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O fascismo em nós

No ano passado, o psicanalista italiano Paolo Lollo, movido pela causa psicanalítica e pelo
amor ao Brasil, atravessou o atlântico para participar do congresso em terras baianas do
CPB e CBP. Abriu sua conferência perguntando: ¨O que é fascismo? Seria, apenas, um
regime político ou, igualmente, uma forma de pensar?¨
Atualmente a palavra “fascismo”, ameaça a realidade brasileira passando de mão em mão
como moeda gasta. Por isso, considero de suma importância, amplificar a fala de Paolo e,
assim, alcançar às pessoas que não leram a transcrição do seu trabalho (Psicanálise contra o
fascismo. Do mito da torre de Babel a diferença entre Real, Simbólico e Imaginário. Revista
Estudos de Psicanálise, n. 48). Para melhor atingir esse objetivo, evitarei o máximo possível o
jargão psicanalítico.
Como bom italiano e psicanalista, Paolo nos faz lembrar a origem histórica e linguageira da
palavra de ordem – e progresso? - no Brasil de hoje. O fascismo foi um movimento político
italiano que surgiu a partir das milícias de combate [fasci di combattimento], fundadas por
Benito Mussolini, em 1919. Os seus integrantes uniformizados com camisas negras e
armados, tinham como principal alvo da sua violência as associações operárias, as câmaras
de trabalho e os sindicatos. Primeira definição: o fascismo nasce por fora da democracia,
mas se infiltra nela para, desde dentro, continuar a violentar as instituições democráticas.
O fascismo vem da palavra latina “fascio”, que significa feixe. Pode-se pensar num conjunto
de elementos – diversidade – atados, amarrados. Na antiga Roma, as armas eram
transportadas pelos fasces lictoriae (os lictores eram civis da classe servil, escoltas dos
magistrados que possuíam o poder de punir) em varas de madeira amarradas com faixas de
couro.
Desses elementos – históricos e linguísticos – Lollo extrai o PODER do UM. Esse UM,
representa a força das amarras e a totalidade indivisível de um corpo que não articula a sua
diversidade. Basta apenas esta referência, para que todos nós nos interroguemos sobre o
desejo de um Brasil unido. O que se diz, o que se pensa (além das intenções de cada
emissor), na frase: um Brasil unido? É uma união que amarra, prende e esmaga ou articula –
reúne - as diferenças?
Por isso, a referência ao GÊNESIS, à torre de Babel: “Façamos uma torre que penetre nos
céus, façamo-nos UM”. Um povo tão religioso como o brasileiro, mesmo clamando unidade,
não poderia esquecer a operação de Deus. Sim, o leitor lembra bem, Deus interveio para
confundir (separar) as línguas, e dispersar o povo que aspirava ser UM.
O fascismo não só está infiltrado na democracia, também está ¨dentro de cada um de nós
(em nossos comportamentos e pensamentos) para fazer-nos amar o poder, e desejar o que
nos oprime e explora¨. Para o psicanalista italiano, os seres humanos são capazes de amar o
supereu (etimologicamente o que está acima do eu – acima de tudo...), de desejar um amor
protetor, apesar de perder a liberdade. O exemplo que traz (interpelando nossa realidade
cotidiana) é aquele comportamento dos pais que, para proteger os filhos dos perigos da rua,
os encerram em seu quarto retirando toda a liberdade.
Desde meu trabalho (Liberdade absoluta e individualismo na loucura moderna. Revista Estudos
de Psicanálise, n. 48) lembrava à Paolo, que Lacan alertou sobre as diversas formas de
manipulação social dessa condição servil do ser humano. A lei de nosso tempo: “Seja você
mesmo, idêntico a si mesmo”, é articulada por determinados discursos para produzir um
ideal de autenticidade, de pureza, que despreza o outro e a diferença. Para que se entenda
de vez: seria o oposto ao que se articula na frase “todos juntos e misturados”.
Nosso ser é capturado por imagens que articulam valores e ideais isentos de qualquer
crítica. Esse projeto, que não é novo e sim refinado, segundo Lacan, articula um “psiquismo
avesso ao sujeito do inconsciente e contrário à consciência moral”, levando “tanto à loucura,
como à produção de um fascista, um imbecil ou trapaceiro”.
Sempre há tempo para perguntar-nos que (como e porquê) amamos ou odiamos em nós...
Martín Mezza. Psicólogo (UBA, Arg.). Psicanalista membro de Apertura BS. As. Mestre em
SMC (UNL,a. Arg.). Doutorando (ISC-UFBA). Pesquisador NISAM (ISC-UFBA).
martinmezza@hotmail.com

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