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Sarvānanda Deva
Por meio da interpretação etimológica do termo Upanishad, literalmente “sentar perto”, são
estabelecidas as qualificações daqueles que estão preparados ou competentes para o
Conhecimento. A essência das Upanishads é o Supremo Brahman, o Ser interno de todas as
coishas. O objetivo das Upanishads é a obtenção de Brahman, o que provoca a cessação do
samsara. Esse objetivo também indica a relação entre uma Upanishad e a sua essência.
Portanto, o objetivo básico das Upanishads é desvendar a verdadeira natureza do Atman. Desta
forma, o objetivo das Upanishads é habilitar o leitor para atingir o Conhecimento da unidade do
Atman e de Brahman. A verdadeira natureza do Atman é o seu conteúdo subjacente.
No diálogo entre Nachiketas e Yama aparecem recorrentemente cinco temas práticos essenciais
para a vida espiritual: i] a identidade da Alma do Universo [Brahman] com a alma individual
[atman]; ii] a importância do guru no progresso espiritual; iii] a prática de Yoga como caminho
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Redesenho a partir da junção das Sínteses Ilustradas pertinentes contidas em Botelho [2011] em função da lógica e
objetivo inscrito no subtítulo. Reflexão elaborada durante a realização do Módulo II do Curso Livre de Formação
em Yoga de Pedro Kupfer em Mariscal entre 12.09 e 09.11.2011, como cumprimento da tarefa escrita de livre
escolha, dentre os assuntos que fazem parte da programação, que chamam a atenção e ao mesmo tempo que façam
parte da vivência do yogue.
espiritual e meio de emancipação do estado condicionado; iv] a lei do karma; e, v] a “vitória
sobre a morte”, através do conhecimento
Apesar de ser a mais breve das Upanishads, certamente é uma das mais profundas, pois sua
brevidade quase telegráfica focaliza inteiramente na busca interior, nos convidando a um
questionamento sobre a realidade transcendental.
Observando os tópicos de forma cruzada, constatamos que, para Tinoco, tanto a Katha quanto a
Isha Upanishad oferecem ensinamentos para questionamentos relativos à[s] ou ao: i] identidade
entre Atman e Brahman; ii] qualidades de Atman e Brahman; iii] possibilidade de se conhecer
Atman e Brahman através do Yoga e na impossibilidade de se conhecer Atman e Brahman
através dos sentidos corpóreos, da racionalidade, do estudo dos textos védicos, da prática de
rituais e sacrifícios; iv] sílaba sagrada OM; v] Karma e ao Samsara; e, vi] Avidya e à Maya.
Portanto, a Katha e a Isha Upanishads convergem para seis dos doze tópicos classificados por
Tinoco para ilustrar os ensinamentos vedânticos.
Ressalte-se que há um grande paralelo entre as colocações de Kupfer sobre os objetivos da Katha
Upanishads e as categorias de ensinamento identificadas por Tinoco. Neste sentido, insta
registrar que Tinoco entende que a Katha Upanishad oferece ensinamentos adicionais para se
compreender sobre: i] a mente e estados consciência; ii] o prana e suas variações; iii] a
importância do papel do Guru na libertação dos discípulos; e, iv] os diversos corpos que
“revestem” o Atman e a fisiologia mística. Portanto, para Tinoco a Katha Upanishad apenas não
oferece apontamentos para a questão dos gunas e sobre a gênese do universo, do mundo e do ser
humano. Identificamos, todavia, duas grandes divergências entre Tinoco e Kupfer. A primeira
diz respeito que Tinoco adiciona ao objetivo da Katha Upanishad ensinamentos quanto às
qualidades de Atman e Brahman e sobre Avidya e Maya, que Kupfer não destacou ensinamentos
para esse enquadramento. Por outro, Kupfer criou uma categoria nova às de Tinoco, que intitulou
de a “vitória sobre a morte”, através do conhecimento. Talvez, esses ensinamentos se
entrecruzem de tal sorte que para se conquistar vitória sobre a morte identificar-se-á e desfrutar-
se-á das qualidades do Ser, permitindo que tal Conhecimento vença a ignorância. Portanto, são
divergências apenas aparentes.
Os destaques de Kupfer citados e relativos à Katha Upanishad convergem para os feitos por
Tinoco [1996; pp. 326/324]. Já o exemplo dado para o destaque de Kupfer junto à Isha
Upanishad não, pois Tinoco seleciona o Mantra 1 como ensinamento para apontar sobre as
qualidades de Atman e sobre a possibilidade de se poder conhecer Brahman/Atman [ou Purusa]
através do Yoga. Mas, mais uma vez pode-se entender que “a unidade que permeia o Cosmos”
seja uma das infinitas atributos do Ser, o que sugere uma divergência apenas aparente. Portanto,
as abordagens de Kupfer e Tinoco diferem na metodologia, conforme dito acima, na medida em
que Tinoco estabelece uma lógica monolítica para destacar os ensinamentos de nove Upanishads
[Isha; Kena; Katha; Prasna; Mundaka; Mandukya; Taittiriya; Aitareya; Svetasvatara] e Kupfer os
discursa oralmente, ao mesmo tempo estabelecendo de forma escrita tópicos assistemáticos e
específicos para destacar apontamentos importantes e fundamentais das Upanishads [Katha e
Isha], alguns convergindo para a metodologia de Tinoco, mas outros não.
Na Katha Upanishad:
a) Yama ensinando:
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Apesar da ampla citação de versos por Tinoco para cada categoria, este autor selecionou apenas uma [um verso ou
um conjunto de versos sequenciados], vishando estabelecer a lógica do subtítulo da reflexão.
“Aquele que conhece a alma individual, a experimentadora dos frutos da ação,
identificando-a com o Atman que está dentro de si mesmo, e conhecendo também o
Senhor do passado e do futuro, identifica-se com ambos e com nada mais” [Parte II;
[1,5]];
Na Isha Upanishad:
Mantra 7
Na Katha Upanishad:
a) Yama [ensinando]:
“O Atman que deve ser realizado é sem som, intangível, sem forma, puro, sem sabor,
eterno e sem odor; a pessoa que realiza o Atman, que não tem começo nem fim, que
está além do Grande e é imutável, está livre das mandíbulas da morte” [Parte I;
[3,15]];
Na Isha Upanishad:
Mantra 1
Tudo isto, todas estas coishas que existem dentro desde mutável universo, ocultam o
Senhor. Guarde o teu ser pela renúncia. Não cobices as riquezas desejadas pelos homens.
Na Katha Upanishad:
a) Yama ensinando:
“Sua forma não se assemelha a nenhum objeto visível; ninguém O percebe com os
olhos. Aquele que possui o intelecto livre de todas as dúvidas e medita
constantemente, está em condições de conhecê-Lo. Todas as pessoas que sabem
essas verdades tornam-se imortais” [Parte II; [3,9]];
b) “Quando os cinco sentidos concentram-se junto com a mente e quando o intelecto não
se movimenta, produzindo divagações, então a pessoa alcança o Supremo Estado,
uma condição de concentração serena e penetrante” [Parte II; [3,10]];
c) “Esse estado, caracterizado por firme controle dos sentidos, é obtido pela prática do
Yoga; quem assim procede, torna-se vigilante. A prática do Yoga pode ser benéfica
ou injuriosa, dependendo dos objetivos dessa prática” [Parte II; [3,11]];
d) O Atman não pode ser alcançado pela fala, pela mente ou através da visão. Como
pode o Atman ser realizado, por qual caminho pode ser encontrado, a não ser através
da afirmação e dos ensinamentos daqueles que dizem; o Atman é?” [Parte II; [3,12]];
e) “O Atman deve ser realizado primeiramente como Existência [limitado por upadhis] e
depois, pela Sua natureza transcendental. Desses dois aspectos, o Atman realizado
como Existência, leva aquele que O procura à realização de Sua própria natureza”
[Parte II; [3,13]];
f) “Quando todos os desejos que moram no coração humano desaparecem, fenecendo,
então, o mortal torna-se imortal, alcançando Brahman ainda nesta vida” [Parte II;
[3,14]];
g) “Quando todas as lágrimas de dor são rudemente derramadas sobre a terra, então o
mortal torna-se imortal. Essa é a conclusão dos ensinamentos [das escrituras]” [Parte
II; [3,15]].
Na Isha Upanishad:
Mantra 11
Na Katha Upanishad:
a) Yama ensinando:
“Esta sílaba é Brahman. Esta sílaba é a expressão do Mais Elevado. Todo aquele que
conhece verdadeiramente esta sílaba, não sofre, não é atormentado por desejos”
[Parte I; [2,16]].
Na Isha Upanishad:
Mantra 17
Agora, que possa a minha vida [respiração] retornar ao todo penetrante e imortal Prana, a
Vida Universal! Que possa o meu corpo ser cremado e reduzido a cinzas! Om. Que possa
a minha mente, recordar-se das minhas ações passadas.
a) Yama ensinando:
“O outro mundo nunca revela a si mesmo a uma pessoa discriminadora e perplexa
diante da ilusão das riquezas. Essas pessoas pensam: „Somente este mundo existe,
não há outro‟. Assim, permanecem, sempre e sempre, sob o meu domínio” [Parte I;
[2,6]];
b) Ainda Yama:
“Alguns Jivas entram em úteros para encarnarem como seres vivos e outros, vão para
o mundo vegetal, de acordo com suas ações e de acordo com seus conhecimentos”
[Parte II; [2,7]];
Na Isha Upanishad:
Mantra 2
Se um homem deseja viver uma centena de anos sobre a terra, deveria realizar rituais por
toda a sua vida. Se alimentares tal desejo e consideras teu próprio ser como sendo o teu
corpo, para ti não há outro caminho pelo qual devas caminhar, a não ser a prática de
rituais.
6. Avidya [ignorância] e Maya [ilusão que o mundo produz através dos sentidos]:
Na Katha Upanishad:
a) Naciketas falando:
“Contai-me Ó Yama, o segredo sobre a morte, o segredo sobre o qual os homens
guardam profunda dúvida”.
Convencido da firmeza de Naciketas, Yama ensinou o segredo da imortalidade [Parte
I; [1,29]].
b) Yama ensinando:
“A ignorância e o conhecimento conduzem a caminhos diferentes. Ouvindo a
resposta ao pedido que formulastes, as pessoas podem compreender diferentemente.
Decide certo quem escolhe o caminho do bem. Aqueles que escolhem o caminho dos
prazeres ou da ignorância, caminham para o fim” [Parte I; [2,1]];
c) Yama continua: “Tudo depende do caminho escolhido pelo homem; o do
conhecimento ou o da ignorância. A alma cheia de calma, examina ambos os
caminhos e faz sua escolha. Ele prefere o bem ao prazer. Mas os tolos escolhem o
prazer e a avareza” [Parte I; [2,2]];
d) Ainda Yama: “Ó Naciketas, após ponderar bem, percebo que os prazeres que são ou
parecem deleitosos, vós já a eles renunciastes. Abandonastes a roda da abundância e
da riqueza, escolhida por muitos” [Parte I; [2,3]];
e) Yama: “Os caminhos a serem escolhidos são os seguintes: a ignorância e aquilo que
pode ser designado por Conhecimento. Eu vos considero um firme aspirante ao
caminho do Conhecimento. Os prazeres sensoriais não irão tentar-vos nesse caminho”
[Parte I; [2,4]];
f) Yama: “Os tolos moram nas sombras, embora considerem a si próprios como sábios e
eruditos. Assim, de ronda em ronda, por muitos caminhos tortuosos, os tolos se
assemelham a um cego que guia outro cego” [Parte I; [2,5]];
g) Yama: “O outro mundo nunca se revela a si mesmo a uma pessoa discriminadora e
perplexa diante da ilusão das riquezas. Essas pessoas pensam: „Somente este mundo
existe, não há outro‟. Assim, permanecem, sempre e sempre, sob o meu domínio”
[Parte I; [2,6]].
Na Isha Upanishad:
Mantra 15
Brevíssimo Comentário
Após ler as traduções e ao mesmo tempo ouvir as explicações de Kupfer sobre a Katha e Isha
Upanishads, ousaremos faz um brevíssimo comentário, tão pequeno, ou tópico, quanto grande,
ou amplo, é o Conhecimento que tais Escrituras Sagradas encerram para aqueles que as
contemplam por longos anos. Para tanto, o faremos a partir de duas palavras recorrentes aos
respectivos textos, quais sejam: renúncia e coração. A partir disso finalizaremos interconectando
mensagens percebidas.
A palavra coração aparece inúmeras vezes na Katha Upanishad e apenas uma vez na Isha
Upanishad. Porém, nesta última está posta em associação com a renúncia; é o que diz o seu
primeiro Mantra, segundo a tradução de Kupfer: “O Ser Infinito está presente nos corações de
todos. O Ser Infinito é a suprema realidade. Regojizemo-nos nele através da renúncia. Não
cobices nada, pois tudo ao Ser pertence”. Já na Katha Upanishad a função de renunciar, segundo
Kupfer, também está bem presente, mas no verso décimo quarto, do terceiro Canto, da segunda
parte, nas instruções de Yama para Nachiketas, igualmente está posta em associação com o
coração: “Quando renuncia aos desejos que surgem do coração, o mortal torna-se imortal”.
Portanto, podemos contemplar que o Conhecimento para imortalidade passa, dentre outras, pela
renúncia a partir do coração. Os dois versos seguintes da Katha Upanishad ao acima reproduzido
confirma essa possibilidade de contemplação: “Desfazendo-se os nós que estrangulam o coração,
o mortal torna-se imortal. Essa é a síntese dos ensinamentos das escrituras”; e “A partir do
coração, surgem os cento e um caminhos [nadis] da força vital. Um deles conduz ao topo da
cabeça. Esse caminho conduz à imortalidade. Os outros, à morte”. Ou seja, Nachiketas pediu o
segredo da morte e obteve de Yama o Conhecimento para a imortalidade.
Por sua vez, a Isha Upanishad ao esclarecer que ao Ser pertence tudo, aponta para o caminho que
o buscador deve optar para fazer valer a instrução que Nachiketas obteve de Yama. Para tanto,
demonstra que o Ser Infinito é ao tempo transcendente e imanente. É o que sugere, ainda
segundo a tradução de Kupfer, o oitavo Mantra da Isha Upanishad: “O Ser está em toda parte.
Resplandecente é o Ser. Indivisível, imaculado, sábio, imanente e transcendente, é ele quem
mantém a coesão do mundo”. Ora, se o Ser está em tudo, e a tudo transcende como diz a última
frase do seu quinto Mantra, como e por que os seres encarnados, transitórios por natureza,
haveriam de desejar as coisas que igualmente são efêmeras, pois sob o controle do Ser que é
Realidade, Consciência e Felicidade além do tempo e do espaço? Ao se perceberem como o
próprio Ser, os seres deixam de ter medo e de sofrer, o que aponta para a imortalidade que
aparece na Katha Upanishad. É o que sugere a tradução do sexto Mantra por Kupfer: “Aqueles
capazes de perceber todos os seres em si mesmos, e a si mesmos em todos os seres, não
conhecem o medo. Aqueles capazes de perceber todos os seres em si mesmos, e a si mesmos em
todos os seres, não conhecem o sofrimento”. Ou seja, tanto a Katha Upanishad quanto a Isha
Upanishad, com prismas diferentes de abordar a renúncia a partir do coração, oferecem soluções
para se vencer a morte, conquistando a imortalidade por meio do Conhecimento.
Bibliografia:
1. Botelho, Antônio José. Sínteses Ilustradas de Nove das Principais Upanishads:
uma abordagem do que elas ensinam sobre os ensinamentos vedânticos.
Manaus: www.clubedeautores.com.br , 2011;
2. Kupfer, Pedro. Formação em Yoga: curso livro/módulo II. Bombinhas/SC:
Yogabindu, 2009;
3. Tinoco, Carlos Alberto. As Upanishads. São Paulo: Ibrasa, 1996.