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DELEUZE E A FIlDSOFIA

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Copyright by autor

Capa Pinky Wainer

Copydesk Victor Henrique Bizarro

Revisão Maria Luíza Simões


(J .' Rosangela Rita da Silva

Dados de Catalogação na Publicação (CIP) Internacional


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

ÍNDICE
Machado, Roberto, 1942-
Deleuze e a filosofia / Roberto Machado. - Rio de Janeiro:
Graal, 1990.
Bibliografia.
1. Arte - Filosofia 2. Ciência - Filosofia 3. Deleuze, GiJles,
1925 - 4. Diferença (Filosofia) 5. Filosofia 6. Literatura - Filoso-
fia 1. Título.
Introdução: A geografia do pensamento 1

CDD-I00 1~ parte: O nascimento da representação 23


-501 1- Platão e o método de divisão 25
-701 2- Aristóteles e a mediação da diferença
90-1396 -801 36
Índices para catálogo sistemático: 2~ parte: O ápice da diferença 45
1. Arte: Filosofia 701
1- Espinosa, o ser e a alegria 47
2. Ciência: Filosofia 501
3. Filosofia 100 2- Nietzsche e a repetição da diferença 81
4. Literatura: Filosofia 801
3~ parte: Kant, diferença e representação 97
1- Os paradoxos kantianos 99
Direitos adquiridos por 2- Gênese e intensidade 109
EDIÇOES GRAAL LIDA.
Rua Hermenegildo de Barros, 31-A - Glória 4~ parte: A doutrina das faculdades 127
Rio de Janeiro - RJ - CEP 20.240 1- Os pressupostos da representação 129
Fone: 252-8582 2- O empirismo transcendental 139
Atendemos pelo Reembolso Postal.
5~ parte: Deleuze e Proust 163
Conselhu Editorial
Antonio Candido 6~ parte: Deleuze e Foucault 179
Fernando Gasparian 1- O exercício do pensamento em Foucault 181
Fernando Henrique Cardoso 2- Foucault e o teatro deleuzeano 205
1990
Impresso no Brasil! Printed in Brazil Bibliografia 227
o

INTRODUÇÃO

A GEOGRAFIA DO PENSAMENID
\J

o pensamento de Gilles Deleuze sempre se exerceu em rela-


ção a domínios ou objetos heterogêneos, tomando em conside-
ração não apenas a filosofia de diferentes épocas, como também
as ciências, as artes, a literatura. Alguns de seus estudos são mo-
nografias de filósofos: Lucrécio, Leibniz, Espinosa, Hume, Kant,
Nietzsche, Bergson, Foucault... Outros dizem respeito a saberes
não tecnicamente ou não explicitamente filosóficos: são os estu-
dos sobre Proust, Sacher Masoch, Zola, Kafka, Michel Tour-
nier, Carmelo Bene, Francis Bacon, mas também sobre o cine-
ma. Um terceiro tipo, finalmente, tematiza um problema ou uma
questão a partir da produção filosófica, literária, artística e até
mesmo científica: matemática, física, biologia, lingüística, psi-
canálise, antropologia ... Podem aí ser situados Différence et ré-
pétition, Logique du sens, L 'anti-Oedipe, Mil/e plateaux.
Ora, a heterogeneidade desses domínios não deve obscure-
cer a espantosa homogeneidade da démarche que justamente pos-
sibilita definir seu pensamento como filosófico. É só aparente-
mente, portanto, que a obra de Deleuze é composta de livros de
história da filosofia, de crítica de arte ou literária e finalmente
de reflexão filosófica. Vejamos por quê.
Não se pode desprezar a quantidade e a qualidade dos tex-
tos de Deleuze sobre arte e literatura. Não se pode esquecer a
utilização que alguns de seus escritos fazem de teorias científi-
cas. Seu pensamento, portanto, não se restringe à consideração
do texto filosófico: fazer filosofia é muito mais do que repetir
ou repensar os filósofos. Quando porém ele tematiza o discurso
científico ou as expressões artísticas ou literárias, jamais tem

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2 DELEUZE E A FILOSOFIA A GEOGRAFIA DO PENSAMENTO 3

por objetivo fazer filosofia das ciências, das artes ou da litera- Essas críticas, que só aparecem incidentalmente em sua obra
tura. É que a filosofia não é uma reflexão sobre a exterioridade - sobretudo em entrevistas - sem terem sido até o momento
da filosofia, uma reflexão sobre domínios ou áreas extrínsecas rigorosamente formuladas e explicitadas, são, no entanto, um
ao discurso filosófico. "Não creio que a filosofia seja uma re- bom índice de como sua filosofia se distingue do caminho de re-
flexão sobre outra coisa, como a pintura ou o cinema ... Não novação proposto por essas filosofias contemporâneas e permi-
o tem compreender como a novidade e a radicalidade de seu pro-
se trata de refletir sobre o cinema ... o cinema não é para mim
um pretexto ou um domínio de aplicação. A filosofia não está jeto não impedem que ele possa ser considerado um filósofo clás-
em estado de reflexão externa sobre os outros domínios ... ", afir- sico ou tradicional. O que estou sobretudo querendo dizer é que,
mava Deleuze no momento da publicação de L 'image- quando sua filosofia se coloca em relação intrínseca com sabe-
mouvement J E voltava a insistir na mesma idéia quando da saí- res de outros domínios, o objetivo não é fundá-los, justificá-los
• da de L 'image-temps: "Quando se está vivendo em uma época ou legitimá-los, mas encontrar ou estabelecer conexões ou res-
sonâncias de um domínio a outro a partir da questão central que
pobre, a filosofia se refugia em uma reflexão 'sobre' ... Se ela
orienta suas investigações, que é a caracterização do que seja pen-
nada cria, que mais pode fazer senão refletir sobre? ... De fato,
sar. Assim, enquanto para a epistemologia, sem se situar em uma
o que interessa é retirar do filósofo o direito à reflexão sobre.
perspectiva de reflexão sobre a ciência, isto é, em uma perspec-
O filósofo é criador e não reflexivo". 2
tiva de elucidação das operações características da racionalida-
Quando Deleuze diz que o filósofo é criador e não reflexi-
de científica, "uma teoria do conhecimento seria uma medita-
vo, o que ele pretende é se insurgir contra a caracterização da
ção sobre o vazio", para utilizar a expressão de Canguilhem.>
filosofia como um metadiscurso, uma metalinguagem, que tem
o objeto principal da filosofia de Deleuze é o exercício do pen-
por objetivo formular ou explicitar critérios de legitimidade ou
samento; o que não é para ele inclusive um privilégio da filoso-
de justificação, e reivindicar para ela a produção de conhecimento
fia, na medida em que definia a Recherche de Proust como uma
ou, mais propriamente, a criação de pensamento, como as ou- crítica da filosofia eminentemente filosófica, como uma busca
tras formas de saber, sejam elas científicas ou não. Daí por que
I, da verdade que se opõe à dos filósofos racionalistas.f e afirma-
ele denuncia a epistemologia como um agente de poder .na filo-
va recentemente que o cinema tem por objetivo o pensamento
sofia que desempenha, como a história da filosofia, um papel e seu funcionamento.? Filósofos, cientistas, artistas são antes de
de repressor do pensamento ou se constitui como um aparelho tudo pensadores. É a questão do pensamento que se encontra
de poder no próprio pensamento.ê daí também por que ele acu- no âmago da consideração por Deleuze de qualquer domínio ex-
sa Wittgenstein de ter sufocado e até mesmo matado o que ha- terior à filosofia e explica por que, em última análise, sua filo-
via de vivo no pensamento anglo-saxão." sofia não é uma filosofia de outra coisa que não a filosofia.
Se quisermos relacionar sua démarche com dois filósofos
1. Entrevista a Hervé Guibert, Le Monde, 6.10.1983.
franceses que tiveram como projeto dar às ciências a filosofia
2. Entrevista a Claire Parnet, L'autre-journal, out. 1985, p. 12.
3. Cf. Dialogues (D.), pp. 19-21. A entrevista à Quinzaine Littéraire, de 16-30.6.1972, que merecem, que pretenderam renovar a filosofia colocando-a
já afirmava a mesma idéia: "É curioso como a epistemologia sempre escondeu uma ins- à altura das revoluções científicas modernas, é possível dizer que,
tauração de poder, uma espécie de tecnocratismo universitário ou ideológico".
em vez de Bachelard e sua epistemologia, é a metafísica de Berg-
4. O texto a que me refiro encontra-se na entrevista ao jornal Libération, de 3.10.1983:
"Peirce é o último dos grandes pensadores da tradição anglo-saxônica. De Hume a Peirce son que serve de modelo à filosofia de Deleuze. Em L 'image-
os anglo-arnericanos são dementes criadores de conceitos. Mas depois tudo foi sufocado mouvement ele se refere explicitamente ao "desejo profundo de
por uma magra escola estúpida. Eles colocaram ordem. Não digo que não estou de acordo
com Wittgenstein, não digo que não gosto dele. Eu o acuso de ter matado tudo que ha-
via de vivo no pensamento anglo-saxão, tudo o que fazia sua riqueza". Recentemente, 5. "L'objet de I'histoire de Ia science", Études d'histoire et de philosophie des sciences,
ao elogiar Whitehead como o último grande nome da filosofia anglo-arnericana, Deleu- p.l1.
ze se refere aos discípulos de Wittgenstein como aqueles que estenderam sobre ela "suas 6. Cf. Proust et les signes (P.S.), sobretudo a conclusão da primeira parte.
brumas, seu sofrimento e seu terror". CL Le pli. LeLbniz et le barroque, p. 103. 7. Cf. L'image-temps (I.-T.), p. 219.
4 DELEUZE E A FILOSOFIA A GEOGRAFIA DO PENSAMENTO 5

Bergson: fazer uma filosofia que seja a da ciência moderna (não tir de suas atividades específicas de criação, o que parece ser uma
no sentido de uma reflexão sobre a ciência, isto é, de uma epis- intenção recente de Deleuze, como podemos perceber por algu-
temologia, mas ao contrário, no sentido de uma invenção de con- mas de suas últimas entrevistas. Mas é possível, desde logo, com-
ceitos autônomos, capazes de corresponder aos novos símbolos preender a natureza desta relação entredomínios salientando dois
da ciência) ... ".8 E, no mesmo livro, amplia o projeto de Berg- de seus aspectos. Por um lado, a interferência, a repercussão dos
son situando-o ..na direção de seu próprio projeto: " ... deve-se saberes, as ressonâncias entre atividades de criação em que não
tornar capaz de pensar a produção do novo ... trata-se de uma se pode assinalar prioridade de uns sobre outros e em que, espe-
conversão total da filosofia, e é o que Bergson enfim se propõe cialmente, a filosofia não tem pseudoprimado de reflexão nem
a fazer, dar à ciência moderna a metafísica que lhe correspon- inferioridade de criação; 12 os conceitos são exatamente como
de, que lhe falta, como uma metade faz falta a uma outra meta- sons, cores ou imagens, e é isso que faz com que a filosofia este-
de. Mas pode-se parar neste caminho? Pode-se negar que tam- ja em estado de aliança ativa e interna com os outros domínios. 13
bém as artes tenham que fazer esta conversão? Que o cinema Por outro lado, a especificidade dos saberes, no sentido em que
seja um fator essencial a este respeito, e até mesmo que ele te- cada um responde a suas próprias questões ou procura resolver
nha um papel a desempenhar no nascimento e na formação des- por sua própria conta e com seus próprios meios um problema
te novo pensamento, deste novo modo de pensar?".9 semelhante ao colocado por outro.!"
A filosofia, como a ciência, a arte, a literatura, se define,
portanto, por seu poder criador e até mesmo pela exigência de
criação de um novo pensamento. Mas não significaria isso uma Fazer filosofia é criar conceitos. Aceitemos essa posição cla-
assimilação dos diferentes domínios de saber? Não, na medida ra, se bem que não muito tematizada, do pensamento de Deleu-
em que o poder criador da filosofia que é reivindicado é especí- ze. Mas, então, se coloca necessariamente uma questão que diz
fico. Então, qual é a diferença? Embora Deleuze nunca tenha respeito a seu próprio exercício de pensamento: como são cria-
explicitado suficientemente a distinção das formas de criação que dos os conceitos de sua filosofia? Questão importante quando
caracterizam os vários saberes, ele assinalou, no entanto, o fun- se trata, como agora, de definir ou de caracterizar seu projeto
damental da diferença constitutiva da filosofia: é que a filosofia filosófico.
cria ou produz conceitos: "A filosofia se ocupa de conceitos: ela A filosofia de Deleuze é, em última análise, um sistema de
os produz, os cria. A pintura cria um determinado tipo de ima- relações entre conceitos oriundos da própria filosofia - mais
gens, linhas e cores. O cinema cria outro tipo de imagens, precisamente, de alguns filósofos por ele privilegiados - e con-
imagens-movimento e imagens-tempo'LJ? "O que me interessa
ceitos suscitados pela relação entre conceitos filosóficos e ele-
são as relações entre arte, ciência e filosofia. Não existe privilé-
mentos não-conceituais provenientes de domínios diferentes. As
gio de uma dessas disciplinas sobre as outras. Cada uma delas
relações da filosofia com a literatura, as ciências e as artes estão
é criadora. O verdadeiro objeto da ciência é criar funções, o ver-
a serviço da própria filosofia ou da criação de conceitos. Se não
dadeiro objeto da arte é criar agregados sensíveis e o objeto da
há reflexão sobre e sim pensamento a partir, ou melhor, com,
filosofia é criar conceitos." n
e se a filosofia é especificamente o domínio dos conceitos, pen-
Ainda não há elementos nos escritos de Deleuze para expli-
citar essa distinção entre funções, agregados sensíveis e concei- sar a exterioridade da filosofia é estabelecer ecos, ressonâncias,
tos, nem para formular uma teoria diferencial dos saberes a par- conexões, articulações, agenciamentos, convergências entre ele-
mentos não-conceituais dos outros saberes - funções, sons,
8. I.-M., p. 89.
9. I.-M., p. 17. 12. cr. ibidem,
10. Le Monde, 6.10.1983. 13. Cr.-Le Monde, 6.10.1983.

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11. L'autre-journal, OUt. 1985, p. 13. 14. Cf. entrevista aos Cahiers du cinema, mar. 1986.
6 DELEUZE E A FILOSOFIA A GEOGRAFIA DO PENSAMENTO 7

imagens, linhas, cores - que, integrados ao discurso filosófico, damentais. A arte moderna, a literatura de Proust e Joyce tam-
são transformados em conceitos. É o que diz, por exemplo, o bém. O que desejo salientar, no entanto, é que não só suas ques-
final de L 'image-temps: " ... a teoria filosófica é uma prática, tões vêm prioritariamente da filosofia, da tradição filosófica, co-
tanto quanto seu objeto. É uma prática dos conceitos, e é preci- mo também que na trajetória de Deleuze elas se colocaram a partir
so julgá-Ia em função das outras práticas com que ela interfere. da filosofia. A meu ver, Deleuze é fundamentalmente um histo-
Uma teoria do cinema não é 'sobre' o cinema, mas sobre os con- riador da filosofia que ousou pensar filosoficamente, o que sem
ceitos que o cinema suscita, e que estão também em relação com dúvida implica levar em consideração o que é exterior ao discur-
outros conceitos correspondentes a outras práticas, a prática dos so técnica ou explicitamente filosófico. E o que faz Deleuze fi-
conceitos em geral não tendo nenhum privilégio sobre as outras, lósofo - e não simples historiador da filosofia - é o fato de ,I
do mesmo modo que um objeto também não tem sobre os ou- ele deixar a marca de seu próprio pensamento filosófico em to- I
tros. É no nível da interferência de muitas práticas que as coisas dos os seus estudos.
se fazem, os seres, as imagens, os conceitos, todos os tipos de Um bom exemplo, entre outros, dessa prioridade é L 'anti-
acontecimentos" .15 Oedipe, livro que pretende "denunciar os estragos de Édipo, do
Mas a relação com a exterioridade ou com os outros sabe- papai-mamãe, na psicanálise, na psiquiatria e até mesmo na an-
res, embora constitutiva, não é o aspecto determinante desta inter- tipsiquiatria, na crítica literária e na imagem geral que se faz do
relação conceitual. Mesmo que um conceito seja como um som pensamento" .17 Tomemos a questão central da psicanálise e a
ou uma imagem e que não haja superioridade de um sobre os concepção do desejo. L 'anti-Oedipe é uma crítica à psicanálise,
outros, do ponto de vista da elaboração da problemática filosó- por ela reduzir e até mesmo abolir ou destruir o desejo ao ligá-
fica de Deleuze, ou de seu próprio exercício de pensamento, há 10 intrinsecamente à representação, à lei, à falta, à privação. Para
prioridade da filosofia sobre os outros domínios. A razão é que, Deleuze, ao contrário, o desejo nem se liga à lei nem se define
sendo sua questão uma questão filosófica - o que é pensar? -, por uma falta essencial, isto é, em vez de representação, é má-
ou melhor, sendo seu objetivo principal produzir o conceito de quina, processo de produção - processo de autoprodução do
exercício do pensamento.!" o apelo aos saberes não-filosóficos inconsciente - que não só não é interior a um sujeito, como tam-
funciona fundamentalmente como comprovação ou como con- bém não tende para um objeto. O que não significa que o livro
firmação de uma problemática definida conceitualmente pela fi- seja uma rejeição ou mesmo uma crítica radical da psicanálise,
losofia. O não-filosófico entra como elemento que vem alimen- na medida em que grande parte do aparelho conceitual a partir
tar um pensamento eminentemente voltado para a filosofia e até de que a análise é feita vem justamente da psicanálise. Mas o
mesmo para os conceitos tradicionais da filosofia. Se há, neste que é mais importante - e daí minha hipótese sobre o privilégio
caso, prioridade da filosofia, é porque ela é o regime dos con- da filosofia - é que a relação da filosofia de Deleuze com a psi-
ceitos, e, mesmo que os conceitos venham sempre de fora, os canálise só pode ser totalmente esclarecida a partir da relação
conceitos suscitados pela exterioridade não-conceitual estão, no que sua atividade filosófica estabelece com a própria filosofia
pensamento de Deleuze, subordinados aos conceitos oriundos da ou, mais especificamente, com a história da filosofia. Neste sen-
tradição filosófica. Não nego, portanto, a importância do ex- tido, a idéia que poderia ser demonstrada é que sua concepção
trafilosófico para compreender sua démarche. A antropologia do desejo como processo de produção, que lhe permite criticar
de Lévi-Strauss, a psicanálise de Lacan são, neste sentido, fun- não apenas a posição psicanalítica, mas até mesmo as concep-
ções filosóficas do desejo como falta - como as de Platão e Hegel
p. 365.
15. l.-T., -, tem como condição de possibilidade as filosofias de Espino-
16. Uma prova de que a filosofia de Deleuze está centrada na questão do exercício do sa e, sobretudo, de Nietzsche - interpretadas de uma perspecti-
pensamento é que todos os seus estudos - sejam eles sobre filósofos, artistas, literatos
- nunca se detêm numa questão de detalhe, mas investigam, ao contrário, a própria
démarche desses pensadores, o próprio modo de funcionamento de seus pensamentos. 17. Prefácio à edição italiana de Mille plateaux.

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8 DELEUZE E A FILOSOFIA
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,
A GEOGRAFIA DO PENSAMENTO 9
va que os aproxima bastante -, basicamente os conceitos espi- to, de genealogia da filosofia realizada por Deleuze e da qual
nosistas de afecção e afeto eo conceito nietzscheano de vontade é possível ressaltar dois princípios. Sua característica mais ele-
de potência. mentar é o fato de ela se propor mais como uma geografia do
Se há, nos estudos de Deleuze de modo geral, um privilégio que propriamente como uma história, no sentido em que, para
dos conceitos oriundos da própria filosofia, a questão impor- ela, o pensamento, não apenas e fundamentalmente do ponto
tante é a da relação entre sua criação de conceitos e os conceitos de vista do conteúdo, mas de sua própria forma.ê? em vez de
filosóficos produzidos por outros. Suas críticas aos historiado- constituir sistemas fechados, pressupõe eixos e orientações pe-
res da filosofia têm sido algumas vezes severas. Dialogues, por lãs quais se desenvolve.ê! O que acarreta a exigência de consi-
exemplo, diz que "a história da filosofia sempre foi um agente derá-lo não como história linear e progressiva, mas privilegian-
de poder na filosofia e mesmo no pensamento. Ela desempenhou do a constituição de espaços, de tipos. Daí um segundo princí- ~
um papel repressor: como se pode pensar sem ter lido Platão, pio que norteia essa genealogia da filosofia: a existência não de
Kant e Heidegger, e o livro deste ou daquele sobre eles? Uma um, mas de dois 'espaços em que se situa o pensamento filosófi-
formidável escola de intimidação que fabrica especialistas do pen- co. Considerando a história da filosofia de um ponto de vista
samento ... " .18 Por outro lado, vários de seus livros são mono- filosófico, ela estabelece dois tipos, dois estilos de filosofia, não
grafias de filósofos. Haverá contradição? Não, quando se com- apenas heterogêneos, mas sobretudo antagônicos. Neste sen-
preende que, para Deleuze, ler e pensar os filósofos não se re- tido, isto é, no que diz respeito à constituição de uma geogra-
duz de modo algum a fazer trabalho de historiador. Se sua ati- fia do pensamento, a filosofia de Deleuze é profundamente
vidade criadora se liga essencialmente à história da filosofia, é dualista.
no sentido em que institui a leitura do filósofo como parte es- Esse dualismo ou a posição de dois espaços antagônicos não
sencial de seu modo próprio de filosofar, ou subordina o conhe- se reduz evidentemente ao pensamento filosófico; ele é uma pro-
cimento das questões e problemas filosóficos à constituição de priedade do pensamento em geral. Não é meu objetivo aprofun-
um pensamento. dar essa questão, mas pode ser elucidativo assinalar que Deleu-
Em que sentido suas monografias de filósofos não seriam ze descobre ou estabelece essa dualidade antagônica nos mais va-
propriamente estudos de historiador? Dialogues dá uma indica- riados saberes. Na literatura: é o que o faz, por exemplo, privi-
ção importante: "Comecei pela história da filosofia quando ela legiar em suas análises Artaud, Blanchot, Beckett, Michaux,
ainda se impunha. Não havia meio de escapar. Não suportava Proust, Büchner, Hõlderlin, Lenz, Kleist, Kafka, Melville, Fitz-
Descartes, os dualismos e o Cogito, nem Hegel, as tríades e o gerald, Thomas Wolfe, Virginia Woolf...22 "Haverá sempre um
trabalho do negativo. Gostava dos autores que davam a impres- Breton contra Artaud, um Goethe contra Lenz, um Schiller contra
são de fazer parte da história da filosofia, mas dela escapavam Hõlderlin ", diz L 'anti-Oedipe.ô E segundo Mil/e plateaux os
parcial ou totalmente: Lucrécio, Espinosa, Hume, Nietzsche, textos de Kleist "se opõem, sob todos os aspectos, ao livro clás-
Bergson ... Esses autores têm pouca relação entre eles - salvo sico e romântico, constituído pela interioridade de uma substância
Nietzsche e Espinosa -, e no entanto têm. Dir-se-ia que algo ou de um sujeito. O livro máquina de guerra contra o livro apa-
se passa entre eles, com velocidades e intensidades diferentes, que relho de Estado" .24 Mas o antagonismo existe até mesmo nas
não está nem em uns nem em outros, mas realmente em um es- ciências. É assim que L 'anti-Oedipe opõe uma lingüística do sig-
paço ideal que não faz mais parte da história ... " .19 Essa noção nificante e uma lingüística dos fluxos. A lingüística de Saussure
de "espaço ideal" é importante para compreender o que se po-
deria chamar ,para assinalar a inspiração nietzscheana do proje- 20. Cf. Mil/e plateaux (M.P.), p. 464.
21. CL Logique du sens (L.S.), pp. 173-174; D., p. 8.
22. CL, por exemplo, D., capo 11, I~ parte; M.P., "plateau", 8.
18. D., pp. 19-20. 23. A.-De., p. 159.
19. D., pp. 21-22. 24. M.?, p. 16. "Kleist e Kafka contra Goethe" (p. 36).
10 DELEUZE E A FILOSOFIA A GEOGRAFIA DO PENSAMENTO 11

e pós-saussureana supõe a transcendência do significante e uma do um conjunto de atividades coletivas e não científicas, mas cuja
identidade mínima resultante das relações de oposição entre os . solução científica depende, ao contrário, da ciência real e do modo
elementos e que permanece através das variações. Mas a esse mo- como a ciência real transforma o problema integrando-o em seu
delo ele opõe a lingüística de Hjelmslev, que faz uma teoria pu- aparelho teoremático e em sua organização do trabalho. "28 É
ramente imanente da linguagem, que descreve um campo puro assim, finalmente, que Mil/e plateaux chega mesmo a utilizar a
de imanência algébrica com seus fluxos de forma e de substârí- expressão "dualidade primordial" para situar a relação entre dois
cia, de conteúdo e de expressão, que perderam as condições de tipos de espaço: o espaço liso (vetorial, projetivo, topológico)
identidade mínima que definiam os elementos do significante.P e o espaço estriado (métricoj.ê?
É assim também que L 'anti-Oedipe, numa terminologia bem ca- O próprio Deleuze se dá conta de uma incompatibilidade,
racterística desse livro, assinala um conflito "libidinal" entre um para não dizer uma contradição, entre seu constante elogio da
elemento paranóico-edipianizante e um elemento esquizo- multiplicidade ou mesmo seu projeto de "fazer o múltiplo" ,30
revolucionário, que diz respeito às ciências e às artes de um mo- e a afirmação desse dualismo ou dessa dicotomia entre esses dois
do geral, ou, em outros termos, entre "um pólo de investimento espaços do pensamento. Neste sentido, Rhizome, que figura co-
reacionário, uma sombria organização paranóica-edipiana-nar- mo introdução de Mil/e plateaux, assinala que não existe dualis-
císica" e um pólo esquizo-revolucionário com seus fluxos deco- mo ontológico nem axiológico entre a raiz e o rizoma, conside-
dificados e desterritorializados próprios de uma arte e uma ciência rados como modelos do pensamento.ê! Mas o que a argumen-
consideradas como experirnentação.ê" É assim ainda que Mi/le tação elucida neste momento é apenas que a oposição não se dá
plateaux, generalizando uma idéia de La naissance de Ia phy'si- propriamente entre dois modelos, mas entre um modelo trans-
que dans le texte de Lucrêce, de Michel Serres - que valoriza cendente e um processo imanente; o que significa reconhecer que
a geometria de Arquimedes e
a física atômica de Demócrito a o dualismo continua a existir. Eis o que diz o texto ao qual es-
Lucrécio com seus modelos hidráulico e turbilhonar -, opõe tou me referindo: "O que conta é que a árvore-raiz e o rizoma-
dois tipo; de ciências rivais que interagem: as ciências legais, reais, canal não se opõem como dois modelos: um age como modelo
imperiais, centradas, ligadas ao aparelho de Estado, ciências de e decalque transcendentes, mesmo que engendre suas próprias
reprodução - dedução ou indução -, iteração e reiteração, ciên- fugas; o outro age como processo imanente que reverte o mode-
cias teoremáticas ou axiomáticas que separam suas operações da lo e esboça um mapa, mesmo que ele constitua suas próprias hie-
intuição para fazer delas verdadeiras categorias e realizar uma rarquias, mesmo que ele suscite um canal despóticov.P
reterritorialização no aparelho dos conceitos; as ciências meno- Mas Deleuze novamente se dá conta da dificuldade. É as-
res, excêntricas, nômades, ambulantes, itinerantes, desterritoria- sim que, para resolvê-Ia ou pelo menos explicitá-la, formula uma
lizantes, ligadas à máquina de guerra - como é o caso da geo- hipótese bastante semelhante à posição de Nietzsche, que, reco-
metria descritiva e projetiva e do cálculo diferencial -, que se- nhecendo toda oposição de valores como sendo metafísica e in-
guem um fluxo de matéria em um campo de vetores em que sin- teressado em superar as dicotomias, considera, no entanto, que
gularidades se repartem como problemas e subordinam suas ope- às vezes é a natureza grosseira da linguagem que condena a fa-
rações às condições sensíveis da intuição e da construção.ê? "No lar em termos de oposição quando na verdade só existem graus
campo de interação das duas ciências, as ciências ambulantes se e sutis transições.P "Outro ou novo dualismo, não. Problema
contentam em inventar problemas, cuja solução remeteria a to-
28. M.P., p. 463.
25. Cf. A.-Oe., pp. 287-288. 29. M.?, p. 619.
26. Cf. A.-Oe., pp. 444-446. 30. D., p. 23.
27. Cf. M.P., pp. 446-464. Segundo Logique du sens (9~ série, p.76), a oposição entre 31. M.P., p. 30.
uma concepção teoremática e uma concepção problemática da geometria já se encontra 32. M.P., p. 31.
no filósofo neoplatônico Proclus. 33. CL Para além de bem e mal, §§ 2 e 24.
12 DELEUZE E A FILOSOFIA A GEOGRAFIA DO PENSAMENTO 13

de escritura: é preciso absolutamente expressões 'anexatas' para ção de seu modo singular de filosofar. Assim, o privilégio de de-
designar alguma coisa exatamente. E de modo algum porque se- terminados filósofos em seus estudos monográficos é a tentati-
ria preciso passar por isso, e de modo algum porque só se pode- va de construir um "espaço ideal" - diferente do representado
ria proceder por aproximações: a 'anexatidão' não é uma apro- por Platão, Aristóteles, Descartes, Hegel.,; - que se organiza
ximação, é ao contrário a passagem exata daquilo que se faz. segundo outros princípios e pretende escapar dos pressupostos
Só invocamos um dualismo para recusar outro. Só nos servimos em que se acredita estar fundada a filosofia; é o projeto de criar,
de um dualismo de modelos para atingir um processo que recu- a partir de filósofos passíveis de entrar em relação, em comuni-
saria qualquer modelo. É preciso a cada vez corretores cerebrais cação, em ressonância num mesmo espaço, conceitos que expres-
que desfaçam os dualismos que não quisemos fazer, pelos quais sem ou tornem possível um novo pensamento, ou que tornem
passamos. Chegar à fórmula mágica que todos procuramos: PLU- o pensamento de novo possível, como diz Foucault em seu belo
RALISMO = MONISMO, passando por todos os dualismos que artigo sobre Différence et répétition e Logique du sens.36 Ora,
são o inimigo, mas o inimigo totalmente necessário, o móvel que a idéia de criação de um outro espaço do pensamento filosófi-
não cessamos de deslocar. "34 co, que já aparece nos livros monográficos, é perceptível bem
É difícil saber - e de todo modo é ainda bastante cedo pa- mais claramente nos livros problemáticos que, centrados nas ques-
ra decidir - se essa crítica do dualismo, realizada em nome do tões da diferença, do sentido, do desejo, da multiplicidade, es-
pluralismo mas obrigada a criar novas dualidades, é uma ques- tendem as ressonâncias aos saberes científicos, literários e artís-
tão terminológica, um problema de escritura, ou se aponta para ticos, sempre com o objetivo de opor "à imagem tradicional que
uma dificuldade conceitual constitutiva da filosofia de Deleuze a filosofia projetou, construiu no pensamento para submetê-lo
proveniente da inadequação entre suas propostas e seu funcio- e impedir o seu funcionamento" ,37 um exercício "intempestivo"
namento ou da diferença entre gritar "viva o múltiplo" e "fa- do pensamento, ou de opor à imagem do pensamento um pen-
zer o múltiplo". 35 samento sem imagem.
Não há dúvida de que a grande ambição de Deleuze é reali- Essa referência ao intempestivo nietzscheano - "contra o
zar, inspirado sobretudo em Bergson, uma filosofia da multipli- tempo, em favor, eu espero, de um tempo futuro" - aparece
cidade. Veremos isso posteriormente. Isso não impede, contu- em vários livros. Nietzsche et Ia philosophie defende que o filó-
do, como estam os vendo, que sua filosofia seja dualista no sen- sofo forma conceitos que nem são eternos nem históricos, mas
tido preciso de situar o pensamento, de modo geral, em dois es- intempestivos e inatuais.V Différence et répétition desclassifica
paços não apenas diferentes, mas antagônicos. Assinalei como a alternativa temporal-intemporal, histórico-eterno, particular-
a geografia do pensamento estabelece os dois espaços da litera- universal, considerando o intempestivo mais profundo do que
tura e da ciência. Vejamos como ela opera com relação ao pen- o tempo e a eternidade.I? Mil/e plateaux identifica claramente
samento filosófico. o geográfico ao intempestivo, procurando dar a partir deste ter-
A relação entre criação de conceitos e tradição filosófica, mo um sentido à oposição da geografia à história.é?
como a realiza Deleuze, consiste em erigir o modelo - ou o pro- A idéia de uma oposição entre dois espaços do pensamento
cesso - de pensamento de determinados filósofos como condi- aparece praticamente em todos os livros de Deleuze. Différence
et répétition afirma, por exemplo, que "é mesmo toda a ima-
34. M.P., p. 31.
35. DeJeuze utiliza essas expressões em Dialogues (p. 23) para estabelecer uma diferença 36. Cf. "Theatrurn philosophicum", Critique, n? 282, novo 1970, p. 907.
entre L 'anti-Oedipe, onde pela primeira vez teria exercido o pensamento, e seus livros 37. D., p. 23. .
anteriores, em que se teria limitado a descrever o exercício do pensamento. Não penso, 38. Nietzsche et Ia philosophie (N.Ph.), pp. 122-123.
no entanto, que haja, sob esse aspecto, diferença relevante entre seus livros, que, ao 39. D.R.,.l" 3.
contrário, me parecem apresentar uma identidade surpreendente no que diz respeito ao 40. M.P., p. 363.
essencial de seu pensamento. 41. Différence et répétition (D.R.), 4~ capa.
A GEOGRAFIA DO PENSAMENTO 15
14 DELEUZE E A FILOSOFIA
paço do pensamento sem imagem, que é pluralista.é" heterodo-
gem do pensamento que é destronada em proveito de uma outra xo, ontológico, ético, trágico.
imagem, ou talvez de um pensamento sem imagem, .puramente
diferencial e repetitivo" .41 E Mil/e plateaux, para ficar apenas
neste outro livro, que denomina "noologia" o estudo das ima- Como se dá a relação entre filósofos privilegiados por ex-
gens do pensamento e de sua historicidade.f- enuncia esse anta- pressar um estilo intempestivo de pensamento que permite a cria-
gonismo com uma terminologia tão abundante e variada que vale ção do espaço ideal alternativo do pensamento sem imagem? Es-
a pena reproduzir. "No curso de uma longa históri~, ,o Estad? tabelecendo uma analogia com a colagem na pintura - que é
foi o modelo do livro e do pensamento: o logos, o tílósofo-reí. uma composição feita de elementos diversos ou materiais varia-
a transcendência da Idéia, a 'interioridade do conceito, a repú- dos colados em uma tela - e em alusão a um dos domínios de
blica dos espíritos, o tribunal da razão, os funcionárlos do pen- expressão do movimento dadaísta (1915-1923) de Arp, Picabia,
samento, o homem legislador e sujeito. "43 "E todo o pensamen- ~ Duchamp, Man Ray, Max Ernest. .. , Deleuze dirá, no texto mais
to que é devir, um duplo devir, em vez de ser o atributo de um explícito sobre o assunto, que essa relação é do tipo de uma co-
sujeito e a representação de um todo."44 "Um pensamento em lagem: "A pesquisa de novos meios de expressão filosóficos foi
luta com as forças externas em vez de estar recolhido em uma inaugurada por Nietzsche e deve ser continuada em relação com
forma interior, operando por revezamento em vez de formar uma a renovação de algumas outras artes, como por exemplo o tea-
tro e o cinema. A esse respeito, podemos desde já colocar a ques-
imagem, um pensamento-acontecimento, 'hecceidade', em vez
tão da utilização da história da filosofia. Parece-nos que a his-
de um pensamento-sujeito, um pensamento-problema em vez de tória da filosofia deve desempenhar um papel bastante análogo
um pensamento-essência ou teorema, um pensamento que apela ao de uma colagem em uma pintura. A história da filosofia é
para um povo em vez de se crer um ministério. "45 Um "pensa- a reprodução da própria filosofia. Seria preciso que a resenha
mento nômade" ,46 um "contrapensamento", um "pensamen- em história da filosofia agisse como um verdadeiro duplo e com-
to do de fora", "a forma de exterioridade do pensamento - portasse o máximo de modificação própria ao duplo. (lmagina-
a força sempre exterior a si mesma ou a última força, a enésima se um Hegelfilosoficamente barbudo, um Marxfilosoficamen-
potência - não é, de modo algum, uma outra imagem que se te glabro, do mesmo modo que uma Gioconda bigoduda.) Seria
oporia à imagem inspirada no aparelho de Estado. E, ao con- preciso descrever um livro real da filosofiapassada como se fos-
trário, a força que destrói a imagem e as cópias, o modelo e suas se um livro imaginário e fingido". 49
reproduções, toda possibilidade de subordinar o pensamento a Aí está a razão por que Deleuze não pode ser considerado
um modelo do Verdadeiro, do Justo ou do Direito (o verdadei- propriamente um historiador da filosofia. Para ele, repetir um
ro cartesiano, o justo kantiano, o direito hegeliano, etc.)". 47 texto não é buscar sua identidade, mas afirmar sua diferença.
Podemos, portanto, dizer que, de modo geral, a genealogia ou A leitura dos filósofos - e não apenas dos filósofos - que ele
a geografia deleuzeana descobre ou estabelece duas dimensões, realiza age, atua, interfere com o objetivo de produzir um du-
ou melhor, dois espaços: o espaço da imagem do pensamento, plo. Deslocamento, disfarce, dissimulação, recriação são senti-
que é dogmático, ortodoxo, metafísico, moral, racional. .. o es- dos correlatos de sua idéia do livro de filosofia como "ficção

48. "Com Epicuro e Lucrécio começam os verdadeiros atos de nobreza do pluralismo


em filosofia" (L.S., p. 362)."Os filósofos-cometas souberam fazer do pluralismo uma
41. Différence et répétition (D.R.), 4~ capa.
arte de pensar, uma arte crítica" (N.Ph., p. 121)."A filosofia de Nietzsche só é com-
42. Cf. M.P., p. 466. preendida se se considera seu pluralismo essencial ... Hegel quis ridicularizar o pluralis-
43. M.P., p. 36. mo" (N.Ph., p. 4). Malgrado esta crítica a Hegel, Deleuze se servirá de uma passagem
44.M.P., p. 470. da Fenomenologia do espírito que diferencia as verdades filosóficas da maneira dogmá-
45, M.P., p. 469. tica de pensar (cf. D.R., p. 195,nota).
46. M.P" pp.36, 469. 49. D.R., p. 4.
47. M.P., p. 467.

.-
16 DELEUZE E A FILOSOFIA A GEOGRAFIA DO PENSAMENTO 17
científica", que aparece no prefácio de Différence et repetuion.» imediata com o de fora, seja atravessado por um movimento que
Sua leitura é claramente organizada a partir de um ponto de vis- v~m de fora,56 ou mesmo que a multiplicidade seja um princí-
ta, de uma perspectiva que faz o texto estudado sofrer pequenas pIO fundamental no sentido em que os fragmentos de uma obra
ou grandes torções a 'fim de ser integrado a suas próprias inter- devam manter entre eles uma relação de diferença sem fazer re-
rogações. ferência a uma unidade ou uma totalidade, isso não significa que
Daí a relevância da idéia de colagem. Falar de colagem a a filosofia de Deleuze não forme um sistema. É assim, por exem-
respeito do pensamento filosófico significa dizer que o texto con- plo, que todas as suas leituras de filósofos são sistemáticas. 57
siderado é muitas vezes extraído de seu contexto, ou melhor, que Não só as de Kant e Espinosa; mas até mesmo a de Nietzsche,
os conceitos - considerados como objetos de um encontro, co- certamente um dos filósofos menos sistemáticos que existem.
mo um aqui e agora, como coisas em estado livre e selvagem>' Além d~sso, no plano mais geral, a inter-relação conceitual que
- são utilizados como instrumentos, como técnicas, como ope- e~sas leituras estabelecem resulta de uma concepção do exercí-
radores, independentemente das inter-relações conceituais pró- CIOdo pensamento que também se formula de um modo siste-
prias do sistema a que pertencem. Citando um poema de Bob mático, mesmo que seja, como mostrarei, um sistema aberto.
Dylan que proclama "Sim, sou um ladrão de pensamentos" ,52 A colagem estabelece ressonâncias, produz uma inflexão de lei-
Dialogues faz uma apologia do "roubo", da "captura", e ex- tura que se deve à ação do pensamento sistemático que busca
plicita esse procedimento de leitura defendendo que' 'não se de- definir um espaço.
ve procurar se uma idéia é justa ou verdadeira. Dever-se-ia pro- Foucault, no artigo citado sobre Deleuze, diz que sua filo-
curar uma idéia totalmente diferente, em outra parte, em outro sofia éum teatro filosófico que faz os filósofos revirem à cena
domínio, tal que alguma coisa passe entre as duas". 53Idéia que como máscaras de suas próprias máscaras, pois no fundo - co-
já aparecia em Différence et répétition quando afirmava que' 'o mo Nietzsche sabia - tudo é máscara; teatro onde, por exem-
que é primeiro no pensamento é o roubo" ,54 e será novamente plo, sob a máscara de Sócrates explode o riso do sofista, ou on-
explicitada em Mil/e plateaux: "Não se deve perguntar o que quer. de Duns Scot aparece com o bigode de Nietzsche, fantasiado de
dizer um livro, significado ou significante, deve-se perguntar com Klossowski.ãê Esta é, sem dúvida, uma boa maneira de ilustrar
que ele funciona, em conexão com que ele faz ou não passar in- esse procedimento de colagem. E será justamente a compreen-
tensidades, em que multiplicidades ele introduz e metamorfoseia são da amplitude e do modo de funcionamento desse procedi-
a sua, para que corpos sem órgãos ele faz o seu convergir". 55 mento, que modifica o texto produzindo seu duplo ou transfor-
Toda leitura tem um caráter instrumental. É assim que mui- mando o real em imaginário, fingido ou inventado, que possibi-
tas vezes nos surpreendemos em vê-lo roubar uma idéia, um con- litará explicitar o diferencial próprio ao pensamento de Deleu-
ceito de uma filosofia que, quando pensada em seu conjunto, ze, o que constitui sua singularidade.
se encontra nos antípodas das posições que defende sua própria Desse modo, a relação entre Deleuze e a filosofia tem basi-
filosofia. Mas realizar uma colagem ou produzir um duplo não camente dois aspectos: sua leitura dos filósofos; a constituição
significa insurgir-se contra o sistema. Significa desembaraçar, de- de seu próp~io pensamento filosófico. O que não significa, no
semaranhar os conceitos de seus sistemas de origem para criar e1!tanto, dOISaspectos fundamentalmente heterogêneos na me-
um novo sistema. Mesmo que o pensamento tenha uma relação dida em que seus estudos monográficos são sempre guiados por
sua problemática filosófica e, inversamente, sua filosofia é so-
50. CL D.R., p. 3.
bretudo o resultado de inter-relações conceituais realizadas a partir
51. CL D.R., p. 3.
52. D., p. 13.
53. D., p. 16. 56. CL "Pensée nomade", in Nietzsche aujourd'hui, I, pp. 165-168.
54. D.R., p. 258. 57. Cf., por exemplo, A.-Oe., pp. 50-52.
55.M.P., p. 10. 58. Cf. Critique, n~ 282,pp. 907-908.
DELEUZE E A FILOSOFIA
A GEOGRAFIA DO PENSAMENTO 19
r
.1
18 I
i
II
de suas leituras filosóficas. Neste sentido, analisar a filosofia de princípio do alto que é princípio do Bem e da Verdade, princí-
Deleuze é responder a uma dupla questão, ou a uma questão cir- pio metafísico e epistemológico. "A altura é o oriente propria- 'I
cular: como o âmago de seu pensamento filosófico singular ser- mente platônico.vs? No outro extremo, Nietzsche, o anti-Platão,
ve de princípio de leitura dos filósofos? Como os filósofos agen- aquele que mais radicalmente duvidou dessa orientação pelo al-
ciados pela colagem explicam a formação de seu sistema filosó- to e questionou se, em vez de significar a realização da filosofia,
fioo? 3
ela não seria, ao contrário, sua degenerescência; Nietzsche, pa-
Percorrendo e integrando os dois aspectos dessa relação es- ra quem defender o privilégio da profundidade contra a altura ;, ii
tá como vimos, a dualidade dos tipos de filosofia. O que, en- significa afirmar a impossibilidade de um ponto de partida, de : ,
tão, possibilita Deleuze estabelecer essa dicotomia entre duas um fundamento. Não foi efetivamente ele quem afirmou que
orientações básicas do pensamento e apresentar uma delas co- "atrás de toda caverna há outra mais profunda, um mundo mais
mo uma alternativa radical? Ou melhor, qual O critério que lhe vasto, mais estranho, mais rico sob a superfície, um abismo abai-
permite isolar duas vertentes na história da filosofia, considerá- xo de todo fundo, além de toda fundação"?61
Ias antagônicas e escolher uma das orientações como modelo de Não se pense, no entanto, que esse privilégio da profundi-
seu próprio pensamento? A resposta pode ser dada imediatamen- dade com relação à altura significa uma oposição à superfície,
te: a filosofia de Nietzsche. pois a grande ambição de Nietzsche é justamente abolir a oposi-
A filosofia de Nietzsche é, em sua inspiração fundamental, ção tradicional entre superfície e profundidade. Não foi ele quem
uma tomada de posição com respeito à própria filosofia. No Cre- disse dos artistas da Grécia arcaica: "os gregos eram superficiais...
púsculo dos ídolos, por exemplo, ele assinala, de modo lapidar, por profundidade"?62 Segundo Deleuze, o encontro de Nietzs-
as grandes etapas de sua história - Platão, a filosofia cristã, che com a profundidade só foi realizado por uma conquista da
Kant, o positivismo -, define-as como o platonismo da f~los~- superfície. E neste sentido ele retoma uma idéia que Foucault
fia e se insurge contra toda a orientação do pensamento filosó- havia exposto em "Nietzsche, Freud, Marx" , segundo a qual a
fico desde Platão.59 A filosofia de Nietzsche é, como ele mes- filosofia de Nietzsche é uma crítica da profundidade sim, mas
mo a denominou, uma "reversão do platonismo" . Pois é justa- da profundidade pura, ideal, da profundidade da consciência,
mente a problemática da reversão do platonismo , interpretada crítica essa que pretende justamente restituir a idéia de profun-
como crítica da filosofia da representação e denominada "per- didade como segredo absolutamente superficial ou descobrir a
versão do platonismo" ,que constitui o centro a partir do qual profundidade como sendo apenas uma dobra da superfícíe.O O
gravitam as análises histÓrico-filosóficas de Deleuze e inspira toda mais profundo é a pele, diz a bela expressão de Valéry que De-
a elaboração de seu pensamento filosófico. leuze gosta de citar .
.A dualidade entre dois tipos de filosofia tem, por conseguin- A referência a Nietzsche é essencial para se compreender a
te, Nietzsche e Platão como pólos opostos. É o que transparece, démarche deleuzeana de crítica da filosofia e busca de um espa-
por exemplo, quando Logique du sens formula a idéia de uma
dupla orientação - pelo alto e pela profundidade - que carac- 60. L.S., 18~série, p. 173.
teriza as duas imagens antagônicas da filosofia. Num extremo, 61.Nietzsche, Para além de bem e mal, § 289.
62. Nietzsche contra Wagner, "epílogo", § 2. Deleuze sugere que essa afirmação de Nietzs-
Platão com quem nasce a imagem do filósofo como ser das as- che aplica-se particularmente aos estóicos. O que não significa, de todo modo, que ela
censões, como aquele que sai da caverna, se eleva e se purifica se refira a eles. (Cf. L.S., p. 175).
na medida em que se eleva. Segundo essa orientação, a opera- 63.Cf. Nietzsche, Cahiers de Royaumont, pp. 186-187; L.S., p. 175.Deleuze se apro-
pria também da crítica de Michel Toumier à posição que valoriza a profundidade em
ção filosófica é ascensão, conversão, movimento de volta ao detrimento da superfície, isto é, à concepção segundo a qual superficial significaria de
pouca profundidade e não de vastas dimensões e profundo, de grande profundidade e
59. Crepúsculo dos ídolos, "Como o mundo verdadeiro converteu-se em fábula. Histó- não de pouca superfície. (Cf. Vendredi ou les limbes du Pacifique, 10-18, pp. 68-69;
L.S., p. 20, nota).
ria de um erro".
DELEUZE E A FILOSOFIA A GEOGRAFIA DO PENSAMENTO 21
20

ço alternativo, ou melhor, como veremos J?o~te!iormente, ~e crí- ficos ou da orientação geral de um pensamento a delimitação é
tica da filosofia da representação e constítuiçao de uma filoso- nítida, ao nível molecular dos elementos ou dos conceitos com-
fia da diferença. Há, porém, uma importante diferença n~ mo- ponentes a comunicação entre esses espaços é freqüente. Isto sig-
do como os dois realizam uma genealogia da filosofia. E que nifica que até mesmo os filósofos que estão situados no espaço
Nietzsche praticamente não reconhece aliados. Ele p~~sa sua pro- da representação são objeto de um roubo de conceitos que des-
blemática como radicalmente diferente da problemática de qual- faz a teia conceitual em que estão inseridos ou desconsidera al-
quer outro filósofo e sempre procurou, em ~ua tr~etória filosó- gumas das conseqüências que acarretam nas teorias filosóficas
fica intensificar essa diferença. Neste sentido, nao parece cor- em que foram produzidos. Livros como Différence et repétition,
reto' afirmar como faz Deleuze, que Nietzsche se interessa pou- Logique du sens, L 'anti-Oedipe, Mille plateaux fazem isso o tem-
co pelo que ~contece depois de PlatãO.64 Não foi justament~ ele po todo. Os dois filósofos que mais servem a Deleuze neste sen-
quem estabeleceu as etapas da história da filosofia como histó- tido, e que portanto ocupam uma posição bastante singular em
ria do platonismo no texto do Crepúsculo dos ídolos, que atesta seu pensamento, são Kant e Leibniz. Perante eles sua posição
para Heidegger como Nietzsche, a despeito de sua vontade d.e é quase sempre a de um sim ... mas, bastante característico do
subversão, guardava uma consciência lúcida de tudo o que tr- procedimento de colagem. Se, por um lado, seus livros estão
nha precedido,65 e que inclusive deve ter inspirad.o I?e!euze quan- cheios de virulentas críticas a eles, que fundamentalmente con-
do afirmou que "a história do longo erro é a hIst~ma da r~pre- sistem em explicitar por que são expoentes da filosofia da repre-
sentação"?66 E não é o pr~prio Del.euze quem dIZ,.em Nietzs- sentação, por outro lado, idéias importantes de sua filosofia se
che et Ia philosophie, que Nietzsche tmha um conhecimento pro- esclarecem pelo modo como esta integra ou rouba deles aquilo
fundo do movimento hegeliano e até mesmo que se compreende que considera instrumento para a formulação de uma teoria da
maio conjunto de sua obra se não se leva em consideração con- diferença, mesmo que lhe seja necessário operar pequenas ou
tra quem são elaborados seus principais co~ceitos?67O q~e aco~- grandes torções que minimizam ou desconsideram implicações
tece é que a característica marcante de Nietzsche, e daí s~a SI- que os conceitos têm nos sistemas de origem ou os corrigem a
tuação singular na história da filosofia, é q~e pa~a ele, mais do partir de outros conceitos.s" Mas, na verdade, em maior ou me-
que para qualquer outro pensador, pensar afIrmatIvamente acar- nor grau, esta posição se generaliza a todos os filósofos, com
reta necessariamente pensar contra todos, ou melhor, contra tu- uma única exceção: Nietzsche.
do que foi pensado desde Platão. . , Esta é a razão por que considero ser possível dizer, para es-
Deleuze não. Sua geografia do pensamento agrupa os filó- clarecer o funcionamento da filosofia de Deleuze, que, partindo
sofos em espaços antagônicos tomando como critério ger~ a pr~- de Nietzsche como critério de avaliação, o estilo filosófico de-
blemática da representação e da diferença. Para ele, existem fi- leuzeano consiste em lhe encontrar aliados em graus diferentes,
lósofos que de modo geral estão excluídos do espaço em que pre- estabelecendo conexões entre conceitos de filósofos que mere-
tende situar seu pensamento. É o caso de Platão, Aristóteles, ~es- cem figurar no espaço de uma filosofia da diferença. O que sig-
cartes, Leibniz, Kant, Hegel, os grandes representantes da Ima- nifica que o dualismo proposto por Deleuze para distinguir re-
gem tradicional da filosofia como filosofia da representação. E presentação e diferença não é total. E significa também que
existem filósofos ao lado de quem ele pensa: fundamentalmente Nietzsche é o momento de maior radicalidade da crítica da ima-
Nietzsche mas também os estóicos, Lucrécio, Espinosa, Hume,
Bergson, Foucault. .. Mas se ao nível molar dos sistemas filosó- 68. Com relação a Leibniz, essa posição é evidente em livros como Différence et répéti-
tion, Logique du sens, Spinoza et te problême de l'expression, mas não mais em Le pli.
Leibniz et te barroque, onde, mudando de perspectiva, apresenta Leibniz como um filó-
64. L.S., p. 175.
cr.
65.Cf. M. Heidegger, Nietzsche, I, trad. franc., p. 183. sofo da diferença, com o qual seu acordo seria total se não fosse o último parágrafo,
em que, apesar de se considerar leibniziano por causa da teoria da dobra, Deleuze colo-
66. D.R., p. 385.
ca suas reticências apontando as mudanças que o leibnizianismo teria sofrido.
67. N.Ph., p. 187.
22 DELEUZE E A FILOSOFIA

gem ou da representação. Mas não se deve esquecer que sua lei-


tura de Nietzsche é a criação de mais uma máscara e neste senti-
do não só a leitura dos outros filósofos incide sobre o seu Nietz-
sche, como também a dos comentadores, que de um modo geral
tem uma importância muito grande nas interpretações deleuzea-
nas. De todo modo, é, em última análise, a problemática nietzs- ()

cheana da reversão do platonismo que esclarece a situação, no


texto deleuzeano, de determinados filósofos e de determinados
conceitos elaborados. por esses filósofos ou reelaborados, a par-
tir deles, por Deleuze, e que apontam na direção de uma ativi-
dade filosófica diferente do estilo de filosofia "majoritário" desde
Platão. Deleuze tem o sentimento nietzscheano de um niilismo
do pensamento que domina, entre outros setores, a filosofia. Mas,
diferentemente de Nietzsche, este sentimento não é total ou ra-
dical. Assim, ao afirmar que Nietzsche se interessou pouco pela 1~ PARTE
história da filosofia, como se estivesse sugerindo que sua avalia-
ção dos filósofos não é inteiramente justa ou correta, o que de
fato está querendo é justificar ou legitimar seu próprio projeto o NASCIMENlO DA REPRESENTAÇÃO
de uma geografia do pensamento que busca contra-exemplos ou
tentativas de escapar do niilismo da história dos saberes, encon-
trando deste modo aliados para Nietzsche. Elaborar ou reelabo-
rar uma filosofia da diferença significa Concretamente estabele-
cer uma ponte, um canal, uma ligação entre Nietzsche e os ou-
tros que podem, de um modo ou de outro, mais ou menos, ser
aproximados de sua filosofia. Assim, mais do que prenunciar
um novo pensamento, a filosofia de Deleuze é uma suma de "no-
vos" pensamentos já existentes que ele recria e relaciona com
o objetivo de construir um espaço diferencial do pensamento.

..".

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