‘Aust De Dscnso - Me Powe
FOI “PROPAGANDA” MESMO QUE VOCE DISSE?"
Hoje, é lugar comum dizer que as propagandas governa-
mentais se intensificam, na esfera capitalista, e também na do
socialismo existente”.
Nesse contexto, 0 termo guerra ideolégica apareceu recen-
temente, pretendendo caracterizar as diversas operagbes midié-
ticas de massa desenvolvidas (em média de mancira eficaz) pela
grande burguesia multinacional contra tudo o que resiste a sua
politica. A ideia subjacente € que ¢ preciso responder por uma
contra-propaganda ainda mais eicaz: guerra como na guerra...
Subentendido: todos os meios sio bons.
Nao pretendo aqui me entregar a consideragdes mo
ou técnicas sobre os procedimentos da propaganda; gostaria de
engajar com vocés uma reflexio a partir de alguns elementos
histéricos que me parecem tocar diretamente a esta questio.
Em 1917, um militar francés, certo Phillipe Pétain, domina
os motins de massa que abalavam a armada ¢ traga um progra-
ma de luta contra a “infecgao interna” (isto é, os jornais ¢ as
organizagées de esquerda contaminando os civis na retaguarda).
A questio da propaganda é, pelo menos desde Napoleio, um
negécio estratégico, um elemento indispensivel no prossegui-
mento das operagdes militares contra o inimigo exterior. Pétai
prolonga uma longa tradigio do Estado, adaptando-se &s novas
condigdes da luta contra o proletariado.
T_ “Vousavezbien dit propagans
Montréal, outubro de 1979.
PTextospresentado na Colloque testectncttution,
2B‘Aus De Disco - Mec Peowx
tar em questio, “herdi de Verdun’, se en-
contra no comando do regime de Vichy sob control
jo regime de ordem social a fascina, e uma democra-
cia no interior na qual as forcas de esquerda encontram pontos
de apoio diretos ou indiretos, no hesita um sé instante: “Antes
Hitler que Frente Popular”. Na Franca do Armisticio, ocupada,
pela metade, pela armada nazista, o Estado francés vai empregar
todos os meios para convencer a populago que o Marechal agit
para seu bem, salvando-a da catdstrofe fomentada pelo compl6
judeu-bolchevique mundial. A propaganda nao ¢ mais um negé-
cio militar: ela torna-se a preocupacio ntimero um de um Estado
caja politica , no essencial, determinada do exterior, de Berlim,
Desde esta época os métodos se aperfeicoaram na mesma
direc, Guerra permanente preventiva instalada no
paz social, dispositivo essencial do Estado capi
modero, a propaganda se faz. com imagens e palavras, senti-
mentos, ideias e gestos. E, pois, evidentemente, um negécio de
psicoogia,
Compreendemos que face & esta situacdo as préticas
tantes de lutaideolégica se dividam: atrés da posicio pedag6;
do militante-professor (“escute-me! eu vou revelar a verdade”
chega em contraponto a figura do militante paroco-de-plantio
cj discurso é mais ou menos o seguinte:
‘Nao repetiremos jamais em demasia: é importante,
camaradas, a psicologia! E muito importame, na
lua de classes, para ser capaz de responder no
terreno da propaganda, Levar em conta 0 que as
enderegar a
icar. Se ajustar as pessoas,
Jas, por todos os meios, para
melhor mira. nds também, o alvo de suas cabecas
Nao hesitemos: vamos d psicologia, base cientifica
4
‘Avs Dr Dscuso- Mc Pow
da propaganda! Vamos aos “specialists da pro-
paganda”!
ia nao é tio nova. Esta figura tem também suas tradi-
g6es. Eu tomarei o exemplo de um desses especialistas, envolvido
com os "professores” de seu tempo; um desses cuja fidelidade &
luta anti-fascista e anti-capitalista encontrou o menor desmen-
tido: Serguei Tchakhotin.
Comegou em 1915, quando a Riissia, em guerra, organiza
um Comité do fator moral, fazendo parte do Comité de ajuda
técnica militar, que englobava, ele préprio, todas as organizagbes
sécnicas ¢ cientificas do pais. Ora, este comité, na frente do qual se
encontra Tchakhotin, vai “mudar de posigio” servindo de apoio
a corrente socialista-revoluciondria e contribuir para a derrota
do tsarismo. Em 1917, a organizacio muda de nome e torna-se
sucessivamente Comité de educacio politico-social no governo
Kerensky, depois Comité de propaganda junto ao Soviet dos
trabalhadores intelectuais; Tchakhotin continua a lhe assegurar
0 secretariado geral, esforando-se em aj aio do
“fator moral humano” os novos métodos taylorianos pelos quais,
sabemos, Lénin se interessava igualmente. Depois da Revolucio
de Outubro, o comité desapareceu, e uma nova organizacio nas-
ceu, no governo bolchevique, sempre sob o impulso de Tchakho-
ceralmente Informacio-agitagio, primeiro
ministério da Propaganda do qual Tchakhotin assegurard a
diregio durante todo o periodo da guerra civil, desenvolvendo 0
que é preci i
através de preocupagdes a0 mesmo tempo ci
borou nas pesquisas pavlovianas) e organizacionais (ele publicou
0s estudos sobre a organizagio cientfica do trabalho na indis-
75anus De Dasa» Mics Peat
A panied 1930, ~esem que ele dé qualquer explicagao ~g
encontemos na Alemanba, 20 lado do Partido social-democrata
‘Teo, no qual ele empreende uma série de manobras destinadas
‘ convenceradiregio do partido a adotar “seus métodos” para lutar
hearmente contra onazismo em ascensio. E nesta conjuntura que
de labora a nocio de “violagao das multid6es”; seu ponto de par-
tida a idea que a resposta nazista do capitalismo alemao explora
uum terreno que os dirigentes marxistas subestimaram, ignoraram
‘mesmo: 0 terreno psicol6gico, o papel do marechal Psicologos?,
“Tchakhorin se enraivece ao ver os nazistas aplicarem a seus préprios
Em 1932, ele chega a convencer os socii
de Hesse a prepararem “cientificamente” (por dé
de rua, por slogans e gritos apropriados, breves ¢ nota
utilizagio de um novo simbolo
as quais toda a Alemanha atribuia um valor de “teste” decisivo,
(Os nazistas perderam efetivamente as eleig@es, mas a direcio do
Partido social-democrata nao utilizou esse prazo para retomar a
ofensiva e desenvolvet 0 que Tchakhotin chamava “o socialismo
ative”, Sabemos a continuacéo...
Tehakhotin vai entao prosseguir seu itiner:
ie incomprendidoredigindo seu credo politico-ieniio, 0
Vit multiddes pela propaganda politica, cuja primeira
{0 aparece, em 1939, em Pais, As edigdesseguintes sirio
Pasa daguera ia romar-se-o um dos bes sellers da
Pricologa social. Tehakhotin é mais anti-marxista que nunc
Permanece estranhamente um fiel admirador da URSS e do
z
sleéodiretor das
nt as Pots
cfevamente 9 qu seu nome serio
tum grande piclog 1:0 Marechal Psicologo
7%
as
Aust De Dsat0- Mew own
stalinismo (0 que, na época, é estritamente idéntico). Simultane-
“mente, pelo viés de uma ideologia mundialista do deslocamento
dos sistemas em direcZo a uma organizacio universal do tipo
‘novo, ele participa da primeira reunio de intelectuais do pés-
guerta que se fundirio logo no Movimento da Paz.
Se tracei assim o itinerdrio de Tchakhotin é porque ele ¢
‘exemplar em sua obstinago ao mesmo tempo politica ¢ cient
fica, E também porque a bio-psicologia da propaganda que ele
progressivamente formulou, pretendendo unit Taylor, Paviow..e
Freud, continua a frequentar as preocupagées politicas de nosso
tempo: a ideia de que o homem é um “animal influenctével” de
tuma grande plasicidade se impde como uma evidéncia do século
XX, e nuumerosos so hoje aqueles que, de diversos horizontes,
retomariam essas palavras terriveis de Tchakhotin:
0 grande perigo que a humanidade corre é deter-
‘minado por trés fatos: 0 primeiro é que i homens
‘que perceberam lade, no estado em que
‘ainda a maior parte de seus contempo-
rraneos, de fazer deles 5, de fazé-los servir
‘aseus fins — isto ndo quer dizer de nenkuma forma
(que esses fins so sempre fins materia, Incro— em
‘suma, de violé-los psiquicamente.
‘alavancas necesséirias para essa aga, encontraram
‘as face funciona ~ e sem
& precisamente que €s8as Pos
objetivamente, na prépria natureza humana, e que
‘a proporcao dos seres humanos que sucumbem
nada se oponha a
Tos usurpadores se faz sem que nada se opo
ei, sem que estes que deviam velar para impedi-la
cles o percebem
‘bam o perigo, ou entdo,
ve enfouguecem, no saben ao que se apegar que
‘edidas omar, como segura a/onda que se levanta
7