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Das barricadas à vida privada

Newton Bignotto
Professor do Departamento de Filosofia da UFMG

Palavras chave Resumo Abstract


republicanismo, apatia, Este artigo trata da questão da participação e This article examines the issue of present-day
jacobinismo, público, privado. da ação política na contemporaneidade à luz participation and political action in light of the
Classificação JEL Z00, Z10
de conceitos oriundos da tradição republica- concepts that originated with the republican
na. Nossa preocupação central é com o tra- tradition. Our main concern is how the
çado das fronteiras que separam o mundo boundaries that separate the public world from
público do privado nas sociedades atuais. the private world are drawn in contemporary
Dois problemas merecem atenção especial: societies. Two problems deserve special
a questão da apatia e da solidão dos cida- attention: the issue of apathy and loneliness of
dãos vivendo em sociedades democráticas citizens who live in peripheral democratic
periféricas e os excessos cometidos pelos societies, and the excesses committed by those
que adotam o modelo de ação derivado do who adopt the model of action derived from
Key words jacobinismo revolucionário. revolutionary Jacobinism.
republicanism, apathy,
Jacobinism, public, private.

JEL Classification Z00, Z10

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Na segunda parte de seu roman- O sentimento de perda do presen-


ce A invenção da solidão, Auster (1998) se te e de distanciamento do mundo cotidi-
lança na reconstituição de sua vida pela ano é cada vez constante na literatura
rememoração de uma viagem pelo uni- contemporânea e indica mudança na po-
verso da memória e da linguagem. Obce- sição do indivíduo em relação à socieda-
cado por sua relação com os livros, o au- de, que não pode ser desprezada.1 No co-
tor parte da idéia de que a linguagem é meço do século XX, os personagens de
nosso modo próprio de existência e que, Proust se interessaram pelas minúcias do
por isso, não há razão para considerá-la cotidiano e pela construção de personali-
como um veículo da verdade, que seria dades marcadas pelo convívio com obje-
exterior ao indivíduo, que vive e que nar- tos, que tornavam a vida privada o foco
ra sua vida. O mergulho na linguagem e de um interesse renovado. Tudo se passa
na busca pelo sentido da memória cobra, como se o longo século de embates pú-
no entanto, alto preço daqueles que se blicos, que marcara a vida francesa, e a
dispõem a enfrentar as agruras do per- queda definitiva da monarquia tivessem
curso: o tempo presente parece se con- esgotado as energias do mundo público e
verter em uma ilusão, transformando o obrigado membros da sociedade a bus-
futuro na única dimensão da vida, que po- car refúgio nas reentrâncias da intimida-
de ser vivida intensamente. O narrador de. Resta observar, no entanto, que em
coloca o leitor em contato com sua intimi- Proust o mundo dos salões e das peque-
dade e o sentido de sua procura dizendo: nas intrigas continua a alimentar uma re-
lação do indivíduo com a sociedade na
A atualidade na qual ele se encontrava, qual o olhar do outro sobre as peripécias
ele tinha a impressão de observá-la de um
de cada um dos atores é essencial. A polí-
ponto de vista que se situava no futuro, e o
tica perde o lugar de destaque que obti-
presente-passado parecia tão ultrapassado
que mesmo as atrocidades do dia, que nor-
vera na obra de Victor Hugo ou de Zola,
1 A esse respeito, são muito
malmente o teriam indignado, lhe pareci- mas nem por isso o mundo público deixa
interessantes as observações
am distantes, como se essa voz sobre as de ser uma referência constante. Muitas de Renato Janine quanto ao
ondas tivesse lido a crônica de uma civili- vezes seus ecos chegam mediante títulos uso cada vez mais freqüente
zação perdida. Mais tarde, em um mo- nobiliárquicos, que vão perdendo valor, na linguagem corrente
brasileira do gerúndio para
mento de maior lucidez, ele chamaria essa ou por meio de personagens, que con-
significar uma extensão
sensação de nostalgia do presente (Auster, servam o poder de atração, mesmo desti- contínua do presente (Ribeiro,
1988, p. 96) . tuídos de qualquer presença efetiva nos 2000, p. 92-95).

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centros de decisão política ou econômi- duos singulares influenciarem o curso


ca, como é o caso de seu personagem dos acontecimentos. Com isso não esta-
principal. Seja como for, ainda não está mos dizendo que o debate sobre a natu-
presente a solidão radical, que vai marcar reza das virtudes republicanas associadas
o narrador de Paul Auster e de tantos ou- à ação deva ser descartado em prol de
tros escritores. uma sociologia dos atores políticos. O
que queremos dizer é que, ao partirmos
de considerações gerais sobre a capacida-
1 de de agir dos homens e deixando de la-
A maneira como se dá a relação do indi- do o diagnóstico das condições nas quais
víduo com a sociedade é um problema os atores atuam, corremos o risco de
fundamental para os que se preocupam apostar em uma teoria que nada nos ensi-
com a questão da ação política e da parti- nará sobre o mundo no qual vivemos
cipação no mundo contemporâneo. Essa e sobre o qual queremos pensar. Recor-
preocupação leva em conta o fato óbvio, dando as lições de Merleau-Ponty (1960,
mas nem sempre lembrado por alguns p. 66), não podemos nos esquecer de que:
teóricos da política, de que os atores con- A filosofia está plenamente na história,
cernidos pelos processos públicos terão ela não é jamais independente do discur-
como ponto de ancoragem costumes e so histórico. Mas ela troca o simbolismo
instituições que definem, de forma muito tácito da vida por um simbolismo conscien-
clara, as possibilidades de interação com te, e substitui o sentido latente pelo senti-
outros atores e com a sociedade de seu do manifesto.
tempo, e não apenas dados oriundos da Para compreender a identidade dos
natureza humana tomada abstratamente. atores políticos nas sociedades contem-
Por isso acreditamos que o apelo à porâneas e o papel que a ação política
participação, que integra o núcleo de mu- tem em sua maneira de se relacionar com
itas teorias republicanas do passado e o mundo público, é preciso renunciar à
atuais, deve ser analisado à luz das condi- idéia de que estejamos à procura de uma
ções que regem as relações entre os indi- definição da identidade dos indivíduos,
víduos e as sociedades industriais da atu- que nos permite ligar a esfera de sua vida
alidade, não se restringindo à capacidade psicológica profunda com a seqüência de
manifesta ao longo da história de indiví- atos que o torna membro de determinada

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comunidade. Ou seja, estamos assumin- ta da totalidade dos fenômenos políticos.


do que não vamos tratar das característi- Nossa hipótese nesse momento é, por-
cas de personalidades, que constituem as tanto, que a utilização da polaridade “pú-
identidades individuais em sentido forte, blico-privado”, em suas feições atuais,
mas apenas dos fenômenos sociais, que fornece um campo privilegiado para a in-
são alterados pela maneira como os indi- vestigação do lugar da ação política na
víduos agem ou deixam de fazê-lo em construção e na conservação das socie-
determinados momentos. dades democráticas.
Nosso problema diz respeito à O ponto central das considera-
constituição das relações entre a esfe- ções de Elias (1994, p. 152) que adota-
ra pública e a privada. Para facilitar nos- mos aqui é que:
sa argumentação, assumimos com Elias
não há identidade-eu sem identidade-nós.
(1994, p. 127-189) que se trata de uma Tudo o que varia é a ponderação dos ter-
balança entre o eu e o nós e que é a exis- mos na balança eu-nós, o padrão da rela-
tência dessa balança, e a maneira como ção eu-nós.
ela se comporta em determinadas épo-
cas, que oferece nosso objeto de estudo. Portanto, a análise da ação política e de
Não estamos com isso dizendo que o seu papel nas sociedades históricas não
problema da construção da identidade pode ser feita com base na natureza hu-
das nações modernas não seja importan- mana e em suas possibilidades. Precisa-
te para nós, quando abordado do ponto mos levar em consideração a ancoragem
de vista da criação de seus símbolos e do histórica da balança eu-nós e a posição re-
imaginário popular; ou que a vida psico- lativa de seus elementos. Mas evitemos
lógica não seja em certas situações deter- um equívoco. Não estamos dizendo que
minante para as interações entre os indi- o estudo da natureza humana, ou mais
víduos e o meio social. Estamos apenas especificamente de algumas de suas ca-
escolhendo um caminho que nos parece racterísticas, não seja importante para
mais fecundo, pelo simples motivo que o a compreensão das sociedades políticas.
objeto maior de nossa investigação – o Como procuraremos mostrar no final de
lugar do republicanismo no mundo con- nosso texto, muitas de nossas análises
temporâneo – tem de ser bem delimita- sobre as sociedades atuais são tributárias
do, para não nos perdermos no sonho de de teorias a respeito do fundamento das
uma teoria abrangente capaz de dar con- comunidades políticas e de sua relação

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com a natureza dos homens, que não são públicas, em particular a República Ro-
claramente explicitados, o que nos leva a mana, concebiam e organizavam a vida
desconhecer os conceitos básicos sub- de seus cidadãos na cena pública não po-
tendidos em muitas análises, ou, como de mais ser reproduzida nos dias de hoje
prefere Taylor (2000, p. 200), a “ontolo- (Elias, 1994, p. 130).
gia” pressuposta na concepção do mode- Essa constatação pode dar origem
lo de sociedade que desejamos. a duas maneiras de abordar o problema.
A principal dificuldade encontra- A primeira, que encontra sua ancoragem
da por aqueles que defendem a partici- em boa parte da tradição liberal desde
pação nos negócios públicos como mo- o século XVIII, faz coincidir a constata-
tor essencial das sociedades políticas li- ção da contínua retirada dos indivíduos
vres advém do fato de que a balança da cena pública com a progressiva reali-
eu-nós pendeu, de forma clara, ao longo zação da natureza humana. Ou seja, o
do século XX, para o pólo do indivíduo. processo histórico de desenvolvimento
Como afirma Elias (1994, p. 130): das sociedades capitalistas nada mais fa-
Atualmente a função primordial do termo ria do que realizar a tendência natural dos
‘indivíduo’ consiste em expressar a idéia homens a concentrar sua atenção em
de que todo ser humano do mundo é ou seus interesses particulares. Como que-
deve ser uma entidade autônoma e, ao rem alguns utilitaristas radicais, agir se-
mesmo tempo, de que cada ser humano é, gundo outra motivação do que aquela
em certos aspectos, diferente de todos os de- derivada dos interesses individuais é agir
mais, e talvez deva sê-lo. irracionalmente.
Esse processo de deslocamento em A segunda abordagem do proble-
direção à identidade-eu, que muitos iden- ma, mais próxima das considerações de
tificam com a própria formação da mo- Elias, parte do pressuposto de que a ba-
dernidade, traz conseqüências óbvias pa- lança eu-nós representa o que ele chama
ra a análise do lugar que a ação direta dos de um habitus, a maneira como responde-
indivíduos e de sua participação nos ne- mos à pergunta “quem sou eu?” (Elias,
gócios públicos ocupa na política das na- 1994, p. 154). Nesse sentido, os indivídu-
ções democráticas. Do ponto de vista os se vêem através de uma imagem que
histórico, ela fornece um indicador preci- foi sendo construída junto com outros
so de que a maneira como as antigas re- processos sociais e históricos e, por isso,

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não há lugar para uma representação um processo que no limite terminaria


do indivíduo como um ente absoluta- com o pleno desenvolvimento do que
mente autônomo, ainda que essa seja a chamaremos de uma figura tipo, o indiví-
forma como muitos de nós se representa duo solitário, dedicado ao desenvolvi-
no interior das sociedades contemporâ- mento de sua personalidade, como o per-
neas. Ainda que não nos identifiquemos sonagem de Auster e à defesa de seus
inteiramente com o pensamento de Elias interesses. No extremo, esse processo mar-
no tocante ao lugar que ele atribui à idéia caria a morte definitiva do espaço públi-
de progresso na teoria social contempo- co, que corresponderia a um estágio su-
rânea, sua abordagem da imagem do in- perado da vida política do Ocidente.
divíduo nas sociedades atuais, do ponto Estamos nos servindo do indiví-
de vista dos processos sociais amplos duo isolado por ser esse um operador
que o constituem, parece-nos muito su- primordial de muitos pensadores atuais e
perior às teorias que insistem em tomar pelo fato de que não podemos deixar de
como um dado natural a crescente busca considerá-lo como um dado objetivo da
de autonomia e de auto-realização pelos vida política das sociedades capitalistas
membros das sociedades democráticas. desenvolvidas e de outras. Formulando o
Nosso interesse principal, no en- mesmo problema na linguagem mais tra-
tanto, não é o de realizar um balanço das dicional das Ciências Sociais da oposição
teorias concernentes ao desenvolvimen- entre espaço público e vida privada, po-
to do moderno individualismo. Na estei- demos dizer que a vida política sofreu
ra de Elias, consideramos que se trata modificações importantes com a dimi-
de um processo social inescapável e, nes- nuição dos lugares nos quais os cidadãos
se sentido, não podemos desprezá-lo se se expressavam na condição de membros
quisermos estudar as sociedades livres de uma comunidade política, e não como
contemporâneas. Mas, contra boa parte representantes singulares de uma espécie
dos autores liberais, não acreditamos que que se define pela hipertrofia do desejo
esse processo possa ser diretamente as- de verem realizados seus interesses.
sociado ao desenvolvimento de uma ca- Como mostra Sennett (2002, p. 381-
racterística natural dos homens, que faria 384), o equilíbrio entre os dois domínios
a balança eu-nós pender para o pólo eu conexos foi sendo alterado de tal forma
inelutavelmente nas democracias. Por is- que a vida privada expulsou os atores
so, interessa-nos aprofundar a análise de – termo que ele usa com gosto em sua

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obra – da cena pública para um mundo Partindo da constatação do enco-


de personalidades competitivas, que bus- lhimento da esfera púbica e do aumento
cam o maior contato possível entre os da importância dos mecanismos jurídi-
membros próximos de uma comunida- cos de controle dos conflitos, parte signi-
de, visando realizar o ideal de uma vida ficativa dos cientistas sociais acreditou
povoada por afetos e destituída de más- fazer do estudo dos diversos cenários
caras. O resultado, segundo ele, é a cons- produzidos pela somatória dos interesses
tituição de novas formas de organização privados e do impacto das personalida-
do tecido social, que reduzem ao máxi- des na luta pelo poder os operadores
mo o espaço da prática política, que ser- fundamentais de toda reflexão política.
viu de base para a criação das sociedades Mais uma vez, não é o caso de fazer o ba-
democráticas modernas, e institui um jo- lanço dessas teorias.2 O pressuposto da
go em que o reconhecimento da perso- atomização dos atores nas sociedades
nalidade do outro é o fator determinante contemporâneas é verdadeiro, à condi-
das relações de poder que se estabelecem ção de que não seja tomado, como fazem
nas diversas esferas de ordenação da vida alguns, como um dado da natureza ou
em comum. Isso gerou uma transfor- como um resultado inelutável do proces-
mação que Sennett identifica como uma so histórico. A conseqüência que nos in-
nova forma de tirania. teressa debater é a de que qualquer forma
Uma instituição – diz ele – pode dominar de participação de atores individuais na
como uma fonte única de autoridade; uma arena pública, que não corresponda ao
crença pode servir como padrão único para modelo exposto por Sennett, é uma im-
enfrentar a realidade. possibilidade, uma vez que contraria um
A intimidade é uma tirania, na vida diá- suposto estado real das coisas. Ora, se
ria, dessa última espécie. Não é a criação não podemos deixar de lado a progressi-
forçada, mas o aparecimento de uma cren-
va destruição do espaço público, pelo
ça num padrão de verdade para se medir
menos na forma como foi conhecido ao
as complexidades da realidade social. É a
maneira de se enfrentar a sociedade em ter-
longo dos últimos séculos, se quisermos
2 No caso brasileiro,
mos psicológicos. E na medida em que discutir o papel da ação política no mun-
merecem especial atenção as do atual, não há razão válida para excluir
obras de Wanderley essa tirania sedutora for bem-sucedida, a
Guilherme dos Santos e de própria sociedade será deformada (Sennett, a participação, em todas as suas formas,
Fábio Vanderley Reis. 2002, p. 412). do ideário de uma sociedade livre. Ou se-

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ja, a condenação dos ideais republicanos total atomização é na verdade uma im-
de participação nos negócios públicos e possibilidade para uma sociedade que pre-
de liberdade vivida como integração efe- tende continuar a ser livre.
tiva nos mecanismos de poder da socie- Colocando de outra forma nosso
dade como utópicos ou pouco realistas ponto de vista, diríamos que, diante dos
deriva de uma passagem indevida do ní- processos estudados, cabe lembrar, mais
vel de generalização que podemos con- uma vez com Elias (1994, p. 129), que não
ceder à idéia de atomização dos indivídu- podemos separar inteiramente indivíduo
os. Se a tomamos com uma manifestação e sociedade mesmo nas sociedades atuais,
de um processo necessário, estamos fa- e que por isso o quadro dos possíveis é sem-
zendo não apenas uma formulação que, pre mais amplo do que aquele oferecido
por sua generalidade, demanda uma de- pelas organizações políticas do presente.
monstração, que não se pode contentar É, portanto, como um possível que fala-
com a simples constatação do estado de mos de um conjunto de valores republica-
coisas em sociedades particulares em nos ancorados na ação política a na tradi-
contexto próprio, mas, sobretudo, abdi- ção, assim como não podemos deixar de
cando de analisar os pressupostos de or- lado o próprio desaparecimento das soci-
dem teórica que devem ser explicitados edades democráticas como um possível do
para que a concepção mais ampla sobre a estado atual de ordenação dos atores po-
natureza das comunidades políticas pos- líticos individuais. Nesse particular, as
sa ser investigada. observações de Hannah Arendt sobre a
O que gostaríamos de enfatizar é perda de identidade dos indivíduos nas
o fato de que o republicanismo, que ado- sociedades de massa permanecem atuais:
tamos como referência de análise, ser-
A verdade é que as massas surgiram dos
ve-se de fatos, como os até aqui lembra-
fragmentos da sociedade atomizada, cuja
dos, não para negar-lhes a realidade, mas
estrutura competitiva e concomitante soli-
para afirmar seu caráter problemático. dão do indivíduo eram controladas apenas
Ou seja, a atomização dos atores políti- quando se pertencia a uma classe. A prin-
cos implica tanto que ideais como os de cipal característica do homem da massa
participação e ação terão de encontrar não é a brutalidade nem a rudeza, mas o
um novo assento nas formações sociais, seu isolamento e a sua falta de relações so-
para poderem se efetivar, quanto que a ciais normais (Arendt, 1998, p. 366-367).

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Qualquer analogia entre o indiví- 2


duo de massa, que facilitou a ascensão do Se as considerações anteriores nos aju-
nazismo e do fascismo, e os cidadãos das dam a pensar a questão da ação política
nações desenvolvidas pode nos levar a no contexto mais amplo das sociedades
um erro que consistiria a deixar de lado o
industriais da atualidade, não podemos
fator essencial na determinação do senti-
deixar de interrogar-nos sobre a validade
do da solidão dos indivíduos, que é a ma-
de nossas conclusões parciais para as so-
neira como se relacionam com sua co-
ciedades periféricas do capitalismo, que
munidade e os direitos que têm garantido
não se desenvolveram da mesma manei-
nos quadros legais dos países onde vivem.
ra que as nações mais ricas e não forja-
Em outras palavras, a maneira como a
ram uma cena pública comparável com
balança eu-nós influencia seu comporta-
mento. Ao notar, no entanto, a proximi- aquela que vai aos poucos desaparecendo
dade das descrições da relação entre os dos países que a viveram intensamente.
indivíduos e as sociedades em situações O pressuposto inicial de que o estudo do
históricas diferentes, estamos chaman- papel da ação numa teoria republicana
do a atenção para o fato de que a crescen- depende do diagnóstico das condições
te solidão dos habitantes das sociedades reais de atuação na cena política contem-
contemporâneas abre as portas para um porânea obriga-nos a nos perguntar so-
universo de possíveis muito maior, inclu- bre essas mesmas condições no caso bra-
sive naquilo que possui de monstruoso, sileiro. Obviamente está fora de questão
do que os cenários construídos pelos so- tentar uma leitura aprofundada da rela-
fisticados cultores da teoria dos jogos. ção indivíduo-sociedade em nossa socie-
No outro lado desse campo de determi- dade, mas é possível pelo menos procurar
nações, encontra-se a concepção republi- demarcar algumas de nossas especificida-
cana da democracia, que coloca o acento des, que ajudam a responder à pergunta
na participação ativa dos cidadãos na vi- mais geral sobre a pertinência do resgate
da política como um freio para os efeitos de certos elementos da tradição republi-
nefastos da atomização. Como veremos cana, para se pensar a política nos tem-
depois, essa não é, no entanto, uma pana- pos presentes.3 Mais uma vez, o recurso à
3 Um bom diagnóstico
céia universal para os impasses de nosso literatura pode ajudar-nos a encurtar o
histórico da participação
política no Brasil tempo e possui riscos simétricos aos que caminho. Um texto luminoso a esse res-
encontra-se em Carvalho acabamos de apontar na figura tipo do ho- peito é o clássico de Lispector (1996), A
(2002, p. 157-229). mem solitário. hora da estrela.

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Uma das dificuldades com as con- Quanto à moça, ela vive num limbo impes-
siderações dos autores aos quais recorre- soal, sem alcançar o pior nem o melhor. Ela
mos está no fato de que elas partem da somente vive, inspirando e expirando, inspi-
pressuposição da alteração da balança in- rando e expirando (Lispector, 1996, p. 38).
divíduo-sociedade em situações nas qua- Sua vida se define como uma ausência,
is os dois pólos foram bem delimitados uma presença física que demanda muito
ao longo da História, o que torna percep- pouco para se inserir nas brechas da cidade.
tível a mudança nos pesos respectivos.
Ela nascera com maus antecedentes e ago-
Acreditamos poder nos servir das análi-
ra parecia uma filha de um não-sei-o-quê
ses de autores como Elias a condição de
com ar de se desculpar por ocupar espaço
não nos esquecermos de que nem o es- (Lispector, 1996, p. 38) .
paço público conheceu um momento áu-
reo entre nós, nem a condição de solidão O curioso da situação de Macabéa
e apatia das grandes massas urbanas brasi- é que mesmo a infelicidade é vivida co-
leiras reflete um processo de progressivo mo um luxo. A tristeza é para ela que
abandono de acirradas disputas na arena “nascera inteiramente raquítica, herança do ser-
pública. Nessas condições, a personagem tão” (Lispector, 1996, p. 43) um luxo de
Macabéa da obra citada pode servir como moça romântica ao qual não podia aspi-
um guia para nosso olhar sobre a socieda- rar. Sua vida transcorre em um mundo
de urbana contemporânea brasileira. no qual as esferas do indivíduo e da so-
Em primeiro lugar, é preciso ob- ciedade estão muito pouco definidas,
servar que a solidão é a marca de sua per- não pela erosão de suas potencialidades,
tença ao tecido urbano. Preocupado em mas pelo simples fato de que nunca exis-
ser o mais fiel possível à história da mi- tiram plenamente. A solidão de Macabéa
grante nordestina, o narrador nos fala é, portanto, de outra ordem do que aquela
cruamente de seu isolamento: do personagem de Auster; ela implica um
mergulho na sociedade industrial sem o
A pessoa de quem vou falar é tão tola que lastro de sua história. Não se trata assim
às vezes sorri para os outros na rua. Nin-
de uma ausência, de um passo anterior de
guém lhe responde ao sorriso porque nem
um processo que se constituiria à medida
ao menos a olham (Lispector, 1996, p. 30).
que a personagem deixasse o sertão para
Mais à frente, ele completa esse retrato: viver no Rio de Janeiro. O fato é que a ci-

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dade grande reduz ao nada um indivíduo de, que lhe é oferecido por um cotidiano
que não chegou a se individuar: estafante e sem brilho, mas não deixa de
Nem se dava conta de que vivia numa so- desejar o olhar do outro, ou o prazer fur-
ciedade técnica onde ela era um parafuso tivo de contemplar uma paisagem urbana
dispensável (Lispector, 1996, p. 44). inesperada.4 Sua vida resumida não deixa
de gestar a vontade de realizar um pouco
Devemos resistir à tentação de fa-
de seu eu à maneira do narrador de Aus-
zer de Macabéa o símbolo da massa de
ter, que se constrói ao longo de seu mer-
migrantes que, tendo perdido a identida-
gulho pela linguagem. Macabéa aspira ao
de cultural que os unia ao interior do Bra-
convívio com os outros, mas, como os
sil, veio encontrar nos grandes centros
indivíduos plenos das sociedades ricas,
urbanos uma exclusão total dos proces-
goza ao máximo o luxo de ter seu peque-
sos políticos. Ela é muito mais do que is-
no mundo só para si. O momento de sua
so. Sua força elucidativa está justamente
solidão alcança uma generalidade insus-
em que não pode ser capturada pelas
peita para o leitor que até então a acom-
análises clássicas da formação e destrui-
ção do espaço público. Em sua solidão, panhara no vazio de um cotidiano feito
ela desconhece até mesmo a existência de de repetições:
uma vida vivida na e pela cidade. Tinha um quarto só para ela. Mal acredi-
Sua ausência de aspiração para a tava que usufruía o espaço. E nem uma
vida pública –“ela era calada (por não ter o palavra era ouvida. Então dançou num
que dizer) mas gostava de ruídos” (Lispector, ato de absoluta coragem, pois a tia não a
1996, p. 49) – não se traduz, no entanto, entenderia. Dançava e rodopiava porque
na ausência de aspiração pela vida na ci- ao estar sozinha se tornava: l-i-v-r-e! Usu-
dade. Da mesma maneira que as grandes fruía de tudo, da arduamente conseguida
massas brasileiras demonstraram apetite solidão, do rádio de pilha tocando o mais
alto possível, da vastidão do quarto sem as
4 “Mas parece-me que sua voraz pela integração em vários níveis
Marias (Lispector, 1996, p. 57-58).
vida era uma longa meditação de sociabilidade, sem com isso aspirar
sobre o nada. Só que precisava necessariamente a uma maior participa- O paradoxo que emerge desse mo-
dos outros para crer em si
ção política (Carvalho, 2002, p. 220-229) mento de felicidade de Macabéa é que
mesma, senão se perderia os
sucessivos e redondos vácuos segundo os moldes canônicos das de- ela atinge o mesmo ápice de fruição do
que havia nela” (Lispector, mocracias representativas, nossa perso- próprio eu do que aquele proporcionado
1996, p. 54). nagem desconfia do suco ralo de realida- pelo longo desenvolvimento dos indiví-

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duos atomizados das sociedades indus- Auster é que a solidão é fundamentalmen-


triais avançadas. Partindo de um sertão te um fenômeno antipolítico, que não de-
sem lastro de cidadania e mergulhando pende de arena pública para se manifes-
num tecido urbano que lhe recusa uma tar, nem mesmo da rede de proteção de
identidade, ela pode aspirar ao mesmo direitos, que caracteriza as democracias
prazer do mundo reduzido da intimida- representativas. A satisfação plena da in-
de. Na pobreza de um quarto infecto, a dividualidade é a destruição definitiva da
solidão mostra toda sua face pré-política. vida política democrática.
Tomada como figura tipo, Macabéa Macabéa, no entanto, não aspira a
nos obriga a repensar toda abordagem da ser deixada em paz em seu refúgio, como
vida política dos países periféricos pela parece ser o ideal de muitos teóricos libe-
ótica da falta e do atraso. Isso não quer rais. A solidão é um luxo que as condi-
dizer que a observação da história das ções brasileiras proporcionam para pou-
democracias mais tradicionais do Oci- cos e isso constitui nossa particularidade
dente não sirva como instrumento para o histórica. Não tombemos, no entanto,
estudo de muitos de nossos problemas. numa armadilha. Quando nossa perso-
Ao contrário, temos insistido no papel da nagem se movimenta para sair de seu pe-
recuperação da tradição republicana para queno mundo tão avaro em felicidade,
o estudo de nossa realidade. Mas a idéia não é o mundo da política, com toda a ri-
de um desenvolvimento da vida política e queza de um espaço público constituído
da participação por etapas sucessivas se que encontra, mas a complexa rede de re-
mostra ferramenta inadequada para al- lações pessoais e familiares, que há muito
cançar a particularidade de nossa vida comanda a inserção dos brasileiros no te-
política. No tecido urbano altamente pro- cido social.5 Em suas andanças pela cida-
blemático brasileiro, vivemos processos de, a moça se depara com Olímpico de Je-
muito semelhantes aos experimentados sus, um operário metalúrgico nordestino,
em outros países, sem que tenhamos co- que como ela se encontra perdido no vas-
nhecido o mesmo processo de constitui- to silêncio que circunda os desgarrados.
ção e destruição do espaço público. O Olímpico de Jesus tem tão pouco
que aprendemos, no entanto, mais facil- a dizer sobre o mundo quanto Macabéa, 5 A esse respeito,
mente com a pobre nordestina de Clarice mas, longe de viver essa situação como ver o instigante estudo
Lispector do que com o personagem de uma limitação, deseja se tornar deputado de Carvalho (2001).

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e a ver reconhecida sua inteligência, que Olímpico procura se livrar da soli-


se resumia em ser capaz de pronunciar dão incômoda de Macabéa trocando-a
discursos cantados e vazios. A pobreza por sua colega de trabalho Glória, que,
da cena pública brasileira fica evidente contrariamente à seca nordestina, não o
no personagem, na medida em que ele é incomoda com a exposição contínua de
capaz de ambicionar a participação na suas limitações e ignorância. Ao contrá-
política exclusivamente como uma mani- rio, a “gorda” Glória o introduz em uma
festação da legítima ambição de sair do família do Sul do País, abre-lhe as portas de
silêncio constrangedor que sua vida lhe um mundo que lhe era negado a cada mo-
impõe. Não há em sua demanda de reco- mento. A idéia da família que, como mos-
nhecimento nem sombra de um mérito, trou Holanda (2002, p. 141-146), constitui
que teria algo a ver com seu apego a valo- referência obrigatória para muitos brasi-
res republicanos.6 O aspecto mais interes- leiros no momento em que os valores
sante a ser destacado, no entanto, não é públicos são questionados, aparece tam-
tanto a carência de valores da vida públi- bém como o porto seguro de uma socie-
ca brasileira, mas o caminho que Olímpi- dade que convive mal com a conduta gui-
co segue para fugir de seu destino de nor- ada por regras abstratas (Holanda 2002,
destino pobre na cidade grande. Assim p. 150). Por caminhos totalmente opos-
como para muitos brasileiros não há uma tos, o indivíduo solitário das sociedades
vida pública com rotas predefinidas que contemporâneas acaba fazendo o mes-
permitiriam aos ambiciosos, como nosso mo elogio do “homem cordial” à intimi-
personagem, visar alvos e perseguir obje- dade. Num caso é a hipertrofia do indiví-
tivos. O caminho para o poder, ou mais duo que o leva, como sugere Sennett
simplesmente pelo reconhecimento, pas- (2002), a confiar apenas em relações tes-
sa pela vida privada. Como observa Ho- tadas pelas emoções; no outro, é a falta
landa (2002, p. 147): de uma história republicana que o con-
6 Um bom estudo sobre a duz a desprezar regras e procedimento
No “homem cordial ”, a vida em socieda-
dificuldade de criação de um oriundos de um mundo político no qual
espaço público no Brasil, de é, de certo modo, uma verdadeira liber-
tação do pavor que ele sente em viver o afeto não conta. Em ambos os casos, a
levado a cabo com base
na análise de Guimarães consigo mesmo, em apoiar-se sobre si pró- vida política se vê amputada de suas refe-
Rosa, encontramos em prio em todas as circunstâncias da exis- rências coletivas e abstratas para se con-
Starling (1999). tência. verter no campo de encontro de indiví-

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472 Das barricadas à vida privada

duos ou de personalidades, que se negam a seja a descrição completa dos processos


viver uma vida em comum governada por sociais de aquisição da cidadania ao longo
rituais de comportamento e participação da História brasileira recente.7 Em sua
na coisa pública (Sennett 2002, p. 147). exemplaridade, os personagens ajudam-
Macabéa, por seu lado, é exemplo nos a pensar os limites das sociedades de-
da realização da figura tipo do indivíduo mocráticas, que se tornam incapazes de
solitário em uma sociedade que não co- projetar valores republicanos em grandes
nheceu o mesmo percurso que as demo- parcelas de seus componentes e fecham as
cracias do Ocidente. Sua solidão é fruto vias pelas quais os indivíduos ultrapassam
do encontro do mundo rural com as ci- as fronteiras de sua história particular.
dades gigantes de hoje, mas seu percur- Macabéa acaba encontrando a fa-
so não é mais o do “homem cordial”. ce trágica de seu destino justo no mo-
Entregue a si mesma, ela tem poucas saí- mento em que acreditava poder escapar
das para um vazio que, muitas vezes, aos limites de sua condição. A ilusão de
confunde com felicidade. A consciência que uma porta poderia abrir-se para ela
de sua desgraça não vem na forma de pa- mostra os limites que destroem as pontes
lavras procurando sentido, mas de um ta- entre os indivíduos isolados e o mundo
tear tímido dos pedaços de realidade que público. Distantes de redes de proteção
pode saborear. Como todo indivíduo, ela que os defendam da violência, como a fa-
quer um destino, mas não sabe como mília e a sociedade patriarcal de outras
forjá-lo. A ignorância do mundo a impe- épocas, os retirantes e os exilados das
de de desejar um mundo mais justo, e se- grandes cidades são obrigados a tentar
ria melhor dizer que uma parte dos que sobreviver num mundo pré-político no
vivem a vida miúda de nossas cidades qual as esferas do Estado não chegam até
quer antes uma realidade que faça senti- eles e, por isso, acabam submetidos a
do do que participar de sua construção. processos que lembram muito mais as
Da mesma forma, no entanto, que não sociedades sem leis e corrompidas do
podemos supor que o personagem de que o mundo ordenado das democracias
Auster (1988) representa um retrato total deliberativas ocidentais. Macabéa não as-
dos indivíduos atomizados, também não pirava a participar do mundo da política.
podemos supor que sua busca por um Isso nem mesmo se colocava para ela. 7 Ver, a esse respeito,
destino e sua incapacidade de realizá-lo O que ela queria era um destino, um re- Souza (2003).

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torno aos cumprimentos que dirigia na tia. O que importa marcar é a tendência
rua, uma identidade que a conectasse com de que o cidadão sem cidadania se en-
algo além do pequeno mundo insignifi- contre com o indivíduo atomizado das
cante do trabalho. grandes cidades no terreno antipolítico
Como ela, muitos brasileiros con- das relações privadas.
tinuam a reivindicar laços com um mun-
do que não os acolhe e que torna inefi-
cazes os velhos processos sociais basea- 3
dos em solidariedades locais e em víncu- A conclusão parcial à qual podemos che-
los familiares. Em seu abandono, ela nos gar é a de que a figura do indivíduo apáti-
aponta para os riscos que rondam a rela- co, distanciado do mundo público e cada
ção de muitos habitantes das sociedades vez mais dependente de pequenos rituais
capitalistas periféricas com o mundo da de construção do presente que, como su-
política. Nesse caso, não podemos falar gere Auster (1988), parece escapar por
de participação, uma vez que faltam as entre os dedos, é uma figura tipo, que nos
condições mínimas para a incorporação ajuda a apontar uma tendência consisten-
de uma parte importante da população à te da contemporaneidade, mesmo nas
cena pública. sociedades periféricas nas quais o proble-
Se certamente esse não é o resu- ma da participação se coloca de forma
mo dos processos sociais das últimas dé- bem diferente daquele das sociedades ri-
cadas no Brasil, ajuda-nos a pensar seus cas do Ocidente. Conquanto figura tipo,
riscos e a importância das discussões so- não podemos nos servir dela para com-
bre valores republicanos em sociedades preender processos políticos particula-
que não conheceram o esplendor da es- res, mas certamente ela aponta para a
fera pública. Não se trata de colocar a construção de uma cena pública que alte-
concepção republicana da democracia co- ra radicalmente os termos nos quais o
mo um ideal, aos moldes dos gregos, de pensamento republicano se consolidou
usar de suas referências para pensar pro- no curso dos últimos séculos. A apatia
cessos sociais, que não parecem ser estu- não é um destino das sociedades demo-
dados corretamente com o referencial cráticas, mas marca um limite para sua
teórico que preside muitas análises atuais existência. Sua plena realização, em qual-
dos defensores das democracias da apa- quer formação social, mesmo naquelas

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474 Das barricadas à vida privada

protegidas por mecanismos legais sofisti- fora dela, estimulando a participação na


cados, como é o caso de nações como os vida política de estratos bastante diversifi-
Estados Unidos, destrói o equilíbrio sem- cados da população. Nesse movimento
pre mutável, mas essencial, que constitui de expansão do jacobinismo, preservou-
a balança do eu-nós. Sem ela mergulha- se de sua energia original o impulso para a
mos num território no qual a simples re- ação direta e a idéia de que uma radicaliza-
ferência à democracia e à república já não ção nas formas de participação seria capaz
faz o menor sentido. No extremo, por- de fornecer uma ferramenta eficaz para a
tanto, a realização de uma “democracia transformação profunda das sociedades.
da apatia” corrói o núcleo mesmo daqui- Mais uma vez, não nos interessa a
lo que, ao longo da História, chamamos história do fenômeno, mas, sim, o mode-
de liberdade – independentemente da ma- lo de relação entre o eu e o nós que forne-
neira como a concebemos. ceu. Nesse caso, a balança pende decidi-
O pólo oposto a essa tendência e damente para o pólo nós, transformando
que esteve no centro das atenções de mui- a cena pública pela exacerbação do papel
tos teóricos da política nos últimos du- do ator engajado nos negócios públicos.
zentos anos é o jacobinismo. Também Como observou Abensour (1992), a Re-
aqui acreditamos que seja possível anali- volução Francesa viu surgir um novo ti-
sá-lo valendo-nos de sua caracterização po de ator político que não se identifica-
como uma figura tipo. O romance de Fran- va inteiramente com nenhum dos tipos
ce (1989), Les dieux ont soif, fornece-nos o anteriores de participantes da vida públi-
material adequado. ca. Trata-se do que chamou de “herói re-
O jacobinismo constitui-se em um volucionário”, que foi estudado em sua
fenômeno fundamental para a compre- particularidade, pela primeira vez, por
ensão da formação do mundo político Tocqueville (1988, p. 239-248).8
contemporâneo, na medida em que dei- Evariste Gamelin, herói do roman-
xou a cena original na qual se formou pa- ce de Anatole France fornece um belo
ra servir de modelo para atores políticos exemplo da figura tipo do revolucionário
em processos que nada tinham a ver com jacobino disposto a fazer a balança eu-nós
8 A indicação da importância
o contexto original. Como demonstrou a se inclinar para o pólo da comunidade e
de Tocqueville para a
Vovelle (2000), o jacobinismo se trans- de seu suposto bem. No início da estória, abordagem de nosso tema foi
formou numa referência ao longo do sé- ele se comporta como outros cidadãos sugerida por Abensour no
culo XIX em muitos países da Europa e encantados com as possibilidades aber- texto citado.

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tas pela Revolução, que derrubara antigas ceses dos primeiros anos da Revolução,
barreiras e destruíra privilégios de classe ele mergulha na chance que lhe parece
e permitira a muitos sonhar com uma no- oferecer a História, disposto a fazer todos
va posição na sociedade. Gamelin é um os sacrifícios sem exigir nada em troca.
pintor medíocre, discípulo de David, Sua adesão aos princípios revolucioná-
membro da seção do Pont-Neuf, onde rios de liberdade, igualdade e fraterni-
exerce militância discreta, mas entusiasta dade não depende de uma recompensa
em favor da Revolução. Na primeira par- imediata, mas de uma promessa, que não
te do romance, seu grande mestre é Ma- pode ser quebrada sob pena de ver a pá-
rat, que chega a distingui-lo com uma tria e suas conquistas serem destruídas.
atenção especial: Embora envolvido com os traba-
Ele venerava, amava Marat que, doente, lhos de sua seção, Gamelin permanece
com as veias em fogo, devorado pelas úlce- boa parte do romance como um mem-
ras, gastava o resto de suas forças a serviço bro modesto das classes que ascenderam
da República e, em sua pobre casa, aberta na vida política francesa sem terem rece-
a todos, o acolhia de braços abertos, lhe fa- bido benefício direto da nova situação. O
lava com atenção ao bem público e o in- artista vive à beira da miséria ao lado de
terrogava por vezes sobre os planos dos ce- sua mãe. Junto com outros habitantes de
lerados (France, 1989, p. 79). seu bairro, ele faz longas filas para obter
O patriotismo do personagem não pão, bem que se tornara escasso em Pa-
tem nada de especial nesse momento. ris. O que cabe observar nesse momento
Ainda que ele não esteja disposto a acei- é que Gamelin não possui características
tar críticas à Revolução nem mesmo à especiais que pudessem distingui-lo en-
contraposição da obra revolucionária ao tre os que haviam adotado os ideais dos
bom senso pragmático dos homens de novos tempos. Sua radicalidade não deri-
negócio, como Jean Blaise, que lhe diz va nem de uma adesão pensada a um sis-
“você vive no sonho, eu na vida” (Fran- tema filosófico complexo, como seu ami-
ce, 1989, p. 67), Gamelin se mostra o go Brotteaux, que fazia de Lucrécio seu
tempo todo um convertido aos novos mestre em todas as questões, nem de um
princípios, a ponto de fazer seu interlo- conhecimento aprofundado das alavan-
cutor se lembrar do perigo que corre em cas da política. Ele vive os novos tempos
se mostrar cético quanto ao futuro da Re- confiando nas novas idéias e nas diretri-
volução. Mas, como muitos cidadãos fran- zes que ouve de seus heróis. Imerso na

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ação e no desejo de uma nova era, não Ora, em que pese à densidade do
lhe ocorre pensar nos riscos e nas possi- personagem, seu amor por Elodie, Ga-
bilidades do processo que está vivendo. melin não demonstra ser capaz de refletir
Embora seja um elo insignificante da ca- sobre o que vive. Em suas discussões
deia revolucionária, ele vive sua vida entre com Brotteaux, ele opõe à sofistificação
a privacidade de uma família modesta, o de Lucrécio uma fé ingênua nos novos
amor por uma jovem, e as ações que cum- valores. A imersão na ação parece ser-
pre na seção do bairro. Sua devoção é ce- vir-lhe de guia em um mundo do qual
ga porque Gamelin não vê como a França não consegue escapar, mas também não
poderia retornar ao estado anterior ou compreende inteiramente (France, 1989,
mesmo escolher um novo destino sem ver p. 93). Desse ponto de vista, ele parece
destruídas todas as suas conquistas. demonstrar a tese de Charles Taylor quan-
A posição do jovem pintor é in- to à importância das instâncias simbóli-
teressante exatamente por mostrar uma cas e imaginárias na formação dos indiví-
inscrição na cena pública que não difere duos e dos agentes políticos. Para ele,
em muito de vários momentos da Histó- a forma de ação dos membros de uma
ria nos quais a participação de um núme- comunidade será sempre o produto das
ro maior de cidadãos nas esferas políticas condições objetivas de acolhimento dos
mudou-lhe a face. O adorador de Marat atores nos mecanismos institucionais da
se inspira no modelo dos heróis, mas não arena pública e os caminhos pelos quais
pretende ele mesmo ser herói. Se seu fa- essas formas são representadas pelos in-
natismo já mostra os riscos de sua condi- divíduos e a representação que eles têm
ção e a eficácia da propagação de uma de si mesmos (Taylor, 2003).9 Gamelin é
nova visão de mundo, ele é antes de tu- desse ponto de vista exemplar na dialéti-
do um homem comum imerso na ação, ca entre valores aceitos e formas de ação.
um indivíduo que se guia por idéias abs- Mas os verdadeiros riscos conti-
tratas, mas conectadas intimamente aos dos no elogio da ação revolucionária se
processos que se desenvolvem na socie- encontram no momento em que ele dei-
dade na qual luta para sobreviver. Game- xa o terreno da ação com seus pontos
lin aponta assim para a condição dos ci- obscuros e sua natural mutabilidade, para
dadãos comuns em um Estado no qual o encontrar uma teoria que se converte em 9 Para uma análise de suas
engajamento na cena pública é um requi- explicação total de toda vida social. Para posições, ver Souza (2003,
sito para sua sobrevivência. Gamelin essa virada dar-se-á no momen- p. 23-61).

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to em que encontra Robespierre. Condu- É como a um deus que Gamelin escuta


zido pelos acasos da vida política de seu Robespierre e se sente salvo do mundo
tempo a ser membro de um tribunal re- complexo da ação política no qual estive-
volucionário, o personagem só encarnará ra perdido:
seu novo papel de maneira decidida quan- Evaristo escutou e compreendeu. Até en-
do passar a representá-lo como parte de tão ele havia acusado a Gironda de prepa-
um concerto universal destinado a con- rar a restauração da monarquia ou o
duzir a humanidade a um novo patamar. triunfo da facção dos Orléans e de prepa-
O terror surge no horizonte do pintor, rar a ruína da cidade heróica, que havia
liberado a França e que um dia livraria o
quando seu desejo de preservar a obra da
universo. Agora, com a voz do sábio, ele
Revolução dá as mãos a uma nova meta- descobria verdades mais altas e mais pu-
física, que se sobrepõe a todo e qualquer ras; ele concebia uma metafísica revolucio-
imperativo de prudência ou bom senso, nária, que elevava seu espírito para além
que, no território aberto da ação livre, das grosseiras contingências, ao abrigo dos
erros dos sentidos, na região das certezas
costuma servir de freio para os excessos
absolutas. As coisas são em seu natural
dos atores convertidos abstratamente a misturadas e cheias de confusão; a comple-
um novo ideário. Se Gamelin já se mos- xidade dos fatos é tal que neles nos perde-
trava resistente ao pragmatismo do pai mos. Robespierre os simplificava, apresen-
de sua amada, o jacobinismo de 1993 se- tava o bem e o mal em fórmulas simples e
rá a porta de saída da realidade cotidiana, claras (France, 1989, p. 165).
para o mergulho definitivo no reino uni- O jacobinismo é assim um proces-
versal do terror e do voluntarismo. so de destruição do mundo da ação. En-
A descrição do processo de imer- quanto esteve “confuso”, Gamelin era
são do personagem no mundo do jacobi- capaz de escutar os argumentos contrá-
nismo lembra as palavras dirigidas por rios às suas idéias e compartilhar os espa-
Saint-Just a Robespierre em uma carta ços comuns da cidade, mesmo com aque-
de 10 de agosto de 1790: les que discordavam de sua fé na Revolu-
Vós que sustentais a pátria contra a tor- ção. A partir do momento em que deixa a
rente do despotismo e da intriga, vós que esfera da ação, ou se preferirmos, em que
conheço com a um deus, pelas maravilhas; deixa de interagir no mundo público com
endereço-me a vós, senhor, para suplicá-lo as armas da razão prática, ele se torna in-
de reunir-se a mim para salvar meu triste capaz de viver num espaço democrático.
país (Saint-Just, 1968, p. 370-371). No reino das verdades, o diferente é algo

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478 Das barricadas à vida privada

a ser eliminado. Num sentido muito cla- ções de grandes dimensões se mostrou
ro, o jacobinismo se converte para ele ainda mais radical nas sociedades de mas-
numa salvação da política, numa reden- sa. O que importa, no entanto, nesse mo-
ção para as dificuldades de se viver inten- mento, é notar que os modelos de rela-
samente os impasses de uma sociedade ção indivíduo-sociedade estudados são o
política. Dizendo de outra forma, o jaco- produto de concepções sobre os funda-
binismo é necessariamente um caminho mentos das sociedades políticas, que não
para a destruição da arena pública, e não podem ser aceitos como parte de uma
sua realização. Nos termos de nossos ar- natureza intrínseca de nosso tempo. Co-
gumentos, ele é uma teoria anti-republi- mo sugere Charles Taylor, o que está em
cana, e não sua realização plena como questão é na verdade uma disputa entre o
pretenderam alguns. que chama de “ontologias” concorrentes
(Taylor, 2000, p. 198-199).
Uma conclusão de nosso percurso
4 é a de que a plena realização das figuras ti-
O estudo das duas figuras tipo empreendi- po aqui estudadas conduz à destruição
do até aqui permite visualizar o impasse das sociedades livres e impede o desen-
no qual se encontram os que gostariam volvimento de qualquer uma de suas for-
de afirmar um modelo de república base- mas. Tanto a pura apatia quanto a entrega
ado no elogio da participação e na prece- total à ação e à idéia de construção volun-
dência da ação na definição da relação tarista dos laços sociais incapacitam os
dos indivíduos com o mundo político. atores a respeitar o valor básico da liber-
Como vimos, a simples afirmação de que dade, independentemente de que ela seja
a participação nos negócios públicos é concebida à maneira dos liberais como
um bem em si mesmo esbarra no fato de ausência de constrangimento ou à ma-
que as sociedades contemporâneas dei- neira dos defensores da república.
xam pouco espaço para a interação direta Nesse sentido, é preciso afirmar
dos indivíduos com os mecanismos de que o herói revolucionário jacobino é fru-
decisão tanto em âmbito nacional quan- to de um republicanismo que se destrói ao
to internacional. O fenômeno observado se realizar. Insistir, portanto, em acusar o
desde o século XVIII por pensadores anacronismo das concepções republica-
franceses, neles incluído Rousseau, de nas atuais com base nos resultados da
que a democracia direta dos antigos se ação dos jacobinos – tomados na acepção
tornou um modelo irrealizável nas na- anteriormente estudada – é lançar mão de

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um procedimento retórico, que deixa de dos indivíduos atomizados. Também nes-


lado não apenas a crítica que os republica- se caso, ao pender definitivamente para o
nos franceses do século XIX fizeram aos pólo do eu, a abalança se destrói, levando
produtos mais diretos do voluntarismo consigo as democracias liberais.
dos partidários de Robespierre, mas o fato O que estamos propondo, portan-
essencial de que não há razão histórica vá- to, é que nenhuma sociedade pode convi-
lida para associar jacobinismo e repúbli- ver com um desequilíbrio total entre os
ca como se fossem sinônimos. Não há dois pólos. É claro que os defensores
a menor dúvida de que o ator herói está mais radicais dos dois modelos insistiram
inscrito no campo das possibilidades dos que os defeitos não são simétricos e que
defensores do republicanismo, mas não apenas os excessos dos defensores da te-
como sua síntese, e sim como seu limite. se oposta representa um risco para a vida
O cidadão perdido no pólo da identidade nas sociedades democráticas. Nossa hi-
coletiva não é mais um cidadão livre e por pótese é que essa aposta representa um
isso deixou de poder agir na cidade, tendo risco para a liberdade, que não pode ser
como respaldo essencial sua condição de enfrentado senão com o abandono dos
agente livre. Ao pender para o lado nós de dois extremos.
seu prato, a balança deixa de representar Com isso, no entanto, não quere-
uma sociedade republicana. mos dizer que seja possível uma espécie
Da mesma forma, um conjunto de de mediania, que representaria um equilí-
cidadãos apáticos e capazes apenas de se brio perfeito para a vida política. Talvez o
mobilizar para a defesa de seus interesses caminho mais saudável e plausível para
particulares é uma presa fácil para os que uma vida política vivida segundo valores
visam interesses globais, que vão muito caros à tradição republicana continue a
além das fronteiras nacionais. A destrui- exigir o respeito à indeterminação da ação
ção do pólo nós da balança deixa os indiví- e a atenção à pluralidade e à diferença, que
duos isolados e sujeitos apenas à vontade constitui o solo da cidadania nas socieda-
dos governantes de respeitar os contratos des industriais contemporâneas. Sem a to-
estabelecidos com a maioria silenciosa. lerância ao outro, a aceitação dos riscos
A simples confiança na neutralidade das inerentes à ação pública e o amor da liber-
instituições democráticas representativas dade, estamos condenados a viver em si-
não se mostrou um freio adequado para mulacros do que foi em alguns momentos
lidar com as imposições de interesses infi- da História a marca de sociedades republi-
nitamente mais bem articulados do que os canas e democráticas.

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480 Das barricadas à vida privada

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