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1, Maginno i i Sa. Ad Vigpa, ¥6 trove ables & Mpg Crake. (Rete), n.9, p. 22-31, oot J983. : Aviagem no drama estatico O Marinheiro aciK oe FATIMA MARINO =Depois de doze minutos Do seu drama O Marinheiro Em que os mais agois e astutos Se sentem com sono e brutes, E de sentido nem cheiro Diz uma das veladoras Com langorasa magia De eterno # belo ha apenas o sonho — Porque estamos nés falando ainda? (ra isso mesmo é que eu ia Perguntar a assas senhoras...» Alvaro de Campos (O Msrinnero, drama estatico de Fernando Pessoa, tem ‘provocado alguns estudos intortoxtuais 0 harmonéuticos — {que podem ser bem represntados polos livros de Maria, Teresa Rita Lopes, Fornancio Pessoa et lo Drame ‘Symbolisto-— Héritage et Création *@ de Aniénio Tabucchi, ‘Studi Mediolatinie Volgari®, no capitulo «Interpretazione {deleteronimia di Fernando Pessoa. Por mim, j@ uma vez mo ocupei da sua relaeao com o toatro do absurdo®. Mas hoje propontio-me abordar um aspecto que supono totalmente inexpioracio — que 6 0 das configuragbos quo os ‘objactos e seus espagos assumem num drama que nao por ‘acaso £0 diz estitico, @ da desvalorizagéo do(s) sujeto(s) {quo ossas configuraebes implicam. ~ Partindo da distingao que Michael Issacarof faz onto ‘2sago mimétiso e espago diegético («in the theater, mimetic ‘space is that which is mede visible to an audience and represented on stage, Diegetic space, on the other hand, is described, that, relerred to by the characters» *), podemos Considerar ern O Marinhoiro a existéncia basica deste dois jgrandes espacos. O espaco mimético sera construido pelo ‘quarto circular, visivel no palco, e 0 espaco diegético pelas diferentes rocordacoes das veladoras. No interior deste tikimo, temos ainda a considerara existéncia do espaco ‘sonhado pelo marinheiro e narrado, de uma forma indirecta, pela 2 veladora. A este espaco, situado a um nivel diegético 28 iis net hierarquicamente superior, del o nome de inttadiogético, & semelhanca do que Gérard Genette fez com a designacao dos diferentes niveis narrativos* © espaco mimético em tudo difere dos outros dois ‘espagos. Quiase todos os elementos de um tem a sua ccotrespondente nagativa no outro, Nao ¢ difcl fazer ima anilise sistematica das ciferencas existentes. Se o espaco rmimético é fechado, circular, concreto, englobante @ fxo, © diegético ¢ aberto, abstracto, indefinido e ziguezaguoan aquele representa o presente, este o passado que nunca ‘exitiu a nao ser no desejo; no primeiro asta a morte, no ‘segundo o sonho. Analisando, com mais pormenor, os dois espagos, verificamos que no palco 6 representado 0 quarta de urn castolo antigo onde estéo uma morta, trés voladoras 0 4 tochas acesas (uma correspondente a cada uma das personagens). Se o castelo tem sido na tradico ocicental lum simbolo de seguranga e proteccao, ole @ também umn lugar de acesso dificil, o que provoca um determinado Isolamento: encerradas naquele espace circular doniie & impossivel sair, as veladoras 66 vivem pola palavra, cu> representa 0 espaco abet o ar livre, 0 sonho por oposigao morte: «Porque ¢ que so morre?» — pergunta s 1.* veladora; «Talvez por nao se sonhar bastanto...», esponde ‘27, No espaco aberto avocado por cada uma das veladoras, podem assinalar-se trés Isotopias fundamentals, relerentes a0 mundo liquid, vegotal e domastico: liquido (mar, fontes, agos, acho, navio, vela — de navio), vegetal (tamarindos, paimeiras, floresta, arvores, flores); domvistico (casa natal, casa da rnde, casa do passado). ‘espana mimsético 6 também caracterizado termicamonte por uma fala da 1.* veladora, «Este ar quente & {rio por dentro» *@ dole fazom ainda parte as indicagées ‘sonoras cladas pelo Autor no fim da pega: «Lm galo canta, (..) Ndo muito longe, por uma estrada, um vago carte geme © chiae ’. Tal conio diz M. Issacaroff, em relacao 20 teatro radiof6nico, «mimetic space can be created in a radio play through the use of sound alone, unaccompanied by verbal language.» Em ambos os espacos surgern quatro perscnagens: todavia, se as veladoras se situarn num ¢ noutro, a maria sé Cy. Ba. Siw Nas 56-8 pertenco 0 primeiro © 0 marinhoiro 6 ¢ evocado no Eogundo, dando crigom pelo seu record, como vimos, @ um espace intradiagéten, quo semanticao esrutraimente corresponde 20 diogstice, apesar das recorcagdes do marinnoiro serem mais concretas do que 0: vagoscizores das veiadoras {Ne agora tanho-me referido as veladoras como a um petsonagem tico ov como és personagens com as mosmas lngbes ¢ mesma idertidade. J vrios {studiosos de O Marinheio salientaram a incissokblidade desta trindade, em que nao € dc reconhecer ocaracter nao-dsjuntivo de que falou Julia Kristeva a propésito do romance: via fonction non-cisjonetive du signe qui domine le. roman, transforme chaque entité (et par la chaque actant) en. son conrair, de sorte que chaque entité est on méme temps Sen autre, done chaque entité est double». Mas apesar do reconhecorafuncdo ndo-disjuntva das trés veladoras, na medida em que cada uma # endo ¢ as outras duas, ostaria do subinnar que ha igiras ciforengas eniveolas:@ 3° veladora tom muito menos falas do que as ouras:a2* responde a malo parte das perguntas ca peca; cada uma ‘voca um passadoligeiramenteciforerte. Pele que deiximos sito, poderiamos ser iovades a pensar que, enquanto 0 espaco mimistico corresponde 20, locus horrandus classco, 0 aspago dioetico tera o sou paraloiono locus amonus. Esta chcatoia 6, todavia, fngenadora, uma vez quo a sucessva ciagao de espacos, logic @ ntradiegéten, om vez do lviaratonedo erada 0" todos os elementos do espaco mimétco, vem, palo Coniéro, aumertar a angistia das res veledoras depois do a2 voladora contaro sonho do marnheiro quo o desespero se tna mais drectamente referenclave, sendo @ cima parte da pera caracterizada pelas especulacdes, sobro a vida 0 a morte ‘Aposar da existéncia dots espacos todos 08 estucioeos de F. Pessoa assinalam a ausénosa de accao ‘ropriamonte cit, Assim, nao admira quo ocupom oprimoiro lanoo8 objecos exstani nests és espagos, uma vez {qe sto ees, por assim dizer, ue sugerem a acco. “Ants da iclrmos 0 ostudo dos objactos em O Mariner eda sua dtrente cistbuigao polos trés ospagos existentes, conv dt que so entende por objoctoom teatro, Shoshana Avigal e Shiomitn Rimmon-Kenan num atigo initulado «What Do Brook's Bricks Mean? — Toward a Theory ofthe "Mopilty”of Objects in Theatrical Discourse» ' detinam objecto coma wa sign which can be listed inthe "dictionary (lexicon) creatd by tho specitc Performance, Asalexeme, the object can takepart in "sentences" which can be analyzed linguistically although they are not completely verbal» ®. Segundo os mesinos autores, um objecio tem de obedecer a determinadas regras ppara ser considerado como ta: inanimado ou capaz de so {otnar inanimado, materialmente realizavel no palco em trés dimensdes, transportavel ou colocado de forma a que 08 actores possam mover-se a volta dele, desprovido de sintencionalidade», manipulado mas incapaz de iniciar um discurso, eto, et. ‘Aigumas destas condig6es paracom-me demasiado restrtvas, impedindo uma ambiguidade de situacao, tipica do O Marinhoiro, Os autores consideram que os objectos 'ndo podem iniciar um discurso, mas haveria que distinguir tentre objectog naturalmente inanimados e sujeitos vazios ou ue se vao progressivamente esvaziando como sujeitos — casos, respectivamente da morta e das veladoras, que se pparecem com a morta e com as nao por acaso quatro tochas: se daquelas ainda saem algumas falas, estas ainda conservam uma pequena chama. Fala e chama, porém, pressente-se que vo morrer, como a morta, ‘Acexistencia de trés espacos diferentes na pega de F. Possoa oxige naturalments trés tioos de viséo ou trés graus de percepeao ou concepeao dos objectos, cada uma correspondendo a um dos espacos mencionados. ‘Avigal e Fimmon-Kenan falaram na «mobilidade» do objecta, ist 6; wits capacity to change its status, channal, meaning and functioning within the frameWork ofthe same discourse and at its different levelé of communication» " «Quing to the mobility.) the object inthe theater becomes an intersection-point of diferent categories ot meaning, and consequently ithas a rich figurative potential, wihether explicit o implicit», Partindo destas definicdes, temos quatro mados de estudar 0s objectos: morfolégico (transformagées na ‘substéncia e na forma), sintictico (as varias funcées nas trases do mesmo discurso), semantico (participagao em varios campos semanticos) e retérico (simulténea e/ou ‘sucessiva realizacdo em diferentes figuras). ‘Antes de iniciar 0 estudo, enumeremos os objectos pertencentes a cada um dos espagos atras releridos. Espago, ‘mimético: caixao donzola morta, trés veladoras, quatro tochas, chamas das tochas, relogio (ausente), 5." pessoa, alo, carro; espaco diegético: casa (natal, da mae e do pasado), flores, arvores, navio ao longe (ausente), vela (de ‘ravio), marinheito, barco; espaco intradiegético: navio. MORFOLOGIA DOS OBJECTOS No estudo morfoldaico, intorossa considerar para cada 29 ‘objecto as qualidades que sao funcionais ¢ qual a sua relagdo com o todo que 6 a poca. Esspago mimético — Neste espago, 08 objectos tém ptiortariamente a fungao geradora de angustia, acentuando a presenga da morta (caixéo, donzela morta, tochas), a cexistencia de um enigma insolivel (5° pessoa, veles: «NEO hha vento que mova as chamas das vel movem-se... Para onde se inciinam elas?..»'*), a ‘atemporalidade (marcada pela auséncia do rel6gio) © a ecessidade de evasdomnecessidade de sofrimento, rmarcada pela aituce a um tempo evasiva e masoquista das trés veladoras, cuja actuacao se situa apenas a nivel verbal, rum discurso de signos sem referentes. O cantar do galo e © ‘chiar do carro tem uma fung4o de tépico conclusivo, marcando a distingdo noiteldia, fora/dentro, vida/morte, real ssonho. Espago diegético — No espago diegético, a fincao dos ‘bjecios esta sobretudo relacionada com a procura de um lugar utépico (como os palacios de outros continentes) que ‘proporcione uma establidade e seguranca inexistentes no ‘espago mimético (as varias casas evocadas e respectivos ‘acessérios — rvores, aves, fortes, etc). Apesar das tentativas de destruir o angustiante espago mimético, os ‘bjectos pertencentes ao espaco diegético revelam-se inoperantes, acabando por ser eles pr6prios geradores de lm desespero e de uma angiistia maiores: a vela de um rnavioinatingivel («nese dia via ao longe, como uma coisa ie eu s6 pensasse em ver, a passagem vaga de uma vela» "") — néo esquagamos a homonimia existente entre vela (de navio) e vela (de tocha), 0 que leva a considerar a Lum outro nivel (0 simbalico)as retagbes entre os'dois lespagos. Possuidores de objects enigmaticos o inatingivels, ‘a destruicao de um pelo outto revela-se ineficaz, na medida fem que 0s objecios de um, lange de sublimarom o rneutralizarem os do outro, mais nao fazem do que sublinhar ‘apresenga inesquecivel da morta, O marinheiro, instrumento ‘epersonagem da 2.* veladora, 6 gerar, através do seu sonho (que se queria catartico, de uma inseguranca e angustia inultrapasséveis;o falhanco deste objecto criado expressamente com a fungao de evasao vai ser corroborado ‘pelo aparecimento de mais do's objectos: 0 barco (Velo um dia um barco, @ passou por essa ilha, e nao estava la 0 ‘marinheiro» "), que afirma inequivocamente a inoxistoncia do marinnelro, eo navio ao longe (objecto ausente, tal como ‘0 roldgio do espaco mimstico), que marca a gratuidade da {ala © a impossibllidade de dialogo entre os trés objectos-ve- ladoras: «Primeira — Vejo pela janela um navio ao longe. 30 talvez aquele que vistes. ‘Segunda — Nao, minha Irma, esse que vedes busca ‘sem duvida um porto qualquer... Ndo podia ser que aquele ‘que eu vi buscasse qualquer porto, Primoira— Porque é que me respondestes?... Pode ser... Eu ndo vi navio nenhum pela janela... Desejava ver um e falei-vos dele para néo ter pena... No espago intradiogético, o pais sonhado oo navio sugerem uma seguranga @ um bemn-estar que se sabe im- possive's. ‘Concluindo, poderlamos dizer que os objectos dos lespagos diegético e intradiegético tentam, em vao, apagar ‘05 do espaco mimético, acabando por os fazer ressaltar ainda mais. SINTAXE DOS OBJECTOS Anivel sintactico, também as fungSes dos objactos diterem entre os dois espacos fundamentals: enquanto no ‘espago mimético, 0s objectos sao predomninantemente sujaitos (e, por vezes, complomentos directos), nos espagos diegético e intradiegético assistimos ao aparecimento de ‘numerosos complementos circunstanciais, embora possam parecer compiomentos directos e, menos ainda, sujeite. Hé a salientara funcao das veladoras, locutoras © alocutarias, ¢ a fungao da morta que, mesmo quando nao & sujeitosintacticamente expresso, condiciona o discurso, tornando-se sujeito a nivel de estrutura profunda: «Sao rds a escutar... (De repente, olhando para 0 caixao, € cestremecendo). Trés nao... Nao sei... N8o sei quanta...» ‘SEMANTICA DOS OBJECTOS Em O Marinheiro existem dois campos semanticos undamentais; morte e sonho, que podem aparecer unidos ‘20 longo da peca (ct. passagens em que se fala dos sonhos da morta). Estes dois campos somanticos tom varios sub- campos: familia, elemento liquido, natureza, atemporalidade, angustia, rofloxao, otc. (O campo semantico da morte Ié-se em lexemas como: eaixdom, «eladoras» (da morta), «tochasm, 5.* pessoa. Do ‘campo semantico do sonho fazem parte os objectos dos ‘esp8¢08 diagetico e intradiegetico que vo sendo denegados, polas préprias falas das veladoras: «<= O passado nao é senao um sono... De resto nem ‘sei o que nao é sono...» «Foi decerto assim que ali vivernos, eu e ndo sei se mais alguém» #. ‘486 vois sois feliz, porque acreditais no sono... (..)

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