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Pag. 39 – Exórdio
Gramática
1. O título deste primeiro momento da peça é especialmente expressivo pela ironia que o
jogo de palavras propicia. Assim, retoma-se uma expressão bíblica: a expulsão do
paraíso terreal e substitui-se por “expulsão do paraíso infernal”. O Maranhão era um
paraíso, mas os colonos transformaram-no num inferno para os indígenas, expulsando,
de forma violenta, o Padre António Vieira.
2. Aspetos a referir: • dramatismo da personalidade; • teatralidade de uma das suas
princiapais atividades: oratória; • fixação de uma figura histórica em conflito; •
recriação de um momenti biográfico pouco conhecido; • originalidade do diálogo
entre textos literários de diferentes genéros.
1. a. 2; b. 1; c. 2; d. 3; e. 4; f. 5.
Gramática
1. O sermão do Padre António Vieira está estruturado em seis capítulos distintos onde
facilmente nos reconhecemos e vemos refletido o nosso conhecimento do mundo. As
relações sociais, políticas e económicas do mundo. As relações sociais, políticas e
económicas assim como a relação homem/animal são algumas linhas temáticas que
percorrem o texto e que não nos são estranhas. O texto apresenta ainda a lógica nas
relações intratextuais e compatibilidade entre as várias ocorrências texturais.
2. No texto, estão presentes as várias formas de coesão textual desde á lexical à
gramatical. A frase selecionada representa um exemplo de coesão gramatical frásica,
uma vez que todos os elementos da frase estabelecem entre si uma relação de
concordância: “A primeira cousa que me dededifica, peixes, de vós, é que vos comeis
uns aos outros” (ll. 5-7). A frase “Servir-vos-ão de confusão, já que não seja de
emenda” (ll. 3-5) é um exemplo de coesão gramatical referencial, pois recorre ao uso
anafórico do pronome “vos”.
3. As citações bíblicas em latim estão grafadas no texto em itálico e são seguidas da
respetiva tradução entre aspas. Um exemplo de uma citação é a frase: “Homines
pravis, praeversisque cupiditatibus factisunt, sicut pisces invicem se devorantes” (ll.
16-18).
Pag. 54 – Rapinar
1. O texto refere uma situação atualmente muito vulgar, que consiste na receção de
publicidade em forma de correio eletrónico.
2. O autor, além de denunciar esta forma de publicidade, por ser inconveniente, critica a
falta de correção linguística destas mensagens que inundam as nossas caixas de
correio eletrónico.
3. A mensagem publicitária incluía a expressão “de encontro aos meus interesses” em
vez da correta: “ao encontro dos meus interesses”. Quando interpelado pelo autor do
texto, o publicitário referiu: “Fico encantado com o seu preciosismo linguístico” (ll. 29-
30) demonstrando um total desconhecimento das regras gramaticais da língua.
1. Neste novo capítulo, o orador vai particularizar a crítica referindo os defeitos de alguns
peixes, de forma alegórica.
2. O orador refere os Roncadores e a sua arrogância, os Pegadores e o facto de serem
parasitas, os Voadores e a sua ambição desmedida.
3. O excerto organiza-se peixe a peixe, ou vício a vício, em sequências bem definidas. Em
cada uma dessas sequências, a estrutura seguida é sempre a mesma: identifica-se o
peixe, caracteriza-se o seu comportamento, que é confrontado com figuras e
exemplos bíblicos, destinados a sustentar a tese do pregador e a ilustrar o caminho a
seguir na emenda do vício apontado.
4. No texto encontramos uma citação em: “Morto Herodes, diz o Evangelista, apareceu a
José no Egipto, e disse-lhe que já se podia tornar para a pátria, porque “eram mortos
todos aqueles que queriam tirar a vida ao Menino” (ll. 70-75) e uma paráfrase em:
“porque em morrendo o tubarão, morrem também com eles os pegadores” (ll. 83-84).
5. São várias as frases de caráter proverbial ou sentencioso que surgem no texto: “Os
arrogantes, e soberbos tomam-se com Deus; e quem se toma com Deus sempre fica
debaixo” (ll. 36-37); “Chegai-vos embora aos grandes, mas não de tal maneira
pegados, que vos mateis por eles, nem morrais com eles” (ll. 109-110); “Quem quer
mais do que lhe convèm, perde o que quer, e o que tem” (ll. 144-145). Estas
referências constituem argumentos de autoridade.
Leitura
1.
Tema
Estrutura do Texto
Nome do peixe Delimitação no texto Exemplo da Bíblia Vício
Roncador l. 1 a l. 44 (Texto 16) S. Pedro Soberba
Pegador l. 45 a l. 119 (Texto 16) David Parasitismo
Voador l. 120 a l. 179 (Texto 16) Simão Mago Ambição
Polvo l. 1 a 36 (Texto 17) Judas Traição
2.
a) “Se com uma linha de coser e um alfinete torcido, vos pode pescar um aleijado,
porque haveis de roncar tão alto? Mas por isso mesmo roncais.” (ll. 4-5 – Texto 16)
b) “Chegai-vos embora aos grandes, mas não de tal maneira pegados, que vos mateis
por eles, nem morrais com eles” (ll. 109-110 – Texto 16)
c) “Quem quer mais do que lhe convém, perde o que quer e o que tem. Quem pode
nada e quer voar, tempo virá em que não voe nem nade” (ll. 144-146 – Texto 16).
d) “O polvo escurencendo-se a si, tira a vista aos outros, e a primeira traição e roubo
que faz, é a luz, para que não distinga as cores” (ll. 26 -27 – Texto 17)
Pag. 65 – Peroação
1.
2. As frases “peixes dai muitas graças a Deus de vos livrar deste perigo” (l.13) e “Em
tudo o que vos excedo, peixes, vos reconheço muitas vantagens” (ll. 18-19)
apresentam apóstrofes ao interlocutor que o orador escolhem metaforicamente neste
sermão para se dirigir aos homens: os “peixes”. Há no texto uma reversibilidade entre
peixes e homens, conjugando-se o sentido literal com o sentido figurado.
3. Neste capítulo, encontramos expressões que assinalam o final do discurso, recorrendo
o orador a estratégias persuasivas finais eficazes. A peroação abre com uma
recapitulação: “Com esta última advertência vos despido, ou me despido de vós, meus
peixes” (l.1). O hino de louvor final (ll. 31-33) pretende comover os ouvintes, levando-
os a subscrever as conclusões do orador. O quiasmo final entre os vocábulos “glória” e
“graça” sugere a transposição dos peixes para os homens. Assim, já que os peixes não
são capazes de nenhuma destas virtudes, sejam-no os homens. Reforça-se, deste
modo, a mudança necessária – a conversão dos homens, pois só em graça os homens
podem dar glória a Deus.
1.
a) b) c) d) e) f) g) h)
8 6 4 5 2 1 7 9
Pag. 68 – Texto 19
1. O tema dominante do discurso de Obama é o poder da democracia. Esta tem tal força
que permite que tudo seja possível.
2.
2.1 O orador: • recorda a vitória nas eleições; • refere os resultados nunca vistos; •
salienta que a vitória é de todos; • lembra os tempos difíceis que se adivinham; •
apela ao espírito de sacríficio do povo, à sua solidariedade e ao trabalho de toda a
população; • solicita o apoio de todos, mesmo daqueles que não votaram nele,
citando o exemplo de Lincoln; • salienta o caso exemplar de uma eleitora negra de
106 anos; • faz um apelo final. A estrutura do discurso foi cuidadosamente
construída de forma a preparar gradualmente a audiência para a exortação final
de responsabilização coletiva e confiança no futuro: “Sim, nós podemos”, lema de
uma sociedade mais justa.
2.2 O orador relembra a figura do presidente Abraham Lincoln, pois este liderou o país
num momento de grande instabilidade social e política e consguiu unir a nação de
forma exemplar, dando origem aos Estados Unidos da América. O orador recorre a
este exemplo tutelar da história da nação para reforçar a ideia da necessidade e
possibilidade de união de todos os americanos em torno de um desígnio comum, à
semelhança do que aconteceu no passado.
2.3 O orador recorre à figura exemplar de uma cidadã de 106 anos para, de forma
convincente, recordar todas as mudanças registadas na sociedade americana das
últimas decádas. O orador sai da sua posição priveligiada de futuro presidente e
perspetiva a história recente na ótica de uma cidadã negra comum.
2.4 A expressão “Sim, nós podemos” foi o slogan da campanha eleitoral de Barack
Obama. A sua repetição no final deste discurso funciona à maneira de refrão,
transformando o discurso político num texto de cariz quase político num texto de
cariz quase profético e religioso. O slogan adquire, deste modo, um valor se salmo
ou de hino entoado em conjunto, com efeitos altamente mobilizadores.
Pag. 69 – Texto 20
1.
1.1 b)
1.2 c)
1.3 d)
1.4 b)
1.5 a)
1. Neste excerto, o orador faz uma nova repreensão aos peixes, acusando-os de
ignorância e cegueira, como se vê na frase: “Outra cousa muito geral, que não tanto
me desedifica, quanto me lastima em muitos de vós é aquela tão notável ignorância e
cegueira que em todas as viagens experimentam os que navegam para estas partes”
(ll. 1-3).
2. O orador joga com o sentido literal e com o sentido figurado ao comparar a ignorância
e cegueira dos peixes com a dos homens. Os peixes são ignorantes e cegos porque se
deixam enganar por um “pedaço de pana” num anzol e os homens fazem exatamente
o mesmo. Os homens também são enganados por um “pedaço de pano”, pois deixam-
se iludir pela vaidade: “Porque houve quem os elogiasse e lhes fez isca com dois
retalhos de pano. A vaidade é, entre os vícios, o pescador mais astuto que mais
facilmente engana os homens” (ll. 11-13).
3. Esta interrogação pretende realçar o facto de os homens no Maranhão também se
deixarem enganar, no sentido de os obrigar a pensar. É o orador quem responde a esta
pergunta retórica, salientando que os presentes são constantemente enganados por
mercadores que vêm da Europa e que, explorando a sua vaidade, os enganam.
4. A referência final a Santo António constitui um recurso a um argumento de
autoridade. O exemplo do santo é totalmente contrário à prática corrente, uma vez
que não precisou de recorrer à vaidade nem ao engano para converter muitos
homens: “Com aquela corda e com aquele pano, pescou ele muitos, e só estes se não
enganaram e foram sisudos” (ll. 50-51).
Grupo II
1.
1.1 B
1.2 A
1.3 D
1.4 B
1.5 D
1.6 B
1.7 B
2.
2.1 Oração subordinada adjetiva relativa restritiva
2.2 “vos”: complemento indireto; “meus amigos”: vocativo
2.3 Apócope do “m” e sonorização do som consonântico “q”
Sequência 2 – Frei Luis de Sousa
Pag. 90 – As didascálias
1. A didascália inicial permite situar a ação no tempo (princípio do séc. XVII) e num
espaço físico preciso que dá para o exterior, a margem esquerda do rio Tejo (“um
eirado que olha sobre o Tejo e donde se vê toda a Lisboa” (l.3)). Além disso, o espaço é
caracterizado de forma a salientar a elegância, o luxo, a modernidade, o bem-estar ou
mesmo a alegria que as peças decorativas, as sugestões cromáticas e as janelas
rasgadas transmitem.
2. O palácio de D. João de Portugal é um espaço melancólico e de gosto pesado, sem luz
natural, pois as portas estão “cobertas de reposteiros” (ll. 13-14). Os retratos do salão
antigo representam um trio (D. Sebastião, D. João de Portugal e Camões), em que se
materializa um tempo passado que parece invadir o presente. A ligação com a capela
da Senhora da Piedade, um espaço religioso, induz a dimensão do sagrado,
contrastando com o profano, o espaço da vida quotidiana. Assim, verifica-se uma
relação de oposição entre os dois espaços: o do primeiro ato é alegre, o do segundo
triste.
3. A parte baixa do palácio de D. João de Portugal não tem “ornato algum”(l. 23), mas
guarda diversos objetos que fazem antever uma mudança. De facto, “tocheiras, cruzes,
ciriais e outras alfaias” (l. 24-25), associados aos rituais da igreja, evocam a religião
cristã. A toalha “como se usa nas cerimónias da Semana Santa” (ll. 28-29) remete para
a Paixão de Cristo e, por analogia, para o sofrimento das personagens. A cruz grande e
o “esquife” sugerem a morte, mas também o renascimento para uma nova vida e o
“hábito” representa o abandono do mundo e a mudança para a vida religiosa. A cor
“negra” (l. 27), o facto de ser “alta noite” (l. 27) e de a ação decorrer na “Parte baixa
do palácio” (l. 20) transportam consigo uma conotação trágica.
4. O cenário aberto e luminoso do início vai-se fechando e despojando. Assim, o espaço
apresenta uma concentração e um afunilamento progressivos, parecendo aprisionar as
personagens sem que elas possam evitar os acontecimentos. Os elementos físicos são
sobrecarregados de severidade, pela força do trágico, mais evidente no terceiro ato
pela presença de símbolos religiosos.
Gramática
1. “as armas”
1.1 Coesão referencial anafórica
1.2 Repetição de “aspa” ou de “escudo”.
1.
a) As personagens não são muito numerosas e as que vivem diretamente o conflito e
com ela sofrem fazem parte de um núcleo familiar: Manuel de Sousa Coutinho,
Madalena de Vilhena e Maria. Telmo Pais e Frei Jorge funcionam como
confidentes, conselheiros e comentadores. O Romeiro é imprescindível ao drama,
mas é ele próprio que se autoexclui. Os criados e os religiosos são pouco mais do
que figurantes, servindo de pano de fundo à ação.
b) O espaço e o tempo são concentrados, isto é, a ação passa-se em três espaços
interiores diferentes, mas muito próximos.
c) A obra apresenta desde o início um conflito que vai evoluindo até ao
aparecimento do Romeiro. A resolução deste conflito parece ser uma só, pois a
clausura constitui, na epóca, a única hipótese de salvação para o pecado cometido
por Manuel e Madalena, e a morte de Maria está anunciada desde o início pelas
sucessivas referências, mais ou menos explícitas, à sua doença.
Pag. 98 – Texto 8
1. Maria acredita que D. Sebastião está vivo e que há de regressar num “dia de névoa
muito cerrada” (ll. 11-12), pois essa é a crença do povo: “Voz do povo, voz de Deus”
(l.16). Madalena, pelo contrário, desvaloriza a crença popular e assenta a sua
argumentação no que lhe dizem Frei Jorge e Lopo de Sousa, que aceita como
verdadeira (ll. 13-15).
2. Maria, tal como qualquer jovem de treze anos, dá largas á sua imaginação, deixando-
se deslumbrar pelo oculto e pela aventura. A figura de D. Sebastião, também ele jovem
ao tempo do desaparecimento, torna-se lendária pelo facto de terem sempre existido
dúvidas quanto à sua morte na batalha de Alcácer Quibir.
3. A crença de Telmo e de Maria contribui para adensar os receios e o terror de D.
Madalena relativamente ao futuro. De facto, se D. Sebastião estivesse vivo e
regressase, era muito provável que acontecesse o mesmo com D. João de Portugal.
Ora, o regresso do primeiro marido de D. Madalena implicaria a destruição da
felicidade presente, com a anulação do casamento e a ilegitimidade da filha.
4. O poder de observação de Maria permite-lhe perceber a preocupação extrema que a
sua saúde e os seus devaneios causam à mãe. Além disso, a sua crença sebastianista
(“que não morreu e que há de vir num dia de névoa muito cerrada” (ll. 11-12)), coloca
a hipotése aos olhos de D. Madalena, também D. João de Portugal voltar, o que, a ser
verdade, provocaria uma catástrofe no seio da sua família. Finalmente, pergunta à
mãe por que razão o pai não tinha ficado “naquela santa religião” (l. 83) e deixara o
hábito. Maria parece expressar a sua vontade de que o pai nunca deixasse a ordem de
Malta.
1. D, E e F.
1. Manuel de Sousa Coutinho decide sair da sua casa e mudar-se para a que fora de D.
João de Portugal, primeiro marido de D. Madalena. Esta atitude de desafio aos
governadores revela um cidadão corajoso, audaz e determinado que, numa atitude
honrada e patriótica, enfrenta os inimigos da nação.
2. D. Madalena e Maria reagem de forma diferente ao anúncio de Manuel de Sousa
Coutinho. A filha age de acordo com a sua idade, levada pelo gosto da aventura e pelo
idealismo (“Ah! Inda bem, meu pai!” (l. 81)), mas também pelo patriotismo (“Sim, sim,
mostrai-lhes quem sois e o que vale um português dos verdadeiros” (ll. 95-96)).
Madalena revela-se incapaz de agir de forma racional, levada por pressentimentos de
desgraça (“Qual?... A que foi?... a que pega com São Paulo? Jesus me valha!” (l. 110)).
3.
Manuel Madalena
• Razão • Honra • Fidelidade às suas • Coração • Temores permanentes
ideias • Firmeza • Patriotismo • Luta pela • Pressentimentos fatais • Fragilidade
liberdade e pela independência • Descontrolo emocional
1.
1.1 D. Madalena é uma mulher sofredora, angustiada, possuidora de um sexto sentido
que a faz viver em permanente desasossego, agudizado após o incêndio que
trouxe a família para o palácio de D. João de Portugal. Nas réplicas de Maria,
encontram-se várias expressões que o comprovam: “Há oito dias que aqui estamos
(…) a primeira noite que dorme com sossego.” (ll. 11-12); “À minha pobre mãe
aterrou-a (…) a devorar tudo com fúria infernal” (ll. 15-16); “não lhe sai da cabeça
que a perda do retrato é prognóstico de outra perda maior” (ll. 23-24); “aquela
tristeza de minha mãe, aquele susto, aquele terror em que está”(l. 61).
2. Maria tem um fascínio especial pelo retrato de D. Sebastião por ser de um rei que ela
tanto admira e de cuja morte duvida, tal como muitos em Portugal. O interesse pelo
retrato de Camões é fruto da sua admiração pelo poeta, exemplo de aventura e
mistério, incutida por Telmo, de quem o poeta fora amigo. O terceiro retrato suscita o
fascínio de Maria, pois, apesar de não saber de quem é, suspeita de algum segredo
com ele relacionado. A reação da mãe ao vê-lo, quando chegaram ao palácio de D.
João de Portugal, causou-lhe estranheza e aguçou-lhe a curiosidade.
3. Maria é uma criança precoce e perspicaz, que revela uma intuição apurada e adivinha
sempre mais do que diz. De facto, nas cenas I e II encontram-se diversas falas que o
demonstram: “e que ela disfarça (…) aquilo é pressentimento de desgraça grande” (ll.
61-64); “Tu não dizes a verdade, Telmo” (l. 71); “Agora é que tu ias mentir de todo…”
(ll. 81-82); “Mas o outro, o outro… quem é este outro, Telmo?”(ll. 143-144); “Aquele
aspeto tão triste (…) como quem não tem outro arrimo, nem outro amor, nesta vida”
(ll. 144-146); “é que eu sabia de um saber cá de dentro; ninguém mo tinha dito, e eu
queria ficar certa” (ll. 190-191).
4. Maria não sabia de quem era o retrato, mas parecia saber que era de D. João de
Portugal, o dono da casa, como se tivesse o dom de adivinhação. O pai chama-lhe,
portanto, “feiticeira” depois de a ouvir dizer que “sabia de uma saber cá de dentro” (ll.
190-191).
5. Manuel de Sousa Coutinho não considera D. João uma ameaça, pois está convicto de
que ele morreu em Alcacér Quibir, usando por isso o passado “Aquele era D. João de
Portugal” (l. 154). Não oculta a identidade do primeiro marido de sua esposa a Maria e
elogia-o, destacando-lhe “as nobres qualidades de alma, a grandeza, a valentia de
coração, e a fortaleza daquela vontade, serena mas indomável” (ll. 228-230).
6. Este provérbio, que significa “Não se deve julgar alguém pela aparência”, ganha aqui
um sentido particular. De facto, a frase de Manuel de Sousa Coutinho “isto é quase
convento aqui” (l. 201) parece antecipar uma mudança na vida desta família que, aliás,
aparece pressagiada também em “a morte – e a vida que vem depois dela – tão diante
dos olhos sempre” (ll. 208-210), surgindo como a antecipação do desfecho da obra: é
ali mesmo que marido e mulher vão professar.
1.
1.1 Maria e a mãe reagem de forma completamente diversa. Enquanto a menina está
muito feliz por poder acompanhar o pai a Lisboa e visitar Sóror Joana, D. Madalena
receia que o facto de ficar só, naquela casa e numa sexta-feira, seja indício de algo
nefasto, como evidenciam as seguintes réplicas: “Sexta-feira! Ai! Que é sexta-
feira!” (l.55); “Logo hoje!... Este dia de hoje é o pior… …” (l. 76); “Também tu me
desamparas… e hoje!” (ll. 94-95); “Tenho este medo, este horror de ficar só… de
vir a achar-me só no mundo” (ll. 152-153).
1.2 A ausência de Manuel de Sousa e da filha estabelece com o que se segue uma
relação de causa-efeito, pois Madalena há de confrontar-se praticamente só e
fragilizada pela ausência do marido e chegada do Romeiro.
2. Manuel e Madalena comentam a entrada dos condes de Vimioso para o convento
como sendo um sacríficio de que eles mesmo não seriam capazes, como se vê pelas
palavras de Madalena: “não sou capaz de chegar a essas perfeições” (l. 164) e “E que
temos nós com isso?” (l. 173). A ironia trágica reside no desconhecimento de estarem
tão próximos de uma situação que julgam muito diferente da sua.
3. Madalena relaciona aquela sexta-feira com os acontecimentos mais importantes da
sua vida. Assim a repetição de “hoje” revela o seu medo associado a um sentimento,
explícito, de culpa. Na cena X, ela indica os motivos que justificam os seus receios:
“Pois hoje é o dia da minha vida que mais tenho receado… que ainda temo que não
acabe sem muito grande desgraça…” (ll. 189-190); “É um dia fatal para mim: faz anos
que… casei a primeira vez, faz anos que se perdeu el-rei D. Sebastião, e faz anos (…)
que vi… pela primeira vez a Manuel de Sousa (…) D. João de Portugal ainda era vivo”
(ll. 190-197). D. Madalena reconhece ter pecado quando se apaixonou por Manuel de
Sousa, sendo casada com D. João de Portugal.
Escrita
1.
1.1 “Oh! minha filha, minha filha!” (l.4); “Desgraçada (…) esta lembrança é que me
mata, que me desespera” (ll. 4-7).
1.2 • Hiperbóles: “o homem mais infeliz da terra” (l.13); “Se ela deitou o do coração!
Não tem mais” (l. 68). • Metáforas: “bebeu até às fezes o cálix das amarguras
humanas” (ll. 20-21); “morri hoje” (l. 99); “de rasgar, fevra a fevra, os pedaços
daquele coração” (ll. 148-149). • Repetições: “a minha filha… Maria… a filha do
meu amor, a filha do meu pecado” (ll. 49-50). • Pontuação: reticências, pontos de
exclamação e de interrogação “Não o tenho aqui… o sangue… o sangue da minha
vítima? … que é o sangue das minhas veias… que é o sangue da minha alma – é o
sangue da minha querida filha!” (ll. 71-73).
1.3 “Eu queria pedir-Te que a levasses já (…) Devia, devia… e não posso, não quero,
não sei, não tenho ânimo, não tenho coração” (ll. 74-79); “Peço-Te vida, meu
Deus, (Ajoelha-se e põe as mãos) peço-Te vida, vida, vida… para ela, vida, para a
minha filha!” (ll. 79-80).
1.4 “esta lembrança é que me mata” (l. 7); “lancei nesse abismo de vergonha” (l. 23),
“nem a morte há de levantar” (l. 25); “desonra, toda a ignomínia, todo o opróbrio”
(l. 35); “morri hoje” (l. 99).
1.5 “Oh! Meu Deus, meu Deus!” (ll. 74 e 84); “vida, vida, vida” (l. 80); “morre?
morre?” (l. 93); “Minha pobre filha, minha querida filha!” (l. 176).
2. O diálogo entre Manuel de Sousa e Frei Jorge permite perceber que é este quem ajuda
Manuel a tomar as melhores decisões, no quadro de valores da peça. De facto, a sua fé
e a sua lucidez orientam as ações do irmão, que está incapaz de decidir racionalmente:
“Manuel, meu bom Manuel, - Deus sabe melhor o que nos convém a todos: põe nas
Suas mãos esse pobre coração, (…) Ele fará o que em Sua misericórdia sabe que é
melhor.” (ll. 87-89).
3. Até ao momento, apenas Frei Jorge, Manuel e o arcebispo conhecem a verdadeira
identidade do Romeiro (“Demais, o segredo de seu nome verdadeiro está entre mim e
ti, para além do arcebispo”) (ll. 142-143). Telmo desconhece que o Romeiro é o seu
amo (“Ainda há outra pessoa (…) com quem lhe prometi que havia de falar (…) é o seu
velho aio, é Telmo Pais”) (ll. 144-152). Madalena sabe apenas que D. João está vivo,
mas “supõe-no na Palestina talvez” (l. 158). Maria desconhece totalmente o
verdadeiro motivo do sofrimento da mãe (“Não sabe. E ninguém lho disse, nem dirá”)
(l. 167).
1. Telmo sente-se confuso e atormentado ao aperceber-se de que o seu amor por Maria
já suplantou o que sentia por D. João, contrariando a sua esperança de toda uma vida
no regresso do segundo. Encontra-se, por isso, num verdadeiro dilema, qualquer que
seja a sua escolha.
2. O Romeiro dá a Telmo a mesma resposta que dera a Frei Jorge, mas parece agora mais
melindrado: “Ninguém, Telmo, ninguém: se nem tu já me conheces!” (l. 65). A
repetição do pronome e a referência ao facto de nem mesmo Telmo, seu aio, o
reconhecer mostram a sua perplexidade e a sua tristeza.
3. Na cena V, o encontro entre D. João e Telmo evidencia que, o seu amor por Maria
suplanta a lealdade ao seu primeiro amo. D. João depois da confirmação de que
Madalena o mandara incessantemente procurar, arrepende-se da atitude tomada e
ordena a Telmo que desacredite o Romeiro aos olhos de D. Madalena, evitando assim
uma desgraça maior. Na cena VI, D. João sai de cena, numa atitude de grande
dignidade, depois de confirmar que Madalena já não o ama.
4. D. Madalena não chega a identificar o Romeiro com D. João. Procura, então, reverter a
situação, agarrando-se à hipótese de ele ser apenas um impostor. Veja-se a seguinte
réplica: “(…) mas não daríamos nós, com demasiada precipitação, uma fé tão cega,
uma crença tão implícita a essas misteriosas palavras de um romeiro, um vagabundo…
um homem, enfim, que ninguém conhece?” (ll. 185-188). Assim, D. Madalena
conseguiria salvar o seu casamento.
5. D. Madalena rende-se à evidência da inevitabilidade da sua entrada na vida conventual
apenas quando se apercebe que Manuel já partiu para a tomada de hábito. É então
uma mulher que abdica da sua felicidade, aceitando a decisão do marido (“Ele foi?; “E
eu vou” (ll. 235-238)) e colocando o seu destino nas mãos de Deus.
1. O coro dos frades transforma a ocasião de recolhimento e entrega a uma nova vida
num momento de grandiosidade. A recitação litúrgica confirma a decisão de “despir o
homem velho” e “morrer” para o mundo. A função premonitória do coro da tragédia
clássica é assumida por Telmo desde o início da peça.
2. Maria revolta-se contra Deus e contra as leis sociais que, na sua opinião, condenam
vítimas inocentes. Ela não se considera “filha do crime e do pecado”, por isso não se
conforma com a suposta ilegitimidade da sua condição.
3.
Manuel de Sousa Coutinho
O conflito familiar O conflito patriótico
Vitíma da fatalidade Nacionalismo / Patriotismo
Ironia trágica Grandeza moral
Sentimento de culpa Audáciaz
Obediência à moral cristã Culto da honra
Sacrifício penitencial Nobreza de espírito
Renúncia Luta pela liberdade
1. A ordem é a seguinte: c) – b) – e) – a) – d)
1. Em Frei Luís de Sousa, D. Madalena e Manuel de Sousa Coutinho abdicam do seu amor
por causa da consciência de um casamento pecaminoso. A decisão de Manuel de
entrar para o convento e a aceitação, com resignação, de D. Madalena do seu castigo,
a vida num claustro, são entendidas como a única hipótese de purificação por terem
vivido no pecado.
2. Na peça de Garret, os acontecimentos são verosímeis e sucedem-se em conexão tal,
que nada pode ser suprimido sem que se altere o conflito e o respetivo desenlace. A
ação centra-se no problema da felicidade de D. Madalena e Manuel de Sousa,
ameaçada pelo regresso de D. João de Portugal, que provocará a destruição desta
família. A unidade da ação é, assim, alcançada. Embora não respeite as vinte e quatro
horas, tem-se a noção de condensação do tempo da ação, pois o Ato I inicia no fim da
tarde de uma sexta-feira e termina ao cair da noite, o Ato II abre oito dias depois, por
isso também numa sexta-feira e o Ato III decorre durante a noite. Sendo assim, o facto
de se manter o mesmo dia da semana, faz criar a ilusão de que tudo se passa no
mesmo dia. Por último, a ação desenrola-se sempre em Almada, ainda que em casas
diferentes; o cenário altera-se, mas tudo se passa numa só vila. Podemos afirmar que,
embora não a tenha respeitado, Garrett conseguiu, com engenho, dar a ilusão das três
unidades.
1. As palavras de Maria relativamente ao romance “da ilha encoberta onde está el-rei D.
Sebastião” (l. 10) vêm desencadear o diálogo em torno do possível regresso do rei,
aterrorizando a mãe e compromento-se Telmo a nunca mais falar em tal batalha.
2. Maria admira as qualidades do rei D. Sebastião, elogia-o (“o nosso bravo rei, o nosso
santo rei”) (l.18), e acredita que ele há de voltar num “dia de névoa muito cerrada”,
levada pela crença popular. D. Madalena evoca as palavras de Frei Jorge e Lopo de
Sousa sobre o desenlace da batalha de Alcacér Quibir para dissuadir Maria. Argumenta
que essas ideias sobre o regresso do rei são crendices populares e que não são
assuntos próprios da idade da filha.
3. Maria reconhece que o pai, Manuel de Sousa Coutinho, é um homem íntegro, um
patriota que enfrenta os castelhanos. Perturba-a, no entanto, que o pai reaja de forma
negativa quando ouve duvidar da morte de D. Sebastião, como se o regresso do rei o
incomodasse. Maria considera estranha esta contraditória atitude do pai e pede à mãe
que a esclareça.
4. Maria é carinhosa, meiga e sensível (“Chega-se toda para ele, acarinhando-o” (l. 17) e
“Vai-se abraçar com a mãe, que chora” (l. 28-29)). Revela perspicácia, é observadora e
precoce (“Meu pai (…) põe-se logo outro, muda de semblante, fica pensativo e
carrancudo” (ll. 19-22)). Maria é supersticiosa e crê na voz do povo (“Voz do povo, voz
de Deus” (l. 15), no seu sebastianismo (“onde está el-rei D. Sebastião, que não morreu
e que há de vir, um dia de névoa muito cerrada… Que ele não morreu: não é assim,
minha mãe?” e “o nosso bravo rei, o nosso santo rei D. Sebastião” (ll. 10-18)).
Grupo II
1.
1.1 C
1.2 A
1.3 B
1.4 A
1.5 D
1.6 A
1.7 B
2.
2.1 “grupo de teatro”
2.2 Oração subordinada substantiva completiva
2.3 Sujeito
1. O narrador foi levado a pesquisar informação sobre Simão Botelho por se tratar de um
seu antepassado que estivera igualmente preso na cadeia da relação no Porto.
2. ll. 1 a 10: relato da descoberta de um documento e citação do seu conteúdo; ll. 13 a
34: comentários do narrador e antecipação do conteúdo da novela.
3.
a) “Dezoito anos!” (l. 13); “É triste!” (l. 19)
b) Parágrafos 6 e 7 todas as frases.
c) “nem liberdade, nem irmãos, nem mãe, nem reabilitação, nem dignidade, nem um
amigo” (ll. 18-19).
d) “Dezoito anos” (três vezes); “Chorava, chorava!” (l. 29).
e) “arrebol dourado e escarlate da manhã da vida” (l. 13).
f) “dó”; “triste”; “compungia”; “chorava”; “pobre”; “doloroso”; “amargura”.
4. A frase utilizada para sintetizar por antecipação, a história de Simão Botelho foi
“Amou, perdeu-se e morreu amando” (l. 22).
5. A frase que sintetiza o percurso de Simão evidencia essa vivência romântica da
personagem divido entre o amor e o ódio, como é evidente na introdução: “Amou,
perdeu-se e morreu amando” (l. 22).
6. Na introdução à obra, sabe-se de imediato o destino de Simão e a duração da ação:
“Foi para a Índia em 17 de março de 1807” (l. 10)
7. O narrador, ao longo do texto, dirige-se várias vezes ao “leitor”, mas é claro o estatuto
priveligiado da “leitora”, como destinatário ideal da história que vai contar: “e a
leitora, se lhe disessem em menos de uma linha a história daqueles 18 anos, choraria!”
(ll. 20-21).
Gramática
1.
a) Complemento oblíquo
b) Complemento do nome
c) Sujeito
d) Complemento direto
2.
a) Oração subordinada adjetiva relativa explicativa.
b) Oração subordinada adverbial condicional
c) Oração coordenada copulativa assindética
d) Oração subordinada substantiva completiva
1. Este texto constitui uma digressão pela linhagem de Simão, como se pode ler no
primeiro paragráfo. Assim, podemos considerar como tema do texto a genealogia de
Simão Botelho.
2. O narrador apresenta os antecedentes familiares de Simão de modo profundamente
irónico. Domingos Botelho é descrito com uma grande dose de ironia, como um
homem ridículo, sem quaisquer qualidades, a não ser o talento para tocar flauta e a
capacidade de fazer rir a rainha. Os seus irmãos, Marcos e Luís, caracterizam-se pelo
caráter impulsivo e violento. São, no seu conjunto, os representantes de uma nobreza
privilegiada. Domingos tornou-se magistrado, embora fosse “alcançadíssimo de
inteligência”; Luís obteve o perdão régio, apesar de ter assassinado um alferes.
3. A caracterização irónica da ascendência de Simão indica o divórcio entre a honra
enquanto conduta virtuosa e a honra enquanto conduta virtuosa e a honra associada
ao nascimento, à linhagem, idependentemente das qualidades do indivíduo. Fica, por
outro lado, evidente a decadência de uma boa parte da antiga nobreza, indicando a
necessidade de alteração dos costumes e preparando o desenvolvimento da obra
como crónica social.
4.
a) Trata-se de um eufemismo, com acentuada carga irónica, já que a suposta
intenção que preside ao seu uso (evita termos de carga excessiva) é contrariada
pela explicitação do sentido: “era extremamente feio”. Acentuam-se assim os
defeitos da personagem.
b) Esta expressão é um exemplo de ironia, já que, na verdade, o modo como morreu
o antepassado de D. Rita Preciosa (“frito”) não deveria ser motivo de orgulho para
os seus descendentes.
5. A – Domingos Botelho; B – D. Rita Preciosa; C – Manuel Botelho; D – Rita Botelho
Gramática
Escrita
1. A obra faz uma caricatura do Portugal da época, através da descrição irónica das
classes mais influentes. Domingos Botelho era um homem pouco ambicioso e
subserviente em relação à mulher. Tornou-se nervoso e inseguro. Os dois episódios
relatados no final do excerto retratam-no como uma pessoa ingrata e oportunista. D.
Rita Preciosa caracteriza-se pela altivez e pelo uso constante da ironia. Não se adapta
ao meio social da província, que considera atrasado e ridículo. Faz constantes
exigências ao marido e torna-se cada vez mais distante, “mais enfadada no trato
íntimo”. Contudo, permanece fiel ao marido. Estas duas personagens simbolizam a
nobreza decadente da província e ascensão de uma nova classe que vive junto à corte.
Note-se que a relação do casal contrasta com o amor de Simão e Teresa e com os
ventos de mudança vindos da Revolução Francesa. Em suma, a antiga nobreza
decadente e caricata será substituída por uma nova geração com novos ideiais.
Gramática
1. “o mais audicioso (primo)”
2. Oração subordinada substantiva relativa
3.
3.1 estamos (morfema da 1ª pessoa do plural), nós.
3.2 Estamos, tornou.
3.3 Nesta.
1. Simão Botelho é um jovem adolescente, contudo, tem aparência de adulto. “Os quinze
anos de Simão têm aparência de vinte”. Apresenta uma constituição física robusta e é
fisicamente atraente: “É forte de compleição; belo homem com as feições de sua mãe,
e a corpulência dela” (ll. 19-20). Possui um caréter forte, um espírito violento: “génio
sanguinário” (l. 6); “emprega em pistolas, o dinheiro dos livros” (l. 7); “partiu muitas
cabeças, e rematou o trágico espetáculo pela farsa de quebrar todos os cântaros” (ll.
31-32) e propensão para a marginalidade “convive com os mais famosos
perturbadores da academia” (ll. 7-8); “Na plebe de Viseu é que ele escolhe amigos e
companheiros” (ll. 20-21). É temperamental, rebelde e desafiado: “insultando os
habitantes e provocando-os à luta” (l. 8), “zomba das genealogias, e mormente do
Genereal Caldeirão” (l. 22). No entanto, na presença da irmã mais nova, mostra-se
carinhoso “com quem ele brincava puerilmente, e a quem obedecia” (l. 25).
2.
1 2 3 4 5
e b a c d
3. Simão Botelho é uma figura singular, é descrito pelo irmão como possuidor de um
“génio sanguinário” (l. 6), turbulento e irascível. Desde cedo, “zomba das genealogias”
(l. 22), evidenciando uma alteração de mentalidades, face a uma sociedade muito
conservadora e provinciana como é a portuguesa. Simão, ao contestar os
antepassados da mãe, faz-se eco dos efeitos da Revolução Francesa numa Europa em
mudança.
Gramática
1.
1.1 d)
1.2 b)
1.3 c)
1.
a) “Expresso da Meia-Noite”
b) SIC Notícias e Expresso
c) Esquema do debate: 3 partes
2. 1º - introdução do tema em debate; 2º - apresentação dos convidados; 3º -
intervenções dos convidados sobre o tema em análise.
3. Por exemplo: Chegámos ao fim do nosso tempo. Queremos agradecer a presença dos
nossos convidados. Termina aqui o debate sobre o número de licenciados em Portugal.
Boa Noite a todos. Até para a semana.
1.
a) 17 anos
b) Companhias da ralé
c) Em casa
d) No quarto
e) Natureza
f) 15 anos
g) Rica e bem-nascida
h) Dotada de serenidade e maturidade pouco comuns na sua idade
i) Lítigios entre o pai de Teresa e Domingos Botelho, devido a uma sentença
desfavorável do segundo.
1. Após a recusa de Teresa em casar com o primo, Tadeu quer obrigar a filha a fazê-lo.
Tadeu exerce a sua autoridade de pai, impondo a sua vontade nem que seja à força.
2. Teresa mostra ser determinada, firme, corajosa e até mesmo rebelde, já que contraria
o pai e se recusa a casar com Baltasar Coutinho. Também evidencia alguma astúcia,
pois procura, por palavras e ações, comover o pai.
3. Tadeu de Albuquerque apresenta o sobrinho como o marido ideal para a sua filha,
uma vez que é gentil, rico, erudito e possuidor de inúmeras virtudes. Contudo, o
narrador revela a sua opinião sobre a personagem, expondo ironicamente a sua única
“quebra”, isto é, falha: “a absoluta carência de brios” (l. 46). Esta completa falta de
caráter, de dignidade, retira qualquer valor à personagem, tão enaltecida pelo tio.
4. Tadeu mostra que a sua decisão já está tomada. Contudo, no início, utiliza
constantemente a apóstrofe, evidenciando alguma ternura: “minha filha” (l. 6), “minha
querida filha” (ll. 8-9). Tadeu recorre frequentemente à antítese, salientando a
diferença entre o mau comportamento da filha e a sua compreensão de pai: “Amor
tem sido a minha condescendência e brandura para contigo” (ll. 9-10). A alternância
entre frases curtas e longas, traduz a emotividade do discurso, que, no início, parece
calmo e refletido, mas, no final se torna insultuoso: “Maldita sejas!” (l. 39).
1. Neste excerto, Simão está em luta consigo mesmo, dividido entre impulsos contrários.
Ao longo do texto, Simão vai refletindo, hesita e altera a sua decisão inicial de matar
Baltasar. O texto traduz, deste modo, a luta progressiva do herói entre razão e
emoção: “Simão Botelho releu a carta duas vezes, e à terceira leitura achou menos
afrontosas as bravatas do fidalgo cioso” (ll. 20-21).
2. Depois de um período em que a personagem se debate entre razão e emoção, as
razões do amor parecem ser mais fortes: “Quando o arreieiro bateu à porta, Simão
Botelho já não pensava em matar o homem de Castro Daire; mas resolvera ir a Viseu,
entrar de noite, esconder-se e ver Teresa” (ll. 25-26).
Gramática
1. “Se o (…) à estrada”: Oração subordinada adverbial condicional; “que são (…) dragões”
: Oração subordinada adjetiva relativa explicativa
1. São várias as expressões que evidenciam a importância que Simão e Mariana atribuem
ao destino: “Porque mo diz o coração” (l. 5), “O académico parou, e ouviu a voz íntima
que lhe dizia” (l. 37).
2. A intriga apresenta um forte pendor trágico em que são recorrentes os presságios: “É a
última vez que ponho a mesa ao senhor Simão em minha casa!” (l. 3); “Choro, porque
me parece que não tornarei a ver” (ll. 10-11).
3. Com a oposição luz / trevas pretende-se realçar e intensificar a imagem de dor e
desesperança de Simão e Mariana e uma derradeira esperança na justiça divina.
1.
1.1 D
1.2 B
1.3 C
1.4 C
1.5 B
1.6 D
1.7 A
2.
2.1 Sujeito
2.2 Oração subordinada adjetiva relativa explicativa
2.3 Oração subordinada adverbial comparativa
Sequência 4 – Os Maias
1. Este episódio faz parte da intriga secundária e integra-se na parte da obra que diz
respeirto à história da família Maia.
2. Este episódio constitui uma analepse que remete os leitores para um tempo anterior
ao início da ação e permite uma análise naturalista das personagens.
3. A frase: “O Outono passou, chegou o Inverno, frigidíssimo” (l. 24) constitui uma elipse,
uma vez que desconhecemos os eventos suprimidos, pois não são relevantes para a
ação.
4. a. 2; b. 3; c. 1; d. 4.
1. Este excerto constitui a primeira visita de Carlos a Miss Sara, na sua doença, Carlos já
consultara Rosa, mas Maria Eduarda estava ausente. Assim, é a primeira vez que
Carlos está com Maria Eduarda na casa da Rua de S. Francisco.
2. Carlos esperava ansiosamente este encontro e é através do seu olhar que,
gradualmente, conhecemos primeiro a cadelinha e depois Maria Eduarda.
Encontramos neste episódio um Carlos tímido, hesitante, embaraçado e deslumbrado
com tudo o que vê: “- Perfeitamente, perfeitamente – murmurava Carlos, sorrindo
num encanto de tudo. E pareceu-lhe então que no olhar dela alguma coisa brilhara,
fugira para ele, de mais vivo, de mais doce” (ll. 57-59).
3. O primeiro momento do texto prolonga a emoção do encontro entre Carlos e Maria
Eduarda, adiando-o. Carlos tem de ultrapassar um primeiro obstáculo, o de cativar a
“cadelinha”: “baixinho, querendo captar-lhe as simpatias” (l. 1). São várias as
expressões textuais que personificam Niniche e indicam, numa gradação crescente,
que Carlos será bem recebido por Maria Eduarda: “dardejando” (l. 2); “de uma
penetração quase humana” (l. 4); “namorara-se dele” (l. 5).
4. A entrada de Maria Eduarda na sala, com uma deusa, faz lembrar o Episódio do Hotel
Central: “um passo leve pisou a esteira” (ll. 6-7), e contrasta com a simplicidade da
própria casa, elevando-a, por antítese, a uma condição inacessível. A sua entrada
surge, assim como uma “aparição”. O facto de Maria Eduarda ser descrita através de
merónimos: os olhos, os cabelos, a voz, … acentua o estado de encantamento total de
Carlos.
5. A voz de Maria Eduarda é qualificada duplamente com adjetivos inusitados “rica e
lenta” (ll. 14-15) e com a expressão “dum tom de ouro que acariciava” (l. 15), que
apresenta uma sinestesia múltipla, remetendo simultaneamente para sensações
auditivas, táteis e visuais. Com a utilização da adjetivação expressiva e da sinestesia
realçando-se o estado de encantamento de Carlos e acentua-se o caráter subjetivo do
episódio.
6. O vestuário de Maria Eduarda é muito simples e é descrito gradualmente, recorrendo
a merónimos como “manga” e “punho”. Os merónimos de “vestuário” estão, neste
excerto, ao serviço da descrição, enumerando partes do vestido.
7. A expressão selecionada resulta da transposição de um atributo humano traduzido no
adjetivo “risonho” para um movimento do corpo da personagem: “gesto”. Este recurso
expressivo, muito utilizado por Eça, realça, neste caso, a afabilidade e naturalidade
que Carlos sentiu no gesto de Maria Eduarda.
8. Na expressão “pergunta tímida” (l. 26) está também presente uma hipaláge.
9. A metáfora presente nesta expressão realça o amor que Carlos sente por Maria
Eduarda e pode ser relacionado com qualquer poema de amor de Camões. (Exemplos:
Amor é fogo que arde sem se ver; Endechas a Bárbara Escrava; Transforma-se o
amador na cousa amada).
10. Carlos está inicialmente nervoso e ansioso, quando vê Maria Eduarda fica embaraçado
e perturbado. Gradativamente, a personagem ultrapassa o estado de enleio a
perturbação, terminando em adoração: “nunca ali ousaria olhá-la tão francamente
com uma tão clara adoração” (ll. 41-43).
11. Eça de Queirós usou o advérbio com tal mestria e expressividade que este se tornou
um traço estilístico distintivo da sua escrita. Os advérbios “embaraçadamente” e
“vagamente” dão uma intensidade e tonalidade distinta à frase e modelam o seu
sentido, conferindo-lhe uma forte carga de subjetividade.
12. A referência a uma “galguinha italiana que se chamava Niniche” (l. 51) constitui um
indício trágico.
1.
1.1 Os textos apresentam pares amorosos presentes na obra que vivenciam o amor de
formas diferentes. No texto 9, Pedro está muito apaixonado por Maria e é
completamente dominado por ela. No texto 10, Carlos e Maria Eduarda mantêm
uma relação amorosa sincera e profunda. No texto 11, Ega e Raquel têm uma
relação adúltera, uma vez que ela é casada.
1.2 Carlos e a Condensa de Gouvarinho mantiveram, durante algum tempo, uma
relação adúltera semelhante a de Ega e Raquel.
1.3 Pedro: é o pai de Carlos e protagonista da intriga secundária. A sua personalidade
foi marcada pela educação, pelo meio e pelo momento histórico. Apresenta um
temperamento fraco. Maria Monforte: mãe de Carlos, é muito bonita, mas de
origem social controversa. É muito influenciada pelos romances que leu. Casa com
Pedro e foge com um napolitano. Tem uma vida dissoluta em Paris. Afonso: é o
avô de Carlos, representa o liberalismo por confronto com o absolutismo de
Caetano. Apresenta uma personalidade forte e íntegra. Vilaça (pai): é o
procurador leal e fiel da família. Carlos: é o protagonista do romance. Aristocrata,
culto diletante. Foi educado por um precetor inglês. Distingue-se de todas as
outras personagens e simboliza a incapacidade de regeneração do próprio país.
Maria Eduarda: é muito bela, culta, sensata e equilibrada. É apresentada como
vítima dos pecados da mãe. Ega: amigo íntimo de Carlos, é um fidalgo rico da
província. É partidário do naturalismo e considerado o alter ego do autor. Raquel:
é casada com Jacob Cohen e representa a mulher adúltera (o adultério).
1.4 O texto 9 faz parte da intriga secundária do romance, uma vez que envolve
personagens com menos relevo na ação, enquanto o texto 10 constitui um
momento da intriga principal. Os textos 9 e 10 constituem a intriga principal e
secundária da família Maia. O texto 11 integra os “Episódios da Vida Romântica”,
uma vez que faz parte da crónica de costumes da vida lisboeta do final do séc. XIX.
4. Afonso, Carlos, Ega, Maria Eduarda e Vilaça escapam à caricatura social, uma vez que
se enquadram em outras dimensões da obra que ultrapassam a caricatura social. São
personagens psicologicamente mais densas, apresentam uma dimensão trágica e no
caso de Ega, Vilaça e Carlos, é, muitas vezes, pelo seu olhar que nos são apresentados
os factos relatados.
5.
6. O facto de a ação do romance se centrar em Lisboa é importante, uma vez que a
centralidade da capital acaba por simbolizar a própria nação portuguesa. É em Lisboa
que se centra toda a vida política, económica e cultural do país. Deste modo,
caracterizar Lisboa é descrever Portugal.
1. Este episódio acontece quando Carlos fica com a casa de Craft para passar o Verão no
campo com Maria Eduarda.
2. “A Toca” é um espaço em que o sagrado e o profano se cruzam. É, ao mesmo tempo, a
“morada dos deuses” e a “moradas dos bichos”. “A Toca” simboliza o que de bestial e
antinatural há naquela relação. Deste modo, são vários os elementos antitéticos
presentes nesta descrição, que a expressão “tabernáculo profanado” (l. 11) sintetiza.
3. “A Toca”, assim como outros espaços físicos da obra, são vivenciados pelas
personagens de forma diversa. Deste modo, a casa dos Olivais e o espaço paradisíaco
que a cerca representam para Carlos a situação amorosa que vive com Maria Eduarda.
No entanto, Maria Eduarda, quando visita o quarto que será o seu, vê naquele excesso
de amarelos um prenúncio de desgraça ou de morte: “Mas Maria Eduarda não gostou
destes amarelos excessivos” (l. 22).
4. O espaço físico da “Toca” pode também ser entendido como um espaço social ou
psicológico. Na realidade, o refúgio dos amantes era uma casa rodeada de vegetação,
nos Olivais; era também um espaço social, onde no Verão recebiam os amigos; e, por
outro lado, cada uma das personagens habitava e sentia de maneira particular aquele
espaço: Carlos via-o como um refúgio de amor, enquanto Maria Eduarda percecionava
tragicamente alguns dos objetos presentes.
1. São várias as expressões que realçam o olhar crítico de Carlos face a estas corridas de
Cavalos à portuguesa, que não fazem mais do que imitar o estrangeiro, expondo o
provincianismo da mentalidade portuguesa: “numa tosca guarita de madeira, armada
ali de véspera, onde se mexia um homemzinho de grandes barbas grisalhas” (ll. 4-5),
“A maior parte tinha vestidos sérios de missa” (l. 21).
1.
Título Expressão/frase Sugestão trágica
Sorte ao jogo… “Provérbio” Indício de azar no amor
O Destino “A gente, Craft, nunca sabe” Indício de o homem dominado
pelo destino
Os presságios “Pareces-te com a minha mãe” Indício de uma feliz coincidência
A ironia trágica “Maria Eduarda, Carlos Indício de relação incestuosa
Eduardo”
A catástrofe “como se fossem os derradeiros Indício de desfecho trágico
que devesse dar na vida!”
2.
a) Carlos, Maria Eduarda e Afonso são personagens que, pela sua grandeza, se
distinguem das demais.
b) Vários índicios trágicos ao longo da obra
c) Atração entre Carlos e Maria Eduarda
d) Reconhecimento através das informações de Guimarães
e) Sentimentos que o incesto provoca no leitor
f) Afastamento catártico de Carlos, no final da obra.
Grupo II
1.
1.1 D
1.2 B
1.3 C
1.4 D
1.5 C
1.6 B
1.7 A
2.
2.1 Complemento oblíquo
2.2 Oração subordinada substantiva completiva: “que não falte, (…) entendimento da
obra”.
2.3 Oração subordinada adjetiva relativa explicativa
1. O poema abre com uma antítese aparentemente contraditória: “Conheci a Beleza que
não morre e fiquei triste” (vv.1-2). Estas duas ideias são contraditórias, na medida em
que a visão da “Beleza” eterna não deveria ser motivo para a tristeza do sujeito
poético, mas deveria, pelo contrário, ter sido sinónimo de alegria.
2. O conceito abstrato “Beleza” surge maiusculado para realcar o seu caráter inatingível e
a sua importância no poema. O conceito”Beleza que não morre” simboliza a
“Transcendência”, a “Perfeição” a que o sujeito enquanto poeta deseja ascender. Nos
sonetos de Camões, encontramos frequentemente o “Amor” ou entidades mitológicas
grafados com maíscula, realçando a sua dimensão sobre-humana e o seu
protagonismo no poema.
3. O sujeito recorre à comparação para explicar o que sente, comparando a sua
experiência à de quem sobe a um ponto alto: “serra mais alta” (vv. 2-3) e daí se
observa a imperfeição do mundo: “Assim eu vi o mundo e o que ele encerra / Perder a
cor” (vv.6-7).
4. Por exemplo, o vilancete de Camões: “Perdigão perdeu a pena” retoma a temática da
deceção causada por “subir demasiado alto”, só que neste caso a desilusão é amorosa
e não existencial, como no caso de Antero.
5. Mundo: 1 – “matéria dura”; 2 – “imperfeição”; 3 – “formas incompletas”. Perfeição: a
– “Beleza que não morre”; b – “ideia pura”.
6. A partir da leitura do poema, podemos inferir que o poeta é um ser que sente e reflete
sobre o que o rodeia. Assim, consciente da distância entre o que idealiza e a
imperfeição do mundo, o “eu” fica “pálido e triste” (v.14). Tendo conhecido a “Beleza
que não morre” (v.1) o sujeito poético sente que só lhe restam “as formas
incompletas” (v.13). O destino do poeta parece ser, assim, a busca da Totalidade, da
Beleza, da “ideia pura” e a limitação ao finito, ao contingente, à imperfeição. Daí o
“Tormento do Ideal” que dá título ao poema.
7. Este poema é um soneto, uma forma clássica brilhantemente retomada por Antero.
Internamente, o soneto centra-se numa só ideia: “Conheci a Beleza que não morre / E
fiquei triste”, desenvolvida progressivamente, nas quadras e no primeiro terceto e
sintetizada no último terceto ou “chave de ouro”: “Recebi o baptismo dos poetas / E
assentado entre as formas incompletas / Para sempre fiquei pálido e triste”. Sob o
ponto de vista formal, a simplicidade da sua organização em duas quadras e dois
tercetos, com uma rigorosa coerência, destaca a unidade final do último terceto. O
soneto em Antero surge assim como o molde ideal para a reflexão e expressão de
sentimentos.
Gramática
1.
a) Complemento direto
b) Sujeito
c) Modificador
d) Complemento do nome
2. “onde peixes vermelhos nadassem pachorentos” – Oração subordinada adjetiva
relativa restritiva; “e rãs coaxassem em noites estivais” – Oração coordenada copulativa
1.
2. O poema apresentado é um soneto. O texto apresenta catorze versos distribuídos por
duas quadras e dois tercetos. Os versos são decassolábicos e o esquema rimático é o
seguinte: abba / abba / ccd / eed /.
3. O sujeito poético está à beira-mar, olhando o céu cinzento, perante o mar revolto e o
que passa “como o voo dum pensamento”, como é visível na primeira quadra e nos
versos: “Junto ao mar sentei-me tristemente, / Olhando o céu pesado e nevoento”
(vv. 5-6).
4. Este soneto está organizado em dois momentos fundamentais. Na primeira parte,
constituída pelas duas quadras e pelo primeiro terceto, o sujeito, perante as vozes de
um cenário noturno junto ao mar, interroga a natureza sobre as suas próprias dúvidas
existenciais. No fundo, o sujeito parece sentir na natureza inaminada ecos de
incerteza e angústia semelhante aos seus, no seu gravitar à volta de uma ideia. No
último terceto, o “eu” constata a ausência da resposta que esperava, pois apenas
verifica a existência de um “lamento vago”, um “bramido”, um “queixume e nada
mais”.
5. A natureza parece transmitir ao sujeito a mesma inquietação que ele sente, através
do “lamento / Que saía das coisas, vagamente” (vv. 7-8) anunciado já na “voz rouca”
do mar e na passagem do vento “inquieto e intermitente” (vv. 2-4). Assim, entre o
“eu” e a natureza estabelece-se uma relação de identidade, feita de solidão e
angústia.
6. No primeiro terceto está presente uma apóstrofe aos “Seres elementares, força
obscura” (v.10) como personificação da natureza inanimada. O sujeito procura na
Natureza resposta para as suas inquietações existenciais, uma resposta que falha e só
aumenta a sua angústia.
Gramática
1. “que” é o sujeito
2. Foi utilizada a coesão referencial através da retoma do pronome relativo. Podemos
considerar, também, a existência de coesão interfrásica, uma vez que, quando se
utiliza um pronome relativo, se constroem ou alargam cadeias referenciais.
1.
2. Neste soneto, aparecem em maiúsculas dois conceitos-chave: “Amor” e “Destino”.
Trata-se de um artifício recorrente em Antero que retoma um procedimento já
utilizado por poetas anteriores. Os vocábulos em maiúscula adquirem um grande
destaque no poema, uma vez que personificam entidades abstratas que ganham uma
dimensão humana e corroboram a importância da relação entre o “sentir” e o
“pensar” na sua poesia.
3. O título do poema é uma espécie de dedicatória a todos os que partilham com o
sujeito poético os mesmos ideias.
Gramática
1. O sujeito é nulo subentendido (“nós”)
2. Oração subordinada adjetiva relativa explicativa
3. Sujeito
4. Oração subordinante: “O pensamento é vapor”; oração subordinada adjetiva relativa
explicativa: “que mil traços traça”; oração subordinada adjetiva relativa restritiva: “que
se esvai”; oração coordenada copulativa: “e se dissolve”.
1.
2. Os versos selecionados deste poema de Camões podem relacionar-se com o soneto de
Antero “Na Mão de Deus”. Em dois textos, é evidente a aspiração de paz do sujeito
poético: “Descansou afinal meu coração” (v.2) e “Ditoso quem se partir” (v.1). Os dois
poemas apresentam ainda uma relação de semelhança relativamente á ideia de Morte
que surge implícita nos dois textos: “Dorme na mão de Deus eternamente” (v.14) e “Lá
descanse eternamente” (v.4). No entanto, o sentimento religioso é diferente nos dois
textos. Enquanto que no texto de Camões a morte surge como redenção em Antero, a
“mão de Deus” é, fundamentalmente, um refúgio, uma resposta à angústia e ao
pessimismo do “eu”, à sua dor de pensar.
Grupo II
1.
1.1 C
1.2 A
1.3 C
1.4 B
1.5 A
1.6 D
1.7 B
2.
2.1. “no” – complemento indireto; “a” – complemento direto
2.2. Predicativo do Sujeito
2.3. Sujeito
1. O poema traduz por palavras o que, em termos visuais, poderia ser uma aguarela. O
visualismo destes versos dá-se pelo recurso a imagens e a cores sugestivas, que
contribuem para a reprodução de um quadro do quotidiano (“descendo do burrico”,
“granzoal azul”, “talhadas de melão, damascos”), nas suas dimensões narrativa e
descritiva.
2. A mulher em quem se centra a atenção do sujeito poético não é como as outras
“burguesas”, não usa de “imposturas tolas”, e age com autenticidade, tornando
surpreendente um acontecimento “sem história nem grandezas”.
3. Este verso introduz e enquadra os elementos que, sequencialmente, vão compondo a
“aguarela”: “Foi quando tu, descendo do burrico, / Foste colher (…) / Um ramalhete rubro
de papoulas” (vv. 5-8) e, na quadra seguinte, “Pouco depois (…) / nós acampámos inda o
Sol se via; / E houve talhadas de melão, damascos, / E pão de ló molhado em malsavia”
(vv. 9-12).
4. As sensações visuais surgem associadas a expressões como “descendo do burrico” (v.5),
“granzoal azul de grão-de-bico” (v.7), “ramalhete rubro de papoulas” (v.8). O sentido do
gosto é, por sua vez, convocado em “talhadas de melão, damascos / E pão de ló molhado
em malsavia” (vv. 11-12), e do tato no contraste entre a textura da renda do decote e os
seios comparados a rolas (vv. 13-14).
5. Os versos “Mas, todo púrpuro a sair da renda / Dos teus dois seios como duas rolas”
correspondem a uma transfiguração do real assente na perceção sensorial.
6. O ramalhete, destacado no último verso, pelo uso do determinante artigo definido, ao ser
o foco da atenção do sujeito poético, estabelece a ponte entre o observador e o objeto de
observação: a mulher e o “eu”. A flor silvestre, espontânea, e o vermelho vivo das papoilas
simbolizam a naturalidade e a sensualidade feminina.
Gramática
1. O poema conta uma história com uma determinada localização espácio-temporal, na qual
o “eu” é, entre as várias personagens, a principal. A atenção dada ao cenário, os vários
planos, o movimento das personagens, as descrições e a cor conferem autenticidade às
cenas e causam impacto visual.
2. O poema de Nuno Júdice parodia a cena representada no quadro de Manet. Por um lado, a
alusão á reação das personagens femininas, em “(…) e as mudanças, coroadas, / juntar-se-
iam debaixo dos arbustos, tapando-se / com folhas da vinha (que, felizmente, estão
mirradas e já não tapam grande coisa).” (vv.27-30), com destaque para o adjetivo
“felizmente”, pode ser um comentário irónico, numa atitude manifestamente moderna de
apelo ao leitor. Por outro lado, a oposição entre o bucolismo da pintura, o exotismo do
episódio do gato chinês e o prosaísmo da situação do “eu” multiplicam as visões
fragmentadas da realidade, subvertendo o cenário pictórico: “Ou o meu, / já cansado de
cortar a relva – e farto do gato, que, / do telhado, se ri para mim lambendo os bigodes de
chinês?” (vv. 33-35).
1. Nas duas primeiras estrofes, o “eu”, representado aqui pelo funcionário que vai para o
emprego, parece captar imagens de Lisboa com uma máquina fotográfica. Assim, à medida
que desce “sem muita pressa”, vai dando conta do que observa ocasionalmente, como um
repórter: primeiro, a “casa apalaçada”, os jardins e a “larga rua macadamizada”; depois os
interiores, apenas entrevistos, numa aproximação da objetiva da máquina. Do mesmo
modo, no poema “De Tarde”, o “eu” revela sequencialmente os elementos que compõem
a “aguarela”, até se deter no pormenor do “ramalhete rubro das papoulas”. Estes versos
comprovam a importância da fotografia na “captação de instantes” e na sua representação
aparentemente “mais autêntica” também na poesia.
2. Enquanto caminha, o sujeito observa o que o rodeia e o seu olhar vai captando planos de
conjunto, como a casa apalaçada, as fontes e os jardins, até se fixar na figura da
vendedeira, concentrando-se na “giga” e na pormenorização do seu conteúdo.
3. Os legumes e as frutas que a rapariga carregana giga são “um retalho de horta”, isto é, são
uma parte do campo que se intromete na cidade. Este “retalho de horta” representa os
valores naturais associados à vida do campo, subvertidos pela pobreza e fragilidade da
rapariga.
4. Fascinado com o que vê, o “eu” transfigura, “subitamente” e num ato de imaginação
criadora, os legumes e as frutas, “simples vegetais”, num corpo humano, “recomposto”
pedaço a pedaço (est. 9-12). Este “ser humano”, feminino (“seios injetados” (v.45),
“tranças” (v.48)), exuberante e forte, constói-se recorrendo a metáforas que conduzem a
uma personificação da Natureza.
5. A vendedeira é “pequenina, azafamada” (v.16), “esguelhada, feia” (v.24), “descolorida nas
maçãs do rosto, / E sem quadris na saia de ramagens” (vv. 79-80), “magra, enfezadita”
(v.94), contrastando com a opulência da figura recriada. Apesar da fragilidade do aspeto
físico da rapariga, ela carrega um cesto com tanto peso “que ao chão de pedra parecia
preso” (v.69) e é dela que o “eu” recebe “As forças”, “a alegria” e “a plenitude” (v.73).
6. Na estrofe 8, predomina a sinestesia. O “eu” apela aos diversos sentidos: olfato e visão,
em “Boiam aromas, fumos de cozinha”; visão em “Com o cabaz às costas, e vergando, /
Sobem padeiros, claros de farinha”; audição, em “E às portas, uma ou outra campainha /
Toca, frenética”. A sugestão de diversas sensações mostra que a impressão se sobrepõe ao
real.
7. Nas estrofes 17 e 18, há referência explícita e implícita a diferentes cores e tons: “janela
azul” (v.82), “nuvens alvas” (v. 82), “um canário (amarelo)” (v.87), “raios de laranja” (v.90).
A luz do sol está presente, na estrofe 17, em palavras e expressões como “joeira” (v.83),
“borrifa estrelas” (v.84) e “poeira que eleva nuvens altas” (vv. 84-85), pois a água que sai
do raio do regador forma uma nuvem de gotículas com a incidência dos raios solares. Na
estrofe 18, a luminosidade aparece associada a “geliosas” (v.88) e à belíssima imagem do
sol que estende os seus “raios de laranja destilada” (v.90) nos versos finais.
8. Estas personagens permitem denunciar as condições de vida difíceis das classes sociais
mais desfavorecidas, como é o caso da vendedeira e a dos “padeiros”. O “criado”, ainda
que proveniente do povo, assume um estatuto privilegiado e, com sobranceria e desdém,
humilha a vendedeira, atirando-lhe a moeda, de forma “ignóbil” (v.29). Cesário Verde
parece, assim, tomar o partido dos mais fracos (“Eu acerquei-me d’ela sem desprezo”
(v.66)), não obstante a sua condição burguesa.
9. 1 b); 2 e); 3 a); 4 f); 5 g); 6 c); 7 d).
1. “Eu”: “feio”; “sólido” e “leal”; Ela: “bela”; “frágil” e “assustada”. Os adjetivos usados em
cada um dos casos, apesar de antitéticos, sugerem que se podem complementar, na
prespetiva de que os opostos se atraem e complementam. O “eu”, consciente da sua
degradação, diz-se capaz de lhe ser leal, adotando os valores por ela representados (recato
e honestidade).
2. O “eu”, integrado na vida da cidade, está “Sentado, à mesa de um café devasso” (v.5),
“Nesta Babel tão velha e corruptora” (v.7) e bebe “cálices de absinto” (v.10).
3. Os três recursos expressivos são a tripla adjetivação em “bela, frágil, assustada” e a
metáfora em “(existência) de cristal”. Pretende-se caracterizar o tipo de vida associado à
figura feminina: uma existência pura, transparente, imaulada, perfeita, como o cristal.
4. A figura feminina, na sua brancura e luminosidade, é “recatada”, enquanto a turba é
“ruidosa, negra, espessa”. Os traços sombrios e ameaçadores da multidão contrastam,
vivamente, com a naturalidade e a brandura da jovem que passa.
5. O “eu” manifesta vontade de proteger a rapariga da agitação que a rodeia, de estimá-la
(v.50) e com ela imagina “uma família, um ninho de sossego” (v.35), numa nova vida
marcada pela pureza e pela tranquilidade.
6. Perante a possível ameaça de “um numeroso ajuntamento”, o sujeito, com a sua “vista de
poeta”, transfigura a rapariga, “tímida e quieta”, numa “pombinha branca” cercada por
“um bando ameaçador de corvos pretos” (vv. 46-48).
7. A passante surge como uma figura “forte” nas suas qualidades morais, destacando-se pela
sua pureza e simplicidade. Assim, apresenta uma força capaz de suscitar no “eu” o desejo
de transformação, traduzidos, desde logo, na alteração dos seus hábitos: “Eu que bebia
cálices de absinto, / Mandei ir a garrafa, porque sinto / Que me tornas prestante, bom,
saudável” (vv. 10-12). Apesar de aparentamente frágil, a passante atravessa a multidão
“Com elegância e sem ostentação” (v.37), impondo a sua presença, sem se deixar
corromper pelo que o cerca.
8. Na última estrofe, depois da atenção prestada à rapariga, o “eu” assumirá uma decisão
firme, a de lhe dedicar a sua “pobre vida”, pois é por ela que se transforma. Ao contrário
do que acontecia no início, em que o “eu” se definia como “feio”, com falta de saúde
(v.12), diz-se agora “hábil, prático, viril” (v.52), pronto a corresponder ao poder do
exemplo da jovem que passa, afinal bem diferente do título (“A Débil”).
Gramática
1.
Espaço Tempo Personagens / Caracterização
Tipos Sociais
“nossas ruas” “carpinteiros” “saltam de viga em viga”
1. O “eu” sente-se fascinado pela ideia de partir para um lugar diferente da atmosfera
irrespirável da cidade, embora se trate de uma utopia, de uma “quimera azul”, ou seja,
de algo inacessível.
2. O sujeito poético expressa a sua ânsia de eternidade e de perfeição, como se lhe fosse
possível reabilitar o real através do imaginário. No entanto, o pretérito imperfeito do
modo conjuntivo exprime a ideia de uma ação hipotética difícil de concretizar.
3. O sujeito poético projeta numa nova geração (“Ó nossos filhos!” (v.17), “a raça ruiva
do porvir” (v.21)) a capacidade de religar o “porvir” ao fulgor do passado, regenerando
a pátria doente. O desejo de percorrer os oceanos para encontrar novos locais em
todos os continentes apresenta-se, no entanto, como uma impossibilidade: “Mas se
vivemos, os emparedados, / Sem árvores, no vale escuro das muralhas!...” (est.7,
vv.25-26). Os habitantes da cidade vivem “emparedados”, num espaço hóstil, como
enterrados vivos.
4. A sucessão de quatro adjetivos antepostos ao nome expressa, de forma intensa, a
ideia de perigo silencioso, de ferocidade, que está também presente na comparação
dos cães a lobos. O advérbio “amareladamente” (v.36) sugere talvez a intensidade da
luz artificial que, de forma doentia, incide sobre os cães.
5. O sofrimento causado pela visão sufocante dos “prédios sepulcrais”(v.42) projeta a
cura nos “amplos horizontes” de uma outra viagem épica, mas marés que
metaforicamente banham a cidade já não são de água, mas de “fel” (v.44), levando ao
extremo a intensidade da “dor humana” (v.43) que fecha o poema.
6. O poema apresenta frequentemente uma linguagem quotidiana associada ao povo
(“um parafuso cai nas lajes” (v.6), “os ventres das tabernas” (v.30)), em que os
elementos referidos surgem em orações ligadas por coordenação, e organiza-se em
versos longos (maioritariamente alexandrinos, de 12 sílabas métricas). O discurso,
tendencialmente pouco rebuscado, aproxima a poesia de Cesário Verde da prosa.
7. Os empréstimos são provenientes do frânces: (parte II: “magasins” e “brasseire”, parte
III: “vitrines” e “traîne”) e do alemão: (parte III: “macklem-burgueses”). Estas palavras
conferem uma ideia de modernidade, de elegância e de cosmopolitismo, mas são
usadas frequentemente com intenção de criticar a sociedade lisboeta, mercantilista,
da segunda metade do século XIX.
8. O poema é constituído por quatro partes de onze quadras cada uma, em que o
primeiro verso é um decassílabo e os outros são alexandrinos. O esquema rimático é
constante (tipo abba), com rima interpolada e emparelhada. O fim da estrofe coincide
com o fim da frase.
9. “E os guardas (…) Caminham de lanterna” – oração subordinante; “que revistam as
escadas” – oração subordinada adjetiva relativa explicativa; “e servem de chaveiros” –
oração coordenada copulativa.
Grupo II
1.
1.1 D
1.2 A
1.3 B
1.4 C
1.5 C
1.6 D
1.7 A
2.
2.1 “Nas palavras (…) o seu poeta” – Oração Subordinate; “que teve no realismo os
seus melhores romancistas” – Oração Subordinada Adjetiva Relativa Explicativa
2.2 “As pessoas e as coisas mais humildes e mais comuns”
2.3 Derivação por conversão