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A única coisa que livros, peças, filmes, novelas e jogos têm em comum é que todos
possuem pelo menos um personagem. A maioria tem dois ou mais, e alguns, um
elenco de centenas! Algumas vezes, o “personagem” é até você mesmo.
1 Defina o cenário. Seja no papel ou na tela, o personagem deve existir em algum lugar,
mesmo que esse lugar seja o vazio. Pode ser um apartamento em Paris, ou um
estacionamento em São Paulo. Isso não apenas mostra o lugar do seu personagem, como
também ajudará a defini-lo.
Se quiser criar uma narrativa extensa e épica como O Senhor dos Anéis, você vai precisar de
inúmeros personagens – alguns bons, maus, masculinos, femininos ou até aqueles que não são
nenhum desses.
Uma narrativa mais intimista pode envolver, por exemplo, até mesmo um único personagem.
3 Pense criativamente. Ao contrário da primeira coisa que vem em mente quando se pensa
em um personagem, nem todos eles são seres vivos. Como exemplo, pode-se citar O Senhor
dos Anéis, onde a montanha Caradhras exerce a função de um personagem cheio de malícia.
Em O Velho e o Mar de Hemmingway, um peixe espada é um dos personagens principais.
4 Comece com um arquétipo (modelo). Todo personagem depende da sua narrativa, mas ao
começar com uma vasta gama de opções, você pode tomar decisões que pouco a pouco irão
definir as características do personagem, como um escultor que lapida pouco a pouco o
mármore bruto para revelar mais tarde sua obra final: a escultura.
Você também pode precisar de anti-heróis, como Clint Eastwood em O Cavaleiro Solitário,
vilões carismáticos como Lennie Small em Ratos e Homens; excêntricos como Jack Sparrow
em Piratas do Caribe; a mulher fatal como Jessica Rabbit em Uma cilada para Roger Rabbit;
amigos traiçoeiros como Iago de Othello ou Petyr Baelish de A Guerra dos Tronos; ou talvez um
guia trapaceiro como Sméagol em O Senhor dos Anéis. Cada um desses personagens tem um
arquétipo característico que foi se desenvolvendo durante suas histórias.
traços e características para, pouco a pouco, começar a revelar sua verdadeira personalidade,
como a escultura escondida no mármore bruto. Pergunte a si mesmo o que seu público quer
sentir em relação ao seu personagem: amor, pena, repulsão, compaixão – ou até mesmo nada.
Projete seu personagem baseado no resultado desejado.
Estabeleça se seu personagem é masculino ou feminino. Isso mostrará o ponto de vista geral
dele e revelará características únicas de acordo com o arquétipo usado, podendo até gerar
conflitos para o personagem e sua própria história quando a sociedade julgá-lo por suas ações,
tanto para o bem ou para o mal. Por exemplo, um homem arrogante é visto de forma
diferente do que uma mulher arrogante.
A idade é crucial. Personagens mais velhos geralmente são vistos como mais sábios, mas
também podem ser abordados de forma diferente. Um jovem vilão geralmente é retratado
como a “ovelha negra” da família. Um velho vilão pode ser tudo isso, mas devido às
circunstâncias da vida, o que dá mais profundidade e complexidade. O jovem herói idealista
provoca um sentimento diferente que do velho herói desgastado pelo tempo que está apenas
fazendo a coisa certa. E quando eles encontram seus finais na narrativa, as reações causadas
também serão diferentes.
Algumas vezes, personagens também podem ser contraditórios. Dom Quixote era um velho
excêntrico que gastou sua vida em um quarto lendo contos de cavalaria e era
lamentavelmente ingênuo. Porém foi essa ingenuidade que o levou a procurar por aventuras e
amor e a criar situações fantásticas do mundo ao seu redor quando a realidade não condizia
com suas expectativas.
quer sobreviver a todo o custo – por exemplo, Ripley em Alien; em um conto de romance, o
antagonista quer impedir o herói de alcançar seu “verdadeiro amor”, como o Príncipe
Humperdinick em A Princesa Prometida.
A maneira como seu personagem vai lidar com os inevitáveis obstáculos que estão entre ele e
seus objetivos é o que o define. Em narrativas complexas, tais obstáculos se chocam com
objetivos e feitos de outros personagens que estão no caminho, gerando assim mais ação e
reviravoltas, aumentando a tensão na narrativa.
7 Dê um propósito a seu personagem. Dê a ele uma personalidade que vai além da própria
narrativa. Certos traços da personalidade podem nem chegar a fazer parte da narrativa
diretamente, mas vão ajudar a mostrar as decisões que seu personagem vai fazer no futuro.
Faça uma lista de prós e contras e verifique se ela está equilibrada. Em outras palavras, não
tenha mais de dez contras para cada pró e vice-versa. Até os personagens mais ranzinzas
gostam de alguma coisa, mesmo que sejam apenas eles mesmos.
8 Atribua peculiaridades a seus personagens. Bons hábitos, maus hábitos, ou apenas coisas
que o personagem não para de fazer sem algum esforço. Tais hábitos podem ser inofensivos,
como roer unhas (o que pode indicar preocupação); ou pentear os cabelos obsessivamente
(indicando vaidade ou insegurança); ou um sério vício em drogas (mostra uma pessoa que
evita responsabilidades e anseia por fugir de problemas); ou um desejo suicida (alguém sem
esperança e desamparado).
onde ele vive, como é esse lugar, se ele tem ou não animais de estimação. Ele vive em uma
casa bem cuidada de um bairro nobre, ou em um casebre caindo aos pedaços no subúrbio? A
maioria desses detalhes que escolhe deve mostrar alguma coisa sobre o personagem, ou a
história dele.
características, cria-se um arquétipo muito mais realista que dará origem a um personagem
melhor construído.
11 Use costumes e características de pessoas ao seu redor. Olhe para pessoas no
percepção de objetos pode ajudar a definir o personagem, e ser útil para pressupor
sentimentos e ações. Por exemplo:
Tempestades são violentas, mas são o prenúncio da aurora que está por vir.
sobre as quais falou e das decisões relativas ao personagem. Entreviste-se com a ajuda de um
gravador de voz (seu notebook ou celular deve ter um embutido) sozinho ou com a ajuda de
um amigo. Depois, preencha o mapa mental: você provavelmente vai descobrir coisas novas
sobre seu personagem e desenvolver melhor sua personalidade. Errou em algo na gravação?
Lembre-se de que múltiplas possibilidades podem surgir de uma determinada ideia.
Sinta seu personagem e coloque-se no lugar dele. Amigos, familiares e até você mesmo podem
servir de inspiração para os personagens e seus ideais, personalidade, falhas e pontos-fortes.
Dicas
O tipo de personagem que cria determina como a narrativa vai se desenvolver. Se os
personagens principais estão bem alinhados com seus propósitos, a narrativa começará
superficialmente, e o personagem tenderá a se harmonizar com o ambiente e os outros
personagens ao seu redor. Se os personagens estão descentralizados, um conflito se
desdobrará desde o início, resultando em obstáculos constantes para eles no desenrolar da
obra.
Não entregue tudo sobre o personagem logo de início. Ao menos que não seja do feitio do
personagem manter segredos, faça com que ele seja um pouco misterioso. Dê a seu público
enigmas para serem desvendados nas entrelinhas. Apenas tenha cuidado para não fazê-los
muito misteriosos.
Lembre-se: esse processo pretende fazer com que crie um personagem que seja mais ou
menos uma pessoa real. Se necessário, atribua ou remova os passos antes citados para criar
seu personagem.
Observe as pessoas ao seu redor; seu tio José ou sua tia Maria podem acabar entrando em
uma de suas histórias. Ou você pode acabar misturando os dois, e criar o tio José Maria para
sua narrativa.
Quando pessoas contarem histórias interessantes, ouça-as! Sendo elas verdade ou não. Quem
sabe? Você pode arranjar um personagem perfeito na filha da ex-namorada do seu pai que
matou o marido que a maltratava.
Embora não seja necessário trabalhar esses passos na ordem em que são apresentados, você
pode achar muito mais fácil desenvolver a personalidade de um personagem antes mesmo que
você descubra como eles se parecem.
Se você está tendo problemas em criar personagens coadjuvantes, use estereótipos e exagere-
os.
Exemplo: velha bibliotecária que se tornou amarga depois que seu marido a espancou. Ela
constantemente teme que ele algum dia encontrá-la.
Exemplo: velha bibliotecária que age como chata porque acha que deve agir assim. Na
verdade, ela é aquele tipo de pessoa que ama cachorrinhos e sorvete, e é o tipo de senhora
que você chama de “vovó”, mesmo que ela que não seja seu parente.