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Abstract
The present study aims to analyze the inequalities in the racial and gender cutting in the Brazilian
society, for the inclusion of black women into the labor market showed in Brazilian census in 1980,
1991, 2000 and 2010. Demographic Census Data founded in this study, were extracted from
Integrated Public Use Microdata Series, designed and administered by Minnesota Population
Center of the University of Minnesota. The descriptive and analytic definition the position by
occupation were processed using the software Stata version 10. With the data and analysis, it was
observed that there is a permanent difference between the segment of black and white working
women, with the same level of education in the labor market.
segmento de mujeres ocupadas, blancas y negras, con el mismo nivel de escolaridad, en el mercado
laboral.
Revista Latino-americana de Geografia e Gênero, Ponta Grossa, v. 7, n. 2, p. 178 - 194, ago. / dez. 2016.
Inserção da mulher negra brasileira no mercado
de trabalho no período de 1980 – 2010
Revista Latino-americana de Geografia e Gênero, Ponta Grossa, v. 7, n. 2, p. 178 - 194, ago. / dez. 2016.
Inserção da mulher negra brasileira no mercado
de trabalho no período de 1980 – 2010
variar segundo o status social, raça, cor, em conta o seu 'novo' e complexo status. E,
idade. esta nova divisão do trabalho, ao contrário da
A questão de gênero também é um velha divisão, não pode ser equivocada. Ela
conceito construído socialmente, de forma tem que estar voltada para o combate à
que, quando nos referimos às noções de reprodução do machismo e do sexismo na
masculino e feminino, referenciamos a sociedade. Sobretudo na educação e no
reivindicação das mulheres ao direito à mercado de trabalho, mudando assim a
cidadania política, à cidadania do mundo do concepção das novas gerações sobre as
trabalho. Mas, o que importa reter desse tipo relações de gênero. Os papéis considerados
de episódio é que a mulher, ao ter acesso ao como masculinos ou femininos são, pois,
salário e a direitos trabalhistas conquistados, nada mais, nada menos, que puras
ao direito à cidadania, passou a ter certa construções sociais, que refletem uma relação
autonomia em relação ao homem, que deixou assimétrica entre homens e mulheres. Então,
de ser o único provedor, contudo, isso não a como estes papéis não são naturais, nada
livrou das amarras domésticas e passou a obsta que eles possam ser mudados. Sabemos
exercer uma dupla jornada no trabalho e em que a questão salarial e a oportunidade de
casa. ingresso em boas colocações de emprego não
As mulheres com baixa renda limitante são iguais para homens e mulheres (LONGO,
aos mínimos necessários à vida e, com baixa 2011).
escolaridade, vendem sua força de trabalho Pensada a situação da mulher negra, a
para garantir basicamente o seu sustento e o pertença ao gênero feminino não explica, por
da família. A sua forte inserção no trabalho si só, a sua situação de sujeito discriminado
informal evidência, a priori, a forte opressão no mercado de trabalho. Logo, é preciso ir a
de gênero a que se encontram submetidas. fundo à questão de definição de raça. E ainda
Neste sentido, segundo Bourdieu (2002), os que perdure o pensamento de que as teorias
indivíduos possuem uma série de raciais já tenham sido ultrapassadas, no que
características particulares (gênero, cor, raça, se refere a sua contribuição e impacto nas
etnia, escolaridade, profissão, rendimento, práticas de discriminação e preconceito, elas
entre outros) onde a análise de persistem com força ideológica suficiente
correspondência permite indagar quais para nutrir as desigualdades baseadas na raça.
características são capazes de aproximarem Billings (apud GANDIN et. al., 2002, p.
ou diferenciarem os indivíduos. 279) escreve que, “academicamente, a noção
As mulheres precisam rever os diversos de raça vive um importante momento de
papéis que foram impostos a elas, tais como: recuperação, refletida na busca por um
mãe, esposa, filha, organizadora do ambiente sentido mais preciso de sua aplicação”. Mas,
doméstico e profissional, em busca de uma que elementos históricos, psicológicos,
redefinição desses papéis dentro e fora de políticoideológicos, culturais estão incutidos
casa. Todas estas funções sobrecarregamna, na noção que desenvolvemos sobre raça(s)?
porque a incorporação da mulher ao mercado Daí a importância em se desvelar a origem
de trabalho não levou em conta o papel e intenção da aplicação de raça, nas práticas
central dela no ambiente doméstico. sociais e sua influência sobre a organização
A redefinição mencionada acima, social. Embora as teorias raciais tenham sido
basicamente, passa por uma mudança social, desbancadas pela comunidade científica
estrutural, que reenquadra a mulher numa internacional, na segunda metade do século
nova divisão sexual/social do trabalho, tendo XX, há no século XXI pessoas que
Revista Latino-americana de Geografia e Gênero, Ponta Grossa, v. 7, n. 2, p. 178 - 194, ago. / dez. 2016.
Inserção da mulher negra brasileira no mercado
de trabalho no período de 1980 – 2010
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de trabalho no período de 1980 – 2010
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Inserção da mulher negra brasileira no mercado
de trabalho no período de 1980 – 2010
suposta inferioridade (excludente). Não é por aumento da população negra também pode
mero acaso que a população negra se ter um caráter subjetivo, maior miscigenação
classifica de várias formas (ou cores), livre e/ou maior identificação com os grupos de
da classificação fechada do IBGE. pertença de cor ou raça (autoatribuição).
Abordada as concepções de gênero e Soares (2008 apud IPEA, 2012) considera
raça/cor, seguese com seus desdobramentos que a ampliação do número de negros deve
que geraram entre as ações humanas, o se ao reconhecerse como negro (preto ou
racismo, a discriminação e o preconceito. pardo), pois ao se levar em conta a diferença
das taxas de fecundidade entre mulheres
Relação Raça, Cor e Sexo no Contexto negras e brancas, apenas em 2020 a
Nacional população negra tornarseia majoritária.
O crescimento na autoatribuição para a
O Censo de 2010 revela que a população categoria negra também pode ter ocorrido
negra (soma de pretos e pardos) superou a pela ação dos movimentos e das ações de
população branca, ao constituir 50,9% do valorização da cultura negra, que vem sendo
total de habitantes, somadas as categorias desenvolvido há décadas pelo movimento
preta (7,5%) e parda (43,4%). A população negro e à implementação das políticas
branca corresponde a 47,5% da população afirmativas e das medidas de reparação
total5. É a primeira vez que o percentual de empreendidas nos últimos anos pelo Estado
pessoas que se declararam pretas e pardas brasileiro.
superou o percentual de pessoas brancas no A ampliação da população autodeclarada
Brasil. negra, comparativamente à população não
Quando separados os dados pela categoria negra, no Censo de 2010, ocorreu em todas
sexo, os homens representam 49% da camada as regiões brasileiras, com menor percentual
da população brasileira. Neste universo, os no Sul do país, onde, historicamente, a
homens na categoria preta, constituem 8% e população branca sempre foi maioria. Tal
na categoria parda 44%, o que totaliza 52% ampliação pode traduzir, ainda, a
em comparação aos 46,5% de homens de cor omissão/negação da raça, pelos recenseados,
branca. O universo feminino indica que a nos Censos anteriores. Todavia, esta
população brasileira é formada em sua ampliação não se reflete na ocupação no
maioria por este grupo6, 51%. Destacando mercado de trabalho, embora a população
que neste universo 48,5% das mulheres são negra seja maioria, tanto em relação à
brancas e 49,8% são negras (42,8% na População em Idade Ativa – PIA – quanto em
categoria parda e 7% na categoria preta). relação à População Economicamente Ativa
O crescimento da população, no que se – PEA. A população negra encontrase sobre
refere à autodeclaração ou heterodeclaração representada nos serviços informais,
como preta ou parda pode estar relacionado à precários e no contingente de
taxa de fecundidade mais alta da população desempregados, mesmo com todos os
negra (2,1 filhos em 2009), apesar da queda avanços verificados.
geral na taxa de fecundidade das mulheres Em sequência, a discussão é focada na
brasileiras (IBGE, 2010). Em 1999, a taxa de população dos 15 aos 64 anos, considerada
fecundidade para mulheres negras era de 2,7 potencialmente ativa, por grupos: homens
filhos por mulher, enquanto a taxa para brancos (Hb), mulheres brancas (Mb), Hn
mulheres brancas era de 2,2 filhos no mesmo (homens negros) e Mn (mulheres negras).
ano, declinando para 1,9 filhos em 20097 Constatase que, em 2010, a população
(IPEA, 2010; BRUSCHINI et. al., 2011). O dos 15 aos 64 anos de idade representava
Tabela 1 – Distribuição da população de 15 a 64 anos por raça/cor e sexo – Brasil, 1980, 1991, 2000 e 2010
BRASIL (%)
CATEGORIA 1980 1991 2000 2010
Tabela 2 Posição na ocupação da população de 15 aos 64 anos, segundo a raça, cor e o sexo por ano censitário – Brasil
BRASIL (%)
serviços sociais8 (IBGE, 2010; IPEA, 2011), decréscimo na participação: de 3,9 p.p. para
com predomínio de mulheres negras no as Mb, e de 5,8 p.p. para as Mn. Esta redução
serviço doméstico remunerado em todo o pode estar associada ao aumento nos anos de
Brasil. escolaridade da população brasileira –
Os trabalhadores domésticos formam uma especialmente das mulheres – com possível
categoria profissional cuja interferência de migração para postos de trabalho não
raça/cor e sexo, revela as mais significativas precários. Nesse sentido, o trabalho
desigualdades. A maior participação das doméstico pode ter deixado de ser a porta de
mulheres negras no trabalho doméstico entrada obrigatória para o acesso das Mn e
revela o peso da discriminação setorial das Mb, jovens e pobres, ao mercado de
regionalocupacional sobre elas (SOARES, trabalho.
2000). Observase que, enquanto a inserção das
Em 30 anos, a proporção de trabalhadores Mn na ocupação 'Conta Própria/Empregador'
domésticos não apresentou mudanças vem sendo reduzida, continuamente, desde o
significativas para os homens. Sua Censo de 1991, nos demais grupos, ela esteve
participação mantevese igual ou inferior a em crescente até o Censo de 2000, quando
1%. A evidência do menor acesso à educação começa a declinar.
formal, priva esse segmento, e o das Mb que A tabela acima ainda permite identificar,
aí se encontram, de ocupar melhores postos entre os Censos de 2000 e 2010, as seguintes
no mercado de trabalho. Desse modo, tendências complementares: o aumento do
estabelecese uma relação causaefeito entre número de trabalhadores na ocupação 'outros
mercado de trabalho, nível de escolaridade e empregados', independente da raça/cor e
qualificação para ocupação nos melhores sexo, e o decréscimo na ocupação 'conta
empregos. própria/empregador'.
Existe uma diferença de inserção entre o Desde o Censo de 1980, com relação às
segmento de mulheres ocupadas, brancas e demais formas de ocupação, podese
negras, mesmo quando elas possuem o observar que a participação dos trabalhadores
mesmo nível de escolaridade. No Censo de na ocupação “outros empregados” superou
2010, 19,9% das Mn ocupadas são todas as outras tratadas no estudo.
trabalhadoras domésticas, ao passo que, entre Feita a análise da posição na ocupação,
as Mb elas correspondem a 11,1% (tabela 2). concentrandose nas principais tendências ao
Em contrapartida, verificase uma longo do tempo, o passo seguinte é o de
participação relativamente maior das Mb, apresentar a análise regional com foco nas
ocupadas que trabalham nos setores mais semelhanças e diferenças, destacando a
organizados da economia, onde existe uma evolução no período de 1980 a 2010.
maior probabilidade de se obter melhores Em 2010, a população dos 15 aos 64 anos
salários e condições laborais (BRUSCHINI, de idade representa 68,5% da população
et. al., 2011). A desigualdade entre essas brasileira. Refletese sobre ela as
mulheres relacionase com as questões transformações ocorridas no perfil
estruturais e discriminatórias. Dentre os demográfico do país, no que diz respeito a
componentes estruturais, o aspecto maior autodeclaração e/ou heterodeclaração
educacional é o mais relevante. para a raça/cor negra. Neste item, é feita uma
No quadrante de 2000 e 2010, entre as análise geral da distribuição da população
mulheres que estavam na ocupação por raça/cor e sexo pelas cinco grandes
trabalhadora doméstica, houve um regiões. Em seguida, as análises se
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Inserção da mulher negra brasileira no mercado
de trabalho no período de 1980 – 2010
que não pela via do trabalho doméstico. Sua pela sociedade civil organizada para o devido
condição se reflete diretamente sobre os seus cumprimento de suas atribuições. Esta
dependentes, no geral crianças e jovens. letargia ou demora crônica, na ausência de
A desigualdade pressupõe a existência de uma terminologia mais adequada, em atender
múltiplos fatores agregados que afetam o as demandas da parcela da sociedade
desenvolvimento do país como um todo. excluída, inscrevendo suas necessidades
Pobreza, renda, saúde, educação, trabalho, básicas na agenda de governo, tem raízes
violência, quando associados à discriminação históricas.
racial ou de gênero, interferem em todos os O racismo é um fator que interfere no
níveis de desenvolvimento, desde o humano, acesso à renda e, por conseguinte, determina
passando pelo local, regional e o nacional. a pobreza. Sua intersecção com o sexismo
Não por acaso, o Brasil ainda é considerado expõe a vulnerabilidade social da mulher.
um país muito desigual. As transformações no mundo do trabalho
A exclusão socioeconômica a que está interferiram no contexto de inclusão da
submetida o segmento negro, também é mulher e, em especial, da mulher negra. E
responsável por naturalizar as desigualdades elas estão associadas às mudanças nos
entre brancos e negros, além de reforçar o padrões culturais e no reconhecimento da
processo de estigmatização, cujo impacto importância da mulher como força produtiva.
recai sobre a socialização e a cidadania da Embora a divisão sexual do trabalho ainda
população negra. No caso deste estudo, oriente o mercado, a participação das
focouse a educação e o mercado de trabalho. mulheres, com maior escolarização que os
Mas, na verdade, a discriminação alcança homens, vem num crescente. Por outro lado,
todos os setores da vida social do segmento a participação do segmento feminino, no
negro. mercado brasileiro, identifica o esforço
Outro ponto relevante no processo de redobrado das mulheres para que esta
configuração da desigualdade racial é o inserção se realize em condições de
entendimento de que os processos igualdade. A diferença que caracteriza o
discriminatórios são legitimados pela rendimento salarial, entre homens e
reprodução dos preconceitos, estigmas, mulheres, inter e intragrupos, aponta para a
estereótipos. Não é possível entender a prevalência da discriminação racial e de
complexidade do processo, se extrai dele gênero (BASTOS, et. al., 2007).
aquilo que o identifica. Logo, a desigualdade Existe uma diferenciação permanente
racial só existe e persiste em razão do entre o segmento de mulheres ocupadas,
racismo, da discriminação e do preconceito. brancas e negras, com o mesmo nível de
Um dos grandes problemas para o escolaridade, no mercado de trabalho, traço
enfretamento desta questão é o fato de que, discriminatório em razão da raça/cor. Talvez,
no imaginário coletivo, estes processos ora se por isso, o avanço das mulheres brancas, na
confundem, ora são minimizados. Mas basta saída da baixa escolaridade e na participação
ficar atento a cada um dos efeitos, que cada nos maiores anos de escolaridade, seja tão
um deles produz sobre a construção da expressivo quando comparado ao segmento
autoestima e a identidade do negro, para negro. A desigualdade entre elas relacionase
enxergar suas especificidades. com as questões estruturais e discriminatórias
Embora uma das tarefas precípuas do (JACCOUD; BEGHIN, 2002; HERING,
Estado seja a de promover a igualdade SILVA, J., 2011). No que se refere aos
material, este ainda necessita ser provocado componentes estruturais, o aspecto
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Recebido em 28 de novembro de 2014.
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