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Resumo
Este artigo trata-se de um estudo de caso sobre a utilização do Custeio Baseado em Atividades
(ABC) em uma indústria de medicamentos situada no norte de Minas Gerais. O estudo teve
como objetivo avaliar o uso do método nesta empresa, a fim de identificar se a proposta
teórica do ABC é aplicada na empresa da mesma forma, e identificar oportunidade de
melhorias. O artigo é iniciado com uma breve introdução sobre o cenário macroeconômico
nas últimas décadas, e alguns pontos levantados por autores sobre a importância da
contabilidade gerencial. Em seguida é feita a revisão da literatura sobre as principais
características do ABC, vantagens e possíveis limitações, e por último o estudo de caso
apresentando a forma como a empresa utiliza o método.
Abstract
This article is about a case study on the use of Activity-Based Costing (ABC) in a drug
industry located in the north of Minas Gerais. The study aimed to evaluate the use of the
method in this company, in order to identify if the theoretical proposal of ABC is applied in
the company in the same way, and identify opportunities for improvement. The article starts
with a brief introduction regarding the macroeconomic scenario in recent decades, and some
points raised by authors about the importance of managerial accounting. Then the literature
review on the main characteristics of ABC, advantages and possible limitations, and finally
the case study showing how the company uses the method.
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Mestranda em Desenvolvimento Econômico e Estratégia Empresarial no PPGDEE/Unimontes. E-mail:
jessicapsmoc@yahoo.com.br
1 INTRODUÇÃO
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2 REFERENCIAL TEÓRICO
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Drury (2012) apresenta um breve resumo das etapas para implementação do ABC:
• Identificar as principais atividades que ocorrem em uma organização;
• Atribuir custos aos centros de custo de cada atividade;
• Determinar o direcionar de custo para cada atividade principal;
• Atribuir o custo das atividades aos produtos de acordo com a demanda de atividades.
1ª etapa de alocações
2ª etapa de alocações
(mão de obra direta
ou h. máquina)
Conforme fluxo descrito acima, no custeio tradicional os custos indiretos são alocados
a centros de custo, e em seguida os custos alocados aos centros de custo são alocados aos
objetos de custo usando as bases de alocação escolhidas, que em geral são a mão de obra
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direta ou as horas máquina. Drury (2012) afirma que métodos tradicionais de custeio tendem
a utilizar um pequeno número de bases na segunda etapa de alocações (como mão de obra
direta ou horas máquina), pois consideram que estes tem grande influência no nível de custos
indiretos em longo prazo. Outros tipos de bases de alocação na segunda etapa podem ser o
custo da mão de obra direta, custos com materiais diretos e quantidades produzidas.
Primeira etapa de
alocações
(Direcionadores de
custo)
Segunda etapa de
alocações
(Direcionadores de
custo das atividades)
O método ABC difere do método tradicional por ter um maior número de centros de
custo na primeira etapa. Drury (2012) destaca que durante o processo de alocação por meio do
ABC, dependendo do tipo de negócio, os centros de custo de atividade podem acabar sendo os
mesmos centros de custo departamentais utilizados pelo método de custeio tradicional.
Na segunda etapa em geral também há uma quantidade maior de direcionadores de
custo comparado aos métodos de custeio tradicionais, incluindo direcionadores de custo não
relacionados ao volume, como número de ordens de compra, ou número de execuções de
produção para os acordos produtivos.
Já Nakagawa (1994) afirma que a quantidade de direcionadores de custo depende
basicamente de fatores como: Os objetivos da empresa (Redução de custos, melhoria de
qualidade, tempo de entrega) que se deseja alcançar através do ABC, da participação relativa
dos custos indiretos das atividades agregadas, da complexidade operacional da empresa em
termos de produtos e clientes, e da disponibilidade de recursos da empresa. O autor destaca
três fatores importantes que devem ser considerados na escolha de direcionadores de custo:
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• Facilidade /dificuldade na coleta e processamento dos dados relativos aos
direcionadores;
• O grau de correlação com o consumo de recursos;
• E os efeitos comportamentais, que é o critério que oferece o maior grau de risco na
escolha, pois estes serão utilizados na avaliação de desempenho das atividades.
Drury (2012) destaca que o ABC pode medir com maior precisão os recursos
consumidos pelos objetos de custo comparados aos métodos tradicionais, que utilizam
direcionadores de custo onde não existem relações de causa e efeito ao atribuir custos
indiretos aos objetos de custo.
Sobre a questão da quantidade de detalhe das atividades, Nakagawa (1994) destaca
que a análise de atividades relevantes requer um detalhamento muito grande, e que só assim
se chegará a conclusão de como eliminar ou minimizar atividades que não agregam valor aos
clientes. Por outro lado, o autor destaca que nem sempre os gestores necessitam de um
detalhamento tão profundo para medir a eficiência e eficácia das atividades.
Hansen e Mowen (2007) afirmam que embora a tecnologia da informação é capaz de
lidar com os volumes de detalhes de atividades do ABC, pode haver algum mérito em reduzir
o número de atividades, como relatórios mais legíveis e gerenciáveis e gastar menos tempo
com a coleta de dados. Menos atividades também podem reduzir a complexidade do ABC,
aumentando a probabilidade de aceitação gerencial.
Neste contexto, Nakagawa (1994) apresenta a solução de se trabalhar com conceitos
de micro e macro atividades. As primeiras trabalham com mínimos detalhes e as últimas com
informações mais agregadas. Na prática, as micro atividades são utilizadas para o Kaizen, e as
macro atividades para o custeio dos produtos.
Drury (2012) afirma que um robusto método ABC gerará produtos mais precisos, no
entanto, o custo de implementação e operação de um sistema ABC é significativamente mais
caro do que operar um custeio direto ou outros modelos tradicionais de custeios,
comprometendo o uso do ABC em micro e pequenas empresas, por exemplo. Entretanto, o
autor relata que se o custo de escolha de decisões inadequadas através de informações
distorcidas por meio dos métodos diretos e tradicionais, for mais alto que o custo da
implementação do ABC, neste caso é preferível implementar o Custeio Baseado em
atividades.
Diante de todo o conteúdo exposto, fatores positivos e complexidades do método
ABC, torna-se necessário analisar com detalhes as vantagens e desvantagens deste método de
Custeio.
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Apud WERNKE (2005).
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manufatura, como administrativas. Para os autores outra vantagem do ABC é que o produto é
custeado com base na capacidade utilizada, sendo a capacidade ociosa isolada, não
incorporando o custo do produto ou serviço.
Martins (2003) destaca que uma das vantagens do ABC é de não restringir a análise ao
custo do produto e sua lucratividade. O autor argumenta que a análise do ABC permite que os
processos ocorridos na empresa sejam custeados, pois as atividades dos processos se inter-
relacionam. Neste contexto, o ABC possibilita a visualização das atividades que podem ser
melhoradas, reestruturadas, ou eliminadas no processo, de forma a melhorar a criação de valor
do negócio.
Guerreiro (2001) faz uma crítica ao método de custeio baseado em atividades com
relação à geração de informações para análise de rentabilidade no âmbito empresarial,
destacando que diversos estudiosos argumentam que todo o processo de análise e decisão
enfocando rentabilidade analítica dos produtos deve estar fundamentado a partir de
informações baseadas no método de custeio variável, com utilização do conceito de margem
de contribuição, levando em consideração a existência de fatores restritivos de produção.
Guerreiro (2001) acrescenta que o ponto focal que desqualifica a utilização do ABC
para tomada de decisões de rentabilidade é fundamentalmente o processo de rateio de custos e
despesas fixas aos produtos, e nesse contexto, esse sistema equivale ao tradicional método de
custeio por absorção, diferindo apenas no que diz respeito à forma operacional de alocação
dos custos fixos aos produtos.
Walther e Skousen (2009) citam como limitação do ABC, o fato de que os relatórios
externos devem ser baseados no custeio por absorção, que requer uma divisão tradicional
entre o custo do produto e período, com os estoques absorvendo todo o custo da manufatura.
Para os autores, neste caso o ABC pode gerar resultados que diferem do requerimento de
custeio do princípio contábil, mas que o ABC tem sido utilizado como um método gerencial
complementar para tomada de decisões gerenciais internas. Sendo assim, as empresas que
desejam utilizá-lo devem manter dois métodos de custeio. Também é destacado sobre as
limitações do ABC por ser tecnicamente complexo e por ter custo elevado para
implementação.
Catelli e Guerreiro (1994)3 apresentam algumas limitações do ABC, como:
O método não muda a realidade dos fatos, de que a grande parcela dos custos indiretos
é de natureza fixa.
A alocação dos custos fixos por meio de direcionadores de custo está sujeito a
subjetividade assim como ratear os custos proporcionalmente à mão de obra direta.
Todas as atividades apresentam diferentes níveis de volume, portanto teremos
diferentes custos unitários por atividade com diferentes níveis de volume por meio do
ABC.
Com o emprego de tecnologias mais modernas de produção, os custos fixos tem
aumentado proporcionalmente aos custos variáveis, desta forma o ABC pode conduzir
a resultados incorretos.
O Custeio baseado em atividades faz com que se transformem custos fixos em custos
variáveis, pois quando se apura o custo fixo unitário, é modificada a real natureza do
custo, gerando informações distorcidas.
O processo de rateio de custos fixos impossibilita a comparação entre os custos de
empresas concorrentes.
O método ABC não aborda conceitos avançados de mensuração, como valor
econômico, custos de oportunidade, dentre outros.
3
Apud WERNKE (2005).
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Desta forma, nota-se por meio dos teóricos que abordam sobre o ABC, que existem
vantagens e limitações do método. Desta forma, faz-se necessário a análise de um caso real,
mostrando como a empresa aplica o método, se está de acordo com o proposto na teoria, e se
as vantagens e limitações também se refletem na empresa em questão da mesma maneira
como apresentado neste trabalho, conforme críticas dos teóricos abordados.
O estudo de caso foi realizado na indústria farmacêutica Life (nome fictício a fim de
manter confidencialidade das informações da empresa), que atua na produção de
medicamentos. Localizada no norte de Minas Gerais, esta indústria atende principalmente o
mercado externo, com escritórios de vendas em diversos países.
O uso do método de Custeio Baseado em Atividades é de suma importância para a
empresa, uma vez que o reporte e acompanhamento dos custos dos produtos ficam alinhados
com as informações das demais filiais e da matriz. Por meio do ABC a empresa consegue
verificar o efetivo consumo dos recursos da área administrativa pelos três principais produtos
da empresa, que aqui chamaremos de produtos 1, 2 e 3.
O fluxo abaixo mostra as principais atividades do ABC da empresa na alocação dos
custos diretos aos seus produtos:
Enchimento
Inspeção
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No processo de alocação de custos indiretos, a empresa aloca os custos das atividades
das áreas suporte, como Recursos Humanos, Finanças, Manutenção, Qualidade, Tecnologia
da Informação, e Compras e contratos. É utilizado como direcionador de custo a quantidade
de empregados destas atividades, que trabalham de forma indireta aos produtos, onde a
distribuição ocorre com base na representatividade dos empregados das atividades diretas.
Este tipo de critério para alocação foi definido com base nos seguintes argumentos: a
quantidade de custos diretos em geral são maiores que os indiretos no grupo, a maior
quantidade de empregados estão alocados diretamente aos produtos, e o processo de alocação
dos custos indiretos com base em somente um direcionador de custo simplifica o processo de
custeio, visto que os custos diretos são mais relevantes.
Além disso, é importante para empresa manter este processo, pois estará apresentando
dados de acordo com o padrão estabelecido pela matriz, assim podem ser feitas análises de
custo da unidade do Norte de Minas, comparando com os custos das demais fábricas do grupo
em outros países, de forma que auxilie o grupo na tomada de decisões sobre quais unidades
fabris devem receber menor ou maior volume de produção.
Este processo é demonstrado com maior clareza no fluxo abaixo:
Formulação
Enchimento
Inspeção
De acordo com o fluxo, o percentual de rateio dos custos indiretos das áreas de suporte
é distribuído aos produtos com base no percentual de empregados diretos de cada produto,
sendo que o produto 1 recebe uma quantidade maior de custos indiretos por possuir maior
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número de empregados diretos. Os produtos 2 e 3 possuem a mesma quantidade de
empregados diretos, sendo assim o impacto dos custos indiretos é o mesmo para os dois
produtos. Após distribuição dos custos indiretos, adicionando aos custos diretos já
distribuídos, a empresa encontra o custo total de cada um de seus produtos.
Percebe-se que o método ABC utilizado pela empresa em questão parcialmente difere
da proposta da teoria deste método, visto que a etapa dos custos indiretos está mais próxima
dos métodos de custeio tradicionais, ao usar somente um direcionador de custo, sem avaliar
outros possíveis direcionadores que poderiam melhor adequar e distribuir os custos indiretos
da empresa.
Neste aspecto, a empresa deixa de obter mais detalhes das alocações de seus custos às
atividades, que poderiam melhor auxilia-la nas tomadas de decisões. Além disso, existe um
risco de a alocação de custos utilizando somente a quantidade de funcionários como
direcionador não estar refletindo a realidade, pois alguns produtos podem estar absorvendo
maior ou menor custo do que deveriam, se comparado ao uso de outros tipos variados de
direcionadores por processo, por exemplo: Quantidade de pedidos de compra para cada área,
quantidade de lotes, horas demandadas por setor, dentre outras.
Entretanto, nesta empresa o volume de custos diretos é superior aos diretos, fato que
em partes, justifica a escolha deste formato simplificado do método. Como a quantidade de
processos de áreas indiretas é muito extensa, a empresa considera viável o uso deste formato,
a fim de trazer menos complexidade para o processo de alocação de custos, evitando assim
recursos adicionais para condução do ABC detalhado em micro atividades.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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indiretos. Os mercados estão cada vez mais competitivos, e apesar de os custos indiretos
serem menos significativos que os diretos, pode haver possibilidades de redução de custos
indiretos ao aplicar o método ABC, pois a empresa teria uma visão mais detalhada das micro
atividades, o que proporcionaria um cenário mais amplo de atuação ao revisar os custos totais,
e mais informações para decisões que irão permitir que a empresa crie maior valor para seus
clientes e acionistas.
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REFERÊNCIAS
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