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Microscopia dos Materiais

Uma introdução

Walter A. Mannheimer
Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais
Universidade Federal do Rio de Janeiro

Com a colaboração de
P.F.Schmidt (U. Münster, Alemanha)
G.F.Vander Voort (Buehler Ltd., EUA)
D.B.Williams (Lehigh U., EUA)

edição da
SOCIEDADE BRASILEIRA DE MICROSCOPIA E MICROANÁLISE
2002
Apresentação

Já há muitos anos que sentimos falta de um livro que aborde os aspectos básicos da microscopia
moderna. A presente obra de Walter Mannheimer, ativo participante da comunidade de microscopistas
brasileiros, vem suprir esta lacuna.
O autor, pioneiro no uso da microscopia na área da Metalurgia, tem tido importante participação
na Escola Politécnica (EE) e na Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia (COPPE)
da Universidade Federal do Rio de Janeiro, tendo atuado também no Centro de Pesquisas de Energia
Elétrica (CEPEL-Eletrobrás). Sua participação em várias sociedades científicas, nas agência nacionais
de fomento à pesquisa científica e tecnológica, é reconhecida por todos.
Ainda que o presente livro seja escrito por um microscopista que trabalha na área dos materiais
e tenha o título “Microscopia dos Materiais”, ressalto que a grande maioria dos capítulos trata de
aspectos básicos sobre a microscopia óptica, microscopia eletrônica de varredura e de transmissão e
microanálise, também utilizadas por aqueles que trabalham com materiais biológicos. Logo, o alcance
deste livro é muito mais amplo do que o indicado pelo seu título.
Ressalto ainda a decisão do autor de publicar este livro sob o patrocínio da Sociedade Brasileira de
Microscopia e Microanálise, e a transferência para a SBMM dos direitos autorais desta obra, apoiando
mais uma vez nossa sociedade. Registro aqui os agradecimentos em nome de toda a diretoria da SBMM.

Wanderley de Souza
Presidente da Sociedade Brasileira de Microscopia e Microanálise
© E-papers Serviços Editoriais, 2002.
Todos os direitos reservados à E-papers Serviços Editoriais Ltda. É
proibida a reprodução ou transmissão desta obra, ou parte dela, por
qualquer meio, sem a prévia autorização dos editores.
Impresso no Brasil.

ISBN 85-87922-54-8

Projeto Gráfico e Diagramação


Alessandra Lofiego

Capa
A. Sauer Guimarães

Esta publicação encontra-se à venda no site da


E-papers Serviços Editoriais.
http://www.e-papers.com.br

E-papers Serviços Editoriais Ltda.


Rua Mariz e Barros, 72, sala 202
Praça da Bandeira
Cep 20.270-006
Rio de Janeiro - Brasil
CNPJ 03.484.075/0001-83

MANNHEIMER, Walter A.
Microscopia dos Materiais / Walter A. Mannheimer – Rio de
Janeiro: E-papers Serviços Editoriais, 2002.
221 p.
ISBN 85-87922-54-8

1. Microscopia – História. 2. Microscopia – Teoria Básica.


I. Título.

CDD 535.332
Prefácio

Parece que poucas pessoas ainda estudam microscopia


(M.D.Adams, 1977)

A literatura de microscopia de materiais é extremamente vasta: BibMic1 relaciona mais de 1000


livros sobre o tema. Portanto, a justificativa para a redação de mais um deve ser objeto de reflexão.
Pensamos que um livro didático, redigido em português, pudesse ser útil.
Durante muitos anos, ministramos na Universidade Federal do Rio de Janeiro um curso sobre
Microscopia dos Materiais. Este foi concebido levando em conta o elenco multidisciplinar de estudantes
de pósgraduação e pesquisa em materiais, que além dos formados nesta disciplina, incluem físicos e
químicos, engenheiros diversos, e até médicos e dentistas. Um dos primeiros conceitos que procuramos
transmitir a estes estudantes é o da fundamental influência da microestrutura dos materiais sobre
suas propriedades. No entanto, falta-lhes em geral, uma formação prévia de microscopia, que lhes
permita avaliar a aplicabilidade das diversas técnicas aos seus problemas de pesquisa. Não sendo
possível formar plenamente um microscopista em um semestre (os grandes mestres dirão que toda
uma vida profissional talvez seja insuficiente), concebemos o curso como destinado a “executivos da
pesquisa”, capacitando-os a delinear estratégias e selecionar técnicas apropriadas. Para executá-las,
será preciso muito mais do que este livro pode oferecer: ou a colaboração com um especialista, ou o
aprofundamento na técnica requerida, através do estudo especializado. E como para o estudo e a
pesquisa de fronteira em nosso mundo globalizado o conhecimento de lingua estrangeira (quase que
certamente o inglês) se tornou indispensável, a vasta literatura internacional estará à disposição do
estudante avançado.
Não sendo este um livro de materialografia, mas sim de microscopia dos materiais, seu objetivo
é de tratar do microscópio como instrumento e da microscopia como técnica que possam ser aplicados
aos materiais. A interpretação das imagens, e sua correlação com as propriedades, além de tarefa
hercúlea, excederia a escôpo a que nos propusemos. Também, e sem prejuizo da utilidade que esta obra
possa ter para os interessados nas ciências biomédicas, e pela qual o autor se sentirá gratificado, sua

1
“BibMic - A Bibliography of books on Materials Microscopy - a searchable database on the Internet”, http://
bibmic.metalmat.ufrj.br
meta consistiu na aplicação aos materiais inertes, metais, cerâmicas e polímeros. Portanto, algumas
técnicas de uso preponderante para amostras biológicas, como por exemplo contraste de fase, e
deshidratação pelo ponto crítico, foram mencionadas muito superficialmente ou ignoradas, apesar de
algumas referências relevantes terem sido incluidas na bibliografia. E também, sendo este um livro
didático, mais do que um tratado, foi dada preferência à indicação de referências bibliográficas gerais,
em relação às publicações originais. Estas, quando incluídas, o são mais com a intenção de dar crédito
aos respectivos autores, e não constituem uma revisão exaustiva da literatura.
A questão da nomenclatura em português é bastante espinhosa. Algumas técnicas, já bem
difundidas entre nós, tiveram consagrada uma tradução correta. Outras oscilam entre adaptações
duvidosas e o simples uso da palavra estrangeira, em geral o inglês. Não tivemos a ousadia de tentar
sanar esta situação, mas optamos por incluir o termo inglês, sempre que este fosse a melhor solução.
Com relação à miríade de siglas usados no ramo, verdadeira sopa de letrinhas, agimos de maneira
semelhante, apenas transliterando aquelas já francamente em uso. A única modificação importante
que reinvindicamos é a adoção de microscopia fotônica para o que se costuma denominar microscopia
ótica; isto em semelhança à microscopia eletrônica, porque a ótica moderna abrange tanto a da luz
visível como a dos elétrons.
Trilhar o caminho que outros mil já percorreram não é fácil: é quase impossível reformular
conceitos de maneira original, sem copiar, consciente ou inconscientemente, outros trabalhos. E também
seria um inútil exercício de reinventar a roda. Por este motivo, optei por obter a colaboração de alguns
colegas, eminentes especialistas, para alguns capítulos principais. Eles me permitiram livre acesso às
suas obras, e colaboraram com a logística de figuras e micrografias. Contribuiram sobremaneira para
a concretização do livro, e sou-lhes imensamente grato.
Como o livro é redigido em português, meus colaboradores não puderam rever o texto. Louvei-
me de seus ensinamentos, mas os erros (e deverá haver diversos) são todos meus. Apesar de alertado
pela prudência de Goethe “não me faço ilusões que possa bem conhecer algo, não me faço ilusões
que possa ensinar algo”, prestei também atenção à antiga cultura chinesa “se eu fosse esperar a
perfeição, meu livro nunca seria terminado”. Peço a meus leitores que me auxiliem, apontando erros
e oferecendo sugestões.
Outros autores, instituições e pessoas prestaram auxílio valioso, e procurei relaciona-los nos
Agradecimentos, desculpando-me de antemão por alguma omissão involuntária. Os meus diversos
chefes, que durante anos esperaram com paciência o cumprimento desta tarefa, ficarão satisfeitos em
saber que mesmo os rios mais tortuosos encontram finalmente seu caminho para o mar.

E que tenham bom proveito!

Walter A. Mannheimer
Rio de Janeiro, Novembro de 2002
Agradecimentos

Agradeço sinceramente aos meus colaboradores, de cujas obras principais foi utilizado material
nos capítulos relevantes:

P.F.Schmidt (U. Münster, Alemanha) (principalmente Capítulo 7)


Praxis der Rasterelektronenmikroskopie und Mikrobereichanalyse, Expert Verlag, Renningen-
Malsheim, Alemanha, 1994
G.F.Vander Voort (Buehler Ltd., EUA) (principalmente Capítulos 4, 9, 12 e 15)
Metallography, Principles and Practice, ASM International, Materials Park OH, USA, 1999
D.B.Williams (Lehigh U., EUA) (principalmente Capítulos 5 e 10)
Transmission Electron Microscopy, Plenum Press, New York NY, USA, 1996 (com C.B.Carter)
Images of Materials, Oxford UP, Oxford, UK, 1991 (editor)
Practical Anlytical Electron Microscopy in Materials Science, Philips, Mahwah, NJ, USA, 1987

A redação de um livro resulta sempre em prejuízo ao convívio com a família e com os amigos.
Agradeço principalmente à minha querida esposa Eva a abnegação com que suportou o longo (e às
vezes aparentemente interminável) tempo de gestação do projeto.

Parte deste livro foi elaborado quando o autor atuava no CEPEL - Centro de Pesquisas de
Energia Elétrica (Eletrobrás), onde usufruiu de excelentes facilidades de biblioteca, fruto da visão de
seus diretores, Drs. J.Lepecki e A. Mossé, a quem agradeço o apoio e continuado incentivo.

Estendo meus agradecimentos aos seguintes autores e instituições identificadas no texto, que
autorizaram o uso das citações:

Almeida Com permissão de L.H. de Almeida, Universidade Federal do Rio de Janeiro.


Berkeley Transcrito ou adaptado com permissão de Center for X-ray Optics, Lawrence Berkeley
National Laboratory, USA.
Buehler Transcrito ou adaptado com permissão de Buehler Ltd, Lake Bluff, USA.
CAMECA Transcrito ou adaptado com permissão de Cameca, Courbevoie, França.
Cressington Transcrito ou adaptado com permissão de Cressington Scientific Instruments Co., Watford,
Reino Unido.
Easterling K.A. Easterling, J.Mat.Science 12(1977) 857-868, com permissão de Kluwer Academic
Publishers.
EDAX Transcrito ou adaptado com permissão de EDAX/TSL, Mahwah, USA
Gifkins R.C.Gifkins, Optical Microscopy of Metals, Pitman, 1970; transcrito ou adaptado com
permissão de Pearson Education Ltd.
Hirsch P.B.Hirsch, Phil.Trans. Royal Soc. (London); transcrito ou adaptado com permissão do
autor.
Ingolic E.Ingolic, transcrito ou adaptado com permissão de Research Institute for Electron Mi-
croscopy, Graz University of Technology, Autria
JEOL Transcrito ou adaptado com permissão de JEOL USA e Fugiwara Enterprises, São Paulo.
Kopp W.U.Kopp, K&B Grubbs Instrument, Alemanha
Koreeda A.Koreeda et.al., Mater. Char. 25(1990) 375-395, adaptado com permissão de Elsevier
Science.
Leica Transcrito ou adaptado com permissão de Leica Microsystems, Wetzlar, Alemanha.
Mayoux Com permissão de C.Mayoux et.al., Universidade Paul Sabatier, Toulouse, França.
Meiji Com permissão de Meiji Techno America, San José, USA
Oxford Transcrito ou adaptado com permissão de Oxford Instruments Analytical Ltd., Reino Unido.
Philips Transcrito ou adaptado com permissão de FEI Electron Optics, Eindhoven, Holanda.
Simão Com permissão de R.A.Simão e C.A. Achete, Universidade Federal do Rio de Janeiro
Southbay Transcrito ou adaptado com permissão de South Bay Technology Inc. SanClemente, USA.
Spilde Com permissão de Michael Spilde e Keli Weaver, University of New Mexico.
Sterrenburg F. Sterrenburg, com autorização do autor http://www.microscopy-uk.org.uk/primer/
index.htm
Thomas G.Thomas, Transmission Electron Microscopy of Metals, Wiley, 1966; transcrito ou adaptado
com permissão do autor.
Union Com permissão de Union Optical Company, Japão.
Urban Com permissão de K. Urban, Institute for Solid State Physics, Forschungszentrum Jülich
GmbH, Jülich, Alemanha.
RMS Transcrito ou adaptado com permissão de Royal Microscopical Society, Oxford, Reino Unido.
VEECO Transcrito ou adaptado com permissão de TM Microscopes, Divisão de Veeco Metrology
Group, Sunnyvale, CA, USA.

Outrossim, os seguintes contribuíram com sugestões e informações, pelo que lhes sou grato:
J.R.Fleming, P.W.Hawkes, G.Mathiopoulos, H.W.Paxton, L.C.Pereira, F.Rezende.
Diversas estadas no exterior durante a redação do livro contaram com apoio financeiro do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq (Brasil), British Council (Reino Unido) e
Bundesministerium für Forschung und Technologie (Alemanha).

A Capa
A capa ilustra nossa percepção da estrutura da perlita com o desenvolvimento da microscopia:
microscópio fotônico (1863), microscópio eletrônico de transmissão (1940), microscópio eletrônico de
varredura (1970) e microscópio de força atômica (2002). Agradeço sinceramente ao meu colega, nosso
professor de soldagem, webmaster e exímio processador de imagens A. Sauer Guimarães pela
diagramação, e a F.T. da Silva e R.A. Simão a contribuição de micrografias.
Prelúdio

“Quando comecei a escrever, minha lista de assuntos já estava pronta, e meu livro completo em
minha mente; mas meu progresso apesar disto foi lento, porque parte do meu tempo é devotado a
tarefas mais sérias”.
(Brillat-Savarin, La Physiologie du Goût, 1825)

“Colocar seus pensamentos em ação é a coisa mais difícil do mundo”.


(Goethe, 1749-1832)

“Colhi um ramo de flores de outras pessoas; nada, além dos fios que as unem, são meus”.
(Michel de Montaigne, 1533-1592)

“Não me faço ilusões de que possa bem conhecer algo,


não me faço ilusões de que possa ensinar algo”.
(Goethe, Fausto, Parte I, 1775)

“Se eu fose esperar a perfeição, meu livro nunca seria terminado”.


(Tai K’ung, século XIII)
Microscopia dos Materiais

Prefácio
Parece que poucas pessoas ainda estudam microscopia
(M.D.Adams, 1977)

I) A História do Microscópio
Muito útil é conhecer a verdadeira e memorável origem das invenções
(Leibnitz, XVII)

II) A Teoria Básica da Microscopia


Feliz quem pode conhecer a causa das coisas
(Virgílio, -I)
• A imagem microscópica: aumento, resolução e contraste
• Propriedades fundamentais da luz
ótica geométrica: reflexão, refração, dispersão
ótica ondulatória: difração e interferência; polarização
ótica quântica: fótons
• Elétrons: partículas ou ondas?
• Interação entre a energia e a matéria

III) Formação da Imagem por Difração


A natureza compõe alguns dos seus mais encantadores poemas
para o microscópio e o telescópio
(T.Roszak, 1972)

• Ótica fotônica e eletrônica: lentes, aberrações


• Formação da imagem por difração: teoria de Abbe
IV) Microscopia Fotônica
Relativamente recentemente era elegante que aqueles
envolvidos com microscopia eletrônica desprezassem os
esforços dos microscopistas com luz.
Esperemos que nestes tempos mais esclarecidos
tome-se a atitude de que todas formas de microscopia tem
um papel no esclarecimento das microestruturas
(B.Ralph, 1980)
• O microscópio de luz visível, e sua operação
• Técnicas de microscopia fotônica
• Macrografia

V) Microscopia Eletrônica de Transmissão


O que a Natureza ocultou da vista dos mortais
Vós o tornastes visível
(R.v.Rosenhofs, XVIII)
• O microscópio eletrônico de transmissão
• Técnicas de microscopia eletrônica de transmissão

VI) Formação de Imagem por Varredura


A formação de uma imagem em uma tela pode resultar seja da visualização
simultânea de todos os elementos, como na projeção de uma figura em uma tela,
ou pelo registro sucessivo dos elementos individuais da imagem, um processo familiarizado atualmente
pela televisão
(V.K.Zworykin, 1943)

VII) Microscopia Eletrônica de Varredura


Impressionou-nos, desde as primeiras experiências, a
extrema e incomum profundidade de foco destas imagens
(M.v.Ardenne, 1938)

• O microscópio eletrônico de varredura


• Técnicas de microscopia eletrônica de varredura

VIII) Outras Microscopias de Varredura


Isto provavelmente nos deu a coragem e o ânimo
para começar algo que, nos diziam com frequência,
“em princípio nem deveria funcionar”
(Binnig e Rohrer, Conferência Nobel, 1986)
• Microscopia de tunelamento e de força atômica
• Microscopia de campo próximo
• Microscopia confocal
• Microscopia de raios-X
IX) Materialografia Quantitativa
Quando se consegue medir aquilo do qual se fala,
e exprimi-lo em números, sabe-se algo sobre o assunto
(Lord Kelvin, XIX)

• Medição com o microscópio


• Estereologia

X) Microanálise Elementar
A técnica de análise pontual conhecida como
“microanálise por sonda eletrônica” ou “microanálise por raios-X”
foi desenvolvida há dez anos pelo autor em sua tese
preparada sob a direção do Prof. A.Guinier.
(R.Castaing, 1960)

XI) Aquisição de Imagens


Uma figura vale mais do que dez mil palavras
(ant. provérbio chinês)

XII) Preparação de Amostras


Por uma pequena parte se pode julgar o todo
(Cervantes, D. Quixote, 1605)

XIII) Microscopia na Internet


O sonho da Internet é o de um espaço comum de informação,
no qual nós nos comunicamos partilhando informação
(T.Berners-Lee, 1998)

XIV) Bibliografia
Há dois tipos de conhecimento: ou sabemos nós mesmos
ou sabemos onde podemos obter informação
(Samuel Johnson, XVIII)

XV) Apêndices: tabelas, unidades, reagentes, biografias

Caso conhecêssemos completamente tanto os princípios dos metais


como os diferentes hábitos de seus solventes, estaríamos aptos a dizer
de antemão que efeito cada um deveria produzir; mas a experiência
nos convence de que não podemos prever com certeza os eventos
(Sven Rinman, 1774)
CAPÍTULO I

A História do Microscópio

Utilissime est cognosci veras inventionem memorabilium origines


(Leibnitz)

A Natureza da Luz especulação metafísica ao da pesquisa experi-


mental; como veremos adiantes, só com a
A história do microscópio é a história Renascença superou-se o dogmatismo aristote-
da humanidade procurando entender e liano. Em todo caso, a teoria táctil da luz não foi
aperfeiçoar a visão. definitivamente abandonada até 1000 d.C., sob
Já na antigüidade, as primeiras teorias da influência do filósofo arábico Al-Hazen.
luz eram teorias da visão. Duas correntes Al-Hazen é um dos clarões nas trevas da
procuravam explicar a percepção visual: a teoria Idade Média1. Desde Seneca (65 d.C.), que
“táctil”, segundo a qual o olho emitiria um sugeriu o uso de globos de vidro para aumentar
sensor, raios ou partículas, a serem refletidos imagens e concentrar a luz, e Ptolomeu (150
pelo objeto; alternadamente, admitia-se que o d.C.), que estudou e mediu a refração, nada
objeto emitisse algo (hoje em dia diríamos “um aconteceu até o século X. Al-Hazen, filósofo,
sinal”) percebido pelo olho. Ambas teorias eram físico e sobretudo médico, descreveu as
correntes na Grécia por volta de 500 a.C. Platão, propriedades de refração do cristalino, estudou
em 400 a.C. postulava “partículas sutis” emitidas a anatomia do olho e analisou corretamente a
pelo olho e refletidas pelo objeto; mas admitia câmara obscura.
também que os dois mecanismos pudessem agir Em 1267, Roger Bacon discutiu refração
em conjunto... em lentes, influenciando a invenção dos óculos,
Ainda que em Euclides (300 a.C.) possam mencionados pela primeira vez em Veneza em
ser encontrados os inícios da ciência da ótica, a 1300. Mas o surgimento dos óculos justamente
antiga Grécia não era propícia ao desenvolvi- nesta cidade, pode também estar relacionado
mento das ciências físicas. Com raras exceções, com os relatos de Marco Polo, segundo os quais
como Arquimedes, preferia-se o caminho da os chineses do século XIII os conheciam.

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Se considerarmos a Idade Média como um período cronológico; porque a civilização sarracena não era parte das
trevas da Europa Central.

A História do Microscópio I.1


PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
No século XVI, como uma das manifes- originando a umbra e a penumbra. Desfazia-se
tações da Renascença, desenvolveu-se a portanto o mais forte argumento newtoniano
investigação experimental na busca do conheci- contra a teoria ondulatória.
mento, iniciando a época da física clássica. Bertolinius descobriu em 1669 que objetos
No século XVII sabia-se que a vistos através de um cristal de calcita apareciam
propagação da luz podia ser representada por duplos. Este fenômeno foi rapidamente interpre-
raios. Qual era, no entanto, a natureza destes tado em termos da polarização da luz, cuja teoria
raios? ondas ou corpúsculos? como pode a luz, foi desenvolvida por Malus e por Fresnel.
como forma de energia, ser transferida de um Polarização não pode existir em ondas longitu-
lugar para outro? Esta controvérsia dominou o dinais. Newton, que só postulava este tipo de
cenário da ótica durante os próximos séculos, e onda, considerava este fato um forte argumento
a solução que aceitamos hoje, na verdade adicional contra a teoria ondulatória.
remonta ao sábio e conciliador Platão: é um Huygens propôs em 1678 uma teoria
pouco de cada... ondulatória para a luz, baseada em vibrações
Newton 2 foi o grande paladino da teoria transversais. É a vertente das águas: apesar de
corpuscular. A propagação linear da luz constitui, ainda ligado timidamente a entidades discretas
no seu entendimento, uma barreira intranspo- - Huygens imaginou pulsos periódicos
nível para a teoria ondulatória. No entanto, foi irregulares - começou-se a montar um arcabouço
ele próprio que estudou a interferência, capaz de racionalizar toda a ótica, pelo menos
fenômeno que pode tipicamente ser descrito em pelos próximos dois séculos.
função desta teoria. Como consequência, propôs No início do século XIX, Thomas Young
Newton que a luz consistiria de corpúsculos, aos mostrou como esta teoria ondulatória poderia
quais está associada uma vibração, seja interna ser usada para explicar alguns dos fenômenos
própria, seja controlada por vibração ou ondas descritos por Grimaldi e Newton. A proposta
no meio em que se propaga. de Huygens de pulsos irregularmente emitidos
A teoria corpuscular foi geralmente aceita (e que, sabemos hoje, não está errada) foi
durante o século XVIII, sem dúvida devido à abandonada em troca do conceito de vibrações
enorme influência e ao imenso prestígio de contínuas. Young atribuiu variações de cores
Newton. Os textos clássicos dessa época, como a diferenças de frequência, e portanto de com-
Compleat system of opticks de Robert Smith primento de onda. A clássica experiência de
(1738), são baseados nestes conceitos. Foi só à Young (cujos resultados principais examina-
medida que começaram a surgir objeções remos mais tarde) engloba as facetas
experimentais irrefutáveis, que a percepção essenciais de sua contribuição à teoria ótica,
ondulatória, liderada por Huygens e Young, e seu estudo em detalhe em um compêndio de
ganhou projeção. ótica, é altamente elucidador.
Em 1665 foi publicado postumamente um Galileu já havia tentado medir a velocidade
livro de Grimaldi descrevendo seus trabalhos da luz. O insucesso da experiência, que requer
sobre difração. Foi o primeiro a chamar a recursos muito além dos disponíveis na época,
atenção para o fato de que os limites das não deve mascarar a genialidade de sua concepção
sombras não são exatamente deter minados da velocidade finita da luz. Em 1676, Römer
pelos caminhos retilíneos dos raios entre as conseguiu medi-la, usando distâncias astronômi-
fontes e os anteparos onde são observados, cas, com um erro bastante pequeno em relação

2
Veja notas biográficas no Capítulo 15 (Apêndices)

I.2 Microscopia dos Materiais


PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
ao valor hoje aceito. Mas só foi quase 200 anos luminoso. A descoberta deste ponto, por Fresnel
depois que Fizeau e Foucault conseguiram, e Arago contribui para o triunfo, pelo menos
independentemente, medir esta velocidade no temporário, da teoria ondulatória,
laboratório. Porque frisar isto? Porque a disponi- Esta teoria, formulada em termos de um
bilidade de uma experiência compacta permite meio com propriedades de um sólido elástico,
medir a velocidade da luz em diversos meios, e que permeia todo o espaço, mas que é modificado
elucidar outra controvérsia capaz de distinguir a pela matéria, explicava razoavelmente interfe-
teoria corpuscular da ondulatória. rência, difração e polarização. Perduravam no
Já no século II Ptolomeu mediu e tentou entanto certas dificuldades, como detalhes nos
achar, sem sucesso, a lei da refração. O problema fenômenos de interface de dois meios. Estas
foi resolvido quase que simultaneamente por dúvidas foram finalmente conciliadas pela teoria
Snell e Descartes. Em 1637 Descartes publicou eletromagnética da luz, proposta por Maxwell
seu ensaio Dioptrika que contém sua tentativa como parte da teoria geral da eletricidade e do
de explicar a lei da refração, e que leva à magnetismo. A Figura 01.01 ilustra a faixa de
conclusão de que a luz se propagaria mais luz visível como uma parte, aliás mínima, do
facilmente através de um meio mais refratante. espetro de radiações eletromagnéticas.
Isto está em oposição à teoria de Fermat de que a O fim do século XIX parecia portanto
luz se propagaria ao longo do percurso de tempo indicar a vitória final da teoria ondulatória da
mínimo. Aplicada à lei da refração, esta condição luz. Esta calma superficial era parte da sensação
implica em que a velocidade deveria variar geral de que a física estava entendida e
inversamente com o índice de refração, o que é encerrada, e de que o edifício concluído repou-
correto. Tanto a teoria corpuscular como a sava sobre os alicerces de Newton e Maxwell. A
ondulatória podem aceitar a lei de Snell sem virada do século trouxe obser vações que
problemas - mas a primeira prediz aumento de determinaram o surgimento, no nosso século XX,
velocidade na água, a segunda diminuição. Os de uma nova era na física.
resultados das medições davam, sem ambigüi- No caso da ótica, foram inicialmente as
dade, novos argumentos para a teoria ondulatória. observações de fotoeletricidade que criaram
Poisson tentou condenar a teoria dificuldades para a teoria. A energia possuída
ondulatória argumentado que no meio da sombra por um elétron emitido por um átomo sob
de um anteparo circular, deveria haver um ponto excitação da luz, excede em muito o que ele

Figura 01.01 - Espectro eletromagnético

A História do Microscópio I.3


PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
poderia receber desta onda, segundo a teoria interpretação é o seu uso como lentes.
eletromagnética. Einstein sugeriu que a energia Aristóteles, no século IV a.C. referiu-se
não está uniformemente distribuída no feixe, claramente a uma lente, e Seneca descreveu o
mas concentrada em fotons que se propagam uso de globos de vidro para aumentar imagens.
como partículas. Esta sugestão reforçava as A partir do século XIV lentes começaram a ser
idéias independentes de Planck, que havia sido usadas comumente para corrigir defeitos de visão
levado a propor a quantização da energia para e como dispositivos de aumento.
explicar a radiação térmica, e resultou na Este uso atingiu seu apogeu com
consolidação da ótica quântica. Leeuwenhoek, que provavelmente deve ser
O físico moderno precisa, através de uma considerado o primeiro verdadeiro microscopista.
teoria unificada, explicar duas classes radical- Detentor de uma técnica extremamente
mente diferentes de observações. De um lado, desenvolvida, levou o uso do microscópio simples
interferência, difração e polarização, adequada- (uma lente ou lupa) ao seu nível mais alto. Seus
mente explicadas pela teoria ondulatória. De outro microscópios eram individualmente feitos para
lado, enumeram-se as experiências que podem ser cada amostra e durante sua vida produziu
interpretadas em termos de fotons, como centenas, dos quais infelizmente só sobrevivem
absorção, fluorescência, e o efeito fotoelétrico. A nove definitivamente autenticados (Figura
teoria eletromagnética não é compatível com 01.02). Durante anos descreveu o micromundo
fotons, nem a teoria particulada admite à sua volta em uma série de cartas à Royal
comportamento periódico. Voltamos à situação de Society de Londres, de cuja qualidade de membro
Newton, e muitas sugestões de partículas com correspondente se orgulhava imensamente.
propriedades periódicas foram feitas no primeiro Alguns de seus “pequenos animais” são
quartel do século 20, e que culminaram com a examinados com aumentos de 300 vezes,
formulação de de Broglie em 1924. façanha considerável mesmo em comparação
A solução moderna, na forma da com alguns instrumentos modernos.
mecânica quântica, engloba energia e matéria.
A teoria não é simples, e só pode ser completa-
mente enunciada de forma matemática.
Portanto, não é frutífera a tentativa de um
modelo físico com analogias ao nosso mundo
cotidiano. Nesta teoria unificada, os fotons e
ondas surgem como concepções complemen-
tares e não rivais, cada uma apropriada a um
determinado contexto. É a dualidade partícula-
onda; nada é simples, nenhuma solução é
unívoca. Mas já não sabiam disto, muito antes
de nós, Huygens, Newton e Platão?

As origens do microscópio

Já na antigüidade havia tentativas de


reforçar a visão com auxílio de dispositivos
óticos. Nas escavações de Nínive foram encon-
trados pedaços de vidro polido cuja única Figura 01.02 - Microscópio de Leeuwenhoek

I.4 Microscopia dos Materiais


PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
O microscópio simples não é, no entanto,
um instrumento versátil ou cômodo nas mãos
do público em geral. Paralelamente ao
desenvolvimento do telescópio no século XVII,
surgiu o microscópio composto, constituído no
mínimo de uma lente objetiva e de uma ocular.
A invenção do microscópio composto é
controvertida. A maioria dos historiadores situa
sua origem na Holanda, por volta de 1600 e
mencionam Jansen ou Lippershey como
inventores. Sem dúvida, nos trinta anos
seguintes os holandeses tinham microscópios, e
em torno de 1620 Cornellius Drebbel demonstrou
um a Jaime I da Inglaterra.
Em 1609 Galileu fez seu primeiro Figura 01.03 - Microscópio de Hooke
microscópio. Há evidência de que em junho
daquele ano ouviu falar do trabalho dos
holandeses. Galileu interessava-se paralela-
mente por telescópios e microscópios, e em
1624 presenteou um de seus microscópios ao Os microscópios de Cuff representam um
príncipe Federico Cesi, o fundador da primeira patamar no desenvolvimento do microscópio, que
sociedade científica, a celebrada Academia dei só foi sensivelmente ultrapassado após um
Lincei de Roma. século. A grande fama dos produtos de Cuff
Convencionemos que a verdadeira história relaciona-se mais uma vez à sua divulgação em
do microscópio começa em 1625, ano em um livro: o célebre The microscope made easy,
Giovanni Faber cunhou o termo microscópio. publicado em 1742 por Henry Baker. Em
Os cem anos entre 1650 e 1750 podem consonância com o desenvolvimento experimen-
ser considerados como época do desenvolvimento tado pela mecânica fina em meados de século
mecânico do microscópio. O primeiro aperfeiço- XVIII, Cuff passou do uso da madeira e couro
amento foi a tentativa de facilitar a focalização, para o metal, e reuniu pela primeira vez em um
originando o tubo rosqueado dos microscópios instrumento focalização por parafuso, mesa para
de Hartsoeker e Wilson 3. Seguem-se duas amostras, espelho para luz transmitida e
concepções diversas, o tripé de Culpeper e o ped- refletida, que permitem equivalência com a
estal lateral articulado de Marshall. A partir deste disposição moderna.
último, e incorporando a lente de campo E, inevitavelmente, o rococó do século
introduzida por de Monconys, surgiu em 1665 o XVIII não poderia ter deixado de influenciar o
célebre microscópio de Hooke, Figura 01.03. Este microscópio. O instrumento construído pelos
é talvez o protótipo do microscópio moderno, não Adams para o Rei George III, em prata e
só pela sua construção, mas por sua íntima querubins, apesar de sua sofrível qualidade
ligação com a Micrographia, sem dúvida a mais ótica, merece a atenção da crônica histórica
famosa publicação de microscopia de sua época. (Figura 01.04).

3
A perfeita compreensão desta evolução só é possível à vista dos instrumentos típicos de cada época. Confira
por exemplo Palmer e Schiar, “Microscopes to the end of the XIX Century”, (The Science Museum, London),
HMSO, 1971.

A História do Microscópio I.5


PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
cromática. Em 1758 John Dollond obteve uma
patente para lentes acromáticas, mas o seu
sistema, que teve logo sucesso em telescópios,
é inadequado para as pequenas lentes do
microscópio. Quase simultaneamente, Dellabarre
propôs um microscópio acromático, que também
ainda não é satisfatório. Foi apenas em 1830
que Amici e J.J.Lister avançaram substancial-
mente na obtenção de objetivas acromáticas,
principalmente através da formulação, por este
último, da teoria dos pontos conjugados
aplanáticos. A introdução adicional, por Amici,
da lente de imersão de água consolidou o
substancial progresso das lentes acromáticas dos
meados do século.
Coube a Abbe a contestação de que
“aumentos cada vez maiores só dependeriam de
perfeição de fabricação de lentes”. Seus estudos
mostraram que havia uma limitação básica para
a resolução de um sistema ótico, relacionada ao
Figura 01.04 - Microscópio de Adams diâmetro da lente e ao comprimento de onda da
(Science Museum) luz. A figura de Abbe domina todo o
desenvolvimento das modernas lentes, sejam
A qualidade ótica dos microscópios não para microscopia ou para fotografia. A carreira
acompanhou o seu desenvolvimento mecânico. de Abbe também oferece outra faceta de
Em torno de 1750 recomendava-se ainda ao interesse histórico: é uma das primeiras vezes
pesquisador sério o uso da lente simples como que um industrial, Carl Zeiss contratava um
capaz de fornecer uma imagem superior à do cientista com o propósito deliberado de melhorar
microscópio composto, dito “instrumento con- seus produtos através de pesquisa básica e
fortável para os curiosos das ciências naturais”. aplicada. Os trabalhos de Abbe resultaram na
O grande problema eram as aberrações, concepção das lentes apocromáticas em 1887.
principalmente o cromatismo. Além de só for- Estas lentes oferecem padrões de qualidade ótica
necer uma pequena imagem central adequa- até então inexistentes, principalmente depois que
damente focalizada, esta estava envolta por Abbe, seguindo a sugestão de J.W.Stephenson,
um halo colorido que inviabilizava o estudo projetou a primeira lente de grande aumento de
de detalhes. Nos cem anos entre 1800 e 1900 imersão de óleo, ou homogênea. As lentes
o microscópio finalmente conheceu a matura- apocromáticas baseiam-se na disponibilidade de
ção ótica correspondente ao seu desenvolvi- uma série de vidros óticos de índice de refração
mento mecânico. e dispersão precisamente especificados. Esta
Tanto Huygens como Newton dedicaram- demanda, teoricamente postulada por Abbe, pôde
se ao cálculo e correção do cromatismo. Um erro ser preenchida através do desenvolvimento de
de Newton, no entanto, levou-o a propor que a uma série de vidros ao boro pela firma Schott/
correção era impossível. Em 1747 Euler expôs Jena. Todo o episódio da concepção e realização
este engano, e desenvolveu a teoria da correção das modernas lentes apocromáticas é um

I.6 Microscopia dos Materiais


PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
testemunho satisfatório da associação da baseados em séries de componentes óticos e
indústria, ciência e tecnologia, pela orquestração mecânicos, que permitem a composição do ins-
de esforços teóricos e práticos na realização de trumento mais adequado para cada aplicação.
um objetivo, e que ainda hoje mereceria o estudo
e admiração dos que se ocupam de transferência
de tecnologia. A Microscopia dos Materiais
A qualidade final atingia assim o seu
mais alto grau no início do século XX. Mas a A microscopia dos materiais é em grande
excelente correção das lentes apocromáticas parte a microscopia de amostras opacas. O seu
ainda se restringia a uma região central, domínio exigiu o desenvolvimento paralelo ao
limitando severamente o campo de visão do microscópio clássico, primordialmente voltado
utilizável. Boegehold desenvolveu a partir de para a biologia.
1938 as lentes planoapocromáticas, cujo grande O primeiro microscopista a examinar
campo de visão corrigido as tornam especial- metais foi Henry Power em 1664; a associação
mente importantes para a microfotografia. Men- do microscópio à ciência dos materiais não é
cionando ainda a introdução das camadas anti- nova. Já em 1753 Baker devotou quase metade
refletoras, para controle da luz difusa, vemos de sua obra “Employment for the Microscope” a
que em meados do século XX o microscópio sais minerais e outros tópicos inorgânicos.
fotônico atingiu praticamente a sua evolução Hooke, na disposição de seu famoso
final: fornece os aumentos máximos previstos microscópio contemplava a iluminação de
pela teoria, e os futuros progressos deverão amostra opacas, e incluiu muito do que se
apenas trazer melhorias marginais de poderia chamar de “materialografia” na sua
qualidade. Mas certamente não estão afastadas Micrographia (Figura 01.05).
as possibilidades de ampliar o uso do micros-
cópio ótico através de novas técnicas. A
microscopia de contraste de fase, proposta em
1934 por Zernicke abriu novos horizontes, em
especial na investigação biológica.
O desenvolvimento contemporâneo
caracteriza-se pela influencia das duas principais
correntes industriais do século: padronização e
ergonometria. Durante muito tempo era impos-
sível a combinação em um mesmo instrumento
de elementos óticos de diversos fabricantes. Nem
os diâmetros nem os comprimentos óticos eram
uniformes. O primeiro passo nesta direção foi
dado com a padronização da rosca das oculares
pela Royal Microscopical Society em 1867;
seguiu-se a fixação do tubo ótico em 160 mm
Figura 01.05 - Cortiça (Hooke)
(atualmente superada pelo desenvolvimento do
conceito de tubo infinito) e a normalização dos
aumentos nas séries DIN e ASTM. A partir dos Um progresso decisivo foi feito por
anos ’40, muitos fabricantes passaram a adotar Lieberkühn com a introdução do iluminador
projetos modulados para seus instrumentos, refletor vertical. Mas se tivermos que destacar

A História do Microscópio I.7


PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
uma figura como o criador da metalografia seria seu devido tempo, a simplicidade retorne
Sorby. Foi seu gênio que associou o iluminador e os fabricantes ofereçam uma combi-
de Lieberkühn, as novas objetivas acromáticas nação microscópio -câmara para ser
e as técnicas de ataque de Widmanstatten, nos usada confortavelmente por indivíduos
estudos com grande aumento da microestrutura que não tenham mãos crescendo do topo
do ferro, e que levaram à descrição da perlita. A de sua cabeça, e no qual fotografia é
data desses estudos, 1863, é frequentemente possível sem acrobacias. Poucas desco-
citada como o marco inicial da metalografia; sem bertas metalográficas foram feitas sem
dúvida, uma das razões do atraso de mais de 20 o estudo direto de amostras, no entanto
anos para sua publicação em 1887 remonta à nenhum homem pode sentar-se por trinta
dificuldade de imprimir fotos ou desenhos a minutos em um moderno metalógrafo
preço razoável. Seguiram-se em rápida sucessão invertido sem ficar com o pescoço,
os nomes dos desbravadores da microestrutura cotovelo, costas e cabeça doloridos”.
dos metais: Martens, Tschernoff, Roberts-Austen, Mas talvez este julgamento seja demasia-
Osmond, Troost e LeChatelier. Este último em damente severo; há 300 anos, o próprio Bonanni,
particular, gênio polivalente, associou impor- talvez já profeticamente ciente da polêmica que
tantes contribuições teóricas ao desenvolvimento iniciava, escrevia:
da técnica de metalografia. “Todos os tipos de microscópios devem
Philippe Bonanni foi provavelmente o ser examinados e os pesquisadores
primeiro a dispor, em 1691, os elementos de um devem usa-los com entendimento.
microscópio na forma de um banco ótico. Este Porque assim como o pintor não pinta
arranjo, incubado sem grande desenvolvimento com um só pincel, nem o escultor
durante dois séculos, teve nas mãos de trabalha apenas com um único cinzel,
LeChatelier consequências momentosas para a mas na verdade todas as obras de arte
metalografia e a microscopia dos materiais. são feitas com muitas ferramentas.
Através de prismas e espelhos a amostra é Acabemos portanto com as disputas
colocada no plano horizontal, repousando a acadêmicas, pelas quais os esforços de
amostra opaca diretamente sobre a mesa – é o alguns artistas para construir micros-
“microscópio invertido segundo LeChatelier”. cópios diversos, sejam condenados
Poucos temas são capazes de inflamar mais como inúteis”.
rapidamente uma reunião de metalurgistas do Alguns fabricantes, prudentemente,
que a discussão das preferências pessoais entre abstiveram-se de participar do debate, e
microscópios metalográficos e C.S.Smith, o grande dispuseram os mesmos elementos óticos
historiador contemporâneo da metalografia, tem segundo os dois arranjos. E modernamente, o
evidentemente fortes convicções sobre o assunto: desenvolvimento de câmaras fotográficas, ou
“O microscópio invertido foi, no entender mesmo digitais, compactas, e progressos
do autor, um desserviço aos metalogra- ergonômicos consideráveis, fizeram com que
fistas. Apenas para evitar o passo trivial esta polêmica se tornasse mais pitoresca do
de montar ou fixar a amostra, compli- que essencial.
cações mecânicas e óticas foram A luz polarizada desempenha grande
introduzidas que continuaram a evoluir papel em microscopia dos materiais. Provavel-
neste mostrengo, o moderno “metaló- mente o primeiro microscópio destinado
grafo”, um digno companheiro do especificamente a estudos com luz polarizada foi
automóvel de 1958. Esperemos que, no projetado por Amici em 1844. Este instrumento

I.8 Microscopia dos Materiais


PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
contém um número surpreendente de facilidades A carga dos elétrons determina que sejam
modernas. O grande desenvolvimento da influenciados por campos magnéticos e
cristalografia, mineralogia e petrografia do eletrostáticos, o que possibilita a construção de
século XIX determinou crescente uso da luz pola- lentes. O ano de 1926 pode ser considerado como
rizada a partir de 1860, e depois de 1880 o início da ótica eletrônica: Busch formulou a
diversas firmas passaram a fornecer tipos teoria de que campos magnéticos ou elétricos
comerciais. Destacam-se no desenvolvimento com simetria axial agem como lentes sobre
os nomes de Ehrenberg, Zirkel e Berek. Apesar partículas carregadas, como elétrons, e
de contínuos aperfeiçoamentos, só uma desenvolveu uma lente magnética. A possibili-
mudança radical foi introduzida no instrumento dade de construção de um microscópio eletrô-
durante a sua existência individualizada: o nico foi imediatamente percebida por diversos
polarizador, originalmente na forma do prisma pesquisadores, principalmente de grupos em
de Nicol foi substituído por elementos de Berlim, empenhados na construção de
Polaroid. Este material inicialmente concebido osciloscópios de raios catódicos. Dentre estes,
a partir da preparação de materiais pleocróicos Knoll e Ruska tomaram a dianteira, e rapida-
como o sulfato de iodoquinina sintetizado por mente desenvolveram o instrumento a ponto de
Herapath em 1852, foi desenvolvido por Land superarem, pela primeira vez em 1931, a reso-
a partir de 1935, e revolucionou a técnica do lução do microscópio com luz visível (Figura
uso da luz polarizada. 01.06). Durante a década de ’30, o instrumento
conheceu sucessivos aperfeiçoamentos, e à
véspera da 2a. Grande Guerra, iniciava sua
O advento da Microscopia Eletrônica comercialização pela firma Siemens.

Vimos que no começo do século XX, a


microscopia ótica havia atingido o limite de
resolução previsto pela teoria de Abbe. Uma vez
que a qualidade das lentes não oferecia mais
escopo para progresso, o único caminho para
conseguir maior resolução seria através da
utilização de radiações com menor comprimento
de onda. Em 1924 de Broglie formulou sua
postulação da dualidade onda-partícula para
elétrons, que lhes atribuia um comprimento de
onda equivalente a
Figura 01.06 - Primeiro microscópio eletrônico
h 150 de transmissão (Ruska e Knoll)
λ= λ=
2 mv V
onde λ é o comprimento de onda, V a tensão de Depois da Guerra, a microscopia eletrônica
aceleração dos elétrons , h a constante de Planck teve rápido desenvolvimento, principalmente na
e m, v a massa e velocidade dos elétrons. área biológica, cujas amostras se prestam
Portanto, a aceleração de elétrons a algumas facilmente ao exame por transmissão. Na área
dezenas de milhares de volts resulta em de materiais, o progresso foi mais lento, restrito
comprimento de onda da ordem de Ångstroms, inicialmente ao exame de perfís e de superfícies
da ordem das dimensões atômicas. por intermédio de réplicas. As primeiras

A História do Microscópio I.9


PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
micrografias eletrônicas de aços foram provavel- que o tempo exigido para uma exposição, de 20
mente obtidas por R.F.Mehl4 em 1940. A minutos, não fosse prático. Nos EEUU, foi
microscopia eletrônica de transmissão de mate- construído por Zworykin em 1942, o primeiro
riais, no entanto só desenvolveu-se rapidamente MEV utilizado para o exame de superfícies de
após a introdução das amostras finas por amostras, atingindo a resolução de 50 nm. Mais
Heidenreich e pelos trabalhos seminais de Hirsch uma vez, as prioridades do conflito mundial
e colaboradores em Cambridge, em torno de determinaram a interrupção destes trabalhos.
1960, na elucidação do mecanismo de contraste Em torno de 1950, Oatley em Cambridge
em amostras cristalinas. A resolução rapida- interessou-se em criar um grupo de pesquisa
mente superou em quase três ordens de grandeza em ótica eletrônica, e retomou o desenvolvi-
a do microscópio fotônico e o MET veio a tornar- mento do MEV. Foi então desenvolvido um
se o mais importante instrumento no estudo das instrumento com características modernas,
estruturas e defeitos cristalinos nesta escala. como utilização de elétrons secundários e
Atualmente, os constantes aperfeiçoamentos na retroespalhados, elucidação dos diversos
engenharia dos microscópios, aliada aos recursos mecanismos de contraste, e principalmente,
computacionais disponíveis tornam a resolução reconhecida a grande profundidade de campo
atômica, se não rotineira, pelo menos comum para o exame de superfícies rugosas. Em 1952,
em muitos laboratórios em todo o mundo. foi atingida a resolução de 50 nm, que uma
década depois havia sido reduzida de um fator
de cinco; era chegado o momento de
O advento da microscopia de varredura comercializar o MEV com a Cambridge Instru-
ment Company, a partir de 1965.
Até este ponto, examinamos a formação A comercialização teve seus momentos
de imagens no microscópio obtidas através de pitorescos: encomendada uma pesquisa de
lentes, ou seja, mantendo uma relação mercado, foi prevista a possibilidade de colocar
geométrica entre objeto e imagem. A partir da cerca de dez instrumentos por ano no mercado;
década de ’30 uma maneira diferente passou a até 1970 haviam sido vendidos 500, e estima-se
atrair a atenção dos microscopistas, incentivada haver, hoje, mais de 50.000 MEV’s em
pelo desenvolvimento do radar e da televisão. funcionamento no mundo! Em contradistinção
Nestes, a imagem é gerada mediante uma com o MET, o MEV ganhou rapidamente grande
varredura do espaço objeto, e mapeamento dos importância em microscopia de materiais, e
sinais obtidos em um plano imagem. A relação notadamente em fratografia. Para isto contribuiu
entre o objeto e a imagem é portanto temporal. também a sua aplicação na indústria eletrônica
Em 1935 Knoll descreveu pela primeira e como instrumento para microlitografia.
vez este conceito aplicado a um microscópio A partir de 1943, Castaing sob a
eletrônico de varredura (MEV). Pouco depois, orientação de Guinier em Paris, dedicou-se ao
em 1938, von Ardenne construiu um microscópio desenvolvimento de uma microsonda eletrônica.
eletrônico de transmissão no qual a aquisição Neste instrumento, um feixe colimado de elétrons
da imagem era feita por varredura, disposição excita a emissão de raios-X, que analisados
retomada muito mais tarde na forma do METV através da lei de Moseley, permitem análise e-
(mais conhecido pela sigla em inglês, STEM). lementar em um volume da ordem de 1µm3 do
Obteve um aumento da ordem de 8.000 X, ainda material. Inicialmente concebidos como dois ins-

4
A quem o autor, seu aluno, recorda com admiração e saudade.

I.10 Microscopia dos Materiais


PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
trumentos distintos, o MEV e a microsonda fo- Uma das primeiras, e até agora, a mais
ram progressivamente reunidos; a disponibili- importante, aplicação foi iniciada por Binnig e
dade destes recursos simultaneamente Rohrer, utilizando o efeito de tunelamento (efeito
consolidou definitivamente a posição do MEV quântico, segundo o qual uma pequena corrente
para aplicações como análise de falhas e desen- “tunela” através de uma fina camada de mate-
volvimento de tecnologias industriais. rial isolante). Varrendo a superfície de uma
Durante a década de ’90 verificou-se um amostra condutora com uma sonda de dimensões
importante progresso no MEV: o desenvolvimento atômicas, descreveram em 1982 o microscópio
dos trabalhos iniciais de Danilatos possibilitaram de tunelamento (STM), com o qual obtiveram
a criação do MEV de baixo vácuo, capazes de imagens de resolução atômica. Segundo eles
operar com pressões até algo acima da pressão próprios, consguiram algo que, “em princípio
de vapor da agua. Isto possibilita não apenas o nem deveria funcionar”. A rapidez com que fo-
exame de amostras úmidas ( como por exemplo ram reconhecidos e agraciados pelo Prêmio Nobel
biológicas, ou no estudo da corrosão), mas em 1986 atesta o enorme inpacto deste
também permitindo o exame de amostras não instrumento no desvendamento da estrutura de
condutoras de eletricidade, uma das limitações superfícies em dimensões atômicas, da maior
importantes dos instrumentos tradicionais. importância no limiar, em nssos dias, da
nanotecnologia. Pouco depois, Binnig e
colaboradores introduziram o microscópio de
As modernas microscopias força atômica (SFM), de concepção ainda mais
de varredura improvável, e que contornou a limitação do
exame apenas de amostras condutoras.
A formação da imagem do microscópio por Esta invenção iniciou a era dos
varredura foi provavelmente o desenvolvimento Microscópios de sonda de varredura (SPM),
mais importante ocorrido em microscopia no campo no qual se verificam atualmente os
século XX, introduzindo, ao cabo de quase quatro maiores desenvolvimentos de microscopia, e
séculos, um novo conceito na visualização de que trataremos em detalhe mais adiante. No-
microestruturas. vas modalidade são propostas continu-
Em princípio, cada fenômeno físico com o amente, e só a perpectiva histórica poderá
qual seja possível provocar uma resposta decidir, no futuro, quais deles terão impacto
localizada no objeto, e adquirir um sinal comparável com os grandes desenvolvimen-
correspondente, pode ser utilizado como base tos do século XX, na nossa busca de µικρο
para um microscópio. σκοπειν - ver o pequeno!

A História do Microscópio I.11


PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
CAPÍTULO II

A Teoria Básica da Microscopia

Felix qui potuit rerum cognoscere causas


(Virgilio)

A imagem microscópica: A imagem microscópica é caracterizada por


aumento, resolução e contraste três parâmetros: aumento, resolução e contraste.
Examinemos em detalhe os conceitos de
O objetivo da microscopia é a obtenção de aumento e de resolução (1).
imagens ampliadas de um objeto, que nos permi- Definimos o aumento linear para uma
tam distinguir detalhes não revelados a olho nu. lente ou um sistema ótico como a relação entre
A primeira pergunta que ouvimos do leigo o tamanho da imagem e a do objeto
ao ver um microscópio é: Qual é o aumento? Na
verdade, o aumento que tanto impressiona o usuário  = ’ ’
ocasional de microscopia, não é o parâmetro mais
importante a considerar. Parece-nos, à primeira em alguns casos, é útil definir o aumento angu-
vista, que se dispuséssemos de instrumentos lar. Demonstra-se que
perfeitos poderíamos examinar uma amostra com
aumentos cada vez maiores, e perceber detalhes  = ’ ’ = sen α sen α’
cada vez menores, até distinguir os átomos, ou
quem sabe, as partículas que os compõem.
Não é isto o que ocorre: existem limitações A resolução de um sistema ótico quantifica
físicas que determinam a menor distância entre a sua capacidade de separar individualmente
dois pontos que permita distingui-los separada- detalhes adjacentes de uma imagem. O limite de
mente. A esta distância chama-se limite de re- resolução (δ) é a menor distância entre dois
solução, e um aumento maior não revelará pontos que ainda podem ser distinguidos. O
nenhum detalhe adicional da estrutura. poder de resolução é o inverso desta medida2.

1
As lentes serão estudadas em maior detalhe no Capítulo III; o autor pressupõe neste capítulo um conhecimento
elementar por parte do leitor.
2
O aluno deverá acostumar-se a distinguir “resolução” de “poder de resolução”: a primeira, a menor dimensão
que pode ser resolvida, em princípio, quanto menor, melhor; o poder de resolução refere-se à capacidade de um
instrumento resolver detalhes – o correto é falar em melhor e não maior poder de resolução.

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
A Teoria Básica da Microscopia II.1
fundo. Citando Veríssimo 4, não podemos ver
com clareza um “gato branco em campo de
neve”. O contraste surge quando a radiação
utilizada na formação da imagem interage com
a matéria, no caso a amostra. Além da simples
absorção ou reflexão de energia pela amostra
Figura 02.01 - Lente delgada
existem vários outros mecanismos de geração
de contraste em microscopia.
Na prática, os conceitos de resolução e de
contraste não são independentes. Principalmente
no exame visual de uma imagem, a percepção
de detalhes é bastante influenciada pelo
contraste. É preciso distinguir entre a capacidade
Figura 02.02 - Aumento angular de identificar a presença de um objeto (denomi-
nada de visibilidade) e a capacidade de resolver
detalhes do mesmo. Somos capazes de identifi-
Como já foi mencionado, e veremos em car pontos luminosos isolados muito pequenos
detalhe mais tarde, aumentos cada vez maiores quando sobrepostos a um fundo escuro – por
não importam em melhor informação: em exemplo uma estrela ou um pequeno furo em
princípio, podemos projetar a imagem de um um anteparo opaco iluminado por trás.
diapositivo em uma tela a centenas de metros Quantificamos contraste pela expressão
de distância, obtendo um imenso aumento. Mas
a partir de um certo aumento isto não trará   −  
nenhuma vantagem. O leitor poderá fazer a κ=
 
seguinte experiência: examine uma figura em um
jornal com lupas sucessivamente mais fortes (ou O olho humano é um importante sensor
um estereoscópio dotado de zoom) 3; verá que a em microscopia, e é interessante detalhar algo
imagem é constituída de pontos, e que inicial- sobre seu funcionamento.
mente o incremento de aumento revelará novos
detalhes; a partir de determinado momento, os A ótica da visão
pontos ficarão mais separados entre si, sem que
nenhuma nova informação surja entre eles. A O olho humano (Figura 02.03) funciona
isto denomina-se aumento vazio. como uma câmara, constando de um diafragma5,
Para que haja formação de uma imagem, de um sistema de lentes e de uma superfície
precisamos também de contraste. Denominamos receptora, sensível à luz 6. O mecanismo de visão
de contraste a capacidade de distinguir traços consiste na formação de uma imagem real do
característicos da estrutura sobre o plano de objeto sobre a retina.

3
Veja capítulo IV.
4
Erico Verissimo, Gato Preto em Campo de Neve, Globo, 1941.
5
A seguinte nomenclatura será adotada em todo o livro:
- diafragma: anteparo opaco, provido de um orifício, destinado a limitar o feixe luminoso em um sistema ótico;
- íris: diafragma com orifício continuamente variável;
- abertura: diâmetro ou ângulo de admissão do feixe luminoso.
6
Sensores de luz não biológicos, como películas fotográficas e dispositivos semicondutores serão estudados no
Capítulo XI.

II.2 Microscopia dos Materiais


PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
em dois regimes: visão fotópica, em condições
normais de claridade diurna, e visão escotópica,
em condições de baixa luminosidade. Os cones
são os responsáveis pela visão fotópica; sua
distribuição na retina não é uniforme, atingindo
Figura 02.03 - O globo ocular e a ótica da visão sua maior densidade na região da fóvea, onde
está a maior acuidade visual. A sensação de cores
é inteiramente dependente dos cones. Os
bastonetes não tem percepção de cores, e não
O globo ocular é dividido em duas regiões: podemos percebe-las na penumbra.
a anterior é formada por duas câmaras: câmara O olho tem grande capacidade de resposta
anterior, delimitada pela córnea e face anterior para a otimização da imagem. Além da
da íris, e a posterior, pela face posterior da íris e acomodação, vista anteriormente, verificamos
o cristalino. Ambas são preenchidas por um a adaptação às condições de luminosidade
líquido (humor aquoso). A região posterior, ambiental. Uma parte desta adaptação é devida
câmara vítrea, é preenchida por uma substância à abertura da íris, cujo diâmetro pode variar de
gelatinosa (humor vítreo). 2 a 8 mm. Isto permite uma variação de
A córnea e o cristalino formam o sistema intensidade de 82/22=16 que é no entanto muito
ótico do olho. A maior ação focalizadora é menor do que a gama entre luz do sol e das
exercida pela córnea. O cristalino age para estrelas, que somos capazes de perceber. A
complementar o foco da imagem do objeto sobre maior parte da adaptação é devida à variação
a retina. Diferentemente da disposição em uma de sensibilidade nos receptores da retina,
câmara fotográfica, onde a focalização é obtida através de alterações no seu mecanismo
pela variação da distância entre a lente e a fotoquímico. A velocidade de decaimento
película, o olho focaliza pela alteração da deste processo também é responsável pela
distância focal, e portanto do poder de aumento persistência da visão, que nos permite perceber
da lente7. A curvatura do cristalino é controlada o cinema ou a televisão sem bruxuleios.
por um conjunto de músculos que estão Qual é o poder de resolução do olho
relaxados quando observamos objetos longín- humano? Claramente, um fator a considerar é a
quos. À medida que aproximamos o objeto, a separação entre os receptores da retina. Para que
curvatura do cristalino é aumentada: a isto se dois pontos possam ser distintos, suas imagens
chama acomodação. Há um limite para esta devem impressionar no mínimo dois elementos,
acomodação, que no adulto sadio, é normal- separados por um terceiro. Na fóvea, a parte mais
mente de 250 mm, e constitui a “distância sensível da retina, esta separação é de 3 µm, o
mínima de visão distinta”. A habilidade de que levando em conta o diâmetro do olho, corres-
acomodação decresce com a idade, resultando ponde a cerca de 1' de grau. Este ângulo, a uma
na conhecida “vista cansada”, ou seja a distância de 250 mm, subtende aproximadamente
inabilidade do idoso de focalizar confortavel- 0,1 mm, que é a resolução esperada para exame
mente objetos próximos (presbiopia). visual sem auxílio de lentes.
A retina é um conjunto de fotoreceptores Conforme veremos mais adiante, a reso-
de estrutura muito complexa. Os principais são lução de um sistema ótico depende, dentre outros
de dois tipos: cones e bastonetes. A visão opera fatores, da abertura de sua lente. É interessante

7
Veremos mais tarde que este procedimento é tambem adotado em ótica eletrônica.

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
A Teoria Básica da Microscopia II.3
observar que no reino animal, a evolução ao longo de um raio, como um movimento
biológica mostrou-se coerente no dimensiona- ondulatório, ou como um fluxo de partículas,
mento dos olhos e no refino da estrutura da ou fótons. Cada um destes modelos revela-se
retina: em todos os casos, a densidade de especialmente adequado para explicar, com a
receptores evoluiu de maneira a aproveitar a re- maior simplicidade possível, um grupo de
solução disponível com o tamanho do olho, e propriedades da luz, e determina as três grandes
consequente abertura da íris. divisões da ótica, respectivamente ótica geomé-
O olho humano pode apresentar diversas trica, ótica ondulatória 9 e ótica quântica.
anomalias; dentre elas a miopia, a hiperme- Estas maneiras de enfocar o problema
tropia e o astigmatismo devem ser considera- não são teorias competitivas, mas sim comple-
dos no uso do microscópio. As duas primeiras mentares. Verifica-se que o conceito de energia
referem-se à formação da imagem focalizada de uma fonte fluindo ao longo de um raio pode
antes ou depois da retina, respectivamente. ser usada para explicar a propagação retilínea
Como consequência, em indivíduos míopes há da luz, e a formação de sombras; a reflexão, a
deficiência de visão de objetos longínquos, e refração e a dispersão. Se, no entanto, tentar-
na hipermetropia de objetos próximos. Isto mos isolar um raio por meio de uma série de
pode ser corrigido pela adição de óculos com pequenas aberturas, verificaremos que quanto
lentes esféricas divergentes ou convergentes menor esta abertura, menos a luz se comporta
de grau adequado. O astigmatismo refere-se à como um raio. Este comportamento é explicável
falta de simetria radial do olho, e conseqüente em termos da teoria ondulatória da luz, e
distorção da imagem. É corrigido pela inclusão permite tratar de difração, interferência, caráter
de óculos com lente de perfil cilíndrico, que eletromagnético da luz, polarização e dupla
introduz uma distorção igual e contrária à do refração. Finalmente, o conceito de pacotes
olho. Para o microscopista é importante discretos de energia é útil quando tratamos de
perceber que a correção esférica pode ser uma série de fenômenos, que incluem a
introduzida no ato de focalizar o microscó- interação de luz com a matéria, como por
pio; já a correção de astigmatismo é individual. exemplo origem dos espectros, efeito
Ainda que a recomendação formal seja de que fotoelétrico, lasers e coerência.
se deva usar sempre os óculos portados nor-
malmente ao trabalhar no microscópio, esta Ótica geométrica
exigência pode ser relaxada no caso de não
haver astigmatismo significativo8 Inicialmente, para compreender o funcio-
namento do microscópio, podemos avançar
As propriedades fundamentais da luz bastante utilizando a ótica geométrica, que se
baseia nas seguintes leis:
As propriedades da luz podem ser • a luz se propaga em linha reta
explicadas e classificadas considerando a • partes de um feixe luminoso podem ser
energia emitida por uma fonte de luz consis- tratados como raios individualizados
tindo seja como um fluxo contínuo de energia • as leis da reflexão e da refração

8
O leitor usuário de óculos deve examinar a receita e verificar o grau cilíndrico, se houver. Outra maneira é girar
a lente dos óculos em torno de seu eixo: se a imagem permanecer inalterada, não há grau cilindrico.
9
Este enfoque é também denominado de ótica física. Recebeu esta denominação quando se reconheceu que a
ótica geométrica deveria ser complementada pelo estudo da luz como uma onda. O advento da mecânica quântica,
certamente parte importante da física, tornou esta terminologia inadequada.

II.4 Microscopia dos Materiais


PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
Reflexão e refração Dispersão cromática

Quando um raio de luz incide na interface O índice de refração depende da cor da luz.
entre dois meios, parte é refletida de volta para o Por isso, luz branca sofre refração com separação
primeiro meio, e parte penetra no segundo, em suas cores básicas componentes. Este
sofrendo um desvio de direção. A estes fenômenos fenômeno é denominado de dispersão cromática
denomina-se, respectivamente, de reflexão e (Figura 02.05).
refração. Os raios são coplanares com a normal A dispersão varia para diversos meios
NN’ à interface MM’, e a direção dos raios transparentes, e veremos adiante que este fato
resultantes é dada por duas leis (Figura 02.04) é de grande importância no projeto de lentes e
• o ângulo de incidência é igual ao ângulo de correção das chamadas aberrações cromáticas.
reflexão Dado o índice de refração para uma série de cores
• Os senos dos ângulos de incidência θ e de (Tabela 02.01), quantificamos a variação de
refração θ’ têm relação constante para dispersão pelo índice de dispersão V
qualquer ângulo de incidência (Lei de Snell)

=
(η  − 1)
(η  − 1)
Como exemplo, consideremos dois impor-
tantes tipos de vidro ótico, e suas composições
típicas:
Crown - 72% SiO2, 18% K2O, 10% CaO
Flint - 45% SiO2, 12% K2O, 43% PbO
estes vidros tem, respectivamente, dispersão alta
e baixa, e utilizando-os em combinação podemos
aproximar uma neutralização mútua da
aberração cromática.

Figura 02.04 - Reflexão e refração

Determina-se experimentalmente que a


constante é a relação entre os índices de refração
dos meios considerados:
sen θ sen θ’= η = c v

O índice de refração η de qualquer meio


ótico é definido como
η= c / v

onde c é a velocidade da luz no vácuo e v a velo-


cidade da luz no meio e portanto η é sempre
maior do que a unidade. Figura 02.05 - Dispersão cromática

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
A Teoria Básica da Microscopia II.5
Tabela 02.01 - ÍNDICES DE REFRAÇÃO DE MATERIAIS PARA COMPONENTES ÓTICOS

Material ηc ηd ηf V
Vidro Crown 1,52042 1,52300 1,52933 58,7
Vidro Flint 1,71303 1,7200 1,73780 29,1
Quartzo fundido 1,45640 1,45845 1,46318 67,6
Fluorita 1,43252 1,43390 1,43707 95,4
Metilmetacrilato 1,49344 1,49613 1,50256 54,4
Raia C - vermelho λ = 656 nm
Raia D - amarelo λ = 589 nm
Raia F - azul λ = 486 nm

Figura 02.06 - Caminho ótico

Percurso ótico sobre a qualidade destas imagens. Para isto, é


necessário que passemos a considerar a teoria
O percurso de um raio luminoso em qualquer ondulatória da luz, e os fenômenos relacionados
meio é o produto da velocidade pelo tempo com a difração.
1 =  1  1 =  1 η1
definimos o percurso ótico como Propriedades do movimento ondulatório
∆ 1 = η11 =  1
e representa a distância percorrida pela luz no Uma onda é o resultado da propagação
vácuo, no mesmo tempo que percorre a distância de uma perturbação – os exemplos mais
no meio considerado. Caso a luz percorra diversos conhecidos resultam da queda de uma pedra em
meios sucessivamente, os percursos óticos são uma poça, ou uma onda sonora. Em todos os
aditivos (Figura 02.06) casos, corresponde a uma transferência de
∆ 0 = ( 1 +  2 +  3 ) energia da fonte. No caso da luz, temos uma onda
eletromagnética, com vibrações transversais
Ótica ondulatória constituídas por oscilações, definidas por vetores
elétrico e magnético, ortogonais e perpendicu-
Os conceitos de ótica geométrica vistos até lares à direção de propagação da onda. No caso
aqui nos permitirão examinar a maneira pela geral, a direção de vibração destes vetores varia
qual o microscópio produz uma imagem aumen- rapidamente, de maneira aleatória; poderá no
tada, porém sem fornecer nenhuma indicação entanto ser confinada a um plano, ou variar

II.6 Microscopia dos Materiais


PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
regularmente, quando falamos de luz polarizada. A onda se desloca ao longo de x com velo-
Por uma série de razões, associamos o vetor cidade v. Se considerarmos uma onda que partiu
elétrico aos fenômenos óticos, e nos referiremos da origem no tempo –t, terá, ao fim do tempo t,
ao mesmo quando tratarmos de vibração da luz. atingido a posição 2 em relação a uma nova onda
Uma onda eletromagnética é caracterizada
2π( −  )
pelos seguintes parâmetros  2 =  sen =  sen( θ − ϕ)
λ
- A - amplitude
- ν - frequência10 onde ϕ = 2π λ é denominada de
- φ - fase diferença de fase.
- p - polarização Denominamos de frente de onda o lugar
geométrico perpendicular à direção de propa-
Consideremos uma onda cujos desloca- gação, em que todos os pontos tem a mesma fase.
mentos y, em cada lugar x estão descritos por y A intensidade I = A2 exprime a vazão de energia
= f ( x ). De especial interesse é o caso em que através de uma área unitária perpendicular à
os deslocamentos sejam harmônicos direção de propagação da onda.

2 π
1 =  sen θ =  sen
λ

O deslocamento máximo A é a amplitude;


a distância entre pontos equivalentes da curva
(Figura 02.07 a) é o comprimento de onda λ; o
tempo entre dois pontos equivalentes é o período
τ. Os respectivos inversos são de utilidade: o
número de onda k = 1 / λ (que representa o
número de ciclos na unidade comprimento) e a
frequência ν = 1 / τ (que representa o número
de ciclos na unidade de tempo). Figura 02.08 - Luz polarizada

Figura 02.07 - a) Onda senoidal; b) Diferença de fase

10
Ainda que a frequência seja a característica mais fundamental, a luz é frequentemente descrita em termos de seu
comprimento de onda no ar (ou praticamente equivalente, no vácuo). Tradicionalmente, as unidades são o micron
(µm, 10-3 mm) ou o Angstrom (Å, 10 -7mm), preferindo-se modernamente o nanometro (nm, 10-6 mm, 10-9 m). De
acordo com o índice de refração do meio, o comprimento de onda muda - a frequência permanece constante.

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
A Teoria Básica da Microscopia II.7
Em determinadas condições, algumas Quando duas ondas coerentes interferem,
direções de vibração da luz podem ser as suas amplitudes são aditivas. Como exemplo,
suprimidas ou favorecidas. No limite persiste a intensidade resultante da interferência de duas
apenas a vibração em um plano, originando-se ondas de mesma amplitude e de mesma fase
a luz plano-polarizada. Luz polarizada é im-
portante recurso para geração de contraste em I1 = a2 2 =  2 1+ 2 = ( +  )2 = 4 2
microscopia, e será tratada em maior detalhe
no capítulo IV. ou seja quatro vezes a intensidade de cada onda
original. Ondas coerentes que não estejam em
Coerência fase deverão ter suas amplitudes somadas
vetorialmente. A intensidade resultante poderá
Um feixe de luz gerado por um filamento então variar no intervalo 0 < I < 4a2. No caso
aquecido ou por descarga elétrica (mas não por de ondas incoerentes, elas não interferem, e a
um laser!), é constituído de pulsos aleatórios intensidade resultante é simplesmente a soma
emitidos por cada átomo em episódios das intensidades individuais
independentes entre si, com mudanças bruscas
de fase. Deste modo, quando a luz é colhida de 1 =  2 2 =  2 1+ 2 = 1 + 2 = 2 2
duas fontes independentes (que podem ser duas
regiões distintas de uma mesma lâmpada) os
dois feixes não mantém entre si uma relação de O princípio de Huygens
fase constante. Tais fontes luminosas são
chamadas de incoerentes. Quando uma abertura em um anteparo é
Se, no entanto, a luz de uma mesma fonte iluminada, projeta-se uma sombra. Esta sombra
é dividida em dois feixes (por exemplo, por é nítida para uma abertura larga, mas seus
reflexão parcial, Figura 02.09) estes mantém contornos tornam-se difusos à medida que
uma relação de fase constante entre si, e poderão diminuímos o tamanho da abertura, e a
interagir ocorr endo interferência quando iluminação estende-se para a região que não está
superpostos. As condições para esta interação diretamente exposta ao raio incidente. A este
constituem a chamada coerência. Ondas são fenômeno é resultante da ocorrência de difração.
coerentes quando as seguintes condições são Huygens propôs que cada ponto da frente de
satisfeitas: onda incidente funcionasse como uma nova
- mesmo comprimento de onda fonte, gerando ondas esféricas (Figura 02.10).
- origem de um mesmo ponto da fonte Estas novas fontes são coerentes entre si, e a
luminosa frente de onda depois da abertura é o resultado
- mesma direção de polarização da combinação de todas estas ondas secundárias.

Figura 02.09 - Interferômetro Figura 02.10 - Princípio de Huygens (Gifkins)

II.8 Microscopia dos Materiais


PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
Este cálculo mostra que a onda se propaga na Quando ∆ for um número inteiro de comprimen-
região da sombra geométrica da abertura, e que tos de onda ocorrerá um máximo para
o efeito é tanto maior quanto menor a abertura.
=
λ ( + 1 2 )λ
e um mínimo para  =
 
A experiência de Young
Deduzimos portanto que a separação entre as
A experiência proposta por Young está franjas é λ   : diretamente proporcional ao
descrita na Figura 02.11. A primeira abertura, comprimento de onda e inversamente proporci-
em conjunto com a fonte F, ilumina as abertu- onal à distância entre as aberturas da grade de
ras A e B que passam a funcionar como fontes difração. É interessante também notar que, se a
coerentes, cujas ondas interferem para disposição da experiência for simétrica, a
produzir um conjunto de franjas de interferên- intensidade será zero em cada mínimo, e o dobro
cia no anteparo T. A intensidade no ponto P da soma das intensidades de A e B em cada
depende claramente da diferença de percurso máximo. Isto ilustra que evidentemente não há
∆ =  −  =  . A distância D é muito maior ganho de energia por difração e interferência,
do que d ou x e ACB é praticamente um triângulo mas apenas uma redistribuição, como pode ser
retângulo. mostrado pela integração da energia total que
chega ao anteparo T.

 ≈  tan θ ≈

Difração por uma fenda

Consideremos agora a difração de um raio


luminoso por uma fenda retangular. Na verdade,
estaremos interessados na difração por um
pequeno orifício, que estenderemos mais tarde
para o caso de uma lente iluminada por um feixe
de luz. Mas o tratamento matemático para o
caso de uma fenda é muito mais simples; o
argumento seguinte é aproximado, mas ilustra
Figura 02.11 - A experiência de Young os princípios envolvidos11 .

Figura 02.12 - a e c) Difração de Fresnel; b e d) Difração de Fraunhofer

11
Os interessados em tratamento rigoroso poderão consultar um texto avançado de ótica (Jenkins and White,
1976) sobre difração de Fraunhofer e de Fresnel.

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
A Teoria Básica da Microscopia II.9
λ
Devemos examinar dois casos distintos: A posição do primeiro mínimo é senθ = e como

quando os raios têm origem pontual (difração
λ
de Fresnel), ou quando o feixe é paralelo (fonte θ é pequeno θ ≈

no infinito) (difração de Fraunhofer) (Figura
02.12). Trataremos em mais detalhe desta A extensão deste resultado ao caso da
última, pela sua importância em microscopia. figura de difração formada por ondas planas
No caso da difração de Fraunhofer lentes através de uma abertura circular é bem mais
convergentes asseguram a incidência paralela da complexa, e foi desenvolvida por Airy. Demonstra-
luz (L1), e formam a figura de difração no plano se que a expressão anterior passa a ser
focal de L2. De acordo com o princípio de
λ
Huygens, cada ponto da abertura age como fonte sen θ = 1,22

secundária. Notar que no caso da difração de
Fresnel, cada ponto do anteparo recebe um raio e a figura, denominada Disco de Airy consiste
de cada fonte secundária, e portanto representa em um disco luminoso central, cercado de franjas
a imagem da abertura. Já no caso da difração de mais fracas (Figura 02.13).
Fraunhofer a lente L2 focalizará no anteparo O difratograma de Fraunhofer de um objeto
todos os raios difratados na mesma direção. O é a sua transformada de Fourier (conversamente,
perfil das intensidades resultantes é semelhante a imagem do objeto é a transformada do difrato-
nos dois casos; no caso da difração de Fraunhofer grama). Esta propriedade é muito usada para
tem a forma calcular a estrutura de um cristal a partir de seu
difratograma de raios-X, e como veremos mais
sen β π
 = 0 onde β= e tarde, tem larga aplicação em difração de elétrons.
β λ
Consideremos a difração de uma frente de
2 onda no plano OB. A amplitude em um ponto y
sen β
 =  2 =  02 é Ay, e de um elemento dy é Aydy. A diferença de
β
fase de uma onda difratada neste elemento,
relativa à origem O, é
∆ = (2π λ ) sen θ
a amplitude da onda na direção indicada é

  = exp[(ω + ∆ )] = [  exp(∆ ) exp(ω )]

Figura 02.13 - Disco de Airy Figura 02.14 - Difração

II.10 Microscopia dos Materiais


PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
O termo em colchetes [ ] é a amplitude, e a am- A resolução de um sistema ótico:
plitude total para toda a frente de onda na o critério de Rayleigh
direção θ é
 ∞ Definimos anteriormente o limite de re-
∫ ∫
 =   exp(∆) =   exp(∆ ) = solução de um instrumento ótico como a menor
0 0 distância entre objetos capazes de gerar
∞ imagens distintas. Estamos agora em condições
∫
0
 exp(2π sen θ) de estudar a resolução de forma mais
quantitativa. Inicialmente, examinaremos dois
sabemos que a transformada de Fourier se de- objetos luminosos independentes: o problema
fine por foi inicialmente tratado em relação ao telescópio
∞ na resolução da imagem de estrelas, que são


 ( ) = (ν) exp(2πν )ν e fontes incoerentes; mas também tem aplicação
0 em microscopia de fluorescência, onde cada
∞ elemento da amostra é excitado individual-

(ν) = (  ) exp(−2πν )
0
mente. Nosso argumento, que mais uma vez
introduz simplificações para facilitar a clareza,
portanto A e Ay são mutuamente transformadas é o seguinte.
de Fourier, onde as variáveis complementares são Consideremos dois objetos pontuais,
y e k*sen θ. originando cada um a imagem descrita na Figura
02.16. À medida que aproximamos estes objetos,
Objetos periódicos: a grade de difração suas imagens passarão a sobrepor-se, e
finalmente não será mais possível dizer se há
Vamos agora examinar o caso de uma dois objetos ou um só, ou seja, se estão resolvi-
estrutura periódica iluminada por um feixe de dos. Vimos anteriormente que a resolução está
luz; o exemplo selecionado é a grade de difração, muito relacionada com o contraste da imagem,
que pode ser vista como uma série de fendas e depende também das características do recep-
iluminadas por luz coerente. A figura de difração tor da imagem, por exemplo, o olho humano. A
de Fraunhofer tem a propriedade de que ao definição deste limite é portanto algo arbitrária
deslocarmos lateralmente a fenda ela não muda e subjetiva, mas normalmente aceita-se o critério
de posição, que é determinada pelo eixo da lente proposto por Rayleigh. Este critério sugere que
L2; portanto veremos simplesmente a superpo- duas figuras poderão ainda ser distinguidas
sição de várias figuras, aumentando a quando o máximo central de uma coincidir com
intensidade e a nitidez. o primeiro mínimo da outra. A intensidade re-

Figura 02.15 - Difração por grade periódica Figura 02.16 - Resolução de um sistema ótico

A Teoria Básica da Microscopia II.11


PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
sultante entre os dois máximos cairá então a pequena em relação às energias de ligação entre
cerca de 75 %, que é perfeitamente aceitável pela átomos, podemos usar propriedades macroscó-
visão humana. No caso da resolução de dois picas para explicar a reflexão, absorção e trans-
pontos luminosos independentes por uma lente missão da luz. Para fótons mais energéticos,
temos (Figura 02.17): devemos considerar a natureza atômica da
matéria, e as energias intra-atômicas, quando o
efeito quântico domina certos processos de
emissão e recepção.

Elétrons: partículas ou ondas?

Uma consequência do desenvolvimento da


mecânica quântica foi a percepção de que um feixe
de partículas pode ser associado a uma onda.
Figura 02.17 - O critério de Raleigh
L. de Broglie imaginou que uma vez que
ondas de luz podem ser consideradas como feixes
de fótons, feixes de elétrons poderiam também
ser tratados como ondas. Postulou que ao elétron
estaria associado um comprimento de onda
Ótica quântica λ =   =   
lembrando que uma massa m e, de carga e
A concepção da luz como onda eletromag- acelerada por um potencial V obedece a
nética, que parecia interpretar com tranquilidade
2
as suas propriedades, sofreu forte abalo no início  2 = 
do século XX, quando os fenômenos de emissão
da luz, e sua interação com a matéria, passaram 
λ=
a ser estudados em detalhe. A interpretação de 2  
Einstein para o efeito fotoelétrico em 1905
mostrou que a energia da luz não é distribuída e considerando o valor das constantes vem
uniformemente na forma de uma onda, mas sim
1,5
concentrada em pequenos pacotes, ou quanta. λ= (λ em nm, V em volt)

Originalmente propostos por Planck, estes
quanta receberam para a luz a denominação de Elétrons diferem de fótons por possuírem
fótons, resgatando portanto uma proposição de carga e massa. Há repulsão entre os elétrons do
Newton 200 anos antes... feixe, o que modifica as leis da ótica geométrica.
Esta dualidade entre onda e partícula está Por outro lado, a massa sofre modificação
inevitavelmente associada aos fenômenos da luz, relativista em relação à massa em repouso me0
e não é frutífera a tentativa de visualiza-las em
 0
um único modelo macroscópico. Manteremos  =
1−  2
2
sempre presente que ondas eletromagnéticas
poderão em alguns casos agir como fótons, e e para acelerações (tensões) elevadas a expressão
elétrons frequentemente serão tratados como passa a ser
ondas. A energia do fóton é proporcional à 1,5
λ=
(1 + 10 − )
6
frequência (E = hν). Quando esta energia é

II.12 Microscopia dos Materiais


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A Tabela 02.02 mostra que para altas decresce proporcionalmente à espessura
tensões de aceleração o efeito relativista é impor- atravessada:
tante, e deve ser levado em conta para os

modernos microscópios eletrônicos de alta tensão. = − κ   =  0  −κ

Ambos tratamentos estão corretos, suas
vantagens dependem dos fenômenos considera-
dos. Esta dualidade será frequentemente Absorção e espalhamento
invocada, tratando eventos seja como interferên-
cia seja como espalhamento. Absorção é a principal responsável pela
atenuação. Representa o desaparecimento da luz,
cuja energia é transformada em calor, ou
Tabela 02.02
COMPRIMENTO DE ONDA DE ELÉTRONS absorvida pela excitação de uma espécie atômica
ou molecular da amostra, originando a fluores-
kV λ (nm) λr (nm) v/c cência. Todos os materiais absorvem a luz,
20 0,86 0,86 mesmo, em pequeno grau, os transparentes. Esta
60 0,50 0,49 absorção pode ser uniforme sobre todo o
100 0,39 0,37 0,55 espectro, e falamos de absorção generalizada.
200 0,27 0,25 Em outros casos observamos absorção seletiva,
500 0,17 0,14 0,86 alguns comprimentos de onda sendo absorvidos
1000 0,12 0,09 0,94 muito mais fortemente.
10000 0,04 0,01 0,99 A cor dos materiais observados em trans-
missão depende claramente da absorção
seletiva. Um material iluminado por luz branca
e que absorve seletivamente determinada cor,
Interação da energia com a matéria será visto com sua cor complementar. Para o
caso de materiais opacos, o processo é mais
É claro que tudo o que vimos até agora complicado. A grande maioria dos materiais
resulta da interação entre a luz, objetos e lentes, coloridos apresenta coloração pigmentada, na
e portanto da energia com a matéria. No entanto qual a luz penetra uma certa distância durante
podemos estudar esta interação de maneira a qual sofre absorção seletiva, e por um
mais geral, considerando a ação da radiação mecanismo (que pode ser reflexão, refração,
eletromagnética (luz ou raios-X) e, por razões difração ou espalhamento) emerge da superfície
que se tornarão aparentes mais tarde, a de um a sua cor complementar. Estes materiais apre-
feixe de elétrons. sentam a mesma cor, seja em reflexão seja em
transparência através de uma seção fina. Outros
Interação da luz com a matéria materiais, principalmente metais, apresentam
coloração superficial devido à sua alta
Atenuação: lei de Lambert refletividade. Esta refletividade é seletivamente
Quando um feixe de luz se propaga em maior para certas cores, e apresentam uma cor
um material, sua intensidade decai gradual- em reflexão e outra em transmissão. O exemplo
mente. Esta atenuação pode ser devida a dois clássico é o ouro, que em finas lâminas trans-
fenômenos, absorção e espalhamento. parentes apresenta coloração azul.
A atenuação é descrita pela lei de Lam- No caso de meios não homogêneos,
bert, segundo a qual a intensidade da energia devemos considerar o efeito do espalhamento.

A Teoria Básica da Microscopia II.13


PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
Este é um efeito muito geral, que envolve o Neste caso, a frequência da luz emitida é
desvio de uma partícula de sua trajetória, com menor do que a da luz absorvida (lei de
ou sem diminuição de energia. Ocorre para fótons Stokes). Este comportamento constitui a fluo-
e elétrons, e os efeitos variam largamente de rescência, importante mecanismo de
acordo com as dimensões, energias e massas dos contraste, e que será estudado posterior-
sistemas considerados. No caso especial da luz, mente em detalhe.
o espalhamento ocorre em toda a gama, desde
partículas microscópicas, passando por colóides, Reflexão e transmissão da luz
até átomos da atmosfera. Dois exemplos
extremos são bem conhecidos: a visualização de Anteriormente, vimos que a luz ao
partículas de poeira por um raio de sol em um incidir sobre um meio isotrópico transpa-
quarto escuro, e a coloração azul do céu e rente sofre reflexão, refração e polarização.
vermelha do pôr do sol. Em qualquer caso, Estes processos são geometricamente descri-
contribui para atenuar a intensidade do feixe de tos pelas leis de Snell e Brewster. A teoria
luz, e podemos considerar a constante de permite investigar as características da luz
atenuação κ constituída de duas partes, κa e κe, refletida e transmitida por um material em
e escrever função do comprimento de onda, estado de
 =  0  −( κ + κ  ) polarização e ângulo de incidência. Devido
à sua grande importância na interpretação
Um tratamento completo da absorção e do de observações materialográficas, incluímos
espalhamento requer argumentos de ótica aqui alguns resultados e conceitos - um
quântica que excedem ao escopo deste livro. tratamento completo, de grande complexi-
Qualitativamente, existem uma série de possi- dade, pode ser obtido em obras especializa-
bilidades quando um fóton colide com um átomo das citadas na bibliografia.
ou molécula12: Veremos inicialmente o comportamento
• espalhamento de Raleigh, resultante de mais simples de um material dielétrico, por
colisão elástica, tendo a luz espalhada a exemplo uma cerâmica ou um polímero. Consi-
mesma frequência do fóton incidente; deremos um feixe incidente de luz não polari-
• absorção de um fóton com a energia exata de zada - e os componentes do vetor E paralelo ao
excitação do átomo ou molécula. Para gases, plano de incidência13 e perpendicular ao mesmo
a energia é estreitamente determinada, e (denominados de componentes p e s (do alemão
origina faixas de absorção. À medida que o senkrecht, perpendicular)). O comportamento da
meio fica mais compacto, a proximidade de luz neste caso é descrito pelas leis da reflexão
moléculas modifica estas energias de de Fresnel:
excitação, e as faixas de absorção se
transformam em bandas. Devido à conside-  
sen(θ − θ’) tan(θ − θ’)
rável interação entre as moléculas, a energia =− =
 sen(θ + θ’)  tan( θ + θ")
é rapidamente dissipada, consistindo a
absorção propriamente dita;
 2 sen θ’cos θ  2 sen θ’cos θ
• o átomo excitado pode voltar ao seu estado = =
normal através de um estado intermediário.  sen(θ + θ’)  sen( θ + θ’) cos(θ − θ’)

12
uma série de outras possibilidades pode ocorrer (espalhamento inelástico, efeito Raman, lasers, que não serão
tratados aqui).
13
definido como o plano que contém o feixe incidente e a normal à interface.

II.14 Microscopia dos Materiais


PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
Figura 02.18 - Refletância de dielétricos e de metais

que denotam a amplitude de E da luz incidente obras de referência. De um modo geral, conclui-
(I), refletida (R) e refratada (transmitida, T) nos se que a luz refletida permanece plano-polari-
dois planos de vibração. Observação dos resulta- zada, mas com o plano de polarização alterado.
dos para um dielétrico de η = 1,5 (Figura 02.18) A alta absorção e refletância dos metais
revela dois aspectos importantes: a amplitude do está relacionada à sua condutividade elétrica:
vetor p é nula no ângulo de Brewster, resultando os elétrons livres são excitados, oscilam e re-
em um feixe plano-polarizado; e os valores irradiam, originando a forte reflexão metálica:
negativos da amplitude denotam que o feixe um condutor perfeito seria também um refletor
refletido sofre uma mudança de fase de 180o14. perfeito. A intensidade transmitida é pratica-
As refletâncias podem ser calculadas a mente nula após percurso de uma pequena fração
partir das respectivas intensidades do comprimento de onda. Em dielétricos trans-
2  2 parentes, devido à ausência de elétrons livres, a
 =  = reflexão e absorção são relativamente baixas. A
 2  2
refletância de um metal depende não só da sua
o cálculo da refletância para incidência normal natureza, mas também do estado de sua
não é imediato; levantando a indeterminação superfície, do comprimento de onda e da direção
matemática, obtemos o importante resultado da luz incidente.
2 Estudos análogos aos anteriormente
2  η −1
= =   descritos para os dielétricos levam aos resulta-
2  η +1
dos da Figura 02.18. Obser ve-se que o
Aplicação ao exemplo do vidro de η = 1,5 indica componente Rp não assume valor nulo(não se
refletância de 4 %, confirmando o valor conhecido aplica a lei de Brewster). Contrariamente aos
da prática. dielétricos, e exceto para incidência normal, os
Este resultado pode ser estendido ao componentes p e s são refletidos com diferença
estudo da reflexão por um dielétrico de luz de fase, e a luz originalmente plano polarizada
originalmente polarizada. A complexidade deste passa a elipticamente polarizada. É possível
importante problema aumenta muito, e o desen- calcular a polarização elíptica do feixe refletido,
volvimento completo pode ser encontrado nas mas o problema é muito complexo, e explica em

14
Este resultado corresponde à reflexão por um meio mais denso, denominado reflexão externa; para o caso
oposto, não haverá inversão de fase.

A Teoria Básica da Microscopia II.15


PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
parte as dificuldades de interpretação de rável de tais efeitos ocorre quando um feixe de
observações de luz polarizada em microscópios elétrons, acelerado por um campo de alta tensão,
de reflexão. incide sobre uma amostra. Os sinais são
Finalmente, a refletância para incidência utilizados pelas diversas técnicas de microscopia
normal pode ser calculada como eletrônica para obtenção de imagens e
caracterização dos materiais (Figura 02.19) e
2 (η − 1) + κ η
2 2 2
= = podem ser elétrons ou radiação. Dois exemplos
2 2 2 2
(η + 1) + κ η
são bem conhecidos de todos: a imagem
e em geral varia consideravelmente com o com- luminosa de um tubo de televisão, e a radiação
primento de onda. emanada de um tubo de raios-X.
Quando uma substância absorve luz Os efeitos primários são espalhamento
suficientemente para dificultar o exame em luz elástico (mudança de direção sem perda apreci-
transmitida, mesmo em seções finas, o ável de energia e espalhamento inelástico (perda
tratamento anterior é inadequado. A teoria mais de energia com pequena mudança de direção).
geral inclui o efeito da absorção, no qual as Espalhamento elástico é causado princi-
substâncias transparentes são um caso particu- palmente pela interação com núcleos atômicos,
lar para absorção desprezível. Surge então a e resulta em desvios angulares consideráveis da
necessidade de exame em luz refletida, mas para direção de incidência. O espalhamento ocorre em
esta técnica, fundamental no exame de materi- todos os ângulos, mas é preponderantemente na
ais, a teoria torna-se muito mais complexa. direção do feixe incidente, isto é, para ângulos
de espalhamento próximos de zero.
Interação de elétrons com a matéria O processo de espalhamento elástico
ocorre em duas etapas: 1) espalhamento de Ru-
De um modo geral, uma excitação therford, ocasionado pelo campo de Coulomb do
incidente desencandeará na matéria uma núcleo, e que pode resultar em uma grande
resposta, dita um sinal, que podemos adquirir mudança de direção, inclusive maior do que 90o;
por um sensor adequado. Um número conside- 2) espalhamento múltiplo, composto de diversos

Figura 02.19 - Interação dos elétrons com a matéria

II.16 Microscopia dos Materiais


PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
troespalhados. Em amostras de alto número
atômico é considerável o espalhamento próximo
à superfície, e grande parcela dos elétrons
escapa como retroespalhados, conforme deta-
lhado na Figura 02.21.
Figura 02.20 - Espalhamento dos elétrons Caso os átomos do material estejam
dispostos periodicamente, na forma de um sólido
cristalino, o espalhamento ocorre de modo regu-
episódios de espalhamento de pequenos ângulos. lar e repetitivo, e os elétrons emergem com
Também neste caso, grandes mudanças de ângulos definidos em relação ao feixe incidente.
direção podem ser observadas, inclusive voltando Neste caso, trata-se de espalhamento elástico
à superfície da amostra, e escapando na forma coerente, ou difração de elétrons, uma manifes-
de elétrons refletidos. Este elétrons escapam com tação da natureza ondulatória dos elétrons, e
a energia algo reduzida devido à ocorrência pode ser tratado como um fenômeno clássico de
simultânea de espalhamento inelástico. difração, por exemplo, de raios-X. Para o caso
À medida que os elétrons penetram na de materiais não cristalinos (amorfos), o espa-
matéria, deixam de seguir a direção original do lhamento ainda é elástico, mas os elétrons
feixe, e passam a se difundir aleatoriamente. O resultantes não tem uma direção definida em
perfil de sua penetração depende basicamente relação aos incidentes, constituindo o espalha-
de sua energia (tensão de aceleração) e do mento elástico incoerente.
número atômico do material. Para energia cons- Espalhamento inelástico é um fenômeno
tante a seção de choque para espalhamento complexo, que engloba todos os casos em que o
elástico varia com Z2, e a probabilidade de es- elétron incidente perde energia ao interagir com
palhamento em uma determinada direção varia a matéria. Em contradistinção com espalhamento
segundo Z2 / E2. Para amostras de baixo número elástico, ocorre principalmente por interação com
atômico, a probabilidade de espalhamento é os elétrons orbitais da amostra. Estes processos
pequena, assim como a seção de choque; em (em geral combinados entre sí) são responsáveis
consequência, os elétrons incidentes penetram pela absorção dos elétrons incidentes, e a
profundamente, e são finalmente absorvidos transformação de quase toda sua energia cinética
pelo material, resultando poucos elétrons re- em calor. Uma parte pequena, mas muito impor-
tante da energia, escapa sob a forma de raios-X
e elétrons emitidos, de grande importância em
microscopia. Dos muitos mecanismos observa-
dos, destacamos três que interessam ao estudo
da microscopia:
• espalhamento por plasmons: plasmons são
ondas longitudinais na nuvem de elétrons da
banda de condução e ocorrem predominan-
temente nos metais. É o mais comum dos
fenômenos inelásticos, mas sem importância
analítica porque não tem energia caracterís-
tica para cada elemento. Devem no entanto
ser mencionados, para interpretação do

Figura 02.21 - Penetração dos elétrons na amostra

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
A Teoria Básica da Microscopia II.17
espectro de perda da energia do elétron em pela interação com o núcleo atômico, e ioni-
um material. zação dos orbitais internos.
• espalhamento por fónons: fónons são ondas A radiação contínua origina-se da
elásticas quantificadas, que essencialmente desaceleração dos elétrons incidentes no campo
representam a vibração dos átomos na malha. de Coulomb do núcleo atômico. A aceleração de
Estas vibrações são excitadas pelos elétrons uma carga elétrica resulta, segundo as leis da
incidentes, e seu decaimento resulta em aque- eletrodinâmica, na emissão de radiação eletro-
cimento da amostra. A energia envolvida é magnética. A energia desta radiação não pode
baixa, da ordem de 1 eV, mas eventualmente evidentemente exceder a energia dos elétrons
a maioria dos elétrons incidentes decaem para incidentes, e este limite máximo só será atingido
este nível, e terminam por excitar fónons. se a conversão da energia cinética for completa
• espalhamento por excitação de elétrons em um único encontro. A energia máxima, (e
orbitais: o elétron incidente pode deslocar um que corresponde ao comprimento de onda
elétron orbital e da subsequente relaxação do mínimo) será
átomo excitado podem ser emitidos radiação
eletromagnética ou elétrons de menor energia  = ν =  λ λ = 1240 λ em nm, V em kV
do que os incidentes. No primeiro caso, V
teremos geração de raios-X ou de fótons (ca- e corresponde ao limite inferior mínimo
todoluminescência); no segundo, teremos observado no espectro, variável com a tensão
elétrons Auger ou elétrons secundários. Estes de aceleração V. Ainda que todos elétrons
casos serão tratados em detalhe a seguir. incidam na amostra com energia eV, só
raramente cedem toda a sua energia em uma
Raios-X única colisão; com maior frequência dissipam
sua energia em uma série de encontros com um
Existem duas possibilidades de espa- número de átomos, gerando calor ou fótons de
lhamento inelástico de elétrons pela matéria raios-X de frequência menor do que a máxima.
que resultam na produção de raios-X. A Daí resulta um espectro contínuo, que vai do
radiação tem o aspecto da Figura 02.22, e mínimo até comprimentos de ondas muito
distinguimos a radiação contínua e as raias grandes, passando por um máximo.
características, produzidas respectivamente A intensidade da radiação contínua para
um raio de valor λ é dada por

 λ = ( 0 −  ) 

onde i é a intensidade de corrente do feixe de


elétrons, E0 a tensão de aceleração e E a tensão
correspondente ao comprimento de onda
considerado (  =  λ ).
Radiação característica é produzida
pela interação dos elétrons incidentes com
elétrons orbitais internos dos átomos do mate-
rial (Figura 02.23). Para isto é necessário que o
átomo seja ionizado pela ejeção de um elétron
Figura 02.22 - Espectro de raios-X das órbitas K, l ou M. O átomo retorna para seu

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
II.18 Microscopia dos Materiais
ocorrer dissipação por calor, frequências mais
baixas, ou mesmo fenômenos diversos, como
emissão de elétrons Auger (q.v.). A fração de
relaxações eletrônicas que resultam em emissão
de raios-X é o rendimento de fluorescência, que
depende fortemente do número atômico e do or-
bital envolvido na ionização. Esta fração é im-
portante na utilização de raios-X para análise
quantitativa, como veremos mais adiante. Po-

Figura 02.23 - Geração de raios-X e elétrons Auger

estado básico pela transição de um elétron


externo para o vazio orbital interno. Nesta
relaxação, o átomo perde energia (vide abaixo)
pela emissão de um fóton de raios-X. Como os
elétrons ocupam níveis discretos de energia, o
fóton também terá energia definida pela
diferença entre o estado inicial e final do átomo.
Portanto os comprimentos de onda da radiação
característica são específicos para cada
elemento e dependem de seu número atômico.
Para que se processe a ionização o Figura 02.24 - Lei de Moseley
elétron incidente deve ter uma energia ν = K(Z − σ)
mínima denominada energia crítica de ioni-
zação (EK,L,M). Esta é a razão pela qual as raias
características só ocorrem a partir de certa
tensão de aceleração (Figura 02.22). As
energias das raias características podem ser
calculadas, por exemplo:

 α =   −   e  β =   −  

O comprimento de onda dos raios-X varia com o


número atômico segundo a lei de Moseley, onde
K e σ são constantes para cada série de radiação.
Vale notar que nem todos os episódios de
relaxação resultam na produção de raios-X. Pode Figura 02.25 - Rendimento da fluorescência

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
A Teoria Básica da Microscopia II.19
demos definir o rendimento de fluorescência para (Ix=intensidade após atravessar espessura x;
a raia K, por exemplo, como a razão entre o Io=intensidade do feixe incidente)
número de fótons emitidos em todas as raias da
série K, e o número de vazios formados no mesmo O coeficiente de absorção varia para cada
intervalo de tempo no orbital K comprimento de onda da radiação considerada.

 α +  β + ........
ω = e ω = ω + ω + ω  Interação dos raios-X com a matéria:

difração
A intensidade dos picos de radiação ca-
racterística é função da tensão de aceleração, Quando ondas de comprimento λ intera-
da energia crítica de ionização da raia gem com estruturas periódicas da mesma ordem
considerada, e da intensidade de corrente do feixe de grandeza, ocorrerá difração. Portanto,
de elétrons devemos espera difração de raios-X (λ ≈ 0,1 nm)
pela estrutura cristalina dos metais (d ≈ 0,2 nm);
  = ( 0 −   ) esta difração não estará presente para luz visível
(λ ≈ 500 nm). Um feixe de raios-X é difratado
onde n é uma constante algo menor do que 2, por um cristal quando certas condições
cerca de 1,7 para  0   = 3 , e tendendo para a geométricas forem satisfeitas.
unidade para tensões de aceleração mais A análise para o caso de átomos dispostos
elevadas. É interessante considerar a relação periodicamente em um cristal é devida a Bragg:
entre a intensidade das raias características e consideremos um feixe de raios monocromáticos
da radiação contínua, que constituem o sinal/ paralelos de comprimento de onda λ incidindo
ruído na análise por raios-X em um cristal sob o ângulo θ. As condições para
que haja um feixe difratado, definido como um
 ( 0 −   ) ( 0 −   ) feixe composto de um grande número de raios
1, 7 0, 7
* 
= ≅
λ  ( 0 −  )   espalhados e que se reforçam são:
Os raios 1 e 2 (inicialmente em fase) per-
que é independente da corrente do feixe, e correm caminhos que diferem pelo trecho M L N.
aumenta com a tensão de aceleração dos elétrons. Para que continuem em fase, e se reforcem (in-
terferência construtiva) é preciso que:
Interação dos raios-X com a matéria:
absorção

Quando raios-X interagem com a matéria,


são parcialmente transmitidos ou absorvidos. A
lei de Lambert anteriormente vista é válida, e a
absorção é proporcional à espessura atravessada:

dI
− = µdx
I
onde µ é chamado “coeficiente de absorção linear”.
Integrando a expressão, temos:
− µx
I x = I oe Figura 02.26 - Lei de Bragg

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
II.20 Microscopia dos Materiais
= nλ, um número inteiro de comprimen- de valência e de condução são separados por uma
tos de onda, onde zona proibida, que é de cerca de 1-2,5 eV para
semicondutores ou de 7-10 eV para isolantes. A
= 2 d’ senθ seguinte sequência de eventos ocorre (Figura
02.27): excitação de um elétron da banda de
sendo a equação de Bragg λ = 2 sen θ valência para a banda de condução, e conse-
quente formação de um vazio naquela banda;
em todas as direções em que a relação de Bragg recombinação do par elétron-vazio com emissão
não for satisfeita, haverá interferência destru- de fóton. No caso do silício, a relaxação da banda
tiva. A equação de Bragg nos permite calcular proibida de 1.1 eV resulta em emissão de
qualquer dos parâmetros, conhecidos outros radiação λ=1130 nm, na região do IV.
dois: comprimento de onda da radiação, Mas os processos de catodoluminescên-
distância interplanar do cristal difratante ou cia podem ser muito complicados, e não
ângulo de difração. resultar em radiação característica para um
elemento. A relaxação pode ocorrer em etapas,
Catodoluminescência e também ocorrer de maneira radiativa com
emissão de fótons. mas também de maneira
Catodoluminescência é a emissão de luz não radiativa, pela emissão de fónons, e aque-
no intervalo UV-visível-IV quando átomos cimento da amostra.
excitados por um feixe de elétrons acelerados
relaxam para sua configuração de equilíbrio. Elétrons secundários
Um exemplo cotidiano é a emissão de luz pelo
fósforo que reveste a tela de um tubo de TV sob Da superfície da amostra sobre a qual
a ação de elétrons. Um elétron das camadas incide o feixe, emanam preponderantemente dois
externas do átomo pode ser ejetado, ou excitado tipos de elétrons: retroespalhados (comumente
para um nível maior de energia. Ao retornar denominados, ainda que impropriamente,
ao nível anterior a energia absorvida é liberada refletidos), e elétrons secundários. Estes últimos,
na forma de fótons. cuja energia se situa abaixo de 50 eV, são
Catodoluminescência ocorre de maneira formados pela excitação de elétrons fracamente
especialmente interessante em materiais ligados aos átomos. Podem surgir alguns dos
isolantes ou semicondutores. Nestes materi- elétrons primários espalhados inelasticamente,
ais, os níveis de energia permissíveis na banda e que constituem o contínuo entre os dois picos.

Figura 02.27 - Catodoluminescência

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
A Teoria Básica da Microscopia II.21
Caracteriza-se um elétron Auger pelos três
níveis de energia que intervém na sua formação.
As transições eletrônicas envolvidas estão
ilustradas na Figura 02.23 para um elétron KLL:
um vazio é criado por elétrons ou raios-X, por
exemplo, no orbital K; um elétron do orbital L
preenche este vazio, e a energia liberada pela
transição L ⇒ K é absorvida, com emissão de
outro elétron L, que é ejetado com energia apro-
Figura 02.28 - Distribuição energética dos ximadamente igual a
elétrons emitidos da superfície
  =   −   −   =   − 2 

Estes dois tipos de elétrons constituem os mais e característica para o elemento em questão. A
importantes sinais em microscopia eletrônica profundidade da qual elétrons Auger são capazes
de varredura, e serão estudados em detalhe de atingir a superfície é da ordem de 0,1 nm. O
mais tarde. seu estudo portanto é um instrumento adequado
ao exame da superfície dos materiais.
Elétrons Auger
Absorção
Ocasionalmente, quando se processa a
relaxação de um átomo ionizado por interação Os elétrons do feixe incidente (f) neces-
com elétrons ou raios-X, nem toda a energia é sariamente deixam a amostra, seja como elétrons
liberada na forma de um fóton; pode ocorrer um transmitidos (t), refletidos (r) ou absorvidos (a)
processo competitivo, segundo o qual a energia e descarregados à terra:
é diretamente transmitida para um outro elétron
do mesmo átomo, que é ejetado na forma de um   =   +  + 
elétron Auger, cuja energia é característica do
elemento do qual é emitido. A probabilidade Ia pode consistir simplesmente em corrente
deste fenômeno é  = 1 − ω , onde ω é o rendi- descarregada para terra, a chamada corrente da
mento de fluorescência anteriormente definido. amostra, ou em alguns casos como de junções
Conforme mostra a Figura 02.25, esta probabili- P-N ou barreiras de Schottky gera-se a chamada
dade é muito alta para elementos leves na série corrente induzida pelo feixe (Electron beam in-
K, e para todos nas séries L e M. A energia dos duced current -EBIC), cujo mecanismo será visto
elétrons Auger situa-se entre 100 e 2000 eV. mais tarde em detalhe.

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II.22 Microscopia dos Materiais
CAPÍTULO III

A Formação da Imagem por Difração

A natureza compõe alguns dos seus mais encantadores poemas


para o microscópio e o telescópio
(T.Roszak, 1972)

Neste capítulo, estudaremos a formação Consideremos uma lente convexa (dita


de uma imagem ampliada por meio de lentes. convergente) e um objeto OO’, localizado à
Para facilitar ao leitor, o conceito que devemos distância u da lente no “espaço objeto” (Figura
ter em mente é o da formação de uma imagem 03.01a). Podemos determinar a posição da
por um projetor, de cinema ou de diapositivos. imagem traçando raio de cada ponto do objeto,
Entre o objeto e a imagem temos uma lente. O e lembrando que:
feixe de luz, após atravessar o objeto, é modifi- • raios paralelos ao eixo são refratados através
cado pela lente e forma a imagem. Trata-se, como de um ponto denominado foco, localizado à
dizemos hoje na época da informática, de um distância f do centro da lente (distância focal);
processamento paralelo, no qual todos os pontos • raios que passam pelo centro da lente (raios
da imagem são formados simultaneamente. principais) não são refratados.
Inicialmente, estudaremos as lentes algo Obtemos uma imagem à distância v,
mais detalhadamente, principalmente para localizada no “espaço imagem”. Neste caso (u >
entender as limitações no desempenho de nossos f), obtemos uma imagem real, aumentada e
sistemas óticos. Exemplificaremos por lentes de invertida, do objeto. Uma imagem real formada
vidro para a luz, mas os conceitos principais são por uma lente convergente pode ser visualizada
também aplicáveis a lentes eletrônicas. em um anteparo, e é caracterizada pelo fato de
que os raios luminosos se interceptam no plano
Lentes finas da imagem. Se examinarmos a situação em que
(u<f) (Figura 03.01b), obteremos uma imagem
Denomina-se de lente fina àquela cuja virtual que não se forma em um anteparo; os
espessura é pequena em relação a seus outros raios luminosos apenas se interceptam no
parâmetros (diâmetro, raio de curvatura e espaço objeto. Neste caso, a imagem é virtual,
distância focal). aumentada e ereta.

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
A Formação da Imagem por Difração III.1
O leitor deverá examinar diversas posições e o aumento linear da imagem
do objeto em relação ao foco, e também certificar-
’  
se de que, para uma lente côncava (dita = = =
’  (  − 1)
divergente), a imagem é virtual e diminuída para
todas as posições do objeto (Figura 03.01c). Se relacionarmos as distâncias aos
Da Figura 03.01 podemos deduzir geome- planos focais, em vez das relações anteriores,
tricamente, por semelhança de triângulos, a mais comuns, obteremos a forma Newtoniana:
fórmula básica de uma lente fina, na sua forma
Gaussiana: 1 1 1 ’ 
+ = =
   ’ 

Figura 03.01 - Lentes finas

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III.2 Microscopia dos Materiais
e o aumento linear da imagem seja, com apenas uma cor. O tratamento simpli-
ficado de lentes, sobre o qual se baseia o método
’ ’ 
= = = acima descrito da construção de imagens por
’  ’ 
traçado de raios, e baseado na teoria desenvol-
Definimos o grau de uma lente, em vida por Gauss, é válido apenas para os raios
dioptrias, como o inverso de sua distancia focal próximos ao eixo ótico, e que incidem sobre a
em metros, valores positivos referindo-se a lentes lente com pequena inclinação (raios paraxiais).
convergentes. Tratamentos mais precisos, dos quais a
O conceito de lente fina é um aproximação, formulação Gaussiana é a aproximação de
e sua teoria o caso limite de uma lente real. primeira ordem, são capazes de calcular as
aberrações esféricas. A teoria mostra também
Aberrações que não é possível corrigir simultaneamente
todas as aberrações; o projeto final de um
O tratamento até este ponto considerou sistema ótico será sempre um compromisso,
as lentes finas como ideais, capazes de produzir limitado pelo custo final, e pela minimização do
imagens perfeitamente focalizadas de um objeto. defeito mais nocivo para o fim em vista.
Tal comportamento não é observado na prática, As aberrações monocromáticas são em
seja porque os sistemas óticos não são número de cinco, e são tratadas normalmente
constituídos de lentes finas, mas principalmente na ordem em que aparecem à medida que
porque verificamos um número de defeitos aumenta o campo de uma lente.
intrínsecos em lentes que levam a defeitos da • aberração esférica – o estudo da refração da
imagem, denominados de aberrações. Deve ficar luz por uma superfície esférica (e inciden-
bem claro que tais defeitos não são resultado de temente, também a reflexão) mostra que os
imperfeições na fabricação das lentes, mas sim raios paralelos são focalizados em pontos
inerentes ao comportamento de uma lente fina ligeiramente diferentes, segundo seja seu
de superfície esférica. Estas aberrações são de trajeto pela lente através do centro ou da
duas classes: monocromáticas e cromáticas. periferia. O raio que passa pela periferia será
Aberrações monocromáticas são aquelas focalizado mais próximo à lente, e a imagem
que se observam quando estudamos o compor- de uma fonte pontual será um círculo de
tamento das lentes com luz monocromática, ou menor confusão, em vez de um ponto (Figura

Figura 03.02 - Aberrações monocromáticas

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A Formação da Imagem por Difração III.3
03.02a). Como simplificação o círculo de de aberração esférica. Apesar de usado na cons-
menor confusão é considerado como formado trução de telescópios, o método resultaria exces-
no plano focal dos raios paraxiais. sivamente dispendioso para outros equipamentos
• coma – é uma aberração que afeta regiões da óticos. Notando-se que existe uma série infinita
imagem remotas de seu eixo. O nome deriva de geometrias para lentes esféricas do mesmo
da aparência semelhante a uma vírgula, ou grau (Figura 03.03), verifica-se que a aberração
cauda de cometa, da imagem de um ponto esférica é minimizada para determinada
afastado do eixo ótico. Resulta essencialmente geometria, indicada na figura. Com relação ao
das diferenças de aumento que sofrem feixes coma, considerações semelhantes mostram existir
de raios que encontram a lente em ângulos um perfil inteiramente destituído desta aberração.
diferentes (Figura 03.02b). Afortunadamente, este perfil é muito próximo
• astigmatismo – esta aberração resulta na daqueles em que a aberração esférica é mínima.
imagem de um ponto estar distorcida na forma Combinações adequadas de lentes,
de linhas ou círculos difusos, frequentemente utilizando estes fatos, podem levar à otimização
com características fortemente direcionais. É quanto a estas aberrações. Um sistema ótico livre
devida à focalização em pontos diferentes dos de aberração esférica e de coma é denominado
raios contidos no plano vertical e no plano aplanático. É possível projetar lentes aplanáticas,
horizontal da lente (Figura 03.02c). Notar que que no caso geral serão asféricas, uma vez que,
o mesmo termo é utilizado para distorções que exceto em casos particulares, nenhuma combi-
surgem quando existem defeitos de simetria nação de lentes esféricas será completamente
na lente: o aspecto das distorções é semelhante, livre de ambas aberrações. No entanto, é pos-
mas as origens são totalmente diferentes. sível obter uma geometria aplanática com
• curvatura de campo – A distância focal de uma elementos esféricos, para uma determinada
lente varia para pontos afastados de seu eixo. posição do objeto; esta geometria varia também
Como consequência, um objeto plano terá sua com o comprimento de onda da luz utilizada.
imagem formada em uma superfície curva. De particular importância em microscopia
Haverá uma posição para o anteparo tal que é o comportamento de uma esfera empregada
o centro da imagem estará focalizado, porém como lente. Seja uma esfera de vidro de raio r e
a periferia ficará consideravelmente difusa. índice de refração η. Tracemos esferas virtuais
• distorção – esta aberração não envolve, como de raios r / η e η*r (Figura 03.04). Estas esferas,
nos casos anteriores, um defeito na focaliza- denominadas superfícies aplanáticas têm a pro-
ção de imagens pontuais do objeto, e portanto priedade de que qualquer raio originário de um
uma falta de definição da imagem, mas sim ponto na esfera interior (O) formará, por refração
uma variação no aumento com a distância do
ponto objeto ao eixo da lente. Isto espalha ou
contrai a imagem, destruindo a relação linear
entre dimensões no objeto e na imagem
(Figura 03.02d).
Conforme já foi mencionado, não é pos-
sível corrigir todas as aberrações simultanea-
mente. A correção da aberração esférica pode ser
feita por diversos modos. O mais óbvio seria
polir a lente com superfícies não esféricas
(parabolóides), que podem ser calculados livres Figura 03.03 - Aspecto de lentes

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
III.4 Microscopia dos Materiais
As aberrações descritas acima são obser-
vadas em sistemas iluminados com luz monocro-
mática. Frequentemente, os instrumentos óticos,
incluindo o microscópio, são iluminados por “luz
branca”, que é uma mistura de luz de diferentes
cores. O fato de que o índice de refração de um
meio transparente varia com a cor (dispersão,
Capítulo II) determina o aparecimento de
aberrações denominadas aberrações cromáticas.
Uma lente fina, por exemplo, terá uma
distância focal diferente para cada cor (Figura
Figura 03.04 - Geometria aplanática 03.05) e não formará uma imagem de uma fonte
pontual axial, mas sim uma série delas. Este
defeito é denominado aberração cromática lon-
pela esfera de vidro, uma imagem virtual na gitudinal. Igualmente, luz de cada cor formará
esfera exterior (I). A demonstração de que esta uma imagem de um objeto finito, e cada imagem
geometria é livre de aberração esférica e de coma terá um tamanho diferente. A isto denomina-se
não é difícil, mas excede o escopo deste livro. diferença de aumento cromático ou aberração
Voltaremos a tratar desta geometria particular cromática lateral. Temos então uma faixa ao
mais tarde, sendo ela fundamental no projeto longo do eixo, onde se formam imagens de
de objetivas de imersão. tamanho e posição diferentes, prejudicando
O controle das outras aberrações depende seriamente a sua qualidade
essencialmente da redução do diâmetro e do A correção destas aberrações, ou o projeto
ângulo de incidência das lentes, frequentemente de conjuntos óticos acromáticos, é complexo, e
pelo uso de diafragmas. Essa ação evasiva é algumas objetivas deste tipo serão descritas mais
usual no projeto de objetivas fotográficas de adiante. Em princípio porém a Figura 03.06 ilustra
menor qualidade, mas não pode ser aceita pelo o comportamento (exagerado) de um par de lentes
microscopista ou astrônomo, preocupados com ou de um conjunto com um componente de vidro
a resolução do sistema ótico. O tópico resolução crown e o outro de flint, e que são, respectiva-
será tratado posteriormente neste capítulo, mas mente lentes positivas e negativas. Quando se
adiantamos que depende do diâmetro efetivo da corrige a aberração cromática, procura-se
lente. A introdução de componentes compensa- modificar os diferentes planos focais das dife-
dores destas aberrações no sistema ótico é rentes cores, de modo que se tornem coplanares.
indicada, o que será detalhado na descrição das O projetista tem à disposição uma grande quanti-
oculares do microscópio. dade de variáveis: curvatura das diferentes

Figura 03.05 - Aberração cromática

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A Formação da Imagem por Difração III.5
Figura 03.06 - Correção cromática e doublet acromático

superfícies, índices de refração e de dispersão, etc. No caso de um elétron cuja trajetória não
É fácil entender que o advento de modernos é axial, ou em um campo magnético não
recursos computacionais permite o desenvolvi- uniforme, haverá um componente radial da ve-
mento de sistemas cada vez mais aperfeiçoados. locidade Vrad ou do campo magnético Brad e o
movimento não mais será uma hélice cilíndrica.
Lentes eletrônicas O resultado é que o elétron circulará em direção
ao centro da lente, e sofre ação convergente,
Feixes de elétrons sofrem deflexão, e focalizado em um ponto sobre o eixo.
podem ser focalizados por campos eletrostáticos A realização prática da lente eletromag-
e eletromagnéticos, permitindo a concepção de nética envolve a criação de uma região com alto
lentes com certa analogia às lentes de vidro para campo magnético, e componente Brad impor-
a luz. Em microscópios modernos, as lentes são tante e localizado.
quase sempre de construção eletromagnética, por A lente é constituída de um enrolamento
sua maior confiabilidade e menores aberrações. encapsulado em material ferromagnético, onde
O princípio de funcionamento das lentes é gerado o campo. Este é localizado e concentrado
eletromagnéticas é basicamente o seguinte. Um por meio de uma peça polar dotada de um furo
campo magnético age sobre um elétron na forma central onde passa o feixe eletrônico. Este arranjo
da conhecida regra da mão direita, representando não produz um efeito focalizador importante,
a velocidade do elétron v, o campo magnético B, pois o fluxo magnético, exceto nas extremidades,
e a força exercida sobre o elétron F é quase que paralelo à trajetória dos elétrons. A
introdução de um espaço na peça polar modifica
 = −( ∧ ) esta situação, com o aparecimento de Brad. Os
materiais, a geometria e disposição destes
Consideremos inicialmente um campo elementos é crítica, e será discutida em detalhe
homogêneo gerado por uma solenóide no qual no Capítulo V.
penetra o elétron em trajetória axial. O elétron As lentes magnéticas estão sujeitas às
estará sujeito a uma força normal ao campo e à mesmas aberrações de lentes luminosas, uma vez
sua direção de movimento. Será então defletido que também obedecem às leis da ótica geométrica.
em um plano normal ao campo por uma força No caso das lentes fotônicas, as aberrações podem
simétrica, fazendo com que percorra uma hélice ser compensadas pelo uso de lentes convergentes
cilíndrica, resultante das velocidades circular e e divergentes, com diferentes índices de refração
longitudinal cujo raio é o equilíbrio entre as e de dispersão. A inexistência de lentes magnéti-
forças centrípeta e defletora. cas divergentes elimina esta possibilidade, e como

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III.6 Microscopia dos Materiais
Outra aberração importante é o astigma-
tismo, que, neste caso, é diretamente relacionado
às imperfeições de fabricação das lentes: falta
de homogeneidade dos materiais dos núcleos,
erros na uniformidade dos enrolamentos, e
significativa não circularidade dos furos e aber-
turas. Em adição a estas distorções inerentes da
lente, contaminação e depósitos de materiais
estranhos durante a operação influenciam a
simetria do campo magnético. Como resultado,
temos erros de focalização semelhantes aos já
Figura 03.07 - Lente eletromagnética
estudados em lentes fotônicas. A correção do
astigmatismo é feita pela inclusão do chamado
astigmador, um conjunto de bobinas (em geral
não dispomos de variação de índice de refração, oito) que permitem a geração de um campo
o controle de aberrações é bastante mais magnético de intensidade e orientação regulável,
complicado, e em alguns casos, impossível. igual e contrário ao astigmatismo observado.
Se considerarmos todos os elétrons do feixe Como o comprimento de onda do elétron
como tendo a mesma velocidade, e portanto o depende da tensão de aceleração, uma oscilação
mesmo comprimento de onda, podemos falar em nesta tensão resulta em variação da distância
“feixe monocromático”. Da mesma maneira que focal análoga às aberrações cromáticas para luz
os raios luminosos, os elétrons que percorrem a de diversas cores. O disco de confusão resultante
periferia da lente são desviados mais fortemente tem o diâmetro
do que os paraxiais. O diâmetro do menor disco
 ∆ 
de confusão de um feixe focalizado é  =    α
  

 =  α 3 onde Cc é o coeficiente de aberração cromática,


e a aberração depende muito menos da abertura.
onde Ce é o coeficiente de aberração esférica da Como consequência, o projeto das fontes de
lente, e a aberração cresce na terceira potência aceleração devem ser cuidados, sendo frequen-
da abertura. Os grandes valores de Ce vigentes temente necessário restringir a variação a ordem
na prática determinam que para obter um valor de 10 ppm, ou seja (∆V/V) ≈ 10 -5 .
pequeno de d e, e uma focalização do feixe
adequada, as lentes devam operar com aberturas Zone Plates1
muito reduzidas, da ordem de fração de grau (com-
pare-se com cerca de 90 o em sistemas fotônicos!). Raios-X, com comprimento de onda
Uma limitação adicional é que esta pequena intermediário entre luz visível e o equivalente a
abertura da lente reduz fortemente a corrente elétrons acelerados constituem uma opção
(intensidade do feixe) que atravessa a lente. atraente para microscopia com alta resolução.
Portanto, os maiores esforços são envidados pelos No entanto, não é possível a utilização de lentes
fabricantes para obter o menor Ce possível. de refração, porque o índice de refração para

1
Consulta a especialistas brasileiros não identificou uma tradução consagrada, e fui aconselhado a usar o termo
em inglês....

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A Formação da Imagem por Difração III.7
Figura 03.08 - Zone plate

raios-X em todos sólidos é igual e essencialmente A teoria de Abbe para formação


igual ao do ar. Uma alternativa é o emprego de da imagem
zone plates com as quais obtemos aumento
através de difração. O tratamento de Raleigh, originário da
A zone plate é uma grade de difração cir- teoria desenvolvida para o telescópio, supõe
cular. Na sua forma mais simples consiste de que os pontos O e O’ são luminosos, e portanto
anéis concêntricos, alternadamente transpa- são fontes incoerentes entre si. Exceto no caso
rentes e opacos, cujos raios são dados por especial da microscopia de fluorescência, isto
2 2 não é verdade para o microscópio, onde o
2 nλ
rn = nf λ + objeto é iluminado por um feixe de luz
4
colimada, em condições de pelo menos
onde r é o raio do anel n, λ o comprimento de coerência parcial. Devemos portanto esperar
onda da radiação e f a distância focal resul- interferência entre os discos de Airy, o que
tante. A zone plate pode ser usada para focalizar complica sensivelmente o problema.
uma onda monocromática, ou para formação Abbe foi o primeiro a considerar a
de imagens, comportando-se em muitos casos resolução do microscópio sob este aspecto e a
como uma lente fina, a principal diferença sendo estudar a formação da imagem por uma lente
a existência de diferentes ordens de difração e como um problema de difração. Demonstrou que
portanto diversos pontos focais. Para isolar a o poder de resolução não aumenta sem limites
primeira ordem de outras indesejáveis, as zone com a perfeição da lente, mas está relacionado
plates têm um anteparo central conjugado a ao seu diâmetro e ao comprimento de onda da
uma abertura focal menor, próxima do plano luz utilizada.
focal. A resolução é controlada pela separação Na Figura 03.09, um objeto situado no
dos anéis mais externos ∆r. Definimos uma plano O é iluminado por um feixe de luz paralela
abertura numérica A.N. = λ/2∆r, e a resolução e coerente. Dos pontos A, B, C originam-se raios
de Rayleigh é 1,22 ∆r. difratados pelo ângulo θ, além do feixe direto.
Zone plates são microfabricadas com Estes raios se interceptam, e formam figuras, em
técnicas de litografia de feixe eletrônico. dois planos F e P. No plano F reúnem-se em um
Microscópios utilizando raios-X serão tratados ponto todos os raios que partem dos elementos
no capítulo VIII. do objeto na mesma direção. Forma-se portanto

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III.8 Microscopia dos Materiais
Figura 03.09 - Formação da imagem por difração

uma figura de difração. No plano P, reúnem-se demos em primeira instância , utilizar uma lupa.
todos os raios que partem de cada elemento do A lupa é uma lente convergente destinada a
objeto, e forma-se uma imagem do objeto. Como aumentar a imagem formada na retina (Figura
o diâmetro da lente é finito, diversos casos 03.13b). O tamanho aparente de um objeto
podem acontecer (Figura 03.10). depende do ângulo subtendido (Figura 03.13a).
Vimos anteriormente que tan θ ≈ sen θ ≈ Este ângulo pode ser aumentado aproximando
θ ≈ λ  . Portanto podemos passar de (a) para o olho do objeto - esta aproximação está, no
(b) seja aumentando o diâmetro da lente, ou entanto, limitada pelo poder de acomodação do
diminuindo λ. O cálculo rigoroso resulta na olho. Empregando uma lente, e quando o objeto
expressão de Abbe está situado dentro da distância focal, forma-se
λ
δ= uma imagem virtual e aumentada. No limite d=f
sen α
a imagem forma-se no infinito.
onde α é o semi-ângulo de abertura da lente, e a O aumento é definido como a relação en-
resolução é da ordem de grandeza do compri- tre o tamanho aparente do objeto visto como
mento de onda da radiação utilizada. imagem a 25 cm, e seu tamanho real
Esta expressão, pela sua importância,
α 25
merece ser considerada a fórmula fundamental M= =
α’ f
da microscopia.
porque os ângulos são pequenos e
A ampliação da imagem por lentes
OO’ OO’
α= e α’=
25 f
No capítulo II vimos a formação da
imagem pelo olho, e calculamos a resolução nor- Uma simples lente usada como lupa
malmente obtida. Para exceder este limite, po- apresenta aberração esférica e cromática consi-

Figura 03.11 - Formação da imagem - série de Fourier

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A Formação da Imagem por Difração III.9
Figura 03.10a
Apenas o raio principal é adquirido pela lente; como
não há interferência entre dois raios, o anteparo é
uniformemente iluminado e nenhuma imagem do
objeto é formada, que portanto não está resolvido.

Figura 03.10b
Uma lente maior (com maior abertura numérica)
adquire exatamente o raio difratado de primeira
ordem, o suficiente para que tenhamos uma imagem
gerada no anteparo, e portanto esta é a condição
limite para que o objeto esteja resolvido

Figura 03.10c
O objeto está iluminado por luz de comprimento de
onda menor do que em (a). O ângulo de difração é
menor, e o objeto é resolvido pela lente original.

Figura 03.10d
O objeto tem estrutura mais grosseira do que em
(a). O ângulo de difração é menor, e o objeto é
resolvido pela lente original.

Figura 03.10e
Mais ordens de difração são adquiridas pela lente,
e forma-se uma imagem com mais detalhes. Este
resultado pode ser facilmente entendido pela
observação da Figura 03.11: uma série de Fourier
reproduz tanto melhor a função quanto mais termos
forem somados.

Figuraa 03.10 - A formação da imagem por difração

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III.10 Microscopia dos Materiais
derável. Uma série de arranjos de conjuntos de com conhecimentos e paciência de outras eras.
lentes foram propostos, alguns dos quais se Ai de nós - já não se fazem Leeuwenhoeks no
tornaram clássicos e são largamente utilizados mundo moderno.
(Figura 03.12). O limite prático do uso da lupa A solução, já reconhecida no século XVII
situa-se entre 10 X e 20 X. por Galileu e Lippershey, é a concepção do
Na prática, os valores de M são limitados microscópio composto, onde o aumento de duas
pela dificuldade de realizar uma lente simples lentes é multiplicado para obter o aumento
com alto aumento e livre de aberrações. A grande desejado: 20 X x 5 X = 100 X. (Figura 03.13c).
exceção histórica são os microscópios, na A lente objetiva (que origina o maior aumento, e
verdade lupas, de Leeuwenhoek que atingiram é a mais crítica quanto à qualidade) forma uma
aumentos de até 300 X. Mas as suas lentes não imagem real, aumentada e invertida, que é
são esféricas, e são corrigidas individualmente adicionalmente ampliada pela lente ocular.

Figura 03.12 - Diferentes tipos de lupas (F-vidro flint, C-vidro crown)

Figura 03.13 - O microscópio composto

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A Formação da Imagem por Difração III.11
CAPÍTULO IV

Microscopia Fotônica

Relativamente recentemente era elegante que aqueles envolvidos com


microscopia eletrônica desprezassem os esforços dos microscopistas com luz.
Esperemos que nestes tempos mais esclarecidos tome-se a atitude de que todas
formas de microscopia têm um papel no esclarecimento das microestruturas.
(B.Ralph, 1980)

A microscopia com luz visível, a mais assim como possibilitar diversas técnicas de
tradicional de todas, continua sendo uma técnica iluminação que ampliam muito a gama de
poderosa para o estudo da microestrutura dos informações disponíveis.
materiais. Oferece resolução da ordem do micron, A preparação das amostras é de
à qual vulgarmente se associa a um aumento de complexidade média, mas requer em alguns
1000 vezes, com profundidade de campo casos cuidados especiais para garantir boa
semelhante. Em comparação com outros resolução e contraste adequado; este aspecto será
microscópios modernamente disponíveis, o detalhado adiante (Capítulo XII).
microscópio fotônico (MF) tem facilidade de
operação e custo modesto, que fazem com que
seja o instr umento básico em qualquer O microscópio fotônico
laboratório de microscopia. Na verdade, as
vantagens e limitações do MF são diferentes Vimos anteriormente (Figura 03.12) que
daquelas dos microscópios eletrônicos e de o microscópio composto consiste em uma lupa
varredura, o que os torna complementares mais obser vando uma imagem pr eviamente
do que competitivos. aumentada do objeto, do que resulta a
As amostras podem ser examinadas por possibilidade de obter uma magnificação
uma grande variedade de técnicas, e de acordo consideravelmente superior à do uso de um
com sua natureza, tanto em luz transmitida só estágio.
para objetos transparentes, como em luz Para a realização deste objetivo, o
refletida (epi-iluminação) para objetos opacos moderno microscópio composto é constituído de
ou maciços. Um microscópio para materialogra- um conjunto de componentes que podem ser
fia deverá estar equipado para ambos os casos, divididos em três grupos: o sistema mecânico, o

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Microscopia Fotônica IV.1
sistema de iluminação e o sistema de magnifi- (Figura 04.02). O primeiro tem disposição seme-
cação. A estes três sistemas adiciona-se, na lhante ao microscópio de luz transmitida (ou
maioria dos casos um sistema de documentação “biológico”) sendo frequentemente adaptável
da imagem. Os componentes óticos preenchem para uso alternado de ambas as técnicas. Neste
duas finalidades principais - iluminar o objeto, e caso é fácil determinar o ponto da amostra que
formar do mesmo uma imagem aumentada, para está sendo examinado; além da limitação das
observação ou fotografia. dimensões da amostra, a maior desvantagem
A necessidade de examinar em materia- reside na necessidade de colocar a superfície da
lografia tanto amostras transparentes como amostra perpendicular ao eixo ótico do micros-
opacas resulta em uma diversidade de concepções cópio. A configuração invertida elimina este
para a disposição relativa destes elementos. problema, uma vez que a superfície da amostra
apoia-se sobre a mesa porta-amostra, cuja
superfície é precisamente perpendicular ao eixo
Sistema mecânico ótico do instrumento. Em microscópios
modernos, a focalização é obtida pelo movimento
Destina-se a manter os elementos óticos do suporte da mesa; desta maneira, a ocular não
e a amostra em posição relativa. Um bom muda de posição, e o instrumento como um todo
microscópio deverá ter estabilidade e rigidez, resulta mais rígido.
flexibilidade de trabalho, e ergonomicidade e Segundo a aplicação, as mesas são de
conforto na operação. diferentes tipos, frequentemente intercam-
Para microscopia de objetos opacos (luz biáveis em um mesmo instrumento. A Figura
refletida) microscópios são constituídos em duas 04.03 mostra alguns exemplos, onde a amostra,
configurações gerais: convencional ou vertical possivelmente fixada por molas de suporte, é
(Figura 04.01) ou invertida segundo Le Chatelier deslocada manualmente; mesa ortogonal, com

Figura 04.01 - Microscópio materialográfico (Leica)

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IV.2 Microscopia dos Materiais
Figura 04.02 - Microscópio invertido sistema LeChatelier (Leica)

Figura 04.03 - Mesas porta-amostra (adaptado de Leica)

deslocamento mecânico da amostra, que O simples e clássico tubo que conecta a


permite posicionamento preciso e reproduzível; objetiva com a ocular evoluiu na moderna
mesa deslizante, cujas superfícies lapidadas são concepção modular do microscópio para um
unidas por lubrificante viscoso, que permite conjunto de elementos, frequentemente inter-
deslocamento lento e controlado em todas as cambiáveis, que atendem a diversas funções com
direções; e mesa giratória, permitindo o máximo de conveniência. O tubo monocular
centragem da amostra e rotação de 360o , usadas equipa os instrumentos mais simples, ou em
preponderantemente em microscópios microscópios mais complexos é usado para portar
equipados para luz polarizada. acessórios óticos especializados. O tubo binocu-

Figura 04.04 - Tubos oculares

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
Microscopia Fotônica IV.3
lar oferece condições ótimas para observação necessita apenas de pequeno reajuste no foco
prolongada. Um sistema de prismas divide a fino, denomina-se de parfocal. A distância par-
luz igualmente entre as oculares. Para uso em focal (Figura 04.05) pode variar conforme o
luz polarizada, é necessária correção adicional fabricante e tipo de objetivas, e em princípio, não
para evitar polarização elíptica causada pela é possível misturar parfocalmente objetivas de
reflexão nos prismas. A distância entre as diferentes fabricantes, ou de séries diferentes,
oculares é regulável (55-75 mm) 1 para ajustar como transmissão e reflexão.
a distância pupilar do observador. Em alguns
casos o ajuste é giratório, em outros retilíneo.
Nestes, o comprimento ótico torna-se função da
distância pupilar, o que deve ser compensado,
manual ou automaticamente, para magnifi-
cação ou focalização precisa. Isto é especial-
mente importante quando forem feitas medições
com escalas graduadas na ocular, ou quando
Figura 04.05 - Cambiadores de objetivas; distância
houver câmara adaptado ao tubo trinocular. O
parfocal p, distância de trabalho d (adaptado de
tubo trinocular inclui a disponibilidade da Leica)
adaptação de câmara fotográfica ou digital,
permitindo comutar o feixe luminosos para as
duas aplicações. O comprimento ótico do tubo, distância
Conforme detalhado alhures, é necessário entre o plano focal posterior da objetiva e o plano
dispor de uma série de objetivas para cobrir uma focal anterior da ocular é critico para obtenção
gama suficiente de aumentos. As objetivas de imagem per feita. Para microscópios
podem ser adaptadas ao tubo em suportes modernos, esta distância é virtual, e deve levar
individuais ou cambiadores revolver. Estes em conta modificações do trajeto ótico devido a
últimos são práticos no uso, e em suas execuções prismas, espelhos e outros elementos.
modernas podem ser tão precisos quanto Modernamente, as objetivas são projetadas para
suportes individuais. Comportam de 3 a 5 comprimento de tubo infinito: os raios luminosos
objetivas, e os modelos mais aperfeiçoados percorrem o microscópio como feixes colimados
permitem centragem individual das mesmas, de paralelos. Neste caso, não se forma uma imagem
especial importância no uso da luz polarizada. intermediária real no tubo, e torna-se necessária
Quando há restrições à adaptação do revolver, uma lente intermediária para forma-la ao alcance
seja pela altura disponível (principalmente em da ocular. Este sistema apresenta diversas
epi-iluminação), diâmetro das lentes (principal- vantagens, principalmente na epi-iluminação, e
mente para campo escuro) ou grande elenco de no uso da luz polarizada.
lentes necessários, usam-se ainda suportes
centráveis individuais, com encaixe prismático. Sistema de iluminação
É desejável, principalmente quando se usa um
cambiador revolver, que a troca de objetivas Um bom sistema de iluminação deve
possa ser feita sem mudança substancial do foco, fornecer intensidade uniforme sobre todo o
e sem que haja colisão da lente com o objeto. campo de visão, possibilitar controle de
Um sistema de lentes intercambiáveis, que intensidade e regulagem da abertura angular do

1
A sua distância pupilar é um dos parâmetros pessoais que deve ser conhecido por cada microscopista!

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IV.4 Microscopia dos Materiais
cone de luz. Existem dois meios de obter este é iluminada por um feixe luminoso paralelo,
efeito. O primeiro, conhecido como iluminação de diâmetro facilmente regulável.
crítica (ou de Nelson), consiste em focalizar a Temos dois grupos de planos conjugados,
imagem da lâmpada diretamente sobre o plano em sequência alternada, formando os chamados
do objeto por meio de um condensador. Tem como caminhos óticos entrelaçados. O objeto forma
desvantagem que a fonte luminosa deve ter uma imagens conjugadas na retina do olho, na
área extensa e uniforme, uma vez que qualquer imagem intermediária no plano focal da ocular,
estrutura interna, como a espiral de um e na íris denominada de campo. O filamento da
filamento, será superposta à imagem do objeto; lâmpada tem imagens conjugadas na córnea (e
além disso, o feixe de iluminação convergente é portanto invisível), no plano focal posterior
não é facilmente ajustável ao campo da objetiva. da objetiva, e na íris denominada de abertura.
O segundo método, que modernamente integra A íris de campo, sendo conjugada ao plano do
todo microscópio de qualidade, é o de Köhler objeto, é visível na imagem, e delimita a região
(Figura 04.06). da amostra que é iluminada. Sua função é de
A fonte efetiva é o coletor da lâmpada, reduzir ofuscamento e reflexões indesejáveis, e
cuja imagem é focalizada no objeto. Deste deve ser aberta até que sua imagem justamente
modo, a imagem da lâmpada (e sua eventual ilumine o campo de visão (e portanto deve ser
estrutura) é focalizada no plano focal do reajustada quando se troca de objetiva). A íris
condensador, que não é conjugado à imagem, de abertura delimita o angulo de abertura do
e portanto invisível ao observador. A amostra feixe de luz, e portanto a abertura efetiva da

Figura 04.06 - Iluminação de Köhler em transmissão a) caminho ótico da imagem


b) caminho ótico da iluminação (RMS)

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Microscopia Fotônica IV.5
Figura 04.07 - a e b) Íris de abertura c e d) Íris de campo (Leica)

objetiva. A sua regulagem, fundamental para epi-iluminação, como a objetiva é seu próprio
otimizar o contraste e a resolução, consiste na condensador, esta regulagem é desnecessária.
abertura justamente correta para preencher toda A Figura 04.08 mostra a disposição da
a abertura da objetiva. Como esta íris está iluminação de Köhler para o caso de amostras
conjugada com o feixe de iluminação, sua opacas com epi-iluminação.
imagem é visível no plano focal posterior da Iluminação adequada é um dos fatores
objetiva, e pode ser examinada obser vando o mais importantes para obtenção de contraste e
fundo do tubo com a ocular retirada. É claro (e resolução ótimos na imagem fornecida pelo
nunca é demais repeti-lo) que nunca deve ser microscópio, tanto na observação visual como
utilizada para controlar a luminosidade da na documentação fotográfica. O sistema de
imagem, pois reduziria a abertura numérica. No iluminação compreende a fonte luminosa, ótica
entanto, o microscopista experiente pode às para colimação e focalização e acessórios. Os
vezes obter efeitos interessantes de contraste principais requisitos que a fonte luminosa deverá
pela manipulação desta íris, porém sempre preencher são uniformidade, estabilidade,
consciente das limitações decorrentes e dos intensidade, balanço espectral, conveniência de
possíveis artefatos introduzidos. operação e economicidade.
No microscópio de luz transmitida a íris O condensador é o dispositivo que, em
de abertura necessita ser reajustada a cada troca microscopia de transmissão, ilumina a área a
de objetiva com outra abertura numérica; já com ser examinada. Por razões econômicas, conden-

Figura 04.08 - Iluminação de Köhler em reflexão a) caminho ótico da imagem


b) caminho ótico da iluminação (RMS)

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IV.6 Microscopia dos Materiais
sadores não são corrigidos no mesmo grau do técnicas de exame visual. Um controle discreto
que as objetivas. A grandes aberturas, por causa da luminosidade é possível, por meio da
das aberrações esférica e cromática, a imagem variação da tensão.
do diafragma de campo é sofrível. Portanto, Em epi-iluminação, e para investigação
deve-se fazer o campo iluminado em transmis- com luz polarizada ou fotomicrografia, fontes
são um pouco maior para jogar as franjas mais intensas são necessárias2. Modernamente,
cromáticas para fora da lente objetiva (em a lâmpada incandescente foi aperfeiçoada na
reflexão não é necessário, a objetiva é o forma de quartzo-iodo (“lâmpada de halogênio”).
condensador!). Na prática, não é possível fazer A presença do vapor de iodo evita a vaporização
um condensador que se adapte a todas as lentes do filamento sobre o invólucro, permitindo que
objetivas. A parte principal do condensador a lâmpada seja operada a maior temperatura,
ilumina lentes com aumento médio e campo com maior intensidade luminosa.
maior. Para objetivas mais fortes, que tem Para iluminação de alta intensidade,
campo menor mas necessitam de aberturas destacam-se as lâmpadas de descarga de gases.
maiores superpõe-se uma lente suplementar. As de vapor de mercúrio são de operação
Para lentes de imersão usa-se também o relativamente complexa, e devido à ausência de
condensador em imersão. O condensador é espectro contínuo, resultam em reprodução
colocado em um suporte móvel para garantir a incorreta de cores. O importante componente de
focalização do diafragma de campo no plano ultravioleta é utilizado em microscopia de
do objeto, e em microscópios mais completos, o fluorescência. A lâmpada de xenônio é de uso
condensador é também centrável. muito simples, tem alta intensidade luminosa,
Lâmpadas incandescentes de baixa e espectro contínuo semelhante ao da luz de dia.
tensão, semelhantes às lâmpadas de projeção, As lâmpadas de sódio e tálio não são de
são a fonte de luz mais simples em microsco- alta intensidade, mas fornecem luz monocromá-
pia, e perfeitamente adequadas para muitas tica muito úteis principalmente em interferometria.

Tabela 04.01 - FONTES DE ILUMINAÇÃO

Tipo Potência Intensidade Espectro Vida


Lâmpadas incandescentes
Mini, Bulbo fosco 15 W Regulável T=2500o K (*) 1000 h
Mini, Filamento enrolado 15-100W Regulável T=3500o K (*) 25-100 h
Quartzo-halogênio 100 W Regulável T=3300o K (*) 50-100 h
Descarga de gases
Mercúrio 200 W Fixa Característico 200 h
Xenônio 450 W Fixa T=6000o K 2000 h
Sódio Fixa amarelo λ≈589 nm
Tálio Fixa verde λ≈535 nm
(*) quando operadas a tensão nominal

2
O recente advento de camaras digitais, de alta sensibilidade, veio a relaxar consideravelmente este requisito.

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Microscopia Fotônica IV.7
Sistema de magnificação Objetivas acromáticas são corrigidas
quanto à aberração cromática para duas
As objetivas constituem os componentes cores, vermelho e azul. Esta faixa compreende
críticos e mais dispendiosos de um microscópio o verde, onde se verifica a melhor correção
e de cujo desempenho depende em grande parte das aberrações geométricas, principalmente
a qualidade do instrumento. a esférica. Verde é também a cor de maior sen-
As objetivas podem ser divididas quanto sibilidade do olho humano, e as objetivas
ao seu emprego como objetivas secas ou de acromáticas são especialmente indicadas para
imersão. Quanto à sua correção ótica, e obser vação visual a aumentos moderados,
principalmente cromática, distinguimos as assim como fotografia monocromática com
objetivas acromáticas, apocromáticas e semi- emprego de filtro verde. Nas objetivas apocro-
apocromáticas ou fluoritas. Esta classificação máticas, a aberração cromática está alta-
de qualidade importa também em considerável mente corrigida para todo o espectro visível,
variação de preço entre as diferentes objetivas. e esta correção se mantém praticamente até
o limite máximo de abertura da lente (Figura
04.10). Estas objetivas oferecem os melhores
resultados para trabalhos de pesquisa com as
maiores resoluções. Nas objetivas semi-
apocromáticas a substituição do vidro crown
de alguns elementos das acromáticas por
fluorita permite obter qualidade muito boa a
um custo conveniente. Todas as objetivas
mencionadas acima apresentam aberração de
cur vatura de campo apreciável. Atenção es-
Figura 04.09 - Objetivas a) acromática 40/0,65 pecial é devida para objetivas destinadas ao
b) plano-apocromática 40/0,75 c) plano- uso com luz polarizada, que devem ser isentas
apocromática 100/1,35 óleo (Leica) de tensões internas.
A resolução da objetiva é determinada pela
sua abertura numérica, A.N. = η∗senα, onde η
é o índice de refração do meio entre a objetiva e
a amostra, e α o semi-ângulo de abertura da
lente. Quando o meio entre a objetiva e a amostra
é o ar, este valor é limitado à unidade, na prática
0,95. Mediante a introdução de um líquido de
imersão neste espaço (lente de imersão, Figura
04.11), este valor pode ser aumentado,
resultando na aquisição de raios difratados
adicionais. Fabricam-se lentes de imersão de
óleo (η ≈ 1,5) ou de água (η ≈ 1,3). A Figura
04.12 mostra a considerável melhoria de
resolução obtida
Alguns símbolos comuns em objetivas
Figura 04.10 - Correção cromática (R-vermelho, são mencionados a título ilustrativo: classe da
G-verde, B-azul, V-violeta) (adaptado de Leica) objetiva, apo - apocromática, fl - fluorita ou

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IV.8 Microscopia dos Materiais
semi-aprocromática, etc.; 0,65 ou 1,35 define lente de campo, e dirigidas sobre a lente ocular.
a abertura numérica, sendo naturalmente uma Mediante o uso de duas lentes deste tipo é
A.N. maior do que a unidade indicativa de possível a construção de uma lupa tal que a
imersão, que pode ou não ser explicitada para distância focal seja igual para todas as cores,
óleo ou água; 160 ou ∞ indica o comprimento ou seja que a aberração cromática seja corrigida;
ótico do tubo, no caso de objetivas modernas, a condição para isto é que a distância entre as
infinito; /0,17 a espessura da lamínula protetora duas lentes seja
da amostra (essencialmente para uso biológico),
ou / - no caso de objetivas para metalografia, d = (fcampo + focular)/2
corrigidas para serem usadas sem lamínula; pol
ou ph projetadas para luz polarizada ou Este arranjo é realizado em duas
contraste de fase. disposições clássicas. A ocular de Huygens é
As oculares funcionam como lupas, que constituída de duas lentes plano-convexas do
magnificam a imagem intermediária fornecida mesmo vidro, onde ambas as superfícies
pela objetiva, formando uma imagem virtual no convexas estão voltadas para o objeto. A
infinito. São compostas de um conjunto de distância focal da lente de campo é superior à
lentes, e no caso mais usual, utilizam-se duas da ocular (em geral (fcampo) / (focular) ≈ 2. Estas
lentes plano convexas (Figura 04.13). Os raios oculares são frequentemente denominadas, de
oblíquos que divergem para a borda da imagem maneira imprópria, oculares negativas. O
são reunidos pela primeira lente, denominada observador vê, através da lente ocular, uma

Figura 04.11 - Princípio da imersão em óleo Figura 04.13 - Oculares

Figura 04.12 - Perlita, 1300 X a) objetiva acromática A.N. 0,65


b) objetiva semi-apocromática A.N. 1,25 (Gifkins)
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Microscopia Fotônica IV.9
imagem virtual aumentada. As oculares de cromáticos indesejáveis na imagem final. As
Huygens não são oticamente corrigidas para oculares de compensação podem usualmente ser
aberrações, e portanto recomendadas para uso identificadas pelo anel azulado visível em torno
com objetivas acromáticas de pequeno ou médio do diafragma ocular. Modernamente, muitos fa-
aumento, onde uma certa distorção nas bordas bricantes, mercê de projetos mais avançados,
da imagem pode ser tolerada. Na ocular de estão produzindo objetivas de grande aumento
Ramsden as duas lentes também são do mesmo e desempenho, incorporando excelente correção
vidro, mas têm distâncias focais iguais. Deste cromática. Quando tais elementos forem
modo, o plano focal do sistema coincide com a utilizados, o uso de oculares de compensação é
lente de campo. Na prática, a distância entre dispensável, ou mesmo contra-indicado.
as lentes é algo reduzida sobre o previsto na Uma ocular de compensação usada em
teoria. Com isto, a correção cromática fica algo conjunto com uma objetiva aprocromática resulta
prejudicada, mas surgem duas vantagens: a em um campo menos plano que a combinação
imagem intermediária é formada fora do de uma objetiva acromática com uma ocular de
conjunto, e neste plano, além da abertura Huygens. Em metalografia, um campo plano é
limitadora, podem-se colocar retículos ou outros frequentemente mais importante do que a
indicadores que se deseja fazer aparecer correção de outros defeitos. Durante muito
sobrepostos à imagem. Por isto, a ocular de tempo, o campo útil das oculares era restrito a
Ramsden é utilizada quando se desejam fazer 25 mm; mais recentemente, foram introduzidas
medições no microscópio. O pequeno desvio da no mercado oculares de grande campo de visão,
condição acromática da ocular de Ramsden pode com diâmetro do tubo de 30 mm. Juntamente
ser corrigido usando um par acromático como com as objetivas para as quais foram projetadas,
lente ocular, resultando na chamada ocular de constituem a classe de ótica planoapocromática,
Kellner. Na prática, podemos facilmente evidentemente envolvendo custos compatíveis
distinguir estas duas oculares: a de Ramsden com seu desempenho. Em princípio, tais
(denominada frequentemente de ocular elementos óticos devem ser utilizados nos
positiva) pode ser usada como lupa, e formar a sistemas óticos para os quais foram previstos.
imagem de um objeto. Oculares teláugicas são oculares desti-
Os tipos básicos de oculares podem ser nadas aos portadores de óculos, possuindo a
modificados, constituindo um grupo de oculares pupila de saída situada a maior distância da
especialmente projetadas com sobrecorreção lente ocular, e permitindo o uso dos óculos du-
cromática, afim de compensar erros cromáticos rante a observação no microscópio (Figura
residuais de certas objetivas semi-apocromáti- 04.14). Oculares focalizáveis são oculares
cas e apocromáticas. Devido à sua cuidada reguláveis, que permitem uma focalização
correção estas oculares de compensação são adicional à do microscópio. São utilizadas em
fabricadas com aumentos maiores do que as de duas situações principais: no uso de tubos
Huygens ou Ramsden normais. Seu uso exige binoculares a focalização não é, em geral,
certa atenção: quando objetivas de alto aumento perfeita para os dois olhos; uma das oculares
projetadas como acima são usadas, devem ser sendo focalizável, é possível introduzir a correção
sempre utilizadas com oculares de compensação necessária. Para fotografia com dispositivos que
do mesmo fabricante. Estas oculares no entanto não tenham focalização própria e dotadas de um
não são adequadas para objetivas acromáticas retículo são indispensáveis. Quando o retículo é
de baixo aumento, porque as características focalizado por ajuste da ocular, o olho está
sobrecorrigidas podem introduzir efeitos acomodado sobre o plano focal da ocular.

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IV.10 Microscopia dos Materiais
Focalizando-se em seguida a imagem do micros- O aumento necessário pode ser calculado
cópio, a imagem intermediária se situa da seguinte forma:
exatamente no plano focal da ocular, e mercê da
0 ,1 * A N
construção do microscópio, também no plano da 0 ,1 = δ * M M = =300 * A N
0,6 1 * λ
película do aparelho fotográfico.
Levando em conta que a resolução de 0,1
mm para o olho humano é valor limite e que
para conforto de observações prolongadas não
convém exigir longamente o máximo de
acomodação visual, é comum adotar-se para o
calculo acima valores entre 0,2 e 0,4 mm, o que
resulta em aumentos de 500 a 1000 A.N.
Estas considerações são de utilidade na
determinação do conjunto objetiva-ocular melhor
adequado para uma determinada observação. O
ponto de partida será a resolução desejada, que
será basicamente determinada pela abertura
numérica da objetiva. A escolha de uma abertura
numérica excessiva, em conjunto com oculares
fracas, implicará em perda de contraste e
Figura 04.14 - Objetiva teláugica (Leica) profundidade de campo; conversamente, uma
objetiva inadequada não fornecerá a resolução
desejada. Uma vez selecionada a objetiva, trata-
A escolha do aumento se de escolher a ocular adequada para conseguir
o aumento ótimo acima deduzido (Tabela 04.02).
O observador médio é capaz de distinguir Como o aumento de um microscópio composto é
detalhes de um objeto mantido à distância de
visão de 25 cm de aproximadamente 0,1 mm, M = Mobj ∗Mocul ∗Mtubo
ou seja, tem um poder de resolução angular de
aproximadamente 1'. Quando um instrumento escolhida a objetiva, seu aumento estará
ótico resolve dois pontos, é necessário que estas determinado; a ocular ideal será então
imagens resolvidas sejam ampliadas pelo menos
500 * AN 1000 * AN
até o limite necessário para que o observador < M ocul <
M obj * M tubo M obj * M tubo
possa distingui-los conforme acima. Este
aumento constitui o aumento mínimo necessário
para observar a resolução do instrumento. Convém lembrar sempre que as indicações
Um aumento sensivelmente maior do que acima constituem regras práticas cujo valor deve
este será inútil, pois o olho humano não poderá ser respeitado quanto à ordem de grandeza.
adicionar detalhes que o instrumento não tenha Desde que o observador entenda os princípios
resolvido, em primeira mão, do objeto. A este envolvidos, um desvio ponderado poderá às
aumento inútil denomina-se aumento vazio. Em vezes até ser útil. Para trabalho com objetivas
determinadas ocasiões poderá ser mesmo fracas trata-se em geral de obter uma visão geral
prejudicial, tornando visíveis caracteres difusos sobre a estrutura da amostra; não é necessário
da imagem que comprometem a sua qualidade. utilizar todo o poder de resolução da objetiva, e

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Microscopia Fotônica IV.11
Tabela 04.02 - SELEÇÃO DA ABERTURA NUMÉRICA DE OBJETIVAS

Abertura numérica A.N. Resolução d (nm) Aumento normal X


0,1 3330 50-100
0,3 1110 150-300
0,65 512 325-650
0,95 350 475-950
1,25 266 625-1250
1,40 238 700-1400

pode-se permanecer abaixo da magnificação to- imagem. Quando a imagem for gerada por
tal de 500 A.N., com o que se obtém imagens de contraste de amplitude é usual o emprego de um
foco e contraste muito bons. Quando se filtro verde.
investigam os detalhes, com objetivas fortes, será
apropriado trabalhar na faixa superior destes Observação ortoscópica e conoscópica
aumentos, ainda que disto resulte uma
diminuição do foco e do contraste. Em resumo, Dois tipos de observações podem ser feitas
devemos usar sempre a menor objetiva que dê o no microscópio: a mais comum, denominada
poder de resolução desejado, completando o ortoscopia, fornece a imagem aumentada do
aumento com a ocular adequada. Frequentemen- objeto, relacionando cada ponto do mesmo com
te, a escolha desta ocular depende também de um ponto da imagem (Figura 03.08). A conoscopia
considerações de correção de aberrações, uma refere-se ao estudo da figura de interferência
vez que em alguns casos somente combinações formada no plano focal da objetiva, na qual cada
específicas e projetadas de tal modo pelo
fabricante, fornecem resultados satisfatórios.
No caso de fotomicrografia, considerações
análogas são válidas, agora baseadas no
tamanho de grão da película, ou na resolução
da câmara digital. O aumento ideal situa-se
entre 60 e 180 A.N. para películas e condições
normais em fotografia.
A intensidade de luz deve ser controlada
preferencialmente por filtros de densidade
neutros. Para observação visual admite-se,
quando do uso de uma fonte incandescente,
controle pela tensão de alimentação, mas
lembrando sempre que a composição espectral
da fonte, e as cores da imagem, são alteradas.
Em nenhum caso deve a intensidade da
iluminação ser regulada pelo manejo da íris de
abertura, que tem funções bem definidas e
regulagens críticas quanto à qualidade da Figura 04.15 - Ortoscopia e conoscopia

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IV.12 Microscopia dos Materiais
ponto corresponde a uma direção de propagação Contraste em microscopia fotônica
da luz através do objeto (Figura 04.15)
Para algumas técnicas de microscopia é No Capítulo II estudamos os principais
necessário observar o plano posterior da objetiva. parâmetros da luz, a saber sua amplitude,
Para isto, alguns tubos incluem a chamada lente frequência, fase e polarização (Figura 04.16).
de Bertrand, que em conjunto com a ocular forma Cada um deles contém informações sobre a
um microscópio auxiliar focalizando aquele microestrutura da amostra com a qual
plano. Estas técnicas incluem além da interagiram, e permitem desenvolver contraste
conoscopia com luz polarizada, regulagem da íris adequado para adquiri-la.
de abertura, e contraste de fase. Na ausência de Nem toda esta informação pode ser
lente de Bertrand, pode ser utilizado um decodificada pelos nossos olhos, que apenas são
microscópio auxiliar (denominado de sensíveis a diferenças de amplitude, que
microscópio de fase, por ser um acessório interpretamos como claro-escuro, e compri-
fornecido para esta técnica), ou precariamente a mento de onda, que percebemos como cor. Para
simples observação pelo tubo sem ocular, ou com os outros casos é necessário processamento
uma tampa dotada de um furo de alfinete. adicional que nos permitam a sua visualização.

Figura 04.16 - Informação contida em ondas luminosas a) amplitude b) frequência (cor) c)fase
d) polarização (Gifkins)

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Microscopia Fotônica IV.13
Contraste de amplitude Iluminação em campo escuro consiste na
inversão do contraste anterior. A iluminação é
A luz interagindo com a amostra pode ser disposta de tal modo que a luz incidente
absorvida, transmitida ou refletida, originando diretamente sobre a amostra não é coletada pela
contraste de amplitude entre as diversas regiões objetiva, que recebe apenas luz espalhada ou
da amostra. refletida por irregularidades ou partículas (Figura
O método mais comum de observação em 04.17). O método é muito sensível para
microscopia fotônica é com iluminação de campo partículas, contornos de grão (Figura 04.19) ou
claro (Figura 04.17). Em microscopia de mesmo (uma lástima para o obser vador)
transmissão, o efeito é intuitivo; em reflexão, arranhões na amostra, uma vez que o olho
regiões planas do objeto, perpendiculares ao eixo humano distingue com maior facilidade pontos
ótico, refletem a luz de volta para a objetiva e claros em campo escuro, do que o reverso. A
aparecem claras; a luz que incide sobre regiões visualização de poeira em um aposento onde
inclinadas é refletida para fora da objetiva, ou penetra um raio de sol é um bom exemplo deste
sofre espalhamento, o grau de escurecimento efeito.
dependendo da textura e inclinação relativa ao
eixo ótico. As diversas características da amostra Contraste de cores
ocasionam os efeitos mostrados na Figura 04.18.
Quase sempre a amostra sofre tratamento por O ataque metalográfico clássico gera
corante ou ataque químico prévio para contraste claro-escuro devido à topologia gerada
desenvolver este contraste. pela dissolução diferenciada de diferentes regiões

Figura 04.17 - a e b) Transmissão, campo claro e campo escuro c e


d) Reflexão, campo claro e campo escuro

Figura 04.18 - Iluminação em campo claro e campo escuro


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IV.14 Microscopia dos Materiais
Figura 04.19 - Contraste em campo claro e em campo escuro

da amostra, seja porque têm composição ou comprimento de onda λ. Se as amostras


reatividade diferentes, ou porque têm orientação recobertas são observadas na luz branca, as cores
cristalográfica diversa. Nestas condições a que satisfazem as condições acima são extintas,
porção de luz refletida para a objetiva varia de e as cores restantes superpondo-se para produzir
acordo com a região observada. a cor complementar a λ. O efeito é progressivo à
O uso da metalografia a cores oferece medida que aumenta a espessura da película,
uma nova dimensão na criação de contraste em ocorrendo interferência para azul, verde,
microscopia de materiais, aumentando amarelo, varrendo a gama de cores de
sensivelmente a quantidade de informação interferência da primeira ordem e das seguintes.
disponível de uma amostra. Existem diversas Concluímos que a cor das películas é dependente
maneiras principais de obter contraste de cor. de sua espessura, que por sua vez depende da
A primeira consiste na obtenção de reatividade das fases presentes, gerando o
camadas de produtos coloridos por meio de contraste desejado. Existem diversos métodos
ataque químico. O princípio básico envolve o para obtenção de tais colorações, detalhados no
ataque seletivo e coloração característica das Capítulo XII.
diversas fases ou fenômenos óticos relacionados O segundo processo de gerar contraste de
à interferência da luz. cores, e que é de origem puramente ótica, envolve
Raios luminosos incidindo sobre uma o uso de luz polarizada. A teoria deste processo
superfície metálica recoberta por uma película está detalhada adiante neste Capítulo.
serão refletidos da superfície da película e do
metal. Observação da Figura 04.20 mostra que
os raios refletidos em ambas superfícies
inter ferem, num efeito que depende do
comprimento de onda da luz incidente, espessura
da película, e índices de refração da película e
do metal ( 3 ). Quando os caminhos óticos
percorridos pelos raios diferirem de um número
impar de semi-comprimentos de onda haverá
inter ferência destr utiva para a cor do Figura 04.20 - Camada de interferência

3
O cálculo é complexo, e inclui considerações de mudança de fase por reflexão em meios de densidade diferentes.
Vide Physik, C.Gerthsen, Springer, 1956, 4.ed., 302)
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Microscopia Fotônica IV.15
Figura 04.21 - a) Microscópio de fluorescência b) espectro de excitação e fluorescência

O terceiro processo é o de fluorescência. visível é eliminada por filtros de excitação, e após


Quando um fóton interage e é absorvido pela incidência na amostra, a radiação UV remanes-
matéria, formam-se estados eletrônicos cente é removida pelo filtro de barreira. O divi-
excitados, que decaem com emissão de luz de sor cromático é um filtro dicróico, que transmite
comprimento de onda maior, denominada de preferencialmente comprimentos de onda
fluorescência. Um certo número de materiais maiores, refletindo a radiação incidente de
emite radiação luminosa visível quando excitação e a refletida da amostra. O resultado
iluminados por luz ultravioleta. O efeito é é que a luz incidente é eliminada, destacando-
utilizável em microscopia, e apesar de sua maior se a emitida pelo constituinte fluorescente sobre
e decisiva importância nas ciências biológicas, campo escuro. Mencione-se que microscopia
sua ocasional aplicação em microscopia de de fluorescência ilustra um caso no qual a
minérios e materiais orgânicos como fibras e imagem é formada por raios de luz incoerentes,
polímeros, justificam uma breve menção no uma vez que cada região da amostra emite in-
presente contexto. No caso de polímeros, efeitos dependentemente.
úteis podem ser obtidos pelo uso de corantes A epi-iluminação é a mais usada, mas a
fluorescentes, denominados de fluorocromos. observação de amostras transparentes também
A Figura 04.21a ilustra a disposição de é de interesse, por exemplo em mineralogia. A
um microscópio de fluorescência com epi- disposição é semelhante a de um microscópio
iluminação. Em geral, os comprimentos de onda de campo escuro, de modo quer a maior parte da
envolvidos em fluorescência estão na região radiação incidente não é colhida pela objetiva4.
visível (400-700 nm) e no ultravioleta próximo De um modo geral, os requisitos para
(300-400 nm). A iluminação é obtida com elementos óticos de microscópios de fluorescên-
lâmpadas de descarga de mercúrio ou xenônio, cia são elevados. As objetivas devem ser de grande
cujo espectro é rico em ultravioleta. A radiação A.N. devido à baixa intensidade da luz emitida, e

4
Mas um filtro de barreira continua necessário, para remover a radiação UV difratada da amostra. Fique aqui
consignada a cautela necessária no uso de radiação ultravioleta que exige cuidados especiais para segurança do
operador. Microscópios comerciais equipados para este fim incorporam elementos de proteção adequados. A
improvisação, ou adaptação de microscópios comuns para este uso é formalmente desaconselhada.
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IV.16 Microscopia dos Materiais
Contraste de fase

Consideremos um objeto totalmente trans-


parente e incolor, mas que tenha espessura ótica
variável, ou seja, regiões de índice de refração
diverso. Um tal objeto é denominado de objeto
de fase, em distinção aos objetos de amplitude
anteriormente estudados. Um feixe de raios
coerentes e uniformes, após incidir na amostra,
será transformado em um feixe de raios, todos
com a mesma intensidade, porém exibindo
Figura 04.22 - Trilhas de arborescência diferença de fase. Estas diferenças de fase não
(degradação elétrica) em isolamento polimérico
são percebidas pelo olho humano, e o objetivo
reveladas por fluorescência (Mayoux)
da microscopia de fase é modificar esta diferença
de fase para uma diferença de amplitude que a
torne perceptível ao olho humano. A técnica foi
exigem vidros específicos, não fluorescentes e inicialmente descrita por Zernike em transmis-
bons transmissores de UV. A Figura 04.21a ilustra são, onde tem larga aplicação em biologia;
espectros incidente e de fluorescência típicos, aplicações com luz refletida e metalografia fo-
exigindo filtros para separar comprimentos de ram descritas mais tarde.
onda relativamente próximos. Para aplicações Consideremos a geração de contraste em
mais simples usam-se filtros de absorção, sendo objetos de amplitude e objetos de fase. Seja uma
no entanto filtros de interferência recomendados, partícula p absorvente de luz (coeficiente de
pois transmitem maior intensidade e têm banda absorção ip, índice de refração η m), cercada de
passante mais estreita. um meio m não absorvente de mesmo índice de

Figura 04.23 - Contraste de fase

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Microscopia Fotônica IV.17
Figura 04.24 - Cloreto de estrôncio a) campo claro b) contraste de fase (Sterrenburg)

refração. Os raios emergentes terão amplitudes diferença de fase de (π/2 + π/2) = π em relação
diferentes Ai e At < Ai, porém em fase, e serão ao feixe principal. A interferência entre estes
percebidos como contraste de amplitude (Figura feixes gera contraste visível de amplitude. A
04.23). Verificamos que At = Ai - Ad, onde Ad é placa de fase em geral é recoberta por uma
um vetor de pequena intensidade defasado de p camada absorvente na região anular, para
em relação à luz incidente. Caso a partícula seja equilibrar o feixe direto com o difratado, de
transparente, porém com ηp ηm , introduz uma intensidade muito menor, e deste modo
diferença de caminho ótico ∆ = (ηm - ηp)∗d, e os melhorar o contraste.
raios emergentes terão amplitudes iguais, porém Em microscopia de materiais em luz
fase diferente, e não será percebido contraste. refletida, a técnica é especialmente empregada
Neste caso esta diferença de fase pode ser para revelar diferenças de altura ou inclinações
expressa pela adição de uma pequena amplitude de topologia, que introduzem diferenças de fase
ortogonal At = Ai + A∆ defasada de π/2. no feixe refletido. É particularmente sensível
O objetivo da microscopia de fase é dar a para degraus bruscos, possibilitando resoluções
este vetor uma alteração adicional de π/2, para verticais da ordem de 5 nm.
resultar em uma mudança de amplitude. Isto é
conseguido introduzindo no caminho ótico do Contraste por polarização
microscópio uma placa de fase, cujo ressalto é
calculado para provocar um caminho ótico A luz é uma onda eletromagnética com
adicional η∗t = λ/4, onde λ em geral é 546 nm vibrações transversais, constituída de oscilações
(verde). Na Figura 04.23 as linhas sólidas definidas, de acordo com a teoria de Maxwell,
representam a luz proveniente de um por vetores elétrico e magnético, ortogonais e
iluminador anular, e seu percurso através do perpendiculares à direção de propagação da
microscópio e da placa de fase: caso a amostra onda. Por uma série de razões, determinou-se
seja uniforme e transparente, toda a iluminação que o vetor elétrico está associado aos fenômenos
percorrerá este trajeto. Com a presença de uma óticos, e nos referiremos ao mesmo quando
região de índice de refração diferente, haverá tratarmos da “vibração da luz”.
difração, e resultarão raios que seguem o trajeto Consideremos um raio de luz propa-
pontilhado que, como vimos acima, terão uma gando-se na direção do observador, cujo vetor

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IV.18 Microscopia dos Materiais
deslocamento elétrico vibre em determinada
direção e amplitude. No caso geral da luz natu-
ral, haverá mudanças bruscas e aleatórias, em
intervalos de tempo da ordem de nanosegun-
dos, na direção da vibração; em média, o efeito
será simétrico em relação à direção de propa-
gação. Em determinadas condições, algumas
direções de vibração podem ser suprimidas ou
favorecidas, originando a luz polarizada.

Geração da luz polarizada

Luz polarizada pode ser gerada por


Figura 04.25 - Lei de Brewster
diversos princípios ou dispositivos, generica-
mente denominados de polarizadores.
Quando um raio de luz é refletido em uma Quando um raio de luz incide, por
placa de vidro, ocorre polarização por reflexão. exemplo, sobre um cristal de calcita (carbonato
Verifica-se que a proporção de luz polarizada no de cálcio natural, espato de Islândia) ou de
feixe refletido depende do ângulo de incidência, quartzo, haverá em adição ao raio refletido, dois
aumentando com o mesmo até obtenção, para raios refratados (Figura 04.26). Denomina-se a
um determinado ângulo, de luz plano polarizada. este fenômeno de dupla refração ou
O ângulo para polarização completa é dado pela birefringência. Um destes raios (denominado de
lei de Brewster, que observou que neste ângulo ordinário O) obedece à lei de Snell, isto é, está
os raios refletido e refratado formam um ângulo situado no plano de incidência e tem o índice de
reto. Pela lei de Snell refração η . O outro raio, denominado de
extraordinário E não está, a não ser em posições
sen α η especiais, no plano de incidência, e seu índice

’= = tan α
sen α η’

O ângulo de Brewster é portanto α =


arctan η ’ / η; por exemplo, para vidro no ar é
aproximadamente 57o. A vibração do desloca-
mento elétrico é perpendicular ao plano de
incidência5. Notar que esta dependência da po-
larização com o ângulo de incidência aplica-se
ao caso de meios isotrópicos; no caso da
reflexão em um meio anisotrópico, haverá
também polarização, mas cuja geometria
dependerá especificamente da orientação do
cristal em questão. Figura 04.26 - Birefringência (Leica)

5
A literatura é confusa na definição de “plano de polarização”; algumas fontes definem como o “plano no qual
ocorre a vibração”, em outros casos, o plano perpendicular. Adotamos a primeira definição.

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Microscopia Fotônica IV.19
de refração (ou seja a velocidade de propagação
da luz no cristal) varia com a direção cristalina.
Verifica-se adicionalmente que se a incidência
for de luz não polarizada, os raios O e E
emergirão linearmente polarizados, com vetores
dispostos ortogonalmente. Figura 04.27 - Prisma de Nicol
A calcita e o quartzo são exemplos de
cristais anisotrópicos, cujas propriedades são
função da direção cristalina. Com exceção dos
cristais do sistema cúbico, todos os outros excede o escopo deste livro, e deve ser consultada
apresentam anisotropia. Em um cristal fonte especializada em cristalografia ótica.
isotrópico, a luz se propaga com a mesma Um dos métodos clássicos (hoje
velocidade em todas as direções, e não há superado) de gerar luz polarizada é utilizando
restrição à direção de vibração da luz. Cristais a birefringência da calcita na forma do prisma
anisotrópicos em geral dividem um raio de luz de Nicol. Para tal remove-se um dos raios
em dois raios que se propagam com velocidade refratados por reflexão total, cortando dois
diferente em direções diferentes, e que vibram prismas de calcita e cimentando-os conforma a
ortogonalmente entre si. Estas direções são Figura 04.27. Os cortes são feitos com os eixos
controladas pela estrutura cristalina, e quando óticos e direções de vibração como indicado, e
um cristal é girado, as direções permitidas de com um ângulo de interface que promova a
vibração também sofrem rotação conjuntamente. reflexão total do raio O. Deste modo, o raio E
Os cristais anisotrópicos apresentam uma emergente está isolado e polarizado linear-
ou duas direções, denominadas de eixos óticos, mente. O leitor deverá perceber que um raio é O
ao longo das quais a luz se propaga com uma ou E apenas no interior do cristal: uma vez
única velocidade, e na qual não há restrição à emergindo, é um raio de luz polarizada comum
direção de vibração. O eixo ótico é um eixo de – o isolamento do raio E no prisma de Nicol
simetria. Na propagação ao longo do eixo ótico atende apenas à conveniência geométrica.
não há formação de raio O ou E. Na direção Para o caso em que se deseje dividir o
normal ao eixo ótico, o comportamento é mais feixe incidente em dois feixes plano polariza-
sutil. Os raios O e E tem velocidade diferente, dos, retendo ambos para comparação ou inter-
ainda que na mesma direção. Este efeito tem ferência, podem ser usadas outras geometrias,
implicações importantes em microscopia, que como por exemplo o prisma de Wollaston.
examinaremos oportunamente. Consiste em duas cunhas de quartzo,
Cristais uniaxiais, que incluem os cimentadas de tal modo que os eixos óticos
sistemas hexagonal, tetragonal e trigonal, tem sejam mutuamente perpendiculares, e paralelos
um eixo ótico. Nestes cristais, o raio E sempre à face de incidência da luz. O feixe incidente se
vibra no plano contendo o raio e o eixo ótico, e o propaga perpendicularmente ao eixo ótico na
raio O vibra ortogonalmente ao raio E. Os cristais primeira cunha, e os componentes plano pola-
uniaxiais são classificados em positivos ou rizados são separados por dupla refração na
negativos, segundo o raio O é mais ou menos interface, gerando dois feixes de intensidade
veloz do que o raio E. Cristais biaxiais, que são igual, e polarização ortogonal, cujo ângulo de
ortorrombicos, monoclínicos ou triclínicos, separação depende do ângulo de fabricação do
apresentam ambos raios refratados com prisma (muito exagerado na figura, em geral
comportamento extraordinário. Seu estudo de poucos minutos). Notar que no caso em que

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IV.20 Microscopia dos Materiais
inicialmente não polarizada vibra após passagem
pelo polarizador em um só plano. Nestas
condições atravessa o polarizador paralelo, mas
é retida no cruzado. Chamamos de extinção a
ausência de propagação de luz através de um
polarizador cuja direção de propagação faz 90o
com a direção de vibração da luz. No caso do
analisador em posição intermediária podemos

Figura 04.28 - Prisma de Wollaston


(adaptado de Leica)

o ponto de divergência esteja no meio da


superfície de separação, os dois raios percor-
rem distancia idêntica, e emergem em fase.
Alguns cristais apresentam a propriedade
de, além da birefringência, absorver muito mais
fortemente um dos raios refratados. Tais cristais
são denominados dicróicos. Um exemplo é a
turmalina, que absorve fortemente o raio O;
outro exemplo é o iodosulfato de quinina,
conhecido como herapathita. Em 1930, Land
conseguiu produzir películas impregnadas de
Figura 04.29 - Polarizadores cruzados I
microcristais de herapathita, orientados com
seus eixos óticos paralelos, comercializado
como Polaroid. Modernamente, lâminas de
Polaroid são fabricadas em polímeros que tem
propriedades dicróicas quando suas moléculas
são orientadas por tração mecânica. O advento
do Polaroid revolucionou a ótica de luz polari-
zada, tendo este material, de obtenção fácil e
de custo conveniente, praticamente suplantado
os outros meios de obtenção de luz polarizada.
A sequência de dois polarizadores constitui
o conjunto denominado de polarizador e Figura 04.30 Polarizadores cruzados II
analisador. A propagação da luz através dos
mesmos está ilustrada na Figura 04.29. A luz

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Microscopia Fotônica IV.21
decompor o vetor representativo do raio polarizado ou seja que introduz uma diferença de 2π para
em dois vetores ortogonais, um dos quais, na um raio incidente de cor verde-amarelada. A
direção do analisador, será transmitido, com utilização desta placa, denominada placa de
intensidade menor (Figura 04.30). Esta tonalidade sensível será descrita mais adiante.
construção vetorial é de grande utilidade na Vimos anteriormente que quando a luz
interpretação do comportamento de materiais se propaga ao longo do eixo ótico de um cristal
examinados entre polarizadores cruzados. não ocorre dupla refração. Isto não quer dizer,
Examinemos agora o comportamento de no entanto, que no caso geral não ocorra
um feixe de luz polarizada atravessando um nenhuma modificação. Um feixe de luz
cristal birefringente. Seja a experiência da polarizada que incida segundo o eixo ótico da
Figura 04.29, na qual luz polarizada na direção um cristal de quartzo sofrerá rotação de seu
N-S incide sobre um cristal anisotrópico, por plano de polarização. Em alguns cristais de
exemplo calcita, cortado paralelamente ao eixo quartzo a rotação será à direita, em outras à
ótico, e com as direções de vibração a um angulo esquerda, e proporcional à espessura do cristal.
θ com a direção de polarização. Devido à Chama-se a este fenômeno de atividade ótica.
birefringência a propagação no cristal ocorrerá Este efeito não é restrito aos cristais, sendo
como um raio O e como um raio E. Ambos se inclusive observado em líquidos e soluções cujos
propagarão na mesma direção, porem o raio E solutos apresentam assimetrias moleculares.
com maior velocidade. Nestas condições, Um exemplo bem conhecido é o do sacarímetro
emergirão do cristal dois raios polarizados usado para medir concentração de açucares.
ortogonalmente e com diferença de fase que é Apesar de que menor importância em
função da espessura do cristal. No analisador, microscopia dos materiais, a atividade ótica é
os componentes E- O 6 de ambos, sendo mencionada para que a rotação do plano de
coerentes, adicionam-se vetorialmente. A polarização seja cuidadosamente distinguida da
diferença de fase é dada por ocorrência de luz elipticamente polarizada como
dois fenômenos inteiramente diversos, ocorrendo

∆= d(η O − η E ) um quando a luz percorre o quartzo segundo o
λ
eixo ótico, o outro transversal ao mesmo.
onde d é a espessura do cristal, λ o comprimento
de onda e η os índices de refração dos raios Cristalografia e Mineralogia
ordinário e extraordinário. Uma placa de quartzo
ou mica com espessura O objetivo principal do exame de minerais
(ou petrografia) por meio de microscopia de luz
λ/4
d=
(η E − η O ) polarizada é o da identificação dos componentes
do mineral. Neste sentido, o microscópio de luz
é denominada placa de quarto de onda, e é de polarizada era até pouco um dos instrumentos
grande utilidade na análise de figuras básicos do mineralogista. Mesmo não havendo
conoscópicas. Um outro caso de importância é dúvida de que o advento recente dos novos
o de uma placa tal que processos de micoanálise (Capítulo X) introdu-
ziram novas dimensões e possibilidades quanti-
546nm tativas neste domínio, a técnica que utiliza
d=
(η E − η O ) equipamentos de simples operação e vulto con-

6
E-O refere-se aquí a Este-Oeste - coincidência infeliz de iniciais!

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IV.22 Microscopia dos Materiais
sideravelmente menor, permanece de grande uso abertura quase fechado. Quando o tubo é
para exames iniciais, oferecendo mesmo resul- levantado da posição do foco, uma linha
tados surpreendentemente completos nas mãos brilhante paralela ao contorno do grão move-se
de microscopistas competentes. A identificação para o seu interior. Essa é a linha de Becke, que
dos minerais é feita por meio da determinação sempre se move na direção do meio de maior
em uma sequência ordenada de observações de índice de refração quando a distancia entre a
um número de propriedades e parâmetros. O amostra e a objetiva é aumentada. Caso se
mineralogista e geólogo tradicionalmente fazem disponha de uma coleção de líquidos de imersão
suas observações em microscopia de transmis- de índices de refração conhecidos (disponíveis
são; a preparação de laminas petrográficas está comercialmente, ou de formulação tabelada,
brevemente descrita no Capítulo XII. Em alguns Capítulo XV) o índice de refração de grãos pode
casos, observações também podem ser feitas em ser determinado por comparações sucessivas.
luz refletida. No entanto, conforme já frequen- Precisão da ordem de +/- 0,002 pode ser obtida.
temente mencionado neste contexto, os O procedimento para grãos ou cristalitos aniso-
observações em luz refletida geram um maior trópicos é mais complicado, mas operando-se
número de informações qualitativas, cuja origem com o grão em estado de posição de extinção
em princípio é explicável, mas cujo aproveita- entre polarizadores cruzados, e com o analisador
mento quantitativo é excessivamente complexo. posteriormente removido, estaremos ensaiando
apenas uma direção de vibração. O segundo
Exame em luz polarizada índice é obtido girando a partícula (ou o
polarizador) de 90o e repetindo o ensaio de Becke.
Quando um material anisotrópico é
examinado em luz polarizada, e girado em Exame entre polarizadores cruzados
relação à mesma, sua cor pode variar apresen-
tando dois extremos a cada 90o de rotação. Tal Grande numero de observações com luz
fato deve-se a diferenças de absorção para polarizada é feita entre polarizadores cruzados,
vibrações que ocorrem em diferentes direções, ou seja, com o analisador orientado com sua
que é também função do comprimento de onda. direção de transmissão ortogonal à direção de
Em posições de quadrante, apenas O ou E serão polarização imposta pelo polarizador. Neste
transmitidos, apresentando o cristal (em trans- caso evidentemente o campo visual ficará
parência) as cores complementares dos totalmente escuro.
respectivos máximos de absorção. Cristais Cristais isotrópicos permanecem escuros
uniaxiais podem apresentar duas cores, cor- quando girados entre polarizadores cruzados,
respondentes aos raios O e E, e são dicróicos. da mesma maneira que cristais anisotrópicos
Cristais biaxiais podem apresentar três cores observados ao longo do eixo ótico Outros
e são pleocróicos. cristais anisotrópicos decompõem a luz do
O índice de refração pode ser caracterís- polarizador em dois componentes, que têm
tico para identificação, e é tabelado para um velocidades diferentes e emergem do cristal com
grande número de substâncias. Entre os diversos diferença de fase. Conforme visto anterior-
métodos para esta medição, um dos mais usados mente, ocorre interferência no analisador, e no
é o da linha de Becke. Uma partícula é envolvida caso da iluminação com luz branca, uma série
por um óleo ou cimento de índice de refração de cores é produzida. Estas cores variam com
menor e observada usando uma objetiva de a espessura do cristal, sua birefringência e
médio ou alto aumento com o diafragma de orientação. Veremos adiante como podemos

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Microscopia Fotônica IV.23
Figura 04.31 - Carta de Michel-Levy (Leica)

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IV.24 Microscopia dos Materiais
utilizar este efeito para obtenção de uma série menor, e azul a violeta maior do que 2π.
de parâmetros do cristal. Portanto, só o verde-amarelado será retido no
A cada 90o de rotação de um cristal, a analisador, e com ausência desta cor, o campo
intensidade das cores de polarização decresce a ficará iluminado com a sua complementar
zero. Nestas posições as direções permitidas de púrpura. A adição de 2π transfere a interferência
vibração da luz no cristal coincidem com as para a segunda ordem, cuja nítida diferença de
direções dos polarizadores, e o cristal é dito em cores facilita a interpretação, e é denominada
extinção. Desta maneira, podemos identificar as de placa sensível.
direções de vibração e relaciona-las com as Compensadores são dispositivos que
facetas cristalográficas do cristal. permitem introduzir no caminho ótico uma
diferença de percurso conhecida, e que se
Medida da birefringência baseiam no conceito de compensação.
Examinemos uma lâmina de mica entre polari-
A birefringência ∆η = (η O - η E) é um zadores cruzados, em luz branca. Girando a
parâmetro característico de uma substância lâmina em seu plano 360 o , verificaremos
anisotrópica, e está relacionado à diferença de extinção em quadrantes, correspondendo às
caminho ótico ∆ = ∆η ∗ t. Dentre os diversos ocasiões em que as direções de vibração do
métodos de medição de birefringência polarizador coincidem com as direções
destacamos o uso da carta de Michel-Lévy, e de permitidas na mica. Estas direções são as
compensadores. direções dos raios O e E, ou seja, respectiva-
Do cristal birefringente emergem dois mente, direção de maior e menor velocidade de
raios de luz branca, ortogonalmente polarizados, propagação da luz (por ser a mica um cristal
coerentes, mas com diferença de fase. Estes raios negativo). Giremos a mica 45o da extinção, para
são decompostos no analisador, e os obtermos transmissão máxima; superpondo
componentes paralelos à direção permitida outra lâmina idêntica e girando-a por sua vez,
interagem. Verificando-se a condição veremos que em algumas posições obteremos
transmissão nula e em outras cores de interfe-
d (η O − η E ) = λ x
*
rência de ordem superior. Nesta experiência
ausência de luz (ou cor de interferência de ordem
a cor correspondente a este comprimento de onda zero) ocorre quando a direção lenta de uma
será extinta, e observaremos a cor complementar. lamina coincide com a direção rápida da outra.
Este é o princípio da carta de Michel-Levy, que Cores de ordem superior ocorrem quando as
consiste em um normograma que relaciona a direções lenta e rápida de ambas as laminas
espessura da amostra, a cor observada e a coincidem e seus efeitos se somam, agindo como
birefringência (Figura 04.31). Cristais finos ou um a lamina de espessura dupla. No primeiro
com pequena birefringência resultam em tons caso, dizemos que a birefringência da primeira
de cinza no início da primeira ordem, de difícil
resolução. A introdução de uma placa de retardo
de um comprimento de onda é útil para melhorar
a identificação. A cor escolhida é o verde-
amarelado (λ=546 nm), e seu funcionamento é
o seguinte: para esta cor, a defasagem é nula
(módulo 2π) e comprimentos de onda maiores
(amarelo a vermelho) sofrerão defasagem Figura 04.32 - Compensação

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Microscopia Fotônica IV.25
utilizando uma mesa porta-amostra dita
universal, que permite inclinar a amostra em
todas as direções (Figura 04.34)
A figura de interferência formada no plano
focal posterior da objetiva pode ser observada
pela inserção da lente de Bertrand, ou na sua
falta, de maneira menos perfeita, pela
Figura 04.33 - Compensadores (Leica) observação da parte posterior da objetiva com a
ocular removida. O aspecto típico é o indicado
na Figura 04.35, que representa um cristal
uniaxial observado na direção do eixo ótico com
lamina foi compensada pela segunda: o raio O da luz monocromática. A figura tem dois aspectos
primeira se propaga como raio E na segunda, e o característicos: uma cruz e círculos concêntricos.
atraso na primeira é anulado por avanço idêntico Sua interpretação é a seguinte: Os raios
na segunda. Portanto, extinção refere-se à luminosos incidindo na direção do eixo do
retenção de luz polarizada por posicionamento em microscópio, que coincide com o eixo ótico da
relação às direções permitidas do analisador; com- amostra, não sofrem birefringência, e portanto
pensação refere-se à adição de fases para são retidos pelos polarizadores cr uzados,
neutralizar a birefringência do cristal. As placas originando o centro escuro. Para raios que
λ e λ/4 anteriormente descritas, uma cunha incidem inclinados ao eixo do microscópio, à
deslizante de quartzo, ou um dos muitos tipos de
compensadores reguláveis são exemplos de com-
pensadores fixos ou variáveis (Figura 04.33)

Conoscopia

Ao estudarmos a iluminação de Köhler,


vimos que no feixe conjugado à amostra há uma
relação entre cada ponto do objeto e sua imagem.
Já no feixe conjugado à iluminação forma-se, no
plano focal da objetiva uma figura de
interferência em que cada ponto está relacionado
a uma direção de propagação. O estudo desta
interferência, e de sua modificação por meio de
compensadores permite determinar o número de
eixos óticos, os seus ângulos, e outras
características óticas da amostra.
A luz transmitida por um cristal depende
do seu angulo de incidência e da orientação em
relação ao eixo cristalino. Um método que
permite observar simultaneamente a propagação
em diferentes direções é a conoscopia. Para
conoscopia, devemos orientar o cristal na direção Figura 04.34 - Microscópio petrográfico,
do eixo ótico ou da de maior birefringência, ilustrando mesa universal (Leica)

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IV.26 Microscopia dos Materiais
Figura 04.35 - a) Figura conoscópica típica b) quartzo, eixo perpendicular ao plano da amostra
c) inclinado de 45 o d) eixo contido no plano da amostra (adaptado de Leica)

medida que aumenta o angulo de incidência O uso de luz polarizada incidente em


aumenta o percurso no cristal (d) e a materialografia
birefringência ∆ η, e portanto a diferença de
caminho ótico ∆. Para alguns valores de ∆ ocorre Apesar da luz polarizada ser uma técnica
extinção. Se a observação for em luz branca, muito utilizada em transmissão, seu uso em luz
serão observados anéis coloridos, seguindo as refletida é muito menos difundido. Esta circuns-
cores a ordem crescente do espectro. tância deve-se em grande parte a uma maior
Em cristais uniaxiais, o plano de vibração dificuldade em interpretar as observações, seja
dos raios extraordinários contem o eixo ótico, de modo quantitativo ou mesmo qualitativo. Em
e o dos raios ordinários é perpendicular ao microscopia de luz incidente superpõem-se aos
mesmo. As regiões da figura de interferência efeitos de bireflexão (análogo à birefringência)
onde as direções de vibração são paralelas aos dos materiais anisotrópicos, efeitos de polariza-
polarizadores apresentam extinção. Notar que ção por reflexão, ainda que para metais, com seu
estas figuras, também denominadas de isogiras, alto índice de refração, este efeito só se torna
orientam-se nas direções N-S e E- O do micros- significativo para grandes ângulos de incidência.
cópio, e não se alteram pela rotação da amostra. No caso de incidência normal em uma superfície
As figuras conoscópicas sofrem alteração anisotrópica, forma-se luz polarizada em direção
quando o cristal é inclinado, como ilustrado na paralela e perpendicular aos eixos de simetria,
Figura 04.35. Para cristais biaxiais, originam- cuja elipticidade varia com a rotação da amostra,
se figuras semelhantes, porem de interpretação e gera, entre polarizadores cruzados, máximos
bem mais complexa. e mínimos de intensidade. Deste modo regiões

Figura 04.36 - Berílio a) campo claro b) luz polarizada, sem ataque

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Microscopia Fotônica IV.27
isotrópicas e anisotrópicas podem, em principio tonalidade sensível. A técnica é particularmente
e sujeitos aos casos especiais considerados útil para metais de difícil ataque, como por
adiante, serem distinguidas por rotação da exemplo berílio, urânio e zircônio. Muitas
amostra. A elipticidade é frequentemente inclusões em metais são anisotrópicas, assim
pequena, o que resulta em pequenas variações como em materiais polifásicos é possível
de brilho durante a rotação. Um meio de identificar certas fases. A técnica também
aumentar o contraste nestas condições é o uso apresenta bons resultados em alguns estudos de
da placa de tonalidade sensível, anteriormente textura e orientação preferencial, e exame de
descrito. Rotação da amostra causará mudança minérios em luz refletida.
nas cores, devido à mudança de orientação da Materiais isotrópicos, em princípio, são
partícula birefringente. O aumento de contraste inativos em relação à luz polarizada. Alguns
obtido é importante, uma vez que o olho humano tratamentos superficiais no entanto alteram esta
é muito mais sensível a mudança de cores do situação. A formação de películas de óxidos ou
que a variação de brilho, e regiões de mesma sulfetos, seja por oxidação direta ou eletrólise,
orientação apresentarão tonalidade igual. gera em alguns casos, como por exemplo
O exame de materiais em luz polarizada alumínio, contraste em luz polarizada. O efeito
incidente exige cuidado especial na qualidade da parece depender não só da anisotropia da
preparação das amostras. Arranhões serão película formada, e sua relação com a orientação
ressaltados (por polarização por reflexão) assim do grão sobre o qual se forma (epitaxia), mas
como camadas superficiais deformadas ou também da textura superficial, e consequente
películas de óxido poderão introduzir ou mascarar elipticidade por reflexão. Quando submetemos
anisotropia. Frequentemente, polimento eletrolí- um metal a ataque metalográfico relativamente
tico é o que oferece melhores resultados. profundo. criamos facetas onde a luz sofre
Na superfície de materiais anisotrópicos reflexão, às vezes razante, e consequente pola-
policristalinos, quando examinada entre rização. Comportamento semelhante pode ser
polarizadores cruzados a intensidade da luz esperado em casos onde a transformação de fase
refletida por cada grão será função de sua gera sublevação da superfície.
orientação, e resultará em contraste entre grãos, Mencione-se ainda que materiais isotrópi-
que pode ser aumentado pelo uso da placa de cos podem tornar-se (reversivelmente) anisótropi-

Figura 04.37 - Nódulos de grafite em ferro fundido a) campo claro b) luz polarizada, sem ataque

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IV.28 Microscopia dos Materiais
cos quando submetidos a tensões. Este efeito, assim, muitos polímeros podem ser
classicamente utilizado em análise de tensões, identificados, e a história de processamento
tem às vezes interesse em escala microscópica. de polímeros moldados ou extrudados pode ser
Finalmente, não tenha o leitor a impres- avaliada pelo exame de sua textura.
são de que só materiais inorgânicos podem ser
estudados na luz polarizada. A maior parte das Contraste de interferência
fibras e películas (naturais ou sintéticas) são
oticamente anisotrópicas. Entre polarizadores Fazendo interagir feixes de luz coerente,
cruzados, surgirão em geral brilhantes devido que percorram raios refletidos da amostra e de
à birefringência que apresentam. A anisotropia uma superfície de referência, ou de regiões
ótica é frequentemente uma manifestação da distintas da amostra, são obtidos efeitos de
orientação molecular em polímeros, e podemos contraste genericamente denominados de
usar medidas de birefringência para estudar a contraste de interferência.
orientação média de longas cadeias de Os microscópios de interferência podem
moléculas. A maior parte dos polímeros cris- ser de feixe duplo, ou de feixe múltiplo. O
talinos forma esferulitas quando solidificados. equipamento para interferência de feixe múltiplo
O aspecto destas esferulitas entre polariza- é mais simples, e capaz de maior sensitividade;
dores cr uzados varia consideravelmente, no entanto, sendo de operação muito mais crítica,
dependendo das condições de resfriamento, é menos utilizado. Trataremos apenas de
peso molecular e presença de aditivos. Mesmo microscópios de interferência de feixe duplo, para

Figura 04.38 - Microscópio de interferência Linnik-Zeiss

Figura 04.39 - Grãos de chumbo deformados em fluência a) campo claro


b) contraste de interferência (Gifkins)

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Microscopia Fotônica IV.29
Figura 04.40 - Desgaste em esfera de rolamento, contraste de interferência a) esfera nova
b) esfera usada (Leica)

os quais o baseado no interferômetro de Linnik mente polarizados, e cuja distância de


é um exemplo geral. separação é muito pequena, algo menor do que
O instrumento opera nos moldes de um a resolução do microscópio. Estes feixes in-
interferômetro convencional, fazendo interferir teragem com regiões contíguas da amostra, e
os raios refletidos pelo espelho padrão com os qualquer diferença de índice de refração ou de
que interagiram com a superfície rugosa. O topografia provocará uma diferença de fase,
melhor contraste será obtido quando os dois que no analisador será transformada em
feixes tiverem intensidade semelhante, e para contraste preto e branco (no caso de luz mono-
tal são fornecidos espelhos com diferentes cromática) ou de cores, para luz branca. Em
refletâncias. Os blocos Bl1 e Bl2 são de vidro de materialografia, DIC é especialmente útil para
alto índice de refração para regulagem precisa visualizar ir regularidades superficiais da
do caminho ótico percorrido por cada feixe. amostra (Figura 04.42).
Outra maneira de obter este efeito é com
o uso de acessórios que substituem a objetiva
normal, e permitem obter esta forma de contraste
em um microscópio convencional.

Contraste diferencial de interferência


(DIC, ou de Normarski)

Um método relativamente recente de


obtenção de contraste topográfico, e que tem
sido crescentemente utilizado à medida que
está sendo comercialmente oferecido por fa-
bricantes de microscópios é o contraste dife-
rencial de interferência ( diferential interfer-
ence contrast - DIC) segundo Normarski.
Consiste em uma aplicação particular de um
interferômetro de Normarski (Figura 04.41).
Por meio de um prisma de Wollaston obtemos Figura 04.41 - Contraste DIC (Nomarski)
feixes de luz paralelos, coerentes, ortogonal- (adaptado de Leica)

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IV.30 Microscopia dos Materiais
Figura 04.42 - Plutonio a) campo claro b) DIC

Macroscopia Ataque macro

Poderia parecer, à primeira vista, estranho Ataque macro é uma ferramenta muito
incluir macroscopia como tema deste livro. No poderosa, capaz de oferecer informações sobre a
entanto, o exame de estruturas de materiais homogeneidade do material, seus processos de
sempre se beneficiará de uma observação fabricação, e controle de qualidade. Qualquer
preliminar a olho nu, ou com aumentos anormalidade observada poderá ser posterior-
moderados. Técnicas como ataque macro, mente investigada em maior detalhe por mate-
impressões de contato e exame de fraturas são rialografia microscópica. Esta é, compreensivel-
prelúdios úteis na pesquisa, na análise de falhas, mente, a mais antiga técnica de exame da
e no controle de qualidade. estrutura dos materiais: já no século XVIII,

Figura 04.43 - Macrografias a) mini-lingote experimental de aço, atacado com Nital 10%, rechupe de
solidifacação b) idem, acalmado com alumínio c) filete de solda em aço carbono, atacado com Nital
10% d) camada cimentada em engrenagem, ataque iodo-iodeto

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Microscopia Fotônica IV.31
Réaumur usou ataques químicos para diferenciar Estereomicroscópios
tipos de aços, e antes disto, os artífices de
Damasco revelavam a qualidade de suas espadas Para visualização da macroestrutura
por este processo. Detalhes dos requisitos e com- com aumentos algo maiores, faz-se uso desde
posição dos agentes de ataque estão nos as lupas até os estereomicroscópios (Figura
Capítulos XII e XV; aqui exemplificamos algumas 04.45), que fornecem aumentos de algumas
aplicações (Figura 04.43). dezenas de vezes. Quando usados em luz
refletida, permitem a obtenção de imagens com
Impressão de contato aspecto tridimensional.
Estes microscópios obedecem a duas
Este ensaio é tradicionalmente usado concepções (Figura 04.46). Na disposição de
para revelar a distribuição de inclusões de Greenough dois microscópios iguais mas
enxofre em aços, na forma do ensaio de independentes são dispostos com convergência
Baumann. Papel fotográfico é embebido em de cerca de 14o , enquanto que na configuração
uma solução diluída de ácido sulfúrico, e denominada de telescópica ou de objetiva
pressionado sobre a superfície retificada da comum, dois caminhos óticos partilham da
amostra. O ácido reage com os sulfetos, e o mesma objetiva. Cada disposição tem suas
gás sulfídrico resultante forma um precipitado vantagens: a correção ótica do sistema
preto de sulfeto de prata no papel, revelando a Greenough é mais fácil, pois as objetivas são
posição dos sulfetos (Figura 04.44) menores, e o feixe de luz percorre o microscó-
pio em direção estritamente axial; em compen-
(Fe, Mn)S + H2SO4 ⇔ H2S + FeSO4 + MnSO4

H2S + 2 AgBr ⇔ Ag2S + 2 HBr

Figura 04.44 - Impressão de Baumann,


inclusões de enxofre Figura 04.45 - Estereomicroscópio (Meiji)

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IV.32 Microscopia dos Materiais
que a imagem intermediária se situa no
infinito, permitindo a fácil adaptação de
elementos intermediários.
Modernamente, tais microscópios fre-
quentemente também possuem lentes
pancráticas (zoom ) que permitem variação
contínua do aumento na faixa 2 a 80 vezes. A
epi-iluminação pode ser obtida por diferentes
métodos: quando ao aumento é pequeno, e a
distância de trabalho relativamente grande, um
iluminador lateral oblíquo responde satisfato-
Figura 04.46 - Sistemas de estereomicroscópios
(adptado de Leica) riamente. Soluções mais aperfeiçoadas incluem
iluminadores coaxiais, semelhantes aos dos
microscópios, ou anulares dispostos em torno
sação, o foco e a magnificação variam da objetiva. Modernamente, obtém-se efeitos
ligeiramente através da imagem. A principal de “luz fria” dirigindo a luz de uma fonte
vantagem do sistema telescópico no entanto é intensa para o objeto por meio de fibra ótica.

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Microscopia Fotônica IV.33
CAPÍTULO V

Microscopia Eletrônica
de Transmissão

O que a Natureza escondeu da vista dos mortais


Vós o tornastes visível
(R.v. Rosenhofs, sec. XVIII)

Depois que de Broglie avançou sua do tubo de raios catódicos, para aplicação em
hipótese da natureza ondulatória dos elétrons, osciloscópios e na incipiente televisão, propicia-
cujo comprimento de onda equivale a uma fração ram rápido desenvolvimento desta idéia.
de nanometro, a teoria de Abbe tornava Baseado nos trabalhos seminais de Busch e de
promissora a realização de um microscópio de Gabor na concepção de lentes eletrônicas, Ruska
alta resolução com esta radiação. O grande in- e Knoll construíram protótipos que já em 1931
teresse desenvolvido na década de ’20, princi- superaram a resolução do microscópio fotônico.
palmente na Alemanha, pelo desenvolvimento À grande aplicação inicial no campo da medicina
e da biologia, seguiu-se sua utilização crescente
e fundamental em ciência dos materiais, princi-
palmente depois que técnicas para obtenção de
amostras finas transparentes aos elétrons foram
desenvolvidas.

Descrição do instrumento

No MET (Figura 05.01), um feixe de


elétrons acelerado por alta tensão atravessa e
interage com uma amostra transparente. O MET
assemelha-se assim bastante em sua concepção
ao microscópio fotônico convencional, operado em
transmissão, ainda que com disposição totalmente
diferente (Figura 05.02). Distinguimos igualmente
uma fonte de radiação, sistema de lentes,
Figura 05.01 - Microscópio eletrônico de facilidades para manejo da amostra, e dispositivos
transmissão (MET) (JEOL)
PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
Microscopia Eletrônica de Transmissão V.1
Figura 05.02 - Esquema do MET (JEOL)

para visualização e registro da imagem. No caso do feixe. Modernamente, especifica-se estabili-


do MET, devemos considerar adicionalmente o dade da ordem de algumas ppm/min (ou seja,
sistema de vácuo e as fontes de tensão. algo como 200.000 ± 0,4 V !).
Conforme vimos no Capítulo II, o compri-
mento de onda de um feixe de elétrons acelerado O canhão de elétrons
por um campo elétrico é função da tensão
aplicada. Os MET operam usualmente em 3 O canhão de elétrons é o iluminador dos
faixas de tensão: convencional, na faixa de 100 microscópios eletrônicos. Basicamente, todos os
a 200 kV; intermediária, com 300 a 600 kV, e microscópios eletrônicos utilizam canhões
alta tensão, atingindo valores até 2000 kV. semelhantes, ainda que os requisitos de cada um
Trataremos inicialmente dos primeiros; os MET sejam diferentes em detalhes. A descrição
de tensão intermediária e alta tem aplicação seguinte aplica-se portanto também ao MEV,
muito especializada, e serão brevemente men- detalhado no Capítulo VII. Sendo o canhão de
cionados mais adiante. As fontes de alta tensão elétrons um dos fatores de grande importância
constituem um dos elementos de maior no desempenho e capacitação do instrumento,
importância (e também custo!) dos MET. Devem constitui também um dos pontos de decisão im-
ser altamente estabilizadas. pois sua flutuação portante na sua especificação, motivo pelo qual
importa em variação do comprimento de onda convém dedicar algum detalhe à sua descrição.

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
V.2 Microscopia dos Materiais
• Corrente de emissão ic: fluxo total dos elétrons
emitidos por unidade de área do emissor.
• Brilho b: densidade de corrente por ângulo
sólido. Os requisitos de brilho são diferentes
para os diversos microscópios eletrônicos; no
MET procuramos iluminar de maneira
uniforme uma pequena região da amostra, e
no MEV desejamos obter uma sonda com a
maior intensidade e menor diâmetro possível.
 4
β= =
π(  2 ) π(α  )
2 2
(π α  )2
(dc - Diâmetro do cruzamento; αc - Semiângulo
de divergência do feixe no cruzamento)
• Cromatismo: a emissão dos elétrons está
sujeita a variações aleatórias, diferentes para
os diversos fenômenos de emissão; como
resultado os elétrons emitidos não têm
exatamente a mesma energia, ou comprimento
de onda, ou “cor”. Esta variação resultará na
ocorrência de aberração cromática nas lentes.
Figura 05.03 - Coluna do MET (JEOL)
• Estabilidade: qualquer flutuação na tensão
de aceleração dos elétrons influenciará tanto
o comprimento de onda dos mesmos, como a
Duas fontes de elétrons são utilizadas: sua intensidade, e deve ser reduzida ao
termoiônicas e de emissão de campo. Em todas mínimo pelo projeto das fontes de alta tensão.
as fontes, o emissor age como um cátodo, e os • Coerência espacial: para que um feixe de
elétrons são focalizados em um ponto, elétrons fosse perfeitamente coerente, seria
denominado cruzamento, por um ânodo com necessário que todos se originassem de um
potencial negativo. Este ponto pode ser mesmo ponto do emissor. Como isto não
considerado como a origem virtual da fonte. O ocorre, a coerência espacial, muito importante
feixe de elétrons pode ser caracterizado pelos para a qualidade da imagem, será melhor
seguintes parâmetros: quanto menor for a dimensão do emissor.

Figura 05.04 - Emissores de elétrons: filamento incandescente, LaB6, emissor de campo

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
Microscopia Eletrônica de Transmissão V.3
Tabela 05.01

Função de Trabalho Φ, eV 4,5


Temperatura T, oC 2400
Densidade de corrente J, a/m2 5.104
Brilho β, A/m2/sr 10 9
Diâmetro do cruzamento do, µm 50
Cromatismo, eV 3
Estabilidade da corrente, %/h <1
Vácuo, Pa 10 -2
Vida útil, h 100
Custo de operação do emissor baixo
Custo de operação do MET normal
Robustez do sistema alta
a - Filamento de Tungstênio
Função de Trabalho Φ, eV 2,4
Temperatura T, oC 1400
Densidade de corrente J, a/m2 10 6
Brilho β, A/m2/sr 5.1010
Diâmetro do cruzamento do, µm 10
Cromatismo, eV 1,5
Estabilidade da corrente, %/h <1
Vácuo, Pa 10 -4
Vida útil, h 500
Custo de operação do emissor alto
Custo de operação do MET normal
Robustez do sistema alta
b - Hexaboreto de Lantânio, LaB6
Função de Trabalho Φ, eV 4,5
Temperatura T, oC ambiente
Densidade de corrente J, a/m2 10 10
Brilho β, A/m2/sr 10 13
Diâmetro do cruzamento do, µm <0,01
Cromatismo, eV 0,3
Estabilidade da corrente, %/h 5
Vácuo, Pa 10 -8
Vida útil, h >1000
Custo de operação do emissor baixo
Custo de operação do MET alto
Robustez do sistema media
c - Emissão de Campo

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V.4 Microscopia dos Materiais
Quando aquecemos um material a alta monocristais de tungstênio, afilados a um raio
temperatura, sua energia aumenta o bastante < 100 nm; mediante aplicação de uma tensão
para que a barreira de alguns elétron-volt de sua de 1 kV, obtemos um campo de 10 6 V/m, que é
função de trabalho Φ seja superada, e passe a suficiente para superar a função de trabalho Φ e
emitir elétrons térmicos. permitir o tunelamento de elétrons para fora do
A densidade de corrente da fonte ic (A/ emissor. Os dois ânodos indicados na Tabela
cm ) depende da temperatura T (K) na forma da
2
01.01 exercem respectivamente a função de
lei de Richardson, onde A é uma constante prover a tensão de emissão, e a de aceleração
própria do material dos elétrons na direção da coluna. Para que
ocorra emissão de campo, a superfície deve estar
Φ

 =  2   atomicamente limpa, sem nenhuma camada,
mesmo monomolecular, de contaminação. Isto
Os materiais adequados como fontes de exige o emprego de alto vácuo na região do
elétrons são portanto os refratários que possam canhão, que aumenta consideravelmente os cus-
ser aquecidos a alta temperatura, ou aqueles que tos e dificuldade de operação do sistema. O
possuam baixa função de trabalho. Na prática, processo de emissão de campo é menos “suave”
ambas alternativas são usadas. do que o termoiônico, e as flutuações e instabi-
O filamento de tungstênio é o mais lidade são maiores. O benefício está na obtenção
tradicional, e ainda o mais usado, mais robusto de uma fonte muito menor e mais intensa,
e de mais fácil operação. Sua desvantagem é for- resultando muito maior brilho e coerência.
necer a menor intensidade e brilho. Um filamento Para microscopia eletrônica de transmis-
pontiagudo, sujeito a alta tensão, e aquecido por são convencional, a relação custo/benefício aponta
passagem de corrente constitui o cátodo da qual fortemente na direção do filamento de tungstênio.
são emitidos elétrons. Estes são focalizados pelo No entanto, como veremos mais tarde, os
cilindro de Wehnelt (que funciona como uma requisitos de alta intensidade e de coerência para
lente eletrostática) no cruzamento. A emissão aplicações analíticas e de alta resolução tornam
de elétrons aumenta com a corrente de aqueci- cada vez mais comum o uso de outras fontes, prin-
mento até um limite, denominado saturação, cipalmente de emissão de campo.
acima do qual a vida do filamento diminui sem
correspondente aumento de emissão. Sistema de lentes
Alternativamente, o cátodo pode ser um
cristal afilado de LaB6; sendo cerâmico, não pode As lentes do MET se agrupam em três
ser aquecido resistivamente, o que é feito grupos, todas de construção eletromagnética:
envolvendo-o em um microforno. Estas fontes Lentes condensadoras: em geral duas
são mais dispendiosas e delicadas, mas têm a lentes, destinadas a desmagnificar o feixe de
vantagem de fornecerem brilho uma ordem de elétrons, e controlar o diâmetro e convergência
grandeza maior. sobre a amostra. Os requisitos em relação ao
É possível obter emissão de elétrons a tem- feixe variam de acordo com a técnica utilizada;
peratura ambiente, sujeitando um eletrodo a um assim, para obtenção de imagens, procura-se
elevado campo elétrico. Este pode ser conside- iluminar a parte relevante da amostra por um
ravelmente aumentado conformando-o eletrodo feixe (aproximadamente) paralelo. Em outros
de forma pontiaguda, segundo o conhecido efeito casos, e mais especialmente no MEV, temos in-
de ponta. Os canhões de emissão de campo (em teresse em obter um feixe convergente com o
inglês - field emission gun - FEG) utilizam menor diâmetro possível.

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
Microscopia Eletrônica de Transmissão V.5
A lente objetiva, como em todos os mi- Demais componentes
croscópios, é a principal responsável pela
qualidade da imagem. Forma a primeira imagem O porta amostra (Figura 05.06) é outro
aumentada, em geral na faixa de 50-100 X. componente crítico e delicado do MET. A
Conforme detalhado na Figura 05.05, a objetiva amostra, quase sempre um disco de 3mm ∅ e
forma tanto uma imagem como uma figura de com 100 nm de espessura, deve ser inserida en-
difração no seu plano focal. tre os pólos da objetiva, e neste diminuto
As lentes intermediárias e projetoras espaço, ser capaz de movimentos de translação,
adquirem a imagem ou figura de difração, e por rotação e inclinação. Os requisitos de estabili-
aumentos sucessivos, formam a imagem final dade mecânica são muito severos: vibração de
projetada em uma tela fluorescente. Cada uma amplitude de 1 nm ocasionará uma imprecisão
destas lentes magnifica a imagem cerca de 20 claramente visível de 0,1 mm em uma
X, resultando em um possível aumento da fotografia! A coluna está dotada de uma eclusa
ordem de 1.000.000 vezes para o MET. De modo neste ponto, para permitir a troca da amostra
análogo ao descrito no Capítulo IV, as lentes sem quebra do vácuo principal.
podem ser energizadas para constituir o
caminho da imagem ou o da iluminação,
adquirindo uma micrografia ou uma figura de
difração (Figura 05.05).
Incluído ainda no conjunto ótico temos o
astigmador, um conjunto de bobinas capazes de
compensar o astigmatismo das lentes pela Figura 06.06 - Porta-amostra (JEOL)
imposição de um campo magnético regulável em
orientação e magnitude.
O MET dispõe ainda de um conjunto de
três diafragmas: abertura do condensador,
abertura da objetiva e diafragma de campo, que
limita a região da amostra observada. Estes
diafragmas exercem função muito importante na
operação do instrumento. Os detalhes de seu
ajuste devem ser bem compreendidos e cuidados
pelo operador.

Operação do instrumento

Apesar de não ser o objetivo deste livro


transmitir os detalhes da técnica de operação dos
microscópios nele mencionados, o MET merece
uma palavra especial. Sendo um instrumento de
alta complexidade, e que, baseado em requisitos
bastante severos de ótica eletrônica, tecnologia
de vácuo, eletrotécnica, eletrônica e mecânica
Figura 05.05 - Formação da figura de difração fina, aspira aos maiores aumentos, é fácil
e da imagem imaginar que bons resultados só poderão ser

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V.6 Microscopia dos Materiais
obtidos quando o instr umento estiver em lentes projetoras, podemos focalizar e tornar a
perfeitas condições de funcionamento, e sob os tela de observação conjugada tanto com a
cuidados de operadores qualificados. Sem que a amostra como com o plano focal da lente
observação seguinte possa ser interpretada como objetiva, e obtemos respectivamente, a imagem
uma apologia da operação descuidada de morfológica e a figura de difração, em analogia,
qualquer instrumento, o MET dificilmente perdoa novamente, com ortoscopia e conoscopia no MF.
erros. Um MF ou um MEV são capazes de oferecer
algumas informações úteis, mesmo em condições Contraste no MET
não ótimas de ajuste, ou nas mãos de usuários
ocasionais. No MET, o alinhamento ótico, a As amostras examinadas no MET são
limpeza e ausência de contaminação nas lentes finas a ponto de serem transparentes aos elétrons
e no sistema de vácuo, e tantos outros fatores, e sob este aspecto, conforme já mencionamos, o
são fundamentais para que o resultado justifique MET assemelha-se ao microscópio fotônico
o trabalho investido na preparação da amostra operado em modo de transmissão. Mas esta
(não trivial, veja Capítulo XII !) e demais envol- semelhança é apenas aparente. Os mecanismos
vimentos na operação deste instrumento. O MET de contraste são muito diferentes principalmente
leva ao máximo o axioma de que qualquer equi- para amostras cristalinas. As dimensões da
pamento funciona com seu melhor rendimento periodicidade dos sólidos, em relação ao com-
quando operado em estado estacionário, e não primento de onda da luz e dos elétrons,
dará satisfação quando ligado ocasionalmente determinam que, em microscopia fotônica
para examinar uma amostra. A garantia de dis- absorção e interferência regem os processos de
ponibilidade de infra-estrutura, material e geração de contraste, enquanto em microscopia
humana, deverá presidir à decisão de instalar eletrônica a deflexão do feixe por espalhamento
um instrumento. Este requisito, conforme e difração são os principais responsáveis. Isto
veremos adiante, é ainda mais severo quanto aos determina igualmente que as imagens do MET
MET não convencionais, ou dos microscópios sejam de interpretação menos intuitiva, e
eletrônicos analíticos. requerem explicação teórica mais elaborada para
sua compreensão. Por este motivo, é conveniente
Informações fornecidas pelo MET estudar em separado o comportamento dos ma-
teriais amorfos e dos cristalinos.
Obtida uma amostra fina e representativa, Observamos no MET três classes distintas
o MET permite obter três classes de informação de contraste
• Imagem em campo claro e campo escuro, • contraste de absorção
referente à microestrutura e morfologia. • contraste de difração
• Figura de difração, referente a cristalografia, • contraste de fase
estrutura e composição.
• Análise de raios-X, composição elementar. Contraste de absorção

No MET convencional, a amostra é Ao atravessar uma amostra (considerada


iluminada por um feixe paralelo de elétrons, e aqui como amorfa), elétrons são espalhados
os raios, tanto da iluminação como da imagem, elasticamente, e emergem na face oposta
percorrem caminhos muito semelhantes aos an- desviados da direção do feixe original. Este es-
teriormente descritos para a luz quando falamos palhamento cresce com o número atômico da
de iluminação de Köhler. Mediante ajuste das amostra, e também, naturalmente, com a espes-

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
Microscopia Eletrônica de Transmissão V.7
Contraste de difração

Os elétrons, da mesma maneira que raios-


X, sofrem difração conforme anteriormente visto
na relação de Bragg. Notar no entanto que devido
ao pequeno comprimento de onda do feixe de
elétrons, os ângulos de Bragg são muito
pequenos, resultando em incidência quase
rasante aos planos difratantes. Mesmo assim,
há geração de contraste, pois a abertura das
lentes eletrônicas também é muito pequena, da
ordem de 0,5o.
Exemplificamos este tipo de contraste,
interpretando a formação de imagens de
amostras monofásicas policristalinas, e de
discordâncias.
Uma amostra policristalina de composi-
ção uniforme apresenta contraste de amplitude
entre os diversos grãos (Figura 05.08). Consi-

Figura 05.07 - Contraste de Absorção

sura da mesma. A Figura 05.07 ilustra a


situação de uma amostra na qual em uma
matriz do elemento A, de baixo número
atômico, está contida uma partícula de um
elemento mais pesado, B. Os elétrons inci-
dentes sobre B serão mais espalhados, e retidos
pelo diafragma de abertura, resultando em
menor intensidade da parte da imagem
correspondente. Notar que a denominação
absorção é de certa maneira imprópria, mas
geralmente utilizada por assemelhar-se, no
aspecto do contraste, à absorção da luz em mi-
croscopia fotônica. Este mecanismo de contraste
é dominante em materiais amor fos, e
valorizado, por exemplo, no exame de amostras
biológicas, nas quais certos constituintes
morfológicos são enfatizados por reação com Figura 05.08 - Contraste de orientação cristalina
um elemento pesado, como o ósmio. (Thomas)

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V.8 Microscopia dos Materiais
deremos a situação para dois grãos adjacentes. terem exatamente a mesma composição e
Um deles tem planos cristalinos orientados de estrutura, os dois grãos estarão em contraste na
maneira a satisfazer a relação de Bragg: os micrografia. Uma pequena inclinação da amostra
elétrons são difratados, e portanto não contribuem pode alterar esta disposição, e inverter o contraste,
para a imagem em campo claro; no outro grão, que portanto depende apenas da inclinação da
não ocorre difração e os elétrons são admitidos amostra no microscópio.
pela abertura do MET. Deste modo, apesar de Raciocínio semelhante permite interpretar
o contraste gerado por uma discordância (Figura
05.09). O cristal está numa posição próxima, mas
não exata, da condição de Bragg. Então um dos
planos distorcidos adjacentes ao núcleo da
mesma estará orientado de maneira a difratar o
feixe de elétrons para fora da abertura, e formará
contraste na imagem.

Contraste de fase

Podemos calcular de maneira analítica a


intensidade do feixe difratado por uma amostra
no MET. Utilizaremos uma aproximação, razoável
para amostras finas, que supõe que tenhamos
um plano cristalino (e somente um) muito
próximo, mas não na posição exata da relação
de Bragg. Destas condições, que definem a
chamada teoria cinemática da difração, resultará
que da amostra praticamente só emergirá o feixe
transmitido e um único feixe difratado, relati-
vamente fraco.
Os elétrons incidentes são espalhados
Figura 05.09 - Discordâncias em metal (Almeida) elasticamente pelos átomos do cristal. A ampli-
tude espalhada em determinada direção,

Figura 05.10 - O feixe difratado

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Microscopia Eletrônica de Transmissão V.9
originária de todos os átomos, é o resultado da que é o resultado fundamental da teoria
superposição de ondas de mesmo comprimento cinemática do espalhamento.
de onda, porem de fases diferentes. Conforme a Figura 05.10, o feixe difratado
será a resultante do espalhamento em cada plano
= ∑ 
∆ϕ
do cristal, de onde se originam ondas com
diferença de fase. Caso a amostra seja
onde An é a amplitude espalhada pelo átomo n, constituída apenas de uma espécie atômica
em um ponto a uma distancia r, que é proporci- f(θ,Z)=f(θ), igual para todos os átomos.
onal à amplitude incidente A0 e à função f que Considerando cada átomo como um pequeno
depende do ângulo θ considerado e do número volume definido pelo vetor r, o fator de espalha-
atômico. mento depende apenas da posição

 0  0
  = 
 
 (θ,  )

=
 ∫  ( )exp(2π(  −   ) )

Os raios incidente_e espalhado podem ser Devemos agora examinar a geometria da


_
definidos pelos vetores      onde posição dos átomos na malha cristalina.
_ _ Admitimos uma familiaridade do leitor com os
 =  = 1 e
_ _ _
elementos básicos de cristalografia, e dos índices
λ  −   = 
de Miller. Os átomos estão situados regularmente
A diferença de percurso entre os raios sobre pontos de uma malha espacial de célula
espalhados por dois átomos é (Figura 05.10) é unitária a,b,c. Assim, sua posição está definida
_ _ _ _ pelo vetor rn(x,y,z)= xa+yb+zc, onde x,y,z são
  .  .
 +  = − = λ(  −   ). números inteiros.
 
Introduzimos agora o conceito de malha
e a diferença de fase é ∆ϕ = 2π(  −   ) e recíproca. Este conceito é de fundamental
importância em cristalografia; aqui podemos
= ∑  exp(2π(  −   ) ) apenas indicar os princípios básicos. O leitor

Figura 05.11 - Malha real e malha recíproca em duas dimensões

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
V.10 Microscopia dos Materiais
deverá complementar seus conhecimentos com
referência a um compendio de cristalografia.
Imaginemos uma malha periódica assim
definida: da origem traçamos vetores perpendicu-
lares a cada plano (h k l), e de comprimento 1/
dhkl . Enquanto cada ponto da malha real Figura 05.12 - a) na condição de Bragg;
representa um átomo, cada ponto da malha b) fora da condição de Bragg
recíproca representa um plano cristalino,
definido pelo vetor g(h,k,l)=ha*+kb*+lc* , onde
(*) indica o espaço recíproco. em relação à espessura t, obtém-se por integração
Notamos que se a dimensão no espaço de -t/2 a +t/2
real é nm, no espaço reciproco será nm -1;
 π  sen (π )
portanto k = 1/λ = 1/nm é um vetor do espaço  =  
ξ (π)
recíproco.
Voltamos agora a considerar o resultado onde ξ é a chamada distância de extinção,
da teoria cinemática obtido anteriormente. A função, além do material, da condição específica
amplitude do feixe difratado será máxima de difração. Sendo Id = Ad 2 temos finalmente
quando as diferenças de fase de todas as ondas
somadas forem um número integral de com-
 π  sen 2 (π)
2

primentos de onda; isto é equivalente ao   =  


ξ (π)2
enunciado da relação de Bragg vista no
Capítulo II. Portanto k.r=(xh+yk+zl) deverá
ser inteiro, e k é o vetor que vai da origem ao Este resultado nos leva à importante
ponto que representa o plano para o qual a conclusão de que a intensidade do feixe difratado
condição de Bragg é satisfeita. Assim sendo, (e por diferença, a do feixe transmitido) é função
k não é apenas um vetor do espaço recíproco, periódica da espessura e da orientação da
mas também da malha recíproca, usualmente amostra. À medida que muda a orientação ou
identificado como g. espessura da amostra, a intensidade passará por
No entanto, postulamos que nosso cristal máximos e mínimos, originando franjas,
está ligeiramente fora da posição de Bragg. denominadas respectivamente de franjas de
Rotação do cristal em relação ao feixe incidente orientação e franjas de espessura.
ki (notar que a malha recíproca gira com o cristal) O leitor deverá perceber bem a significação
leva à situação da Figura 05.12b, onde (ki- desta conclusão, e a importância que tem para a
kt)=(g+s) onde s representa o desvio da condição interpretação das imagens no TEM. Apresentam-
de Bragg. Então se estruturas que não se prestam a interpretação
A0 intuitiva, baseada em observações visuais:
A=
V ∫ f (r)exp(2πi(g + s )r )dV =
n poderíamos ser tentados, em analogia com mi-
A0 croscopia fotônica, a imaginar precipitados
V ∫ f (r)exp(2πig.r )exp(2πis.r )dV
n n
lamelares na nossa amostra!
Estamos agora em condições de examinar
Notamos logo que sendo g e rn vetores de o contrate esperado devido a defeitos na amostra.
malha, seu produto escalar é um número inteiro, Em um cristal perfeito, os átomos ocupam
e portanto não significativo módulo 2π. Como a posições nos pontos da malha, definidos pelo
amostra tem dimensões laterais muito grandes vetor r. Um defeito pode ser caracterizado por

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Microscopia Eletrônica de Transmissão V.11
Figura 05.13 - Formação de franjas de espessura em uma cunha

Figura 05.14 - Franjas de espessura (amostra perfurada) e franja de orientação

um vetor ∆r que indica o deslocamento do átomo caso. Exemplificaremos com dois casos clássicos:
considerado de sua posição ideal. Nossa discordâncias e defeitos de empilhamento.
expressão para a amplitude passa então a ser O vetor que representa a imperfeição de
uma discordância é o vetor de Burgers b. As
∫  ( )exp(2π( +  )( )
0
=  + ∆ )  múltiplas possibilidades de contraste para

diversos tipos de discordâncias estão coletadas
Novamente, g.rn não é significativo módulo 2π; no tratado de Amelinckx, constante da biblio-
o produto de s e ∆r por serem ambos muito grafia. De especial interesse é o caso quando g .
pequenos é de segunda ordem e desprezível b = 0. Quando o vetor do plano difratante for
perpendicular ao vetor de Burgers, extingue-se
0
=
 ∫  ( )exp(2π.  )exp(2 π.∆ ) o contraste da discordância (Figura 05.15).
Este comportamento também pode ser
a primeira exponencial é comum a toda a explicado por argumento semelhante ao anteri-
amostra, e portanto não introduz contraste. ormente feito na Figura 05.09. O plano para o
O problema se resume em calcular a qual g . b = 0 não é distorcido, e portanto não
expressão acima, inserindo o ∆r apropriado a cada introduz contraste.

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V.12 Microscopia dos Materiais
Figura 05.15 - Contraste de discordâncias a) g.b ≠ 0; b) g.b = 0 (Hirsch)

Um defeito de empilhamento é caracteri-


zado por um vetor de deslocamento relativo en-
tre as duas partes do cristal, na verdade uma
discordância parcial. O feixe de elétrons tem
percursos diferentes nas duas malhas, e emerge
da amostra com diferenças de fase. O cálculo
detalhado (mais uma vez referenciamos
Amelinckx) prevê a formação de franjas,
exemplificada na Figura 05.16)
Para o caso de amostras mais
espessas, devemos admitir que os elétrons
sofrerão espalhamento múltiplo, e que os
diversos feixes difratados interagem entre si.
Esta teoria dinâmica é de tratamento matemá-
tico muito mais complicado, baseado na
solução das equações de Schrödinger no cristal
levando em conta o potencial periódico dos
átomos. Para nós, é importante saber que os
resultados desta análise são qualitativamente
semelhantes aos da teoria cinemática,
permitindo no entanto um cálculo mais preciso
de detalhes do contraste observado. Figura 05.16 - Defeito de empilhamento (Hirsch)

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
Microscopia Eletrônica de Transmissão V.13
Difração A determinação da constante da câmara
é feita com uma amostra policristalina de parâ-
Quando operado no modo de difração, o metro conhecido (ouro, alumínio): a medição da
MET apresenta a imagem que se forma no plano distância do centro do difratograma às diferentes
focal posterior da lente objetiva, ou seja, uma raias sendo conhecidas as distâncias
figura de difração que é a transformada de Fou- interplanares d. É necessário atentar para outra
rier da imagem real. calibração: uma vez que as lentes eletrônicas
introduzem uma rotação no feixe, e a regulagem
Geometria da difração das lentes projetoras é diferente para a formação
da imagem e da figura de difração, ambas
A difração de elétrons obedece à relação surgirão na tela com uma torção relativa. Esta
de Bragg anteriormente vista. No caso de pode ser determinada pelo estudo da imagem e
elétrons, onde os ângulos de Bragg são da ordem do difratograma de uma substância cuja
de 30 ‘, podemos escrever nλ = 2dθ, e sendo orientação cristalina seja facilmente identificada
sen 2θ ≈ 2θ =   na imagem; comumente usam-se cristais de
 = λ MoO3, que cristalizam com uma aresta paralela
No entanto, o ângulo 2θ e portanto r são ao plano (100).
muito pequenos; lembremo-nos que estamos No MET convencional a aplicação mais
usando um TEM, e que portanto há um sistema comum de difração de elétrons é a de determinar
de lentes entre a amostra e a imagem, e a distância a orientação de grãos ou de partículas de pre-
L não é uma distância física (comprimento da cipitados. A difração de elétrons é feita na maior
coluna), mas sim uma distância virtual, que parte dos casos com um feixe paralelo, que
depende do aumento das lentes projetoras. Para ilumina uma certo campo da amostra. A não ser
determinada condição de trabalho selecionada no no caso de materiais com grãos relativamente
TEM (tensão de aceleração e aumento) Lλ é uma grandes, obteremos pontos de vários difratogra-
constante, denominada constante de câmara, e mas sobrepostos, cuja interpretação é difícil, se
que precisa ser calibrada. não impossível. Podemos adotar a técnica de
difração de área selecionada (SAD - selected area
diffraction , em inglês): introduzindo uma
pequena abertura circular no plano da amostra
(ou em seu conjugado) limitamos o feixe a uma
região, presumivelmente monocristalina, da
mesma (Figura 05.19). A identificação de pre-
cipitados é mais difícil, pois somente podemos
identificar a simetria da malha, e não o grupo
cristalino. No entanto, em muitos casos, esta
informação é suficiente para dirimir o problema.
No Capítulo VIII veremos como a disponibilidade
de um feixe convergente e a técnica associada
de difração (CBED - convergent beam electron
diffraction, em inglês) resolve esta limitação.
A indexação dos difratogramas segue
procedimentos semelhantes ao da indexação das
Figura 05.17 - Geometria da difração figuras de Laue para raios-X, e seguem rotinas

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
V.14 Microscopia dos Materiais
Figura 05.18 - a) difração por um monocristal; b) difração por um policristal

Figura 05.19 - Difração de área selecionada a) região iluminada pelo diafragma de seleção;
b) figura de difração

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Microscopia Eletrônica de Transmissão V.15
detalhadas e frequentemente complexas, que não o ponto A, mais intenso, é enfraquecido. Na
podem ser aqui detalhadas. No caso dos difrato- projeção da figura de difração, obteremos para
gramas de elétrons a tarefa é algo facilitada pelo cada ponto um par de linhas paralelas e
fato de que, devido ao pequeno comprimento de simétricas em relação à difração do plano
onda, e consequente grandes dimensões no considerado (Figura 05.20c). A posição das
espaço recíproco, o difratograma é muito seme- linhas pode ser calculada, e permite a indexação
lhante à projeção da malha recíproca, facilitando das figuras de Kikuchi. Mais uma vez, os
algo a identificação das simetrias. detalhes excedem o escopo deste livro. Com o
auxílio dos modernos recursos computacionais
Linhas de Kikuchi disponíveis, este complexo problema é resolvido,
e as linhas de Kikuchi ganharam especial
Caso a amostra seja mais espessa, importância pela técnica de difração de elétrons
observamos um outro fenômeno de difração, retroespalhados - EBSD, que será vista com mais
denominado de linhas de Kikuchi. Neste caso, o detalhe no Capítulo VII.
percurso dos elétrons incidentes gerará um
grande número de elétrons espalhados, que se Microscopia eletrônica de transmissão
propagarão em todas as direções, ainda que em alta tensão
preponderantemente na direção frontal (Figura
05.20a). Estes elétrons terão sido espalhados de Observação da equação de Abbe sugere
maneira incoerente, mas ainda de forma elástica, que o uso de tensões de aceleração crescentes, e
isto é, continuam com o comprimento de onda consequente diminuição do comprimento de
original (ou quase). Elétrons sofrerão portanto onda dos elétrons, deve levar à melhoria consi-
espalhamento múltiplo, e podem, por sua vez, derável do poder de resolução do MET. A partir
sofrer difração caso sua direção e um plano con- da década de ’50, muitas iniciativas foram
venientemente orientado satisfaçam a relação de implantadas na busca deste objetivo, com a cons-
Bragg (Figura 05.20b). Acompanhemos a trução de microscópios da classe de megavolt, e
trajetória dos elétrons IA e IB: notar que o feixe incluindo um projeto almejando 3000 kV de
de elétrons incidente na direção A é mais intenso tensão. Uma série de fatores contribuiu no
do que o da direção B. Ao ser difratado no plano entanto para que o número destes instrumentos
P, IA será subtraído da direção A, e reforçará a efetivamente operacionais ficasse relativamente
direção B; igualmente IB é retirado da direção B, restrito, e concentrado em alguns centros de
e desviado para A. Assim, o ponto B da figura excelência distribuídos mundialmente. As razões
de difração, que era menos intenso, é reforçado; desta evolução ficarão patentes, ao analisarmos

Figura 05.20 - Linhas de Kikuchi

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
V.16 Microscopia dos Materiais
em seguida as vantagens e limitações do MET amostra de 100 nm, existe real possibilidade de
em alta tensão (em inglês HVTEM - high voltage que estruturas de discordâncias se alterem, e
transmission electron microscopy 1). as observações não sejam representativas da
estrutura maciça do material;
Vantagens do MET em alta tensão

• aumento de resolução: o objetivo principal


mencionado acima, que pareceria justificar a
construção do MET em alta tensão, não é
plenamente atingido. Dificuldades técnicas,
como por exemplo estabilidade das fontes de
extra-alta tensão, aberrações das lentes e
problemas de mecânica fina, determinam que
a menor resolução esperada da diminuição do Figura 05.21 - Transistor com defeito de
discordância (Urban)
comprimento de onda não se realize, pelo
menos a ponto de justificar os substanciais
custos envolvidos. • experiências in situ: o maior poder de
• penetração: no MET convencional, com penetração possibilita a realização de micro-
aceleração de até 200 kV, para que a amostra dispositivos onde experiências, como por
seja transparente aos elétrons, sua espessura é exemplo a redução de um óxido por um gás,
limitada a cerca de 100-200 nm. Com tensões sejam estudados em tempo real;
da ordem de 1 MV, o poder de penetração • simulação de danos de radiação: a grande
aumenta de um fator de cerca de 5, dependente energia do feixe de elétrons ocasiona danos no
do número atômico da amostra. Não só podemos material, e é possível simular neste instrumento,
examinar uma maior gama de problemas (A em tempos relativamente curtos, os danos
Figura 05.21) mostra que o feixe de elétrons é sofridos por um material durante longo serviço
capaz de atravessar um transistor), mas também em reatores nucleares (Figura 05.22). Esta pos-
os resultados são mais precisos: em uma sibilidade foi, na época, um dos incentivos im-

Figura 05.22 - Formação de defeitos por bombardeamento no MET (Urban)

1
Pessoalmente, não aprovamos o uso de MET em alta voltagem, como seria a tradução literal. Volt é uma unidade,
e não uma grandeza.

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
Microscopia Eletrônica de Transmissão V.17
portantes para o interesse no MET de alta tensão,
e o relativo decréscimo de atividade na indústria
de energia nuclear sem dúvida responde em
parte pelo menor número de instrumentos que
vieram a ser implementados.
• diminuição dos danos de ionização: parado-
xalmente, a maior energia dos elétrons implica
que atravessem a amostra com menor seção
de choque, e resulta em menor dano, princi-
palmente em amostras orgânicas e biológicas.

Limitações do MET em alta tensão

• Alto custo de instalação e de manutenção: o


vulto de um MET de alta tensão é muitas vezes
maior do que um MET convencional.
Enquanto que este pode ser considerado um
“equipamento de prateleira”, fornecido
rotineiramente a partir de catálogos, e que pode
ser instalado em uma sala normal do
Figura 05.23 - MET de alta tensão (JEOL)
laboratório, os MET de alta tensão são
confeccionados por encomenda, e exigem obras
civis especiais para alojá-los (Figura 05.23). Os
custos de operação e de manutenção são Microscopia eletrônica de
proporcionalmente muito maiores, assim como alta resolução
as exigências quanto à qualificação dos
operadores. A instalação de um MEV de alta Vimos que a busca de alta resolução no
tensão é um projeto ambicioso, que se inicia MET não pode ser simplesmente perseguida pela
muitos anos antes da encomenda e do comis- aplicação da teoria de Abbe, diminuindo o com-
sionamento do instrumento, com a constitu- primento de onda dos elétrons pelo aumento da
ição de equipes, e as bases financeiras e admi- tensão do microscópio. Ainda que o desenvolvi-
nistrativas devem ser asseguradas a longo mento de instrumentos dedicados à resolução
prazo. Por esta razão, na maioria dos países atômica tenha feito grandes progressos, notável
foram implantados centros nacionais, onde se contribuição para superar as limitações
concentram recursos financeiros e humanos e instrumentais vem do uso de novas técnicas para
com estrutura planejada para o acesso de exploração da informação existente em imagens
usuários externos, e aos quais recorrem os pes- obtidas por contraste de fase.
quisadores interessados na técnica. O espalhamento (difração de Bragg) é
• consequências da radiação de alta energia: as causado por átomos: portanto, para visualiza-
energias mais altas determinam um maior los devemos obter contraste entre os feixes
nível de radiação de raios-X, que exigem im- difratados, provenientes de uma região da
portantes blindagens da coluna e dos visores. amostra onde há átomos, e o feixe transmitido,
Igualmente são maiores os danos de radiação que só contem informação de fundo. Conside-
sofridos pela amostras metálicas. remos inicialmente, como o fizemos anterior-

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
V.18 Microscopia dos Materiais
mente, um feixe difratado com fraca intensidade
com relação ao feixe incidente, e que portanto
emerge como transmitido com pouca atenuação.
Conforme vimos no capítulo II, estes feixes
após atravessarem o sistema ótico do MET forma
imagens de um ponto como um círculo de
confusão, o que é o fator limitante da resolução.
Este círculo depende das aberrações das lentes,
e de sua profundidade de campo, que por sua
vez são função da abertura. Sendo a aberração
esférica a principal em um microscópio eletrô-
nico, podemos escrever o diâmetro do círculo de Figura 05.24 - Desfocalização
confusão como
δ(θ) = Cs θ + ∆ fθ
3

Como a imagem é formada por todos os


(onde ∆f é o defeito de focalização, Figura 05.24). feixes difratados por todos os planos, todos os
Para que possamos visualizar um detalhe em vetores u devem ser mapeados simultaneamente.
uma microestrutura, é preciso que haja contraste Para isto, definimos a função de transferência
entre o feixe transmitido e o difratado. Este de contraste (Figura 05.25)
percorre a lente em dir eções não-axiais,
introduzindo diferença de fase com relação ao ( ) = 2 sen φ( )
primeiro. A imagem é obtida pela superposição
de todos os discos de confusão originados de Quando T(u) é zero, não há contraste.
cada ponto da amostra. Integrando δ(θ) sobre Valores negativos de T(u) resultam em contraste
todos os ângulos contidos na abertura, temos a escuro dos átomos; além da primeira interseção
diferença de fase átomos claros e escuros se alternam, o que
dificulta, se não impossibilita, a interpretação.
θ  θ 4 θ2
(θ) = δ(θ)θ =

0 4
+ ∆
2
Portanto, este ponto define a resolução do instru-
mento (neste caso, 3,8 nm -1 ou seja 0,26 nm).
e substituindo o valor de θ da expressão de
Bragg, e lembrando que ∆φ = 2π(θ) λ , podemos
deduzir

∆φ = π∆λ 2 + 1 πλ3 4
2

onde u refere-se ao vetor da malha recíproca


correspondente ao plano difratante.
A conclusão importante desta expressão
é que a diferença de fase, e portanto o contraste,
dependem da aberração esférica da lente e da
desfocalização. A mudança de foco, no caso deste
contraste de fase, não implica em uma imagem
mais ou menos nítida: modifica totalmente o Figura 05.25 - Função de transferência de
aspecto da mesma, pois controla o contraste. contraste T(u)

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
Microscopia Eletrônica de Transmissão V.19
T(u) é uma constante do instrumento, para leitor interessado deverá procurar um dos
determinada condição de operação, e relaciona textos especializados indicados.
o objeto com a imagem. Portanto
• se conhecemos o objeto e sua imagem, po-
demos determinar T(u);
• se conhecemos T(u) e a imagem, podemos
determinar a estrutura do objeto.
O uso de programas de simulação computaci-
onal permite ampliar o uso da técnica.
Postulada uma estrutura, calculamos as
imagens para uma série de T(u), que variam,
por exemplo, com a desfocalização. Compa-
rando as imagens obtidas com estas
desfocalizações, podemos validar a estrutura
Figura 05.26 - Imagem do supercondutor
proposta (Figura 05.26). A técnica é muito Bi2Sr2Ca nCun+1O 2n+δ ; a simulação computacional
poderosa, porém também muito complexa. O está sobreposta à imagem, à esquerda

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
V.20 Microscopia dos Materiais
CAPÍTULO VI

A Formação da Imagem
por Varredura

A formação de uma imagem em uma tela pode resultar seja da visualização


simultânea de todos os elementos, como na projeção de uma figura em uma tela,
ou pelo registro sucessivo dos elementos individuais da imagem,
um processo familiarizado atualmente pela televisão
(V.K.Zworykin, 1943)

Este é o menor capítulo do livro. Então porque A aplicação dos conceitos de varredura da
ele existe? Porque devemos enfatizar a imensa década de ’30 à microscopia talvez se revele, no
importância do advento do conceito de varredura fim do século XX, o evento mais importante para
na formação de imagem para a microscopia. o futuro desenvolvimento desta ciência.
O cronista científico J.R.Galloway co- Tecnologicamente, o MEV e a microsonda prova-
menta: “No entanto, durante o século XX a velmente se igualam em importância ao MET; o
microscopia mudou a ponto de se tornar quase microscópio de tunelamento promete um notável
irreconhecível. A invenção por Ruska do aumento do discernimento dos detalhes em escala
microscópio eletrônico, em torno de 1930, foi a atômica do comportamento de semicondutores e
inovação mais dramática”. de fenômenos de superfície. E mais recentemente,
A mais dramática, sim. Mas talvez não a o microscópio fotônico confocal passa a exercer
mais importante conceitualmente. A microscopia importância crescente na biologia, com enorme
eletrônica de transmissão exerceu, em meados impacto na engenharia genética.
do século XX, uma imensa influência sobre a Em meados do século XX dois desenvol-
biologia e a ciência dos materiais. Mas o seu vimentos tecnológicos propiciaram esta
desenvolvimento foi fruto de intenso progresso mudança: a televisão e o radar. A primeira
tecnológico, em eletrônica, técnica de vácuo, e estabeleceu a aquisição ponto-a-ponto da
mecânica fina. Dado o trabalho pioneiro de Abbe, imagem, resultando um sinal analógico. O
e a proposição genial de de Broglie, a possibili- segundo firmou o conceito de inquirir ponto-a-
dade de um microscópio eletrônico era uma ponto o espaço objeto por meio de uma sonda
consequência natural, da qual se aperceberam colimada, registrando em um monitor a
diversos dos jovens pesquisadores nos cafés de intensidade do sinal detectado como uma função
Berlim, nos anos ’20. da posição da sonda incidente.

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
A Formação da Imagem por Varredura VI.1
As palavras de Zworykin exprimem, envolve uma lente (não há lente objetiva em um
melhor do que qualquer outra formulação pos- microscópio de varredura), não se aplica
sível, a essência do assunto: A Figura 06.01 diretamente a teoria de Abbe. É intuitivo que a
ilustra a formação paralela ou serial da imagem. resolução está relacionada com a dimensão da
Na projeção paralela existe uma relação sonda, que idealmente será a menor possível.
geométrica entre o objeto e sua imagem, através Portanto, a formação da imagem no
da lente. Já na varredura, esta relação é tempo- microscópio por varredura introduziu, ao cabo
ral, através do mapeamento ponto a ponto do de quase quatro séculos, um novo conceito na
espaço objeto no espaço imagem. Uma vantagem visualização de microestruturas. Em princípio,
de instrumentos de varredura em relação aos cada fenômeno físico com o qual seja possível
convencionais consiste na natureza serial da provocar uma resposta localizada no objeto, e
formação de imagem. Por exemplo, isto permite adquirir um sinal correspondente, pode ser
diretamente o arquivamento e processamento utilizado como base para um microscópio. O
eletrônico da imagem, com melhoria de contraste primeiro destes instrumentos foi o MEV, no qual
e redução de ruído. Certas analises, como a a sonda é um feixe de elétrons, e que estudare-
contagem de partículas, são muito mais fáceis mos no Capítulo VII. Seguiu-se o desenvolvi-
quando a imagem está em foram digital. mento do microscópio de tunelamento (STM), o
Os conceitos de aumento e de resolução primeiro de uma série de instrumentos que se
devem ser reexaminados. O aumento é obtido baseiam na varredura mecânica de uma sonda
simplesmente pela relação entre a dimensão do pontiaguda sobre a superfície da amostra, e que
monitor e a da região varrida pela sonda. Como juntos com o microscópio fotônico confocal, serão
o aumento não é resultante de difração, e nem vistos no Capítulo VIII.

Figura 06.01 - Formação de imagem por projeção (paralela) ou por varredura (serial)

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VI.2 Microscopia dos Materiais
CAPÍTULO VII

Microscopia Eletrônica
de Varredura

Impressionou-nos, desde as primeiras experiências, a


extrema e incomum profundidade de foco destas imagens
(M.v.Ardenne, 1938)

Paralelamente ao desenvolvimento dos O MEV tem sua maior aplicação no exame


microscópios eletrônicos de transmissão surgiu de superfícies rugosas (contraste topográfico).
o microscópio eletrônico de varredura, um outro A fácil visualização e interpretação das imagens
tipo de instrumento, que permite a visualização foi desde o início um dos elementos marcantes
da superfície de amostras volumosas. Estes ins- do sucesso do instrumento: a Figura 07.02, com
trumentos obtiveram rapidamente grande a imagem de um grão de pólen observado no
aceitação devido à sua ampla gama de utilização microscópio fotônico (MF) e no MEV dispensa
e um mínimo de preparação das amostras. maiores comentários. O poder de resolução do
MEV, intermediário entre o MF e o MEV, resulta
Características do MEV em aumentos da ordem de 10 a 150.000 vezes.

O MEV tem os seguintes principais


atributos:
• obtenção de imagens de superfícies polidas
ou rugosas, com grande profundidade de
campo e alta resolução;
• fácil interpretação das imagens, com
aparência tridimensional;
• aquisição de sinal digital, possibilitando pro-
cessamento dos sinais, e manipulação e pro-
cessamento das imagens;
• com o auxílio de acessórios, possibilidade de
Figura 07.01 - Microscópio eletrônico de
microanálise de elementos; varredura - MEV (Philips)

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Microscopia Eletrônica de Varredura VII.1
Figura 07.02 - Grão de pólen: a) microscópio fotônico; b) o mesmo no microscópio eletrônico de varredura

Mediante a utilização dos múltiplos efeitos A figura 07.03 esquematiza a constitu-


da interação entre elétrons e a matéria discutidos ição de um MEV. Os componentes principais são
anteriormente, o MEV permite a aquisição de o sistema de geração do feixe de elétrons, o
muitas outras informações, como orientação sistema de lentes, os detetores dos sinais
cristalina, diferenciação entre elementos, secundários, sistema eletrônico de controle e
potencial elétrico e campos magnéticos processamento da imagem, e a tela para
localizados (Tabela 07.01). Utilizando raios-X observação visual da imagem.
característicos, podemos adicionalmente mapear O MEV distingue-se basicamente de um
visualmente a composição dos elementos microscópio fotônico (MF) ou de um microscópio
existentes em uma microregião; esta modalidade eletrônico de transmissão (MET) pela maneira
será examinada no Capítulo X. como é obtida a imagem. O MF e o MET fornecem

Tabela 07.01 - CONTRASTE NO MEV

Elétrons Secundários
Topografia Relevo superficial
Potencial da superfície Carregamento eletrostático
Contraste de potencial
Campos magnéticos externos Contraste magnético tipo I
Elétrons retroespalhados
Topografia Relevo superficial
Diferenças de composição elementar Contraste de número atômico
Campos magnéticos internos Contraste magnético tipo II
Amostras policristalinas Contraste de orientação
Estrutura cristalina ECP, SA-ECP, BSED
Elétrons absorvidos Corrente da amostra, EBIC
Fótons Catodoluminescência
Raios-X microanálise elementar

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VII.2 Microscopia dos Materiais
“imagens diretas” - raios atravessam a amostra, dos sinais secundários assim originados a
passam por lentes, e formam uma imagem real intensidade de um tubo de raios catódicos é
em uma tela ou virtual em uma ocular. Enquanto modulada, originando a imagem do objeto.
isso, o MEV origina “imagens indiretas” , isto é, O funcionamento do MEV está detalhado
não existe um caminho ótico entre a amostra e na Figura 07.04. No canhão de elétrons são
a imagem, sendo os sistemas de geração e de gerados elétrons em um cátodo, de modo simi-
visualização da imagem separados. A imagem lar ao anteriormente descrito para o MET
no MEV é o mapeamento das interações que (Capítulo V). No MEV, objetivamos a obtenção
ocorrem entre elétrons e a superfície da amostra. de um feixe colimado com o menor diâmetro e
Para tal, esta é varrida por um feixe colimado de maior intensidade possível no cruzamento dos
elétrons (elétrons primários, EP), e com auxílio elétrons na saída do canhão. A coluna do MEV

Figura 07.03 - Esquema do Microscópio Eletrônico de Varredura (JEOL)

Figura 07.04 - Esquema operacional do MEV

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Microscopia Eletrônica de Varredura VII.3
Figura 07.05 - Componentes do MEV

possui três lentes eletromagnéticas: duas exemplo, a distância de trabalho para visualiza-
condensadoras e uma objetiva. As primeiras ção de microestruturas não é a mesma usada
agem como desmagnificadoras do ponto em microanálise. A variação da distância focal
luminoso do canhão. Esta desmagnificação é também altera a convergência do feixe, e
limitada pela perda de elétrons que ocorre
quando aumentamos a convergência das lentes
(Figura 07.06). A terceira lente tem a função de
focalizar o feixe de elétrons sobre a amostra. Sua
distância focal pode ser bastante alterada, uma
vez que a distância da amostra à lente (denomi-
nada distância de trabalho) pode variar de alguns
mm a alguns cm. A distância de trabalho
influencia a qualidade da imagem, mas frequen-
temente é necessário altera-la para acomodar e
compatibilizar condições geométricas da própria
lente, das amostras, e de sua inclinação em Figura 07.06 - Lentes condensadoras:
relação à posição dos diferentes detetores; por desmagnificação

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VII.4 Microscopia dos Materiais
portanto a profundidade de campo. Próximo às versais, durante a inclinação da amostra a área
lentes é instalado um conjunto de bobinas examinada migra para fora do campo visual,
astigmadoras, cuja geometria e funcionamento exigindo correção manual constante. Isto pode
são análogos ao anteriormente descrito para o ser evitado pelo uso das mesas eucêntricas, cuja
MET. A varredura do feixe para tatear a amostra geometria corrige esta limitação. De um modo
é executada pelas bobinas de varredura, geral, as mesas eucêntricas são mais delicadas
controladas em sincronismo com o TRC. A e mais caras, adequadas principalmente para
varredura pode ser feita de diversos modos, amostras pequenas e trabalhos de microanálise,
sendo a varredura em X-Y a mais usada, para onde é importante poder variar rápida e
obtenção das imagens; a ampliação é a relação comodamente a inclinação da amostra. As me-
entre a dimensão lateral do TRC, e a da área sas modernas são dotadas de controle motori-
varrida na amostra. A varredura em linha é útil zado, que permite definir e retornar rapidamente
para visualizar os diversos sinais na forma de às coordenadas de uma região específica da
um osciloscópio. Adicionalmente este modo, amostra. A câmara pode também ser dotada de
assim como a fixação do feixe em um ponto da dispositivos específicos para experiências in situ.
amostra, são usados para microanálise elemen- Citam-se a possibilidade de ensaios a tempera-
tar, como veremos mais tarde. A câmara da tura elevada, ensaios mecânicos e investigação
amostra acomoda conjuntamente com a mesa de circuitos integrados.
para a amostra um número de detetores, para Cada um dos sinais gerados no MEV
cada um dos quais existe uma posição ótima em (elétrons secundários, retroespalhados, fótons,
relação ao sinal originário da amostra. O raios-X, etc.) requer um detetor apropriado para
tamanho da câmara pode variar individualmente sua aquisição e transformação em sinal elétrico.
no projeto do MEV, de acordo com a missão que Os elétrons secundários (ES) constituem
o instrumento virá a desempenhar, desde o o sinal mais importante no MEV; o detetor
exame de pequenas amostras até objetos de consiste de um cintilador acoplado a um
tamanho considerável, como wafers e peças fotomultiplicador, e conhecido como o detetor de
fraturadas. As amostras são fixadas sobre a Everhart-Thornley (Figura 07.08a). É constituído
mesa de trabalho, que permite sua movimen- de um cintilador, recoberto por uma fina camada
tação controlada, em princípio com 5 graus de de alumínio, à qual se aplica um potencial de +
liberdade (Figura 07.07) X-Y, com limites de 10 kV. Os elétrons emitidos pela amostra são
movimento que podem se situar entre 20 e 150 acelerados sobre o cintilador, emitindo fótons,
mm; coordenada Z, que modifica a distância de que são levados a um fotomultiplicador pela guia
trabalho; inclinação e rotação. Nas mesas uni- de luz, originando o sinal modulador do tubo de
raios catódicos. O cintilador está envolto por uma
gaiola da Faraday, polarizada a + 400 V, que
exerce duas funções: blindar o feixe primário da
influencia do potencial do cintilador, e atrair
todos os elétrons secundários (de baixa energia,
tipicamente 50 eV), coletando assim mesmo
aqueles que não são emitidos na direção do
detetor. Elétrons retroespalhados (ERE) que são
emitidos na direção do cintilador são também
Figura 07.07 - Mesa de amostra a) universal adquiridos pelo mesmo e detectados. Deste
b) eucêntrica modo, desligando-se o potencial de 10 kV,

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
Microscopia Eletrônica de Varredura VII.5
aparece uma imagem originada pelos ERE, é um exemplo típico, são muito semelhantes na
constituída porém apenas de uma pequena sua concepção ao Everhart-Thornley. Tem como
porção destes, e com muito baixa eficiência. vantagem boa velocidade de resposta, e podem
Por este motivo, modernamente não mais ser usados com altas taxas de varredura, mas
se usa o detetor de Everhart-Thornley para esta são volumosos e, como podem interferir com a
finalidade, mas sim detetores específicos, detecção de outros sinais, precisam ser
situados acima da amostra, na região onde a removíveis. Quando elétrons de alta energia
densidade de ERE é máxima. Os tipos principais impingem sobre um semicondutor dão origem a
são baseados em cintiladores ou em semicondu- pares de elétrons e vazios, que podem ser
tores. Os primeiros, dos quais o detetor Robinson separados por meio de um potencial aplicado,
originando uma corrente proporcional ao número
de ERE incidentes. Apesar de relativamente
lentos na sua resposta, estes detetores podem
ser fixados diretamente na parte inferior da
objetiva, e devido à sua pequena espessura,
permitem pequenas distancias de trabalho, e
grandes ângulos e eficiência de aquisição. São
divididos em dois semicírculos, ou quatro
quadrantes, cujos sinais pode ser medidos sepa-
Figura 07.08a - Detetor Everhardt-Thornley radamente, para otimização da imagem topográ-
fica ou de contraste de numero atômico,
conforme será detalhado adiante.
Todo o conjunto da coluna do MEV é
mantido em vácuo da ordem de 10 -5 torr,
tradicionalmente por um conjunto de bomba
mecânica e bomba de difusão, fazendo-se
atualmente uso crescente de bombas turbomo-
leculares. Nos microscópios equipados com LaB6
ou emissão de campo, onde são necessários
vácuos mais elevados, são empregadas bombas
de absorção de íons.
É claro que a resolução do MEV depende
do diâmetro do feixe incidente, e em princípio
Figura 07.08b - Detetor Robinson
poderíamos pensar que um feixe mínimo levaria
às melhores resoluções. Há no entanto uma série
de fatores que analisados em conjunto, mostram
haver um compromisso que leva a um ótimo do
feixe incidente.
Examinemos em primeiro lugar, qual
seria o diâmetro ideal do feixe em relação à
imagem formada no tubo de raios catódicos. A
resolução destes é tipicamente de 0,2 mm, que
define o tamanho dos pontos que formam a
Figura 07.08c - Detetor semicondutor imagem (pixels). Para um mapeamento ótimo,

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
VII.6 Microscopia dos Materiais
deve haver uma correspondência entre pontos palmente do comprimento de onda dos elétrons
da amostra e da imagem, e podemos definir o (e portanto da tensão de aceleração) e do
que seria o pixel da imagem como p ≈ 0,2 / M coeficiente de aberração esférica das lentes.
mm. Se o diâmetro do feixe for maior do que Existe portanto uma relação fundamen-
este valor, diversos pontos serão excitados si- tal entre a corrente do feixe e seu diâmetro, e o
multaneamente e haverá perda de resolução; aumento de uma geralmente leva a aumento do
conversamente, se o feixe for muito fino, dará outro. Baixas correntes de feixe de elétrons
origem a um sinal fraco, que degradará a originam sinais mais fracos, e o ruído se torna
imagem. O diâmetro ideal do feixe é função, e cada vez mais significativo. O ruído se origina
deverá ser ajustado, ao aumento utilizado. de flutuações na própria corrente do feixe, na
Outro fator a considerar é a relação sinal interação dos elétrons com a amostra, e na
/ruído. A Figura 07.09 mostra o sinal resultante detecção e amplificação dos sinais pelos detetores.
de uma varredura de linha sobre a amostra; caso A resolução e o contraste estão intima-
esta varredura seja repetida diversas vezes, sobre mente ligados, e só podemos resolver estruturas
o sinal de um mesmo perfil acumula-se uma que apresentem bom contraste. Baixos sinais
oscilação denominada de ruído. Este r uído é exigem forte amplificação, a qual também
devido a variações estatísticas na incidência e exerce seu efeito sobre o ruído. Determinou-se
no rendimento do sinal emitido pela excitação que só podemos distinguir com clareza dois
dos EP. A relação sinal/ruído é importante na pontos em um TRC se o contraste for no mínimo
qualidade da imagem e diminui com o decrés- 5 vezes o ruído. Para tal, é necessária uma
cimo da intensidade do sinal. Portanto, uma ca- corrente mínima, que pode ser calculada, mas
racterística desejável para o feixe de elétrons que é função dos diversos parâmetros
do MEV é a maior intensidade possível, já no operacionais do instrumento.
ponto de cruzamento. Esta é a justificativa do Os sinais do MEV não são gerados apenas
uso de fontes alternativas ao tradicional na superfície da amostra. O limite de resolução
filamento de tungstênio. do MEV é determinado pelo diâmetro da região
À medida que as lentes condensadoras da amostra que, excitado pelo feixe primário,
desmagnificam o feixe primário há perda de emite o sinal considerado. Os EP penetram na
elétrons; as pequenas aberturas dos diafragmas amostra a partir da área de incidência do feixe
necessários para controlar as aberrações das e são progressivamente espalhados, interagindo
lentes eletromagnéticas contribuem para esta no volume indicado na Figura 07.10. Os EP
perda. Resulta um círculo de menor confusão, penetram em todo volume assinalado, e em toda
ao qual se adiciona um círculo de Airy oriundo esta região são gerados os diferentes sinais
da difração por estas pequenas aberturas, que secundários usados para obter informação no
em conjunto determinam o limite inferior do MEV; no entanto, a energia de cada um
tamanho do feixe. Este limite depende princi- determina a sua profundidade de escape - o si-

Figura 07.09 - a) Varredura única b) múltiplas varreduras c) relação sinal/ruído

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Microscopia Eletrônica de Varredura VII.7
Figura 07.10 - Volume de interação e distâncias de escape

nal só pode ser adquirido pelo detetor caso O contraste no MEV


possa atingir a superfície. Notar portanto que
a área assinalada, por exemplo, para ES, não Contraste topográfico pode ser obtido com
indica a região onde estes são gerados, mas sim ES ou ERE. Para ambos, definimos o coeficiente
aquela da qual, com sua reduzida energia, de eficiência da emissão como
conseguem escapar para a superfície. ES são
   
gerados em todo o volume de interação - mas Κ  = e Κ  =
   
aqueles oriundos de regiões mais profundas são
novamente absorvidos. Ambos coeficientes aumentam com a
Este volume de interação depende da inclinação da superfície da amostra em relação
tensão de aceleração dos EP, do numero atômico ao feixe primário, e ambos são minimizados
dos constituintes da amostra, e sobretudo do quando o feixe for perpendicular à amostra.
diâmetro do feixe primário. Para fixar idéias, O detetor Everhart-Thornley atrai os ES
podemos esperar para imagens topográficas com aproximadamente de todas as direções de
ES resolução da ordem de 5 nm, com ERE 100 emergência da amostra, e portanto reflete mais
nm, e para microanálise por raios-X 1µm. a inclinação da área considerada do que sua

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VII.8 Microscopia dos Materiais
orientação em relação ao detetor (Figura 07.11). próxima ao diâmetro do feixe primário, e po-
No caso dos ERE, estes são adquiridos pelo demos esperar uma resolução desta ordem de
detetor na sua linha de visão, ocasionando maior grandeza, enquanto que no caso dos ERE situa-
efeito de sombra. se na ordem de 100 nm.
As imagens obtidas com ES tem um
aspecto muito semelhante à visualização com Contraste de número atômico
luz, devido a sua grande profundidade de campo
e impressão tridimensional (Figura 07.12), A emissão de ERE aumenta com o
sendo de fácil interpretação. Podemos imaginar número atômico do material da amostra, o que
ver o objeto iluminado por um feixe de luz; no permite obter imagens contrastando regiões de
entanto o modelo não é, como poderia parecer à diferente composição elementar (Figura 07.13).
primeira vista, imaginar a amostra iluminada As partes claras correspondem a regiões ricas
pelo feixe primário, e vista na direção do detetor; em chumbo na amostra.
na verdade, tudo se passa como se o detetor fosse A obtenção de contraste de número
um farol, e a observação feita ao longo da coluna atômico com o detetor Everhardt-Thornley é
do MEV. Como foi visto na Figura 07.10, os ES precária, sendo usado de preferência o detetor
se originam de uma área de dimensão muito semicondutor. Quando este detetor for dividido

Figura 07.11 - Dependência da emissão de ES com a inclinação das superfícies

Figura 07.12 - Superfície fraturada de Alumínio a) ERE b) ES

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Microscopia Eletrônica de Varredura VII.9
Figura 07.13 - a) Contraste de número atômico em liga Pb-Sn com ERE
b) Variação de K ERE com o número atômico do material

em 2 ou 4 segmentos, é possível formar uma No primeiro caso, a simetria da geometria é tal


imagem otimizada para contraste topográfico ou que ambos segmentos adquirem igualmente o
de número atômico. sinal de contraste de número atômico, e este
A Figura 07.14 mostra em separado o contraste é reforçado pela soma A + B; caso haja
percurso dos ESE, hipoteticamente originários relevo, cada segmento vê a superfície sob um
de uma amostra plana com diferentes fases, ou ângulo diferente, e a diferença A - B reforça o
de uma amostra com relevo e somente uma fase. efeito topográfico.

Figura 07.14 - Composição da imagem no detetor semicondutor de ERE a) imagem ES de liga Pb-Sn
b) imagem ERE A+B (Contraste de número atômico) c) imagem ERE A-B (Contraste topográfico)

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VII.10 Microscopia dos Materiais
Figura 07.15 - Cobre policristalino, polido eletroliticamente a) inclinação de 31o; b) inclinação de 29o

Contraste cristalográfico Uma maneira simples de visualizar este


mecanismo está esquematizado na Figura 07.16:
É possível obter a imagem dos grãos de em determinadas direções, os elétrons incidentes
uma amostra policristalina através de contraste encontram um caminho favorável de penetração
resultante da sua orientação cristalográfica na malha cristalina, e portanto diminui a
variável. A Figura 07.15 representa a imagem emissão de ERE, originando uma área escura na
em ERE de uma amostra polida de cobre; nas imagem. Este modelo, apesar de intuitivo, oferece
duas imagens a amostra tem orientação diferente grandes dificuldades matemáticas no calculo do
em relação ao feixe primário, e a variação de percurso dos elétrons com espalhamento
contraste dos grãos obtida é característica deste múltiplos. A consideração da natureza ondula-
modo de imagem. tória dos elétrons, e sua interação com a malha
cristalina (modelo de Bloch) permite este cálculo,
que excede no entanto o escopo deste livro.

Contraste de potencial

Este contraste é baseado na existência de


diferenças de potencial que resultam em variação
do rendimento de emissão de ES. Isto possibilita,
por exemplo, a visualização do percurso interno
dos sinais em um circuito integrado (Figura
07.17). Em regiões potencializadas negativa-
mente, os ES sofrem repulsão da superfície,
sendo acelerados na direção do detetor;
conversamente, nas regiões positivas apenas
poucos ou nenhum ES deixam a amostra. O
Figura 07.16 - Penetração dos elétrons na resultado são regiões onde a imagem é, respec-
malha cristalina tivamente, clara ou escura.

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Microscopia Eletrônica de Varredura VII.11
Figura 07.17 - Contraste de potencial em circuito integrado energizado

Catodoluminescência que permanecem na amostra, designados como


elétrons absorvidos, devem ser descarregados à
Determinados materiais emitem, quando terra, para evitar o carregamento da amostra.
excitados por elétrons, luz, visível ou na faixa Esta corrente, denominada corrente da amostra,
infravermelha e ultravioleta. Um exemplo trivial pode igualmente ser utilizado para modular o
é a emissão de luz pelo tubo da televisão! brilho do TRC. Uma modalidade interessante é o
Mediante detetores especiais, esta radiação pode EBIC (electron beam induced current) que repousa
ser adquirida e modular o monitor do MEV sobre a formação de pares eletrons-vazios em
(Figura 07.18). semicondutores, e que leva à indução de
correntes no interior de barreiras que aparecem
Elétrons absorvidos como corrente da amostra. EBIC é uma técnica
relativamente recente, que permite visualização
Os ES e ERE somam menos do que a e medição de das transições P-N, distâncias de
totalidade dos EP incidentes no feixe. Os elétrons difusão etc. (Figura 07.19)

Figura 07.18 - Quartzo: a) ERE b) catodoluminescência (Spilde)

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VII.12 Microscopia dos Materiais
Figura 07.19 - Imagem de um transistor a) ES b) EBIC

Figura 07.20 - Electron channeling pattern (ECP) e Selected area electron channeling pattern (SA-ECP)

Informação cristalográfica no MEV amostra, e a determinação de seus parâmetros


cristalinos. As diferentes figuras obtidas são
Figura de penetração de elétrons denominadas de Channeling Patterns , e
Electron channeling patterns - ECP distinguimos principalmente os electron chan-
neling patterns - ECP e os selected area channel-
O efeito mostrado em 7.4.3 pode ser ing patterns - SACP. A diferença resulta da
explorado de diversas outras maneiras, maneira como a varredura é executada sobre a
permitindo o exame de grãos individuais na amostra Figura 07.20. O contraste de ECP foi ini-

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Microscopia Eletrônica de Varredura VII.13
cialmente obtido no modo convencional de var-
redura, e a figura mostra a variação da emissão
de ERE em função do angulo de incidência do
feixe primário, e o resultado obtido para um
cristal (relativamente grande) de silício. Poste-
riormente, as bobinas defletoras do MEV foram
adaptadas para obter a oscilação da varredura
em torno de um ponto, permitindo o estudo in- Figura 07.21 - Difração de elétrons
dividual de grãos em materiais policristalinos. retroespalhados ( EBSD) (Oxford)
Pela sua semelhança, estas figuras são
denominadas de pseudo-Kikuchi.

Difração de elétrons retroespalhados Os ERE são coletados por uma câmara de


Electron backscatter diffraction - EBSD uma tela fluorescente, e o difratograma
acumulado no computador (Figura 07.21). A
Os elétrons incidentes são espalhados em distância entre as linhas de Kikuchi são
todas as direções no interior da amostra, e dão proporcionais à distâncias interplanares da
origem a linhas de Kikuchi retroespalhadas, estrutura, e as interseções das linhas definem
conforme o mecanismo visto anteriormente no direções. Assim é possível, por meio de progra-
capítulo V. Tais difratogramas podem ser mas proprietários, indexa-los rapidamente,
adquiridos e fornecem informação sobre a identificando a amostra, e determinando sua
estrutura cristalina e orientação do material. orientação em relação ao feixe incidente.
Originalmente, a aquisição era feita sobre placas A velocidade de aquisição e de processa-
fotográficas e indexadas manualmente, mento é tal que permite realizar a varredura em
constituindo a chamada técnica de Kossel. A uma amostra policristalina com o fino feixe do
partir da década de ’90, os avanços verificados MEV, e determinar a textura cristalográfica da
em aquisição eletrônica de imagem e computação amostra (Figura 07.22). Cada grão é analisado
permitiram não só automatizar o processo, como em uma fração de segundo, e obtém-se resolução
realiza-lo com altíssima velocidade. da ordem de 20 nm.

Figura 07.22 - Difração de elétrons retroespalhados a) difratograma de Kikuchi


b)mapeamento da orientação de grãos (EDAX)

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VII.14 Microscopia dos Materiais
Figura 07.23 - Influência da varredura a) 400 linhas b) 1600 linhas

Figura 07.24 - Influência da velocidade de varredura c) modo TV d) 100 seg.

Aquisição e processamento da imagem aumentar a corrente, e portanto o diâmetro do


feixe; adicionalmente, monitores operam com
O MEV adquire as imagens de modo se- menor número de linhas, resultando em imagens
rial, isto é, pixel a pixel e linha a linha. Esta com resolução bastante modesta (Figura 07.24).
imagem digitalizada pode ser manipulada. Para registro fotográfico, em tubos disponíveis
Uma imagem pode ser adquirida para vi- com até 2000 linhas e sem persistência do
sualização no tubo de raios catódicos ou fósforo, a varredura pode atingir 100 seg., e a
documentação fotográfica. Os requisitos de
ajuste do MEV para estas finalidades são fre-
quentemente conflitantes. A obtenção de uma
boa imagem sem ruído requer um sinal
suficientemente forte. A intensidade do sinal
depende tanto da intensidade do feixe como do
tempo que atua sobre cada elemento da amostra.
Portanto, da mesma maneira que o diâmetro do
feixe, a velocidade de varredura influencia a
resolução. Varredura rápida, em modo TV é útil
para observação preliminar da amostra em tempo
real, e seleção da área de interesse. Para obter Figura 07.25 - Amplificação não-linear
uma relação sinal/ruído adequada, é preciso (amplificação gama positiva)

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
Microscopia Eletrônica de Varredura VII.15
Figura 07.26 - a) amplificação linear b) amplificação gama

imagem não é visualizada. As resoluções podem quando o número de elétrons emitidos não é igual
variar de 100 a 5 nm nos dois casos. ao de elétrons incidentes. Esta relação depende
A imagem adquirida pode ser modificada da energia dos elétrons incidentes, e é caracterís-
pelos métodos usuais de processamento de tica para determinado material, conforme
imagem. Os mais comuns são ajuste de brilho exemplificado na Figura 07.27
e de contraste, e amplificação não-linear (ajuste Na região assinalada, a amostra é
gama) que permite compensar as grandes carregada positivamente, o que facilita a emissão
diferenças de brilho que ocorrem entre detalhes do sinal; porém o contraste resultante é muito
nos pontos ou recessos da amostra: regiões pequeno. Opera-se normalmente com aceleração
mais escuras são amplificadas mais fortemente consideravelmente maior, levando ao carrega-
(Figuras 07.25 e 07.26). mento negativo da amostra, que provoca
Convém lembrar que todo processamento descargas eletrostáticas da amostra, e, em casos
de imagem deve ser mantido nos limites do extremos interfere mesmo com a incidência dos
aperfeiçoamento da mesma, cuidando-se para elétrons primários. Por este motivo, materiais
não introduzir artefatos ou informações não-condutores devem ser recobertos com uma
espúrias ou enganosas. fina camada condutora antes da obser vação
Finalmente, imagens digitalizadas podem (Capítulo 12).
ser armazenadas em dispositivos de memória Certas amostras, principalmente biológi-
eletrônica, e constituir objeto dos procedimen- cas, contém água, e são danificadas pelo vácuo,
tos usuais de análise de imagem.

O MEV de baixo vácuo

A par de sua grande versatilidade, o MEV


apresenta também algumas limitações. As
principais são a operação em vácuo elevado, e a
necessidade de recobrir amostras não conduto-
ras. Muitos materiais não se adaptam bem a estas
condições. Cerâmicas e polímeros são isolantes.
Sob a ação do feixe de elétrons, amostras não- Figura 07.27 - Carregamento da amostra por
condutores sofrem carregamento eletrostático elétrons incidentes

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
VII.16 Microscopia dos Materiais
Figura 07.28 - Faixa de operação do MEV de baixo vácuo e ambiental (Philips)

enquanto outras mais exalam emanações líquida, é necessária uma pressão mínima de
voláteis que podem prejudicar o equipamento. 4,6 torr a 0 o C, e progressivamente maior a
Portanto, o vácuo deve ser amigável para a temperaturas mais altas. A capacidade de
amostra, e esta amigável para o vácuo. atender a este requisito é a principal
A partir da década de ’80 foram desen- fronteira entre o ESEM e o LV-SEM. Duas
volvidos MEVs capazes de operar em diversos difer enças constr utivas proprietárias
níveis de vácuo, denominados de MEV caracterizam o ESEM.
ambiental (em inglês ESEM) ou de MEV de A abertura final é múltipla, e a diferença
baixo vácuo (em inglês LV-SEM). Um MEV de pressão entre a coluna e a câmara dividida
convencional é mantido em alto vácuo, da em estágios bombeados individualmente,
ordem de 10 -5 torr por diversas razões: pro - sendo possível manter uma diferença de 10 -5
tege o filamento contra oxidação e evita até 50 torr. O detetor de elétrons secundários
descargas de alta tensão no canhão de nestes instrumentos consiste de um eletrodo
elétrons, e controla o espalhamento dos concêntrico com o feixe, montado na base da
elétrons na coluna. Mas, a não ser devido à objetiva, para o qual são atraídos os ES por
alta tensão presente no detetor Everhardt- um potencial positivo. Durante o percurso en-
Thornley para elétrons secundários, este tre a amostra e o detetor, os ES colidem com
requisito não é realmente necessário na as moléculas de gás ou vapor d’água presentes,
câmara da amostra. Mediante projeto que são dissociados em novos elétrons
adequado da abertura na junção entre a secundários e íons positivos. Este mecanismo
coluna e a câmara, e bombeamento diferen- tem dois efeitos favoráveis: ampliação do si-
cial, é possível manter as duas regiões em nal de ES por colisões em cascata, e
níveis diferentes de vácuo. No entanto, fica neutralização da carga na amostra pelos íons
excluída a possibilidade de aquisição de positivos (Figura 07.29).
elétrons secundários com o detetor usual. Uma vez que a resolução do MEV
A Figura 07.28 mostra que para manter depende de sua capacidade de formar um feixe
uma amostra úmida em presença de água de elétrons colimado sobre a amostra,

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
Microscopia Eletrônica de Varredura VII.17
tante é notar que no regime intermediário o
numero de eventos de espalhamento resulta
de múltiplas colisões de alguns elétrons,
enquanto que uma fração substancial continua
a impingir na amostra de forma colimada. A
região difusa de elétrons espalhados (denomi-
nada de saia) não interfere de maneira impor-
tante na resolução da imagem, ainda que deva
ser levada em conta quando se opera de modo
analítico neste instrumento.
No LV-SEM a imagem é obtida exclusiva-
mente através de ERE, que modernamente são
Figura 07.29 - Mecanismo de amplificação de capazes de fornecer imagens de qualidade
elétrons secundários no MEV ambiental (Philips) conveniente. A escolha do instrumento adequado
levará em conta os requisitos de pressão para a
aplicação desejada.
pergunta-se de que modo isto é possível face A Figura 07.31 exemplifica algumas
ao espalhamento que ocorre quando não há aplicações relevantes para Microscopia de
alto vácuo na câmara. A resposta está contida Materiais, destacando a possibilidade de
no exame da Figura 07.30 que mostra três re- observar amostras não condutoras sem
gimes de espalhamento de elétrons. O impor- recobrimento, e amostras úmidas.

Figura 07.30 - Espalhamento do feixe de elétrons incidentes (Philips)

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VII.18 Microscopia dos Materiais
Figura 07.31 - Alguns exemplos de imagens do MEV ambiental: a) Cristais azuis de LCD b) formação de
siliceto em semicondutor c) partículas em filme de diamante d) nitreto de silício, sem recobrimento (Philips)

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Microscopia Eletrônica de Varredura VII.19
CAPÍTULO VIII

Outras Microscopias de Varredura

Isto provavelmente nos deu a coragem e o ânimo


para começar algo que, nos diziam com frequência,
“em princípio nem deveria funcionar”
(Binnig e Rohrer, Conferência Nobel, 1986)

O conceito de microscopia por varredura, ocorra entre o objeto e uma sonda apropriada
que estudamos no Capítulo VI, e que teve seu pode servir de base a um tal microscópio. Os
primeiro e ainda hoje mais difundido exemplo principais exemplos são os Microscópio de
no Microscópio Eletrônico de Var r edura Tunelamento (Scanning Tunelling Microscope -
(Capítulo VII), desencadeou uma grande gama STM) e o Microscópio de Força Atômica (Atomic
de aplicações, que discutiremos resumidamente Force Microscope - AFM). Estes microscópios
neste capítulo. Este é o capítulo que provavel-
mente envelhecerá mais rapidamente em todo
o livro - as inovações e aperfeiçoamentos
ocorrem quase que diariamente, e o leitor deverá
acompanhar continuamente o estado da arte na
literatura. Um grande número destes instru-
mentos pode ser agrupado no grupo das
Microscopias por Varredura de Sonda (Scanning
Probe Microscopy -SPM).
Microscopia por Varredura de Sonda é um
termo genérico para descrever um grupo de mi-
croscópios que são capazes de resolução próxima
da escala atômica. Uma sonda de dimensões
nanométricas varre a superfície da amostra em
uma movimento X-Y, e o sinal resultante da
interação da sonda com o objeto é adquirido e
interpretado para formação de uma imagem. Em Figura 08.01 - Microscopia por varredura de
princípio, qualquer fenômeno físico-químico que sonda - esquema conceitual

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
Outras Microscopias de Varredura VIII.1
abriram o caminho para a microscopia em escala
nanométrica. Experimentaram a mesma
evolução observada quando o MEV foi adaptado
para microlitografia e transformaram-se também
em instrumentos básicos para a modificação de
superfícies átomo a átomo, e construção de
dispositivos para nanotecnologia.

Microscópio de Tunelamento (STM)

O STM, que foi inventado no principio da


década de ’80 por Binnig e Rohrer, gera imagens
da topografia e estrutura eletrônica da superfície Figura 08.02 - Corrente de tunelamento (Veeco)
com resolução atômica. A base de sua operação
é o tunelamento eletrônico entre uma sonda
metálica pontiaguda e a superfície de uma
amostra condutora. Quando a sonda é aproxi-
mada da amostra - à distância inferior a 1 nm -
a função de onda da ponta e da amostra se
superpõem, e elétrons da banda de condução
podem atravessar (“tunelar”) o hiato dielétrico
existente. Caso uma polarização de fração de volt
seja aplicada, resultará um fluxo de elétrons (na
faixa de pA a nA) através do hiato, que varia
exponencialmente com a distancia entre a ponta
e a amostra, denominada de corrente de
tunelamento. A direção da corrente depende do
sinal do potencial aplicado na amostra: caso a
mesma seja negativa, elétrons fluem de estados
ocupados para estados vazios na sonda.
Mediante reversão do potencial, tanto estados Figura 08.03 - Esquema do microscópio de
eletrônicos ocupados como vazios na amostra tunelamento (Veeco)
podem ser estudados.
Na verdade, as imagens de STM contém
informação tanto sobre a topografia como
sobre a estr utura eletrônica da superfície. pode ser separado pela aplicação de procedi-
Quando as propriedades eletrônicas da mentos de convolução. Tal é, por exemplo, o
amostra são constantes, o sinal contem infor- caso quando se examinam amostras oxidadas
mação direta da topografia da superfície. No ao passar do metal para o óxido. Nas versões
caso de amostras com variação espacial de originais, o STM, e seus derivativos, operavam
propriedades eletrônicas, como densidade de em vácuo, mas modernamente operam na
estados e função de trabalho, o sinal contem maioria dos ambientes, como ar, água, solução
uma mistura de informação que usualmente de eletrólitos e óleo.

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VIII.2 Microscopia dos Materiais
A densidade de corrente de tunelamento é imagem é claro para as porções altas da amostra.
É possível varrer a superfície com a distância
1
 1  mantida constante, e formar a imagem pela
exp − αdφ 2 
αβφ 2 V
J= variação da corrente de tunelamento, em escala
d  
 
logarítmica. Este processo, apesar de mais lento,
1 apresenta vantagens para o caso de amostras
4 π(2m) 2
α= muito rugosas (Figura 08.05)
h
A varredura assim como o posicionamento
2 da sonda em relação à amostra são obtidos, em
e
β= escala nanométrica, por posicionadores
4 πh
piezoelétricos, dos quais a Figura 08.06 mostra
um tipo corrente. Um tubo de material
φ ponta + φ amostra
φ= piezoelétrico é dividido em quadrantes, aos quais
2
podem ser impostos independentemente
potenciais, que provocam a flexão do tubo. A
e o decaimento da corrente com a distância é
exponencial.
A distância da sonda à amostra é
geralmente controlada de modo que a corrente
seja constante, e a topografia da amostra é obtida
dos movimentos Z da varredura. O contraste da

Figura 08.04 - Variação da corrente de Figura 08.06 - Posicionador piezoelétrico


tunelamento com a distância sonda-amostra (JEOL) (Veeco)

Figura 08.05 - STM: modo de corrente constante e distancia constante (Veeco)


PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
Outras Microscopias de Varredura VIII.3
tecnologia destes transdutores requer cuidados, Microscópio de Força Atômica (SFM)
uma vez que estão sujeitos a efeitos de histerese
e envelhecimento. A sonda de um STM exerce sobre a
Átomos na superfície de sólidos frequen- amostra uma força da ordem das forças
temente adotam arranjos geométricos diferentes interatômicas. Binnig e colaboradores imagi-
daqueles do material maciço. Este comporta- naram usar um dispositivo semelhante ao STM,
mento pode ser entendido pelo fato de que o porém que medisse esta força em vez da corrente
número de coordenação de um átomo na de tunelamento. A disposição original, que
camada superficial de um sólido é tipicamente consistiu em colocar a sonda como uma haste
menor do que o do elemento na amostra maciça. paralela à superfície da amostra, revelou
Como exemplo, o silício tem coordenação de deflexões durante a varredura que mapearam a
tetraedro com seus quatro vizinhos próximos. superfície, como um profilômetro, mas com
Quando este cristal é clivado, alguns destes elos resolução atômica.
de coordenação são quebrados, e os átomos su-
perficiais ficam com um número de coordenação
menor. Caso a clivagem ocorra no plano (1 1 1),
ligações covalentes são quebradas, e cada
átomo superficial fica apenas com três ligações.
Esta configuração dos átomos superficiais é de
alta energia, e os átomos tendem a reagrupar-
se para aumentar seu número de coordenação
e diminuir sua energia livre. A este remaneja-
mento denomina-se reconstrução. Esta recons-
trução é muito complexa, e a célula unitária
resultante tem um parâmetro sete vezes maior
do que a célula normal. Este comportamento,
já detectado havia mais de duas décadas, foi
pela primeira vez demonstrado com resolução
atômica por Binnig e Rohrer, e constituiu um Figura 08.08 - Esquema do microscópio de força
dos primeiros e marcantes triunfos da nova atômica (Veeco)
microscopia (Figura 08.07).

O AFM é o melhor sucedido da família dos


resultantes do STM, pois tem a grande vantagem
de permitir o exame de amostras não condutoras.
A Figura 08.08 representa uma versão
esquemática de um AFM moderno. Uma viga
microfabricada varre a superfície da amostra, e
sofre deflexão que é medida por um sistema de
laser e diodos sensíveis a posição, que pode ter
sensibilidade menor que 1 nm.
As vigas são microfabricadas de silício,
Figura 08.07 - Reconstrução 7 x 7 em silício sílica e nitreto de silício usando técnicas
(Achete e Simão) fotolitográficas. Dimensões típicas são

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VIII.4 Microscopia dos Materiais
largura e espessura respectivamente de 100 No regime de contato, a viga é mantida a
e de 1 µm, com constante elástica de 0,1 - 1 uma distância de décimos de nm da superfície
N/m e frequências de ressonância de 10 -100 da amostra, com a sonda essencialmente em
kHz. A deflexão pode ser medida na ordem contato físico com a mesma. A força atuante é
de 0,01 nm. fortemente repulsiva, e qualquer tentativa de
Diversas forças atuam para a deflexão da alterar a distância sonda-átomo resulta em
viga, sendo a principal a força de van der Waals. deflexão da viga, que mapeia a superfície. Em
Segundo a distância entre a ponta da sonda e a semelhança ao STM, pode-se ter o regime de força
amostra, esta força pode atuar como de atração ou de distância constante. Quando o AFM é
ou de repulsão (Figura 08.10). operado ao ambiente, existe a possibilidade de
O AFM pode operar em três regimes dife- ocorrerem fenômenos de capilaridade, cuja força
rentes: contato, sem contato e contato intermitente. atrativa não é desprezível (Figura 08.11).

Figura 08.09 - Fabricação de sondas e vigas para o AFM (Veeco)

Figura 08.10 - Variação da força atômica com a distância sonda-amostra (JEOL)

Figura 08.11 - AFM: modo com contato e sem contato (Veeco)

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Outras Microscopias de Varredura VIII.5
Figura 08.12 - AFM: formação de artifatos (Veeco)

Resolução atômica é obtida quando a para que vibrações externas, como do prédio, não
ponta está em contato com a amostra durante a limitem seu desempenho. A imunidade do AFM
varredura, o que pode parecer estranho, a vibrações depende da relação da frequência da
considerando as dimensões microscópicas da vibração ν relativa à mais baixa frequência de
ponta, mas é devido à força extremamente ressonância ν0 do sistema mecânico. A ampli-
pequena usada no AFM (3 a 6 ordens de grandeza tude do movimento relativo da ponta é atenuada
menos do que o profilômetro), o que torna a por um fator (ν / ν0) 2 se ν << ν0. Por exemplo,
região de contato muito pequena. A interpretação caso a menor frequência de ressonância seja de
da imagem é bastante dependente de detalhes 20 kHz, uma vibração predial típica de 1µm a
da interação ponta- amostra, e o surgimento de 20 Hz resultará em uma perturbação de cerca de
artefatos deve ser considerado (Figura 08.12) 1 pm, desprezível.
No regime sem contato a distância da A Figura 08.13 ilustra a gama de aumentos
sonda à superfície é de dezenas de nm, e a força disponíveis: pode-se obter imagens de grafite com
de van der Waals atuante é atrativa. Neste caso, resolução atômica e de um circuito impresso com
em vez de medir deflexões estáticas da viga, esta campo 10000 vezes maior, ou seja variações de
é feita vibrar na sua frequência de ressonância seis ordens de grandeza são possíveis.
por um elemento piezoeletrico. A constante Finalmente, mencionamos alguns tipos
elástica da viga K é modificada pela presença de adicionais de microscópios de varredura de sonda.
um gradiente de força No Microscópio de Força Magnética (Mag-
netic Force Microscope - MFM) a sonda é
∂Fz
K = K0 + revestida de uma película de material ferromag-
∂z
nético, operando no regime sem contato, e é
se a amostra exerce uma força atrativa, a cons- sensível tanto à variação topográfica como à
tante elástica será diminuída, e a frequência de orientação de domínios magnéticos (Figura
ressonância, que é medida, diminui. O método 08.14). Variações de cargas eletrostáticas
é particularmente útil para exame de objetos produzem um efeito análogo.
tecnologicamente importantes, como meios O Microscópio de Força Lateral (Lateral
magnéticos de armazenamento de dados, pois é Force Microscope - LFM): mede deflexões laterais
sensível a forças magnéticas e eletrostáticas, en- (torção) da viga que ocorrem pela ação de forças
tre outras. paralelas à superfície. Estas forças podem surgir
Todos estes instrumentos requerem tanto da mudança de coeficiente de atrito entre
cuidados experimentais importantes, como diversas estruturas, como da presença de rampas.
preparo das sondas, e eliminação de gradientes Para distinguir um efeito do outro, imagens de
térmicos e vibração. Porque o AFM é um instru- AFM e LFM devem ser adquiridas simultanea-
mento tão sensível, cuidados devem ser tomados mente (Figura 08.15).

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VIII.6 Microscopia dos Materiais
Figura 08.13 - a) grafite pirolítico b) circuito integrado (Pidduck, RMS)

Figura 08.14 - Microscópio deForça Magnética a) percurso da sonda


b) imagem de um disco magnético (Veeco)

Figura 08.15 - Microscópio de Força Lateral (LFM) (Veeco)

O Microscópio de Modulação de Força aplicação de um sinal periódico da amostra, que


(Force Modulation Microscope - FMM) é uma modula a amplitude de oscilação da viga.
variante do AFM que permite a determinação do Também aqui, somam-se os efeitos topográfico
módulo de elasticidade da amostra. Opera em e mecânico, e para sua deconvolução devem ser
modo de contato com deflexão constante, a com adquiridos simultaneamente (Figura 08.16).

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
Outras Microscopias de Varredura VIII.7
Figura 08.16 - Microscopia de Modulação de Força (FMM) a) princípio de funcionamento;
b) interface fibra/polímero em material combinado, AFM; c) idem, FMM (Veeco)

Microscópio fotônico de varredura do Esta configuração foi realizada pela primeira vez
campo próximo (Scanning near-field por Betzig e colaboradores em 1991, usando
optical microscopy - SNOM) como sonda uma fibra ótica afilada, revestida
lateralmente com uma camada opaca de
O microscópio fotônico de varredura do alumínio. Com aberturas na ponta da fibra
campo próximo (SNOM) é uma das mais recentes variando de 20 a 100 nm, resoluções da ordem
adições à gama de microscópios de varredura de de 12 nm foram obtidas.
sonda. Microscopia fotônica convencional é A disposição típica do instrumento está
limitada por difração à resolução da ordem do na Figura 08.17. Uma sonda de fibra ótica dotada
comprimento de onda da luz utilizada. Em 1928 de uma pequena abertura ilumina o objeto com
Synge propôs que esta limitação poderia ser luz laser (Figura 08.18). A sonda é acionada pelos
superada caso o objeto fosse iluminado por uma mecanismos usuais de um SPM que permitem
fonte pontual com uma abertura muito estreita. aproxima-la a distancias nanométricas, assim

Figura 08.17 - Esquema do microscópio de campo próximo (SNOM)

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VIII.8 Microscopia dos Materiais
onde altas frequências ϕ do espaço recíproco
correspondem a pequenas distâncias no objeto,
e vice-versa. Dois casos se apresentam:

[(ϕ λ)
1
2
]
+ ( ϕ 2λ ) 2 < 1
Figura 08.18 - Sonda do SNOM
(baixas frequências), a solução é real e
corresponde a ondas que se propagam na direção
z, e que são adquiridas pela ocular de um
microscópio situado a distância z >> λ do objeto;

[(ϕ λ)
1
2
]
+ (ϕ2 λ )2 > 1

neste caso, correspondente a altas frequências e


portanto pequenas dimensões no objeto, o vetor
de onda é imaginário, e a onda é fortemente
atenuada na propagação. Estas ondas denomi-
nam-se evanescentes, pois existem apenas nas
proximidades da superfície dos objetos, e
desaparecem exponencialmente com o aumento
da distancia. Como consequência, a informação
Figura 08.19 - Disposição da iluminação e do
detetor do SNOM sobre pequenas estruturas não se propaga, mas
está apenas disponível na região chamada de
campo- próximo, da ordem de λ. Esta distancia
é muito maior do que a precisão disponível no
como executar varredura. A luz transmitida é microscópio de varredura de sonda, e permite a
coletada por uma objetiva e fotomultiplicadora, inserção da sonda neste espaço para adquirir a
e processada de maneira convencional para informação ali disponível.
formar uma imagem. É possível operar tanto em
transmissão como em reflexão. Igualmente, como
consequência da reciprocidade dos fenômenos Microscópio de raios-X
óticos, a abertura restrita e inserida no campo
próximo pode estar tanto na iluminação como Microscópios utilizando raios-X moles (luz
na aquisição da imagem (Figura 08.19). síncrona) na faixa de 1-10 nm oferecem a
A distribuição espacial da amplitude da promessa de tornar-se instrumentos poderosos,
imagem de um objeto pode ser estudada como capazes de examinar amostras espessas em seu
uma distribuição de frequências da respectiva próprio ambiente, com resolução cerca de 5 vezes
transformada de Fourier: melhor do que a disponível com luz visível.
Tais microscópios, que têm necessari-
A ( x , y, z ) = ∫∫ A n (ϕ1 , ϕ 2 ; z) exp [2 πi(ϕ1x + ϕ 2 y )]dϕ1dϕ 2 amente um vulto considerável, utilizam fontes
de luz síncrona como seus iluminadores. Nas
que tem como solução palavras do SLS (Suíça), “um síncrotron é um
 2π i 2 2 
aparelho de raios-X gigantesco, e um enorme
A (ϕ1, ϕ2 , z) = A 0 (ϕ1, ϕ 2 ) exp 1 − (ϕ1λ) − (ϕ2λ ) z 
 λ  microscópio”. A parte ótica é baseada no uso de

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Outras Microscopias de Varredura VIII.9
Figura 08.20 - Microscópios de raios-X (luz síncrona) a) convencional; b) varredura (Berkeley)

zone plates (Capítulo III) e podem ser dispostos orgânica em estado hidratado. Devido a esta
como microscópios convencionais de transmis- característica, o microscópio de raios-X tem
são, ou mais comumente como de varredura, atualmente aplicação preponderante em biologia.
neste caso com movimentos mecânicos da mesa Sua inclusão neste livro contempla a circuns-
porta-amostra (Figura 08.20). tância de contar o Brasil com a única fonte de
Utilizam-se comumente raios-X na faixa luz síncrona operando no Hemisfério Sul,
de 2,3 a 4,4 nm. A existência de uma diferença (Laboratório Nacional de Luz Síncrona, LNLS,
entre as arestas de absorção da raia K do Campinas, SP), com possibilidade de aplicar,
oxigênio e do carbono (Figura 08.21) propicia quando oportuno, o desenvolvimento na área de
bom contraste para a visualização de matéria materiais que certamente ocorrerá.

Microscópio fotônico de varredura ou


Microscópio fotônico confocal
(Scanning Optical Microscope - SOM
ou Confocal Microscope)

Os usuário de microscopia de luz visível


também não ficaram alheios à possibilidade de
adquirir imagens de forma serial, em vez da
relação geométrica usual no microscópio
fotônico, e assim usufruir das vantagens para
Figura 08.21 - Arestas de absorção de raios-X armazenagem e processamento das imagens.
por carbono e oxigênio Também, um sério problema do microscópio

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VIII.10 Microscopia dos Materiais
Figura 08.22 - Microscópio confocal (Leica)

fotônico é a sua inerente pequena profundidade viriam a ser resolvidas muito mais tarde, dando
de campo, que resulta em imagens onde a in- origem ao microscópio fotônico confocal, hoje em
formação nítida disponível em uma parte da dia um dos mais úteis e versáteis instrumentos
amostra é prejudicada por regiões fora de foco. em microscopia biológica.
Uma primeira tentativa remonta a 1952, O princípio de operação está descrito na
quando Roberts e Young publicaram uma figura 08.23. Um raio de luz laser é varrido sobre
descrição de um instrumento fotônico de a amostra (em geral por meio de um conjunto de
varredura, no qual a fonte de iluminação era o
ponto luminoso de um tubo de raios catódicos
focalizado sobre a amostra. Este trabalho
analisou de maneira visionária todas as
vantagens que se poderiam auferir de tal arranjo,
mas as facilidades experimentais disponíveis na
ocasião estavam muito aquém do necessário.
Mais tarde, Wilson e colaboradores construiriam
um microscópio no qual a varredura era obtida
por movimentação cartesiana da mesa.
Mas o desenvolvimento efetivo desta
modalidade só aconteceu após a formulação do
conceito confocal. A pequena profundidade de
campo disponível é uma limitação muito séria,
tornando impossível a visualização de amostras
rugosas ou grossas. Em 1955 Minsky visualizou
e patenteou o conceito de restringir a iluminação
e aquisição da imagem a pontos oticamente
conjugados, eliminando da imagem a luz oriunda
de pontos fora de foco. Esta concepção funda-
mental não foi reconhecida na ocasião, e
retomada uma década mais tarde, mas ainda com Figura 08.23 - Esquema do microscópio confocal
dificuldades experimentais importantes, que só (Leica)

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Outras Microscopias de Varredura VIII.11
espelhos oscilantes) atravessando um diafragma podem ser combinados em imagens de alta
de abertura, e é focalizado na amostra pela definição (Figura 08.24), ou visualizadas em 3
objetiva. O disco de confusão do raio focalizado dimensões através dos chamados programas de
é mínimo no plano focal da objetiva, onde a reconstrução 3-D.
imagem está perfeitamente em foco. O diafragma Até o momento, a microscopia confocal
na entrada do detetor admite apenas o raio teve muito maior impacto na biologia, onde a
proveniente desta região, eliminando todo o disponibilidade de lasers múltiplos (com dife-
ruído da imagem fora de foco. Obtém-se assim rentes comprimentos de onda para excitação) e
um imagem de uma seção do objeto, que repetida marcadores fluorescentes são fundamentais em
em diversos planos representa uma tomografia pesquisa, por exemplo, genética. Mas exemplos
do mesmo (tomos = fatia). As imagens dos interessantes, provavelmente paulatinamente
planos são adquiridas e armazenadas no mais frequentes, são conhecidos em microscopia
computador associado ao microscópio, quando de materiais (Figura 08.25).

Figura 08.24 - Cromossomas a) imagem convencional b) imagem confocal reconstruida (Leica)

Figura 08.25 - Circuito integrado a) e b) seccionamento ótico c) imagem composta, nítida e com grande
profundidade de campo d) imagem não confocal, boa resolução e contraste, mas muito menor
profundidade de campo. (Leica)

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VIII.12 Microscopia dos Materiais
CAPÍTULO IX

Materialografia Quantitativa

Quando se consegue medir aquilo do qual se fala,


e exprimi-lo em números, sabe-se algo sobre o assunto.
(Lord Kelvin, XIX)

Na maioria dos casos, a materialografia do espaço tridimensional a partir da disponibili-


emprega uma descrição qualitativa das dade de seções bidimensionais através de corpos
microestruturas. Nas ocasiões em que é neces- sólidos, ou de projeções sobre uma superfície”1.
sária uma quantificação de grandezas, esta é Esta é a essência da estereologia: obter conclu-
frequentemente obtida por comparação com sões sobre características volumétricas da mi-
representações gráficas padronizadas. Para croestrutura pela interpretação de medidas
algumas aplicações, o ordenamento resultante executadas sobre uma seção plana.
pode ser suficiente, como por exemplo, na avali- Enquanto que algumas relações estereo-
ação de tamanho de grão ou número e disposição métricas dependem da forma e do tamanho das
de inclusões. feições da estrutura, as mais importantes são
Para estudos de pesquisa e controle de independentes, desde que o plano de seção corte
qualidade estas ordenações são em geral a amostra de maneira aleatória.
insatisfatórias, e recorre-se à materialografia A teoria rigorosa da estereologia é
quantitativa. Esta, também chamada de micros- bastante complexa, e responsável por certa
copia quantitativa, refere-se à medida de parâ- relutância ao seu emprego rotineiro. No entanto,
metros microestruturais. Em 1958, Saltykov algumas relações e medidas básicas são simples,
introduziu o termo “metalografia estereomé- e rendem frutos consideráveis. Conforme ocorreu
trica”, que evoluiu, por sugestão de Elias em em muitos outros casos, o advento da informá-
1961, para a terminologia atualmente preferida tica, e seu enorme impacto no desenvolvimento
de “estereologia quantitativa”. Esta é definida da análise de imagens, validou o esforço mate-
como “...o conjunto de métodos para exploração mático aportado ao assunto.

1
E que também tem larga aplicação em microscopia na biologia.

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
Materialografia Quantitativa IX.1
A medida de uma dimensão linear no imagem, e permite portanto a sua a medição
microscópio é normalmente feita com o uso de direta. Esta escala, em alguns microscópios de
uma ocular micrométrica. Esta consiste em pesquisa, está colocada em algum outro plano
uma ocular que possua no plano da imagem conjugado, permitindo que seja visível a am-
(conjugado com o objeto) um disco transpa- bos os olhos, e, mais importante, sobreposta
rente no qual está gravada uma escala na documentação fotográfica.
(geralmente 10 mm dividida em 100 partes). O valor desta medida precisa ser calibrado
A imagem da escala aparece sobreposta na em termos do aumento real do microscópio. Esta
calibração é feita com um padrão situado no
lugar do objeto e que é superposto na escala da
ocular (Figura 09.01), denominado de micrôme-
tro de mesa. Estes podem ser de vidro ou de
metal, para uso respectivamente em luz
transmitida ou refletida, e tem gravados uma
escala geralmente de 1 mm dividido em 100
partes. Esta calibração muda naturalmente cada
vez que a disposição ótica do microscópio varia,
como por exemplo na troca de objetivas ou
oculares. Para medições precisas, deve ser notado
que a calibração varia com a focalização indi-
vidual do microscópio e da ocular, e em alguns
tipos de instrumento, com a regulagem da
distância pupilar.
Medições muito mais precisas podem ser
feitas com uma ocular filar, que consiste em uma
Figura 09.01 - Micrômetro de mesa (Leica) ocular micrométrica com uma linha móvel por
meio de um parafuso micrométrico calibrado.
Uma volta do tambor graduado corresponde a
1mm de movimento, que pode ser lido até o
centésimo. Ajustando o início da escala a um
dos lados da estrutura a ser medida (como por
exemplo, a indentação de um medidor de dureza),
a linha pode ser ajustada ao outro extremo com
maior precisão do que a simples superposição
na ocular micrométrica.
Estão também disponíveis microscópios
especialmente dispostos para medição. Além
das dimensões x-y, é possível obter medição na
altura z, por meio de tambor de focalização
calibrado. Para aplicações repetitivas, tais ins-
trumentos podem ser equipados com mesas
motorizadas, que fornecem saída digital, e a
coordenada z automatizada por dispositivos de
Figura 09.02 - Micrômetro filar (Leica) foco automático.

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IX.2 Microscopia dos Materiais
Amostragem

Para obter dados quantitativos significa-


tivos, as amostras devem ser selecionadas e
preparadas adequadamente. Deve ser definido
quantas amostras serão medidas, e sua
localização no objeto. Amostragem aleatória é
usualmente empregada para obter dados
estatisticamente significativos, o que implica
que todas as regiões e orientações da estrutura
tenham oportunidade igual de serem amostra-
das e ensaiadas. É claro que se o parâmetro de
interesse varia sistematicamente no objeto, a
amostragem deverá refletir e destacar isto.
Exemplo típico é a medição da espessura de uma
camada de tratamento superficial, para a qual
a amostragem aleatória sobre todo o volume
não teria sentido.
A preparação de amostras deverá garantir
Figura 09.03 - Microscópio de medição (Union)
que todas as feições de interesse da microes-
trutura sejam r eveladas com contraste
adequado e sem artefatos. Deverá também ser
estabelecido quantos campos serão medidos,
qual a rotina de interação e selecionado o
Para a aplicação eficiente de técnicas aumento adequado.
estereológicas é necessário cuidadoso plane- Medições estereográficas típicas são feitas
jamento da experiência, e escolha adequada pela superposição de grades de referência
dos parâmetros a serem medidos. Tipicamente, apropriadas sobre imagens no microscópio. Para
estes incluem tamanho de grão, fração isto é conveniente dispor a grade em um plano
volumétrica de fases e de inclusões, e espaça- conjugado à imagem, possibilitando o exame
mento interlamelar. A escolha é baseada na visual ou a documentação fotográfica. Pode-se
sua relação com as propriedades requeridas. também usar um dos programas de manipulação
Uma informação fundamental em qualquer de imagem, superpondo à imagem digital a grade
cálculo de estereologia é o aumento da imagem apropriada. Em alguns casos, as dimensões cor-
usada para medida. Em princípio, aconselha- respondentes a cada elemento da grade preci-
se o menor aumento compatível com a reso - sam ser conhecidas, e devem ser determinadas
lução necessária, para maior abrangência de por processo semelhante ao da calibração da
campo. O melhor método para determinar o ocular micromética.
aumento linear é capturar a imagem do mi- A grade deve ser deslocada e girada
crômetro de mesa com o mesmo aumento sobre a amostra de maneira aleatória. Uma
usado para as imagens. Este procedimento é maneira de agir é estabelecer uma rotina ou
mais recomendável do que a tentativa de protocolo baseado em tabelas de números
calcular o aumento a partir das características aleatórios, que comandam a operação de
da objetiva, ocular e trem ótico intermediário. mudança de posição da grade. Equipamentos

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
Materialografia Quantitativa IX.3
digitais modernos, equipados com mesas
motorizadas, permitem a coleta automatizada
de um grande número de leituras, aumentando
a precisão da medida.
Para uniformizar e facilitar a termino-
logia e símbolos matemáticos usados em es-
tereologia, a International Society for Stere-
ology adotou um conjunto de símbolos e
regras de seu uso. Estes símbolos podem ser
modificados com subscritos e superscritos
para definir as grandezas e medições de in-
teresse. Os principais estão representados no
Figura 09.04 - Análise de partículas esféricas
Apêndice 15H.
Alguns parâmetros estruturais podem
ser medidos diretamente, como PP, L L, A -A ,
enquanto outros devem ser calculados. De es-
pecial interesse são as chamadas densidades, 7
relacionadas a um volume de referência: SV VV = PP = = 0, 466
15
(exemplo, contorno de grão), LV (exemplo,
discordância) e NV (exemplo, inclusões). Estas ΣÆreasdoscrculos 884,75
VV = = = 0,073
são calculadas a partir das expressões cuja Æreatotal 12100
demonstração pode ser encontrada em
compêndios avançados: Número de pontos de interseção PT = 100

4
S V =  L A = 2PL
 π Σpontoscoin cidentes 5 + 2(0,5)
PP = = = 0,06
nœmerototaldepontos 100
L V = 2PA
Σlinhascoincidentes 152,3
L V = 2PA LL = = = 0,069
compriment ototal 2200

Para o cálculo de VV, quando se tratar da


distribuição uniforme de partículas do mesmo Esta equivalência, ainda que razoável e
tamanho na matriz, vale uma expressão funda- obtida de pequena amostragem, mostra que
mental em estereologia cálculos da fração volumétrica a partir de
medidas quantitativas na superfície de uma
VV = A A = L L = PP
amostra opaca só fornecem valores
aproximados. A área observada de uma
A Figura 09.04 compara os resultados da partícula ou grão não depende apenas de seu
análise de área, linear e contagem de pontos em tamanho, mas também de como intercepta a
uma microestrutura idealizada de partículas superfície. Para partículas esféricas de mesmo
esféricas secionadas por um plano: tamanho é possível determinar diretamente o
seu tamanho e a sua densidade volumétrica.
Área total AT = 12.100 u2 (unidades arbitrárias) Admite-se neste caso que a maior seção
Comprimento total das linhas da grade LT = 2200 u encontrada seja uma seção equatorial. Caso as

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
IX.4 Microscopia dos Materiais
partículas sejam de diferentes tamanhos, não
há solução precisa, sendo necessárias hipóteses
adequadas a cada caso. Igualmente, caso a
feição de interesse não seja esférica (caso de
plaquetas e agulhas) o problema engloba com-
plicações adicionais, para as quais mais uma
vez se faz referência à literatura especializada.
Os seguintes exemplos ilustram algumas
das medições mais comuns:

Medição da fração volumétrica

A fração volumétrica pode ser estimada Figura 09.06 - Medição de área


sem tendência dispondo aleatoriamente uma
grade de pontos sobre a seção, e contando os
pontos coincidentes com a estrutura de interesse.
No exemplo Medição do contorno de uma figura

A medição é feita usando uma grade lin-


ear cujo espaçamento é conhecido, e contando-
se o número de interseções das linhas com o
contorno. No exemplo, onde a distância entre as
linhas é 0,5 cm, temos:

π
L= * 14 * 0,5 = 10,99cm
2

Um exemplo importante é a determinação


do tamanho de grão de um metal, devido à
Figura 09.05 - Medição de fração volumétrica

Medição de área

Similarmente, podemos estimar com uma


grade de pontos a área A e a fração superficial
AA. Na Figura 09.06 cada ponto corresponde a
0,25 cm 2. A área da superfície demarcada é

2
A = 0, 25 * 22 = 5,5cm

22
AA = = 0,31
7 *10 Figura 09.07 - Medição do contorno de uma figura

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Materialografia Quantitativa IX.5
Figura 09.08 - Rede para avaliação do tamanho de grão ASTM

grande influência deste parâmetro sobre as para qualquer estrutura, com qualquer forma,
propriedades dos materiais. O tamanho de grão tamanho ou posição, desde que preencha
pode ser expresso de diversas maneiras: número inteiramente o espaço volumétrico. Este valor,
de grãos por mm 2 de seção, área média do grão, um pseudo diâmetro D, é a média das interseções
etc. Mas o método mais adequado é o tamanho obtidas em uma superfície polida. Se a condição
de grão ASTM, originalmente formulado para o de preenchimento do espaço volumétrico for
tamanho de grão austenítico dos aços. O válida, esta média é dada por
tamanho de grão ASTM N é definido como
L
n = 2N - 1 D=
I* M
onde n é o número de grãos por polegada
quadrada, sendo a estrutura observada com onde L é o comprimento da linha de ensaio, I o
aumento de 100 X. No padrão métrico ISO a número de interseções e M o aumento.
expressão é
m=8 2 ( ) G

onde m é o número de grãos por mm 2 , medido


em tamanho natural (aumento 1 X); a relação
entre as medidas é
N = G - 0,045
A medida pode ser feita por comparação
com redes padrão, sejam elas superpostas na
micrografia ou adaptadas diretamente ao mi-
croscópio. A Figura 09.08 mostra uma tal rede
para aços.
Este número apenas é significativo
quando os grãos são aproximadamente
equiaxiais e de tamanho uniforme. No entanto,
existe um parâmetro de grande generalidade que
fornece um valor determinado e livre de hipóteses Figura 09.09 - Normograma de Hilliard

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
IX.6 Microscopia dos Materiais
Um exemplo da aplicação deste método é medida, e fazem-se tantas medidas quanto
o proposto por Hilliard. A Figura 09.09 representa necessárias para obter cerca de 35 interseções.
um gráfico a ser sobreposto à imagem para O tamanho de grão N é
contagem. Esta figura não está em escala:
quando ampliada, estando os eixos com os 10 n*L
N = −10,00 − 6,64 log
cm indicados, os círculos terão o perímetro I* M
indicado. Para obter o tamanho ASTM, um dos
círculos e um aumento adequado é selecionado onde n é o número de medidas, e as outras
para resultar, em média, em seis interseções por variáveis como definidas acima.

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Materialografia Quantitativa IX.7
CAPÍTULO X

Microanálise Elementar

A técnica de análise pontual conhecida como


“microanálise por sonda eletrônica” ou “microanálise por raios-X”
foi desenvolvida há dez anos pelo autor em sua tese
preparada sob a direção do Prof. A.Guinier.
(R.Castaing, 1960)

A lei de Moseley (Capítulo II), que uma região de cerca de 1µm3 é excitada para
relaciona o comprimento de onda da radiação produzir raios-X. Deste trabalho originou-se a
característica de raios-X com o elemento do qual microsonda eletrônica. Esta, e o MEV que se
se originou, constitui a base para o desenvolvi- desenvolvia simultaneamente, foram aos poucos
mento da possibilidade de analise elementar de convergindo, levando à atual geração de instru-
microregiões de um material. Esta técnica foi mentos capazes de fornecer tanto imagens como
iniciada por Castaing em 1951, ao adaptar um resultados analíticos.
espectrógrafo de raios-X a um microscópio ele- A Figura 10.01 ilustra a configuração do
trônico de transmissão, utilizado como gerador instrumento. A coluna da microsonda, essenci-
de um feixe colimado de elétrons, com os quais almente semelhante a um MET com adição de

Figura 10.01 - Microsonda eletrônica (CAMECA)

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Microanálise Elementar X.1
Espectrômetros de cristal - WDS

Seu funcionamento é baseado diretamente


na expressão de Bragg. Os raios-X emitidos pela
amostra são feitos incidir sobre um cristal
conhecido, e da medida do ângulo de difração
obtemos diretamente λ (Figura 10.03). A lei de
Moseley, por sua vez, nos permite a identifica-
ção do elemento emissor.
O espectrógrafo de cristal consta essenci-
almente de quatro elementos:
• mecanismo de focalização: a construção do
espectrógrafo é baseada em um complexo
conjunto mecânico destinado a manter as
condições geométricas entre a fonte de raios-
X, o cristal difratante e o detector. O processo
de difração de Bragg é muito pouco eficiente,
podendo as perdas superarem 90 % da
radiação incidente. Isto implica, de um lado,
Figura 10.02 - Coluna da microsonda eletrônica que o aparelho (MEV ou microsonda) deva
(CAMECA) operar com energias de feixe de elétrons
diversas ordens de grandeza maiores do que
as usuais na obtenção de imagens no MEV:
detectores de raios-X está esquematizada na as consequências disto serão examinadas
Figura 10.02. Também merece menção a dispo- mais adiante. Por outro lado, o aparelho é
nibilidade de um microscópio fotônico acoplado, projetado para conservar ao máximo o sinal
de grande importância para a determinação da emergente do cristal, focalizando-o sobre o
região analisada, e para a correta focalização
do aparelho.
A identificação e quantificação dos raios-
X é feita por meio de espectrômetros. Estes
podem ser de dois tipos: de dispersão de compri-
mento de onda (wavelength dispersive X-ray
spectrometer - WDS) ou de dispersão de energia
(energy dispersive X-ray spectrometer - EDS). Na
verdade, como energia e comprimento de onda
são diretamente relacionados, o que os distingue
é a maneira de medir esta grandeza. Por isto,
também são chamados de espectrômetros de
cristal ou λ-dispersivos, e espectrômetros não
dispersivos, respectivamente 1. Figura 10.03 - Espectrômetro de cristal - WDS

1
Mas as abreviações WDS e EDS (ou às vezes WDX e EDX) são tão difundidas, que as usaremos por conveniência.

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X.2 Microscopia dos Materiais
um comprimento de onda seja adquirido de
cada vez pelo detector.
• cristais difratantes: o WDS é dotado de uma
série de cristais, que são selecionados de
acordo com o comprimento de onda em estudo,
para que os valores do ângulo de Bragg se
situem entre cerca de 15 o a 65 o por razões
práticas. Alguns dos mais comuns estão
relacionados na Tabela 10.01)
• detector de raios-X: O dispositivo utilizado
é o contador proporcional (Figura 10.05),
Figura 10.04 - Geometria do espectrômetro
no qual um gás é ionizado pela absorção
de cristal
de um fóton de raios-X, ejetando um
elétron que se dirige ao ânodo, e íons
positivos que migram para o cátodo,
detector. Este e o cristal se movem acoplados gerando uma corrente de sinal. Os elétrons,
por engrenagens sobre o chamado círculo de ou fótons de raios-X fluorescente, repetem
Rowland, de modo que o detector percorra um o processo de ionização, resultando em um
ângulo 2θ enquanto o cristal gira de θ. efeito cascata. Como cada formação de par
Mencione-se que forçosamente esta aparelha- elétron-íon requer cerca de 25 eV de energia,
gem de precisão implica em custos de fabri-
cação e fragilidade de operação consideráveis.
• Um esquema comum é o de Johansson
(Figura 10.04), onde o cristal é curvado com
o raio 2R, e posteriormente usinado com raio
R. As dificuldades de confecção de cristais
com esta geometria sugerem a alternativa da
geometria de Johann, com o cristal curvado
ao raio R, com perda relativamente pequena
de precisão. Este arranjo portanto funciona
como um monocromador, fazendo com que Figura 10.05 - Contador proporcional

Tabela 10.01

Cristal Fórmula Sigla d (nm) faixa de λ (nm)


Fluoreto de Lítio LiF LIF 0,2014 0,08 - 0,37
Pentaeritritol C5H12O 4 PET 0,4372 0,15 - 0,79
Fosfato diacido de amônio NH6PO3 ADP 0,5324 0,19 - 0,99
Gesso CaSO4 0,759 0,20 - 1,35
Mica KAl3(SiO4)3 0,992 0,35 - 1,80
Ftalato acido de potássio C8H5KO4 KAP 1,331 0,23 - 2,37
Estearato de Chumbo Pb(C18H35O 2)2 5,12 1,80 - 6,70

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Microanálise Elementar X.3
um fóton de 1 keV dá origem a cerca de 40 Espectrômetros de dispersão
pares, e a amplitude do sinal pulsado no de energia - EDS
ânodo é proporcional à energia dos raios-
X incidentes. Este sinal pode ser amplifi- São baseados em um detector semicon-
cado pela imposição de um potencial entre dutor, que emite um sinal proporcional à
ânodo e cátodo, para que os elétrons livres energia do fóton de raios-X incidente (Figura
sejam acelerados entre as colisões, e 10.06). Notar portanto que enquanto o
causem novas ionizações, obtendo-se uma contador proporcional no WDS fornece sinal
avalanche - mas a amplitude do pulso proporcional ao número de fótons incidentes,
permanece proporcional à energia dos no EDS discriminamos sua energia. Um
raios-X incidentes. Este ganho aumenta até esquema do detector está na Figura 10.07.
um limite de saturação, quando o contador Raios-X atravessam a janela de Berílio e
proporcional passa a atuar como um produzem um par elétron-vazio em um cristal
contador Geiger, que registra eventos, mas de Silício dopado com Lítio. Cada par requer
não a sua energia, e portanto não se presta energia de 3,8 eV para sua formação, e o
ao uso na microsonda. Berílio é comumente
usado para a janela pela sua boa transpa-
rência aos raios-X. Porém para raios de
baixa energia, oriundos dos elementos
leves, é necessário o uso de membranas
orgânicas, por exemplo, o mylar. Estes
materiais não são estanques ao gás, e o
contador é projetado para funcionar não
como um tubo selado, mas com fluxo cons-
tante de gás. Os gases mais usados são
gases nobres. Argônio puro permite que
radiação ultra violeta emitida durante o
processo de ionização contribua para a ava-
lanche, saturando rapidamente o contador. Figura 10.06 - Espectrômetro de dispersão de
A adição de 10 % de metano (o denominado energia - EDS
gás P 10) contorna este problema.
• eletrônica associada: finalmente, os pulsos
do detector proporcional são condicionados,
amplificados e encaminhados ao contador,
que fornece uma tensão proporcional à taxa
de contagem. O número de pulsos na uni-
dade de tempo é proporcional à intensidade
dos raios-X cujo comprimento de onda é
conhecido pela posição do detector. O sistema
deve ter tempo de resposta adequado à
contagem esperada, ou incorporar mecanis-
mos de rejeição de pulsos até que impulso
anterior tenha sido processado. Figura 10.07 - Detector de Si-Li

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X.4 Microscopia dos Materiais
Comparação entre WDS e EDS

Podemos distinguir como instrumentos de


microanálise elementar um MEV equipado com
analisador de raios-X ou um instrumento
dedicado, a microsonda. Esta distinção não é
estanque, mas de um modo geral a microsonda
é capaz de fornecer resultados mais precisos.
Também de um modo geral, um MEV com
capacitação analítica está equipado com um EDS,
Figura 10.08 - Espectro de dispersão de energia enquanto que a microsonda necessariamente
inclui um WDS.
O custo de uma microsonda é substanci-
almente maior do que o de um MEV com EDS.
Além desta consideração financeira, podemos
comparar o desempenho dos dois instrumentos
número de pares produzido por um fóton de pelos seguintes critérios:
energia E vem a ser E/3,8. A corrente assim • resolução: a resolução espacial dos dois ins-
gerada (cuja intensidade é portanto proporci- trumentos é semelhante, e depende essenci-
onal à energia do fóton incidente) é pré- almente da zona de interação dos elétrons
amplificada, e processada em um sistema ele- incidentes, discutida anteriormente (esta
trônico. Após amplificado, o sinal é encami- afirmação não é correta se considerarmos os
nhado a um analisador multicanal, que pode microscópios analíticos de alta resolução que
ser visualizado como um banco de escaninhos, veremos mais adiante). O poder de resolução
onde são acumuladas as contagens correspon- espectral (capacidade de separar dois
dentes à energia de cada fóton processado: esta elementos vizinhos na tabela periódica) é
contagem é representativa da proporção de muito melhor no WDS, situa-se na faixa de
cada elemento presente, e dá origem a um 13 eV, o que possibilita, por exemplo, a reso-
espectro como o da Figura 10.08. Como no EDS lução das raias Kα1 e Kα2 do ferro. Já no EDS, a
a intensidade dos raios-X incidentes é relati- resolução é cerca de uma ordem de grandeza
vamente alta, o tempo de processamento de maior (aproximadamente 120 eV) e torna-se
cada sinal deve ser considerado, e o sistema crítica para elementos contíguos de número
bloqueado contra novo evento até que o ante- atômico menor do que 12. Por este motivo, o
rior tenha sido contabilizado. Quando os EDS também descrimina com mais dificuldade
sinais se sucedem a uma taxa que excede a a radiação de fundo, adquirindo radiação
capacidade do sistema, inter vém um branca da amostra e prejudicando a relação
mecanismo de rejeição de empilhamento. O de- sinal/ruído da medição, com consequente
tector é mantido à temperatura de nitrogênio diminuição do limite de sensibilidade. A
liquido em um dewar, para evitar a difusão do Figura 10.09 compara o espectro obtido de
Li no Si, o que danificaria o detector; aloja-se BaTiO 3 com os dois sistemas, devendo-se
também neste criostato o pré-amplificador de ainda notar que a obtenção do espectro WDS
emissão de campo, que assim tem seu ruído exigiu intensidade do feixe de elétrons uma
de fundo consideravelmente diminuído. ordem de grandeza maior.

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Microanálise Elementar X.5
Figura 10.09 - Comparação entre os espectros WDS e EDS

• intensidade do sinal, e tempo de análise: a isolar o detector do vácuo da câmara de


ausência de absorção pelo cristal difrator, e a amostra oferecem problemas que só mais
possibilidade de situar o detector de EDS recentemente estão sendo contornados. Inici-
muito mais próximo da amostra, fazem com almente dotados de janelas de Berílio, foram
que a intensidade dos raios-X adquiridos seja desenvolvidos detectores abertos, e que mais
muito maior. Assim, a intensidade de sinal recentemente voltam a contar com janelas, já
necessária pode ser obtida com um feixe de agora de polímeros ultra finos. A tecnologia
elétrons muito menos intenso, e da mesma dos detectores está em franca evolução,
ordem de grandeza do usualmente utilizado verificando-se forte competição entre uma
no MEV para obtenção de imagens, o que nova geração de detectores baseados em
resulta em menor dano e contaminação da Germânio, e detectores de Si(Li) aperfeiçoados,
amostra. Mas o maior benefício advém do fato que tem conduzido a uma melhora de cerca
de que um EDS adquire ao mesmo tempo todo de 10-15 eV na resolução disponível.
o espectro de raios-X que emana da amostra.
Deste modo, obtém-se muito rapidamente uma Quantificação da análise
visão geral de sua composição: no WDS, é
preciso situar o detector no ângulo adequado Além da identificação e localização dos
para cada elemento presente, ou realizar uma elementos presentes na amostra, e da avali-
demorada varredura para identificar os ação semi-quantitativa da sua concentração
respectivos picos. relativa, a microanálise elementar pode ser
• natureza da amostra: os requisitos de focali- usada com razoável precisão, para resultados
zação dos raios-X no WDS requerem uma quantitativos. Os métodos de análise clássicos
amostra metalograficamente preparada, como química por via úmida ou absorção
enquanto que no EDS a mesma pode ter as atômica nos fornecem resultados médios da
características rugosas usuais para observa- amostra, necessariamente dissolvida. O limite
ção no MEV. de identificação (g) e o limite de sensibilidade
• detecção de elementos leves: estes são (ppm) são respectivamente da ordem de 10 -5 g
detectados até o Boro sem maiores problemas - 10 ppm e 10 -13 g - 1 ppm. A microanálise é
pelo WDS com auxílio de cristais adequados; mais sensível, porem muito menos precisa,
já no EDS, as necessidades construtivas para com valores de 10 -15 g - 100 ppm.

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X.6 Microscopia dos Materiais
A maneira mais intuitiva de quantificar idênticas às vigentes na análise propriamente
um elemento seria a comparação dos picos dos dita: intensidade e dimensão do feixe de
diferentes elementos. Já na sua tese, Castaing elétrons, taxa de contagem, e igual disposição
ao propor esta comparação, denominada de geométrica e eletrônica do equipamento. Estes
relação k, reconheceu ser a mesma simplória e resultados devem ser adicionalmente aperfei-
imprecisa, e que deve ser aperfeiçoada çoados pela aplicação das chamadas correções
ZAF: número atômico (Z), absorção (A) e fluo-
pico no espectro da amostra
k= rescência (F).
pico no espectro do elemento puro
A primeira origina-se do fato de que a
A análise seria muito fácil caso a relação de rendimento entre o feixe de elétrons
produção de raios-X característicos de cada incidente e a emissão de raios-X é dependente
elemento fosse proporcional à sua concentração. de Z. As outras duas serão melhor compreen-
Infelizmente isto não é o que acontece, e um didas exemplificando com o caso de uma liga
número de procedimentos é necessário para alumínio-ferro. A radiação emitida pelo Fe é
compensar este desvio. suficientemente energética para excitar fluo-
Podemos quantificar os picos tanto pela rescência no Al; deste modo, o rendimento de
sua altura máxima, quanto integrando o número raios-X da raia Fe é diminuído (por absorção
total de pulsos neles contidos: é claro que os no Al), e a raia Al é aumentada (por fluores-
resultados serão diferentes para picos de mesma cência secundária). Passamos a ter então os
altura porém de perfil diferente. A determinação resultados na forma
e exibição de ambos parâmetros não oferece
dificuldade em um moderno sistema computaci- concentração do elemento =
onal, mas modelos adequados devem ser (k) x (correção ZAF)
introduzidos para avaliar e eliminar o ruído de
fundo das medições. Existem diversos programas computacio-
Porém antes de compara-los, devemos nais, de razoável complexidade, para o cálculo
certificar-nos de que os picos resultantes de destas correções. Alguns são baseados nos
cada elemento estão resolvidos. Este problema espectros adquiridos de elementos puros, outros
é relativamente trivial no WDS, mas crítico no invocam cálculos a partir de princípios primeiros
EDS com sua resolução da ordem de 150 eV. A para evitar o uso destes padrões. Os modelos
superposição é resultante da análise de adotados para tais programas são em geral
elementos contíguos na tabela periódica ou da específicos, objetivando por exemplo ligas
coincidência de raios-X de diferentes ordens de metálicas ou amostras geológicas.
radiação. A separação é efetuada por deconvo- Alem dos procedimentos acima descri-
lução (veja Capítulo XI), e para isto dispomos tos, convém notar que frequentemente na
de dois caminhos: ou comparar os picos com prática a amostra e sua composição aproxi-
aqueles obtidos de elementos puros e mada são conhecidas de antemão. Neste caso,
arquivados no computador, ou considerando os estando disponível uma análise convencional
picos gaussianos. por via úmida de um padrão semelhante, po-
Para a utilização de métodos baseados deremos calibrar sem dificuldade a micro-
na relação k devemos dispor de uma biblioteca sonda, obtendo empiricamente os valores da
de resultados obtidos a partir de elementos correção ZAF adequada para determinado
puros. É claro que todas as condições de ob- elemento quando em uma certa concentração
tenção desta base de dados devem ser em uma matriz específica.

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
Microanálise Elementar X.7
Figura 10.10 - Modos de operação da microsonda eletrônica com EDS (JEOL)

Modos de operação Concluímos portanto que as partículas em


questão são inclusões de MnS. Adicionalmente,
O MEV ou a microsonda podem ser podemos colocar o feixe de elétrons sem varre-
operados em diversos modos, ilustrados na dura sobre pontos de especial interesse, e obter
Figura 10.10. A micrografia em (a) obtida no análises ponto a ponto, com maior tempo de
MEV de uma superfície fraturada em um aço aquisição, e correspondente aumento de sensi-
sugere que as partículas esféricas situadas nas bilidade e de precisão.
crateras da fratura sejam responsáveis pela
ruptura. Em (b) está representada uma varre- Microscópio eletrônico de transmissão
dura linear que intercepta duas inclusões, e a e varredura ( scanning transmission
intensidade dos sinais correspondentes ao S e electron microscope - STEM)
ao Mn. Estes podem ser obtidos no WDS
colocando os detectores nos ângulos adequados A disponibilidade da tecnologia caracte-
a estes elementos, ou no EDS do canal rística do MEV, de obtenção de um feixe de
correspondente do analisador multicanal. Em (c) elétrons finamente colimado, propiciou o desen-
este sinal é utilizado para modular a tela do MEV, volvimento de uma nova classe de instrumen-
mapeando as regiões ricas em Mn. Utilizando tos, onde a varredura é utilizada para examinar
recursos de processamento de imagem, podemos amostras finas transparentes aos elétrons.
então produzir mapas pseudo-coloridos, onde Este objetivo é realizado pela simbiose
cada elemento é representado por uma cor. da eletrônica formadora do feixe do MEV, com

Figura 10.11 - Micrografia eletrônica de transmissão a) MET b) STEM (Easterling)

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
X.8 Microscopia dos Materiais
a arquitetura convencional do MET, dispondo
evidentemente os detector es abaixo da
amostra. Tais MET/STEM podem operar tanto
no modo de varredura como no convencional,
e fornecer informação microestrutural,
cristalográfica e quando equipados com
espectrógrafos de raios-X (como sempre o são,
com EDS), informação analítica.
Examinaremos também para o STEM
as três modalidades de informação que po-
demos obter:
• micrografia: a obtenção de imagem no STEM Figura 10.12 - Reciprocidade na formação de
é baseada no importante teorema da ótica, o imagens óticas
teorema da reciprocidade: se uma imagem é
formada em A correspondente a um objeto em • cristalografia: a difração de área selecionada
B, a mesma imagem será formada em B se o descrita no capítulo V tem limitações. A menor
objeto for colocado em A (Figura 10.11). área que pode ser selecionada é da ordem de
Este princípio é realizado no STEM se 0,5 µm, relativamente grande para algumas
imaginarmos que a fonte de elétrons e o estruturas de interesse atual, no limiar da
condensador do MET são substituídos pelo de- nanotecnologia. Igualmente, a informação
tector, e a placa fotográfica pela fonte; os disponível em um tal difratograma de elétrons
caminhos óticos serão idênticos nos dois ins- permite apenas algumas determinações
trumentos. Como a formação da imagem não cristalográficos, como orientação. sistemas
é baseada em uma lente objetiva, e não é cristalinos, mas não os grupos pontuais. Por
influenciada por suas aberrações, esperava- meio de um feixe convergente, podemos
se obter no STEM resolução melhor do que no examinar os materiais com a técnica de
MET. Esta expectativa, assim como a de poder difração de elétrons por feixe convergente
examinar amostras mais espessas, principal- (convergent beam electron diffraction - CBED),
mente biológicas, pela redução da dose de que nos permite superar estas limitações. A
irradiação, não foi confirmada. As imagens informação disponível está contida em figuras
do STEM não apresentam vantagem sobre o de alta complexidade, cuja interpretação não
MET, exceto talvez na sua disponibilidade digi- pode ser detalhada neste contexto (Figura
tal (Figura 10.12). 10.13). Mediante o uso de técnicas computa-

Figura 10.13 - Difratograma de área selecionada (SAD) e de feixe convergente (CBED)

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Microanálise Elementar X.9
materiais. Deseja-se obter informação sobre
morfologia, estrutura cristalina e composi-
ção química em regiões da ordem do
nanometro. Na faixa do mícron, este
resultado só é obtido pelo emprego do MET
combinado com análise de raios-X na micro-
sonda eletrônica. Idealmente, estas três
análises deveriam ser possíveis em um único
instrumento, analisando a ár ea de interesse
simultaneamente. Este objetivo fez surgir, a
partir da década de ’80, uma nova classe de
instrumentos, denominados de microscópios
Figura 10.14 - Resolução de análise elementar na eletrônicos analíticos (analytical electron mi-
microsonda e no STEM croscope - AEM).
A configuração destes instrumentos é
baseada no STEM, e operam normalmente
na faixa até 400 kV. Requisitos importantes
cionais e de simulação, é possível calcular a são a disponibilidade de um feixe fino e
simetria em duas e três dimensões do cristal intenso, assim como de um ambiente livre
em estudo, seu parâmetro cristalino, e sua de contaminação.
classe, grupo pontual e grupo espacial, com a Para a análise elementar usa-se o
vantagem sobre estudos de raios-X de que EDS, capaz de conviver com a baixa
possibilitam o exame de pequenas regiões, e intensidade dos raios-X e com as limitações
determinar, além de suas características, as geométricas da pro ximidade da lente
sua orientações relativas. objetiva. Adicionalmente, usa-se a técnica
• análise elementar: a realização da análise e- de espectroscopia de perda de energia de
lementar em uma amostra fina resulta na elétrons ( electron energy loss spectroscopy
eliminação da região em que os elétrons - EELS), que apresenta atrativos especiais
penetram na amostra maciça, a qual, como para os elementos leves.
vimos, restringe a resolução da microsonda a O feixe de elétrons originário de fontes
cerca de 1 µm (Figura 10.14). Como vimos an- de alta temperatura é fortemente colimado,
teriormente, os raios-X emitidos pela amostra resultando em grande dispersão angular. Isto
são oriundos de toda a região de penetração permite o uso de CBED, mas a incoerência
dos elétrons, resultando em resolução da do feixe dificulta a interpretação de difrato-
ordem de 1 µm. Analisando-se a amostra fina, gramas de área selecionada. O uso de
a resolução L será da ordem da dimensão do emissão de campo nestes instrumentos vem
feixe incidente. Esta é uma das maiores ganhando terreno, uma vez que a geração
justificativas da aplicação do STEM. muito intensa e muito localizada de elétrons
r esulta em um feixe pouco disperso e com
Microscópio eletrônico analítico - AEM grande coerência. A necessidade de operar
este filamento em alto vácuo, apesar de
A evolução moderna do estudo da mi- introduzir uma complicação experimental,
croestrutura para a nanoestrutura fez surgir vem ao encontro da redução de contamina-
novas solicitações para a caracterização dos ção do instrumento e da amostra.

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
X.10 Microscopia dos Materiais
Espectroscopia de perda de energia
dos elétrons

Os elétrons transmitidos pela amostra


sofrem, durante seu percurso pela mesma,
perda de energia que pode ser determinada e
valorizada analiticamente. Esta espectroscopia
é realizada pela adaptação de um prisma
magnético abaixo da tela fosforescente do MET
ou do AEM (Figura 10.15). A Figura 10.16
ilustra este prisma, cujo funcionamento é
idêntico ao da dispersão da luz por um prisma
de vidro. Os elétrons que sofreram maior perda
de energia sofrem maior deflexão no campo
magnético, e podem ser identificados com re-
solução da ordem de 1 eV. Esta resolução é
bastante dependente da fonte de elétrons, Figura 10.15 - Microsonda eletrônica equipada
com EDS, STEM e EELS (Koreeda)
variando de 2,5 eV para filamento de
tungstênio, 1,5 eV para LaB 6 e até 0,3 eV para
emissão de campo. A aquisição do espectro
pode ser serial ou paralela: no primeiro caso,
a fenda seletora executa uma varredura diante
do detector, e para aquisição paralela, mais
moderna e eficiente, utiliza-se um arranjo de
fotodiodos capaz de adquirir todo o espectro
simultaneamente.
O espectro típico está mostrado na Figura
10.17. Distinguimos três regiões distintas:
• a região de perda nula refere-se aos elétrons
que atravessaram a amostra sem sofrer es- Figura 10.16 - O espectrômetro de perda de
palhamento inelástico. Em princípio, não energia de elétrons (EELS)
tem significação analítica útil, senão para
calibrar o aparelho. A largura do pico in-
dica a dispersão cromática da fonte térmica
de elétrons, resolvida pelo prisma
magnético, e é minimizada com o uso de
fontes de emissão de campo;
• a região de perda baixa , na faixa de 5-50 eV,
refere-se aos plasmons (Capítulo II), e pode
apresentar diversos picos, cujo número
aumenta à medida que a amostra é menos
fina, e o número de eventos de criação de
plasmons aumenta. Também esta região não
fornece informação analítica imediata, mas Figura 10.17 - Espectro de EELS

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Microanálise Elementar X.11
pode servir para avaliar a adequação da A técnica de EELS é relativamente simples
amostra: considera-se que mais de quatro de operar, e especialmente útil para os elementos
picos de plasmon indicam uma amostra de- leves, onde compete favoravelmente com o EDS.
masiadamente espessa; No entanto, conhecimento preciso dos parâ-
• a região de perdas altas, acima de 50 eV, metros de operação do instrumento e calibração
refere-se a ocorrência de ionização dos cuidadosa são requisitos para resultados quan-
átomos da amostra, que formam degraus titativos aceitáveis.
semelhantes aos observados no espectro de Do ponto de vista estritamente micrográ-
raios-X, e cujas energias são característi- fico, é possível utilizar o prisma magnético (ou
cas para cada elemento. Notar que o gráfico filtros especialmente projetados) para obter
indica uma mudança de escala, porque tais imagens de regiões com perda de energia (e
eventos são muito menos comuns do que portanto composição) semelhante, resultando em
os anteriores. úteis mapas composicionais.

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X.12 Microscopia dos Materiais
CAPÍTULO XI

Aquisição de Imagens

Uma figura vale mais do que dez mil palavras


(ant. provérbio chinês)

Quando este livro foi concebido, este menos drasticamente reduzidos. No momento
capítulo era denominado Fotomicrografia. Só da redação deste livro, a voz corrente entre os
isto já ilustra a enorme evolução que tiveram os especialistas é de que para as microscopias de
métodos de documentação da imagem nos varredura, onde a imagem já é gerada na forma
últimos anos, com a introdução dos processos digital, este modo de aquisição é definitiva-
digitais. Apesar de ainda utilizada, a fotografia mente indicado, e eliminou totalmente o uso
foi relegada de todo um capítulo para alguns da fotografia. Em microscopia fotônica, com o
parágrafos na atual redação. advento muito recente de câmaras digitais de
O processo de documentação de uma resolução comparável à do filme, estamos no
micrografia envolve a aquisição propriamente limiar da obsolescência deste processo. Já para
dita da imagem, seu processamento e reprodução o MET, em muitos casos deverá perdurar por
final. Examinaremos de modo muito superficial algum tempo o uso de filme seguido de
estes aspectos da materialografia. A evolução é digitalização, devido ao alto custo dos
constante, e o número de informações técnicas equipamentos necessários para a aquisição
e específicas requer constante referência à digital direta.
literatura corrente e a manuais de operação. No microscópio fotônico a disposição mais
Mesmo os conceitos básicos devem ser continu- usual para fotomicrografia é de uma câmara 35
amente atualizados, sob pena do eventual mm adaptada com um tubo trinocular (Figura
investimento em tecnologia obsolescente. 11.01a). Os modernos filmes de 35 mm, com grão
fino e que permitem ampliações substanciais,
Fotomicrografia suplantaram quase que inteiramente o uso de
formatos maiores. Isto por sua vez fez com que
Dedicaremos ainda algum espaço ao os microscópios se tornassem mais compactos,
tradicional processo fotográfico. Na maioria eliminando os problemas de vibração associados
das instituições de pesquisa, os laboratórios aos longos foles, e levando à gradual extinção
fotográficos estão sendo desativados, ou pelo do banco metalográfico.

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
Aquisição de Imagens XI.1
Figura 11.01 - Microscópios equipados para fotomicrografia e para micrografia digital (Leica)

Possível exceção é o uso de filmes por um filtro amarelo. Filmes ortocromáticos são
instantâneos (“Polaroid”), disponíveis apenas em largamente utilizados em microscopia, uma vez
formatos maiores. O uso deste processo deve ser que lentes acromáticas são usadas com filtros
cuidadosamente avaliado, pelo confronto entre verdes para minimizar aberrações. Têm também
conveniência, custo e qualidade. Esta última é a vantagem de poderem ser processados com luz
geralmente sacrificada em benefício da conve- de segurança vermelha no laboratório. Caso a
niência; a comparação econômica varia imagem do objeto tenha forte componente de
localmente, uma vez que os custos de mão de vermelho (por exemplo, ligas de Cu) é preferível
obra no laboratório fotográfico devem ser usar filme pancromático.
cotejados com os do material. Filmes são disponíveis em diferentes graus
Na maioria das vezes, a fotomicrografia é de contraste, e este pode, nas mãos de um técnico
feita com filme preto-e-branco, que pode ser experiente, ser manipulado durante a revelação.
facilmente revelado e copiado no laboratório. No entanto, o ajuste de contraste é mais fácil
Além disto, é mais fácil controlar o contraste e durante a fase de cópia ou ampliação, usando
acertar a exposição com este material. Os papeis de contraste diferenciado, ou mesmo
parâmetros mais importantes na seleção do tipo variável durante o processo. A resolução do filme
adequado de filme são sensibilidade às cores, depende do tamanho do grão dos sais de prata
contraste, resolução e granulação, sensibilidade da emulsão, e varia também com o revelador
e latitude de exposição. Os detalhes fornecidos usado e o tempo de revelação. Há uma relação
pelo fabricante devem ser estudados e obedecidos. inversa entre grão e sensibilidade. Os filmes são
Filmes pancromáticos são sensíveis a todo especificados pela escala ASA (linear, 200 ASA
o espectro visível, enquanto os ortocromáticos tem o dobro da sensibilidade do 100 ASA) ou
são sensíveis a todas as cores exceto laranja e DIN (logarítmica, a sensibilidade dobra a cada
vermelho, mas principalmente ao verde. Os aumento de 3 unidades). A exposição de um
filmes pancromáticos não reproduzem com negativo tem uma faixa de tolerância para obter
fidelidade a gradação de tons de cinza; violeta boas imagens, denominada de latitude.
e azul são ressaltados e amarelo escurecido. Recomenda-se fortemente o uso de medidores
Assim, é conveniente modificar a iluminação tipo de exposição, e equipamentos modernos estão
luz de dia fornecida pela lâmpada de xenônio equipados com controle automático. A densidade

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XI.2 Microscopia dos Materiais
lâmpadas de filamento de tungstênio e
lâmpadas de arco de xenônio (Capítulo IV). As
primeiras, operadas a 3.200 o K são adequadas
ao uso de películas balanceadas para “luz de
tungstênio, ou luz artificial”. Deve-se notar que
a maneira usual de controlar a intensidade de
uma lâmpada de filamento por variação de
tensão, modifica a temperatura de operação e
portanto o espectro de emissão. Para obter re-
sultados corretos, e reproduzíveis, a lâmpada
Figura 11.02 - Latitude de exposição de deve ser operada na tensão nominal, e a
filme fotográfico
intensidade controlada por meio de filtros
neutros (e não por meio dos diafragmas!).
Bulbos de xenônio operam a 6.000 o K e têm
uma coloração azulada e são adequados para
do filme, que controla o contraste, varia com a películas “luz de dia”. O uso das películas com
exposição e deve ser mantida na região linear fonte diferente de sua calibração é possível
(Figura 11.02). mediante o emprego de filtros compensadores.
Para fotografia em cores, dois tipos de Um fator que não deverá ser negligenciado
filme estão disponíveis para uso em metalo - é o da conservação das fotografias ao longo do
grafia. Transparências positivas fornecem dia- tempo. O sistema de arquivo de um laboratório,
positivos primordialmente para projeção, ainda principalmente se tiver envolvimento com
que cópias possam ser produzidas com menor exames periciais, deve ser de capaz de recuperar
fidelidade de cores. Filmes negativos fornecem informações por muito tempo, e de maneira
cópias positivas. Quando a fidelidade de cores confiável. Filmes e cópias preto-e-branco, quando
for importante, cuidados especiais devem ser adequadamente processadas e guardadas ao
tomados para a calibração correta do processo abrigo de umidade e de fungos, têm vida muito
de revelação. Para isto em geral é necessária longa. Já filmes coloridos, baseados fortemente
interação com o laboratório de revelação, em pigmentos orgânicos, sofrem degradação das
quase sempre externo ao laboratório de meta- cores com o tempo, e são mais sensíveis ao
lografia. Em casos muito críticos, principal- ataque por fungos. Em alguns casos, é recomen-
mente quando se tratar de macrografias, dável acompanhar a metalografia a cores por
recomenda-se fotografar simultaneamente um duplicatas em preto-e-branco.
testemunho de cores padrão, o que permitirá
avaliar a exatidão do processo. Micrografia digital
Para uso em metalografia a cores, a fonte
luminosa deve ter seu espectro correspondente A adaptação de uma câmara digital em
àquele para a qual a película colorida é um microscópio (Figura 11.01b) permite a
balanceada na fabricação. Esta característica da aquisição direta de imagens digitalizadas. A
iluminação denomina-se “temperatura”, e é evolução desta tecnologia está sendo tão
definida como a temperatura em o K que deve ter rápida que diversas gerações de equipamento
um corpo negro para emitir radiação equivalente estarão provavelmente presentes em um
à fonte em questão. As principais fontes moder- laboratório, e não seria possível tratar de todas
namente utilizadas em metalógrafos são elas neste contexto.

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Aquisição de Imagens XI.3
Em princípio, a maioria dos casos será com o advento da interface USB ( universal
baseada em uma câmara com sensor CCD serial bus ) que dispensa o uso de placas de
(charge coupled device) que consiste em um captura de imagem (frame grabbers).
conjunto de fotodiodos, cada um associado a Os sensores CCD são fabricados com
uma região de acumulação de carga. Os tecnologia MOS (metal oxide semiconductor)
fotodiodos, dispostos na forma de uma matriz otimizados para propriedades óticas e de
de linhas e colunas, convertem fótons em qualidade de imagem, mas que tornam a
elétrons, em quantidade proporcional à integração de eletrônica adicional impraticável,
intensidade da luz, e que são acumulados. Para requerendo um número de circuitos integrados
registro de cores, cada unidade é constituída auxiliares para sua operação. MOS deixou de
de quatro fotodiodos, dotados de filtros ser a tecnologia de produção em massa de semi-
adequados para que registrem uma das cores condutores, atualmente fabricados como CMOS
básicas. A luz é coletada simultaneamente ( complementary metal oxide semiconductor),
sobre toda a matriz, que é em seguida lida que auferem da redução de custos de escala re-
serialmente e processada por um conversor sultante. Esta tecnologia permite facilmente
analógico-digital, resultando em um sinal de incluir no microcircuito toda a eletrônica
baixo ruído e alto desempenho. A qualidade auxiliar, resultando na chamada camera on a
(e o preço) destes dispositivos varia larga- chip , ou seja, toda a câmara está contida em
mente, sendo os principais parâmetros a um único microcircuito, sendo apenas neces-
resolução (número de fotodiodos por unidade sária a adição de um sistema ótico para
de área), sensibilidade e velocidade de focalizar a imagem do objeto sobre o circuito,
aquisição e processamento. Com exceção do cujas dimensões são da ordem de 1 cm. Este
primeiro parâmetro, a materialografia é rela- desenvolvimento ainda está incipiente, mas já
tivamente pouco exigente. Alta sensibilidade propiciou uma enorme redução de preços em
é requerida principalmente para microscopia câmaras de menor qualidade, e é provável que
de fluorescência, e alta velocidade para estudo em breve se faça sentir também em toda a gama,
de fenômenos evanescentes, principalmente resultando em novo ciclo de aumento de
em biologia. Os equipamentos na faixa alta de desempenho e redução de preço. Portanto, é
desempenho e preço apresentam muito baixo forçoso que o microscopista se mantenha
ruído (em geral obtido com r efrigeração atualizado, e não lhe impinjam tecnologias
criogênica) e capacidade de dezenas de custosas e obsoletas. Caveat emptor!
exposições por segundo. Estas características
não são geralmente necessárias no nosso Digitalização e reprodução de imagens
contexto, e a aquisição de tais instrumentos
de topo de linha em geral desnecessária. Cada A interface imagem digital-imagem no
vez mais, a adaptação de câmaras fotográficas papel também merece uma breve menção.
amadoras de grande série e boa qualidade será Mesmo quando a aquisição da imagem for por
suficiente; no presente momento, surgem no via fotográfica convencional, os benefícios da
mercado câmaras com resolução de 4 digitalização podem ser auferidos. Isto é
Megapixels, cuja imagem, pelo menos para verdadeiro para processamento de imagens,
aplicações de rotina, compara-se favoravel- arquivamento, incorporação a documentos e
mente com a resolução obtida por filme comunicação pela Internet. Para isto serve um
convencional. Também a integração da câmara digitalizador (scanner), que por um processo de
com computadores sofreu grande modificação varredura gera um arquivo digital a partir do

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XI.4 Microscopia dos Materiais
objeto. Digitalizadores também tiveram grande produzidas por um ou dois fabricantes de
desenvolvimento recente: estão disponíveis destaque. Operando a 1200 dpi (dots per inch,
modelos a preço muito razoável e com pontos por polegada, veja adiante neste
surpreendente desempenho. Para as aplicações capítulo) são capazes de reproduzir uma
correntes, que não almejam a resolução neces- imagem que tenha resolução adequada com
sária para publicações de alta qualidade, excelente qualidade, como por exemplo figuras
modelos não profissionais de boa qualidade são incorporadas diretamente em relatórios
perfeitamente adequados. As diferenças de produzidos com editores de texto. Apesar de
preço refletem a conveniência de operação, seu custo inicial bem maior do que das
qualidade de fabricação e durabilidade resul- impressoras de jato de tinta, a economia de
tante, mas sobretudo a velocidade de operação. consumíveis é substancial, e decisiva quando
Exceção é a digitalização de filmes de MET, que o número de impressões for maior do que o uso
deverá ser feita com aparelhos de topo da gama, apenas ocasional.
equipados de acessório para digitalização de
objetos transparentes. Processamento da imagem
A escolha de equipamento para impres-
são depende muito do objetivo pretendido. Os Imagens são representações de objetos.
tipos mais usuais atualmente são impressoras Quando uma imagem é digitalizada, é mapeada
de jato de tinta e a laser. Equipamentos como como uma matriz de pontos ou elementos
fotoimpressora térmica (para preto-e-branco) e denominados pixels ( do inglês picture ele-
impressora por transferência de corante (dye ments). Cada pixel incorpora informação sobre
transfer) para cores, de custo inicial e de intensidade e tonalidade na forma de dígitos
operação muito altos estão sofrendo forte binários (bits).
competição destes tipos. A resolução de uma imagem digital é
A maior evolução verificou-se na expressa como pixels/unidade de comprimento
tecnologia das impressoras de jato de tinta, cujo (em geral ppi, pixels per inch) ou pontos/unidade
preço despencou a um décimo do seu valor uma de comprimento (em geral dpi dots per inch). O
década atrás, ao mesmo tempo que a qualidade número de bits em cada pixel é variável, e
de impressão evoluiu enormemente. Uma constitui a profundidade tonal da representação.
impressora não profissional (“doméstica”) de boa Imagens digitalizadas podem ser preto-e-branco,
qualidade, bem manejada e com uso de papéis gradações de cinza ou coloridas. Uma imagem
adequados pode fornecer figuras comparáveis as em preto-e-branco tem um bit atribuído a cada
disponíveis por fotografia colorida. Alguns fa- pixel, 0 para preto e 1 para branco. Imagens cinza
bricantes se preocupam com o problema da tipicamente operam com 8 bits, o que permite
durabilidade, e convém atentar para o uso de definir 256 níveis de cinza. A definição de cores
tintas, certamente mais custosas, que mante- é feita com 8 a 24 bits, ou mais. Os 24 bits são
nham a cor correta por mais de alguns anos. subdivididos em grupos de 8, atribuídos às cores
Infelizmente, o seu baixo custo inicial mascara primitivas vermelho, verde e azul (RBG red-blue-
às vezes o custo real de operação, que pode ser green), o que permite especificar 16,7 milhões
importante pelo preço das tintas. de cores. Para impressão, é também usado o
As impressoras laser já estão disponíveis sistema CMYK (cyan-magenta-yellow-black) que
a custo elevado para impressão a cores, mas é necessita de 32 bits por pixel.
na sua função preto-e-branco que o seu Uma palavra de cautela sobre significado
desempenho é notável, principalmente aquelas e comparação de resolução em ppi e em dpi. O

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Aquisição de Imagens XI.5
tópico é confuso, mesmo na literatura, e não enquanto que o JPG, constituindo arquivos muito
destituído de malícia comercial. A resolução de menores, apresenta perdas (lossy) que variam
imagens em geral é dada em ppi, enquanto que com o grau de compressão selecionado. Notar
a das impressoras o é em dpi. As duas não são que um arquivo JPG sofre degradação cada vez
equivalentes. Como exemplo, em alguns tipos de que é aberto e salvo, mas não quando somente
impressoras a jato de tinta a cores, cada pixel aberto e fechado.
da imagem é obtido pela projeção de 4 microgotas Após adquirida uma imagem pode ser
de cada uma das cores primitivas, que se fundem processada para melhoria de sua qualidade. Isto
no papel dando a cor desejada. Muitos fabri- em geral consiste na aplicação de filtros
cantes consideram cada uma destas microgotas (algoritmos matemáticos embutidos nos progra-
como um ponto (dot), e portanto uma impressora mas) à imagem para remover ruído e artefatos,
dita de 720 dpi poderá estar imprimindo a 180 suavizar ou avivar as imagens, ou corrigir
ppi! Para outros tipos de impressora e as laser, problemas com contraste e brilho. Filtros
considerações semelhantes são válidas e deverão Gaussianos e similares têm o efeito geral de
ser levadas em conta. suavizar imagens, e são usados para eliminar
Imagens podem ser arquivadas em duas ruído e adoçar arestas agudas, mas podem re-
categorias: mapeadas ou vetoriais. Como regra mover detalhe em objetos pequenos, e os filtros
geral, imagens digitalizadas são mapeadas opostos ressaltam detalhes ao mesmo tempo que
(bitmap) enquanto que desenhos realizados com amplificam o ruído.
programas como Corel Draw são vetoriais. Os O contraste e o brilho podem ser alterados
primeiros são o formato nativo em processadores para melhorar a percepção do objeto da imagem.
de texto e programas de processamento de Todos os programas de processamento de
imagem, conceptualmente simples, mas que imagem oferecem recursos para este fim. O
ocupam muita memória, geram arquivos programa Adobe Photoshop tornou-se pratica-
grandes, e apresentam problemas com grandes mente o padrão para esta finalidade, mas muitos
aumentos e reduções. Em arquivos vetoriais, as outros, como Corel Photopaint e outros
imagens são descritas por definições matemáti- disponíveis como shareware são muito eficientes
cas, os arquivos são pequenos e podem ser e de custo mais acessível. Permitem a otimização
escalados sem perda de qualidade. da escala de cinza (uma das alterações de melhor
Diversos formatos de arquivo são usados
para gravar imagens e informação correlata,
como resolução, cores e parâmetros de impres-
são. Entre os principais, mencionamos .JPG (ou
JPEG) e .TIF (ou TIFF) que são formatos bitmap.
Como os arquivos de uma imagem podem ser
muito grandes, são frequentemente comprimidos
para arquivamento ou transmissão. Isto é feito
por algoritmos (muitos deles proprietários) que
otimizam o código binário, que podem ou não
causar perda da qualidade da imagem, na medida
que descartam informação ou registrem a média
de pixels adjacentes. O formato TIF é denominado
sem perda (lossless) e é o arquivo de escolha para
manipulação e processamento de imagens, Figura 11.03 - Correção não-linear (gama)

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XI.6 Microscopia dos Materiais
Figura 11.04 - a) como adqurida b) com escala de cinza otimizada c) com correção gama

efeito), processamento gama, que amplifica não avaliadas efetivamente, o monitor deverá ser
linearmente as regiões escuras ou claras da calibrado; os programas de edição geralmente
imagem, fazendo ressaltar detalhes. A Figura incorporam recursos para isto.
11.03 ilustra estes procedimentos. Devemos Mencionamos ainda outros algoritmos
ressaltar que tais manipulações podem afetar o empregados para transformar os dados fornecidos
resultado de medidas quantitativas. Portanto, pelo equipamento em informação desejável.
filtros devem ser aplicados para melhorar a Convolução e deconvolução: quando a
apresentação das imagens, mas as medições abertura de aquisição serial do detetor não co-
serem realizadas na imagem original. incide com a dimensão do passo de varredura,
Estes programas permitem ainda calibrar a figura resultante não representa com
o aumento ou as cores da micrografia. É boa fidelidade o objeto. Consideremos como exemplo
prática, quando necessário indicar dimensões o sinal adquirido por um detetor varrendo um
da microestrutura, que seja feito pela inclusão objeto conforme a Figura 11.05a. O sinal ideal
de uma barra micrométrica e não por menção seria a função 11.05b. Caso a abertura do
do aumento no texto ou legenda, pois esta detetor seja, por exemplo, três passos de varre-
indicação acompanhará corretamente a figura dura, coletará inicialmente 1/3 do sinal gerado
durante as etapas da impressão. Para que as ao tangenciar o objeto, e o sinal finalmente
operações de balanço de cores possam ser adquirido será o da Figura 11.05c, e a imagem

Figura 11.05 - Convolução e deconvolução

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Aquisição de Imagens XI.7
11.05d não corresponde à realidade. Ocorreu a suas vantagens e desvantagens. A reprodução
convolução entre o objeto O e a função de espa- superficial exige conhecimento da geometria do
lhamento do instrumento S, gerando a imagem objeto, e no caso de imagens ruidosas ou
I. Caso os dados adquiridos em 11.05c sejam desfocadas, pode exigir muita intervenção do
precisos, e a função S bem conhecida, pode- operador. Na reprodução volumétrica, toda a
remos matematicamente realizar a deconvo- massa de dados originais é mantida, requerendo
lução, e reconstruir a imagem correta. muita memória e poder de computação, mas
Reconstrução 3D: conforme vimos no possibilitando melhor visão das estr uturas
Capítulo VIII, o microscópio confocal adquire uma internas do objeto.
pilha de imagens planas (2D), que são armaze- E por fim, uma advertência ética: “Um
nadas no computador do instrumento. Estas cientista não deve jamais esquecer que a razão
imagens podem ser reconstruídas em um precípua para produzir uma imagem é a de
conjunto de dados tridimensional, que pode ser transmitir informação científica precisa.
girado eletronicamente, ou detalhes destacados Processe e comprima com malícia preventiva!
com grande aumento. Duas técnicas principais Uma coisa é ajustar contraste para realçar a
são utilizadas, reprodução volumétrica ou su- informação oculta em uma sombra, outra bem
perficial. Na reprodução volumétrica os dados diferente é processar uma imagem para incluir
são amostrados em elementos cúbicos chamados um detalhe inexistente. Inicie com a melhor
de voxels (em analogia dos pixels em 2D) e preparação possível da amostra, combine-a
apresentados em perspectiva na tela do com um microscópio bem alinhado e utilizado
computador. Alternadamente, as imagens 2D são corretamente, e depois cuidadosamente
processadas geometricamente (por exemplo, por arquive e imprima. Qualquer coisa além disto,
identificação dos contornos) e a imagem gerada permito -me lembrar-lhe, deveria conter a
por algoritmos convencionais. Cada técnica tem marca d’água “Alterado”” 1.

1
B.Foster, www.advancedimagingmag.com, outubro 2000, pg.31

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XI.8 Microscopia dos Materiais
CAPÍTULO XII

Preparação das Amostras

Por uma pequena parte se pode julgar o todo


(Cervantes, D. Quixote, 1605)

Macrografia pelo reativo adequado (vide Capítulo XV). Os


reagentes de macrografia são relativamente
Conforme descrito anteriormente (Capítulo simples e estáveis. O ataque pode ser feito por
IV) o exame macroscópico é recomendado para imersão ou esfregando a superfície com um
uma primeira avaliação do objeto a ser estudado. chumaço de algodão embebido no reagente e
A preparação para macrografia consiste em obter seguro com uma pinça. A evolução do ataque
uma superfície plana, com acabamento relati- usualmente é facilmente observável durante o
vamente grosseiro, que seja adequado aos processo, e os tempos podem atingir alguns mi-
ataques anteriormente descritos. Quando a nutos. Em seguida, a amostra é lavada em água
amostra tiver dimensões que não permitam seu corrente, eventualmente limpando a superfície
manejo adequado (qualquer dimensão acima de de produtos de ataque com algodão, banhada
200 mm é desaconselhável) um segmento com álcool etílico, e secada com um soprador de
adequado deve ser removido por corte mecânico, ar quente. Quando for desejável preservar a
que não altere as suas características. Se neces- superfície para exame futuro, ela pode ser
sário, grandes marcas de corte podem ser protegida por fina camada de verniz incolor
removidas por usinagem ou retífica com rebolos aplicado preferencialmente por pulverização.
de esmeril, e a amostra em seguida lixada,
usualmente com lixadeira de fita como ilustrado Metalografia
na Figura 12.01a, com lixas de grão 80 até 120.
O acabamento depende do reagente de ataque Focalizaremos em primeiro lugar a
que será utilizado, sendo mais grosseiro quanto preparação de amostras metalográficas, para
mais agressivo o ataque. Pequenos detalhes exame em epi-iluminação no microscópio
exigem acabamento melhor, mas em nenhum fotônico. O objetivo é obter uma superfície plana
caso será necessário o polimento necessário para e polida, (compatível com a profundidade de
metalografia. Em seguida, a amostra, cuidado- campo relativamente pequena do instrumento)
samente limpa de abrasivos e sujeiras, é atacada e que apresente o menor grau de deformação

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Preparação das Amostras XII.1
Figura 12.01 - Polimento metalográfico a) lixadeira de fita b) cortadora de disco c) prensa de
embutimento d) lixadeira e)politriz automática f) politriz vibratória g) eletropolimento (Buehler)

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XII.2 Microscopia dos Materiais
mecânica superficial possível, sem alterar a correta. Na maioria dos casos opera-se com dis-
realidade estrutural do metal. cos consumíveis (partículas abrasivas como
Em geral será examinada uma pequena carbeto de silício ou alumina, embutidas em
parte do objeto de interesse. O problema bem suporte de polímeros ou elastômeros), que se
conhecido de amostragem deve ser levado em degrada durante o uso, oferecendo continu-
conta para garantir a representatividade da amente novas partículas à operação. O disco
amostra. O exame macroscópico, discutido an- abrasivo deve ser escolhido de acordo com a
teriormente, auxilia na escolha do local de onde tarefa em mãos: por exemplo, o corte de um aço
a mesma será retirada. A maioria dos materiais temperado requer um disco mole (surpresa?)
não é nem homogênea nem isotrópica, e a para que se desgaste e atuem continuamente
posição e orientação da amostra podem ser im- novas partículas. A operação de corte gera con-
portantes, nem sempre sendo possível obter re- siderável quantidade de calor que pode danificar
sultados confiáveis a não ser com diversas a amostra, e é preciso refrigera-la continu-
amostragens, incluindo regiões críticas ou amente, em geral com água circulante. O avanço
suspeitas. Algumas especificações determinam do disco contra a peça deve ser adequado a que
escolha aleatória ao longo do objeto. se realize um corte regular; pressão insuficiente
A preparação de uma amostra sem defeito provavelmente resulta em fricção inútil, e
é tarefa árdua, mas nem sempre requerida em pressão excessiva pode levar a travamento ou
trabalhos de rotina. Enquanto uma foto quebra do disco. As amostras devem estar
destinada à publicação deva ser isenta de firmemente presas, e usada sempre a tampa de
arranhões e manchas, com focalização e proteção integrante do equipamento. Para
contraste perfeitos, resultados mais simples são determinados fins, estão disponíveis discos
aceitáveis para muitas finalidades rotineiras, abrasivos não consumíveis diamantados. De
desde que a estrutura não seja alterada e dificulte custo muito mais elevado, em geral são
a interpretação. Os processos de preparação das reser vados para corte de amostras cerâmicas
amostras apesar de elementares, não são ou de minerais.
simples, e importantes para o resultado final da Além do corte em disco abrasivo, muitos
metalografia. A vasta literatura, na qual se outros métodos podem se usados, desde a
destaca o livro de Vander Voort, apresenta simples serra manual até a eletroerosão. Alguns
detalhes experimentais e pequenos truques que destes métodos são mais adequados à obtenção
deverão ser consultados. de amostras muito pequenas, e serão mencio-
Em princípio, as etapas incluem seciona- nados mais adiante.
mento, possivelmente embutimento, lixamento, Após o corte, a amostra deverá ser limpa
polimento e ataque. de resíduos de abrasivos e lubrificantes, com
lavagem em solventes adequados eventualmente
Secionamento ativados por ultra-som.

A maioria dos casos requer secionamento Embutimento


para obter uma amostra conveniente. O método
mais comum é o uso de máquinas de corte com Quando a amostra tiver dimensões
disco abrasivo (Figura 12.01b). É adequado à reduzidas que não permitam o seu processa-
maioria dos metais, e produz excelente quali- mento nas etapas seguintes com comodidade e
dade superficial, ainda que ocorra algum dano segurança, podem ser montadas em dispositivos
mecânico, que pode ser minimizado com técnica ou embutidas em plástico.

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Preparação das Amostras XII.3
O método mais comum de embutimento Lixamento
consiste em envolver a amostra com plástico
polimerizado a quente. A Figura 12.01c ilustra A etapa de lixamento é importante porque
uma prensa de embutimento onde a amostra é deve remover os danos mecânicos introduzidos
encapsulada em um cilindro de 25 mm de pelo secionamento, ao mesmo tempo que mini-
diâmetro, a cerca de 150o C com pressão de miza os danos remanescentes para que abrasivos
300 kg/cm2. e resfriada sob pressão. A resina sucessivamente mais finos possam elimina-los.
mais utilizada é a baquelite. Como esta Os abrasivos de polimento não são eficazes para
apresenta contração durante o resfriamento, remover deformação superficial substancial.
que resulta em pequena fresta entre a amostra O lixamento é efetuado pelo uso sucessivo
e o plástico, utiliza-se, por exemplo, dialil- de lixas com granulação de 100 até 600 em cerca
ftalato quando a retenção da aresta durante o de 5 etapas. O lixamento é efetuado em lixadeiras
polimento é importante. como ilustrado na Figura 12.01d, utilizando lixas
Quando a amostra não tolerar a d’água com lubrificação de água corrente. A água
aplicação de calor, seja por decomposição ou também age no sentido de remover detritos e
modificação da microestrutura, utilizam-se abrasivos, minimizando a tendência de embutir
resinas de polimerizáveis a frio, como acrílicos, partículas na matriz da amostra, fonte frequente
epóxis ou poliesteres. A resina é adicionada de artefatos. A direção do lixamento deve ser
de um catalisador (2 componentes) na ocasião alternada entre cada lixa, girando a amostra de
do uso, e versado sobre a amostra em um 90o , o que facilita a inspeção a cada passo para
molde apropriado; moldes flexíveis de silicone garantir que todas as marcas da etapa anterior
são muito úteis, pois não aderem ao plástico e tenham sido eliminadas. Isto é muito importante,
são facilmente removíveis. Uma solução pois a remoção de marcas remanescentes de
simples é o uso de anéis cortados de um tubo etapas anteriores com uma lixa mais fina é muito
ou eletroduto de PVC e colados sobre uma folha ineficiente. A amostra (e as unhas do operador!)
de alumínio. Note-se que mesmo estes devem ser cuidadosamente lavadas quando de
plásticos apresentam algum aquecimento du- cada troca de lixa: alguns poucos grãos mais
rante a polimerização. Em alguns casos de grosseiros trazidos da etapa anterior podem
amostras porosas ou com geometrias comprometer todo o trabalho. Normalmente, o
complexas é necessária a impr egnação por lixamento tem a duração do dobro do tempo ne-
aplicação de vácuo e restabelecimento da cessário para eliminar os arranhões anteriores,
pressão atmosférica. sendo 2 a 3 minutos típico para metais comuns.
Mencionem-se ainda casos especiais, A Figura 12.02 mostra a evolução das etapas de
como a deposição de uma camada por galva- lixamento e polimento
noplastia para retenção de arestas, ou o uso Quando houver um grande número de
de polímeros condutores (aos quais foram amostras similares a serem lixadas e polidas, é
adicionadas partículas metálicas) quando se interessante considerar o emprego de equipa-
pretende posterior eletropolimento. Tais mento automatizado. Quando o volume de
metais podem originar pares eletroquímicos trabalho justificar o maior investimento inicial,
indesejáveis; neste caso, um recurso é a resultados excelentes podem ser obtidos, inclu-
perfuração da parte posterior do embutido, sive por operadores inexperientes conveniente-
até atingir a amostra, e fazer contato com mente treinados. A Figura 12.01e ilustra equi-
um fio condutor. pamento deste tipo.

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XII.4 Microscopia dos Materiais
Figura 12.02 - Etapas do lixamento e polimento de amostra metalográfica

Polimento que pode se obtido. A exigência de higiene


cuidadosa ao mudar de abrasivo também é mais
Após o lixamento até grão 600, a amostra é critica nesta etapa. Além do estrago produzido
polida para obtenção de superfície plana, reflexiva pela contaminação de abrasivo mais grosseiro,
e o quanto possível livre de arranhões. Como o laboratório pode contabilizar substancial
indicado anteriormente, o rigor de qualidade deverá prejuízo quando um pano impregnado de
otimizar a produtividade com o fim em vista. Em diamante tiver que ser rejeitado.
todo caso, defeitos e artefatos como cometas, Os abrasivos e panos utilizados são mul-
formação de pites, arrancamento de partículas e titude, e novamente textos e manuais deverão
manchas devem ser evitadas. O polimento pode ser consultados para informação sobre as
ser grosseiro ou fino, usando abrasivos na faixa combinações adequadas a cada caso. Alumina
de 30-3 µm, ou de 1 µm ou menos. (Al2O3) é tradicionalmente o mais usado, e
O equipamento é similar ao do lixamento, disponível comercialmente em granulação de 5
porém com menor velocidade. Os discos rotativos a 0,05 µm, em pó ou suspensão aquosa. Durante
são recobertos com panos impregnados do o polimento, a suspensão é continuamente
abrasivo. A necessidade de alterar a direção do alimentada sobre o pano. Modernamente, as
polimento é ainda mais severa, e usualmente granulações mais grosseiras para a primeira
obtida pelo movimento contínuo da amostra em etapa do polimento tem sido substituídas por
rotação oposta ao movimento do disco. Equipa- pasta de diamante nas granulações de 6 e 1 µm.
mento automático é altamente recomendável: Apesar do custo maior, os resultado em tempo e
talvez mais importante do que a economia de qualidade de abrasão são compensadores. O pano
tempo seja o considerável aumento de qualidade é impregnado de pasta e lubrificado com solvente

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Preparação das Amostras XII.5
como querosene, e com gerência cuidadosa, pode recomendação tradicional de que a visualiza-
servir durante bastante tempo, com pequenas ção da microestr utura pode ser muito
adições periódicas. Como mencionado acima, a melhorada alternando-se algumas etapas de
contaminação é fatal, e importa na perda do pano polimento fino e ataque químico permanece útil
e da carga de diamante. Outros abrasivos usados em muitos casos. Muitos conhecimentos
com menor frequência em aplicações especiais adicionais são disponíveis atualmente, citando-
são magnésia (MgO), óxido de ferro (Fe2O3, se os trabalhos de Samuels, que ao longo dos
conhecido como rouge de joalheiro), e sílica anos, estudou detalhadamente o polimento de
coloidal. Esta é indicada para a etapa de remoção grande número de metais.
dos últimos arranhões do diamante; também a
inércia química do SiO2 é útil quando for Polimento químico e eletroquímico
desejável polimento químico (vide adiante). A junção de processos mecânicos e
O disco de polimento é recoberto por pano, químicos oferece uma série de possibilidades que
retido por um anel circular ou auto-aderente. O tem aplicação específica para alguns materiais.
pano deve ser capaz de ser impregnado e reter o Podemos citar polimento eletro-mecânico, no
abrasivo, e não conter materiais estranhos que qual um eletrólito adequado é misturado ao
possam arranhar a amostra. Para polimento abrasivo. Na maioria dos casos a amostra é
inicial, recomenda-se tecidos de fibrilha rasa, mantida como ânodo em relação ao disco
como lona, nylon, seda e alguns sintéticos. Para catódico, mas a aplicação de polarização
polimento fino, usa-se todo tipo de fibrilha, desde ciclicamente alternada também é mencionada na
a rasa até a longa, com aplicações específicas literatura. Também se utiliza o polimento
como pano de bilhar para aços, feltros, camurças químico-mecânico, combinando a ação do agente
sintéticas e veludos. de ataque simultaneamente ao polimento
Deve ser ainda mencionado o polimento mecânico. Finalmente, podemos citar o polimento
vibratório, usado para polimento final em mate- químico, derivado das formulações comerciais
riais difíceis (Figura 12.01f). A amostra é para abrilhantamento químico de objetos. De
montada em um suporte relativamente pesado, todas estas modalidades, a mais importante é o
cuja inércia favorece uma movimentação polimento eletroquímico.
giratória e planetária sobre o disco vibrante. O
peso e amplitude de vibração são ajustáveis, e a Eletropolimento
taxa de polimento é reduzida, limitando o uso O polimento final com abrasivos é um
ao polimento final. processo delicado e tedioso, e que com frequência
provoca deformações severas na superfície. O
A teoria do desbaste e polimento advento de abrasivos diamantados e processos
Os primeiros estudos sobre a estrutura da automáticos de polimento resultou em algum
superfície de um metal preparado metalografi- progresso, mas a possibilidade de obter rapida-
camente remontam a Beilby, que postulou que a mente superfícies polidas e isentas de deforma-
deformação mecânica levaria a uma camada ções é um atrativo para o uso de eletropolimento.
pesadamente distorcida, que considerou mesmo Usualmente, a amostra, após abrasão até lixa
amorfa. Verificou que esta camada pode ser grão 600, é feita de ânodo em uma célula com
removida por ataque químico. Apesar de que a um eletrólito apropriado, resultando em uma
chamada “camada de Beilby” tem sua concepção superfície lisa e brilhante.
modificada pelos conhecimentos atualmente Talvez mais do que em qualquer outro
mais avançados sobre usinagem por abrasão, a aspecto de polimento e ataque, eletropolimento

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XII.6 Microscopia dos Materiais
é uma arte misteriosa. A literatura sobre o densidade de corrente, de modo que a superfície
assunto é vasta, com muitas soluções recomen- ativa da amostra deve ser conhecida, para di-
dadas para cada metal. As variáveis a consi- mensionamento e regulagem da fonte. São
derar e otimizar incluem, além do esperado disponíveis equipamentos comerciais, que
controle de tensão, corrente, tempo e tempera- mascaram uma região da amostra, e provem
tura, outras mais sutis como orientação da fluxo de eletrólito e agitação controlada (Figura
amostra, agitação, escolha do material do 12.01g), permitindo em alguns casos a obser-
cátodo, e viscosidade e idade do eletrólito1. vação contínua do processo.
Porém o método tem numerosas vantagens que As condições de operação para uma com-
o tornam atraente: quando bem sucedido, binação determinada de metal e eletrólito podem
obtém-se excelentes polimentos livr es de ser estudadas por um gráfico de potencial
arranhões e deformação, em especial para aplicado contra densidade de corrente, usando
alguns casos de metais difíceis de polir por um potenciostato, como por exemplo na Figura
meios mecânicos. No caso de grande volume 12.03. A região ideal de polimento é no início do
de amostras repetitivas, uma vez estabelecido trecho horizontal. Os mecanismos atuantes neste
o procedimento, ele é reproduzível e conduz à processo são muito complexos, e não totalmente
rápida preparação de amostras, mesmo em esclarecidos. Supõe-se que na região de poli-
mãos inexperientes adequadamente treinadas. mento seja formada uma película anódica,
Por outro lado, existe a desvantagem não ausente na faixa de ataque.
desprezível de muitos dos principais eletrólitos
oferecerem risco na manipulação, sendo
venenosos, corrosivos ou inflamáveis. Nunca
é demais repetir que as regras de segurança
devem ser cuidadosamente observadas, e o
desvio das condições recomendadas só ser
explorado, com grande cuidado, por operadores
experientes. O processo é principalmente útil
para metais puros ou monofásicos, evitando-
se a formação de células eletrolíticas entre
diversos constituintes da microestrutura.
Quando interfaces como arestas ou interfaces
entre fases diferentes forem importantes, o Figura 12.03 - Ataque e polimento eletrolítico
polimento mecânico provavelmente trará
melhores resultados.
O equipamento pode ser bastante Ataque
simples, em alguns casos um simples becher
com um cátodo adequado e a amostra anódica A etapa de polimento conduz a uma
imersa continua ou alternadamente no superfície brilhante, que na maioria dos casos
eletrólito. As arestas devem ser protegidas para não apresenta contraste entre as espécies mi-
evitar ataque preferencial. A corrente é suprida croestruturais presentes. A função do ataque é
por uma fonte CC, provida de voltímetro e a de delinear os contornos entre fases, grãos e
amperímetro. O parâmetro de importância é a outras características da amostra.

1
Felizmente, ainda ninguém incluiu a idade do operador, mas as condições atmosféricas já foram mencionadas!

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Preparação das Amostras XII.7
Em alguns casos, é possível obter H2SeO4 + 6e- ⇒ Se + 2H2O
contraste na amostra polida. Inclusões, como
partículas de óxido ou grafite em ferros fundidos, MeO4- - + 2e- + 4H+ ⇒ MoO2 + 2H2O
tem reflexividade suficientemente diferente para
serem claramente observados. Metais anisotró- Estes reagentes são de uso variado, com
picos, como berílio e zircônio podem ser obser- aplicações em grande número de metais,
vados com luz polarizada (Capítulo IV). tabelados extensivamente (Capítulo XV)
Diversos processos são usados para o Em metais puros ou monofásicos
ataque. O mais comum é o ataque químico, estabelece-se diferença de potencial entre grãos
usando soluções que agem de maneira de orientação diferente, entre contornos e o in-
diferenciada sobre diversas regiões da amostra. terior dos grãos e entre impurezas e a matriz. O
Outros métodos, incluindo ataque eletrolítico, contraste é gerado por facetamento dos grãos,
térmico ou depositando películas de interferên- atacados com taxa diferente segundo a
cia serão mencionados adiante. orientação dos planos cristalinos e consequente
O ataque químico é basicamente um reflexividade diferente, ou por sulcos nos
processo de corrosão controlada, resultado de contornos de grão (Figura 12.04).
heterogeneidades físicas ou químicas localiza- Em materiais polifásicos há diferenças de
das, que tornam algumas feições da microestru- potencial entre as diversas fases. A fase
tura anódicas ou catódicas nas condições catódica não atacada se apresentará em relevo
específicas do ataque. As centenas de soluções e clara. O ataque metalográfico é também um
recomendadas na literatura foram obtidas prin- processo muito complicado, e nem sempre
cipalmente por tentativas e erros, com alguma totalmente esclarecido. As formulas e procedi-
assistência do conhecimento de teoria da mentos descritos na literatura são resultado da
corrosão. Geralmente, os reagentes de ataque experiência (em geral empírica, e nem sempre
têm três componentes principais: um agente concordante) de diferentes autores, e de todos
corrosivo como um ácido, um solvente orgânico os fatores, o tempo de ataque é o mais flexível
que reduz a ionização e um agente oxidante. Em e deve ser estudado caso a caso. Em geral,
alguns casos, como por exemplo o ácido nítrico, quanto maior o aumento pretendido, menor
o agente corrosivo também é o oxidante. deve ser o grau de ataque. Recentemente, há
Pelo estabelecimento de uma reação uma tendência de adicionar surfatantes que
química adequada podemos formas camadas alteram a tensão superficial reagente/amostra.
na superfície dos metais, incluindo óxidos,
fosfatos, cromatos e molibdatos. Estas
camadas podem ser depositadas por oxidação
do metal em áreas anódicas, em reações de
corrosão, tipicamente

Me - 2e - ⇒ Me++ (ânodo)
2H+ + A- - + 2e- ⇒ A- - + H2 (cátodo)
Me + H2A ⇒ MeA + H2

Em outros casos, camadas são formadas por Figura 12.04 - Geração de contraste por ataque
redução catódica metalográfico

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XII.8 Microscopia dos Materiais
Os resultados são variáveis, e devem ser reprodutibilidade, sendo muito útil para iden-
examinados individualmente. tificação de fases e metalografia quantitativa.
O ataque pode ser feito por imersão, ou Uma série de processos é baseada na
menos frequentemente por tratamento com um formação de películas na superfície da amostra.
chumaço de algodão embebido no reagente. Tais películas são óxidos, ou outros produtos de
Durante a imersão é recomendável mover a oxidação. O contraste pode ser resultante do com-
amostra para agitação e prevenção de depósito portamento ótico da película, ou de fenômenos
sobre a superfície. Em alguns casos, um ataque de interferência relacionados à sua espessura.
insuficiente pode ser repetido por tempo Alguns dos principais são:
adicional; em outros, é necessário repolir a Ataque colorizante (tint etching) consiste
amostra, e reatacar por mais tempo. na formação, por imersão em reativo adequado,
Diversos processos eletroquímicos são de uma camada fina (40 a 500 nm) de óxidos,
empregados para ataque metalográfico, dos sulfetos, molibdatos, etc., gerando contraste de
quais o mais importante é o ataque eletrolítico. cores. A coloração é produzida por interferência
Muitas, mas nem todas, soluções de eletropoli- (Figura 04.20), e a espessura das camadas
mento podem ser usadas, simplesmente controla a cor observada no microscópio,
reduzindo a tensão aplicada a 10 % do seu valor; havendo alguma influência da orientação
outras são formuladas especialmente para cristalográfica. Behara e colaboradores estuda-
ataque. No ataque eletrolítico, o potencial ram extensamente esta modalidade de ataque.
elétrico exerce o papel do oxidante. Assim, a Anodização é um processo eletrolítico de
maioria dos reagentes é de composição relati- formação de uma camada de óxido superficial,
vamente simples. A amostra é quase sempre o que freqüentemente mantém relação epitaxial
ânodo, mas alguns ataques catódicos são com o substrato. Tem certa semelhança com os
utilizados, e alguns casos requerem corrente outros métodos de formação de películas, em que
alternada. As variáveis mais importantes são a cor resulta de processo de interferência. Em
a tensão e o tempo. Normalmente, a amostra geral, superfícies eletropolidas produzem os
pode ser atacada, examinada e r ecatada sem melhores resultados. Usado inicialmente para
novo polimento - o que não é sempre possível alumínio, encontra aplicação em outros metais
com ataque químico. Muitos destes ataques como cobre, nióbio e titânio.
são bastante seletivos, e úteis para identifica- Colorização a quente ocorre quando um
ção de fases específicas. Este aspecto pode ser metal polido é aquecido ao ar, em temperatura
melhor explorado com uma variante do relativamente baixa, oxidando sua superfície.
processo, o ataque potenciostático. Em um Tratando-se de uma liga polifásica, os diferentes
potenciostato, um terceiro eletrodo de referên- constituintes podem oxidar-se com taxas dife-
cia é introduzido, mantendo o potencial con- rentes, gerando contraste de cor variável com a
trolado e constante durante o ataque. Este pode espessura da camada a partir de cerca de 30 nm.
assim ser estudado em detalhe variando o Em metais monofásicos verificou-se também
potencial e registrando as curvas de polariza- influência da orientação cristalográfica da
ção resultantes. Cada fase metálica tem uma superfície. O procedimento é simples, podendo
curva de polarização característica e a escolha ser usada uma simples placa aquecedora sobre
adequada das condições permite discrimina- a qual é colocada a amostra, ou visando melhor
las. Este método tem a grande vantagem de controle, usando uma estufa. É claro que o
ataque seletivo dos constituintes microestru- processo não é válido para metais que sofram
turais de interesse, com alto grau de alteração com a temperatura. Caso o aqueci-

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Preparação das Amostras XII.9
mento seja feito a alta temperatura, em vácuo são descritos na literatura. Os efeitos poderiam
ou atmosfera inerte, obtemos o chamado ataque ser devidos à formação de películas anisotrópi-
térmico, que revela principalmente contornos de cas, ou de rugosidade superficial, gerando ati-
grão, com valiosa aplicação para cerâmicas. vidade ótica por reflexão diferenciada. Como
Finalmente, podemos produzir películas efeitos inesperados, e úteis, são as vezes
pela ação de gases ou deposição por vapor na verificados, é opinião do presente autor que não
superfície da amostra. Para o primeiro, a amostra custa nada arriscar uma rápida inspeção entre
é submetida, em câmara adequada, a vácuo da polarizadores cruzados!
ordem de 0,1 Pa, quando gases são introduzidos
e mantida pressão de 1 a 100 Pa. Faz-se agir sobre Polímeros
a amostra anódica uma fonte de elétrons operando
com potencial de 1 a 4 kV. Durante a descarga de Da mesma forma que nos metais, o co-
gases que se estabelece, forma-se película que nhecimento da estrutura das macromoléculas de
gera contraste entre os constituintes. Com relação um polímero é importante para o estudo de suas
a amostras sensíveis à temperatura, notar que o propriedades. Polímeros podem ser examinados
ânodo pode chegar a 200 oC . Em 1960, Pepperhoff tanto por transmissão como em reflexão.
mostrou que contraste poderia ser obtido em Amostras para epi-iluminação são
superfícies metálicas polidas pela deposição em preparadas de modo semelhante aos metais,
vácuo de uma fina película de dielétrico de baixa com técnicas adaptadas às peculiaridades dos
absorbância e alto índice de refração. ZnSe, TiO2 polímeros, como sua dureza e sensibilidade ao
e ZnS são satisfatórios. A pressão usual para calor. O embutimento da amostra é feito a frio,
deposição varia de 0,1 a 0,001 Pa, podendo ser em geral com epóxi, e utilizam-se os métodos
usado equipamento similar ao ilustrado na Figura para metais muito moles. Para seções finas,
12.13. Durante a evaporação a cor varia de podem usar-se micrótomos, ou proceder de
amarelo a azul, situando-se os melhores resulta- maneira semelhante ao processo desenvolvido
dos na faixa púrpura-violeta. para lâminas petrográficas. Uma fina amostra,
O uso de luz polarizada merece menção montada em epóxi, é polida, e em seguida esta
especial. Metais cúbicos polidos não respondem superfície montada sobre uma lâmina de vidro,
à luz polarizada entre polarizadores cruzados. e o lado oposto é lixado até cerca de 100 µm, e
No entanto, películas como as anteriormente polido a cerca de 25-75 µm. Películas finas
descritas obtidas sobre os mesmos frequen- também podem ser obtidas por evaporação de
temente revelam contraste de grão na luz pola- um solvente, ou solidificação de uma fina
rizada. Muitos efeitos, nem todos elucidados, camada. Nestes casos, é preciso certificar-se de

Figura 12.05 - Estrutura da poliamida a) epi-iluminação, atacada com xilol, contraste de interferência
b) seção fina em luz polarizada (Kopp)

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XII.10 Microscopia dos Materiais
que a estrutura resultante é representativa do 12.06 ilustra as etapas de preparação de uma
volume do material. lâmina petrográfica; a)secionamento; b) impreg-
Em alguns casos, é necessário examinar nação a vácuo; c) lixamento e polimento de uma
polímeros sob a forma de pós ou fibras, que são das faces; d) colagem da face polida sobre
fixados em lâminas de vidro com um meio lâminas de vidro e) lixamento e polimento da
viscoso. Amostra assim montadas se prestam à outra face até 30 µm, usando suporte próprio; f)
medição do índice de refração, uma das colagem de lamínula para proteção da lâmina
observações mais importantes na caracterização
destes materiais. Microscopia eletrônica de transmissão

Cerâmicas Réplicas

O processo de preparação de amostras A topografia das amostras pode ser con-


cerâmicas, de minerais, e de outros materiais de venientemente estudada por meio de réplicas da
alta dureza guarda algumas diferenças em superfície, para exame no microscópio. Esta
relação aos anteriormente descritos. Com poucas técnica, com a qual se iniciou o exame de metais
exceções, o secionamento inicial é feito com e superfícies fraturadas com microscopia
serras circulares diamantadas. Lixas d’água de eletrônica, perdeu importância com o advento
carbeto de silício rendem pouco neste caso, e do MEV, sendo inclusive uma técnica que requer
emprega-se diamante para todas as fases do cuidados e habilidade. No entanto, permanecem
processo. A fase grosseira equivalente ao nichos onde sua utilidade é indiscutível: permite
lixamento é feita com discos de metal ou resina o exame de amostras maiores e afastadas do
embebidos de diamante e a fase de polimento é microscópio, que podem ser replicadas e
semelhante à dos metais, mas aplicando forte examinadas seletivamente. Esta aplicação é
pressão com baixa velocidade de rotação. Sendo também bastante utilizada em microscopia
estes materiais bastante quebradiços, é comum fotônica, por exemplo em trabalhos de campo.
a impregnação prévia com epóxi a vácuo, para Existem muitas técnicas de preparação de
retenção de todos os componentes. réplicas, detalhadamente descritas na literatura.
Minerais são examinados tanto em trans- Em princípio, baseiam-se na deposição de uma
missão como em reflexão. Lâminas finas são fina camada sobre a superfície da amostra, que
comumente preparadas com 30 µm. A Figura em seguida é retirada ou por levantamento ou

Figura 12.06 - Etapas de preparação de lâmina petrográfica (Buehler) - vide texto

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Preparação das Amostras XII.11
por dissolução do substrato. Usam-se polímeros rial examinado seria da ordem de poucos mm3 !
(dissolvidos em solventes orgânicos), deposição É preciso lembrar também que a estrutura dos
de carbono por evaporação em vácuo, ou ainda materiais, como por exemplo a morfologia de
óxidos, como por exemplo por anodização do seus defeitos, pode ser influenciada pela
alumínio. O contraste pode ser aumentado por proximidade da superfície: por exemplo, a teoria
sombreamento, que consiste em evaporar um prevê que discordâncias situadas a poucas
metal pesado obliquamente sobre a réplica (Figura dezenas de nm da superfície, sejam para ela
12.07a). Este processo é aplicável tanto para atraídas e aniquiladas.
fratografia como para amostras polidas e atacadas Tipicamente, a preparação de uma
da maneira usual para metalografia fotônica. amostra metálica para exame no TEM consiste
Réplicas com extração continuam muito em dois estágios: o primeiro é a obtenção de um
importantes para remover partículas da matriz disco com dimensões aproximadas de 3 mm de
da amostra, e subsequente identificação por diâmetro por 100 a 200 µm de espessura, com
difração de elétrons no MET (Figura 12.07b). subsequente redução da sua região central para
A introdução da técnica de folheta fina alguns µm. Os procedimentos variam de acordo
(thin foil) na microscopia eletrônica de transmis- com as propriedades da amostra, como seja dútil
são constituiu a verdadeira abertura deste ins- ou friável, dura ou mole, mono ou polifásica,
trumento ao domínio da materialografia, condutora ou isolante. O processo mais usual é
estendendo o exame da superfície para o inte- o de cortar uma fatia com as dimensões
rior dos materiais. requeridas, e puncionar o disco com um
Folhetas finas de metais tem dimensões dispositivo em tudo similar ao de um furador de
típicas de um disco de 3 mm com espessura da papéis. Para o corte podem ser usados serras
ordem de 100 nm na região observada, afim de circulares de precisão, diamantadas ou não,
que sejam transparentes ao feixe de elétrons. O corte químico por meio de fios ou arames, ou
processo de obtenção das mesmas deve preservar eletroerosão, sempre atentando para reduzir ao
o quanto possível as características da amostra mínimo a introdução de danos mecânicos. O
maciça, e não ser modificada pelo método de passo seguinte é a obtenção de uma covinha
preparação. Como a região observada é muito (dimple) no centro do disco, em geral ainda por
pequena, e a condição usual de que a amostra processos abrasivos, até uma espessura na faixa
deve ser representativa do todo é muito severa. de 10 a 1 µm. A amostra resultante é em geral
Thomas estimou que após décadas de observa- suficientemente resistente na periferia para ser
ção de metais no TEM, o volume total de mate- autoportante; em determinados casos faz-se no

Figura 12.07 - Réplicas a) réplica topográfica b) réplica de extração (Thomas)

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XII.12 Microscopia dos Materiais
outras disposições, como cátodos afilados, ou
jatos de eletrólito, dispostos em ambos os lados
da amostra, podendo neste caso a perfuração
ser percebida automaticamente por meio de
uma célula fotoelétrica. Este processo não é
evidentemente aplicável a materiais não-
condutores. Cerâmicos, vidros e semicondu-
tores podem frequentemente ser processados
por desbaste químico, sem uso de corrente
elétrica. Uma grande vantagem dos processos
Figura 12.08 - Grades para suporte de folheta químicos ou eletroquímicos é a ausência de
fina no MET qualquer dano mecânico à amostra, mas a
hipótese de dissolução preferencial de certas
fases, comprometendo o exame da estrutura,
entanto necessário suporta-la por meio de grades não deve ser ignorado.
como ilustrado na Figura 12.08. Um método crescentemente usado para
O segundo estágio consiste na obtenção obter folhetas finas é a ablação iônica. Quando
da seção transparente aos elétrons, da ordem de um feixe de íons ou átomos energizados incide
100 nm. A amostra é desbastada até que ocorra sobre um sólido, este é desbastado pela ejeção
perfuração, com a consequente existência em de átomos da superfície (sputtering) (Figura
torno do furo de uma área com a espessura 12.10). Usualmente utiliza-se argônio acelerado
requerida. O principal processo é o de ataque por cerca de 4 a 6 keV, agindo sobre ambas
eletroquímico, uma de cujas modalidades está superfícies da amostra. Obtêm-se taxas de
ilustrada na Figura 12.09. A lâmina obtida no redução da ordem de poucos micra por hora, e
estágio anterior, com as arestas protegidas por o processo é bastante demorado. O método é
esmalte isolante para evitar efeito de pontas, é muito versátil, podendo ser usado para
imersa como ânodo com movimento alternativo condutores e não-condutores, incluindo mate-
em um eletrólito adequado (vide Capítulo XV) riais conjugados, e para aqueles de composi-
até que ocorra a perfuração. Usam-se também ção química ou microestrutural peculiar, onde

Figura 12.09 - Obtenção de folheta fina por desbaste eletrolítico

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Preparação das Amostras XII.13
ataque químico é inadequado. O impacto e
implantação de íons podem ocasionar distorções
mecânicas na superfície, assim como elevação
de temperatura, e o possível aparecimento de
artefatos não deve ignorado.

Ultramicrotomia

O micrótomo convencional, da largo uso


em microscopia biológica, e que em versões mais
precisas obtém, como ultramicrótomo, seções de
espessura adequada para o MET, tem,
surpreendentemente, aplicação na preparação de
folhetas finas de materiais. Este uso é comum
para materiais moles, como por exemplo
polímeros, mas também tem aplicação em
metais, onde a principal vantagem está na
Figura 12.10 - Equipamento para ablação iônica completa ausência de interação química, e
(SouthBay)
preservação das amostras para fins analíticos
no MET e no STEM. Em compensação, a amostra
sofre grandes deformações mecânicas, e não é
adequado quando a observação da estrutura de
defeitos é importante. O corte é feito por lâminas
de vidro (que são quebradas em um dispositivo
próprio, sendo selecionada uma aresta adequada
da fratura) ou com ferramenta de diamante para
materiais muito duros. Conforme o grau de
dureza do material, a ferramenta irá corta-lo, ou
induzir uma fratura controlada. O método
também é útil para examinar no MET partículas
ou fibras, que são previamente embebidas e
montadas em material polimérico.

Figura 12.11 - Ultramicrótomo (Leica)

Figura 12.12. - Lâminas finas obtidas por ultramicrotomia a) polímero b) alumínio (Ingolic)

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XII.14 Microscopia dos Materiais
Microscopia eletrônica de varredura comprimido e ação de solventes, eventualmente
ativado por ultra-som, é fixado sobre um suporte.
Levando em conta a grande diferença de A maneira usual é utilizando uma cola condutora
tamanho entre as amostras normalmente (por exemplo, cola celulósica adicionada de prata
examinadas no MEV em comparação com o MET, coloidal, ou na sua falta, pó de alumínio),
o comportamento das mesmas em relação ao atentando sempre para que a cola esteja
vácuo no instrumento é ainda mais importante. totalmente seca antes da colocação no MEV, para
As amostras devem ser o quanto possível evitar contaminação pelo solvente. Quando
insensíveis ao vácuo, assim como lhe serem outros métodos de fixação forem utilizados, tinta
amigáveis. Os materiais a serem examinados no condutora deverá ser utilizada para estabelecer
MEV não devem sofrer perda de matéria volátil caminhos de contato elétrico entre a amostra e
sob a influência do vácuo ou do feixe de elétrons. a massa do MEV.
Isto é importante tanto para a preservação da Amostras não -condutoras deverão ser
higiene ambiental do equipamento. como para recobertas com uma fina camada de material
evitar modificações na estrutura da amostra pela condutor, utilizando -se comumente ouro,
evolução de gases. Quando necessário, deve ser platina ou carbono. O recobrimento pode ser
considerado um tratamento prévio em câmara feito com um evaporador de vácuo, ou mais
de vácuo ou estufa (ou combinando os dois pro- eficientemente, pelo processo de sputtering
cedimentos) cuja dinâmica seja otimizada para (Figuras 12.13 e 12.14)
minimizar tais alterações morfológicas. Em es- No evaporador de vácuo, operando com
pecial para amostras biológicas, o processo de pressão da ordem de 10 -5 torr, obtém-se
secagem pelo ponto crítico elimina a água sem recobrimento da amostra por vaporização de
causar ruptura das células. carbono em arco, ou de metal por aquecimento
Uma das características vantagens do resistivo em barqueta de metal refratário. O
MEV é a simplicidade da preparação das material vaporizado deposita-se em todo o
amostras. Dimensões substanciais podem ser aparelho, inclusive na amostra, que deverá ser
acomodadas nas câmaras comuns, limitadas pela girada e oscilada para garantir uniformidade no
faixa de movimento da mesa porta-amostra. depósito. Já no aparelho de sputtering opera-se
O material, previamente limpo para com vácuo de 10-2 torr, permitindo o uso de uma
remoção de gorduras e detritos por sopro de ar simples bomba mecânica. Um potencial de 2

Figura 12.13 - Evaporador a vácuo (Cressington)

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Preparação das Amostras XII.15
Figura 12.14 - Recobrimento a vácuo por sputtering (Cressington)

kV é aplicado entre a amostra e um alvo do metal camente, se depositam sobre a amostra. O


de recobrimento (frequentemente Au); o gás se processo é rápido, seu equipamento simples e
ioniza, e os íons positivos impingem no alvo, de fácil operação, e proporciona grande economia
do qual ejetam átomos que, atraídos eletrostati- do dispendioso material de recobrimento.

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XII.16 Microscopia dos Materiais
CAPÍTULO XIII

Microscopia na Internet

O sonho da Internet é o de um espaço comum de informação,


no qual nós nos comunicamos partilhando informação
(T.Berners-Lee, 1998)

Quando redigia o Capítulo VIII, escrevi modificou nossas vidas e hábitos. Principal-
“Este é o capítulo que provavelmente envelhecerá mente o professor, já não tão jovem, aprende
mais rapidamente em todo o livro - as inovações constantemente de seus alunos neste assunto.
e aperfeiçoamentos ocorrem quase que diari- Mas o estudante deverá estar ciente, e aproveitar
amente, e o leitor deverá acompanhar continu- ao máximo, a imensa variedade de informações
amente o estado da arte na literatura”. Puro ao seu alcance2 , e a possibilidade de interagir e
engano: este aqui certamente já estará obsoleto trocar informações com colegas de todo o mundo.
na publicação do livro, e as alterações ocorrem E terá o prazer de selar amizades, as vezes
a cada minuto. Por isto, qualquer tentativa de duradouras, com pessoas que nunca viu e pro-
incluir uma listagem completa, ou ao menos vavelmente nunca encontrará!
substancial e atualizada, de sítios relevantes à Assim como este livro deverá ser
Microscopia na Internet é fadada ao fracasso. complementado pela enorme literatura existente,
Que a relação seguinte sirva ao leitor como uma o aprendizado se beneficiará dos muitos tutoriais
indicação do que existe, e mais ainda, como um generosamente colocados na rede. São na
aperitivo que o encoraje a navegar1 este hiper- maioria das vezes introdutórios, alguns
mundo em que o gênio de Berners-Lee nos inseriu. talentosos e mesmo geniais; esperemos que
É desnecessário detalhar para o leitor complementem nosso esforço didático, e não
moderno o que significa a Internet, e como tornem o docente viva-voz obsoleto!

1
Uma palavra de cautela: a Internet está cheia de armadilhas, maliciosas ou não, que podem comprometer a
integridade e a intimidade de seu computador. Não passeie por ela a não ser com um navegador de boa qualidade,
sem furos de segurança, e protegido por um antivírus confiável e atualizado. Especial atenção quando for
convidado a baixar um programa executável (por exemplo, XXX.exe, ou animações) de procedência duvidosa.
Um bom antivírus deverá adverti-lo sobre o risco, e obter sua permissão prévia.
2
A menção de qualquer fornecedor, empresa ou similar não constitui recomendação ou responsabilidade, implícita
ou explícita, por parte do autor.

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
Microscopia na Internet XIII.1
Utilidades gerais

• http://www.google.com (e com espelho no Brasil, http://www.google.com.br)


Provavelmente a mais efetiva máquina de busca da atualidade, abrangendo mais de 2,5 bilhões
de páginas da Internet

• http://www.alltheweb.com
Outra máquina de busca que tem crescido muito ultimamente

• http://babel.altavista.com/
Um interessante e útil tradutor entre muitas línguas, pertencente a outra importante máquina
de busca, Altavista

Existe uma série de glossários e dicionários especializados em microscopia:

• http://resolution.umn.edu/glossary/FrameGloss.html
Compilado de “Glossary of microscopical terms and definitions”, New York Microscopical Soci-
ety; ASTM document E 175-82 e Inoue, Video Microscopy

• http://www.unl.edu/CMRAcfem/glossary.htm

• http://www.genomicglossaries.com/content/Microscopy.asp

• http://www.dyerlabs.com/glossary/optical-microscopy.html
Este é glossário e dicionário em alemão, francês, espanhol e inglês

• http://www.uni-wuerzburg.de/mineralogie/palbot/glossaries/microscopy.html
Relaciona glossários de muitos ramos científicos, destacando em microscopia

• http://www.mwrn.com/feature/glossary.asp

Tutoriais

• http://www.microscopy-uk.org.uk/primer/index.htm
Magnífico tutorial de microscopia fotônica, de autoria de F. Sterrenburg

• http://micro.magnet.fsu.edu/primer
Originário da Florida State University, tutorial fundamental para estudo de microscopia
fotônica. Este é o sítio da Molecular Expressions, da qual se menciona na Internet que “é
uma excelente fonte de informação sobre as várias metodologias de microscopia (luz polari-
zada, campo escuro, contraste de modulação de Hoffman, fluorescência, etc.). Têm algumas
ótimas animações em Java que mostram graficamente os caminhos dos raios no prisma de
Wollaston na microscopia DIC/Nomarski. Este é um lugar muito bom para estudantes de
microscopia explorarem!”

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
XIII.2 Microscopia dos Materiais
• http://www.unl.edu/CMRAcfem/em.htm
Tutorial para microscopia eletrônica

• http://www.microscopyu.com
Outro tutorial muito completo de microscopia fotônica, Microscopyu(..niversity?), no sítio da
Nikon

• http://www.topometrix.com/spmguide/contents.htm
O livro de Scanning Probe Microscopy, que pode ser baixado pela Internet

• http://mse.iastate.edu/microscopy/home.html
Tutorial completo sobre microscopia eletrônica de varredura, da Iowa State University; oferecido
em três níveis de alunos: primário, secundário e superior!

• http://www.mos.org/sln/sem/
Outro tutorial de MEV, do Museu de Ciência de Boston, mais modesto porém interessante

• http://www.riograndesoftware.com/
Tutorial sobre processamento de imagens

• http://www.chembio.uoguelph.ca/educmat/chm729/afm/firstpag.htm
Um pequeno módulo sobre microscopia de força atômica

• http://www.mih.unibas.ch/Booklet/Lecture/TOC.html
Tutorial “Introdução à microscopia fotônica e eletrônica prática” da Universidade da Basiléia,
Suíça

• http://www.brookes.ac.uk/geology/sem/sem1.html
Tutorial simples, com ênfase em geologia. Os links estão desatualizados desde 1995

• http://www.olympusmicro.com/primer
Outro excelente e completo tutorial de microscopia fotônica, patrocinado pela Olympus

• http://www.ph.tn.tudelft.nl/~young/manuscripts/QM/QM.html
Tutorial de microscopia quantitativa

• http://www.lifeumd.edu/CBMG/faculty/wolniak/wolniakmicro.html
Tutorial de microscopia fotônica

• http://www.electronics.uni-wuppertal.de/english/forschung/intro/snam_intro.html
Tutorial de microscopia acústica

• http://physics.nist.gov/Divisions/Div844/facilities/nsom/nsom.html
Tutorial de microscopia de campo próximo

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
Microscopia na Internet XIII.3
• http://www.sewanee.edu/chem/Chem&Art/MS/main.htm
Tutorial sobre luz polarizada

• http://www.matter.org.uk/tem/default.htm
Importante tutorial de MET por uma das grandes autoridades

• http://www.mines.utah.edu/~wmep/59298/592/rlm.html
Tutorial com ênfase em minerais opacos

• http://www.csun.edu/~vceed002/biology/microscopy/microscopy.html#SEM
Contém lista de recursos de ensino de microscopia

• http://www.amc.anl.gov/Docs/NonANL/EduSites.html
Contém lista de sítios educacionais em microscopia

Sítios de fabricantes de equipamento e informações comerciais

• http://www.kaker.com/mvd/vendors.html
Base de dados gratuita de fornecedores de microscopia, uma das maiores do mundo, com
mais de 1300 fornecedores de microscopia fotônica e eletrônica, análise de imagens,
espectroscopia, instr umentação de microscopia, fornecedores de peças de reposição e de
suprimentos, e muito mais

• http://www.leo-em.co.uk/
Fabricante de microscópios eletrônicos, com interessante galeria de micrografias

• http://www.confocal-microscopy.com/website/sc_llt.nsf
Dedicado à microscopia confocal por fabricante deste equipamento

• http://www.zeiss.de/us/micro/home.nsf
Sítio de tradicional fabricante de microscópios

• http://www.leica-microsystems.com/lms_index.html
Outro sítio de tradicional fabricante de microscópios

• http://www.jeol.com/
Fabricante de microscópios eletrônicos e outros instrumentos analíticos

• http://www.feic.com/products/
Fabricante de microscópios eletrônicos e outros instrumentos analíticos

• http://www.veeco.com/
Equipamento para industria de semicondutores, pesquisa e outros ramos

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
XIII.4 Microscopia dos Materiais
Sítios com informações gerais

• http://www.microscopy-online.com/
Oferece guia de compras, comunicação entre microscopistas, e muitos links de interesse

• http://www.ou.edu/research/electron/www-vl
Mantido pela Universidade de Oklahoma, como uma biblioteca virtual. Tem informação sobre
todos aspectos da microscopia fotônica, eletrônica e outras formas de microscopia

• http://www.microscopy-uk.org.uk
Sítio da organização Microscopy-UK, muito dedicado a microscopistas amadores com ênfase em
biologia, sede da revista virtual Micscape

• http://www.mwrn.com/
Sítio com patrocínio comercial, com grande riqueza de informações úteis e links

• http://cimewww.epfl.ch/EMYP/emyp.html
“Página amarela da microscopia eletrônica”, mantida pela Escola Politécnica de Lausanne, Suíça

• http://www.icmm.csic.es/Fagullo/w3micros.htm
Útil coletânea de informações, principalmente didáticas

Sociedades

• http://www.dema.ufscar.br/sbmm/
O sítio da SBMM - Sociedade Brasileira de Microscopia e Microanálise

• http://www.msa.microscopy.com/
O sítio da Microscopy Society of America, certamente uma das mais importantes fontes para o
microscopista. Além de notícias da Sociedade e de congêneres, tem informações técnicas, links
com empresas e sociedades de todo o mundo, utilidades e software. O Webmaster é Nestor
Zaluzec, um dos mais ativos micreiros da comunidade microscópica. De especial interesse é

• http://www.msa.microscopy.com/MicroscopyListserver/MLInstructions.html
O Microscopy Listserver/Mailreflector System é um foro de discussão que fornece aos membros
da comunidade científica um endereço centralizado através do qual perguntas/comentários e
respostas em diferentes campos da microscopia e microanálise podem ser rapidamente distribuídos
a uma lista de interessados por correio eletrônico. Possui 2.500 assinantes em 40 países, e a
adesão é gratuita, com instruções no URL acima indicado.

• http://www.rms.org.uk
Sítio da Royal Microscopical Society, Reino Unido, uma das mais antigas e tradicionais
sociedades de microscopia

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
Microscopia na Internet XIII.5
• http://www.eurmicsoc.org/
European Microscopy Society, relaciona as sociedades européias

• http://sme.cnb.uam.es/sitiosdeinteres.htm
Sociedade Espanhola de Microscopia, com muitos links de interesse

• http://www.materials.ox.ac.uk/ifsem/
International Federation of Societies for Electron Microscopy

• http://www.technion.ac.il/technion/materials/ism/
Israel Society of Microscopy

Periódicos

• http://www.msa.microscopy.com/MM/MscopyManalysis.html
Microscopy and Microanalysis, o órgão oficial da Microscopical Society of America e de outras
Sociedades, incluindo a Sociedade Brasileira de Microscopia e Microanálise. Até recentemente
publicado por Springer, agora pela Oxford University Press

• http://jmicro.oupjournals.org/
Journal of Microscopy, a principal publicação da Royal Microscopical Society

• http://www.microscopy-analysis.com/
Sítio de importante revista internacional para usuários de equipamento de microscopia, analítica
e imagem. Circulação declarada de 50.000 assinantes e 115.000 leitores

• http://www.microscopy-today.com/
Interessante revista de cunho prático, agora editada pela Microscopy Society of America

• http://www.interscience.wiley.com/jpages/1059-910X/
Microscopy Research and Technique

• http://www.tandf.co.uk/journal/titles/1355185x.html
Periódico Probe Microscopy

• http://www.scanning-fams.org/
Periódico Scanning

Sítios especializados

• http://www.cs.ubc.ca/spider/ladic/confocal.html
Sítio dedicado a microscopia confocal

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
XIII.6 Microscopia dos Materiais
• http://www.kaker.com/etch/etch_java.html
Base de dados contendo mais de 1700 reagentes de ataque e procedimentos de eletropolimento
coletados de livros e periódicos. A base é pesquisáveis por materiais, tipo de ataque (macro ou
micro), método de ataque, nome do reagente e elemento químico. Uma versão demo gratuita,
não pesquisável e limitada a 200 reagentes, é oferecida.

• http://www.polymermicroscopy.com/temgal1eng.htm
Excelente sítio de microscopia de polímeros

• http://www.biotech.ufl.edu/EM/
Muito útil repositório de truques e dicas, mantido pela Universidade de Flórida, USA

• http://www.denniskunkel.com/PublicHtml/Education03.asp
Inclui um simulador de MEV

• http://www.microscopy.com/MicroScape/MicroScape.html
Outro sítio com um microscópio virtual

• http://metallography.aasp.net/index.htm
Sítio dedicado à metalografia, com galeria de micrografias de aço e cobre, e muitas informações úteis

• http://rsb.info.nih.gov/nih-image
O sítio do National Institutes of Health (USA) que oferece gratuitamente um dos melhores pro-
gramas de manipulação de imagem e reconstrução 3-D. Infelizmente só disponível para
computadores Mac.

• http://users.skynet.be/jm-derochette
Importante sítio sobre mineralogia e luz polarizada

• http://un2sg4.unige.ch/athena/mineral/mineral.html
Base de dados mineral, com excelentes fotos

• http://www.smenet.org/opaque_ore
Outra excelente base de dados mineral

• http://plymouth.ces.state.nc.us/programs/drees2.html
Microscopia ótica e termos de micromorfologia para descrição e interpretação de seções finas

• http://www.utmem.edu/~thjones/hist/hist_mic.htm
História do microscópio fotônico

• http://library.utmb.edu/scopes/welcome.htm
O Museu Moody, belas fotos de microscópios históricos

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
Microscopia na Internet XIII.7
Centros Nacionais

Não incluímos a relação das centenas de laboratórios de microscopia que mantêm páginas na
Internet; aconselhamos no entanto busca sobre especialidades de interesse, e visita aos mesmos, pois
contém quase sempre informações e contatos valiosos. Listas úteis estão em

• http://www.ou.edu/research/electron/www-vl/institut.shtml
• http://cimewww.epfl.ch/EMYP/lab.html
• http://www.cis.TUGraz.at/felmi/elmilabs.htm

Muitos países mantêm laboratórios nacionais, principalmente em microscopia eletrônica, e de


equipamentos de grande vulto. A maioria está aberta à colaboração, inclusive internacional:

• http://ncem.lbl.gov/
O Centro nacional de microscopia eletrônica dos EE.UU., anexo ao Lawrence Berkeley Labora-
tory e à Universidade da Califórnia em Berkeley. Especialmente ativo em microscopia eletrônica
de alta resolução.

• http://146.139.72.10/Mscopy&ManalysisHomePage.html
O Argonne National Laboratory é um centro de excelência para microanálise e telemicroscopia,
e seu sítio tem também grande número de informações

• http://www.ruca.ua.ac.be/emat/index_frames.htm
O Centro de microscopia eletrônica associado à Universidade de Antuérpia, Bélgica. Opera entre
outros um MET de 1.250 kV.

• http://www.materialkemi.lth.se/nchrem/index.html
O Centro nacional para microscopia eletrônica de alta resolução da Suécia

• http://nchrem.tnw.tudelft.nl/
O Centro nacional de microscopia de alta resolução da Holanda

• http://www-ncmir.ucsd.edu/
“O Centro nacional para microscopia e pesquisa de imagem é um estabelecimento de pesquisa
mantido com recursos federais e dedicado a avançar microscopia tridimensional e imagens de
materiais biológicos”. É incluído aqui pela sua importante atuação em telemicroscopia

Telemicroscopia

Um dos desenvolvimentos mais excitantes e promissores do uso da Internet em microscopia é o


desenvolvimento da Telemicroscopia, ou seja a habilidade de operar remotamente um microscópio.
Uma das vantagens é a de oferecer a oportunidade a pesquisadores em lugares remotos de operar
diretamente microscópios de grande porte e avançada tecnologia. Também estão em desenvolvimento

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
XIII.8 Microscopia dos Materiais
aplicações locais, de grande interesse didático, que permitem a um grupo de estudantes operarem
microscópios individualmente, sob a orientação do instrutor.
Destacamos aqui apenas alguns dos centros que atuam neste tema:

• http://146.139.72.10/docs/anl/TPM/TPMHomePage.html
Programa do Argonne National Laboratory em telemicroscopia, com atuação de Nestor Zaluzec,
um dos pioneiros de telemicroscopia. Seu projeto é dirigido a materiais.

• www.npaci.edu/successes/1999_pacific.html
O Centro nacional para microscopia e pesquisa de imagem da Universidade da Califórnia em
SanDiego é outro projeto pioneiro, este mais dirigido à biologia. Já é possível operar um
microscópio através do Pacifico

• http://www.sc.doe.gov/production/bes/pdf/nationalcenter.pdf
Também o NCEM de Berkeley está trabalhando o assunto

• http://neon.mems.cmu.edu/degraef/MCL.shtml
A Carnegie-Mellon University (USA) instalou um laboratório didático de microscopia eletrônica
que permite a cada aluno de uma classe operar diretamente os microscópios

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
Microscopia na Internet XIII.9
CAPÍTULO XIV

Bibliografia

Há dois tipos de conhecimento: ou sabemos nós mesmos


ou sabemos onde podemos obter informação
(Samuel Johnson, XVIII)

A bibliografia de Microscopia dos Ma- falha e incompleta: privilegiamos obras


teriais é extremamente vasta. BibMic ( 1) rela- clássicas, recentes ou as que julgamos de
ciona (em 2001) mais de 1000 livros sobre o mais fácil acesso ao leitor. A consulta ao
assunto, pesquisáveis quanto a autor, título BibMic servirá para completar a informação.
e palavras-chave. Por este motivo, r elacio - A Bibliografia é dividida em duas partes:
namos aqui apenas algumas referências Referências gerais e Referências específicas
básicas. Nossa seleção é necessariamente para os capítulos.

Referências gerais

Metallography and microsctructures in ASM Handbook. Vol. 9. ASM, 1985.


GOODHEW, P.J. et al. Electron microscopy and analysis. (3 th ed.). Taylor & Francis, 2000.
JENKINS, F.A., WHITE, H.E. Fundamentals of optics. McGraw Hill, 1976.
SLAYTER, E.M., SLAYTER, H.S. Light and electron microscopy. Cambridge UP, 1992.
SOUTHWORTH, H.M. Introduction to modern microscopy. Wykeham, 1975.
WILLIAMS, D.B. (editor). Images of materials. Oxford UP, 1991.

1
http://bibmic.metalmat.ufrj.br

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
Bibliografia XIV.1
Referências específicas para os capítulos

Capítulo 01 - A História do Microscópio

DOBELL, C. Leeuwenhoek and his little animals. Dover, 1960.


HAWKES, P.W. The beginnings of electron microscopy. Academic Press, 1985.
PALMER, F.W., SAHIAR, A.B. Microscopes to the end of the XIX Century. HMSO, 1971.
RUSKA, E. The early developments of electron lenses and electron microscopy. Hirzel Verlag, 1980.
SMITH, C.S. History of metallography. Chicago UP, 1960.

Capítulo 02 - A Teoria Básica da Microscopia

HAWKES, P.W. Principles of electron optics. Academic Press, 1988.


MARTIN, L.C. The theory of the microscope. Blackie, 1966.
MICHEL, K. Die grundzuege der theorie des mikroskops. Wissenschaft Verlag, 1964.

Capítulo 04 - Microscopia Fotônica

VANDER VOORT, G.F. Metallography, principles and practice. Materials Park Oh, USA: ASM Interna-
tional, 1999.
FAZANO, C.A. A prática metalográfica. Hemus, 1980.
FREUND, H. Handbuch der mikroskopie in der technik. 18 vols. Umschau, 1964-1977.
(Um clássico da microscopia fotônica).
FUJIMORI, S., FERREIRA, Y.A. Introdução ao uso do microscópio petrográfico. UFBa, 1979.
HAYNES, R. Optical microscopy of materials. International Press, 1984.
MCCRONE, W. Polarized light microscopy. Ann Arbor, 1978.
PLUTA, M. Advanced light microscopy. 3 vols. Elsevier, 1988.
ROBINSON, P.C. Qualitative polarized light microscopy. Bios,1992.

Capítulo 05 - Microscopia Eletrônica de Transmissão

WILLIAMS, D.B., CARTER, C.B. Transmission electron microscopy. New York NY, USA: Plenum Press, 1996.
AMELINCKX, S. The direct observation of dislocations. Academic Press, 1964.
CHAMPNESS, P.E. Electron diffraction in the TEM. Bios, 2001.
FULTZ, B., HOWE, J.M. Transmission electron microscopy and diffractometry of materials. Springer, 2001.
HIRSCH, P.B. Electron microscopy of thin crystals. (Rev) Butter worths, 1977.
KRAKOW, W., O’KEEFE, M. Computer simulation of electron microscope diffraction and images. ÀIME,
1989.
REIMER, L. Transmission electron microscopy. (4th ed). Springer, 1997.
THOMAS, G., GORINGE, M.J. Transmission electron microscopy of metals. Wiley, 1979.

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
XIV.2 Microscopia dos Materiais
Capítulo 07 - Microscopia Eletrônica de Varredura

SCHMIDT, P.F. Praxis der rasterelektronenmikroskopie und mikrobereichanalyse. Renningen-Malsheim,


Deutschland: Expert Verlag, 1994.
GOLDSTEIN, J.I. et al. Scanning electron microscopy and X-ray analysis. Plenum Press, 1981.
LEE, R.E. Scanning electron microscopy and X-ray microanalysis. Prentice-Hall, 1993.
SCHWARTZ, A.J. et al. Electron backscatter diffraction in materials science. Kluwer, 2000.

Capítulo 08 - Outras Microscopias de Varredura

BAI, C. Scanning tunneling microscopy and its applications. Springer, 2000.


BRIGGS, A. An introduction to scanning acoustic microscopy. Oxford UP, 1985.
HOWLAND, R., BENATAR, L. A practical guide to scanning probe microscopy. Park, 1997.
PAESLER, M.A., MOYER, P.J. Near-field optics. Wiley, 1996.
SARID, D. Scanning force microscopy. Oxford UP, 1994.
SHEPPARD, C., SHOTTON, D. Confocal laser scanning microscopy. Bios, 1995.
STEFANIS, A. de, TOMLINSON, A.A.G. Scanning probe microscopies. TransTech, 2001.

Capítulo 09 - Materialografia Quantitativa

ELIAS, H. Stereology. Springer, 1967.


DEHOFF, R.T., RHINES, F.N. Quantitative microscopy. McGraw Hill, 1968.
HOWARD, C.V., REED, M.G. Unbiased stereology. Bios, 1998.
RUSS, J.C., DEHOFF, R.T. Practical stereology. Plenum, 2000.

Capítulo 10 - Microanálise Elementar

WILLIAMS, D.B. Practical analytical electron microscopy in materials science. Mahwah, NJ, USA: Philips,
1987.
EGGERTON, R.F. Electron energy loss spectrometry in the electron microscope. Plenum, 1986.
JOY, D.C. Principles of analytical electron microscopy. Plenum, 1993.
LORETTO, M.H. Electron beam analysis of materials . Chapman and Hall, 1994.

Capítulo 11 - Aquisição de imagens

BOVIK, A. Handbook of image and video processing . Academic, 2000.


INOUIE, S., SPRING, K.R. Video microscopy. Plenum, 1997.
RUSS, J.C. Computer assisted microscopy, Plenum, 1990.
_________. The image processing handbook, CRC Press, 1999.

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
Bibliografia XIV.3
Capítulo 12 - Preparação de Amostras

VANDER VOORT, G.F., Metallography, principles and practice. Materials Park OH, USA: ASM Interna-
tional, 1999.
CHESCOE, D., GOODHEW, P.J. The operation of transmission and scanning electron microscopes. Bios,
1990.
ELSSNER, G. et al. Ceramics and ceramic composites: materialographic preparation. Elsevier, 1999.
HUMPHRIES, D.W. The preparation of thin sections of rocks, minerals and ceramics. Oxford UP, 1992.
SAMUELS, L.E. Metallographic polishing by mechanical methods. ASM, 1982.

Capítulo 14 - Bibliografia

MANNHEIMER, W.A. Materials characterization. 3rd Edition. Vol. 36. 1996. pp.105-149. Disponível em
<http://bibmic.metalmat.ufrj.br>. BIBMIC – A Bibliography Of Books Relating To Materials Mi-
croscopy, 2nd Edition. (BIBMIC é uma base de dados pesquisável na Internet).

Capítulo 15 - Anexos

Segurança

CPSMA. Prudent practices in the laboratory: Handling and disposal of chemicals. The National Acad-
emies Press, 1995. (Este livro pode ser lido gratuitamente na Internet em <http://www.nap.edu/
catalog/4911.html>)
KEITH FURR, A. Handbook of Laboratory Safety. Fifth Edition. CRC, 2000.

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
XIV.4 Microscopia dos Materiais
CAPÍTULO XV

Apêndices

Caso conhecêssemos completamente tanto os princípios dos metais


como os diferentes hábitos de seus solventes, estaríamos aptos a dizer
de antemão que efeito cada um deveria produzir; mas a experiência
nos convence de que não podemos prever com certeza tais eventos.
(Sven Rinman, 1774)

Neste capítulo, reunimos para conveniên- de informação, tanto para definir aplicações
cia dos leitores, algumas informações úteis específicas, como para detalhar os procedimentos
comumente tabeladas. Tais informações estão de manipulação. Este últimos são frequentemente
disponíveis de maneira muito mais completa em de importância crítica para o sucesso da preparação
manuais especializados, que não temos intenção da amostra, e também tratam de detalhes de
de duplicar. Isto é particularmente verdade para segurança, vez que muitos agentes são tóxicos,
reagentes de ataque materialográfico, para os quais corrosivos ou explosivos. Recomendamos
alguns livros clássicos reúnem grande quantidade particularmente as coletâneas contidas em:

Vander Voort, G.f., Metallography, Principles And Practice, ASM Inter national, 1999,
0-87170-672-5
Petzow, G., Metallographic etching, Techniques for metallography, ceramography, plastography,
1999, ASM International, 087-170633-4
Tegart, W.J.M., ‘The electrolytic and chemical polishing of metals, 1956, Pergamon
Kaker, K., Metallographic Etch Database, disponível na Internet. A base de dados pesquisável
contém 1700 reagentes! Uma versão demo, não pesquisável e com 200 reagentes, está
disponível gratuitamente em www.kaker.com
Elssner, G. et. al., Ceramic and Ceramic Composites: materialographic preparation, 1999,
Elsevier, 0-444-10030-X
Beraha, E. e Shpigler, B., Color metallography, 1977, ASM
Metals Handbook, 8 th Edition, Volume 8 - Metallography, Structures and Phase Diagrams,
ASM, 1973

Apêndices XV.1
PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
Anexo 15 A - Constantes Físicas

Velocidade na luz no vácuo - vo 2,998 x 1010 cm/s


Carga do elétron - e - 1,602 x 10 -19 C
Massa do elétron - m0 9,1066 x 10-28 g
Constante de Planck - h 6,624 x 10-27 erg/s
4,136 x 10-15 eV
Número de Avogadro - N 6,023 x 1023 /mol
Constante de Boltzmann 1,381 x 10-16 erg/oK
Constante dos gases perfeitos 8,314 x 107 erg/oK/mol
1,99 cal/oK/mol
Constante de Faraday - F 9,649 x 104 C/mol

Anexo 15 B - Fatores de Conversão de Unidades

elétron volt - eV 1,602 x 10-12 erg


Angstrom - Å 10 -8 m
Polegada - in. ou “ 2,54 cm
Mil 2,54 x 10-3 cm
Radiano 57,3 o
Micron - µm 10 -6 m
Nanometro - nm 10 -9 m
Caloria - Cal 4,182 x 107 erg
Prefixos métricos
T=tera 1012
G=giga 109
M = mega 106
k = kilo 103
m = mili 10-3
µ = micro 10-6
n = nano 10-9
p = pico 10-12
f = femto 10-15
a = atto 10-18

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
XV.2 Microscopia dos Materiais
Anexo 15 C - Siglas

Sigla Sigla
(português) (inglês)
AFM Microscopia de força atômica Atomic force microscopy
MET TEM Microscopia eletrônica de Transmission electron
transmissão (convencional) microscopy (conventional)
SOM Microscopia fotônico de Scanning confocal optical microscopy
varredura confocal
DIC Contraste de Nomarski Differential interference contrast
(interferência diferencial)
EELS Espectroscopia de perda de Electron energy-loss spectroscopy
energia de elétrons
ME EM Microscopia eletrônica Electron microscopy
MSE EPMA Microsonda eletrônica Electron probe microanalyser
HVEM Microscopia eletrônica High-voltage electron microscopy
em alta tensão
IV IR Infravermelho Infrared
FT-IR Microscopia Infravermelho Fourier transform infrared microscopy
com transformada de Fourier
MEV SEM Microscopia eletrônica de Scanning electron microscopy
varredura
SEM-LV Microscopia eletrônica de Scanning electron microscopy
varredura (baixa pressão) (low vacuum)
ESEM Microscopia eletrônica de Environmental scanning electron
varredura (ambiental) microscopy
STEM Microscopia eletrônica de Scanning transmission electron
transmissão em varredura microscopy
AEM Microscopia eletrônica analítica Analytical electron microscopy
AEM Microscopia de elétrons Auger Auger electron microscopy
ERE BSE Elétrons retroespalhados Backscattered electrons
EBIC Condutividade induzida Electron beam induced conductivity
por feixe de elétrons
ECP Figura de penetração de elétrons Electron channeling pattern
EDS or Espectroscopia de raios-X Energy-dispersive X-ray spectroscopy
EDX por dispersão de energia
WDS or Espectroscopia de raios-X por Wave-length dispersive X-ray
WDX dispersão de comprimento spectroscopy
de onda
CL CL Catodoluminescência Cathodoluminescence
ESCA Espectroscopia eletrônica Electron spectroscopy for chemical
para análise química analysis
EELS Espectrometria de perda Electron energy loss spectrometry
de energia de elétrons

Apêndices XV.3
PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
FEG Canhão eletrônico de Field emission gun
emissão de campo
FEM Microscopia de emissão Field emission microscopy
de campo
HOLZ Zona Laue de ordem superior Higher order Laue zone
LEED Difração de elétrons de Low energy electron diffraction
baixa energia
MF OM Microscopia fotônica Optical microscopy
SACP Figura de penetração de Selected area channeling pattern
elétrons de área selecionada
SAD Difração de área selecionada Selected area diffraction
SAM Microscopia acústica de varredura Scanning acoustic microscopy
ES SE Elétrons secundários Secondary electrons
STM Microscopia de tunelamento Scanning tunneling microscopy
SXM Microscopia de varredura Scanning X-ray microscopy
de raios-X
XRD Difração de raios-X X-ray diffraction
XRF Fluorescência de raios-X X-ray fluorescence
XRM Microscopia de raios-X X-ray microscopy
ZAF Correção de número atômico, Atomic number, absorption,
absorção e fluorescência fluorescence correction
HREM Microscopia eletrônica de High-resolution electron microscopy
alta resolução
SPM Microscopia por varredura Scanning probe microscopy
de sonda

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
XV.4 Microscopia dos Materiais
Anexo 15 D - A Segurança no Laboratório

Reunimos aqui alguns lembretes sobre as regras de segurança a serem observadas em um


laboratório de materialografia. São apenas lembretes, certamente não exaustivos, destinados a dirigir
a atenção do leitor para o problema, e alerta-lo sobre os cuidados a serem observados em qualquer
laboratório. Além da vasta literatura especializada, deverão também ser levadas em conta as normas
nacionais e locais vigentes, assim como procurar a colaboração dos agentes especializados em segurança
e cuidados ambientais. Um laboratório bem gerenciado incluirá um mecanismo adequado de supervisão
de segurança, eventualmente uma CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes), adequado ao
vulto da operação e à natureza dos riscos envolvidos. É claro que um grande laboratório, com dezenas
de pesquisadores trabalhando com berílio ou materiais radioativos, exigirá medidas mais severas do
que um pequeno gabinete de metalografia de aço usando Nital. Deverá ser incentivada a colaboração
entre os diferentes participantes do laboratório ou da instituição, mediante verificação mútua: muitos
acidentes ocorrem devido à repetição solitária de erros que a rotina fez passar desapercebidos. É
aconselhável manter sempre afixados em lugar visível os contatos para um caso de emergência; também
estão disponíveis cartazes indicando as primeiras medidas a serem tomadas em caso de acidente.
Todas as regras vigentes em um laboratório químico devem ser cuidadosamente seguidas.
Praticamente todos reagentes químicos podem oferecer algum risco ao organismo humano, por serem
tóxicos, corrosivos ou explosivos. Alguns produtos, como cianetos têm sua toxicidade bem conhecida;
outros, como compostos de chumbo, mercúrio e metais pesados em geral, apesar de menos temidos,
são igualmente perigosos. Atenção não deve ser dada somente à ingestão ou inalação: a absorção,
às vezes desapercebida, pela pele é frequente e perigosa, e particularmente nociva no caso de
carcinogênicos ou alergênicos.
O laboratório deverá dispor de artefatos de proteção individual, especialmente luvas, óculos e
mascaras. Notar que em muitos casos, os materiais dos quais são confeccionados devem ser adequados
ao risco presente. Estas proteções também são importantes no uso de equipamentos de corte ou abrasivo.
Para ataques químicos e eletroquímicos deverá estar disponível uma capela com exaustão adequada.
Em princípio, o leigo deverá ater-se cuidadosamente às formulas e procedimentos descritos na
literatura, evitando modificações de resultado ignorado; isto é especialmente verdadeiro para alguns
produtos críticos, como por exemplo o ácido perclórico. Destacamos os cuidados a serem tomados com
o uso de ácido perclórico e de ácido fluorídrico.
Misturas de ácido perclórico com
concentração acima de 60% são altamente
inflamáveis ou mesmo explosivas. Formulações
com anidrido acético são mais perigosas, e
mesmo proibidas em alguns lugares. Ácido
acético glacial oferece menor risco, mas mesmo
assim a manipulação deve ser cuidadosa,
mantendo a temperatura da solução abaixo de
35 o C. Materiais orgânicos catalisam a
decomposição do ácido perclórico, assim como o
bismuto, cujas ligas nunca devem ser atacadas
com este reagente.

Apêndices XV.5
PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
O ácido fluorídrico é extremamente corrosivo, com o agravante de interferir no mecanismo de
regeneração cutânea, o que torna as queimaduras com este ácido especialmente insidiosas.
Algumas formulações do exterior prescrevem o uso de álcool metílico. Este álcool, tóxico, deve
ter sua utilização avaliada. Ainda que necessário em alguns casos, na maioria das vezes é indicado
como consequência do controle sobre bebidas alcoólicas, que tornam apenas o álcool etílico desnaturado
disponível facilmente no laboratório.
Nitrogênio líquido deve ser manuseado com cuidado, com proteção adequada. As luvas e botas
portados devem ser configurados para não permitir o acúmulo do líquido no seu interior em caso de derrame.
A troca de lâmpadas de vapor de mercúrio e de xenônio deve ser feita com extremo cuidado, e
seguindo as instruções do fabricante. A combinação de alta pressão com tensões mecânicas e térmicas
pode provocar explosão do envelope de quartzo; proteção adequada, principalmente para o rosto e
olhos é mandatória. Estas lâmpadas emitem considerável radiação na faixa de ultravioleta, e não
devem jamais ser operadas sem os filtros correspondentes, ou com a cobertura removida, sob pena de
sério dano à vista.
Apesar de não diretamente relacionado com a segurança, lembramos aqui alguns fatores para
operação de lâmpadas em microscopia: a lâmpada de quartzo halogênio, assim como os arcos de vapor
de mercúrio e xenônio operam a alta temperatura. É especialmente importante remover quaisquer
impressões digitais que acidentalmente tenham ocorrido no invólucro antes do uso, pois resultam em
marcas indeléveis. Lâmpadas incandescentes tem sua vida consideravelmente prolongada se operadas
algo como 10% abaixo de sua tensão nominal, podendo resultar em quadruplicação da vida útil. É um
recurso a ser considerado, desde que a composição espectral (fidelidade de cores) não seja uma
consideração importante. Também o religamento frequente, principalmente para lâmpadas de descarga
de gases, reduz muito sua durabilidade. Uma regra empírica, frequentemente citada, é de que se houver
a expectativa de religar a lâmpada nos próximos 30 minutos, ela não deve ser desligada.

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XV.6 Microscopia dos Materiais
Anexo 15 E - Reagentes de ataque para exame macrográfico

Alumínio H2F2 10 ml Reagente de Flick; atacar 10-20 s,


HCl 15 ml e em seguida mergulhar em HNO3.
H2O 90 ml
Alumínio e suas ligas H2F2 15 ml Reagente de Tucker; ataque por
HCl 45 ml imersão; reagente de uso geral.
HNO3 15 ml
H2O 25 ml
Alumínio e suas ligas NaOH 10 a 20 g Atacar a 60-70o C por 5-15
H2O 100ml minutos; mergulhar em HNO3
para remover borra; bom ataque
de uso geral.
Alumínio e suas ligas HCl 100 ml Atacar com esfregaço de algodão;
HNO3 100 ml bom ataque para soldas.
H2F2 25 ml
H2O 100 ml
Chumbo e suas ligas HNO3 20-50 ml Contornos de grão; atacar com
esfregaço ou imersão a quente.
H2O 60-50 ml
Chumbo e suas ligas Glicerol 4 partes Revela contornos de grão;
C2H4O2 glacial 1 parte adicionar HNO3 antes de usar,
HNO3 1 parte não guardar.
Chumbo e suas ligas a) (NH4)2MoO4 15 g adicionar (a) em (b) - nunca ao
H2O 100 ml contrário! atacar com esfregaço
b) HNO3 60 ml ou imersão.
H2O 40 ml
Cobalto e suas ligas FeCl3 solução saturada Adicionar 5% HNO3 antes do uso;
em HCl mergulhar em solução HCl/H2O 1:1
após ataque.
Cobre e suas ligas FeCl3 25 a 10 g Cloreto férrico ácido aquoso; gera
HCl 25 a 10 ml contraste de grão; ataque
H2O 100 ml por imersão.
Cobre e suas ligas FeCl3 5 g Cloreto férrico alcoólico; lavar com
HCl 2 ml álcool para evitar manchas.
Etanol 96 ml
Cobre e suas ligas AgNO3 5 g Produz ataque profundo e
HNO3 50 ml brilhante; ataque por imersão.
H2O 50 ml
Cobre e latão HNO3 10 ml Revela estrutura de grãos e trincas;
H2O 90 ml imersão por alguns minutos a tem
peratura ambiente.

Apêndices XV.7
PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
Cobre e latão (NH4)2S2O8 10-25 g Bom ataque geral; imergir alguns
H2O 100 ml segundos a alguns minutos.
Estanho e suas ligas FeCl3 10 g Atacar 30 s a 5 m.
HCl 2 mlH2O 100 ml
Ferro-aços carbono HNO3 5 ml Nital 5%; imersão a
Etanol 95 ml temperatura ambiente; bom ataque
geral.
Ferro-ligas ferrosas Ácido pícrico 4 g
Etanol 100 ml
Ferro-aços em geral HCl 1 parte Uddeholm; imergir amostra a
H2O 1 parte 70-80o C por 10-60 minutos;
uso geral para ataque profundo.
Ferro-aços em geral I2 10g Reagente de Reinhardt; revela
KI 20 g camada carburizada.
H2O 100 ml
Ferro-aços em geral e Ácido pícrico 1 g Reagente de Vilella; imersão a
aços inoxidáveis HCl 10 ml temperatura ambiente.
Etanol 100 ml

Ferro-aços inoxidáveis austeníticos H2O 50 ml Reagente de Marbles; bom reagente


CuSO4 - 10 g de uso geral.
HCl 50 ml
Ferro-aços de baixa liga Solução aquosa saturada Atacar até 25 minutos a
de ácido pícrico com temperatura ambiente;
pequena adição de bom para soldas.
umectante
Ferro-ferros fundidos H8N2O8S 2 10 g Para revelar a distribuição de
H2O 100 ml carbetos e fosfetos.
adicional gotas de H2SO4
antes do uso
Ferro-ferros fundidos CuCl2 10 g (dissolvido Para revelar a estrutura celular
em 10 ml água quente) dos eutéticos.
MgCl2 40 g
HCl 20 ml
Etanol 900 ml
Metais nobres - prata HNO3 10 ml Nital 10%; atacar a temperatura
Etanol 90 ml ambiente alguns minutos.
Metais nobres - ouro, platina HCl 66 ml atacar a quente alguns minutos;
e paládio HNO3 34 ml use solução recém preparada.
Metais refratários HCl 30 ml Atacar 5-20 minutos a temperatura
HNO3 15 ml ambiente.
H2F2 30 ml
Polímeros - fenol-formaldeido (CH3) 2SO 75 ml Imergir 4 h a 75-80o C, lavar com
HNO3 25 ml água e acetona.

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XV.8 Microscopia dos Materiais
Zinco e suas ligas HCl conc. (ou solução Contraste de grão.
alcoólica)
Zinco-ligas contendo cobre CrO3 20 g Reagente de Palmerton; ataque por
Na2SO4.10H2O 3,5 g imersão, contraste de grãos.
H2O 100 ml
Zinco-ligas sem cobre HCl 50 ml Ataque por imersão 15 s; lavar em
H2O 50 ml água corrente com esfregaço;
repetir se necessário.

Apêndices XV.9
PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
Anexo 15 F - Reagentes de ataque para exame micrográfico

Alumínio H2F2 (40%) 0,5 ml Uso geral em Al e suas ligas;


H2O 100 ml pode-se aumentar H2F2 até 10%.
Alumínio e suas ligas HNO3 2,5 ml Reagente de Keller; exceto ligas
HCl 1,5 ml com alto Si; atacar por imersão
H2F2 1 ml 10-20 s, lavar com água quente.
H2O 95 ml
Alumínio e suas ligas NaOH 1 a 2 g Uso geral para Al puro e muitas
H2O 100 ml ligas; atacar por esfregaço, 5-10 s;
usar solução recém preparada.
Alumínio Glicerol 1 parte Reagente de Vilella; uso geral;
H2F2 (40%) 1 ou 2 partes imergir amostra em água fervente,
HNO3 1 parte depois na solução até 15 s.
Berílio e suas ligas H2F2 0,5 a 2 ml Atenção no polimento: pó de berílio
H2O 100 ml é extremamente tóxico.
Examinar em luz polarizada.
Carbetos sinterizados KOH 10 g Reagente de Murakami.
K3FE(CN)6 10 g
H2O 100 ml
Cobalto e suas ligas HNO3 15 ml Envelhecer 1 hora antes de usar;
C2H4O2 15 ml ataque por imersão, 30 s.
HCl 60 ml
H2O 15 ml
Cobre e suas ligas FeCl3 5 g Cloreto férrico aquoso; reagente
HCl 10 ml clássico para ligas de cobre;
H2O 100 ml proporções variam muito.
Cobre e suas ligas FeCl3 5 g Cloreto férrico alcoólico; reagente
HCl 15 ml clássico para ligas de cobre;
Etanol 60 ml proporções variam muito.
Cobre e suas ligas H8N2O8S2 10g Revela contornos de grão, sensível
H2O 100 ml à orientação; imersão, 3-60 s.
Cobre e suas ligas FeCl3 2g Reagente de Barker; para latões e
HCl 10 ml bronzes; examinar em luz
H2O 30 ml polarizada.
Etanol 60 ml
Cobre-ligas dentárias K2Cr2O7 2 g Reagente de Crowell; para ligas de
NaF 1 g Cu-Ag-Sn; ataca a fase beta
H2SO4 3 ml (AgSn).
H2O 100 ml
Chumbo e suas ligas Glicerol 84 ml Usar recém preparada; atacar
C2H4O2 8 ml alguns segundos, 20o a 80o C.
HNO3 8 ml

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XV.10 Microscopia dos Materiais
Chumbo e suas ligas Etanol ou H2O 90 ml Ataque por imersão, 1-10 m; para
HCl 20-30 ml ligas e soldas.
FeCl3 0-10 g
Ferro-aços carbono HNO3 2 ml Nital 2%; o reativo por excelência
Etanol 100 ml para aços.
Ferro-aços carbono ácido pícrico 4 g Revela melhor as estruturas com
Etanol 100 ml carbetos, especialmente nos
contornos de grão.
Ferro-aços carbono K 2S2O5 10 g Para estruturas temperadas
H2O 100 ml contendo perlita, bainita e
martensita.
Ferro-aços carbono C 4H6O6 10 g Exame de inclusões.
H2 -O 100 ml
Ferro-aços inoxidáveis HNO3 1 parte Reagente geral para aços
HCl 1 parte inoxidáveis.
H2O 1 parte
Ferro-aços inoxidáveis CuCl 2 5 g Reagente de Kalling 2; ataca ferrita
HCl 100 ml rapidamente, austenita
Etanol 100 ml lentamente, não ataca carbetos.
Ferro-aços inoxidáveis CuCl2 1,5 g Reagente de Kalling 1; ataca
HCl 33 ml fortemente martensita.
H2O 33 ml
Etanol 33 ml
Ferro-aços inoxidáveis KOH 45 g Ataque eletrolítico a 2,5 V; destaca
H2O 60 ml fase sigma..
Ferro-aços inoxidáveis NH4OH concentrado Ataque eletrolítico a 6 V; ataca
apenas carbetos.
Magnésio e suas ligas Ácido oxálico 0,2-2 g Ataque por esfregaço 6-10 s.
H2O 100 ml
Magnésio e suas ligas Etanol 100 ml Revela contornos de grão.
Ácido pícrico 5 g
C 2H4O2 5 ml
H2O 10 ml
Ouro e metais nobres HCl 60 ml Atacar por imersão até 60 s.
HNO3 40 ml Usar capela.
Ouro e metais nobres CrO3 1 a 5 g Au puro e suas ligas; atacar por
HCl 100 ml esfregaço ou imersão até 60 s.
Prata e suas ligas NH4OH 50ml Prata pura, soldas, ligas Ag-Pd;
H2O2 (3%) 20 ml atacar por imersão até 60 s;
descartar solução após uso.
Prata e suas ligas CrO3 1 a 5 g Prata pura e ligas de prata; atacar
HCl 100 ml por esfregaço ou imersão até 60 s.

Apêndices XV.11
PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
Prata e suas ligas CrO3 1 a 2 g Ligas Ag-Cu; atacar por imersão até
H2SO4 1 a 2 ml 60 s; revela contornos de grão.
H2O 100 ml
Titânio e suas ligas H2F2 1-3 ml Reagente de Kroll; ataque por
HNO3 2-6 ml imersão (10-30 s) ou esfregaço (3-
H2O 100 ml 10 s); examinar em luz polarizada.
Zinco CrO3 40 g Reagente de Palmerton; imergir
Na2SO4 3 g amostra até 3 m, lavar com
H2O 200 ml solução aquosa 20% de CrO3.

Anexo 15 G - Líquidos para medição de Índices de Refração

Faixa de Índices de Refração


1,410 1,430 éter isoamílico - p-cymene
1,435 1,525 cetano - fenilciclohexano
1,530 1,580 fenilciclohexano - éter fenílico
1,585 1,635 éter fenílico - alfacloronaftaleno
1,640 1,660 alfacloronaftaleno - alfabromonaftaleno
1,665 1,705 alfabromonaftaleno - alfaiodonaftaleno
1,710 1,745 iodeto de fenila - diiodometano
1,750 1,790 diiodometano - diiodofenilarsina

Observações:
1) para 25o C e radiação verde (Hg) l = 546,1 nm
2) para obtenção de uma série, misturas com intervalos de 0,005 unidades de índice de refração são
calibradas com um método adequado
3) líquidos baseados em diiodometano são suscetíveis de volatilização fracionada, e devem ser calibrados
frequentemente
4) respiração dos vapores ou contato com a pele deve ser evitado, principalmente para os líquidos de
alto índice de refração
5) o índice de refração varia com o comprimento de onda; para trabalho de alta precisão, medir η com
outros comprimentos de onda e construir uma tabela de dispersão

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XV.12 Microscopia dos Materiais
Anexo 15 H - Nomenclatura recomendada pela
International Society for Stereology

Símbolo Unidade Descrição


N Número de eventos ou ocorrências
P Número de pontos de interesse, ou número de pontos ensaiados
PP Fração pontual: número de elementos pontuais de interesse/
número de pontos ensaiados
L mm Comprimento de elementos lineares de interesses, ou
comprimento de linha de ensaio
LL mm/mm Fração linear: soma das interseções lineares/ comprimento
total de linha de ensaio
A mm 2 Área das estruturas de interesse, ou área total de ensaio
AA mm 2/ mm 2 Fração superficial: área da feição de interesse/área total ensaiada
S mm 2 Área de superfície ou interface, geralmente reservada para
superfícies curvas
V mm 3 volume de um elemento ou volume total de ensaio
VV mm 3/ mm 3 Volume da fase de interesse/volume total de ensaio
SV mm 2/mm3 Área de interface/volume total de ensaio
LV mm/mm3 Comprimento da feição linear/volume total de ensaio
NV mm-3 Número de objetos discretos/volume total de ensaio
PL mm -1 Número de interseções de pontos de interesse com linha unitária
de ensaio
LA mm/mm2 soma do comprimento de elementos lineares/área total de ensaio
PA mm-2 número de elementos/área total de ensaio

Apêndices XV.13
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Anexo 15 I - Índice biográfico

Abbe Ernst físico alemão 1840 1905


Adams George (pai) instrumentista inglês 1708 1773
Adams George (filho) instrumentista inglês 1750 1795
Airy George astrônomo inglês 1801 1892
Al-Hazen Abu matemático e médico árabe 965 1039
Amici Giovanni Battista astrônomo italiano 1786 1863
Arago François físico francês 1786 1853
Ardenne Manfred v. cientista alemão 1907 1997
Auger Pierre-Victor físico francês 1898 1993
Baker Henry naturalista inglês 1698 1774
Bartholinus Erasmus médico dinamarquês 1625 1698
Berek Max ótico alemão 1886 1949
Bertrand Marcel A. geólogo francês 1847 1907
Boegehold Hans ótico alemão 1986 1965
Bonnani Felippo monge italiano 1638 1725
Brewster David físico inglês 1781 1868
Broglie Louis de físico francês 1892 1987
Busch Hans físico alemão 1884 1973
Castaing Raymond físico francês 1921 1999
Cuff John instrumentista inglês 1708 1772
Culpeper Edmond instrumentista inglês 1666 1738
Dellebarre L. F. instrumentista holandês 1726 1805
Descartes René filósofo francês 1596 1650
Dollond John (pai) instrumentista inglês 1706 1761
Dollond Peter (filho) instrumentista inglês 1730 1820
Drebbel Cornelius diplomata holandês 1572 1633
Ehrenberg Christian G. botânico alemão 1795 1876
Einstein Albert físico alemão-norteamericano 1879 1955
Euler Leonhard matemático alemão 1707 1783
Fermat Pierre de matemático francês 1601 1665
Fizeau Armand físico francês 1819 1896
Foucault Léon físico francês 1819 1868
Fraunhofer Joseph v. físico alemão 1787 1826
Fresnel Augustin físico francês 1788 1827
Galilei Galileu cientista italiano 1564 1642
Grimaldi Francesco naturalista italiano 1613 1663
Hartsoeker Nicolas cientista holandês 1656 1725
Hooke Robert físico e microscopista inglês 1635 1703
Huygens Christian físico e astrônomo holandês 1629 1695
Jansen Zacharias ótico holandês cerca 1600
Kellner Karl industrial alemão 1826 1855

PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI
XV.14 Microscopia dos Materiais
Köhler August físico alemão 1866 1948
Land Edwin inventor norteamericano 1909 1991
LeChatelier Henri engenheiro e químico francês 1850 1936
Leeuwenhoek Anthoni van naturalista holandês 1632 1723
Leibnitz Wilhelm G. matemático alemão 1646 1716
Lieberkühn J. N. instrumentista alemão 1711 1756
Lippershey Hans ótico holandês 1570 1619
Lister J. J. microscopista inglês 1786 1869
Mallus Etienne Louis físico francês 1775 1812
Marshall John instrumentista inglês 1663 1725
Maxwell James Clerk físico escocês 1831 1879
Mehl Robert Franklin metalurgista nortemericano 1898 1976
Michel-Levy Auguste mineralogista francês 1844 1911
Monconys Balthasar de médico francês 1611 1665
Moseley Henry G. J. físico inglês 1887 1915
Newton Isaac físico inglês 1643 1727
Nicol William naturalista escocês 1768 1851
Oatley Charles físico inglês 1904 1996
Planck Max físico alemão 1858 1947
Poisson S. D. matemático francês 1781 1840
Ramsden Jesse instrumentista inglês 1735 1800
Röhmer Olaf astrônomo dinamarquês 1644 1710
Rosenhofs Johann R. v. ilustrador científico alemão 1705 1759
Ruska Ernst físico alemão 1906 1987
Schott Otto industrial alemão 1851 1935
Smith Cyril Stanley metalurgista norteamericano 1904 1992
Snell Willebrord van R. físico holandês 1591 1626
Sorby Henry Clifton geólogo inglês 1826 1908
Wehnelt Arthur R. B. físico alemão 1871 1944
Wollaston W. Hyde químico inglês 1766 1828
Young Thomas físico inglês 1773 1829
Zeiss Carl industrial alemão 1816 1888
Zernike Frits físico holandês 1888 1966
Zirkel Ferdinand mineralogista alemão 1838 1912
Zworykin V. K. engenheiro russo-norteamericano 1889 1982

Apêndices XV.15
PERTENCE A 415902_IGNEZ_CARACELLI

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