A abordagem neo-schumpeteriana é resultado das revisões e contribuições
microeconômicas na obra de Schumpeter. Os principais autores dessa escola mantêm as principais ideias de Schumpeter a respeito das dinâmicas da concorrência e da inovação como importantes componentes da economia capitalista. Por outro lado, propõem a ruptura com os pressupostos metodológicos neoclássicos, em especialmente o de equilíbrio e o de racionalidade maximizadora [ou substantiva], substituindo pelas noções [mais gerais] de trajetória e racionalidade limitada ou processual, respectivamente.
As análises e modelos elaboradas segundo a abordagem neo-schumpeteriana
baseiam-se na interação temporal das estratégias empresarias, envolvendo a busca por inovações, mas observando estratégias competitivas e decisões de produção, investimento, etc., além do processo de seleção que o mercado empreende sobre essas inovações.
O enfoque schumpeteriano não se limita, apenas, à observação de aspectos e
mudanças tecnológicas – interpretação, esta, muito corrente, porém reducionista – mas enfatiza que qualquer mudança no espaço econômico estudado, decorrente da busca por vantagens competitivas, seja levada em consideração. Esta é a chamada dimensão ativa da concorrência, responsável pela criação da variedade no sistema econômico capitalista e, não apenas, os eventuais “ajustamentos” aos quais se referiam as correntes anteriores.
Este último ponto contribui para a fundamentação de uma teoria dinâmica da
concorrência capitalista, retratando a enorme capacidade que esta economia apresenta de gerar mudanças qualitativas por si mesmo. Ou seja, a economia capitalista é capaz, sem a ação de “choques exógenos”, de determinar transformações em todo o espectro produtivo. Esta constatação só é possível mediante a análise da concorrência e de seus efeitos ao longo do tempo, contrastando os supostos “estados de equilíbrio”, pautados em análises estáticas.
Quanto às implicações normativas e políticas da teoria neo-schumpeteriana, ressalta-
se o emprego da relação de Pareto [ou noção de eficiência alocativa], que representa noção de alocação social, ou seja, a proporção entre determinados elementos [a distribuição de bens e/ou serviços, segundo o sistema de preços, por exemplo]. A análise desta proporção determina a eficiência alocativa do elemento estudado dá-se da seguinte maneira: a alocação social de determinado elemento apresenta-se “superior de Pareto” quando sua utilidade não for inferior a outro [ou seja, for preferível]. Temos o “ótimo de Pareto” quando não existe uma alocação que lhe seja superior, ou seja, só se pode melhorar a posição de alguém piorando a de outrem.
Schumpeter [bem como os autores neo-schumpeterianos], contrariando as
abordagens tradicionais, encara os conceitos de preço e o viés estático nos casos de instalação de monopólios e oligopólios de forma mais ampla, observando o poder de mercado e tratando das implicações normativas dessa teoria na concorrência. Para ele, o enfoque no preço, puramente, mostra-se ineficaz, pois não é o único determinante do poder de mercado. Toda a sorte de elementos diferenciadores, tecnológicos, produtivos, comerciais, organizacionais, estratégicos, etc., entre os concorrentes são importantes quando se pretende expressar o poder de mercado de determinada empresa. Em relação ao viés estático não se aplica, pois os quadros monopolistas e oligopolistas não são condições inalteráveis, mas períodos inscritos no processo concorrencial. Essas condições, segundo o autor, constituem a destruição criativa das estruturas econômicas, representadas pelas patentes, propriedade intelectual e demais mecanismos legais de proteção temporária dos monopólios, por exemplo.
Nesse sentido, ressalta-se a necessidade de uma política de concorrência – mais
especificamente, política de defesa da concorrência – objetivando a garantia de condições adequadas para a manutenção e estimulo da concorrência nos mercados [leis antitrustes, por exemplo]. Também se observa a criação de poder de mercado, responsável pelas desigualdades produtoras das inovações no mercado.
Por fim, o autor aponta a importância da referência a um dos principais atributos da
concorrência, a competitividade, além de dar-lhe contornos mais adequados à teoria schumpeteriana: a determinação dos níveis de competitividade está relacionada aos mais diversos fatores – desde as diferenças técnico-produtivas até fatores sociais e macroeconômicos – determinando seu caráter sistêmico, no qual esses diversos fatores agem conjuntamente para “calibrar” a intensidade da competitividade. Para preservar a competição, deve-se garantir um ambiente competitivo, ou seja, um espaço econômico no qual as empresas empreendam estratégias inovativas e estabeleçam critérios de eficiência, além da presença constante de pressões competitivas no mercado – ameaças de aparecimento de fatores sistêmicos que fomentem a busca por “externalidades positivas” – além de condições macroeconômicas favoráveis ao crescimento e financiamento.
Ao contrário das análises com vieses mais liberais, a concorrência e a competitividade
não aparecem de forma espontânea, mas dependem de constante adequação das condições ambientais, invariavelmente, mediante políticas econômicas e pela atuação das empresas pressionadas pelas forças que estimulam a competição. Ou seja, concorrência e competitividade devem ser construídas pela atuação desses fatores.