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ARTIGO ARTICLE 2287

Violência institucional, autoridade médica


e poder nas maternidades sob a ótica dos
profissionais de saúde

Institutional violence, medical authority, and


power relations in maternity hospitals from the
perspective of health workers

Violencia institucional, autoridad y poder en la


atención maternal desde la perspectiva de los
profesionales sanitarios
Janaina Marques de Aguiar 1
Ana Flávia Pires Lucas d’Oliveira 1

Lilia Blima Schraiber 1

Abstract Resumo

1Faculdade de Medicina, The current article discusses institutional vio- O presente artigo discute a violência institucio-
Universidade de São Paulo,
São Paulo.
lence in maternity hospitals from the health nal em maternidades sob a ótica de profissionais
workers’ perspective, based on data from a study de saúde, com base nos dados de uma pesquisa
Correspondência in the city of São Paulo, Brazil. Eighteen health sobre o tema na cidade de São Paulo, Brasil. Pa-
J. M. Aguiar
Departamento de Medicina workers from the public and private sectors were ra tanto, foram entrevistados 18 profissionais
Preventina, Faculdade de interviewed, including obstetricians, nurses, and de saúde atuantes nas redes pública e privada,
Medicina, Universidade de
nurse technicians. A semi-structured interview dentre médicos obstetras, enfermeiras e técnicas
São Paulo.
Av. Dr. Arnaldo 455, sala 2170, was used with questions on professional experi- em enfermagem. Foi utilizado um roteiro se-
São Paulo, SP 01246-000, ence and the definition of violence. The analysis miestruturado com questões sobre a experiência
Brasil.
revealed that these health workers acknowledged profissional e o conceito de violência. A análise
jamaragui@gmail.com
the existence of discriminatory and disrespect- revelou o reconhecimento desses profissionais
ful practices against women during prenatal de práticas discriminatórias e desrespeitosas no
care, childbirth, and the postpartum. Examples cotidiano da assistência a mulheres gestantes,
of such practices cited by interviewees included parturientes e puérperas. São exemplos citados
the use of pejorative slang as a form of “humor”, dessas práticas o uso de jargões pejorativos como
threats, reprimands, and negligence in the man- forma de humor, ameaças, reprimendas e negli-
agement of pain. Such practices are not generally gência no manejo da dor. Essas práticas não são
viewed by health workers as violent, but rather geralmente percebidas pelos profissionais como
as the exercise of professional authority in what violentas, mas sim como um exercício de auto-
is considered a “difficult” context. The institu- ridade em um contexto considerado “difícil”. Tal
tional violence is thus trivialized, disguised as contexto revela a banalização da violência ins-
purportedly good practice (i.e., “for the patient’s titucional que travestida de boa prática, porque
own good”), and rendered invisible in the daily seria para o bem da paciente, acaba invisibiliza-
routine of care provided by maternity services. da no cotidiano da assistência.

Violence Against Women; Maternal Health Violência Contra a Mulher; Serviços de Saúde
Services; Women Materna; Mulheres

http://dx.doi.org/10.1590/0102-311X00074912 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 29(11):2287-2296, nov, 2013


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Introdução proposto por Chauí 14 sobre violência, entendi-


da como a transformação de uma diferença em
A violência institucional em maternidades públi- desigualdade numa relação hierárquica com o
cas tem sido apontada em alguns estudos como objetivo de explorar, dominar e oprimir o outro
resultado da própria precariedade do sistema de que é tomado como objeto de ação, tendo sua
saúde 1,2,3 e entendida como ligada à falta de in- autonomia, subjetividade, comunicação e ação
vestimentos no setor. Em outros estudos, a expli- livres impedidas ou anuladas.
cação de sua ocorrência inclui a conduta pesso- Nesse sentido, buscamos compreender os
al de desrespeito dos profissionais às pacientes mecanismos pelos quais o poder é exercido nes-
4,5,6,7. Embora relações desiguais de poder mar- sas instituições e o que torna possível o exercício
quem a interação médico/paciente em geral, de uma assistência violenta em um contexto em
neste caso, a nosso ver, a desigualdade pode ser que se espera o cuidado à mulher e ao bebê. To-
transformada em violência de gênero, cuja ocor- mamos adicionalmente dois outros autores que
rência está relacionada à conjugação de serem também discutem, ainda que por aproximações
mulheres além de pacientes, anulando-as como diversas, a relação entre violência e poder: Aren-
sujeitos de direitos, particularmente os direitos dt 15 e Foucault 16.
sexuais e reprodutivos. Essa forma de violência Diante de relatos de maus-tratos vividos
de gênero pode estar constituída de atos de ne- pelas pacientes se poderia pensar que a violên-
gligência, maus-tratos físicos e verbais, e violên- cia seria um uso extremo do poder por parte dos
cia sexual 4,5,6,7,8,9. Entendemos gênero como um profissionais, sendo violência e poder dois as-
lócus de exercício de poder instituído por meio pectos de um mesmo fenômeno com diferenças
de uma ideologia dominante com normas que apenas quantitativas. A nosso juízo, a violência
determinam papéis sociais para homens e mu- não é um uso excessivo ou exagerado do poder,
lheres pautados na diferença sexual 10. uma expressão de “mais do mesmo” poder. Ao
O tema traz para a reflexão o próprio exer- contrário, a violência constitui uma ausência de
cício do poder e da autoridade médicos que se poder ao ser exercício de uma autoridade não le-
estende em diferentes medidas a todos os pro- gitimada. Assim, trata-se de um “não poder”, pela
fissionais de saúde envolvidos na assistência às maior autoridade que se faz com recurso à força
mulheres, bem como a todos os demais usuários física ou a outros recursos de violação de direitos,
de serviços de saúde. Diversas esferas dos se- nas relações entre sujeitos sociais 15.
tores público e privado têm se mobilizado em Em nosso caso, teremos profissionais e usu-
torno dessa questão realizando investigações e ários de serviços cujas legítimas autoridades de-
debates. A própria política de humanização da siguais, por exemplo, em termos do saber e da
assistência hospitalar e o Programa de Huma- prática da medicina na relação do médico com
nização do Parto e Nascimento do Ministério da seu paciente, são burladas. A violência muda o
Saúde 11 são exemplos de respostas à insatisfa- caráter desse poder anteriormente exercido ao
ção dos usuários com um tratamento denuncia- desrespeitar o domínio legitimamente conquis-
do como desrespeitoso, violento e uso indiscri- tado da autoridade maior, quando o médico
minado de tecnologias que resultam em altas ta- extrapola para além do plano técnico-científico
xas de cesarianas e dor iatrogênica 12. De acordo seu juízo profissional, resvalando para o plano da
com Deslandes (p. 9) 13, “resgatar a humanidade moral com julgamentos de valor sobre o outro 17.
do atendimento, numa primeira aproximação, De acordo com Arendt 15, o poder emerge da
é ir contra a violência, já que esta representa a ação e da fala em concerto de um grupo, e sua ex-
antítese do diálogo, a negação do ‘outro’ em sua istência depende da comunicação neste grupo.
humanidade”. Ele é, portanto, um fim em si mesmo, diferente-
O presente artigo apresenta e discute dados mente da violência, cujo caráter instrumental
de uma pesquisa realizada com profissionais de faz com que o poder seja utilizado para alcançar
saúde sobre a violência institucional em mater- determinado fim. Tal uso instrumental se faz, en-
nidades públicas, analisada à luz das relações en- quanto violência, por sobre o outro da relação e
tre o poder e a autoridade médicos e as relações não em interação com este outro. Para a autora,
de gênero. a violência impede o poder, porque obstaculiza a
sua fonte última de geração: a comunicação livre
entre as pessoas.
Violência, autoridade médica e poder: Foucault 16, por sua vez, considera que o pod-
considerações teóricas er é uma forma de ação sobre a ação dos outros
e sustenta que o seu exercício se dá por meio das
A fim de definir o que consideramos como vio- inter-relações. Segundo o autor, para que uma
lência em maternidades, adotamos o conceito relação de poder exista é indispensável que o su-

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jeito sobre cuja ação o poder se exerce seja recon- A perda da ética, que significa para a autora
hecido como um sujeito de ação, e que, desta for- interesse por e cuidado para com o outro, como
ma, diante da relação de poder haja sempre um sujeito inteiro e não somente como corpo bio-
campo de possibilidades para ações, respostas, médico, conduz ao fracasso técnico e prático,
reações, efeitos e invenções. A violência implica podendo engendrar a violência (transformando
a própria anulação das possibilidades de ação, sujeito em objeto), em função da dependência e
utilizando-se da força, da coação ou mesmo da legitimidade do saber e prática envolvidos. Essa
destruição como formas de ação. erosão da qualidade ética das interações entre
No âmbito das práticas de saúde, o poder é profissionais e pacientes é, em grande parte, a
exercido numa relação hierárquica por definição, responsável pela crise de confiança.
a relação profissional/paciente. No topo dessa É no campo das relações entre profissionais e
hierarquia está o médico como aquele que de- pacientes que encontramos as situações de vio-
tém a maior autoridade técnico-científica sobre lência mais difíceis de serem percebidas como tal
o corpo. Autoridade que legitimamente é esten- pelos sujeitos envolvidos, ainda que impliquem
dida somente a esse plano – técnico-científico – de forma bastante clara a anulação da autonomia
uma vez que no plano moral, ambos os sujeitos, e a discriminação por diferença de classe, raça
profissional e paciente, encontram-se em situa- ou gênero. Essas formas estão frequentemente
ção de igualdade 17. presentes em falas grosseiras, desrespeitosas e
De acordo com Starr 18 essa autoridade técni- discriminatórias para com as pacientes e em de-
co-científica é a fonte do poder médico, pautada satenção quanto às suas necessidades de anal-
em dois pilares: a legitimidade científica de seus gesia e uso apropriado de tecnologia, podendo
conhecimentos e a dependência dos indivíduos ser expressadas também por agressões físicas ou
em relação a estes conhecimentos, uma vez que sexuais explícitas.
a saúde tem um valor inequívoco de importância Buscando compreender melhor essas situ-
para todos e a não obediência à autoridade mé- ações, desenvolvemos uma pesquisa qualita-
dica pode resultar em danos (antecipáveis) para tiva com usuárias de maternidades públicas e
a saúde do paciente. profissionais do Município de São Paulo sobre
Tanto para Starr 18 quanto para Arendt 15 a au- a violência institucional em maternidades. No
toridade é uma faculdade que suscita a confiança presente artigo abordaremos os dados relativos
no outro e a obediência voluntária porque pres- aos profissionais.
supõe a liberdade dos sujeitos envolvidos. Quan-
do a confiança gerada no consenso de um grupo
sobre a legitimidade daquela autoridade rompe Material e método
e há o uso da violência para manter a obediência
(que não é mais voluntária) a base de sustenta- Foram realizadas, de março a setembro de 2008,
ção da autoridade e do poder fica fragilizada. 21 entrevistas semiestruturadas com puérperas
A violência institucional em maternidades no e 18 com profissionais de saúde (10 obstetras,
atual modelo da medicina tecnológica se dá em 5 enfermeiras e 3 técnicas de enfermagem). A
um contexto de “crise de confiança” 19, caracte- captação dos profissionais para as entrevistas se
rizado principalmente por uma valorização do deu por intermédio de indicação interpessoal,
uso da tecnologia em detrimento das interações conhecida como “bola de neve”, na qual profis-
humanas, ou seja, os recursos tecnológicos, ao sionais trabalhadores de maternidades da região
invés de meios, passam a ser tomados como fins de São Paulo indicaram colegas e assim sucessi-
em si mesmos. De acordo com Schraiber 19, tal vamente, formando uma ou várias redes de in-
mudança acaba resultando em uma série de rup- dicações. O primeiro entrevistado foi indicado
turas interativas em diversos planos, tanto entre pela orientadora do estudo. Tivemos um número
profissional de saúde e paciente, conduzindo a baixo de recusas, todas justificadas pela falta de
uma despersonalização dos cuidados em saúde, disponibilidade de tempo.
com fragilização dos vínculos na relação entre os Uma vez que os profissionais trabalhavam
mesmos, quanto entre profissionais de saúde e tanto em maternidades públicas como privadas,
destes com o seu próprio saber – o que a autora as experiências relatadas referem-se ao conjunto
denomina de “anulação da reflexividade em sua de maternidades onde exerciam suas atividades
prática”, ou seja, a não reflexão sobre sua atuação profissionais, compreendendo serviços univer-
na aplicação do saber técnico-científico para ca- sitários e vários hospitais credenciados como
da caso. Essa mudança no caráter das relações Amigo da Criança. Enfocaremos neste texto es-
imputa à medicina moderna uma dupla perda: pecialmente as falas referentes às maternidades
como valor ético humano e como necessidade públicas. As maternidades referidas não se dife-
técnica 19. renciam como as de piores condições de trabalho

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ou recursos técnicos e materiais, fazendo parte ras semanais (incluindo plantões de fim de se-
do grupo estudado alguns serviços reconhecidos mana) e no máximo 60, sem contar o tempo em
como de excelência. que atendiam em consultório particular. Dentre
As entrevistas foram realizadas em locais de as enfermeiras e técnicas a carga horária variou
escolha dos profissionais, nunca nos hospitais entre 40 e 72 horas semanais de trabalho.
referidos. A via de contato por indicação de um No que se refere à divisão por sexo, apenas 6
colega facilitou tanto a abordagem da pesquisa- homens foram entrevistados (todos obstetras), as
dora para o convite da entrevista quanto a acei- demais mulheres eram 4 obstetras, 5 enfermeiras
tação do profissional. e 3 técnicas. Essa divisão não foi intencional e
O critério para o número de entrevistas foi a reflete, de alguma forma, a realidade dos hospi-
saturação do tema. O roteiro investigou as expe- tais, onde o corpo de enfermagem é composto
riências profissionais sobre o objeto do estudo, majoritariamente por mulheres. No entanto, não
bem como concepções e valores morais acerca houve diferenças, relevantes para a análise, nos
do mesmo. As entrevistas foram gravadas e trans- relatos de profissionais homens e mulheres em
critas concomitantemente, permitindo a leitura relação à sua prática profissional e suas concep-
paralela do material à medida que era produzido, ções de violência.
o que possibilitou o aprofundamento de temas
que surgiam do material empírico e se destaca- Os tênues limites entre autoridade
vam como categorias para uma análise temática. e violência
Posteriormente, realizamos leituras detalhadas
de cada entrevista e do conjunto de respostas A sobrecarga de demandas, as condições estru-
agrupadas por eixos temáticos (cuidado, maus- turais e a precariedade de recursos materiais e
tratos, estereótipos de classe e gênero, autorida- humanos foram apontadas pelos entrevistados
de médica, causas e possibilidades de preven- como dificuldades enfrentadas cotidianamente.
ção da violência institucional), possibilitando As consequências dessas dificuldades vão desde
o reconhecimento do perfil particular de cada a falta de anestesistas de plantão para realização
sujeito entrevistado e a articulação dos eixos com de analgesias de parto até a proibição de acom-
categorias analíticas mais abrangentes (gênero, panhantes homens na sala de pré-parto, sob a
violência e poder). alegação de falta de espaço físico que garanta a
A pesquisa foi aprovada pelos Comitês de Éti- privacidade para as demais pacientes.
ca em Pesquisa da instituição acadêmica a qual Também foram apontadas dificuldades na
estava vinculada e da Secretaria de Saúde do Mu- relação com as pacientes. Alguns profissionais
nicípio de São Paulo, respeitando os princípios revelaram uma imagem das usuárias do serviço
estabelecidos pelos respectivos comitês para público como ignorantes, com dificuldades de
pesquisas com seres humanos, de acordo com a compreensão do que é dito e com uma sexuali-
Declaração de Helsinki (2000) da Associação Mé- dade difícil de ser controlada (por terem muitos
dica Mundial. Todos os entrevistados assinaram filhos e ainda muito jovens). A agressividade que
o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. as pacientes dirigem aos profissionais, vista por
estes como um tipo de violência institucional,
Perfil dos entrevistados também encontra na esfera do caráter pessoal
e no preconceito de classe sua justificativa – a
A idade dos entrevistados variou entre 26 e 53 paciente é rude, “grosseirona” por “natureza”, por
anos. O tempo de profissão dos obstetras variou não saber lidar com os outros, ou pelo grupo so-
entre 7 e 30 anos. Seis deles tinham mais de 15 cial ao qual pertence – gente pobre e ignorante.
anos de carreira. Dentre as enfermeiras e técni- Atitudes e comportamentos das pacientes
cas de enfermagem mais da metade exercia a e dos profissionais estão sujeitos a serem in-
profissão há mais de 9 anos. terpretados equivocadamente, por ambas as
Vários entrevistados tinham relação com ser- partes 20. O resultado acaba sendo uma comu-
viços de ensino, sendo profissionais reconheci- nicação truncada de reinterpretação de falas e
dos como tendo boa formação e qualidade na sentimentos que pode fazer com que a paciente
assistência. Todas as enfermeiras possuíam es- colabore pouco com a equipe justamente por
pecialização em obstetrícia e todas as técnicas não entender o que esperam dela.
atuavam no centro obstétrico e centro cirúrgico, Nesse sentido, a agressividade das pacien-
prestando assistência à paciente e/ou ao recém- tes é associada por profissionais também a uma
nascido nos cuidados imediatos. banalização da violência no meio social ao qual
A maioria trabalhava em mais de uma insti- pertencem ou a uma reação defensiva por parte
tuição (públicas e privadas). A carga horária fixa desta pelo medo de sofrer maus-tratos. Todos os
relatada pelos obstetras foi de no mínimo 40 ho- profissionais confirmaram que as pacientes já

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chegam ao serviço público com medo de serem no trabalho de parto. Eu jamais ia fazer isso por-
maltratadas, porque já o foram anteriormente ou que eu nunca fiz isso, de largar a paciente sozinha
porque foram avisadas desta possibilidade pelas na sala. Isso é uma... É uma forma de ‘coação’, uma
pessoas de sua rede social. forma de tentar ‘dissuadir’ a gestante... Dissuadir,
“Geralmente os casos mais difíceis acabam não, né. Tentar fazer com que a gestante colabore
sendo as pacientes que passaram por vários hos- mais. Porque eu já vi colegas largando mesmo,
pitais públicos, então elas acabam chegando com deixando ter nenê na cama, já vi em residência, já
pedras na mão” (Obstetra 8). vi essas coisas, mas eu não tenho coragem de fazer
“Olha, tanto que se você perguntar pra uma isso, de largar. Mas eu já usei essa frase como uma
mulher tem uma coisa assim: ‘Se eu gritar a enfer- forma de tentar ‘chacoalhar’ a pessoa, chamar a
meira judia de mim’. Todas falam” (Obstetra 9). pessoa em atenção pra poder focar no objetivo,
A maioria dos entrevistados ressaltou como que é ganhar bebê.” (Obstetra 6).
mais difíceis as pacientes não colaborativas ou De acordo com vários entrevistados, ameaças
escandalosas. A “não colaborativa” seria aquela de abandono são frequentes nas maternidades
que fecha a perna; não escuta o profissional; não quando a paciente “não colabora” ou “faz escân-
faz força percebida como efetiva; “atrapalha” o dalo”. E embora todos afirmem que não há uma
trabalho do profissional; chega “despreparada” intenção real de cumprir a ameaça, pode-se per-
para o parto (geralmente atribuído a um pré- ceber na fala de alguns uma banalização do so-
natal inadequado); dispersa (que não está focada frimento da paciente e um uso corriqueiro deste
no parto); não entende o que o profissional fala recurso violento – a ameaça – percebido como
(porque teria baixa escolaridade ou pela própria legítimo ao exercício da autoridade.
“fisiologia” do parto que a deixa “fora de si”); ou Nesse sentido, a violência institucional, tal
ainda, aquela paciente com um perfil mais agres- como a definimos, é reconhecida e admitida co-
sivo, que é rude no trato, que recusa ou dificul- mo prática comum por quase todos os entre-
ta o exame e de difícil condução do trabalho de vistados, ainda que a definição e nomeação do
parto. que seria violência institucional na visão des-
A “escandalosa”, consoante com a definição tes profissionais tenha limites pouco claros. O
dada pela maioria das puérperas entrevistadas 21, termo “violência” é mais comumente associado
é a paciente “histérica”; descontrolada; que não à violência física na população em geral; e na
fica quieta (não para na mesa, pula da cadeira, fi- área da saúde, a violência contra a mulher é fre-
ca de pé, grita, dá murro, chute, levanta o quadril, quentemente referida apenas à violência sexual
tira a perna da perneira); que faz “showzinho”; e doméstica.
já chega querendo cesárea e quer “impor” suas No cotidiano da prática dos entrevistados
vontades; é “pouco tolerante à dor” e quer um houve amplo reconhecimento de maus-tratos
atendimento “mais individualizado” (demanda e desrespeitos, que em alguns momentos são
mais atenção, é “poliqueixosa”). percebidos e nomeados como violência e, em
“Aquelas que quando dá a dor nelas, a con- outros, como condutas necessárias ao trabalho;
tração, ela diz que vai morrer. (...) já é a quinta como parte do exercício da autoridade profis-
vez que tá passando por isso e sabe que não vai sional. Dessa forma, gritar com a paciente pode
morrer com aquela dor. Aí elas se tornam paciente ser considerado um desrespeito, um tratamento
difícil, porque ela não importa com o bebê dela, grosseiro, mas se a paciente é vista pelo profissio-
ela quer que passe a dor dela!” (Técnica em en- nal como “descontrolada” e precisa ser “chamada
fermagem 1). à razão”, para a maioria dos entrevistados não
Em ambos os casos são pacientes que não constitui uma violência, mas apenas o exercí-
se submetem à obediência que lhes é esperada cio de sua autoridade profissional. A diferença
e à aceitação da dor do parto como algo natural, de um momento para o outro parece depender
um preço a ser pago para ser mãe. Nessa situa- da intensidade do ato, do contexto da situação,
ção, a maioria dos profissionais revelou utilizar de um julgamento moral sobre a paciente e de
uma conduta “mais ríspida”, ameaças e “aumen- quem é o profissional envolvido, no sentido de
tar a voz” como formas de coagir a paciente a que foi mais recorrente nomearem como vio-
“colaborar”. Essas ações, tidas como necessá- lência os atos dos outros profissionais do que os
rias, são consideradas como legítimas no exercí- próprios.
cio da autoridade profissional pela maioria dos Em contrapartida, os limites para o exercício
entrevistados: da autoridade legítima 18 são reconhecidos na
“Ah, isso eu já falei também [Não grita se não fala de um dos entrevistados que aponta o uso
eu não venho te atender! Se continuar eu paro da força (ou de qualquer outro recurso violento)
agora o que eu estou fazendo!]. (...) Porque eu como algo que enfraquece ou anula a autoridade
queria tentar chamar atenção pra ela colaborar profissional:

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“O médico é uma autoridade, a enfermeira laborar” implicaria uma relação dialógica com o
é uma autoridade, né, o policial, o motorista de outro: colaborar é trabalhar (“co-laborar”) jun-
ônibus (...) e assim por diante. E a autoridade, ela to, ou nas palavras de Arendt 15: agir em concer-
precisa ter uma postura (...). Inclusive, se ela não to. O que se consegue com o uso da coação, da
tem uma postura adequada é o caso de destituí-la ameaça, do grito, da força ou de qualquer outro
de tal. Então entrar em briga não é uma postura recurso violento, portanto, não é colaboração,
de autoridade. Quando a autoridade acha que é o mas submissão; é um fazer “sobre” alguém e
caso de usar a força, tem que usar a força pra aca- não “com” alguém. Esse fato, no entanto, pa-
bar com aquilo e pronto, usar o mínimo possível rece invisível ou pouco claro para os profissio-
pra resolver aquela situação. Por isso que xingar, nais, sendo banalizado na prática cotidiana.
você tá entrando num bate-boca que aí você tá... São exemplos dessa banalização ameaçar, “falar
Realmente você tá abdicando da autoridade, né?” mais ríspido” ou utilizar frases jocosas, algumas
(Obstetra 1). de conotação sexual, como forma de “brincar”
O uso da violência na assistência à saúde co- com a paciente.
mo um recurso utilizado na relação profissional/ Pizzini 23 aponta para o uso de piadas e jar-
paciente revela o enfraquecimento das bases do gões humorísticos como forma de abordar de-
poder e da autoridade médica: o consenso gera- terminados tabus sociais, como a relação entre
do baseando-se na comunicação e ação de su- sexo e nascimento. A autora considera ainda que
jeitos livres. Revela também a dificuldade de es- o humor possa ser usado como forma de socia-
tabelecer uma comunicação livre com a mulher, lização em um meio de extrema hierarquização
considerando-a como um sujeito em situação de profissional, e que sirva também para alívio da
fragilidade e necessitando de cuidado. tensão nos momentos mais críticos do processo
A dificuldade para os entrevistados reconhe- de parto. Ela encontrou exemplos de desqualifi-
cerem a violência no campo da assistência à saú- cação da dor, da autonomia e do saber sobre o
de é revelada ainda na concepção de alguns de próprio corpo das parturientes por intermédio
que a violência implicaria a maior gravidade do do humor, sempre contendo algum elemento
ato, causador de dano físico ou emocional pro- agressivo 23.
positalmente, humilhação intencional e precon- Quase todos os nossos entrevistados relata-
ceito. Entretanto, frases jocosas igualmente mo- ram já terem utilizado ou presenciado o uso de
ralistas e preconceituosas frequentemente ditas frases como: “Na hora de fazer não chorou, está
em tom de “brincadeira” foram percebidas, por chorando agora por quê?”, “na hora de fazer não
esses profissionais, apenas como uma forma de chamou a mamãe, agora chama, né?”, “ah, não
humor. chora não, ano que vem você está aqui de novo”,
Assim, a maioria do que foi nomeado como “se você ficar gritando o seu neném pode nascer
desrespeito, observado em suas experiências surdo”.
profissionais, não foi identificado como um tipo Embora muitos dos profissionais entrevis-
de violência. Tal concepção acaba possibilitando tados reprovem esse tipo de “brincadeira” e a
que tais condutas sejam aceitas no cotidiano da reconheçam como um tratamento grosseiro e
assistência como toleráveis ou mesmo necessá- desrespeitoso, os relatos apontam a banalização
rias, e contribui para um processo de banaliza- do seu uso, muito comum no cotidiano da assis-
ção da violência institucional. tência prestada às parturientes. Foi reconhecido
De acordo com Sá 22, a banalização do mal e ainda como desrespeito o tratamento grosseiro
do sofrimento alheio nos serviços de saúde po- com imposição de valores ou julgamento moral,
de ser uma estratégia de defesa dos profissionais quebra de sigilo, invasão de privacidade, discri-
contra o próprio sofrimento, mas também, o re- minação social ou étnica; tratar o outro como
sultado da banalização do mal numa sociedade objeto (desrespeito à autonomia), negligência no
que a autora define como estando entre a “im- atendimento (erro técnico, omitir ou não escla-
possibilidade da culpa” e a “falta de vergonha”, recer informações importantes, abandono, des-
fazendo com que a corrupção corroa cada vez qualificar ou ignorar as queixas) e a ameaça ou
mais os valores éticos fundamentais e acabe se represália de fato:
tornando o que é esperado e até admirado, por “Usar palavras que não condizem com o aten-
meio de sua banalização. dimento médico (...) frases assim: ‘Na hora de
No caso da assistência em maternidades, a fazer tava bom e agora fica dando trabalho’ (...)
banalização da violência institucional é travesti- já ouvi isso de boca de atendente, já ouvi isso de
da de boa prática profissional (seria para o bem médico, de virar pra gestante e falar: ‘É, na hora do
da paciente) e exercício pretensamente legítimo bem bom você não reclamou, agora você tá recla-
de autoridade, já que a intenção é conseguir a mando, enchendo o saco’. Como: ‘cala a boca’, ‘vou
“colaboração” da paciente. Lembramos que “co- te deixar aqui sozinha’ (...) Não é que seja uma

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VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL, autoridade e poder EM MATERNIDADES 2293

coisa corriqueira, mas é uma coisa que é comum dados não são generalizáveis para o conjunto dos
de ouvir” (Obstetra 6). profissionais, ou mesmo para as maternidades
“Eu vou contar um caso pra você. ‘Olha, minha públicas, embora os dados apresentados estejam
filha, você tá muito gorda, viu!’. Você acha que isso em consonância com a literatura a respeito.
é desrespeitoso? Muito, né. Ou então na hora que
tá doendo, assim, na hora de nascer uma auxiliar
fala assim: ‘Pra fazer não doeu’. Você acha que é Considerações finais
desrespeitoso? Você acha que isso é uma lenda? É
uma rotina” (Obstetra 9). Condutas violentas como o uso de jargões pe-
Assim como em relação às pacientes, a maio- jorativos, ameaças e reprimendas contra as
ria dos profissionais associou a violência institu- pacientes no cotidiano da assistência em ma-
cional ao caráter pessoal de quem a pratica. Ser ternidades e negligência no manejo da dor são
violento seria uma questão de “natureza rude”, consideradas comuns e até consensuais entre os
de índole, de “falha de caráter” ou uma questão profissionais, que por vezes as confundem com
de formação pessoal, falta de “berço”, ou seja, em o exercício da autoridade em um contexto “di-
função do grupo social em que está inserido. fícil”. Essas ações são forjadas por relações de
Esse tipo de justificativa naturaliza a violên- gênero que sistematicamente (e historicamente)
cia, limita as possibilidades de questionamento obstruem a comunicação e ação livres, interdi-
crítico, contribuindo para a discriminação social tam a sexualidade e desrespeitam os direitos da
da paciente, a banalização da violência institu- paciente.
cional e sua maior invisibilização. E, não por aca- No que se refere à banalização do sofrimento
so, alguns profissionais entrevistados tenderam alheio, Sá 22 chama a atenção para uma “crise so-
a ser mais compassivos com a grosseria de seus cial” que é revelada pela degradação dos valores
colegas do que das pacientes, o que expressa a sociais e do cuidado com o outro. O mal produ-
hierarquia de valores que regula as relações in- zido nos serviços de saúde, portanto, seria um
terpessoais entre profissionais, e destes com as reflexo do mal produzido e agravado na própria
pacientes. sociedade e igualmente banalizado.
Por outro lado, também foi apontado pelos Concordando com a autora, mas consideran-
profissionais como possíveis causas para a vio- do que nem as práticas dos profissionais de saúde
lência institucional um ritmo de trabalho alie- são apenas decorrentes das condições sociais do
nante associado à precariedade de recursos, que trabalho e nem as práticas de saúde apenas são
resulta não só no esgotamento físico e emocional reflexo (direto ou mecânico) das práticas sociais,
do profissional como na dificuldade de refletir diremos que as práticas de saúde reproduzem em
sobre sua prática; a falta de comprometimento seu interior os valores da sociedade de modo no-
ético na formação profissional e a impunidade, vo: o mal produzido nos serviços de saúde, sem
sobretudo no serviço público, contra esses atos. realizar-se do ponto de vista concreto do mesmo
Soma-se a essa impunidade a própria discrimi- modo que o mal social guarda relação com es-
nação social contra a paciente atendida no ser- te, (re)produzindo-o. Com isso queremos dizer
viço público: que ao ser prática social, a de saúde orienta-se
“A discriminação do pobre é uma coisa muito na mesma direção banalizadora e naturalizadora
forte, né. Eu acho que vem daí, quer dizer, o pobre é das violências, mas, de modo original, cria em
um estorvo, ele atrapalha e o serviço público gasta seu interior, isto é, seus agentes profissionais é
com pobre e eles não se (...), eles têm muitos filhos, que criam aceitações da violência que se trans-
né. Eu acho que tem isso por trás do sistema. (...) E formam em atos “necessários ao cuidado” e, as-
tá sendo atendido de graça, né (...). Eu acho que es- sim, ‘boas práticas’ assistenciais. Deslocam, pois,
se pensamento ainda existe, mas é menos comum. o aspecto ético-moral de seus atos violentos para
(...) Tá sendo atendido de graça num hospital bom qualificá-los como uma exigência da técnica, co-
e ainda reclama, né” (Obstetra 1). mo se fosse parte do domínio técnico-científico
“É porque é pobre, né. Porque no [hospital das práticas dos profissionais.
privado X] ele não vai fazer isso, você entendeu? Mas compreender os atos violentos como
(...) Então eu acho que existe essa forma de ver as apenas repetição da sua banalização social e
coisas. A paciente é pobre? Ah, tudo bem, né. Você não levar em conta a inovação neste desloca-
percebe algumas situações, assim, que o profis- mento da questão oculta a participação dos pro-
sional, seja médico ou enfermagem, né, ele não fissionais como sujeitos e agentes dessa outra
faria isso se tivesse num hospital ‘top’ de linha” formulação da banalização da violência, com o
(Obstetra 10). que os profissionais e a medicina participam dos
Finalmente, cabe ressaltar que uma limitação valores e da construção dos ordenamentos so-
deste estudo é que, por seu corte qualitativo, os ciais vigentes. Segundo Schraiber 19, tomaremos

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as práticas de assistência à saúde e as práticas das tecnologias materiais, do que a preocupação


profissionais como parte das práticas sociais. com a colaboração da paciente como uma forma
Mas ser parte de um todo significa ao mesmo de somar o outro em seu desempenho de médi-
tempo repetir e inovar este todo, pois, tal como a co. Ao contrário, como os presentes resultados
autora concebe a medicina ao reproduzir-se co- apontam o sentido dado pelos profissionais à
mo prática social, altera aspectos deste mesmo noção de “colaboração” por parte das pacientes
social, em razão de suas próprias peculiaridades é o de sua negação, isto é, colaborariam as que
internas (de prática técnico-cientifica). No cená- abdicam de se expressar, transformadas em cor-
rio das maternidades públicas apontado pelos pos dóceis e submissos à intervenção unilateral.
entrevistados, no qual conflitam diferentes in- Para as demandas da própria paciente, como
teresses – dos gestores (por meio da instituição), seria o caso da analgesia de parto, ou da maior
dos profissionais e das pacientes – a qualidade participação e conhecimento das intervenções,
da interação nas relações é enfraquecida diante como o monitoramento do desenvolvimento da
da precariedade de recursos, da excessiva de- dilatação uterina, ou da presença de acompa-
manda por uma rapidez na produção de serviço nhantes, não há intervenção oferecida, e por ve-
e de uma segurança, cada vez mais, depositada zes estas demandas, além de silenciadas, sofrem
no uso de recursos tecnológicos como media- represálias 21.
dores desta relação e como solução para estes As diversas iniciativas relacionadas à huma-
conflitos. Como apontado por Schraiber 19, o nização do parto são um elemento que aponta
ideal de uma boa assistência deixa de ser pau- para uma reação propondo mudanças nesta si-
tado na qualidade ética da interação entre pro- tuação atual. Congregando mulheres e alguns
fissionais e pacientes e na confiança resultante profissionais, as iniciativas governamentais e da
desta interação para se basear no maior acesso sociedade civil em direção à construção de casas
à tecnologia, que representa um bem em si. No de parto, da atuação de parteiras e doulas, e do
caso da assistência a um episódio geralmente parto domiciliar são ao mesmo tempo uma forte
fisiológico, como o parto, fica mais evidente a crítica à medicina e um convite à possibilidade
impossibilidade de substituição da ética das re- da reinvenção social do cuidado às gestantes e
lações pelo acesso à tecnologia, já que o fim do puérperas. A proposta do uso mais comedido e
cuidado como valor maior abre espaço para o apropriado de tecnologias e melhor qualidade
exercício da violência e coloca em risco, além da ética na relação são geradas a partir da crise da
saúde das mulheres e crianças, a própria práti- confiança aqui retratada. Busca-se, assim, res-
ca médica. Outra questão a se considerar, tam- taurar a autonomia das mulheres, o controle
bém apontada por Schraiber 19, é a preocupação sobre seu corpo e seus processos, e a qualidade
maior dos profissionais com seu próprio desem- ética e técnica nas relações estabelecidas entre
penho, desde o acerto diagnóstico ao uso correto gestantes e profissionais.

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VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL, autoridade e poder EM MATERNIDADES 2295

Resumen Colaboradores

El presente artículo versa sobre la violencia institucio- J. M. Aguiar participou da concepção do projeto, aná-
nal en maternidades, según la óptica de profesionales lise dos dados, elaboração do manuscrito e aprovou
de salud, en base a los datos de una investigación sobre a versão final do artigo. A. F. P. L. d’Oliveira colaborou
este tema en la ciudad de Sao Paulo, Brasil. Para ello, na análise dos dados, revisão crítica do manuscrito e
fueron entrevistados 18 profesionales de salud activos aprovação da versão final do artigo. L. B. Schraiber cola-
en la red pública y privada, entre los que se encontra- borou na revisão crítica do manuscrito e aprovação da
ban médicos obstetras, enfermeras y técnicos en enfer- versão final do artigo.
mería. Se utilizó un cuestionario semiestructurado con
ítems sobre la experiencia profesional y el concepto de
violencia. El análisis reveló el reconocimiento -por par- Agradecimentos
te de esos profesionales- de prácticas discriminatorias e
irrespetuosas en el día a día de la asistencia a mujeres Agradecimento à FAPESP pela bolsa de doutorado que
embarazadas, parturientas y puérperas. Se citan como possibilitou esta pesquisa.
ejemplos de esas prácticas el uso de apelativos peyorati-
vos como una forma de humor, amenazas, reprimendas
y negligencia en el manejo del dolor. Esas prácticas no
son generalmente percibidas por los profesionales co-
mo violentas, sino como un ejercicio de autoridad en
un contexto considerado “difícil”. Este contexto revela la
banalización de la violencia institucional que disfraza-
da de buena práctica, ya que se produce por el bien del
paciente, acaba siendo invisibilizada en la cotidiani-
dad de la asistencia.

Violencia Contra la Mujeres; Servicios de Salud


Materna; Mujeres

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