ventura de seus devotos.

Hecate - Arte de Enoque Zedro

Outro epíteto bem menos conhecido é Hekatos, que


significa “A Distante” (a Magia transportada através do ar
que atinge seu objetivo), o qual Hecate, como uma forma de
Ártemis, divide com Apolo. As lendas também falam dela
como um anjo fosforescente, brilhando nas trevas do
submundo, onde sua luz hipnótica de transe- formação é
revelada dentro dos montes de terra dos sepulcros
decadentes dos mortos. Aqui se encontram suas fusões de
papel com os de Perséfone e de Deméter, com a qual ela
ficou associada dentro de mitos alternativos gregos. Deve
ser lembrado que os gregos sempre viram Hecate como uma
jovem donzela. Ela se tornou uma velha somente para os
Romanos (que julgaram seus papéis conectados aos
assuntos de sangue feminino - nascimento e menstruação -
como impuros) quando Ártemis e Se1ene a suplantaram
nesta forma (ibid). Martha Ann e Dorothy Myers-Imel
(1993:157) também nos fazem lembrar, dentro dos Mistérios Eleusianos, o papel de Brimo
(a Destruidora Terrível da vida) que dá a luz a Brimos (o Salvador) Ela é associada com
Cybele, Deméter, Perséfone e Hecate e é também a guia Perséfone quando ela volta para o
mundo da superfície, ao chegar do Inferno de Hades. Ainda assim é Phosphorous - aurora e
crepúsculo, mãe e guardiã, a que traz a aurora da vida, nascimento e morte. Ela é a Estrela
Matutina, a portadora da Gnose, a 'propylia' - aquela que fica diante do portal, e 'propolos' -
a guardiã do limite e condutora, a líder do caminho (Robert von Rudolf, Horned Owl
Library).

O mundo obscuro dos sonhos é onde George (1992:148) acredita que nós estejamos
encapsulados, dentro do seio nutritício de Hecate; isolados do tempo e espaço, suspensos
no tempo liminar, nós alcançamos um "ponto silencioso" (uma praxis mágica de não-ser).
Este nosso momento de "nos tornarmos" é onde ela está, a verdadeira Dama do nosso
destino. Nossa submissão total a ela traz as recompensas da verdadeira gnose. Hecate guia
o peregrino verdadeiro, Hecate abençoa a criança recém nascida, e Hecate protege e guia a
alma em sua jornada final. Lembre-se, esta bela e jovem fada-madrinha usa uma coroa de
estrelas. É notado que os devotos dos Oráculos Caldeus planejaram promovê- la como
Sortieria (Salvadora), uma deidade celeste e princípio cosmológico da alma cósmica, não
diferentemente da 'alma mundial' dos Neo-Platonistas (Robert von Rudolf). Na Ásia Menor,
por volta de 800 a.C., Hecate fazia parte da trindade de Cybele, da Mãe, Filha e Filho como
Hecate e Hermes. Ainda por volta de 400 d.C. seus papéis se desenvolveram como a
sombria e sinistra espreitadora de cemitérios, perscrutadora de almas, Rainha da Bruxaria e
Feitiçaria, a patronesse de Circe e Medeia (ibid). Os Romanos a transformaram, aliando-a
com Diana Triformus, e uma vez mais, compartilhada com Proserpina (Perséfone).

Picknett e Prince (1997: 85) relatam como Madalena é a forma por trás da
Virgem/Madonna Negra e como um arcebispo dominicano se refere à ela como ambos,
illuminati (A iluminada) e illuminatrix, papéis que lhe foram atribuídos dentro do
Gnosticismo. Lendas afirmam que no final de sua vida ela vivia em uma caverna no Sul da
França, previamente usada como foco de adoração a Diana Lucifera (a Illuminatrix). A
discutível sociedade secreta conhecida como o Priorado de Sião também venera a Madonna
Negra como a Notre Dame de Lumiere ou 'Nossa senhora da Luz ' (ibid: 101). Eles também
insinuam seu papel como o de uma sacerdotisa de Isis, uma hierodule sagrada e initiatrix
dos Mistérios - mas espere, Isis não está fora de lugar aqui? Essa associação não devia ser
com Hecate? Picknett e Prince (111) vão adiante ao relatar como nos Pirineus, na catedral
de St. Betrand-de-Commings, existe uma escultura que representa uma mulher alada e com
pés de pássaro, dando luz a uma figura dionisíaca, com reminiscências ao Green Man. A
mãe desta figura luciferiana é sugerida como sendo Lilith, e pode mesmo o ser. Mas
lembre-se que assim como Hecate, Brimo deu à luz a Brimos, o salvador. Também é
notável que lendas abundam dentro da região da Senhora Herodias, a líder da noite,
megeras e bruxas. Herodias é um freqüente pseudônimo de Hecate, que compartilha dos
mesmos totens, os animais noturnos. Além disso, pesquisadores franceses ligam Pedaque, a
Rainha das Bruxas de pés de ganso à “'Rainha de Céu” - e assim, por uma associação
moderna, à Isis. Contudo esse título é um epíteto mais antigo de Hecate, e os pés de pássaro
trazem à mente outra rainha associada com sabedoria e gnose: Sheba, a sacerdotisa Abisag
de Sunam do Rei Salomão.
Nos textos de Nag Hammadi, do Pistis Sophia ou Virgin of Light, Madalena é fortemente
associada com Sophia, a companheira de Deus - que é tanto a Palavra como a Sabedoria.
Os estudiosos agora acreditam que os fortes elementos de erotismo prevalecentes entre os
textos revelam a natureza verdadeira dessa relação. As serpentes sempre denotaram
sabedoria e estas também são totens de Hecate (Picknett & Prince 1997: 142-43): Sophia é
a juíza dos mortos, ainda outro papel muito mais atribuído à Hecate do que à Isis. Além
disso, foram os Cristãos Gnósticos (romanos) que identificaram Sophia com Isis. De seus
pontos de vista cultural, Isis se tornou a predominante "Rainha do Céu", usurpando várias
pretendentes mais antigas à este título. A imagem de Isis amamentando o jovem Horus
adquiriu por preempção a imagem da Madonna e sua Criança, adotada mais tarde pelos
iconógrafos Cristãos. Para os Romanos, Isis representava mais do que eles percebiam que
fosse a Mãe Universal, divorciada da morte e de todas as matérias impuras. Os romanos
espalharam a popularidade de Isis ao longo do seu império. Antes disso ela havia sido uma
das várias deidades egípcias femininas e menos importantes do que Nut, Neith, Maat e
Hathor. Enquanto sua popularidade cresceu, a de Hecate minguou. Assim denegrida como a
Senhora da Bruxaria e Feitiçaria ela se imortalizou, despojada de seu verdadeiro lugar
dentro da mídia popular e pública. Mas, em todo o sentido da palavra, Hecate foi ao
Inferno, onde seus mistérios continuaram a ser apreciados por todos aqueles que
conheceram suas verdadeiras origens.

Disfarçada como Sophia, seu papel como salvadora dentro dos reinos obscuros de filosofia
afetaram profundamente os eruditos, alertas às suas verdadeiras formas de illuminatrix e
initiatrix. Um estudioso medieval em particular reporta sua experiência tumultuosa com ela
em trabalho seminal de Gerhard Wehr, The Mystical Marriage (1990:77) “... Logo depois
de várias tempestades sentimentais, meu espírito atravessou os portões do Inferno para a
divindade nascida dentro de mim, e eu estava cercado por amor como uma noiva querida é
abraçada pelo seu noivo. Sobre o que é esse triunfo espiritual é algo que eu não posso
escrever ou falar. Não pode ser comparado com qualquer coisa exceto receber a vida em
meio à morte, realmente era como vida para alguém que se levanta dos mortos”. Palavras
proféticas, realmente, e aqueles que experimentaram tal envolvente elevação sentirão
facilmente uma empatia. Ainda além da beleza e filosofia da nobre Sophia, é Sophia
Prounicos a prostituta gratuita - e somente a partir dela a sabedoria é completamente
alcançada, uma fusão total do espírito magicamente transposto via ato sexual, o sacramento
definitivo, uma transe- formação completa de mente, corpo e espírito, iluminação e
completa gnose - o dom de Hecate, A Dama do "Caminho".

Picknett e Prince (1997:338-39) explicam como Maria de Betânia untou os pés e cabelos de
Jesus com óleo aromático; um ritual realizado somente por uma hierodule, uma sacerdotisa
que através desse ato proclama a “realeza” de Jesus. Sua soberania sagrada é executada
pelos ritos de “horasis” (toque divino), ou orgasmo de corpo inteiro, facilitado somente
através do sexo sagrado. Novamente, esses ritos sagrados eram realizados dentro de todas
as antigas escolas de Mistérios antigos pelas hierodules ao fazer Osíris o rei, assim como
Tammuz e Dionísio. Assim a prostituta se torna santa e o rei, divino. Esse ato sagrado
permite à completa e definitiva deusa (Hecate) se manifestar. Neste caso dentro de
Madalena, não como uma sacerdotisa de Isis, mas de Hecate. Ela é a Cara Amada, a
Madonna Negra - a deusa escura e terrível. Ao longo do tempo sua Magia seduziu, destruiu
e reanimou todos os que sucumbem ao seu abraço. Picknett e Prince (1997:430) enfatizam
que a Deusa Mandeana (seita gnóstica) Ruha, regente dos reinos das trevas, também é vista
como o Espírito santo.

Outros escritores de esoterismo reconheceram, há tempos, que o mundo oculto de Hecate


existe além dos níveis superficiais apresentados pelas mitologias populares sobre ela. Ela é
a dama da Magia psico-sexual, saltando entre os reinos e planos, transformando-se entre as
sutilezas da carne e espírito. Grant (1996:173) descreve seu papel como a dama dos reinos
da verdadeira Bruxa, aquela que pode atravessar dimensões alternativas. Sua corrente lunar
ofidiana oferece uma renovação mágica da qual germina o culto Draconiano. Além disso,
Grant revela Nyx/Nox como sendo a chave para o Abismo, a guardiã do Primeiro Portal
dentro de Da'ath, a ponte entre mente e corpo, o lugar de transe- formação, e o lugar onde a
gnose é alcançada. Essa ponte, quando ativada por práticas de ioga (tântrica), estimula e
sensibiliza a pele, órgãos e olfato, emitindo kalas de luz negra, pelas quais todas outras
luzes são iluminadas. Hecate é a initiatrix sexual definitiva, a mortalha de mistério e
conhecimento. Ela é a Senhora da Sabedoria, o Dama Estelar e o Portal para os Outros
Mundos, a quem Redgrove (1989:120) nomeia como 'Aimah Elohim Shekinah' (A Noiva
de Deus ou os Deuses).

E é então que as sacerdotisas de Hecate representavam seus papéis iniciáticos, de


Condutoras de Almas de Mar-Ishtar até Madalena e além. Quando a transfiguração está
completa, o regresso do planalto de Hecate traz Charis, Karuna e Samadhi - beleza,
compaixão e paz (Redgrove 1989: 125-26) Para os Gnósticos, Charis - a Redentora era o
nome para o Cristo feminino, cuja eucaristia de sangue menstrual precedeu a do Cristo.
(Ibid: 128) Novamente, é Hecate que é dama de todos os assuntos relacionados à
menstruação, fertilidade, parto e morte. Hoje em dia, dentro das práticas de Ioga Tântrica e
em algumas formas de Bruxaria Tradicional, as sacerdotisas continuam a adotar o papel de
hierodule, canalizando Charis ao tocar a Magia “realizada dentro do cìrculo, que produz um
sonho vìvido sobre a pele e é uma entrada no astral pelo ato do toque divino” (Ibid). O dom
da initiatrix é a sínese em que o teatro negro da mente se torna um receptáculo de luz,
preenchendo o vácuo criado pelo ego deprimido e depurado.

Redgrove (1989:156) declara que Hecate é Maria- Lúcifer, o 'lumen naturae', a radiante
escuridão e iluminadora da alma. Hecate de três faces, a Dama da Psique, que fica na
encruzilhada de nosso inconsciente olhando as idas e voltas dentro de nossas vidas. Suas
funções cumprem um paradoxo de critérios; de cura, de destruição, de sabedoria, de
demência e de vida e morte (George 1992:145-47). Aqui, neste labirinto mental, nós
enfrentamos nossos demônios, nossas subversões negativas. Aqui ela nos desnuda de
nossas ilusões, eliminando todas as facetas que negam nossa inteireza. Ao amá- la estamos
amamos a nós mesmos... A revelação da Gnose verdadeira é a realização da Divindade
inerente de si próprio.

Nenhuma forma definitiva de Hecate existe, e representações espaciais dela refletem


somente as necessidades do momento; assim ela permanece como a Deusa Negra
definitiva, a serpente primitiva da iluminação cósmica, papel que ela compartilha com
Lúcifer, o portador da luz. Juntos eles são os seres gêmeos de Phosphorous, os portadores
da tocha da verdadeira gnose.
1) Kalas - Estrela, perfume, essência, ungüento, etc. É a fonte de Kali, deusa do Tempo. Em
Tantra refere-se especificamente às vibrações vaginais trazidas pela intensificação de
procedimentos rituais durante a realização dos ritos Kaula. Vibração de natureza lunar.
(Fonte de referência: Aleister Crowley and the Hidden God, Kenneth Grant, Skoob Books
Publishing).

2) Pneuma orgasmos - orgasmos espirituais, pneuma refere-se à centelha divina, intelecto


divino.

3) Maithunic - de Maithun, cópula, união, congresso. No Tantra é literalmente a cópula,


tanto simbólica quanto a real. Maithuna é um dos cinco Makaras.(Fonte de referência:
Aleister Crowley and the Hidden God, Kenneth Grant, Skoob Books Publishing).

Bibliografia:

Goddess in World Mythology, M.A. & D. Myers-Imel (Oxford University Press 1993);
Mysteries of the Dark Moon, Demetra George (HarperCollins USA 1992);
Nightside of Eden, Kenneth Grant (Skoob Publishing 1996);
The Templar Revelation, Lynn Picknett & Clive Prince (Corgi 1997);
The Black Goddess and the Sixth Sense, P.Redgrove (Paladin 1989);
Horned Owl Library, R. von Rudolf (www.islandnet.com/~hornowl/libray/Hekate.html);
Egyptian Magick, E.A.Wallis Budge (Dover Publications USA 1971);
Gods of Ancient Egypt, Barbara Watterson (Branley Books 1999);
The Mystical Marriage, G. Wehr (Aquarian Press 1990) e www.hecate.org.uk/history.html

Algumas Distinções entre Bruxaria Tradicional e


Wicca
Por Draku-Qayin

De alguns anos para cá o fenômeno do surgimento de diversos grupos que se intitulam


„Bruxaria‟ é crescente no Brasil e no mundo. Aqui em nosso paìs, esse fenômeno se
originou inicialmente com a chamada „Bruxaria Moderna‟ ou Wicca. Mais recentemente
temos visto que muitas pessoas tem falado sobre „Bruxaria Tradicional‟. É cada vez mais
comum ver em listas de discussão e fóruns, além de sites, pessoas dizendo “Não, não sou
Wiccano, sou Bruxo Tradicional”; mas quando muitas dessas pessoas vão dissertar sobre
suas práticas e pensamentos, logo se vê que elas estão usando o mesmo frame de Wicca,
com as mesmas práticas, mesmos objetivos, mesmas crenças. Certa vez vi um conhecido
autor de livros de Wicca brasileiro comentando que ele não via diferença entre Wicca e
Bruxaria Tradicional, já que o que os chamados “Bruxos Tradicionais” pregavam era
idêntico à Wicca; de certa forma este autor não está errado em sua observação, já que a
grande massa dos que se chamam por este título nada mais fazem do que utilizar os
parâmetros de Wicca encontrados em livros, e renomeá-los de Bruxaria Tradicional.

Mas a Bruxaria Tradicional existe sim, e ela é bem distinta do que é apresentado pela
maioria, e logo como tal ela é muito diferente da Wicca.

É com o intuito de apontar essas diferenças que este pequeno ensaio foi escrito, onde
apresentaremos alguns tópicos para mostrar as diferenças de práticas, costumes, crenças e
pensamentos que existem entre a conhecida Wicca e a não tão conhecida Bruxaria
Tradicional. Tais distinções são em certo ponto diametralmente opostas umas das outras, o
que vem a mostrar a singularidade de cada uma delas.

Devemos deixar claro antes de prosseguir que em momento algum estamos dizendo que
uma é melhor que a outra. Em momento algum estaremos invalidando o caminho espiritual
de qualquer pessoa, nem que uma é a Verdadeira em detrimento da outra. Cada caminho é
válido para seu praticante, desde que praticado com sinceridade. Este pequeno ensaio é
apenas uma coletânea de tópicos que visam demonstrar as diferenças citadas, evitando
assim errôneas citações comuns como “Bruxaria Tradicional é uma Tradição da Wicca” ou
“Bruxaria Tradicional é a Religião pura dos Celtas”, ou mesmo “Bruxaria Tradicional é a
Bruxaria mais Natural”; essas são algumas das muitas afirmações que são ditas diariamente
pelos meios de comunicação, mas que constituem inverdades sobre a verdadeira natureza
da mesma. Então, que fique bem claro que este autor não vem aqui escrever em detrimento
da Religião Wicca, muito pelo contrário. Este é um ensaio de esclarecimento, e da mesma
forma como Wiccanos sérios e sinceros não gostam de ver barbáries que muitas vezes são
praticadas sob o nome da Wicca, nós Bruxos Tradicionais também não gostamos de ver
praticas que nada se relacionam com nosso Ofício sendo classificadas como tal.

Este ensaio foi escrito como complemento de um ensaio prévio intitulado “A Distinção das
Três Artes” de meu querido Frater Settubal, e está redigido na forma de uma entrevista,
como um F.A.Q., onde diversas perguntas foram formuladas a respeito das distinções entre
as duas Artes citadas.

A Bruxaria Tradicional é uma Religião?

Não, somos considerados um Ofício e não uma Religião per se. É claro que do ponto de
vista do atual uso da palavra, qualquer forma de culto ou veneração está intimamente ligada
à religiosidade, mas não chamamos nossa Arte de Religião pelo motivo a seguir. Religião,
conforme a etimologia desta palavra provém de Religare, indicando uma “re- ligação” com
a/as divindade/s. Para a Wicca o homem precisa se re-conectar, se re- ligar com a
Divindade, criar um laço, um elo. Nós Bruxos Tradicionais não vemos a necessidade de
uma re-ligação, pois cremos que já nascemos totalmente conectados com nossas
Divindades Tutelares. Isso é muito expresso no conceito que temos de Sangue-Bruxo.
Como não temos a necessidade do “religare”, e este conceito não tem nenhuma função
dentro da Arte Tradicional, costumamos dizer que não somos uma Religião, e sim um
Ofício. A Bruxaria Tradicional é então, até certo po nto, uma forma de religiosidade se
encaramos o significado usual da palavra, como um “culto prestado a divindade”, mas se
desvincula totalmente da palavra quando esta é usada no sentido de “re- ligação”. Um
comentário a parte, mas de toda forma interessante, é que os Judeus têm a mesma visão,
não se consideram uma Religião, pois crêem que nunca estiveram afastados ou desligados
de sua divindade, não precisando assim de um “religare”.

É comum ver praticantes da Wicca afirmarem que toda Bruxaria é sinônimo de Wicca, e
que qualquer coisa que não se enquadre em Wicca não é Bruxaria. O que você diz a esse
respeito?

Vamos falar sobre a palavra „Bruxaria‟. Esta é uma palavra que pode ser aplicada para
diversos fins. Muitas pessoas querem “monopolizar” a palavra Bruxaria para que ela se
aplique somente as suas práticas de adoração, e tudo o que não se encaixa nisso afirmam
não ser Bruxaria. Isso é um grande erro. Apenas como exemplo simples e rápido, na
Nigéria temos o culto das Iyami, que em nada se assemelha com o culto da deusa e de seu
consorte, com as celebrações sazonais e lunares da conhecida Wicca; e mesmo assim este
culto é um culto de Bruxaria. Outro exemplo é a Kimbanda nascida no Brasil, culto de exus
e pombas-giras, que é um sistema que nasceu da influência da religiosidade africana
mesclada com a feitiçaria européia; aqui temos novamente uma forma de Bruxaria.
Olhando mundo a fora temos as mais diversas formas de culto que se enquadram na
terminologia “Bruxaria”, umas totalmente diferentes das outras, e nem por isso elas deixam
de ser Bruxaria. O grande problema que vejo no cenário atual são autores e pessoas
quererem monopolizar o termo somente para suas práticas, e isso é muito comum nos
meios Wiccanos, como se Wicca fosse a única detentora desta palavra; que fique claro que
Wicca não é sinônimo de Bruxaria. Ela pode se chamar de Bruxaria? Pode, claro. Mas ela
não é nem de longe a única forma. Um Wiccano pode afirmar de boca cheia que “aquele
ritual de exus não é Wicca”, e ele está 100% certo, mas ele nunca pode afirmar “aquele
ritual de exus não é bruxaria”, pois ai ele estará “monopolizando” um termo que não é
somente dele. É ai que mora o perigo.

Como Bruxo Tradicional, posso afirmar até certo ponto o que é e o que não é Bruxaria
Tradicional. Mas em momento algum negarei que o culto de Iyami, o culto de Kimbanda, o
Palo Mayombe, entre centenas de outras práticas não são Bruxaria, pois são. Não existe
monopólio desta palavra, exatamente por não poder haver generalização dela.

A Wicca é dividida em diversas vertentes que são chamadas de „Tradições‟. Cada uma com
suas práticas particulares, mas todas contendo certos pontos em comum, como a adoração
da Deusa. Como isso ocorre em Bruxaria Tradicional?

Bem, a Bruxaria Tradicional deve ser primeiramente definida. Entendemos por Bruxaria
Tradicional toda forma de Bruxaria diferentes da atual corrente da Bruxaria Moderna. Por
Tradicional também entendemos uma corrente que é transmitida de um ponto ao outro, sem
quebras ou interrupção, que mantém sua essência inalterada, mas que é fluída em seu
movimento para frente [1]. Tradicionalismo, como entendido por Bruxos Tradicionais, está
relacionado à transcendência unitária presente nas “religiões”, esta visão de unidade
transcendente também é chamada de Filosofia Perene [2].

Em Bruxaria Tradicional há também diversas vertentes, das quais os termos mais comuns
são Clã, Família ou Ponto de Poder. Cada Clã é considerado como realmente uma família, e
tem suas práticas próprias, liturgias, rituais e modos de interação com o mundo. Na
essência, todo Clã de BT carrega a mesma unidade transcendente, conforme já dissemos,
mas muitas de suas práticas podem variar diametralmente.

Enquanto na Wicca, diversas pessoas pelo mundo podem seguir a mesma „Tradição‟, mas
nunca se conhecerem, já que seus pequenos grupos (comumente chamados Covens) são
autônomos, não há uma centralização, e mesmo que diversos grupos da mesma „Tradição‟
possam ter relações mutuas entre si, isso não constitui uma regra, o que na Bruxaria
Tradicional é totalmente diferente. Todos num Clã, independente do número de pessoas que
existam nele, se conhecem e sabem quem são os membros de sua “famìlia”. É impossìvel,
por exemplo, que haja um grupo do Clã de Tubal-Caim na Inglaterra e outro grupo do
mesmo Clã nos Estados Unidos, e que membros do primeiro não conheçam os membros do
segundo. Exatamente como numa família, os membros podem estar distanciados por limites
geográficos, mas toda a família se conhece. Por isso costumamos chamar nossas famílias de
Ponto de Poder, pois diversos grupos, Conciliábulos, Conventos e Círculos podem existir,
mas todos giram igualmente em torno de um ponto central. Em Bruxaria Tradicional é
regra que essa centralização. Por isso também que algumas vezes os grupos de bruxos
pertencentes a um mesmo Clã são chamados de „Célula‟, pois os Clãs atuam em uma
estrutura celular, toda célula é sujeita a um ponto central, e tais “Covens” não são
independentes como ocorre na Wicca.

É comum na Wicca a liderança de um Coven ser de um Alto Sacerdote e de uma Alta


Sacerdotisa. Na Bruxaria Tradicional vemos os termos Magister/Diabo e Dama. Seriam
estes títulos atribuídos a mesma função do Alto Sacerdote e Sacerdotisa?

Não, de forma alguma. E isso é muito relacionado ao que disse acima. Dentro do sistema da
Wicca, qualquer membro Iniciado quando atinge determinado Grau de Iniciação é
considerado Alto sacerdote e Alta Sacerdotisa. Esse título também é usado na Wicca para
definir os líderes de um Coven. Na Bruxaria Tradicional o Magister (também conhecido
por Diabo) e a Dama são os líderes e mantenedores do Clã como um todo. Na Wicca, como
já foi dito, os Covens são autônomos, logo uma Alta Sacerdotisa e um Alto Sacerdote de
um Coven Wiccano também são autônomos e não devem satisfações para nenhuma
Autoridade Central. Na Bruxaria Tradicional, todos os membros e todos os Conciliábulos
estão sujeitos a Autoridade Central expressa na figura do Magister e da Dama. Cada
pequena Célula normalmente tem uma pessoa que atua no ofício de liderança, mas como
nossos grupos não são autônomos, mesmo esses lideres estão sujeitos a esta autoridade
central. Outra distinção que podemos dar é que, enquanto na Wicca dentro de um Círculo
quem guia e lidera é a Alta Sacerdotisa, em um Clã da Arte Tradicional esta liderança está
nas mãos do Magister e/ou do Líder Masculino da Célula, por diversas razões diferentes.

É visto que a Arte Tradicional fala muito sobre Sabbats. O que são os Sabbats para os
Bruxos Tradicionais?

Para a Wicca os Sabbats são rituais celebrados em datas pré-determinadas, oito vezes ao
ano, como festejos sazonais. Isso é completamente diferente na Arte Feiticeira Tradicional.
Para nós, o Sabbat não é uma data ou um ritual, e sim um local, um “ponto de encontro”,
aquilo que costumamos chamar de “a Encruzilhada”. Este local não é um lugar físico,
material, mas sim um local etéreo e espiritual que se localiza em um determinado ponto do
Plano Astral. Como tal, consideramos o Sabbat como o Ponto do Congresso; por Congresso
entendemos uma reunião entre diversos tipos de espíritos que se tornam um no Sabbat. O
Bruxo realmente “voa” até o Sabbat, em seu corpo espiritual comumente chamado de Fetch
(algo como “Duplo Astral”) e lá encontra com todo o Conclave dos Vivos e dos Mortos
Abençoados e Sábios da Arte. É no Sabbat que comungamos com nossos Deuses, nossos
Mortos e nos tornamos um com a figura divina central, o Diabo. Diversos são nossos meios
para o Ingresso no Sabbat, como o uso dos famigerados Vinum e Unguentum Sabbati,
filtros preparados com base em substâncias enteó genas, consumo de certos cogumelos
sagrados e técnicas de projeção em rituais, bem como o trabalho intenso da magia onírica
[3].

O Sabbat é considerado atemporal, ou seja, está totalmente fora do tempo como o


conhecemos, não teve início e não terá fim, ou seja, ele pode ser acessado pelo praticante
experiente a qualquer momento, pois ele não só ocorre, ele é. Campo do Bode, Prado de
Josafá, Encruzilhada, Montanha de Vênus, Blockula, são algumas das terminologias
comuns para Sabbat. Muitos Clãs Tradicionais inclusive se denominam Sabbáticos, como é
o caso da Cultus Sabbati e também como o sistema legado por Austin O. Spare, Zos Kia
Cultus, ambas formas tradicionais da Arte Feiticeira.

Você citou uso de substâncias enteógenas e consumo de certos cogumelos sa grados. Então
a Bruxaria Tradicional se utiliza de substâncias psicoativas?

Sim, sempre se utilizou e sempre irá se utilizar, pois são chaves de poder magicamente
potentes e insubstituíveis. É claro que não recomendo o uso de nenhuma substância
psicoativa por nenhuma pessoa que não tenha um profundo conhecimento do tema, e sem a
supervisão de alguém preparado. Tais “Sacramentos” como chamamos, são usados somente
em determinados momentos, para determinados fins, e totalmente de forma sagrada. Somos
contra o uso destas substâncias para o mero entretenimento, como as drogas recreativas.
Nosso respeito com os Genii de certas plantas e cogumelos é tão grande, como o respeito
que um membro do culto do Santo Daime tem com sua beberagem sagrada, e assim como
eles nunca permitiríamos o uso dos nossos Sacramentos por pessoas que visam meramente
diversão e entretenimento.

Você também cita algumas vezes os termos Deuses e o termo Diabo. Sabemos que a Wicca
procura uma forma de religiosidade baseada no Paganismo, de certo modo reconstruindo
cultos à deidades de panteões antigos. Como isso ocorre na Fé Sem-Nome? Bruxos
Tradicionais são Pagãos?

Não somos Pagãos. Nossa Fé e nosso Culto são baseados naquilo que chamamos Adoração
de Dupla Observação, ou seja, dentro de nosso sistema temos tanto elementos Cristãos
como elementos de algumas Escolas de Mistério Pagãs; há também elementos Judaicos,
que formam muito da estrutura de toda a Magia Ocidental, e sim, por mais que neguem até
mesmo a Wicca contém esses elementos, vide a Tradição Alexandrina da Wicca.

A Wicca se baseia num culto Duoteísta, onde todas as deusas de quaisquer civilizações são
facetas da Deusa Wiccana e o mesmo com os deuses masculinos. Algumas vertentes
Wiccanas inclusive consideram suas duas divindades como arquétipos, o que se relaciona
muito com a Psicologia Junguiana. Na Wicca também, os seguidores consideram a sua
Deusa como imanente, habitando em tudo, e deste modo sendo a principal divindade da
Criação e do Universo.

A Bruxaria Tradicional tem outra visão de divindade. Primeiramente, vemos que os Deuses
da Bruxaria são exatamente isso, Deuses patronos do Ofício das Bruxas, assim como os
antigos tinham um deus que era patrono dos ferreiros, já outro deus era patrono dos
guerreiros, e assim por diante. Cada divindade sendo individual, e regendo sobre um
determinado ofício; assim o Diabo é o deus patrono do ofício das bruxas em diversos Clãs
da Arte Tradicional, enquanto para outros a deidade patrona seria a Rainha de Elphame.
Isso é o que se costuma chamar de Divindade Tutelar, e para citar um exemplo, a divindade
tutelar do Clã de Tubla-Caim é Tubal-Caim, outros Clãs e Irmandades têm outras deidades
tutelares, e essas deidades não são vistas como “a mesma deidade com outro nome”, mas
sim deidades específicas. Há Clãs, como a Arte de Pickingill, que prestam adoração para a
Senhora Vênus e Quatro Deuses Chifrudos. Outros Clãs prestam adoração apenas para a
figura do Diabo, como o Bode Negro do Sabbat. Outros por sua vez adoram um panteão
com um número específico de deuses. A distinção também ocorre na visão de divindade,
pois enquanto a Wicca vê suas deidades como as supremas criadoras, conforme expus
acima, os Bruxos Tradicionais tendem a ver sua ou suas divindades como deuses regentes
da Arte da Bruxaria, e não deuses primordiais e criadores de tudo. Tomemos um rápido
exemplo na antiga Grécia, onde a divindade das Bruxas era Hécate pelo que nos conta sua
mitologia. Hécate não era uma deusa criadora do mundo ou do universo, ela era a deusa da
bruxaria, a deidade tutelar do ofício das bruxas, enquanto Hefesto seria a divindade tutelar
do ofício dos ferreiros. Tomemos o culto de Orixá como outro exemplo, cada Orixá é a
divindade regente de algo, como Ogun o regente dos ferreiros e da guerra, Yemoja
divindade regente do rio (e no Brasil também uma divindade dos mares), e assim segue.
Cada Orixá é único, e não múltiplas manifestações de uma mesma deidade. Então, assim
como há divindade dos ferreiros, divindade dos cavaleiros, divindade das artes, divindade
das plantações, há também certas divindades da Bruxaria.

Muitos ramos da Bruxaria Tradicional aderem a um foco de Mitos Luciferianos, então você
poderá encontrar Clãs que tem adoração a Azazel, a Lúcifer, a Shemyaza [4]. Outra visão
diferente é acerca do que chama-se “Sagrado Feminino”. Em Bruxaria Tradicional não há
enfoque nisso, pois para nós o Sagrado não tem sexo. Trabalhamos com o nosso Sagrado,
que independe de sexismos. Este conceito de “Sagrado Feminino” ou “Sagrado Masculino”
ou até mesmo, como vem surgindo atualmente, “Sagrado Homossexualismo” é totalmente
estranho para nós.

Então, com base nisso, a Bruxaria Tradicional não é um “Culto de Fertilidade”?

Exatamente, a Bruxaria é vista, nas sábias palavras de Robert Cochrane como a última
Escola de Mistérios sobrevivente no ocidente. Ela contém alguns elementos de fertilidade,
em suas práticas mais mundanas de feitiços, mas este não é o foco da Bruxaria Tradicional.
Principalmente do século XVIII para cá, a Bruxaria tornou-se cada vez mais uma Escola de
Mistérios que busca a Gnose, ou seja, a Sabedoria Divina que traz a Iluminação,
Iluminação esta que liberta seus adeptos das amarras da ignorância. Muito de Cristianismo
Gnóstico se assimilou a certas práticas de Bruxaria, e alguns grupos se consideram
buscadores de uma Gnose Luciferiana.

E sobre a questão da evocação dos Mortos? Quais as diferenças que se apresentam entre
ambas?

Bem, a base da Bruxaria Tradicional é a Necromancia, assim como a base de todos os


cultos de feitiçaria que conheço, como certos cultos africanos, e cultos feiticeiros afro-
americanos, como os já citados Palo Mayombe e a Kimbanda. Se observarmos também as
mitologias dos povos europeus veremos que sempre a bruxa, por meio de suas artes e de
suas divindades tutelares, tem como princip al prática a Arte de Evocar os Mortos. A
Necromancia é a fundação dos Poderes do Sangue-Bruxo. Citando Andrew Chumbley “os
Mortos Poderosos habitam dentro de nossa Carne”. Sem os Mortos de nossas Linhagens,
não fazemos nada. Distintamente vemos que na Wicca não se trabalha com a Necromancia,
e seus Mortos são apenas convidados a participar de alguns dos ritos. Ou seja, são
convidados, mas se eles vão ou não, são eles quem decidem. Já na Bruxaria Tradicional
trabalhamos diretamente com Evocações para a real manifestação e aparição dos Mortos
em nossas cerimônias. Diversos são os métodos, e em sua maioria estão ligados ao uso de
um Crânio humano devidamente preparado como um Vaso para tais espíritos. E sim, essa
manifestação é realmente esperada [5].

Sangue-Bruxo. Você pode nos falar mais sobre isso?

Este é o Mistério dos Bruxos, e não posso revelar muita coisa sobre o tema. Apenas que
para as linhagens da Arte Sem-Nome, este é um conceito que distingue os Bruxos dos não-
Bruxos, e está relacionado ao Atavismo que vem através de diversos fatores e encarnam em
um verdadeiro feiticeiro. É dito que o Sangue-Bruxo é a descendência Real de Caim ou
Seth, filhos do primeiro homem, Adão. Está também relacionado ao Mistério do Casamento
entre o Céu e a Terra, quando os Anjos Caìdos uniram sua semente com as “filhas dos
homens”, gerando assim uma raça hìbrida, parte humana, parte angelical, os Bruxos. Os
Anjos Caídos aqui estão também relacionados aos mitos ingleses das Fadas, e daí podemos
entender mais sobre o que é conhecido como “Sangue das Fadas”.

A Wicca contém códigos de ética baseadas na Lei Tripla e no Dogma que diz “Faça o que
desejar se mal nenhum causar”. A Bruxaria Tradicional tem algo similar?

Não. Cada Clã, Irmandade e Ponto de Poder tem suas próprias leis internas que dizem
respeito apenas para si próprios. Cremos que somos responsáveis por nossos atos, mas não
temos uma “Lei” que afirma que tudo o que é feito nos retornará. Sobre o Dogma da
Wicca, creio que a resposta de Robert Cochrane se aplica não só no Clã de Tubal-Caim,
mas acaba servindo como o pensamento de muitos outros Bruxos Tradicionais, que é “Não
Faça o que desejar, faça o que precisa ser feito”. Com base nisso, fazemos em nossos
círculos fechados tanto feitiçaria para fins benéficos, como para fins maléficos se assim for
realmente necessário, não temendo uma retaliação dos deuses, demônios e espíritos com os
quais trabalhamos.

Bruxaria Tradicional trabalha com sacrifícios de sangue?


Isso depende de cada “Famìlia”, mas costuma acontecer em alguns rituais de alguns Clãs
sim. Claro que Bruxos Tradicionais não são carniceiros que se regozijam com o sofrimento
dos animais; quando o fazem, fazem para algo necessário e a morte do animal é rápida e
praticamente indolor (ao contrário de muitos matadouros que levam os bifinhos fresquinhos
para os açougues). Todas as partes dos animais são utilizadas com um propósito, e seu
espírito é honrado por ter servido a isso. Mas este é um assunto que diz respeito apenas aos
âmbitos fechados dos grupos, e dos Clãs. Ah, e antes que me esqueça, sacrifícios humanos
não são de meu conhecimento na Arte Sábia.

É sabido que na Wicca existem duas formas de Iniciação ao Culto. A Iniciação tradicional,
onde um Iniciado faz o Rito com o Iniciante e normalmente tem 3 graus, e a auto- iniciação
onde a própria pessoa se inicia. Como isso funciona na Bruxaria Tradicional?

Bem, sei que na Wicca esse é um assunto que gera muita polêmica, pois alguns aceitam a
chamada auto- iniciação, enquanto outros são diametralmente opostos. Na Bruxaria
Tradicional não existe este tipo de conflito, pois as coisas são claras.

Primeiramente, num Clã de Bruxaria Tradicional normalmente ocorre uma Iniciação


principal, formal e “horizontal” que chamamos de empowerment (passagem de poder).
Nesta Iniciação, que somente ocorre depois de um longo período de estudos, provações e
ordálias, o Poder do Clã é transmitido ao Iniciado – Blood to Blood, Like to Like. Outros
empowerments posteriores podem ocorrer, mas eles não são graus, e estão relacionados aos
Mistérios que aquele Bruxo em particular estiver trabalhando; assim, numa mesma Família
pode haver Bruxos com um empowerment em particular, enquanto outros receberam outros
empowerments diferentes.

Auto-Iniciação é algo inexistente em Bruxaria Tradicional. Como alguém pode se dar algo
que não tem? Há sim uma modalidade conhecida na Arte e no Folclore europeu, mas que é
chamada de Iniciação Solitária, que é extremamente diferente de Auto-Iniciação. Por Auto-
Iniciação se entende que a própria pessoa irá se inic iar (ênfase no termo “auto”), algo que
não condiz com o Tradicionalismo e a transmissão de poderes e linhagens. Já, Iniciação
Solitária funciona da seguinte forma: o aspirante àquele empowerment em particular fará
uma série de ritos, e somente se os augúrios e sinais esperados destes ritos realmente
acontecerem a pessoa será então Iniciada pela divindade; ou seja, não depende apenas do
desejo da pessoa em se iniciar, fazer um ritual e pronto, mas sim de uma quantidade de
sinais e augúrios. Para ilustrar melhor isso, tomemos como exemplo o tão conhecido Toad-
Rite do folclore inglês. De um antigo artigo meu sobre Sapos e Bruxaria extraio o seguinte
parágrafo que explica de forma clara o que é uma Iniciação Solitária:

No Leste da Inglaterra, principalmente no condado de Essex, há uma tradição mágica de


bruxos solitários conhecidos como Toad-Witches (Bruxos-Sapos). O folclore, mantido até
os dias de hoje, reza que há um rito solitário que visa a obtenção de poderes mágicos, mais
propriamente o poder de dominar as bestas e animais e destes especialmente o Cavalo, que
é conferido por meio de um amuleto feito do osso de um sapo. É dito que este amuleto, o
Toad-Bone Charme (Fetiche-de-Osso-de-Sapo), pode servir como uma chave em todos os
assuntos concernentes da Arte Sábia. O rito de obtenção deste amuleto é considerado dentro
da Bruxaria Tradicional, como uma Iniciação Solitária e Vertical. Ao contrário da tão
afamada “auto- iniciação” onde a pessoa faz um ritual e se considera um Iniciado, a
Iniciação Solitária depende de diversos sinais e provações para ser concluída, e se tais
sinais não forem dados, o ritual não é concluído e não há Iniciação. Dentro dos costumes
dos Toad-Witches, aquele que busca a Iniciação deve procurar um tipo específico de sapo,
sacrificá- lo com um espinho de blackthorn (Prunus spinosa), e deixar sua carne ser comida
pelas formigas para se obter apenas os ossos. Estes ossos são então recolhidos e jogados em
uma corrente de água, e apenas um osso deve voltar para as mãos do praticante, em meio a
vários fenômenos naturais que tem por objetivo amedrontar e tirar a atenção do mesmo. Se
o osso do sapo não voltar o rito não foi bem sucedido, caso o osso retorne para suas mãos,
então ele pode prosseguir nas outras etapas do rito, as quais culminarão no encontro com o
Diabo e a Iniciação em si. O próprio sacrifício do sapo em si já é a primeira das provações
para saber se o rito poderá ou não ser feito pelo praticante. É dito que somente se pode
prosseguir neste Mistério se o modo do sacrifício for revelado por sinais e presságios; é dito
ainda que, caso nenhum presságio for recebido, sabe-se que o rito não deve ser feito, e
prosseguir é ser amaldiçoado.

Complementando este parágrafo acima, mesmo o aspirante tendo conseguido passar por
todas as provações, e assim conseguir estar cara a cara com o Iniciador Chifrudo, o Diabo,
ainda assim não é garantida da Iniciação. Ele só será Iniciado e receberá os poderes do
Diabo após um combate com o mesmo, no qual o Mestre Negro tentará lhe roubar o osso.
O Mestre só lhe transmitirá o poder se o aspirante for determinado o bastante para manter
seu Toad-Bone Charme consigo até o final da Ordália [6]. Com este parágrafo que cita a
forma de obtenção da Iniciação Solitária dos Toad-Witches, creio que a distinção entre
Auto-Iniciação e Iniciação Solitária está mais do que explicada.

+++

Finalizando este ensaio sobre o quão distintas são as duas Artes, creio que não haverá mais
dúvidas aos simpatizantes e estudantes. Como disse no início deste texto, minha intenção
não é negar uma em detrimento da outra, mas sim apenas mostrar que são duas práticas
completamente diferentes, que carregam apenas o nome „bruxaria‟ em comum.

Possam a Bênção, a Maldição e a Sabedoria estarem Convosco!

Pelo Brilho do Fruto do Conhecimento!

Amém.

Notas/Recomendações de Leitura Adicional:

[1] - Para entender melhor o que é a Bruxaria Tradicional eu recomendaria a leitura do


ensaio “O que é Bruxaria Tradicional?” do falecido bruxo Andrew Chumbley.
[2] - E para compreender melhor o que é Tradicionalismo, eu recomendo que os
interessados busquem informações nas obras de René Guénon, principalmente em seu livro
“O Reino da Quantidade e os Sinais dos Tempos”. Além disto, também recomendo o
ensaio de Nicholaj de Mattos Frisvold intitulado “A Arte Fluìda”.

[3] - Recomendo o ensaio Monasterium Unguentum Umbrae pelo Magister da Via Vera
Cruz, Azazayin.

[4] - Sobre este tema, o livro “Os Pilares de Tubal-Caim” de Nigel Jackson e Mike Howard
são de especial indicação, bem como o “Book of Fallen Angels” de Mike Howard. Ambos
autores Bruxos Tradicionais conhecidos.

[5] - Para um conhecimento mais profundo deste tema, sugiro a leitura do artigo de
Azazayin, Magister da Via Vera Cruz, intitulado “O Sangue dos Mortos”.

[6] - Recomendo a leitura do livro- grimório One, the Grimoire of the Golden Toad, de
Andrew Chumbley, para melhor compreensão da Iniciação Solitária dos Bruxos-Sapos.

Nota Biográfica: Draku-Qayin é praticante da Arte Sábia Tradicional, fazendo parte da


Irmandade conhecida externamente como Via Vera Cruz, na qual atua na função de Escriba
e Convocador. É também estudante de Astrologia Medieval e autor do livro O Caminho do
Dragão: uma Introdução à Bruxaria Tradicional (prelo). Mora em São Paulo e tem como
animal Familiar um sapo chamado Pedro.

Rito com Cordas

"Em seu mais básico aspecto a corda atada pode ser descrita como aquele que permite nos
mover de um ponto a outro, ela nos lembra que começamos o caminho em um ponto (ou
nó) e terminamos em outro, totalmente diferente... eles pode m estar separados mas estão
conectados.”
SHANI OATES

Me considero suspeito para falar de escadas bruxas, pois já tanta coisa por ai que minha
cabeça já está tonta. Contudo desenvolvi uma forma de acessar esse mundo onírico das
bruxas. Esta escada também tem um ponto que eu gosto, eu também uso ela para proteção,
causar loucura e as ditas 'amarrações', bastando alterar sua intenção, feitiçaria pura.
Contudo vou lhes passar uma corda que pode lhes servir de escada para o mundo onírico e
rosário, dedicado ao espírito da deusa bruxa Hecate.

Você precisará de cordas (ou fitas) nas cores verde, preto e vermelho, a corda deve possuir
a sua medida, para isso meça, com a corda, do alto da sua cabeça até a ponta de seus pés, e
ali corte as cordas. Comece este rito na Lua Nova.
Primeiro vamos ao trançar a corda, isso requer prática, que tal treinar? Durante o
trançamento você deverá entoar uma cantiga que fala do mistério das cordas e meditar nas
transformações:

“Do Sangue à Vida, Da Vida até a Morte,


Da Morte o Sangue... Abra a porta, Abra a porta!!”

Agora chegou a hora de fazer nove nós, que são os nove nomes de Nossa Senhora. No
Compasso da Arte Mágica, sentado ao centro e mirando ao norte, acenda uma vela e ao
lado coloque um copo com leite e gotas de seu sangue chame aos Ancestrais e a divina
Hecate Adonaia, a Deusa das Chaves e Segredos, para dividir de sua oferenda de Sangue e
Leite e testemunharem seu ato.

Eia! Fogo da Serpente!


Acima e Abaixo, para todos os Lados!
Eia! Hekate Adonaia!
Senhora das Chaves
Rainha dos Segredos
Rainha da Escada de Nós
Preencha esta escada com teu Poder!
Preencha esta escada com tuas Bençãos e Maldições!

Eia! Espíritos Antigos!


Atendam ao Chamado!
O Clamor do Peregrino
na beira da estrada dos Mortos!
Venham! Mãe e Pai Esqueleto
Toquem a corda!
Conceda- me sua companhia e força!

Siga o rito repetindo as palavras abaixo de acordo com nó, não se esqueça que isto é pra
memorizar, ou pode criar uma rima própria,essa rima pode conter os nove nomes de
Hecate, como no original que realizo, mas por motivos de que sei que vocês podem tomar
algumas decisões próprias eu dou a vocês uma rima bem fraca:
1° Nó: Com Um eu começo, no caminho de Ingresso
2° Nó: Em Dois eu me divido, chamo à Rainha de todos os Espíritos
3° Nó: De Três em Três, Diavolo Diavolo
4° Nó: Quatro com Quatro! Eia Rei Diabo!
5° Nó: Ao Caminho de Vênus o quinto nó dedico!
6° Nó: Com Seis eu vos chamo, Espíritos das Estrelas!
7° Nó: Ao Sete qualifico os Antigos!
8° Nó: No Oitavo chamo ao Bode e à Serpente
9° Nó: Pois no Nono termino, de volta ao Reino Antigo!
Medite. Sem pressa alguma, este é um momento de percepção onde você deverá reconhecer
o Caminho da Escada, sempre para através dos tempos, acima, para cima, como numa
espiral ascedente. Deixe os detalhes aparacerem para você, pois se for permitido a ti este
conhecimento eles se revelarão a você. Ao último nó, amarre o cordão em sua cintura, a
altura do umbigo, e diga:

Corda dos Poderes dos Mortos Ancestrais!


Corda dos Poderes da Horda Maldita!
Tu unirás o Céu com a Terra, e a Terra com o Inferno!
Unirás o Dia com a Noite, Mostra- me teus Segredos!
Leva- me na corrida noturna sob as asas da Coruja!
Leva- me à meia noite pelas montanhas e ruínas
para dançar e aprender a Arte de Bruxaria!
Atenda minha prece ó Zhamael,
Azza Uzza Azaziel!
Rei do Mundo! Senhor das Bruxas!
Amém!

Ficará com o cordão por uma semana, ou seja, até a Lua Crescente (lembre-se de perguntar-
se qual a relação entre o Ciclo da Lua e as etapas da Escada. Chega a Lua crescente retire o
cordão e guarde em uma caixa de madeira, pintada de preto e com o Signo de Saturno
desenhado ao lado do Signo de Vênus, em cima da caixa. Dentro, coloque ali uma flor de
significado em sua Arte, pessoalmente usei uma flor de trombeteira (trombeta do diabo,
datura stramonium / datura suaveolens). O leite e sangue utilizados na oferenda deverá ser
derramado sobre as raízes frondosas de uma árvore que tenha escolhido. Não se esqueça de
agradecer. Ingratos não atingem muitas coisas.

A caixa deverá ficar fechada até a Lua Cheia, sendo que três dias antes da Lua Cheia você
tomará a cada dia um banho especifico. No primeiro dia você tomará um banho para
purificar-se de influências negativas. No segundo dia tomará banho de Angélica (angelica
officinalis) para aproximar os espíritos dos Ancestrais. E por fim, no terceiro dia você
tomará banho com sete folhas ou flores de Trombeta-do-Diabo, para propiciar seu corpo
onírico na viajem pela Escada. Para cada banho faça uma oração de acordo com a
necessidade (este banho deverá ser tomado antes de dormir). Se possível é melhor colher as
ervas frescas.

Chegado o dia de Lua Cheia, ao crepúsculo deste dia, faça um altar com uma vela e uma
taça de vinho tinto (ou cerveja), se possível queime um incenso, e coloque a caixa frente a
estes implementos. Abra a caixa e olhando para a Escada ore em voz alta aos Espíritos de
Teu Sangue, aos Deuses da Arte Bruxa. Para isso você pode dizer as seguintes palavras:
Poderes da Corda de Meu Sangue!
Tu és o cordão umbilical que liga a Vida com a Morte
e a Morte com a Vida!
Ouça o Som de minha Voz!
Levantem! Poderes da Corda!
Espíritos Atados! Ergam-se!

Do Nascimento ao Amor!
Do Amor à Maternidade!
Da Maturidade à Sabedoria!
Da Sabedoria até a Morte!

Rainha dos Mortos!


Aquela que é,
Aquela que foi,
Aquela que será!

Nove Vezes Chamo seu nome!


Nove vezes eu lhe Clamo!
Apareça ó Rainha!
Mostra- me tua forma ó Rei dos Mortos!
Eu sou o Ponto de Inicio!

Amarre novamente a corda em sua cintura e aguarde a luz da vela se extinguir, observe o
mundo se tornando escuro enquanto bebe do vinho que divide com os Espíritos da Corda,
beba e assista este banquete de silêncio e beleza, até o fim da bebida e da vela. Se possível
a meia noite vá para um lugar onde tenha luz da lua e realize novamente uma ultima oração
de gratidão.

Sua Escada está pronta, partindo daqui você deverá meditar na corda e descobrir seus
poderes. Com o tempo que fiz esta prática esses momentos mágicos do Sonhar
aumentaram, tornaram mais vivos os encontros na meia noite dos mortos. Como disse no
inicio, esta não é uma legitima escada, vinda de bruxas antigas, é a minha escada, enquanto
não acho uma boa receita, essa têm valido a pena.

GRIGORI HOKMA

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