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SOBRE A HISTÓRIA DA
HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA: UM
BREVE PANORAMA
Rio de Janeiro
jul./set. 2016
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I – ARTIGOS E ENSAIOS
ARTICLES AND ESSAYS
Resumo: Abstract:
Neste ensaio, propomos um balanço, mais pano- We propose in this essay to present an overview
râmico do que exaustivo, dos estudos de história rather than an in-depth analysis of the studies of
da historiografia no Brasil, de modo a destacar the history of historiography in Brazil in order
questões e temas mais frequentes, bem como to address some of the more frequent questions
possibilidades e perspectivas de investigação and topics related to it, as well as to focus on
que contribuíram para a configuração dessa the possibilities and research perspectives that
subárea de pesquisa. Na primeira parte da ex- contributed to the configuration of this research
posição, procuramos mapear a emergência de sub-area. First, we seek to map the emergence
uma reflexão historiográfica, que se evidencia of a historiographical reflection, evidenced by
com os trabalhos desenvolvidos até a década de the works developed up to the 1970s. We then
1970 e, na segunda, destacamos alguns modelos highlight some models of historiographical re-
de pesquisa historiográfica surgidos a partir da search that emerged from the 1980s onwards
década de 1980, que se constituíram em referên- and which have become landmark references
cias balizadoras para as pesquisas produzidas for the researches produced in the following
nas décadas seguintes. decades.
Palavras-chave: História da historiografia; his- Keywords: History of historiography; contem-
toriografia brasileira contemporânea; Teoria da porary Brazilian historiography; theory of his-
História. tory.
mais sistemático de estudo e escrita foi posto em prática por José Honório
Rodrigues entre os anos 1940 e 1970.8
dade de seu projeto pode ser medida não apenas pelas intenções explícitas
de conjugar o exame da teoria e da historiografia brasileira, mas também
pela forma de divulgação de seus trabalhos para um público amplo, com-
posto por estudantes universitários de história e professores secundários,
por meio da importante coleção Brasiliana, dedicada à edição de estudos
nacionais e estrangeiros sobre o Brasil, com destaque para pesquisas his-
tóricas. Tal empreendimento teve participação efetiva no movimento de
“redescobrimento do Brasil” ocorrido ao longo dos anos 1930 e 1940.
Por meio desse projeto, José Honório expôs as linhas gerais para
a interpretação da história da história do e no Brasil, listando nomes e
obras, estabelecendo uma cronologia da produção historiográfica, tecen-
do relações entre essa produção e as teorias da história. Mas, além disso,
tal empreendimento possui uma clara função crítica. Seu alvo principal
é aquela historiografia que o autor considerava distante dos interesses
nacionais, incapaz de dar conta do processo de emancipação do país. Em
sua opinião, essa historiografia a ser ultrapassada só tinha olhos para a
história colonial, não sendo capaz de desenvolver seu oposto: uma histó-
ria nacional. A primeira, consitiria em uma escrita da história inspirada
por valores estrangeiros e compromissada com a difusão de ideologias
antinacionais. A segunda, que ainda não estaria plenamente desenvolvida,
representaria o pensamento genuinamente brasileiro. Segundo o autor, a
historiografia brasileira era “um espelho de sua própria história”, inega-
velmente integrada à sociedade de que era parte, por meio de um “nexo é
econômico e ideológico”.11
12 – RODRIGUES, José Honório. Vida e história. São Paulo: Perspectiva, 1986, p. 62.
13 – RODRIGUES apud MARQUES, Ana Luíza. José Honório Rodrigues: uma siste-
mática teórico-metodológica a serviço da História do Brasil. Rio de Janeiro: PUC/Pós-
-Graduação em História, 2000, p. 5 (nota 17). Dissertação de mestrado.
Ainda nos anos 1970, dois livros se destacam por abordar a produção
historiográfica oitocentista na interseção com a história política e a ques-
tão nacional, ambos frutos de teses de doutoramento: O fardo do homem
branco: Southey, historiador do Brasil (1974), de Maria Odila Leite da
Silva Dias; e João Francisco Lisboa: jornalista e historiador (1977), de
Maria de Lourdes Mônaco Janotti.
18 – Idem, p. 10
32 – A tese foi traduzida por Paulo Knauss e Ina de Mendonça, e publicada no Brasil
postumamente: GUIMARÃES, Manoel L. Salgado. Historiografia e nação no Bra-
sil:1838-1857. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2011.
33 – Idem, p. 52.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
François Hartog identificou na emergência de uma consciência his-
toriográfica, desde o final dos anos 1980, o fenômeno mais amplo de crise
do regime moderno de historidade, caracterizada pelo presentismo (“um
presente onipresente”), que se faz acompanhar pela experiência de “um
futuro imprevisível” e de “um passado visitado e revisitado de forma
incesssante e compulsiva”.37 No âmbito da produção acadêmica, tais mu-
tações talvez nos permitam refletir sobre as relações que as pesquisas
atuais de história da historiografia mantêm com o que podemos identi-
ficar como uma “tradição” de estudos historiográficos, sobretudo aquela
que, no passado recente (entre os anos de 1970-80), consolidou certos
modelos de análise.38 Como foi destacado acima, em grande parte desses
estudos “precursores”, havia a explícita preocupação de retirar a histo-
riografia brasileira de um nicho originalmente ocupado nas histórias da
literatura nacional, para situá-la entre os objetos privilegiados de análise
dos historiadores, tomando-a como “documento” para a identificação das
linhas de “evolução” da história da disciplina.
37 – HARTOG, François. Prefácio. In: O século XIX e a história: o caso Fustel de Cou-
langes. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2003, p. 2.
38 – Um balanço analítico cuidadoso dos trabalhos mais recentes na área, incluindo pes-
quisas realizadas desde o início dos anos 2000, ainda está por ser feito. Neste sentido, des-
tacamos o mapeamento inicial dessa produção em: ARAÚJO, O século XIX no contexto
da redemocratização brasileira, op. cit..
Referências bibliográficas
Anais do I Seminário de Estudos Brasileiros. São Paulo: IEB/USP, 1971. 3 vo-
lumes.
ARAÚJO, Valdei Lopes de. A experiência do tempo: conceitos e narrativas na for-
mação nacional brasileira (1813-1845). São Paulo: Editora Hucitec, 2008.
ARAÚJO, Valdei Lopes de. O século XIX no contexto da redemocratização
brasileira: a escrita da história oitocentista, balanço e desafios. In: OLIVEIRA,
Maria da Gloria de e ARAÚJO, Valdei L. de (org.) Disputas pelo passado: his-
tória e historiadores no Império do Brasil. Ouro Preto/MG: EdUFOP/PPGHIS,
2012.
BEZERRA, Alcides. Os historiadores do Brasil no século XIX. Rio de Janeiro:
Oficinas Gráficas do Arquivo Nacional, 1927.
BLANKE, Horst W. Para uma nova história da historiografia. In: MALERBA,
Jurandir (org.). A história escrita: teoria e história da historiografia. São Paulo:
Editora Contexto, 2006, pp. 27-64.