Вы находитесь на странице: 1из 371

1

Queimando
por você
“Burn for you”

Série Gully’s Fall – Livro Um

Angela Verdenius
2
Equipe Pégasus
Lançamentos:
Envio: Soryu

Tradução: Fabi

Revisão Inicial: Mayara, Derli Dutra e Argay M

Revisão e Leitura Final: Carla C. Dias

Formatação: Lola e Carla C. Dias

3
Sinopse:

Uma horrível experiência com motoqueiros

deixou Ash abalada. Chegando a Gully’s Fall

em busca de uma nova vida, não esperava

justamente se apaixonar pelo bombeiro

motoqueiro bonitão, que a resgatou quando seu

carro quebrou.

Scott é atraído pela sua beleza rubenesca e

seu desejo por ela aumenta dia após dia. Ele

descobrirá a causa da sua desconfiança e a

convencerá a lhe dar uma chance?

4
Comentário da revisora Argay M.

Este livro é lindo, adorei revisá-lo.

Scott é o tipo de homem que qualquer mulher quer


encontrar: carinhoso, charmoso e tão compreensivo que dá
vontade de beijá-lo.

Ash passou por uma situação traumática e ainda


carrega muitos medos e inseguranças, que não a deixam ser
feliz.

Sorte a dela, ter atraído a atenção do grande, quente e


gostoso bombeiro de Gully‘s Fall, não é?

Espero que se apaixonem por este casal tanto quanto


me apaixonei.

Boa leitura...

5
6
7
Capítulo Um

O caminho para Gully‘s Fall era longo,


o betume se estendia até onde os olhos podiam ver. Ambos os
lados da estrada eram de terra e sem muito tráfego para quebrar
a monotonia.

Ash olhou para as ovelhas perto do cercado, ao lado da


estrada. Gully‘s Fall estava a quilômetros de qualquer lugar, o que
tornava o local ideal para parar por algumas semanas, ver se
conseguiria um emprego e se decidiria ficar na pequena cidade.
Pelo menos, estava a milhares de quilômetros de onde morava.

Um trovão retumbou no céu, uma tempestade de primavera


adequada ao seu humor. Ela gostava de chuva, mas não agora.
Não quando estava parada no acostamento da estrada com um
carro quebrado e sem telefone celular que, após uma queda
acidental na última cidade, foi atropelado por um carro. Quem
disse que estacionamentos eram seguros, estava errado.
Estupidamente, ela não tinha comprado outro celular, então não
tinha como pedir ajuda.

Estúpida, estúpida, estúpida.

Se amaldiçoando silenciosamente, colocou os óculos na


ponta de seu nariz. Nenhum tráfego à vista e, mesmo se houvesse,
parte dela estava com medo de que ninguém parasse para
ajudar e outra parte com medo de que alguém parasse.
8
Deus será que ela nunca deixaria de ver ameaça em
qualquer lugar que fosse?

Voltando para frente da Magna, olhou desesperadamente


para o motor sob o capô aberto. Era apenas um motor para ela,
parafusos, peças, coisinhas de correia de borracha. Antes de
deixar a cidade, deveria ter feito um curso de mecânica ou algo
assim, se houvesse tal coisa. Ela verificou o óleo e a água, tudo
estava normal, mas, além disso, não tinha a menor ideia.

Burra, burra, burra.

Mas então, coisas ruins aconteciam — como sabia em


primeira mão — e coisas piores poderiam acontecer novamente.

Mal o pensamento veio à tona, ficou tensa ao ouvir o som


de algo a distância. Algo forte, potente e barulhento. Enquanto o
som aproximava, se esticou ainda mais, se endireitando para ir
para o lado do carro e olhar na direção de onde vinha o barulho.

Motores potentes, seus rugidos rasgando a pacífica calma


do campo.

Motos. E mais de uma. Ajeitando os óculos, podia vê-los


agora no topo da colina por onde veio, a menos de vinte minutos
atrás. Quatro motos, grandes e pesadas, cromadas brilhantes e
capturando a luz do sol filtrada por entre as nuvens. Quatro
motoqueiros vestidos de couro preto e capacetes.

As palmas das suas mãos começaram a suar, o instinto de


correr acelerou seu coração. Talvez passem direto, talvez não os

9
interesse, talvez não se excitem por sua constituição, ignorem por
seu corpo plus-size. Atração tinha que contar, certo?

Não, isso não aconteceu e ela experimentou em primeira


mão isso. Não importou na época e pode não importar agora. Ela
sabia o suficiente para parar de enganar a si mesma.

Enganar a si mesma era perigoso, estúpido.

Ela podia sentir o pânico se instalar quando as motos se


aproximaram. O instinto de correr ou se esconder era forte, mas
não havia nenhum lugar para correr e nenhum lugar para se
esconder. Se a quisessem, os vidros do carro não os deteriam.

Colocando a mão no bolso, sentiu a presença reconfortante


do pequeno frasco que agora carregava. O spray de pimenta
poderia irritar os olhos de um atacante, dar-lhe algum tempo. Mas
contra quatro motoqueiros? Não daria certo, mas, causaria um
pouco de dor se quisessem fazer mal a ela.

Por favor, Deus, por favor, Deus...

Ela manteve a mão no bolso quando as motos diminuíram a


velocidade e pararam não muito longe à frente de seu carro.
Engolindo em seco, observou quando cada um dos pilotos
abaixou o pedal de encosto, mas apenas um deles passou a
perna por cima do banco e saiu; os outros três ficam em suas
motos, levantando as viseiras e conversando uns com os outros.

Isso era um bom sinal, certo?

10
O motoqueiro tirou o capacete, passando a mão pelo
cabelo castanho espesso que estava despenteado e mal roçava
a gola da jaqueta. Seu rosto estava barbeado, ela notou quando
ele colocou o capacete no assento. Cautelosamente, deu vários
passos para trás quando o motoqueiro caminhou até ela. Ele era
alto, tinha ombros largos, intimidando em sua roupa de couro,
elevando-se sobre ela. Seus olhos eram azuis acinzentados. Seu
rosto era todo plano forte, o queixo quadrado, a boca firme e
autoridade emanava dele.

Autoridade ou ameaça, simplesmente a assustava. Seus


dedos acariciaram o vidro do frasco de spray quando ela deu
mais um passo para trás, encostando-se no carro.

Aqueles olhos cinzentos a estudaram, não desviando de seus


olhos, o que a fez sentir um pouco melhor. Então ele sorriu lenta e
tranquilamente, as linhas no canto dos seus olhos enrugando
cativantemente.

— Problemas no carro, minha senhora?

— Hum... — Ela engoliu em seco novamente.

— Capô aberto. Geralmente indica problemas no carro. —


Seguindo em frente, olhou para o motor.

Imediatamente Ash se afastou para o lado, seu olhar


passando rapidamente do motoqueiro de cabelos castanhos
para os três ainda conversando e vice-versa.

Endireitando-se, olhou para ela, seu olhar direto e


compreensivo.
11
— Meu nome é Scott, minha senhora, e esses três são meus
amigos. Vimos seu capô aberto e paramos para ver se podíamos
ajudar. — Seus olhos suavizaram um pouco. — Só para ajudar.

Só para ajudar, mas ainda estranhos a ela. E ainda por cima,


motoqueiros.

E ela estava parada no meio da estrada com um carro que


não funcionava.

— Ah, obrigada. Eu...

Quando tropeçou em suas palavras, ele voltou sua atenção


para o motor.

— O que aconteceu?

Olhando rapidamente para os outros três motoqueiros, Ash


engoliu em seco quando um segundo motoqueiro desligou a
moto e passou a perna sobre o assento. Oh, Deus!

Convulsivamente, apertou sua mão ao redor do frasco de


spray. Este motoqueiro era tão enorme quanto o primeiro. Alto e
de ombros largos, assustador. Tirando o capacete, viu o cabelo
espesso e negro que caiu ao redor de seu rosto, quase roçando
seus ombros.

Casualmente, ele virou e caminhou até o carro, sorrindo, o


que não a fez se sentir melhor.

Dois aqui e dois ali.

12
Ela precisou se esforçar para não dar mais um passo para
trás, forçando-se permanecer parada. Se não quisessem fazer mal
a ela e ela saísse correndo, quão estúpida seria? Tinha jurado que
não deixaria o pânico assumir o controle e manteria essa decisão.

— Minha senhora. — O segundo motoqueiro acenou para


ela, olhos azuis escuros cintilantes. – Sou Ryder. Problema com o
carro?

— Como chegou a essa conclusão? — Perguntou Scott.

— Apenas um palpite — Ryder respondeu.

— O capô levantado, não é?

— Exatamente.

Rindo, Scott olhou para Ash.

— Então, o que aconteceu?

— O carro começou a sacudir e afogar.

— É um do estilo mais antigo de Magna. Pode ser o


distribuidor ou algum cabo. – Pegando um pano do bolso de trás,
Ryder puxou a vareta de óleo, verificou, limpou a vareta, a
colocou de volta e retirou-a novamente. — Tem bastante óleo.

— Eu sei — disse ela, irritada que pensasse que fosse boba ao


ponto de não ficar de olho nisso. — Eu verifiquei isso ontem.

— Mmm.

13
Scott lançou-lhe um olhar antes de se inclinar sobre o motor
e verificar várias peças e cabos de que ela não tinha ideia. Ryder
fez o mesmo.

Ash ficava ainda mais desconfiada quando os outros dois


motoqueiros saíram de suas motos, colocando os seus capacetes
debaixo do braço, enquanto se aproximaram.

Oh Deus! Eles também eram enormes. Será que eram


irmãos? Provavelmente não, porque apesar da boa aparência e
das características fortes, não pareciam parentes. O da direita era
ruivo e o da esquerda, loiro.

Inquieta, deu outro passo para trás. A adrenalina aumentou


enquanto os dois motoqueiros a estudavam. Os dois sorriam, mas
tinham o mesmo ar autoritário, como se acostumados que as
pessoas fizessem o que diziam. Provavelmente assustando
qualquer um que ousasse desobedecer as suas ordens.

Colocando os óculos um pouco acima da ponta de seu


nariz, respirou profundamente. Fique calma. Não aconteceu nada,
provavelmente nada acontecerá.

Scott e Ryder se endireitaram e, por alguns segundos, ela se


tornou o centro da atenção. Isso fez seu coração acelerar, sua
mão apertar mais forte o frasco de spray, e uma vontade de sair
correndo. A testosterona no ar faria muitas garotas sorrirem,
especialmente quando era o foco de atenção dos homens, mas
isso apavorou Ash.

14
— Está tudo bem, senhora? — perguntou Scott calmamente.
— Você está um pouco pálida.

— Sim. — Ela podia ouvir o tremor em sua voz e amaldiçoou.


Não mostre fraqueza, não aja como vítima. Ela jurou nunca
demonstrar fraqueza e nunca mais fugir. Endireitando os ombros,
respirou profundamente. — Eu estou bem.

O motoqueiro loiro olhou diretamente para ela.

– Eu sou Kirk, o policial local.

Policial? O alívio duelava com a cautela. Olhou para ele,


depois para os outros.

— Simon é um bombeiro, Scott também. Ryder é


paramédico. — Kirk virou-se para Scott, que ainda observava Ash
com intensidade. — Você já resolveu o problema?

Todos olharam para o motor, inclinando-se sobre o carro e


conversando.

Sabia exatamente que Kirk percebeu seu medo e procurou


deixá-la à vontade. Um policial, um paramédico e dois bombeiros.
Ela deveria sentir-se segura, certo? Mas e se não forem? Eles não
mostraram nenhuma identificação.

— Pelo que vi, está com problema — afirmou Ryder.

— Surpreenda-nos um pouco mais, — disse Kirk.

— Poderia ser qualquer coisa. Distribuidor, cabos...

— Você está apenas fazendo suposições.


15
— Sugerindo. Você sabe, tentando estimular a mente de
alguns inúteis. — Ryder olhou para Simon. — E então?

— Seja o que for, este carro precisa de um mecânico.

— Pelo menos nós tentamos.

Kirk levantou uma sobrancelha para ele.

— Você? Tentou?

— Ei, vocês não deram nenhuma informação útil.

— Pelo menos sabemos alguma coisa sobre carros.

— E ainda assim precisam chamar Ben. Agora eu levo vocês


à sério.

— Ei, se colocássemos o carro em cima dos blocos lá em


casa eu o desmontaria, consertaria e o montaria novamente.

— Da última vez que fez isso, Ben levou uma semana para
corrigir o estrago.

Ash olhou os homens enquanto se inclinavam sobre o motor


discutindo possibilidades e tirando sarro um do outro. Certamente
não pareciam ameaçadores.

— Aqui. — Kirk se endireitou. — Vamos tentar.

— Tentarei ligar o motor. — Scott foi para o lado do


motorista, abrindo a porta e entrando parcialmente.

— Não funciona — Ryder falou.

16
— Eu ainda não liguei, seu idiota.

— Por que a demora?

— Este assento é para anões. Esperem. — Ash se entortou um


pouco para ver Scott mexendo na alavanca do assento. O carro
balançou enquanto afastava o assento e colocava as pernas
para dentro. — Assim é melhor. — Avançando, advertiu, — Tirem
as mãos da correia do alternador.

— Isso seria para você — Simon informou a Ryder, quando


ele mostrou o dedo do meio.

Os homens se endireitaram, colocaram as mãos nos quadris


e olharam para o motor. Nada aconteceu e Ash mordeu o lábio.
Ela realmente não queria estar aqui, se estaria em segurança na
cidade mais próxima. Sim, cidade significa pessoas. Mas aqui
significava estar sozinha com quatro motoqueiros que pareciam
bons, mas...

— Espere aí. — Inclinando-se, Kirk fez algo que ela não


conseguiu ver. Simon balançou a cabeça e Ryder coçou a barba
grossa. — Tudo bem, Scott, tente novamente.

Um clique, e o motor ganhou vida, estabelecendo-se em um


modo ligeiramente de pulverização antes de nivelar.

— Pronto. — Simon deu um passo para trás.

— Sabia que consertaríamos — disse Ryder.

Kirk deu-lhe um olhar irônico enquanto ele soltava o braço e


fechava a tampa.
17
Agora que o carro estava funcionando, Ash estava ansiosa
para se afastar dos homens. Ela viu quando Scott saiu do carro e
juntou-se aos seus amigos.

Pegando um celular, Kirk apertou um botão, colocou-o no


ouvido e se afastou enquanto falava.

Scott se aproximou de Ash, parando a alguns metros dela.


Seu rosto tinha uma expressão amigável e sua voz era calma e
tranqüila.

— Isso a levará até Gully‘s Fall, minha senhora.

— Obrigada. — Aliviada, se aproximou dele. — Eu agradeço.

Simon e Ryder não se mexeram, apenas a observavam


atentamente, o que a deixou alarmada. Oh Deus, eles pensavam
em...?

— Nós a acompanharemos até à cidade, — afirmou Scott.

— O que? — Assustada, olhou para ele.

— No caso do carro quebrar novamente.

— Oh, não. Não, realmente, isso não é necessário.

— Minha senhora, você está sozinha aqui. De maneira


alguma arriscaremos que seu carro quebre novamente. — Ele fez
uma pausa. — Nunca sabe quem pode parar.

Assim como quatro motoqueiros? Imediatamente Ash se


repreendeu. Até agora, tudo o que fizeram foi consertar o seu
carro e se oferecerem para acompanhá-la até a cidade. Bem,
18
não realmente ofereceram e sim decidiram. Pela maneira como a
olhavam, suspeitava que seus argumentos não funcionariam.

— Hum... é muito gentil da sua parte, — finalmente disse,


sem saber como recusar, sem parecer grosseira. — Eu não quero
incomodar.

— Não é incômodo. — Caminhando até seu carro, Scott


abriu aporta para ela e esperou.

Olhando para Ryder e Simon, Ash viu que voltavam para


suas motos. Olhou para Scott, ainda esperando e, lentamente, foi
até ele.

Realmente não havia opção, precisava entrar no carro, o


que significava que ficaria perto dele. Mas sua consciência a
advertiu que ficar ao alcance do braço não era uma boa ideia.
Apertou mais forte o pequeno frasco de perfume, enquanto se
aproximava.

Parando longe do alcance dos braços, olhou dele para o


carro.

Scott deu alguns passos para trás, ficando parcialmente


afastado quando Kirk desligou o celular e caminhou até o carro.

Aproveitando-se da mudança de atenção de Scott, Ash


rapidamente entrou no carro, puxando a porta e sentindo alívio
quando ela fechou. Automaticamente, trancou as portas.

Scott olhou de relance para ela, mas não disse nada, em vez
disso levantou o braço para perguntar a Kirk. — E então?

19
— Feito. — Parando ao lado de Scott, Kirk pegou-a
desprevenida ao abaixar próximo à sua janela aberta. — Senhora,
Ben é o mecânico local na cidade. Vamos levá-la até ele, ok?

Seria tolice recusar uma escolta, não importa o quão


duvidoso. Esses quatro caras pareciam bons, eles tinham
consertado seu carro e dois deles já estavam em suas motos e
usando seus capacetes.

Enquanto olhava para Kirk observando-a seriamente, sentiu


o olhar intenso de Scott e viu que a olhava cuidadosamente.

— Senhora, — disse em voz baixa, a preocupação evidente


em seus olhos, — você gostaria que eu dirigisse?

— Oh Deus, não!

Ao invés de agir com surpresa, os homens trocaram um


olhar.

Sentindo-se imediatamente como uma idiota, Ash respirou


fundo.

— Eu sinto muito, foi uma reação exagerada. Eu estou bem


para dirigir. Realmente.

— Ok. — Kirk assentiu e se endireitou. — Vamos esperar você


seguir primeiro.

Quando ele se afastou, Ash esperou Scott fazer o mesmo,


mas ele continuou olhando para ela. Seu olhar era firme, decidido
e um pouco enervante.

20
Ash segurou o volante com força. — Na verdade, se você
apenas me disser onde é a garagem, eu posso encontrá-la.

— Nós a levaremos lá.

Obviamente, nenhum argumento funcionaria, e se sentia


aliviada.

— Nos sentiremos muito mais seguro sabendo que está a


salvo, — acrescentou sério. — E temos o dever de tomar cuidado.

Ah, sim, eles eram profissionais. Bombeiros, policiais e


paramédico, aparentemente. Ash relaxou apenas um pouco,
soltando a mão do volante. O bom senso lhe disse que, se
tivessem a intenção de machucá-la, já teriam feito.

Um lento sorriso apareceu nos lábios dele.

— Senhora?

— Sim?

— Seja lá o que tenha em seu bolso para proteção, sugiro


que da próxima vez o deixe em sua mão. Ah, e mantenha seu
celular sempre carregado. — Com uma piscadela, endireitou-se e
caminhou até as motos, deixando-a olhando para ele.

Credo, ele sabia. Provavelmente sabiam tudo. Bem, sobre a


proteção de qualquer forma, não tinham ideia de que sequer
tinha um telefone celular no momento. E ele estava certo: era
melhor ter o frasco de spray na mão, não dentro do bolso,
tornando quase impossível tirá-lo rapidamente.

21
Ela se sentia tola. Todas as conversas que teve sobre
defender-se enfatizavam a necessidade de estar preparada. Ela
tinha quebrado uma das regras e só estava parcialmente
preparada.

Suspirando, Ash esperou enquanto os motoqueiros


conversaram e gesticulavam em direção à estrada e seu carro
por alguns segundos antes de finalmente chegarem a algum tipo
de acordo. Kirk e Scott colocaram seus capacetes, ligaram as
motos, levantaram os apoios e seguiram para a estrada.

Enquanto Simon e Ryder esperaram, Ash estava incerta se ia


ou esperava mais, até que Simon levantou o braço e deu um
aceno.

Ok, então. Respirando fundo, verificou a estrada e saiu do


acostamento. Scott e Kirk haviam se afastado, enquanto Ryder e
Simon ficaram atrás dela. Não demorou muito tempo para
alcançarem as motos na liderança e ela diminuiu um pouco para
manter uma boa distância entre eles e ela.

Eles mantiveram a mesma formação até Gully‘s Fall, dando


a estranha sensação de estar protegida como um bebê, o que
era ridículo. Sério? Protegida por motoqueiros? Especialmente
esses motoqueiros de aparência intimidadora.

Da mesma forma que o pensamento trouxe um sorriso ao seu


rosto dela, desapareceu. Os últimos motoqueiros que enfrentou
não trouxeram um sorriso ao seu rosto. Eles lhe causaram muita dor
física, mental e espiritualmente. Uma pessoa não era composta de
todos os três? E quando uma parte era violada, o resto...
22
Dedos cerrados no volante, os lábios apertados. Pare. Você
deixou isso para trás.

Mas as memórias nunca deixaram sua mente e levou muito


esforço para se concentrar na estrada e nos pilotos à frente,
especialmente quando a roupa de couro a lembraram de coisas
que tentava esquecer.

A viagem à Gully‘s Fall durou meia hora. O carro afogou e


falhou algumas vezes, mas graças a Deus, não parou. Quando
entraram na cidade, viu pelo espelho retrovisor as duas motos
atrás dela se separarem e desaparecerem por uma rua lateral.
Scott e Kirk ainda estavam à frente e obedientemente os seguiu,
se surpreendendo quando passaram pela estação de serviços e
entraram em uma estrada lateral.

Entrando na estação de serviço com um olhar apreensivo,


ficou aliviada quando imediatamente viraram em uma pequena
área de estacionamento de um edifício antigo e viu a placa ‘Ben
Auto-Reparos’ na janela da frente.

Parando atrás deles, saiu do carro e caminhou em direção à


loja. Encontrou no meio do caminho um homem mais velho, de
rosto marcado e enrugado, um pano oleoso em suas mãos, que
ele usava para limpar as mãos igualmente oleosas, o que
realmente não parecia fazer muito sentido.

— Você é a senhora que o carro quebrou? — Ele a


cumprimentou.

23
— Não, sempre acompanhamos todos os visitantes para a
nossa cidade. — Scott apareceu trás dela. — Porque somos muito
educados e acolhedores.

Rapidamente sentiu o calor de seu corpo, o cabelo em sua


nuca eriçou e soltou o ar, que não percebeu que segurava
quando passou por ela.

— Espertinho. — O mecânico novamente a olhou. – Eu sou


Ben.

— Ash, — respondeu ela.

— Certo, Ash. Então qual é o problema?

— Eu não sei. O carro chacoalhou e quando estacionei, ele


parou.

— Hum. Certo. Daremos uma olhada. — Colocando o pano


no bolso de trás de seu macacão, Ben a contornou e foi até o
carro, com o cheiro de graxa e óleo o acompanhando.

Virando, Ash deu de cara com o peito de Kirk, que se


afastava. Ela não havia percebido que ele também estava atrás
dela. O aumento súbito de ansiedade a fez recuar rapidamente.

Tropeçando em um corpo rígido, sentiu grandes mãos em


seus ombros, firmando-a. Apenas a sensação de um corpo
próximo ao dela, a fez se afastar rapidamente. Seu coração
acelerou e sua boca ficou seca. Ela virou para enfrentar Scott,
apenas para vê-lo com as mãos levantadas, em um gesto
tranquilizador.

24
— Está tudo bem, Ash. — Sua voz profunda era gentil, a
preocupação em seus olhos cinzentos tingidos com curiosidade.
— Eu não te machucarei.

Tentando recuperar a compostura, balançou a cabeça.

— Eu sei. Eu... não gosto de ser tocada.

— Tudo bem. — Ele sorriu levemente. — Você gostaria de


esperar no escritório enquanto Ben olha o seu motor?

— Não. Não, estou bem. — Era o carro dela, caramba, ela


tinha todo o direito de ver o que Ben fazia, mesmo se realmente
não entendesse o que falava. Era sua responsabilidade. — Eu
esperarei aqui.

Com um leve aceno de cabeça, passou por ela.

Seus nervos estavam à flor da pele, desencadeados pelos


motoqueiros. Independente de quão úteis foram, o som das motos
e o cheiro de couro trouxeram seu medo à tona. Obrigando-se a
relaxar um pouco, repreendeu-se por ser tão suscetível.

Ela precisava encontrar um lugar calmo e se reorganizar,


meditar e se estabelecer. Mas não agora. Agora, tinha outro
problema, ou seja, um carro que não era confiável.

Mantendo uma distância do carro, estava com os braços


cruzados, mordendo o lábio inferior preocupadamente. Esperava
que os reparos não fossem muito caros. Tinha dinheiro, claro, mas
não contava com os problemas do carro. Isso custaria uma
pequena ou enorme parte de suas economias, que não durariam

25
para sempre. Ela precisava encontrar um lugar barato para ficar e
um emprego. Mesmo um emprego temporário ou parcial seria
ótimo para começar. Estava acostumada a viver de maneira
econômica por toda a sua vida.

Tomar decisões rápidas como a que fez — demitindo-se do


seu trabalho e deixando a cidade — era algo que não fazia
normalmente, mas, assim que estava na estrada, sentiu-se livre e
determinada a recomeçar uma nova vida. Continuou dirigindo,
cruzando as linhas estaduais até que estava a milhares de
quilômetros de onde saiu.

A viagem embalou-a em uma serenidade que não sentia


desde aquela noite horrível. Apenas dirigir, observando a
paisagem passar, somente ela e a música do CD player, às vezes
apenas o silêncio e o som do carro e dos pneus no betume,
algumas vezes apenas pensando, outras apenas deixando sua
mente vazia, dormindo em motéis baratos ao longo do caminho,
começar o trabalho ocasional e depois apenas dirigir e dirigir.

Agora a realidade estava aparecendo. Este foi o primeiro


problema real que teve, e a fez perceber que não poderia
apenas dirigir para sempre. Ela precisava encontrar um lugar para
se instalar, para começar de novo. A última coisa que queria era
ser uma sem-teto nas ruas, sem dinheiro e sem lugar para ir.

Percebendo que mordia as unhas, abaixou a mão


rapidamente.

Ben, Kirk e Scott endireitaram-se, encarando-a, mas apenas


Ben se aproximou.
26
— Vamos entrar.

Com um último olhar para Scott e Kirk, seguiu Ben na área de


recepção da oficina. Ele foi para trás do balcão, sentou em frente
a um computador empoeirado e um teclado que estava cheio de
manchas. Ela pode ver quando começou a digitar com os dedos
gordurosos.

Mesmo a papelada espalhada sobre a mesa da recepção


não parecia particularmente limpa, mas supôs que, se fazia o
principal trabalho de recepção, então, provavelmente não
lavava as mãos cada vez que precisava usar o computador.

Ela se perguntou por que ele não tinha uma recepcionista.


Será que em cidade pequena não precisasse de uma? Será que
esta era uma espécie de coisa de homem?

— Certo. — Inclinando-se na cadeira, Ben disse, — Você


precisa de um novo blá blá blá e custará setecentos dólares.

―Blá blá blá‖, porque Ash realmente não entendeu nada do


que ele disse. Ela não tinha nenhuma ideia de qual peça
precisava, mas com toda certeza sabia o custo.

— Setecentos dólares?

— E mais a mão de obra — Ben acrescentou.

— Você tem certeza?

Ele levantou a sobrancelha. — Mais do que você, eu diria.

— Não, quero dizer... Setecentos dólares? Sério?

27
— Setecentos dólares incluem a mão de obra, a peça e o
custo de aquisição, que será de até uma semana.

— Oh! — ela hesitou. — Não há mais nada que possa ser


feito? Algo mais barato?

— Não. Você precisa dessa peça ou não poderá sair da


cidade, antes que volte para o acostamento da estrada.
Permanentemente. — Ben bateu no balcão de aparência
empoeirada. — Os rapazes fizeram bem, trazendo-a como
fizeram, mas foi uma solução temporária. Foi uma sorte chegar
aqui, na verdade. — Ele balançou a cabeça. — Infelizmente é a
única coisa a ser feita.

Cristo. Ash inclinou no balcão por alguns segundos antes de


se endireitar e acenar resolutamente.

— Bem, acho que não há nada a fazer então. O carro


precisa da peça.

— Então, posso encomendá-la agora?

— Eu acho que sim. Quer dizer, sim. Por favor.

— Não se preocupe, eu farei o pedido para obtê-la. — Ele


começou a rabiscar algo num bloco sujo. — Número de contato?

— Hum... não tenho um ainda, — confessou.

Suas sobrancelhas se ergueram.

— Nenhum celular?

28
— Temo que não. Deixei-o completamente esmagado em
uma lixeira ontem e não consegui substituí-lo. — O que foi
absolutamente estúpido.

— Entendo.

— Eu comprarei outro hoje ou amanhã e te darei o número,


tudo bem?

— Claro. — Ele se inclinou na cadeira, que rangeu de forma


alarmante. Seus olhos astutos a observaram. — Onde ficará?

— Eu esperava que pudesse recomendar algum lugar. — ela


limpou a garganta. — Barato.

— Tem o motel, mas não é o que eu chamaria de barato.


Julia Preston aluga alguns quartos, é uma espécie de pousada. Lá
é mais barato. — Ben esfregou o queixo. — Deixe-me dar um
telefonema. — Murmurando para si mesmo, começou a procurar
em sua pilha de papéis. — Assim que encontrar a agenda de
telefone.

A porta abriu e Ash viu Scott na porta. Ele olhou para ela e
para Ben e vice-versa.

— Tudo resolvido?

— Sim, muito obrigada. — Sentindo-se muito mais segura


agora, Ash sorriu levemente. — Obrigada por tudo, você e seus
amigos.

— Não se preocupe. — ele hesitou. — Tem um lugar para


ficar?
29
— Ben está me ajudando.

— Ok, então. — Scott de repente estendeu a mão. — Prazer


em conhecê-la, Ash.

Era uma grande mão, com dedos longos, unhas limpas e


perfeitamente cortadas. Lentamente, colocou a mão na dele e a
sensação de seus dedos ao redor dos dela em um aperto quente
fez algo zumbir em sua barriga.

O olhar sobre ela, aqueles olhos tão intensos, parecendo


enxergar sua alma, ele apertou a sua mão suavemente antes de
soltá-la.

— Só um minuto.

Ela ainda sentia sua mão ao redor da dela, o calor de sua


palma ligeiramente calejada raspando na dela. Foi bom, ela tinha
que admitir.

Indo ao balcão, pegou um pedaço de papel e caneta,


escrevendo algo antes de entregar a ela.

— Este é o meu celular. Se precisar de algo, me ligue.

— Oh, eu...

— A qualquer hora, — Garantiu, antes de sorrir e sair.

Pela janela, viu quando caminhou para onde Kirk o esperava


em sua moto. Eles trocaram algumas palavras, Scott subiu em sua
moto e colocou seu capacete e, em poucos segundos saíram de
vista.

30
Ela ainda olhava pela janela quando Ben a interrompeu.

— Julia tem vários quartos vagos e terá o prazer de hospedá-


la. Os preços são razoáveis, como disse. — Contornando o balcão,
ele abriu a porta. — Se pegar as coisas no seu carro, eu lhe darei
uma carona.

— Mas o meu carro ainda funciona e....

— Odeio dizer, mas esse carro pode te deixar na mão a


qualquer momento. A última coisa que precisa é adicionar uma
taxa de reboque em sua conta.

Não, ela não queria, mas...

— De qualquer forma, tudo é perto por aqui, então ficará


bem.

Logo em seguida, estava sentada na cabine de uma velha


caminhonete com suas duas malas na parte de trás. O resto de
suas coisas havia deixado no carro, com a garantia de Ben que
estariam seguras, enquanto trancava a garagem, onde foi
deixado até que fosse consertado. Ela poderia buscar o que
precisasse a qualquer momento.

Passando pela estação de serviço, ele virou na rua principal


e ela deu uma boa olhada. Havia um supermercado pequeno,
casas e um prédio antigo. Definitivamente era a parte da cidade
sem qualquer tentativa de muita modernização. A estrada de
betume passava pela rua, alcançando o topo de colina em uma
curva antes desaparecer da vista novamente na distância. A rua
principal não era plana; havia várias árvores de eucalipto
31
crescendo fora da trilha em alguns lugares. Ambos os lados da
estrada tinham velhos edifícios feitos de pedra e madeira e alguns
tijolos que possivelmente eram do início do século XX. A maioria
tinha varandas. Ela meio que esperava mulheres usando vestidos
longos e homens montados em cavalos aparecerem. Certamente
não aconteceu, mas não se surpreenderia.

Entretanto, ao invés de cavalos, havia estacionamentos


angulares em cada lado da estrada, na frente de várias lojas, e
ocasionalmente um carro ou uma caminhonete passando. Um
caminhão que transportava fardos de feno retumbou pela rua
principal, antes de desaparecer na direção de onde veio.
Algumas pessoas caminhavam pelas ruas carregando as suas
compras nos edifícios singulares, mas fora isso, era tranquilo.

Ou talvez estivesse movimentado para uma cidade


pequena. Talvez não fosse dia dos agricultores ou algo parecido.

Quando Ben atravessou a rua, Ash colocou os óculos,


observando as lojas. Açougue, padaria, livraria, café, loja de
móveis, quiosque, loja de roupas, a estação de serviço, correios,
bancos e uma Igreja Católica. Do outro lado da estrada tinha um
bar, uma loja elétrica, uma imobiliária, uma igreja anglicana e um
parque. Uma placa indicava que o hospital ficava na estrada
lateral à direita. Ao lado do parque tinha uma delegacia, um
pequeno tribunal, uma ambulância e uma estação de bombeiros.

Era interessante que os edifícios de emergência ficavam


lado a lado e lembrou-se dos motoqueiros que a auxiliaram. Não
havia nenhum sinal deles quando a caminhonete de Ben passou

32
pelos edifícios e entrou em uma rua lateral. Eles passaram por uma
biblioteca e uma piscina e também pela Assembléia Legislativa.

Ele entrou em uma rua que levava a um edifício baixo de


estilo colonial. No portão tinha uma placa anunciando ―Pensão
de Gully‘s Fall‖. Havia roseiras, um estacionamento de um lado e
uma garagem marcada como particular, no outro lado. A estrada
continuava atrás do edifício, mas Ben estacionou na frente.

— Pronto, chegamos. — Ele saltou do veículo e ela fez o


mesmo, com um pouco mais de cuidado.

Retirando as malas na parte traseira, Bem caminhou até os


quatro degraus que davam para a varanda, ignorando os
protestos e tentativas de levar as malas.

A porta da frente abriu e uma mulher agradavelmente roliça


saiu. Cabelo loiro mesclado com branco estava preso em um
coque, um avental cobrindo sua saia e seus olhos brilhavam com
diversão.

— Você deve ser Ash — a cumprimentou calorosamente. —


Eu sou Julia. Entre, querida. Ben traga as malas.

— Eu posso levar essas, Ben, honestamente, — Ash protestou,


sentindo-se culpada.

— Bobagem. — Julia bufou. — Os homens sabem o seu


lugar. Certo, Ben?

— Assim como uma mulher deve saber o dela, — ele


respondeu.

33
— Ignore-o. — Julia segurou o braço de Ash. — Ele é mal
humorado na maior parte do tempo.

Não querendo discutir, Ash lhe deu um olhar de desculpas,


que ele ignorou e entrou com Julia enquanto as seguiu com as
malas.

O corredor era largo, com pisos de madeira escura polida e


brilhante, um hall histórico escuro até o fim. A mobília era velha,
escura, mas as paredes foram pintadas de um rosa suave. O teto
era alto, com quadros pendurados artisticamente ao longo das
paredes, retratando principalmente, cenas coloniais.

Julia levou Ash pelo corredor.

— Agora, à esquerda é o salão, você é livre para usar como


quiser. A cozinha e sala de jantar são as próximas. Eu preparo as
refeições, então você precisa apenas dizer se estará aqui para as
refeições. Há um cardápio padrão na sala de jantar, bem como
uma cópia pequena em seu quarto, para que saiba o que haverá
nas refeições neste dia. À direita estão quatro quartos e no final do
corredor, dois banheiros. No final do corredor verá uma porta. Essa
é pessoal e leva aos meus aposentos, por isso peço a todos os
hóspedes que não se aventurem por lá. Há um telefone público
em uma pequena sala da varanda, eu não sei se já viu — Ash
sacudiu a cabeça — Não se preocupe, te mostrarei mais tarde.
Permitia o uso do telefone na sala, mas depois de pagar enormes
contas de telefone porque vários hóspedes decidiram que seria
uma ótima ideia fazer chamadas internacionais, eu vetei a ideia.
Meu filho me convenceu a colocar um telefone público para os

34
hospedes e funcionou bem, embora a maioria das pessoas tenha
um celular agora, então provavelmente cancelarei o telefone
público também. — Finalmente, parando para respirar, Julia abriu
a segunda porta a direita. — Este é o seu quarto.

Espiando, Ash ficou surpresa com o quão antiquado e


confortável o quarto era. Uma cama de casal coberta com uma
colcha de retalhos, grandes almofadas cobertas de laços, uma
poltrona florida com uma almofada simples sobre ela, e abajur
Tiffany1 sobre os criados mudos. O guarda-roupa era de madeira
escura, a cômoda combinando e uma mesa de madeira escura,
com quatro pernas curvas e uma cadeira de encosto alto. As
janelas tinham cortinas com babados puxados para trás para
mostrar delicadas rendas cobrindo as janelas. Uma tigela de pot-
pourri sobre a cômoda, o perfume sutil enchendo o ar. Uma leve
brisa agitava as cortinas.

O quarto cativou seu coração solitário, era tão acolhedor


que sentiu um desejo repentino de sentar naquela grande
poltrona, colocar a manta ao seu redor e olhar a cortina de renda
mover-se tão gentilmente na brisa leve.

Ela precisou limpar a garganta e piscar antes de olhar para o


rosto sereno de Julia.

— É adorável.

Satisfeita, Julia sorriu.

1 Um abajur Tiffany é um tipo de abajur feito de diferentes tonalidades de vidro.

35
— Fico feliz que tenha gostado. Agora, termine de se instalar
e sinta-se em casa. Há toalhas nas gavetas. O jantar é às seis
horas, então apenas verifique o cardápio e me diga até as
quatro, se estará aqui.

— Com licença. — Ben passou por Ash para colocar as


malas no chão ao lado da cama.

— Obrigada — disse ela. — Agradeço a ajuda.

— Não se preocupe. — acenou para ela e Julia. — Melhor


voltar ao trabalho. Ao contrário de uma mulher, o trabalho de um
homem nunca termina.

— É por isso que ele expele tantos gases — Julia respondeu.


— Ao contrário de uma mulher que fica presa e tem o trabalho
feito.

— Huh. — Ele saiu do quarto.

Ash olhou para Julia.

— Hum...

— Não se preocupe com Ben, querida. Ele e eu temos uma


longa história. Agora, se instale. Se precisar de qualquer coisa,
basta me procurar, nunca estou longe. E não se esqueça, me
avise se estará aqui para o jantar.

— É mais seguro eu dizer sim agora. — respondeu Ash.

— Ótimo. Seis horas na sala de jantar, então. Enquanto isso se


sinta à vontade para passear e se familiarizar com as coisas. —

36
Julia saiu do quarto, e colocou a cabeça na porta. — E não se
preocupe com Henry. Ele pode ser rude às vezes, mas o coitado
não sabe o que diz. É tudo culpa do meu filho e dos seus amigos.
— Ela saiu antes que Ash perguntasse quem era Henry.

Ela passou as próximas horas desempacotando suas roupas


e, então saindo para uma caminhada, para explorar a
propriedade. Ela estimava que tivesse, pelo menos, dez hectares.
Havia uma garagem atrás da casa, um grande galpão, árvores
frutíferas, galinhas em uma área seccionada, um Kelpie
Australiano2 que a ignorou e só ficou dormindo na varanda dos
fundos e um grande gato cinzento que a observava sem piscar os
olhos verdes antes de desaparecer pela lateral da casa.

O que aconteceu em seguida foi uma explosão de


palavrões e gritos desagradáveis de ‗Fogo! Fogo! Pegue-o!
Bastardo, bastardo, bastardo!‘

Alarmada, Ash correu na direção em que o gato havia


desaparecido e viu nada mais do que o gato e uma grande
cacatua branca3 em uma gaiola enorme.

Quando parou, o gato pressionou o focinho na gaiola e a


cacatua estendeu suas asas e gritou: ‗Cretino maldito! Socorro!
Socorro!‘

Em seguida, para seu espanto e diversão, gritou: ‗Aqui


gatinho, gatinho, gatinho!‘

2Raça caninha, mais conhecida como Pastor Australiano.


3Tipo de papagaio branco encontrado na Austrália, no leste da Indonésia e ilhas vizinhas.
Quando surpreendidas, levantam sua grande e fina crista.

37
Não apareceu ninguém da casa, então deu alguns passos e
se aproximou, afastando cuidadosamente o gato da gaiola. O
gato lhe deu um olhar descontente e pulou em cima de uma
velha cadeira para se aconchegar e assistir a cacatua.

— Pobre Henry — a cacatua disse a Ash. — Arranhe o


papagaio? Arranhe Henry? Quem é um bom menino?

Ah, esse deve ser Henry. Julia mencionou a grosseria.

Ele aconchegou-se ao lado da gaiola e cautelosamente


estendeu um dedo e esfregou as penas de sua cabeça através
do vão da grade. Henry se envaideceu, levantando as penas.

Rindo, Ash acariciava-o enquanto murmurava e olhava


docemente para ela. Quando ela parou, ele a olhou por alguns
segundos antes de andar lateralmente em seu poleiro, levantando
as patas de maneira cômica. Quando chegou ao final do poleiro,
começou a pular e ela não resistiu.

— Dance papagaio, dance papagaio, — ela cantou


baixinho, olhando em delírio quando ele começou a abaixar e
balançar na melodia das palavras que quase todos os
proprietários de papagaios ensinavam a seus bichinhos.

O fato de que eram grandes mímicos tornou o trabalho um


pouco mais fácil.

— Gostaria de saber se você dança rock'n'roll, — ponderou.

Henry parou, inclinou a cabeça para ela e gritou. — Puta!

Ela piscou. — Ok, então.


38
— Henry quer um preservativo! — O papagaio gritou.

— Henry quer lavar a boca com sabão — informou ela.

— Dê-me um beijo!

— Não com essa boca.

— Pobre Henry. Fogo! Fogo!

— Alguém me chamou? — perguntou uma voz profunda e


familiar.

Pela janela da cozinha, Scott viu Ash andando pela


propriedade. Havia algo nela que não estava muito bem, como
se carregasse um fardo demasiado pesado para o seu espírito.

Algo aconteceu com ela no passado — e um passado não


muito distante, se ele adivinhou corretamente. Quando ele e seus
amigos pararam para ajudá-la, ela quase congelou no local. Não
houve dissimulação de quão nervosa estava, a tensão em seu
maxilar, a cautela naqueles grandes e bonitos olhos azuis por trás
dos óculos. Sim, alguma coisa com certeza aconteceu e ficou
bem claro quando a firmou com suas mãos e ela admitiu que não
gostava de ser tocada.

39
Agora o que será que aconteceu para provocar esse tipo de
reação? Quase todo mundo gostava de ser tocado, de alguma
forma, em algum momento, seja de maneira amigável ou íntima.

Seu olhar deslizou sobre ela enquanto ela se inclinava para


cheirar uma das grandes rosas vermelhas com as quais sua mãe
era obcecada.

Ashley Smythe era uma coisinha doce. Cabelo castanho


avermelhado que capturava a luz do sol, olhos azuis emoldurados
por cílios espessos, um pequeno e atraente nariz e os lábios em
formato de coração mais doces que viu em uma mulher.

Quanto a sua aparência, era como gostava: Voluptuosa,


grandes seios, quadris largos e uma bunda que podia agarrar e
apertar com as duas mãos. Aquelas coxas arredondadas eram
apenas feitas para prender um homem enquanto estivesse no
berço dos seus quadris exuberantes. Ele amava uma garota
grande com todas aquelas curvas sensuais.

Apenas o pensamento de toda aquela carne suave e


cremosa exposta para ele explorar, o fez mudar sua postura
quando seu eixo deu um pequeno empurrão feliz.

— Eu não gosto de ser tocada.

O que aconteceu para que evitasse até mesmo um toque


amigável, um gesto solidário quando trombou nele?

Quando aquele traseiro generoso foi pressionado contra ele,


seu calor perfumado o acertou em cheio. Mas essas seis simples
palavras colocaram uma barreira entre eles.
40
Scott esfregou o queixo. Havia algo nela que o instigou e foi
mais do que querer tocá-la — em todos os lugares — era outra
coisa, um desejo de aprofundar-se.

Talvez se transformou em um intrometido curioso aos trinta e


três anos de idade. Ele esteve com algumas mulheres — na
verdade, era considerado um dos quatro principais partidos de
Gully‘s Falls — e, para uma mulher dizer ―não me toque‖ apenas
aumentou sua curiosidade.

Não que fosse um idiota e forçasse sua presença, mas


caramba, certamente não tinha a intenção de simplesmente ir
embora. Scott Preston nunca desistiu de algo que queria em toda
a sua vida e não começaria agora.

Mas, primeiro, precisava conhecer melhor a bonita hóspede


da sua mãe, fazê-la confiar nele, para que visse que era um cara
legal.

Ao ouvir o xingamento ao lado da casa, sorriu enquanto Ash


corria para investigar. Ele daria em Henry alguns petelecos extras
em sua cabeça mais tarde.

Saindo da cozinha, correu apressadamente até à frente da


casa, onde a gaiola de Henry ficava sombreada por uma árvore.
O pássaro a enganava fazendo Ash pensar que gostava
enquanto coçava a sua cabeça. A risada dela era leve no ar,
quase despreocupada, enquanto observava as palhaçadas de
Henry.

— Gostaria de saber se você dança rock'n'roll, — ponderou.

41
Henry parou, inclinou a cabeça para ela e gritou. — Puta!

Ela piscou. — Ok, então.

Scott teve que abafar uma risada ao ver a expressão em seu


rosto.

— Henry quer um preservativo! — O papagaio gritou.

— Henry quer lavar a boca com sabão — informou ela.

O pássaro era um clássico, sem dúvida, e sua resposta foi


impagável.

— Dê-me um beijo!

— Não com essa boca.

— Pobre Henry. Fogo! Fogo!

— Alguém me chamou?

Ash olhou para ele por cima do ombro, a felicidade


desaparecendo de seu rosto, seu riso morrendo no ar. Ele sentiu a
perda imediatamente.

— Scott?

— O primeiro e único. — Reunindo seu humor, Scott parou ao


seu lado, instantaneamente consciente de seu afastamento, o
passo ao lado que deu para colocar distância entre eles, da
forma como seus ombros curvaram levemente quando ela ajeitou
os óculos em seu pequeno nariz.

42
Sim, algo com certeza aconteceu a essa mulher e deixou
uma marca mais profunda do que apenas magoa.

Fingindo que não percebeu nada, Scott colocou as mãos


nos bolsos da calça jeans e olhou para Henry, mesmo que
preferisse olhar para Ash.

— Vejo que já se familiarizou com o demônio de penas da


mamãe.

— Mãe? Sua mãe é a Julia?

— Sim.

— Eu não sabia.

— Eu pensei que Ben tivesse dito alguma coisa.

— Não, ele não disse. — mudando a sua postura, ergueu a


mão para esfregar seus braços deliciosamente arredondados
antes de colocá-las nos bolsos de sua calça de linho.

— Você mora aqui também?

— Não. Só vim para ajudar mamãe com qualquer coisa que


precise fazer e que não consiga.

— Oh. — Ela olhou para Henry.

O pássaro envaideceu, fez uma pequena dança e olhou


timidamente para ela antes de levantar uma pata de cada vez e
picar ao longo do poleiro para ficar com topo de sua cabeça
contra a grade. Quando Ash gentilmente esfregou sua cabeça,
Henry fechou os olhos em êxtase. Pássaro de sorte.
43
— Pensando em ficar muito tempo? — Scott perguntou
casualmente.

— Uma semana. Até o carro ser consertado. — fez uma


pausa. — Talvez mais.

Mais seria bom.

— Indo para algum lugar em particular, Ash? — Quando não


respondeu, olhou para o lado e a viu mordiscando aqueles lábios
de coração, a exuberante carne presa entre os dentes pequenos
e brancos.

Ele gostaria de mordiscá-los também. Isso foi um choque,


porque nem ainda chegou a conhecê-la, então por que reagia
tão rápido... e tão intensamente? Acalme-se, companheiro.
Sossega o facho.

— Desculpe. Não quero me intrometer.

— Não, está tudo bem. — Ela era educada. Depois de


alguns segundos olhando para Henry em silêncio, ela limpou sua
garganta. — Então, você é um bombeiro, hein?

— Sim.

— Bombeiro quente. — Henry gritou em voz baixa.

Scott sorriu.

Ash não deu um sorriso.

— Há muito tempo?

44
— Desde que tinha idade suficiente para me afiliar. Simon e
eu nos afiliamos no mesmo dia, na verdade.

— Simon... — Ela obviamente tentava lembrar quem ele era.

Cristo, se conhecesse Kirk, Ryder ou Simon ao invés dele, ela


teria dificuldade em lembrar-se dele? Pensamento preocupante.

— Não pode tê-lo esquecido, ele tem o cabelo ruivo. Como


você.

Conscientemente, ela tocou um dos fios sedosos que


escapou do rabo de cavalo para dançar encantadoramente
contra uma de suas bochechas.

— Não como seu cabelo, na verdade. — Scott virou a


cabeça para olhá-la. — O dele é apenas ruivo. O seu é castanho
avermelhado.

Com as bochechas corando, ela desviou o olhar.

— Cabelo bonito. — ele acrescentou.

Instantaneamente ela endureceu, encolhendo seus ombros


novamente e inclinando a cabeça em uma postura defensiva.

Oh, isso era interessante. O que aconteceu? Ele a elogiou,


não a insultou. Por que essa reação a um elogio? Certamente
alguém tão bonita como ela estava acostumada com elogios.

— É melhor eu ir. — ela começou a se afastar.

— Droga! — Henry gritou, abaixando e levantando a


cabeça.
45
Scott sabia exatamente como ele se sentia. Procurando por
algo que a mantivesse lá, perguntou — Gostaria de ir ao pub mais
tarde?

O olhar assustado que lhe deu foi como o de um canguru no


farol.

— Apenas eu e meus amigos nos encontrando para uma


bebida — acrescentou, pensando que aliviaria a sua apreensão.

Aqueles olhos ficaram mais arregalados. Ele praticamente


podia ver o branco ao redor da íris. — Em público? — tentou.

Ela começou a recuar. — Oh, não. Não, obrigada.

— São apenas amigos. — Então, não querendo que ela


saísse, ele virou para encará-la.

— Não. Não. — Balançando a cabeça e levantando as


mãos, deu mais alguns passos para trás. — Não

Vendo que ela afastava sem olhar, Scott instintivamente deu


um passo para frente. — Ash, pare.

O medo tomou conta de seu rosto. — Para trás! Não me


toque! Não... — Seu calcanhar bateu na pedra de pavimentação
que ele estava querendo consertar — Droga! — E os braços
balançaram quando ela tropeçou e tentou recuperar o equilíbrio.

Saltando para frente, Scott pegou-a pela cintura, puxando-a


para cima e contra ele.

46
Capítulo Dois

Cada curva exuberante de Ash estava pressionada com


força no corpo de Scott. Um braço ao redor da cintura, o outro
entre as omoplatas, ele só podia mergulhar na sua sensação —
quente, macia, cheirosa e tão deliciosa que ele poderia lambê-la
como um sorvete.

As suas mãos estavam em seu peito, pressionadas


diretamente em seu coração, as palmas das mãos encostadas em
seus mamilos, que imediatamente endureceram e o seu eixo
captando a energia de calor que chiava nele.

Cristo, se ela o afetou assim simplesmente salvando-a de


uma queda, como se sentiria quando tocasse seu corpo nu?

Esse pensamento quase fez sua cabeça explodir. Ambas as


cabeças.

Olhando para seu rosto assustado, foi impactado por


aqueles olhos azuis, tão grandes e claros por trás dos óculos, tão
surpresos, tão conscientes e.... tão assustados.

Ele sentiu a mudança imediatamente: o corpo de Ash


enrijeceu, as palmas das suas mãos flexionaram e se afastaram do
seu peito como se estivessem tocando no fogo.

47
O rubor em suas bochechas desapareceu, ficando pálida. O
tremor que sentiu passar por ela não tinha nada a ver com desejo.

— Ash...

— Deixe-me ir.

— Está bem...

— Deixe-me ir!

Afrouxando o aperto, as mãos ficaram pouco acima de seu


corpo em prontidão para agarrá-la novamente, se necessário.

— Está tudo bem. — ele acalmou.

— Deixe-me ir! — Quase violentamente ela se afastou,


caminhando rapidamente com os punhos cerrados e ombros
curvados.

— Ash? — Scott tentou segui-la, querendo falar com ela para


aliviá-la, mas não era tolo. A mulher era tão frágil que tinha a
sensação de que poderia quebrar a qualquer momento. Seria
estúpido persegui-la. Então, sentiu-se malditamente impotente. —
Ash, espera.

Ela desapareceu na parte de trás da casa sem responder,


deixando-o sozinho. Com as mãos nos quadris, olhou para seus
tênis e franziu a testa. Droga, e agora?

— Henry quer um preservativo! — O papagaio gritou.

— Cale-se.

— Bombeiro quente!

48
Scott esfregou a nuca, querendo saber o que fazer agora.

— Arranhe Henry? Arranhe o papagaio?

Scott olhou para Henry.

— Te darei como comida ao Oscar em um minuto.

— Aqui, gatinho, gatinho, gatinho!

Do banco, Oscar, o gato cinza, apertou seus olhos verdes


para Henry.

— Sim. — disse Scott, — Eu não daria tantas piruetas, pássaro.

— Bastardo! — Henry gritou. — Fogo! Fogo!

Com um suspiro, Scott caminhou para frente da casa.

Sua mãe o encontrou quando se aproximava dos degraus


da varanda.

— Será que incentivou Henry de novo?

— Eu? Por que sempre eu?

— Porque até que você e seus amigos colocassem suas


mãos tortuosas sobre ele, Henry só falava educadamente.

Scott sorriu.

— Ei, apenas o educamos, o tornamos um pássaro do


mundo.

Balançando a cabeça, Julia mudou a cesta de corte de


rosas para a outra mão.

49
— Ficará para jantar? Você conheceria a minha nova
hóspede.

Hum, era tentador. Hoje tinha ensopado de cordeiro e Ash


estaria lá. Ele adoraria provar um e — bem, provar o outro
também, mas tinha a sensação de que se aparecesse, ela
simplesmente não apareceria e de jeito nenhum a faria se sentir
estranha em um lugar que planejava ficar uma semana ou mais.
Certamente não queria que ela fosse embora da pensão.

— Obrigado, mas não. Vou me encontrar com os meus


amigos para tomar uma bebida no bar.

— Apenas uma bebida? — Não havia dúvida quanto à


desaprovação na voz de sua mãe.

— E uma refeição também — acrescentou.

— Bom garoto. — Ela estendeu a mão e acariciou sua


cabeça. — Obrigada por mudar a mobília para mim.

— Não se preocupe. — Dando um beijo em sua bochecha,


foi para o seu carro. — Eu falarei com você mais tarde.

— Seja bom.

Se sua mãe soubesse o que pensava sobre uma de suas


hóspedes.

50
Rezando para que não encontrasse Scott depois de seu
ataque de pânico na tarde anterior, Ash caminhou até a cidade
para encontrar um lugar onde comprar um novo celular.

Sentia-se como uma tola. Ela encolheu-se interiormente. Não


podia simplesmente se controlar? Ele só tentou ajudá-la, impedi-la
de cair quando tropeçou no piso, mas não, ela tinha que agir
como uma idiota.

Ela duvidou que algum dia a chamasse para ir ao bar


novamente. Não que quisesse, assegurou-se, apenas o
pensamento de estar sozinha com um grupo de homens a
assustou, fez suas mãos suarem e acelerar seu, e não de uma boa
maneira.

Era melhor que pensasse que era uma idiota e não se


aproximasse dela. Melhor para ele e, definitivamente, melhor para
ela. Ela não estava pronta para nada além do que um educado
‗Olá‘.

Talvez devesse pedir desculpas por exagerar?

Apenas o pensamento de encará-lo depois de seu


comportamento ridículo a fez encolher tanto que seus ombros
quase tocaram em seus ouvidos.

Não, melhor esquecer isso. Respirando fundo, balançou a


cabeça de forma decisiva e continuou a caminhar na direção
que Julia havia dito.

Mesmo que fosse apenas oito e meia da manhã, a rua


estava movimentada. As crianças iam para a escola, um ônibus
escolar, várias caminhonetes, a van do eletricista e alguns
51
caminhões de fazenda passaram. Um caminhão cheio de ovelhas
passou e o aroma que deixou não era dos melhores. Eca. Ela
também sentiu pena das pobres ovelhas, perguntou se estavam à
caminho do matadouro ou indo para alguma fazenda. Tomara
que para uma fazenda, porque mesmo que amasse uma
costeleta de cordeiro — sem mencionar o ensopado de cordeiro
de Julia — sempre se sentiu culpada quando via os olhinhos das
ovelhas e suas expressões inocentes.

Ela nunca seria uma boa esposa de fazendeiro, seria muito


mole. Pararia todos os caminhões de ovelhas que deixassem a
fazenda.

Não que pudesse ser uma esposa agora. Se não fosse o


suficiente que sua figura plus-size não chamasse a atenção dos
homens, depois do que aconteceu... Estremeceu, sentindo o
turvar familiar de náuseas. Luxúria no rosto de um homem não era
algo que gostaria de ver. Nem agora, nem nunca.

Não. Acontece. Lide com isso, viva com isso. As lembranças


não lhe possuem. Você possui as lembranças e você decide o
que essas lembranças serão.

Endireitando os ombros, Ash entrou no quiosque. Olhando ao


redor viu um carrinho de madeira coberto de revistas, jornais e
gibis. Na parte forrada de uma das paredes havia algumas
canetas de luxo em exposição em um case. Havia uma geladeira
com bebidas não alcoólicas, uma estante com brinquedos em
caixas e uma porta para a sala dos fundos. No lado esquerdo
havia um balcão com uma jovem rechonchuda folheando uma
revista.
52
Olhando para ela, seus olhos brilharam.

— Ei, você é a garota nova na cidade.

— Eu acho que sou. — Ash se moveu para ela.

— Sou Dee. — Ela estendeu a mão.

Ash estendeu a sua mão, que foi sacudida com entusiasmo.

Soltando-a, Dee se apoiou no balcão.

— Ouvi dizer que está hospedada na pensão de Julia. Não


fique chateada, todos aqui sabem quando alguém novo chega à
cidade. Sabemos até que seu carro quebrou e que os meninos te
encontraram. Que bom que passaram por você ou teria sido um
longo tempo antes que alguém aparecesse. Aqui não é
exatamente um local movimentado, se você me entende.

— Eu entendo. — Ash assentiu. — Sim, oh... os rapazes foram


muito úteis.

— Oh, eles são extremamente úteis. Um em particular. — Dee


zombou um pouco. — Aquele Ryder, ele já te convidou para sair?

— Quem?

— Ryder. Você sabe, cabelo preto, olhos azuis escuros que


uma garota pode se afogar, com o corpo maravilhoso.

— Não. Não, ele não me convidou.

— Estou surpresa. Ainda assim, ouvi dizer que ele foi pego
com aquela vagabunda, Yvonne. Aquela vadia. — Os lábios de
Dee franziram. — Ryder também. É um vagabundo.

53
— Huh. — Ash não sabia o que dizer.

— De qualquer forma, em que posso ajudá-la? — Dee abriu


um grande sorriso.

— Ah, bem... — Aliviada, Ash baixou o olhar para a parte do


balcão que era de vidro. — Eu preciso de um celular novo.

— Eu me perguntava por que você não ligou para pedir


ajuda. — Dee olhou pelo vidro e seu cabelo loiro e longo
acumulou-se na superfície brilhante, quando se inclinou. — Algum
em particular? Que tal aquele rosa?

— Acho que não.

— Eu tenho alguns novos, estampa de leopardo. Ainda não


os coloquei aqui.

— Não é bem o meu estilo, eu sinto muito. — Ash apontou. —


Posso ver o preto?

— Boa escolha. Funcional, de flip, pequeno. — Abrindo a


porta de vidro atrás do balcão, estendeu a mão e pegou.

Ash o abriu, o fechou, analisou a aparência. Plano, linha fina


para caber em sua bolsa pequena e funcional. A coisa certa.

— Eu levarei. Ah, e um jornal local, também. — Poderia muito


bem ver o que acontecia ao redor de Gully‘s Fall e verificar as
páginas de emprego.

— Excelente escolha. — Dee estendeu a mão e pegou a


pequena caixa. — As instruções estão aqui, garantia e outras
coisas.

54
— Ótimo. Posso também colocar um pouco de credito nele?
Por favor.

— Pré-pago? Inteligente. Não gastará muito dessa maneira.

Não demorou muito e Ash guardava o celular em sua bolsa.

— Pensando em ficar muito tempo? — Perguntou Dee.

— Não tenho certeza. Talvez uma semana. Talvez mais.

— Gully‘s Fall é um lugar agradável. — Os olhos de Dee


mudaram de cordial para astuto. — Você está procurando um
emprego?

Estava na ponta de sua língua dizer não, mas Ash esmagou


a vontade mentalmente. Era hora de retomar sua vida.

— Na verdade, sim.

— O que você pode fazer?

— Você tem um emprego para mim?

— Desculpe querida, isso aqui é praticamente uma banda


de um homem só. — Vendo a decepção no rosto de Ash, Dee
acrescentou, — Mas manterei ficarem alerta por você. Algo
aparecerá, fique tranqüila.

— Obrigada. — Ash sorriu, acenou com a cabeça. — Ok, é


melhor ir.

— Sim, coisas para fazer, lugares para ir, pessoas a ligar.

Isso a fez lembrar...

— Sim, eu tenho.
55
Saindo do quiosque, Ash voltou para o café, sentando-se no
canto em uma pequena mesa de dois lugares. Pegando o
cardápio, ela o analisou.

Logo em seguida, uma garçonete se aproximou, uma mulher


de meia-idade com um sorriso cansado.

— O que deseja, querida?

— Chá branco com um pouco de açúcar e um desses


bolinhos de abóbora da vitrine. Eles parecem deliciosos.

— Meu Ernie quem faz. É o melhor da região.

Não demorou muito para que uma xícara de chá


fumegante e um prato com um bolinho com manteiga fossem
colocados à sua frente.

— Você é a garota nova na cidade, — disse a garçonete. —


Eu sou Cheryl.

— Eu sou Ash. — Ela sorriu de volta. — Pareço me destacar


como um elefante numa loja de cristais.

— Cidade pequena, a maioria cresceu aqui e todos


conhecem muito bem um ao outro, então um novo rosto é algo
que ninguém perde.

— Todos parecem muito amigáveis.

— Gully‘s Fall é assim. Uma grande família. — Cheryl fez uma


pausa e piscou. — Alguns um pouco mais agradáveis, outros um
pouco mal-humorados.

— Ah.
56
— Tal como Ben.

— Ele tem sido muito bom para mim.

— Oh, ele é bom, apenas um pouco resmungão. Faz


qualquer coisa para qualquer um. — Cheryl olhou quando o sino
acima da porta apitou. — É melhor voltar ao trabalho e deixá-la
tomar seu chá antes que esfrie.

Um jovem desengonçado com um rosto marcado de acne


olhou para Ash, corou até as pontas das orelhas e desviou o olhar.
Ele murmurou seu pedido a Cheryl, que saiu para buscá-lo. O
jovem olhou para a janela, olhando-a de soslaio, mas não
diretamente para ela.

Com pena, Ash deu um breve sorriso em sua direção antes


de tirar o celular da bolsa e discar o número de telefone de sua
melhor amiga.

— Olá? — Uma voz rouca respondeu.

— Oi, Elissa, sou eu.

— Ash? Você está bem?

— Eu estou bem.

— Você não me ligou!

— Meu telefone foi destruído por um carro na estrada.

— Que fazia na estrada? Você esteve em um acidente?

— Não. Eu deixei cair. Na saída de um estacionamento, na


verdade.

57
— Eu não tenho notícias suas desde ontem! Estava
preocupada!

— Eu só comprei um novo telefone esta manhã.

— Caramba, mulher! Você está louca? Esperou todo esse


tempo para comprar um novo telefone?

Ash tentou acalmar a amiga. — Eu tenho um agora, ok? Está


tudo bem.

— Bem? Bem? Fazer suas próprias coisas é bom, Fazer o que


você acha que precisa é bom. Ter coragem de ignorar todos os
outros e pegar a estrada é bom, dizer ao seu chefe idiota para
tomar naquele lugar... é bom, mas quebrar o nosso acordo e não
me telefonar todos os dias? Isso não é bom! Não é nada bom!
Você me ouviu, Smythe?

— Acho que toda a Austrália te ouviu.

— Viajar sozinha estava sob a condição de que deveria


manter contato por segurança. Segurança, Smythe, segurança!

— Sim.

— Merda! E se o carro quebrasse no meio da estrada? Eu


não saberia, não é? Eu não poderia fazer nada para me certificar
de que estava tudo bem! Da próxima vez você compre um novo
telefone na mesma hora! — Houve uma pausa quando Elissa
respirou profundamente. — Pelo menos você teve a noção de
ficar em um lugar até que finalmente tivesse um novo telefone.

Ash ponderou. Ela deveria dizer que, na verdade, ela tinha


sido estúpida e continuou sem um celular?
58
— Oh meu Deus! – Elissa explodiu no silêncio. — Você não fez
isso!

— Elissa...

— Você deixou a cidade e pegou a estrada sem celular?

— Bem, eu...

— Pra que serve a cabeça, menina? Apenas para ficar


pendurada acima do pescoço?

— Aparentemente.

— E se você o carro quebrasse? E se... e se... — Houve outra


pausa. — Eu terei um derrame a qualquer segundo.

— Na verdade, o carro meio que quebrou...

— Você o quê?

Ash bateu a mão livre na testa e revirou os olhos. Confissão


estúpida. Por que Elissa sempre a faz confessar?

— Olha, está tudo bem, não aconteceu nada.

— Nada aconteceu? Você quebrou na beira da estrada e


nada aconteceu? Como você pode dizer isso?

— Porque o policial local me encontrou.

— Graças a Deus por isso!

— E dois bombeiros e um paramédico.

— Alguém chamou os serviços de emergência? O que


aconteceu?

59
— Nada. Eles só estavam juntos.

— Não minta para mim, Ashley Smythe! Por que todos esses
caras dos serviços de emergência tropeçaram em você? Eles
faziam algum exercício de treinamento de emergência ou algo
do tipo?

Ash não conseguia evitar o pequeno sorriso.

— Não. Eles estavam juntos, de moto e me encontraram.

Houve silêncio por alguns segundos antes de Elissa dizer


lentamente. — Moto?

O sorriso desapareceu quase imediatamente.

— Hum, sim. Com motos.

— Motoqueiros?

— Eu acho que sim.

O tom de Elissa suavizou.

— Você está bem?

— Eu estou bem, de verdade.

— Ash...

— Realmente. — Pegando o copo de chá quente, Ash


tomou um gole.

— Como se sentiu? Quando eles apareceram?

De maneira nenhuma mentiria para sua melhor amiga, não


quando esteve ao seu lado por todo esse tempo e depois.

60
— Eu estava com medo.

— E?

— Me xingando por não ter comprado um novo celular.

— Eles usavam uniforme?

— Nas motos? — Ash deu uma pequena risada. — Não. Eles


usavam roupa de couro e capacetes.

— Como você lidou frente a frente com eles?

— Isto é um interrogatório? — Divertida, Ash cortou um


pequeno pedaço de bolinho e colocou na boca. Delicioso.

— Não, isso é uma pré-entrevista. Pode contar tudo. Agora.

— Tudo bem. — Ash pensou sobre o dia anterior, suas


emoções. — Senti medo. Na verdade, estava morrendo de medo,
mas sabia que precisava enfrentá-los. Eu tomei uma decisão, o
resultado não foi bom e precisava enfrentá-lo.

— Certo. E?

— Eu fiquei afastada, mas tinha o spray de pimenta em meu


bolso pronto para espirar em seus olhos.

— Você não pensou em se trancar no carro?

— Elissa, se eles me quisessem, quebrariam o vidro.

— Oh sim, nós não queremos que destruam o carro.

— Você é uma idiota.

— Esse é meu trabalho.

61
— Não, você é uma cantora.

— Uma desempregada. Mantenha o foco. O que


aconteceu depois?

— Eles foram muito legais, se apresentaram, Kirk me disse


quem eram e fizeram meu carro funcionar.

— Ok.

— E então insistiram em me escoltar até a cidade no caso de


eu quebrar novamente e Scott e Kirk me levaram até o mecânico.
Eles foram todos muito bons, Elissa.

— Sorte deles senão rasgaria lá embaixo e deixaria do


tamanho de um túnel de trem.

— Essa imagem é incompreensível.

Houve silêncio por alguns segundos. Ash deu dois goles de


chá, olhando pela janela. Um caminhão de bombeiros passava e
se perguntou se Scott estava nele.

— Eu ficarei com a sua mãe.

— Mãe de quem?

— Scott.

— Você vai ficar com a mãe de um motoqueiro

— Eu vou ficar com a mãe de um bombeiro.

— Um bombeiro que anda de moto.

— Tanto faz.

62
— Ele te levou até a sua mãe?

— Não, o mecânico levou. A Mãe do bombeiro tem uma


pousada. Eu não sabia que era sua mãe até que o encontrei lá
ontem.

— Ele parece um verdadeiro santo — disse Elissa secamente.

— Não, se ouvisse o que ele e seus amigos ensinaram a


Henry.

— Quem é Henry? Santo Deus, quantos homens você


encontrou?

— Henry é o papagaio da mãe dele.

— Oh, está tudo bem, então. — Elissa suspirou. — Ash, você


está me deixando de cabelo branco.

Ash ficou séria. — Sinto muito. Eu sei que concordamos que


eu entraria em contato todos os dias para garantir que alguém
soubesse onde estou o tempo todo em caso de problemas. Foi
imprudente da minha parte não comprar um novo telefone antes
de sair daquela cidade. Eu sinto muito.

— Sorte que eu te amo ou eu chutaria sua bunda.

— Você chuta de qualquer maneira.

— Com certeza. — Elissa estalou a língua. — Tudo bem, eu te


perdoo.

— Obrigada. E eu realmente sinto muito.

— Esqueça. Então o que faz agora?

63
— Bem, eu estou sentada em um café, comendo um bolinho
gostoso, bebendo chá e levando bronca de minha melhor amiga
pelo meu novo celular.

— Uma melhoria, então.

Ash riu.

— O que aconteceu com o carro?

— Ben, o mecânico, vai consertá-lo. Levará uma semana.

— Assim, tempo para explorar e relaxar antes de partir


novamente.

— Na verdade...

— Sim?

— Ficarei aqui por mais tempo. Ver se consigo um emprego.

— Sério?

— Sim. Você sabe, talvez seja a hora de fazer um balanço


de tudo. Eu meio que tive a minha aventura, dirigindo meu carro
na estrada.

— Sim, momentos de diversão.

— Eu preciso tomar o controle da minha vida novamente.

— Querida, — Elissa disse suavemente, — você assumiu o


controle quando saiu. O que você fará agora é reavaliar.

— Eu não sei por que você não arruma um emprego como


conselheira.

64
— Porque não agüentaria tantas lamúrias.

— Amor duro pode ser bom.

— Colocarei isso em uma etiqueta.

Pegando outro pedaço de bolinho, Ash colocou na sua


boca.

— Então, você pensa ficar na cidade. Qual é o nome?

— Gully‘s Fall. Ficarei por enquanto. Se conseguir um


emprego, é claro.

— Você precisa de dinheiro? — Perguntou Elissa


imediatamente.

— Obrigada, mas não, estou bem. Eu sinto que preciso ficar


no mesmo lugar por um tempo, arranjar um trabalho, economizar
algum dinheiro.

— Retomar a sua jornada em uma nova direção. — Ash


imaginava Elissa assentindo. — Bom plano. Eu aprovo.

Por alguma razão maluca, os olhos de Ash encheram de


lágrimas. Pegando um guardanapo, enxugou os olhos. Elissa não
falou, apenas esperou pacientemente e por isso Ash amava sua
melhor amiga ainda mais.

Foi um minuto inteiro antes que conseguisse engolir o nó na


garganta.

— Você é a melhor, Elissa.

— Pode apostar.

65
Ash riu.

— Agora, vá e pegue a vida pelas bolas. Você está no


comando de seu destino e viagem. Eu sou o seu backup, como
sempre, está bem?

— Ok.

— O que você decidir, concorde ou não, estarei sempre


aqui para você.

— Você sempre esteve.

— Pode apostar sua bunda novamente.

Sentindo-se melhor do que esteve desde que perdeu seu


celular há alguns dias antes, Ash viu um caminhão passando
fazendo um barulhão. Depois de alguns minutos conversando,
desligou o telefone, recostando-se para terminar a sua bebida e
seu bolinho.

Conversar com Elissa sempre lhe fazia bem. A fez sentir como
se estivesse no caminho certo e prometeu a si mesma que não
seria tão estupida novamente. Elissa foi a única que apoiou a sua
decisão de deixar o emprego e ir embora da cidade com a
condição de que manteria contato diário. De alguma forma, Elissa
era a única que entendia sua necessidade de deixar tudo e todos
para trás.

A porta do café abriu e um homem alto de ombros largos


entrou, indo para o balcão. Seu coração acelerou diante da visão
do uniforme de bombeiro até que viu o cabelo vermelho e sua

66
frequência cardíaca se estabilizou. Reconhecendo Simon, Ash
sorriu levemente quando ele olhou do outro lado.

— Bom dia. — Simon caminhou em sua direção. Puxando a


cadeira, sentou-se em frente a ela, com o olhar amigável. —
Como vai?

— Tudo bem. — Em uniforme ao invés de roupa de couro,


era uma figura reconfortante para ela.

— Ouvi dizer que está hospedada na Sra. Preston.

— Sim. Ela parece muito boa.

— Uma das melhores. — Simon olhou para seu celular. — Ah.

Ela seguiu seu olhar. — Comprei-o esta manhã.

— Dee mencionou que tinha visto você.

— É realmente uma cidade pequena, não é?

Sua expressão ficou ilegível.

— Oh, não quis dizer... — Percebendo como soou, Ash corou.


— Eu só quis dizer... todo mundo conhece todo mundo e..... Eu
sinto muito.

— Está tudo bem.

— Eu não... todos foram muitos simpáticos... — Mordendo os


lábios, olhou para a mesa.

— Ash, está tudo bem. — Sua expressão relaxou. — Basta


respirar profundamente, amor. Eu não gritarei com você. — Ele
sorriu e piscou.
67
— Bom saber. — Com a tensão diminuindo, brincou com a
colher de chá deitada no pires, buscando algo a dizer. —
Intervalo?

— Mais ou menos. Dormi demais e perdi o café da manhã,


então fugi para pegar um lanchinho. — Ele olhou para seu relógio
de pulso e levantou. — Falando nisso, é melhor ir.

Ela olhou para cima. — Quero te agradecer por ontem.

— Não se preocupe. É sempre um prazer ajudar.

— Eu realmente apreciei.

— Lembre-se de dizer às mulheres que sou um bom partido.


— Com outra piscadela, caminhou até o balcão e fez seu pedido.

Ash duvidava que Simon tivesse qualquer problema para


atrair mulheres.

Assim que ele saiu com um pacote enrolado na mão


esquerda e dando um aceno com a mão direita para Ash, ela
estava pronta para sair.

Pisando na calçada, olhou para os dois lados da rua. Estava


agora um pouco mais movimentada, mas nada comparada a
uma cidade ou uma grande cidade. Pessoas sorriam, acenavam
com a cabeça e iam para os seus negócios.

Olhando para o jornal na mão, Ash ponderou por alguns


minutos antes de voltar para a pensão para ler o jornal, consultar a
página de emprego e decidir seu próximo passo.

68
Dirigindo o caminhão de bombeiros para a estação de
serviço, Simon saltou e foi direto para a cafeteria. Assim que
voltou, Scott abastecia o caminhão.

Scott olhou para a caixa de batatas fritas, lingüiça frita, dois


Dim Sim4 e um Chiko Roll5 que seu amigo carregava em uma
pequena caixa.

— Você só pode ter lombriga.

— Ei, sou um homem muito trabalhador. Os homens precisam


comer, para ficarem fortes. — Mastigando a lingüiça, colocou a
caixa com o resto dos outros alimentos dentro da cabine do
caminhão de bombeiros.

— Porra, cara. Eu limpei o caminhão e agora você já o


deixou com cheiro de comida que entope artérias. — Scott se
queixou.

— Credo. Você parece uma mulher.

— Nenhuma mulher te quer.

— Muitas mulheres me desejam.

— Quando Ryder não está por perto.

— Ryder é um vagabundo.

4
Dim Sim são pequenas porções de pasteizinhos cozidos no vapor ou fritos, de recheios variados.
5 Chiko Roll é a versão australiana do Rolinho de Primavera.
69
Scott sorriu. — Você falou com Dee novamente.

— Essa garota tem um monte de palavras perspicazes para


descrever Ryder. Homem prostituta, homem vagabunda, pau
selvagem, garanhão manchado.

— Manchado?

— Ela imagina que ele transou com tantas mulheres que


provavelmente pegou alguma doença sexualmente transmissível
e seu pau tenha algumas manchas.

Scott fez uma careta. — Ai.

— Sim. Mas eu disse para não se preocupar, pois ele sempre


carrega um monte de preservativos.

— Aposto que isso correu bem.

— Ela disse que tamanho micro não ocupa muito espaço. —


Simon riu. — Mal posso esperar para contar a Ryder.

Rindo, Scott desligou a bomba de combustível. — Cara, ela


gosta dele.

— Sim.

Simon esperou na cabine do caminhão, enquanto Scott


entrava e resolvia a conta de combustível com o gerente. Ele
sorriu quando Scott voltou carregando um enorme copo para
viagem com café gelado coberto com chantilly.

— Mudou de idéia em relação aos alimentos que entopem


as artérias?

70
— Não é comida, imbecil. É bebida.

— Aposto que há sorvete nisso.

— É cálcio.

— E o chantilly?

— Cálcio também. Mamãe sempre me dizia quando eu era


um garotinho que precisava tomar bastante cálcio.

— Não coloque sua mãe nisso.

— Além disso, a cafeína acelerará meu coração e, portanto,


queimará a gordura antes que entupa minhas artérias.

— Essa pérola de sabedoria veio da internet ou você


acabou de inventá-la? Porque imagino que veio direto da sua
bunda.

Scott deu um satisfatório e profundo gole do canudo. — Sim.


— Simon assentiu. — Veio direto da sua bunda.

— Você está um pouco interessado em minha bunda no


momento. Preciso me preocupar?

— Não se iluda. — Simon deu uma mordida no Dim Sim,


fazendo barulho enquanto mastigava e acrescentou — Falando
em bundas, ali vem uma bem arredondada agora.

Levemente interessado, Scott seguiu seu olhar e de repente,


seu interesse aguçou, porque Ashley Smythe atravessava a rua.
Cara, ela estava bonita, usando uma calça corsário azul clara,
uma blusa azul com mangas esvoaçantes que moldavam aqueles
seios impressionantes antes de cair em seus quadris exuberantes e
71
um par de sandálias rasteiras. Seu cabelo estava preso em um
rabo de cavalo, a luz capturando uns tons dourados de seu
cabelo castanho avermelhado. Os óculos lhe davam uma
aparência intelectual.

Uma intelectual muito sexy. Ele seria bastante tendencioso a


essa aparência, a partir de agora.

Ele sentiu sua boca ficar seca, então tomou outro gole do
café gelado cremoso, enquanto a observava.

Ele imaginou que ela não tinha ideia de como rebolava


enquanto andava, mas pode ver agora, quando ela virou e
começou a caminhar na calçada ao lado da estação de
bombeiros. Ah, sim, os quadris balançavam, seus braços
balançaram ligeiramente e ela parecia cheia de energia e
entusiasmo.

— Talvez queira colocar a língua novamente em sua boca.


— Simon falou lentamente.

— Mmm.

— Você fez uma poça de baba no chão.

— Mmm. — Uma leve brisa pressionou a blusa em seu corpo


e Scott viu a curva de sua cintura, ressaltando os grandes seios e
os quadris exuberantes. A mulher parecia uma ampulheta
exagerada.

Ampulheta era seu novo item favorito.

— Se começar a respirar de maneira ofegante, colocarei


você para fora. — Simon riu.
72
Sua gargalhada finalmente chamou a atenção de Scott. —
Hein?

— Parece que está prestes a marcar o seu território.

— Do que você está falando?

— Homem, você apenas olhou para esta mulher e já está


pronto para urinar em todos os lugares. — Simon apontou o Chiko
Roll para ele. — A propósito, nem pense nisso. Não é aceitável
pelos padrões civilizados.

— Você está falando merda. — Scott olhou para Ash,


observando enquanto ela se aproximava.

Nesse exato momento ela levantou a cabeça, viu o carro de


bombeiro, moveu seus olhos até a cabine e então olhava
diretamente para ele. Ele sentiu um choque em sua virilha. A
queimadura lenta começou.

Jesus, isso nunca aconteceu antes. Jamais um simples olhar


foi o suficiente para fazê-lo pensar em coisas pornográficas que
envolviam uma mulher, ele e um monte de nudez.

Ele pensou que havia controlado sua expressão, até que viu
Ash arregalando seus olhos, a cautela que imediatamente os
nublou e a maneira que apertava a alça da bolsa, deixando as
juntas brancas.

Essas ações o acertaram tão forte, resfriando o fogo que o


queimava, tão certo como se tivesse sido atingido por um balde
de água fria.

73
Ash estava com medo. Pior, tinha medo dele, e isso o
surpreendeu e o machucou profundamente, quando na verdade,
nem deveria importar.

Desviando o seu olhar, ela olhou para frente e começou a


atravessar os cinco metros que separavam o caminhão de
bombeiros da calçada.

Esforçando-se para não saltar do caminhão de bombeiros e


correr para ela, Scott conseguiu chamá-la agradavelmente, — Oi,
Ash.

Ela o olhou de soslaio. — Oi, Scott.

— Saiu para passear?

— Fui verificar o meu carro.

— Certo. — Porque ela continuou andando, agora ele


esticava o pescoço, com a cabeça pendurada na janela como
um cão, enquanto continuava observando-a. — Então, me deixe
à par de tudo, hein?

— Claro... — Sua voz vacilou.

Claro, seu estúpido. Ela não se aproximaria dele, se pudesse


evitar, não quando o viu praticamente despindo-a com os olhos.
Jesus, quando ele começou a agir assim? Ele nunca cobiçou uma
mulher antes em toda a sua vida, sempre achou isso de péssimo
gosto, mas acabou de fazer isso.

— Ok, bem... tenha um bom dia, tudo bem?

74
— Obrigada. — Bem longe dele agora, ela se entrou no
estacionamento de Ben e diretamente fora de sua vista.

— Merda. — Virando-se, bateu a palma de sua mão no


volante e olhou para fora dos pára-brisas. — Droga.

Primeiro ele a assustou ontem, só Deus sabia que não teve


intenção e hoje a assustou novamente olhando-a maliciosamente.

Espere, olhou maliciosamente? Não achava que tivesse feito


isso. Nunca olhava maliciosamente. Mas algo em seu rosto havia
denunciado seus pensamentos lascivos. Não a queria assustada, a
queria alegre, sorrindo, à vontade com ele.

Suspirando, se encostou no assento. Só então se tornou


ciente do silêncio na cabine. Olhou para o lado e viu Simon, agora
mastigando as batatas quentes enquanto o observava. Quando
seu amigo não disse nada, rosnou.

— O que?

— As coisas não estão fáceis, né?

— Não. Talvez.

— O que fará?

— Nem imagino. — Scott olhou o pára-brisas. — Ela está com


medo.

— Você precisa de um plano.

Uh oh.

— Reunião! — Simon anunciou.

75
— Não.

— Sim. Como nós descobriremos o que fazer?

— Nós? Quem falou em nós?

— Reunião — Simon repetiu.

E assim, na hora do almoço de Scott, Simon, Ryder e Kirk


estavam sentados ao redor da mesa da cozinha do quartel dos
bombeiros comendo tortinhas quentes com molho e tomando
café, que não era nada demais. Só que desta vez Scott queria
que Simon não tivesse chamado todos para almoçarem juntos,
mas não, o amigo bocudo simplesmente anunciou. — Scott tem
um problema.

— Nós sabemos — disse Kirk. — Mas infelizmente ele não


pode fazer nada por estar escalado para trabalhar com você.

Simon mostrou o dedo do meio.

— Problemas com mulher — Ryder anunciou.

— Como você sabe? — Simon consultou.

— Sempre que há um problema, a mulher é o motivo.

— Você sabe. — Kirk deu uma mordida na torta,


resmungando quando o recheio caiu sobre a sacola de papel.

— Ei, sou um especialista quando se trata de mulheres. —


Ryder olhou para Scott. — O que Dee fez desta vez? Xingou-lhe,
fez gestos rudes? Cancelou a sua assinatura da revista Playboy?

— Isso é o que Dee fez com você, não comigo.

76
— Oh sim. — Ryder levou alguns segundos pensando nisso,
antes que voltasse sua atenção para Scott. — Então, quem é?
Cheryl?

— Cheryl é casada e tem idade para ser minha mãe.

— Você poderia ser o seu brinquedinho secreto.

— Que tal se eu contar a Ernie dessa sua pequena fantasia?

— Ei, só quero ajudar, cara. — Sorrindo, Ryder soprou em seu


café quente.

— É a nova garota, — Kirk afirmou sem rodeios.

— Ash? — Ryder olhou para Scott surpreso. — Sério?

— Sim — respondeu Simon.

— Eu não falava com você, imbecil. Scott?

Scott colocou mais molho em sua torta.

— Alguém percebeu como ela é assustada?

— Você quis dizer ontem? — Kirk assentiu.

— Ou esta manhã quando ele praticamente saiu do


caminhão para alcançá-la? — Comendo um pedaço de torta,
Simon respirou profundamente no calor.

Scott o olhou.

— Apenas constatando um fato. — Simon ficou de boca


aberta, conseguindo acrescentar, — Cacete, isso está quente. —
Balançando a cabeça, Ryder soprou em sua torta.

77
Scott embalou sua xícara de café entre as mãos.

— Ontem parecia que desmaiaria quando nos viu.

— Somos um grupo bastante arrojado. — Ryder fez uma


pausa. — Bom, eu sou, de qualquer maneira.

Ignorando-o, Kirk assentiu. — Sim, eu notei. Algo aconteceu


com ela no passado.

— Isso é o que pensava. — Scott franziu a testa. — Seja o que


for, isso a fez não querer ser tocada.

— Você tentou? — Ryder olhou para ele com interesse.

— Ela tropeçou ontem e eu a segurei.

— Que herói! — Simon sacudiu suas pestanas.

— Ela quase surtou. — Scott olhou para o seu copo. — Tudo


que fiz foi segurá-la, nada mais.

— Uma reação um pouco exagerada — observou Kirk.

Perturbado, Scott aprofundou sua carranca. — Na verdade,


ela ficou perturbada depois que a convidei para tomar uma
bebida no bar.

— Talvez algo tenha acontecido em um bar — Simon


sugeriu.

— Sim, mas eu disse que estaria com os amigos imaginando


que isso a fizesse sentir melhor, apenas no caso de que ela não
quisesse ficar sozinha comigo. — Este pensamento ainda não caiu
bem. Ele nunca faria mal a uma mulher em sua vida e o

78
pensamento de Ash ter medo dele, merda, parecia como leite
coalhado em suas entranhas. — De qualquer maneira, isso foi por
água abaixo.

Por alguns segundos houve silêncio enquanto pensavam nas


palavras de Scott.

Kirk quebrou o silêncio. — É óbvio que ela foi machucada.

— Sim, mas por quem? E o que aconteceu? — Scott segurou


o copo com um pouco mais de força.

— Talvez ela tenha sido... — Hesitando, Ryder olhou para Kirk.

Kirk assentiu brevemente.

— O quê? — Perguntou Scott.

— Talvez ela tenha sido agredida. — A voz de Ryder foi


inesperadamente grave.

— Espancada? — Sentindo raiva, Scott colocou a xícara de


café sobre a mesa. — Você acha que Ash foi espancada?

— Não — Kirk respondeu calmamente.

Reconhecendo o tom de sua voz, Scott olhou para ele.

— Não apenas espancada. — Kirk limpou as mãos com um


guardanapo, mas manteve o olhar fixo em Scott. — Eu acho que
ela foi vítima de violência sexual.

Scott sentiu o coração apertar. — O quê?

— Eu acho que possivelmente foi estuprada.

79
O silêncio encheu a estação de bombeiro enquanto Scott
olhou para Kirk. Por alguns segundos, ele não sabia o que pensar
ou o que dizer. Ele estava dormente da imprevisibilidade da
declaração.

Ash foi estuprada? A Ash doce, bonita, com o cabelo ruivo e


olhos azuis celestes? Forçada a.... — Ele sequer podia pensar, um
gosto amargo acumulando em sua garganta.

Ryder se inclinou para frente, com os cotovelos nas coxas.

— Eu fiz treinamento na cidade, Scott. Eu assisti algumas


vítimas de agressão sexual. Eu fiz um curso ministrado por um
conselheiro de estupro, e a maneira como Ash reage é a maneira
como alguns homens e mulheres reagem quando são tocados
depois.

Scott olhou de Ryder para Kirk. — Você realmente acha


que...?

— Ela mostra os sinais que algumas das vítimas têm. A


cautela inicial não é incomum para quem viaja sozinho, mas sua
reação ao ser tocada, bem, como disse Ryder, não vem do nada.
Claro, algumas pessoas não gostam de ser tocadas, mas surtar
totalmente, assim como você disse que ela fez, é algo a
considerar.

O silêncio pairou novamente na estação de bombeiros.


Simon colocou o restante da torta na boca e olhou para a porta
da estação. Ryder tomou um gole de seu café e Kirk apenas ficou
quieto com seus próprios pensamentos.

80
O choque que Scott sentiu deu lugar a uma raiva crescente,
que o fez apertar a xícara de café até as juntas ficarem brancas.
Jesus, alguém machucou Ash, forçando-a em um ato que deveria
ser consensual e amoroso, sexy e divertido, para transformá-lo em
algo forçado e violento e definitivamente não consensual era
abominável para sua própria natureza.

Então pensou em Ash depois... Jesus, quantos fizeram isso?


Um? Dois? Mais? Sentiu arrepios desagradáveis em seus braços e a
fúria o invadiu.

— Quantos Kirk? Merda, quantos a machucaram?

— Eu não sei.

— Descubra.

Seu amigo não apresentou a menor surpresa, sua voz calma


e tranqüila. — Você sabe que não posso fazer isso.

— Você pode procurar.

— Eu não diria a você de qualquer maneira.

— Droga, é de Ash que falamos!

— Sim, é — Kirk concordou. — Mas só estamos supondo.

— Mas você e Ryder disseram...

— Dissemos que ela mostrou alguns dos sinais. Isso não é um


definitivo. Quanto a descobrir, não posso bisbilhotar e dizer-lhe. É
confidencial.

81
Sentir-se impotente o deixou mais irritado. — Então, como
posso ajudá-la? Aproximar-me dela?

Simon olhou para ele. — Você quer?

— Claro que sim, eu quero!

— Então terá que perguntar a ela.

— O quê?

Simon encolheu os ombros.

— Você acha que se eu simplesmente me aproximar dela e


perguntar se ela foi ferida, ela me dirá, assim do nada?

— É melhor do que descobrir que você está bisbilhotando.

Isso era tão lógico que Scott queria bater em Simon.


Maldição.

— Especialmente — Kirk acrescentou — se você se importa


com ela.

— Apenas lembre-se — Ryder disse, — se perguntar a ela


algo que não é da sua conta, você pode receber um ―Cuide da
sua vida‖ e colocar tudo a perder.

— Então o que eu faço? — Scott exigiu.

— Seja seu amigo antes de mais nada.

— Merda, Einstein, eu quero ser seu amigo. Essa não é a


questão, é?

— Seja seu amigo, — Ryder repetiu. — Diga 'bom dia',


certifique-se que Ash o veja quando fizer alguma coisa na casa da
82
sua mãe. Descubra quando ela janta com sua mãe e consiga um
convite para participar.

— Então, basicamente, deve persegui-la. — Kirk ergueu as


sobrancelhas para Ryder.

— Não. Investigação.

— Investigação? Você esteve vendo muitos filmes de ação


novamente.

— Ei, eu sou o homem que na maioria das vezes tem uma


mulher em sua cama. Não é apenas pela minha beleza, você
sabe. É também por causa das minhas técnicas suaves.

— É porque você é um homem prostituto. — Simon comeu a


última metade de sua torta.

— Essa é a versão de Dee.

— Essa mulher é afiada como uma faca.

— Essa mulher precisa ser domada.

— Você fará isso?

— Não. — Ryder fez uma pausa.

— Porque seria preciso um homem especial, certo?

Ryder fez uma careta para ele por alguns segundos antes de
rir. Mas não disse mais nada, apenas esvaziou a xícara de café e
se levantou.

— Desculpe companheiros, tenho que voltar ao trabalho.

83
— Sim, porque a ambulância não será polida por conta
própria. — Simon burlou.

Scott olhou para cima.

— Obrigado pelo conselho. Não tenho certeza de que é a


técnica certa para Ash, mas aprecio a sua tentativa. — Ele fez
uma pausa. — Por mais desconfortável que seja.

Rindo, Ryder mostrou o dedo do meio e saiu da estação.

Scott suspirou. — Não acho que Ash goste que eu fique


espreitando pelos cantos, apenas aparecendo nos lugares.

— Concordo. — Kirk assentiu. — Uma mulher como Ash


precisa de honestidade. Ela precisa saber que pode confiar em
você.

— Eu não posso apenas ir em frente e perguntar a ela.

— Não. Você precisa conquistar aos poucos sua amizade,


dar um passo de cada vez.

Scott olhou para a rua. — Mas eu não tenho muito tempo,


não é? Assim que seu carro estiver consertado, ela partirá.

Simon sorriu levemente. — Eu não tenho tanta certeza disso.

Scott balançou o olhar para o amigo. — Ouvi dizer que ela


está à procura de um emprego.

A esperança surgiu dentro dele. — Quem te disse isso?

84
— Dee. Ash foi para sua loja esta manhã e mencionou a
procura de um trabalho. — Inclinando-se na cadeira, Simon
acrescentou — Acho que terá tempo para trabalhar nela.

As coisas estavam melhorando. Scott praticamente podia


sentir um pouco do peso sair de seu peito.

— Não existe um monte de trabalho disponível — Kirk


murmurou — Mas há uma pessoa que precisa de ajuda, admitindo
ou não.

85
Capítulo Três

Quando Ash pensou em um trabalho, presumiu que


trabalharia no pequeno supermercado ou em uma das lojas,
talvez até a estação de serviço. Certamente não pensou que
estaria atrás de um balcão sujo, com contas sujas de graxa e
documentos, uma impressora empoeirada e um teclado de
computador gorduroso. A área de trabalho do computador
estava fortemente coberta de sujeira, tanto que ficou surpresa
que Ben pudesse mesmo ler algo na tela.

Observando-a quando levantou a mão lentamente de uma


pilha de revistas de peças e viu que havia manchas de graxa na
palma da mão, além de uma grande quantidade de sujeira, Ben
pigarreou. — Talvez leve alguns dias para limpar o lugar.

Ash olhou para ele. — A oficina?

— Claro que não!

Surpresa por sua veemência, não sabia exatamente para


onde olhar, sentindo suas bochechas ficarem coradas.

— A oficina é o meu domínio apenas. — Ben franziu a testa.


— Desculpe, não quis parecer rude. É que depois de deixar uma
mulher andar na oficina de um homem, as próximas mudanças
que terei serão cortinas nas malditas janelas e um guardanapo
sob a caixa de ferramentas.
86
— Entendo. — Ela recuperou a compostura. — O escritório é
o meu domínio, a oficina é o seu.

— Tenha isso em mente e nos daremos muito bem. — Ele


olhou ao redor. — Minha esposa costumava manter este lugar
arrumado. Depois que ela faleceu, bem...

— Você nunca pensou em contratar outra recepcionista?

— Nunca vi necessidade. Eu estive muito bem por conta


própria. Se precisasse de uma mão extra, poderia chamar o
mecânico na estação de serviço, vendo como resolvo a maioria
dos reparos aqui e eles só fazem as coisas leves. — Ben fez uma
pausa. — Considero útil que meu irmão dirija a estação de serviço.

— Uma mão lava a outra? — Percebendo o que acabou de


dizer ao seu novo empregador, Ash acrescentou apressadamente,
— Eu sinto muito, eu...

— Não precisa se desculpar. Gosto de mulher com senso de


humor e ainda mais importante, que cuida de si mesma. — Olhou-
a por baixo das sobrancelhas grisalhas desgrenhadas e do rosto
enrugado. — Deixe-me dizer uma coisa: Aparentemente, posso ser
um pouco rude às vezes. Então, se eu ficar muito tagarela, me fale
que eu paro. Só não fique de mau humor, ok? Se achar que fui
muito duro, fale. Merda, você pode até me xingar, mas não fique
de mau humor. Não suporto mulheres que se irritam e deixam um
homem tentando adivinhar o que está errado.

— Entendi. — Divertida, ela o observava limpar as mãos


engorduradas na frente de seu macacão igualmente gorduroso.

— Então, imagino que queria arrumar isso aqui um pouco.


87
Um pouco? O local precisava ser esvaziado e limpo com
uma mangueira de incêndio.

— Hoje é quarta-feira, lhe darei o resto desta semana para


organizar a bagunça, o material de arquivo e se familiarizar com
as coisas. Sábado e domingo fechamos, de modo que na
segunda-feira recomeçaremos. Ok?

— É muita gentileza da sua parte.

Ben a olhou por alguns segundos.

— Você já está puxando o saco?

— Você disse que eu começaria hoje.

Durante vários segundos, ele a olhou antes de rir e sair.

Sentindo-se muito mais confiante do que tinha estado por


algum tempo, Ash colocou a mochila no canto do escritório na
ponta do balcão e olhou ao redor, tentando decidir por onde
começar.

O escritório era uma bagunça. Parecia que o que não era


gorduroso estava empoeirado. Ela decidiu começar pelos
armários para ver que sistema Ben utilizava e então, passaria para
os programas de computador.

Assim que descobriu exatamente o que Ben fazia, finalmente


organizou os documentos que estavam espalhados no balcão. Os
programas de arquivamento e de computador eram bastante
simples e estava confiante de que os entenderia rapidamente.

88
Ben atendeu aos telefonemas e aos poucos clientes que
apareceram, deixando-a seguir com seu trabalho, o qual ela
estava grata. Ele a apresentou aos agricultores, que acenaram
para ela e voltaram a falar com ele. Convinha-lhe muito bem.

Ela descobriu que Ben era rude, mas paciente, sentindo-se


surpreendentemente à vontade com ele, especialmente porque
não a perturbava, mas a deixava a vontade enquanto trabalhava
em alguns poucos veículos na oficina.

Foi um trabalho empoeirado e quando saiu às cinco horas,


necessitava de um bom banho e roupas limpas. Ben a deixou na
pensão e ela foi direto para o quarto buscar uma toalha e roupas
limpas. Um banho era primordial antes de ir para a sala de jantar.

Sentada à mesa da sala de jantar tendo apenas Julia como


companhia — os outros dois casais que atualmente ficavam lá
tinham saído — Ash achou aconchegante. Julia conversou sobre
vários assuntos, nunca a pressionando se não queria responder e
nunca perguntando sobre a sua vida particular. A atmosfera
relaxante, a comida caseira e a paz da pequena cidade eram
tão relaxantes que ficou sentada em silêncio na varanda, perdida
em seus pensamentos.

Oscar, o gato cinza, apareceu e sentou-se no degrau da


varanda. Seus olhos verdes focaram-se nela. Sorrindo, Ash abaixou
a mão ao lado da cadeira. — Vem cá, gatinho. Eu prometo que
não o xingarei como Henry faz.

89
Oscar não precisou de mais persuasão. Com um miado feliz,
atravessou a varanda e pulou em seu colo, aconchegando-se e
ronronando alegremente enquanto olhava para a escuridão.

Acariciando suavemente seu dorso, Ash ficou maravilhada


com a maciez de sua pele, o puro prazer de simplesmente alisar
outro ser quente e sentir-se tão relaxada. Foi reconfortante, a
confirmação de que havia coisas boas no mundo e satisfação nas
pequenas coisas, como a quietude daquele momento, com
Oscar em seu colo e a paz da noite, o perfume das rosas sobre a
ligeira brisa.

Também foi bom saber que receberia seu pagamento a


cada quinze dias, e ficou surpresa ao perceber o quanto sentia
falta de trabalhar e de ter alguma responsabilidade. Sem dúvida,
a novidade se desgastaria com o passar do tempo, mas agora era
um sentimento bom.

Quando o som de várias motos cortou o ar, Ash olhou para a


estrada. Imediatamente seus pensamentos foram para Scott,
querendo saber se era ele ou um de seus amigos.

Os faróis de duas motocicletas entraram em vista, descendo


na estrada e ela endireitou-se quando as luzes se aproximaram,
mas as motos seguiram e desapareceram na distância.

Ash sentiu uma pontada de decepção surpreendente. O


som das motos era algo que ainda não gostava, mas vê-los
desaparecendo a fez se sentir um pouco desiludida. Era uma total
contradição, mas estes motoqueiros em questão eram caras
bastante agradáveis.

90
Especialmente Scott. Ela corou um pouco. Ou talvez seria
exceto Scott. Mordendo o lábio inferior, ela olhou para as
pequenas luzes solares em forma de lanternas que ladeavam o
caminho do portão para a estrada. Ele era bonito, não há dúvida
sobre isso, um homem que a fez consciente de si mesma. Ela
franziu a testa. Ou deveria ser autoconsciente? Ela estava bem
até que cruzaram seus olhares pela janela do carro de bombeiro.
Até que viu o jeito que a olhava.

Jesus, será que viu corretamente? Fechando os olhos,


respirou fundo. Os olhos cinzentos de Scott estavam fixos nos dela,
olhando-a com tanta intensidade, que sentiu algo em seu interior,
algo inesperado que pensava ter perdido.

Ele olhou para ela como se estivesse interessado. Não, ele


olhou para ela como se.... O rubor que passou por ela, desta vez
era inegável e se mexeu desconfortavelmente, fazendo Oscar lhe
olhar descontente. Automaticamente, voltou a acariciar seu dorso
e ele se aquietou.

Scott a olhou com paixão. Deus, ele realmente olhou para


ela com desejo. Com desejo sexual. Isso a assustou. Fez suas mãos
suarem e seu coração acelerar. Isso a deixou não apenas com um
ligeiro mal estar, mas também algo mais.

Será? Será que sentiu algo que jamais imaginou que sentiria
novamente? Deus, estaria realmente interessada nele?

Não havia como negar só imaginar qualquer tipo de


intimidade lhe dava pânico; assim como o pensamento de sentir
as mãos de um homem sobre ela lhe dava claustrofobia. Mas

91
também não havia como negar que Scott tinha chamado a sua
atenção como nenhum homem havia feito. Não da maneira que
uma mulher acha um homem atraente.

Infelizmente, a lembrança do desejo em seus olhos, o jeito


como olhou para ela quase com fome, não apenas fez algo
arrepiar em seu interior, mas também trouxe de volta as
lembranças mais indesejáveis.

Reconhecendo o pânico, Ash se concentrou em sua


respiração, obrigando-se a respirar lenta e profundamente. Já
fazia algum tempo desde que precisou fazer isso, mas os
sentimentos apareceram várias vezes desde que chegou em
Gully‘s Fall e tudo estava relacionado a um homem.

Um homem que despertou seus sentimentos. Não havia


dúvidas disso. Scott mexeu com um monte de sentimentos
misturados dentro dela, tanto indesejáveis como bem-vindos. Não
havia como esconder isso. Ela só não sabia por que um homem
que acabou de conhecer poderia despertar alguma coisa dentro
dela, especialmente depois do que aconteceu.

Ouvindo um barulho de moto à distância, rapidamente


olhou em direção ao som, ansiosa com a aproximação,
segurando inconscientemente a respiração, enquanto o farol da
moto apareceu e seguiu o seu caminho.

Soltando a respiração assim que as luzes traseiras da moto


desapareceram, Ash balançou a cabeça e deu um pequeno
sorriso. Isso era inesperado, ter uma queda por alguém. Seria isso a
cura? Ela não sabia.

92
Na manhã seguinte, foi até a banca de revistas no caminho
para o trabalho, parando para pegar o jornal. Dee estava em pé
na frente da geladeira com várias caixas de refrigerantes a seus
pés.

— Bom dia, Ash. — cumprimentou.

— Oi, Dee. — Segurando o jornal, Ash andou até a


geladeira. — Tem algum refrigerante de coca-cola aí?

— Aproximadamente vinte garrafas pequenas.

— Eu só preciso de uma.

— Então posso ajudá-la. — Pegando uma pequena garrafa,


Dee a entregou. — Escutei que você conseguiu um trabalho com
Ben.

— Sim.

— Estou surpresa. Pensei que ele trabalharia sozinho na


oficina até o dia em que morresse.

— Sério? — Ash seguiu até o balcão. — Eu fui verificar o


andamento do meu carro e Ben me perguntou se eu já tinha
trabalhado como recepcionista.

— Recepcionista? — Dee bufou. — Sério, você precisaria ser


uma especialista em demolição.

Ash arqueou suas sobrancelhas.

93
— O lugar é um desastre. Necessita explodir e reconstruir.

— Isso é um pouco forte. Não é tão ruim assim.

— Não é tão ruim assim? Eu acho que o lugar inteiro é


grudado com graxa e sujeira.

— É uma oficina mecânica.

— Sim, bem, eu continuo achando que precisa de um


milagre. — Dee passou o jornal e a bebida.

A porta abriu e alguns meninos por volta de 10 anos de


idade entraram e imediatamente foram até o rack de gibis.
Entregando o dinheiro, Ash observou quando as crianças
pegaram alguns quadrinhos de super-heróis e começaram a
olhar.

— Oi — disse Dee.

As crianças olharam para cima.

— Vocês podem pagar primeiro. Não é uma biblioteca.

— Ah, Dee... — Um começou a se queixar.

— Paguem ou saiam.

Ash ficou de boca aberta.

Dee ignorou. — Você não sabe qual que ele quer, não é?

Os meninos se entreolharam antes do moreno começar —


Não é para ele, é...

— Não se incomode. Diga a Ryder que se ele quiser seus


gibis, ele mesmo tem que vir comprar.
94
Mais uma vez os meninos se entreolharam.

— Vocês mexem nos gibis para tentar lembrar qual ele disse
que queria e bagunçam as páginas.

— Temos o direito de estar aqui. — O menino loiro endireitou


os ombros.

Apoiando as mãos no balcão, Dee se inclinou para frente,


com os olhos brilhando. — Você realmente quer ir lá, Boyd?

— Uh...

— Comigo?

Boyd olhou para o garoto de cabelos escuros, que


conseguiu reunir um sorriso que cresceu encantadoramente pelo
segundo.

— Eu prometo que essa é a última vez.

Santo Deus, o garoto lembrou outra pessoa, mas Ash não


conseguia decifrar.

Dee não se impressionou. — Saiam da minha loja e diga ao


seu irmão inútil para ele mesmo vir buscar os seus gibis. Agora
saiam.

Com um suspiro, os meninos colocaram os gibis de volta na


prateleira e saíram da loja. Mal a porta se fechou abriu
novamente para mostrar o rosto de Boyd.

— Ryder ficará puto.

95
— Cuidado com a boca e eu não me importo — Dee
respondeu.

O rosto de Boyd desapareceu, a porta fechando atrás dele.

Dee olhou para Ash. — O quê?

— Hum... nada.

Relaxando, Dee sorriu.

— Não se preocupe, isso acontece há algum tempo. Eles são


bons garotos. — Seus olhos brilharam. — É apenas o seu irmão que
é um idiota.

— Ryder? O paramédico?

— Sim. Ele é um paramédico, grande irmão, filhinho da


mamãe, perseguidor de saias.O idiota pensa que é alguma coisa
quente.

— Uau. Isso é descritivo.

— Obrigada.

Impossível deixar de rir, Ash pegou o jornal e seu refrigerante.

— Eu te vejo mais tarde.

— Claro. — Ash tinha alcançado a maçaneta da porta


quando Dee acrescentou — Ei, por que não volta aqui para o
almoço?

Surpresa, mas gostando de Dee, Ash respondeu. — Claro. Eu


adoraria.

— Ótimo. Que horas?


96
— Doze.

— Ben é típico. Funciona como relógio de trabalho. — Dee


acenou para ela.

Abrindo a porta, Ash saiu e virou na rua, só conseguindo


esquivar de uma alta figura que apressadamente entrou em seu
caminho. — Oh, eu sinto muito. — Ela olhou para cima para ver
seus olhos enlaçados por profundos olhos cinzentos e seu coração
deu um pulo. — Scott.

Ele parecia bem, não há como negar isso, sorrindo para ela
enquanto corria no local, sua antiga camisa agarrando
amorosamente ao seu torso musculoso e deixando os braços nus,
o bíceps inflando enquanto flexionava os braços, enfatizando a
tatuagem fina de arame farpado que ostentava em seu braço.

Ash olhou por todo o corpo. Uma gota de suor correu para o
lado de seu rosto e ela percebeu que era o calor que emanava
do corpo dele, junto com o brilho de suor em seus braços e
escurecendo a camisa.

Nervos formigando, ela recuou.

— Bom dia, Ash. — Ele falou alegremente.

No calor de seus olhos, sem olhares intensos, apenas um


amigável que, embora fosse bastante convidativo, foi também um
pouco decepcionante. Talvez ela imaginou todo o episódio de
ontem. Que vergonha. Agora ela se sentia estúpida.

— Indo ao trabalho? — continuou a se mover, obviamente


não querendo parar.

97
— Sim. — Se sentindo tanto autoconsciente e desconfortável
sob sua consideração, ela olhou para o relógio. — É melhor
começar a me mexer.

— Claro. Vejo você por aí. — Com um aceno alegre, ele


correu, seu comprimento alongando enquanto avançava.

Ok, ela tinha a intenção de caminhar na direção oposta,


mas Ash não conseguiu deixar de olhá-lo enquanto corria. Deus,
ele era uma espécime perfeita de masculinidade, do tipo que as
garotas românticas sonhavam. Alto, musculoso, bonito. Quem
poderia culpá-la por observá-lo correr naquelas pernas longas e
fortes, aqueles braços impressionantes balançando facilmente?

Só estava olhando, certo? Ela não estava morta. Ela ainda


podia apreciar um homem de boa aparência, sem se tornar um
desastre.

Além disso, aqueles outros não tinham boa aparência, eles


tinham sido rudes e cruéis. Com um estremecimento interior, ela
virou e viu Dee encostada na porta do quiosque juntamente com
uma mulher de idade e aparência semelhante, apenas magra ao
invés de dimensões generosas como Dee, de pé ao lado dela.

— Cara, ele é quente — A outra mulher falou.

— Isso ele é — Dee concordou. — É por isso que eu gosto de


olhar.

— Eu gostaria de fazer mais do que olhar.

— Tem certeza que você não fez?

98
Esse comentário fez Ash observar a mulher mais de perto.
Longo cabelo loiro, magra, bonita, ela era o que a maioria dos
homens parecia querer, e se perguntou se esta mulher esteve com
Scott.

Em sua cama? Apenas o pensamento dele nu a deixou com


os pêlos dos braços arrepiados, uma visão fraca dele pairando
sobre ela trazendo tanto um arrepio de prazer e um calafrio de
alarme.

Santo Deus, ela tinha que controlar sua imaginação. Estava


em todo o lugar e tendo suas emoções com ela. E realmente, o
pensamento de Scott tomar alguém como ela para a cama
enquanto uma mulher como a amiga de Dee estava por perto,
bem, era apenas ridículo.

Pare de se depreciar. Lembre-se, você vale a pena.

— Ei, Ash? Você está bem?

A voz de Dee interrompeu seus pensamentos e Ash piscou e


focou nela. — Oh, sim. Eu estou bem.

— Você parecia que estava a milhões de quilômetros de


distância.

— Provavelmente estava — disse a mulher. — No leito de


certo bombeiro se queimando. Muito deliciosamente, eu poderia
acrescentar.

Dee olhou para ela. — Você teve um gosto da mangueira


do bombeiro, não é?

Jesus, isso era uma fagulha de ciúmes que Ash sentiu?


99
— Não. Dele eu não tive. — Respondeu a mulher.

— Não é por falta de tentativas, eu aposto.

Revirando os olhos, a mulher sorriu para Ash.

— Você deve ser Ash. Eu sou a prima de Dee, Del.

— Apelido para Delilah — acrescentou Dee. — Por conta de


que ela pode trazer qualquer homem de joelhos. Aparentemente.
Eu, pessoalmente, acho que é porque ela os corta na altura dos
tornozelos.

— Considerando que você simplesmente os corta com a


língua. — Braços cruzados sob os seios, pernas longas cruzadas nos
tornozelos, Del olhou para Ash. — Então, trabalhando para Ben,
hein?

Ash não podia deixar de gostar de Del, que parecia


semelhante em temperamento a Dee.

— Todo mundo parece tão surpreso.

— Todo mundo gosta de um milagre. Ele te contratar é um.

Curiosidade a cutucou.

— Por quê? A maioria das oficinas tem uma recepcionista.

— Sim, mas depois que Maryanne morreu, ele disse que não
podia suportar a ideia de outra mulher tomar o seu lugar na loja.
Ela dirigia, você sabe, organizando e mantinha tudo atualizado.
Ben é um grande cara, manteve o negócio funcionando, mas
sempre se recusou a contratar alguém, disse que faria ele mesmo.

100
— Mas ele me pediu para trabalhar.

— Huh. — Del a estudou. — Deve ser algo sobre você que


realmente gostou.

— Ou talvez... — Dee parou.

Ash e Del olharam para Dee.

— Nada. — Dee acenou uma mão. — É melhor eu voltar ao


trabalho, a maldita geladeira não vai ficar cheia por conta
própria.

Del encolheu os ombros. — Tudo bem. Mantenha seus


segredos.

— Você não deveria estar no trabalho?

— Eu tenho minha loja.

— Não, seu pai tem. Você dirige.

— Que seja. — Del endireitou com um bocejo. — Vejo você


na hora do almoço.

— Doze horas.

— Por que doze?

— Porque é quando Ash chegará.

Querendo saber se tinha interrompido alguma coisa, Ash


disse rapidamente — Não se preocupe, posso vir outro dia.

— Doze é bom. — Del acenou uma mão preguiçosamente.


— Nós somos nossos próprios patrões, você trabalha para um. Não

101
é nenhum incômodo. — Ela foi embora com um passo indiferente,
entrando na loja de roupas ao lado.

Ash olhou para Dee.

— Eu não quero aborrecer ninguém.

— Não se preocupe. — Dee sorriu. — Precisa de muito para


nos perturbar. Além disso, você mora aqui agora, então já é hora
de ter alguns amigos e nos deixar mostrar-lhe a cidade. —
Acabando com essa nota surpreendente, ela entrou novamente
em sua loja.

Tocada pela simpatia, embora ainda um pouco cautelosa,


porque realmente não as conhecia bem, Ash seguiu para a
oficina. Quando entrou, o som distante do rádio ligado indicou
que Ben já estava no trabalho.

Espreitando pela porta traseira, viu a metade inferior dele


saindo debaixo do capô de um velho furgão Ford.

— Oi Ben. Estou aqui.

— Oi para você. — Ele respondeu sem se mover.

Estabelecendo-se para continuar resolvendo o escritório e


limpá-lo, Ash ficou pensando por que Ben perguntou se ela queria
um trabalho que, aparentemente, nunca quis ninguém
preenchesse desde a morte de sua esposa. Parecia estranho.
Talvez se lembrasse dela ou algo assim? Talvez tivesse finalmente
chegado cansado de tentar fazer tudo sozinho? Não podia ser
fácil tentar trabalhar em veículos e ter que parar para atender ao

102
telefone, tentar lidar com encomendas, contas e outros inúmeros
detalhes de funcionamento de um negócio.

Tudo o que ela podia fazer era ter certeza de que ele não
estava arrependido, ele a contratou.

Com renovado vigor, ela começou as tarefas.

A hora do almoço foi um tempo divertido com Dee e Del.


Sentada na sala dos fundos ao redor de uma pequena mesa,
bebiam chá quente e comiam sanduíches. Del e Dee contavam
as fofocas da cidade, e foi assim que descobriu que Scott, Ryder,
Simon e Kirk eram considerados como os partidos de primeira
linha, e a maioria das mulheres disponíveis esperava chamar a
atenção deles. Os quatro homens também eram bem conhecidos
pelo amor às motos.

— Eles são os motoqueiros da cidade — informou Del a Ash.


— Motoqueiros da cidade, não prostitutos da cidade.

— A menos que você conte Ryder — disse Dee. — Ele é um


motoqueiro da cidade.

— Da variedade prostituto? — Perguntou Ash, muito


entretida.

— Totalmente. Eu juro que ele montou todas as mulheres que


permitiram.

Del piscou para Ash. — Todas, menos você, hein, Dee?

— Eu não o permitiria colocar uma perna por cima, mesmo


que se tivesse um ataque cardíaco.

103
— Ele te faria boca a boca. — Del sorriu. — Ouvi dizer que ele
é muito bom nisso.

— Ele colocou aquela boca em tantos muffins que não


ficaria surpresa se encontrasse curtos cachos entre os dentes antes
de cada refeição.

Ash se engasgou com um gole de chá.

— Ei! — Uma voz profunda chamou da área da loja. — Cadê


o atendimento neste lugar?

— Falando de motociclistas da cidade, olha quem acabou


de entrar. — Dee caminhou da porta para dentro da loja.

— Tenha uma carga deste. — Del entortou o dedo para Ash


e se levantou.

Curiosamente, Ash seguiu até a porta onde espiou para ver


Dee dando uma bronca em Ryder por enviar seus pequenos
irmãos em vez de pegar seus ―gibis de criança‖ ele mesmo. Ryder
estava encostado no balcão, tornozelos cruzados, de braços
cruzados, e um brilho decidido nos olhos azuis escuros.

— Agora isso é entretenimento, — Del murmurou. — E


enquanto ela está brigando com ele, podemos cobiçar. Cara, ele
é quente.

— Estou começando a achar que você considera um monte


de homens como quentes — Ash comentou.

— O que eu posso fazer? — Del encolheu os ombros. — Eu


gosto de homens.

104
— Eu prefiro as mulheres — declarou uma voz profunda atrás
delas.

Ash levou um susto, girando rapidamente. Ela virou tão


rápido que perdeu o equilíbrio, batendo em Del e as deixando
cambaleando.

Antes que percebesse, Scott moveu-se rapidamente,


envolvendo um longo braço ao redor de cada uma delas para
firmar as duas mulheres. Ele fez isso com tanta facilidade que era
quase risível.

Especialmente quando ele não mostrou qualquer tensão


quando assumiu seu peso até que ela recuperasse o equilíbrio. Ash
achou incrível, mas depois embaraço a inundou. Deus, ele não
deve ter deixado de notar a diferença entre seu peso e o de Del.

Apoiando a mão na parede, ela baixou o olhar.

— Obrigada. Eu estou bem.

— Isso é bom. — O sorriso era evidente em seu tom. — Então,


vocês duas estão felizes assistindo Ryder e Dee brigando
novamente?

— Nada como um pouco de entretenimento, — Del


respondeu.

Ash notou a risada divertida de Scott e se surpreendeu


quando ele se moveu para ficar ao seu lado.

— Sim, é divertido. Tenho que concordar com você nisso,


Del.

105
Ele estava tão perto dela que Ash não poderia deixar de
inalar o seu perfume a cada respiração. Cara, ele tinha um cheiro
bom — sabonete, um cheiro de loção pós-barba, todos limpos do
sexo masculino. Ele estava tão perto dela que o calor de seu
corpo a tentava a inclinar-se para mais perto, aconchegar-se em
sua força e apenas aproveitar seu cheiro e calor. Tão forte, tão
grande, tão seguro. O braço ainda ao redor de sua cintura e sua
mão descansando levemente em seu quadril a fazia sentir-se bem,
e reconfortante e.... Espere. O quê?

Os olhos de Ash arregalaram. O braço de Scott estava ao


redor de sua cintura, sua mão estava em seu quadril. Calor
parecia sair de sua mão para enviar pequenas mechas de
conscientização de suas roupas para sua pele até que ela
poderia jurar que sua mão queimava um buraco em suas calças.

Ela congelou, não sendo capaz de pensar claramente,


querendo que ele mantivesse sua mão lá e querendo que ele se
afastasse para bem longe.

Antes que ela decidisse o que fazer, Scott sorriu para ela e se
afastou, tirando a mão de seu quadril, o braço desaparecendo de
sua cintura enquanto caminhava pela porta deixando-a aliviada
e despojada ao mesmo tempo.

— Vamos lá, Dee, dê ao pobre homem uma pausa. — Scott


riu.

Riso quente, profundo e sinuoso através de seus sentidos, tão


certo como o calor dele tinha se enrolado em seu corpo.

106
— Sim, Scott é quente, não é? — Del murmurou, movendo-se
a seu lado para olhar através da porta. — Cavalheiresco e muito
sexy. E com essa aparência? Que belo pacote.

Autoconsciente, Ash gaguejou.

— Hum... eu... ele...

— Sim, eu entendo. Acredite em mim, eu realmente


entendo.

Foi um alívio ver que Del estava assistindo a cena na loja


com diversão. Era óbvio que Scott não tinha feito nada fora do
comum, então Ash tentou esconder sua reação nas profundezas
de sua mente. Foi um ato cavalheiresco, nada mais. Ele também
segurou Del, por isso não tinha sentido fazer uma tempestade em
um copo d‘água. Mesmo que ele não tenha mantido a mão em
Del...

Era mais fácil dizer do que fazer, especialmente enquanto


Scott ria muito enquanto Ryder pagava por seus gibis. Dee fez
uma cena ao colocar os quadrinhos em um saco de papel
marrom liso e fechá-lo para que ninguém visse que Ryder ainda lia
gibis.

— Não são histórias em quadrinhos, — Ryder disse enquanto


Scott o arrastava para a porta. — São novelas gráficas.

— São histórias em quadrinhos, gênio, — ela respondeu.

— Não apenas quadrinhos, loira. Elas são histórias


cuidadosamente construídas e grandes obras de arte.

— Era o que dizia quando costumava comprar a Playboy.


107
— Não, eu disse que as lia para as histórias. E — ele
acrescentou, encostado no batente da porta para que Scott não
o empurrasse pela porta, — Você cancelou minha assinatura sem
a minha permissão.

Arqueando uma das sobrancelhas, Dee cruzou os braços.

— Não, eu não fiz.

— Sim, você fez.

— Não.

— Eu sei que você fez isso. — Ele apontou para ela. — Um dia
eu provarei.

Ela zombou. — E fará o quê?

— Você descobrirá.

— Estou tremendo de medo.

Seu sorriso era enorme. — Você deveria ficar.

— Você precisa crescer.

— Oh, querida, estou crescido. Você não tem ideia de quão


crescido.

Dee inclinou a cabeça e revirou os olhos. — Vá ler seus gibis.

— Vamos lá. — Scott empurrou seu amigo em direção à


porta.

— Espere aí. — Del saiu para a loja. — Vamos nos reunir hoje
à noite, certo?

108
— Oh sim. — Scott virou para encará-la. — Minha casa, sete
horas.

— Maravilha.

— Será que pode suportar a minha companhia esta noite?


— Ryder perguntou a Dee. — Vendo como não estou crescido o
suficiente para você?

— Nós podemos apenas dar-lhe um chocolate quente e


colocá-lo na cama mais cedo — ela respondeu.

Ash não ouviu a resposta dele porque Scott andava de volta


até o corredor em direção a ela.

— Que tal, Ash?

— Que tal o que? — olhou para cima, quando ele se


aproximou e parou diante dela.

— Você virá hoje à noite também?

— Oh, não sei. — Ela começou.

— Venha. É só a gente.

―A gente‖ poderia ser qualquer pessoa e o pensamento de


estar em um grupo de estranhos a fez tremer um pouco
internamente. Sair para encontros era algo que não fazia há muito
tempo, não quando todos já haviam conhecido e..... Ela evitou o
pensamento.

— Não, realmente, eu não...

109
— Somos apenas nós, Ash. — A voz suave de Scott, seus
olhos tão quentes, seu sorriso tão reconfortante. — Você já nos
conhece. Eu, Ryder, Kirk, Simon, Dee e Del.

Isso era diferente. Ash respirou fundo. Se fosse só esse grupo,


ela já gostava deles. Talvez ela conseguisse. Talvez fosse hora de
sair de sua zona de conforto e construir algumas amizades.

— É apenas uma noite em que ficamos juntos, têm algumas


pizzas, algumas bebidas, assistimos filme. Ter algum divertimento.
— Estendendo a mão, Scott tocou em seu braço levemente, os
dedos quentes em seu cotovelo, a palma da mão apenas
roçando seu braço. — Eu realmente gostaria que fosse, Ash.

O sorriso genuíno em seu rosto, o calor de seu olhar, infiltrou-


se nela, preenchendo os cantos frios que não tinha tido contato
próximo com alguém por tanto tempo. Ele tinha uma forma de
fazê-la se sentir como se fosse a única pessoa na sala, como se
toda a sua atenção estivesse centrada sobre ela, e a puxou para
ele.

Isso também a assustou um pouco, esta atração repentina e


o que isso significava para ela. O que ele poderia fazer com ela. O
que poderia fazer se ele descobrisse.

Mas não havia nenhuma razão para que alguém


descobrisse. Este era o seu novo começo, e amizades estavam
sendo oferecidas. Além disso, não era como se fosse um encontro,
certo? Era apenas um grupo de amigos que se reúnem para
bebidas e um filme, isso era tudo.

110
Percebendo de repente que a loja estava em silêncio, todos
esperando sua resposta, ela sorriu para Scott. — Claro, eu
adoraria. Obrigada.

— Maravilha. — Os olhos praticamente brilhando com


prazer, seu sorriso se alargou. Dando-lhe um abraço súbito,
apertado e surpreendentemente firme, ele se endireitou. — Eu te
verei hoje à noite.

— Tudo bem. — Ela não pôde evitar o calor que a percorreu


quando ele piscou e lhe deu sorriso com um toque malicioso antes
de virar as costas e caminhar de volta para o corredor.

Agarrando o ombro de Ryder, ele empurrou-o em direção à


porta.

— Certo, vamos pegar a estrada.

— Se você acha que vou ajudá-lo a limpar a casa antes de


a horda aparecer lá hoje à noite, você está seriamente
equivocado. Este é o meu dia de folga.

Scott simplesmente o empurrou para fora da porta, e Ryder


proferiu uma maldição quando tropeçou na calçada.

Ash não podia deixar de rir ao ver a cena.

Na porta Scott direcionou o seu olhar a ela. — Irei buscá-la


as seis e quarenta, Ash. — Então ele fechou a porta e foi embora.

Por vários segundos sucessivos, Ash olhou para a porta


fechada. Ele iria buscá-la?

Ow, ele iria buscá-la?

111
Ela respirou fundo. Ah, não. Oh não, isso não pode
acontecer. Ela não estava pronta para ficar sozinha com um
homem que não conhecia muito bem, não importa o quão
seguro ele parecia. Um grupo era bom, em um grupo estava a
salvo. Ela podia lidar com um grupo. Mas apenas Scott?

Jesus, ela estava hiperventilando?

— Você está bem, Ash? — O rosto de Del apareceu diante


dela, a preocupação vincando sua testa.

Oh Deus, como não parecer uma tola neurótica?

— Oh, eu... sim. É só que.... Eu não quero tirar Scott de seu


caminho.

— Você não irá — Del assegurou.

— Mas não esperava que ele me pegasse.

— Querida, seu carro está em reparos. Alguém terá que


buscá-la e leva-la para casa novamente.

Sozinha com Scott, mesmo por um curto passeio? Sentiu-se


afobada, não há dúvida sobre isso.

— Eu poderia pegar um táxi...

— Ash, relaxe. — Rindo, Del bateu a mão no ombro dela. —


Você está segura com Scott.

Ó deuses, seus pensamentos eram tão transparentes?

112
— Tenho certeza que estou, eu só... — Freneticamente
procurava as palavras certas — Geralmente não aceito carona
de homens que realmente não conheço.

— Você será a primeira mulher na cidade que não quer uma


carona de Scott. — Dee endireitou algumas revistas. — Você
estará segura com ele, confie em mim. Além do mais, você não o
tirará de seu caminho. Scott não se oferece para fazer as coisas, a
menos que queira fazê-las. Então se anime, garota. Vá cumprir seu
horário com Ben, depois vá para casa, coloque alguma roupa
confortável e prepare-se para algumas horas de relaxamento
com O grupo na cidade.

— O grupo? — Del ergueu as sobrancelhas. — Sério? Nós


somos O grupo?

— Sim.

— Que pobreza.

— Ei, estamos com os quatro partidos da cidade. Isso nos


torna O grupo.

— Isso nos torna patéticas, quando nenhuma de nós está


interessada nos quatro solteiros.

— Isso nos faz companheiros, o que é muito melhor, — Dee


apontou.

— Oooh, você e Ryder são companheiros?

— É uma relação de amor e ódio.

— Amor, hein?

113
— Principalmente ódio.

Del olhou para sua prima especulativamente. — Você


acha?

Dee fez uma careta. — Eu sei.

— Sim, com certeza.

— Se você não quiser que enfie esta revista onde você não
poderá ler, então sugiro que volte para a sua loja.

— Sensível. — Rindo Del acenou para Ash. — Vejo você hoje


à noite.

Ash aproveitou a oportunidade para sair também, mesmo


que ainda tivesse muito tempo antes de voltar ao trabalho. Ela
precisava da caminhada para limpar a mente.

Balançando a cabeça, ela não podia acreditar. Scott iria


realmente buscá-la esta noite. As coisas estavam indo muito
rápido, não era como ela pensou que seria. Fazer alguns amigos,
reunir-se em uma noite de diversão, isso estava tudo bem, mas ir
de carona com um homem era diferente.

Mas não é um encontro. Diminuindo o aperto na alça de sua


bolsa, Ash respirou fundo várias vezes. Ela estava pensando
demais, deixando que seus medos assumissem o controle.
Independentemente do que aconteceu, ela precisava afastar os
seus temores e trabalhar na sua superação, precisava assumir o
controle. Ela começou por deixar a cidade, tinha viajado sozinha,
tinha conseguido um emprego e feito alguns novos amigos, este
era apenas mais um passo.

114
Sim, era isso. Só mais um passo. Ela assentiu com a cabeça
para si mesma. Isto era apenas uma reunião de amigos e uma
oferta amigável de carona.

Ok, não era uma oferta, era mais como se não tivesse
escolha, mas ainda assim, foi apenas um gesto amigável. Scott
era um cara legal, todo mundo tinha coisas boas para dizer sobre
ele. Ele tinha sido gentil com ela, sua mãe era dona da pensão, e
pelo amor de Deus, ele era um bombeiro. Com bombeiros estaria
a salvo, certo?

Bem, como todo mundo, eram humanos. Ash mordeu o


lábio. Nem todo mundo era bom. Merda, merda, merda! Pare
com isso! Você está pensando demais, procurando fantasmas.
Tenha controle! Você precisa seguir em frente. Leve a sua
proteção, a tenha pronta. Scott era bem conhecido ao redor da
pequena cidade, ele tinha um cargo de confiança e
responsabilidade. Lá no fundo, sabia que ele era bom, sentia que
ele era bom, e foi assim que começou a confiar em sua intuição
novamente. Nunca tinha a guiado errado no passado.

Aquela vez... bem, o problema dela era resultado de não


confiar em seu instinto. Não era um erro que cometeria
novamente. Ela não viveria fugindo de cada cara legal, que sorriu
para ela, não poderia viver sua vida trancada longe de pessoas.
Não era assim que era, não era quem queria ser. Ela entendeu
que todos lidavam traumas de forma diferente, sabia disso, e
estava lidando com o seu trauma da sua forma. Ela só precisava
confiar em si mesma, confiar em seus instintos e no que seus
instintos diziam a ela.

115
Além disso, o pensamento de Scott não fez seu instinto gritar
‗fuja!‘. Não, na verdade fez justamente o contrário e — Ash forçou
seus pensamentos. Não, não vá lá. Definitivamente não está
pronta para ir para lá ainda.

Endireitando os ombros, abriu a porta da oficina. Esta noite


iria se divertir, mas agora o trabalho chamava. O importante
primeiro. Preocupe-se com Scott Preston mais tarde. Como esta
noite, quando a buscar.

Oh caramba. Ela realmente tinha uma queda pelo bombeiro


bonitão. Ash queria saber se Ben ficaria surpreso se sua nova
recepcionista começasse a bater a cabeça na parede.

Menos de uma hora depois, o som de uma sirene cortou o ar


e olhou para cima para ver o caminhão de bombeiros passando
com luzes piscando. A janela encardida não lhe deu uma visão
clara do motorista e se perguntou se Scott fazia parte da equipe,
embora não estivesse de uniforme antes. Seja quem fosse,
esperava que ficassem seguros. Ela pedia a Deus que fossem
capazes de apagar o fogo rapidamente, o que a levou a fazer
uma rápida oração para que o fogo não destruísse quaisquer
pessoas, casas ou animais.

Ben entrou pela porta da oficina e passou o balcão, saindo.


Ela o seguiu vendo outras pessoas olhando na direção onde o
caminhão de bombeiros havia desaparecido. O leve cheiro de
fumaça estava no ar, uma névoa escura na distância, mas nada
mais alarmante do que isso, embora, para ser honesta, ela nunca
esteve perto de um incêndio. Ela sabia o básico — evacuar

116
quando dito, se preparar para um incêndio, se você ficar, mas
ainda era um pensamento assustador.

Virando-se, Ben deve ter notado algo em seu rosto.

— É longe o suficiente para ser uma ameaça, Ash.

Ela assentiu com a cabeça.

— Se existe um problema, nós saberemos. — Ele lhe deu um


tapinha no ombro quando voltou para a oficina.

Olhando para seu ombro, Ash suspirou. O gesto


tranqüilizador de Ben deixou uma agradável marca gordurosa em
sua blusa. Balançando a cabeça, não podia deixar de sorrir.
Realmente, como você estaria com raiva de um cara que tentou
ser agradável?

Olhando pela última vez em direção a fumaça, o seguiu


para dentro da oficina.

Encostado no banco traseiro do corpo de bombeiros, Scott


franziu a testa.

— Sério? Um turista esqueceu de apagar a sua fogueira


antes de sair?

— Parece que sim. — Billy, o bombeiro voluntário, assentiu. —


Conseguimos apagar o fogo antes que se alastrasse, mas foi fácil
segui-lo de volta para a fogueira de acampamento.

— Caramba. Justin estava por perto?


117
— Você está brincando? Aquele jornalista está sempre por
perto. Felizmente não o empurrei para longe com a mangueira,
enquanto apagava o fogo.

— Será que aproveitou a oportunidade e pediu para que


colocasse um aviso no jornal local sobre a apagar fogueiras de
acampamento?

Billy deu-lhe um olhar incrédulo.

— Certo. — Scott levantou uma mão. — É claro que você


fez. Sinto muito.

Billy revirou os olhos.

— Voltando para os campistas, — disse Scott — Alguém


chegou a ver se era uma caravana, tenda, a marca do carro,
alguma coisa?

— Não. Ninguém viu nada.

— Merda.

— Seria uma boa oportunidade para educar os jumentos


que deixaram a fogueira acessa.

Scott se afastou da bancada.

— Vamos perguntar de qualquer maneira, alguém pode ter


visto alguma coisa. Eu presumo que os policiais estejam nisso.

— Kirk estava lá fazendo o seu habitual trabalho. Ah, sim, —


Billy arregalou os olhos — Ele também falou com Justin.

Scott lhe deu um olhar seco.

118
— Apenas dizendo. — disse Billy.

Scott pegou o capacete do banco.

— Faça algumas passagens hoje, ok? Apenas ao redor das


baías de estacionamento fora da cidade.

— Você está preocupado com alguma coisa?

— Estou preocupado que um campista descuidado faça isso


novamente. Eu prefiro ser cauteloso do que descuidado.

Billy assentiu. — Se precisar de mim, basta ligar no celular.

Saindo da estação de bombeiros, Scott foi até onde sua


moto estava estacionada. Como de costume, a visão da moto
cromada e preta brilhando na luz o fez sorrir. Passando a mão
sobre o metal frio, simplesmente não conseguia deixar de pensar
que era uma máquina fantástica, uma verdadeira beleza. Não
tinha vergonha de admitir que amava sua moto e que gastava o
que sua mãe chamava de ‗uma quantidade saudável de tempo‘
polindo-a.

Subindo na moto, sentou no banco e colocou o capacete, o


afivelando de forma segura antes de ligar o motor. O poderoso
rugido do motor no meio da noite era música para seus ouvidos, o
peso da máquina quando levantou o suporte se fixava entre suas
mãos e pernas com facilidade. Verificando a estrada, acendeu o
pisca e saiu do corpo de bombeiros.

O rugido da moto encheu o ar ao seu redor, o motor


pulsando entre as pernas e o vento correndo atrás dele fazendo-o

119
sentir como se estivesse voando. Ele adorou a liberdade, os sons, a
sensação de deixar as suas preocupações e o momento.

Hoje era um bônus adicional, porque buscaria Ash. Durante


vários minutos lá no quiosque pensou que recusaria, que não seria
persuadida a vir, a centelha de indecisão em seus lindos olhos por
trás dos óculos fazendo com que parece tão vulnerável.

Deus, ele queria apenas envolvê-la em seus braços ali


mesmo, abraçá-la apertado e deixá-la saber que nada a
machucaria novamente. Quando a segurou juntamente com Del
quando tropeçaram, a sensação do corpo suave e quente de Ash
contra o seu lhe tinha feito apenas querer mais, o fez almejar a
sensação de tê-la totalmente em seus braços. Ele daria tudo por
isso. Tinha sido cauteloso, enquanto genuinamente se divertia com
brincadeiras de seus amigos, mas estava consciente de Ash ao
seu lado. No início, ela não havia notado o seu braço ainda ao
redor da cintura, com a mão sobre a curva exuberante de seu
quadril. Mas então a sentiu enrijecer e se moveu rapidamente,
cobrindo sua decepção com um sorriso e um recuar, como se ele
não tivesse notado nada de errado.

Enquanto a estrada turvava sob as rodas da bicicleta, se


perguntou novamente o que exatamente teria acontecido com
Ash. Se soubesse, se pudesse ter certeza, então saberia como
proceder, o que fazer para conseguir que ela venha de boa
vontade até seus braços.

Jesus, como isso aconteceu? Ele nunca se apaixonou antes


por uma mulher tão forte e rapidamente, nunca quis pular o
tradicional ‗como vai’ e ir direto para a cama. Na verdade, queria
120
mais do que isso com Ash. Não era apenas o físico que queria, ele
desejava sua risada, seu sorriso. Queria que seu rosto demonstrasse
prazer e não desconfiança. Queria que ela fosse feliz. Com ele.

Seus dedos flexionaram no guidão antes de apertá-los mais


uma vez. Hoje seria um começo, um bom começo. Talvez um dia,
em breve ele conseguisse que ela se abrisse, confiasse nele. Até
então, teria que ser paciente e dar um passo de cada vez.

Voltando para a estrada lateral que levava a pensão de sua


mãe, ele percorreu a curta distância antes de entrar na garagem
e seguir até a casa. Parando na frente dela, colocou a moto na
posição certa e a desligou. O silêncio encheu imediatamente o ar,
o único som que se ouvia era do filhote de cordeiro da Sra. Carter
balindo não muito longe.

Tirando o capacete, colocou-o no banco e saiu da moto,


dando uma pequena esticada antes de saltar os degraus e ir para
a varanda. Abrindo a porta de tela de segurança, gritou. — Ei,
mamãe!

— Estou aqui. — Sua voz veio da sala de jantar.

Movendo-se através da porta, espiou para encontrá-la


sentada à mesa tomando café com cinco de seus pensionistas.

— Opa, desculpe, não quis interromper.

Ela sorriu para ele. — Você nunca interromperia nada,


querido. — Seu olhar percorreu a mesa. — Pessoal, este é meu
filho, Scott. Scott, estes são Miranda e Harry, Jess, Mark e Brian.

121
Enquanto Scott os cumprimentava, também, os observava.
Com o assunto do fogo em sua mente, se perguntou se um deles
poderia ter feito isso, mas estavam hospedados na pensão e não
acampando. Mas como não podia ter certeza, sorriu
amigavelmente e perguntou: — Decidiram parar de acampar? —
Não objetivando a pergunta a ninguém em particular, observava
as reações.

— Nós não acampamos, — Harry informou. — Pelo menos,


não desta vez. Miranda preferiu o conforto do lar.

O olhar de Miranda para o marido era decididamente


frígido. — Isso é porque eu sempre faço todo o trabalho
doméstico. Desta vez eu queria umas férias.

Devidamente castigado, Harry voltou sua atenção para o


seu prato de comida.

Rusgas de casal, Scott pensou com diversão.

— Nós estamos no caminho para visitar nosso filho e sua


esposa, — Mark informou a Scott.

— Na verdade, — a mulher acrescentou — não temos nem


uma barraca.

— Auto caravanas? — Scott não podia deixar de perguntar.

— Não. — Mark sorriu. — Por que, você quer comprar uma?

— Obrigado, mas não. — Scott olhou para Brian — Apenas


de passagem, também?

122
Brian olhou para cima de onde estava cortando um pedaço
de carne nobre. — Quem, eu?

Scott assentiu.

— Só entre empregos no momento — respondeu Brian. — Eu


terminei em uma fazenda e irei para uma das estações no
território.

— Um grande caminho a percorrer, — Comentou Scott.

— Sim, mas estou ansioso por isso. Nada como a terra nova,
né?

— Com certeza, companheiro. — Scott se endireitou de


onde se encontrava no batente da porta. — Cadê Ash?

— Ela não se juntou a nós para o jantar, ela vai sair. — Julia
levantou-se, limpando a boca delicadamente com um
guardanapo. — Desculpe.

Os ocupantes da mesa assentiram e Scott voltou para o


corredor, sua mãe entrou pela porta. Segurando seu braço, ela o
levou para longe da sala de jantar antes de parar para olhar para
ele, com preocupação em seus olhos. — Você acha que um dos
meus pensionistas acendeu o fogo?

— Você não perde nada, não é?

— Então você acha isso.

— Não, apenas recolhendo algumas informações.

— Não é trabalho de Kirk?

123
— Foi um incêndio. Eu sou um bombeiro. Por que não
bisbilhotaria um pouco?

— Apenas tenha cuidado, bebê. — Ela esfregou seu braço.

— Eu sou um menino grande agora.

— Você sempre será o meu bebê.

— Nesse caso, você poderia me fazer um daqueles bolos de


chocolate com creme e cobertura de chocolate.

— Não force, querido.

Ele sorriu triunfante.

— Mas eu posso ter um, certo?

— Eu pensarei nisso.

— Obrigado, mãe. — Ele bagunçou o cabelo dela,


esquivando-se dos tapas de sua mão.

— Comporte-se, — advertiu Julia. — Você dará uma má


impressão a Ash.

Isso o fez olhar ao redor. — Onde ela está?

— Estou aqui.

Scott virou e viu Ash no corredor atrás dele.

— Ei, Ash.

Sorrindo um pouco insegura, ela empurrou os óculos em


cima da ponte de seu nariz. — Oi.

124
Cara, ela parecia um colírio para os olhos. A mecha de
cabelo ruivo estava presa em uma trança, pequenas mechas
escapando para dançar ao redor de suas bochechas e a franja
espessa sobre as sobrancelhas. Usava uma blusa rosa clara que
abraçava aqueles seios magníficos, e calças que desciam pelos
quadris deliciosamente arredondados e coxas e um par de tênis
brancos imaculados.

Sim, ele gostava de uma mulher com abundância de curvas


que deixava um homem certo que seria toda macia e fofinha
para segurar. E afundar-se.

Isso o fez rapidamente afastar seus pensamentos, porque ter


uma ereção não seria adequado a Ash ou a sua mãe, e, na
verdade, o pensamento de sua mãe vê-lo com tesão era um
balde de água fria.

— Você precisa de meu capacete para Ash, Scott? —Julia


perguntou.

Isso fez os olhos azuis de Ash arregalarem por trás de seus


óculos. — Capacete?

Scott não tirou os olhos de Ash.

— Obrigado, mãe.

— Um capacete? — Ash repetiu enquanto sua mãe abria um


armário da sala e pegava algo dentro.

— Eu tenho a minha moto — ele explicou facilmente.

— A sua moto? Sua moto?

125
— Seu orgulho e alegria. — Julia tirou um capacete roxo
brilhante escrito ‗Mãe do Inferno‘ na parte de trás. — Basta dizer
que é maravilhosa e Scott será seu amigo para sempre.

A pele clara de Ash parecia um pouco mais pálida na luz do


corredor.

— Pensei que iríamos de carro.

126
Capítulo Quatro

Buscando tranqüilizá-la, Scott pegou o capacete de sua


mãe e o apoiou em seu quadril enquanto cruzou para Ash e
colocou uma mão em suas costas.

— Eu serei um bom cavaleiro, eu prometo.

— Claro que ele é. — Julia involuntariamente veio em seu


socorro quando sentiu Ash tensa com seu toque.

Assim que tirou sua mão Julia colocou a palma da mão nas
costas de Ash e começou a empurrá-la pelo corredor. Ele reprimiu
um sorriso quando Ash olhou ao redor, impotente, suas boas
maneiras a fazendo obedecer ao empurrão de Julia embora com
relutância.

Ash conseguiu olhar para ele por cima do ombro, a dúvida


estampada em cada pedacinho de seu rosto bonito.

— Hum... olha, não acho que isso é uma boa ideia após...

— Bobagem — disse Julia rapidamente, abrindo a porta e


empurrando Ash para a varanda. — Você precisa de um pouco
de diversão. Eu sei que Ben tem feito você trabalhar duro na
oficina e Deus sabe que seria necessário muito trabalho para
deixar aquele local novo em folha. As crianças se reúnem a cada
quinze dias para se divertirem.

127
— Crianças? — Ash repetiu.

Erguendo o olhar de seu traseiro delicioso enquanto a


seguia, Scott viu a ligeira expressão de pânico no rosto de Ash
quando novamente olhou por cima do ombro para ele.

— Ela quer dizer eu, Kirk, Simon, Ryder, Del e Dee. — sorriu,
desejando mentalmente que ela relaxasse. — Mamãe ainda nos
vê como as crianças.

— Crianças são crianças, para seus pais, não importam a


idade. — Julia disse a Ash, tirando o capacete de Scott. — Agora,
divirta-se.

Ash olhou para a moto, o rosto parecendo ainda mais pálido


sob o brilho da luz da varanda, com as mãos tremendo um pouco
enquanto pegava o capacete de Julia.

Seu medo não passou despercebido à Julia, que colocou as


mãos no rosto de Ash e sorriu gentilmente.

— Querida, Scott se comportará. Nada dará errado, ok?


Você se divertirá e Scott a levará para casa em segurança. —
Inclinando-se, beijou a testa de Ash.

Scott ficou feliz. Ah, sim, algo em Ash tocou sua mãe e sem
mesmo Ash perceber, Julia a levou para baixo da sua asa. Isso
trabalharia em seu favor, porque sua mãe só reforçaria que bom
era um bom menino, o que o deixou com a tarefa agradável
apenas mostrar que era realmente um garoto muito maroto
quando não estava perto de sua mãe.

Esse pensamento deixou Scott sorrindo largamente.

128
— Eu tenho que voltar. — Virando-se, Julia viu seu sorriso e
severamente apontou um dedo. — Você se comporte, filho.

Ele concordou com a cabeça. — Sim, senhora.

Quando sua mãe desapareceu dentro da casa, fechando a


porta atrás dela, Scott observou Ash. As juntas de seus dedos
estavam brancas segurando o capacete e sua respiração estava
acelerada quando olhou para Scott.

Não, essas respirações rápidas não eram de desejo. A mulher


era quase uma pilha de nervos. Não tinha tempo a perder ou ela
fugiria como um cervo assustado.

Antes que Ash pudesse dizer qualquer coisa, Scott se


aproximou, pegou o capacete das mãos, levantou e colocou-o
sobre a sua cabeça, acomodando-o com cuidado por cima dos
óculos.

Ela simplesmente olhou em silêncio para ele e engoliu em


seco.

Isso apertou seu coração e precisou controlar o impulso de


abraçá-la. Em vez disso, segurou em seu queixo e fingiu não ver o
pequeno tremor no exuberante lábio inferior.

— Ok, Ash. — Dando um passo para trás, pegou seu próprio


capacete do assento. — Você já esteve em uma moto antes?

Ela balançou a cabeça, suas mãos agarraram com força.


Jesus, ela fugiria a qualquer momento, se não fosse cuidadoso.

— Eu subirei e ligarei a moto, então você sobe atrás de mim.


Tudo que você precisa fazer é colocar os pés em cima dos pedais
129
e lembrar-se de uma coisa. — Ele esperou até que ela olhasse da
moto para ele. — Você se inclina na mesma direção que eu. Eu
me inclino quando faço curva e você precisa inclinar-se comigo.
Deixe que eu cuido da moto, você apenas se concentra no que
eu faço e siga, ok?

Ash assentiu.

Ele sorriu.

— Excelente. — Colocando seu capacete, ele prendeu a


alça de forma segura, passou a perna sobre o assento da moto,
sentou e tirou o suporte antes de ligar a moto com um rugido
satisfatório do motor potente.

Quando olhou novamente para Ash, ela estava olhando


para a moto. Ele não podia ver sua expressão, pois o capacete
escondeu a maior parte de seu rosto, mas não havia dúvida pela
maneira como ela torcia as mãos.

— Ash? — Ele rolou a moto para trás até que estava ao nível
dela, seu olhar preso ao dela.

Sim, alguma coisa aconteceu, ele começou a juntar as


peças. Estava começando a fazer sentido, mas a menos que ela
confiasse nele... Ele amaldiçoou silenciosamente. Não havia nada
que pudesse fazer sobre o passado, mas poderia ajudar com o
presente.

— Suba, Ash. — Quando ela começou a balançar a cabeça


um pouco, ele disse mais severamente do que pretendia, —
Vamos, os outros estão esperando.

130
Por um segundo, pensou que tivesse forçado além do que
ela toleraria, mas, em seguida, com um súbito passo torto, ela
estava na moto e depois de uma rápida olhada nos pedais, ela
levantou a perna sobre o banco de trás e sentou-se.

Ele esperou enquanto ela se ajustava, incapaz de evitar um


pequeno sorriso quando percebeu que estava se segurando com
firmeza. Olhando por cima do ombro, disse gentilmente. — Está
tudo bem, querida.

Ela olhou para ele.

— Coloque seus braços ao redor da minha cintura, venha


para mais perto e nós iremos.

Suas mãos agarraram cada lado de sua jaqueta de couro


antes de deslocar hesitante para frente, mas ainda se mantinha
afastada rigidamente.

Ok, ele lidaria com isso, porque assim que estivessem na


estrada as coisas mudariam rapidamente.

Scott colocou a moto em marcha, soltou o freio e os levou


até a calçada.

Ele não ouviu uma palavra de Ash, mas ela se inclinou com
ele quando saíram para a estrada, virando na direção oposta à
cidade. Então acelerou, o aumento da potência da moto
enchendo-o com satisfação, que só foi superada pela sensação
de Ash subitamente pressionada em suas costas, as mãos ao redor
de sua cintura, os dedos apertando a sua jaqueta de couro
firmemente, suas coxas o abraçando por atrás, cada curva suave
de seu corpo pressionado fortemente nele. Nem mesmo um
131
pedaço de papel poderia escorregar entre seus corpos e
provavelmente precisaria de um pé de cabra para afastá-la dele,
mas Scott se adaptou muito bem a isso.

Sorrindo muito, eles desfrutaram a curta viagem de volta


para sua casa. Seu único arrependimento era que não morava
longe. Ele poderia ter feito o caminho mais longo ao redor da
cidade, mas talvez se pudesse garantir que ela tenha gostado
deste passeio, poderia convencê-la a fazer um mais longo com
mais tarde. Ele com certeza tentaria. Mais tarde.

As luzes em sua varanda apareceram, dois carros


estacionados um atrás do outro em sua garagem, anunciando
que os outros haviam chegado. Cuidadosamente, ele passou
pelos dois carros na garagem. Apoiando os pés no chão de cada
lado da moto grande, ele desligou o motor e olhou por cima do
ombro.

— Você pode sair agora, querida.

Quando ela recuou e saiu da moto, ele sentiu a perda


sutilmente, um frescor que permeou o calor que seu corpo tinha
descansado contra o dele. Retrocedendo no stand, ele
rapidamente desamarrou o capacete e tirou-o, colocando-o
sobre o tanque de combustível, enquanto saía da moto. Olhando
ao redor, viu Ash parada segurando o capacete em uma das
mãos, enquanto conscientemente alisava a franja no lugar,
olhando ao redor enquanto fazia isso.

— Você foi bem. — Scott pegou o capacete dela.

132
O sorriso que ela deu era hesitante, mas seus olhos brilhavam
e suas bochechas estavam coradas docemente.

Oh sim. Seu sorriso se alargou. — Você gostou.

— Foi... diferente.

— Mas você gostou.

— Foi... refrescante.

— Sim, mas você gostou.

Sua súbita explosão de riso era como chuva de verão,


inesperada e bem-vinda, atingindo-o em todos os lugares certos.
Se ele pudesse ter a pego em seus braços e a beijado
profundamente ali mesmo, ele teria feito isso. Infelizmente, tudo o
que ele podia fazer era rir com ela.

— Tudo bem, — admitiu — Eu gostei.

— Então, você não vai encolher com o pensamento de


voltar para casa.

— Eu acho que não. — Ela balançou a cabeça, uma mecha


de cabelo longo soltando de sua trança para enrolar em seu
ombro.

— Hmmm, cabelo de capacete — Não sendo possível parar


a si mesmo — merda, ele praticamente era um santo —– Scott
estendeu a mão para colocar delicadamente os fios atrás da sua
orelha.

133
Macio e sedoso, assim como sua pele quando as costas de
seus dedos acariciaram ao longo de sua bochecha quando
empurrou o cabelo para trás.

Ao invés de se afastar como ele meio que esperava, Ash


parou, olhando para ele, segurando sua respiração.

Baixando a mão, Scott a olhou, cada um observando o


outro, no silêncio da noite. Uma coruja piou nas proximidades, o
farfalhar da vegetação rasteira quando uma pequena fauna
nativa se movia. No ar era fresco na noite e a luz da lua era
brilhante.

A leve brisa trazia o cheiro dela, um leve aroma floral que o


chamava e fez com que se aproximasse um pouco para inalar
profundamente, querendo capturar aquele cheiro dentro de si.
Sua mão passou de seu rosto, os dedos traçando a sombra de seu
pescoço.

A sua respiração engatou, seus olhos se arregalaram, um


ligeiro tremor iniciou sob seu toque, mas ainda assim ela não se
moveu, apesar do flash de alarme que cintilava em seus olhos.

Alarme e algo mais. Atração? Querer?

— Ash... — começou ele.

— Ei, vocês dois vão entrar ou o quê? — A voz de Simon


chamou a partir da varanda. — A pizza está aqui, cara. Filme
pronto. Vamos!

Silenciosamente Scott amaldiçoou, mas não desviou o olhar


de Ash enquanto respondia — Estou indo.

134
A porta da frente se fechou, deixando-os sozinhos
novamente.

Olhando para fora, deu um passo para trás. — É melhor


irmos.

Não querendo forçá-la, mesmo que gostaria de ter,


alegremente, torcido o pescoço de seu amigo por se intrometer,
Scott sorriu. — Não podemos deixar que a pizza esfrie ou a as
lamúrias começarão.

— É tão ruim assim? — sua voz estava divertida.

— Confie em mim, você não quer ouvi-los. — Colocando a


mão em suas costas, conduziu-a da garagem para a varanda. —
Basta uma reclamação e todos os outros continuam.

Ash subiu os três degraus para a varanda, Scott chegou por


cima do ombro para abrir a porta de tela de segurança e segurá-
la enquanto ela entrava em sua frente, fechando e travando a
porta.

Quando entraram na sala, escutaram vozes vindas da


cozinha. Del apareceu na porta carregando uma pilha de pratos
de papel, Kirk seguindo com cinco caixas de pizza.

— O jantar está servido, — anunciou, piscando para Ash. —


Siga o meu conselho, Ash, pegue o que puder, enquanto puder,
porque assim que Ryder se aproximar, temos a sorte de conseguir
qualquer coisa.

— Escutei o que você disse — A voz de Ryder vinha da sala


de estar. — E me magoa.

135
— A verdade dói, companheiro, — Kirk replicou. — Engula.

— Bebezão! — a voz de Dee acrescentou.

— Ah bom, Dee, bata em um homem enquanto ele está no


chão — Disse Ryder.

— Eu só bato naqueles que amo. Outros, eu chuto.

Houve um grito, seguido de ―Puta merda, Dee! Você chutou


a minha bunda!‖

— Foi em sua perna. Se controle.

— Você está de TMP?

Empurrando Ash a sua frente na sala de estar, Scott teve


tempo de ver Simon respirar profundamente.

— Oh, golpe baixo, companheiro. Essa é uma maneira de ter


seu traseiro chutado.

Dee pegou uma fatia de pizza e bateu em Ryder levemente


em sua bochecha com ela.

— Aqui, pegue uma pizza e mantenha sua boca ocupada.

Agarrando a pizza em uma mão, Ryder usou um


guardanapo para limpar seu rosto enquanto a olhava de onde
estava sentado no chão, com as costas no sofá.

— Felizmente para você, minha mãe me criou para não


bater em mulheres.

136
— Não se segure por minha conta. — Pegando várias fatias
de pizza da caixa e colocando-as em um prato de papel, Dee
sentou-se na extremidade do sofá. — Eu bato de volta.

— Crianças — disse Kirk levemente. — Temos uma


convidada. Comportem-se ou eu serei obrigado a colocar meus
punhos para fora.

— Eu pensei que esta era a noite de cinema, não a noite


pervertida de Ryder. — Del serviu-se de pizza.

Enquanto seus amigos brigavam e alfinetavam uns aos


outros, Scott viu Ash relaxar, aliviando a tensão dos ombros.
Aproximando-se, tirou o capacete de sua mão, sorrindo
tranquilizadoramente quando ela olhou para ele.

— Sente-se no sofá, Ash. Sirva-se de pizza.

Del entregou a Ash um prato de papel.

— Todos tem bebidas, exceto vocês dois — Simon informou a


Scott. — Não tinha certeza do que queriam.

— Como estou dirigindo esta noite, quero uma Coca-Cola.


— Scott olhou para Ash. — E você? Coca, Coca Diet, café
gelado, cerveja clara, suco de laranja?

— Coca Diet, por favor.

Saindo da sala, Scott colocou os capacetes na mesa e


pegou as bebidas da geladeira, abrindo as latas antes de retornar
para a sala de estar.

137
Ash estava no sofá ao lado de Del, segurando um prato com
duas fatias de pizza no colo e rindo de alguma coisa que Simon
disse. Deus abençoe seus amigos, eles deixaram o local ao lado
dela livre para ele.

Era um sofá de cinco lugares. Ryder e Simon estavam


sentados no chão, encostados no sofá, com as pernas esticadas.
Dee e Kirk haviam deslocado suas pernas o suficiente para dar
espaço para os dois no chão.

Scott entregou a lata de Coca Diet para Ash antes de pegar


três pedaços de pizza em um prato de papel e sentar no sofá ao
lado dela. Esticando as pernas, ele deu uma grande mordida na
pizza.

— Todo mundo pronto? — perguntou Del.

— Espere — disse Simon. — Precisamos esperar.

— Ah, sim. Esqueci. — Ryder fez uma careta. — Momento de


quebrar a perna.

Ash olhou curiosamente para Dee.

— Você verá. — Dee sorriu. — Agora, a comida está pronta


e nós estamos sentados, a próxima parte deste ritual noturno
começará.

— O que é isso?

— Espere. — Todos olharam com expectativa para a porta


da sala. Um baque abafado soou. — Lá vem ela, — disse Scott.

— Outro amigo? — Perguntou Ash.

138
— Mais do que isso.

— A irmã?

— Ela é família, mas não, não é minha irmã. — Ele cutucou


seu braço. — Lá está ela.

— Com toda a sua glória gorda — Ryder falou.

Dee o chutou. — Não seja mau.

— Ai. Nossa. Fofinha. Eu quis dizer fofinha.

Simon deu uma gargalhada.

A grande gata malhado entrou na sala, com os olhos


amarelos, olhando a todos com desdém. Grande e pesada, ela
andava com um pouco de gingado, examinando o seu pequeno
reinado com o ar de uma rainha examinando seus súditos e os
encontrando em falta.

Olhando para Ash para avaliar sua reação, Scott a viu


sorrindo, com os olhos brilhando de alegria.

— Oh! — ela respirou. — Que gata linda!

Ryder a lançou um olhar incrédulo. — Sério?

Sorrindo orgulhosamente, Scott disse. — Essa é Tilly.

Cauda balançando, Tilly se sentou e olhou para todos.

— Levante seu prato — Scott instruiu Ash. — Ela fará uma


rodada.

— Uma rodada para quê? — Ash obedientemente levantou


o prato.
139
— Uma rodada para ver em que colo sentará.

— Você não quer dizer quebrar? — Perguntou Ryder


ironicamente. — Ai! Jesus, Dee.

— Tilly tem sentimentos, idiota.

Tilly pulou no braço do sofá ao lado de Scott, olhando-o com


doçura e batendo com a cabeça no braço.

— Ah, baby, — ele sussurrou para ela. — Não dê ouvidos ao


desagradável velho Ryder. Você é uma menina bonita.

— Eu responderia a isso — disse Ryder — Mas estou com


muito medo de que não andarei amanhã.

— Já era hora de você aprender pelo menos uma lição, —


disse Dee.

— Crianças, — disse Kirk levemente. — Companhia. Vocês


vão assustar Ash com essa briga continua.

— Espere um pouco. — Simon olhou para Tilly. — Tilly está


pronta para inspecionar as tropas.

Divertido como sempre pelo tratamento dos visitantes a sua


gata, Scott viu quando a grande gata malhada se levantou, se
esticou preguiçosamente, em seguida, desceu para o seu colo.

Sim, ela era pesada, mas tinha um casaco grosso, certo?

Tilly andou no colo de Ash cheirou seu suéter antes de


estreitar os olhos e pensar sobre isso.

140
— Não se mova ainda — disse Scott baixinho quando viu a
intenção de Ash para acariciá-la. — Tilly precisa terminar sua
inspeção primeiro e ela se irrita quando alguém interrompe sua
rotina.

— Sério? — Decepção ficou clara no rosto de Ash. — Ela é


tão bonita eu só quero apertá-la.

Scott sabia exatamente como ela se sentia, só que queria


apertar Ash — não Tilly. Ele olhou para seus amigos Kirk e Simon se
divertindo com acena. Ignorando-os, voltou sua atenção para
Ash, vendo o gosto genuíno em seu rosto, por sua gata.

— Você gosta de gatos?

— Sim.

— Ela deixará você acariciá-la depois. Ela só precisa fazer


sua ronda em primeiro lugar.

— E se você for favorecida, ela sentará em seu colo, — Del


informou.

Terminada a investigação de Ash, Tilly caminhou até o colo


de Del, onde lhe deu uma farejada de teste também. Lenta, mas
seguramente, fez o caminho ao redor do grupo, enquanto
esperavam com seus pratos levantados no ar, só os abaixando
uma vez que ela passou.

Finalmente, sentada no colo de Ryder, ela bocejou, pensou


sobre isso e, em seguida, estabeleceu-se em seu colo.

— Oh legal — Ryder lamentou. — Agora terei alfinetes e


agulhas.
141
— Não se preocupe, querida. — Kirk sacudiu suas pestanas.
— Eu massagearei suas pernas viris antes de levantar-se.

— Eu não posso esperar.

— Ou eu poderia fazê-lo — Dee ofereceu docemente. — Eu


sei que você gosta de uma vida difícil.

Ryder brilhou a Dee um sorriso súbito por cima do ombro.

— Você me ama!

Dee olhou para ele por alguns segundos antes de levantar


uma sobrancelha.

— É o que você pensa?

— Eu sei. — Ainda sorrindo, ele olhou para a gata enrolada


em seu colo. — Todas as mulheres amam. Até mesmo essa gata
não resiste a mim.

Balançando a cabeça, Dee levou uma mordida de pizza.

— Agora que Sua Majestade tomou seu trono, que tal


começar este filme? — Kirk sugeriu.

— Boa ideia. — Del pegou o controle remoto.

— O que assistiremos? — Ash perguntou.

— Escolha dos meninos esta noite. Ryder queria Flores de


aço, mas — oh, Ryder, isso é rude.

Ash riu do dedo médio estendido de Ryder, sem sequer se


virar para olhar para Del.

142
— O primeiro é ―Halloween‖ — Kirk informou a Ash. — Espero
que esteja tudo bem com algum horror.

— Não se preocupe. — Ash assentiu.

Scott se perguntou se ela estava apenas sendo educada,


mas como não deu quaisquer objeções, ele se acomodou para
apreciar o filme.

Acima de tudo, ele gostava de ter Ash ao seu lado. Por


causa da proximidade de todos eles no sofá, sua coxa estava
pressionada na dele, o cheiro dela provocando seus sentidos e
seu calor parecia deslizar através dele.

Pense em um gostinho do céu.

Apenas metade da atenção de Ash estava no filme. O


grupo de pessoas era verdadeiramente agradável. A trouxeram
para o grupo facilmente, incluindo-a em suas observações, como
se fosse amiga deles há muito tempo, ao invés de apenas tê-los
conhecido recentemente.

Principalmente, estava extremamente consciente de Scott


sentado ao seu lado. O músculo duro de sua coxa estava
pressionado nela, seu braço roçando no dela quando se inclinava
para para pegar mais pizza.

Várias vezes se assustou quando uma parte do filme a pegou


de surpresa, a tensão que construiu com as cenas de terror a

143
dominando e, cada vez que se assustou, sentiu Scott pressionando
brevemente a coxa ou o braço com mais força nela como se em
segurança. De certa forma, foi bom, especialmente quando ele
bateu seu ombro no dela para sussurrar em seu ouvido. — Assista a
isto, Simon derrubará sua bebida. — Com certeza, a heroína do
filme gritou e Simon, tão absorto, estremeceu e uma chapinhada
da cerveja clara sobre o vidro respingou em seu colo.

Todos riram enquanto Simon xingava bem-humorado e Kirk o


entregou um guardanapo.

Tilly olhou com desgosto para Simon, que estava sentado ao


lado de Ryder no chão, e levantando-se, andou ao redor do sofá
e saltou no braço, ronronando quando Scott a acariciou
suavemente. Com os olhos fixos em Ash, atravessou as coxas de
Scott para cair feliz no colo de Ash, onde começou a olhar ao
redor com os olhos semicerrados.

Lentamente, Ash acariciou ao longo das costas de Tilly,


recompensada por seu ronronar.

— Você foi honrada. — A respiração de Scott estava quente


em sua bochecha.

Sua cabeça estava perto enquanto falava baixinho, de


modo a não interromper o filme. Virando a cabeça, ela olhou em
seus olhos. — Estou?

— Ela só escolhe certas pessoas para se sentar. Algo em


você é especial. — Seus olhos fixos nos dela, parecendo conter
uma mensagem.

— Eu não penso assim. — Ela sorriu.


144
Seu olhar baixou para sua boca, permaneceu um pouco
antes de levantar para encontrar o seu olhar mais uma vez.

— Eu penso.

Tão perto, sua respiração era agora quente em seus lábios,


passando levemente por ele e deixando um formigamento,
embora não tivesse fisicamente a tocado. Espere, isso foi um
lampejo de calor em seus olhos? Um brilho de desejo?

Seus olhos arregalaram, ele piscou e foi embora, seu olhar


apenas caloroso e amigável. Sua imaginação corria selvagem.

Aturdida, procurando esconder, Ash olhou de volta para Tilly.


— Ela é uma gata adorável.

Como ele não a respondeu, olhou-o de soslaio para vê-lo


observando-a. Lentamente, um pequeno sorriso em seus lábios se
formou e ele olhou para a TV.

Tinha que ser a sua imaginação. Jesus, ele não estava


insinuando nada a ela, certo? Ele estava apenas sendo simpático,
disse a si mesma. Ele era um cara legal.

Que fez seu coração bater um pouco irregular.

Ok, a sensação dele ao seu lado era quente, ele transpirava


segurança e ela podia cheirar o dia todo. Ela não podia culpar
Tilly para dar-lhe uma boa cheirada, o homem cheirava muito
bem — sabão, colônia fraca, todo homem. Se não tomasse
cuidado, provavelmente enterraria o nariz em seu casaco e
inalaria profundamente.

145
Esse pensamento a fez sufocar uma risada e quando ele
olhou interrogativamente para ela, apenas sorriu e olhou de volta
para o filme. Jesus, ela precisava se controlar. Se ele adivinhasse
seus pensamentos, pensaria que era louca. Isso acabaria com
qualquer amizade.

Pensamento preocupante. Dizendo a si mesma com firmeza


para não ser uma tola, Ash focou no filme.

Depois que o filme terminou, todos deram a sua avaliação


pessoal. Não muito tempo depois, como era tarde, todos se
prepararam para ir embora. Foi uma noite agradável.

De pé na porta da sala de estar, Ash viu Scott pegar os


capacetes. Não parecia justo que precisasse deixar o calor de sua
casa apenas para levá-la de volta para a pensão.

— Scott. — Ela tocou em seu braço.

Ele olhou para ela, os olhos quentes. — Sim?

Aquele olhar fez seu estômago contorcer um pouco.

— Talvez alguém possa me dar uma carona...

Suas sobrancelhas se arquearam em surpresa. — O quê?

— Eu apenas pensei que talvez alguém pudesse me dar uma


carona.

— Alguma coisa errada?

— Não, não há nada de errado.

146
Ele olhou para onde seus amigos estavam conversando e
rindo perto de seus veículos antes de voltar sua atenção para ela.
— Existe um problema em te levar para casa?

— Problema? — Era a sua vez de estar surpreendida. — Não,


não há nenhum problema. — Quando apenas continuou a olhar
pacientemente para ela, ela explicou, — É que você já está em
casa e alguém poderia me levar para não te atrapalhar. Estou
apenas tentando te salvar a viagem.

Aquele sorriso fácil em seus lábios, fez com que as rugas nos
cantos dos olhos aparecessem — Não se preocupe, não é
nenhum trabalho.

— Mas você já está em casa...

Em um movimento inesperado, ele colocou levemente o


dedo contra os lábios dela, parando seus protestos.

— Eu quero te levar para casa, Ash.

A maneira como disse isso a aqueceu; o jeito como a olhou,


como se fosse a única mulher no mundo naquele segundo a fez se
sentir especial.

Mas então, disse a si mesma com firmeza, Scott parecia ter


um jeito de fazer com que todos se sintam especiais e seguros. Ele
está apenas sendo gentil com você, é da sua natureza.

— Se você tem certeza, então obrigada.

— Oh, eu tenho certeza. — Ele piscou. — Muita certeza.

Lá se foi outra vez, seu estômago fazendo um alerta idiota.

147
Pegando o capacete da mesa do corredor, ele entregou a
ela antes de colocar a mão em suas costas.

Por incrível que pareça, Ash realmente esperava por isso. O


toque que se tornava tão familiar em tão pouco tempo. Um toque
que era ao mesmo tempo quente e reconfortante. Deus, Scott
tinha o gesto de proteção corretamente.

Ele a conduziu, parando para fechar a porta de madeira e a


tela de segurança. Enquanto isso, ela rapidamente saiu da
varanda e disse adeus aos outros que estavam se aglomerando
nos dois carros.

Scott foi ao seu lado e lá estava de novo, sua mão grande


em suas costas enquanto dava boa noite aos amigos. Ele a guiou
para a garagem e ela se achava sempre uma espécie de boba
para cair tanto nele, Ash não podia evitar, mas secretamente
deleitava-se com seu toque.

O que havia nele que a fez se sentir tão segura? Sozinha na


garagem com ele, deveria ter sentido algo, mas, no entanto, o
homem alto e de ombros largos, tinha uma confiança tão
tranqüila, um comportamento tão amigável, que não podia
deixar de ser atraída por ele.

Parando ao lado da moto, Scott saiu do seu lado para ficar


na frente dela, tomando o capacete de suas mãos para ajustá-lo
cuidadosamente sobre sua cabeça, passando a correia e se
afastando com um pequeno sorriso.

— Aí está Ash. Eu preciso dizer, você realmente não faz o


gênero de motoqueira ruim.
148
Ela inclinou a cabeça para o lado. — Não?

— Não. Na verdade, você é a motoqueira mais doce das


redondezas. — Estendendo a mão, ele tocou levemente em seu
nariz. — Agora que você faz bem.

— Bem... hum... obrigada.

Rindo, colocou o capacete antes de jogar a perna por cima


da moto, montando-a facilmente. Ele chutou o apoio e ligou a
moto, o rugido enchendo a garagem e fazendo-a estremecer.

Mas o medo não estava lá desta vez. De fato, aproveitou o


passeio. Isso a surpreendeu, a sensação de liberdade com a moto
e, especialmente, a sensação do corpo forte a que se agarrou,
que lidava com a grande moto com facilidade e movimentos
especializados. Controlar a moto grande, mantendo-a segura, isso
a fez sentir-se protegida.

Realmente teve alguns pensamentos estranhos nesta noite.


Balançando a cabeça, viu que a olhava interrogativamente. —
Só pensando em algumas coisas.

— Tudo bem?

— Sim.

— Então suba querida, e segure firme.

Em poucos minutos andavam ao longo da estrada, o vento


chicoteando por eles. O corpo de Scott na frente do seu a
protegia do frio, o calor de seu corpo a aquecia e ela se permitiu
o luxo de estar e de se aconchegar perto, enquanto abraçada

149
nele, respirando o cheiro combinado de ar fresco e sua jaqueta
de couro.

Quando ele parou na frente da pensão realmente se sentiu


decepcionada. Considerando seu passado, ela deveria estar
aliviada. Na verdade, nunca deveria ter subido em uma moto em
primeiro lugar, mas estava tão feliz que tivesse feito isso agora.

Ela saiu da moto e desamarrou o capacete, olhando com


curiosidade, enquanto Scott fazia o mesmo. Ela esperava que ele
a deixasse e fosse embora, mas ele colocou aquela grande mão
conhecida na base de suas costas e conduziu-a aos degraus da
porta da frente.

— Tem a chave? — Ele perguntou em voz baixa.

— Tenho aqui. — Ela a tirou para fora de seu bolso.

Tomando-a dela, abriu a porta e deixou-a aberta, dando a


chave novamente para ela.

Quando ela entrou pela porta, ela olhou para ele, a sua
proximidade não produziu o alarme que a perseguia há muito
tempo.

— Obrigada por esta noite. Foi muito divertido.

— Fico feliz que você tenha desfrutado. — Ele estudou seu


rosto. — Você parece mais feliz.

— Eu? — Surpresa, ela percebeu que ele estava certo.

— Sim, você parece. — Ele se inclinou para baixo. — Ash?

150
Pensando que diria algo que não quisesse que mais ninguém
ouvisse, ela não recuou. — Sim?

— Estou feliz que você esteja feliz. — E ele a beijou.

Era leve, breve e tocou-lhe a sua alma. A fugaz suavidade


de seus lábios quentes acariciando os dela, a pressão menor que
os seus lábios se encontraram, e depois acabou.

Ela ficou em um silêncio atordoada, o estômago agitado,


mas não em pânico quando Scott colocou a mão em suas costas
e gentil, mas firmemente a empurrou pela porta.

— Boa noite, Ash, — disse suavemente, fechando a tela de


segurança antes de virar e caminhar pela varanda e descer os
degraus.

Com as pontas dos dedos contra seus lábios, Ash só podia


observar com espanto até que as luzes da moto desapareceram.
Oh meu Deus, ele me beijou. Na verdade, ele me beijou. Uma
onda de arrepios correu em seus braços com a lembrança do
beijo, um beijo tão doce, com a promessa de chuva de
primavera, tão quente como a luz do sol de verão, que tinha o
poder de agitar o fundo de seu estômago até que a sensação de
despertar o prazer, deixou-a respirando profundamente.

Agitando as mãos, fechou e trancou a porta de madeira


antes de caminhar pelo corredor mal iluminado para o quarto
dela. Entrando, foi até a cama, sentou-se e passou os seus dedos
mais uma vez a sua boca.

Scott Preston tinha a beijado. O galã bombeiro tinha


realmente a beijado, pequena e gordinha — Ashley Smythe.
151
A danificada Ashley Smythe. Há um ano atrás, naquela noite
que tudo havia mudado, mas que deixou uma impressão
duradoura sobre o seu corpo e mente. Nem uma única vez desde
aquela maldita noite quis sentir o corpo de outro homem contra o
dela, mas esta noite ela se divertia com ele, por mais inocente e
necessário na parte traseira de uma moto. Desde aquela noite ela
jamais quis se aproximar de uma moto, muito menos sentar em
uma abraçando o motoqueiro.

As coisas poderiam mudar tanto e tão rápido em tão pouco


tempo? Não estava certo. Estava?

Apoiando os cotovelos nos joelhos, Ash se inclinou e passou


as mãos pelo cabelo antes de aconchegar suas bochechas
quentes nas mãos. O que estava acontecendo com ela? Algo
realmente estava acontecendo? Ou era apenas uma fase?
Certamente Scott não tinha intenção — não poderia ter a
intenção — de persegui-la? Talvez o beijo fosse apenas um beijo
amigável e ela estava pensando demais nisso. Talvez fosse apenas
o jeito de Scott.

Talvez só estivesse com medo de olhar mais longe. Sua


confiança foi quebrada naquela noite, levou algum tempo para
chegar a este ponto. Especialmente com as lembranças que
acompanhavam, aquelas lembranças ainda a faziam tremer de
medo e nojo.

Xingando, Ash ficou de pé, arrancando suas roupas. Sentar


ali deixando pensamentos perturbadores passarem pela sua
mente não garantiria uma noite tranqüila e ela precisava
descansar para o trabalho no dia seguinte.
152
Isso quer dizer que você não quer pensar no que isso tudo
pode significar. Seu subconsciente a cutucou.

— Isso não significa nada — murmurou em voz alta. — Ele


está apenas sendo gentil. Não consigo pensar em qualquer outra
coisa.

Covarde.

Descontente, com as emoções ainda confusas, colocou


uma camisola e caiu na cama e sentiu algo quente já a
ocupando. Com um grito abafado, jogou as roupas de cama,
levantou-se e viu sonolentos olhos verdes.

— Oscar? — Com o coração batendo acelerado, Ash


fechou os olhos. — Você quase me deu um ataque cardíaco!

O grande gato cinzento bocejou e piscou.

Lembrando como era tarde, segurou a respiração, no caso


de ter acordado alguém com seu grito, porém abafado. Soltou
um suspiro de alívio quando ninguém bateu à sua porta.

Olhando para Oscar que, obviamente, não tinha a intenção


de se mover, ela deitou novamente na cama, com cuidado para
não o perturbar, embora fosse difícil pela maneira que mal se
importou com a sua saída de pânico da cama. Puxando as
cobertas sobre os dois, Ash pegou o livro na gaveta do criado
mudo e recostou-se para ler.

Foi uma ótima maneira de afastar seus pensamentos


perturbadores de sua mente, o calor de Oscar em suas pernas sob
a colcha deu um conforto que recebeu com gratidão.

153
Mas a noite não foi livre de problemas. Ela acordou nas
primeiras horas da manhã de um pesadelo que não teve por
meses, o medo apertando seu coração e as lágrimas em seu
rosto.

Deitada de costas, olhou para o teto escuro e se perguntou


se ficar em Gully‘s Fall tinha sido uma decisão sábia, afinal.

De manhã cedo a sexta-feira a saudou com o cheiro de


fumaça no ar, querendo saber se o incêndio do dia anterior tinha
novamente se alastrado. Espiando pela janela, não conseguia ver
nada, mas o cheiro era uma preocupação. Menina da cidade ou
não, sabia o quão destrutivo as queimadas poderiam ser, quão
devastadoras para casas, animais e vidas.

Envolta em um roupão, pegou seu nécessaire e se dirigiu


para um dos dois banheiros, no final do corredor. Agradecida por
encontrar um vazio, tomou banho rapidamente e se vestiu para o
trabalho. Com as coisas na mão, abriu a porta do banheiro para
ficar cara a cara com Brian, a outra única pessoa hospedada na
pensão.

— Oh, me desculpe. — Brian ficou de lado com a toalha e


nécessaire na mão. — Parece que chegou antes de mim.

— Trabalho — Ash explicou brevemente, não se sentindo


totalmente confortável com ele.

154
— Oh sim. Eu consegui alguns trabalhos por algumas
semanas em uma fazenda local. — Brian sorriu.

— Você não vai para o Território então?

— Assim que terminar na fazenda, eu volto lá. Sempre foi o


plano.

— Boa sorte.

— Obrigado. — Ele deu um passo para trás quando ela


passou por ele. — Será que você sentiu o cheiro da fumaça
quando acordou esta manhã?

— Sim. É uma preocupação. Você sabe o quão longe o fogo


está?

Brian balançou a cabeça.

— Eu saí para uma caminhada de manhã cedo e vi o


caminhão de bombeiros passando acelerado. Vi fumaça ao
longe, mas não cheguei a ver nenhum fogo. Esperemos que isso
não seja tão ruim.

Querendo saber se Scott estava na chamada, Ash voltou


para o quarto para deixar suas coisas e pendurar a toalha sobre a
prateleira na parte de trás da porta antes de ir para a sala de
jantar tomar o café da manhã.

Julia já colocava um prato de torradas no meio da mesa, um


casal chegou bocejando e tomaram seus assentos em frente à
Ash.

155
— Brian disse que houve um incêndio em algum lugar por
perto. — Jess pegou algumas fatias de pão.

— Aparentemente, alguma esfoliação perto de uma das


fazendas está em chamas. — Julia balançou a cabeça. — Terrível
coisa para acontecer.

— Você precisa de ajuda? — Ash perguntou, quando Julia


voltava para a cozinha.

— Não, obrigada, querida. Eu trarei o bacon e ovos mexidos.


— Julia desapareceu pela porta.

Mark passou manteiga em sua torrada, com uma careta no


rosto. — Nós iríamos sair esta manhã, mas acho que seria melhor
ligar para o corpo de bombeiros e ver exatamente onde o fogo é.

— Boa ideia — sua esposa concordou. — Nós não queremos


ir diretamente para isso.

Ao entrar na sala, Brian tomou a cadeira ao lado de Ash. —


Falando sobre o fogo?

— Meio difícil não falar — respondeu Mark.

— É verdade.

— Você tem alguma ideia de onde é? — Perguntou


Miranda. — Vii você andando muito cedo esta manhã.

Brian encolheu os ombros. — Eu vi o caminhão de bombeiros


ir em direção ao leste e é de lá de onde a fumaça vinha, eu diria
que foi nessa direção.

156
Sua resposta soou bastante sarcástica, fazendo Ash olhar em
sua direção.

Mark franziu o cenho antes de olhar para sua esposa. — Vou


ligar para o corpo de bombeiros de qualquer maneira. É melhor
prevenir do que remediar.

Julia entrou carregando uma bandeja com dois pratos


cobertos que ela colocou sobre a mesa.

– Bacon e ovos, todos. Agora, a alguma outra coisa que


precisamos?

— Eu acho que isso é o bastante. — Ash sorriu para ela. —


Sente-se, Sra. Preston.

— Julia, querida. Todo mundo me chama de Julia. — Dando


um tapinha amigável na mão de Ash, Julia olhou ao redor da
mesa. — Todos estão bem?

Houve um murmúrio de consentimento.

— Ótimo. Agora, então, querida. — Julia passou manteiga


na torrada enquanto olha para Ash. — Quais são seus planos para
o dia?

— Trabalho.

— Claro. Quase me esqueço. Geralmente as pessoas ficam


aqui de férias, não durante o trabalho. — riu.

— Isso me lembra. — Ash hesitou. — Você tem alguém


reservado para o meu quarto na próxima semana?

157
— Não. — Um flash de consternação atravessou o rosto de
Julia. — Você não está pensando em sair, não é?

— Oh, não. Eu realmente não olhei nenhum lugar para


alugar e queria saber se poderia ficar aqui por mais algum tempo.

Julia praticamente gritou. — Claro, querida, adoraria que


ficasse mais tempo. Quanto tempo você gostaria de reservar o
quarto? Um mês?

— Oh, bem... — Surpresa, Ash pensou nisso. — Se estiver tudo


bem para você... Eu ainda estou em experiência com Ben.

— Experiência? — Julia parecia horrorizada. — Ele te colocou


em experiência?

— Eu acho que sim, ele não disse realmente. A maioria dos


empregadores tem um período de experiência.

— O homem seria um idiota se deixar você ir. Eu escutei o


quanto de trabalho que você tem feito naquele poço que ele
chama de recepção.

As sobrancelhas de Ash levantaram. — Ele disse isso?

— Não, querida, Ben não diria uma palavra, mas eu tenho


ouvidos. — Pegando o prato de bacon, Julia entregou a Ash. —
Tome um pouco e passe isso ao redor.

Sentindo-se um pouco como estava acostumada a sentar à


mesa de sua mãe, Ash fez como ordenado, levando várias peças
antes de entregar o prato para Brian. Mal ela fez isso os ovos
mexidos foram passados para ela, então ela fez o mesmo. Os

158
pratos fizeram as rondas na mesa antes de ser colocados, agora
vazios, de volta na mesa.

— Então, este fogo. — Brian espetou alguns ovos em seu


garfo. — Quão rápido essas coisas vão nesse tipo de cidade de
qualquer maneira?

— Sendo primavera ainda não é muito seco, por isso espero


que não muito longe. — Julia pegou sua xícara de chá. — Agora,
se fosse verão, isso seria outra história.

— Mas ainda iria longe, certo? – Miranda olhou preocupada


para o marido.

— Depende de quão fora de controle estava antes de ser


descoberto. — Respondeu Mark. — Eu estou me perguntando se
algum idiota acendeu fogueiras.

Julia olhou para ele. — Você acha isso?

— Primeiro o incêndio do acampamento, então este? — Ele


balançou a cabeça. — Faz você pensar.

— Especialmente quando os agricultores são tão


cuidadosos. — Acrescentou Ash. — A maioria das pessoas do
campo são os mesmos.

— Incendiário. — Brian colocou um cotovelo na mesa. —


Você acha que poderia ser um incendiário?

— Tudo é possível.

— Talvez eu veja se os bombeiros precisam de alguns


voluntários.

159
— Você fez combate a incêndio voluntário antes? — Julia
consultou.

— Um pouco. Vivendo em fazendas e estações, você se


depara com incêndios. Eu ajudei a combater alguns deles.

— Bem, você pode pedir ao diretor da Estação. Esperemos


que o fogo tenha sido apagado por agora e não sejam
necessárias mãos extras. Além disso, eles têm poucos bombeiros
voluntários.

— Hummm — Brian franziu o cenho. — Vou até lá mais tarde


de qualquer maneira, conversar com eles.

— Tenho certeza de que apreciam a ajuda se precisar. —


Julia sorriu.

Não demorou muito para que Ash caminhasse em direção à


cidade, depois de educadamente recusar a oferta de uma
carona de Brian. No entanto, Del parou ao lado dela quando
estava na metade do caminho.

— Suba — disse Del. — Eu te deixo lá.

— Obrigada. — Ash apertou o cinto de segurança, mal


conseguindo fazê-lo antes de Del estar de volta na estrada. —
Você já soube alguma coisa sobre o fogo?

— Acho que foi apagado. Eles vão apenas se certificar de


que não haja brasas que poderia acender novamente.

— Algum animal ferido?

160
— Não, graças a Deus. — Del fez uma careta. — Nada pior
do que ovelhas se queimando. As coitadas ardem e cozinham,
não morrem imediatamente.

Ash estremeceu a imagem que veio à mente deixando-a


doente.

— Sinto muito. — Del olhou para ela com preocupação. —


Merda, não devia ter dito isso. Você está bem?

— Eu estou bem.

— Menina da cidade. Acho que ainda não viu o que


acontece depois de um incêndio.

— Só o que está no noticiário da TV.

— Confie em mim, é cem vezes pior quando você está fora,


no rescaldo.

Ash percebeu que o caminhão de bombeiros não estava à


vista, quando passavam pela estação de bombeiros.

— Você já passou por algum, suponho.

— Passei por dois, nunca mais quero fazer isso novamente. —


Ela fez uma pausa. — O engraçado, embora. Incêndios causados
pela natureza — você sabe, pelo sol ou raios — isso eu posso lidar.
Mas incêndios deliberadamente, acesos ou causados por
negligência, estes realmente me assustam, sabe?

— Entendo.

161
Elas continuaram o resto da curta viagem em silêncio, Del a
deixou na frente da oficina com um alegre — Vejo você na hora
do almoço em Dee.

Entrando na área da recepção da oficina, Ash olhou através


da porta de entrada da oficina e viu Ben com uma garrafa de
óleo em uma das mãos.

— Bom dia, Ben.

Ele olhou para cima.

— Oi, Ash.

— Eu acho que estou quase pronta para começar a


trabalhar corretamente. — Em seu olhar vazio, ela explicou, — O
arquivo está atualizado e quase tudo está onde deveria estar. Eu
só preciso me acostumar com a forma como você faz as contas e
os programas de computador e estarei pronta.

— Bom.

Vendo que isso era tudo o que ele diria, Ash mordeu os lábios
e voltou para a recepção. Ela meio que se perguntou se o irritava,
mas ele era um homem de poucas palavras. Tudo o que podia
fazer era garantir que fizesse bem o seu trabalho. Curiosamente,
notou que gostava de trabalhar na oficina de reparação de
automóveis, embora, para ser justo, ela não tinha feito muito
atendimento ao público, Ben preferia que ela organizasse o
arquivo e fizesse a limpeza primeiramente. Mas agora estava
quase tudo pronto, estava pronta para trabalhar com ele e com
os clientes.

162
Na hora do almoço queria saber se pegaria o jeito em tudo.
Ben deixou atender os telefonemas, mas precisava sempre pedir
orientação sobre reservas de carros ou máquinas agrícolas, sem
saber quanto tempo cada levaria a fazer.

Sentia-se como uma tola após a quinta vez que precisou ir


até a oficina para falar com ele.

— Sinto muito, Ben. Eu prometo que melhorarei.

Ele apenas deu-lhe um olhar duro. — Você pegará o jeito.


Maryanne também levou algum tempo, então suponho que não
será muito diferente com você.

Não tendo certeza se isso foi um elogio, uma garantia, ou


qualquer outra coisa, Ash só pode dar-lhe um sorriso fraco.

Ele pegou uma chave e voltou para o carro com o capô


aberto. — Venha a mim com cada consulta. O único burro é
aquele que não pergunta.

— Ok.

— Depois de algum tempo ele afundará. — Ele não olhou


para ela, mas inclinou-se para a tarefa em mãos. Quando ela
pairava incerta, ele olhou para ela. — O quê?

— Hum... O carro de Sam Harvey?

— Ah, certo. Diga para trazê-lo às oito horas na terça de


manhã.

— Oito horas?

— Algo de errado com isso?


163
— Eu não chego aqui até às oito e meia.

— E?

Agora, ela se sentia ainda mais estúpida.

— Você quer que entre as oito em vez disso?

— Por que eu iria querer isso?

— Para estar aqui quando os carros chegarem?

Apoiando as mãos no carro, Ben olhou bem nos seus olhos.

— Estou me acostumando a ter ajuda aqui de novo, você


está indo bem. Ok?

Querendo saber aonde isso ia, Ash assentiu.

— Mas gostaria de ficar a primeira meia hora aqui sozinho. Eu


giro, me arrumo, verifico as reservas para o dia e tenho algum
tempo de silêncio antes das outras pessoas chegarem.

— Mas Sam chegará às oito horas, — Ash apontou.

— Tem razão.

Estava na ponta da língua pedir desculpas e voltar para o


escritório, longe da carranca no rosto de Ben, mas lembrando o
que ele disse sobre a honestidade, ela endireitou os ombros. — Se
Sam trará seu carro as oito, você não estará sozinho para mexer,
né?

Ele se endireitou e Ash teve uma súbita e forte sensação de


que ela perderia seu trabalho. Com a face inescrutável, a olhou
de cima abaixo.
164
Interiormente tremendo, exteriormente composta, ela
encontrou seu olhar.

— Tem razão — finalmente disse. — Mas ainda é o meu


tempo. Se eu quiser que as pessoas venham às oito horas, eu direi
a elas. Ok?

— Tudo bem. — Agora estava envergonhada.

— Você está ficando vermelha?

— Está mostrando?

Ele riu de repente. — Vai ficar tudo bem, garota. — Ele se


inclinou para trás sob o capô. — Vá almoçar e se não se importar
traga alguns sanduíches do café em na volta. Basta dizer para
Cheryl colocar em minha conta.

Obviamente Ben não ficou bravo com ela, então se sentindo


um pouco melhor, Ash voltou para o escritório, determinada a
cuidar da própria vida um pouco mais e não o questionar. Ele
tinha lhe dado os horários de trabalho e, a menos que dissesse a
ela de forma diferente, ela só chegaria e sairia na hora certa. Tudo
o que ele queria fazer antes e depois era problema dele.

Sentindo-se melhor, pegou sua bolsa pequena e caminhou


para o café, pegando um pequeno recipiente de saladas e
carnes frias para si e sanduíches para Ben antes de seguir para o
quiosque. Del estava trancando a porta da loja e ela seguiu Ash a
banca de Dee.

— Como está o trabalho? — disse Dee ligando a chaleira na


pequena cozinha de armazenamento na parte de trás da loja.

165
— Ainda me adaptando. — Ash gostava das primas, mas
ainda não as conhecia bem o suficiente para confiar.

Dee desembrulhou seus sanduíches. — Aproveitou a noite


passada?

— Foi muito divertido. Obrigada por me convidar.

— Nós achamos que você gostaria. — Del olhou para ela. —


Era tarde demais para você?

— Hein...?

— Você parece cansada esta manhã.

— Eu não dormi muito bem na noite passada. — Ash passou


brevemente um dedo sobre os olhos. — Estou com olheiras?
Sempre fico com olheiras quando me canso.

— Apenas uma leve sombra. Posso emprestar-lhe um


corretivo, se quiser.

— Está tão ruim assim? — Ash ficou horrorizada.

— Não, não é. — Dee deu uma mordida em seu sanduíche.


— Então, pesadelos?

Ash pensou que sua nova amiga de alguma forma sabia


algo, até que entendeu que falava sobre o filme de terror.

— Não. Não tenho problemas com filmes de terror.

— Então, o que a manteve acordada?

— O excesso de ar fresco? — Del piscou.

166
— Andar de moto fará isso para você. — Dee fez uma
pausa. — Especialmente na garupa de Scott.

Ash não conseguia deixar de ficar vermelha. — Não, não foi


isso.

— Se não foi um pesadelo e não foi o passeio de moto,


então talvez os sonhos fossem mais quentes? — Del olhou de
soslaio.

— Podemos mudar de assunto?

— Oh não, temos um local dolorido. — Del ria ainda mais. —


Ou um pulsante?

Determinada a arrancar as provocações pela raiz antes que


ficasse fora de controle, Ash respondeu com firmeza.

— Eu apenas estava com um pouco de saudade.

Isso acalmou as mulheres imediatamente.

— Você quer ir para casa? — Dee perguntou sua expressão


levemente consternada. — Você não vai, não é?

— Não, eu não vou.

— Graças a Deus por isso.

Sentindo-se instantaneamente feliz por esse comentário, Ash


sorriu. — Você sentiria tanto a minha falta?

— Porque só teria Del para provocar e ela não morde muito.

— Não como Ryder. — Del rebateu.

167
— Ryder tem o meu bode. Vamos deixá-lo fora dessa agora.
— Dee virou-se para Ash. — Então conte-nos um pouco sobre
você, Ash.

Isto aconteceria mais cedo ou mais tarde, Ash apenas


esperava que fosse mais tarde. Mas não responder agora seria
muito suspeito. Além disso, não era como se tivesse alguma coisa
a esconder... Ela simplesmente não tinha que contar-lhes tudo.

— Não há muito a dizer, realmente, — disse ela. — Eu cresci


na cidade em NSW, trabalhei em alguns ramos diferentes —
recepcionista em um motel, caixa em um banco e como
assistente de atendimento em um hospital. Queria fazer algo
diferente, então saí e vi alguns lugares antes de finalmente acabar
aqui.

— Você percorreu toda essa distância aqui para Oeste de


Aussie por si mesma? — Dee perguntou.

— Bem, para ser sincera, não sabia que eu viria até aqui.

— Você não tinha um plano? — Del perguntou curiosa.

Hora de ter cuidado. — Estava à procura de algo e este


lugar me agradou.

— Ainda assim, não conheço uma mulher sozinha, que faz as


malas e dirige até chegar a um lugar que queira ficar.
Normalmente elas têm um trabalho quando fazem isso.

Empurrando a alface com um garfo de plástico, Ash deu de


ombros. — Foi tudo bem. A viagem foi muito terapêutica.

Houve silêncio por alguns segundos antes de Del perguntar.


168
— Foi um cara?

Ash conseguiu sorrir. — Por que seria um cara?

— Eu estava pensando, coração partido. Você sabe, você


não suporta mais vê-lo por perto e decidiu ir para outro lugar.

— Isso é estúpido — afirmou Dee. — Por que deixar um lugar


só porque algum idiota fez algo errado?

— Você está ouvindo músicas country novamente, não é?

— Ei, você é a única trazendo à tona a coisa velha de


―homem fez a coisa errada e a mulher fugiu‖.

Del mostrou o dedo do meio.

— É incrível que você tenha terminado e decidiu encontrar


uma nova vida. — Descansando o cotovelo na mesa, Dee olhou
para sua metade de sanduíche comida. — Pegar a estrada
aberta e apenas dirigir. Isso requer coragem.

— Para ser honesta, eu tinha uma retaguarda — Ash


confessou.

— Ah, é?

— Minha melhor amiga, Elissa.

— Ela veio com você? Será que ela a deixou em algum


lugar?

— Não, ela ficou em NSW, mas eu tinha que ligar para ela
todas as noites. Ela me acompanhou. Dessa forma, se algo desse

169
errado ela saberia mais ou menos onde estava. Foi a única razão
para que me deixasse ir sozinha.

Levantando-se, Del jogou água quente em três canecas.

— Não é como se ela pudesse impedi-la, não é?

— Você não conhece Elissa. — E elas também não sabiam


as circunstâncias, mas Ash não tinha a intenção de dizer-lhes.

— Acho que é isso que melhores amigas são. — Dee olhou


para Del. — Ao contrário de algumas que nos deixam à mercê de
idiotas.

— Ei, você tinha um pneu furado e vi Ryder parar para


ajudá-la. Por que deveria encostar também?

— Não pense que não vi você rindo enquanto passava.


Cadela.

Colocando leite e açúcar nas canecas, Del sorriu feliz. —


Uma dessas memórias que permanecem com você para sempre.

Ouvindo as primas se provocarem mutuamente e rir, Ash


sentiu um desejo repentino de ouvir a voz de Elissa e resolveu ligar
para ela naquela noite.

O resto da tarde foi silenciosa, apenas dois clientes que


ligaram para pegar seus carros. Ambos comentaram sobre o fato
de que Ben finalmente contratou uma recepcionista.

— Acho que ele ouviu coisas boas sobre você, — disse um


dos homens, um agricultor mais velho com um rosto enrugado e
sorriso escasso. — Ben não contrata sem conhecê-las.

170
Ela apenas sorriu.

— Deve ter vindo com boas referências.

Ben entrou naquele momento, seu olhar indo dela para o


agricultor.

— Você está novamente tagarelando, Todd?

— Só estou dizendo a forma como você é normalmente


exigente com seus funcionários, Ben.

— Eu sei o que faço. — Ele sacudiu a cabeça na direção da


oficina. — Venha aqui e passarei a conta com você, mostrando o
que fiz.

Ash os viu passar pela porta. Agora, isso era um quebra-


cabeça maior. Por que Ben a contratou, uma perfeita estranha,
quando era óbvio que só contratava pessoas que conhecia ou
que vinham com boas referências? Ela não tinha referência, tinha
ido verificar o seu carro e ele perguntou se ela tinha experiência
de recepção. Ela teria esquecido a coincidência exceto que Todd
não foi a primeira pessoa que havia mencionado a estranheza.

Olhando fixamente para a tela do computador, cogitou


perguntar a Ben por que a contratou; mas, lembrando de suas
palavras naquela manhã, decidiu que esperaria até que o
conhecesse melhor. Certamente não queria prejudicar seu
trabalho ou fazê-lo pensar que queria elogios. Jesus, talvez a
contratou porque achou que parecia boa ou era o momento
certo ou algo do tipo. Nossa, quão patético isso soa até mesmo
para os próprios ouvidos?

171
Agora que pensava nisso... Ash mordeu o lábio inferior. Ela
estava fazendo uma tempestade em um copo d‘água?

Ela precisava de alguém para conversar. Merda,


definitivamente ligaria para Elissa esta noite.

172
Capítulo Cinco

No caminho para casa, Ash parou no supermercado para


comprar algumas coisas. Estava tranqüilo, apenas alguns clientes
na loja. Ao observar as escolhas de sabão, ouviu seu nome ser
mencionado. Surpresa, olhou para cima e viu dois homens
caminhando pelo corredor até que pararam ao seu lado, sem se
preocuparem em baixar as suas vozes. Ambos pareciam ter vinte
e poucos anos e usavam camisetas e calça jeans.

— É ela — disse o homem de cabelos escuros. — A nova


garota, Ash Smythe.

— A que Preston sentiu pena. — O homem de cabelos


castanhos lançou lhe um olhar.

Rapidamente, Ash olhou novamente para os sabonetes na


prateleira, mas não conseguiu se afastar. Em vez disso, fingiu não
escutá-los enquanto os ouvia o tempo todo.

O homem de cabelos escuros continuou. — Scott lhe


conseguiu aquele trabalho na oficina mecânica.

— Só assim para uma mulher como ela conseguir um


emprego. — O homem de cabelos castanhos deu uma risada
irônica. — De jeito nenhum Ben a contrataria de outra forma.

173
— Ouvi dizer que ficou encalhada na estrada, o carro
quebrou ou algo assim. Os meninos tiveram que consertar seu
carro e levá-la até Ben. Que estupidez, dirigir por aí sozinha. — O
homem de cabelos castanhos tinha um sorriso em sua voz. —
Estava pedindo para ser atacada.

— Qualquer mulher sozinha na estrada pede por isso.

Ash ficou gelada. — Implorando por isso, na verdade. — O


homem de cabelos castanhos riu desagradavelmente. — Gostaria
de saber se ela deu para Scott para conseguir o trabalho...

— Ou Bem. — Ponderou o homem de cabelos escuros. —


Acha que ela deu para ele? Ele está sozinho por tanto tempo,
provavelmente aceitaria.

— Talvez ela faça favores atrás do balcão. — Os dois riram.

As palavras de ódio incomodaram Ash, trazendo de volta


lembranças que não desejava nem precisava. Não agüentando
ouvir mais, pegou um pacote de sabão e correu até o próximo
corredor, onde ficou e respirou fundo várias vezes, querendo que
suas mãos parassem de tremer.

Eles são apenas idiotas. Eles não sabem nada sobre você,
não te conhecem. Ignore-os. É problema deles, não seu.

Uma súbita presença atrás dela a fez enrijecer e começar a


se afastar, só parando quando um dos homens passou por ela e a
bloqueou.

— Oi. — O homem de cabelos castanhos a olhou de cima a


baixo. — Eu sou Jason.

174
Oh Deus, estava bêbado.

Forçando um aceno educado, Ash deu um passo para o


lado e viu o homem de cabelos negros parado ao seu lado. Muito
próximo, bastante ameaçador, com os olhos demonstrando
sarcasmo e lascívia.

— Sou Brand. — O álcool em seu hálito se espalhou no rosto


dela. — Você é nova na cidade, certo?

Oh Deus! — Desculpe-me — disse ela. — Eu estou com um


pouco de pressa.

— Ei, estamos apenas sendo educados. — Jason se inclinou


mais perto. — Já que é nova na cidade, pensávamos que gostaria
de sair para uma bebida.

Onde estava um dos lojistas? — Obrigada, mas não. Eu...

— Isso não é ser muito amigável. — Brand se aproximou dela.


— Estamos sendo amigáveis. Podemos nos divertir e tenho certeza
que você poderia devolver o.... Favor. — Ele lambeu os lábios.

Tentando não entrar em pânico, pois este ameaçava


dominá-la, Ash endireitou os ombros. Não demonstre medo.
Lembre-se, não tenha medo. Ela forçou a firmeza em sua voz,
tentou afastar o tremor. — Eu sinto muito, estou com pressa. E não,
não quero ir a qualquer lugar com nenhum de vocês. Agora, por
favor, me dêem licença...

— Tão educada. — Jason olhou para Brand. — Ela não é


educada?

175
— Será que seria tão educada se estivéssemos nos
divertindo? — Brand ri. — Eu aposto que não seria. Aposto que a
faríamos gritar.

— Talvez se tivéssemos encontrado-a na estrada, seríamos


seus amigos agora. — Jason sorriu. — Aposto que poderíamos ter
feito você gritar em alto e bom som.

A intenção maldosa das palavras serpenteava,


instintivamente fechou as mãos para esconder o medo. Ela tentou
passar novamente, parando apenas quando se deparou com
Brand.

Nenhum dos dois se moveu, o corredor estava deserto. Era a


primeira vez, desde que chegou em Gully‘s Fall, que se deparou
com um aborrecimento que a balançou, especialmente pelo que
diziam descaradamente. A última vez que tinha escutado essas
palavras... ela engoliu em seco.

— Olhe para isso, Brand. — Jason estendeu a mão para


tocar seu rosto, rindo quando ela virou a cabeça para trás. —
Essas bochechas estão pálidas.

— Aposto que a deixaríamos vermelhas. — Brand passou


uma mão pelo seu braço, seu hálito carregado de álcool fazendo
sua pele formigar, tanto quanto seu toque. — Vamos lá, querida.
Você, eu e meu irmão vamos nos divertir um pouco.

Eles não tinham o direito. Seu corpo era somente seu.


Reunindo sua coragem, Ash empurrou sua mão, erguendo o
queixo, recusando-se a ceder ao impulso de se encolher, sabendo

176
por experiência que isso só piorava as coisas. — Tire suas mãos
imundas de cima de mim!

Surpreso, Brand piscou antes de zombar. — Oh, olha. A


garota gorda tem uma boca suja.

— Eu posso colocar essa boca para melhor aproveitamento.


— A expressão de Jason era uma mistura de diversão e luxúria. —
Enchê-la com o meu pa...

— Ei! — Uma voz retrucou rispidamente. — O que vocês dois


estão fazendo?

— Ah merda. — Brand olhou por Jason. — Aí vem a


cavalaria.

— Afaste-se dela e saiam da minha loja. Vocês foram


avisados antes. — Um homem com cabelos grisalhos bateu no
ombro de Jason. — Agora.

Jason se virou para ele, com as mãos estendidas. — Ei, ei, ei,
velho! Tire suas mãos de mim a menos que queira ser preso por
agressão.

— Saia da minha loja — o lojista respondeu com raiva. — E


deixe meus clientes em paz.

— Estamos sendo amigáveis. — Brand se afastou de Ash,


com os olhos brilhando. — Certo, querida?

— Não. — Mesmo odiando o tremor em sua voz, recusou-se


a recuar. — Você foi rude e desagradável.

177
O lojista se manteve firme, olhando para Jason sem
demonstração de medo.

Jason deu de ombros, de repente, seu sorriso zombeteiro


quando ele voltou para Ash. — Já vamos, Will. Não há
necessidade de fazer uma cena.

— E não se preocupem em voltar. — Will imediatamente


ficou ao lado de Ash. — Vocês não são bem-vindos aqui.

— Mas a nossa espécie é bem-vinda com você, hein, Ash?


— Jason disse com escárnio e desprezo. — Uma garota pequena
e gorda como você, aceita qualquer coisa, não é?

— E dá qualquer coisa, também. — Brand cutucou Jason. —


Vamos lá, mano. Vamos sair daqui.

Ash não conseguia relaxar enquanto se afastavam,


observando-os até que chegaram ao final do corredor, onde
Jason virou de repente, com um sorriso ameaçador. — Vejo você
mais tarde, Ash. — Então, saiu de vista.

Will a olhou com preocupação em seu rosto enrugado e


bondade em seus olhos castanhos. — Você está bem, amor?

— Sim. — Ouvindo o tremor em sua voz, odiando a fraqueza


que a dominava em momentos como este, Ash endireitou os
ombros e apertou sua mão sobre o pacote de sabão. — Estou
bem, obrigada.

— Esses irmãos Dawson são idiotas. — Confortavelmente, ele


a afagou no ombro. — Posso chamar alguém para você?

178
— Eu ficarei bem. — Forçou um sorriso, não importando o
quão frágil se sentia, Ash começou a caminhar pelo corredor. —
Eu pagarei por isso e voltarei para casa.

— Claro, não se preocupe. — Como obviamente não estava


convencido, Will caminhou ao seu lado. — Você quer que eu
chame a polícia, fazer uma queixa por assédio ou algo assim? Eu
sou uma testemunha.

Querendo nada mais do que esquecer o incidente,


balançou a cabeça. — Está tudo bem, Senhor... Hum...

— Will. Todos me chamam de Will. — Ele franziu a testa. — Kirk


pode ter uma conversa com esses dois cretinos, colocá-los na
linha.

— Realmente, está tudo bem. — A segurança da pensão a


chamava, a segurança amigável, um refúgio acolhedor. Para
ficar sozinha. — Obrigada mais uma vez, Will. Eu realmente ficarei
bem.

— Se você está certa. — Indo para trás do balcão, passou o


sabão, mas não disse nada quando ela lhe entregou o dinheiro
com as mãos um pouco trêmulas, embora seu olhar refletisse
preocupação quando ele lhe entregou a compra. — Tem certeza
que não quer que ligue para Julia? Ela vem buscá-la. Ou talvez
Ben?

Oh Deus, não Ben. Agora que sabia que não tinha a


contratado por necessidade, mas sim como um favor para Scott.
Quão humilhante seria precisasse pedir-lhe ajuda.

179
— Realmente, Will, não há necessidade. A pensão não está
longe, uma caminhada me fará bem.

Incapaz de fazer qualquer outra coisa, ele balançou a


cabeça e observou-a sair.

Uma vez fora, Ash olhou ao redor, com medo de ver Jason e
Brand esperando por ela, mas eles não estavam à vista. Ansiosa
para voltar para a pensão caminhou rapidamente, olhando por
cima do seu ombro várias vezes. Algumas pessoas desejaram-lhe
boa noite enquanto fechavam suas lojas, e ela conseguiu sorrir e
agradecer. Mas por dentro tentava imaginar quantas pessoas
sabiam que Ben tinha feito um favor para Scott. Que Scott havia
sentido pena dela e dado a ela o trabalho.

Era como se tudo o que fez não tivesse valor. Seu sentimento
de satisfação, de contentamento, foi por água abaixo, destruído
por palavras cruéis.

Amanhã, pensou de repente, ela entregaria o aviso para


Ben e sairia. De jeito nenhum poderia trabalhar para ele, sabendo
que não precisava dela ou até mesmo que não a queria lá.

Caramba. E maldito Scott por fazê-la sentir-se tão contente e


especial. Refugiando-se em raiva, tentou ignorar o nó na
garganta. Ela não precisava de pena, não queria isso. Um novo
começo, sim — ela pensou que tinha conseguido — mas não
conseguir as coisas por pena.

Um pensamento repentino a dominou. E se seus amigos


tivessem a acolhido por pena? E se suas amizades foram
realmente feitas por pena?
180
Humilhação e vergonha embrulharam seu estômago, uma
combinação de vergonha e raiva dominando-a.

A pensão apareceu e, quando caminhou até a calçada,


pensou na recepção de Julia. Isso tinha sido sincero?
Provavelmente era, afinal, Ash era uma cliente pagante. Talvez a
recepção de Julia fosse a única sincera daqueles que conheceu
em Gully‘s Fall.

Isso doía. O pensamento de que as pessoas que ela gostava,


mesmo que os conhecesse brevemente, realmente só ofereceram
amizade por pena.

Lágrimas arderam em seus olhos, mas se recusou a chorar.


Engolindo-as de volta, conseguiu sorrir e acenar para Julia quando
passou por ela nos degraus da varanda.

— Como foi seu dia, querida? — Julia manteve-se varrendo,


dando Ash um olhar fugaz.

— Ocupada aprendendo coisas — Ash conseguiu responder,


contente que a voz não revelou seus verdadeiros sentimentos.

— Esse Ben. — Julia balançou a cabeça. — Se tivesse


contratado alguém mais cedo lá não teria uma bagunça para
resolver. Ele tem sorte de ter você.

— Você acha?

— Claro. Eu vou tomar um banho.

— Ok.

181
—Julia olhou para cima de repente. — Você é a única
cliente agora, todos foram embora. Eu ia sair e visitar minha
amiga, ela não tem estado muito bem ultimamente. Tem
problema se deixá-la sozinha depois do jantar?

Jantar? Ash sentiu como se ela fosse engasgar se tivesse que


comer alguma coisa. — Oh, eu almocei. Sinto muito, Julia, eu não
estou com fome agora. Talvez você pudesse apenas me deixar
um pouco de ensopado para que eu possa aquecê-lo mais
tarde?

Franzindo a testa e os lábios, Julia a encarou. — Bem, eu


normalmente não deixo os hóspedes à própria sorte.

— Realmente, não há problema. — Ash abriu um grande


sorriso. — Vá visitar a sua amiga. Honestamente, sei me virar com
um microondas.

— Bem, se você tem certeza. Obrigada, querida. Eu sairei


mais cedo, levarei ensopado para Violet e dividirei com ela. Isso é
muito gentil de sua parte.

Se ela soubesse.

Ash correu para o seu quarto, aliviada quando fechou a


porta, isolando-se do mundo. Sentada na cama, colocou as mãos
no rosto. O que fazer? Enfrentar Ben na manhã — espera, amanhã
era sábado, a oficina estaria fechada. Ela não sabia onde ele
morava. Talvez lhe deixasse uma mensagem no telefone em vez
disso, ele saberia até segunda-feira, então, não esperaria por ela,
que ficaria longe até que a ligasse para dizer que o carro estava
pronto.
182
Sim, eu farei isso.

Não, espere. Ela balançou a cabeça. Ben não merecia isso,


não importa como se sentia. Ele tinha feito um favor para alguém,
a ajudou no processo. Ele valorizava a honestidade, odiaria
receber sua demissão por telefone. Não, independente de
qualquer coisa, lhe devia uma explicação face a face. Ela ligaria
para oficina na parte da manhã, verificaria se ele estava lá. Era a
coisa certa a fazer. Ela ainda tinha seu orgulho.

Muito bom.

Engolindo o nó na garganta mais uma vez, se levantou e


respirou fundo. A festa de pena privativa tinha terminado. Ela
cortaria os laços, iria embora quando o carro ficasse pronto. Esse
era o plano.

Tomando banho na Estação de bombeiros, Scott esfregou o


cheiro de fumaça de seu corpo e cabelo, deixando o sabonete e
shampoo lavar a poeira e cinzas grudadas nele pelo ralo.

O dia não tinha sido bom. Parecia que o fogo tinha sido
deliberadamente provocado, fazendo com que ele, Simon, Kirk e
vários outros policiais que gastassem uma boa quantidade de
tempo tentando rastrear o foco do fogo, descobrindo que era
uma lata de combustível e um isqueiro derretido.

183
Incendiários malditos. Agora precisava descobrir quem eram
e se ainda estavam na área. Só esperava que o incendiário fosse
descoberto antes que acendesse um fogo que destruísse mais do
que apenas alguns hectares. Até agora, tiveram sorte, a secura
da vegetação não havia se estabelecido, as chuvas de primavera
manteve as coisas verdes, fazendo que os incêndios fossem fáceis
de conter e apagar. Mas era preciso apenas um para deixar fora
de controle. O dia, as condições do tempo e de combustível
certas e haveria grandes problemas, não menos importante, a
perda de vidas e lares.

Deslocando-se, estava ansioso para voltar para casa. Havia


planejado ver Ash, convidá-la para uma bebida, mas para ser
sincero, estava acabado e não estava totalmente certo de que
seria uma boa companhia. No entanto, amanhã era sábado e ele
tinha o dia de folga. Ele também sabia que a oficina ficava
fechada nos fins de semana, então Ash estaria livre. A ideia de
passar um tempo com ela o fazia sentir-se mais leve. Apenas a
visão de seu belo rosto tinha o poder de fazê-lo sorrir.

Assim como o pensamento de carícias até que o corpo


macio e exuberante estivesse derretendo de calor em seus
braços. Com certeza, apenas o pensamento de como seria a
sensação de afundar naquele corpo exuberante, o calor úmido,
deixou seu eixo agitado.

Jesus, se não conseguir se controlar, precisaria de um


trabalho de mão no chuveiro, algo que definitivamente não
queria fazer no trabalho. Ou até mesmo em casa. Ele preferia
derramar-se profundamente dentro do calor úmido de Ashley

184
Smythe. Aquele delicioso corpo se contorcendo debaixo dele, os
grandes seios pressionados em seu peito, aquelas coxas roliças
esfregando nas suas e os quadris exuberantes embalando-o
enquanto a montava.

Sim. Ele queimava por ela agora. Deus, até podia senti-la,
poderia fechar os olhos e....

— Você está se afogando aí ou o quê? — Simon gritou.

Abrindo os olhos, Scott soltou o seu eixo, o tinha tomado,


mesmo sem perceber. Agora havia um humor assassino, um dos
seus melhores amigos gritando com você, enquanto você
apertava seu pênis.

— Já vou! — Desligou a água, enxugou-se enquanto


recuperava o controle sobre sua súbita onda de luxúria. Isso teria
que ficar para mais tarde.

Usando um jeans, camiseta e uma jaqueta, colocou seu


uniforme sujo de fumaça em um saco e atirou-o por cima do
ombro.

— Ei! — Simon o cumprimentou.

— Pensei que tivesse ido para casa pela maneira como falou
enquanto estava no chuveiro.

— Apenas ajudando o chefe a acabar com administrativo,


enquanto você demorava no banho.

— Finalmente fez algo de valor. Aleluia!

185
— Até você. — Simon sacudiu o dedo. — Ei, eu e Kirk vamos
para o pub tomar uma bebida. Quer vir?

— Eu meio que pensei em ir para casa. — Caminhando para


onde sua moto estava estacionada sob o abrigo na parte de trás
do corpo de bombeiros, Scott empurrou a sacola de roupas para
os alforjes na lateral da moto.

Simon seguiu. — Acho que Tilly pode sobreviver mais uma


hora sem jantar.

Na verdade, uma bebida em um ambiente acolhedor e um


bate-papo descontraído com alguns amigos soava bem. — Ok,
você me convenceu.

— Será que um jantar no pub tem algo haver com isso?

— Não, o pensamento de ver a tua cara feia por mais


algumas horas que fez isso. Querido.

Simon piscou seus cílios.

— Eu sou um tipo bonito.

— E o chefe?

— Não é tão bonito. Ele não tem os meus lindos olhos.

— Estou um pouco preocupado por você notar os olhos


dele.

— Eu não deixo de notar como ninguém mede até minha


aparência. — Simon recuperou as chaves da moto do bolso. — Ele
ficará aqui para acabar com os relatórios e, em seguida, ele irá
para casa para o seu mel. Suas palavras, não minhas.
186
— É justo. — Pegando o capacete, Scott colocou e puxou a
correia. — Vamos.

Quando estacionaram suas motos em frente ao pub, Scott


lembrou que era sexta-feira. Havia algumas pessoas lá, o lugar
reverberando com conversas amigáveis e calor.

Hum, talvez devesse ter ligado para Ash e ver se queria vir,
mas já era tarde e provavelmente já estava na cama lendo ou
dormindo. Esse pensamento trouxe outras questões tentadoras.
Será que ela usa pijamas ou camisolas na cama? Camisolas de
algodão ou seda? Rendas? Fácil de tirar?

Opa, isso aqueceu diretamente a sua virilha. O pensamento


das curvas voluptuosas de Ash todas à mostra para seu olhar, seu
toque, bem, fez o seu sangue ferver e de repente se sentiu muito
mais acordado.

Chegando-se atrás dele, Simon cutucou e apontou.

— Dois bancos no bar ou na mesa no canto. O que será?

— Quão romântico você está?

Scott o olhou de cima abaixo. — De repente, todos os meus


sentimentos românticos se foram.

— Estou magoado. — Simon se dirigiu para o bar.

Minutos depois, Scott bebia uma Coca-Cola. Sentindo-se


muito mais relaxado, apoiou os cotovelos no balcão e observou os
clientes no reflexo do grande espelho na parede atrás do bar. Ele
praticamente conhecia a todos lá, era como gostava.

187
Enquanto esperava Kirk chegar, ele e Simon estavam em
uma discussão sobre motos, simplesmente relaxando e deixando
de lado as preocupações do dia por algum tempo. Ouvindo
Simon com apenas metade de sua atenção enquanto falava
sobre os méritos de um triciclo contra uma moto de duas rodas,
Scott ouviu um nome ser mencionado que chamou sua atenção.

— Aquela garota Ash...

Ash? A sua Ash? Seu olhar atravessou os reflexos espelhados


do povo bebendo no bar.

— Puta metida...

— Pensa que é muito boa para nós...

Tiro de alerta, se endireitou na cadeira, tentando rastrear


quem na multidão de pessoas estava falando.

Consciente de que Scott já não o ouvia, Simon olhou para


ele. — O que está errado?

— Algo sobre Ash. — Saindo do banco do bar, virou e olhou


em volta.

Com a curiosidade aguçada, Simon o seguiu.

— Conheci-a na loja, tentei ser simpático.

A mandíbula de Scott apertou, ele seguiu o som das vozes,


empurrando a multidão até que viu o dono da voz que agora
reconhecia.

Jason e Brand Dawson estavam sentados em uma mesa,


suas cervejas usuais na mão, os dois amigos rindo com eles.
188
— Quer dizer, vamos lá, — Brand zombou. — Uma garota
como ela sozinha na estrada? Todos nós sabemos o que isso
significa.

Gargalhadas ecoaram na mesa.

— Aposto que estava louca até então. — Um dos amigos de


Jason sorriu. — Deve ter pensado que todos os seus sonhos se
tornaram realidade quando nossos heróis locais pararam.

— E aposto que ela não conseguiu nada com eles — Brand


piscou. — Eu a faria implorar.

— Ela não parecia gostar da ideia. — Brand tomou um gole


de cerveja, limpou a boca em sua jaqueta suja. — Acho que eu
poderia fazê-la gostar. Ela só precisa que um homem de verdade
mostre a ela o que ele pode fazer. Ela pode protestar contra tudo
o que quiser, ‗não‘ nem sempre significa ‗não‘. Acho que posso
provar isso, também.

A fúria dominou Scott. Dando um último passo para mais


perto da mesa, estendeu a mão e agarrou Brand pelo casaco,
arrastando-o para fora da cadeira sem suar a camisa.

Puxando-o ao redor, ele agarrou, com as duas mãos, a


camisa do homem assustado e puxou-o para cima na ponta dos
pés, fazendo uma careta monstruosa.

— O que você disse, Dawson?

— Que po...

Scott sacudiu-o como um rato.

189
— Você tentou forçá-la?

— Ei, homem, espere! — Brand ergueu as mãos, palmas para


frente. — Você quer dizer aquela garota Ash? Estávamos apenas
sendo simpáticos.

— Oh, menino-fogo, é melhor você tirar suas mãos do meu


irmão. — Jason bradou.

— Você realmente quer tentar? — Scott grunhiu.

Jason corou, se mexeu, mas não se aproximou. — Você não


tem o direito de se intrometer em uma conversa privada.

Scott estreitou os olhos. — Escutem o que digo, é melhor


ficarem bem longe de Ash.

— Vamos, cara, — Brand protestou furiosamente. — Deixe-


me ir.

O olhar furioso de Scott voltou para ele. — Você ouviu o que


eu disse Dawson? Fique longe de Ash.

Jason deu um passo adiante só para encontrar-se diante de


Simon.

— Para trás. — A voz de Simon era mortalmente silenciosa,


uma ameaça subjacente que passava por ele.

— Olha, o seu amigo que começou a maltratar meu irmão.

— Pelo que ouvi o que seu irmão dizer, eu diria que ele tem
direito. — Simon olhou-o bem nos olhos, sem vacilar. — Você tem
uma versão diferente que queira me contar?

190
Tranqüilidade se espalhar ao redor da sala, as pessoas se
deslocando para dar espaço entre eles e o grupo à mesa.

— Eu escutei o que você dizia, Brand, — Scott ralhou. — Falar


merda como essa sobre uma mulher é algo que só um covarde
faria.

Brand se soltou. — Todos sabem que uma mulher viajando


sozinha está pedindo por tudo que receber. — zombou. — Talvez
alguém precise dar a ela.

Raiva inundou Scott. Levantou Brand do chão e esmagou-o


de costas sobre a mesa. Garrafas de cerveja tombaram, se
quebrando no chão.

— Ei! — Jason tentou avançar, mas foi impedido por Simon,


que segurou a sua camisa.

De repente, os dois amigos de Jason e Brand haviam


desaparecido no meio da multidão.

Com o antebraço sobre a garganta do homem, Scott olhou


para Brand em cima da mesa. — O que você disse?

Percebendo que foi longe demais, Brand empalideceu. — Ei,


cara, só estava brincando, certo?

— Você acha que ameaçar uma mulher é uma piada?

— Não fiz por mal, ok?

— É. — Jason olhou de Brand para Scott. — Não sabia que


pisávamos em seu território, homem. É legal, ok? Tudo legal.

191
Enfurecido, Scott rosnou. — Não, isso não é legal. Se escutar
que vocês respiraram na direção de Ash irei atrás de vocês,
idiotas. Entenderam?

— Sim cara, sim. — Jason olhou desesperadamente para o


irmão.

— Entendi, — Brand resmungou.

— Ei, Scott. — A tranqüila e calma voz de Kirk veio de trás


dele. — Problemas?

— Eu não penso assim. — Scott colocou Brand de pé,


fazendo-o tropeçar e cair no assento. — Temos um problema
ainda, Dawson?

— Não. — Encarando, mas não fazendo movimento algum


para se levantar, Brand endireitou sua camisa. — Apenas uma
pequena discussão, policial.

Jason foi para longe de Simon, que o soltou.

— Talvez o seu amigo deva aprender a se controlar, Kirk.

Movendo-se para o lado de Scott, Kirk olhou para todos eles.


— Interessante. Você quer prestar queixa por agressão, Brand? —
Antes que Brand pudesse dizer qualquer coisa, Kirk acrescentou, —
Falando em agressão — oh, vamos adicionar o assédio sexual a
ela — eu tive um pequeno bate-papo interessante com alguns
clientes que estavam no supermercado antes.

A fúria borbulhando dentro de Scott começou a turvar, mas


antes que pudesse dar um passo adiante Ben entrou na frente

192
dele, Simon foi para o outro lado para efetivamente bloquear o
caminho de Scott dos irmãos Dawson.

— Talvez queira repensar em algo precipitado, filho, — Ben


aconselhou calmamente. — Você não poderá ajudar Ash, se
estiver na prisão, não é?

— E esses dois idiotas simplesmente não valem a pena, —


acrescentou Simon. — Kirk os está corrigindo. Basta deixá-lo.

— Se eles a machucaram... — Ele falou entre dentes.

— Julia te avisaria — Simon apontou. — Vamos esfriar, ok?


Pensar com clareza.

Pensar com clareza? Scott queria arrebentar aqueles dois


homens que tinham assediado Ash de todas as maneiras. Só
parecia pior.

Kirk agarrou seu braço. — Os Dawsons não prestarão queixa,


Scott.

— Queixas? Você ouviu...

— Scott. — Kirk estreitou os olhos em advertência. — Acalme-


se. Não torne isso pior quando tudo pode apenas se acalmar e ir
embora.

— E lembre-se de Ash, — disse Ben calmamente. — Como é


que ela se sentirá se você perder a cabeça?

Fervendo, Scott olhou ao redor. As pessoas olhavam para ele


em choque, pessoas que conhecia há anos olhando-o com

193
cautela. Verdade, um casal assentiu com aprovação, mas o
choque foi evidente.

Sempre foi conhecido por sua natureza fácil de levar e seu


temperamento, mas algumas palavras ruins sobre sua Ash e ele
estava pronto para arrancar cabeças. Não era a maneira de lidar
com isso, para se igualar aos bastardos Dawson. A violência nunca
tinha sido o seu caminho.

Respirando várias vezes para recuperar o controle,


finalmente concordou. — Ok. Sim, eu estou bem. — Diante do
olhar de Kirk, ele repetiu, — Eu estou bem.

— Bom. Vamos lá para fora, conversarmos um pouco.

— Não acho que estou pronto para conversar ainda.

— Só quero ter certeza de que sua cabeça está limpa.

Foi provavelmente uma boa ideia, reconheceu. Com Kirk


liderando o caminho e Simon o flanqueando, Scott caminhou
para fora.

Ele escutou várias pessoas murmurando um ―É isso aí Scott‖.


Não que isso importasse, porque não se arrependeu de ir atrás de
Brand e Jason nem um pouco. Ele se arrependeu de não ser
capaz de esmagar os rostos dos bastardos maliciosos.

Lá fora, Kirk o levou até uma mesa. O ar frio da noite ajudou


a acalmá-lo um pouco, a recuperar mais controle para que fosse
capaz de encostar a mesa sem deixar as mãos em punhos e ter a
raiva de bombeando por ele tão agressivamente.

194
— Tudo bem, Scott. — Kirk quebrou o silêncio depois de
alguns minutos. — Eu não o culpo por brigar com esses idiotas
inúteis, mas preciso que me prometa que não irá atrás deles assim
que todos se separem hoje à noite.

Scott respirou mais uma vez, embora a raiva ainda ardesse


dentro dele. — Esses bastardos estavam falando besteira sobre
Ash, falando sobre ela como se fosse sujeira. Jesus, Kirk, eles
realmente a acusaram de pedir para ser....

— Eu sei. Eu ouvi o que aconteceu na loja, o que foi dito. Will


não quer prestar queixa, nem Ash.

Incrédulo, Scott virou-se para encará-lo. — Você a viu?

— Sim, estava lá, logo que soube o que aconteceu. Ela


percebeu que os clientes me disseram, mas não quer prestar
queixa. Alegou que não importava para ela e ela não podia ser
incomodada fazendo uma grande coisa disso.

— Então, esses delinqüentes fugiram?

Kirk sorriu ironicamente. — Fugiram? Scott, você os fez


parecerem idiotas bem na frente de todos no bar. Estará em toda
a cidade e todas as fazendas até amanhã de manhã. Eu não
acho que realmente conseguiram fugir.

— Eu preciso falar com ela. — Scott se endireitou.

Simon agarrou seu braço. — São onze horas da noite, ela


está dormindo.

Scott deu de ombros e começou a avançar. — Eu preciso ter


certeza de que ela está bem.
195
— Pense Scott, não seja um idiota — disse Kirk levemente. —
Você correrá até lá, baterá na sua porta, tirando-a da cama,
querendo saber o que aconteceu e se ela estiver bem, como
acha que ficará? Você vai assustá-la para caralho.

Maldição. Scott parou, esfregou o rosto. — Merda.

— Sim. Você precisa dormir, companheiro. Você está


descontrolado e vai assustá-la ainda mais. — Kirk aproximou-se,
sua voz caindo até que apenas Scott e Simon podiam ouví-lo. —
Suspeitamos que algo aconteceu com ela. Eu vejo que ela está
muito frágil no momento. Se vê-la sem estar calmo e controlado, é
passível que ela enlouqueça. Você precisa lidar com isso com a
cabeça limpa.

Ele não gostou. Cada instinto seu gritou para ir atrás de Ash,
pegá-la nos braços e dizer que tudo ficaria bem, que a protegeria.
Mas seus amigos estavam certos, ela provavelmente estaria ferida
e, se ele aparecesse, acordando-a e tentando impor sua
presença, provavelmente perderia qualquer avanço que tivesse
conseguido.

— Tudo bem. — Suspirando, ele revirou os ombros em uma


tentativa de aliviar a tensão que tinha nos músculos rígidos. —
Você está certo. — Virando-se, voltou para a mesa, sentando em
cima dela e apoiando as botas em uma das cadeiras. Apoiou os
cotovelos nos joelhos, balançou uma mão entre eles, enquanto
esfregava os olhos com a outra mão.

Kirk e Simon esperaram pacientemente, a sua bem-vinda


presença solidária.

196
Depois de vários minutos de silêncio, Scott olhou para Kirk. —
Você realmente me prenderia?

Kirk sorriu. — Você nunca vai saber.

— Bastardo.

— Sim.

Simon esfregou seu abdômen, pensativo.

— Tenho que dizer, Scott, você me deu borboletas lá dentro.

— Hein?

— Agindo como homem das cavernas, pronto para lutar


pela honra de sua mulher. Meus joelhos quase viraram geléia.

Scott deu uma risada.

— Mas se você tivesse começado em Brand, eu teria ido de


bom grado para Jason.

Scott sabia que ele falava a verdade. — É bom saber que


você tem as minhas costas.

— Você acabou de lembrar que se estivermos juntos na


prisão eu poderei me curvar no chuveiro.

— Companheiro, não tenho suas costas.

Kirk interrompeu.

— Bem, transgressores da lei, vamos encerrar a noite?

— Poderia muito bem. — Com a raiva ainda fervendo, Scott


saiu da mesa. — Onde está o meu capacete?

197
Simon apontou para outra mesa vazia. — Ben entregou-me
quando saímos.

— Lembre-me de agradecer-lhe mais tarde. — Pegando seu


capacete, Scott dirigiu-se para as motos.

O carro de Kirk estava estacionado ao lado deles, mas, em


vez de chegar a ele, seguiu-os para suas motos.

— Se certificando que realmente fomos embora? — Scott


compartilhou um pequeno sorriso com Simon.

— Não. Eu sei que você está legal agora.

— Quanta confiança. — Observou Simon, prendendo sua


correia do capacete.

Kirk manteve seu olhar sobre Scott. — Basta mantê-los juntos,


companheiro. Não é comum você ficar louco, então sei que Ash
significa mais para você do que até mesmo você imagina.

Scott olhou para o seu capacete. Sim, Ash significava mais


do que ele mesmo suspeitava. Não havia como negar isso e ele
tinha certeza que não sentia vergonha de admitir, então olhou
para Kirk. — Sim.

— Sim. — Kirk assentiu.

Simon ecoou. — Sim.

E isso era tudo o que precisava dizer. Kirk voltou ao carro, à


espera de Scott e Simon para sair.

Uma vez em casa, Scott foi recebido por Tilly exigindo-lhe o


jantar e gingando na frente dele para a cozinha. Bastava ouvir seu
198
miado quando sua comida ficou pronta, ela manteve o olhar
grudado nele até que colocou a tigela de carne de canguru
diante dela no chão, ajudou a acalmá-lo ainda mais.

Mais tarde, deitado na cama lendo com Tilly caída sobre seu
estômago, seu ronronar contente enchendo o ar, seus
pensamentos se voltaram para Ash, se perguntando se ela dormia,
no que ela estava pensando.

A primeira coisa que faria de manhã seria descobrir.

Subindo os degraus da varanda na manhã seguinte, Scott


encontrou sua mãe.

— Olá, querido. — Quando ela se esticou para beijar a sua


bochecha, ele gentilmente se abaixou. — Estou indo para o
supermercado e verificar Violet.

— Não se preocupe.

— Faça uma xícara de chá. — Ela verificou em sua bolsa. —


Está com pressa?

— Não. — Scott olhou por cima da cabeça para a tela de


segurança fechada. — Na verdade, vim para falar com Ash.

— Realmente.

Seu olhar desviou para baixo para encontrar sua mãe


olhando para ele com um pequeno, sorriso conhecedor. Ah, sim,
não há dúvida sobre isso, ela tinha escutado falar sobre o
199
pequeno fiasco no bar na noite anterior, mas não disse nada, não
precisava, pois, seu olhar dizia tudo.

— Jesus, tem maneiras de me fazer sentir tendo quinze anos


novamente, mãe.

— Ela é uma menina linda, — afirmou Julia.

— É. — Ele saiu do seu caminho.

— É uma coisa boa que esteja aqui. — Ela desceu os


degraus. — Há algo incomodando Ash.

Scott tinha uma boa ideia do motivo.

— Ela tentou esconder, mas uma mãe conhece os sinais. —


Julia olhou para ele.

Não adianta negar, sua mãe sempre soube quando algo


estava errado com ele. Ainda bem que ela não podia lê-lo bem
agora.

— Então seja lá o que estiver incomodando a ambos, é um


bom momento para resolver o problema.

Ok, então ela ainda podia lê-lo. Droga.

Entrando no seu carro, ela baixou o vidro e sorriu para ele.

— Você a encontrará ao lado da casa com Henry e Oscar.

— Certo. — Scott acenou para ela, observando até que ela


estava na estrada antes de voltar a descer os degraus e em todo
o lado da casa.

200
Ele a viu imediatamente. Em pé, não muito longe da gaiola
de Henry, Ash tinha o telefone no ouvido e estava falando, os
braços cruzados sobre sua cintura, os óculos pendendo de sua
mão. Parando, Scott estudou. Cara, ela parecia bem. Todo
aquele cabelo ruivo solto, apenas preso nas laterais com uma
presilha. Um vestido longo — Dee não disse que foi chamado de
maxi ou alguma merda? Ainda era um vestido longo, tanto
quanto ele estava preocupado — cobrindo aquelas curvas
exuberantes. Azul escuro com um pequeno padrão de rosa sobre
ele, o vestido tinha um grande babado na barra. Por cima ela
usava um curto casaco fino de lã azul escuro de mangas três
quartos nos braços arredondados.

Scott nunca teve a ideia de mangas três quartos em um


cardigã. Como isso a manteria aquecida? Mas merda, parecia
bom nela. Quando ela se mexeu um pouco, viu que usava baixas
sapatilhas de balé pretas. Homem, talvez ouvisse muito Dee
porque realmente sabia o que ela usava. Se Ryder soubesse, ele
tiraria sarro dele.

Afastando os pensamentos da risada de Ryder de sua


mente, Scott olhou para a parte superior de seu corpo. Aqueles
seios impressionantes estavam saltando do corpete de seu vestido.
Suas mãos flexionaram com o pensamento daqueles globos
gordos caindo livres de um sutiã para preencher as palmas das
suas mãos. Porra, definitivamente transbordariam em suas mãos.
Cara, ele a queria tanto, queria que ela se espalhasse em sua
cama toda nua e macia, enquanto se deleitava com ela e
explorava todas essas curvas intrigantes.

201
Mal o pensamento passou pela sua mente e o aqueceu, Ash
se moveu. Obviamente não o notando, ainda tinha a cabeça
baixa quando se virou, apresentando-lhe as costas. Ele não podia
perder a forma como seus ombros estavam curvados, sua própria
postura gritava autoproteção, o jeito que ela parecia quase
enrolar em si mesma, tentando bloquear o mundo.

Todos os pensamentos lascivos desapareceram, a


preocupação afastando o calor carnal. Andando, Scott abriu a
boca para deixá-la saber que ele estava perto, parando quando
ele escutou suas palavras. E o fato de que estava chorando.

— Elissa, eu não acho que posso fazer isso. — Ela fez uma
pausa. — Eu preciso dizer a Ben na segunda-feira que estou
renunciando, como posso continuar a trabalhar para ele sabendo
que só me contratou por piedade? Jason e Brand me disseram,
eles sabiam, Elissa. Eles sabiam que Scott teve pena de mim.
Aparentemente, todo mundo sabe. Como posso enfrentá-lo?
Como posso encarar seus amigos? Eu pensei que eles gostassem
de mim, mas não posso suportar a ideia de que era tudo
fingimento. Eu não terei amigos de piedade. Você sabe como
odeio pena. — Outra pausa.

O estômago de Scott apertou. Jesus, ela realmente achava


que ele tinha pena dela, que Simon, Kirk, Ryder, Del e Dee foram
apenas amigáveis com ela por pena?

A raiva que cravou por ele foi temperada pela percepção


de que ela não os conhecia bem o suficiente, no entanto, que ela
perturbou-se, e que algo estava a rasgando. O pensamento de

202
que também estava relacionado com ele quase arrancou seu
coração de seu peito.

O som das lágrimas em sua voz, a oscilação de seus doces


tons, só o fez entrar. Dando mais um passo para frente, levantando
o braço para alcançar e tocá-la, ele parou gelado com as suas
palavras engrossadas de lágrimas.

— Deus, Elissa, quando aqueles bastardos me estupraram,


eles levaram tudo. Eu pensei que tinha o controle, que estava
bem. Eu era feliz aqui, mas agora só quero ir embora. Eu pensei
que estava no controle novamente, mas não estou. Eu preciso
desse controle, Elissa. Eu preciso saber que são as minhas decisões.

Ele tinha suspeitado. Ele suspeitava que ela tivesse sido


ferida, mas uma parte dele esperava que fosse outra coisa. O
conhecimento de que havia sido estuprada, tinha estado à mercê
de homens com a intenção de machucá-la, abusar dela, fez o
seu sangue gelar e então vibrar furiosamente.

Se pudesse encontrá-los, os mataria com as próprias mãos.


Senso comum avisou que mostrando sua fúria agora, quando Ash
estava tão chateada só a faria se afastar dele. Ela já estava se
preparando para isso. De jeito nenhum a deixaria afastar-se dele,
não sem uma luta, mas precisava se mover com cuidado. Ela já
tinha enfrentado a violência uma vez, ele não a deixaria confundir
sua raiva por algo similar.

Respirando profundamente vaias vezes, ele controlava sua


raiva, afastando-a, concentrando-se nela e em seu próximo
passo. O que ele fizesse a seguir teria impacto sobre a vida dos

203
dois, e ele precisava fazer corretamente. De jeito nenhum perderia
essa mulher que passou a significar tanto para ele em tão pouco
tempo. Essa mulher que foi ferida. Esta mulher que estava
determinado a nunca deixar se machucar novamente, enquanto
ele vivesse e respirasse. Esta mulher que ele não deixaria ir.

— Sinto-me... sentia-me confortável com Scott, você sabe?


— Continuou Ash. — Pela primeira vez desde aquela noite eu
realmente me senti bem com um homem perto de mim. Mas
agora... — Ela fez uma pausa, para enxugar os olhos. — Eu não
posso encará-lo, Elissa. Como posso enfrentá-lo? Se eu perguntar a
ele... se eu... eu sei que eu teria feito uma vez. Mas... — Virando-se,
parou de falar, com os olhos encharcados de lágrimas alargando
à medida que o viu parado em sua frente.

Durante vários segundos, eles apenas se olharam, Scott


constantemente, empalidecendo Ash. Antes que pudesse
recuperar qualquer compostura, sabendo que estava prestes a
fugir, Scott manteve o olhar fixo nos dela e estendeu a mão,
envolvendo um braço ao redor da cintura e puxando-a para
perto, enquanto tirou o telefone da mão dela e levou-o ao seu
ouvido.

— Olá, Elissa, — disse ele suavemente. — Aqui é Scott.

Mesmo com a voz do outro lado da linha respondendo


bruscamente, sua atenção estava centrada em Ash. Ele esperava
que ela se afastasse, estava pronto para apertar seu braço, mas
em vez disso, ela simplesmente baixou o olhar e ficou parada,
muito quieta, em seu abraço.

204
Capítulo Seis

Olhando para o peito largo em frente a ela, sentindo o


braço forte ao redor da cintura, o calor do corpo alto e
musculoso, infiltrando no refrigerado dela, Ash não sabia o que
fazer. Parte dela queria se afastar, parte dela queria gritar com
ele, e parte dela sentia se afundando no chão de vergonha.

Há quanto tempo ele estava lá? Quanto escutou?

— Eu não vou machucá-la, — disse Scott ao telefone. — Eu


prometo.

Houve silêncio por vários segundos enquanto obviamente


ouviu sua amiga dizendo algo, mas independente de quanto Ash
tentasse, não conseguia ouvir o que era dito. Provavelmente não
ajudava que seu coração estivesse batendo tão forte e acelerado
que escutava as batidas em seus ouvidos.

Vergonha a percorreu, juntamente com um completo


desamparo que a fez começara a tremer. Mesmo que Scott ainda
estivesse falando com Elissa, seu braço apertou ao redor dela,
puxando-a para mais perto, até que foi pressionada contra ele.

Oh Deus, se sentia tão bem, tão segura, mas não podia


evitar sua pena. Agora, aqui estava ela, após deixar escapar
coisas que ela manteve escondido de todos, menos da melhor

205
amiga. Sentindo-se tão fora de controle que um toque de pânico
começou a engatinhar dentro dela, fazendo-a endurecer e
começar a se afastar. Ou tentar, porque o braço de Scott
permaneceu firmemente em torno de sua cintura.

Apoiando uma mão em seu braço, sentiu a mudança de


músculos sob a pele quente de seu antebraço revelado pelas
mangas arregaçadas da camisa que parou logo abaixo do
cotovelo.

— Sou necessário, — disse Scott. — Adeus, Elissa.

Ah, não. Ele tinha acabado de cortar a conexão com sua


melhor amiga, seu link, sua tábua de salvação. O coração na
garganta, Ash olhou para cima para vê-lo fechar o celular.

Olhando firmemente para ela, colocou o celular no bolso do


casaco dela antes de colocar a mão na parte inferior das costas
dela. Agora ela estava no círculo completo de seus braços.

O silêncio se prolongou entre eles, ela engoliu em seco e


desviou o olhar. Ela queria que ele a abraçasse, queria que ele a
deixasse ir. Queria correr tão rápido e tão longe quanto.

Mas talvez ele não soubesse, talvez ele não tivesse ouvido
falar... Ash olhou para cima, encontrou seu olhar e ela sabia. Ele
tinha ouvido tudo. Tudo. O que significava que ele tinha a ouvido
falar do estupro. Seu estomago se apertou.

— Scott... — A sua voz saiu terrivelmente rouca de lágrimas


que tentou contê-las quando ameaçaram sufocá-la.

Deus, que vergonha, que estúpida.

206
— Eu estou aqui por você Ash, — disse calmamente. —
Sempre estarei.

Isso a derrubou. Ela o olhou, olhou para aquele rosto bonito,


que não tinha um lampejo de raiva, decepção, piedade ou
julgamento. Seus olhos cinzentos demonstravam apenas ternura,
que tocou fundo em seu coração.

Sua imagem ficou turva quando a primeira lágrima deslizou


pelo seu rosto. Ela tentou segurá-la, tentou impedí-la, tentou dar
um passo para trás, virando a cabeça para esconder seu
sofrimento dele.

— Oh Ash. — Sua postura mudou uma mão se espalhando


nas costas, a outra chegando para embalar a cabeça e trazê-la
para o seu peito. — Está tudo bem, baby.

Ela desmoronou, as lágrimas caindo pelo seu rosto enquanto


soluços a sacudiam, e tudo o que podia fazer era segurar em sua
camisa com as duas mãos e se manter firme enquanto a
tempestade de tristeza e decepção tomava conta dela.

Ela pensava que tinha deixado as lágrimas para trás há um


longo tempo, achava que tinha tudo sob controle, mas surpresa,
surpresa, parecia que havia muito mais dentro dela ainda.

E parte disso tinha a ver com o homem segurando-a de


forma tão protetora.

Scott não tentou impedi-la, não tentou acalmá-la, ele


simplesmente manteve-a perto, sua mão colocando o cabelo
para trás antes de deslizar pelos cachos ao redor de sua nuca, seu
polegar acariciando suavemente logo abaixo da orelha.
207
Sentiu-o curvar-se sobre ela, a postura protetora fazendo-a
agarrar-se ele quando ela derramava seu coração.

No momento em que as lágrimas cessaram, estava


encostada nele respirando com dificuldade. Silenciosamente
Scott passou uma mão para cima e para baixo de suas costas,
acalmando-a, sem dizer palavras. Finalmente, diminuiu a apenas
a pequenos soluços, ainda aninhada nele, seu rosto molhado em
seu peito. Ainda assim, apenas a abraçou, sem dizer nada,
apenas esperando pacientemente.

Infelizmente, a percepção de que suas lágrimas secaram a


mortificou. Oh Deus, ela chorava como um bebê nos braços de
Scott.

Humilhada, Ash se afastou, apoiando as mãos em seu peito


quando não a soltou.

Ela poderia querer fugir, mas, obviamente, Scott tinha ideias


diferentes. Inclinando-se, deu um beijo leve em sua testa antes de
remover o braço de sua cintura e tomar-lhe a mão em um aperto
seguro. Em seguida, a surpreendeu ao virar e andar, sua mão na
dela com firmeza para que não tivesse escolha a não ser seguir ou
lutar.

Não querendo agir como uma tola mais do que ela já tinha
feito, colocou os óculos, com as bochechas ainda queimando,
querendo nada mais do que se esconder. Talvez estivesse
levando-a de volta para o seu quarto, certificar-se que ela estava
estabelecida antes de deixá-la? Era o tipo de coisa prestativa que
ele faria.

208
Essa esperança foi extinta quando ele sentou-se nos degraus
nos fundos da casa. Quando olhou dele para os degraus, soltou a
mão suavemente e com um suspiro se sentou ao seu lado.

Assim que ela sentou, ele tirou a mão para que descansasse
em sua coxa, ficando inquieta, especialmente quando sentiu o
flexionar do músculo duro sob a calça jeans. Seus dedos
permaneceram ao redor dos dela.

Desconfortável, sentou-se rigidamente olhando para o


quintal. Assustou-a quando colocou alguns lenços limpos em sua
mão. Ficando feliz em ter algo a fazer, ela secou as bochechas e
assuou o nariz, ficando vermelha quase imediatamente ao
perceber como isso deve ter soado. Amassando rapidamente os
lenços, os enfiou no bolso do cardigã para jogar fora depois.

— Meus amigos e eu não sentimos pena de você — disse ele


em tom de conversa.

Pode muito bem ter deixado escapar tudo isso, não era
como se já não soubesse.

— Por que então fazem amizade com alguém que não


conhecem?

— Nós realmente gostamos de você por quem você é. — Um


músculo em sua mandíbula saltou embora sua expressão
permanecesse calma. — Eu não sei que tipo de amigos que tinha
antes de chegar aqui, mas não somos assim. — O toque da
verdade esteve na sua voz.

Ainda mais verdadeira, simplesmente entendeu o que Jason


e Brand tinham dito sobre Scott jogou essa suspeita sobre seus
209
amigos. Tinha sido desnecessário e injusto, só porque ela tinha sido
perturbada. Agora ela se sentia fraca.

— Eu sinto muito. — O que mais ela poderia dizer?

— Ben não a contratou por pena.

Ok, agora isso pode ser uma mentira.

— Então por que todo mundo está tão surpreso que eu


esteja trabalhando para ele? Todo mundo diz que ele sempre
trabalhou por si mesmo.

— Desde que Maryanne morreu, sim. — Scott virou a cabeça


para olhá-la. — Durante cinco anos ele gerenciou aquela oficina
sozinho, nunca querendo uma recepcionista, mas necessitando
de uma.

— Você não pode negar que ele só me contratou porque


você pediu.

— Eu sabia que ele precisava de alguém. Ben sabia que


precisava de alguém. Eu mencionei que você estava procurando
por um emprego, o resto foi decisão dele. — Seus olhos cinzentos
a estudaram. — Ele nunca contrataria uma pessoa como um favor
para alguém. Ben deve ter visto algo em você que o fez decidir
por si mesmo. Ash, eu posso ter-lhe dado a ideia, mas foi tudo
decisão de Ben. Ele te contratou porque quis.

Isso soube, claro, mas... — Por que agora?

— Porque era, obviamente, o momento certo. — O olhar de


Scott era constante. — Não é nenhum segredo que às vezes as
pessoas conseguem emprego porque conhecem alguém. Não é
210
pena. Simplesmente você precisava de um emprego, Ben
precisava de uma recepcionista e eu conhecia vocês dois. É isso,
Ash. Simples. — Seus olhos não vacilaram, a franqueza no olhar
dele fazendo-a corar com vergonha.

Scott não estava mentindo. Ela sabia disso. Bem dentro de si


mesma, onde pensou que a confiança tinha ido embora há muito
tempo. Foi um choque descobrir que ela confiava nele. Confiava
nele porque olhou bem nos olhos dela e disse-lhe diretamente.
Porque não havia um pingo de piedade em seus olhos.

Deus, ela estragou isso também. Envergonhada, olhou para


o quintal. — Sinto muito.

— Tudo bem. — Antes que pudesse sentir qualquer alívio, ele


acrescentou — Há outra coisa.

Ela esperou, mas quando ele não disse mais nada, ela foi
forçada a olhar novamente para ele. Sua expressão ainda era
calma, mas havia uma tensão definida nos cantos de sua boca.

— Eu não tenho pena de você, Ash. Eu nunca senti pena de


você. Eu realmente gosto de você, queria ser seu amigo. O que
você vê é o que eu sou. Não posso ser mais claro do que isso.

Então, ele tinha escutado essa parte. Agora, não apenas se


sentia uma tola, mas também infantil. — Eu sinto muito. — Quão
inadequadas essas duas palavras soavam? Obrigando-se a
manter o seu olhar, sussurrou — Eu sinto muito. Quando escutei o
que Jason e Brand disseram... quando eu pensei que você estava
sendo amigável por pena... — Ela mordeu o lábio. — Eu não
deveria tê-los escutado.
211
— Não, — ele concordou. — Você não deveria.

Ai. Interiormente estremecendo, olhou para o quintal, sem


olhar as margaridas que cresceram descontroladamente perto da
cerca. Foi uma surpresa que Scott ainda estivesse falando com
ela. Ele pode parecer calmo, mas não tinha dúvida de que ele
estava chateado por baixo daquele exterior controlado.

Quase como se pudesse ler seus pensamentos, Scott puxou


levemente a sua mão. — Ash, olhe para mim.

Com a maior relutância obedeceu, olhando acima da linha


da sua mandíbula forte, do nariz reto aos olhos cinzentos escuros
que pareciam enxergar diretamente sua própria alma.

— Eu sinto muito que você precisou brigar com aqueles


bastardos. Os irmãos Dawson são desagradáveis, mas geralmente
são inofensivos. Ontem, passaram do limite.

— Kirk ouviu — disse ela. — Ele veio. Eu só quero esquecer.

— Ele me disse. — Scott se inclinou em direção a ela um


pouco, seu olhar deslizando em seu rosto, do queixo até os lábios
e de volta para seus olhos, fazendo com que a respiração
pegasse um pouco de sua intensidade. — Se isso acontecer
novamente, não importa quem for, você vem até mim.

— Até você? — estava assustada.

— Sim, até a mim.

— Mas...

— Ash.

212
Seu tom profundo a invadiu, a maneira como olhou para
ela, o súbito, inesperado amparo em sua postura quando se
inclinou ainda mais em direção a ela de alguma forma,
inexplicavelmente, puxando-a para ele.

Ela nem sabia que também se inclinou em direção a ele, por


sua vez, até que sentiu o braço na lateral de seu seio, uma marca
forte, quente que parecia queimar diretamente através do
corpete de seu vestido. Calor vibrou por ela, um fluxo quente
inegável deslizou através dela enrolando por dentro.

Ela prendeu a respiração, seu coração bateu mais forte, e só


conseguia olhar para ele enquanto a olhava com calor em seus
olhos.

Ele não tentou escondê-lo, não se afastou, mas nem a puxou


para ele. Em vez disso, simplesmente manteve o olhar enlaçado
com o seu quando lentamente, muito lentamente, abaixou a
cabeça até que sua boca pairava a poucos centímetros da dela.
Então parou, esperando.

Com o coração batendo mais rápido, Ash prendeu a


respiração, imaginando o que fazia. Ele não apenas a beijou. Ela
não se afastou, não recuou, não sentiu o medo sufocante que a
consumia sempre que alguém ficava muito perto.

Era tão diferente com Scott.

Ela inalou sua essência a cada respiração que dava, aquele


familiar cheiro limpo, masculino que era tão unicamente dele.
Passou por ela, entrando em seus sentidos, trazendo consigo a
segurança familiar que sentia quando estava com ele.
213
O instinto assumiu, o desejo de sentir mais dele, ter mais e ela
fechou os olhos e inclinou-se para ele.

Suas bocas se encontraram. Suave, leve, o mais básico dos


toques. Era como provar aquele primeiro pingo de uma
sobremesa favorita. Não era o suficiente. Ela aprofundou o beijo,
deslizou os lábios nos dele.

Ele respondeu, moldando seus lábios nos dela, pressionando


firmemente, seu beijo suave, mas comandando, assumindo o
controle simplesmente sua boca. Ele não a tocou, não a levou até
ele, mas ele precisava quando apenas o beijo a mantinha cativa.

Quando os beijos se tornaram castos, Scott finalmente


recuou deixando-a sentir a ausência de sua boca.

Ele ainda estava inclinado em sua direção, seu corpo perto


do dela e percebeu que de alguma forma, de repente, sem que
percebesse, se aproximou mais dele até que suas coxas estavam
pressionadas uma na outra, uma mão ao redor do seu pulso, seu
braço musculoso quase embalado entre seus seios.

Ela estava tão perto. E ela quem tomou a iniciativa, que


havia se pressionado nele. Como, uma mulher carente e
desesperada. Imediatamente seu rosto ficou vermelho e começou
a se afastar.

— Não.

Aquela única suave ordem de Scott a fez parar, mas não


impediu o corar em seu rosto, nem o olhar para onde agarrou seu
pulso com tanta força.

214
— Ash, não fique constrangida por um beijo, — disse Scott
em voz baixa. — Eu gostei, você gostou. Nenhum problema.

Nenhum problema. Mas onde estava o seu orgulho, defesas?


Tudo parecia ter desmoronado ao seu redor, mesmo que sequer o
conhecesse muito bem. Só o conheceu há pouco tempo e, ainda
assim, o queria, queria sentir seus braços ao seu redor, queria inalar
o seu cheiro até que pudesse sentir o seu cheiro enquanto dormia.

Ela não sentia isso desde que foi forçada, o pensamento feio
rompeu, fazendo-a sacudir a cabeça.

— O quê? — perguntou em voz baixa.

— Nada.

— Fale comigo, querida.

O carinho teve calor enchendo-a, mas ela não conseguia


olhar para ele.

— É só que...

Ele esperou em silêncio, tranquilizadoramente apertando a


mão enquanto respirava mais profundamente.

— Eu nunca fui assim — finalmente disse Ash. — eu era


confiante. Meus pais morreram quando tinha vinte anos. Nunca fui
próxima de meus parentes, então não tive apoio. Não importava,
porque tinha amigos, um emprego. Uma vida. Então... — Não, ela
não podia dizer isso.

Depois de vários minutos de silêncio, Scott perguntou


baixinho. — Você quer falar sobre isso?

215
— Não.

— Está tudo bem.

— Não. Não está.

Ele fez uma pausa antes de dizer suavemente. — Eu quis


dizer, está tudo bem, você não precisa me dizer, se não quiser.

— Ah. — Ela olhou sem ver os degraus abaixo dela. — Sinto


muito.

— Não sinta. — Ele virou a mão e o pensamento de que ele


tinha intenção de libertá-la causou uma pequena pontada de
dor. Mas ele não o fez. Ao invés disso, colocou a mão sobre sua
coxa antes de colocar a minha por baixo, de modo que a palma
da mão menor descansou na maior.

Quase trouxe lágrimas aos seus olhos quando percebeu que


sua mão estava apoiando a dela em um gesto simbólico de que
duvidava que ele estivesse ciente. O ato a fez relaxar um pouco.

— Eu não posso dizer-lhe tudo. — Ela manteve o olhar em


suas mãos. — Agora não.

— Isso é bom, querida.

— Mas eu quero que você entenda.

Ele entrelaçou os dedos nos dela.

— Depois do que aconteceu, quase todos me tratavam de


forma diferente. Eu me tratei de forma diferente. As pessoas
tinham pena de mim, os amigos não sabiam o que falar ao meu
redor. Quando eu saí de casa, quando Elissa finalmente me fez
216
sair, eu sentia as pessoas que conhecia me olhando, sentindo
pena de mim. Eu odeio pena.

— Eu entendo.

Um sorriso relutante apareceu nos lábios diante das


lembranças que não eram agradáveis.

— É engraçado como uma pessoa pode ser tão


desconhecida em uma cidade, apenas um ponto entre milhares,
mas quando acontece algo que te marca de repente é como se
todos soubessem, todo mundo sabe o que aconteceu.

Scott esperou em silêncio, o calor aquecendo as mãos.

— Eu fui ao aconselhamento. Elissa foi, ou melhor, é a minha


tábua de salvação. Ela nunca me tratou de forma diferente.
Nunca pisou em cascas de ovos ao meu redor. Ela me arrastou
para o aconselhamento, ela me fez enfrentar a mim mesma e aos
outros. Ela ficou ao meu lado durante todo o caminho, gritando
comigo se precisasse, me segurando quando tinha pesadelos,
sentando ao meu lado quando precisava de silêncio. Ela até me
deixou sozinha quando precisei de espaço, mas estava sempre lá,
sempre a um telefonema de distância. Nenhum tempo era muito
ruim, não havia lugar ou problema.

— Eu gosto dela. — O ombro de Scott bateu em Ash


suavemente. — Mal posso esperar para conhecê-la.

— Talvez um dia a conheça. Você sabe, quando decidi sair


do meu trabalho na cidade e apenas dirigir, ela foi a única a me
apoiar.

217
— Foi uma grande decisão.

Olhando para o lado, não viu nenhuma piedade em seu


belo rosto, apenas uma leve curiosidade.

— Você acha que fui estúpida por dirigir sozinha?

— Eu acho que você fez o que tinha que fazer.

— Elissa me fez prometer lhe telefonar todos os dias para que


soubesse onde estava em todos os momentos. Ela não tentou me
convencer do contrário, mesmo que todo mundo dissesse que eu
era uma tola, que eu não conseguiria lidar, que estava fugindo, e
que uma mulher viajando sozinha era uma tola. — Quando ele
não disse qualquer coisa, ela disse quase defensiva, — Eu assumi o
controle da minha vida. Eu queria apenas dirigir e dirigir, deixar
tudo para trás de mim. Eu encontrei a paz nisso.

Ele acenou com a cabeça, mas não disse nada.

— Eu acho que não sabia que não podemos deixar tudo isso
para trás. Eu estava morrendo de medo quando o carro quebrou
e vocês quatro apareceram em suas motos. Isso me fez perceber
quão tola eu tinha sido ao viajar sozinha, o risco que tinha corrido,
que tudo poderia acontecer novamente. De repente, eu não
estava mais no controle, mas tive sorte. — Ela olhou para ele. — Eu
tive muita sorte. Vocês eram seguros, vocês me ajudaram. E, bem,
o resto você sabe.

Os olhos cinzentos a observaram, sua expressão não


revelando nada de seus pensamentos.

— Bem? — finalmente perguntou a ele.

218
Scott não tirou os olhos dos dela, sua voz era profunda, baixa
e estável. — Eu não julgo as pessoas que fazem o que precisam
fazer. Infelizmente, quem viaja sozinho está em risco, é um fato da
vida e inevitável. Mas você não pode deixar o medo controlar e
também você fez o que precisava fazer. O pensamento do que
poderia acontecer com você, senão tivéssemos a encontrado faz
meu sangue gelar, não vou negar, mas acho que tomar o
controle de sua vida foi uma coisa incrível.

Seu coração quase se derreteu. — Você acha?

— Sim. Não vou mentir. No entanto, se eu estivesse lá, eu


nunca a deixaria sair.

Esse anúncio inesperado a surpreendeu. — O quê?

— Eu teria insistido em ir com você. — deu de ombros. —


Julgue-me, se quiser, mas esse sou eu, é como eu sou. Nenhuma
mulher minha jamais ficaria sozinha.

— Isso é um pouco vaidoso da sua parte não acha?

— Provavelmente.

Obviamente não estava preocupado com sua opinião sobre


isso. Ele estava em serviços de emergência, é claro que estava
acostumado a exercer autoridade, mas este era um lado
inesperado dele e não sabia bem o que dizer. Ou pensar. Não,
espere. Houve um pequeno arrepio de prazer que a percorreu.
Como isso era possível?

Scott sorriu. — Ash?

— Sim?
219
Ele se inclinou em direção a ela. — Então, você ficará?

— Eu acho que sim.

Olhos enrugando cativantemente nos cantos, ele abaixou-se


ainda mais. — E você ficará no emprego?

Coração pegando o ritmo, seu olhar caiu espontaneamente


aos lábios. Tão sensuais, cheios, mas inconfundivelmente
masculinos. — Sim.

— Isso é bom.

Ela não podia recuar. A pele aquecendo com o calor do seu


corpo tão perto dela, ainda segurava, vendo-o mover-se
lentamente, mas cada vez mais perto, seu braço roçando o dela,
pressionando nela e então sua mão levantou, chegando a tocar
seu rosto, seu polegar passando ao longo da curva do mesmo.

Humor fugiu de seus olhos para ser substituído por um olhar


perscrutador.

— Eu nunca faria mal a você, Ash.

Sem lhe dar tempo para responder, ele gentilmente lhe


beijou a testa, movendo os lábios para pressionar um beijo entre
os olhos, fazendo com que os cílios vibrassem fechados. Seus
lábios eram tão suaves, tão quentes quando beijou sua bochecha
antes de abaixar até que beijou o canto de sua boca.

Recuando um pouco, Scott disse baixinho. — Saia comigo,


Ash.

220
Pega no devaneio quente de sua atenção, ela não tinha
certeza se tinha ouvido corretamente. — O quê?

— Saia comigo.

Seus olhos se arregalaram, e então, quando suas palavras


finalmente penetraram, seu coração, já batendo rápido em sua
proximidade, gaguejou, mas antigas dúvidas, medos antigos,
ameaçaram a vir à tona. — Eu não sou... Scott...

Seu olhar não vacilou, sua expressão não mudou.

— Você não é o quê?

A autoconsciência tomou conta dela.

— Eu sou... você sabe.

Uma sobrancelha escura subiu ligeiramente.

Corando, ela desviou o olhar. As diferenças entre eles não


eram óbvias? Ele era tão perfeito com seu corpo alto e musculoso,
tão bonito, tão carinhoso e paciente. Um dos solteiros na cidade,
enquanto ela era baixinha, danificada, e definitivamente sem
graça.

Deus, até um ano atrás ela era tão confiante, mas agora, em
situações como esta, ela foi atormentada por dúvidas.

— Ash. — Seu tom segurou um comando suave.

— O que um homem como você pode possivelmente querer


com uma mulher como eu? — sussurrou.

221
— Tudo. — disse Scott, e tomou sua boca em um beijo mais
profundo que a deixou sem nenhuma dúvida de que estava
falando sério.

Desta vez, sua língua procurou entrada, sondando os lábios


dela, e ela não podia evitar, se abrir para ele. Ele encheu a boca
com sua essência, sua língua lambendo profundo, o beijo mais
quente que o anterior, mais exigente. No entanto, mesmo quando
a beijou, não a forçou, ela podia sentir a hesitação antes de cada
movimento, a forma como testava sua resposta. Manteve o
controle.

Fez sentir-se segura. Segura o suficiente para inclinar-se para


ele, para permiti-lo entrar e pegar o que queria, entregando-se ao
seu beijo, dando-se em seu controle. Ela se sentiu segura o tempo
todo, sem pânico.

Seu coração acelerado, aquecido, seu aroma e sabor


combinado enchendo seus sentidos, aumentando seu desejo,
uma súbita onda de prazer que a fez ofegar em sua boca,
acolhendo a sensação de suas mãos deslizando ao redor da
cintura e acima das costas para abraçá-la. Alegrando-se com a
sua força e com o seu toque.

Mas assim que sua boca separou-se da dela, a decepção a


inundou e as suas inseguranças ameaçaram vir à tona quando a
frieza substituiu o calor de seus lábios, até que olhou para ele e sua
respiração ficou presa. Não havia como esconder o calor em seus
olhos, o brilho de desejo. Por ela. Isso a fez sentir-se subitamente
tão... linda. Não tão danificada, não tão triste.

222
— Eu quero tudo, Ash, — Scott repetiu constantemente. —
Mas me contentarei se sair comigo primeiro. — Ele fez uma pausa,
um sorriso repentino enrugando os cantos dos olhos. — Diz que sim,
querida, e me tire dessa angústia.

Ela não pôde deixar de sorrir, o calor em seus olhos lhe


dando confiança, acalmando a incerteza. — Talvez.

— Talvez? — Ele arqueou uma sobrancelha. — Inaceitável.

Não, inacreditável. Ainda a espantava que Scott estivesse


interessado nela, mas não havia como negar a atração entre eles.

Este era um novo começo, uma nova vida. Scott era um


presente inesperado, o que poderia fazer, além de aceitá-lo? O
que mais poderia dizer? — Sim.

Erguendo a mão, que ainda estava interligada com a sua,


Scott beijou as costas dela, mantendo seu olhar sobre ela. — Você
não se arrependerá. Eu prometo.

— Você é quem pode se arrepender.

— Querida, você está tão errada.

— Depois não diga que não avisei.

Um brilho surgiu em seus olhos. — Eu gosto de viver


perigosamente.

— É onde nos diferenciamos. Eu gosto de conforto.

— E é por isso que será ótimo voltar para casa, voltar para
você depois de um dia perigoso assistindo Simon comer no café
vazio. Você poderá me confortar.
223
— Seu besta. — Ash riu.

Sorrindo, Scott se levantou, puxando-a com ele. — Então,


quais são os seus planos para hoje?

— Eu preciso apenas lavar um pouco de roupa.

— Ótimo. Venho buscá-la para o almoço.

— Ok.

Minutos depois estava na varanda observando o carro de


Scott sair para a estrada. Quando acenou para ele, não podia
acreditar. Ela sairia com Scott Preston. Quando acordou esta
manhã com o coração pesado, nem imaginou que isso
aconteceria. Em vez disso, seu coração estava transbordando e
não podia deixar de se abraçar e sorrir.

O celular tocou no bolso e tirando-o, ela abriu. — Olá?

— Ash, me diga o que está acontecendo agora! — Elissa


exigiu.

— Oh, você sabe. Eu beijei um garoto.

Havia um silêncio absoluto do outro lado da linha por alguns


segundos antes de Elissa indagar. — O quê? O quê?

— Sim. — Ash riu. — Não é que a palavra do dia?

Segunda de manhã Ash ficou sorrindo em todo o caminho


para o trabalho. O fim de semana foi perfeito. Scott saiu com ela
224
duas vezes. Uma vez para um almoço e outra vez em um passeio
na moto até o rio, onde sentaram no banco e conversaram sobre
coisas cotidianas enquanto tomavam chá quente e comiam
alguns biscoitos recém assados, cortesia de Julia. Ela não
conseguia se lembrar de quando sentiu-se tão à vontade com um
homem, mesmo antes do episódio que mudou sua vida.

Havia algo sobre Scott que a fez se sentir do jeito que ela
costumava, feliz e viva. Ele fez isso com tanta facilidade, com o
riso, um olhar, um toque suave.

— Alguém teve um bom final de semana.

Olhando para cima, Ash viu Del encostada no batente da


porta de sua loja. — Oi.

— Você está muito feliz e isso é simplesmente errado para


uma segunda-feira — disse Del.

— Sério? Eu acho que será um dia lindo.

— Hmmm. — Del olhou-a de perto.

Ash sorriu para ela.

As sobrancelhas de Del subiram. — Então, é verdade.

— O quê?

— Você e Scott estão saindo. Cortejando.

— Cortejando? Isso não é um termo um pouco velho?

— Ei, é melhor do que transar.

— Nós não...
225
— Continue.

— Cuide da sua vida.

Del sorriu. — Cidade pequena, todo mundo é assunto.

— Diga-me sobre isso. — Dee apareceu por trás de Ash. —


Toda a cidade comenta como Scott pegou os dois idiotas Dawson
por falar mal de você.

Isso assustou Ash. — Ele fez isso?

— Querida, Scott parecia um homem das cavernas no bar.


Ficou louco e quase arrancou o cérebro inexistente da cabeça de
Brand.

— Oh não. — Horrorizada, Ash olhou para ela. — Ele poderia


ser demitido!

— Não. — Dee balançou a cabeça. — Ele não foi preso nem


nada. Além disso, ele fez um favor à cidade. Esses idiotas Dawson
mereciam isso há muito tempo.

— O que deixou todo mundo comentando — Del


acrescentou — é o fato de que o nosso bombeiro de
temperamento balanceado foi de calmo e tranqüilo para uma
fornalha de fúria em cerca de zero vírgula dois segundos quando
os ouviu falar de você.

— Isso é um exagero, — disse Dee. — Tratava-se de zero


vírgula três.

— Zero vírgula dois e meio.

— Eu vou levar.
226
— Espere, é zero vírgula vinte e cinco mais ou três pontos a
menos que zero?

— Eu nunca fui muito boa em matemática.

— Lembre-me de conferir o meu troco da próxima vez que


você o der para mim.

— Espere um minuto. — Ash olhou para elas. — Isso


aconteceu no bar?

— Sim. — Del assentiu.

— Scott não me disse.

— Bem, ele não diria

— Por que não?

— Ele é um homem, querida. Ele fez a sua coisa de homem


das cavernas, lutou pela honra de sua mulher e venceu. Muito.

— Herói da cidade novamente. — Dee piscou e cutucou


Ash. — São sempre os mais quietos que você precisa assistir.

— Por que eu sou a última, a saber?

— Porque você tem andado com Scott em vez de escutar as


fofocas locais.

— Vocês poderiam ter me contado.

— Nós poderíamos. Mas não fizemos.

— Por que não?

— Meio que achei que você já sabia.

227
— Eu não.

— Nossa, você não disse.

Um pensamento horrível atingiu Ash.

— Você acha que Julia sabe?

— Que seu garoto agiu como homem das cavernas? Aposte


suas botas.

— Mas ela não me disse nada. — Não, mas com certeza isso
explica os olhares inescrutáveis que me deu nos últimos dias.

Julia viu Scott chegar e Ash cumprimentá-lo, levantou uma


sobrancelha e se manteve em silêncio. Nada havia mudado de
de seu costume, mas... oh merda, e se Julia não gostasse da ideia
de que eu saia com seu filho? Jesus, ficarei doida nesse ritmo.

Impaciente em seus pensamentos, Ash olhou para o relógio.


— Eu tenho que ir ou chegarei atrasada.

— Vejo você na hora do almoço.

Mesmo sabendo que era sua imaginação, Ash sentiu como


se todos olhassem para ela enquanto ia para a oficina. Santo
Deus, todos sabem?

Ash não pode deixar de olhar para o corpo de bombeiros


quando virou para a estrada até a oficina de Ben. Scott
trabalhava hoje, mas o caminhão de bombeiros não estava por
lá, o que significava que estava trabalhando em algum lugar.
Lembrando do fogo há alguns dias, esperava que o que quer que
estivesse fazendo, fosse cuidadoso. Era até ridículo pensar nisso,

228
pois ele já era bombeiro muito antes de chegar à cidade e ele
sabia como cuidar de si mesmo.

Aparentemente, ele tomou o assunto em suas próprias mãos.


No pensamento dele vindo em sua defesa, Ash não podia deixar
de se sentir bem, protegida. Mas ele não podia sair por aí
ameaçando arrancar o cérebro de alguém que falasse alguma
besteira sobre ela. Ela teria que falar com ele.

Entrando na oficina, esperou por Ben dizer algo sobre o


episódio do bar, mas ele simplesmente a cumprimentou e
continuou trabalhando. Um dos agricultores locais veio buscar sua
caminhonete. Com um aceno para Ash, ele desapareceu pela
porta. Sua esposa se apoiou no balcão de recepção e sorriu para
Ash.

— Ainda não nos conhecemos, eu sou Elaine.

— Ash. Prazer em conhecê-la. — Ash sorriu de volta. — Você


irá para longe da cidade?

— Longe o suficiente. Vamos para Windon Road.

Nem imaginando onde era, Ash balançou a cabeça.

— Mas as fofocas estão por perto. — O sorriso de Elaine


aumentou. — Ouvi dizer que você e jovem Scott assumiram.

— Ah...

— Nenhum segredo, minha jovem. Palavras viajam rápido.

Debruçando-se do balcão, Elaine se preparou para um


bate-papo. Ou uma missão, Ash suspeitava.

229
— Meu jovem filho Blake estava no bar na outra noite, —
continuou Elaine. — Quando me contou como Scott
enlouqueceu, eu não podia acreditar. Pensei que você devia ser
‗a mulher‘ para fazê-lo perder a compostura.

Santo Deus, o quão ruim tinha sido?

— Blake disse que Scott levantou Brand como se fosse uma


erva daninha, que, se parar para pensar sobre isso, não é uma
descrição ruim. E quando está contra Scott, bem, esse cara é forte
como um tijolo. Músculos como um touro.

Ok, Scott tinha músculos, mas compará-lo a um touro era um


pouco rebuscado. Ash não conseguia parar de sorrir.

Elaine assentiu.

— Sim, o homem é forte. Fiquei me perguntando até que


ponto essa imagem de touro vai.

Ash olhou fixamente para ela. — Você sabe, testosterona


pura e vamos combinar, o garoto é como sonho encharcado de
uma mulher, certo?

— Não seria ―sonho molhado‖? — disse Ash.

— Encharcado, molhado, enfim... você deve admirar. Vi esse


menino usando bermuda uma vez. Para minha sorte, a bermuda
estava molhada de seu mergulho no rio. Esse menino é embalado.

— Embalado? — Perguntou Ash.

— Você sabe. — As sobrancelhas de Elaine balançaram.

Macacos me mordam. Será que ela quer dizer...?


230
— Mas suponho que você já saiba disso. — Elaine sorriu
largamente. — Scott esteve com algumas das meninas e pelo que
escutei, ele tem um pênis como um garanhão.

Ash se engasgou e começou a tossir.

— Mas você já sabe disso. — Elaine assentiu, com um leve


sorriso nos lábios antes dela ficar séria. — Ele é um bom sujeito, no
entanto. Você faria bem em ficar com ele.

Aparecendo na porta, Ben olhou de Ash ainda tentando


recuperar o fôlego para Elaine, e suspirou. Balançando a cabeça,
ele foi para trás do balcão e tirou Ash do caminho.

— Deixa que eu atendo.

Elaine deu um passo para trás, permitindo que seu marido


tomasse seu lugar.

O marido olhou para Ash e suspirou também, mas voltou sua


atenção para Ben, que mostrou sua conta na tela.

No momento em que Ash tomou o fôlego, Elaine e seu


marido tinham saído e Ben a estava observando.

— Tudo bem? — Perguntou.

— Tudo bem. Muito bem. — Ash enxugou os olhos.

— Essa Elaine sempre fala demais.

— Sim, ela é muito... como diria... interessante.

— Eu aposto.

231
Ash queria saber se Ben escutou o que Elaine havia dito, mas
não tinha coragem de perguntar. Além disso, Elaine a fez pensar
em Scott nu e isso foi... inesperado. E um pouco assustador.

— O carro do corpo de bombeiros está aqui. Você pode


devolvê-lo para mim? — As palavras de Ben trouxeram sua mente
de volta para as tarefas na mão.

— Claro, desde que não seja o caminhão de bombeiros, —


Ash brincou.

— Ele atiraria em nós se tentássemos. — Tirando um molho de


chaves da placa na parede, entregou a ela. — É o velho Land
Cruiser lá fora, perto da porta. Quando voltar, passe nos correios e
verifique se uma peça que espero chegou, tudo bem?

— Não se preocupe.

— Obrigado. E quando voltar pegue o meu caminhão e vá


até o Stanton entregar uma conta.

— Entregar uma conta? — Ash franziu as sobrancelhas.

— O velho Jack Stanton não confia no carteiro e odeia vir


para a cidade. Eu lhe darei as instruções.

Gostando da ideia de fazer algum trabalho fora do escritório


e ver um pouco mais da paisagem ao redor da cidade,
concordou.

— Claro que sim. Você ficará aqui? — Quando Ben apenas


olhou para ela, ela se deu um tapa mental. — Certo. Sinto muito.

232
Ela encontrou o Land Cruiser estacionado no local indicado
e entrou nele. Pegando a estrada, foi para a estação de
bombeiros, desejando saber se Scott estaria lá. Quando a estação
entrou em vista, viu que o caminhão de bombeiros estava dentro
da estação com as portas rolantes ainda levantadas. Parando ao
lado da estação, trancou o Land Cruiser e entrou pela grande
porta. A porta na parte de trás do corpo de bombeiros estava
fechada e sabia que seria aberta quando necessário para permitir
a saída do caminhão de bombeiros. Havia espaço na estação de
bombeiros para outro caminhão e, pelas poucas manchas de
óleo no chão, havia um outro caminhão de bombeiros ou
pequeno caminhão de bombeiros que havia saído.

— Olá? — Ninguém parecia estar por perto, de modo que


entrou mais, passando o caminhão enquanto olhava ao redor.
Sacos de kit estavam empilhados ordenadamente em um banco,
botas e capacetes pendurados por cima de pesados casacos
amarelos de fogo e calças em ganchos. O lugar estava arrumado,
uma mesa pequena de um lado com várias canecas. Dois
cartazes de segurança em uma parede e equipamentos de
combate a incêndio estavam de um lado. Ela bateu calmamente
nas portas, espreitando quando não houve respostas, e viu quatro
quartos, obviamente, para os bombeiros, um banheiro, o que
parecia ser uma sala de treinamento, uma pequena cozinha, uma
sala de estar que foi transformada em uma sala de jantar e sala
de operações. Havia também um ginásio contendo pesos,
máquinas de remo, supino e uma estação de musculação All in

233
One 6. Hummm, não se admira que Scott esteja tão musculoso e
em forma.

Passando na frente do caminhão, viu outra porta que dava


para um escritório, mas também estava vazio. Querendo saber o
que fazer, deu um passo para trás.

— Bem, olá querida.

Virando, viu Scott na frente do caminhão, enxugando as


mãos em uma toalha pequena e sorrindo. Seu olhar a varreu antes
de fixarem-se em seu rosto. Ele usava a camisa azul escura do
uniforme com ombreiras, um distintivo em cada manga, calça
azul escura com uma faixa reflexiva abaixo dos joelhos e pesadas
botas de aço.

Seu coração acelerou como sempre acontecia quando ele


aparecia, mas conseguiu manter sua expressão calma.

— De onde você veio?

— Eu apenas me divertia enquanto via você procurando por


mim. — ele piscou.

— Sério?

— Sim.

— Não é muito profissional de sua parte.

— Eu não sabia que estava na descrição do trabalho.

6
Estação de musculação All in One é uma estação totalmente completa que permite executar
vários tipos de exercícios para peito, costa, tríceps, braços, bíceps, ombro, panturrilhas, oblíquos,
antebraços, adução, abdução, pernas, abdômen, etc.

234
— Mas o divertimento está?

Malícia apareceu em seus olhos, um belo sorriso aparecendo


em seu rosto bronzeado.

— Sempre, sempre. E neste momento.

Oh, garoto.

— Seu divertimento terá que esperar. Na verdade, estou


procurando o seu patrão. — Ela levantou as chaves. — Eu trouxe o
carro de volta.

— O chefe está ausente, verificando algumas coisas. — Scott


tirou as chaves de seus dedos. — Eu entregarei a ele. —
Guardando as chaves, jogou a toalha de lado. — Então, Ben a
deixou sair para brincar?

— Resolvendo pendências — ela corrigiu.

— Hummm. — Com as mãos nos quadris, olhou para ela. —


Talvez esteja brincando de cupido.

Surpresa, ergueu as sobrancelhas. — Ben?

— Sabendo que estava aqui sozinho, ele me enviou um


pouco de companhia. — Com um brilho nos olhos, Scott deu um
passo à diante. — Uma pequena mulher para me seduzir.

Tentando ignorar o delicioso arrepio que passou por ela no


desejo depositado em seus olhos, Ash empurrou os óculos para
cima do nariz. — Espera aí, estou trabalhando.

— Assim como eu. Qual é o problema? — Ele deu mais um


passo para frente.
235
Ela deu um passo para o lado. Cara, ele tinha uma aura
magnética, a atraindo completamente.

— Seu chefe ficará bravo se brincar.

— Como ele saberá? Ele não está aqui agora. — Scott


inclinou a cabeça enquanto dava um grande passo para o lado,
bloqueando seu caminho. — Você me dedurará, Ash?

— Alguém pode nos ver.

— Estamos atrás do caminhão de bombeiros. Ninguém pode


nos ver.

— Eles verão se entrarem.

— Ninguém entrará.

— Como pode ter tanta certeza de que não entrarão?

— Como pode ter tanta certeza que entrarão?

As costas de Ash bateram no caminhão de bombeiros e viu


seu sorriso alargar em satisfação, de repente percebendo que,
enquanto brincava com ela, manobrava-a com passos
estrategicamente colocados.

Inclinando-se para frente, Scott estendeu a mão e colocou a


mão sobre o caminhão de bombeiros em cima dela.

— Então, — ele disse a voz rouca — Que tal um beijo em um


bombeiro corajoso?

— Um... — Oh garoto, isto foi inesperado. Olhando para


Scott, Ash lambeu os lábios, incerta.

236
— Hummm, — disse ele — Língua. Ash, sua garota safada.

Jesus, os óculos embaçariam se a deixasse mais nervosa. Ou


quente.

— Scott, esse não é local...

— Hummm. — Inclinando-se, esfregou sua têmpora.

Seus joelhos ficaram fracos quando sentiu o seu calor, seu


corpo tão quente, amplo, alto e musculoso que seus sentidos
começaram a entrar em curto. Sem falar que começava a ofegar
um pouco. Santo Deus, pense em derreter com facilidade.

Tentando recuperar algum decoro, Ash começou a andar


de lado. — Scott, você não pode fazer...

Suas palavras foram sufocadas quando uma grande mão


pressionou sua barriga, segurando-a com firmeza contra o
caminhão de bombeiros.

— Oh, eu posso. — As palavras foram sussurradas próximas


ao seu cabelo, os fios balançando enquanto ele inspirava e
expirava. — Deus, você cheira bem, Ash.

De jeito algum podia se mexer agora, não quando Scott


estava tão perto, sua própria aura colidindo tão deliciosamente
com a dela, seu calor penetrando preguiçosamente ao redor de
seus sentidos e fazendo seu corpo se aprimorar para ele. Não
quando sua mão estava nela, sentindo-se incrivelmente íntima,
embora roupas os separassem. Seus dedos espalharam-se para
ampliar a extensão de seu domínio, enviando pequenas faíscas
de calor por dela.

237
Inclinando a cabeça, viu o brilho do calor em seus olhos,
antes de fechar os seus em um suspiro suave. Quando seus lábios
tocaram calorosamente em sua bochecha, parando brevemente
em seus lábios, sua língua lambendo o canto da sua boca e
enviando um arrepio de prazer, mas antes que pudesse virar para
oferecer a sua boca, ele abaixou e beijou seu pescoço.

Impotente, inclinou a cabeça para o lado, permitindo-lhe


acesso a sua garganta.

Tirando proveito imediato, a beijou suavemente no lado de


seu pescoço, aninhando-a para que estremecesse e depois de
forma inesperada, com veemência, lambeu diretamente sobre a
pulsação frenética sob sua pele.

O seu sangue esquentou ainda mais, indo diretamente para


seus segredos femininos antes de se espalhar em labaredas de
fogo em direção a seus seios, que estavam pesados, os mamilos
endurecendo.

A mão de Scott deslizou em seu corpo até segurar seu


quadril, apertando quando mordiscou a sua garganta levemente,
a boca fazendo um caminho úmido para os seus lábios onde ele
mordiscou, brincou e um grunhido de aprovação escapou-lhe
quando ela gemeu e se inclinou para ele.

Em um movimento repentino, ele tomou sua boca, beijando


profundamente, enchendo-a com o seu gosto. Era uma mistura
inebriante de aroma e sabor, a sensação e o calor combinado
com a dureza de seu corpo musculoso se infiltrou nela, fazendo

238
seu sangue correr com veemência em suas veias, começando a
queimar por ele.

A sua mão segurou a nuca, os dedos entrelaçaram em seu


cabelo, puxando um pouco mais forte e inclinando a cabeça
para que se apoderasse de sua boca em um beijo quente e
ardente.

Era a primeira vez que a beijava tão carnalmente, deixando


seu desejo passar através de sua gentileza habitual e beijos
cuidadosos, que realmente demonstrou desejo por ela e então um
calor de resposta a dominou, fazendo-a ansiar por seu corpo, o
desejo a consumindo.

Inclinando-se para ele, o beijou de volta, quente, forte,


profunda e avidamente.

Em resposta, a sua mão saiu da cintura e enrolou em seu


cabelo para puxar a cabeça para trás para que pudesse lamber
profundamente dentro de sua boca.

O aperto inesperado em seu cabelo, a tração em seu couro


cabeludo, despertou nela um súbito e indesejado medo.

Mãos cruéis puxando o seu cabelo, agarrando e puxando-a


dolorosamente, arrastando-a para trás. Ela tentou gritar. A mão
áspera, suja e forte, bateu em sua boca, abafando seu grito. Mais
mãos arrastando-a, abaixando-a, seu couro cabeludo ardendo
quando o aperto implacável não o soltava, empurrada no chão
no beco sujo, a mão em seu cabelo puxando violentamente,
empurrando a cabeça no chão e arrancando várias mechas
enquanto os dedos se afastaram, com o cabelo preso em um anel
239
pesado, prateado e um pulso em faixas de couro com uma fivela
de prata.

A memória queimou através dela, o pânico a fez afastar da


boca dele, deixando um grito escapar enquanto empurrava com
força o peito de Scott, tentando separar-se dele.

Scott a soltou imediatamente, dando um passo para trás


para lhe dar espaço, com as mãos levantada, em sinal de
rendição. — Ash. Querida. Está tudo bem.

Lágrimas brotaram de seus olhos quando tirou os óculos para


limpar a umidade, a respiração irregular quando se agachou.
Com o coração acelerado, ela respirou fundo várias vezes,
tentando dizer a Scott que não era ele, mas a memória dela em
pânico e o medo de que Scott recuasse e a deixasse. Que sua
reação exagerada finalmente o convencesse de que ela era
demais. — Scott... não é... por favor...

— Baby, estou aqui. — Ele se ajoelhou na frente dela, com o


rosto preocupado, as suas mãos estendidas para colocar
suavemente contra seus braços enquanto olhava nos olhos dela.
— Ash, eu estou aqui.

Não havia desgosto em seu rosto, nem piedade, apenas


preocupação. Era demais e ainda não o suficiente e tudo que Ash
podia fazer era colocar os braços ao redor de seu pescoço e se
pressionar para mais perto. Imediatamente seus braços estavam
aoredor dela, puxando-a contra ele.

240
— Sinto muito. Sinto muito. — Pressionando o rosto na curva
do pescoço dele, cheirou seu aroma reconfortante. — Eu sinto
muito.

— Querida, está tudo bem. — Sua voz era profunda,


calmante.

— Não, não está. — Seu poder sobre ele apertou. — Sinto


muito.

— Não é culpa sua. — Ele inclinou o rosto contra a cabeça


dela. — Acalme-se, querida. Não há ninguém aqui, além de mim,
está bem?

Os tremores a sacudiram e uma das grandes mãos de Scott


esfregou suas costas lentamente, a tranqüilizando.

— Não pense — ele a ordenou em voz baixa. — Apenas


respire. Inspire e Expire. Sim, essa é minha garota. Apenas respire.

O silêncio encheu a estação quando o obedeceu, o pânico


lentamente indo embora e ela gradativamente recuperou o
controle. Lentamente, os braços afrouxaram, relaxando enquanto
sua respiração se estabilizava. Seu coração parou de bater tão
forte e os tremores desapareceram.

Constrangimento veio logo depois. Oh merda, ela perdeu o


controle na frente de um homem que se preocupava. Como ela o
enfrentaria agora? Oh Deus, ela entrou em pânico, empurrou-o
para longe, quase hiperventilado e....

— Ash — Scott disse suavemente, — você está pensando


demais.

241
— Não, não estou. — Com o rosto ainda pressionado no
pescoço dele, sua voz foi abafada.

— Eu posso sentir a sua tensão e não é do ataque de


pânico. — Não houve censura em seu tom, apenas paciência.

Depois de alguns segundos lutando contra suas emoções,


ela murmurou. — Jesus, estou tão envergonhada.

Em um movimento suave Scott a empurrou para que ficasse


em pé, seu abraço não afrouxando de modo que se endireitou
com ele. No entanto, significava que não podia mais esconder o
rosto em seu pescoço, porque quando ele ficava de pé, o topo
de sua cabeça mal roçava seus ombros largos.

Sem dizer uma palavra, ele pegou a mão dela e levou-a


para a pequena cozinha. Não sabendo mais o que fazer e se
sentindo uma completa idiota, Ash só podia segui-lo.

Puxando uma cadeira, sentou-se, surpreendendo-a quando


a puxou entre os joelhos, com os braços ao seu redor.
Silenciosamente, observou-a, a fazendo corar, desconcertada
porque ele era tão alto que, mesmo sentado, ainda era maior que
ela e o fato de que toda a sua atenção estava voltada
exclusivamente para ela. E à sua reação estúpida.

Desejando fugir, mas sabendo que iria atrás dela, Ash


mordeu o lábio. Mas não podia evitar os olhos, recusou-se e o
encarou diretamente, mesmo enquanto se encolhia por dentro de
vergonha.

— Ash — Scott disse calmamente — Obviamente,


desencadeei a reação. Diga-me o que fiz.
242
Horrorizada que pudesse pensar isso, ela protestou — Não,
Scott, não foi você, juro. Você não é assim, você não é....

— Querida, pare. — disse com firmeza.

Em silêncio, ela obedeceu.

— Eu sei que não fui eu. Eu não faria mal a um fio de cabelo
seu. Mas algo que fiz, no entanto, sem saber, desencadeou uma
memória ruim para você. Eu quero saber o que foi para não
repetir, ok?

Sentindo-se miserável, olhou para ele e viu apenas


preocupação e honestidade em seu belo rosto. Se dissesse
alguma coisa, se dissesse sequer uma fração, será que pararia de
tocá-la? Ela não suportaria a ideia de que o seu cuidado resultaria
nisso.

— Eu fui muito duro? — Sondou.

— Não. Não, eu... — ela começou a ficar envergonhada por


uma razão completamente diferente.

Quando simplesmente a olhou, apertou os dentes. Deus, ela


não poderia mentir, mas não queria que ele fosse embora. Ele
merecia muito mais, e se estavam construindo um relacionamento
precisava ser honesta, por mais que se sentisse desconfortável.

Ela não conseguia olhar nos olhos dele, quando admitiu. —


Eu gostei. Você não foi muito duro.

— Então, do que você não gostou?

Ela o olhou. — Eu gostei de tudo.

243
— Ash. — Seu olhar era firme.

Ela engoliu em seco.

— Foi... o meu cabelo. — quão estúpido isso soou?

— Você não gosta quando toco em seu cabelo.

— Não, não é isso. Isso foi bom. Apenas... quando você o


puxou. Não foi forte, você não me machucou... — Apenas a
menção trouxe à memória e a fez puxar sua blusa, torcendo-a
inconscientemente. — Eles me agarraram pelos cabelos. Eles me
arrastaram para o beco pelo meu cabelo.

A luz fria deslizou pelo cinza quente habitual dos seus olhos,
fazendo-a estremecer e olhar para longe, mas sua voz
permaneceu suave. — Sinto muito.

— Está tudo bem. Você não sabia.

— Existe alguma coisa que eu precise saber? Eu não quero


feri-la de qualquer maneira.

— Eu não sei. — Desamparada e um pouco frustrada, deu


de ombros. — Eu não sei até que aconteça.

Uma de suas mãos tocou na base das suas costas. — Olhe


para mim, Ash. — Quando ela obedeceu, seu olhar era
tranqüilizador. — Nós descobriremos juntos.

Ela não sabia mais o que fazer, mas colocou seus óculos
novamente.

Ele a puxou suavemente, aproximando-a dele. — Se eu fizer


algo que trouxer uma memória ruim, que faça com que entre em
244
pânico, você me dirá imediatamente. Sem esconder, sem tentar
disfarçar, tudo bem?

Seu ombro era tão amplo, tão firme sob a sua mão que ela
não podia deixar de flexionar os dedos um pouco. Mas isso não
impediu o constrangimento de passar por ela. Incapaz de
encontrar olhos dele, ela balançou a cabeça.

— Ash... — Ele suspirou.

Inquieta, olhou para ele. Ele a olhava, com o cenho franzido


um pouco. Ele já estava repensando?

Nesse exato segundo seu olhar mudou, travado em seu olhar


e os dele estreitaram apenas um pouco. — Não.

— Não o quê?

— Não duvide de mim. — Em um movimento suave,


controlado e rápido, ele inverteu as posições.

Em pé, virou-a rapidamente, mudando-a de volta para que


as costas dos seus joelhos batessem na cadeira e ela não pudesse
fazer nada mais do que sentar-se. Apoiando as mãos sobre os
braços, inclinou-se olhou em seus olhos.

Ela deveria ter se sentido ameaçada, mas a emoção dentro


dela não era essa. Em vez disso, sua presença a rodeava, sua
atenção tão focada, e tudo o que podia sentir era... segurança.

Como ele sempre a fazia se sentir tão segura?

— Ash. — Sua voz era tão suave e controlada como sua


manobra. — Esta relação está em andamento. Eu quero isso e eu

245
tenho certeza que você quer também. Não pode estagnar e não
deixarei. Eu quero saber tudo sobre você, não vou mentir, mas
esperarei você me dizer. Enquanto isso, peço que você não me
esconda nada. Deixe-me saber o que você gosta e o que você
não gosta.

Surpreendida pela sua franqueza, embora soubesse que não


deveria se surpreender, ela brincou debilmente. — Hum... eu gosto
de chocolate. Isso é um grande segredo.

— E eu gostaria de lamber cada parte do seu corpo


exuberante.

A boca de Ash abriu em choque com a imprevisibilidade de


sua resposta. Para não mencionar a rajada de calor que a
atravessou, o brilho carnal súbito em seus olhos que desapareceu
tão rápido quanto apareceu, a intensidade calma habitual a
substituindo.

— Mas isso não é o que quero dizer e você sabe disso.

Engolindo em seco, ela balançou a cabeça.

— Se eu te beijar, se eu te tocar, se fizer qualquer coisa que


perturbe você, você me diz. Seja honesta sobre isso. — Ele se
aproximou, o calor de seu corpo a abrasando lentamente —
Porque Ash, eu quero te tocar, te beijar, te abraçar. Fazer tudo o
que os amantes fazem. Mas juro que não te machucarei, não
intencionalmente. Esperarei o tempo que precisar, mas você terá
que me ajudar, porque se não sei o que te incomoda, não posso
prometer que não farei sem querer.

246
Suas palavras fluíam através dela, empurrando as barreiras
que tinha levantado desde o pesadelo, há um ano atrás. Olhando
para Scott, na sinceridade em seus olhos, a honestidade aberta,
sabia que ele falava a verdade.

Ele tocou-lhe a alma, penetrou em pequenos pontos frios


que não sabia que sequer existiam dentro dela, até que suas
palavras a preencheram com calor.

Naquele momento, algo inesperado aconteceu. Quando


olhou para o seu rosto, sentiu sua paciência, viu seu
entendimento, teve que reconhecer que estava perdidamente
apaixonada por este bom, protetor e firme homem.

Este homem, que a queria, independentemente do pouco


que sabia sobre a quantidade de barreiras que enfrentaria,
baseando-se apenas no que suspeitava.

Este homem, que viu nela mais do que uma mulher


danificada, sem a confiança que costumava ter, com tanto medo
de afastá-lo.

Seu coração aberto, florescendo, calor a percorrendo. Era


cedo demais, rápido demais, ela sabia. Mas era inegável.

— Scott... — disse quase sussurrando.

Pupilas dilatadas, sua íris parecia escurecer quando ele se


inclinou para que seu rosto estivesse a apenas alguns centímetros
do dela, seu hálito quente em seus lábios. Ele a olhou diretamente
nos olhos. — Você é minha, Ash. — E então a beijou.

247
Foi um beijo profundo, não muito carnal, mas não tanto
controlado também e sabia que a deixaria sentir o seu ardor, seu
desejo preencher o seu beijo, enquanto enchia a boca como seu
gosto, seus sentidos com seu perfume, seu corpo com seu calor.

Ele não a agarrou, não a forçou, mas ele a afirmou. Apenas


um beijo e ela sentiu como se um desenho invisível se arrastasse
sobre ela, ao seu redor, seu poder puxando-a com ele até que
parecia que só haviam os dois em todo o universo. Apenas Scott e
Ash e mais ninguém.

Foi emocionante, assustador e quase irresistível.

Como se pudesse sentir isso, Scott levantou a cabeça para


sussurrar. — Eu estarei sempre aqui para você. — Tomando-lhe a
mão, a puxou quando se endireitou.

De pé diante dele, Ash o olhou, com o coração batendo


forte. Ela não sabia bem o que dizer ou o que fazer. Era tudo tão
inesperado, tão repentino e a necessidade de se abraçar a ele e
ainda fugir era uma mistura que a deixava tanto perplexa quanto
frustrada.

— Está tudo bem. — Scott deu-lhe um abraço rápido.

— Como você sabe? — apoiando a testa em seu peito,


suspirou. — Como você sempre sabe o que sinto?

Ele apenas riu baixinho.

Endireitando-se, ela olhou para ele. — Espero nunca o


decepcionar, Scott.

248
— Não irá. — Ele deu um beijo na ponta de seu nariz. —
Agora, é melhor você ir. Eu escuto o petroleiro vindo.

— Petroleiro?

— Assim como o caminhão de bombeiros, apenas maior,


quatro caminhonetes de rodas com um tanque de água menor
na parte traseira.

Quando disse isso, o som do veículo se aproximando ficou


mais alto e ela deu um passo para trás rapidamente, uma vez que
de repente apareceu na porta da estação de bombeiros, até
parar no interior ao lado do caminhão de bombeiros.

Simon saiu, um bombeiro voluntário saiu do outro lado. Os


dois sorriram para ela.

— Ei, Ash. — Simon assentiu. — É bom te ver. Veio ser


voluntária?

— Não. — Esperando que nenhum dos seus sentimentos


transparecesse em seu rosto, conseguiu sorrir de volta. — Vim para
deixar o carro do seu patrão.

— Scott não é meu chefe. O homem mal consegue amarrar


os próprios cadarços.

Scott mostrou o dedo.

— Ela quis dizer a Estação Policial, idiota. Embora teria sorte


de me ter como chefe.

— Huh. — Simon a olhou pensativo. — Pensei que tivesse visto


Ash dirigindo o carro há algum tempo atrás.

249
Isso a fez olhar para o relógio, um suspiro de horror escapou
dela. — Oh não! Eu preciso voltar! Ben enlouquecerá, estive fora
por tanto tempo!

— Não, ele não irá. — Scott levou-a até a porta. — Vamos


apenas dizer que você trancou as chaves no carro e me levou
alguns minutos para tirá-la.

— Ele pensará que sou uma idiota. — Ela fez uma pausa. —
Talvez seja melhor do que uma puta.

Scott engasgou, tossindo.

— Eu tenho que ir! — Ash correu.

Quase esquecendo de verificar a peça de Ben, ela passou


nos correios e teve que voltar atrás. No momento em que voltou
para a oficina ela estava com o rosto vermelho e sem fôlego.

Ben apenas olhou para ela, disse.

— Scott. — Balançou a cabeça e entregou-lhe as chaves de


sua caminhonete e um envelope. — Vá para Jack, não pare no
corpo de bombeiros.

Decidindo não discutir ou tentar explicar — obviamente Ben


de alguma forma adivinhou — Ash pegou as chaves e saiu.

250
Capítulo Sete

Mal o voluntário saiu e era apenas Simon na estação de


bombeiros, Scott deixou sua raiva solta.

Chutando uma cadeira, ele xingou. — Merda!

Simon olhou com surpresa. — Problema?

— Só... Caramba! Merda! — Ele invadiu o caminhão de


bombeiros e pegou a toalha do tabuleiro de corrida, onde ele a
havia jogado.

— Quer falar sobre isso?

— Eu quero arrancar a cabeça de alguém.

— Que tal eu chamar Ryder?

— Alguém disse o meu nome?

Scott viu Ryder passar pela porta, Kirk logo atrás dele
carregando uma caixa.

— Trouxe café da manhã — Kirk atravessou para a pequena


sala de jantar.

Sentando, Scott agradeceu quando seu amigo lhe entregou


uma torta de carne. Kirk, Simon e Ryder sentaram nas cadeiras
vagas e começaram a tirar as tampas fora de seus copos para
viagem.
251
— Então, qual é o problema? — Perguntou Kirk.

Melancolicamente, Scott tomou um gole de café quente.

— Ash deixou escapar algumas coisas sobre o que


aconteceu.

— Com os idiotas Dawson?

— Não. Com... Havia mais de um homem. — Ele olhou para


o amigo. — Aconteceu em um beco.

Não houve nenhuma necessidade de explicação. O queixo


de Kirk apertou, mas ele simplesmente assentiu.

Ryder fez uma careta. — Bastardos.

— Ela lhe contou tudo? — Simon perguntou.

— Não. Só escapou porque, bem, fiz algo que desencadeou


uma lembrança e ela acabou contando.

Ryder franziu as sobrancelhas. — Você fez alguma coisa?

Sentindo-se um pouco desconfortável sob o olhar de Kirk,


Scott fez uma careta. — Não quis machucá-la deliberadamente.
— Como seu amigo só o olhava, Scott abaixou a torta. — Sério?
Você achou que a machucaria deliberadamente?

— Eu só estou esperando para ouvir o resto.

— Por que deveria dizer?

— Por que começou a falar então?

— Porque Simon me perguntou.

252
— Esse é Kirk. — Simon falou lentamente. — Ele é o cara
intenso de coração para coração por aqui.

— Eu sou intenso — disse Ryder. — Eu posso fazer de coração


para coração, você sabe.

— Não, você faz peito para seios, coisa completamente


diferente.

— Como disse, coração para coração. — Ryder piscou


lascivamente. — E eu faço isso intensamente.

— Então Dee me dirá.

Isso fez com que Ryder fizesse uma careta. — O que ela sabe
sobre isso?

— Muita coisa, pelo que diz.

— Eu preciso conversar com aquela garota, ver o que está


em seu papo.

— Traga-a. Espere, eu farei. — Simon sorriu. — Mal posso


esperar para ouvir sua explicação.

Resmungando sobre ―intrometidas, garotas barulhentas que


precisam ser domadas‖, Ryder voltou sua atenção para a torta
quente na mão.

Scott colocou molho de tomate em sua torta.

— Ash tem ansiedades relacionadas com o que aconteceu


e eu entendo isso. É algo que precisaremos trabalhar.

253
— Leva algum tempo. — Kirk mudou a torta para a outra
mão, fazendo uma careta. — Está muito quente.

— Eu sei. — Scott colocou a torta de volta no saco de papel


e a abriu. Vapor saiu rolando para fora. — Merda, isso está quente.

— Meu Deus, estou cercado por gênios, — disse Ryder. — As


tortas estavam em um aquecedor. Um aquecedor é quente. O
que isso quer dizer, crianças?

— Que você é um idiota, — Kirk respondeu.

— Não, vocês são todos idiotas.

— Ei, — Simon protestou preguiçosamente, — Eu não disse


nada.

— Você ainda é um idiota.

Scott olhou para seus amigos. — E se eu estiver indo rápido


demais com Ash?

Ryder o lançou um olhar. — Segundos pensamentos?

— Não. Merda não. Quero Ash. Estou com ela.

— Será que ela sabe disso?

— Sim.

Kirk ergueu as sobrancelhas.

— Eu disse a ela — disse Scott.

— Você disse a ela? — No ato de tomar uma mordida de


sua torta, Simon fez uma pausa. — E como foi?

254
— Não há marcas de mãos em suas bochechas — observou
Ryder. — Isso tem que ser um bom sinal.

— Você sabe.

Scott segurou a xícara de café para viagem entre as mãos.


— Bem, ela não saiu correndo e gritando.

— Então, o que ela fez? — Kirk perguntou.

Ela olhou espantada, mas Scott não perdeu o calor em seus


olhos, nem a maneira como ela se apoiou nele. Ele tinha certeza
que não tinha ideia de quão vulnerável pareceu quando fez isso,
nem quanto agitou seus instintos protetores. Ou como fez o seu
eixo ficar duro e seu sangue esquentar. — Ela me beijou de volta.

Kirk sorriu levemente. — Acho que responde sua pergunta.

— Se você estivesse indo rápido demais, ela lhe diria. —


Ryder falou sério. — Cara, essa pobre menina correria 2 km se
você a assustasse. Tome como um bom sinal que ela não saiu
correndo e ainda te beijou.

Até mesmo Simon ficou espantado. — Estou impressionado.

— Ei, eu sei sobre mulheres. — Ryder desafiadoramente deu


uma mordida na torta, só para ficar de boca aberta, derrubando
o pedaço de torta no saco de papel. — Ai, merda! Quente,
quente, quente!

Kirk olhou para ele por alguns segundos. — Bem-vindo ao


mundo dos idiotas.

255
Scott sorriu enquanto ouvia seus amigos trocar insultos de
boa índole.

A conversa tomou outro rumo e tempo passou agradavelmente,


embora Ash nunca estivesse longe de seu pensamento. Eles
combinaram de andar de moto na sexta-feira, um dia em que
todos estavam de folga, algo que só acontecia raramente.

Ryder saiu, Kirk seguindo atrás. Scott já estava olhando a


folha de trabalho para o dia quando sentiu uma mão tocar em
seu ombro. Ele viu Kirk o observando.

— Você está fazendo tudo certo. — Kirk deu um tapa rápido


no seu ombro e saiu.

Quando seu amigo saiu de sua linha de visão, Scott assentiu


para si mesmo. Quando veio para Ash, tudo o que ele podia fazer
era confiar em seu instinto. Até agora não estava errado. Também
ajudou que parecia ser capaz de lê-la como um livro aberto. Isso
era um bônus enorme.

Sem mencionar que Ash estava em seus pensamentos à


noite, quando estava deitado na cama, o calor aumentava em
seu corpo com a ideia de tê-la ao seu lado. Debaixo dele.
Especialmente sob ele. Todas aquelas curvas nuas para seus olhos
enchia sua boca de água apenas o pensamento de se
banquetear com aqueles seios deliciosos. Cristo, ele realmente
precisou se aliviar várias vezes desde que a conheceu, e já havia
passado algum tempo desde que precisou fazer isso. Trabalhos
manuais não se comparavam a coisa real, e essa coisa
verdadeira ele queria com Ash.

256
Jesus, ele praticamente queimava por ela em algumas
noites.

E era melhor tirá-la de sua mente e se focar no trabalho, se


não quisesse comentários irreverentes de Simon sobre a forma
como suas calças formavam uma tenda.

Estava tranqüilo na estação de bombeiros e mergulhou nos


deveres gerais do dia-a-dia. Estava tudo certo até que o alarme
de incêndio disparou.

Em poucos minutos, Simon estava ao seu lado no carro de


bombeiros, o operador da bomba no banco de trás com um
voluntário, deixando mais quatro voluntários em espera para
seguir o caminhão, se necessário. Saindo da cidade,
mentalmente revisou tudo o que tinha que fazer.

A fumaça já estava espessa no ar, fácil de ver da estrada


antes que sequer chegassem ao local.

Pegando o microfone do rádio, Scott apertou o botão. —


Visualizando a fumaça. O fogo está definitivamente perto da
fazenda de Jack Stanton.

Simon virou o caminhão para a estrada lateral. — Você


precisa do petroleiro? — A voz do Diretor da estação soou do
rádio.

Estudando a fumaça enchendo o ar, Scott franziu a testa. —


Não sou capaz de ver o quão longe o fogo propagou, no entanto,
poderia ser apenas mato úmido causando a fumaça. Vou relatar
quando estivermos mais perto. — Roger. Desligando.

257
— Desligando.

Colocando o microfone no gancho, Scott estudou a fumaça


quando se aproximavam. Completando a curva, podiam ver as
chamas subindo para o ar.

— É ruim. — Disse o operador da bomba severamente.

O fogo se espalhava, incendiando ao longo dos arbustos na


beira da estrada e das culturas no campo. Pior ainda, mais ao
longe Scott podia ver ovelhas em pânico em um piquete.

Agarrando o rádio, ele falou. — Mande o petroleiro.

Mesmo quando os bombeiros saíram do caminhão, um carro


de patrulha e um camburão pararam. Agindo em conjunto, a
polícia bloqueou a estrada, enquanto os bombeiros trabalhavam.
O petroleiro apareceu minutos depois e o fogo foi abordado por
dois lados.

Através da fumaça Scott viu algo que nunca esqueceria tão


depressa. Quando o fogo correu para os piquetes viu que o velho
Jack Stanton deixou o portão do paddock aberto, os dois kelpies
pastoreando as ovelhas passando, mas um pequeno cordeiro
tinha sido esquecido. Em pânico, estava cambaleando perto da
cerca mais próxima do fogo, a fumaça agitando até
parcialmente obscurecer a sua visão antes de limpar o suficiente
para fazê-lo ver algo que o fez xingar.

Uma mulher apareceu, correndo pelo paddock de Jack


Stanton. Mangueira na mão, tentando apagar o fogo, Scott
observou, tentando reconhecer a mulher através da fumaça.
Incapaz de soltar a mangueira de fogo, só podia esperar que ela
258
mantivesse sua cabeça no lugar, que não ficaria muito perto do
fogo. O paddock não estava em grande perigo, mas se um vento
soprasse com força, explodiria de repente, o fogo poderia se
transformar e ela estaria em perigo.

Em um grito de Simon atrás dele, ele mirou a água da


mangueira na base do fogo, seguindo as instruções, mas olhou
para o paddock. A sua visão estava obscurecida pela fumaça
novamente, mas então a viu, a mulher correndo novamente para
o portão com o cordeiro em seus braços. Stanton puxou-a pela
porta, fechando-a atrás de si. Graças a Deus ela estava segura.

A mulher virou quando a fumaça se dissipou por alguns


segundos. Ela parecia familiar, com aquele corpo exuberante, a
blusa rosa, o cabelo ruivo que brilhava ao sol. Cristo, era Ash.

Incrédulo, olhou antes da fumaça obscurecer novamente a


visão.

Ash. Ela estava segura. A raiva o inundou. Mulher temerária,


correndo em um paddock com a ameaça de fogo ao seu redor,
o que havia de errado com ela? Condenada de coração muito
mole é o que é. Jesus, esperava que Stanton desse uma bronca
nela. Conhecendo o velho Jack, ele estava fazendo exatamente
isso.

Apertando os dentes, sabendo que estava segura, afastou


sua raiva e medo para se concentrar no fogo. Mas depois... Jesus,
ele rasgaria as suas tripas.

O fogo foi controlado e apagado, mas levou algum tempo


antes que pudessem sair. Verificar a área e avaliar os danos, Scott
259
ficou aliviado ao ver que, apesar de alguns piquetes terem sido
queimados, perdas de valores ou casas não haviam ocorrido.

Guardando a mangueira, virou-se quando Kirk se aproximou.

Severamente, Kirk olhou para ele. — Encontrei um bidão nas


proximidades.

— Merda. É um incendiário, não é?

— FESA está chegando. Vamos saber ao certo quando


chegarem, mas, parece que sim. Não há razão para um incêndio
começar.

— Você tem um suspeito?

— Não sei. — Kirk olhou para trás na direção do carro da


polícia. — Encontrei um homem que tentava apagar as chamas
com um saco de juta embebido em água.

— Trabalhador agrícola?

— Aparentemente. Vamos levá-lo para uma entrevista, para


sabermos se viu alguma coisa.

Protegendo a mangueira, Scott balançou a cabeça. — Eu


nunca entenderei esses bastardos que acendem fogueiras para se
divertirem.

— E chamar atenção. — Suor escorrendo pelo seu rosto sob


o capacete na cabeça, Simon apareceu no cotovelo de Scott. —
Sério, tem de haver melhores formas de chamar a atenção.

260
— Esses bastardos deveriam ser enforcados e esquartejados.
— Scott deu um passo atrás. — Ok, podemos bem voltar. Já
fizemos tudo o que podíamos aqui.

— Sim. — Kirk olhou para ele. — Então, você notou certa


mulher no paddock?

— Nem me fale — Scott disse entre dentes. — Eu terei uma


conversinha com ela.

Simon trocou um olhar com Kirk. — Lembre-se — Simon


começou. — Ela é um pouco frágil.

— Frágil? — Scott quase arrancou a porta. — Frágil por uma


coisa. Não por isso.

Seus amigos trocaram outro olhar antes de Kirk voltar para o


carro patrulha.

Entrando no banco do motorista, Simon esperou até que os


outros dois bombeiros estivessem sentados antes de ligar o
caminhão e voltarem para a cidade.

Scott deixou a conversa dos homens caírem em cima dele.


Apenas um pensamento estava em sua mente naquele momento.
Ash Smythe e a ―conversinha‖ que teria com ela depois do
trabalho.

— Você sabe que só pode evitá-lo por certo tempo. — Dee


olhou para Ash.
261
Enrolada no canto do sofá de Del, Ash respondeu. — Eu só
tenho que evitá-lo o tempo suficiente até que ele esfrie.

— Esfriar? Scott? — Del sorriu. — Querida, quando ele fica


com os cabelos em pé nada o resfria até que tenha resolvido o
problema.

Ash fez uma careta. — Eu não gosto de pensar que sou um


problema.

— Você é o problema dele. — Disse Dee sem rodeios. — Ele


tentará te resolver. Confia em mim.

— Quão ruim pode ser? Sr. Stanton disse-me que o paddock


estava bem seguro nesse momento e...

— Isso foi antes ou depois de ter gritado com você por salvar
aquele cordeiro?

— Depois. — Ash tamborilou com os dedos em seus braços.


— Então ele me agradeceu. — Seu olhar deslizou para Dee. — Ele
me agradeceu.

Dee olhou para Del. — Ah, sim, isso fará uma enorme
diferença para Scott.

— Confie em mim, Ash. Pelo que Simon disse, ele te lerá o ato
de motim. Você teve a sorte infeliz de ser vista não muito longe de
um incêndio, correndo em direção a um incêndio, para salvar um
cordeiro.

— Eu tive o ato de motim lido por Jack. Isso deve ser o


suficiente.

262
— Isso é o que você pensa.

O telefone tocou e Del atendeu. — Alô? — Seu olhar foi para


Ash. — Oh... oi, Scott.

Dee sorriu quando Ash afundou-se no sofá.

— Ashley? — Del levantou as sobrancelhas para Ash. — Não,


eu não sei onde ela está. — Seu sorriso aumentou. — Ouvi dizer
que ela foi uma heroína, salvando o cordeiro do velho Jack
Stanton. — Ela fez uma careta.

Oh nossa, isso não podia ser bom. Ash mordeu o lábio. Ele
estava gritando? Se Scott estava gritando era ruim. Muito ruim.

Dee simplesmente se largou mais na poltrona e tomou um


gole de sua Coca-Cola Diet.

Del apontou para o telefone em seu ouvido e murmurou


para Ash — Quer? — Quando Ash balançou a cabeça, sorriu.

— Tenho certeza que não sei onde ela foi Scott. Sim, lhe
avisarei que está procurando por ela. Sim, pode tentar o telefone
de Dee. Certo. Tchau. — Desligando o telefone, olhou para Ash. —
Oh garota, você está em sérios problemas.

— Ele estava gritando, não estava?

— Não, ele estava quieto. Muito quieto.

Indo pelo rosto de Del, isso não era bom.

— Merda, quão ruim isto ficará?

263
— Bem, duas coisas acontecerão — Dee respondeu. — Ele
ficará com mais raiva quanto mais tempo levar para encontrá-la,
ou a encontrará rapidamente e a raiva só durará enquanto te der
o sermão.

Ash olhou para ela. — Isso é para me sentir melhor? Porque


me deixe dizer Dee, isso não aconteceu.

— Apenas estou dizendo como é. — Dee sorriu para Del. —


Então, o que faremos com a fugitiva?

— Dando-lhe abrigo até Ciclone Scott parar de procurá-la.

— Você acha que ele desistirá? — Ash perguntou.

— Oh, pobrezinha. — Del olhou com pena para ela. — Ele


sabe que você está escondida. Ele continuará a caçá-la até que
a encontre.

Isso produziu uma mistura de sentimentos. Medo, emoção e


algo que deixou seu coração descompassado.

— Por enquanto a cidade inteira sabe que você está se


escondendo. — Dee anunciou alegremente.

Horrorizada, Ash olhou para ela. — O quê?

— Scott está caçando você.

— Você vai parar de dizer isso?

— Tudo bem. Ele está procurando você e não deixará pedra


sobre pedra. Provavelmente pediu alguns favores e tem a polícia
a procura também.

264
— O quê?

— Ele só parará quando te encontrar e te arrastar para seu


covil para te dar o sermão.

— Pelo amor de Deus, vocês não deviam ser minhas amigas?

— Sim.

— Então, por que você está sentindo prazer nisso?

— Qual é o seu ponto?

Desesperada para ser tranqüilizada, Ash olhou para Del.

— Ela está brincando, certo? Ela só está me provocando.


Scott não é tão ruim, não é? Ele não está realmente me caçando,
não é?

— E você não está realmente escondida na minha casa. —


Del respondeu.

Isso era ridículo. Ela estava escondida na casa de sua amiga.


Que inferno...? Ela era uma adulta, pelo amor de Deus! Isto tinha
ido longe demais. Abrindo a bolsa, ela tirou seu celular e discou.

— Uh oh, — disse Dee. — Você está fazendo o que acho que


está fazendo?

Encarando Dee, Ash colocou o telefone no ouvido.

O telefone tocou apenas uma vez antes da voz de Scott


atender profunda e suave. — Eu estou do lado de fora te
esperando, Ash. — Ele desligou.

Pasma, olhou para o telefone. — O quê? — Del exigiu.


265
— Ele disse que está do lado de fora.

Saltando da poltrona, Dee correu para a janela, puxando a


cortina.

— Oh garoto.

Del e Ash estavam logo atrás. Ash olhou por cima do ombro
e fez uma careta.

Encostado à frente de um velho Ford Fairlane azul escuro


estava Scott. Ainda de uniforme, seus tornozelos em botas
cruzados, pernas longas se estendendo diante dele, braços
musculosos cruzados sobre o peito, com o olhar dirigido para a
casa. Seu rosto poderia ter sido esculpido em pedra, era tão
inexpressivo.

— Ele sabia que você estava aqui o tempo todo. — Dee


abaixou a cortina.

— Como? — Ash agarrou o telefone celular mais apertado.

— A gênio aqui disse para me telefonar. — Dee apontou o


dedo na direção de Del.

— Qual o problema? — Del franziu o cenho.

— Meu carro na sua garagem, sua besta.

— Oh.

Balançando a cabeça, Dee olhou para Ash.

— Agora o que você fará?

— Ir até ele, o que mais?


266
— Você tem certeza que é prudente?

Foi a vez de Ash encará-la. — O que eu sou, uma criança?


Eu não estou me escondendo dele.

— Você estava há apenas alguns segundos atrás.

— E olha onde isso me levou. Agora pareço uma idiota.

— Mas uma de forma inteligente. — Dee fez uma pausa. —


Bem, até que você ligou para ele.

— Me esconder não é a resposta.

— É um alívio.

— Isso não me levará a qualquer lugar.

— Ir até Scott te levará a algum lugar.

— Certo. E isso é uma coisa boa.

— Eu não disse isso.

Colocando a alça da bolsa em seu ombro, Ash se dirigiu


para a porta. — Obrigada pelo esconderijo. Agora tenho que
enfrentar as conseqüências. Aparentemente, Scott me lerá o ato
de motim.

Del fez uma careta de simpatia. — Sim, ele irá.

Dee abriu a porta. — Boa sorte.

— Quer parar com isso? — Ash falou. — Ele não me matará.

— Provavelmente seria mais fácil se fizesse.

Exasperada, Ash ergueu as mãos e saiu para a varanda.


267
No entanto, a sua coragem vacilou quando o olhar de Scott
se estreitou sobre ela, seu coração começou a bater forte,
desconfortável com o fato de que nenhuma expressão atravessou
seu rosto enquanto a observava se aproximar. Ele continuou
inclinado no carro, sem dizer uma palavra e, quando ela parou
diante dele, com a mão apertando a alça de sua bolsa, ele só
analisou seu rosto. Nenhum sorriso. Mas um músculo tremeu em
sua mandíbula e isso simplesmente não podia ser bom.

Ash tentou um sorriso hesitante. — Oi. Ouvi dizer que


procurava por mim.

Se endireitando, Scott simplesmente abriu a porta do carro


do lado do passageiro e esperou.

— Uma carona de volta para a pensão de sua mãe não é


necessária. Eu posso andar. — Quando ele simplesmente ficou ali,
ela limpou sua garganta. — Ok, então. — Passando por ele, sentou
no banco do passageiro, a porta fechando atrás dela com um
baque sinistramente baixo.

Inquieta, o viu caminhar para o lado do motorista. Ao abri-la,


sentou-se, fechou a porta e ligou o motor. Colocando o carro em
marcha, saiu da calçada para a rua.

Brincando com a alça de sua bolsa enquanto dirigiam, Ash


lançou a ele um olhar de soslaio. O leve cheiro de sabão veio
dele, então obviamente tinha tomado banho e trocado de roupa
em algum momento na estação de bombeiros, provavelmente
após o turno.

268
Huh. Ok, bem, pelo menos não sentia o cheiro de fumaça,
também. Depois de voltar para a cidade, Ben também tinha lido
seu ato de motim por colocar-se em perigo — aparentemente
Jack havia telefonado para lhe entregar — então a mandou para
casa para tomar banho e trocar suas roupas perfumadas de
fumaça e cordeiro. Quando voltou a trabalhar muito mais suave,
ele agiu como se nada tivesse acontecido. Obviamente, com
Ben, uma vez que algo havia sido resolvido, acabava.

Tentando preencher o silêncio constrangedor, Ash olhou


para Scott. — Então... Hum... O fogo acabou?

Seus olhos foram brevemente para ela, antes de retornar


para frente.

Jesus havia um brilho em seus olhos. A tensão em seus


ombros. Ela podia ver o flexionar do músculo em seu antebraço, a
maneira como suas mãos apertaram brevemente no volante.

Scott estava furioso.

Ash engoliu em seco. Oh, isto foi um pouco estranho, ou


melhor, um pouco assustador.

O portão da pensão apareceu, mas ele passou em frente


em linha reta.

— Acabamos de passar pela pensão de sua mãe — Ash


sentiu-se compelida a apontar.

Os olhos cinzentos relancearam para ela e voltaram para a


estrada.

— Scott? — Sondou nervosamente.


269
— Não vamos para a casa da mamãe.

— Não? — Surpresa, olhou para a pensão desaparecendo


pela janela traseira. — Para onde iremos?

— Minha casa.

Surpresa, ela olhou para ele. — Por quê?

— Privacidade.

Oh, isso não soava bem. Ash se diminuiu no banco e


recomeçou a torcer a alçada bolsa.

— Olha, se você pretende gritar comigo...

Outro relancear de seus olhos em sua direção teve suas


palavras secando. Havia um brilho definido em seus olhos, a raiva
definitivamente latente nas profundezas escuras, mas havia algo
mais?

Suas mãos começaram a ficar suadas. Talvez ele fosse


romper seu relacionamento. Talvez quisesse privacidade para
gritar e dar seu discurso. Talvez não quisesse que ninguém ouvisse
o que ele diria, era tão ruim assim. Talvez ele quisesse... Oh merda,
lá estava a sua casa.

Subindo na calçada, Scott freou, desligou o motor e saiu do


carro.

Ash não sabia se era para sair ou trancar a porta, um


pensamento descontroladamente estúpido e totalmente infantil.
Assim que passou em sua mente ela respirou profundamente, se

270
fortalecendo e abrindo a porta, saindo assim quando Scott a
alcançou.

Segurando a porta, esperou que ela se afastasse antes de


fechá-la. Ela esperava que fosse para a casa e a deixasse logo
atrás, em vez disso, ele segurou a sua mão e puxou-a atrás dele,
até as escadas e para a varanda, parando à porta apenas tempo
suficiente para desbloqueá-las. Sustentando a tela de segurança,
empurrou a porta de madeira e olhou para o rosto dela, o
comando não dito claro.

Engolindo em seco, Ash passou por ele, sua mão


escorregando das suas. Ela o sentiu bem atrás dela, o calor de seu
corpo quase queimando suas costas.

Incerta para onde ir, tirou a bolsa do ombro, segurando-a


com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos, enquanto
olhava para o corredor. A luz do corredor acesa eliminva a
escuridão.

Tilly saiu gingando da sala, olhou Ash e correu para a


cozinha. Ótimo, acabou de ser desprezada pela gata.

O silêncio no corredor foi quase ensurdecedor, o barulho da


porta de tela fechando alto, e o da porta de madeira ainda mais
alto. O som da fechadura foi, no entanto, o mais alto, fazendo-a
agarrar a alça da bolsa com mais força.

O silêncio se prolongou e nada aconteceu. Por trás dela


podia sentir sua presença enchendo o ar, nenhuma palavra sendo
dita. Seus olhos praticamente faziam um buraco na sua nuca, ela

271
podia sentir isso. Sua aura pressionada na dela, subjugando-a
para o ponto em que ela não agüentava mais.

Ela começou com voz trêmula — Olha, Scott, se você gritará


comigo, então apenas faça...

Scott a beijou forte, rápido, quase sem piedade.

Braços musculosos apertados ao redor dela, uma grande


mão em suas costas, a outra colocando na sua cabeça. Ela
estava presa em seu abraço. O beijo foi inesperado, a dureza da
emoção, enviando calor escaldante através dela.

Toda essa situação deveria tê-la feito entrar em pânico, mas


seu cheiro, seu gosto, tudo de Scott provocou o efeito oposto.

O nervosismo que tomava conta dela dissipou. Ela apenas


começou a beijá-lo, se pressionar nele, quando ele afastou sua
boca para olhá-la, seus olhos brilhavam com uma combinação
de raiva e desejo. Era assustador e inebriante. — Scott...

Ele empurrou-a contra a parede em um movimento súbito e


ao mesmo tempo protetor, as mãos garantindo que não batesse,
amortecendo as costas e cabeça antes de soltá-la para colocar
as suas mãos na parede de cada lado da sua cabeça e
empurrar-lhe as costas, apoiando-se sobre ela quando a olhava
com os olhos escuros e cintilantes.

— Que inferno, Ashley! — Ele rosnou asperamente. — Como


você se coloca em perigo desse jeito?

Se ele tivesse gritado, ela lidaria com isso, tinha certeza


absoluta. Mas essa raiva tranqüila, esta fúria controlada, a deixou

272
tremendo ao mesmo tempo em que o respondia. Foi um choque,
mesmo quando olhava para ele. — Eu não fiz nada de errado.

— Como não fez ? — Suas pupilas dilataram. — Você correu


em direção a um incêndio.

— Eu estava a salvo.

— Salva? — Ele se inclinou mais perto, com a mandíbula


apertada. — Salva?

Erguendo as mãos, empurrou seu peito. Ele não se moveu


um centímetro, mas por Deus, ela sentiu o calor de seu corpo, a
tensão nos músculos agrupados com tanta força por baixo da
camisa do uniforme.

Era como se o tempo voltasse para trás, seu velho eu


autoconfiante ressurgindo das ruínas fumegantes para enfrentar
um homem irritado, sem vacilar.

Isso e algo mais, algo que pulsava no fundo a cada batida


de seu coração. Algo ousado. Algo do seu antigo eu. Algo que
respondeu ao seu domínio. A resposta que nunca pensou que
sentiria novamente.

— Sim, segura. — Seu queixo inclinado para cima em


desafio, seu prêmio o modo como suas pupilas dilataram ainda
mais até que apenas uma borda fina de cinza se mostrasse. — O
paddock não estava em chamas. O cordeiro precisava ser salvo.
Eu estava segura.

— Nenhuma pessoa sã corre em direção ao fogo,


independente do motivo. Se o vento tivesse mudado, se as coisas

273
dado erradas, você poderia ter se machucado. Queimado.
Morrido.

— Mas não fui. Eu não sou uma idiota.

Suas narinas dilataram, seus dentes cerraram.

— Você nunca, jamais, fará isso novamente. Você está me


ouvindo?

O sangue bombeado por suas veias, o perigo no ar uma


mistura tentadora que a fez segurar o cinto, enganchando os
dedos ao redor do couro para dar-lhe um puxão. — Você não me
diz o que fazer, Scott.

Com o canto dos olhos, ela podia ver seus bíceps e tríceps
tencionados, distendendo e flexionando quando se inclinou ainda
mais perto, tão perto que podia ver o brilho, o desejo carnal sobre
a raiva, deixando-o furioso, ela sabia. Fazendo-o tentar manter o
controle, fazendo-o querer estar perto e longe ainda, fazendo-o
querer agarrá-la, ainda tendo cuidado. Não havia nenhuma
dúvida em sua mente que Scott não queria perder o controle, que
este pequeno plano dele tinha corrido mal.

Lenta e deliberadamente, ela arqueou uma sobrancelha.

Lentamente, muito lentamente, ele se inclinou ainda mais, as


linhas bonitas e duras de seu rosto enchendo sua visão, fazendo
seu coração bater em antecipação. Ele mudou o ângulo
ligeiramente, sua bochecha tocando a dela até que sua boca
descansou em seu ouvido, sentindo seu hálito quente quando ele
disse suave e perigosamente — Jamais faça isso novamente. Se

274
eu sequer ouvir que você fez outra vez, eu chegarei até você tão
rápido, Ashley, que não saberá o que aconteceu. Você entende?

Não demorou muito para virar a cabeça até que sua própria
boca estava em seu ouvido. — Ou o quê?

As palavras encheram o ar, parecendo expandir entre eles


até que o nível de perigo elevou. Perigo e outra coisa, algo
escuro, exótico. Erótico. Hedonista.

A ligeira mudança, seus lábios tocando a sensibilidade da


sua pele, suas palavras baixas, quase guturais repleta de luxúria.

— Não me tente, mulher.

Com a voz rouca, ela repetiu — Ou o quê?

A tensão praticamente vibrava entre eles e ela podia jurar


que o calor do corpo dele aumentou mais uns dez graus. Seu
peito roçou-a quando ele inalou devagar e profundamente.

— Estou avisando. Estou no limite. Continue provocando e


uma das duas coisas acontecerá.

O aperto no cinto aumentou, seus dedos roçaram em seu


abdômen duro. — Diga-me.

— Ou baterei em você até que não consiga sentar ou


transarei com você até não consiga andar.

Sua resposta deixou o ar pesado, a sensação de seu corpo


debruçado sobre ela, o seu calor, a sua força. Saber que poderia
fazer o que disse e que seria incapaz de detê-lo era tão tentador,

275
tão inebriante, tão assustador de uma forma deliciosamente
debochada.

A batida de seu coração ecoou entre as coxas, a umidade


que escoava de seus segredos de mulher, seus mamilos duros,
apertados, doloridos de desejo.

— Duas escolhas — ela sussurrou sedutoramente. — Qual


delas escolherá?

Ele estava tão quieto, músculos tão duros, seu poderoso


corpo tão tenso. — O que você quer?

Ele estava dando a ela a escolha, o controle, soube disso


instantaneamente. Assim como sabia que não a machucaria. Não
intencionalmente. Ela confiava nele, confiava o suficiente para
responder. — Qual você quer?

Lentamente, ele se inclinou de modo que estava olhando


para ela, mas ainda perto o suficiente para que ela pudesse sentir
seu calor, que a cada respiração pudesse sentir seu perfume, que
ainda estava cercada por ele.

Seus olhos brilhavam com veemência, tempestuosos com o


desejo sexual, a voz rouca de desejo mal controlado quando
declarou sem rodeios. — Quero transar com você até que não
consiga andar.

As palavras deveriam ter sido brutas, mas vindas de Scott


eram pecaminosamente eróticas, deslizando como veludo, como
carícias proibidas. O seu calor, o seu som, o seu cheiro, a deixou
faminta pelo seu gosto, seu toque, sua força nela. Dentro dela.
Queria tudo o que era Scott.
276
Lentamente, tirou a mão de seu cinto e deslizou ao longo
dos músculos de seu abdômen para o seu peito e até seu ombro
largo. A cada toque de sua mão, seus olhos ficaram mais mais
escuros, com um brilho carnal.

Encontrando seu olhar, sussurrou com ousadia — Mostre-me.

Não houve mais palavras, ele simplesmente se inclinou,


tirando os seus óculos e colocando-os na mesa da sala antes de
dobrar os braços para que pairasse centímetros acima de seu
rosto, seus olhos ardentes enchendo sua visão antes que tomasse
sua boca em um beijo tão quente, que sentia como se o fogo
queimasse sua garganta, um beijo tão profundo que sentia como
se desvendasse todos os seus segredo, e assim hedonisticamente
sem pressa envolveu as mãos em sua camisa e tirando-a e o
beijando desesperadamente.

Ele beijou-a profundamente, levando tudo o que tinha,


enchendo-a como seu gosto, saqueando a boca com uma fome
voraz.

Com apenas a boca, manteve-a presa, prensada nele,


desejando por mais quando despertou ainda mais seu desejo,
acendeu as chamas ainda mais quentes.

Tão perdida em seu gosto e tato, foi um choque quando


notou que as suas mãos estavam de repente sob a blusa, as
palmas das mãos calejadas ao redor de sua cintura.

O deslizar de suas palmas em suas costelas a fez ofegar em


sua boca, a fome em sua risada rouca causando arrepios,
incendiando sua pele, suas terminações nervosas provocadas
277
quando dedos longos empurraram o sutiã para tocar a parte
inferior dos seios.

Quadris estreitos pressionaram suas costas na parede, a


boca quente deslizou de sua boca, pressionando beijos quentes e
molhados em seu rosto antes de mergulhar no pulso que batia tão
erraticamente em sua garganta.

Tão presa no calor, não sabia quando sua blusa foi aberta,
apenas que a sua pele nua estava subitamente tocando em sua
camisa, o cinto frio da fivela na ondulação suave de sua barriga.

Assim como não sabia como suas mãos levantaram sua


camisa e a enrolaram ao redor do pescoço dele, os dedos em
seus cabelos, sua boca saboreando a dele tão avidamente
enquanto comia a dela.

O fogo que a atingiu foi rápido e impiedoso,


desencadeando todas as suas terminações nervosas. A parte de
trás da mesa da sala estava pressionada em sua bunda,
surpreendendo-a quando a madeira fria tocou sua pele.

Quando a tinha movido os poucos centímetros à esquerda


para ficar na frente da mesa? Quando foi tirada faixa da cintura
de suas calças? Quando aquelas mãos grandes tinham abaixado
sua calcinha de algodão para segurar sua bunda, apertando os
dedos e flexionando?

Ele controlava-a tão facilmente, movimentava e a tocava


sem que sequer registrasse cada investida de seu poderoso corpo
se inclinando sobre ela.

278
As mãos grandes pararam nos quadris, apertando e
suavemente a virou, o frio da mesa contra sua pele era um forte
contraste com o calor do seu corpo pressionando em suas costas,
uma de suas mãos deslizando em sua barriga em marcas quentes.

Sua outra mão segurou seu queixo, inclinou a cabeça para


que ele pudesse violentar sua boca novamente, engolindo seus
gemidos em um grunhido de aprovação.

Entre o corpo e a mesa, ela estava presa.

Presa.

Quase que instantaneamente começou a endurecer,


alarme passou através dela, em guerra com o ardor mantendo-a
em cativeiro em sua embreagem erótica.

Imediatamente tirou a boca da sua, não liberando seu


corpo, mas levantando a cabeça para olhar para o reflexo no
espelho.

Oh Deus, havia um espelho. Distraiu-a por um segundo do


pânico indesejável que quase a dominou. O que ela viu afastou a
imagem, a sensação de estar presa, de seus pensamentos para
substituí-los com a visão refletida de volta para ela.

Seus lábios estavam inchados dos beijos de Scott, com os


olhos brilhantes, com uma fome sexual, as faces coradas. As
bordas da blusa estavam puxadas para trás, as mangas de seus
ombros até a metade de seus braços, seu sutiã rosa de cetim
totalmente exposto. A mão de Scott estava em sua barriga, os
dedos longos espalhados, sua pele bronzeada contra sua pele
clara. Seu controle era quase de proteção, ainda eroticamente
279
segurando-a para ele. Seu cabelo caiu ao redor de seus ombros
em desordem, e vagamente percebeu que em algum momento
ele deve ter tocado o seu cabelo, deslizado as mãos por ele e ela
não entrou em pânico.

Seu olhar encontrou o de Scott. Era quente, o desejo o


tornou tempestuoso, sua boca com os sinais de sua resposta
apaixonada. Ele se elevou sobre ela, vigilante em seu desejo,
avaliando a reação dela. Protegendo-a, mesmo quando a luxúria
o dominava.

Por vários segundos se olharam no espelho, e então, sem tirar


os olhos dos dela, abaixou a cabeça lentamente até que sua
boca estava no ombro de Ash.

Avaliando sua resposta, Scott beijou a pele sedosa de seu


ombro suavemente até o seu pescoço, observando se o ligeiro
flash de pânico relampejaria naqueles lindos olhos azuis celestes.

Porque queria que isso fosse bom para ela e para ele, para
esquecer os horrores de seu último encontro sexual e substituí-lo
por algo quente, erótico, tão bom que ela desejaria mais.

Com certeza planejou muitos outros encontros sexuais. O


gosto dela, a sensação de sua pele acetinada sob suas mãos e o
cheiro dela enchendo seus sentidos não eram suficientes, nunca
seria suficiente. Só fez a sua fome aumentar, queimar e ansiar por
mais, por tudo o que era Ash.

280
Seus olhos fecharam, admiração e paixão encheram o seu
rosto mais uma vez. Ele continuava segurando o quadril
generosamente curvo e, lentamente, tão deliciosa e
tortuosamente devagar, deslizou a mão abaixo da ondulação
suave de sua barriga por baixo do elástico da calcinha.

Os cachos suaves que protegiam sua feminilidade o


cumprimentaram e então enfiou gentilmente seus dedos por eles,
empurrando sua coxa entre as dela para separá-las, abrindo
espaço para colocar seu dedo entre os lisos lábios femininos,
deslizando naquele calor úmido.

Seu eixo, já duro, empurrava seu zíper exigentemente.

Pense numa doce tortura.

Um gemido encheu o ar, Ash arqueou-se nele, o movimento


empurrando os seios. Deus, eles eram magníficos, tão fartos e
convidativos, como almofadas macias embaladas em cetim rosa.
O sutiã precisava sair.

Tirando a mão de seu quadril, arrastou os dedos ao longo do


centro do seu corpo, sentindo-a tremer. Em um movimento ágil,
abriu o fecho frontal do sutiã, liberando as taças subitamente.

Movimentando o dedo para trás e para frente em seu calor


escorregadio, provocando o interior de seus lábios, olhou para
seus seios enquanto abaixava as taças do sutiã.

Jesus, ele imaginava que seus seios fossem lindos, mas não
sabia o quanto até que teve uma visão completa deles. Uma
forma de gota natural, pesada, com mamilos rosa, como se
fossem água para um homem sedento.
281
Ele queria prová-los, chupar essas pequenas protuberâncias
profundamente em sua boca e puxá-los até que ela o pedisse
para tomá-la.

Agora, estava capturado. Um dedo no calor de sua


feminilidade e uma mão levantando a taça de uma pesada
mama. Pense em ser capturado entre o êxtase e o êxtase.

Olhando-os no espelho, Ash parecia tão decadente, uma


beleza rubenesca totalmente entregue ao desejo carnal. Seus
olhos brilhavam com luxúria. Seu pênis pulsava, exigindo
libertação e seu saco doía. O tempo todo que beijava Ash
manteve o seu ardor sob controle, avaliando suas respostas ao seu
toque exigente, seus beijos, sentindo o prazer que simplesmente
alimentou seu desejo de mais. Seus beijos se aprofundaram,
ficaram ásperos, a manipulação de seu corpo curvilíneo forte.

E ela ainda respondia. Depois daquele momento, onde a


sentiu enrijecer, viu o pânico em seus olhos, mas depois que ela viu
os reflexos, o pânico desapareceu, a confiança voltou em seus
olhos e ela entregou-se a ele. Existe um afrodisíaco mais forte?

Cristo, ele a queria, queimava por ela. Fogo queimava em


suas veias, seu creme em seu dedo aumentando o desejo. De
repente acariciá-la não era suficiente, apreciar seu corpo não era
suficiente. Queria estar dentro dela.

Tinha intenção de construir o seu desejo, mesmo com o seu


aumentando, fervendo enquanto a acariciava mais, levando-a
ao ponto de ebulição, enquanto ela se movia tão sedutoramente,
pressionando urgentemente sua virilha, essa pequena lamúria sexy

282
vindo de seus lábios inchados pelos seus beijos. Agora seus
próprios desejos o encheram, rompendo seu controle, enchendo-o
com calor voraz, labaredas de fogo enchendo seu eixo até que
pulsava quase agonizante. Ele precisava dela. Queria. A tomaria.
Agora.

A respiração de Ash falhou quando tirou mão do meio de


suas coxas e a outra mão de seu seio, e ela segurou na beira da
mesa do corredor, seus cílios grossos levantando para revelar seus
olhos azuis.

Em um segundo Scott abriu o botão e o zíper, abaixando sua


calça e cueca descuidadamente para libertar seu eixo, que
saltou duro e quente e já vazando na ponta.

Colocou a mão nas costas dela e se inclinou para frente, sua


observância fazendo seu eixo inchar ainda mais na expectativa
quando ela gemeu e, apoiada sobre as mãos.

Sua calça a impedida de abrir mais as pernas e ele a queria


espalhada para ele. Um toque de suas mãos e o material estava
em seus tornozelos. Automaticamente, ela levantou os pés,
livrando-se do material.

Sua coxa entre as macias dela, ele afastou-as, enchendo-o


de satisfação quando ela obedeceu a sua ordem silenciosa e
abriu aquelas coxas roliças. Tão macia.

Mesmo quando o seu eixo exigiu que ele a tomasse, não


podia deixar de apalpar as bochechas rechonchudas de sua
parte inferior, abrindo os dedos sobre as curvas generosas, os

283
polegares traçando o aumento de suas nádegas e
delicadamente separando-as levemente.

Ash engasgou e ele olhou para cima para ver seus olhos no
reflexo, o ligeiro tremor de sua boca, a incerteza repentina que
pairava por trás do desejo. Ele a estava assustando, ou não muito
longe disso. Controlar seu desejo não foi fácil, mas conseguiu. Fez
por Ash, para si mesmo, para eles.

Tirando as mãos, deslizou-as até suas costas e ao redor para


apertar sua cintura, se inclinou para frente, encostando sua virilha
em suas nádegas e pressionando-se em suas costas. Como era
mais alto do que ela, podia confortavelmente beijar sua coluna
entre as omoplatas antes acariciar seu ouvido e dizer com voz
rouca — Sou eu, Ash. Somente eu.

— Eu sei. — Ela virou a cabeça para ele, com a voz um


pouco trêmula. — Eu sei.

— Fale comigo.

— É só que...

Mãos ao lado dela na mesa da sala, apoiando sobre ela,


bochecha contra a dela, ele a olhava no espelho.

— Diga-me.

Ela engoliu em seco, fechou os olhos.

— Olhe para mim, Ash. — Quando ela obedeceu


relutantemente, deu um beijo suave em sua bochecha. — Eu fiz
algo que a assustou. Fale comigo.

284
— É só que... — Ela lambeu os lábios, fez uma careta. —
Eles... enquanto eles fizeram isso... um deles estava ... estava...

Fúria o invadiu, quando a compreensão o atingiu. Jesus, os


bastardos planejavam estuprá-la analmente também. Direto no
encalço desse pensamento veio outro que deixou as juntas em
seus dedos brancas. Se tivessem conseguido?

— Scott?

Ele piscou, o rosto entrando em foco. Forçando afastar a


raiva, esfregou sua bochecha na dela. — Sim?

— Isso não aconteceu. Não o.... você sabe.

A tensão dentro dele diminuiu, a fúria não tão fácil de


dominar, mas que de alguma forma, conseguiu. Mais tarde, ele
ficaria com raiva, amaldiçoaria e xingaria, raiva por não ser capaz
de caçar os bastardos e matá-los. Mas agora Ash precisava dele.

Respirando fundo, conseguiu dar um sorriso. — Ok. Isso é bom. —


Quão fútil isso soava?

— Você parece tão chateado.

— Com eles, baby, não você. — Ele acariciou seus cabelos.


— Nunca com você. — Beijando sua têmpora, ele olhou para o
rosto dela.

Suas bochechas, previamente tomadas com desejo,


estavam mais pálidas, seus olhos buscando a expressão dele com
incerteza. Talvez fosse demais para ela, muitas lembranças ruins.
Muito rápido.

285
Seu corpo ainda ardia de desejo por ela, seu sangue ainda
com crescente veemência em suas veias, seu eixo latejante, mas
ainda assim, perguntou com voz rouca. — Você quer parar?

Apenas o pensamento de que ela poderia querer teve um


brilho de suor fragmentando nas suas costas, um fio realmente
correndo por sua espinha. Se ela dissesse que não, ele morreria,
não havia dúvida sobre isso. Ele teria que ir ao banheiro e se
masturbar para aliviar a si mesmo, não importa como pareceria,
mas estava muito ferrado, muito pronto, para simplesmente ir
embora sem libertação. Ele queria muito que fosse dentro dela,
precisava demais, mas de nenhuma maneira a culparia ou a
forçaria além do que podia suportar ou...

— Não. — Seu tom rouco rompeu seus pensamentos, o brilho


quente em seus olhos e o rosa inundando seu rosto fazendo seu
eixo saltar, seu coração gaguejar em relevo carnal. — Não, não
pare.

Ele precisava ter certeza. — Você tem certeza? Não há


problema em parar, Ash. Eu não ficarei chateado.

Um sorriso curvou seus lábios, arredondando aquelas


adoráveis bochechas de maçã, uma faísca repentina de humor
dançando em seus olhos. — Mas eu ficarei.

O flash inesperado de humor o fez rir, o movimento


esfregando a frente contra suas costas, seu eixo deslizando
naquele exuberante traseiro e luxúria invadiu, rapidamente
ultrapassando humor, fazendo com que os olhos de ambos
escurecessem e ambos respirassem profundamente.

286
Pensando que ela se sentiria melhor de frente para ele, Scott
começou a recuar, com as mãos na cintura dela se preparando
para girá-la, mas ela o deteve com uma palavra. — Não.

Quando olhou para ela, a querendo tanto quanto


necessitava confortá-la, deixá-la confortável, ela repetiu mais
firmemente — Não.

— Ash, está tudo bem.

— Não. Eu quero assim. — Ela fez uma pausa, fechou


rapidamente os olhos antes de olhar novamente para ele. — Com
você.

— Você tem certeza?

— Sim.

Seu corpo pulsava para a liberação, pulsava e doía muito,


mas não até que estivesse absolutamente certo de que estava
tudo bem, ele se mexeria.

— Por favor, Scott. Tenho certeza.

Foi lá em seus olhos, na íris azul celeste que quase


desapareceu sob a dilatação prazerosa de suas pupilas quando
ele mudou de posição, sua virilha contra ela. Era a resposta
suficiente.

Empurrando de volta, Scott ficou de pé, segurando seu pênis


que chorava para a liberação. A sensação do vazamento de
sementes que lembrou, o fazendo respirar profundamente ao
inclinar-se para o lado para abrir uma gaveta na mesa do
corredor, para procurar o preservativo.
287
O invólucro enrugou quando seus dedos fecharam sobre ele
e ele se endireitou, rasgando-o com os dentes antes de rolar em
seu eixo inchado. Só então se posicionou atrás de Ash novamente,
uma mão ao redor do seu eixo, a outra mão apoiada apenas
acima da prega de suas nádegas.

Uma rápida olhada no espelho mostrou-lhe que ela o


observava, mas não havia medo, nem tremor de seus lábios. Ela o
queria, estava à espera, com os lábios entreabertos.

Ele separaria outro conjunto de lábios carnudos. Com


apenas o pensamento de entrar nela, seu eixo estremeceu, calor
batendo por ele, lavando todo o pensamento, toda a
preocupação, menos a vontade de ficar dentro de seu quente
corpo voluptuoso.

Dobrando os joelhos, guiou a ponta do seu eixo para os


cachos brilhantes espreitando timidamente neles, e, lentamente,
tortuosamente devagar, esfregou nas ondas de calor úmido, nas
laterais dos lábios gordos apertando seu eixo, deslizando
acaloradamente, acolhendo-o para casa. Ele bateu em seu
períneo, recompensado por seu suspiro e o arqueamento das
costas. Guiando a cabeça de seu eixo para baixo da costura de
seu corpo, pairou na entrada de seu corpo, e então,
cuidadosamente, mergulhou nele.

O gemido dos lábios de Ash era de pura paixão, seu rosto no


espelho quase o fazendo gozar. Pescoço arqueado, a cabeça
inclinada para trás, seus dentes mordendo o lábio exuberante, o
rubor de desejo em suas bochechas. Grossos cabelos ruivos
derramados sobre seus ombros, enrolados ao redor daqueles seios
288
roliços. Seu olhar se desviou para baixo avidamente, seguindo o
arco de suas costas até a ascensão de sua parte inferior, os globos
gordos feitos apenas para se agarrar enquanto batesse em suas
profundezas quentes. Além disso, o seu olhar fixou-se onde o seu
eixo estava parcialmente dentro dela, a ponta apenas invadindo
a entrada escorregadia.

Com uma mão em seu quadril, a manteve imóvel enquanto


flexionava seus quadris, empurrando para a frente sem problemas,
infalivelmente invadindo seu corpo, mergulhando, abrindo sua
bainha, forjando naquele apertado, túnel quente.

Sensações transbordaram dele, o calor e o aperto dela


desabrochando para engoli-lo, o desejo, a fome tão grande que
quase o fez explodir sua carga ali mesmo, tinha-lhe sugando sua
respiração até que ele teve que retirar a mão para permitir a raiz
de seu eixo deslocar em seu corpo.

Deus, ele estava todo dentro, a enchendo, sua vagina


apertando-o com força. E Ash gemia, seu bumbum gostoso
pressionando-se nele.

Capturando seus quadris, segurou-a quando se retirou,


torturando-se decadentemente com a sensação dela o
segurando, tentando segurá-lo, e quando ela flexionou os
músculos internos em uma tentativa de mantê-lo dentro dela, ele
rosnou em resposta. — Deus, Ash, tão bom. — Dentes cerrados, ele
puxou até que apenas a ponta dele estivesse dentro dela antes
de empurrar novamente.

289
Apenas a sensação de seu calor engolindo gradualmente
seu eixo, lentamente o chupando, fez o seu sangue pulsar, suas
bolas latejarem, a dor o inundando de desejo.

Ele não conseguia se lembrar de desejar uma mulher tanto


quanto a desejava. Sentia necessidade de seu corpo, precisava
de seus gemidos, que enchiam o ar em um sussurro carnal que
acariciava diretamente seus sentidos.

Espalhando as suas pernas, apoiando os pés, começou a


bombear dentro dela, inclinando a cabeça e rangendo os
dentes, quando sensações explodiram ao seu redor. Tudo estava
centrado na mulher à sua frente, dobrada para o seu prazer, para
sua satisfação, o seu corpo para seu deleite. Sua vida para
acalentar, o prazer para lhe proporcionar.

— Scott. Oh Deus, Scott... — Ash agarrou mais forte em cima


da mesa, nós dos dedos brancos, esfregando urgentemente nele.

Pura satisfação masculina encheu-o quando olhou para ela,


seguindo os mergulhos das voluptuosas curvas de seu corpo,
sabendo que era ele quem lhe dava prazer, que era ele quem
tinha despertado os seus desejos. Que era aquele em quem ela
confiava.

Enquanto o calor aumentava em seu eixo, também encheu


seu coração, a vontade de estar mais perto dela, ao ser
pressionado nela, fazendo-o curvar-se para ela, apoiando o peito
em suas costas, se curvando sobre ela para beijar sua nuca.

Sua postura mudou seu eixo e sabia que tinha atingindo o


ponto doce dentro dela quando ela engasgou, sua respiração
290
tornando-se irregular, pois ele bateu naquele ponto vulnerável,
queimando o prazer dentro dela, sentindo-a estremecer, seus
músculos apertando-o em um erótico fecho.

Desejo ardente cravado dentro dele com a resposta do seu


corpo, formigamento na base de sua espinha, acumulando em
seu saco e pressionando, suor cobrindo o seu corpo.

Liberando seus quadris, colocou as palmas das mãos sobre a


mesa ao lado das mãos menores dela, apoiando-se em seus
braços, músculos salientes quando empurrou com mais força
dentro dela.

Ardor bombeou por ele tão forte enquanto bombeava em


Ash, seu eixo entrando impiedosamente por sua bainha, inchando
e alongando quase insuportavelmente. Semente agitando em sua
saída, o calor espalhando pelo fluxo como lava derretida a
escorrer na ponta do seu eixo.

Fome queimado, luxúria dominando-o com força, fazendo-o


no cio por ela com uma voracidade nascida da pura luxúria
carnal. O instinto assumiu, nublou sua mente, controlando seu
corpo, a libido correndo selvagem.

Quadris surgindo em poderosos, longos e duros golpes, ele


investiu nela, mantendo-a presa entre seu corpo e a mesa,
deixando-a à sua mercê. Se inclinou sobre ela, seu aroma
aspirado a cada respiração profunda que tomou, o seu corpo
desamparado debaixo dele, seu domínio vibrava em apreço,
querendo mantê-la escondido debaixo dele para sempre.

291
Quanto mais forte metia nela, os seus gemidos e
choramingos de resposta lasciva eram uma recompensa
inebriante e ele trabalhou duro, bombeado mais rápido,
empurrando vigorosamente, pressionando-a quando o fogo
queimou seu eixo, faíscas dançando ao longo de sua pele para
formigar e atormentar onde a sua pele tocava a dela, deslizava
ao longo dela, o formigamento na base de sua espinha e seu
saco fluindo, surgindo, encontrando na raiz de sua masculinidade
e fluindo através de seu eixo, surgindo por toda a extensão dura,
engrossando para explodir.

Scott realmente rugiu, quadris batendo em Ash enquanto


investia profundo, tão profundo, empurrando nela quando teve o
orgasmo, sentindo sua vagina apertar ao redor dele em
ondulantes, espasmos, ouvindo Ash gritar seu nome e levantar suas
costas com força contra o seu peito.

E tudo desmoronou.

292
Capítulo Oito

A chuva de primavera polvilhou no teto de zinco, mas era


quente e aconchegante dentro. Especialmente porque Ash
estava em sua grande cama, a coberta debaixo dos braços
deixando os ombros nus. Reclinada sobre um ângulo, de costas
parcialmente descansou contra o peito nu de Scott, um de seus
braços ao redor da cintura dela, a outra mão enrolando uma
mecha de seu cabelo ao redor do seu dedo. A luz da luminária do
criado mudo lançava um brilho suave do outro lado da cama,
acrescentando ao ambiente um ar acolhedor e intimista.

Tilly fazia uma impressionante pose de esfinge no final da


cama, patas dobradas embaixo dela, de costas em relação a
eles, orelhas para trás.

— Eu não acho que ela o perdoará por seu jantar tardio. —


Ash murmurou.

— Eu tenho um sério puxa-saquismo a fazer. — Disse Scott. —


Eu comprarei algum bife no caminho para casa amanhã.

— Bife?

— Ei, ela é a garotinha do papai. Quando está chateada,


todos sabemos. Eu preciso voltar ao seu lado bom.

— Eu acho que ela é mimada.

293
— Seu ponto?

Ash sorriu.

— Eu acho que é isso bonito.

— Tilly é bonita. Minhas ações são heróicas, dignas de um


bombeiro corajoso.

— Suas ações são de um homem sentimental para sua gata.

— Como disse, ela é a garotinha do papai.

Inclinando a cabeça para trás, ela sorriu para ele.

— Como eu disse, é bonito.

Olhos enrugando nos cantos em diversão, deu a mecha de


cabelo que tinha ao redor do seu dedo um puxão suave.

Sua ação não provocou qualquer pânico e Ash colocou sua


cabeça no seu peito musculoso. O silêncio que caiu entre eles era
confortável, mais confortável do que esperava.

Quando a abraçou depois de seu encontro de fogo no


corredor e pediu-lhe para passar a noite, ela estava incerta, mas a
sensação dele ao redor dela, a lembrança dele dentro dela, sua
presença a fez relutante em deixá-lo. Para dizer a verdade, não
precisou muita bajulação para levá-la a concordar.

Surpresa, surpresa, parecia que sua confiança estava


voltando. É verdade, provavelmente estaria um pouco
envergonhada de manhã, mas agora só estava quente,
aconchegada, protegida e bem-amada. Descansar no abraço e
força de Scott parecia tão certo.
294
Ela nunca pensou que estaria confortável assim com um
homem novamente. Mas, então, Scott não era um homem
qualquer. Ele era divertido, simpático e acolhedor, com uma raia
surpreendentemente dominante que, em vez de assustá-la, a
deixava mais do que feliz para se enrolar em sua proteção.

Ele também era carinhoso e atencioso, nunca se perdendo


no calor do momento, sem antes se certificar de que estava bem.
Foi humilhante lembrar o quão em sintonia estava com o seu
humor, sentindo seu alarme, estar disposto a parar, mesmo
quando viu a pressão sobre seu rosto e sabia que seria quase
insuportavelmente difícil para ele, ainda o seu primeiro
pensamento tinha sido por ela. Esse carinho a encheu de tanta
gratidão e conforto.

Deslizando a mão pelo seu braço, ela descansou a mão


sobre a dele, deslizando os dedos nos deles. — Obrigada.

— Pelo quê? — Ele perguntou em voz baixa.

— Por ser tão amável. Tão paciente. — Um rubor apareceu


em suas bochechas, ela esfregou seu polegar ao longo do dele,
observando quanto maior sua mão estava sob as dela, sua pele
bronzeada.

— Isso vale nos dois sentidos, baby. Obrigado por confiar em


mim. — Ele mudou de posição e ela sentiu o toque dos lábios dele
em sua cabeça, antes que se acomodasse no travesseiro e
voltasse a brincar com os seus cabelos.

Foi relaxante, o puxão suave e carícia de seus dedos.


Fechando os olhos, seus pensamentos fluíam preguiçosamente.
295
— Estou limpa — ela murmurou.

Seus dedos em seus cabelos nunca vacilaram.

— Eu nunca duvidei disso.

— Eu fiz os testes após o ocorrido. Todos os testes. — Ela abriu


os olhos com a sensação do peso em seu pé ao descobrir que Tilly
deitou em sua perna.

Tilly olhou-a com olhos estreitos como se a desafiando a


objetivar. Ash sorriu.

— Isso deve ter sido difícil. — O dedo de Scott penteou o


cabelo para trás de sua testa, seu toque leve e seguro. — Fazer
testes para algo que não foi culpa sua. Isso é péssimo.

— Precisava ser feito. — Ash observava a grande gata


malhada alisando a si mesma.

Tranqüilidade invadiu o quarto novamente, o único som era


a chuva no telhado.

Era hora de dizer a ele. Ash começou calmamente. — Eu


conheci esse cara no trabalho, ele era bom. Fomos para o pub
para uma bebida. Eu estive lá antes, nunca tive problemas, mas
desta vez havia um grupo de motoqueiros, caras realmente duros,
sabe? Lembro-me que rugiram em suas motos, quase atropelando
várias pessoas na calçada quando eles subiram. Eles eram
bastante altos, agressivos, mas pareciam se comportar uma vez
dentro do pub. Quando saímos já era tarde, muito tarde. Meu
encontro tinha esquecido o casaco e voltou para buscá-lo. Eu
fiquei esperando na esquina do pub perto do beco. Muito perto

296
do beco. — Ela apertou a mão de Scott com a lembrança. —
Alguns dos motoqueiros saíram do pub e fiquei a observá-los,
desejando que eu tivesse ficado mais perto da porta. Isso foi um
grande erro. Eu estava tão ocupada os observando que não notei
que alguns deles estavam do meu outro lado. A próxima coisa
que percebi foi que um deles agarrou meu cabelo e colocou a
mão sobre a minha boca e fui arrastada para o beco. — Ela deu
um pequeno sorriso autodepreciativo. — Achava que ser uma
garota grande daria um pouco de dificuldade, mas havia quatro
deles e uma de mim, então acho que não era realmente muito
uma competição.

A mão de Scott deslizou para baixo de seu cabelo para


segurar seu ombro antes de lentamente subir e descer o braço
confortavelmente. Ele ancorou-a para si, a fez consciente dele em
suas costas, o outro braço ao redor da cintura, com a mão sobre
a dele, seus dedos apertando os dela suavemente. Rodeando-a
com toda a força.

Respirando fundo, Ash continuou. — Eles me arrastaram para


o beco, me jogaram no chão. Três deles me prenderam enquanto
um me estuprou. Eles se revezavam. Um deles planejava para...
para... — Ela respirou profundamente, a memória do motoqueiro
falando de estuprá-la analmente ainda a fazia congelar, se
pensasse muito sobre isso, permitia-se escorregar emocionalmente
de volta àquele tempo.

A mão de Scott apertou tranquilizadoramente seu braço. —


Eu estou aqui, Ash.

297
— Eu sei. — O aperto em sua mão aliviou com as suas
palavras e a voz acalmou-se. — De qualquer forma, vários
bêbados tropeçaram no beco, nos viram e começaram a gritar.
Os motoqueiros fugiram e, então, o meu encontro apareceu lá.
Ele me olhou... — ela engoliu em seco. — Ele só me olhou quando
tentava me levantar e disse ―O que você fez para incentivá-los?

— Bastardo. — A voz de Scott pulsava com raiva quando


apertou seu braço ao redor da sua cintura, a atraindo
protetoramente para ele.

— Sim, ele era. — Ash relaxou em seus braços. — A polícia


chegou rapidamente, a ambulância. Eles foram tão agradáveis,
todos eles, os policiais, os paramédicos, a equipe do hospital. O
conselheiro. E Elissa. O conselheiro eu vi regularmente, mas quem
mais me ajudou foi Elissa. Ela me levantava quando estava para
baixo, me fazia sair quando queria me esconder. Às vezes, me
deixou ficar escondida, me deixou ficar para baixo. Mas estava
sempre perto para me defender, para ficar ao meu lado. Uma
vez, quando desmoronei e ela não estava lá, seu irmão, Moz, me
encontrou chorando na cozinha. Ele foi um anjo. Ele ligou para
Elissa, me segurou até que parei de gritar e então me fez lavar o
rosto, me fez uma xícara de chá e se sentou e segurou a minha
mão, até que Elissa chegar. Mesmo quando lhe disse para ir, que
eu ficaria bem, ele ficou.

— Eu gostaria de conhecê-lo um dia — disse Scott em voz


baixa. — Ele parece ser um bom sujeito.

— Ele é. — Ash observou Tilly levantar uma pata e começar a


lambe-la. — Os policiais pegaram os motoqueiros, fomos para o
298
tribunal. Reviver foi horrível, eu me sentia como se eu fosse a
culpada.

Seu abraço apertou. — Você não foi a culpada, Ash. Nunca.


Aqueles bastardos fizeram isso para você e eles deveriam ser
presos.

— Eles cumpriram o tempo de prisão.

— Ainda deveriam estar na prisão.

Ash sorriu um pouco com a veemência em sua voz. — De


qualquer forma, não poderia ficar em meu trabalho, tornou-se
muito inquieto, até que um dia eu tive o suficiente. Eu precisava ir
embora, tomar o controle da minha vida. Começar uma nova
vida. Eu paguei o aluguel de meu apartamento, me demiti do
trabalho e peguei a estrada. A viagem foi mais terapêutica do
que pensava, me deu tempo para me reencontrar, saber mais
uma vez que a beleza estava no mundo, que havia mais vida do
que más lembranças. Então meu carro quebrou na estrada e
você me achou.

— O melhor dia da minha vida, — disse Scott.

— Sim. Foi o meu também, só que não sabia disso na época.

— Mas você sabe agora.

— Sim.

Scott virou, saindo de debaixo dela, para que ela ficasse de


costas na cama. Assustada, o olhou quando se apoiou no
cotovelo ao seu lado. Estendendo a mão, levemente traçou sua
linha da mandíbula com um dedo, seu olhar quente.
299
— Você é uma mulher incrível, Ashley Smythe.

— Eu? — ela piscou. — Oh não, eu sou apenas normal.

— Não, você é incrível. — Seu dedo foi até sua garganta e


voltou. — Foi preciso muita coragem para deixar tudo o que era
familiar para você, não importa quantas lembranças ruins haviam.
Sair sozinha foi uma declaração de que você ainda era a dona
do seu próprio nariz, que você podia se virar sozinha.

Nunca havia pensado nisso, ela não tinha tanta certeza de


que era verdade.

— Era uma espécie de fuga.

— Não. — Scott balançou a cabeça. — Do meu ponto de


vista, foi uma determinação para recomeçar. Você tomou o
controle. Querida, você é incrível.

Quando começou a sacudir a cabeça novamente, ele se


inclinou mais perto, subindo sua mão para tocar seu rosto,
mantendo-a imóvel enquanto a olhava seriamente. — Ash, você
lidou com algo que nenhuma mulher deveria lidar e você
manteve sua doçura e espírito intacto. Isso é incrível. Ainda mais
surpreendente é que você confiou em mim esta noite. Eu sei que
algumas mulheres não seriam capazes de suportar um outro
homem tocá-las depois do que sofreu.

— Nós todos reagimos de forma diferente, é o que disse o


conselheiro.

— Estou feliz que superou isso. — Ele a observou. — Acho que


ainda haverá alguns pós-afeitos. Sinceramente, nunca passei por

300
isso com ninguém, mas quero te ajudar. Se precisar conversar ou
apenas gritar ou o que quer que seja que faça para lidar com as
más lembranças — se e quando vierem — eu estarei sempre aqui
para você. Você sabe disso, né?

Deus, como pode um homem ser tão perfeito? Ash olhou


para ele, as lágrimas brotando de seus olhos. Tão perfeito, tão
forte, tão bonito, tão compreensivo e paciente? E desejá-la?

Estendendo a mão para tocar a sua mão sobre o seu rosto,


sussurrou. — Você é um anjo.

Assustado, franziu suas sobrancelhas. — Eu?

— Sim.

— Querida, eu não sou nenhum anjo. — Ele sorriu. — Estou


muito longe de ser um anjo.

— Você que pensa.

— Eu sei. — Inclinando-se, mordeu o lábio inferior dela. — E


provarei isso.

Ela meio que esperava que a tomasse calorosa e


vigorosamente como havia feito no corredor, mas desta vez, levou
seu tempo, destruindo sua autoconsciência quando tirou as
roupas de cama ao seu redor para deixá-la nua ao seu olhar e
beijá-la tão profunda e docemente, que tudo o que podia fazer
era se abrir a ele. Quando ele acrescentou carícias em seu corpo,
seu toque tão conscientemente hedonista, em poucos minutos se
contorcia, implorando-lhe para enchê-la, levá-la.

301
No momento em que entrou nela, suas unhas curtas, na
verdade, percorriam as costas em desespero enquanto se
arqueava nele, fazendo-o sibilar de satisfação carnal. O seu nome
era um choro no ar.

Sem ceder, recusando-se lhe dar um alívio rápido, Scott


bombeou lentamente, impulsos fortes e longos que penetraram
profundamente, deixando-a na beira do precipício, mas não
permitindo a sua libertação, tomando-a com uma intensidade
quente e controlada que a deixou contorcendo-se e suplicando
enquanto oscilava à beira do calor.

Quando finalmente teve misericórdia e a lançou em um


orgasmo que abalou seu núcleo, não a seguiu, mantendo o lento
passeio erótico, mudando seu ângulo para levá-la sem piedade a
outro orgasmo, fazendo-a soluçar em êxtase enquanto entrava
nela, até que finalmente o ritmo mudou, ficando mais rápido e
mais forte quando a arrastou até o precipício erótico, levando
ambos para o clímax ao mesmo tempo.

No entanto, mesmo enquanto seu corpo encontrava a


liberação, estava consciente dele segurando-a firme, de seus
braços protegendo-a, do seu gemido gutural em sua orelha, do
seu nome rosnado quando ele endureceu contra ela, seus quadris
empurrando com força o dela, ela se sentiu protegida.

Quando o orgasmo desapareceu, percebeu seu coração


acelerado, a respiração saindo em suspiros que ecoaram com os
dele em seu ouvido.

302
Ele ainda a abraçou, com o rosto em seu pescoço e então
sentiu sua boca beijar seu pulso antes que se apoiasse nos
cotovelos para olhar para ela.

— Ok — ele conseguiu dizer — eu ainda sou um anjo?

— Claro que não.

Rindo, rolou para o lado, levando-a com ele para abraçá-la


contra seu corpo quente. — Eu posso ser o diabo na cama, baby.

Ela realmente acreditava nele.

Desta vez foi o coração dele que trovejou em seu ouvido


quando se aninhou em seu peito, e da mesma forma que foi
gradualmente abrandando, ela caiu no sono, embalada em seus
braços.

O carro diminuiu até parar e Scott olhou para a pensão. —


Ninguém está por perto para assistir a sua caminhada da
vergonha, Ash.

Ela deu um tapa no braço dele. — Quer parar com isso?

— Ei, você queria que a trouxesse de volta no raiar do dia,


querida.

— Eu só não acho que todos precisam saber que... — Seu


rosto ficou vermelho. Maldição, ela podia sentir suas bochechas
esquentando.

303
Scott olhou em seu rosto e sorriu largamente. — Você não
quer que saibam que fizemos sexo? Muitas vezes? De muitas
maneiras diferentes?

— Não foi isso que eu quis dizer.

— Por favor, me diga o que você quer dizer, então.

— Eu não vi esse lado de você antes.

— Isso é o que acontece quando se desce para a sarjeta.


Sem segredos.

— Você está dizendo que haverá mais maldades como


esta?

— Oh, baby. — Ele olhou para ela com falsa piedade. —


Você acha que isso é ruim? Esta é apenas a ponta do iceberg.

— Eu pensei que não havia mais segredos...

— Eu gosto de pensar neles como surpresas.

Bom Deus, Scott solto era — bem, quente, realmente. Ash se


abanou mentalmente.

— Eu entrarei.

Ele se inclinou sobre o freio que separava o assento e sorriu.

— Eu poderia entrar e....

— Adeus, Scott. — Meio rindo, Ash rapidamente saiu do


carro e caminhou até o lado do motorista, apoiando-se na porta
para olhar para ele.

304
— Nos veremos hoje à noite. — O olhar dele se deslizou em
seu rosto ficou em seus lábios. — Não use roupa íntima.

O seu rosto ficou flamejante, ela se endireitou. Não havia


como negar suas palavras e o brilho em seus olhos fez seus
mamilos endurecerem. — Você não precisa se preparar para o
trabalho?

— Claro, mas temos tempo para uma rapidinha.

— Scott!

— Ok, ok. — Rindo, ele colocou o carro em marcha. —


Venho buscá-la para o jantar às seis e meia. — piscou — Enquanto
isso, controle a vontade de correr para a estação de bombeiros e
rasgar minhas roupas.

— Farei o possível. — Balançando a cabeça, viu quando se


dirigiu para a estrada, encolhendo-se quando ele buzinou.

O homem ria!

Havia realmente um bad boy dentro daquele bombeiro


heróico. Talvez houvesse também um pouco de bad biker dentro
dele. Pense em uma mistura mortal.

Sorrindo, Ash começou a subir os degraus, mas mudou de


ideia quando viu a porta da frente. A última coisa que queria era
encontrar Julia, especialmente depois de ter passado uma noite
bastante interessante com seu filho.

Jesus, Scott a acordou duas vezes durante a noite para


saciá-los em algumas sessões de prazer bastante quentes. Não, de
jeito nenhum queria que Julia descobrisse o que havia acontecido
305
entre ela e seu filho. Mesmo que fossem adultos, Julia ainda era a
mãe de Scott.

Era difícil que já estivesse acordada, mas não queria arriscar


encontrá-la na porta da frente, que abria todas as manhãs antes
de fazer qualquer outra coisa. Mudando o caminho, Ash
caminhou pela lateral da casa.

— Henry quer carinho!

Oh não, ela se esqueceu de Henry! A cacatua branca a


olhava de sua gaiola, a crista amarela levantando na sua
cabeça. Ash gemeu.

— Me dá um beijo! — Henry gritou. — Fogo! Fogo!

— Oh merda. Não, não, não! — Tentando calá-lo, correu até


a gaiola, colocando o dedo para fazer carinho na crista que
Henry inclinou em sua direção.

Alívio a inundou quando Henry diminuiu a chiar baixinho


enquanto coçava a crista.

— Pobre Henry, — Henry gritou em voz baixa. — Toque no


papagaio.

— Você tem que falar baixo, pássaro. — Ash repreendeu. —


Não acorde Julia.

— Henry quer um preservativo. — indo para trás, de repente,


Henry inclinou a cabeça e soltou um grito. — Desgraçado! Fogo!
Fogo! Policial quente!

306
Encolhendo-se, Ash tentou acalmá-lo. — Oh merda, Henry.
Quieto! Aqui, olha — Dance papagaio, dance papagaio!

Henry deu uma cambalhota completa ao redor de seu


poleiro depois ficou pendurado de cabeça para baixo e bateu as
asas. — Henry quer um preservativo!

Santo Deus, isto só piorava. Ash desistiu e correu para a porta


dos fundos, pulando os degraus para encaixar a chave na
fechadura só para ver a porta abrindo e Julia a olhando com as
sobrancelhas levantadas.

— Olá. — Disse Julia.

— Oh... uh... eu — Ash gaguejou.

— Não importa. Esse pássaro tem a boca de um lenhador. —


Sacudindo a cabeça, Julia recuou, segurando a porta. — Henry
nunca xingou até que Scott e seus amigos decidiram educá-lo.
Deveria ter batido na bunda de todos eles.

O pensamento de Julia fazer qualquer tipo de punição a


homens daquele tamanho era ridículo. Ash sorriu.

— Sim, eu sei, muito tarde agora. — Com um suspiro, Julia


voltou para a pia. — Eu tomarei uma xícara de chá antes de
começar a fazer o café. — Ligando a chaleira, olhou para Ash. —
Você acordou cedo esta manhã.

— Oh, não dormi muito bem. — Isso não era realmente uma
mentira. Scott certamente a manteve acordada a maior parte da
noite.

307
— Eu pensei em esticar as pernas antes de tomar banho. —
Usando essa desculpa, Ash foi para a porta. — Falando nisso, vou
indo. Nada como um início precoce para o dia.

— É verdade. — Julia olhou pela janela. — O pássaro


madrugador come a minhoca.

Querendo saber se havia sido uma sugestão velada na


afirmação, Ash olhou para Júlia e a viu colocando a ração em
uma tigela para Oscar, que se enrolava ao redor de suas pernas
enquanto miava roucamente.

Decidindo sair dali o mais rápido possível, Ash foi para seu
quarto, dando um suspiro de alívio quando abriu a porta e entrou.

Inclinando-se na porta, olhou para sua cama. A cama que


não dormiu a noite toda. Porque estava na cama de Scott.

Um sorriso apareceu em seus lábios. Ela passou a noite na


cama de Scott sendo completamente amada e agora ela se
sentia... malditamente maravilhosa.

Indo até a cômoda, tirou a roupa limpa, recolheu suas coisas


para um banho. Olhando seu rosto no espelho, não deixou de
notar a cor rosada de suas bochechas, o brilho em seus olhos e
mais revelador, o inchaço de seus lábios.

Oops. Ela tocou os lábios. Ela parecia completamente


beijada, bem... Scott fez amor com ela antes de deixá-la sair de
sua cama. E então a beijou carnalmente enquanto pressionava-a
na parede do corredor, antes de deixá-la sair de casa.

308
O riso que escapou com a lembrança a fez colocar a mão
sobre a boca, caso alguém passando na porta a ouvisse. Mas não
conseguia esconder a leveza de seus passos quando saiu do
quarto, principalmente porque combinava tão perfeitamente
com a leveza em seu coração.

A manhã passou rapidamente, Ash encontrou a maneira


mais fácil de utilizar o programa de computador, seu
conhecimento de como Ben cuidada dos negócios ficou mais
clara. Ela descobriu que realmente gostava de trabalhar no
escritório, o barulho de Ben trabalhando na parte de trás era um
agradável ruído de fundo. O som do rádio filtrado pela porta de
trás.

Seguindo o guia que Ben havia lhe dado, foi capaz de fazer
as reservas dos veículos para serviços e reparos, e na hora do
almoço se sentiu como se tivesse feito um enorme progresso.

Del e Dee já estavam sentadas na parte de trás do quiosque


quando Ash entrou.

— Bem, bem. — Dee a olhou de cima a baixo. — Você


sobreviveu ao Ciclone Scott.

— Ele foi muito duro com você? — Del deu uma mordida em
seu sanduíche.

Duro, sim, mas não da maneira que você pensa. Sorrindo,


Ash abriu a lata de refrigerante.

— Ele tinha o que dizer. Eu também.

— Eu aposto, — disse Dee secamente. — Ele te fez chorar?

309
Ele a fez chorar, tudo bem, mas novamente não da forma
como suas amigas pensavam. — Não.

— Eu acho que você chorou e Scott cedeu. — Del assentiu.


— Sim, eu aposto que é o que você fez. Confesse, Ash

— Sim. — Dee olhou para ela. — Você fez a coisa certa, ou


você não estaria sentada lá agora com aquele grande sorriso no
seu rosto — Puta merda!

Del olhou de Dee para Ash. — O quê?

— O quê? — Dee estava incrédula. — Realmente, Del? Você


não vê isso?

— Ver o quê? — Perguntou Ash e Del.

Dee apontou um dedo na direção de Ash. — Esta mulher


transou com Scott Preston!

Fique calma, fique calma. Ela não pode saber com certeza.

— Oh meu Deus! — Del deixou cair o sanduíche. — Você


transou!

Droga, suas bochechas estavam em chamas! Ash olhou de


Dee para Del para a lata de refrigerante, suas juntas quase
brancas. Jesus, o que poderia dizer? Não tinha como negar, não
agora.

Mas então, por que deveria negar? O pensamento a fez


levantar a cabeça. Ela não tinha feito nada de errado, ela era
uma adulta. Ela não era uma mulher com medo do que as
pessoas pensariam dela. Não agora.

310
Levantando o queixo, olhou suas amigas bem nos olhos.

— Então o que?

— E daí? — Del riu. — Ash, não pareça que você está indo
para nos bater! Está tudo bem, de verdade.

— Eu não...

— Parece que você tem um pau enfiado em sua bunda,


você está tão rígida. — Dee sorriu. — Foi tão ruim assim? Porque
sempre foi do conhecimento comum que Scott é ótimo na cama.

Em face de seu divertimento, a indignação de Ash diminuiu.


— O boato é verdadeiro. — sorrindo satisfeita, acrescentou, — E
não entrarei em detalhes.

— Oh, vamos lá, — Dee lamentou. — Nós somos amigas.

— Certo. Amigas, não confessoras.

— Você tem algo a confessar? — Del balançou as


sobrancelhas. — Foi tão pecaminoso?

Eles não tinham ideia e Ash não estava disposta a esclarecê-


los. No entanto, não conseguia parar de sorrir.

— Caramba. — Del suspirou melancolicamente. — Foi


pecaminoso.

Dee deu em Ash um soco leve no braço. — Tirou-o do


mercado, hein?

— Uh... vamos sair.

311
— Sair, sim, mas ele está sério com você, — disse Del. —
Qualquer um com pode ver isso.

— Mais sério do que foi com qualquer outra garota. — Dee


tomou um gole da caneca de chá fumegante. — Nenhuma
garota dormiu lá antes.

Del e Ash viraram para olhá-la, Ash em horror, Del em


acusação. — Você sabia! — Del quase gritou.

— Você sabia? — Ash quase engasgou.

— Ei, eu levantei cedo. Estava sentada em minha varanda,


quando vi você e Scott passando. — Dee sorriu. — Somei dois mais
dois e cheguei ao ―transando‖!

— Você não me contou nada e sou sua prima. — Del


balançou a cabeça.

— E você fingiu surpresa, — Ash apontou. — O que foi isso?

— Para Del digo que ser sua prima não muda o fato de que
eu sabia de algo que você não sabia. Para Ash digo que estava
esperando para ver se confessaria.

— Você é uma vadia desonesta, — Del anunciou.

— Nunca neguei isso.

Ash mordeu o lábio. — Quem mais nos viu?

— Quem estava acordado e deu uma boa olhada no carro


de Scott e os ocupantes.

Com um gemido, Ash cobriu os olhos.

312
— Ei, — disse Del. — Não é o fim do mundo, Ash. Além disso,
a maioria das pessoas nessa altura está geralmente tomando o
café ou se preparando para o trabalho. Assim, a maioria das
pessoas são os agricultores que não vivem na cidade, porque eles
vivem lá, você sabe, nas fazendas.

— Ou qualquer corredor de início da manhã. — Dee


acrescentou inutilmente.

— Além disso, quem se importa? — Del encolheu os ombros.


— Vocês dois são maiores de idade, então não se preocupe.

— Você está certa. — Tirando a mão de seu rosto, Ash


respirou fundo. — Não é da conta de ninguém, apenas nossa.

— Está certa. Agora, como ele realmente é na cama?

Ash não pode deixar de rir.

Voltando para a oficina, o petroleiro passou por ela, Scott ao


volante. Ele sorriu, buzinou e acenou para ela. Satisfeita, acenou
de volta.

Ainda espantada que tivesse deixado a cidade para


começar uma nova vida e encontrou mais do que esperava em
uma pequena cidade milhares de quilômetros de onde saiu.

Ela tinha apenas passado o café, quando uma voz a


saudou. — Oi, Ash.

Virando-se, viu Brian.

— Oi. Ouvi dizer que foi um herói. Você foi visto tentando
apagar o fogo.

313
— Ah não, não realmente. Aconteceu de eu vê-lo e tentei
fazer a coisa certa.

Parando, enfiou as mãos nos bolsos.

— Um ato de coragem.

Ele abaixou a cabeça um pouco timidamente. — Bem, não


foi nada. Apenas aconteceu de vê-lo.

— Aconteceu? — Outra voz ecoou atrás dela e o coração


de Ash apertou quando se virou e viu Jason Dawson.

— Você quer ser o novo herói da cidade? — Jason zombou.


— Esse trabalho deve ser feito por nossos estimados serviços de
emergência.

Brian deu de ombros. — Não quero ser nada. Eu só vi e


tentei pará-lo.

— Você ligou avisando?

— Ele provavelmente não teve tempo. — Ash começou.

— Você está brincando comigo? — Jason parou ao seu


lado, seu olhar zombeteiro olhando Brian de cima abaixo. — Você
teve tempo para pegar sua mala e molhá-la, mas não teve tempo
de telefonar para avisar?

— Eu não carregava um telefone comigo. — Respondeu


Brian.

— Você espera que eu acredite nisso? — Dando um passo


para a frente, Jason colocou um dedo no peito. — Isso é um
monte de besteira.
314
— Ei! — Com a raiva aumentando, Ash segurou o braço de
Jason. — O deixe em paz.

Jason não a poupou um olhar. — Garoto da cidade como


você...

— Na verdade, eu sou do interior, — Brian corrigiu-o


calmamente. — Companheiro, não sei qual é seu problema, mas
se afaste.

Apertando a mão de Ash, Jason deu mais um passo para a


frente. — Ou o quê?

Jesus, ele poderia ser mais que idiota? Ash começou a


avançar, apenas para ver seu braço agarrado com firmeza e a
arrastando de volta.

Antes que pudesse se afastar, Kirk colocou-a para trás dele.

— Problema, rapazes?

Jason olhou para ele. — Sim. Este menino do interior aparece


e de repente está lutando contra incêndios. Ele é um novo
integrante dos seus serviços de emergência, Kirk?

— Não que eu saiba. Por que, você está se voluntariando


para o trabalho, Jason?

— Você está brincando comigo? — Jason deu uma


gargalhada.

— Eu não tenho intenção de fazer isso. — Kirk olhou para


Brian. — Está tudo bem?

— Tudo bem. — Brian sorriu. — Vou indo, então.


315
Kirk levantou uma sobrancelha. — Para a fazenda Stanton,
— Brian explicou.

— O velho Stanton é sortudo, tem o seu próprio herói ao


redor. — Com um suspiro, Jason se afastou.

Kirk observou-o recuar antes de olhar novamente para Brian.


— Vejo você por aí, então.

Brian balançou a cabeça, sorriu para Ash e continuou na


direção oposta.

Kirk se virou e olhou para ela.

O seu sorriso desapareceu quando continuou olhando para


ela. — O quê?

— Você o conhece?

— Quem? Brian?

— Sim.

— Não, só o conheci na pensão. Por quê?

— Apenas para saber.

Sentindo-se um pouco desconfortável sob seu olhar, ela


brincava com a alça de ombro de sua bolsa.

— Hum... Algo errado?

— Não. Nunca mais se aproxime de homens discutindo, você


pode se machucar. — Ele deu a ela um aceno de cabeça e foi
embora.

De boca aberta, Ash o observava.


316
— Esso é Kirk. Informa-te tão bem, então vai embora o
deixando besta.

Ash olhou ao redor para ver Ernie, o dono do café,


apoiando-se em sua porta.

— Ele me deu bronca?

— Como eu disse.

Um pensamento a golpeou.

— Você acha que ele contará a Scott?

Ernie deu de ombros. — Sem dizer.

Não havia nenhuma dúvida em sua mente que Scott não


ficaria feliz com ela por tentar separar Jason e Brian. Se havia uma
coisa que sabia sobre ele, era que Scott não seria favorável em
qualquer coisa que fizesse que pudesse colocá-la em perigo,
ainda que involuntariamente.

Bem, era apenas difícil. Ela não podia fazer tudo o que Scott
ordenasse, ainda era dona de si mesma.

Ernie desapareceu no café quando alguns homens do


conselho entraram.

Indo para a oficina, Ash se perguntou se o pobre Brian


estava lamentando tentar acabar com o fogo. Ficou surpresa de
que queria ficar por perto, especialmente quando estava tão
ansioso para ir para o Norte para seu novo emprego.

A tarde passou mais devagar e teve que admitir que


provavelmente fosse porque estava ansiosa para ver Scott para o
317
jantar. Também teve de admitir que, independente de sua
determinação que ele não a diria o que fazer o tempo todo, ela
estava um pouco nervosa que Kirk a pudesse delatar.

Seus temores estavam errados, no entanto, quando naquela


noite na pensão Scott apenas a beijou castamente no rosto na
frente de sua mãe. — Você está linda.

Corando, Ash não podia deixar de olhar para Julia e vê-la


sorrindo e saindo. Então deu um empurrão em Scott.

— O quê? — Perguntou.

— Sua mãe!

— Ei, ela sabe que sairemos. Qual é o problema?

— Eu não me sinto confortável com beijo na frente dela.

— Ei, aquele beijo não era vigoroso. É o tipo de beijo que eu


daria em minha tia. — Um brilho súbito passou por seus olhos. —
Agora, se tivesse beijado você assim. — Ele agarrou-a, virou-a em
seus braços, inclinou-a para trás e beijou-a tão ardentemente,
carnalmente e rápido que estava desperta antes mesmo que
soubesse disso. Sorrindo, ele ajeitou a blusa e saia dela, dando-lhe
um tapinha na bunda quando fez isso. — Está vendo? É uma
grande diferença.

Meio rindo, ela bateu a mão dele, enquanto reajustava seus


óculos. — Você é um idiota.

— Querida, estou magoado. Apenas demonstrava a


diferença.

318
— Eu sei a diferença.

— Você sabe agora. Mas não sabia antes.

Balançando a cabeça, pegou sua bolsa.

Colocando a mão nas costas dela, Scott olhou para a


pequena bolsa preta. — Meio que pequena para um bolsa de
noite, não é?

— Bolsa de noite?

— Jantar, dança, sexo. Você sabe.

O pensamento deixou seus mamilos apertando, mas


conseguiu manter a voz firme. — Quem disse algo sobre sexo?

— Eu. — Piscando os olhos, abriu a porta de tela.

— Isso é um pouco presunçoso, não é?

— Querida, fiquei o dia todo pensando sobre essa noite. Eu,


pessoalmente, não me importo se você tem um saco de noite ou
não, eu apenas pensei que você ficaria mais confortável com isso.
— Ele sorriu. — Porque eu sou um cara legal e tudo.

Calor a banhou.

— Oohh, Ash, isso é um brilho travesso em seus olhos? — Ele


cantou em delírio. — Oh, sim, é! Olha essas bochechas vermelhas!
Ash, sua menina impertinente. Os pensamentos de minhas carícias
te excitam tanto assim?

— Quer parar com isso? — Rindo, ela caminhou rapidamente


para a porta do passageiro.

319
Logo atrás dela, Scott se inclinou diante dela para abri-la,
beijando o seu pescoço enquanto o fazia.

— Ash, eu poderia comê-la. — Quando tentou dar-lhe um


olhar castigador, ele sorriu maliciosamente. — Na verdade, hoje
você é minha sobremesa. Assim que estivermos em casa, querida,
eu te comerei e te lamberei.

Caramba! Seus joelhos quase viraram geléia com o


pensamento.

— Você tem a sua chave, Ash? — Perguntou Julia.

As bochechas de Ash coraram ainda mais por ver Julia em


pé na varanda, Oscar tecendo alegre entre as suas pernas.

— Sim.

— Bom. Pelo menos você será capaz de entrar se chegar em


casa tarde. — Ela deu um pequeno aceno. — Divirtam-se.

Observando-a caminhar para dentro, Ash disse. — Está


vendo? Sua mãe me espera em casa.

— Não, minha mãe espera que você tenha uma chave para
voltar. Eu espero sexo.

— Então espero mais uma carona de volta aqui no raiar do


dia.

— Feito! — Ele guiou-a para o assento, inclinando-se sobre


ela para colocar o cinto de segurança firmemente no lugar. Seu
sorriso era maroto. — Oh, querida, estou com tanta fome. — Seu
beijo era todo língua e domínio, deixando-a corada e ofegante.

320
Não havia dúvida do tipo de fome ele quis dizer,
especialmente quando piscou e deliberadamente tocou seus
seios com o braço quando voltou. A porta fechou e ela só podia
vê-lo dar passos largos pela frente do carro enquanto fazia com
que a sua libido se comportasse.

Bom Deus, o homem tinha o dom para fazer seu


pensamento dispersar e seu corpo florescer.

Assim que pararam em frente ao pub, Ash tinha conseguido


colocar seus pensamentos dispersos em ordem e foi capaz de
sorrir serenamente e dizer:

— Obrigada — sem a voz trêmula quando Scott abriu a


porta.

O riso se escondia em seus olhos quando ele colocou a mão


em suas costas para conduzi-la para cima da calçada.

— Você é tão malvado, — ela sussurrou.

— Você traz a tona o melhor de meu pior. — Ele brincou.

Antes que pudesse dizer mais, o som de várias motos rugindo


na rua a enrijeceram ligeiramente. No mesmo instante, Scott
deslizou sua mão ao redor da cintura dela e puxou-a para o seu
lado protetoramente, ela relaxou.

— Eu estou bem.

— Tem certeza? — Procurando, olhou para ela.

— Absolutamente. Desde que estive na garupa da sua moto,


e vi você e seus amigos andando pela cidade, estou bem.

321
— Reação visceral, então?

— Velhos hábitos custam a morrer.

Dando-lhe um abraço, olhou para cima, quando as motos


entraram na baía de estacionamento.

— Falando de amigos, olha quem apareceu.

Ash girou em seus braços e viu Kirk, Simon e Ryder tirarem


seus capacetes, Kirk e Simon saindo de suas motos, Del saindo da
garupa de Simon. Mas foi Dee, que chamou a atenção de Ash
quando ela saiu desajeitadamente da garupa da moto de Ryder.

Ao contrário dos outros, Dee usava um vestido e estava com


raiva arrumando a saia dela quando Ryder saiu de sua
motocicleta. — Você é um idiota.

Ryder não parecia satisfeito também.

— Olha, você foi a única que insistiu em andar em uma moto


de vestido.

— Você disse que me pegaria em seu carro!

— Eu mudei de ideia.

— Como poderia saber disso? Por acaso você me ligou e me


disse? Não!

— Ei, eu disse a você para se trocar, colocar uma calça


comprida quando cheguei.

— E eu disse que não ia.

322
— E eu disse-lhe que as mulheres não usam vestidos em
motos. — Ele se inclinou para olhá-la. — E você subiu na moto de
vestido.

— Se você acha que mudarei minhas roupas como você


muda sua mente, você está errado.

— Você percebe que todos deram uma boa olhada em


suas pernas?

— Se você trouxesse o carro não teria acontecido.

— Se você tivesse qualquer senso comum não teria sido tão


teimosa e simplesmente se trocado como pedi!

Ela o empurrou e passou por ele. — Você é um burro, Ryder!

Por um segundo, parecia que iria atrás dela, suas feições


apertadas, os olhos brilhando com raiva, surpreendendo Ash. Ela
nunca o tinha visto com raiva. E ela nunca tinha visto Dee tão
chateada.

Realmente, ela nunca teria pensado que Dee ficaria


chateada. Ela parecia tão confiante.

Balançando a cabeça, Del estava entre Simon e Kirk. Ela


disse algo e deixou-os e seguiu Dee para o pub.

Os lábios de Ryder apertaram antes de dar de ombros e


virar-se de repente, tirando sua jaqueta de couro para jogá-la por
cima do ombro e segurá-la no lugar pela curva de seu dedo
indicador.

323
Ash olhou de Ryder para onde a porta fechou atrás de Dee.
— Tem alguma coisa acontecendo entre esses dois.

— Não é que é esta a pergunta de milhões de dólares. —


Scott respondeu.

Surpresa, ela olhou para ele. — Você quer dizer que existe?

— Meio difícil de dizer. Eles são um casal estranho.

— Eles são um casal?

— Eu não quis dizer assim. — Ele começou a conduzi-la até a


porta. — Quero dizer que eles têm essa coisa de tipo de amor e
ódio. Um minuto estão se dando bem, embora um pouco
abrasivo, no outro, estão discutindo. É como uma luta sobre algo
que nem sabem a causa, ou não querem admitir saber.

— Dee não disse nada para mim. — Ash examinou os


ocupantes do bar à procura dos amigos, mas também não
estavam à vista.

— Talvez ela não saiba. — Scott ficou em pé enquanto ela


entrou em uma das cabines antes de se sentar em frente a ela. —
Seja qual for, é um dos mistérios de Gully‘s Fall.

— Todo mundo sabe sobre isso? — Ela ficou horrorizada.

Scott riu. — Meio difícil não saber. Sabe-se que eles atacam
faíscas um no outro. Metade da cidade está se perguntando se as
faíscas se transformarão em romance, a outra em um
assassinando o outro.

324
— Isso é horrível. — Ash fez uma pausa. — De que lado você
está?

— Estou em território neutro.

— Você deve ter uma opinião.

— Minha opinião é que eles lidarão com isso de alguma


forma. Enquanto isso, fico feliz quando eles estão se dando bem.
Mas é divertido quando eles brigam.

— Scott!

— Você tem que admitir, seus confrontos são divertidos.

— Como você pode dizer isso?

— O quê? — Ele estava realmente perplexo.

— Como você pode ser tão doce para mim, mas não para
eles?

— Querida, você é especial.

Isso era doce, e isso a fez sentir toda quente por dentro, mas
ainda assim...

— Você nem mesmo sente um pouco de pena?

— Eu os conheço há muito tempo, Ash. Para saber que se


meter entre eles quando estão brigando não é uma coisa
inteligente a fazer.

— Você já tentou isso.

— Oh merda, sim. Confie em mim, nunca mais.

325
Curiosa, se inclinou para frente. — O que aconteceu?

Ele quase visivelmente estremeceu. — Eu lhe direi um dia.


Basta tomar a dica: não se envolva em suas brigas.

— Se me disser, eu serei boa esta noite. — Ela sorriu


angelicalmente. — Eu prometo.

— Boa? — A luz leve em seus olhos foi varrida sob um súbito


brilho latente. — Oh, baby, eu não quero que você seja boa esta
noite. Na verdade, tenho a intenção de ver você ser muito, muito
má.

Ela apenas corou um pouco. Ah, sim, ela estava começando


a se acostumar com o lado hedonista de Scott. — Eu acho que
preciso de uma bebida.

Ele riu.

O resto da noite correu bem, Ash relaxou enquanto ela e


Scott conversaram com facilidade sobre o dia.

Kirk, Simon e Ryder cumprimentaram-nos, trocando algumas


brincadeiras antes de ir para o bar. Dee e Del reapareceram, Dee
agindo como se nada tivesse acontecido. Em pouco tempo
estava dançando com um homem que Ash vagamente
reconhecia como trabalhador do supermercado. Ela olhou
rapidamente para Ryder, mas ele não pareceu notar ou se
importar.

Talvez tenha imaginando. Talvez não exista nada lá, mas um


choque de personalidades. Seja o que for, não era problema dela
e não tinha nenhuma intenção de meter o nariz onde não era

326
desejada. Se Dee quisesse contar, ela diria, por sua vez Ash estava
contente em simplesmente sentar e apreciar a refeição e a
companhia de Scott.

Quando a voz profunda de Scott fluiu sobre ela, ela


percebeu que a vida realmente mudou. Onde uma vez ela evitou
bares, descobriu agora que estava redescobrindo seu gosto para
uma atmosfera agradável. O Pub de Gully‘s Fall era um pub típico
de interior onde todo mundo conhece todo mundo e a simpatia
era aquecedora.

Na verdade, desde que conheceu Scott, ela redescobriu-se.


Sua confiança estava voltando, o seu amor pela vida. Até mesmo
andou de moto, enquanto segura escondida atrás de seu corpo
alto e amplo.

Enquanto brincava com o copo, os pratos vazios deixados


de lado, o observava. Seu belo rosto tão amigável, seu sorriso tão
quente, seu olhar tão firme. Ele cumprimentou os amigos, mas sua
atenção nunca foi muito longe dela por muito tempo. Ele foi
atencioso sem ser sufocante, rindo abertamente. Ela tinha visto ele
com raiva, e enquanto o resultado tinha sido completamente
inesperado — hedonisticamente assim, na verdade — ela sabia
que nunca iria machucá-la.

O homem era verdadeiramente um sonho se tornando


realidade. Claro, ele tinha seus defeitos, mas quem não tem? Ele
poderia ser dominador, havia um traço dominante definido nele
quando vinha para aqueles com quem se preocupava, mas
também tinha um lado suave. Um lado carinhoso. E quando se
tratava de problemas, abordava os assuntos com naturalidade.
327
Por que nenhuma mulher o conquistou?

Parecendo sentir seus pensamentos, Scott baixou o copo.

— Tudo bem, querida?

— Apenas pensando.

— Sobre?

Ela encontrou seu olhar.

— Por que alguém como você nunca foi capturado.

Durante vários segundos, ele a estudou antes de responder


seriamente.

— Porque estava esperando por uma mulher especial.

Por ela? Ela não perguntaria, não queria pressioná-lo. Era


muito cedo, de qualquer maneira, e se sua resposta fosse
estranha? Quão embaraçoso seria?

Scott ficou em pé. — Vamos, Ash.

Surpresa, olhou para sua mão estendida. Quando balançou


os dedos, ela colocou a mão na sua e se levantou. Ajeitando os
óculos, a preocupação impregnou de repente. Ah, não, ela o fez
se sentir desconfortável? Ela...

— Estou querendo levar minha mulher especial para casa.


— Puxando-a para o seu lado, Scott inclinou-se e a beijou
levemente nos lábios, levantando a cabeça quando um grito
soou do outro lado da sala. Mas ele não tirou sua atenção dela.

328
Suas palavras a varreram, enchendo-a com carinho, e pela
primeira vez não se importava sobre o que alguém pudesse
pensar, mesmo que se sentisse um pouco tímida de repente.

— Sério? Agora?

— É. — Sua voz era rouca. — Agora.

— Eu quis dizer... — Ela sorriu para ele, o desejo por ela


brilhando tão abertamente em seus olhos aumentaram sua
confiança, fazendo-a se sentir de repente bonita. — Você não
quer sobremesa em primeiro lugar? Ou outra bebida?

— Você se esqueceu? — Sua piscadela era decididamente


carnal. — Você é a minha sobremesa, baby.

O calor se tornou fogo, formigando por ela com o seu braço


apertado ao redor da sua cintura. Suavemente ele se endireitou,
sorrindo e facilmente rejeitando um comentário irreverente de
outra pessoa, levando-a do ambiente ao mesmo tempo em que a
protegia com seu corpo.

Protegendo-a como ele parecia fazer desde o momento em


que a conheceu.

Sem se importar com o que alguém pensava, ela se derreteu


nele.

329
Capítulo Nove

— Você parece tão feliz, Ash. — disse Elissa no telefone.

Sentada nos degraus da frente da pousada, Ash observava


Oscar atacar uma borboleta entre algumas margaridas.

— Estou. Faz tempo que não me sinto tão contente.

— Você parece mais do que contente.

— Você está certa. Eu estou muito feliz, como jamais me


senti.

— Você está em Gully‘s Fall há algum tempo. Não tem


vontade de seguir em frente?

— Não. Eu amo isso aqui. — Ash sorriu ao ver Oscar perder o


equilíbrio, cair nas margaridas e imediatamente se endireitar para
lamber a pata com ar de quem planejou tudo. — Você faria o
mesmo.

— Hum, acho que a sua felicidade tem mais a ver com um


certo bombeiro que com uma cidade linda.

— Oh, ele é definitivamente a cereja do bolo. — Ash riu. — E


uma cereja muito gostosa.

330
— Uau, ouví-la dizer isso é música para minha alma. O
homem operou um milagre.

— Elissa, Scott é um milagre.

— Certo. Então, ainda está feliz trabalhando nessa oficina?

— Sim. Sei exatamente o que faço, e estou me familiarizando


com a linguagem automotiva.

— Agora, isso é assustador. — Elissa riu. — Moz chegou e


pediu para lhe dizer ‗Olá‘.

— Dê a ele meu amor.

— O tipo que você dá a Scott?

Ash sorriu. — Não, o tipo que se dá a um irmão mais velho.

— Entendido. Moz! — Elissa berrou. — Ash envia-lhe seu amor,


mas não o mesmo tipo que ela dá a Scott! — Houve uma resposta
abafada. — Moz diz que está triste.

— Eu aposto. Então, como estão?

O humor deixou o tom de voz de Elissa. — Oh, você sabe.


Estamos bem.

— Tudo bem? — Preocupação substituiu a diversão. — Sua


mãe está no seu pé novamente, não é?

— É, isso nunca mudará. Talvez eu decida sair um dia, como


você fez. Ver se encontro um ótimo lugar.

— Talvez devesse visitar Gully‘s Fall.


331
— Talvez.

— Venha. Tire férias.

— Talvez um dia. Esse trabalho temporário é um saco agora.

— Você não gosta de seu novo trabalho?

— É um trabalho. Tenho sorte de ter um, certo? — Elissa riu. —


Chega de tristeza e melancolia. Estou feliz que as coisas estão
ótimas com você e Scott.

— Como estão as coisas entre Moz e sua namorada?

Houve uma breve pausa. — Eles não estão mais juntos.

— Oh, não. O que aconteceu?

— Ela encontrou alguém que pensa que é melhor. Vaca


estúpida. Ela não tem ideia do que perdeu.

— Sinto muito. Moz é um grande cara.

— Sim. Eu já disse isso a ele.

Ash fez uma massagem em seu tornozelo. — Talvez devesse


trazê-lo quando vier para um feriado.

— 'Quando'? Não seria um 'Se'?

— Não, definitivamente é 'quando'.

Houve outra pausa do outro lado da linha. — Talvez não seja


uma má ideia. Talvez apareçamos aí em um feriado.

332
Ash ficou radiante. — Sério? Oh, Elissa, você e Moz adorarão
isso aqui. Todo mundo é tão bom e....

— Não faça planos, querida. Eu falarei com Moz. As coisas


não acontecem da noite para o dia, você sabe.

— Tudo bem. Mas te cobrarei.

— Eu sei! — Elissa riu.

Depois de conversarem um pouco mais, ambas desligaram.


Ash colocou o celular no degrau ao lado dela. Limpando as lentes
de seus óculos na barra de sua blusa, olhou para o campo repleto
de casas e percebeu que nunca se sentiu mais feliz em sua vida.

Seu carro foi consertado e ficava de fora na parte de trás da


pousada, mas gostava de à pé ao trabalho e assim usava-o
ocasionalmente. Não que ficasse muito na pensão, a maioria das
noites, geralmente estava na casa de Scott. Na realidade,
metade de suas coisas estava na casa dele, incluindo uma
escova de dente extra. Ela não comentou com Elissa esse
pequeno fato porque ainda estava espantada. Sim, Scott fez um
milagre nela.

Sorrindo, estendeu a mão e acariciou Oscar quando veio à


seus pés, descontente com o desaparecimento da borboleta.

O som de uma moto encheu o ar e ela viu Scott passar


vestido de preto e acenar quando se dirigiu ao trabalho. Sábado
era seu dia de folga, mas estava de plantão na estação de
bombeiros. Ela o veria à noite.

333
Isso era algo que ainda não queria discutir com Elissa, pois
primeiro precisava pensar mais no assunto.

Ela tinha se apaixonado por Scott Preston. Isso a assustou


completamente, quando percebeu em uma noite que ficou
acordada em silêncio em sua cama escutando-o respirar
profunda e uniformemente em seu sono.

Ele estava deitado de lado, virado de frente a ela, com um


braço musculoso ao redor de sua barriga, o rosto relaxado
durante o sono, não muito diferente de quando acordado. A luz
da lua que refletia através das cortinas caíra em suas feições.
Algumas das linhas de vida haviam diminuído um pouco, mas
ainda era o mesmo rosto quente, feliz. Scott era um homem feliz e
contente com a sua sorte na vida.

Observando-o, sentiu a agitação em seu coração, aquela


que aparecia regularmente quando ele estava por perto. A
diferença é que agora reconhecia.

Não era um namorico. Não era uma paixão passageira. Era


amor. Amor de verdade.

Virando lentamente para não acordá-lo, simplesmente ficou


observando-o, maravilhada que um homem como ele pudesse se
importar por uma mulher como ela. Ele a ajudou, incluindo-a
lentamente em sua rede de amizades e então passou a roubar
seu próprio corpo, enchendo-a com a sua essência, seu cheiro,
seu próprio ser, até que soubesse que ele sempre seria uma parte
dela.

334
Sim, ela amava Scott Preston.

— Mas será que ele me ama? — Ash murmurou, acariciando


as costas de Oscar.

Oscar arqueou, com olhos sonolentos e sonhadores


enquanto continuava acariciando-o.

Ela não sabia. Ele era carinhoso, amoroso, alegre, a fez


confortável, estava confortável com ela, até brincou sobre levar o
resto de suas coisas para sua casa, rindo, mostrando que já
existiam algumas de suas coisas lá quase permanentemente.

Não havia como negar, várias coisas de Ash estavam na


casa de Scott e em seu quarto — uma camisola extra, roupas
íntimas, vários livros, produtos de higiene e até mesmo uma muda
de roupa. Um frasco de seu perfume na prateleira do banheiro ao
lado de sua loção pós-barba. A casa de Scott tornou-se sua
segunda casa.

Mesmo Tilly exigiu que a alimentasse e alegremente pulava


em seu colo em todas as chances que tinha. Ash admitiu que
estava apaixonada pela gata gorda, malhada e cheia de
atitude. Como não amar uma gata que tem o controle sobre o
seu dono bonitão?

— Ash? — Julia chamou de dentro da casa.

— Aqui! — Ela virou no degrau quando Julia saiu para a


varanda.

— Querida, posso te pedir um favor?

335
— Claro.

— Eu assei vários lotes de muffins. Poderia levar alguns para


casa do velho Jack Stanton para mim? Eu levaria, mas chegarão
alguns novos hóspedes em breve e preciso recebê-los.

— Não se preocupe. — Ash ficou de pé. — Um passeio ao


interior em um dia tão bonito não é certamente um castigo.

Não muito tempo depois, dirigia em direção à fazenda


Stanton. Algo que descobriu sobre Julia é que ela era como uma
mãe para um monte de gente. O rabugento velho Jack Stanton
sempre recebia as suas guloseimas regularmente, assim como Ben
e outro viúvo de idade. Várias senhoras idosas também recebiam
a visita de Julia e ela sempre levava algo saboroso para
comerem.

O campo estava quente, como início do verão. Logo ficaria


ainda mais quente, mas agora o tempo estava agradável. Janela
baixa, a música tocando, Ash virou na estrada que levava à
fazenda de Jack. A única coisa estranha no ar era um leve toque
de fumaça. Não havia sinal de fumaça, apenas o cheiro. Ela
esperava que não fosse um incêndio. Fazia quase um mês desde
o último incidente. Todos respiravam aliviados pensando que o
incendiário havia ido embora, embora os bombeiros e policiais
estivessem irritados, pois a sua identidade não foi descoberta.

Dirigido pela estrada de terra até a casa da fazenda, Ash


olhou ao redor. Não havia nenhum sinal de Jack, mas sua velha
caminhonete enferrujada estava estacionada perto do galpão.
Os cães não estavam à vista e ela se perguntou se ele havia saído
336
com o trator para um dos prados verificar os carneiros ou alguma
de suas colheitas.

Sabendo que Jack geralmente deixava a porta da frente


destrancada, Ash parou o carro e saiu, carregando a cesta de
muffins até os dois degraus para a varanda e bateu na porta.

Quando não houve resposta, tentou girar a maçaneta. A


porta abriu e ela colocou a cabeça. — Jack? — Tudo estava
quieto, então ela falou mais alto — Jack?

Obviamente, ele não estava lá e ela considerava se devia


entrar na casa ou não. Se deixasse os muffins na varanda, um dos
gatos da fazenda ou até mesmo os cães, poderiam alcançá-los.
Então decidiu caminhar até o fundo e ver se a porta da cozinha
estava aberta. Se estivesse, deixaria a cesta na mesa da cozinha
com um bilhete. No entanto, sem dúvida, ele saberia de quem
era.

Indo para a parte de trás da casa, olhou para o celeiro e


percebeu pela porta aberta que o trator estava em seu lugar. Era
estranho. Isso significava que Jack estava em algum lugar por
perto.

Entrando na casa, colocou a cesta na mesa da cozinha e


pegando o bloco de notas debaixo do telefone, escreveu um
bilhete rápido e colocou-o parcialmente sob a cesta, onde não
deixaria de vê-lo.

Saindo, estava com um pé no degrau da varanda quando o


som de cães latindo chamou sua atenção. Franzindo a testa,

337
olhou ao redor. Nenhum cão à vista, e estranhamente, os latidos
vinham de um dos galpões.

Jack raramente prendia seus cachorros, mas quando o fazia,


acorrentava-os na varanda da frente, onde ficavam sob o abrigo.

Indo até o galpão ao lado da casa, olhou pela janela


encardida. Os três kelpies corriam e latiam dentro do galpão.
Quando a viram, pularam na janela.

Dando um passo para trás, Ash falou em voz alta. — Jack?


Jack, onde você está?

Um mau pressentimento a assolou. Os cães trancados, a


caminhonete na frente, o trator no galpão, e nada de Jack à
vista. Ele era um homem idoso, talvez sofreu um ataque cardíaco
ou algo assim, ou caído e quebrado o quadril? Na verdade, era
forte e robusto, mas ainda era humano. Definitivamente não
infalível.

Mas por que prender os cachorros?

Voltando para casa, entrou na cozinha. Havia um cheiro


estranho.

— Jack? Você está aqui? — Então, sentiu cheiro de fumaça.


Indo para o corredor, viu a fumaça saindo da sala de estar, e
ficou com medo. — Jack, me responda!

Antes que pudesse se aproximar da sala de estar, as chamas


aumentaram.

338
Mas onde estava Jack? Oh Deus, será que estava na sala de
estar no meio do fogo?

Ignorando o medo que sentia, Ash gritou


desesperadamente. — Jack!

Um gemido ecoou pelo corredor e correu em direção a ele,


sentindo o calor do fogo enquanto passava da entrada. Várias
portas davam para fora do salão e, dentro de uma delas, viu Jack
deitado de bruços no chão, movendo-se debilmente.

Entrando correndo, caiu de joelhos ao seu lado.

— Jack, precisamos sair daqui! A casa está pegando fogo!

O homem mais velho olhou para ela, com os olhos


desfocados e com sangue escorrendo em seu rosto enrugado.

— O que aconteceu? — ela segurou em seu braço. — Você


caiu?

Ele abriu a boca, mas suas palavras eram confusas.

O crepitar do fogo aumentou, algo no salão explodiu.

Desesperadamente, Ash colocou um de seus braços sobre os


ombros e tentou levantá-lo. — Vamos, Jack, por favor. A casa está
em chamas e precisamos sair.

Dolorosamente ele ficou de pé, apoiando-se nela.

— A janela. — cambaleou — Podemos sair... — Suas palavras


foram cortadas pelo barulho da janela quebrando e pelas
chamas que avançavam.
339
O fogo estava do lado de fora? Como se alastrou tão
rápido?

Afastando-se, cambaleou até a porta do quarto com Jack


apoiando-se nela.

— Deixe-me... vá... — ordenou com olhos turvos.

— Não. — ela olhou para o corredor.

— Muito... pesado. Vá.

— Não sem você. — Seu coração apertou quando viu que o


corredor que levava à cozinha era uma parede de chamas.

O calor era forte, o fogo aumentava. Uma fumaça


sufocante encheu o ar e ela levantou a blusa para cobrir sua
boca. Instruções de como lidar com fogo passaram por sua mente
e ela sabia que deveria ficar de joelhos e rastejar sob a fumaça,
mas se soltasse Jack, ele cairia e provavelmente não teria forças
para engatinhar. Ele mal conseguia ficar em pé com a sua ajuda.
Não havia nenhuma maneira de arrastá-lo de joelhos.

— Vá! — Ele lhe deu um empurrão fraco e quase caiu.

— Por aqui. — com os olhos ardendo e o cheiro de fumaça


queimando seu nariz, Ash arrastou Jack do corredor até outro
quarto, fechando a porta. Soltando-o no chão, correu para a
cama e puxou os lençóis, colocando-os na parte inferior da porta
para bloquear a fumaça.

Tossindo e ofegando, correu para a janela e arrancou as


cortinas.
340
O rosto de Brian apareceu, sua boca apertada em uma
linha fina e os olhos brilhando.

— Brian! Graças a Deus! Socorro! — Ela lutou com a trava da


janela.

Mal conseguiu abri-la, ela fechou de repente. Chocada,


olhou para ele. Lentamente, ele ergueu a mão para revelar o
isqueiro. Seu sangue congelou. Oh Deus, ele era o incendiário.

Ela não viu o que ele fez, mas viu o movimento de seu braço,
o flash do isqueiro e depois chamas do lado de fora da janela.

O braço de Ash foi agarrado e Jack a arrastou para longe


da janela e das chamas. Virando-se, conseguiu segurá-lo,
cambaleando sob o seu peso quando seus joelhos se dobraram,
mas ele conseguiu ficar de pé enquanto se apoiava
pesadamente nela.

— Banho... Banheiro — murmurou, balançando a cabeça


para o lado.

Banheiro ou talvez ainda tivessem tempo para correr pelo


corredor e tentar outro quarto? Esse pensamento foi descartado
assim que viu a fumaça passando por baixo da porta.

Tropeçando, colocou a mão na maçaneta, puxando-a


imediatamente quando o metal queimou a sua mão. O crepitar
das chamas era alto do lado fora do quarto, as janelas pareciam
uma fornalha.

Oh Deus, eles morreriam. Eles morreriam queimados na casa.

341
Com o coração batendo forte, a mente acelerada, o
pânico quase a consumindo, Ash olhou freneticamente ao redor.

Jack apertou seu ombro, chamando a sua atenção. —


Banheiro.

Balançando a cabeça, cambaleou com ele até a porta do


banheiro. O bonito azulejo branco e verde era quase um escárnio
diante do fogo mortal que rugia sobre deles. A janela do banheiro
estava no alto da parede e era pequena demais para qualquer
um passar.

Arrastando Jack até a banheira, o empurrou dentro dela,


nem mesmo ouvindo seu grunhido de dor, quando seus joelhos
bateram nas laterais. Correndo novamente para o quarto, viu em
desespero a fumaça passando por baixo da porta, as colchas da
cama quentes.

O calor encheu o quarto, o barulho do fogo no corredor era


ensurdecedor, mas não estava pronta para admitir a derrota
ainda. Com os olhos lacrimejando, tossindo e sufocando, virou-se
procurando qualquer coisa para protegê-los. Viu uma caixa de
cobertor ao pé da cama e abriu a tampa. Puxando os quatro
cobertores, voltou ao banheiro, fechando a porta. Correndo até a
banheira, ligou a água, molhando os cobertores e ignorando os
barulhos que Jack fazia enquanto a água o embebia.

Colocando um cobertor na porta, deu uma última olhada


ao redor. A janela do banheiro brilhava enquanto as chamas
engoliam a parte externa da casa.

342
Deus, eles morreriam. Seria um milagre se sobrevivessem.

Entrando na banheira, Ash ficou ao lado de Jack, sentindo-o


abraça-la protetoramente enquanto colocava os cobertores
encharcados sobre os dois. A água manchava seus óculos então
ela os tirou e colocou-os no bolso.

Jack colocou sua cabeça debaixo de seu queixo, o sangue


misturando com a água que escorreria sobre os dois.

— Garota estúpida, — murmurou. — Garota estúpida e


corajosa. — ele bagunçou seu cabelo com sua mão áspera.

Algo do lado de fora quebrou, o calor enchia o ar, mesmo


com os cobertores encharcados. Com medo, agarrou-se a Jack,
sentindo os tremores que atravessaram seu corpo esguio. Ash se
perguntou como um dia tão bonito tornou-se tão ruim.

A percepção a atingiu. As chances de sobreviver eram


quase nulas. Provavelmente nunca veria Scott novamente, nem
daria risada com ele ou ele a abraçaria. Ela nunca seria capaz de
dizer que o amava, que a fez sentir viva novamente, que a
encheu de felicidade. Nunca seria capaz de dizer-lhe porque
morreria queimada nesta solitária fazenda com Jack.

Abraçando Jack mais forte, sentiu um pouco de conforto


com a sua presença, mas não o suficiente para aplacar o medo
enquanto o fogo aumentava e ficava mais perto. O cheiro de
fumaça enchia o banheiro enquanto se abrigavam sob os
cobertores molhados, que rapidamente ficavam quentes demais.

343
Ela fez a única coisa que podia. Ela orou. Orou muito por um
milagre.

O caminhão de bombeiros e petroleiro invadiu a fazenda,


freando bruscamente, o carro da polícia não muito atrás.

Saindo da cabine do caminhão, o coração de Scott quase


saiu pela boca, mas não foi o incêndio que o encheu de medo e
sim a visão do carro de Ash metade consumido pelo fogo.

— Oh Jesus, Simon! Ash está na casa!

— Ela pode não estar. — Simon começou a desenrolar a


mangueira enquanto olhava ao redor severamente. — Ela pode
estar em qualquer lugar.

— Ela teria ligado!

Uma mão segurou o seu ombro e Scott se viu arrastado para


enfrentar Hank, o Diretor de Estação.

— Você tem um trabalho a fazer, Scott, — Hank disse


duramente — Precisamos apagar o fogo.

Sim, precisavam. Mas o medo tomou conta dele, uma


emoção que nunca sentiu diante de um incêndio. Porque era por
Ash que temia, o pensamento dela queimando na casa era maior
do que podia suportar. Começou pela frente, com a intenção de

344
encontrar uma forma de entrar na casa, apesar de seu
treinamento advertir-lhe que não havia entrada segura.

Hank segurou seu ombro novamente, dando-lhe uma


sacudida. — Se ela estiver naquela casa, precisamos apagar o
fogo. Nós ainda podemos salvá-la!

Quando Scott olhou para ele, gritou, — Scott, não podemos


entrar na casa até que o fogo esteja apagado!

— Amigo! — Simon apareceu em sua frente, rosto sombrio,


olhos como pedra. — A única coisa que podemos fazer agora é
apagar este fogo maldito. Se ela estiver lá, ela conta com você,
conosco. Nós somos tudo que ela tem.

Quando parte da varanda caiu, quebrando uma janela


próxima, Scott soube que era verdade. Não havia como entrar,
não quando tudo era uma explosão de calor. A única maneira de
lutar contra o fogo estava do lado de fora.

Ele entrou no modo automático, afastando o medo e o


pânico, dando o seu melhor e durante todo o tempo orou.

Ele orou mais do que ele já tinha feito em sua vida.

Ash tinha certeza de que morreria. O calor era tão intenso, a


banheira ficava cada vez mais quente. Eles dobraram as bordas
do lençol entre eles e os lados da banheira, mas o calor começou
a passar.
345
Ela esperou o fogo queimar os cobertores e fritar a sua pele.
Por baixo dos cobertores o cheiro de fumaça era perceptível. Sua
garganta estava seca de tosse, seus olhos ardendo muito. Ao seu
lado Jack sacudiu com a tosse, antes de finalmente ficar em
silêncio. Muito silêncio.

Oh Deus, será que ele morreu? Que sangrou até a morte ou


algo assim? O calor foi demais para ele? Tudo o que podia fazer
era abraçá-lo, abaixar a cabeça e mantê-lo perto.

O rugido do fogo era alto. O estalo, o calor, o som de coisas


quebrando e explodindo. Ela nunca pensou no fogo como algo
barulhento. Quente, ardente, mas não barulhento. Tão barulhento
que não conseguia escutar nada, apenas o rugido consumidor
enquanto devastava tudo.

Ela esperou que o fogo a consumisse, encolhendo-se


quando o calor começou a infiltrar-se pelo cobertor. Então, de
repente, estava quase sufocando com a água — água fria
abençoada — que de repente encharcou os cobertores,
encharcando-a, quase a afogando. Mas Deus, era tão bom, o
resfriamento de seu corpo, uma vez que a água começou a
encher a banheira.

Foram segundos, minutos, talvez mais, ela não sabia. De


repente os cobertores foram arrancados. Com os olhos ardendo
por causa da fumaça, as lágrimas escorriam pelo seu rosto, não
conseguia ver nada, só poderia engasgar e ofegar.

— Ash! — A voz de Scott mal penetrou o zumbido nos


ouvidos.
346
Oh Deus, Scott estava aqui!

Incapaz de ouvir ou ver claramente, sentiu Jack sendo tirado


dela, sentiu mãos agarrando-a por baixo dos braços e ao redor da
cintura, tirando-a da banheira. Tropeçando, caiu em algo duro,
forte e depois os braços ao seu redor levantaram-na.

— Está segura, Ash. Oh Jesus, está segura.

Tossindo, incapaz de fazer mais do que se agarrar a Scott, se


viu colocada em algo, piscando quando foi reclinada de repente
para trás. Fechando os olhos pela luz solar, distinguiu as
características turvas de várias pessoas pairando sobre ela.

— Está tudo bem, Ash. — A voz de Ryder, o contorno turvo


de seu rosto quando ele colocou uma máscara de oxigênio sobre
seu rosto. — Só respire, amor. Apenas respire.

O oxigênio era bem-vindo, mas ainda tossiu, sentindo como


se a fumaça nunca deixaria seus pulmões.

Sua mão estava segura em uma fortaleza que conhecia


muito bem. Virando a cabeça, olhou para o rosto de Scott. As
lágrimas nublaram sua visão, mas ela sabia que era ele.

— Eu estou aqui, Ash. — Seus lábios tocaram a sua testa. —


Estou aqui.

Enquanto segurava a sua mão, o som da voz de Ryder soou


tão distante que nem parecia que estava do outro lado dela, ela
só poderia aspirar oxigênio e continuar olhando para Scott.

347
Ela precisava dizer a ele, tinha que contar tudo, precisava
avisá-los. Alcançando a máscara de oxigênio, tentou removê-la,
mas Ryder a impediu.

— Não tire, Ash.

Balançando a cabeça quase violentamente, arrancou a


máscara o suficiente para falar com a voz rouca.

— Brian.

— O quê?

— Ela quer dizer alguma coisa. — Scott se aproximou, os seus


olhos entraram em seu foco e viu o medo, o alívio e a
preocupação em evidência. — Relaxe, querida. Você está
segura, Jack está seguro. Coloque o oxigênio de volta.

Mais uma vez ela balançou a cabeça, passando a língua


em seus lábios secos, rachados.

— Brian.

Colocando a mão sobre a máscara, Scott tentou colocá-la


novamente em sua boca e nariz. — Apenas respire, querida.
Apenas respire.

Em uma última explosão de força, ela segurou sua mão,


tossindo e com o peito chiando. — Brian. Brian fez isso!

Seus olhos se focaram nos dela. — Tudo bem, querida. Eu a


ouvi.

— Por favor...
348
— Nós o pegamos. Pegamos Brian.

Ela sentiu alívio.

— Agora coloque o oxigênio novamente. — ele o colocou


novamente em sua boca e nariz. — Por favor, não lute contra isso.

Olhando para ele inclinando-se sobre ela, sua atenção tão


focada nela, tudo o que podia fazer era chorar.

— Está tudo bem, baby. — Ele beijou sua testa. — Estou aqui.

Ela sabia disso. Assim como sabia que um milagre havia


acontecido.

Mesmo de banho tomado, cabelo lavado, vestida com uma


camisola limpa e dormindo entre lençóis hospitalares imaculados,
Ash não conseguia evitar pensar se ainda cheirava a fumaça. Ela
jurava que ainda podia sentir o cheiro, mas a enfermeira disse que
era sua imaginação.

Olhando ao redor do quarto, observou os vasos de flores e


cartões de melhoras na prateleira. Certamente não esperava essa
quantidade de pessoas que a visitaram para ver se estava bem.
Foi comovente.

— Ei, você pode receber visitas? — uma voz rouca disse


asperamente.

349
Olhando ao redor, Ash sorriu ao ver o velho Jack Stanton
sentado em uma cadeira de rodas em sua porta. — Claro.

Humm, sua voz não parecia melhor, estava pior do que um


fumante de dois maços por dia.

Ele entrou com a cadeira, parando ao lado de sua cama.


Simplesmente ficou parado, olhando-a por alguns segundos.

— Você está bem? — O seu olhar foi para a bandagem na


cabeça. Uma parte de seus cabelos foi raspada para levar
pontos.

— Tudo bem. Apenas um arranhão. — Jack encolheu os


ombros. — Dói mais do que deveria.

— Chocalhou um pouco seu cérebro, hein?

— Pelo menos eu tinha uma desculpa. E você?

As sobrancelhas de Ash se levantaram.

Jack fez uma careta. — Eu disse para você me deixar, Ash.

— Oh, isso. — Era a sua vez de dar de ombros. — Eu não


podia simplesmente ir embora.

— Sim, você poderia.

— Não, eu não podia.

Ele suspirou. — É a coisa do cordeiro novamente, não é?

— É um defeito meu.

350
Ele deu uma risada rouca e tossiu.

— Então, você ouviu falar sobre Brian? — Ash perguntou em


voz baixa.

— Sobre ele ser o incendiário? Sim. Kirk me disse que durante


a investigação da FESA7 foi constatado que ele esteve no local de
vários incêndios em outros estados, só que não podiam acusá-lo
porque não tinham provas. Acho que ter batido em minha
cabeça e atear fogo em minha casa são provas suficientes.

Pegando um copo de água, Ash tomou vários goles antes


de colocá-lo na pequena mesa de cabeceira.

— Você sabe por que ele fez isso?

— Ele disse que foi porque eu suspeitava que ele fosse o


incendiário.

— E você suspeitava?

Os lábios de Jack apertaram.

— Havia algo estranho nele, sabe? Em minha idade, você


sabe esses tipos de coisas.

— É só isso? Apenas intuição?

— Isso e o fato de que o vi colocar várias latas pequenas de


combustível em sua bota e cobri-las de forma segura com um
cobertor. Mas reconheci aquelas latas. Uma delas foi encontrada
nas proximidades do último fogo.

7Abreviação de Fire and Emergency Services Authority, o departamento de incêndio e serviços


de emergência da Austrália.
351
Ash suspirou. — Não me diga que o confrontou?

— Você está brincando comigo? — Jack bufou. — Eu estava


no telefone com um dos policiais da delegacia sobre minhas
suspeitas e descobertas, quando virei, vi Brian atrás de mim com
um pedaço de madeira. A próxima coisa que sei é que estava
deitado no chão e você estava me chamando.

— Ai. — ela fez uma careta de simpatia. — Que bom que


ainda estava no telefone. Scott me disse que o fato da ligação ter
sido interrompida de repente alarmou os policiais e quando o fogo
foi descoberto na estrada, os caminhões de bombeiros estavam
no local onde consideravam que a queima seria controlada. Sorte
que estavam muito perto.

— Sim, sorte nossa. — Jack tamborilou os dedos no joelho. —


Brian era um bombeiro voluntário em alguns desses incêndios
suspeitos nos outros estados. Isso é uma coisa chata.

— Aparentemente não é estranho que incendiários estejam


entre esses tipos de pessoas. Nem sempre, mas é onde podem ver
a ação e ainda ser parte da emoção. Meio doente, de verdade.
— Ash estremeceu. — Mas Brian era mais do que um incendiário,
ele era um assassino.

— Sim, bem... — Jack endireitou na cadeira de rodas. —


Acabou. Estamos bem. — olhou para ela. — Graças a você.

— Não gritará comigo dessa vez? — Ela sorriu.

— Não desta vez. — Ele estendeu a mão e acariciou o seu


pé. — Obrigado, Ash. Você salvou a minha vida.
352
Desconfortável, levantou uma mão. — Você teria feito o
mesmo.

— Sim.

— Então, o que você fará agora?

— A casa tem seguro, mas não será fácil. Aquela casa


possuía um monte de lembranças para mim. — Jack olhou para
suas mãos. — A reconstruirei. Seguirei adiante. Um homem só
precisa seguir em frente.

— Onde ficará?

— Julia queria que ficasse na pensão, mas consegui um


trailer emprestado. Um trailer em minha fazenda está bom para
mim. Estarei com meus cães, trabalharei na fazenda,
supervisionarei a reconstrução. Só pra que saiba, Julia não ficou
impressionada. — Um flash de humor brilhou em seus olhos. — A
mulher não gosta de ouvir 'não'.

— Assim como seu filho, — disse Ash secamente.

— Você faria pior do que o garoto. — Jack rolou a cadeira


para trás. — Ele cuidará de você.

Scott fazia mais do que cuidar dela. Ele a visitava duas vezes
por dia, todos os dias que esteve no hospital, enchendo-a de flores
e pequenos presentes.

— É melhor eu voltar. — Jack foi para a porta. — A


enfermeira enxerida voltará para me observar novamente em
breve. Aquela mulher extravagante deve ter coisas melhores para
353
fazer do que tomar minha temperatura a cada quatro horas.
Tenho sorte que os termômetros retais não estão em voga mais.

Rindo, Ash o assistiu sair pela porta.

Ela se acomodou para ler quando uma sombra encheu a


porta e Scott entrou.

— Oi. — Ela fez uma careta. Sua voz ainda estava um pouco
rouca e não era sexy.

Inclinando-se, beijou-a suavemente. — Oi, baby. — virando a


cadeira ao lado da cama para pudesse olhá-la de frente, se
sentou, inclinando-se para segurar a sua mão. — Você parece
melhor hoje.

— Você me disse isso ontem e anteontem. Fale a verdade,


estou horrível.

— Querida, você está linda.

— Você diria isso de qualquer maneira.

— Porque é verdade. — Ele colocou um pequeno buquê de


flores no colo dela.

— Scott! — ela repreendeu suavemente, — você não precisa


continuar comprando-me coisas.

— Eu quero.

— Não precisa.

354
Diversão desapareceu de seus olhos, seu olhar ficou intenso.
— Ash, não há um minuto que não agradeça a Deus que esteja
bem.

— Só os bons morrem jovens. — Ela sorriu.

Um lampejo de dor cintilou em de seus olhos. — Não brinque


com isso.

Instantaneamente contrita, ela se aproximou e abraçou-o.

— Sinto muito. Eu não quis dizer isso.

Seus braços deslizaram ao redor dela, com o rosto em seu


pescoço quando ele deu um beijo em seu pulso.

— Eu sei. — segurou-a com força. — É que... Ash, foi por


pouco.

Ela sabia disso. Todo mundo contou isso a ela — Simon, Kirk,
Ryder, os bombeiros voluntários. Todos que estiveram lá naquele
dia haviam lhe dito. Mas Scott não tinha mencionado isso.

No entanto, a tratava como frágil desde então. Ela não


podia levantar-se sem que estivesse ao seu lado, com um braço
ao redor da cintura, segurando-a e orientando-a cada passo até
que ela, rindo, o empurrava.

Ela não tinha percebido até então, quando um leve tremor


passou por ele e seu abraço apertou mais ainda, que estava o
afetando muito.

— Eu estou bem, Scott.

355
— Eu sei que está. Eu te vejo melhorando a cada dia, as
pequenas queimaduras em seus braços curaram, mas então me
lembro como foi por pouco... — Virando a cabeça, esfregou sua
têmpora. — Ash, se alguma coisa acontecesse com você, eu não
sei o que faria.

Ela não sabia o que dizer, então apenas passou uma mão
suavemente em seu cabelo, deslizando os dedos pelas sedosas
mechas castanhas.

— Eu pensei que você havia morrido. Eu pensei que tinha te


perdido. — Ele respirou fundo, o que não era totalmente estável.
— Só um milagre poderia fazer alguém sobreviver àquele fogo e
eu sabia disso. Eu orei. Então, quando vi a banheira, os cobertores
começando a pegar fogo, eu soube que estava lá. E quando eu
puxei os cobertores... Oh Jesus, Ash. — Ele levantou a cabeça.

Chocada, viu o brilho das lágrimas em seus olhos. — Oh,


Scott, não.

— Não o quê? – tirando cuidadosamente os seus óculos, o


colocou sobre a mesa de cabeceira. Segurando seu rosto entre as
mãos, encostou sua testa na dela e segurou o seu olhar, manteve
sua voz suave e a respiração quente em seus lábios. — Não dizer o
quanto você significa para mim? Que você é o meu mundo? O
quanto eu te amo? — Ele a beijou suavemente. — Eu não tenho
vergonha dos meus sentimentos. Eu não tenho vergonha de
chorar ao pensar que quase te perdi antes que tivesse a chance
de dizer o quanto te amo.

Atordoada, ela piscou. — Você me ama?


356
— Sim. Sim, eu te amo muito. Você é minha vida, Ash, minha
vida, meu amor. E agora o meu milagre.

Ela não conseguia dizer nada, a emoção a dominou e sentiu


um nó em sua garganta. Tudo o que podia fazer era olhar para
ele.

Delicadamente, enxugou todas as suas lágrimas antes de


beijá-la novamente com ternura.

Como tanto amor existia em um beijo tão suave ela não


sabia, mas ela sentiu, em seu beijo, em seu toque, em sua posse,
quando colocou os braços ao seu redor para puxá-la contra ele.

Escondida em seu abraço, Ash fechou os olhos. Sua voz


estava embargada quando sussurrou. — Eu te amo, Scott.

Seus lábios roçaram em seus cabelos e ele a puxou para


mais perto, um confortável silêncio preenchendo o quarto.

Scott a buscou no hospital, com um braço ao redor da sua


cintura, enquanto carregava sua bolsa com a outra mão.

— Eu posso levar isso. — Ela tentou pegar a bolsa.

Ele a tirou seu alcance. — Mulher, já está mais do que hora


de fazer o que lhe é dito.

— Ninguém me disse que eu não podia levá-la.

357
— Eu disse.

— Você está ficando muito mandão. — olhou para ele. — É


isso que acontece quando você ama alguém?

— Eu não sei. Eu só amei você. — Ele sorriu. — Acho que terá


que aturar.

— Então, vendo como eu, aparentemente, te amo! Ai! —


sufocando o grito assustado com uma das mãos, ela afastou a
mão de sua bunda. — Você acabou de me beliscar?

— Aparentemente? — ele arqueou uma sobrancelha para


ela, com os olhos brilhando de tanto rir. — Refaça a frase
novamente, Ash.

— Cara, você realmente é mandão. — Esfregando sua


bunda, embora o aperto que recebeu fora leve, olhou para ele
com desconfiança. — Alguma outra coisa que preciso saber sobre
você antes que eu deixe o hospital aos seus cuidados?

Ele colocou o braço ao redor de sua cintura novamente. —


Basta fazer o que eu digo e ficará bem.

— Sei. — Rindo, ela o deixou conduzi-la para o lado de fora


do hospital até o seu carro.

Ele a colocou no banco do passageiro, antes de colocar a


bolsa no porta-malas. Correndo para o banco do motorista, ele
sorriu para ela. — Pronta para ir para casa?

— Absolutamente.

358
Ele realmente não esperava que ela expressasse uma
objeção quando passou pela pensão, satisfeito quando o seu
rosto se iluminou.

— Nós iremos para a sua casa?

— Como eu disse, para casa.

O prazer em seu rosto era um bálsamo para a sua alma.

Deus, ele a queria. Ele sentou-se ao lado da cama olhando


por ela assim que chegou ao hospital. Ele não podia estar com ela
o suficiente, dar-lhe o suficiente para mostrar o seu amor. Agora
ele a queria em sua casa, queria que soubesse que a casa
também era dela.

Tilly estava no tapete quando chegaram. Sua expressão


petulante fez Ash rir e abaixar para pegá-la.

— Papai te abandonou, pobre bebê? — murmurou.

— Papai a tem alimentado com bife e frango para


compensar a ausência. — Abrindo a porta, Scott levou-a para
dentro. — E há mais bife na geladeira para agradá-la.

— Cara, essa gata é mimada.

— Eu vi você dar frango a ela.

— Sim, mas eu sou uma mulher. Mulher tem coração mole.

Sorrindo, colocou a bolsa no chão do quarto e tirou Tilly dela.

— Você desfaz a mala enquanto a alimento.

359
Levando Tilly para a cozinha, pegou uma grande tigela de
bife da geladeira e colocou-o no chão, dando-lhe um abraço
rápido antes de colocá-la em frente à tigela. — Só me faça um
favor — disse ele. — Não engula com tanta pressa para que não
vomite pela casa. — fez uma pausa. — Não é um som romântico
para o que eu planejei.

E cara, ele tinha planos. Começando agora.

Saindo da cozinha, entrou no quarto e viu Ash em pé com a


bolsa ainda a seus pés, mordendo aquele exuberante lábio
inferior. Humm, não é surpreendente, realmente. A garota sempre
duvidava de si mesma. Precisava dar um jeito nisso agora.

Caminhando até ela, tirou os óculos e os colocou sobre o


criado mudo antes de envolver seus braços e beijá-la.
Lentamente. Calorosamente. Deixando que todos os seus desejos
carnais e amor transparecessem no beijo e profundamente nela.

Sua reação foi instantânea, a forma como ela se derretia


nele que amava, a sensação de seus seios generosos pressionados
nele, aquele macio corpo quente, cheio de curvas entregando-se
a ele.

Será que ela sabia o que isso provocava nele? Como ele
queimava por ela?

Ela o beijou ansiosamente, seu gosto misturando-se ao dele,


o seu cheiro rodopiando sensualmente e puxando-o mais para o
feitiço que ela, sem saber, tecia.

Deus, ele a queria. Mas não com força. Ainda não.


360
Temperando seu beijo, abriu o zíper de seu vestido, e o
deslizou pelos seus quadris, até acumularem nos seus tornozelos.

Sua confiança e tranqüilidade em sua presença haviam


crescido nos últimos meses, tanto que não tentou esconder-se,
não hesitou em deixá-lo soltar e tirar o seu sutiã, a maneira como
arqueou os quadris o suficiente para deixá-lo tirar sua calcinha.

Sua confiança nele era alucinante. Sua ânsia por ele tão
potente. Seus dedos ágeis abriram os botões de sua camisa, suas
mãos empurrando-a sobre seus ombros, mesmo que precisasse
ficar nas pontas dos pés para fazê-lo.

E ainda ele a beijou, saboreando sua boca, provocando os


lábios, mordiscando e lambendo, aumentando seu desejo com
facilidade.

Deus, ela era tão sensível, tão desejável. E toda dele.

A lembrança de quão perto esteve de perdê-la, o fez ansiar


por unir-se a ela, compartilhar seu corpo em uma intimidade
acima de qualquer coisa que fosse concebida.

Em poucos segundos estava tão nu quanto Ash, suspirando


em êxtase pelo contato pele a pele.

Mas desejava mais uma coisa, apenas uma coisa para


tornar o momento perfeito e completo.

Delicadamente, a colocou de costas na cama e, em


seguida, apoiou seu peso em suas mãos para manter-se sobre ela.

361
Ele observou quando seus cílios grossos levantaram para revelar os
olhos azuis que ficaram para sempre gravados em sua memória.

— Eu te amo, Ash.— disse suavemente.

Seus lábios, tão exuberantes e úmidos por seus beijos,


curvaram em um sorriso. — Eu te amo, Scott.

Colocando a mão debaixo do travesseiro, tirou-a segurando


um anel. — Então se case comigo.

Ele nunca esquecerá essa imagem enquanto viver: seus


olhos arregalaram, cheios de surpresa e felicidade e ficou
boquiaberta enquanto olhava do anel para seus olhos.

— Casar com você?

— Eu te amo, — simplesmente disse. — Eu quero que


fiquemos juntos para sempre. Que esteja meu lado, Ash. Fique
comigo, ao meu lado, compartilhe a minha vida, a minha casa e
transforme-a em um lar para nós dois. Case-se comigo, Ash.

Estendendo a mão, segurou o rosto dele, levantando a


cabeça para beijá-lo com uma ternura que apertou seu coração.
— Sim. Mil vezes sim, Scott.

Segurando a sua mão, colocou o anel em seu dedo, um


ajuste perfeito que esperava desde que ele pegou um de seus
anéis para molde. A pequena esmeralda ladeada por dois
diamantes parecia tão delicada em seu dedo, tão certa. Ficaria
perfeita quando estivesse acompanhada por uma aliança de
casamento.

362
Passando as mãos pelos seus braços, beijou-a até chegar ao
seu ombro. Ele lambeu a área sensível em sua clavícula, descendo
e pressionando beijos até os seios exuberantes. Capturando um
dos bicos rosados em sua boca, mordiscou-o, sentindo Ash
arquear debaixo dele.

Sua respiração aumentou e ela apertou com força seus


ombros, os quadris curvilíneos debaixo dele enquanto abaixava
sua mão separando suas coxas para facilitar ainda mais o acesso.

Sim. Já estava tão úmida, seu creme revestindo sua entrada.

Ele mudou de posição, querendo tudo o que era seu.


Beijando da ondulação suave de sua barriga e inferior.

Seu pênis deslizou no lençol, preso entre seu abdômen e o


colchão, fazendo-o pulsar em antecipação.

Ele se moveu para baixo, procurando, beijando, lambendo,


umedecendo e provocando a carne sedosa e então estava lá,
sua feminilidade aberta enquanto seus ombros afastavam suas
coxas.

— Scott... — Seu nome foi um ofegante e necessitado


gemido.

— Estou aqui, baby. — Colocando as mãos em seus joelhos,


inclinou suas pernas, afastando suas coxas, deixando-a aberta e à
sua mercê.

Deus, ela era linda, macia, pele úmida e cremosa.

363
Scott não perdeu tempo, não se preocupou com sutilezas,
não quando seu pênis endurecia, enchendo de calor, lascas de
fogo enrolando baixo dentro dele. Ele ansiava por ela, como
sempre, ansiava estar profundamente dentro dela, marcá-la com
sua semente, marcá-la por dentro e por fora com tudo o que era.

Mas, primeiro, desejava prová-la. Ansiava por seu gosto, pela


sua textura, antes de entrar naquela caverna quente, apertada.

Sem lhe avisar, a lambeu da entrada ao pequeno botão


escondido na proteção dos lábios, e sugou-o, ouvindo Ash gritar,
sentindo seu corpo tremer, segurando sua barriga para manter
seus quadris no lugar.

Deus, ela tinha um gosto bom. A pequena protuberância era


firme em sua boca, à mercê de seus dentes se quisesse, mas
nunca machucaria Ash, por isso o lambeu, chupou-o suavemente
antes de usar os lábios para provocá-lo e instiga-lo em um pico de
dor.

Liberando-o, beijou suas dobras orvalhadas, sacudindo sua


língua levemente ao longo de seu períneo, amando os gritinhos
que ela soltou, a maneira como seu quadril tentava afastar suas
mãos tão urgentemente quanto tentava pressionar nele em uma
conflitante e exótica dança de desejo.

A paixão aumentou dentro dele, quente e exigente quando


o seu gosto o encheu, deslizando sua língua em seu creme e
lambendo-a profundamente, fazendo-a quase gritar seu nome
enquanto estremecia.

364
Lambeu-a durante seu orgasmo, aumentando ainda mais
seu desejo, levantou seus quadris várias vezes do colchão
imaginando como seria se estivesse dentro dela. Colocando
profundamente sua língua, sentiu seus espasmos e seu sangue
acelerou, aumentando seu desejo enquanto ela estremecia e
sacudia, o desejo carnal ondulando entre eles, quase fazendo
com que gozasse.

Ele controlou-se, enquanto se concentrava em Ash, em seus


pequenos gemidos enquanto gozava, dando-lhe uma satisfação
quase selvagem dentro dele.

Era o que queria e precisava. Sua mulher gritando seu nome,


suas mãos em seu corpo, sua língua saboreando-a, preparando-a
para que pudesse enterrar-se profundamente dentro dela.

Ele sugou fortemente a entrada de seu corpo, fazendo-a se


contorcer. Deu uma risada baixa e carnal em sua pele antes de
dar uma última lambida, longa, lenta e forte, fazendo-a tremer e
então subiu sobre seu corpo, parando apenas para dar uma
chupada rápida e forte em cada um de seus mamilos rosados.
Então tomou sua boca, saqueando-a profundamente enquanto
posicionava seu eixo na entrada de seu corpo, a ponta aninhada
em sua abertura molhada.

Um impulso dos quadris e entrou profundamente nela,


conduzindo seu eixo no ligeiro tremor, aninhando-se em seu
núcleo.

365
Completamente dentro dela, sentiu necessidade de ver o
seu rosto, de vê-la aceitando-o totalmente, então, levantou a
cabeça para olhá-la.

Deus, ela era tão bonita, com a cabeça inclinada para trás,
os pequenos dentes brancos mordendo seus exuberantes lábios...
A cada impulso de seus quadris, cada empurrão suave de seu
eixo invadindo-a, ela agarrava os lençóis, torcendo-os em suas
mãos.

Faminto, olhou um pouco mais abaixo, vendo os generosos


seios balançando a cada impulso duro em seu corpo.

Ele nunca teria o suficiente dela, sua luxúria, seu amor e seu
desejo por ela eram insaciáveis. Beijou sua boca novamente
enquanto empurrou com força, comendo-o avidamente
enquanto a comia.

Braços macios enrolaram ao redor de seu pescoço,


abaixando sua cabeça e ele acolheu, alegrando-se tanto quanto
a sensação de seu pé deslizando em seus músculos duros, a forma
como suas coxas o apertaram, tentando segurá-lo dentro dela, a
cada impulso recebido.

Tirando a boca da dela, rosnou — Eu te amo, Ash. Sempre te


amarei. — E sempre queimarei por você. Ambas verdades
inquestionáveis, cauterizadas para ele, parte de sua alma.

Inclinando sua cabeça para trás, deixou a paixão dominá-lo,


investindo com força, buscando sua libertação, querendo gozar
dentro dela e não querendo que nunca terminasse.

366
A luxúria o queimava entrelaçada com o calor do sexo, a
ternura do amor, o desejo de um homem por sua mulher. A
urgência o dominando, formigando sua pele, nervos tensos, o
corpo vibrando com voracidade.

Bombeando os seus quadris, investindo profundamente nela,


e a ouviu gritar seu nome, sentiu os espasmos, sentiu os músculos
femininos contraírem duramente, buscando sua semente,
segurando-o dentro dela para que cada impulso seu fosse um
deslizar erótico em sua boceta lisa, apertada.

Era demais, mas não suficiente, e esmagadora ao mesmo


tempo. Seu orgasmo rompeu, as sementes ferveram até disparar
pelo seu eixo enquanto afundava dentro dela, empurrando os
quadris quando sentiu sua libertação, marcando-a por dentro
com sua essência.

Sacudiu seus quadris e empurrou com força quando


arqueou, pressionando os quadris dela para baixo, forçando-a a
receber tudo o que deu.

Inclinando a cabeça para frente, olhou para ela, viu os cílios


espessos levantarem, a quentura de seus olhos abrasadores por
ele, e segurou seu olhar, enquanto empurrou com força mais uma
vez, esvaziando-se dentro dela, mantendo-se dentro dela,
observando como ela estremeceu e levou-o, levou-o
completamente e manteve seu olhar fixo no dele até que ela
jogou a cabeça para trás e gritou, seu corpo todo tremendo
debaixo dele, enquanto o orgasmo a atingia.

367
Então a seguiu em um vórtice de puro desejo fragmentado,
quase irracional, o louco desejo erótico.

Envolvida nos braços de Scott, o peito em suas costas, seu


grande corpo enrolado protetoramente ao redor dela, Ash sabia
que ela havia voltado para casa.

Tilly estava deitada no travesseiro de Scott, fazendo-o,


segundo ele próprio, ficar tão perto de Ash.

Sorrindo para si mesma, Ash levantou a mão olhar o anel de


noivado em seu dedo. Era perfeito, assim como o homem que a
abraçava tão forte, mesmo durante o sono. Há alguns meses,
nunca imaginou que sua vida mudaria tão drasticamente.

Colocando sua mão no antebraço musculoso que estava


sobre sua cintura, ela se perguntava o que teria acontecido se o
seu carro não tivesse quebrado, se Scott não tivesse saído de
moto com seus amigos. Ela nunca o teria encontrado, nunca teria
o seu próprio ‗felizes para sempre‘.

O pensamento a deixou sem fôlego.

Automaticamente o braço de Scott apertou sua cintura, seu


hálito quente acima de sua cabeça enquanto sonolentamente
murmurava. — Eu estou aqui, querida.

Imediatamente relaxou. Sim, ele estava lá. Ele sempre estava


para ela. Ela não perderia tempo com ―e se‖ ou ―talvez‖. Ela
368
simplesmente aceitou o milagre que havia recebido em sua vida,
a partir do momento que o conheceu e que tornou sua vida mais
brilhante e mais feliz que nunca.

Ela imaginava se Scott sabia o quanto o amava, o quanto


queimava por ele, o quanto seu corpo reagia tão furiosa e
rapidamente ao seu toque. Sorrindo, se aconchegou novamente
nele, recompensada por seu braço a puxando para mais perto,
seu corpo pressionando no dela, a sensação de seus lábios
roçando no topo de sua cabeça antes de senti-lo cair, mais uma
vez, em sono profundo.

Sim, ela finalmente voltou para casa.

Fim

369
Biografia

Angela Verdenius vive na Austrália com seus gatos. Adora ler


e pensa que um dia perfeito é escrever e tomar refrigerante,
seguido de leitura ou de um bom filme de terror.

Até o momento, escreveu vários romances contemporâneos


e Sci-Fi, duas novelas e vários contos, sendo um deles uma história
de zumbis bastante divertida. Seus livros ganharam muitos prêmios,
como o Golden Rose e estão na lista de best-seller Fictionwise.

Website: http://www.angelaverdenius.com/

Blog: http://angelaverdenius.blogspot.com/

370
371

Вам также может понравиться