Вы находитесь на странице: 1из 274

Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

APRESENTAÇÃO

O diagnóstico aqui apresentado foi realizado no âmbito do convênio nº 045/2007


(processo nº 00.350.003405/2007-12), estabelecido entre a Associação de Estudos Costeiros e
Marinhos – ECOMAR e a Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca – SEAP.
A necessidade do presente estudo foi deflagrada em função de demanda surgida na
audiência pública realizada no município do Rio de Janeiro em 02/05/2007, na qual o Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) apresentou a
proposta de criação de uma Unidade de Conservação de proteção integral chamada
“Monumento Natural das Ilhas Cagarras”. Nesta ocasião, tornou-se evidente a existência de
poucas informações disponíveis sobre a atividade da pesca para orientar o delineamento da UC
proposta.
O IBAMA se comprometeu a rever o processo de criação e convidar a ampla sociedade
para uma nova audiência pública. Importante notar que logo após esta data, todos os
processos de criação e implementação de Unidades de Conservação no país ficaram à cargo de
uma nova instituição chamada Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade –
ICMBio.
A SEAP, em parecer técnico elaborado logo após a audiência pública, ressaltou que
incorpora a idéia de áreas protegidas como importante instrumento para a recuperação,
ordenamento e gestão pesqueira, mas que por outro lado se preocupa com os impactos
negativos da criação de UCs de proteção integral sobre a pesca, especialmente a artesanal.
Assim, em uma reunião realizada com o ICMBio em agosto de 2007, a SEAP se comprometeu a
apoiar financeiramente um estudo da pesca artesanal no entorno das ilhas Cagarras com a
finalidade de orientar o esforço do ICMBio em re-discutir o delineamento da UC através de
novas reuniões com as comunidades da região.
A ECOMAR, entendendo que o papel dos pescadores deve ser mais ativo na
conservação marinha do país, propôs um plano de trabalho que lançou mão de ferramentas
participativas para a elaboração do diagnóstico pesqueiro. Assim, o papel da equipe
interdisciplinar contratada para executar o estudo, foi o de mediar e ser o interlocutor entre os
saberes locais e os órgãos governamentais que se relacionam com a gestão e fomento de suas
atividades produtivas. A ECOMAR espera também que este relatório possa ser utilizado por seu
público gerador – os pescadores - para outras finalidades que lhes convém, contribuindo com o
reconhecimento e valorização da pesca enquanto meio de produção e prática cultural de
convívio harmônico entre o homem e o mar.

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

AGRADECIMENTOS

 À Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (SEAP), que viabilizou o estudo,


especialmente ao oceanógrafo Leonardo Tortoriello Messias, que acompanhou as
atividades e execução do mesmo;
 À equipe técnica e gestora do projeto composta por Luciara Duarte Figueira (socióloga),
Paulo Roberto de Castro Beckemkamp (oceanólogo), Tatiana Walter (oceanóloga),
Liandra Caldasso (economista), Naila (geógrafa), Tiago Duque Estrada (biólogo), Carlos
Rangel (biólogo), Cassiano Monteiro-Neto (oceanólogo), Hugo Diogo Lamas
(oceanógrafo) e Leopoldo Cavaleri Gerhardinger (oceanógrafo) pela dedicação ao longo
de todo o trabalho;
 Às Colônias de Pesca Z-13, Z-7 e Z-8, Associação de Pescadores de Quebra-Mar,
Associação de Usuários do Quadrado da Urca, pelo apoio na mobilização e execução das
atividades de campo junto aos pescadores, especialmente Cátia Montovani, Ricardo
Montovani, Misael de Lima, Gilberto Alves, Aurivaldo José de Almeida, Luiz Carlos
(APELABATA);
 Às entidades ligadas à pesca amadora e esportiva, Federação de Pesca e Desportos
Subaquáticos do Estado do Rio de Janeiro, Confederação Brasileira de Pesca de
Desportos Subaquáticos, Confederação Brasileira de Caça Submarina, Federação de
Caça Submarina do Estado do Rio de Janeiro, pelo fornecimento de importantes
informações à equipe;
 Ao Laboratório de Computação Aplicada da Univali (G10), pelo suporte técnico ao nosso
Sistema de Informação Geográfica;
 Principalmente às pescadoras, pescadores, maricultores, maricultoras, armadores e
atravessadores que participaram compartilhando seus conhecimentos com a equipe.

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Autores
Leopoldo Cavaleri Gerhardinger – Coordenador - MSc. Oceanógrafo
Luciara Duarte Figueira – Socióloga
Tatiana Walter – MSc. Oceanóloga

Equipe Técnica
Carlos Rangel (biólogo)
Hugo Lamas Diogo (oceanógrafo)
Leopoldo Cavaleri Gerhardinger (oceanógrafo)
Liandra Caldasso (economista)
Luciara Duarte Figueira (socióloga)
Naila (geógrafa)
Paulo Roberto de Castro Beckenkamp (oceanólogo)
Tiago Duque Estrada (biólogo)
Tatiana Walter (oceanóloga)

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

ÍNDICE  

LISTA DE FIGURAS..................................................................................................................... i
LISTA DE TABELAS .................................................................................................................... v
LISTA DE ANEXOS ................................................................................................................. viii

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 1

2. ABORDAGEM METODOLÓGICA ............................................................................................... 5


2.1  Área  de  Estudo................................................................................................................................................................................................................. 5  
Municípios  costeiros......................................................................................................................................................................................................... 5  
Arquipélago  das  Cagarras .............................................................................................................................................................................................. 6  
2.2  Definição  das  comunidades  abordadas  no  estudo ..................................................................................................................................... 8  
2.3  Ferramentas  participativas  utilizadas .............................................................................................................................................................. 8  
Calendário  Sazonal ............................................................................................................................................................................................................ 9  
Critérios  de  estratificação  social ................................................................................................................................................................................. 9  
Entra  e  sai/de  onde  vem,  para  onde  vai................................................................................................................................................................... 9  
Matriz  de  avaliação............................................................................................................................................................................................................ 9  
Matriz  de  conflitos ............................................................................................................................................................................................................. 9  
Rotina  diária......................................................................................................................................................................................................................... 9  
Saídas  à  área  de  estudo ................................................................................................................................................................................................... 9  
Mapeamento  participativo...........................................................................................................................................................................................10  
Mapeamento  preliminar ...............................................................................................................................................................................................10  

2.4  Estratégia  de  Mobilização ................................................................................................................................................................................13  

3. HISTÓRICO DA CRIAÇÃO DE ÁREA PROTEGIDA NO ARQUIPÉLAGO DAS ILHAS CAGARRAS –


RIO DE JANEIRO ................................................................................................................. 15

4. QUEBRA-MAR / BARRA DA TIJUCA - RIO DE JANEIRO......................................................... 32


           4.1  Metodologia ..............................................................................................................................................................................................................32  
 
ASPECTOS  DA  COMUNIDADE  PESQUEIRA..............................................................................................................................................................35  
4.2  Dados  socioeconômicos.....................................................................................................................................................................................35  
4.3  Divisão  e  relações  de  trabalho  na  pesca ..................................................................................................................................................36  
Pesca  de  Linha ......................................................................................................................................................................................................36  
 Pesca  de  Rede ......................................................................................................................................................................................................36  
4.4  Divisão  do  trabalho  na  comercialização..................................................................................................................................................37  
4.5  Conflitos  e  interferências  externas.............................................................................................................................................................39  
4.6  Entidades  representativas  da  classe  pesqueira  e  aspectos  da  organização  social  dos  pescadores......................43  
 
ASPECTOS  TECNOLÓGICOS  E  BIOLÓGICOS  DA  PRODUÇÃO  PESQUEIRA  ARTESANAL ..................................................................44  
4.7  Características  das  Pescarias .........................................................................................................................................................................44  
 Petrechos  de  pesca  e  da  frota .......................................................................................................................................................................44  
Características  da  frota  e  motores...............................................................................................................................................................44  
Rede  alta  (de  fundo) ..........................................................................................................................................................................................44  
Rede  linguadeira..................................................................................................................................................................................................45  
Rede  de  caceia  (de  superfície).......................................................................................................................................................................45  
Rede  corvineira....................................................................................................................................................................................................45  
Rede  de  cerco  (batida  ou  bate  poita)..........................................................................................................................................................45  
Rede  de  robalo......................................................................................................................................................................................................45  
 
4.8  Produção  por  recurso,  sazonalidade  e  rendimento..........................................................................................................................46  
4.9  Áreas  e  locais  de  pesca .......................................................................................................................................................................................51  
 
INFRA-­ESTRUTURA,  COMERCIALIZAÇÃO  E  MERCADO...................................................................................................................................54  
4.10  Tecnologia  do  pescado  
Forma  e  acondicionamento  do  pescado  a  bordo  e  forma  de  beneficiamento  e                comercialização.............................54  
4.11  Insumos  pesqueiros,  meios  de  produção  e  despesas  associadas  ao  exercício  da  atividade  pesqueira...........54  
 Confecção  de  redes............................................................................................................................................................................................54  
4.12  Demanda  de  mercado  e  estruturação  da  cadeia  produtiva.......................................................................................................55  
Gastos  com  manutenção ..................................................................................................................................................................................55  
4.13  Seleção  de  especialistas..................................................................................................................................................................................56  

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

5. COPACABANA - RIO DE JANEIRO ........................................................................................ 57


5.1  Metodologia ....................................................................................................................................................................................................................57  
 
ASPECTOS  DA  COMUNIDADE  PESQUEIRA..............................................................................................................................................................60  
5.2  Dados  socioeconômicos.....................................................................................................................................................................................60  
5.3  Divisão  e  relações  de  trabalho  na  pesca ..................................................................................................................................................61  
Pesca  de  Linha ......................................................................................................................................................................................................61  
Pesca  de  Rede .......................................................................................................................................................................................................62  
Pesca  de  Mergulho  de  Compressor .............................................................................................................................................................64  
5.4  Divisão  de  trabalho  e  renda  –  produção  e  comercialização .........................................................................................................65  
5.5  Composição  da  Renda  Familiar  –  Atuação  das  mulheres...............................................................................................................67  
5.6  Conflitos  e  interferências  externas.............................................................................................................................................................70  
Uso  dos  mesmos  pesqueiros ..........................................................................................................................................................................72  
Poluição  e  Lixo  no  Mar......................................................................................................................................................................................74  
Furto  de  material  de  pesca  no  mar..............................................................................................................................................................74  
Ausência  de  Fiscalização..................................................................................................................................................................................75  
Pesca  sem  licença................................................................................................................................................................................................76  
Criação  de  uma  UC  em  Cagarras...................................................................................................................................................................77  
Traineiras  de  grande  porte .............................................................................................................................................................................77  
Órgãos  Governamentais:  IBAMA,  Capitania  dos  Portos  e  SEAP/PR .............................................................................................79  
Pesca  de  mergulho  com  equipamento  de  respiração  autônoma....................................................................................................79  
Barcos  de  arrastão  atuando  próximo  às  ilhas ........................................................................................................................................80  
Pesca  com  bombas..............................................................................................................................................................................................80  
Redes  perdidas  e/ou  dispostas  próximo  aos  costões  e  lajes ...........................................................................................................80  
Tráfego  de  embarcações ..................................................................................................................................................................................80  
5.7  Entidades  representativas  da  classe  pesqueira  e  aspectos  da  organização  social  dos  pescadores......................81  
Colônia  de  Pescadores  Z-­‐13  de  Copacabana ...........................................................................................................................................81  
 
ASPECTOS  TECNOLÓGICOS  E  BIOLÓGICOS  DA  PRODUÇÃO  PESQUEIRA  ARTESANAL ..................................................................82  
5.8  Características  das  Pescarias  
Pesca  de  Rede .......................................................................................................................................................................................................82  
Petrechos  de  pesca  e  da  frota ........................................................................................................................................................................82  
Pesca  de  linha .......................................................................................................................................................................................................84  
Pesca  de  mergulho..............................................................................................................................................................................................84  
5.9  Produção  por  recurso,  sazonalidade  e  rendimento..........................................................................................................................85  
5.10  Áreas  e  locais  de  pesca ....................................................................................................................................................................................87  
Pesca  de  rede ........................................................................................................................................................................................................88  
Pesca  de  linha .......................................................................................................................................................................................................89  
Pesca  de  mergulho..............................................................................................................................................................................................90  
5.11  Áreas  utilizadas  como  abrigo  em  mau  tempo....................................................................................................................................90  
 
INFRA-­ESTRUTURA,  COMERCIALIZAÇÃO  E  MERCADO...................................................................................................................................94  
5.12  Tecnologia  do  pescado  
Forma  e  acondicionamento  do  pescado  a  bordo  e  forma  de  beneficiamento  e  comercialização ....................................94  
5.13  Insumos,  meios  de  produção  e  despesas  no  exercício  da  atividade  pesqueira .............................................................95  
5.14  Demanda  de  mercado ......................................................................................................................................................................................96  
5.15  Estruturação  da  cadeia  produtiva .........................................................................................................................................................100  
5.16  Política  e  assistência  técnica  à  pesca  artesanal  e  incentivos  econômicos .....................................................................102  
5.17  Seleção  de  especialistas...............................................................................................................................................................................103  

6. QUADRADO DA URCA - RIO DE JANEIRO ........................................................................... 104


           6.1  Metodologia ...........................................................................................................................................................................................................105  
 
ASPECTOS  DA  COMUNIDADE  PESQUEIRA...........................................................................................................................................................107  
6.2  Dados  socioeconômicos..................................................................................................................................................................................107  
6.3  Divisão,  relações  de  trabalho  e  renda  (pesca  e  turismo)............................................................................................................108  
Pesca  de  Linha ...................................................................................................................................................................................................108  
Turismo ................................................................................................................................................................................................................109  
6.4  Conflitos  e  interferências  externas..........................................................................................................................................................110  
6.5  Entidades  representativas  da  classe  pesqueira  e  aspectos  da  organização  social  dos  pescadores...................114  
 
ASPECTOS  TECNOLÓGICOS  E  BIOLÓGICOS  DA  PRODUÇÃO  PESQUEIRA  ARTESANAL ...............................................................115  
6.6  Petrechos  de  Pesca  e  características  da  frota....................................................................................................................................115  
Produção  por  recurso,  sazonalidade  e  rendimento ..........................................................................................................................117  

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

6.7  Produção  por  recurso,  sazonalidade  e  rendimento.......................................................................................................................117  


6.8  Áreas  e  locais  de  pesca ....................................................................................................................................................................................118  
6.9  Áreas  utilizadas  como  abrigo  em  mau  tempo....................................................................................................................................119  
 
INFRA-­ESTRUTURA,  COMERCIALIZAÇÃO  E  MERCADO................................................................................................................................121  
6.10  Insumos,  meios  de  produção,  demanda  de  mercado  e  despesas  no  exercício  da  atividade  pesqueira........121  
 

7. JURUJUBA – NITERÓI
ASPECTOS  GERAIS  DA  COMUNIDADE  PESQUEIRA .........................................................................................................................................125  
7.1.1  Aspectos  socioeconômicos........................................................................................................................................................................125  
7.1.2  Conflitos  identificados.................................................................................................................................................................................127  
7.1.3  Aspectos  gerais  da  organização  social  dos  pescadores............................................................................................................128  
ALMARJ.................................................................................................................................................................................................................128  
Associações  na  Ponta  da  Ilha ......................................................................................................................................................................129  
Colônia  Z-­‐8 ..........................................................................................................................................................................................................128  
7.1.4  Aspectos  da  infra-­estrutura  e  comercialização  do  pescado  em  Jurujuba .....................................................................130  
 
MARICULTURA  E  EXTRATIVISMO  DE  MEXILHÕES  PERNA  PERNA ........................................................................................................134  
7.2.1  Divisão  e  relações  de  trabalho................................................................................................................................................................134  
7.2.2  Composição  da  Renda  Familiar  –  Atuação  das  mulheres........................................................................................................139  
Extrativismo  de  Mexilhões...........................................................................................................................................................................140  
7.2.3  Dinâmica  da  pescaria  e  recursos  necessários ...............................................................................................................................140  
Cultivo  de  Mexilhões.......................................................................................................................................................................................142  
7.2.4  Produção,  sazonalidade  e  rendimento ..............................................................................................................................................144  
7.2.5  Áreas  e  locais  de  pesca ................................................................................................................................................................................145  
7.2.6  Infra-­estrutura,  comercialização  e  mercado..................................................................................................................................147  
Mexilhões  de  associado  da  ALMARJ  recebido  na  sede  da  associação .......................................................................................147  
Mexilhões  de  não  associado  da  ALMARJ  recebido  na  sede  da  associação ..............................................................................148  
Mexilhões  ‘pirata’  cozido  vendido  para  intermediário....................................................................................................................148  
                       7.2.7  Tecnologia  do  pescado ................................................................................................................................................................................148  
Estrutura  física  e  dinâmica  do  beneficiamento...................................................................................................................................148  
Mexilhões  ALMARJ ..........................................................................................................................................................................................148  
Mexilhões  pirata ...............................................................................................................................................................................................149  
7.2.8  Insumos  pesqueiros,  meios  de  produção  e  despesas................................................................................................................151  
Mexilhões  ALMARJ ..........................................................................................................................................................................................151  
Mexilhões  pirata ...............................................................................................................................................................................................151  
7.2.9  Demanda  de  mercado ..................................................................................................................................................................................151  
Mexilhões  pirata ...............................................................................................................................................................................................151  
7.2.10  Estruturação  da  cadeia  produtiva .....................................................................................................................................................152  
Mexilhões  pirata ...............................................................................................................................................................................................152  
Mexilhões  Ponta  da  Ilha  e  Praia  de  Salinas...........................................................................................................................................154  
7.2.11  Gestão  ambiental  e  qualidade  do  produto....................................................................................................................................154  
Defeso  mexilhão ...............................................................................................................................................................................................154  
Qualidade  do  produto ....................................................................................................................................................................................155  
 
REDES  DE  CERCO  /  TRAINEIRAS...............................................................................................................................................................................156  
7.3.1  Divisão  e  relações  de  trabalho  na  pesca ...........................................................................................................................................156  
7.3.2  Divisão  de  trabalho  e  renda  –  produção  e  comercialização ..................................................................................................157  
7.3.3  Dinâmica  da  pescaria  e  recursos  necessários ...............................................................................................................................158  
7.3.4  Gestão  ambiental............................................................................................................................................................................................158  
Defeso  sardinha ................................................................................................................................................................................................158  
Portaria  IBAMA  43  de  2007 ........................................................................................................................................................................158  
 
PESCA  COM  REDES  DE  CAIÇARA ...............................................................................................................................................................................159  
7.4.1  Divisão  e  relações  de  trabalho  na  pesca ...........................................................................................................................................159  
7.4.2  Produção  e  comercialização ....................................................................................................................................................................160  
7.4.3  Dinâmica  da  pescaria  e  recursos  necessários ...............................................................................................................................161  
7.4.4  Produção,  sazonalidade  e  rendimento ..............................................................................................................................................162  
 
REDEIROS ..............................................................................................................................................................................................................................164  
7.5.1  Divisão  e  relações  de  trabalho  na  pesca ...........................................................................................................................................164  
7.5.2  Serviços  oferecidos  e  renda .....................................................................................................................................................................164  
 
PESCA  COM  BALEEIRAS .................................................................................................................................................................................................166  
7.6.1  Divisão  de  trabalho  e  renda .....................................................................................................................................................................166  

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

7.6.2  Dinâmica  da  pescaria  e  recursos  necessários ...............................................................................................................................166  


 
DOURADEIROS....................................................................................................................................................................................................................168  
MANUTENÇÃO  DE  EMBARCAÇÕES ..........................................................................................................................................................................168  
PESCA  DO  POLVO ..............................................................................................................................................................................................................169  

8. ITAIPÚ - NITERÓI ............................................................................................................. 170


           8.1  Metodologia ...........................................................................................................................................................................................................170          
 
ASPECTOS  DA  COMUNIDADE  PESQUEIRA...........................................................................................................................................................172  
8.2  Dados  socioeconômicos..................................................................................................................................................................................172  
8.3  Divisão  e  relações  de  trabalho....................................................................................................................................................................175  
Pesca  de  Rede  de  Espera...............................................................................................................................................................................176  
Arrastão  de  Praia  –  Lanço  a  sorte .............................................................................................................................................................176  
Linha ......................................................................................................................................................................................................................178  
Mergulho..............................................................................................................................................................................................................178  
8.4  Conflitos  e  interferências  externa ............................................................................................................................................................178  
8.5  Entidades  representativas  da  classe  pesqueira  e  aspectos  da  organização  social  dos  pescadores...................179  
 
ASPECTOS  TECNOLÓGICOS  E  BIOLÓGICOS  DA  PRODUÇÃO  PESQUEIRA  ARTESANAL ...............................................................181  
8.6  Características  das  Pescarias  
Petrechos  de  pesca  e  da  frota .....................................................................................................................................................................181  
8.7  Produção  por  recurso,  sazonalidade  e  rendimento.......................................................................................................................182  
8.8  Áreas  e  locais  de  pesca ....................................................................................................................................................................................183  
 
INFRA-­ESTRUTURA,  COMERCIALIZAÇÃO  E  MERCADO................................................................................................................................185  
Forma  e  acondicionamento  do  pescado  a  bordo  e  forma  de  beneficiamento  e  comercialização .................................185  
8.10  Estruturação  da  cadeia  produtiva .........................................................................................................................................................186  
8.11  Seleção  de  especialistas...............................................................................................................................................................................189  
8.9  Tecnologia  do  pescado  

9. DEVOLUTIVAS ................................................................................................................... 190

10. GESTÃO DO ESPAÇO MARINHO NO ENTORNO DA ILHAS CAGARRAS ............................... 193


           10.1  Resumo  dos  conflitos  identificados ......................................................................................................................................................193  
 Pesca  industrial  VS  pesca  artesanal ........................................................................................................................................................193  
Pesca  amadora  VS  pesca  artesanal...........................................................................................................................................................193  
Pesca  artesanal  VS  pesca  artesanal ..........................................................................................................................................................195  
Falta  de  fiscalização ........................................................................................................................................................................................195  
Poluição  da  água...............................................................................................................................................................................................198  
Furto  de  material  de  pesca  e  peixes  no  mar.........................................................................................................................................199  
Pescarias  predatórias.....................................................................................................................................................................................199  
Burocracia  e  ineficácia  no  permissionamento  e  ordenamento  da  pesca.................................................................................200  
Pesca  Subaquática  VS  outros  usos  do  espaço  marinho ...................................................................................................................200  
Criação  de  uma  UC  em  Cagarras................................................................................................................................................................201  
Desenvolvimento  Urbano  VS  pescadores  artesanais .......................................................................................................................201  
Pesca  artesanal  VS  outros  usos  do  espaço  marinho .........................................................................................................................201  
Redes  de  emalhar  perdidas  no  mar .........................................................................................................................................................201  
         10.2  Estado  atual  dos  recursos  pesqueiros.................................................................................................................................203  
         10.3  Considerações  finais  sobre  a  Gestão  Ambiental  do  Espaço  Marinho  no  Entorno  das  ilhas  Cagarras............203  
 
11. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 209

12. ANEXOS .......................................................................................................................... 211

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

LISTA DE FIGURAS

Figura 1– Comunidades investigadas e os principais grupos de ilhas da área de estudo......................... 7


Figura 2– Arquipélago das ilhas Cagarras próximo à praia de Ipanema e lagoa Rodrigo de
Freitas, Rio de Janeiro (RJ) (Foto: André Bonacin, disponível no Google Earth). .................... 7
Figura 3 – Proposta de Monumento Natural apresentado pelo IBAMA em audiência pública no
Rio de Janeiro em 02 de maio de 2007. ........................................................................ 26
Figura 4 – Início da praia da Barra (ponto vermelho à esquerda) e Quebra-Mar (ponto
vermelho à direita), Rio de Janeiro. .............................................................................. 32
Figura 5 – Canal da Barra, elevado do Joá e espaço tradicionalmente ocupado pelos
pescadores da Barra da Tijuca, Rio de Janeiro................................................................ 33
Figura 6 – Pescadores do Quebra-Mar e equipe técnica da ECOMAR durante aplicação de
ferramenta para coleta coletiva de dados para o projeto de caracterização da
pesca artesanal no entorno das Ilhas Cagarra ................................................................ 38
Figura 7 – Banca de limpeza e venda de peixes na comunidade do Quebra-Mar, Barra da
Tijuca. ...................................................................................................................... 39
Figura 8– Traineira realizando cerco de sardinha próximo da praia de São Conrado. ........................... 41
Figura 9 – Foto aérea publicada no site do jornal “O Globo”, no dia mundial do meio
ambiente. A imagem revela a mancha de sedimentos em suspensão (incluindo
poluição) que parte do canal da Barra. Observa-se as ilha Cagarras (ao fundo à
direita) e as Ilhas Tijucas (ao centro, à direita). ............................................................. 43
Figura 10 – Grande diversidade de peixes são explorados pelos pescadores do Quebra-Mar,
praia da Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. Pescada (esquerda, superior), cavalinha
(direita, superior), pirajica (esquerda, inferior) e olho de cão (direita, inferior). .................. 49
Figura 11 – Oficina de mapeamento participativo com pescadores do Quebra-Mar, praia da
Barra da Tijuca, Rio de Janeiro..................................................................................... 53
Figura 12 – Resultado gráfico da oficina de mapeamento participativo com pescadores do
Quebra-Mar, praia da Barra da Tijuca, Rio de Janeiro (esquerda). À direita,
categorizacão relativa do nível de relevância econômica dos pesqueiros para a
constituição da renda dos pescadores do Quebra-Mar. .................................................... 53
Figura 13– Praia de Copacabana (ponto vermelho na imagem à esquerda) e Posto 6 (ponto
vermelho na imagem na figura à direita), Rio de Janeiro. ................................................ 58
Figura 14 – Posto 6, Copacabana, Rio de Janeiro. .......................................................................... 58
Figura 15 – Peixes etiquetados à venda no Posto 6, Copacabana. .................................................... 65
Figura 16 - Banca para comercialização de pescados..................................................................... 66
Figura 17 – Peixaria arrendada do Posto 6 – Copacabana. .............................................................. 67
Figura 18 – Matéria no Jornal do Brasil em março/2009, ilustrando o papel da mulher na
pesca em Copacabana. ............................................................................................... 69
Figura 19 – Mulheres na manutenção das redes em Copacabana. .................................................... 69
Figura 20 – Mulheres na limpeza das redes em Copacabana............................................................ 70
Figura 21 – Oficina para elaboração da Matriz de Conflitos em Copacabana. ...................................... 71
Figura 22 – Pescador mediando a discussão da matriz de conflitos em Copacabana. ........................... 72
Figura 23 – “Seu Oliveira”, respeitado pescador de Copacabana. ..................................................... 73
i

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Figura 24 – Lixo presente nas redes do pescadores de Copacabana.................................................. 74


Figura 25 – Mapa preliminar descrevendo espacialmente a dinâmica da influência do
emissário na sujeira capturada pelas redes dos pescadores de Copacabana. ...................... 75
Figura 26 – Sujeira capturada pelas redes dos pescadores de Copacabana ........................................ 75
Figura 27 – Representante do ICMBio (direita) conversa com liderança da pesca artesanal em
visita ao Posto 6 organizada pela ECOMAR..................................................................... 76
Figura 28 – Pesca com redes de emalhar é atualmente o mais importante meio de produção
dos pescadores de Copacabana.................................................................................... 83
Figura 29 – Material para a pesca subaquática dos pescadores de mergulho de Copacabana................ 85
Figura 30 – Desembarque e comercialização do pescado em Copacabana. ........................................ 86
Figura 31 – Robalo capturado na pesca de redes por pescador de Copacabana. ................................. 87
Figura 32 – Oficina de mapeamento participativo com especialistas de Copacabana. .......................... 88
Figura 33 – Espacialização dos pesqueiros (esquerda) e categorização das áreas de maior
importância relativa na constituição da renda (direita) entre os pescadores de
rede de Copacabana. .................................................................................................. 88
Figura 34 – Pescadores de Copacabana saindo para pescar. ............................................................ 90
Figura 35 – Caixa utilizada para transporte dos peixes em Copacabana. ........................................... 94
Figura 36 – Atadores de rede em atividade em Copacabana. ........................................................... 96
Figura 37 – Comercialização do pescado nas bancas do Posto 6, Copacabana. ..................................100
Figura 38 – Área destinada para a limpeza do pescado em Copacabana. ..........................................101
Figura 39 – Cadeia produtiva do pescado em Copacabana. ............................................................102
Figura 40 – Quadrado da Urca (ponto vermelho à esquerda), Rio de Janeiro, Brasil. ..........................104
Figura 41 – Quadrado da Urca, Rio de Janeiro. .............................................................................105
Figura 42 – Aplicação de ferramenta participativa com pescadores da Urca, Rio de Janeiro.................106
Figura 43 - Embarcações pesqueiras da Urca, Rio de Janeiro. .........................................................115
Figura 44 - Iscas artificiais utilizadas pelos pescadores de linha em Copacabana. ..............................116
Figura 45 – Oficina de mapeamento participativo com pescadores do Quadrado da Urca, Rio
de Janeiro. ...............................................................................................................119
Figura 46 - Jurujuba (ponto vermelho na imagem à direita), Niterói (Rio de Janeiro). ........................123
Figura 47 - Enseada de Jurujuba, Niterói. ....................................................................................123
Figura 48 - Panorama da praia do Cascarejo, onde habita uma parcela dos pescadores e
maricultores de Jurujuba, Niterói.................................................................................126
Figura 49 – Balsa rápida durante travessia entre Rio de Janeiro e Niterói (Charitas). .........................128
Figura 50 – Entreposto de pesca – cais da Colônia Z-8 em Jurujuba, Niterói. ....................................131
Figura 51 – Entreposto de pesca – cais da Colônia Z-8 em Jurujuba, Niterói. ....................................131
Figura 52 – Vista dos fundos da ALMARJ (esquerda) e paisagem da área de maricultura mais
utilizada pelos associado da ALMARJ (direita)................................................................134
Figura 53 – Unidades de beneficiamento do mexilhão ‘pirata’ em Ponta da Ilha, Jurujuba...................135
Figura 54 – Unidades de beneficiamento do mexilhão ‘pirata’ entre a praia do Cascarejo e a
Ponta da Ilha, Jurujuba..............................................................................................135
Figura 55 – Descascadeiras de mexilhão ‘pirata’ na praia do Cascarejo, Jurujuba. .............................138
Figura 56 – Barco mãe utilizado por maricultores da Ponta da Ilha, Jurujuba. ...................................138
Figura 57 – Trabalho das descascadeiras em Jurujuba e o ensacamento da produção (“o
ii

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

enfeite”). .................................................................................................................140
Figura 58 – Sementes de mexilhão retiradas do costão rochoso, aguardando o ‘plantio’ nas
cordas da maricultura em Jurujuba..............................................................................144
Figura 59 – Redinha confeccionada pelas mulheres, e utilizada para o plantio do mexilhão em
Jurujuba. .................................................................................................................144
Figura 60 – Técnicos da ECOMAR e maricultores da ALMARJ descrevendo as principais área
utilizadas para a coleta de mexilhão. ...........................................................................147
Figura 61 – Estrutura disponível para processamento e beneficiamento do mexilhão na sede
física da ALMARJ, Jurujuba. ........................................................................................150
Figura 62 – Mexilhão ‘pirata’ é beneficiado em pequenas unidades familiares (barraquinhas, à
esquerda), onde é cozido, descascado (meio) e encaminhado para o atravessador
em tabuleiros de plástico (direita). ..............................................................................151
Figura 63 – O uso da lenha para o cozimento do mexilhão (esquerda) é altamente prejudicial
à saúde (foto meio), mas continua sendo empregado por maricultores da Ponta da
Ilha, que estão se organizando para conseguir apoio governamental para melhoria
na estrutura física disponível para o beneficiamento do mexilhão.....................................151
Figura 64 – A estrutura física da ALMARJ é também utilizada para a comercialização de
pescados como o camarão proveniente de carcinicultura (esquerda), e peixes
(direita). ..................................................................................................................153
Figura 65 – Vista da praia do Cascarejo (esquerda) e detalhe da qualidade da água na beira
da praia (direita), em Jurujuba, Niterói. .......................................................................155
Figura 66 - Traineira de Jurujuba (esquerda) e uma das áreas para manutenção de redes de
cerco.......................................................................................................................157
Figura 67 - Aplicação de ferramenta participativa em Jurujuba – matriz de divisão do
trabalho na peca de Caiçara. ......................................................................................159
Figura 68 – Banca de peixe no Mercado São Pedro, Niterói. ...........................................................160
Figura 69 – Redeiros fazendo a manutenção em redes tipo caiçara (esquerda em cima e à
direita) e redes de cerco para traineira (esquerda abaixo), em Jurujuba, Niterói. ...............165
Figura 70 – Pescador utilizando embarcação do tipo ‘baleeira’ preparando-se para uma
pescaria com redes de caiçara nas Ilhas Cagarras. ........................................................167
Figura 71 - Espaço utilizado por um ‘torneiro’ em Jurujuba, Niterói. ................................................168
Figura 72 – Pescador de polvos em sua baleeira ou caiaque, utilizados para a pesca do polvo
(esquerda) e ‘Estaleirinho’, o principal Porto de desembarque dos polvos em
Jurujuba, Niterói. ......................................................................................................169
Figura 73 – Praia de Itaipu - ponto vermelho – Niterói. .................................................................170
Figura 74 – Pescadores e banhistas ajudam a retirada do barco do mar em Itaipu, Niterói. ................172
Figura 75 – Canoa tradicional, utilizada para a pesca de arrasto de praia em Itaipu, Niterói................178
Figura 76 – Embarcações em Itaipú, Niterói. ................................................................................180
Figura 77 – Mapas preliminares aplicados com pescadores de Itaipu, Niterói. ...................................184
Figura 78 – Caixas de plástico são comumente utilizadas para o armazenamento e transporte
durante a comercialização do pescado. ........................................................................185
Figura 79 – Clientes e arrematadores se aproximam das embarcações que chegam para
comprar o pescado, muitas vezes vendido em lotes pelos pescadores. .............................186
iii

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Figura 80 – Arrematadora vende os peixes em lotes em Itaipú, Niterói. ...........................................187


Figura 81 – Devolutiva realizada na comunidade de Quebra-Mar, praia da Barra da Tijuca,
Rio de Janeiro...........................................................................................................191
Figura 82 – Devolutiva realizada na comunidade de Itaipú, Niterói. .................................................192
Figura 83 – Devolutiva realizada na comunidade de Jurujuba, Niterói. .............................................192
Figura 84 – Tira de “Nicanor” publicada no jornal “Diarinho” de Itajaí (Santa Catarina) em
fevereiro de 2009, retratando uma problemática muito comum aos pescadores do
Rio de Janeiro e Niterói. .............................................................................................194
Figura 85 – Traineira de cerco navegando no entorno das Ilhas Cagarras, município do Rio de
Janeiro ao fundo. ......................................................................................................194
Figura 86 – Matéria do jornal “O Globo”, relatando a pratica de cerco de sardinha a 3 metros
da orla de uma das áreas mais urbanizadas do Brasil (bairro da URCA, Rio de
Janeiro), enquanto a legislação ambiental permite apenas esta atividade a 200m
da costa. A matéria também destaca a impunidade devido à falta de fiscalização
do IBAMA.................................................................................................................198
Figura 87 – Matéria publicada no jornal “O Globo”, no dia mundial do meio ambiente. A
notícia destaca a poluição causada pelo efluente domestico na Barra da Tijuca. Ao
fundo podem ser observadas as Ilhas Tijucas................................................................199

iv

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Resumo das principais iniciativas e estratégias Brasileiras para a criação de um


Sistema Nacional de Áreas Protegidas............................................................................. 4
Tabela 2– Informações sobre as cartas náutica utilizada para o Sistema de Informação
Geográfica. ............................................................................................................... 12
Tabela 3 – Roteiro de campo e das atividades de coleta de dados. ................................................... 14
Tabela 4– Resumo das atividades de campo realizadas no Quebra-Mar. ............................................ 34
Tabela 5– Estratificação social na comunidade da Barra da Tijuca. ................................................... 35
Tabela 6 - Matriz da divisão do trabalho na pescaria de rede. .......................................................... 36
Tabela 7– Conflitos, envolvidos e causalidades. ............................................................................. 39
Tabela 8 - Caracterização dos petrechos e estratégias de pesca do Quebra-Mar. ................................ 46
Tabela 9 - Calendário Sazonal de Produção do Quebra-Mar. ............................................................ 48
Tabela 10 - Preços de comercialização do pescado por pescadores da Barra da Tijuca......................... 50
Tabela 11 – Pesqueiros utilizados e sua importância para os pescadores da Barra da Tijuca. ............... 52
Tabela 12 - Custos envolvidos na confecção de rede corvineira (malha 70 e 15 m de comp.)............... 54
Tabela 13 - Esquema de produção e comercialização. .................................................................... 56
Tabela 14 – Pescadores mais experientes nas diferentes modalidades de pesca, segundo a
recomendação dos pescadores do Quebra-Mar, Rio de Janeiro. ........................................ 56
Tabela 15 – Resumo das atividades de campo realizadas em Copacabana. ........................................ 59
Tabela 16 – Divisão da força de trabalho na pesca de linha realizada no Posto 6, em
Copacabana. ............................................................................................................. 62
Tabela 17 - Divisão da força de trabalho na pesca de rede realizada no Posto 6, Copacabana. ............. 63
Tabela 18 - Divisão da força de trabalho na pesca de mergulho realizada no Posto 6,
Copacabana. ............................................................................................................. 64
Tabela 19 - Divisão da força de trabalho na comercialização do pescado no Posto 6,
Copacabana. ............................................................................................................. 67
Tabela 20 - Relógio de rotina de uma vendedora de peixe.*............................................................ 68
Tabela 21 - Matriz de Conflitos, Copacabana. ................................................................................ 71
Tabela 22 – Importância relativa dos pesqueiros de rede para os pescadores de Copacabana. ............. 89
Tabela 23 – Principais pesqueiro utilizados na pesca de linha e sua relativa importância na
constituição da renda entre os pescadores de Copacabana............................................... 91
Tabela 24 – Principais pesqueiro utilizados na pesca de mergulho, freqüência e época de
exploração e importância relativa na constituição da renda entre os pescadores de
Copacabana. ............................................................................................................. 92
Tabela 25 - Descrição dos tipos de rede e dinâmica das pescarias. ................................................... 93
Tabela 26 - Matriz de Avaliação das despesas no mergulho. ............................................................ 96
Tabela 27 – Ferramenta ‘entra e sai, de onde vem, para onde vai’ em Copacabana. ........................... 98
Tabela 28 – Classificação do valor atribuído aos recursos pesqueiros em Copacabana. ........................ 99
Tabela 29 – Informantes pré-selecionados para participar da oficina de mapeamento
participativo em Copacabana. .....................................................................................103
Tabela 30– Resumo das atividades de campo realizadas em Copacabana. ........................................106
Tabela 31 - Matriz de estratificação social dos pescadores do Quadrado da Urca. ..............................108
v

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Tabela 32 - Matriz de avaliação do trabalho empreendido no turismo por pescadores da Urca,


Rio de Janeiro...........................................................................................................109
Tabela 33 - Matriz de Avaliação das atividades de pesca e turismo..................................................110
Tabela 34 - Matriz de Conflitos – Quadrado da Urca. .....................................................................111
Tabela 35 - Características da pesca de Linha. .............................................................................115
Tabela 36 - Calendário Sazonal de Produção. ...............................................................................117
Tabela 37 – Principais pesqueiros utilizados na pesca de linha e sua relativa importância na
constituição da renda entre os pescadores de Quadrado da Urca. ....................................120
Tabela 38 - Entra e sai da pesca profissional realizada no Quadrado da Urca. ...................................122
Tabela 39 - Custos e preços de saída de barco para o turismo na Urca, Rio de Janeiro. ......................122
Tabela 40 - Resumo das principais atividades de campo realizadas em Jurujuba (Niterói)...................124
Tabela 41 - Entra e sai adaptado ao Armador e dono de entreposto. ...............................................132
Tabela 42 - Entra e Sai de comprador/armador. ...........................................................................133
Tabela 43 - Matriz da divisão do trabalho no extrativismo de mexilhão (ALMARJ). .............................137
Tabela 44- Relógio de Rotina da Mulher no beneficiamento do Mexilhão (Verão)* .............................139
Tabela 45 - Relógio de rotina de maricultor da ALMARJ em exploração de mexilhões adultos. .............141
Tabela 46 - Relógio de rotina dos maricultores da Ponta da Ilha em exploração de mexilhões
adultos. ...................................................................................................................142
Tabela 47 - Matriz de avaliação do trabalho envolvido no extrativismo e cultivo de mexilhão. .............143
Tabela 48 - Relógio de rotina de um dia típico de ‘plantação’ de mexilhão pelos maricultores
da Ponta da Ilha. ......................................................................................................143
Tabela 49 - Áreas utilizadas para a coleta de sementes de mexilhão por maricultores de
Jurujuba (ALMARJ). ...................................................................................................146
Tabela 50 - Calendário Sazonal de Pesqueiros para extrativismo de mexilhões adultos. .....................146
Tabela 51 - Matriz de Avaliação do trabalho de beneficiamento do mexilhão pirata............................148
Tabela 52 – Preço praticados na venda de mexilhões. ...................................................................153
Tabela 53 - Entra e Sai adaptado ao atravessador. .......................................................................153
Tabela 54 - Fluxograma do Produto (Mexilhão).............................................................................154
Tabela 55 - Matriz de divisão do trabalho a bordo na pesca de traineira (barcos de 10m). ..................157
Tabela 56 - Matriz de divisão do trabalho a bordo na pesca de Caiçara (barcos de 10m) ....................159
Tabela 57 - Calendário sazonal de preço na pesca de Caiçara .........................................................161
Tabela 58 - Custos mínimo e máximo aproximado por recurso, conforme informação dos
pescadores de Caiçara ...............................................................................................161
Tabela 59 - Matriz de avaliação pesca de Caiçara em Jurujuba .......................................................162
Tabela 60 - Calendário Sazonal de produção na pesca de Caiçara. ..................................................163
Tabela 61 - Matriz de avaliação do trabalho envolvido na manutenção de redes caiçaras e de
cerco.......................................................................................................................165
Tabela 62 - Matriz de avaliação do trabalho do redeiro de rede caiçara. ...........................................165
Tabela 63 - Matriz de avaliação da pescaria de baleeira em Jurujuba...............................................167
Table 64– Resumo das atividades de campo realizadas em Itaipu. ..................................................171
Tabela 65 – Estratificação social dos pescadores tradicionais de Itaipu elaborada pelo Sr.
Chico – Presidente da ALPAPI. ....................................................................................175
Tabela 66 – Estratificação social dos pescadores tradicionais de Itaipu elaborada por Lidiane
vi

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

– Secretária da Colônia Z-07 de Itaipu. ........................................................................175


Tabela 67 - Divisão da força de trabalho na pesca de rede. ............................................................176
Tabela 68 - Divisão da força de trabalho na pesca de arrasto de praia realizada em Itaipu,
Niterói. ....................................................................................................................177
Tabela 69 - Calendário Sazonal de Produção na pesca de linha em Itaipu, Niterói..............................183
Tabela 70 – Ferramenta de ‘entra e sai’ aplicada com atravessadores em Itaipu, Niterói. ...................188
Tabela 71 – Pescadores mais experientes nas diferentes modalidades de pesca, segundo a
recomendação do pescadores de Itaipú, Niterói.............................................................189
Tabela 72 – Conflitos, envolvidos e detalhes sobre as causalidades. ................................................196
Tabela 73– Relatos obtidos durante as oficinas de mapeamento participativo, sobre a
variação histórica na produtividade dos principais pesqueiros no entorno das ilhas
Cagarras..................................................................................................................207  

vii

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

LISTA DE ANEXOS

ANEXO 1 - Matérias Jornal do Brasil............................................................................................212


ANEXO 2 - Lista de nomes populares e científicos dos recursos pesqueiros utilizados pelas
comunidades de entorno das Ilhas Cagarras .................................................................214
ANEXO 3 - Fichas de Conteúdo das Oficinas de Mapeamento Participativo ........................................216
ANEXO 4 - Histórico Documental do Processo de Criação de Unidade de Conservação na Área
do Aquipélago de Cagarras (RJ). .................................................................................235
ANEXO 5 - Mapas SIG – Resultado das oficinas de mapeamento participativo. ..................................258

viii

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

1. INTRODUÇÃO

As Áreas Marinhas Protegidas (AMPs) vêm ganhando reconhecimento enquanto robusta


estratégia para a conservação da biodiversidade e gestão pesqueira por cientistas e planos
governamentais em todo o planeta (Jones, 2007). Na academia, vários cientistas e grupos de
pesquisa vêm discutindo e propondo os fundamentos para o delineamento de redes de AMPs
que considerem os aspectos biológicos, socioeconômicos, institucionais e politicos. Esta grande
atenção que vêm sendo dada às AMPs está também evidente em conferências e convenções
internacionais como a Convenção da Diversidade Biológica (CDB), o Congresso Mundial de
Parques da UICN (Durban, 2003), Convenção de Ramsar (Uganda, 2005) e a vigésima sexta
reunião do comitê da FAO (Roma, 2005). Em resposta a tudo isto, é esperado que os governos
signatários implementem mecanismos legais em seus países para implementar Sistemas
Nacionais de Áreas Marinhas Protegidas (SNAMP) em um futuro próximo.
No Brasil, a implementação de um SNAMP é um componente importante da atual
estratégia de conservação marinha (Tabela 1). No entanto, alcançar resultados de conservação
marinha em um extenso litoral como o Brasileiro é um grande desafio. A costa brasileira possui
mais de 8000km em extensão, em ambientes tropicais e subtropicais, provendo recursos e
serviços para mais de 400 municípios costeiros e centenas de comunidades de pescadores.
Muitos recursos pesqueiros estão sobre-explotados ou extintos comercialmente ao longo da
costa. Este fato é também consequência de planos de gestão pesqueira equivocados, com
políticas de subsídio demasiadamente otimistas (Abdallah and Sumaila, 2007).
O Brasil assumiu o compromisso, enquanto signatário da CBD, de estabelecer um
SNAMPs até 2012. De acordo com as sugestões da UICN (União Internacional para a
Conservação da Natureza), cada nação deveria designar 20-30% do território marinho em
algum nível de proteção. O Brasil vêm respondendo a estes compromissos através da
instituição de diversos planos e estratégias (Tabela 1). Tendo em vista o panorama nacional e
internacional acima descrito, é de se esperar o aumento no número de propostas de criação de
Unidades de Conservação marinhas no Brasil em um futuro próximo.
A maneira pela qual a sociedade é integrada na condução destes novos processos é
uma questão chave para o sucesso dos mesmos. Conforme relatou Kareiva (2006) ‘mais
importante do que ter um delineamento ideal de uma rede de áreas marinhas protegidas é
obter suporte social local e comunitário para elas’. A CDB reforçou em seu texto base que os
países ‘estabelecessem mecanismos para assegurar a efetiva participação das comunidades
indígenas e locais na tomada de decisão e no planejamento das políticas’ relacionadas às Áreas
Marinhas Protegidas. De maneira similar, o Congresso Mundial de Parques (Durban, 2003),
clamou à comunidade internacional para “engajar os usuários, incluindo comunidades locais e
tradicionais através de processos participativos no delineamento, planejamento e manejo e, na
divisão dos benefícios das áreas marinhas protegidas”.

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

O Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), publicado há apenas 9 anos,


estabeleceu diversos mecanismos para garantir a participação da sociedade nos processos de
criação e implementação de novas UCs. Dentre estes procedimentos estão as “audiências
públicas”, onde a sociedade é chamada para a apresentação da proposta pelo órgão ambiental
federal, atualmente responsabilidade do ICMBio.
Ao analisarmos a ATA da audiência pública do processo de criação do “Monumento
Natural das Ilhas Cagarras”, realizada no dia 2 de maio de 2007, percebemos que
definitivamente não houve o tão importante ‘suporte social’ à proposta. Pelo contrário, a
reunião foi conduzida sob forte antagonismo dos diferentes atores sociais presentes, inclusive
e especialmente os pescadores artesanais. Interessante notar que o órgão ambiental
explicitamente destaca, nos documentos que compõem a proposta de criação do Monumento
Natural da ilhas Cagarras, o caráter participativo do processo:

“...antes de chegarmos às propostas de categorização e delimitação da Unidade de Conservação,


foram consultados todos os usuários da área (pescadores, praticantes de caça submarina,
pesquisadores, Marinha, mergulhadores e operadores de ecoturismo) em reuniões conjuntas e
particulares”.

Este estudo de Caracterização da Pesca Artesanal no Entorno das Ilhas Cagarras foi
deflagrado em função de demanda que surgiu dos próprios pescadores. Estes sentiram-se em
certo nível ‘desconsiderados’ do processo, argumentando duramente que o órgão ambiental
não apresentou em sua proposta, dados sobre a pesca artesanal na área em questão.
O suporte financeiro da Secretaria Especial da Aqüicultura e Pesca (SEAP) à ECOMAR
vêm assim preencher esta lacuna de conhecimento, e especialmente trazer a voz e
conhecimento dos pescadores para dentro do processo de gestão pesqueira e conservação da
biodiversidade marinha na região. Entretanto, a necessidade de se conhecer e entender a
pesca artesanal na região não se limita a atender à iniciativa do ICMBio de se criar uma UC no
local. Tanto a ECOMAR como a SEAP entendem como extremamente importante que se
promova um amplo debate sobre a gestão e fomento da atividade pesqueira no Rio de Janeiro
e Niterói, especialmente a pesca artesanal. Para tanto, é preciso trazer à discussão a
possibilidade de se trabalhar com outras ferramentas de gestão do espaço marinho oferecidas
pelo arcabouço legal Brasileiro. Dentre outras possibilidades estão os acordos de pesca,
portarias e instruções normativas, entre outros. No entanto, desde o início é preciso ressaltar
que nenhuma ferramenta de gestão será efetiva caso não exista um compromisso e presença
efetiva do IBAMA na fiscalização das regras de uso e acesso aos recursos naturais marinhos da
região.
Neste contexto, o presente relatório apresenta uma caracterização pesqueira gerada de
maneira participativa. Esperamos que estas informações possam contribuir para trazer a tona
os conhecimentos e práticas de um grupo social em posse de uma cultura rica, mas fragilizado,

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

dentre outros motivos, pela falta de suporte governamental e depauperação dos recursos
naturais de uma região que sublima todos os pontos negativos e positivos do desenvolvimento
urbano e econômico.
Neste relatório, descrevemos inicialmente um histórico do processo de criação de uma
Unidade de Conservação na área do arquipélago das Ilhas Cagarras. Em uma leitura analítica
dos documentos que compõem o processo legal corrente no ICMBio, procuramos entender e
avaliar como se deu a participação dos pescadores no processo.
Posteriormente, apresentamos os dados obtidos em cinco comunidades foco: Itaipu e
Jurujuba (Niterói), Urca, Copacabana e Quebra-Mar (Rio de Janeiro).
Trazemos por fim uma breve reflexão sobre os principais conflitos identificados, e os
possíveis papéis de diferentes ferramentas de gestão e ordenamento do espaço marítimo na
resolução destes.

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Tabela 1 - Resumo das principais iniciativas e estratégias Brasileiras para a criação de um Sistema
Nacional de Áreas Protegidas.
Iniciativas governamentais Resumo descritivo Instituições e departamentos
relacionadas às Áreas que interagem
Marinhas Protegidas
Áreas Prioritárias para Legislação estabelecendo as Ministério do Meio Ambiente
Conservação, Uso Sustentável e áreas prioritárias para a criação (MMA), através do Núcleo da
Repartição de Benefícios da de novas AMPs. Zona Costeira e Marinha (NZCM),
Biodiversidade Brasileira coordenam a revisão do
documento a cada 5 anos. O
Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade
(ICMBio) está procurando utilizar
este documento como um guia
para o estabelecimento das
novas AMPs.

Programa Nacional de Áreas Legislação estabelecendo os O MMA, através do


Protegidas princípios, diretivas, objetivos e Departamento de Áreas
estratégias para se atingir um Protegidas (DAP), elaborou e
Sistema Nacional de Áreas publicou o programa com a
Protegidas (incluindo terrestres) participação do NZCM nas
até 2015. questões marinhas. O ICMBio
possui responsabilidade
institucional para executar o
programa no nível federal.

Sistema Nacional de Áreas Legislação determinando as ICMBio possui a responsabilidade


Protegidas (SNUC) diferentes categorias de áreas institucional de criar e gerir o
protegidas e sua abordagem de Sistema Nacional de Áreas
governance. AMPs podem ser Marinhas Protegidas. Dentro do
estabelecidas pelo governo ICMBio.
federal e estados costeiros
utilizando-se dos mesmos
critérios (em alguns casos podem
ser criados por municípios).

Mosaicos de Áreas Marinhas Legalmente estabelecido pelo O MMA possui a responsabilidade


Protegidas SNUC, permite a criação de de criar redes e mosaicos de
mosaicos regionais de AMPs que AMPs, enquanto o ICMBio possui
são gestionados de maneira a responsabilidade de
integrada. implementa-las.

Programa RUMAR O RUMAR está sendo O ICMBio têm a responsabilidade


implementado, e pretende dar de implementar o programa.
apoio financeiro continuo às
AMPs.

Outras legislações relevantes na Áreas marinha podem ser Os Centros de Pesquisa do


gestão espacial do espaço colocadas em regimes especiais IBAMA (ex. CEPSUL, CEPNOR,
marinho. de gestão (ex. áreas de exclusão CEPENE) e o Gerenciamento
pesqueira) através de Costeiro Integrado (GERCO)
mecanismos legais alternativos, podem atribuir e criar áreas de
como decretos e Instruções exclusão ao longo da costa.
Normativas.

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

2. ABORDAGEM METODOLÓGICA

A caracterização da atividade pesqueira realizada nas adjacências do Arquipélago de


Cagarras foi realizada por meio de três etapas de campo, a saber: diagnóstico, oficinas de
mapeamento participativo e devolutiva dos resultados. As informações coletadas em campo
foram complementadas por informações secundárias, sempre que necessário. Após a
sistematização prévia dos dados, os resultados foram apresentados aos pescadores de cada
comunidade, no intuito de proporcionar a correção e validação dos resultados obtidos e de que
os mesmos pudessem se apropriar do diagnóstico enquanto instrumento de negociação junto
aos órgãos responsáveis pela atividade pesqueira no país.

2.1 Área de Estudo

Municípios costeiros
A área de abrangência deste diagnóstico inclui dois grandes centros urbanos do estado
do Rio de Janeiro, os municípios de Niterói e Rio de Janeiro.
O Rio de Janeiro é a segunda maior metrópole do pais, a maior em área costeira, com
mais de 6 milhões de habitantes (sem considerar as cidades metropolitanas). A cidade é
considerada um ícone nacional e internacional da cultura Brasileira, em ambos aspectos
positivo e negativos.
O Rio de Janeiro é um município de contrastes sociais e econômicos, com enormes
disparidades entre ricos e pobres. Alguns bairros da cidade possuem o Índice de
Desenvolvimento Humano correspondente a países nórdicos (Gávea: 0.970; Leblon: 0.967;
Jardim Guanabara: 0.963; Ipanema: 0.962; Barra da Tijuca: 0.959), enquanto outros estão
muito abaixo da media municipal (Complexo do Alemão: 0.711, Rocinha: 0.732). Uma
significativa parcela dos mais de 6 milhões de habitantes vivem em condições de pobreza em
favelas ou outros aglomerados urbanos com condições de segurança, educação, saúde e
moradia muito ruins. Em algumas favelas, muitos destes serviços públicos são fracos ou
inexistentes. O Rio de Janeiro apresenta também altíssimas taxas de violência urbana,
ganhando espaço na mídia nacional e internacional de destaque, principalmente em função do
tráfico de drogas e taxas elevadas de homicídio.
Niterói, por sua vez, possui cerca de 477 mil habitantes e o terceiro mais alto IDH do
Brasil. Representa um dos principais centros financeiros, comerciais e industriais do estado do
Rio de Janeiro. É a terceira cidade do Rio de Janeiro em numero de turistas, que procuram o
local atrás dos seus centros culturais e históricos e suas praias. Contudo, o desenvolvimento
acelerado vêm trazendo problemas como o surgimento de grandes favelas.
Embora apresente uma das mais magnífica paisagens naturais do planeta, Rio de
Janeiro e Niterói sofrem com a altíssima poluição atmosférica e de suas águas (quinta capital
mais poluída do Brasil).

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Arquipélago das Cagarras


O arquipélago das ilhas Cagarras está localizado à frente da cidade do Rio de Janeiro, e
inclui 5 ilhas principais (Ilhas Cagarras, de Palmas, Comprida, Rasa e Redonda), três ilhotes e
sete parcéis próximos à superfície (Figuras 1 e 2).
Em função da sua proximidade com o maior centro urbano costeiros do país, recebe a
atenção recorrente da mídia nacional por suas riquezas naturais e importância socioeconômica
para a população local. Pesquisadores das universidades locais (Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Universidade Federal Fluminense, entre outras) vêm há tempos estudando a biologia
marinha do arquipélago, alertando recorrentemente
para a relevância biológica da porção emersa e submersa das ilhas. Por exemplo, as ilhas
Cagarras constituem um importante berçário e abrigo para populações de aves marinhas. Este
foi o motivo pelo qual recebeu o referido nome ‘Cagarras’, alusão ao ‘guano’ produzido pelas
aves que estão presentes aos milhares. Na porção submersa, os costões rochosos dão abrigo a
uma grande diversidade de peixes recifais (Rangel et al., 2007). Muitos destes são importantes
recursos pesqueiros para pescadores artesanais da região.
As belezas naturais do local atraem o interesse de milhares de turistas e desportistas
anualmente. Estes encontram no arquipélago um local adequado para a pesca esportiva
amadora (pesca-sub e embarcada), mergulho contemplativo, acampamentos, etc. O
arquipélago está também muito próximo de um emissário submarino de esgoto (vazão
estimada em 6.5m3/s) e da Baía de Guanabara, a segunda maior e mais uma das mais
poluídas baías brasileiras – recebendo o esgoto doméstico de mais de 11milhões de pessoas.
Motivado pela beleza cênica, relevância biológica para a conservação do ambiente
emerso e submerso e necessidade de gestão das atividades humanas no espaço marinho, há
20 anos vêm ocorrendo um esforço para se instituir uma área protegida no local.

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Figura 1– Comunidades investigadas e os principais grupos de ilhas da área de estudo.

Figura 2– Arquipélago das ilhas Cagarras próximo à praia de Ipanema e lagoa Rodrigo de
Freitas, Rio de Janeiro (RJ) (Foto: André Bonacin, disponível no Google Earth).

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

2.2 Definição das comunidades abordadas no estudo

A área situada entre as Ilhas Maricás e Ilhas Tijucas forma um único sistema, composto
por ambientes de fundo rochoso, cascalhoso e lamoso e com uma alta influência da dinâmica
da Baia de Guanabara.
Tal sistema é utilizado por uma diversidade de pessoas que fazem da pesca seu
principal meio de vida, ou possuem nela, um complemento da renda familiar. Estima-se, no
mínimo, a existência de dez pontos de desembarque de pescado oriundo das adjacências do
Arquipélago de Cagarras, sendo o arquipélago mais ou menos utilizado de acordo,
principalmente, com a localização geográfica do ponto de desembarque e da autonomia das
embarcações utilizadas na atividade pesqueira.
Considerando a complexidade em caracterizar todas as pescarias realizadas na área no
âmbito deste projeto, optou-se por uma estratégia amostral, onde as localidades do Posto 6
(em Copacabana), Quadrado da Urca e Jurujuba (em Niterói) constituem localidades que
fazem uso intenso da área. As duas primeiras pela proximidade geográfica e a terceira, por
se constituir uma comunidade maior e com mais poder de pesca.
Outras duas localidades foram selecionadas pois estão situadas no extremo do
sistema, sendo ao norte1, Itaipu (em Niterói) e ao sul, Quebra-Mar, na Barra da Tijuca.

2.3 Ferramentas participativas utilizadas

O conjunto de ferramentas metodológicas proposto para a coleta de dados apresentado


abaixo foi baseado em manuais e relatórios de atividades de campo, tais como Bunce et al,
2000; Cordioli, 2001; El Paso, 2007; FAO, 2001; Ortiz e Pompéia, 2005; Pido et al, 1997.
É importante ressaltar que essas ferramentas possibilitaram a obtenção de diversas
informações que foram aproveitadas para a consecução de mais de um item constante no
roteiro (pg. 14). O debate ativo em torno dos temas trabalhados que permeou toda a
produção dos dados proporcionava, ao mesmo tempo, a análise coletiva da realidade auxiliava
a interpretação e a causas dos problemas e também a identificação de potencialidades
presentes em cada comunidade. Em todas as ferramentas aplicadas foram registrados o local,
a hora, e o número de participantes.
Para orientar a equipe em suas atividades de campo e coleta de dados a cerca das
características da atividade pesqueira em cada comunidade, foi elaborado um roteiro, que
funcionou como um guia orientador ao qual a equipe podia se remeter em todas as etapas do
projeto. No entanto, é importante ressaltar que o grau de detalhamento das informações
obtidas e apresentadas neste relatório variaram para cada comunidade, considerando o
contexto logístico e complexidade de cada comunidade. Os resultados do estudo estão aqui
relatados tendo o roteiro como ponto de partida na estrutura de tópicos.

1
Na verdade, a localidade situada no extremo norte é Itaipuaçu em Maricá, mas considerando que sua frota é
composta por apenas 12 embarcações com características similares a de Itaipu, acredita-se que Itaipu é uma
comunidade mais representativa, tendo sido selecionada para realização de coletas primárias.

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Saídas à área de estudo


Técnica que visa a exploração das características espaciais da área de estudo. Deve ser
feita uma navegada sistemática com informantes, observando, perguntando sobre as
diferentes áreas. Devem ser levantados os significados que dão aos locais considerados
importantes por eles. As coordenadas geográficas (GPS) dos pesqueiros, bem como outros
locais importantes serão registrados.

Calendário Sazonal
O calendário sazonal deve ser elaborado com vistas a ampliar o entendimento dos
ciclos dentro do sistema de vida local. A distribuição pode ser feita pelas estações do ano, por
meses, ou ainda pelo ciclo da maré e lua.

Entra e sai/de onde vem, para onde vai


Técnica que objetiva a visualização da cadeia produtiva, avaliando a base de recursos e
aqueles mais importantes na geração da renda. Mapeia, ainda, os insumos requeridos para
exercer a atividade, bem como a origem destes insumos.

Rotina diária
Técnica que pode ser usada para descrever as tarefas realizadas e revelar a carga
horária de trabalho durante um dia. A partir dela, podem ser também evidenciadas as
diferenças existentes entre as atividades exercidas por homens e mulheres.

Matriz de avaliação
Essa ferramenta permite avaliar determinados aspectos constitutivos da produção
pesqueira (trabalho de beneficiamento, características dos recursos, composição da mão-de-
obra na embarcação, custos operacionais e de manutenção e etc) a partir de categorias que
podem ser estabelecidas a priori ou em conjunto com os participantes.

Matriz de conflitos
Permite a identificação dos conflitos existentes e dos atores sociais nele envolvidos.
Depois de identificados, propõe-se que sejam feitas, de forma comparativa a avaliação e a
classificação desses conflitos em ordem de importância.

Critérios de estratificação social


A variedade das atividades econômicas observadas em uma determinada comunidade
se reflete nas diferentes condições socioeconômicas das pessoas que a compõem. Dessa
forma, durante o diagnóstico, os pescadores foram estimulados a produzir categorias próprias
de classificação das diferentes situações sociais presentes no grupo.

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Mapeamento preliminar
Em posse de uma cópia da carta náutica em campo, aplicou-se esta ferramenta com
pescadores que demonstram ter grande conhecimento e experiência em determinada arte ou
área de pesca. Utilizando-se de canetas e marcadores, constrói-se com o informante um
desenho sobre a base cartográfica impressa dos principais pesqueiros, marcas de terra,
correntes, conflitos, e outras categorias de informação que se julgar relevante de acordo com
os conhecimentos e interesses do informante e do pesquisador.

Mapeamento participativo
As reuniões de mapeamento participativo foram realizadas com o propósito de registrar
a distribuição espacial-temporal das principais artes de pesca nas comunidades de Quebra-
Mar, Copacabana e Urca (ex. sazonalidade de uso, freqüência da pesca, temperatura da água).
Este esforço trouxe também informações qualitativas sobre cada pesqueiro (ex. recursos
principais, características do fundo, aspectos econômicos e culturais), além da categorização
das áreas de maior relevância para a pesca (índice econômico) nestas comunidades.

a) Etapa preliminar à realização das oficinas de mapeamento participativo


1o – A identificação e seleção de informantes-chave para a oficina foi realizada ao
longo das atividades de campo do projeto, através da solicitação aos próprios pescadores de
cada comunidade, de indicação daqueles colegas que mais conhecem sobre determinada arte
de pesca. A seleção de informantes se faz importante para que se possa garantir a qualidade e
aprofundamento das informações obtidas nas oficinas.
2o – As informações obtidas através do mapeamento preliminar foi também utilizado
como base de conhecimento prévio para a equipe discutir o planejamento de cada oficina. Em
posse dos mapas preliminares, foi possível entender as principais áreas, artes e recursos
explorados por cada comunidade, facilitando o entendimento dos pontos que necessitavam de
um maior aprofundamento em cada caso. Importante também ressaltar que as informações
obtidas em outras ferramentas participativas ou em conversas individuais também foram úteis
nesta etapa de planejamento inicial.
3o – Reunião de planejamento. A equipe se reuniu para discutir e planejar a etapa de
mobilização e o conteúdo a ser abordado em cada oficina de mapeamento participativo,
considerando as características de cada comunidade.
4o – Visitas em cada comunidade foram realizadas para mobilização dos informantes-
chave selecionados à participarem das oficinas, discutir datas apropriadas, coletar informações
adicionais necessárias ao planejamento e organização da oficina (ex. lanches, locais mais
apropriados, materiais necessários, etc).
5o – Organização dos materiais necessários para as oficinas, incluindo: filmadora digital,
máquina fotográfica digital, gravador de áudio digital, canetas marcadoras de retro-projetor
em cores variadas, lâmina plástica, carta náutica, fita adesiva, álcool e pano. A equipe prevista

10

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

para cada oficina é composta por um mediador (este sendo a única pessoa a conduzir o
diálogo do grupo), um ajudante de mediação (apóia o mediador com os materiais necessários,
intervém na mediação sob autorização do mediador, pode também fazer anotações) e dois
anotadores (cuidam do registro das oficinas e todas as anotações). Em algumas oficinas mais
extensas e cansativas, o mediador era substituído recorrentemente à cada mudança de arte de
pesca trabalhada. As reuniões foram filmadas, gravadas em áudio e fotografadas.

b) Realização das oficinas de mapeamento participativo


o
1 – Identificação e decisão conjunta entre a equipe e os informantes de um local tranqüilo
e silencioso para trabalhar coletivamente. Preparação do espaço e materiais, incluindo: mesas,
cadeiras, fixação da carta náutica e lâmina plástica.
o
2 – Apresentação da equipe e exposição oral dos seguintes tópicos: i) panorama geral
sobre o projeto; ii) propósito do encontro; iii) como e para que/quem as informações serão
utilizadas; iv) passo a passo da metodologia a ser empregada.
o
3 – O mediador da oficina aponta algumas feições geográficas e localidades para que os
informantes se integrem e entendam o conteúdo dos mapas.
o
4 – O grupo decide por qual arte de pesca começar o mapeamento. Os passos seguintes
são realizados para cada arte de pesca até o fim.
o
5 – O mediador solicita que o grupo aponte as principais marcações terrestres e os
pesqueiros utilizados para a arte de pesca em questão.
o
6 – Para cada pesqueiro definido pelo grupo espacialmente e desenhado pelo mediador
sob a lâmina plástica, os atributos abaixo eram, um a um, explorados. Importante destacar
que em função do tempo transcorrido, do cansaço e predisposição do grupo em transferir
determinado conhecimento, eventualmente um atributo podia não ser trabalhado com os
informantes.

- época e freqüência de uso do pesqueiro;


- recursos principais presentes no pesqueiro;
- aspectos quantitativos, como produtividade atual de uma “boa pescaria” (em Kg de pescado) e
pretérita (sugestionando memória de 20 anos atrás);
- tipo de fundo da localidade;
- conflitos específicos da área e;
- aspectos culturais e outras informações qualitativas que o grupo achar pertinente, deflagrada a
partir da pergunta “O que mais tem para ser contado sobre este pesqueiro?”.

7o – Após definir cada pesqueiro e trabalhar cada atributo de informações acima


descritos, o grupo era estimulado pelo mediador a categorizar cada pesqueiro em função da
pergunta “Qual a importância de cada pesqueiro para a constituição da renda?”. Deflagrado
por esta pergunta, o grupo distribuía pequenos papéis no formato de cifrão “$” sob os
pesqueiros, após discutir e consensuar sobre o número de cifrões pertinentes (escala utilizada

11

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

de 1-5 cifrões).
8o – Perguntava-se para o grupo definir e apontar em todo o mapa outros conflitos
existentes na região que pudessem ser espacializados. O grupo também era solicitado a
apontar as principais áreas de abrigo para atracação e refúgio em condições oceanográficas
desfavoráveis à navegação. Por fim, discutia-se a próxima arte de pesca a ser trabalhada pelo
grupo e então retornava-se à 5o etapa acima.

c) Sistematização dos conhecimentos e elaboração de Sistema de Informações


Geográficas
o
1 – A primeira etapa desta fase, foi a digitalização das informações colocadas nas
lâminas plásticas. Para isso, foi necessário utilizar as versões digitais das Cartas Náuticas da
Marinha Brasiliera disponíveis no site do Centro de Hidrografia da Marinha - Cartas Náuticas
Raster2. As Cartas Náuticas usadas como referência são as "1501 - Baía de Guanabara" e a
"1506 - Proximidade de Baía de Guanabara". Os detalhes dessas Cartas podem ser
encontrados na Tabela 2. Estas cartas foram utilizadas para a vetorização manual dos pontos,
linhas ou polígonos encontrados nas lâminas plásticas. A vetorização foi realizada utilizando o
software Quatum GIS, pois esse opera com facilidade com o formato das Cartas Náuticas
(BSB) e tem ferramentas de vetorização de fácil manipulação. Os vetores foram salvos em
formato Shapefile. Os Shapefiles consolidados foram: Dados sobre as artes de pesca
(polígonos); Dados sobre as artes de pesca (pontos); Abrigos (polígonos); Áreas de Conflitos
(polígonos); Referências Terrestres (pontos); e Legislação de regulação da atividade pesqueira
(polígonos).

Tabela 2– Informações sobre as cartas náutica utilizada para o Sistema de Informação Geográfica.
Nome da Escala Primeira Última edição Datum Limites
Carta edição
Carta 1501 - 1:50000 1938 4ª (2001) World Geodetic Lg 43º0,0' W Lt
Baía de System 1984 22º40,0' S
Guanabara (WGS 84)
1506 - 1:75000 1957 3ª (2003) World Geodetic Lg 43º19,10' W
Proximidade de System 1984 Lt 23º5,50' S
Baía de (WGS 84)
Guanabara

2o – A etapa seguinte a digitalização foi a de consolidação das tabelas de atributos


vinculados aos objetos (pontos, linhas ou políginos) dentro de cada Shapefile. Esse processo
serviu para agregar o conteúdo das entrevistas com os informantes que participaram das
oficinas ao que foi colocado nas lâminas plásticas. Os shapefiles com os dados referentes as
artes de pesca registradas nesse projeto contam com atributos para cada objeto (polígono ou
ponto) referentes a colônias de pescadores, a arte de pesca aplicada em cada objeto, a
descrição do petrecho utilizado, época e frequência de utilização da área, recursos pesqueiros
principais retirados ali, o tipo de fundo encontrado na área, aspectos qualitativos da

2
http://www.mar.mil.br/dhn/chm/cartas/download/cartasbsb/cartas_eletronicas_Internet.htm

12

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

produtividade de hoje e de 20 anos atrás, conflitos dessa pesca com outras atividades
exercidas na área, aspectos culturais e informações qualitativas do pesqueiro, observações que
os pescadores tenham sobre o pesqueiro e a relevância econômica do mesmo. Os shapefiles
dos abrigos, áreas de conflito e referências terrestres têm como atributos os dados referentes
a colônia de pescadores e arte de pesca que descreveram este objeto e observações
vinculadas ao mesmo. Finalmente o shapefile de Legislação reguladora da atividade pesqueira
tem como atributos a numeração da legislação, o título dessa lei, o ente federativo que
produziu a lei e observações necessárias.
3o – A terceira etapa consiste na conversão dos shapefiles consolidados para um banco
de dados geográficos. Essa ação foi realizada utilizando o software Spring (versão 5.0.4) e
utilizou a ferramenta de importação de shapefiles. Além disso, as Cartas Náuticas Digitais
foram integradas após conversão para o formato GeoTIFF através do software GDAL.
4o - A última etapa ficou para a confecção dos mapas apresentados anexos ao relatório.
Estes foram realizados usando os softwares de apoio do Spring (Scarta e Impima).

2.4 Estratégia de Mobilização

A mobilização para a participação dos pescadores ao longo do desenvolvimento deste


estudo foi razoavelmente dispendiosa, fator determinante da extensão de tempo acima do
inicialmente esperado para completar o estudo.
Diferente das comunidades pesqueiras brasileiras nas quais a equipe trabalhou , a
dinâmica urbana confere certa complexidade para a mobilização e exige um esforço maior em
combinar as agendas dos participantes, a fim de elaborar o diagnóstico. Normalmente, além
da pescaria as pessoas (homens e mulheres) assumem outros compromissos durante a parte
livre de seu dia. Outro fator complicador foi a própria dinâmica da atividade pesqueira, uma
vez que em algumas comunidades é o pescador quem efetua a venda direta de sua produção
ao consumidor, diminuindo a quantidade de tempo livre disponível para as atividades que lhes
eram propostas. A distância entre o local de trabalho (desembarque, manutenção e
armazenamento de material de pesca, comercialização do produto, etc) e muitas de suas
residências, faz com que muitos tenham que enfrentar o transporte público, sujeito a um
dispêndio maior de tempo em função do trânsito.
Esta questão impôs à equipe, em muitas ocasiões, uma estratégia diferenciada de
atuação. Por exemplo, em diversas investidas de trabalho, uma reunião pré-agendada não
acontecia pois ninguém havia aparecido. Nestas ocasiões, optava-se pela aplicação de
entrevistas individuais, registro de imagens e o aproveitamento do tempo para uma nova
mobilização. Esta dinâmica imprevisível também influenciou a estratégia adotada para a
realização das devolutivas, conforme descrito na seção que trata desta etapa do estudo.

13

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Tabela 3 – Roteiro de campo e das atividades de coleta de dados.


Categoria de Sub-categoria de Informação Método de coleta de dados
Informação
Aspectos da Dados socioeconômicos Coleta de informações secundárias e verificação de
comunidade disponibilidade de dados nas entidades. Ferramenta:
pesqueira Estratificação Social.

Divisão e relações de trabalho Ferramenta 1: Matriz de avaliação da divisão do trabalho na


(incluindo gênero e composição da embarcação e na cadeia de comercialização; Ferramenta 2:
renda familiar) Matriz de avaliação das atividades que compõem a renda
familiar (decompor as atividades - pesca em Cagarras,
pesca em outras áreas, outras atividades econômicas).

Conflitos e interferências externas Ferramenta: Matriz de conflito.


(Impacto da pesca no ambiente:
pesca predatória, preservação e
ordenamento): empresas
petrolíferas, órgãos governamentais
e não-governamentais; pesca
industrial, turismo e pesca sub

Entidades ligadas à pesca: Uso de dados secundários, incluindo o processo sobre a UC;
representatividades e aspectos da Aporte de informações coletadas em outras ferramentas.
organização social dos pescadores

Identificação de ações educativas e Ferramenta 1: Observação em campo; Ferramenta 2:


outras iniciativas locais voltadas à Entrevistas com presidente de entidades; Aporte de
organização social e gestão dos informações coletadas em outras ferramentas.
recursos naturais

Aspectos Características das Pescarias: Coleta de informações secundárias, incluindo a verificação de


tecnológicos e petrechos de pesca e embarcações disponibilidade de dados nas entidades; Observação em
biológicos da (frota) campo, incluindo registro fotográfico;
produção
pesqueira
artesanal

Produção por recurso, sazonalidade Ferramenta 1: Matriz de avaliação; Ferramenta 2: Calendário


e rendimento sazonal de produção e rendimento; Ferramenta 3: Aporte de
informações coletadas no entra e sai.

Áreas e locais de pesca Ferramenta: Mapas preliminares. Mapeamento participativo.

Condições da pesca e legalidade do Aporte de informações coletadas no entra e sai e em outras


trabalho (acesso aos direito de ferramentas;
seguridade social) Entrevistas com presidente de entidades.

Infra-estrutura, Tecnologia do pescado: forma e Ferramenta: Entra e sai com pescadores; Aporte de
comercialização e acondicionamento do pescado a informações da matriz de avaliação da divisão do trabalho e
mercado bordo e forma de beneficiamento e aporte de informações do entra e sai com atravessadores.
comercialização

Insumos pesqueiros Aporte de informações coletadas no entra e sai com os


pescadores e com atravessadores.

Demanda de mercado Aporte de informações coletadas no entra e sai com os


pescadores e com atravessadores, atentando para os
recursos mais valorizados e mais abundantes.

Estruturação da cadeia produtiva Ferramentas: Entra e sai com atravessadores; Aporte de


(atravessador) informações do entra e sai com os pescadores.

Política e assistência técnica à Aporte de informações coletadas em outras ferramentas;


pesca artesanal e incentivos Entrevistas com presidente de entidades.
econômicos

Seleção de Ferramenta: Solicitação individual sobre os três pescadores


especialistas que o entrevistado entende como os mais experientes para
(informantes cada arte de pesca.
chaves)

14

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

3. HISTÓRICO DA CRIAÇÃO DE ÁREA PROTEGIDA NO ARQUIPÉLAGO DAS ILHAS


CAGARRAS – RIO DE JANEIRO

O histórico apresentado aqui foi elaborado a partir de uma análise documental do


processo de criação de uma Unidade de Conservação na região do arquipélago das ilhas
Cagarras. Esta análise documental traz um foco particular na relação que o processo de
criação tem junto à pesca artesanal, principalmente sobre o olhar da ‘participação’ dos
pescadores em todas as etapas do processo. Para uma descrição mais detalhada sobre a
documentação, favor referir-se ao Anexo 4.
O processo de criação de uma Unidade de Conservação (UC) no arquipélago das ilhas
Cagarras é temática antiga e consideravelmente complexa. Conforme veremos, foram várias
as propostas que surgiram ao longo do tempo, sistematicamente sofrendo inúmeras alterações
e revisões em diferentes instâncias governamentais (ex. estadual e federal).
Em Dezembro de 1989 o CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente) aprovou uma
proposta de decreto da Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) das Ilhas Cagarras. No
entanto, só em fevereiro de 1992 foi aberto um processo junto ao setor de protocolo do IBAMA
para tratar da criação da ARIE das Ilhas Cagarras. Um mês depois a proposta de decreto foi
submetida à apreciação do então Presidente da República, junto com um documento que
expunha as motivações da proposta. Nesta foram principalmente destacados a importância das
ilhas enquanto berçário de aves marinhas e também o seu componente paisagístico. Estas
características marcantes das ilhas Cagarras estão presentes em todas as subseqüentes
propostas de UC na área como objetivos explícitos nas justificativas de criação. A proposta
incorpora a parte emersa de todas as ilhas do arquipélago das Cagarras, incluindo uma área de
2km em torno de cada ilha. A minuta de Decreto Presidencial proíbe a pesca com armadilhas,
redes e explosivos, competições esportivas e o acampamento nas ilhas.
Aparentemente, o processo de criação de uma UC na área foi retomado após
articulação da ONG Viva Rio e a mobilização de mergulhadores em 2001. Após quase 10 anos
sem trâmites e encaminhamentos, uma matéria publicada na Folha de São Paulo (29/04/2002)
traz a seguinte informação:

“A importância ambiental, cultural e econômica das ilhas Cagarras levou o Ministério do


Meio Ambiente, através do IBAMA, a propor a classificação da região como Área de
Relevante Interesse Ecológico (ARIE). Foi garantida uma vaga para o arquipélago no
primeiro concurso para analista ambiental do IBAMA”.

Percebe-se com isto que o debate emerge novamente no âmbito do IBAMA, quando o
órgão decide criar um Grupo de Trabalho para rever a situação da ARIE e propor a criação de

15

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

uma UC no local. O GT era composto pela equipe técnica do Parque Nacional da Tijuca.
Diversas reuniões aconteceram entre o órgão ambiental e grupos de interesse sobre a área
(pescadores, mergulhadores, pesquisadores, etc) entre o final do ano de 2002 e início de
2003.
Ainda ao final do ano de 2002, outra matéria publicada no jornal “O Globo” e na revista
“Veja Rio” cita que o órgão estaria estudando categorizar a UC como Parque Nacional.
Importante notar que à época já encontrava-se regulamentada a Lei do Sistema Nacional de
Unidades de Conservação (SNUC), que instituía e regulamentava as diferentes categorias de
Unidades de Conservação do país.
Em fevereiro de 2003 foi finalizado o que parece ser o primeiro “Diagnóstico sobre a
Unidade de Conservação Federal das Ilhas Cagarras”, assinado pelos analistas ambientais
lotados no Parque Nacional da Tijuca. Este documento reconhece que “...o arquipélago é
bastante utilizado pela população”, e aponta que a pesca é realizada principalmente na face
oceânica da Ilha Comprida. Este documento afirma que foram mapeadas as atividades de
pesca e ecoturismo, através de reuniões específicas com Pescadores (colônia Z-13 e
Associação dos Usuários do Quadrado da Urca), mergulhadores e praticantes da pesca
subaquática. Com base nestas reuniões e duas visitas técnicas às ilhas, os técnicos fizeram
uma análise de cenários sobre a melhor categoria de UC para a área. Dentre as principais
justificativas para a criação de uma Área Protegida são destacados os diversos atributos
ecológicos e a necessidade de controle de ameaças como a ocupação desordenada das ilhas,
turismo de mergulho sem controle, poluição e sobre-pesca. O documento aponta que a
Marinha do Brasil e a prefeitura do Rio de Janeiro estariam interessados em uma gestão e
fiscalização tripartite da UC. O melhor cenário, segundo o documento, seria a criação de um
Parque Nacional que incluiria as ilhas Cagarras, Palmas, Comprida e ilhotas adjacentes (estas
últimas já presentes na proposta de ARIE do CONAMA), Redonda, Rasa, Cotunduba (apenas
porção terrestre), do Meio, Alfavaca, Pontuda, incluindo a área marinha entre as ilhas
Cagarras, Comprida, Rasa e o arquipélago das Tijucas (apenas ilha do Meio). O texto ressalta
que esta opção é a mais restritiva para combater a degradação do ecossistema local. No
entanto, assegura que o impacto sobre a pesca seria pequeno visto que “as atividades de
pesca profissional, amadora e subaquática concentram-se em áreas específicas nas
proximidades das ilhas e nas áreas marinhas entre os grupos de ilhas”. A proposta permitiria a
pesca na área ao Sul da Ilha Comprida e a lage da Redonda, já que argumenta haver uma
grande utilização pela pesca comercial. Neste aspecto, o documento diversas vezes reforça o
esforço da equipe em conciliar os interesses do setor pesqueiro com a proposta de
delineamento da UC, conforme pode ser observado na seguinte colocação:

“A permissão da pesca em alguns pontos das proximidades das ilhas traz vantagens sociais, já
que não priva os pescadores da região de seu sustento e assegura o abastecimento de pescado
para a cidade. As artes de pesca praticadas na região são artesanais (linhas e redes), o que

16

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

causa baixíssimo impacto às populações de peixes”.


Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) encaminharam à época
um parecer fortalecendo a importância de se criar uma UC de proteção integral na área e o
zoneamento desta em porções de usos diferenciados pela pesca amadora e comercial, turismo,
incluindo áreas de acesso proibido. Este documento aponta que “As ilhas vêm sendo utilizadas
como pontos de pesca comercial e esportiva sem qualquer critério sustentável, sofrendo sua
população de peixes, crustáceos e moluscos de valor comercial, exploração desordenada e
predatória”.
Diversos outros pareceres e contribuições encontram-se anexadas ao processo de
criação neste período (fevereiro de 2003). Destacamos o ofício encaminhado pela Federação
de Caça Submarina do Estado do Rio de Janeiro (FCSERJ), que sugere a proibição da pesca
subaquática com equipamento autônomo de respiração, pesca com redes de espera e arrastos
de fundo. A FCSERJ ainda sugere que a ilha Rasa seja a única sob proteção integral na porção
marinha, visto que esta seria pouco utilizada para a pesca. O documento indaga a pertinência
da categorização em Parque Nacional, visto que esta prejudicaria os mais de “20.000”
pescadores artesanais das sete colônias de pesca da região.
Outros ofícios relevantes foram aqueles encaminhados pela Colônia Z-13 neste periodo.
Os documentos afirmam que conflitos aconteceriam caso algumas práticas de pesca fossem
proibidas junto às ilhas e lajeados. Este ofício ressalta a recomendação de que o IBAMA
deveria realizar um estudo da pesca no Rio de Janeiro, incluindo os tipos de peixes, locais e
épocas de captura e desova, o que não foi apresentado até aquela data. Importante ressaltar
que a comunicação da colônia também trouxe sugestões propositivas, como a proibição da
pesca de rede a menos de 500 metros das ilhas, a utilização de malhas apenas entre 50-
150mm e o aumento do esforço de fiscalização do órgão ambiental. A presença do IBAMA no
mar foi diversas vezes demandada, dentre outros motivos, para aumentar a segurança dos
pescadores artesanais no mar. Segundo os pescadores artesanais (em reuniões e comunicação
oficial ao órgão ambiental), alguns pescadores de outras regiões estão munidos de armas de
fogo e impondo ameaças de maneira recorrente.
Em uma reunião realizada em janeiro de 2003 entre o IBAMA e os pescadores da
Colônia Z-13 e Associação dos Usuários do Quadrado da Urca, houve um esforço de
caracterização das atividades pesqueiras na região. A Ata desta reunião apresenta algumas
informações neste aspecto, por exemplo:

-­‐ as principais artes de pesca descritas pelos pescadores foram linha com anzol próximo às ilhas;

-­‐ engodo com barco ancorado de noite (linha e anzol);

-­‐ curríco distante das ilhas principalmente;

-­‐ redes a partir de 200m das praias e preferencialmente em áreas rasas de cascalho;

-­‐ denúncia sobre a presença de redes abandonadas sobre as pedras da Ilha Redonda;

17

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

-­‐ denúncia de manchas brancas no costão em função do uso de bombas;

-­‐ áreas mais usadas para a pesca são a vertente oceânica da ilha Comprida, vertente oceânica da
ilha Redonda e laje da Redonda (chamada também de Banco do Brasil), Ilhas Tijuca (pesca de
linha);

-­‐ pouca utilização da ilha do Meio e parte interna do arquipélago das Cagarras pelos pescadores;

-­‐ pesca nas ilhas ocorre a uma distância de 10-15m das mesmas.

Neste mesmo período, a resistência de parte do setor pesqueiro artesanal à criação de uma
Unidade de Conservação na área já podia ser notada. Por exemplo, algumas importantes
reivindicações e expectativas estão bem objetivadas em ofício encaminhado pela Colônia de
Pescadores Z-7 (Niterói) ao IBAMA na época. O presidente desta colônia protestava
argumentando que a UC iria prejudicar ‘substancialmente’ pescadores profissionais e amadores
das diversas colônias de pesca da região. Nesta mesma oportunidade, cobra ainda
explicitamente que nenhuma UC fosse criada sem um amplo debate com os pescadores e
organizações da classe pesqueira, além de solicitar a viabilização de projetos para compensar
os profissionais que se utilizam das áreas.
Em nota publicada na revista “Veja Rio” (19/02/2003), os analistas ambientais do IBAMA
encarregados pelo processo de criação da UC afirmam:

“Antes de chegarmos às propostas de categorização e delimitação da Unidade de Conservação,


foram consultados todos os usuários da área (pescadores, praticantes de caça submarina,
pesquisadores, Marinha, mergulhadores e operadores de ecoturismo) em reuniões conjuntas e
particulares. A partir das sugestões e críticas, foram desenvolvidos cenários para a Unidade das
Ilhas Cagarras”.

O segundo “Diagnóstico sobre a Unidade de Conservação Federal das Ilhas Cagarras” foi
finalizado em maio/2003, novamente pela equipe do PARNA Tijucas e agora com a
contribuição ao processo do Núcleo de Unidades de Conservação do IBAMA-RJ, que volta a se
envolver no processo. Este documento é muito similar ao primeiro, inclusive no
reconhecimento de que o arquipélago é bastante utilizado pela população local, principalmente
a atividade da pesca na face oceânica da ilha Comprida. Esta nova proposta, contudo, altera o
encaminhamento relacionado à categoria proposta, desta vez sugerindo um Monumento
Natural, argumentando que esta categoria é apropriada às ilhas Cagarras tendo em vista sua
expressiva beleza cênica, importância ecológica e pequena dimensão.
Quanto à pesca extrativista, o documento cita que “...a solução encontrada seria a mesma
que a aplicada em outras unidades de conservação marinhas de proteção integral (como os
Parques Nacionais de Fernando de Noronha e de Abrolhos), qual seja: a delimitação da UC de
modo que sejam mantidas áreas onde as atividades de pesca possam ser efetuadas”. O
documento menciona ainda que no caso do Monumento Natural das Ilhas Cagarras “o desenho
de seus limites com este objetivo seria facilitado visto que as atividades de pesca profissional,
amadora e subaquática concentram-se em áreas específicas nas proximidades das ilhas e nas

18

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

áreas marinhas entre os grupos de ilhas”. Cita que a proibição da pesca em certas áreas
funcionaria como repositório das populações de peixe capturadas. Explica que a restrição à
pesca estaria nos 10m ao redor das ilhas que compõem o arquipélago. Entre estas áreas, na
parte marinha e lajes, a pesca seria então permitida, embora controlada de acordo com
orientações do Plano de Manejo. O documento novamente cita que este desenho traria
vantagens sociais, já que não priva os pescadores do seu sustento e assegura o abastecimento
de pescado para a cidade, reconhecendo que a prática da pesca artesanal causa baixíssimo
impacto às populações de peixes. Foram ainda produzidos outras duas versões deste
diagnóstico no primeiro semestre de 2003, com poucas alterações em seu conteúdo. Um deles,
por exemplo, apenas incorporou uma análise de cenários das possíveis categorias de UC para a
área, mas chegando a conclusões idênticas ao outro diagnóstico, qual seja, sugerindo um
Monumento Natural para a área.
Em 05/07/2003, os jornais “O Globo” e “Jornal do Brasil” anunciam que o deputado
Fernando Gabeira apresentou à ministra seu projeto para transformar as Ilhas Cagarras em
uma UC. O projeto de Lei do Deputado previa a inclusão na UC das ilhas Cagarras, Palmas,
Comprida, ilhota Filhote da Cagarra, Redonda, filhote da Redonda, bem como área de 10m ao
redor das ilhas e das ilhotas. Incorpora também a ilha Rasa e um raio de 200m ao redor desta.
A justificativa deste Projeto de Lei ressalta que a proposta de UC vêm sendo discutida por
um GT criado para este fim e que várias entidades manifestaram interesse pelo arquipélago,
além de mergulhadores, ONGs, colônias de pesca, pesquisadores da UERJ, Confederação e
Federação de caça submarina, operadoras de ecoturismo e clubes náuticos. Ressalta-se ainda
neste documento as várias reuniões realizadas, incluindo a participação da prefeitura, Marinha
e o mapeamento das atividades de pesca e turismo. Este mapeamento, segundo o documento,
subsidiou diversos cenários de dimensionamento e categorização da Unidade. Por fim, cita
que:
“O grupo de trabalho do arquipélago das ilhas Cagarras, baseado na análise das contribuições
oferecidas pelos pesquisadores e demais usuários das ilhas e adjacências, sugere a categoria de
Monumento Natural para a unidade de conservação federal das ilhas Cagarras.”

Cita ainda que:

“...os locais onde atualmente a pesca é praticada (nas áreas marinhas entre os grupos de ilhas e
nas lajes da Redonda e das Cagarras) devem ficar fora dos limites da UC”.

No segundo semestre de 2003, após algumas cobranças do MMA ao IBAMA por


informações sobre o andamento do processo de criação da UC, o IBAMA-RJ encaminha minuta
de Decreto à Diretoria de Ecossistemas do IBAMA solicitando urgência na criação da UC. Esta
urgência á justificada pelo interesse da cidade do Rio de Janeiro em ser decretada Patrimônio
da Humanidade pela UNESCO. Segundo as comunicações oficiais da época, isto só aconteceria

19

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

caso o município tivesse uma Área Marinha Protegida na cidade. Nesta minuta de Decreto,
foram incluídas também as lajes Marias e Praça XI e aumentou-se a área de restrição à pesca
a 15m ao redor de cada ilha, ilhota e laje. Não foi possível, através da observação cuidadosa
dos documentos, identificar as justificativas e a procedência desta alteração na minuta de
Decreto. No início do ano de 2004, matérias no jornal “O Globo” voltam a anunciar a ‘possível
medida de criação de um Monumento Natural’ no arquipélago.
Em março de 2004, um novo projeto de Lei, agora estadual, foi apresentado, propondo
a criação do “Parque Estadual Marinho das Ilhas Cagarras, Rasa e Redonda. Esta proposta
incorpora as ilhas Rasa e Redonda e a área marítima interna do arquipélago das Cagarras e
um rio de 500m em torno de cada ilha. Embora na categoria Parque já sejam proibidas as
atividades de pesca, a proposta relata que a Zona de Proteção Integral seria definida em plano
de manejo da UC. Em documento anexo à proposta consta uma justificativa com base nos
importantes atributos bioecológicos e dos impactos atualmente presentes na área. Em maio de
2004, a Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro solicita informações ao IBAMA
sobre as propostas de UC existentes na região. Dentre as colocações, afirmam que o
arquipélago das Cagarras é área integrante do território do Rio de Janeiro segundo a Lei
Orgânica do Município. Durante o ano de 2004, pouco mais aconteceu no âmbito do processo
de criação de uma UC na região, apesar do projeto estar tramitando na Câmara dos Deputados
e poder entrar em pauta a qualquer momento, segundo relatos da época.
Um quarto documento foi apresentado em fevereiro de 2005 entitulado “Proposta de
Criação do Monumento Natural das Ilhas Cagarras”, apresentando as atividades realizadas pela
equipe do IBAMA do Rio de Janeiro e sugestões sobre o dimensionamento, categorização e
gestão. Poucas alterações são observadas neste novo documento quando comparado ao último
encaminhado em 2003. Esta proposta de UC incorpora as seguintes ilhas:

-­‐ Ilhas Cagarra, Palmas, Comprida, Rasa e Redonda, ilhotas Filhote da Cagarra e filhote da
Redonda, lajes Matias, Praça XI e da Redonda, próximas ao largo de Ipanema;

-­‐ ilhas do Meio, Alfavaca e Pontuda, nas Tijucas

O documento aponta que em função de reuniões com pescadores que utilizam as ilhas,
optou-se por restringir a proposta do Monumento Natural à parte emersa das ilhas e a seus
costões rochosos, de modo a permitir, portanto a pesca sustentável no arquipélago. Exceção
se faz às ilhas Rasa, Redonda e o filhote da Redonda. Neste caso se optou pela inclusão no
Monumento de uma faixa de 200m a partir do limite das ilhas. Ainda segundo o documento:

“Estas são as ilhas mais isoladas do Monumento, menos utilizados para pesca e com mais
significativa biota marinha, o que justifica sua proteção integral.”

Esta proposta descreve alguns pontos positivos e avanços, como o apoio da Marinha e da

20

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro e a possibilidade de conservação e tombamento do Farol


da Ilha Rasa e seu complexo arquitetônico.
Em março de 2005 a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de Lei do Deputado
Fernando Gabeira, e este foi encaminhado ao Senado. Em matéria publicada no jornal “Rio”, a
idéia e esforço que se tinha na época era que a UC fosse criada antes dos jogos Pan-
Americanos de 2007, para que esta promovesse o ordenamento e fomento do turismo na área.
Aparentemente após ter conhecimento sobre o processo de criação da referida UC através
da mídia, que à época voltou a abordar o assunto, o ex-presidente da Colônia Z-13
encaminhou ofício ao Secretário Especial de Aqüicultura e Pesca, solicitando sua intervenção
no processo de criação da UC. Este ofício argumenta que a criação da UC traria muitos
conflitos com os pescadores profissionais e amadores. Ainda argumenta que não existe pesca
predatória no Rio de Janeiro. Esta afirmação mostra que aparentemente foi entendido pelos
pescadores que o termo “pesca predatória”, conforme veiculado na mídia ao longo das
justificativas do processo de criação da UC nas Ilhas Cagarras, era relacionado às praticas dos
pescadores artesanais.
Em abril de 2005, a gerência executiva do IBAMA-RJ sai em defesa dos pescadores
artesanais à cerca do projeto de Lei aprovado na Câmara dos Deputados. Em ofício
encaminhado à Diretoria de Ecossistemas do IBAMA, o IBAMA-RJ comunica que na forma como
foi aprovado pela Câmara dos Deputados, os limites propostos poderão gerar conflitos com
alguns segmentos da sociedade pelo fato das Ilhas Cagarras (ilha Cagarra, Palmas e
Comprida; ilhotas Cagarra, Pequena e Grande) serem intensamente utilizadas para a pesca
artesanal e mergulho recreativo. O ofício considera ainda que a decretação desta UC de
proteção integral incluindo as faixas marinhas dessas ilhas afetará diretamente a pesca
realizada na área, prejudicando os pescadores que dela dependem para seu sustento e de suas
famílias. O documento argumenta que somente as ilhas Rasa e Redonda e a ilhota da
Redonda, por apresentarem atributos ecológicos de destaque, justificam a inclusão da porção
marinha em área de proteção integral. O documento finaliza solicitando que sejam tomadas as
medidas cabíveis para alteração ao texto do projeto de Lei, visando a alteração dos seus
limites físicos.
Em resposta clara ao ofício encaminhado pelo ex-presidente da Colônia Z-13 à SEAP, esta
instituição solicita oficialmente em agosto de 2005, esclarecimentos ao IBAMA sobre “...os
impactos negativos para a pesca profissional ao transformar o Arquipélago das Cagarras em
Monumento Natural...”. Nesta mesma época (setembro de 2005), a Colônia Z-13 encaminha
um ofício criticando o processo de criação da UC e a maneira como o Grupo de Trabalho para o
processo de criação da UC no arquipélago das Ilhas Cagarras foi concebido. O documento
relata que:

“...os pescadores da Colônia Z-13 de Copacabana, que sempre vivemos da subsistência da pesca
diária nas ilhas, e que somos os maiores conhecedores e interessados nos problemas que afligem o

21

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

nosso arquipélago, não podemos aceitar ser deixados de lado de um grupo gestor que vai administrar
uma área que é nosso local de trabalho, visto que temos uma situação geográfica única de estar em
um perímetro de apenas quatro quilômetros das ilhas, e fazemos questão de participar, com voz
ativa dentro desse grupo, e contribuir com nossa experiência e conhecimento, para a melhor
proteção possível do arquipélago”.

Parece claro neste momento que a o longo espaço de tempo transcorrido sem reuniões do
órgão ambiental com os pescadores (mais de 1 ano sem encontros presenciais documentados
no processo administrativo), somado às mudanças inesperadas até pelo próprio órgão
ambiental no texto da minuta do Decreto aprovado na Câmara dos Deputados, causaram
dúvidas do setor pesqueiro quanto a legitimidade do processo de criação da UC.
Ao longo dos próximos meses, pouco aconteceu no processo de criação de UC na área. Até
abril de 2006, os documentos existentes no processo administrativo tratam apenas sobre a
proposta de Resolução Conama 011/1989 e sua validade. Através da análise jurídica e técnica,
ficou esclarecido que a ARIE das ilhas Cagarras não existe e portanto seus artigos não
possuem efeitos legais.
Em abril de 2006, o Deputado Estadual Carlos Minc (RJ) encaminha à Ministra de Meio
Ambiente Marina Silva uma solicitação para que fosse criada com urgência o que chamou de
“Monumento Natural das Ilhas Cariocas”, abrangendo praticamente todas as ilhas e ilhotas do
litoral dos municípios de Niterói e Rio de Janeiro. Carlos Minc informa também que o Deputado
Fernando Gabeira apoia este projeto, já que amplia a proposta apresentada por ele. A minuta
de Decreto encaminhada junto ao ofício inclui no Monumento Natural:

-­‐ as Ilhas Rasa de Guarativa, Urupira, das Pecas e a ilhota próxima à Urupira, o arquipélago das
Tijucas, ilhas Cagarras, Palmas, Comprida, Filhote da Cagarra, Matias, Praça Onze, Ilha Redonda,
Filhote da Redonda, Ilha rasa, Ilha Cotunduba e a área marítima num raio de 50 metros ao redor
das ilhas;

-­‐ as ilhas do Pai, Mãe e Menina e a área marítima num raio de 30 metros ao redor das ilhas.

Vale ressaltar que esta proposta não foi discutida com os atores sociais da região. Em
outubro de 2006, o Núcleo de Unidades de Conservação do IBAMA-RJ produz documento onde
argumenta que o processo do “Monumento Natural das ilhas Cariocas” trará dificuldades de
operacionalização em vista da grande magnitude da proposta. A inclusão de diversas ilhas
acarretaria também a desvalorização daquelas com importância mais relevante à conservação.
Sugerem assim a continuidade do processo de criação do “Monumento Natural das Ilhas
Cagarras”.
Em novembro de 2006, uma reunião foi realizada no IBAMA, com a participação de
diversos atores sociais interessados na área, incluindo pesquisadores, pescadores profissionais
e amadores. Durante a reunião foi apresentado ao grupo a proposta do Deputado Carlos Minc

22

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

e uma outra proposta da Marinha, restrita ao arquipélago das Cagarras. A proposta da Marinha
propõe uma área interna de proteção integral e uma zona externa de amortecimento. A Ata da
reunião inclui algumas observações feitas pelos diferentes grupos ali representados. Enquanto
um pesquisador da UFRJ argumentou que todas as ilhas cariocas deveriam ser integralmente
protegidas, um pescador da Colônia Z-13 fortalece a idéia de que mais importante que a
preservação dos peixes é a das pessoas, pois o maior dano à vida marinha está sendo causado
pela poluição ‘monstruosa’ do emissário submarino. A Ata afirma que nenhum dos
representantes presentes se opôs à criação do Monumento Natural, havendo dúvidas apenas
quanto a seus limites (diferentes propostas apresentadas). Descreve também que houve um
consenso no meio acadêmico sobre a importância ecológica das ilhas Rasa e Redonda. Deu-se
o prazo de 15 dias para as instituições presentes encaminharem a sua proposta de UC para o
IBAMA, os quais seriam utilizados pelo IBAMA para preparar para a audiência pública.
Diversos ofícios foram recebidos e incorporados ao processo administrativo de criação da
UC. O primeiro deles oi encaminhado pela Colônia de Pesca Z-13 em 21/11/2006, o qual
pontuou 8 tópicos de relevância para a Colônia:

1) participação da colônia no conselho deliberativo;


2) criação de UC de uso sustentável incluindo Cagarras, Redonda, Rasa e Tijucas;
3) Limitação da zona de maior preservação à área interna do arquipélago das Cagarras,
equivalente à delimitação apresentada pelo representante da Marinha, excluindo a ponta
sudoeste e a lajinha da Ilha das Palmas e o Canal dos Passarinhos;
4) proibição do uso de rede, arrastão e cerco em toda a ára da UC;
5) permissão para a pesca artesanal e esportiva na UC, exceto na zona de presevação, para
aqueles cadastrados, observadas as normas previstas na lei e em plano de manejo;
6) ordenamento da extração do mexilhão;
7) estudos sobre os fluxos migratórios do polvo, lagosta, cavaca e outras espécies;
8) aumento da fiscalização para cumprir com legislação já existente.

Outro ofício de destaque foi assinado por várias instituições3 representantes da pesca
esportiva, pesca subaquática, turismo, pesca profissional e ONG. O ofício apresenta 8 tópicos
de argumentação para por fim prestar apoio à proposta apresentada pela Marinha do Brasil na
reunião realizada em novembro de 2006. Dentre os tópicos, comenta que a proposta
apresentada pela Marinha “...limita-se ao Arquipélago das Ilhas Cagarras, viabilizando ainda
instrumentos, no âmbito do Plano de Manejo da UC a ser criada, para o desenvolvimento da
pesca artesanal na sua Zona de Amortecimento, em suas diversas modalidades”. Este
documento apresenta também uma minuta de Decreto de Unidade de Conservação, que em

3
Iate Clube do Rio de Janeiro (ICRJ), Clube Marimbas, Confederação Brasileira de Caça Submarina
(CBCS), Federação de Caça Submarina do Estado do Rio de Janeiro (FCSERJ), Marina Barra Clube,
Associação Brasileira dos Construtores de Barcos e Seus Implementos (ACOBAR), ONG VIVAMAR, MBC,
Neltur–Niterói Tur, Colônia Z-7 (Niterói) e Riotur.

23

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

seu artigo segundo, institui duas zonas: 1) zona de proteção integral e 2) zona de
amortecimento. A primeira seria composta pelas ilhas Cagarra, Palmas, Comprida e filhote da
Cagarra, bem como a área marítima interna do arquipélago, limitada pelos costões internos
dessas ilhas e pelos segmentos de reta que unem as tangentes externas das extremidades
dessas ilhas. Esta área proibiria atividades danosas ao ecossistemas, competições esportivas,
acampamento, porte de armas de fogo e outras atividades previstas em plano de manejo. A
segunda área seria composta por faixa de 500m no entorno da zona de proteção integral, onde
seria proibida a pesca com redes, armadilhas e outros petrechos danosos a fauna marinha,
além daqueles previstos em plano de manejo. A proposta ainda autoriza a prática de mergulho
na Zona de Proteção Integral, o afundamento deliberado de navios (recifes artificiais) e o
fundeio de embarcações em situações de mau tempo.
Foram também encaminhados neste período diversos pareceres técnicos de
pesquisadores da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e UFF (Universidade Federal
Fluminense). Um dos documentos da UFRJ recomenda a inclusão, na área de maior restrição
de uso, da porção interna do arquipélago da ilha Cagarras e a totalidade das ilhas Redonda e
Rasa em função da alta diversidade de esponjas. Argumenta também que a pesca poderia ser
permitida na porção externa das Ilhas Cagarras e nas ilhas Cotunduba, Tijucas e Maricás, sem
prejuízo para a proteção da fauna da região. O parecer encaminhado pela UFF traz algumas
observações sobre as características ecológicas marinhas da área e recomendações:

“...parte da região rochosa sublitorânea das Ilhas está visivelmente empobrecida em termos de
invertebrados, algas e peixes bentônicos, em relação ao esperado para esses ambientes”,
principalmente se tratando de espécies de peixes predadores, o que “corrobora a criação urgente
de uma área de proteção marinha no local”;

“...uma unidade de conservação local, contribuirá para a recuperação e manutenção dos recursos
ambientais do arquipélago, potencializando o desenvolvimento de atividades econômicas
sustentáveis, e maximizando o rendimento das pescarias artesanais em áreas adjacentes como
acontece em outras partes do mundo”;

“...dado o histórico de utilização destes recursos por pescadores artesanais, mergulhadores e


pescadores esportivos, é preciso que se estabeleça uma agenda de consenso”.

Conforme planejado, o IBAMA-RJ produziu uma minuta de “Exposição de Motivos” que


acompanhou uma minuta de Decreto da UC. O documento traz uma descrição bioecológica da
área e relata que o Grupo de Trabalho encarregado pelo processo:

“...baseado na análise das contribuições oferecidas pelos pesquisadores e demais usuários das
ilhas e adjacências, sugeriu a categoria de Monumento Natural para a unidade de conservação
federal das Ilhas Cagarras”.

24

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

O texto procura também deixar claro que a minuta de Decreto foi baseada no Projeto de
Lei do Deputado Fernando Gabeira, e que foram atendidas as reivindicações dos pescadores:

“limitando-se a proibição da pesca artesanal somente à área marítima interna do arquipélago,


atende-se às reivindicações das sete colônias de pesca situadas próximas às ilhas, que há anos
desenvolvem atividades de pesca artesanal na região”.

A minuta de Decreto prevê a existência de duas zonas. Na “Zona de Proteção Integral”,


composta pelas ilhas Cagarra, Palmas, Comprida e Filhote da Cagarra, bem como área interna
marítima do arquipélago, limitada pelos costões internos dessas ilhas e pelos segmentos de
reta que unem as tangentes externas das extremidades dessas ilhas, proibi-se atividades que
coloquem em risco a integridade dos ecossistemas e a harmonia da paisagem, caça, pesca,
competições esportivas, acampamentos, porte de equipamentos capazes de abater animais.
Na “Zona de Amortecimento”, composta pela faixa marítima com quinhentos metros de largura
no entorno da Zona de Proteção Integral, proíbe-se a pesca com redes, armadilhas e outros
petrechos considerados danosos em plano de manejo. A minuta autoriza o mergulho, o
afundamento de embarcações (conforme regulamentação específica) e fundeio em situação de
mau tempo em todas as áreas.
Chegado ao início do ano de 2007, eram 3 as propostas existentes: 1) proposta do
Deputado Carlos Minc, ainda em temos de minuta para ser apresentada na Assembléia
Legislativa Estadual; 2) proposta do Deputado Fernando Gabeira, consubstanciada no Projeto
de Lei Federal de sua autoria ora retirado de pauta e; 3) proposta do IBAMA-RJ. Consta no
processo documental de criação da UC alguns e-mails trocados entre a Marinha e O IBAMA-RJ.
Nestes e-mails, a Marinha reforça a proposta apresentada na reunião de novembro de 2006,
que recebeu o apoio de várias instituições com interesse na área. A Marinha solicita também
que fosse retirada a Ilha Rasa da proposta do IBAMA-RJ, visto que esta exerce várias
atividades na ilha. O esforço da Marinha aparente na troca de e-mails e ofícios na época,
culminou com uma reunião entre o IBAMA-RJ e a Marinha realizada em janeiro de 2007 para
tratar desta temática.
Nesta reunião, as duas instituições acordaram uma proposta de Decreto. Na minuta de
Decreto, inclui-se as Ilhas Pontuda, Alfavaca e do Meio, Ilhas Cagarra, Palmas, Comprida e
Filhote de Cagarra, área marítima interna do arquipélago das llhas Cagarras, limitada pela
poligonal formada por pontos listados na minuta, e outros 200m ao redor desta área. Inclui-se
também as ilhas Redonda, filhote da Redonda e faixa de 200m no entorno das ilhas Redonda e
filhote da Redonda. Proíbe-se as atividades que coloquem em risco o ecossistema local, a
harmonia da paisagem, acampamentos e competições esportivas.
Em um documento produzido para informar a Audiência Pública que começava a ser
planejada, a equipe do PARNA Tijucas encarregada pelo processo afirma que esta proposta

25

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

final (Figura 3) considerou os documentos encaminhados pelos pesquisadores e as reuniões


com a Marinha e a Colônia de Pescadores Z-13.
A Audiência Pública foi então marcada e publicada em Diário Oficial para o dia 02 de maio
de 2007, às 19hs no auditório da Universidade Cândido Mendes (RJ).

Figura 3 – Proposta de Monumento Natural apresentado pelo IBAMA em audiência pública no


Rio de Janeiro em 02 de maio de 2007.

Neste momento, a ONG VIVAMAR aparece como uma importante instituição nas
articulações referentes à criação da UC em Cagarras. O processo documental inclui uma
publicação veiculada no site desta ONG, trazendo sérias criticas ao processo de criação e ao
conteúdo da proposta apresentada pelo IBAMA-RJ. O texto da ONG VIVAMAR é apresentado no
site em tom de denúncia:

“...numa reviravolta inesperada, em que foi afastado o projeto original do deputado Fernando
Gabeira, o IBAMA propôs uma nova unidade de conservação nas ilhas Cagarras (RJ) que
prejudicará o setor náutico na região”

Informa também que em novembro de 2006 o IBAMA convocou uma reunião para levar ao
conhecimento público uma proposta ‘fechada e para aprovação rápida’ que surpreendeu a
todos os presentes pois era diferente da proposta do Dep. Fernando Gabeira, que previa
apenas uma zona de amortecimento de 10m, a qual não prejudicava o setor náutico,

26

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

navegação e pesca amadora. Informa que o IBAMA pediu a arquivação da proposta do Dep.
Gabeira e propôs uma UC que inclui ainda as Ilhas Rasa, Redonda e uma zona de
amortecimento de dois quilômetros. Comenta que a Marinha apresentou uma emenda que
exclui as Ilhas Rasa e Redonda da nova UC e reduz a zona de amortecimento para 500m.
Informa que houve uma reunião entre diversas entidade para apreciação da proposta da
Marinha, onde participaram a VIVAMAR, Acobar, representantes da ICRJ, federações de pesca
e dirigentes de colônias de pesca. À cerca desta reunião, o texto afirma que os presentes
foram:

“surpreendidos por essa iniciativa do IBAMA em isolar mais ilhas do litoral brasileiro do setor náutico,
comprovadamente totalmente sustentável, gerador de empregos e recursos”.

Por fim, informa que embora não concordassem com a íntegra da proposta da Marinha, foi
decidido o apoio de todos à alternativa apresentada, na qual a nova unidade ficasse restrita às
quarto principais ilhas do arquipélago, excluindo as ilhas Rasa e Redonda, e que a chamada
zona de amortecimento se limitasse a 500m.
Esta articulação desconstrutiva da ONG VIVAMAR parece ter sido relevante ao processo,
pois provocou por parte do IBAMA um documento respondendo às informações relatadas pelo
site da ONG.
No primeiro ponto, o texto do IBAMA esclarece que a proposta inicial de criação do
Monumento Natural é do IBAMA e não do Deputado Fernando Gabeira. Informa que desde
2002, diversas instituições participaram do processo de criação através das reuniões. Relata
ainda que:

“Desse democrático processo de discussão culminou, em junho de 2003, a proposta apresentada pelo
referido grupo de trabalho à Diretoria de Ecossistemas do IBAMA Sede, em Brasília...”

Informa ainda que a proposta do Deputado é complementar e não antagônica à do IBAMA.


Ressalta que na proposta do Deputado as ilhas Redonda e filhote da Redonda, bem como a ilha
Rasa, já estavam incorporadas, como já era de conhecimento do próprio grupo
(www.cagarras.com.br) que publicou a proposta do Deputado online. Diz ainda que o IBAMA
nunca solicitou arquivamento do projeto de Lei do Deputado, e nem teria competência para tal
ato.
No segundo ponto, esclarece que as ilhas do arquipélago das Cagaras e Ilhas Redonda e
filhote da Redonda e seu entorno de 200m foram incluídas desde a primeira proposta, e não os
2km publicados no texto da VIVAMAR. Informa ainda que apenas as atividades de pesca
subaquática e pesca serão proibidas dentro da UC. Atividades náuticas e mergulho recreativo
seriam estimulados, ao contrário do que se afirma na matéria da VIVAMAR.
No terceiro ponto, afirma que a proposta apresentada pelo IBAMA foi acordada com a

27

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Marinha do Brasil, em reunião realizada entre as duas instituições (com ata constituinte do
processo). Segundo o documento:

“A retirada da Ilha Rasa da proposta se deu após um comprometimento da Marinha do Brasil em


efetivamente promover a proteção da ilha sob sua jurisdição, bem como do seu entorno de 200m”.

Antes da realização da audiência pública, o jornal “O Globo” publicou matéria relatando a


insatisfação dos pescadores protestando contra a proibição da pesca nas ilhas Cagarras.
Dentre os comentários, destaca-se o comentário de uma liderança da pesca da Colônia Z-13,
afirmando que a entidade é contraria a proposta apresentada pelo IBAMA. Diz ainda que 50%
dos pescadores da Z13 dependem da pesca nas ilhas Cagarras.
A análise da Ata da audiência pública (assinatura de 312 pessoas) revela uma reunião
intensa com significativa resistência da sociedade em relação à proposta apresentada pelo
órgão ambiental. Alguns pontos importantes da audiência estão resumidos abaixo:

-­‐ Após a composição da mesa, a platéia se manifestou pedindo a presença de representante da


colônia Z13;

-­‐ Houve uma apresentação sobre as características da categoria proposta;

-­‐ A analista ambiental Adriana Carvalhal apresentou uma palestra sobre o uso de Áreas Marinhas
Protegidas enquanto ferramenta de gestão pesqueira;

-­‐ O analista ambiental Breno Herrera apresentou a proposta de UC, incluindo justificativas e
histórico do processo. Segundo consta na ATA, foram comparadas as diversas propostas até a
mais recente. Explica os motivos pela exclusão da Ilha Rasa (solicitação da Marinha do Brasil) e
das ilhas Niterói e Cotunduba (pesca artesanal), bem como algumas lajes submersas. Apresentou
também as perspectivas de gestão caso a UC fosse implementada;

-­‐ O presidente da colônia Z13 teve 5 minutos para se expressar;

-­‐ O presidente da mesa esclareceu sobre o tópico ‘compensação ambiental’

-­‐ Foi proposto por alguns a votação para cancelamento da consulta pública, oque foi negado em
função de que esta não é deliberativa;

-­‐ A plenária reclamou que não há estudos socioeconômicos sobre a área, sendo respondido que os
estudos foram feitos e estão disponíveis para todos;

-­‐ Partiram para as manifestações orais;

-­‐ Eduardo Bracony (CBPDS) – não é contrário, e gostaria que fosse proibida a pesca predatória e
subaquática por amadores, além de aumento de fiscalização;

28

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

-­‐ Roberto Negraes – ONG VIVAMAR – Afirma que não existem estudos apontando que a pesca
artesanal e amadora são responsáveis pela diminuição de recursos pesqueiros. Chamou a
atenção que o Conselho Gestor de um Monumento Natural não é deliberativo. Acredita que a UC
vai gerar desemprego, principalmente de pescadores. Encaminhou também uma proposta
alternativa para discussão, que foi elaborada consensualmente entre a ONG que ele representa e
a colônia de pesca Z13;

-­‐ Eduardo Souto de Oliveira (Vice-Presidente Confederação Brasileira Pesca Submarina) – solicitou
que o IBAMA apresentasse dados estatísticos dos impactos de cada atividade, incluindo a pesca
subaquática na proposta de UC;

-­‐ Fernando Farina (Associação de Pesca Submarina) – não concorda com a proposta na forma atual
e comenta que é tão ruim que até uniu setores que se históricamente discordavam;

-­‐ Luiz Antônio Pereira (Presidente Federação Internacional de Pesca em Apnéia) – duvida que
exista transbordo de Cagarras para outras áreas, e que se os pescadores serão proibidos de
pescar na área, então não se beneficiarão. Não concorda com a anexação de outras ilhas pois irá
gerar desemprego.

-­‐ Cláudio Sideral (Greenpeace) – favorável e alertou a necessidade de preservação de ecossistemas


Brasileiros.

-­‐ Sergio Aníbal (UFRJ, Fundação Brasileira de Conservação da Natureza) – Diz que participou da
primeira proposta do CONAMA. Defende que seja uma UC de uso sustentável. Argumentou que a
área ainda conserva suas riquezas conforme a apresentação do próprio IBAMA. Acha que não
houve estudos sobre a parte pesqueira.

-­‐ Marcelo Vianna (UFRJ) – acredita que o IBAMA esteja motivado pela possibilidade de recursos de
compensação ambiental, e que isto é legítimo. Acredita no entanto que uma APA seja a categoria
adequada, em que houvessem áreas específicas de exclusão da pesca. Considerou os estudos
apresentados para a criação da UC como superficiais.

-­‐ Nilton José Lobato Filho (pescador subaquático) – gostaria de continuar a utilizar a área. Sugere
um estudo de viabilidade para que se possa continuar a haver atividades como esta. Sugere uma
votação.

-­‐ Fernando (Museu Nacional) – defende que as ilhas são pontos de apoio para pesca subaquática e
artesanal, e acredita que o problema está na falta de fiscalização, sendo que a UC não resolverá
o problema. Sugere mais esforço em Educação Ambiental. Acha que as pesquisas apresentadas
são válidas e não devem ser desmerecidas pela plenária.

-­‐ Gilberto Huet (Marinha) – esclareceu sobre os papéis e competências na fiscalização;

-­‐ Bianca (Sociedade Vegetariana Brasileira) – favorável à proposta. Se manifestou com pesar pela
não participação do Ministério Publico. Parabenizou o estudo do IBAMA;

29

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

-­‐ Luís Carlos Varella (Colônia Z-13) – segundo a Ata, “criticou a proposta porque engloba toda a
parte marinha no entornodas Cagarras e em virtude disso os pescadores que atuam na área não
desejam a pesca predatória e critica que o estudo realizdo pelo IBAMA foi fraco e que a
fiscalização não é atuante, pois barcos atuneiros entream na praia de Copacabana e nas
proximidades das Cagarras, provocando o sumiço das sardinhas no mar de Copacabana”.

-­‐ Ricardo Nehrer (Instituto Baía de Guanabara) – ainda que rudimentar, indicou que os pescadores
possuem uma gestão dos recursos e utilizam arrastão de mutirão como atividade tradicional, mas
estão perdendo suas tradições. Indica que já existe uma utilização de UCs pelos pescadores de
forma sustentável. Para ele, existe um histórico de uso sustentável dos recursos. Argumenta que
pescadores podem inclusive realizar atividades de controle juntamente ao poder público.

-­‐ Manoel Arthur Vilaboim (Revista Linha Verde) – criticou que a UC seja criada com base na falta
de fiscalização, indicando que a Marinha e IBAMA falham na realização conjunta da fiscalização.
Comentou que faltam estudos sobre os estoques pesqueiros no Brasil.

-­‐ Após acordar em não abrir para novas inscrições, o analista ambiental Breno deu
esclarecimentos. Disse que o trânsito de embarcações não seria impedido, o ecoturismo será
incentivado, comentou que a fiscalização é acentuada e focada em UCs, disse que embora
pesquisadores desejem ampliar o tempo de pesquisa, os estudos na área foram realizados a
contento, esclareceu que existem outras proibições ou restrições à pesca (espaciais e temporais),
esclareceu que o abrigo de embarcações é autorizado em qualquer ilha em caso de mau tempo,
citou que embora uma UC de proteção integral atraia recursos de compensação integral esta não
é o principal motivo;

-­‐ O presidente da mesa disse que ninguém foi contrário à criação de uma UC na área, e que então
se proponha uma UC de uso sustentável, comentando que as propostas serão discutidas e
incorporadas ao processo de criação;

-­‐ A Sra. Kátia Janine (presidente da colônia Z13) comentou que a colônia pode dar apoio à
fiscalização do IBAMA;

-­‐ O IBAMA se comprometeu a rever o processo e realizar nova consulta;

-­‐ Sr. Gilberto Huet (Marinha) disse que a Marinha não é contraria a proposta pois não interfere com
suas atividades;

-­‐ Sr. Jaime Tavares (SEAP) comentou que as manifestações contrárias são saudáveis;

-­‐ Registraram-se 51 questões por escrito e finalizou-se a audiência.

Os encaminhamento mais significativo da audiência foi o comprometimento do IBAMA em


rever o processo de criação e realizar nova audiência pública. Em nota técnica sobre o
processo produzida pela SEAP, esta instituição reconhece a importância da criação de UC na
área para fins de gestão pesqueira. No entanto, afirma que somente apoiaria a proposta caso
fosse realizado um estudo apresentando um levantamento sobre a atividade pesqueira,

30

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

informações sobre o tipo e quantidade de embarcações que utilizam a área, quais artes de
pesca e espécies alvos, sendo que estas são informações importantes para o processo. O
documento sugere também que seja firmado um compromisso entre SEAP/IBAMA/Marinha do
Brasil para o desenvolvimento de ações de fiscalização na UC e seu entorno.
Em matéria publicada no jornal “O Globo” intitulada “As ilhas da Discórdia”, a autora apresenta
a sua experiência durante a audiência pública de criação da UC. Comenta sobre as discórdias e
discussões acirradas, apresentando os principais argumentos narrados no evento. Por fim,
informa que o IBAMA abriu a discussão da criação e que haveria nova audiência onde seria
apresentada uma nova proposta.
Durante a audiência, a ONG VIVAMAR encaminhou uma proposta de minuta de Decreto. O
texto inclui as ilhas Pontuda, Alfavaca e do Meio, Ilhas Redonda e filhote da Redonda, ilhas
Cagarra, Palmas, Comprida e filhote da Cagarra, e a área marítima interna do Arquipélago das
Ilhas Cagarras. Sugere também uma Zona de Amortecimento nas áreas marítimas situadas em
volta das ilhas e da área marítima que compõe a unidade, com 500m de largura.
Esta última proposta se difere daquela apresentada em audiência pelo IBAMA no que se
refere aos limites da porção marinha de proteção integral. A discordância ocorre na medida
em que proposta do IBAMA a pesca em faixa de 200m no entorno das Ilhas Redonda e Filhote
da Redonda, assim como 200m ao redor da área marítima interna do arquipélago das
Cagarras.

31

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

4. QUEBRA-MAR - BARRA DA TIJUCA

O espaço utilizado pelos pescadores da Barra está localizado no Quebra-Mar, no início


da praia da Barra da Tijuca, município do Rio de Janeiro (Figuras 4 e 5).

Figura 4 – Início da praia da Barra (ponto vermelho à esquerda) e Quebra-Mar (ponto vermelho à
direita), Rio de Janeiro.

4.1 Metodologia

As atividades relativas a primeira etapa do diagnóstico consistiram em 9 visitas ao


Quebra-Mar, realizadas entre os meses de julho e outubro de 2008. Durante a segunda etapa,
entre os meses de janeiro e fevereiro de 2009, foram feitas mais três visitas: duas dedicadas
às atividades de mobilização necessária para realização da oficina de mapeamento e uma para
a oficina propriamente dita, ocorrida no dia 12 de fevereiro de 2009. No período que
antecedeu à realização da oficina foram feitas duas visitas de mobilização para essa atividade,
a fim de se decidir o melhor dia, local e horário e garantir a participação dos pescadores
Todas as visitas ao campo foram previamente agendadas com a Diretoria da
APELABATA e com os próprios pescadores, a fim de que se garantisse, na medida do possível a
participação dos envolvidos durante a coleta de dados. Porém, algumas vezes, por força da
dedicação desses à comercialização dos pescados não se pode aplicar as ferramentas coletivas
para coleta de dados.
O diagnóstico envolveu todos os pescadores dessa localidade, assim como a diretoria da
APELABATA. Salienta-se, contudo, que existem diversos pescadores eventuais que, embora
sejam filiados à Associação, exercem a atividade pesqueira em épocas ou períodos
determinados, como o verão ou os finais de semana. Por não terem a pesca como sua
atividade cotidiana e principal, esse grupo não foi alvo das atividades do diagnóstico.

32

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

As atividades relativas à primeira etapa do diagnóstico foram conduzidas por dois


técnicos, sendo um o responsável pela aplicação da ferramenta e mediação do debate, e o
outro pelas anotações dos comentários realizados pelos participantes e pelo registro
fotográfico. Posteriormente, as informações eram inseridas no roteiro, de forma que se
pudesse avaliar a necessidade de mais visitas à localidade, bem como, a demanda por
aprofundar ou elucidar alguma questão apresentada pelos participantes.
Conforme descrito para as demais comunidades, a definição de especialistas (item 4 do
Roteiro de Campo) que participariam da elaboração dos mapas mentais foi realizada ao longo
de todas as atividades. Dado que esta se constitui num procedimento para a seleção dos
participantes da segunda etapa do projeto, e não numa ferramenta de diagnóstico
propriamente dita, esta atividade não consta da Tabela 4.
Durante a oficina de mapeamento dos pesqueiros, participaram 4 técnicos, sendo dois
deles responsáveis pela mediação e dois pelas anotações, seguindo roteiro de perguntas
previamente elaborado.
Junto à descrição dos resultados, é apresentada a síntese das principais características
da atividade pesqueira no Quebra-Mar, representadas pelas ilustrações elaboradas a partir das
ferramentas e pelos registros fotográficos efetuados durante as atividades de campo. Ressalta-
se que uma ferramenta pode acrescer informações em mais de um item do roteiro.

Figura 5 – Canal da Barra, elevado do Joá e espaço tradicionalmente ocupado pelos pescadores da Barra
da Tijuca, Rio de Janeiro.

33

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Tabela 4– Resumo das atividades de campo realizadas no Quebra-Mar.


Data Ferramenta Itens do roteiro Participantes

30 de julho Mobilização dos Diversos 5 pescadores; diretoria


grupos; da APELABATA
reconhecimento da
área, entrevistas semi-
estruturada; mapas
preliminares

04 de agosto Calendário sazonal Características das 11 pescadores


pescarias, áreas de
pesca; produtividade;
comercialização,
demanda de mercado;
sazonalidade

20 de agosto Entrevista semi- Caracterização 3 pescadores


estruturada; socioeconômica;
estratificação social; divisão e relações de
matriz de divisão do trabalho; despesas
trabalho para rede associadas ao exercício
da atividade pesqueira

25 de agosto Entrevista semi- Diversos 1 pescador


estruturada

08 de setembro Entrevista semi- Áreas e locais de 1 pescador (presidente


estruturada; matriz de pesca; características da APELABATA)
caracterização de das pescarias:
petrechos e petrechos de pesca e
estratégias de pesca embarcações

23 de setembro Observação direta Representatividade e 20 pescadores


aspectos da
organização social dos
pescadores

02 de outubro Estratificação social; Caracterização 2 pescadores


entrevista semi- socioeconômica;
estruturada divisão e relações de
trabalho; conflitos;
demanda de mercado;
estruturação da cadeia
produtiva e insumos
pesqueiros

12 de fevereiro Mapeamento de Diversos 6 pescadores


pesqueiros

34

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

ASPECTOS DA COMUNIDADE PESQUEIRA

4.2 Dados socioeconômicos

Os pescadores do Quebra-Mar fazem o desembarque e comercialização do pescado na


Praia dos Amores, situada junto ao Canal da Barra (Joatinga) que liga a Lagoa da Tijuca ao
mar e próxima ao Quebra-Mar, estando seu ancoradouro situado na porção mais interior do
canal. Embaixo do elevado do Joá existe uma área destinada ao desembarque, beneficiamento
e comercialização do pescado, que pertence à Associação dos Pescadores Livres e Amigos da
Barra da Tijuca e Adjacências – APELABATA, sob a qual os pescadores encontram-se filiados.
A área contígua à associação é bastante movimentada, não só por esta ser um ponto de
referência no comércio de pescados do bairro, mas também por existir, próximo a ela, diversas
residências, um terminal de ônibus urbanos, bares e restaurantes (quiosques), que atendem a
um fluxo de moradores da região que busca as águas rasas e calmas da praia dos Amores e da
Barra da Tijuca para seu lazer.
A maioria dos pescadores que tem a pesca como sua atividade cotidiana e principal
reside na área próxima ao local, no próprio bairro da Barra da Tijuca ou em localidades mais
distantes, como Jacarepaguá. Muitos deles descendem de famílias de pescadores, que
exerciam essa atividade no mar e nas lagoas costeiras da Zona Oeste, desde meados do
século passado.
A fim de ilustrar a situação socioeconômica dos pescadores se produziu, a partir de
informações coletadas junto aos participantes do diagnóstico, um quadro contendo um resumo
de suas características distintivas, em termos de renda, posse de bens e de instrumentos de
trabalho (Tabela 5).

Tabela 5– Estratificação social na comunidade da Barra da Tijuca.


SITUAÇÃO RENDA MENSAL OBSERVAÇÕES
Melhor situação Varia entre R$700,00 até - possuem embarcação e rede;
R$1.200,00 (essa estimativa é
(6 pessoas) - residência própria (cerca de
bastante variável de acordo
90% mora na Barra da Tijuca);
com a quantidade e espécie
capturada) - tem algum tipo de poupança;
- possuem carro (normalmente o
carro não é muito sofisticado e é
utilizado como meio de trabalho:
transporte de pescado até outros
pontos de comercialização);
- esposa trabalha fora.
Situação média ou ruim “por baixo” R$600,00 - não possuem embarcação e
rede próprias (ajudantes de
(15 pessoas)
pesca);
- tem casa própria ou mora de
aluguel;
- são responsáveis pela venda do
peixe nas bancas.

35

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Ainda que a pesca seja a principal atividade econômica exercida pelos pescadores do
Quebra-Mar, é possível que estes realizem outra função remunerada por meio da prestação de
serviços temporários e eventuais fora do período diário dedicado à pesca, os chamados
“bicos”, pois as atividades de captura e comercialização de pescado geralmente ocorrem entre
a manhã e o início da tarde. Segundo as informações obtidas cerca de 30% das esposas dos
pescadores trabalham fora, enquanto as restantes dedicam-se aos serviços domésticos em
suas próprias residências.

4.3 Divisão e relações de trabalho na pesca

A pesca de rede e de linha são as principais pescarias realizadas pelos pescadores do


Quebra-Mar, tendo sido observado que um pescador realiza, eventualmente, a pesca de
mergulho. Contudo, a pescaria de rede é sem dúvida a mais comum.

Pesca de Rede
A pesca de rede pode ser exercida por até três pescadores em cada embarcação
(Tabela 6), sendo mais usual que dois pescadores a realizem: o dono do barco e o ajudante.
Durante a pescaria os pescadores realizam as mesmas funções dentro da embarcação (escolha
dos pesqueiros e puxada de rede), porém, ao chegar em terra as tarefas se diferenciam,
cabendo ao ajudante a limpeza e a venda da produção nas bancas, bem como, o remendo das
redes.

Tabela 6 - Matriz da divisão do trabalho na pescaria de rede.


Quem participa Com o que entra O que recebe

Dono do barco* barco com motor, 2 partes (uma pelo barco e uma
por ser pescador)
incluindo sua manutenção
mecânica e as redes
Ajudante* Força de trabalho 1 parte
Combustível Combustível
*Quando o dono do barco não sai p/ pescar fica com uma parte da produção total.
**Quando o ajudante possui rede a partilha pode ser feita meio a meio e o combustível é bancado pelo dono do
barco.
Local: Quebra-mar Data: 02.10.08
Participantes: Valtinho e Alexandre

Quando o proprietário do barco não participa da saída de pesca, ele delega a função a
um pescador específico e retira somente a parte da embarcação, sendo o restante dividido
entre os pescadores, mas esta não é uma prática usual no local.

Pesca de Linha
A pescaria de linha é bem menos praticada nessa localidade se comparada à de rede e
está direcionada, principalmente, à captura de anchova nas ilhas e lajeados (durante o ano

36

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

todo) e à lula (zangarelho) no verão, ainda que outros recursos estejam presentes nas
capturas, tais como: olho de cão, marimbá, olho de boi e etc. Nas pescarias de linha, utilizam
normalmente molinetes e iscas artificiais, sendo a mais comum a rapala para capturar
anchova.
Nas saídas dedicadas a essa pescaria vão, normalmente, dois pescadores que, depois
de descontadas as despesas com combustível e gelo, utilizado para conservação do pescado a
bordo, dividem a produção igualmente. A opção por dividir a produção em 50% para cada um,
decorre do fato de que em uma saída de pesca, um pescador pode capturar mais que o outro
de forma intercalada e da tendência de maior valorização desse tipo de pescado no mercado
consumidor.

4.4 Divisão do trabalho na comercialização

As atividades de comercialização iniciam tão logo o pescado tenha sido desembarcado,


por volta das 9 horas da manhã, pois os consumidores normalmente já estão chegando ao
local em busca do peixe fresco (Figura 7). No inverno, a venda do pescado se encerra por volta
das 13 horas. Já no verão, se estende até as 18 ou 19 horas, dado que existe mais procura
pelos produtos e também maior afluxo de banhistas que chegam ao local e consomem nas
barracas de praia.
Depois do desembarque, o pescador ajudante e o dono do barco iniciam o trabalho de
limpeza e venda do pescado e a divisão do lucro obtido (a partilha da produção conforme
descrita na Tabela 6) só ocorre depois de finalizada a venda. Caso o consumidor venha a
oferecer uma gorjeta ao ajudante, essa não precisa ser dividida com o dono do barco,
permitindo que o ajudante receba um adicional pelo trabalho executado.
A produção que não é vendida pode ser armazenada em caixas com gelo para ser
comercializada no outro dia, ou ainda, em freezers domésticos, fato que não é usual pois
dificilmente sobram produtos depois de um dia de trabalho. Caso o pescado não seja
considerado adequado para a venda (apresentando alguns machucados), os pescadores os
levam para consumo doméstico ou doam a pessoas de baixa renda que diariamente
freqüentam o local em busca desses produtos.

37

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Figura 6 – Pescadores do Quebra-Mar e equipe


técnica da ECOMAR durante aplicação de
ferramenta para coleta coletiva de dados para o
projeto de caracterização da pesca artesanal no
entorno das Ilhas Cagarra

38

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Figura 7 – Banca de limpeza e venda de


peixes na comunidade do Quebra-Mar, Barra
da Tijuca.

4.5 Conflitos e interferências externas


Os conflitos e problemas vivenciados pela comunidade pesqueira do Quebra-Mar
(Tabela 7) foram identificados a partir dos diversos encontros realizados durante o diagnóstico
e, principalmente, durante a oficina de mapeamento de pesqueiros, pois não foi possível
conjugar os horários livres dos pescadores para elaborarmos a Matriz de Conflitos, na qual
resultaria uma avaliação comparativa dos aspectos citados. Dessa forma, o quadro abaixo
sintetiza os principais problemas e conflitos citados.

Tabela 7– Conflitos, envolvidos e causalidades.


Conflito ou problema Envolvidos O que causa
Uso de mesmas áreas pela pesca Barcos de passeio de turma e Aumento do número de pessoas
profissional e amadora mergulhadores pescando na Barra: principalmente
nas Tijucas, Pargueira e no Surriá
Uso de mesmos pesqueiros por Grandes barcos de cerco (pau broca), Perda, roubo ou dano de material de
pescadores de outras comunidades de arrasto (chifrudos) vindos do pesca (rede alta, de caceia e
estado do RJ e de SC corvineiras)

Traineiras de Jurujuba (8-10m) e


barcos pequenos de arrasto da Ilha
da Conceição e de Jurujuba
Crescimento urbano desordenado e População em geral e governos Poluição do mar e das lagoas,
falta de saneamento (poder público) afetando os pescados e a produção
pesqueira
Falta de ordenamento e fiscalização Pesca de pequeno e grande portes e Invasão das áreas de pesca e queda
governo da produção artesanal

39

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

A sobreposição de áreas de pesca tem resultado na perda e avaria das redes, trazendo
prejuízos financeiros aos pescadores, seja do ponto de vista da produção seja do ponto de
vista de gastos com a reposição e confecção desses petrechos. A depender da área de pesca
utilizada, os envolvidos podem incluir a frota artesanal ou industrial do estado e de outras
unidades da federação.
O roubo de redes costuma ocorrer mais perto da costa e atinge, principalmente, na
área onde colocam a rede alta (de fundo), perto das Ilhas Tijucas, nos lajeados, e na praia da
Barra. Essa área é também utilizada pelas traineiras de cerco de até 10 metros de
comprimento, a quem são atribuídos as “perdas” (roubos). Os pescadores relataram que é
possível que os barcos de cerco ao não conseguirem fazer uma boa captura roubem,
eventualmente, as redes dispostas por eles perto da costa.
A maior queixa, contudo, se refere aos barcos de maior poder de pesca, como os
arrasteiros de camarão e peixes, chamados chifrudos e, os de cerco chamados pau broca
(porto de origem: Jurujuba, Ilha da Conceição, Cabo Frio e sul do país), que operam a partir
da profundidade de 30 metros (Figura 8). Essa frota, além de danificar o material utilizado
pela pesca artesanal, possui instrumental tecnológico avançado, compete pelos mesmos
recursos capturados nas redes dos pescadores do Quebra-Mar e contribui para a queda da
produtividade de suas pescarias. Dessa forma, a partir dessa profundidade, consideram área
de risco, podendo haver avaria ou perda de petrechos, sendo os mais danificados: as redes
corvineiras, as redes de caceia e a rede alta.
A fim de ilustrar a influência dos barcos de grande porte na disponibilidade e
produtividade dos recursos capturados pela pesca artesanal, um pescador relatou, em
fevereiro de 2009, que a safra da corvina (“peixe do mês de janeiro”) estava prejudicada, pois
esse peixe ainda não havia aparecido e sua produção estava bastante irregular se comparada
a anos passados. Afirmou que o “sumiço” da corvina ocorreu durante a semana santa do ano
de 2006 ou 2007, quando os grandes barcos de cerco (pau broca) arrasaram os cardumes que
subiam para meia-água, a fim de comer o camarão que tinha invadido a costa e não havia
ficado no fundo. Na sua concepção, desde então, a corvina deve estar crescendo e quando
aparecer de novo (em quantidades maiores) virá do fundo, aumentando a chance de captura
de quem trabalha com rede de emalhe.

40

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Figura 8– Traineira realizando cerco de sardinha próximo da praia de São Conrado.

Dessa forma, a pesca ilegal e a ausência de fiscalização por parte do IBAMA, além de
comprometer a sustentabilidade dos recursos pesqueiros e refletir na sustentação material dos
pescadores, tem contribuído bastante para a falta de efetividade das medidas de ordenamento
existentes e para o descrédito das políticas e ações dos órgãos de governo junto aos
pescadores. Em decorrência desse processo, temem que a criação de uma Unidade de
Conservação em Cagarras venha a significar aumento da pressão de pesca em áreas que
possuem grande importância econômica para suas pescarias, tais como as Ilhas Tijucas e
lajeados adjacentes.
Mesmo às frotas artesanais de cerco e arrasto são imputadas condutas consideradas
prejudiciais e conflituosas em relação à pesca de rede. As áreas onde ocorrem os maiores
conflitos, também envolvendo avaria dos petrechos são a Praia de São Conrado, onde os
barcos artesanais de arrasto operam a menos de 100 metros da praia (porto de origem: Ilha
da Conceição, Niterói e Jurujuba), e o local onde as traineiras de 8 a 10 metros fazem o cerco
(profundidade de 10 metros). No trecho que vai do emissário da Barra até o início da praia do
Recreio, a avaria de material é causada por pescadores amadores de caça submarina, uma vez
que essa região possui diversas lajes que são freqüentadas por esse público.
Nas Ilhas Tijucas, os pescadores relataram ter crescido bastante o turismo de pesca
esportiva nesse último verão, principalmente nos pesqueiros Pargueira e Surriá, aumentando a
competição pelos recursos capturados na linha com a isca rapala. Segundo relatos dos

41

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

pescadores, em um final de semana do verão de 2009, havia nesses pesqueiros 15 barcos de


turismo de pesca, com tripulação que poderia chegar até 10 pessoas cada um.
Outro aspecto destacado foi a poluição e degradação dos ambientes costeiros,
sobretudo da Lagoa da Tijuca, fruto do crescimento desordenado da cidade e, em especial, dos
bairros da Barra da Tijuca e de Jacarepaguá, e do ainda insuficiente sistema de tratamento de
esgoto sanitário, efetuado pela Estação de Tratamento de Esgotos e pelo Emissário Submarino
da Barra da Tijuca.
Segundo informações na página da Companhia Estadual de Águas e Esgotos – CEDAE, a
Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) e o Emissário Submarino da Barra da Tijuca fazem
parte do Programa de Saneamento da Barra da Tijuca, Recreio dos Bandeirantes e
Jacarepaguá, concebido para viabilizar a retirada dos esgotos sanitários lançados no sistema
lagunar de Jacarepaguá, através de estações elevatórias de esgoto nessa região da cidade.
Após a inauguração da primeira fase do programa, em abril de 2007, o esgoto sanitário
proveniente de algumas localidades da Zona Oeste e de alguns condomínios da Barra da Tijuca
passa por tratamento preliminar na ETE da Barra e depois segue pelos 5km de extensão do
emissário até chegar aos difusores, localizados no mar a uma profundidade de 40 metros. A
capacidade de coleta do sistema é de 900 litros por segundo ou 77 milhões de litros por dia.
Até o final de 2009, quando as principais áreas da Bacia de Jacarepaguá estarão atendidas
pelo PSBJ, a previsão é de que sejam coletados 2.500 litros por segundo.
Contudo, ainda que o programa tenha entrado em funcionamento, o que pressupõe que
haja controle e monitoramento da qualidade ambiental pelos órgãos competentes do estado, o
investimento em novas redes coletoras e a conexão das já existentes, bem como a adequação
do tratamento dado ao esgotos, tem se mostrado aquém do esperado. Ainda são recorrentes
os episódios de desequilíbrio ambiental divulgados na mídia associados à poluição do sistema
lagunar por esgoto e, por esse motivo, tem sido um dos principais alvos de discussão sobre a
poluição causada envolvendo o setor governamental, a comunidade científica e alguns setores
organizados da sociedade civil (Figura 9).
No que tange aos pescadores, estes também se mostram descontentes quanto à
capacidade de resposta do estado no sentido de revitalizar o sistema lagunar e se ressentem
dos prejuízos causados a sua atividade econômica. A Lagoa da Tijuca é lembrada como um
pesqueiro onde os pescadores mais antigos faziam boas pescarias, e onde havia grande
disponibilidade de recursos pesqueiros, como por exemplo, o camarão, o siri e o linguado.
Segundo os pescadores, a pesca nesse lugar (Lagoa da Tijuca) deixou de ser viável
economicamente há cerca de 10 anos; hoje, ainda que alguns pescados estejam disponíveis na
Lagoa, sua captura significa colocar à disposição do consumidor um produto com qualidade
sanitária duvidosa, fato este que leva a diretoria da associação a adotar uma postura que
procura coibir a venda de siri e de quaisquer outros produtos provenientes da lagoa nas
bancas do Quebra-Mar.

42

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Figura 9 – Foto aérea publicada no site do jornal “O Globo”, no dia mundial do meio
ambiente. A imagem revela a mancha de sedimentos em suspensão (incluindo poluição)
que parte do canal da Barra. Observa-se as ilha Cagarras (ao fundo à direita) e as Ilhas
Tijucas (ao centro, à direita).

4.6 Entidades representativas da classe pesqueira e aspectos da organização


social dos pescadores

A Associação dos Pescadores Livres e Amigos da Barra da Tijuca e Adjacências –


APELABATA, foi fundada em 26 de novembro de 2001 e congrega cerca de 70 pescadores
associados, sendo que destes, 20 pescadores tem a pesca como sua principal atividade
econômica, exercendo-a diariamente. Os demais associados são pescadores eventuais,
praticando a atividade no período de verão e, principalmente, na época da captura da lula.
Existem dois tipos de associados, os sócios contribuintes (pescadores eventuais) que
pagam R$ 120,00 de taxa de adesão e R$15,00 de mensalidade e os sócios efetivos
(pescadores de todo o dia), que pagam R$240,00 de taxa de adesão e R$30,00 de
mensalidade. Somente os associados com mensalidades em dia podem usufruir da estrutura
disponível para a venda de seu pescado. Os recursos obtidos com a cobrança das
mensalidades serão utilizados pela diretoria para melhorar a estrutura do escritório: compra de
1 computador com acesso a internet – para envio de e-mails e consulta a previsão do tempo,
etc.; compra de 1 aparelho de fax; e pagamento de despesas de água e energia elétrica.
A associação pleiteia junto à prefeitura e políticos estaduais a construção de sua sede,
píer de desembarque e entreposto pesqueiro na área contígua a onde hoje existe o ponto de
comercialização.
Como a APELABATA é registrada na SEAP, os pescadores não precisam mais ser

43

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

registrados na Colônia Z-13 para obter suas carteiras de pesca. No entanto, conforme
legislação em vigor, a Colônia continua sendo a responsável pelo seguro-defeso e
aposentadoria no INSS.

ASPECTOS TECNOLÓGICOS E BIOLÓGICOS DA PRODUÇÃO PESQUEIRA ARTESANAL

4.7 Características das Pescarias: petrechos de pesca e da frota

Características da frota e motores


A frota pesqueira utilizada pelos pescadores do Quebra-Mar é homogênea no que diz
respeito às características físicas das embarcações, ou seja, quanto ao tamanho do barco e
potência de motor: são embarcações de fibra do tipo voadeira, que medem 5 metros de
comprimento por 2,45 de boca. Os motores são de 40HP, a fim de ter velocidade suficiente
para sair na boca da barra, considerada uma das mais agitadas e perigosas do Rio de Janeiro.
Segundo os pescadores o custo de cada embarcação está em torno de U$ 3.800, ou,
aproximadamente R$6.850,00, que acrescido do frete pode chegar a R$7.500,00.
Conforme já descrito, a principal pescaria realizada pelos pescadores do Quebra-Mar é a
de rede. Abaixo segue a caracterização desses petrechos, os recursos capturados e detalhes
de sua operação.

Rede alta (de fundo)


A rede alta (Tabela 8) é usada para captura de diversos peixes, tais como: anchova,
serra, bonito, xerelete, olho de cão, caranha, enxada, pitangola, sargo, piragica, olho de boi,
pampo, robalo e, se colocada na beira da praia, pesca-se mais corvina.
Sua área de utilização compreende o espaço entre as Ilhas Tijucas e a praia da Barra.
Com relação ao custo é a segunda mais cara, perdendo apenas para a corvineira. Para
a confecção dessa rede são utilizados 6 panos de 2,5 metros de altura e malha de 40 ou 45
mm.

Rede de caceia (de superfície)


A rede de caceia (Tabela 8) é uma rede de deriva utilizada entre os meses de setembro
a abril e operada praticamente somente nos lajeados para se capturar anchova e xerelete,
que começa a aparecer em março. O tempo do lance dura cerca de 40 minutos e o horário
mais apropriado é a boca da noite ou o clarear do dia. Antigamente os pescadores
costumavam colocá-la também atravessada e apoitada perto das Ilhas Tijucas.
Essa rede é utilizada nos mesmos lugares em que se pesca de linha: próximo aos
costões e lajes, tais como o Surriá e ao redor das Ilhas Tijucas.

44

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Rede linguadeira
Além do linguado, a rede linguadeira (Tabela 8) captura arraia e ainda viola em grande
quantidade no verão. É colocada paralelamente à linha de costa, a partir de uma distância de
500 metros da praia até uma profundidade de 12 metros.
A rede linguadeira é a mais barata de todas as utilizadas pelos pescadores do Quebra-
Mar, já que quanto maior a malha, menor o custo. Tanto a linguadeira como a corvineira são
chamadas de redes “dorminhocas” ou “come-dormes”, pois que são fixadas num dia e
recolhidas no outro.

Rede de robalo
Esse petrecho costuma ser utilizado perto dos costões para capturar o robalo (Tabela 8)
que gosta da pedra, mas também se captura corvinas médias. Um pano de rede de robalo
custa cerca R$ 80,00, sendo que são utilizados 2 panos de altura.

Rede de cerco (batida ou bate poita)


As redes de cerco (Tabela 8), também chamadas de bate-poita, são confeccionadas
com fio 50 e malha 50. Com elas se capturam tainha, cocoroca, papa-terra e pampo. São
colocadas perto dos costões ou lajeados e com maré parada.
Segundo um pescador, a estratégia de se produzir som é utilizada “porque a tainha
vem em cardumes cortando do meio para a flor d’agua”, assim o pescador faz o cerco batendo
na água, uma vez que a emissão de som faz a tainha subir para a flôr d’água e correr, sendo
mais facilmente emalhada; também capturam com essa técnica a corvina, o robalo, a
carapeba, pescada miúda, sargo, bonito, dentre outros.
São utilizadas perto da costa em profundidade máxima de 20 metros, cuja área de
operação se estende do final do Leblon até a Pedra dos Cabritos.

Rede corvineira
A rede corvineira (Tabela 8) é dividida em dois tipos: uma de fio mais fino, com malha
40 a 55, colocada até 30 metros de profundidade; e outra de malha mais graúda (de 55 a 80)
e fio mais grosso (60), utilizada mais distante da costa.
Os principais recursos capturados com a corvineira miúda são: corvina miúda, pescada,
anchova, olho de cão, robalo, espada, cabrilha, xerelete, bonito, tira e vira, merluzinha e
prego. Já com a corvineira graúda capturam: viola, tubarão, pescada, pargo, marimba, corvina
(corvina gold), corvina castanha, cavaquinha, cherne, cação anjo, tamboril e cação.
Outra particularidade revelada pelos pescadores sobre essas redes é a posição em que
se colocadas; até os 30 m, a rede é colocada perpendicularmente à praia; nas profundidades
maiores, principalmente no pesqueiro Bin Laden (60m), a posição da corvineira é colocada
paralelamente à linha de costa, em função do risco de a rede ser levada pela operação e maior

45

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

circulação das embarcações de arrasto.

Tabela 8 - Caracterização dos petrechos e estratégias de pesca do Quebra-Mar.


Tipo de rede Peixes que pega Pesqueiros Características da Valor do Petrecho
principais Operação

Corvineira Corvina; Perto da costa e no Coloca pela manhã Primeira mais cara
Bin Laden (10 a 12 e recolhe no dia
Cação;
milhas da costa) seguinte
Viola;
Anchova;
Pescadas

Rede Alta (de Anchova (na boca Nos lajeados perto Lances que duram Segunda mais cara
fundo) e de caceio da noite ou no das ilhas (caceia) e de 30 a 40 minutos
(de superfície) clarear do dia, por terra (rede (caceia)
“quando o peixe alta)
come”;
Xerelete

Linguadeira Linguado Por terra na direção De um dia para o Mais barata


da praia e nos outro
Arraia
lajeados, quando a
Viola sardinha encosta

Robalo Robalo Perto dos costões Do dia para a noite Terceira mais cara
(“onde o robalo
Corvina (média)
gosta de ficar”)

Tainheira Tainha; Perto dos costões Do dia para a noite Terceira mais cara
Corvina

Local: Quebra-mar Data: 08.09.08


Participante: Luiz Carlos

4.8 Produção por recurso, sazonalidade e rendimento

As estimativas da produtividade pesqueira local foram produzidas a partir de uma


avaliação efetuada pelos próprios pescadores do Quebra-Mar tomando por base uma listagem
diversificada dos recursos que compõem as suas capturas e considerando a sazonalidade dos
recursos. Para tanto, foi construído um calendário sazonal da produção pesqueira, do qual foi
possível extrair uma série de informações que revelam não só o conhecimento dos
participantes acerca da disponibilidade dos recursos levando em conta esse fator, como
também a influência, a consideração e o necessário domínio (conhecimento) das
características naturais e ecológicas dos ambientes explorados nas pescarias realizadas para se
chegar a uma boa captura.
Nesse sentido, os fatores naturais preponderantes são: (i) as condições do mar,
envolvendo correntes de maré (de leste, sentido Angra-Barra ou de sul, sentido Barra-Angra),
cor e temperatura da água; (ii) os ventos; (iii) a disponibilidade de alimento para espécie-alvo
(a “comedoria”) e; (iv) a fase lunar (quartos fortes e fracos).
Nas tabelas abaixo, estão expressas a avaliação sobre a quantidade de captura e os

46

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

preços de venda praticados ao longo do ano para cada um dos recursos listados. Pode-se
observar que determinados recursos têm safras no verão, outros no inverno e alguns
apresentam uma captura estável ao longo do ano. Nos meses em branco não existe captura
das espécies correspondentes (Tabela 9).
A base da produção local está centrada na corvina, anchova e linguado, peixes que
apresentam regularidade de captura, ainda que o tamanho varie conforme a época do ano.
Para o pescador, o peixe gosta de movimento e vem atrás de comedoria; porém, a
temperatura e a cor da água também influenciam a captura do recurso. Alguns exemplos são
colocados a seguir:

Corvina: dá o ano todo, porém no verão capturam mais graúdas; com o mar agitado dá maior
quantidade;
Olho-de-cão: essa espécie (Figura 10) se alimenta da lêndea do camarão e dá muito na praia
da Barra, onde o camarão se cria; no verão podem capturar até 300 quilos por dia.
Porém se entra vento forte e o mar fica mexido, ele some.
Perna de moça: não é muito pescada na Barra. Segundo os pescadores, apareceu mais 2008
por causa do espante dos barcos de arrasto lá fora;
Maria mole, anchova e xerelete: gostam de água fria e aparecem mais no verão. A anchova
tem mais regularidade alterando-se só as estratégias utilizadas para sua captura, pois,
na água gelada vai para o fundo e na água quente encosta e anda na meiágua;
Goete: capturam ao longo de todo o ano – espécie que “vem” na rede corvineira,
acompanhando as espécies mais capturadas;
Tainha: normalmente captura-se em maior quantidade nos meses de maio, junho e julho, mas
em 2008 chegou só em agosto;
Cavalinha: apareceu muito em 2008, depois de alguns anos sem dar produção, porém, os
barcos industriais também efetuaram boas capturas.
Sardinha: capturam muito pouco; só de tarrafa em alto-mar.
Dourado: capturam mais no verão, de setembro a março, depois disso ele some;
Olho-de-boi: é um peixe de passagem, gosta da água quente e clara e de comer lula;
Lula: gosta de água quente e aparece mais no verão, nos meses de janeiro a março;
Bonito: gosta de água morna; contudo tem bastante disponibilidade, pois nem com água fria
essa espécie desaparece e, na visão dos pescadores, atrapalha outras pescarias;
Pampo: peixe de verão, pesca-se quando o mar deixa;
Pargo: peixe de água gelada;
Espada: costuma ser capturado na época de lula (que é seu alimento), peixe que “detona a
rede” (danifica);
Cação: o inverno é a época de captura, porém é um peixe que não chega mais porque os
barcos de arrasto capturaram a comida do cação; peixe que gosta de água morna e limpa.

47

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Tabela 9 - Calendário Sazonal de Produção do Quebra-Mar.


Pescado Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Corvina
Anchova
Pescada (maria mole)
Bicuda
Goete
Perna de Moça
Viola
Linguado
Olho de cão
Olho de boi
Lula
Polvo
Xaréu Branco
Serra
Bonito
Piragica
Pampo
Pargo
Tainha
Espada
Cação
Marimbá
Bagre
Cavalinha
Sardinha
Siri
Dourado
Camarão
Robalo
Legenda: X boa produção X produção razoável X pouca produção
Local: Quebra-Mar (APELABATA) Data: 04.08.08
Participantes: Luiz Carlos, Boréu, Aluísio (Pica-Pau), Miúdo, Gilzinho, Rodrigo Valtinho, Fábio, Dinho,
Guinha, Bob Marley

Embora a consideração dos fatores naturais influencie a decisão do pescador por


determinadas áreas de pesca, a disponibilidade dos recursos nos dias de hoje está cada vez
mais incerta, pois “tudo está descontrolado”, como afirmou por várias vezes um dos
pescadores mais antigos do Quebra-Mar. O descontrole a que se refere diz respeito às
mudanças de clima que, segundo eles, estão fazendo com que as safras de peixe entrarem

48

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

com um ou dois meses de atraso.


Nesse sentido, a anchova, a corvina e o linguado são recursos que, por sua
disponibilidade para captura, contribuem regularmente para composição da renda mensal do
pescador.
Por outro lado, alguns recursos embora não apresentem produção regular durante o
ano são bastante valorizados comercialmente durante determinado período, permitindo bons
ganhos financeiros, tais como a lula e o robalo.
Segundo os pescadores, o preço dos pescados sofre maior variação quando vendido por
atacado, ou seja, a peixarias ou a determinados atravessadores (peixeiros); nesses casos, o
pescador obtém menor margem de lucro na negociação. Para a venda no varejo, ou seja, no
próprio Quebra-Mar, existe uma tabela fixada pela própria associação, sendo observada maior
variação em períodos específicos como o Carnaval e a Semana Santa, quando acrescenta-se,
aproximadamente, R$ 2,00 ao quilo comercializado (Tabela 10).

Figura 10 – Grande diversidade de peixes são explorados pelos pescadores do Quebra-Mar,


praia da Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. Pescada (esquerda, superior), cavalinha (direita,
superior), pirajica (esquerda, inferior) e olho de cão (direita, inferior).

49

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Tabela 10 - Preços de comercialização do pescado por pescadores da Barra da Tijuca.


Pescado Preço de venda Preço de venda
Agosto 2008 (R$) Fevereiro 2009 (R$)

Anchova grande 10 12

Anchova pequena 8 12

Arraia 5 6

Badejo 20 23

Bagre 4 5

Bonito 3 4

Cação 10 12

Carapeba 10 12

Cioba 10 15

Corvina grande 6 8

Corvina pequena 5 7

Espada 4 5

Galo 12 15

Garoupa 20 25

Linguado 20 25

Lula 15 15

Marimbá 6 7

Olhete 15 18

Olho de Boi 18 18

Polvo 15 16

Pampo 12 15

Pescada (maria mole) 7 8

Pescada (perna de moça) 10 13

Piragica 4 5

Robalo 20 25

Sardinha 5 6

Sargo 8 10

Serra 5 7

Tainha 7 9

Pargo grande 12 15

Pargo pequeno 8 8

50

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

4.9 Áreas e locais de pesca

As áreas e locais de pesca foram mapeados de duas formas e em momentos distintos:


na primeira fase do campo, se utilizou como estratégia um mapeamento preliminar dos
pesqueiros utilizados, a partir da identificação destes em uma carta náutica. Os mapas
preliminares facilitaram o diálogo inicial e abordagem das demais atividades propostas aos
pescadores, colaborando, inclusive, para a compreensão da equipe técnica acerca de outros
itens do roteiro de campo.
Na segunda fase do campo foi realizada uma oficina de mapeamento de pesqueiros no
dia 12 de fevereiro de 2009, de onde se obteve informações mais detalhadas sobre esse tema
(Figuras 11 e 12)(Anexo 5).
Os resultados demonstraram que os pescadores do Quebra-Mar possuem uma área de
atuação que se define ao sul e ao norte, a partir das Ilhas Tijucas e dos lajeados a elas
adjacentes. Na direção sul, o limite da referência em terra é a Pedra dos Cabritos, no Recreio
dos Bandeirantes, e, ao norte, a Boca da Baía da Guanabara. A partir desses extremos,
ocupam uma área a leste, que chega a atingir a profundidade de 60 metros, a 12 milhas da
costa, onde se localiza um pesqueiro específico, denominado Bin Laden. Contudo, a freqüência
de uso dessas áreas varia conforme a pescaria que se esteja realizando, a disponibilidade do
recurso nesses ambientes e o custo despendido com os insumos.
Os pesqueiros se delineiam de acordo com a passagem do peixe, “da beira para fora”, e
conforme a modalidade de pesca realizada (rede ou linha). Sua localização pelo pescador se dá
a partir da triangulação feita entre as ilhas e diversas referências em terra (morros, quiosques
de praia, edifícios, restaurantes e postos de salvamento existentes na praia da barra e na orla
da cidade); ou, simplesmente, pelas marcas de terra, no caso de se identificar as diversas
lajes existentes entre o emissário da Barra e a praia do Recreio, bastante utilizadas nas
pescarias de rede e de linha.
A produção e a escolha dos pesqueiros variam conforme o petrecho escolhido, a maré
(de leste ou de sul), o deslocamento da comedoria (manjuba, sardinha, camarão) preferencial
do recurso-alvo e a temperatura da água. Segundo os pescadores: “muda a água, muda o
lugar”. Ainda assim, as despesas com os insumos também influencia a escolha dos pesqueiros
e o limite de atuação.
No arquipélago das Cagarras, por exemplo, o limite máximo de atuação costuma ser o
pesqueiro denominado Banco do Brasil (Laje da Redonda), onde pescam preferencialmente
anchova na linha. O uso de pesqueiros situados nas outras ilhas desse arquipélago, também
ocorre, porém de forma eventual: quando a produção compensa o investimento da saída, pois
a depender do recurso a ser capturado, pesqueiros mais próximos e tidos como de produção
regular e, ainda satisfatória são os mais utilizados.
As áreas de pesca preferenciais dos pescadores do Quebra-Mar são as Ilhas Tijucas, os
lajeados adjacentes e a área que vai da praia da Barra até a Ponta dos Cabritos.

51

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Já a região do “Bin Laden”, situada a uma profundidade de 60 metros e distante de 10


a 12 milhas da costa, na verdade área de pesca de grandes barcos de arrasto de camarão, é
utilizada para a colocação de redes corvineiras de malha graúda (55 a 80). Utilizam essa área,
principalmente nos períodos de defeso do camarão, época em que, a ausência da frota
camaroneira, significa diminuição do risco de perda de petrechos e, conseqüentemente, de
maiores prejuízos financeiros.
De qualquer forma, a pescaria no Bin Laden é, segundo os pescadores, uma pescaria de
risco, seja por questões de segurança, seja pelo alto investimento nos insumos necessários
(gasolina e redes) à saída de pesca. Apesar disso, sustentam que o uso de tal estratégia se
deve, em muito, à crescente escassez de seus recursos-alvo provocada pela invasão da área
costeira pelos barcos de grande porte (arrasto e cerco), a partir de 2001. Assim, o pequeno
pescador relaciona à procura por áreas mais distantes da costa à falta de fiscalização e de
controle da pesca de grande porte, capaz de capturar em uma só vez a produção mensal de
um barco de pequeno porte. Porém, hoje em dia, o rendimento (produtividade) obtido no Bin
Laden já não é o mesmo do que o obtido no início desse tipo de pescaria, há 10 anos. Nessa
época, a produção era tão grande e vantajosa que, mesmo se perdendo 80 panos de rede
(levados pelo trânsito de barcos maiores), se conseguia recuperar o prejuízo nas próximas
capturas.
Em termos de relevância econômica (contribuição para a renda do pescador), os
pesqueiros mais importantes para os pescadores da Barra são (Tabela 11): 1o Ilhas Tijucas e
Meio da Barra; 2o Surriá e Costão de São Conrado; 3o Arquipélago das Cagarras (Redonda,
Redondinha, Banco do Brasil) e; 4o Bin Laden.

Tabela 11 – Pesqueiros utilizados e sua importância para os pescadores da Barra da Tijuca.


Importância para a Nome do Pesqueiro Motivo alegado
composição da renda

1o Ilhas Tijucas e Meio da Barra Pela proximidade e boa


produtividade

2o Surriá e Costão de São Conrado O costão de São Conrado é


considerado uma área de risco de
perda e danos ao material por
causa das embarcações de
arrasto

3o Arquipélago das Cagarras Sendo mais importantes para a


(Redonda, Redondinha, Banco do pescaria de linha e mergulho do
Brasil) que para a rede

4o Bin Laden alto risco de perder material de


pesca e gastos elevados com
combustível (em função da
distância que precisam percorrer
para chegar ao pesqueiro)

52

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Figura 11 – Oficina de mapeamento participativo com pescadores do Quebra-Mar, praia da Barra da


Tijuca, Rio de Janeiro.

Figura 12 – Resultado gráfico da oficina de mapeamento participativo com pescadores do Quebra-Mar,


praia da Barra da Tijuca, Rio de Janeiro (esquerda). À direita, categorizacão relativa do nível de
relevância econômica dos pesqueiros para a constituição da renda dos pescadores do Quebra-Mar.

53

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

INFRA-ESTRUTURA, COMERCIALIZAÇÃO E MERCADO

4.10 Tecnologia do pescado: forma e acondicionamento do pescado a bordo e


forma de beneficiamento e comercialização

Segundo os pescadores, só existe acondicionamento do pescado em gelo na pescaria de


linha. Nesse caso, os pescadores compram o gelo num fornecedor localizado perto da
associação, que pratica um preço diferenciado (inferior ao de mercado) para os associados.
Os peixes são limpos, descamados e eviscerados nas bancadas da associação.
Conforme já descrito nesse relatório, tanto os pescadores ajudantes como os donos de
embarcação executam esse serviço.

4.11 Insumos pesqueiros, meios de produção e despesas associadas ao


exercício da atividade pesqueira

Confecção de redes
O material utilizado para a confecção e remendo das redes são adquiridos em lojas
comerciais especializadas de Niterói e da Zona Oeste do Rio de Janeiro. Os remendos são
feitos no próprio Quebra-Mar pelo ajudante de pesca e eventualmente pelo dono da rede, pois,
hoje em dia, está cada vez mais difícil encontrar profissionais especializados nesse tipo de
serviço.
No Quebra-Mar de quatro a cinco pessoas entralham as redes. Para cada pano de rede
consertada paga-se R$ 20,00/dia. As despesas relativas à mão-de-obra necessária para esse
serviço custam cerca de R$300,00 por rede. A Tabela 12 descreve os custos envolvidos na
confecção de uma rede corvineira.

Tabela 12 - Custos envolvidos na confecção de rede corvineira (malha 70 e 15 m de comp.)


Item Custo unitário Custo total
67,5 quilos de chumbo R$13,00/quilo R$877,50
15 panos de rede R$27,00 R$405,00
32 bóias por pano = 480 R$0,28 R$134,40
12 rolos de fio para entalhe R$7,00 R$84,00
3 rolos = 65m de cabo 8 por
R$112,00 R$336,00
pano = 975 metros
2,5 rolos de cabo 7 (onde
R$112,00 R$280,00
fixa a bóia)
Mão-de-obra R$300,00 R$300,00
TOTAL 2416,90

54

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Gastos com manutenção


Segundo um proprietário de embarcação o total mensal das despesas com combustível
é de R$ 990,00 em média. Porém, a depender da disponibilidade do recurso, por exemplo,
quando a “corvina está grossa lá fora”, os custos com o combustível aumentam, pois é
necessário navegar mais para fora para capturá-la e garantir uma boa produção.
Os motores utilizados nas embarcações são de 40 HP em função da saída da Barra. A
despesa total de um proprietário para manutenção da atividade é composta por: 40%
combustível e 60% manutenção do barco, motor, reposição de material como compra de
panos para rede e pagamento ajudante.
A manutenção do motor é feita, em média, a cada 3 meses por 1 mecânico
especializado que cobra em torno de R$80,00 pelo serviço. Porém quando o serviço é maior,
chega-se a pagar R$450,00.

4.12 Demanda de mercado e estruturação da cadeia produtiva

A comercialização da produção é feita, via de regra, pela venda direta ao consumidor,


pois a associação oferece aos pescadores associados e contribuintes a infra-estrutura
necessária para a limpeza e venda do pescado: bancada azulejada e água encanada (Tabela
13). Os materiais essenciais para a limpeza do peixe (descamação, evisceração e filetagem) e
pesagem dos produtos (balanças) são de propriedade do dono do barco. Segundo os
pescadores, a venda no varejo lhes dá certa autonomia e permite a continuidade da atividade
pesqueira artesanal numa cidade do porte do Rio de Janeiro.
Nos casos em que ocorrem grandes capturas os pescadores escoam a produção para
outros comerciantes de pescado existentes no bairro da Barra da Tijuca e adjacências
(peixeiros), a exemplo do Mercado do Produtor existente na Avenida Airton Senna, Velho Mar,
Badejo de Ouro (Vitor); Beto (peixeiro novo); Ricardo (Rio das Pedras), Iate Clube (que
compra o bonito para isca), obtendo uma margem de lucro menor com a venda desse tipo.
Outro ponto de escoamento de pescado são as barracas de praia da Barra da Tijuca, as
quais tendem a buscar produtos específicos como a anchova “bebe água” (peso de até 800
gramas) e a bicuda.

55

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Tabela 13 - Esquema de produção e comercialização.


Entra Sai Pra onde vai

Redes, linhas e anzóis (compra- Anchova grande Venda direta ao consumidor


se no Mercado São Pedro ou em Anchova pequena (APELABATA)
lojas especializadas no Rio – Arraia
Zona Oeste) Badejo Quiosques de praia (anchova
Bagre “bebe água”)
Barcos de fibra (5m comp) Bonito
Cação
Motor de 40HP Carapeba Quando tem muita produção:
Cioba
Óleo (lubrificante) e gasolina (os Corvina Mercado do Produtor na Airton
gastos com combustível Espada Senna; Velho Mar, Badejo de
representam 40%das despesas Galo Ouro; Beto; Ricardo Rio das
do pescador) Garoupa Pedras), Iate Clube (compra
Linguado bonito para isca)
Lula
Marimbá
Olhete
Olho de Boi
Polvo
Pescada
Piragica
Robalo
Sardinha
Sargo
Serra
Tainha
Pargo

4.13 Seleção de especialistas


Os pescadores mais experientes de Quebra-Mar foram identificados durante os
trabalhos de campo e convidados a participar das oficinas de mapeamento participativo
(Tabela 14).

Tabela 14 – Pescadores mais experientes nas diferentes modalidades de pesca, segundo a recomendação
dos pescadores do Quebra-Mar, Rio de Janeiro.
Nome do Modalidade de pesca
informante rede linha mergulho
Luiz Carlos Boréo, Valtinho e Luiz - -
Carlos
Alexandre Boréo, Gilson e Valtinho Marcelo, Fabio e Pica- Marquinhos
Pau (Aluísio)
João Cardoso João Cardoso, Valtinho e Marquinhos e Pica-Pau
Luiz Carlos (Aluísio)

56

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

5. COPACABANA - RIO DE JANEIRO

Situado no extremo sul da praia de Copacabana (Figura 13), o Posto 6 (Figura 14) é
constituído pela sede da Colônia de Pescadores Z-13, por uma área destinada as operações
regulares de pesca – chegada e saída de embarcações, incluindo um guincho para tal – e por
uma área utilizada para manutenção das redes e comercialização do pescado.
O Posto 6 possui os pescadores que, a priori, estão dentre aqueles que utilizam mais
intensamente as áreas adjacentes ao Arquipélago de Cagarras, tendo sido suas lideranças que
solicitaram a revisão de categoria de Unidade de Conservação proposta na Audiência Pública
realizada em 02.05.2007 e que gerou a demanda pelo estudo aqui apresentado.

5.1 Metodologia
As atividades relativas a primeira etapa do projeto consistiram em visitas ao Posto 6
realizadas entre os meses de abril e julho de 2008. Em cada uma das visitas, previamente
agendadas, um grupo de pessoas que está associado à atividade pesqueira era abordado:
pescadores de rede, pescadores de linha, pescadores de mergulho, pescadores que atuam em
mais de uma arte de pesca, donos de embarcação, vendedores de peixe, tratadores de peixe,
arrematadores de rede ou diretoria da Colônia de Pescadores Z-13 de Copacabana.

Após esclarecimentos sobre os objetivos do projeto, o grupo era convidado a participar


de uma atividade específica (Tabela 15). Em geral, a equipe de campo definia de duas a três
ferramentas a serem aplicadas conforme a disponibilidade e características do grupo
participante e pautadas no roteiro de campo previamente elaborado.
As informações coletadas foram complementadas com informações secundárias,
oriundas do Cadastro de pescadores da Colônia de Pescadores Z-13 de Copacabana atualizado
no primeiro semestre de 2008 em virtude da realização deste diagnóstico.

57

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Figura 13– Praia de Copacabana (ponto vermelho na imagem à esquerda) e Posto 6 (ponto vermelho na
imagem na figura à direita), Rio de Janeiro.

Figura 14 – Posto 6, Copacabana, Rio de Janeiro.

58

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Tabela 15 – Resumo das atividades de campo realizadas em Copacabana.

Data Ferramenta Itens do roteiro Participantes


02.04.08 Mapa preliminar Áreas e locais de Coordenador de Pesca
pesca da UEPA (1)
22.04.08 Mapa preliminar Áreas e locais de 2 pescadores
pesca
23.04.08 Entrevista aberta Geral Vice-presidente da
colônia
24.04.08 Matriz de divisão do trabalho para Divisão e relação do 5 pescadores; 2
pesca de rede; matriz de trabalho; Estrutura da vendedores; 2
comercialização do pescado; cadeia produtiva; tratadores e 1 atadora
entrevista com os tratadores de Estrutura da cadeia de rede.
peixe; entrevista com atadora de produtiva; Divisão e
rede relação de trabalho e
insumos
05.05 Matriz de avaliação do trabalho com Divisão e relação de 2 mergulhadores
mergulhadores; matriz de avaliação trabalho, insumos,
de despesa e mapas preliminares áreas e locais de
pesca.
09.05 Mapa adaptado para conflitos; Conflitos e 2 pescadores de rede;
entrevista aberta interferências externas 1 mergulhador
e áreas de pesca,
vários
17.05 Relógio de rotina: para rede e linha Divisão e relações do 1 pescador e 1
e com vendedora de peixe trabalho vendedora de peixe.
22.05 Entrevista aberta Diversos Diretoria da Colônia
26.05 Matriz de conflitos Conflitos e 14 pessoas com
interferências externas funções diversas
04.06 Visita da SEAP e ICMBio Diálogo com as -
lideranças
05.06 Saída de barco Áreas e locais de Atividade suspensa
pesca devido ao mal tempo
16.07 Entrevista aberta Diversos 2 pescadores e
presidente da Colônia
18.07 Matriz de divisão do trabalho para Divisão e relação do 1 pescador
linha trabalho
23.07 Entra e sai, de onde vem para onde Infra-estrutura e 9 pescadores
vai comercialização do
pescado

59

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

ASPECTOS DA COMUNIDADE PESQUEIRA

5.2 Dados socioeconômicos


Conforme registros obtidos junto à Colônia de Pescadores Z-13, há 62 pescadores que
declararam exercer suas pescarias no Posto 6, em Copacabana. Este universo deve se
aproximar ao total de pescadores que ali atuam, uma vez que a maioria deles é associada a
essa entidade: 53. Ressalta-se, no entanto que a jurisdição da Colônia compreende os bairros
da Urca, Copacabana, Lagoa, Barra da Tijuca e Jacarepaguá, onde existem filiais e pescadores
atuantes.
No Posto 6, a quase totalidade dos pescadores é composta por homens. As mulheres
atuam mais como vendedoras de pescado (três), na manutenção das redes (duas, sendo uma
como atadora de redes e outra que além de pescar eventualmente, faz a limpeza dos
petrechos, e se dedica, principalmente, à venda do pescado para o dono da embarcação a qual
está vinculada) e uma é presidente da Colônia de Pescadores.
Nas atividades em terra – comercialização e manutenção das redes – há quatro
vendedores de peixe, dois tratadores de pescado e as duas mulheres que fazem manutenção
das redes, serviços estes que podem ser considerados especializados, pois tais funções são
raramente alternadas com as pescarias, apesar de parte dos entrevistados observarem que já
atuaram ou que são capazes de alternar sua atividade com a pesca.
Conseqüentemente, temos aproximadamente setenta pessoas envolvidas diretamente
com a atividade pesqueira do Posto 6.
Dos sessenta e dois pescadores que declararam exercê-la no Posto 6, apenas 2
acessam o salário desemprego em virtude do defeso de alguma espécie. Em média, os
pescadores possuem 2,56 dependentes (n=62, desvio-padrão=1,58) havendo pescadores que
não possuem dependentes e um que possui oito dependentes. Dentre os proprietários de
barco, dois são aposentados como pescadores.
Residem em 22 bairros distintos, todos situados na cidade do Rio de Janeiro, sendo os
dois mais expressivos: Copacabana (48,38%) e Leblon (14,51%) .
A despeito do endereço de cadastro fornecido pela Colônia não nos permitir inferir sobre
a qualidade da moradia dos pescadores, especialmente, se eles residem em áreas de risco, em
algumas entrevistas nos foi reportado que o local de moradia daqueles pescadores que
residem em Copacabana e nos demais bairros da Zona Sul são as favelas ali existentes, a
saber: Vidigal, Rocinha, Pavão, Pavãozinho e Cruzada. No próprio cadastro fornecido, alguns
pescadores deram o endereço da própria colônia como sendo o de sua residência.
Outra característica relevante da atividade pesqueira no Posto 6 é o fato de o local de
trabalho ser dissociado da área de moradia. Tal condição, era esperada por tratarmos de uma
pesca exercida em uma metrópole urbana, característica esta que os distingui da maioria das

60

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

comunidades pesqueiras no país, cujo espaço de convívio e residência é o mesmo que da


prática da pesca.
Em entrevista com a antiga diretoria da Colônia, foi observado a existência de um
convênio entre SESI/Federação de Pesca para prestação de serviços médico-odontológicos aos
pescadores, bastando para isso que os mesmos estejam em dia com sua contribuição junto à
colônia e regular junto à SEAP. Contudo, não encontramos evidências de que alguém tenha
utilizado tais serviços, seja por falta de interesse ou pelo simples fato de que não conheçam a
existência de tal convênio, por não querer entrar na fila de atendimento e pagar as taxas
referentes aos serviços que poderão utilizar.

5.3 Divisão e relações de trabalho na pesca


São três as principais pescarias realizadas em Copacabana: rede, linha e mergulho.
Daqueles pescadores que declararam exercê-la no Posto 6 (n=62), sete são mergulhadores
(11,3%), quatro pescam com rede (6,5%), 46 intercalam a pesca de rede com a pesca de
linha (74,1%), 2 intercalam a pesca com rede, linha e tarrafa4 ( 3,2%) e os 3 restantes
pescam cada um intercalando rede, linha e mergulho (1,6%), rede e mergulho (1,6%) e
marisco (1, 6%).

A divisão da força de trabalho entre os pescadores do Posto 6 foi analisada para as três
principais artes de pesca realizadas nas áreas adjacentes ao Arquipélago das Cagarras: linha,
rede e mergulho.
Considerando que a cadeia produtiva do pescado desembarcado no Posto 6 é curta e as
atividades de comercialização são desenvolvidas ali, a divisão de trabalho entre
pescadores/dono de barcos e vendedores de pescado também foi contemplada.
De maneira análoga, as atividades de comercialização do pescado e manutenção das
redes foram objeto de análise. Em especial, foram entrevistadas duas mulheres que atuam
nessas atividades, em função da necessidade de avaliar o papel feminino nas atividade
pesqueira do Posto 6.

Pesca de Linha
A pescaria de linha comumente é realizada por três pescadores, sendo que o
proprietário da embarcação, quando participa da atividade, atua como mestre.
As variações ocorrem em relação ao número de tripulantes, podendo ser praticada por
dois, três ou quatro pescadores, e pela presença ou não do proprietário do barco no exercício
da atividade. O proprietário do barco cede a embarcação para pescaria e é responsável por
sua manutenção (Tabela 16). Cada pescador é responsável por seu equipamento de pesca e,
dentre eles, o mestre é quem define o pesqueiro a ser utilizado.

4
A pesca de tarrafa ocorre principalmente na Lagoa Rodrigo de Freitas, localidade que não foi objeto de análise deste
diagnóstico. Contudo, os pescadores do Posto 6 podem usá-la eventualmente, a depender das condições de mar.

61

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Despesas com rancho, combustível e gelo são divididas entre todos os participantes.
Contudo, algumas viagens ocorrem apenas no sentido de verificar se há disponibilidade do
recurso, ou seja, “se está dando peixe”. Nesses casos, os pescadores não investem nesses
insumos.
A produção é dividida pelo número de pescadores presentes no barco mais uma parte
para o proprietário da embarcação, após descontadas as despesas citadas acima. Após o
desembarque, a produção total do barco é repassada aos vendedores de peixe pelo dono do
barco para a venda nas bancas da Colônia e o acerto da produção é realizado após a
comercialização, em dinheiro.

Tabela 16 – Divisão da força de trabalho na pesca de linha realizada no Posto 6, em Copacabana.


Quem participa Com o que entra O que recebe (quinhão)
Dono do barco Barco com motor, 1 parte
incluindo manutenção

Mestre Definição do pesqueiro, 1 parte


trabalho,
equipamento de pesca

Pescadores Trabalho, 1 parte para cada


(geralmente dois) equipamento de pesca

Todos Combustível, gelo, rancho


Local: Colônia Z-13 (Posto 6 – Copacabana) Data: 18.07.08
Participante: Manoel

Pesca de Rede
A pesca de rede é exercida por dois ou três pescadores, sendo mais usual a atividade
ser exercida por três pescadores: o mestre e dois pescadores que puxam a rede e retiram os
peixes (puxadores de rede). Comumente, uma única pessoa é proprietária da embarcação e
dos petrechos.
Quando o proprietário do barco pesca, este atua como mestre. Quando o mesmo não
pesca, ele tira um pouco de sua parte e dá ao mestre. Desta forma, o mestre ganha um
pequeno percentual a mais que os demais pescadores, que atuam como puxadores.
O debate em torno da divisão da produção oriunda da pesca de rede foi bastante
polêmico, denotando que há vários sistemas em vigência, sendo considerados mais ou menos
justos pelos pescadores e, até mesmo, por alguns proprietários de embarcação.
O sistema mais comum e também o considerado mais justo é a divisão da produção
em seis partes, depois de retirada as despesas com combustível: três partes são do
proprietário da embarcação e as outras três para os pescadores, sendo uma para cada (Tabela
17).
Os pescadores podem vender por conta própria sua parte da produção aos
consumidores ou entregá-la ao dono do barco que coloca à venda nas bancas. Nesses casos, o
dono do barco é responsável pelo pagamento dos vendedores de peixe e a partilha ocorre em
dinheiro, após a comercialização.

62

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Há uma tendência, entretanto, de aumento do número de partes para sete, oito e até
nove, dependendo do dono do barco e de como é realizada a manutenção dos petrechos e da
embarcação. Destaca-se que cada nova parte é sempre destinada para o dono dos meios de
produção.

Tabela 17 - Divisão da força de trabalho na pesca de rede realizada no Posto 6, Copacabana.


Quem participa Com o que entra O que recebe (quinhão)
Dono do barco Barco com motor e rede 3 partes
Mestre Definição do pesqueiro, 1 parte
trabalho
Pescadores/Puxadores de Trabalho (recolhem a rede e 1 parte cada
rede (2) retiram os peixes)
Todos Combustível (retirado da
pescaria)
* A repartição varia de 5 a 7 partes, conforme o regime proposto pelo dono do barco.
** Nem todos os proprietários descontam a parte relativa à manutenção das redes.
Local: Colônia Z-13 (Posto 6 – Copacabana) Data: 24.04.08
Participantes: Sergio, Maré, Fominha, Seu Oliveira, Neném, Luiz

Segundo alguns depoimentos, os proprietários das redes passaram a assumir sozinhos


a responsabilidade sobre a manutenção desses equipamentos ou delegá-la a alguém como
uma função específica da pescaria, em virtude de os pescadores mais novos não saberem atar
as redes, serviço que anteriormente era atribuição dos próprios pescadores. Assim, ao
assumirem uma atividade anteriormente coletiva, os proprietários de rede retiram este custo
da produção de todos.
O proprietário dos equipamentos, portanto, pode realizar a manutenção das redes ou
contratar/delegar este serviço a um dos pescadores, mestre ou atador. Neste serviço,
verificou-se que duas mulheres têm sido contratadas. Contudo, uma delas realiza o trabalho
em troca de uma parte da produção do barco, situação que gerou muita polêmica, dado que a
divisão neste caso passa de seis para sete partes.
Alguns pescadores argumentam que esta situação é oriunda da diminuição da
produção. Por ganharem pouco, os pescadores não possuem o interesse em aprender e
assumir tarefas associadas à manutenção e, conseqüentemente, alguns proprietários, também
prejudicados pela diminuição da produção, têm retirado parte dela para manutenção tanto das
redes como das embarcações. O uso de parte da produção para manutenção do barco,
especialmente do motor, foi igualmente polêmico, dado que os custos relacionados aos meios
de produção estão sendo divididos com os pescadores e gerando uma situação de maior
desigualdade entre os envolvidos na pescaria. .
Alguns proprietários observaram, entretanto, que o pequeno número de pessoas que
estão dispostas a atuar como puxadores de rede faz com que aqueles proprietários que
possuem um sistema de partilha da produção mais justo (em menos partes) tenha um maior
número de pescadores dispostos a trabalhar para ele, de forma que alguns donos de barco, ou

63

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

seja, aqueles cuja divisão é em maior número de partes, encontravam-se, à época, sem
tripulação ou com dificuldades de mantê-la.
Sem tripulantes, os donos de barco têm buscado um sistema de parceria, ou seja, se
associam a pescadores igualmente experientes e que possuem equipamentos de pesca e
passam a atuar diretamente na atividade, mesmo quando ambos são donos de barco e uma
das embarcações fique inoperante. Nestes casos, o serviço prestado pelos puxadores de rede é
dispensado e custos com manutenção e a produção são divididos igualmente entre os dois
pescadores/donos de equipamentos de pesca.

Pesca de Mergulho de Compressor


A pesca de mergulho de compressor pode ser realizada de duas formas: i) apenas por
um mergulhador que é também o dono do barco e por um ajudante que cuida da embarcação
e é responsável por operar o compressor; ii) diversos pescadores, sendo que um deles é o
dono do barco auxiliados por um ajudante.
No primeiro caso, o pescador é proprietário da embarcação e dos equipamentos de
pesca e o trabalho do ajudante corresponde à dez por cento da produção, sendo o valor
mínimo R$50,00/dia de pescaria.
No segundo caso, se os pescadores forem todos experientes, há divisão igual das
despesas e da produção, ficando uma parte com o dono do barco. Caso contrário, há divisão
igual das despesas, incluindo uma parte para o dono da embarcação, e cada um fica com sua
produção (Tabela 18).

Tabela 18 - Divisão da força de trabalho na pesca de mergulho realizada no Posto 6, Copacabana.


Quem participa Com o que entra O que recebe (quinhão)
Dono do barco/mergulhador Barco com motor, Fica com o que pescou ou se os
equipamento de pesca, outros pescadores forem
combustível igualmente experientes, dividem
por igual
Mergulhadores Equipamento de pesca, Fica com o que pescou ou
combustível, parte para o dividem igual, se tiverem
barco experiência similar
Ajudante Trabalho: cuida do barco e Diária (R$50,00) ou 10% da
opera o compressor produção total
Local: Colônia Z-13 (Posto 6 – Copacabana) Data: 05.05.08
Participantes: Cabelinho e Cegonha

64

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

5.4 Divisão de trabalho e renda – produção e comercialização

A maior parte do pescado desembarcado no Posto 6 é vendido diretamente aos


consumidores, nas bancas que estão instaladas ao lado da Colônia ou pelos pescadores na
praia. Exceções podem ocorrer em relação a proprietários de barco que recebem encomendas
de restaurantes e quando há uma produção muito alta, caso em que os pescadores recorrem
ao Mercado São Pedro, em Niterói, ou ao CEASA, no Rio de Janeiro para escoarem sua
produção. Neste último caso, o valor comercializado é regulado pelos próprios entrepostos,
conforme os valores praticados em todo o Estado, de forma que o valor pago por quilo ao
pescador é bastante inferior aos valores praticados em Copacabana.

Quatro são os vendedores de peixe, um homem e três mulheres, que atuam na


comercialização do pescado nas bancas do Posto 6 (Figuras 15 e 16). Destes, o marido de uma
das mulheres é proprietário de barco, uma mulher também realiza a manutenção das redes e
o homem disse que eventualmente pesca, apesar da preferência por ser vendedor. Segundo os
vendedores, qualquer um pode utilizar a banca para vender, mas, geralmente, são os quatro
vendedores que cumprem essa tarefa.
Todos os vendedores prestam serviço para mais de uma embarcação, sendo que a
relação de trabalho é sempre estabelecida com o proprietário do barco. Há uma relação de
confiança bem estabelecida entre pescadores e donos de embarcação com os vendedores.
As atividades relativas à comercialização iniciam às sete horas e finalizam por volta das
12 ou 13 horas. Ocorrem em sintonia com o desembarque do pescado, que geralmente
começa entre sete e nove horas da manhã.
Os vendedores são responsáveis por pesar o pescado oriundo da linha e do mergulho
na peixaria situada ao lado da Colônia e por guardar o ticket (etiqueta da balança eletrônica –
Figura 15) para prestar contas ao dono da embarcação.

Figura 15 – Peixes etiquetados à venda no


Posto 6, Copacabana.

65

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Já o pescado oriundo da rede é vendido em lotes, sem ser pesado (Figura 16). Os
donos de barco sabem mais ou menos a receita total oriunda da venda dos lotes, em virtude
da quantidade de pescado e do tamanho dos exemplares.
Os peixes oriundos da pesca de mergulho e linha são considerados produtos de
primeira qualidade, tanto pelas características das espécies pescadas como por serem
considerados mais frescos em relação ao pescado oriundo da rede. Conseqüentemente,
possuem melhor preço.
Os vendedores não limpam o pescado, sendo esta tarefa exercida por dois tratadores e
que pode ser complementada por uma terceira pessoa, em dias de movimento intenso. Após a
venda, repassam o dinheiro ao dono do barco que lhes dá dez por cento, do que foi vendido,
independente da arte de pesca (Tabela 19). Descontos oferecidos aos fregueses são arcados
pelos vendedores.

Figura 16 - Banca para comercialização de pescados.

Quando sobra pescado, o vendedor guarda o excedente na peixaria e vende no outro


dia. O pescado não vendido diretamente pelos pescadores no dia do desembarque também
costuma ser repassado aos vendedores para que efetuem a comercialização no outro dia.
Questionados sobre o uso da peixaria (Figura 17) para a pesagem e o armazenamento
do pescado, os vendedores observaram que a peixaria é da própria Colônia, tendo sido
arrendada a um comerciante. No contrato, foi estabelecido que os pescadores podem dispor da
infra-estrutura de armazenamento, conservação e pesagem existente, bastando para isso o
pagamento da mensalidade de R$ 12,00 à Colônia.
Já os tratadores de peixe se relacionam com os consumidores. Após aquisição do
pescado, o consumidor solicita ao tratador que limpe seu peixe e lhe dá “um trocado”. O

66

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

menor valor pago ao tratador é previamente estabelecido: R$2,00. Os tratadores arcam com
todos os equipamentos e insumos necessários ao processamento do pescado: facas, bandejas,
sacolas plásticas, papel toalha, etc, estimando-se um gasto entre R$ 60 e 70,00 por mês.
Enquanto um dos tratadores tem se ocupado preferencialmente do tratamento do pescado, o
segundo combina essa atividade à pescaria de mergulho e linha, no período da tarde.

Tabela 19 - Divisão da força de trabalho na comercialização do pescado no Posto 6, Copacabana.


De quem recebe o peixe Com o que entra O que recebe
Linha e mergulho – dono do Pesa na peixaria, guarda o 10% do valor comercializado
barco ticket para prestar contas, sem possíveis descontos que são
vende, armazena o excedente concedidos aos clientes
Rede – dono do barco Separa em lotes, vende e 10% do valor comercializado
armazena o excedente sem possíveis descontos que são
concedidos aos clientes
Local: Colônia Z-13 (Posto 6 – Copacabana) Data: 24.04.08
Participantes: Raul e Rosângela

Figura 17 – Peixaria arrendada do Posto 6 – Copacabana.

5.5 Composição da Renda Familiar – Atuação das mulheres

Por meio das entrevistas semi-estruturadas foi possível identificar que as duas
mulheres que atuam na manutenção de redes e comercialização do pescado exercem uma
série de atividades para compor a renda familiar (Figuras 18, 19 e 20).
A primeira delas é contratada por um dono de barco do local, para trabalhar cinco horas
por dia atando redes. Sua remuneração é realizada semanalmente em dinheiro, com base na
partilha da produção de pescado daquela mesma semana.
Como o proprietário possui três redes, a manutenção é contínua de forma que duas
redes são utilizadas na pescaria enquanto uma é retirada para realização dos reparos.
A trabalhadora relatou que aprendeu o ofício numa iniciativa de capacitação ocorrida há
alguns anos na Colônia, fomentada pela Petrobrás e pela Matte Leão. Antes de se dedicar
exclusivamente a esse serviço, pescava de rede e linha no mar, entretanto, desistiu assim que
julgou não valer mais a pena o esforço de saída frente ao decréscimo da produção obtida.

67

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Sua renda, eventualmente, é complementada pelo trabalho de tratar peixe no próprio


Posto 6, principalmente quando o desembarque foi expressivo ou quando há muitos
consumidores para serem atendidos. Sua segunda fonte de renda é oriunda do trabalho como
camelô no período da tarde, no próprio bairro de Copacabana.
A atadora destacou que o trabalho da pesca contribui com cinqüenta por cento de seus
rendimentos mensais, e sua importância deve-se ao fato de gerar um ganho regular e fixo, no
qual é possível contar para saldar as despesas mais importantes, tal como o aluguel. Sua
renda mensal varia entre R$500,00 e R$1.200,00.
A segunda mulher, atua principalmente como vendedora de pescado e durante a noite
trabalha como vigia. Eventualmente, realiza a limpeza das redes e até mesmo pesca.
Para uma melhor compreensão da rotina de trabalho desta mulher em relação à
composição da renda, optou-se por aplicar um relógio de rotina (Tabela 20). A dedicação à
pesca ocorre diariamente no período da manhã, entre 6 e 13 horas. Após finalizada tais
tarefas, a vendedora segue para casa onde se dedica às atividades domésticas e a vender rifas
em bares, até as 18 horas. No início da noite, entre 18 horas e 22 horas há novamente um
período para dedicação as atividades domésticas e ao filhos. Entre 22 e 6 horas, trabalha como
vigia.

Tabela 20 - Relógio de rotina de uma vendedora de peixe.*


Horário O que faz
7-13h Trabalha limpando a rede e vendendo peixe
13:30-14h Chega em casa: toma banho, come e sai p/ trabalhar
14:30-18h Vende rifa no bar 20 em Ipanema
18:30-22h Cuida da casa, dos filhos
22h às 6h do outro dia Trabalha como vigia noturno
* A depender da época e da necessidade do dono da rede para quem trabalha, pode ainda sair para puxar rede
no mar.
Local: Colônia Z-13 (Posto 6 – Copacabana) Data: 18.05.08
Participante: Tânia

Sua renda é composta em 50% das atividades relacionadas à pesca e 50% como vigia,
entretanto, considera o trabalho realizado na pesca mais prazeroso. Nos períodos de maior
produção, a receita oriunda da pesca ganha maior importância que o trabalho como vigia. Pela
limpeza das redes recebe entre R$15,00 e R$20,00 por dia de trabalho.
O papel das mulheres na dinâmica da pesca em Copacabana foi alvo de matéria
jornalística recente no Jornal do Brasil (Anexo 1).

68

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Figura 18 – Matéria no Jornal do Brasil em março/2009, ilustrando


o papel da mulher na pesca em Copacabana.

Figura 19 – Mulheres na manutenção das redes em


Copacabana.

69

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Figura 20 – Mulheres na limpeza das redes em Copacabana.

5.6 Conflitos e interferências externas


Os conflitos relativos ao exercício da atividade realizada pelos pescadores do Posto 6
foram analisados especificamente por meio da matriz de conflitos (Tabela 21)(Figuras 21 e
22), muito embora essa temática tenha permeado a maior parte das atividades ali realizadas.
Neste sentido, o debate apresentado em torno da ferramenta foi complementado pelas
informações oriundas das demais ferramentas e entrevistas.

Destaca-se, ainda, que na aplicação da ferramenta percebeu-se a existência de conflitos


entre os pescadores do Posto 6 ou entre os pescadores associados à Colônia e sua diretoria.
Entretanto, para os participantes tais conflitos ainda que existam são considerados secundários
e passíveis de serem solucionados pelo grupo, não tendo sido explicitados durante a aplicação
da ferramenta.
Os conflitos externos, via de regra envolvendo os governos, a aplicabilidade e
efetividade das políticas públicas de ordenamento e gestão foram avaliados com maior
pontuação, numa tentativa de dar visibilidade aos conflitos sobre os quais os pescadores
julgam ter menor governabilidade.
Também foram objeto de análise a percepção que os pescadores possuem das
instituições externas, em especial, aquelas relacionadas à atividade pesqueira: Capitania dos
Portos, SEAP e IBAMA.

70

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Tabela 21 - Matriz de Conflitos, Copacabana.


Conflitos/Env Pescadores Pescadores População Pescadores Mergulhador Pescadores
olvidos Posto 6 de outras e órgãos e Ibama de de outros
(rede/linha) colônias públicos compressor estados e do
e apnéia RJ
Uso de mesmo ●
pesqueiro

Furto de
material de
●●●●●
pesca (redes)

Lixo e poluição ●●●●●

Falta de ●●●●●
fiscalização

Pesca s/ licença ●●●●●


(ordenamento)

Traineiras de ●●●●●
grande porte

Criação de uma ●●●●●


UC em
Cagarras

Importância: ●●●●● Muito


● Pouco
Local: Colônia Z-13 (Posto 6 – Copacabana) Data: 26.05.08
Participantes: Fominha, Nivaldo, Sarado, Fernando, Alexandre, Marcos, Moisés, Manoel, Cabelinho, Cegonha, Kátia,
Ovídio, Seu Pires, Tânia

Figura 21 – Oficina para elaboração da Matriz de Conflitos em Copacabana.

71

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Figura 22 – Pescador mediando a discussão da


matriz de conflitos em Copacabana.

Uso dos mesmos pesqueiros


Os conflitos oriundos do uso da mesma área para o exercício da atividade pesqueira se
expressam entre pescadores de rede, pescadores de rede versus de linha, pescadores
profissionais versus pescadores amadores, mergulhadores de compressor versus
mergulhadores de apnéia, sejam estes últimos profissionais ou amadores.
Para alguns pescadores, são oriundos sobretudo da conduta de determinados
pescadores que não respeitam o uso daquele espaço por outro pescador ou por outra
atividade. Especialmente no caso da pesca de rede, é considerado uma falta de
profissionalismo dado que há pescadores que dispõem suas redes muito próximas a outras,
podendo gerar acidentes ou mesmo se apropriar de uma área de outro pescador e,
conseqüentemente, dos recursos que estão disponíveis.
Durante a aplicação de outras ferramentas, foi expressado que o uso de redes em áreas
cujo fundo é constituído de pedras, deveria ser proibido por ser considerado predatório.
A competição por mesma área de pesca expressa também os conflitos existentes entre
pescadores profissionais de mergulho que utilizam compressor e apnéia (no peito), uma vez
que os primeiros possuem maior autonomia e poderiam capturar os recursos em outras áreas.
Já os conflitos entre pescadores mergulhadores profissionais e mergulho de lazer, são
oriundos da percepção dos primeiros sobre a apropriação injusta do ambiente e de seus
recursos, pois a falta de conhecimento dos mergulhadores contemplativos pode gerar a
degradação do meio ambiente. Contudo, os maiores conflitos são expressos pelo fato de os

72

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

mergulhadores contemplativos serem pessoas de alto poder aquisitivo (possuem lanchas, são
associados a clubes nobres) e capturarem o recurso por diversão, o que é injusto para quem
vive da atividade pesqueira.
Para Seu Nonô, um dos pescadores mais antigos do Posto 6, os conflitos na pesca de
uma forma geral começaram com o advento da pesca de rede. Para ele a pesca de linha possui
características distintas, não havendo tanta competição pelo uso do espaço e exigindo uma
maior habilidade do pescador.
Argumentou que a pesca de arrastão também não gerava conflito entre os pescadores,
pois era fundada, sobretudo, no respeito, no direito a vez de se fazer o lanço. Esta pescaria,
contudo, desapareceu há mais de seis anos devido à diminuição de pescadores que continham
o conhecimento necessário para sua prática e da falta de espaço na praia para puxar a rede ou
seja, ao conflito com as atividades de lazer.
Para outro participante, os pescadores de rede não deveriam ser considerados
pescadores, dado que esta pescaria faz pouco uso do conhecimento tradicional e requer pouco
esforço físico, apenas o de colocar e retirar a rede. Pescadores de rede são considerados por
alguns como “come e dorme”, pois as redes são colocadas de um dia para ou outro. Os
pescadores mais novos rebateram tal argumentação sustentando que, atualmente, os conflitos
decorrem principalmente da diminuição da produção pesqueira quando comparada ao passado
e não em decorrência das pescarias de rede.
Informantes presentes na oficina de mapeamento participativo relataram a ocorrência
de conflitos eventuais entre os pescadores de linha e os mergulhadores pelo uso do mesmo
pesqueiro. Em geral existe um acordo entre pescadores de linha e de mergulho. Quando um
dos dois está no pesqueiro o outro não entra (ordem de chegada). No entanto, este conflito
ocorre com maior freqüência nas ilhas Tijucas, onde alguns pescadores de linha cortam as
bóias de marcação dos mergulhadores.

Figura 23 – “Seu Oliveira”,


respeitado pescador de
Copacabana.

73

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Furto de material de pesca no mar


Diz respeito ao furto de redes no mar e envolve tanto os pescadores do Posto 6, como
estes e pescadores de outros lugares. Dado que não há flagrante, os pescadores consideram
que não há possibilidade da resolução do conflito.

Poluição e Lixo no Mar


Este conflito se expressa pela presença do emissário submarino de Ipanema e pelo
aporte significativo de água poluída e lixo da Baía de Guanabara. Envolve pescadores,
população em geral e o poder público: municipal, estadual e federal. Segundo os pescadores
de Copacabana, há 20 anos a vazante da Baía de Guanabara não chegava até a Ilha Rasa.
Hoje a poluição é maior, e a pluma de poluição atinge praticamente todas as ilhas.
Sua maior intensidade está relacionada à direção dos ventos e das correntes, refletindo
diretamente na dinâmica e na qualidade das pescarias.
Para os pescadores de mergulho, quando a corrente é predominantemente oriunda do
sul, a água da Baia de Guanabara banha as praias de Niterói e São Gonçalo e, assim, o
entorno do Arquipélago das Cagarras permanece limpo.
Quando a corrente é predominantemente de nordeste, as águas da Baía de Guanabara
sujam o Arquipélago das Cagarras e os mergulhadores necessitam se deslocar para áreas mais
distantes, geralmente na região de Itaipu, em Niterói.
Na pesca de rede, a depender das condições oceanográficas, o aporte do emissário
pode sujar redes localizadas a uma distância de 4,5 Km (Figuras 24, 25 e 26).
Quando a corrente é proveniente do sul, principalmente nos meses de abril a junho, a
dispersão dos efluentes ocorre em direção à Baia de Guanabara sujando as redes dispostas
nas áreas mais internas, entre o Arquipélago e a praia, aquelas situadas no canal da Baía e
aquelas dispostas na direção da Ilha Rasa (Figura 25).
Esta situação piora quando há chegada de frentes frias, vento sudoeste e ressacas,
dado que as correntes tornam-se mais fortes. Para limpar as redes, os pescadores necessitam
de três semanas para cada dois panos. Quando a corrente é paralela à costa – corrente de
deriva – a dispersão do efluente ocorre em mar aberto, não sujando as redes.

Figura 24 – Lixo presente nas redes do pescadores de Copacabana.

74

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Figura 25 – Mapa preliminar descrevendo Figura 26 – Sujeira capturada pelas redes


espacialmente a dinâmica da influência do dos pescadores de Copacabana
emissário na sujeira capturada pelas redes
dos pescadores de Copacabana.

Pescadores de linha e rede, entretanto, relatam que comumente realizam suas


pescarias no entorno do emissário. Segundo eles, a tubulação está furada ao longo de toda a
sua extensão e a disponibilidade de matéria orgânica atrai vários peixes, em especial, a
anchova. O lixo da Baía de Guanabara banha as adjacências de Cagarras principalmente no
período chuvoso. Na maré alta, retorna para o interior da Baía.
Foi observado que além de gerar prejuízos às pescarias – por sujar a rede, demandar
que a atividade ocorra em áreas mais distantes – a presença da poluição e de lixo gera
doenças aos pescadores, tais como micoses, hepatites, etc e afeta a qualidade sanitária do
pescado. Neste sentido, sugerem a realização de pesquisas, em especial, sobre os mexilhões
dos costões e reclamam por maior atuação do poder público no controle da qualidade
ambiental. Segundo relatos, o emissário não sofre manutenção, não existe prévio tratamento
dos resíduos e efluentes gerados e, por isso, na opinião dos pescadores, deveria estar colocado
mais distante da linha de costa. Comentaram que o projeto original previa um trecho mais
extenso do que o existente (2 km da praia de Ipanema), mas houve gasto excessivo e má
gestão dos recursos financeiros.
Por fim, ao longo da oficina de mapeamento participativo, alguns pescadores
expressaram preocupação em relação ao emissário da Barra da Tijuca. Para eles, a qualidade
da água do mar piorou após sua instalação. A água do canal da Barra influi diretamente na
quantidade e na qualidade do pescado. Com chuvas a influência da poluição do canal fica bem
maior. A profundidade das Tijucas é menor que das Cagarras e com isso a água do canal da
Barra tem grande influência sobre as Ilhas.

Ausência de Fiscalização
Este conflito se expressa na percepção dos participantes sobre a pesca predatória, a
pesca informal e a falta de fiscalização por parte dos agentes do Estado (Figura 27),
especialmente o IBAMA. É resultante das diversas categorias de pesca, principalmente da

75

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

ocorrência de pesca industrial próxima à Baía de Guanabara e próxima às praias, agravada


pela omissão do órgão fiscalizador.
O debate entre os pescadores denota que estes consideram mais predatórias outras
modalidades de pesca que não a exercida por eles, apontando que as características das
demais pescarias resultam em agressão ao meio ambiente.
Entretanto, dois aspectos geraram consenso e foram expressos em várias ferramentas.
O primeiro consenso diz respeito à pesca informal como conseqüência de uma fiscalização
ineficiente pelos agentes do Estado. Este debate acabou na construção de um conflito
específico: pesca informal ou clandestina. O segundo consenso diz respeito à pesca industrial,
de cerco e de arrasto, realizada na boca da Baía de Guanabara e na proximidade das praias,
ser considerada predatória. Estas pescarias foram tratadas posteriormente também como um
conflito específico: traineiras de grande porte.

Figura 27 – Representante do ICMBio (direita) conversa com liderança


da pesca artesanal em visita ao Posto 6 organizada pela ECOMAR.

Pesca sem licença


Houve muita discussão sobre a excessiva burocratização dos procedimentos necessários
para obter o permissionamento/licença de pesca e sobre a finalidade das medidas de
ordenamento.
Tal discussão denotou haver uma falta de entendimento sobre a finalidade e
importância do permissionamento como instrumento de controle, uma vez que muitos
pescadores desconhecem e discordam de tal necessidade, tanto para a pesca como para o
turismo, esse último também realizado pelos pescadores do Posto 6 que costumam levar
interessados a passear na região do arquipélago.
76

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Conforme destacado anteriormente, a falta de fiscalização culmina num aumento da


informalidade e gera muita insatisfação, dado que para os pescadores, na prática, não há
diferenças entre aqueles formais e informais, a não ser o custo da legalização imputado
àqueles que se regularizam.

Traineiras de grande porte


Os conflitos oriundos da captura de corvina, sardinha e camarão nas áreas próximas à
Baía de Guanabara e às praias do Rio de Janeiro por traineiras industriais de maior porte –
comumente denominadas pelos pescadores de “pau broca” – foram explicitados neste item.
Esta atividade, cujas embarcações são originárias de outras regiões do país e também
do próprio estado do Rio de Janeiro, são consideradas predatórias devido ao seu alto poder de
pesca.
Em várias abordagens os pescadores ressaltaram que uma embarcação industrial
possui comprimento de 15 a 20 metros e captura em torno de trinta toneladas em cada
operação de pesca, enquanto os pescadores do Posto 6 capturam, em média, 20 quilos de
pescado cada. A produção diária de uma traineira é similar, assim, a produção mensal de
todos os pescadores do Posto 6.
Salientaram que a pesca artesanal por eles realizada é constantemente ameaçada pela
presença e operação de embarcações de pesca industrial. Como exemplo, foi citada a praia de
Copacabana, que se caracteriza por ser uma área de grande riqueza de peixes, sendo
desejável uma medida de gestão que privilegiasse a pesca artesanal realizada próxima à costa,
em detrimento da frota de maior porte que freqüentemente captura camarão nessa região.
A presença de embarcações industriais em áreas próximas à costa é considerada
injusta, seja pela diferença expressiva de poder de pesca, pela autonomia das embarcações
industriais - que possuem capacidade de atuarem em áreas mais distantes da costa -, como
pelo uso de equipamentos de localização de cardumes que torna a captura mais previsível
quando comparada às pescarias tradicionais. Para muitos pescadores, os sonares são
equipamentos predatórios pois descarregam eletricidade nos peixes, matando-os em maior
quantidade. Não há “chances para o peixe”, dizem.
Destaca-se, por fim, que em algumas entrevistas os pescadores observaram que a
pesca de corvina com traineiras foi proibida na Baía de Guanabara recentemente pelo IBAMA.
Tal proibição fez com que as embarcações desaparecem desta área nos últimos meses,
contudo, os pescadores acreditam que a medida não será efetiva pois não há fiscalização, o
que fará com que ao longo do tempo, as traineiras acabem por voltar a pescar na área.

Criação de uma UC em Cagarras


A necessidade de se avaliar esse conflito surgiu por sugestão de um dos participantes
que demonstrou preocupação em retratar a importância desse item frente aos demais

77

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

conflitos já listados na matriz. Este se colocou claramente contrário ao fechamento das ilhas à
pesca (nas palavras dele, contrário à criação de uma UC no lugar), dizendo que essa é a
principal preocupação deles. Para alguns pescadores, o IBAMA em nenhum momento sugeriu a
possibilidade de criação de uma Reserva Extrativista porque não tem o objetivo de promover
um processo de gestão compartilhada, reiterado, sobretudo, pela categoria de unidade de
conservação proposta pelo órgão na audiência pública.
Outros pescadores observam que as ilhas são importantes na geração de renda dos
pescadores, seja para a pesca, seja para o turismo. Salientaram que os barcos da Urca, por
exemplo, levam turistas tanto para a pesca de linha amadora, quanto para o mergulho
contemplativo. Os pescadores de Copacabana também levam pessoas para pescar no
Arquipélago, inclusive descendo na Ilha das Palmas, como uma atividade complementar a
pesca.
Provavelmente, devido à motivação do diagnóstico sempre exposta no diálogo com os
pescadores e a participação ativa destes na Audiência Pública que propôs a criação de uma UC
de Proteção Integral, este tema fez parte de praticamente todas as abordagens em
Copacabana.
Ressalta-se que os pescadores, em sua maioria, desconhecem a criação do Instituto
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio, imputando ao IBAMA, até os dias
de hoje, a responsabilidade sobre a criação da UC.
Para a maioria dos pescadores, a motivação do IBAMA é sempre duas: i) pessoal, ou
seja, alguns gestores se privilegiariam pessoalmente do processo; e ii) as Ilhas são de
interesse turístico e serão fechadas com o intuito de promover o turismo que será
implementado por poucos empresários, principalmente aqueles que operam na área com
grandes embarcações.
Em relação à manutenção da biodiversidade e da proposição de medidas de
conservação, muitos consideram que deve haver uma análise integrada de todos os vetores
econômicos presentes na área e não somente responsabilizar o pescador pela diminuição dos
estoques e degradação ambiental. Neste sentido, a demanda da Colônia e dos pescadores
seria por uma participação deliberativa no processo de criação e de gestão da UC e não
somente consultiva, como lhes foi colocado em princípio.
A falta de confiança no órgão, devido ao seu histórico de omissão e de criação da UC
cujo conflito culminou na Audiência Pública; a falta de compreensão sobre as categorias de
Unidades existentes; a presença de outros vetores econômicos considerados mais
determinantes no processo de degradação ambiental – em especial, a pesca industrial e a
poluição –; e o receio em perderem sua principal fonte de renda, leva a grande maioria dos
pescadores a se posicionar contra a criação de qualquer categoria de unidade na área.

78

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Dessa forma, para eles, qualquer medida neste sentido visa principalmente à exclusão
dos pescadores de menor poder aquisitivo e não uma medida de proteção ambiental, dado que
dificilmente haverá controle e regulação sobre os demais vetores de degradação ambiental.

Órgãos Governamentais: IBAMA, Capitania dos Portos e SEAP/PR


Apesar deste item não ter sido abordado diretamente na matriz de conflitos, ao longo
das atividades, os pescadores avaliaram os órgãos governamentais com atribuição sobre a
atividade pesqueira, em especial, IBAMA, Capitania dos Portos e SEAP/PR.
Destaca-se que as três instituições foram avaliadas de forma negativa. Ao IBAMA é
imputada a ausência de fiscalização, falta de medidas eficazes no ordenamento da pesca e a
responsabilidade na condução do processo de criação de uma Unidade de Conservação no
Arquipélago de Cagarras, processo este permeado por uma ausência de diálogo junto as partes
interessadas. Conforme destacado no item anterior, os pescadores ignoram a existência de
uma nova instituição responsável pela política de Unidades de Conservação, imputando esta
competência ainda ao IBAMA.
A Capitania dos Portos também é considerada omissa, não atuando na fiscalização.
Mesmo a SEAP foi considerada uma instituição ausente, apesar do pouco tempo de sua
criação. Vários pescadores observam a morosidade no processo de concessão das carteiras de
pesca – RGP e a grande freqüência de carteiras entregue contendo informações incorretas.
Em paralelo, observam a dificuldade em acessar as políticas públicas de competência da
Secretaria, entre elas, a subvenção ao óleo diesel.

Pesca de mergulho com equipamento de respiração autônoma


Os pescadores de Copacabana presentes na reunião de mapeamento participativo
consideram a pesca de mergulho com compressor extremamente predatória. Contam a história
de um mergulhador de peito que passou para o compressor, e sozinho acabou com um
pesqueiro de garoupa (na pedra do Barrão, mais ou menos na linha entre a boca da Baía e a
Ilha Rasa), pescou ao longo de aproximadamente um ano, a quantidade de 10 toneladas de
garoupa. Hoje não dizem que mais nenhuma garoupa pode ser encontrada por lá. Segundo os
pescadores, este mergulhador caía na água as 7 da manhã e as 7:40 saía da água para que
ninguém o visse na laje. Muito dinheiro foi gerado deste pesqueiro, mas sob as custas de
exterminar o pesqueiro em pouco tempo. Segundo os pescadores, chegaram até a fazer uma
reunião com este pescador quando souberam que este estava pescando de compressor.
Quando os pescadores disseram a ele “O peixe vai acabar, esse peixe está acabando!”, o
mergulhador de compressor disse que quando acabasse o peixe ele mudava de profissão. Este
mergulhador é reconhecido, hoje, por ter uma condição boa de vida.

79

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Barcos de arrastão atuando próximo às ilhas


Pescadores participantes da oficina de mapeamento participativo comentaram que
alguns barcos de arrasto mapearam a área das Ilhas Cagarras, identificando as lajes, a fim de
que não tenham as redes danificadas durante a operação. Por isso, hoje em dia os arrastões
levantam a rede quando se aproximam de alguma laje, ou seja, a tecnologia disponível
permite que não existam mais impeditivos para essa pesca ao redor das ilhas. Segundo eles,
algumas destas embarcações utilizam armas para ameaçar os pescadores artesanais.
Segundos os informantes, estas embarcações de arrasto operam muito próximo da Ilha
Comprida para o Sul e pela porção de fora da Ilha Redonda.

Pesca com bombas


Embora há muitos anos não seja observada a pesca com bomba nas ilhas, esta prática
ainda está razoavelmente presente e viva na memória dos pescadores de Copacabana.
Segundo os pescadores, a pesca com bombas era realizada de madrugada. No local onde se
praticava este crime, a pedra ficava branca, estéril, e muitos peixes mortos no fundo. Segundo
eles, as bombas são artesanais (dinamite), e colocadas dentro de um tubo de PVC com duas
roscas nas extremidades.

Tráfego de embarcações
O tráfego de lanchas e outras embarcações implica riscos de atropelamento aos
mergulhadores, principalmente o jet-sky, segundo relataram os informantes presentes na
oficina de mapeamento participativo. Segundo eles, há falta de respeito às bandeiras
(vermelhas com símbolo branco no meio) que sinalizam a presença de mergulhadores na
água. Dessa forma, muitas pessoas passam por cima das bóias de marcação. Este tipo de
conflito foi relatado para as Ilhas Tijucas e Laje Santo Antônio principalmente.

Redes perdidas e/ou dispostas próximo aos costões e lajes


Uma constante reclamação dos pescadores de Copacabana são as redes perdidas ou
colocadas muito próximo aos costões, lajes e canais. As redes perdidas representam um sério
problema, já que permanecem na água capturando por um longo período de tempo. As redes
também são bastante perigosas aos mergulhadores, poisalguns pescadores atravessam redes
no canal entre as ilhas, o que é bastante perigoso em função da navegação e da prática do
mergulho. Isto acontece, por exemplo, com freqüência no canal entre as ilhas Redonda, Filhote
da Redonda, Laje da Redonda e Banco do Brasil.
Redes dispostas muito próximas aos costões também são consideradas um grande
problema, por questões de segurança e mortalidade de peixes, principalmente as redes de
grandes embarcações. Este problema também ocorre nas ilhas e lajes apontada acima,
incluindo as Ilha Tijucas. Alguns pescadores de mergulho participantes da oficina de
mapeamento participativo relatam que é prática comum entre eles a retirada das redes dos
costões.
80

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

5.7 Entidades representativas da classe pesqueira e aspectos da organização


social dos pescadores

Colônia de Pescadores Z-13 de Copacabana


A Colônia de Pescadores Z-13 é bastante atuante junto aos pescadores do Posto 6.
Situada junto à área de desembarque, é proprietária da estrutura de comercialização (bancas
de peixe), da área utilizada para evisceração do pescado, de um guincho para retirar as
embarcações no mar e dos boxes utilizados para armazenar equipamentos de pesca, além de
uma área que funciona como escritório da Colônia e de uma peixaria que está arrendada.
Antigos diretores observaram que a entidade possui o aforamento da área junto a
Secretaria de Patrimônio da União – SPU e declaração de utilidade pública junto aos governos
estadual e federal. A maioria dos pescadores é associada a Colônia e poucos conflitos junto a
sua diretoria foram expostos durante as atividades de campo.

81

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

ASPECTOS TECNOLÓGICOS E BIOLÓGICOS DA PRODUÇÃO PESQUEIRA ARTESANAL

5.8 Características das Pescarias: petrechos de pesca e da frota


A principal pescaria praticada no Posto 6 é a pesca de rede (Figura 28). Em seguida,
tem-se a pesca de linha e de mergulho, sendo que este último é realizado fazendo uso de
equipamento de respiração autônoma (ex. compressor) ou em apnéia.

Segundo relato dos pescadores mais antigos, o arrastão de praia, caracterizado por
Nehrer (1997), é uma pescaria que foi extinta há seis anos.
As três pescarias fazem uso de embarcações similares: casco de alumínio, comprimento
médio de 5 metros, propulsão a motor a diesel e gasolina. As embarcações não possuem
capacidade para a pesca em alto mar, tendo autonomia inferior a um dia. Foram estimadas
onze embarcações e uma canoa ativos. Considerando todas as embarcações atracadas na
área, incluindo aquelas em manutenção e aquelas inativas, estima-se uma frota composta por
29 embarcações.

Pesca de Rede
Os tipos de redes utilizadas pelos pescadores em Copacabana são:

c) Rede Corvineira: Existem em três tipos de malhas diferentes, trabalhando em


diferentes profundidades, mas normalmente no fundo. Possui três metros de altura.

ci) Rede Linguadeira: Possui a malha mais larga e é utilizada na beira da praia até
grandes profundidades (30 a 40m, por exemplo, na captura do linguado de cascalho).
Espécies capturadas com este tipo de rede são o linguado (beira de praia e cascalho),
tamboril, cação anjo, viola, enxada e tamboril. Os pescadores evitam colocar esta rede
em cima dos parcéis.
cii) Rede Alta: diferentes malhas (12mm, 45mm para capturar pescadinha). São duas as
formas de utilização: 1) rede solta na correnteza na superfície (velada) vai derivando e
os peixe malhando, e depois o lance é dado para recuperar a rede; 2) rede poitada na
beira da praia, ancorada com garatéias nas pontas, rede menor do que a primeira pois
caso contrário as garatéias não seguram a rede. Nomes utilizados: rede de parada,
come-dorme, rede de espera.

A pesca de rede (Tabela 17) é caracterizada por uma operação em que a equipe de
pesca, composta pelo mestre e por dois puxadores de rede, dispõe as redes e a retira no outro
dia. Se a rede não estiver necessitando de manutenção, na mesma viagem em que é realizada
a despesca, o equipamento é disposto para uma nova captura. Em geral, as operações de
pesca ocorrem pela manhã, entre cinco e nove horas. Todos os pescadores de Copacabana
(rede, linha e mergulho) utilizam marcas em terra para a localização dos pesqueiros.
Geralmente são utilizados como referências os prédios altos, montanhas.
82

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

A pescaria com rede de emalhar visa, principalmente, a captura de corvina. Entretanto,


outras espécies são consideradas alvo: anchova, pescadinha, cação viola, linguado, pargo,
robalo e tainha. A cavaquinha é pescada como acessório, ou seja, apesar de não ser a espécie
alvo integra a captura de rede.

Figura 28 – Pesca com redes de emalhar é atualmente o mais importante meio de produção
dos pescadores de Copacabana.

83

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Pesca de linha
A pesca de linha ocorre principalmente entre junho e outubro. É realizada nas primeiras
horas da manhã ou no final da tarde, de forma que a operação de pesca possui duração de
algumas horas. Envolve entre uma a quatro pessoas (Tabela 16), sendo mais comum a
participação de três pescadores. Está voltada à captura de diversas espécies, especialmente a
bicuda, anchova, marimba e olho de cão. Outros peixes também são importantes, como a lula,
polvo, garoupa, badejo, olhete, olho de boi, cavala e espada.
Conforme o recurso alvo, utiliza-se linha e isca específica. As iscas utilizadas são
lambreta (isca artificial), sardinha, lula (viva e morta) e outros peixes pequenos. Para a
anchova e a corvina, a linha é 0,70 mm e a isca mais utilizada é a sardinha. Segundo alguns
depoimentos, a sardinha é considerada a melhor isca, pois captura uma grande diversidade de
espécies (os peixes gostam mais). Em sua ausência, utiliza-se cavalinha, bonito e lula. O
badejo, por sua vez, é capturado com camarão vivo. Para pesca de lula utiliza-se o zangarilho
e linha de 30 ou 40 mm.

Pesca de mergulho
No mergulho de compressor captura-se: garoupa, badejo, cavaquinha, polvo, mexilhão,
olhete, olho de boi, robalo e cherne (Tabela 18). Contudo, os mergulhadores observaram que
esta pescaria volta-se a recursos mais específicos quando comparada ao mergulho “de peito”,
em que há uma variedade maior de recursos capturados: anchova, tainha, marimbá, pampo,
polvo, garoupa, badejo, cavaquinha, vermelho, robalo, xerelete, sargo, mangangá, olhete,
olho de boi, serra, enxada e cherne. Dentre elas, as principais espécies capturadas são:
anchova, tainha e olho de boi.
A pesca de mergulho é bastante dependente de fatores como tipo de água, temperatura
da água, corrente e visibilidade. Os pescadores de mergulho em apnéia descem a uma
profundidade de até 20m. A sua pescaria dura, em média, 6 horas de trabalho na água.
Assim, um dia dia de pesca corresponde de 6 a 8 horas no mar.
Relataram que não pescam mais de dois ou três dias seguidos em um mesmo
pesqueiro, para dar um descanso. Em geral dão um descanso de 5 dias até uma semana. O
pescador, quando mais experiente já conhece pontos específicos das ilhas que possuem
maior produtividade, dividindo-as em setores que são explorados sequencialmente.
A pesca de mergulho é altamente dependente da transparência da água. Segundo os
pescadores , a água é considerada de baixa transparência quando a corrente na região é
predominante de Leste a Sul. Corrente de Leste traz água suja e muito alimento
(microorganismos), de novembro a abril. Nestas ocasiões, o aporte de água da Baia é em
direção ao arquipélago das Cagarras e o esforço de mergulho é direcionado para a região das
Ilhas Pai, Mãe e Menina. Entre os meses de agosto a novembro ocorrem muitos eventos

84

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

conhecidos como “Lestada” (vento forte proveniente de Leste). Já entre novembro e abril a
água normalmente possui baixa transparência e o mar é bastante calmo e rico em nutrientes
Quando a corrente é de Sul para Leste, a água normalmente é mais quente. A corrente
Sudoeste traz água clara para a região das Cagarras, e as águas da Baía de Guanabara
escoam para Itaipu. Geralmente, por fora das ilhas a corrente é mais forte e gera
alimentação, além disso favorece a transparência da água para capturar o peixe. Os
mergulhadores estimaram que em apenas 15% do ano há visibilidade adequada ao mergulho
no Arquipélago de Cagarras.
Assim como os pescadores de linha, os mergulhadores utilizam bastante os costões
rochosos e lajes na região. Segundo os pescadores presentes na oficina de mapeamento
participativo, existe um acordo entre pescadores de mergulho e linha onde quem chega
primeiro no pesqueiro tem o direito de permanecer.

Figura 29 – Material para a pesca subaquática dos


pescadores de mergulho de Copacabana.

5.9 Produção por recurso, sazonalidade e rendimento


Segundo os depoimentos, a sazonalidade e o rendimento dos recursos capturados no
Posto 6 estão associados, principalmente, às características das correntes oceanográficas,
expressas sempre por sua direção e temperatura . A dinâmica da Baía de Guanabara
representa o terceiro fator que contribui com a dinâmica das pescarias.

85

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

A corvina e a anchova são recursos considerados regulares ao longo do ano,


constituindo a base do desembarque do Posto 6.
A captura de polvo pelo mergulho ocorre o ano todo, entretanto, é maior no verão. Sua
distribuição também varia, havendo maior disponibilidade deste recurso nas proximidades das
ilhas no verão, enquanto no inverno há maior disponibilidade nos costões, entre o Leblon e
São Conrado.
No inverno, há disponibilidade de cavaquinha, olhete e olho de boi, enquanto no verão
há mais disponibilidade de espada, serra e bonito. No verão, a lula representa um recurso
alimentar importante para várias espécie de peixe que são exploradas pelos pescadores de
Copacabana. Nessa época, pesca-se olho-de-boi e olhete justamente em função da
‘comedoria’, segundo os informantes. Sustentam que as correntes de sul para leste beneficiam
a ‘comedoria’, porque a água é mais quente e mais clara. No entorno das Cagarras, além das
lulas, há abundância de camarões, recurso que também é considerado ‘comedoria’ para os
peixes de interesse comercial. Essa variação no tipo de ‘comedoria’ influencia no tipo de peixe
que é capturado em cada uma das áreas. No inverno ocorre a manjuba e a cavalinha.
As anchovas maiores são denominadas “cara-preta”, e são capturadas no inverno. As
anchovas menores são conhecidas como “bebe-água”, e aparecem com maior freqüência no
verão. Outro importante recurso explorados nas ilhas é a bicuda, capturada principalmente no
inverno. O olho-de-cão está presente em quase todos os pesqueiros, e ainda segundo alguns
pescadores, é capturado no verão nas lajes e costões rochosos da região.

Figura 30 – Desembarque e comercialização do pescado em Copacabana.


86

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Figura 31 – Robalo capturado na pesca de redes por


pescador de Copacabana.

5.10 Áreas e locais de pesca


No sentido de compreender melhor o uso do espaço marítimo, os conflitos dele
decorrentes, a relação com o Arquipélago de Cagarras e os limites espaciais da atividade
pesqueira exercida pelos pescadores do Posto 6, a equipe técnica fez uso da ferramenta de
‘mapas preliminares’ e ‘oficinas de mapeamento participativo’ (Figura 32 e 33) junto aos
pescadores de Copacabana (Anexo 5). Um maior detalhamento sobre este resultados podem
ser observados nas fichas de cada pesqueiro (Anexo 3) e no SIG que acompanha este
relatório. Aqui apresentamos um resumo dos principais resultados.

Os resultados denotaram que os pescadores do Posto 6 atuam principalmente no


entorno do Arquipélago de Cagarras, sendo o limite ao norte às Ilhas Pai, Mãe e Menina em
Niterói, e, ao sul as Ilhas Tijucas; a leste as Ilhas Redonda, Rasa e Laje da Redonda.
A entrada da Baía de Guanabara, denominada por eles de boca da barra, é uma área
onde se pesca principalmente a corvina.
As diversas ilhas e costões rochosos são preferenciais para atividade realizada pelos
mergulhadores. Em alguns depoimentos, esses observaram que os costões – entre Leblon, São
Conrado e Barra – são utilizados por diversos pescadores, em especial, por aqueles que não
87

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

possuem barcos, de forma que há uma preferência pela pescaria nas adjacências das diversas
ilhas, pois assim, são evitados conflitos pelo uso do espaço.
Anchova e bicuda foram recursos descritos como presentes na proximidade das ilhas do
Arquipélago de Cagarras, sendo que a anchova ocorre principalmente na saída do emissário.
Segundo os pescadores, a lula está se concentrando na Ponta do Arpoador e no arco
interno das ilhas Cagarras pesqueiro pois estes são locais protegido das traineiras. Desta
forma, a manjuba encontra refúgio nesta área e a lula aproxima para predá-la. Em 2009, a
lula apareceu próximo ao VIP (motel localizado na Avenida Niemeyer), no Arpoador e em
frente ao canal da Barra segundo os informantes. Há dois anos se pescou muita lula no Leme.
No entanto, neste ano uma traineira descobriu e cercou todo o recurso, segundo os pescadores
e por isso, a a pescaria de lula está muito fraca no Leme.

Figura 32 – Oficina de mapeamento participativo com especialistas de Copacabana.

Figura 33 – Espacialização dos pesqueiros (esquerda) e categorização das áreas de maior


importância relativa na constituição da renda (direita) entre os pescadores de rede de
Copacabana.

Pesca de rede
A pesca de rede é realizada principalmente em ambientes livres de pedra, que possuem
cascalho ou lama. A Tabela 22 resume as principais áreas utilizadas pelos pescadores de rede
em Copacabana e a importância de cada uma delas para a composição da renda do pescador.

88

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Dentre estes pesqueiros, as áreas mais importantes na constituição da renda dos pescadores
de rede em Copacabana são: 1o Largo; 2o Beira da Praia e a Boca da Barra Grande; 3o praia de
Copacabana.

Tabela 22 – Importância relativa dos pesqueiros de rede para os pescadores de Copacabana.


Áreas utilizadas na pesca com redes Importância para constituição da renda

1o Largo $5

2o Beira da Praia $4

2o Boca da Barra Grande (da ponta do Leme $4


até a boca da barra)

3o Copacabana $2
Nota: As áreas próximas à praia são mais importantes no verão. No inverno, a boca da barra
tem uma importância maior. O largo é importante tanto no inverno quanto no verão, e a
produção é mais regular.
Importância: $ 5 (muito)
$ 1 (pouco)

Pesca de linha
No arquipélago das Cagarras, a região entre a Ilha Comprida até depois da Redonda (na
laje) é formada por diversos pesqueiros de linha, dado o fundo ser constituído principalmente
por pedras. Os pescadores de linha e mergulho possuem a prática de manter alguns parcéis
em segredo.
Um dos pesqueiros mais valorizados chama-se Banco do Brasil (Laje da Redonda)
(Tabela 23), alusão à instituição financeira tida como inabalável, ou seja, onde sempre se
encontra o peixe. Contudo, segundo os informantes, a produtividade no pesqueiro Banco do
Brasil caiu muito por causa da quantidade de redes que estão sendo colocadas no local.
Outro pesqueiro que merece destaque atualmente é o “Emissário Submarino” (de
Ipanema). Este local é utilizado o ano todo, praticamente todos os dias segundo os
informantes. O local possui 30 m de profundidade e está a 40 minutos de Copacabana.
Segundo um dos informantes, o emissário tem três “bocas”. Para garantir uma boa pescaria o
pescador tem que saber como chegar ao ponto certo, que é na “ressolhada”. Não são todos
que conhecem a localização exata do emissário submarino, onde se concentram grandes
cardumes de peixes.
Um local com abundância de anchovas são as Ilhas Redonda, Banco do Brasil e Focinho
de Porco. No entanto, a produção da pescaria de linha destes pesqueiros diminuiu. Alguns
pescadores consideram a “boca do emissário” o melhor de todos os pesqueiros. Um bom dia
de pesca neste local, por exemplo, pode render aproximadamente 400 reais (2 caixas de
anchova, ou 50-70kg). Contudo, existem controvérsias quanto ao emissário submarino. Outros
informantes, por exemplo, gostariam que o emissário fosse mais afastado da costa.

89

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Figura 34 – Pescadores de Copacabana saindo para pescar.

Pesca de mergulho
Os pesqueiros mais importantes para os praticantes da pesca de mergulho são: 1o Ilhas
Cagarras; 2o Ilhas Redonda e Filhote, Ilha Rasa, Ilhas Tijucas; 3o Laje Banco do Brasil; 4o Ilhas
Pai, Mãe e Menina, Laje de Santo Antônio e Ilha Cotunduba (Tabela 24).
Em ilhas como a Ilha Rasa, mais distantes e onde a profundidade é maior, a água custa
mais a clarear. Já nas Ilhas Cagarras, que são mais rasas, correntes de sudoeste clareiam a
água mais rapidamente. Por este motivo os mergulhadores preferem pescar nas Cagarras pois
a distância é menor e onde a água fica clara com maior frequência. Na ilha Rasa, as vezes
(raramente) no verão entra corrente do sul, clareando a água para o mergulho. Peixes de
passagem passam pela Ilha Rasa em função de suas lajes. Nesta ilha, arrasteiros pedem ajuda
para os mergulhadores para dar manutenção nos equipamentos.
Conforme já descrito por fora das ilhas, geralmente, a corrente é mais forte, e esta
gera alimentação para as espécies de maior interesse. Normalmente a pesca de mergulho é
realizada circulando as ilha pelo lado de fora, mas também passam com freqüência pela parte
abrigada. Na porção abrigada e interna das Ilhas Cagarras, por exemplo, o costão é mais raso,
sendo esta explorada quando as condições do mar estão desfavoráveis.
Uma laje pouco utilizada pelos pescadores de Copacabana é a laje Santo Antônio. Os
informantes presentes na oficina de mapeamento participativo relataram que não fazem saídas
exclusivamente para este pesqueiro, somente. Comentam que passam por lá quando os
cardumes estão visivelmente presentes, deixando esse local para o desfruto dos
mergulhadores amadores.

5.11 Áreas utilizadas como abrigo em mau tempo


Durante as oficinas de mapeamento participativo, foram identificadas as principais áreas
utilizadas como abrigo pelos pescadores de Copacabana. Quando sopra o vento Sudoeste ou
um forte Nordeste (lestada forte), os pescadores procuram abrigo nas seguintes áreas: 1) Em
frente e pela porção interna da Ilha Comprida (muito utilizado por todos quando venta
nordeste, sudoeste e lestada);2) Por trás da ilha Rasa e; 3) Nas Ilhas Tijucas.
90

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Tabela 23 – Principais pesqueiro utilizados na pesca de linha e sua relativa importância na constituição da
renda entre os pescadores de Copacabana.
Pesqueiro Importância para Recursos principais
constituição da
renda

EMISSÁRIO – “boca do cano” $5 Anchova, marimbá, corvina. Muitos peixes


pequenos são encontrados no local, os
quais são chamados de “resolho”.

PARTE DE DENTRO DA COMPRIDA $5 Lula.

PONTA DO ARPOADOR $5 Lula.

SURRIÁ $4 Anchova, garoupa, bicuda. Existe uma


certa concorrência pelo pesqueiros com os
pescadores da Barra da Tijuca. No verão,
utilizam este pesqueiro para a captura da
Anchova (novembro e dezembro).
No inverno a pesca neste local é melhor
(julho a setembro), quando se captura
maior quantidade da bicuda.

TIJUCAS (E TODAS SUAS LAJES $4 Anchova e bicuda. No inverno


principalmente. A pesca depende da água
neste local.

PONTA SUL DA COMPRIDA $4

BURACÃO DA COMPRIDA $4 Bicuda.

MATHIAS $ 3-4 Bicuda.

BANCO DO BRASIL $3 Anchova, olhete, olho de boi.

SAMBAIA $3 Anchova.

BAIXIO DA RASA $3

PALMAS $3 Marimbá, bicuda, olho de cão, xerelete.

PONTA LESTE $3 Bicuda, anchova.

FOCINHO DO PORCO $ 2-3 Anchova, olhete, olho de boi.

SOMBRA DA MULATA $ 2-3 Anchova, olhete, olho de boi.

ÂNCORA $ 2-3 Anchova, olhete, olho de boi.

LAJE DAS CAGARRAS $ 2-3 Anchova.

REDONDA E FILHOTE $2 Olhete (ocorre em lajes e nos costões),


bicuda (preferencialmente no costão, se
alimentam de noite), olhete, olho de boi e
anchova (espécies que se alimentam
durante o dia).

BAIXIO DA REDONDA $2 Olhete e bicuda (se alimenta durante o


dia). olhete, olho de boi e anchova
(espécies que se alimentam durante o
dia).

CANAL ENTRE CAGARRA GRANDE $2 Bicuda.


E FEDORENTA

91

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Tabela 24 – Principais pesqueiro utilizados na pesca de mergulho, freqüência e época de exploração e


importância relativa na constituição da renda entre os pescadores de Copacabana.
Importânci
a para
Pesqueiros constituiçã Recursos pesqueiros Época e frequência de utilização
o da renda

Cagarras 5$ Moluscos: lula e polvo. Anchova, Pesca com maior freqüência no inverno (junho
serranídeos: garoupa e badejo a setembro) com ventos de Lestada. No verão,
(parte de saltão. Os principais são garoupa e somente quando a água está boa. Ilhas são
fora, que é polvo. muito pouco utilizadas pelos pescadores de
mais funda e mergulho, cerca de 1 vez por semana, não
tem mais havendo frequência regular de uso. Pesca
peixe) depende do tipo de pescado disponível no local
e das condições da água. A ilha do Pai é a mais
utilizada destas três ilhas.
Redonda e 4$ Garoupa e badejo (principalmente). Mais visitada entre junho a outubro, 2 vezes
Filhote Sargo e espécies de segunda por semana, em função da maior ocorrência de
quando as de primeiras faltam. água transparente neste período.

Rasa 4$ Ocorrem principalmente peixes de Pescam o ano todo no local dependendo da


passagem/pelágicos como o olhete, transparência da água. No verão pescam em
anchova, olho de boi, xerelete, média 2 vezes por semana. No inverno (maio a
enxada e xaréu. outubro) costumam ir até 3 vezes por semana.
Maior freqüência na Redonda e Filhote em
função de sua proximidade. O pesqueiro Banco
do Brasil é menos visitado por ser considerado
distante da costa.
Tijucas 4$ Peixes de passagem, que só No inverno a freqüência de uso é muito maior
aparecem com corrente forte pois a água é mais adequada para a pratica do
(evento associado à maior mergulho no local.
ocorrência de alimentos). Na
porção externa das ilhas existe
maior variedade de espécies, como
a anchova, garoupa, olhete,
badejo, sargo, xaréu, xerelete,
bodião e olho de boi. A porção
interna das ilhas são mais
protegidas, e as espécies-alvo
preferem a correntes, como a
garoupa, o badejo (incomum) e a
lagosta.

Banco do 3$ (porque Principalmente peixes de passagem No verão é muito pouco utilizada (1 vez por
Brasi tem pouca como anchova e olhete. A garoupa semana a 3 vezes por mês). Quando a corrente
variedade de e bicuda também são comuns no de sul traz água clara (evento raro), a pesca é
peixes) local. melhor. No verão neste apenas quando existe
uma “intuição ou indicação”.
Eventualmente cardumes de
enxada.

Pai, Mãe e 2$ Robalo. Em um local próximo desta Utilizado durante o ano todo. No verão pratica-
Menina laje há pesqueiro de lula. O olhete se a pesca em média 2 vezes por semana.
se concentra neste pesqueiro Durante o inverno (maio a outubro), é utilizado
quando vem atrás da lula. com grande freqüência (3 vezes por semana).

Santo 2$ Robalo (principal), linguado, Costumam ir com maior freqüência nas Ilhas
Antonio anchova, olhete, bicuda, xaréu, Redonda e Filhote pela proximidade (6
garoupa, polvo e olho de boi. minutos). Por esse mesmo motivo, vão menos
no Banco do Brasil.
Cotunduba 2$ Muitas garoupas e badejos Ao longo do ano todo, pois as ilhas estão
pequenos ocorrem no local. O local próximas de Copacabana. No inverno é melhor
é considerado um importante distante da costa por causa da corrente de sul
criadouro e por isso não capturam para leste. Nesta época, as Cagarras
essa garoupa pequena. “descansam”. Usam aproximadamente 4 vezes
por semana no verão e no inverno.

92

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Tabela 25 - Descrição dos tipos de rede e dinâmica das pescarias.


Petrecho Área e tipo de fundo Recursos pesqueiros Época e freqüência de
uso

Rede Largo e perto da costa (terra). Corvina, anchova, No verão a pesca com rede
Corvineira serra, bonito, corvineira ocorre na beira de
Do Surriá à beira da praia até a ponta do marimba, pescada, praia (novembro até março).
Malha 50- arpoador. Raramente chegam até a praia viola, cação anjo, No inverno as redes são
60mm e três de Copacabana. A rede corvineira não é robalo, colocadas no largo (março a
metros de colocada em Copacabana, mas é perna de moça junho).
altura. empregada do Leme até a ilha de
Cotunduba.

A linha de arrebentação é o limite mínimo


de profundidade, enquanto o limite máximo
(na pesca de beira de praia) é a
Cagarrinha.

Areia na beira da praia. No largo o fundo é


de cascalho.

Rede Alta Beira da praia, do Leme ao Juá (Costa Tainha, Pampo, Durante o ano todo.
Come- Brava). Robalo, pouca corvina,
Dorme bonito, pescada perna
Esta rede é colocada desde a arrebentação de moça, roncador
No máximo até 150 m para fora. amarelo, pescada,
150m de parati, pescadinha,
comprimento A rede come-dorme trabalha na faixa de 15 carapeba, anchoveta,
(três panos). a 20m de profundidade. serra, olho de cão
Malha
45mm.

Rede Alta de Qualquer lugar, depende do pescador Anchova, serra, bonito, Durante o ano todo,
Caceia descobrir um cardume. cavala e outros peixes eventualmente.
que nadam próximos à
Similar a A pescaria dura aproximadamente meia superfície.
“rede-alta” hora e é lançada somente depois da
localização do cardume.

Quanto este é localizado, os pescadores


calculam a correnteza e a rede é então
lançada ao mar.

Qualquer fundo.

Rede BEIRA DE PRAIA - Desde a ponta do Leme Linguado, anchova, Durante o inverno (julho e
Linguadeira até o Recreio dos Bandeirantes. bonito corvina, xerelete agosto com maior
na Beira da freqüência, mas também
Praia. Limite mínimo de profundidade é dado pela pesca-se em setembro)
arrebentação das ondas. Limite máximo de ocorre a temporada do
Malha 110 profundidade 20-25m. É colocada em linguado. Pesca-se todos os
Tem 30 posição paralela à praia, ou por fora do dias neste Período, a não ser
panos. costão. que as condições do mar
não permitam a navegação
Beira de praia (areia). (ex. ressaca).

Rede No largo (dos 30 aos 40m de Viola, tamboril, cação No verão (principalmente de
Linguadeira profundidade), entre as Ilhas Redonda e anjo, cação bicudo, novembro a janeiro, pois
no cascalho Rasa e por fora da ilha Comprida. enxada, cação martelo, em fevereiro já começa a
linguado de cascalho e falhar) praticam a pesca
Igual “Rede Cascalho. outros peixes que cerca de 3 x por semana,
Linguadeira” ocorrem em fundos de aproximadamente um dia
cascalho. sim outro não.

93

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

INFRA-ESTRUTURA, COMERCIALIZAÇÃO E MERCADO

5.12 Tecnologia do pescado: forma e acondicionamento do pescado a bordo e


forma de beneficiamento e comercialização
As embarcações do Posto 6 não possuem porão, dispondo de pouco espaço para
armazenar o pescado. Em geral, os pescadores fazem uso de caixas de plástico para
acondicioná-lo (Figura 35).

Para as pescarias de linha e mergulho, geralmente o pescado inteiro é acondicionado


em caixa térmica ou de isopor com gelo, logo após a captura, ou seja, na própria embarcação.
Na pesca de rede este insumo não é utilizado, devido ao pouco tempo despendido entre
a retirada do pescado do mar e de seu desembarque em terra.
Após o desembarque, os peixes são vendidos frescos, inteiros e sem eviscerar na
própria praia ou ficam expostos na banca da Colônia. Após o consumidor adquiri-lo junto as
bancas, solicitam aos tratadores para realizarem o processamento do pescado, se assim
desejarem. O peixe será descamado, eviscerado e beneficiado (em filé ou em postas)
conforme opção do consumidor.
O pescado que não for comercializado no dia é eviscerado pelos tratadores, pesado e
congelado na peixaria situada nos fundos da Colônia onde fica acondicionado até o outro dia.

Figura 35 – Caixa utilizada para transporte dos peixes em


Copacabana.

94

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

5.13 Insumos, meios de produção e despesas no exercício da atividade


pesqueira
São considerados insumos os itens necessários à realização da atividade produtiva mas
que não se constituem em bens, ou seja, itens como combustível, gelo, isca, “rancho”, etc.

Os meios de produção são aqueles itens necessários à atividade produtiva que


constituem-se em bens. Em geral, quem os detém possuem maior poder no processo
produtivo. Os meios de produção são: barco, motor e petrechos de pesca.
Para descrição deste item, optou-se por avaliar os insumos presentes na atividade, os
meios de produção, os custos associados à atividade, tanto para obtenção do insumo como
para manutenção dos bens e a origem dos itens.
O insumo mais dispendioso utilizado nas pescarias do Posto 6 é o combustível (diesel
ou gasolina, a depender da embarcação). Estima-se que em cada saída de pesca gasta-se, no
mínimo, R$25,00 em diesel. Os motores a gasolina são menos utilizados e geram um gasto
maior, tanto pelo maior consumo de combustível como pelo custo da gasolina ser mais elevado
quando comparados ao diesel. Comumente o combustível é adquirido no posto vizinho à
Colônia.
Os demais insumos são: óleo 2 Tempos; lanche; gelo para a pesca de mergulho e de
linha; e isca para a pesca de linha.
O gelo é obtido principalmente na peixaria anexa a Colônia. Três quilos de gelo (½
saco) são necessários para o acondicionamento do pescado em uma caixa térmica.
Na pesca de linha, um insumo importante é a isca, cuja preferência dos pescadores é
pela sardinha. Em cada pescaria são utilizados de quinze a vinte quilos de isca. Durante a safra
da sardinha, adquire-se por R$3,50 o quilo e na entressafra, R$5,00 o quilo.
Na pesca de mergulho de compressor, as despesas são constituídas por: aluguel de
espaço para atracar a embarcação e os equipamentos de pesca, manutenção mensal do motor,
equipamento de mergulho e custos anuais despendidos para legalização da atividade junto ao
Estado (Tabela 26).
O custo médio de uma rede foi estimado em R$3.000,00. Adquire-se o pano, o chumbo
e o entralhe é realizado por aqueles que possuem o ofício de atá-las. Tal atividade é realizada
na área da Colônia (Figura 36).
Os insumos necessários à confecção dos petrechos para as pescarias de linha e rede
são adquiridos em Copacabana, numa loja da Siqueira Campos ou no Mercado São Pedro, em
Niterói. Os equipamentos de mergulho são adquiridos no centro da Cidade. As embarcações
são oriundas do Rio de Janeiro e os motores são de São Paulo ou Minas Gerais.

95

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Tabela 26 - Matriz de Avaliação das despesas no mergulho.


Tipo de despesa Gastos
Aluguel de vaga p/ guardar material e barco R$ 200,00/mês ou mensalidade da colônia

Gasolina 25 litros por pescaria (motor 50 ou 30 HP)

Manutenção do motor R$ 100,00/mês

Roupa e materiais em geral R$ 1000,00/ano

Licença de pesca e legalização do barco Licença gratuita

Legalização = R$700,00

Local: Colônia Z-13 (Posto 6 – Copacabana) Data: 05.05.08


Participantes: Cabelinho e Cegonha

Figura 36 – Atadores de rede em atividade em Copacabana.

5.14 Demanda de mercado


A demanda de mercado foi avaliada por meio da ferramenta “entra e sai, de onde vem
para onde vai”. Esta é una análise dos recursos mais importantes na geração de receita, ao
longo do ano. Foram listadas trinta e sete recursos como representativos do desembarque do
pescado no Posto 6, totalizando as pescarias de rede, linha, mergulho (peito e compressor).
Diversos deles são importantes para mais de uma arte de pesca (Tabela 27).
Por várias vezes, os pescadores verbalizaram a dificuldade em avaliar a importância do
recurso na composição da renda do pescador, tentando realizar um balanço entre a quantidade
capturada (produção no mar) e a preferência dos consumidores por determinado recurso,
havendo uma tendência maior de relacionar a renda à disponibilidade do recurso no mar
(sazonalidade e regularidade), demonstrando que há uma relação direta entre a quantidade do
recurso no mar em determinada época do ano (disponibilidade do pescado e regularidade da
produção) e a renda obtida com a venda na banca.

96

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

O segundo fator que influencia a renda é a qualidade do pescado, ou seja, se o recurso


é considerado de primeira, de segunda ou de terceira (Tabela 28). Para essa classificação, os
seguintes critérios são levados em conta: a demanda do mercado consumidor, preço praticado
na venda e o tamanho do peixe. Por exemplo, embora os preços praticados por quilograma de
pescado sejam fixos ou com pouca variação, em épocas de “temporada” (safra) o pescador
pode ver ampliado seu raio de comercialização, ganhando mais na venda direta ao consumidor
e perdendo margem de lucro na negociação com destinatários como a CEASA e o Mercado de
São Pedro. O tamanho do peixe influencia no preço, pois determinadas espécies como a
garoupa e o badejo perdem valor ao ultrapassar os 5 a 7 Kg.
A garoupa e o badejo, por exemplo, são recursos pouco abundantes atualmente, mas
possuem alto valor comercial, desde que seu peso seja inferior a cinco ou seis quilos. Quanto
maior o exemplar, menor é o preço obtido para cada quilo.
Esses recursos foram descritos como importantes para os mergulhadores de peito,
embora também sejam capturados, pela linha e ainda, eventualmente, pelas redes.
A captura do mero atualmente está proibida. Contudo, de maneira análoga à garoupa e
ao badejo, seu valor comercial era maior para exemplares menores.
O cherne é um recurso pouco abundante mas com alto valor comercial.
A cioba, olho-de-cão e caranha foram definidos como vermelhos. São recursos
relevantes para a pesca de linha, contudo pouco abundantes nas capturas. Enquanto a cioba e
a caranha são considerados peixes de primeira, o olho-de-cão possui valor um pouco inferior,
pois é considerado um produto de segunda. Assim, apesar do valor pago ser vantajoso, sua
participação na captura é rara.
A corvina e a anchova constituem os recursos mais importantes na composição da
renda dos pescadores de rede, pois são os mais regulares, com produção significativa ao longo
de todo o ano. A anchova é ainda mais importante para pescaria de linha.
Comparando os valores obtidos na comercialização da anchova, corvina e garoupa,
observaram que os dois primeiros são comercializados por R$8,00/quilo, enquanto a garoupa é
vendida por R$22,00/quilo.
A espada é mais abundante no verão e possui preço baixo, entretanto, sua
produtividade é alta, de forma que sua contribuição é importante.
Robalos são importantes na pesca de rede e considerado peixe de primeira. Já o bagre
é considerado de segunda.
A enxada e o baiacu eram pescados sem valor comercial antigamente que
recentemente passaram a ser comercializados. A enxada possui preço mais alto que a corvina,
contudo sua regularidade é baixa.
A cavaquinha é considerada um recurso de excelente preço. Exemplificando, os
mergulhadores informaram que quatro exemplares gera uma renda de R$60,00.

97

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

O marisco é considerado um recurso muito trabalhoso, sendo comumente coletado


quando há encomenda. Uma caixa com cerca de 30 quilos com concha é vendido por R$3,00 o
quilo para encomenda feita por restaurantes. Quando comercializa somente a carne do
marisco, vende por cerca de R$15,00, quanto ao rendimento da carne, para cada 30 quilos de
marisco com concha, rende cerca de 3 quilos de carne limpa. De acordo com os mergulhadores
é melhor vender com a concha porque o bicho está vivo, fresco.

Tabela 27 – Ferramenta ‘entra e sai, de onde vem, para onde vai’ em Copacabana.

De onde vem Entra Produtos Renda Pra onde vai

Lojas de Copa e Linha Anchova ____________


Mercado São Pedro Anzol ____
Isca Copa e CEASA
(temporada)
Mercado São Pedro Redes Corvina ____________

Centro da cidade Material de mergulho Pescadinha (bicuda) _______ Copa

Peixaria Posto 6 Gelo Viola (cação) ______ Copa e CEASA


(temporada)

Estado do RJ Barcos Linguado _______ Copa restaurante/


peixaria posto 6

São Paulo e Minas Motor Pargo ______ Copa


Gerais

Posto de Copa Combustível Tainha __________ Copa/CEASA/ Mercado


______ São Pedro

Marimbá __________
______ Copa

Parati _______
Pampo __________
______

Garoupa ______ Copa/CEASA/


___________ Restaurante
____________
Badejo ______ Copa/restaurante
___________
____________

Mero

Cavaquinha ___ Copa/atravessador(co


______ mpressor)
____________

Cavalinha _______

Vermelho(Olho de ________ Copa


cão, Cioba, Caranha) __
Xerelete _____
__

Espada _______ Copa e CEASA

Robalo __________ Copa e atravessador


___

Bagre ____

Arraia ___

Sargo (de dente e de _____


beiço) ___ Copa

98

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Mangangá __
_

Cocoroca ___

Lula ________ Restaurante/atravessa


dor e copa
Polvo __________
____________
____________

Mexilhão ______
____
____________

Olhete ___
__
_____
Copa
Olho de boi ___
__
______

Serra _____
_

Bonito ___

Enxada ___
_

Baiacú ____

Cherne ______
__________
__________

Dourado ___

Peroá _______
Legenda: -------- Linha e Rede
-------- Pesca de Compressor
-------- Mergulho de Peito

Tabela 28 – Classificação do valor atribuído aos recursos pesqueiros em Copacabana.


Peixes de primeira Peixes de segunda Peixes de terceira

Pescadinha Anchova Tainha


Viola Corvina Parati
Pargo Marimbá Cavalinha
Pampo Vermelho olho de cão Xerelete
Garoupa Bagre Espada
Badejo Arraia Mangangá
Mero Sargo de beiço Cocoroca
Cavaquinha Serra Bonito
Vermelho cioba e caranha Enxada
Robalo Baiacu
Sargo de dente
Lula
Polvo
Mexilhão
Olhete
Olho de Boi
Cherne
Dourado
Peroá
Local: Colônia Z-13 (Posto 6 – Copacabana) Data: 23.07.08
Participantes: Seu Geraldo, Wesley, Pixico, Manoel, Cegonha, Seu Nono, Galhi, Maré, Cabelinho
99

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

5.15 Estruturação da cadeia produtiva


A cadeia produtiva do pescado desembarcado no Posto 6 é curta e concentrada
territorialmente, ou seja, a maior parte da produção é vendida aos consumidores nas bancas
da Colônia (Figura 37) ou na praia. Assim, a figura do “atravessador” é pouco presente.
Conforme já descrito, o sistema predominante é a comercialização nas bancas. Neste
caso, a produção total da embarcação é repassada aos vendedores de peixe pelo dono do
barco. Os vendedores vendem o pescado inteiro aos consumidores e estes, se desejarem,
contratam o serviço de um dos dois tratadores de peixe5, que são pagos “à critério do cliente”.
Os tratadores afirmam que definem apenas o valor mínimo a ser pago – R$2,00/serviço –
deixando a complementação a cargo da clientela a fim de não encarecer ainda mais o preço do
pescado.

Figura 37 – Comercialização do pescado nas bancas do Posto 6,


Copacabana.

Há uma área específica destinada ao tratamento do pescado dentro do prédio da


colônia, separada das bancas. Consiste em uma bancada azulejada, que à época do início do
diagnóstico apresentava alguns sinais de desgaste (depois foi reformada por iniciativa da
prefetitura), e em um tanque de água (Figura 38).

5
Em dias de muito movimento, a atadora de rede também realiza esta atividade.

100

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Figura 38 – Área destinada para a limpeza do pescado em


Copacabana.

No segundo caso, os pescadores se apropriam de sua parte da produção e se


responsabilizam pela venda do pescado, realizada na própria praia ou nas bancas (Figura 39).
A produção do dono do barco continua sendo destinada às bancas. Alguns donos de
embarcação destinam sua produção diretamente a restaurantes ou à compradores
(atravessadores), em geral, por meio de encomendas. Os recursos mais comercializados são
aqueles considerados de primeira, a saber: badejo, mexilhão, lula, polvo e cavaquinha.
Destaca-se que recursos como lula, polvo e mexilhão são comumente destinados à
restaurantes japoneses.
Em períodos de safra da corvina, anchova, viola e espada, parte da produção pode ser
destinada ao Ceasa (preferencialmente) ou ao Mercado São Pedro,dado que não é possível
escoar toda a produção pelas vias normais. Nesta situação, o excedente é comercializado nos
entrepostos, mas os valores da transação são menores, pois o pescado é comercializado no
atacado, enquanto no Posto 6, a comercialização é realizada no varejo.
Eventualmente, é possível, ainda, que o pescador leve parte da produção não
comercializada na banca do posto 6 para vender em sua comunidade (morro), conseguindo
preços considerados razoáveis (varia conforme a comunidade).

101

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Figura 39 – Cadeia produtiva do pescado em


Copacabana.

5.16 Política e assistência técnica à pesca artesanal e incentivos econômicos


A única política de assistência técnica citada pelos pescadores foi o PRONAF Pesca.
Contudo, os pescadores observaram que acessaram a política para investimentos em custeio,
não acessando os investimentos para despesas de capital.

Para alguns, o fato de serem produtores de alimento deveria ser considerado na isenção
de impostos para aquisição de meios de produção, tais como embarcações, motor e petrechos
de pesca.

102

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

5.17 Seleção de especialistas


Abaixo segue os pescadores indicados ao longo das atividades de campo para
comporem os especialistas que serão convidados a participar da próxima etapa de campo.

Tabela 29 – Informantes pré-selecionados para participar da oficina de mapeamento participativo em


Copacabana.
Nome do Modalidade de pesca
informante Rede Linha Mergulho
Cegonha Oto Sobral, Eduardo,
Alfredo (todos de Niterói)
Cabelinho Cegonha, Fominha
Manoel Evandro, Fominha, Manoel Pixico, Nono, Manoel
Telmo Manuel (colônia), Maresia, Pixico, Galho, Maranhão Antônio, Sarado,
Moisés, Serginho Marquinho Montovani,
Luiz Cação, Cabelinho
Serginho Moisés, Manuel (colônia – Pixico, Galho, Maranhão Marquinho, Cegonha,
frango d’água), Nenen Cabelinho, Jaime

Francisco (arruma Celmo, Pixico, Nenen Pixico Marquinho Cachorrão,


redes) Marquinho Montovani

Marquinhos Nenen, Caco (negro Pixico, Maranhão, Galho, Marquinho, Fominha,


(pescador da Urca e velho), Moisés, Fominha Lola Sarado
de Copacabana)

Moisés Manuel (colônia), Manuel Pixico, Galho, Evandro Marquinho Cachorrão,


Roliço, Moisés, Serginho (Maluquinho) Fominha, Marquinho
Montovani
Marquinhos Fominha, Moisés, Manuel Pixico, Galho, Evandro Marquinho Montovani,
Cachorrão (colônia) (Maluquinho) Cabelinho, Wesley (filho
de Manuel da Colônia)
Wesley (filho de Manuel (colônia), Pixico, Evandro Marquinho Montovani,
Manuel da colônia) Fominha, Pixico (Maluquinho), Galha Cabelinho, Wesley
Luiz Cláudio (Galho) Moisés, Nenen, Pixico Pixico, Maranhão, Galho Marquinho Montovani,
Fominha, Sarado (César)
Evandro Maluquinho Oliveira (Pato Roco), Pixico, Maranhão, Galho, Marquinho Montovani,
Moisés, José Saturnino de Evandro Sarado, Antônio (Sago de
Jesus Beiço)
Seu Oliveira Moisés, Manuel Roliço, Manuel (Colônia), Pixico, Fominha, Marcos, Sarado
Fominha Maranhão
Elenilson Manuel (colônia), Moises, Pixico, Cláudio (Galho), Marquinho, Tonho, Jaime
Manuel Roliço Maranhão
Seu Nonô Manuel (colônia), Neném, Pixico, Manuel (colônia), Jaime, Marquinho,
Moisés Cláudio (Galho) Fernando

103

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

6. QUADRADO DA URCA - RIO DE JANEIRO

A Urca é um bairro residencial bastante valorizado na cidade do do Rio de Janeiro


(Figura 40), mas também referência para os turistas que freqüentam a cidade.
Abriga unidades de duas Universidades, UFRJ e UNIRIO, e o Instituo Benjamin
Constant. Na Praia Vermelha, estão localizados o Instituto Militar de Engenharia (IME), a
Escola de Comando e Estado Maior do Exército, a pista de caminhada Cláudio Coutinho e a
estação do primeiro estágio do Teleférico que leva turistas e moradores ao Pão de Açúcar, um
dos cartões de visita mais procurados na cidade.
Ao final do século XIX, um português comprou uma pedreira escavada no Morro da
Urca, onde só era possível se chegar de barco. Depois, firmou com dois sócios, um contrato
com a Intendência Municipal para implantação de um cais no local. Foi feito um enrocamento
com uma ponte precária na área do “Quadrado da Urca”. Em 1921, durante o governo do
Prefeito Carlos Sampaio, foi concluído o “Quadrado da Urca”, que hoje serve de ponto de
atracação a diversas embarcações pesqueiras e de turismo6 (Figura 41).

Figura 40 – Quadrado da Urca (ponto vermelho à esquerda), Rio de Janeiro, Brasil.

6
http://portalgeo.rio.rj.gov.br/armazenzinho/web/BairrosCariocas
104

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Figura 41 – Quadrado da Urca, Rio de Janeiro.

6.1 Metodologia
As atividades relativas à primeira etapa do diagnóstico consistiram em 7 visitas ao
Quadrado da Urca, realizadas entre os meses de abril e setembro de 2008. Durante a segunda
etapa, entre os meses de janeiro e fevereiro de 2009, foram feitas mais duas visitas: uma
dedicada à atividade de mobilização para realização da oficina de mapeamento e, a outra para
a oficina propriamente dita, ocorrida no dia 17 de fevereiro de 2009.
Todas as visitas ao campo foram previamente agendadas com os próprios pescadores, a
fim de que se garantisse, na medida do possível a participação dos envolvidos durante a coleta
de dados. Assim, o diagnóstico envolveu grande parte dos os pescadores dessa localidade
(Figura 42) que intercalam as atividades de pesca com a atividade de turismo de pesca
esportiva e passeio, na área de Baía e no mar.
Tal como ocorrido nas demais localidades, as atividades relativas à primeira etapa do
trabalho foram conduzidas por dois técnicos, sendo um o responsável pela aplicação da
ferramenta e mediação do debate, e o outro pelas anotações dos comentários realizados pelos
participantes e pelo registro fotográfico. Posteriormente, as informações coletadas foram
inseridas no roteiro, de forma que se pudesse avaliar a necessidade de mais visitas à
localidade.
A definição de especialistas que participariam da elaboração dos mapas mentais foi
realizada ao longo do trabalho. Contudo, devido à dinâmica do local, no dia agendado para
realização da oficina diversos pescadores participaram da atividade. Dado que a definição de
105

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

especialistas se constitui num procedimento para a seleção dos participantes da segunda etapa
do projeto, e não numa ferramenta de diagnóstico propriamente dita, esta atividade não
consta da (Tabela 30). Durante a oficina de mapeamento dos pesqueiros, participaram 4
técnicos, sendo dois deles responsáveis pela mediação e dois pelas anotações, seguindo roteiro
de perguntas previamente elaborado.
Junto à descrição dos resultados, é apresentada a síntese das principais características
da atividade pesqueira no Quadrado da Urca, representadas pelas ilustrações elaboradas a
partir das ferramentas e pelos registros fotográficos efetuados durante as atividades de
campo. Ressalta-se que uma ferramenta pode acrescer informações em mais de um item do
roteiro.

Tabela 30– Resumo das atividades de campo realizadas em Copacabana.


Data Ferramenta Itens do roteiro Participantes

02.04.08 Mapa preliminar Áreas e locais de Coordenador de Pesca da


pesca UEPA (1)
13/05/0 Mobilização dos grupos; - 3 pescadores
8 reconhecimento da área
16/05/0 Matriz de avaliação da atividade de Estrutura da cadeia 5 pescadores
8 turismo; características da pesca de produtiva; insumos
linha; entra e sai; mapas pesqueiros; áreas e
preliminares locais de pesca;
demanda de mercado
26/05/0 Matriz de conflitos Conflitos e 18 pescadores
8 interferências externas
e áreas de pesca,
diversos
05/08/0 Saída de barco Conflitos e áreas de Coordenador de Pesca da
8 pesca UEPA e Presidente da
Colônia Z-13
25/08/0 Matriz de avaliação da pesca e do Produção por recurso, 6 pescadores
8 turismo e calendário sazonal de sazonalidade e
produção rendimento
12/09/0 Entrevista semi-estruturada e Dados 1 pescador
8 estratificação social socioeconômicos

Figura 42 – Aplicação de ferramenta participativa com pescadores da Urca, Rio de Janeiro.

106

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

ASPECTOS DA COMUNIDADE PESQUEIRA

6.2 Dados socioeconômicos

Os pescadores do Quadrado da Urca dedicam-se à pesca de linha e às atividades de


turismo. São aproximadamente 70 embarcações, entre traineiras de médio porte (com casario
e convés) e pequenas baleeiras. Ainda que a pesca de rede não tenha sido identificada como
uma atividade expressiva para o grupo de pescadores que participou do diagnóstico, (de fato
nenhum dos pescadores entrevistados disse praticá-la), observou-se que a mesma ocorre na
área da baía próxima ao Quadrado da Urca.
Devido ao decréscimo da produção pesqueira nos últimos anos, várias embarcações
tem apostado com mais frequência nas atividades turísticas e, dentre elas, as saídas de pesca
esportiva (de linha e de mergulho) e passeio contemplativo. Atualmente, existem donos de
embarcação que se dedicam, prioritariamente, a esse tipo de atividade, tida como mais
rentável e menos desgastante se comparada às saídas empreendidas para a captura de
pescados para comercialização. Contudo, argumentam que como a pescaria é fortemente
dependente da sorte ou da disponibilidade dos cardumes, é possível que essa vantagem do
turismo sobre a pesca seja revertida em uma única pescaria, caso a captura permita um bom
rendimento em termos financeiros, situação esta que vêm se tornando mais difícil nos últimos
tempos. Já os proprietários de barcos menores (baleeiras), dedicam-se exclusivamente à
atividade pesqueira, seja na área de baía ou no mar, dada a limitação física imposta por suas
embarcações.
Os barcos que fazem turismo de pesca esportiva são conhecidos como “barcos de
turma”, pois os clientes costumam fretar coletivamente a embarcação para efetuar as saídas.
De acordo com alguns donos de traineiras, a atividade de pesca esportiva vem crescendo
bastante no estado do Rio de Janeiro, em cidades como Paraty, Angra dos Reis, Cabo Frio,
Mangaratiba e Arraial do Cabo, onde os pescadores vêm se especializando na pesca esportiva
ou no turismo contemplativo. Outra vantagem atribuída à pesca esportiva é regularidade de
procura pelo público interessado, o que significa que alguns barcos tenham sua agenda
fechada durante todo o ano.
Os pescadores residem em áreas distantes da Urca, porém, muitos possuem carros que
facilitam sua locomoção do lugar onde atracam seus barcos.
A fim de ilustrar a situação socioeconômica dos pescadores se produziu, a partir de
informações coletadas junto aos participantes do diagnóstico, um quadro contendo um resumo
de suas características distintivas, em termos de renda, posse de bens e de instrumentos de
trabalho.

107

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Tabela 31 - Matriz de estratificação social dos pescadores do Quadrado da Urca.

SITUAÇÃO RENDA MENSAL OBSERVAÇÕES


Melhor situação Pode chegar até R$4.000,00 - possuem embarcação;
(aproximadamente 35 donos (variável de acordo com a - residência própria;
de traineira) quantidade e espécie - possuem carro
capturada)

Situação média Varia entre R$2.000,00 e - possuem embarcação


(aproximadamente 15 donos R$2.500,00 própria (baleeiras);
de baleeiras) - alguns têm casa própria,
outros moram de aluguel;
- não possuem carro;
- possuem moto.

“sócios” São os assistentes, quase - pagam aluguel;


3 a 4 pessoas “sócios” já que não tem - não possuem carro nem
despesa com embarcação moto;
Podem ter renda entre - foram proprietários de
R$800,00 – R$1.200,00 até embarcação, mas não
R$1.500,00 souberam administrar e
perderam os bens de que
dispunham

Observa-se na Tabela 31 que a diferenciação de renda entre os pescadores de baleeiras


e os ajudantes da atividade turística não é tão expressiva. Os pescadores de baleeira exploram
ambientes mais próximos ao Quadrado da Urca, podendo se aventurar a distâncias maiores
somente quando as condições de tempos permitem. Nesse sentido, o porte da embarcação de
traineira e a flexibilidade de utilizá-la para atividades turísticas, além da pesca comercial
proporcionam um rendimento mensal maior aos proprietários, ainda que os custos necessários
para equipá-las em saídas de pesca de linha e de manutenção sejam mais elevados.
É comum também que os pescadores se dediquem a outras atividades econômicas
complementares durante a parte do dia em que não estão no mar ou dedicados à manutenção
de suas embarcações. A tendência de se buscar alternativas à atividade pesqueira foi se
configurando com mais força, segundo os pescadores mais antigos, à medida que recursos
pesqueiros de grande importância econômica para seu sustento material foram ficando
escassos no ambiente, como a anchova, por exemplo. De um modo geral, foi consenso de que
a queda na produção de pescados se deve, sobretudo, ao aumento do esforço da pesca de
rede: emalhe, caceia, arrasto e de cerco, além, da falta de fiscalização para coibir condutas
ilegais.

6.3 Divisão, relações de trabalho e renda (pesca e turismo)


Pesca de Linha
A linha é a modalidade de pesca praticada pelos pescadores do Quadrado da Urca.
Ocorre com mais intensidade no inverno e está direcionada, principalmente para recursos
como anchova, bicuda, espada, olho de cão, marimbá, dentre outros. Conforme já relatado é
crescente o número de barcos dedicados à atividade de turismo voltado à pesca esportiva.
108

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Mesmo nessas ocasiões, o pescador capturar pescados para consumo doméstico. Foi estimado
o número de 5 pescadores dedicados regularmente à pesca de linha.
As saídas de pesca de traineira podem durar até 3 dias e contar com uma tripulação de
3 ou 4 pescadores. As diferenciações ocorrentes entre os trabalhadores estão atreladas
substancialmente à propriedade da embarcação, uma vez que depois de divididas as despesas
com os insumos necessários para armar o barco, o lucro da produção é apropriado
individualmente.

Turismo
O turismo é efetuado em 3 modalidades: de pesca esportiva, passeio e mergulho
(Tabela 32). O dono do barco contrata um ajudante por diária, o qual tem a função de ajudar a
preparar o barco e manter a embarcação em bom estado de limpeza e organização para o
usufruto dos clientes. Ao dono do barco compete a definição das rotas conforme o público e o
passeio vendido.
A estrutura oferecida pelos barcos, geralmente, é a seguinte: churrasqueira, banheiro,
mesa, água e refrigerantes. A depender da “turma” que se esteja levando ao passeio, os
próprios clientes trazem as bebidas e carnes para o churrasco.

Tabela 32 - Matriz de avaliação do trabalho empreendido no turismo por pescadores da Urca, Rio de
Janeiro.
CRITÉRIOS/ATIVIDADES TRABALHO QUE DÁ LUGARES VISITADOS VALOR COBRADO*
Passeio O dono trabalha menos Baía de Guanabra
Suja pouco o barco Ilha Cagarras
Público fácil de se lidar R$ 300,00
Mergulho O dono trabalha menos Cagarras
a
Suja pouco o barco Redonda
Público fácil de se lidar Redondinha
450,00
Banco do Brasil (Laje da
Redonda)
Pesca esportiva Trabalha mais porque Cagarras
está difícil achar peixe Redonda
Suja o barco Redondinha
Público chato de se lidar Banco do Brasil (Laje da
Redonda)
Ilhas Tijucas
* Cobra-se esse valor para grupos de 10 pessoas (passeio) ou por saída para outras modalidades;
* Os gastos com combustível são de R$ 100,00, em média, por saída (atividade com duração de 8 horas +ou-)
* Diária paga ao ajudante: R$ 50,00.
Local: Quadrado da Urca Data: 16.05.2008
Participantes: Sílvio, Roberto e Zé.

Existem clientes que solicitam que o pescador capture peixes e em outras situações o
pescador entrega o peixe que captura para agradar o cliente. Em outros casos, enquanto os
clientes pescam, o pescador também pesca destinando esse pescado para consumo próprio
(familiar).

109

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Foram relatadas dificuldades de conseguir liberação da documentação necessária para


prática de turismo, pois a Marinha do Brasil não expede o número suficiente de autorizações,
de acordo com os pedidos feito pelos donos de embarcações.

Ficou evidenciado que a pesca profissional e o turismo de pesca esportiva são as duas
atividades-base responsável por ingresso de recursos financeiros regulares ao pescados e
possuem características sazonais: a pesca esportiva é a principal fonte de renda no verão e a
pesca profissional, garante o sustento no inverno (Tabela 33). Já o turismo de passeio, que
também acontece no verão, costuma ter uma frequência de procura mais reduzida se
comparado à pesca esportiva.

Tabela 33 - Matriz de Avaliação das atividades de pesca e turismo.


Critérios/Atividade Renda Impacto no ambiente Época
Turismo de pesca ••• • Durante todo ano (pico
esportiva no verão)

Turismo de Passeio • • Verão

Pesca profissional ••• • Inverno (pico)


(linha)

Legenda:
Importância: ••• Muito
•• -
• Pouco
Local: Quadrado da Urca Data: 15.07.2008
Participantes: Sidney; Donato; Amauri; Ricardo; Kátia; Matilde

Quanto à regularidade de renda, a pesca esportiva garante uma renda mais estável
quando comparada à atividade de pesca profissional, dado que, nessa última, existe forte
influência sazonal na captura dos recursos. A atividade de turismo, por outro lado, exige o
estabelecimento de estratégias de divulgação junto ao público-alvo, sendo as mais utilizadas:
a produção de folders e a internet.
Para os pescadores, nem a pesca profissional, nem a atividade de turismo causam
grandes impactos ao meio ambiente, pois há prevalência de uso de linha de fundo e molinete
nessas duas modalidades, permitindo que os peixes capturados abaixo do tamanho adequado
sejam novamente soltos na água. Sustentaram, contudo, que a pesca de traineira ocorrente
no entorno das Ilhas Cagarras, é a que mais contribui para a depredação do ambiente.

6.4 Conflitos e interferências externas


Os conflitos e problemas vivenciados pelos pescadores do Quadrado da Urca foram
identificados, principalmente, a partir da aplicação da matriz de conflito. Porém, durante os
demais encontros realizados durante o diagnóstico e, ainda, durante a oficina de mapeamento

110

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

de pesqueiros alguns aspectos foram destacados e outros surgiram. Dessa forma, ao debate
produzido em torno da matriz de conflitos (Tabela 34) foram acrescidas informações oriundas
dos demais encontros.
A apropriação dos recursos naturais na área de baía e no mar e o crescente número de
embarcações de grande porte que invadem a área costeira tem gerado inúmeros problemas e
conflitos para os pescadores que, sem uma atuação e controle efetivo por parte do órgão
fiscalizador, experimentaram uma queda significativa na produção pesqueira se comparada há
15 anos.
Os pescadores relataram por diversas vezes que os pescadores que utilizam redes
representam um dos principais atores envolvidos nas disputas pelos recursos pesqueiros,
comprometendo a garantia de reprodução dos mesmos.

Tabela 34 - Matriz de Conflitos – Quadrado da Urca.

Envolvido Barcos de Barcos Barcos Barcos de Barcos Órgãos de


s/ grande menores e Industrias Jurujuba traineiras; governo
Conflitos tonelagem de lanchas e
(Cabo grandes canoas
Frio;Angra tonelagem
; ES e SC)
Rede de •••••
Caceia

Rede Malha •••••


Miúda (Cerco
Pau Broca)

Desrespeito •••••
ao defeso

Pesca de •••
Bomba

Coleta •••••
irregular de
marisco

Pesca em •••••
área costeira
(cerco;
parelha;
arrasto)

Pesca de •••••
compressor

Poluição da ••••
baía e dos
emissários no
mar

Local: Quadrado da Urca Data: 28.05.2008


Participantes: Helio, Seu Armando, Santos, Ricardo, Sidnei, Noi, Bira, Zé, Jorge, Ângelo, Gilmar, Eduardo, Ulisses,
Nilson, Breno, Donato, Vitório, Seu João

111

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Os conflitos relativos ao uso da rede de caceia envolvem a operação de barcos de


grande tonelagem, com mais de 15 metros de comprimento, cujos portos de origem são:
Angra dos Reis, Cabo Frio, Espírito Santo e Santa Catarina. Essas redes são colocadas
próximas aos costões e, mais frequentemente, na área compreendida entre as Ilhas Redonda e
das Palmas. Além de serem extensas e “atacarem” os cardumes durante seu percurso natural,
prejudicam a captura de inúmeros recursos por pescadores de outras artes que possuem
menor mobilidade e poder de pesca. Como é colocada muito próxima aos costões, as fortes
correntes de mar podem causar avaria ou perda dos petrechos, fazendo com que as redes se
prendam às pedras e fiquem emalhando qualquer peixe e não somente o recurso-alvo dessa
pescaria. Outro ponto destacado durante a avaliação desse conflito, foi o fato de que as
embarcações de Santa Catarina passaram a invadir a região do Rio de Janeiro por conta de
proibições e fechamentos de áreas de pesca em seus portos de origem.
Os “pau broca” é a denominação dada às grandes embarcações de cerco, com alto
poder de pesca, cujo aparelhamento tecnológico avançado lhes permite identificar, por meio
de sonar, cardumes disponíveis em um raio de 1 Km2, segundo os pescadores. Primeiramente,
foi colocado que a malha das redes são miúdas e por isso haveria de ter a revisão da legislação
que permite esse tamanho de malha (utilizada para captura de sardinha). Depois de um certo
tempo, chegaram a um consenso de que o problema maior, na verdade, são as características
da operação da rede que ao ser recolhida tem sua malha esticada capturando todo o tamanho
de pescado disponível na área e que, muito embora tenham autonomia para operar em
profundidades maiores, é comum vê-las operando dentro do setor explorado pela frota
artesanal. Como resultado, os pescadores se ressentem do fato de que esses barcos estejam
solapando espécies que estão na base da cadeia alimentar de recursos-alvo importantes para a
continuidade da pesca artesanal, como a sardinha, por exemplo e esperam alguma resposta
em termos de legislação específica ou fiscalização que contenha os abusos praticados. Como
conclusão da análise, houve uma grande discussão sobre a destinação dos recursos capturados
pelos “pau broca” , muitos deles de primeira qualidade (nobres) que são destinados à
fabricação de farinha, ou seja, a fins não condizentes com seu valor comercial.
De fato, esse tipo de pescaria requer investimentos bastante altos. Em conversa com
um proprietário de barcos de cerco em Jurujuba, este informou que uma rede de traineira de
cerco industrial (11 panos de comprimento= 550 metros X 7 panos de altura ± 43 braças)
pode custar R$ 200 mil, afora os custos de licenciamento para pesca de sardinha. Assim, para
o pequeno pescador fica evidente a assimetria existente entre ele e os empresários de
traineira, aumentando o sentimento de injustiça e de expropriação que vem sofrendo com
relação a sua área de atuação no espaço marinho.
O terceiro conflito apontado envolve os pescadores em geral sem distinção de tamanho
de frota. É praticado por diversas embarcações na área de baía e no mar e ocorre,
principalmente, pela falta de fiscalização.

112

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

A pescaria com bomba, embora acreditem que não seja tão frequente como no
passado, foi colocada como um conflito na medida em que seus efeitos sobre a produtividade e
o ambiente ainda são percebidos. Os pescadores relataram que era bastante comum no
período anterior à semana santa, quando canoas de Niterói e lanchas que atendiam
encomendas com influência política, arrasavam com pescados na volta da Ilha Cotunduba.
Mergulhadores retiravam muitos peixes de grande valor comercial: cherne, badejo e garoupa.
Segundo relataram, após uma ação da Polícia Federal esse tipo de pesca desapareceu.
O quinto conflito é decorrente da coleta de mexilhão em 3 ilhas do arquipélago das
Cagarras (Cagarra Grande, Palmas e Comprida) por embarcações provenientes de Jurujuba.
Segundo os pescadores da Urca, a coleta é realizada, muitas vezes, de forma predatória
afetando o ambiente e os pescados em geral.
A operação dos barcos de grande porte que realizam pesca de cerco, parelha e arrasto
é entendida como prejudicial a todas às demais pescarias e foi definida com o sexto conflito
identificado. Afeta, principalmente, a reprodução das espécies pois não há seletividade, o
arrasto das redes depreda o fundo, prejudicando o ambiente e a reprodução dos recursos (na
área de baía) e não há fiscalização que coíba tal conduta. Embora tenha recebido a pontuação
máxima permitida na avaliação, os pescadores relataram que esse é o principal conflito.
Relataram também que, em determinada época do ano, observam dois barcos japoneses
atuando com atração luminosa próximo às Cagarras. A técnica utilizada, segundo eles, é a de
puxar a lula através de uma mangueira junto com água, devolvendo a água e ficando somente
a lula.
A pesca de compressor envolve pessoas da cidade do Rio de Janeiro, cujos barcos
ficam sediados nos clubes, em geral, pequenas lanchas bem equipadas. É considerada uma
pescaria cara, estimando seus custos em torno de R$3.000,00 por saída. Os proprietários sub-
locam os barcos para os pescadores que fazem essa pescaria, a fim de atender encomendas
efetuadas por consumidores fiéis (japoneses). Além dos peixes ornamentais, costumam
capturar polvo, cavaquinha, garoupa e lagosta.
O último conflito listado diz respeito à poluição da Baía de Guanabara e do mar, esse
último causado pelo despejo de dejetos pelo emissários submarinos, os quais não possuem
tratamento primário. Apesar de de prover aporte de nutrientes, preocupam-se com a
qualidade do pescado comercializado.
A criação de uma Unidade de Conservação em Cagarras embora não tenha sido
colocada como um conflito durante a elaboração da matriz descrita acima, permeou, como não
poderia deixar de ser, várias das discussões durante o diagnóstico. Sendo assim, vale colocá-
las dentro desse item uma vez que, a formulação da proposta pelo IBAMA/ICMbio se define
como um conflito estabelecido.
Em uma das oportunidades, um dos pescadores, com o endosso dos demais presentes,
foi enfático ao dizer que os pescadores não querem uma UC que restrinja o exercício da pesca.

113

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Se mostram mais favoráveis a discutir propostas e estratégias que permitam o uso sustentável
do ambiente a partir de um certo regramento e ordenamento de recursos, pois entendem que
se deva preservar o meio ambiente e a atividade de pesca. Para eles o IBAMA não existe como
órgão fiscalizador; várias foram as denúncias efetuadas sem que o órgão tenha tomado
qualquer providência.
A ausência de ações de fiscalização foi citada como um fator que inviabiliza a solução e
controle de vários conflitos existentes e, acaba por contribuir, para a própria redução dos
estoques pesqueiros. Assim, na opinião deles, caso a legislação existente fosse cumprida e a
fiscalização ocorresse de forma estratégica e efetiva, não se precisaria discutir a criação de
unidade de conservação. Como exemplo, sugeriram que poderia haver corredores livres de
pesca; sustentaram também que se a legislação que proíbe o cerco de traineira fosse
cumprida, muitas espécies se recuperariam, pois, recentemente em que se estava no período
de defeso, o xerelete, anchova e a cavalinha voltaram a aparecer.
Acreditam também em inciativas em que os pescadores possam colaborar nas ações
(fiscal colaborador). Porém, são totalmente contrários a denúncias onde o pescador tenha que
que se identificar, pois temem por represálias dos barcos maiores (arrastões do sul do país –
SC e RS e das traineiras) quando estiverem no mar.

6.5 Entidades representativas da classe pesqueira e aspectos da organização


social dos pescadores
Os pescadores do Quadrado da Urca estão sob a jurisdição da Colônia de Pesca Z-13 de
Copacabana e muitos encontram-se filiados a ela.
A associação do lugar – AUQUA, apesar de criada em 12/02/1992 está dissolvida e,
sem presidente. O A AUQUA, de acordo com informações obtidas possui cerca de 180 filiados.

114

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

ASPECTOS TECNOLÓGICOS E BIOLÓGICOS DA PRODUÇÃO PESQUEIRA ARTESANAL

6.6 Petrechos de Pesca e características da frota

A frota pesqueira utilizada é heterogênea no que diz respeito às características físicas


das embarcações, ou seja, quanto ao tamanho do barco e potência de motor, pois existem
traineiras de tamanhos e motores variados (cerca de 35), além de pequenas baleeiras (cerca
de 15) (Figura 43). A pesca de linha (Tabela 35) ocorre com mais intensidade durante os
meses de inverno, a partir da utilização de iscas naturais e artificiais (Figura 44).

Tabela 35 - Características da pesca de Linha.


Tipos de peixe Tamanho do Anzol Iscas
Xerelete Zero Sardinha (compra* ou tarrafa)
Corvina
Espada a Camarão (compra* ou tarrafa)
Anchova
Olhete Cinco Artificial (zangareio ou lambreta)
Olho de Boi
Pargo
Marimbá
Robalo
Garoupa

* Mercado São Pedro ou Jurujuba


Local: Quadrado da Urca Data: 16.05.2008
Participantes:Nilson; Zé; Sílvio; Roberto; Seu Armando.

Figura 43 - Embarcações pesqueiras da Urca, Rio de Janeiro.

115

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Figura 44 - Iscas artificiais utilizadas pelos


pescadores de linha em Copacabana.

116

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

PRODUÇÃO POR RECURSO, SAZONALIDADE E RENDIMENTO

6.7 Produção por recurso, sazonalidade e rendimento

O calendário sazonal de produção da pesca de linha foi construído pelos pescadores, a


partir das principais recursos capturados.
Na tabela abaixo, estão expressas a avaliação sobre a quantidade de captura. Pode-se
observar que determinados recursos têm safras no verão, outros no inverno e alguns
apresentam uma captura estável ao longo do ano (Tabela 36).

Tabela 36 - Calendário Sazonal de Produção.


Mês/Pescado Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Olho de Cão X X X X X X X X X X X X
Lula X X X X X X X X X X X X
Corvina X X X X X X X X X X X X
Maria Mole X X X X X X X X X X X X
Anchova X X X X X X X X X X X X
Bicuda X X X X X X X X X X X X
Xerelete X X X X X X X X X X X X
Marimbá X X X X X X X X X X X X
Olho de Boi X X X X X X X X X X X X
Olhete X X X X X X X X X X X X
Peixe Espada X X X X X X X X X X X X
Pargo X X X X X X X X X X X X
Robalo X X X X X X X X X X X X
Badejo X X X X X X X X X X X X
Legenda: X Boa X Razoável X Pouco
Local: Quadrado da Urca Data: 15.07.2008
Participantes:Donato; Amauri; Ricardo; Kátia

A base da produção local está centrada na anchova, olhete, espada e pargo pois são
peixes que apresentam regularidade de captura durante o ano, ainda que o tamanho varie
conforme a época. Para o pescador, o peixe gosta de movimento e vem atrás de comedoria;
porém, a temperatura e a cor da água também influenciam a captura do recurso. Alguns
exemplos são colocados a seguir:

Olho-de-cão: gosta da água fria no verão e gosta do Sol;


Lula: idem ao olho-de-cão, foi pouco capturada em 2008 por causa da rede de arrasto;
Corvina: gosta da água fria no verão, a produção é maior dentro da baía;
Maria mole: costuma ser captura mais em mar aberto “mais pra fora das Cagarras”;
Anchova: estável o ano todo, porém capturam anchovas maiores durante o inverno. O preço
mais alto é atingido no inverno, entre R$10,00 e R$12,00/quilo (porque é escasso), nas outras
117

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

épocas vendem por R$6,00 ou R$7,00.


Pescada bicuda: “nem apareceu por esses tempos”;
Xerelete: é constante, porém com pico no inverno;
Marimbá: “não tem predador”;
Olhete: “tem o ano todo”;
Olho de boi: escasso quase o ano todo, com um pouco mais durante o inverno;
Espada: migra muito e geralmente são grandes cardumes. Normalmente se encontra com
facilidade porque os pescadores de rede não gostam de capturá-la “detona a rede”;
Pargo: estável – principalmente na água fria próximo as Cagarras;
Robalo: alto valor comercial, mais pescado na pesca esportiva;
Badejo: idem ao robalo.

6.8 Áreas e locais de pesca


As áreas e locais de pesca foram mapeados de duas formas e em momentos distintos:
na primeira fase do campo, se utilizou como estratégia um mapeamento preliminar dos
pesqueiros utilizados, a partir da identificação destes em uma carta náutica. Os mapas
preliminares facilitaram o diálogo inicial e abordagem das demais atividades propostas aos
pescadores, colaborando, inclusive, para a compreensão da equipe técnica acerca de outros
itens do roteiro de campo.
Na segunda fase do campo foi realizada uma oficina de mapeamento de pesqueiros no
dia 17 de fevereiro de 2009, de onde se obteve informações mais detalhadas sobre esse tema
(Anexos 3 e 5).
Os resultados demonstraram que os pescadores do Quadrado da Urca possuem uma
área de atuação que se define, a partir da saída da boca Baía de Guanabara (incluindo os
costões dos fortes e da praia Vermelha) e se estende, ao norte, até as Ilhas Tijucas. Sua
localização se dá a partir de marcas em terra ou, pelo uso de GPS.
A freqüência de uso dessas áreas varia conforme a disponibilidade do recurso nesses
ambientes, a época do ano, o vento, a água e o tipo de material utilizado na pescaria. Os
pescadores de todo o dia, cerca de 3 no Quadrado da Urca, utilizam determinados pesqueiros
com mais frequência do que aqueles que se dedicam também ao turismo de pesca esportiva.
Por exemplo, os pescadores que usam isca artificial (muito próxima das pedras), consideram
que todos os pesqueiros sejam importantes ao longo do ano. Já para os que pescam com linha
de fundo (de todo o dia), as características sazonais interferem mais na escolha e frequência
dos pesqueiros.
Relataram que a busca por pesqueiros mais distantes da área de baía se iniciou nos
anos 80, quando os barcos industrias oriundos de Itajaí (SC) começaram a operar na área da
boca da Baía, contribuindo rapidamente para a queda da produtividade de pesqueiros
tradicionalmente por eles utilizados. Nessa época a entrada da Baía era considerada um ótimo

118

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

pesqueiro, onde o pescador capturava muita anchova grande (com aproximadamente 8


quilos). Hoje, o pescador precisa percorrer distâncias maiores para encontrar o peixe e
enfrentar mais concorrência de pequenos e grandes barcos que operam em volta das Ilhas e
nas áreas adjacentes. É comum que os grandes barcos (de arrasto e cerco) fiquem observando
as rotinas de pesca dos barcos artesanais a fim de mapear os pesqueiros de linha para lá
colocarem suas redes. Por isso, os pescadores reivindicam medidas de ordenamento que
impedissem o uso de determinadas áreas por barcos de rede.
O uso dos pesqueiros próximos às ilhas e no seu entorno varia conforme o recurso-alvo.
Como a grande maioria é de peixes migratórios, a depender da maré, da água e do vento, o
peixe pode mudar de lugar e ser encontrado em pesqueiros diferentes, mas sempre próximos
às ilhas e áreas adjacentes.
Dada a grande diversidade de pesqueiros, se procurou classificá-los a partir da
relevância econômica para os pescadores, seguido da descrição dos principais recursos
capturados em cada um deles (Tabela 37).

6.9 Áreas utilizadas como abrigo em mau tempo

Durante a oficina de mapeamento participativo (Figura 45), também foram identificadas as


principais áreas utilizadas como abrigo pelos pescadores do Quadrado da Urca:

-­‐ Parte interna das Cagarras: utilizam para abrigo e pesca de lula a noite, na ponta sul da
Comprida pescam muito;
 
-­‐ Ponta leste da Comprida: quando entra o sudoeste  

Figura 45 – Oficina de mapeamento participativo com pescadores do Quadrado


da Urca, Rio de Janeiro.
119

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Tabela 37 – Principais pesqueiros utilizados na pesca de linha e sua relativa importância na constituição
da renda entre os pescadores de Quadrado da Urca.
Pesqueiro Importância para Recursos principais
constituição da
renda
PONTA SUL DA COMPRIDA $5 Garoupa, olhete, moréia, bicuda, espada
(entra em fevereiro), olho-de-boi

LAJINHA DAS CAGARRAS $5 Anchova, bicuda, olho-de-cão, xerelete,


pampo, galhudo, olho-de-boi, olhete,
xaréu, lula, marimbá, espada
(principalmente no verão)

SURRIÁ $5 Anchova, olho-de-cão, marimbá, bicuda,


enxada (difícil de pegar na linha), cangulo-
peruá, peixe porco,

PALMAS $5 Pargo, xerelete (muita quantidade),


cavalinha, bicuda, espada

REDONDA $5 Olhete, olho-de-boi

BURACÃO DA COMPRIDA $5 Anchova, marimbá e bicuda

CANAL DO PASSARINHO $4 Bicuda, marimbá, olho-de-cão, olho-de-


boi, pirajica, boca de fogo

CANAL ENTRE REDONDA E BCO $4 Marimbá, pirangica, anchova


DO BRASIL + SOMBRA DA
MULATA

CANGOLÂNDIA $3 Pargo, pitangola, cangulo (por isso o


nome), piruá, cavalinha, xixarro, peixe
porco, olho-de-cão (fevereiro)

BAIXIO DA RASA $2 -

ÂNCORA $2 -

SOMBRA DA MULATA E FOCINHO $2 Pargo, anchova, bicuda, espada,


DE PORCO pescadinha, marimbá

PRAIA VERMELHA $2 Lula, corvina

BANCO DO BRASIL $1 Marimbá, pirangica, anchova

BOCA DA BARRA $1 Anchova, pororoca, bicuda, marimba, olho-


de-cão, bagre (canal), robalo (boca da
Barra com isca viva)

COTUNDUBA $1 Marimbá, anchova

120

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

INFRA-ESTRUTURA, COMERCIALIZAÇÃO E MERCADO

6.10 Insumos, meios de produção, demanda de mercado e despesas no


exercício da atividade pesqueira

Algumas embarcações do Quadrado da Urca sã traineiras que possuem casario e porão


(n=35) e outras são baleeiras (cerca de 15), mas em geral, os pescadores fazem uso de caixas
de plástico para acondicionar o pescado capturado. Como não há espaço destinado à limpeza e
comercialização dos produtos da pescaria, os pescados são entregues direto aos entrepostos
de pescado, peixarias ou aos restaurantes que compram sua produção.
Os insumos necessários à realização da atividade de pesca (combustível, gelo e isca),
bem como os meios de produção (barco, motor e petrechos de pesca) são adquiridos nas
cidades de Niterói e do Rio de Janeiro. Em média, os custos para armar uma traineira para
fazer uma saída de uma semana giram em torno de R$ 3.000,00 e os ganhos variam conforme
a quantidade e qualidade do pescado.
A demanda de mercado foi avaliada por meio da ferramenta “entra e sai, de onde vem
para onde vai”. Consiste na análise dos recursos mais importantes na geração de receita, ao
longo do ano.
Foram listadas 8 recursos como representativos do desembarque do pescado capturado
pela pesca de linha (Tabela 38).
Os custos envolvidos no turismo de pesca esportiva foram estimados a partir da
simulação de uma saída. O insumo principal é o óleo diesel, geralmente, cerca de 40 a 50
litros por saída (variando conforme o tamanho da embarcação)(Tabela 39). Os custos
envolvidos com a manutenção da embarcação são variáveis, sendo:
- 1 lata de tinta: R$60,00 a cada 4 meses (para a pesca esportiva é necessário manter a
boa aparência da embarcação)
- Manutenção do motor: pode ser feito pelo próprio dono
- Parte elétrica: manutenção permanente
- Bateria: R$ 400 – R$500,00 troca deve ser feita a cada ano.

O preço de um motor novo foi estimado conforme a potência do mesmo, sendo os


seguintes:
- 3 cilindros: R$12.000,00;
- 4 cilindros: R$15.000,00;
- 6 cilindros: R$20.000,00

121

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Tabela 38 - Entra e sai da pesca profissional realizada no Quadrado da Urca.


De onde vem Entra Produto Renda Para onde vai
Niterói Isca Pescada bicuda* -------------- Mercado São Pedro

Centro da cidade Óleo


Anchova* ------------------- Mercado São Pedro
Copacabana Linhas
Barcos Marimbá* ---------- Exportação

Olho de cão* -------- Mercado São Pedro +


Urca (pouca
quantidade)

Jurujuba (pouca Gelo Pargo** ---------------- Mercado São Pedro


quantidade)

Ponta da Areia (muita Xerelete** ----------- Mercado São Pedro


quantidade)
Corvina** ----- Mercado São Pedro

Lula ------------------------- Restaurantes japoneses

* pesca noturna usando sardinha como isca;


** pesca diurna usando sardinha e lula como iscas
Local: Quadrado da Urca Data: 16.05.08
Participantes: Sílvio, Zé e Roberto

Tabela 39 - Custos e preços de saída de barco para o turismo na Urca, Rio de Janeiro.
Item Custo
Combustível – diesel (40 litros X R$ 1,95) R$ 78,00
Pagamento do ajudante (por saída) R$ 100,00
Preço do pacote R$ 250,00*
*R$250,00 para 13 pessoas; R$300,00 para 10 pessoas e R$350,00 a 400 para 8 pessoas

122

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

7. JURUJUBA - NITERÓI

A enseada de Jurujuba está localizada no município de Niterói, justamente na porção


mais estreita da Baía de Guanabara em sua saída para o mar (Figura 46 e 47). As áreas
visitadas durante o diagnóstico foram aquelas com maior concentração de pescadores.
Jurujuba apresenta a comunidade com maior número de pescadores, embarcações e volume
de pescado desembarcado dos municípios de Rio de Janeiro e Niterói. Foi selecionada como
comunidade alvo deste estudo em função da presença significativa de embarcações de grande
porte que utilizam a área, e pelo elevado número de extrativistas de mexilhão Perna perna que
utilizam intensamente as áreas adjacentes ao arquipélago das Cagarras.

Figura 46 - Jurujuba (ponto vermelho na imagem à direita), Niterói (Rio de Janeiro).

Figura 47 - Enseada de Jurujuba, Niterói.

123

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Tabela 40 - Resumo das principais atividades de campo realizadas em Jurujuba (Niterói).


Data Ferramenta Itens do roteiro Participantes

29.08.08 Matriz de avaliação do trabalho 2 pescadores


na manutenção de redes de
caiçaras e cerco
27.08.08 Matriz de divisão do trabalho no 3 maricultores
extrativismo de mexilhão
05.06.08 Entrevista aberta Presidente ALMARJ/FAPESCA

06.06.08 Entrevista aberta e matriz de Áreas de pesca, divisão do 2 pescadores


avaliação trabalho, tecnologia de pesca

04.09.08 Fluxograma do produto Comercialização 1 pescador/maricultor


(mexilhão)

04.09.08 Matriz de avaliação (pesca 1 pescador/maricultor


Baleeira)

27- Entrevista aberta Áreas de pesca 2 maricultores


29.08.08

27.08.08 Entrevista aberta Tecnologia pesca, dados 2 maricultores


socioeconômicos

27.08.08 Matriz de avaliação do trabalho Recursos, sazonalidade, área de 3 maricultores


de coleta e cultivo, calendário pesca
sazonal dos pesqueiros e gráfico
de importância dos pesqueiros de
mexilhão
27.08.08 Entrevista aberta Conflitos 1 dono de embarcação
27.08.08 Entrevista aberta Tecnologia pesca polvo, áreas de 1 pescador aposentado
pesca, conflitos
28.07.08 Entrevista aberta Divisão trabalho e renda 1 Redeiro
28.07.08 Entrevista aberta Associativismo 1 maricultor

28.07.08 Entrevista aberta e relógio de Áreas de pesca, tecnologia, 1 maricultor


rotina sazonalidade
28.07.08 Entrevista aberta Tecnologia, beneficiamento, 1 maricultor
divisão trabalho, associativismo
28.07.08 Entrevista aberta Recursos, áreas de pesca, conflitos 1 dono de embarcação

28.07.08 Entrevista aberta Associativismo, conflitos 1 maricultor


28.07.08 Entrevista aberta Tecnologia, insumos 2 redeiros

28.07.08 Entrevista aberta Tecnologia extração 1 Maricultor


28.08.08 Calendário sazonal de produção Sazonalidade e recursos 4 pescadores de rede caiçara

28.08.08 Calendário sazonal de preço de Renda, comercialização 4 pescadores de rede caiçara


recursos
29.08.08 Entrevista aberta Área de pesca, tecnologia 1 pescador de baleeira
29.08.08 Entrevista aberta Aspectos gerais da atividade 1 maricultor não vinculado à
ALMARJ
29.08.08 Entrevista aberta Tecnologia 1 pescador de rede caiçara

29.08.08 Entrevista aberta Divisão trabalho, tecnologia, renda 2 Redeiros


29.08.08 Entrevista aberta Cadeia produtiva 1 atravessador não vinculado à
ALMARJ
29.08.08 Entrevista aberta, relógio de 2 maricultores Ponta da Ilha
rotina e caminhada guiada
04/09/08 Matriz de avaliação do 3 descascadeiras de Mexilhão
beneficiamento do mexilhão
01/10/08 Entrevista aberta Comercialização 1 armador e comerciante de
insumos pesqueiros

124

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

ASPECTOS GERAIS DA COMUNIDADE PESQUEIRA

7.1.1 Aspectos socioeconômicos

Soares (2003) realizou um levantamento socioeconômico do bairro de Jurujuba,


constatando que este possuía cerca de 1173 famílias e aproximadamente 4000 habitantes em
2002. Ela registrou que a representatividade da pesca vêm diminuindo ao longo do tempo em
Jurujuba. Em 2002 eram apenas cerca de 7% de pescadores contra 25% na década de 70
(Duarte, 1978).

Segundo a autora, cerca de 17% dos chefes de família entrevistados (n=249) eram
pescadores, dos quais aproximadamente a metade se engajavam em atividades produtivas
fora da pesca como complemento econômico. Soares (2003) notou também que a média de
rendimentos daqueles chefes de família que de alguma maneira se inseriam na pesca é 18%
menor do que os não pescadores.
No entanto, alguns informantes do nosso estudo entendem que diante da crise social
presente no Rio de Janeiro, a prática da pesca ainda pode trazer as condições econômicas
mínimas dignas de uma vida próxima ao mar e afastado da criminalidade e prostituição.
Segundo uma liderança comunitária entrevistada, a pesca em Jurujuba é muito diversificada
em sua composição tecnológica e áreas/recursos explorados. Isto pode oferecer alternativas
ao pescador, que pode dependendo da situação e contexto, inserir-se na complexa e diversa
cadeia produtiva (ex. pesca artesanal ou industrial, maricultura, manutenção).
Quanto à escolaridade dos chefes de família pescadores, Soares (2003) não observou
pescadores com nível médio completo. Enquanto isto, o nível de escolaridade dos não
pescadores foi acentuadamente maior.
O padrão de desenvolvimento da comunidade em Jurujuba segue um modelo observado
em outras localidades do litoral brasileiro (Diegues, 1983). Por um lado, a rápida modernização
tecnológica dos meios de produção pesqueira (instrumentos de navegação e localização de
cardumes) afasta o pescador do domínio e conhecimento sobre todo o processo de trabalho.
Por outro lado, a acumulação de variáveis poluentes e impactantes nesta região altamente
urbanizada soma-se ao número de embarcações pesqueiras cada vez maiores que compõem
uma frota com crescente poder de pesca. Nota-se ainda que os estoques mais abundantes de
pescado são encontrados cada vez mais distantes, dificultando assim o acesso pelos pequenos
pescadores.
Soares (2003) estudou a crise da atividade pesqueira em Jurujuba. Segundo ela, a
sustentação de uma identidade era baseada na reprodução de um know-how e da prática do
extrativismo pesqueiro na Baía de Guanabara e adjacências. A dificuldade é grande para o
pequeno pescador, aquele que deseja uma maior independência sobre a prática produtiva
individual. A saída tem sido procurar outras alternativas, como o trabalho em barcos maiores
(ex. pesca de traineiras e de redes caiçaras), ou abandonando a atividade pesqueira. Soares

125

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

(2003) constata o que chama de ‘dissolução da identidade’ dos pescadores, que garantia a sua
reprodução sócio-cultural de forma autônoma.
Não são apenas os pequenos pescadores que enfrentam problemas, armadores e donos
de embarcações maiores também já demonstram claros indícios de crise pesqueira. O caso de
Jurujuba evidencia assim os custos sociais da falta de uma política ambiental presente e de
ações efetivas relacionadas à gestão da atividade.
São muitas as práticas de pesca em Jurujuba, refletindo a diversidade de recursos
pesqueiros da região e várias escalas da produção pesqueira do local (ex. variando de
pequenos pescadores artesanais autônomos até proprietários de médias e grandes
embarcações). Parece-nos, ao observar a diversidade de práticas pesqueiras existentes nesta
comunidade, que um grande número de nichos de pesca estão ocupados em certo grau.
Descrevemos aqui aqueles que consideramos como principais atividades práticas pesqueiras,
seja em função da representatividade de captura e número de pescadores/embarcações, ou
pelo próprio reconhecimento enquanto importante prática cultural pelos nossos informantes.
Em Jurujuba, enquanto as embarcações menores (<8m) ocupam-se na Baía de
Guanabara, costões e ilhas da região, grandes embarcações (9-11m) equipadas com redes de
cerco (traineiras) e emalhe (caiçaras) utilizam uma área maior, incluindo a zona costeira do
estado e entorno das ilhas Cagarras. Embarcações provenientes de Angra dos Reis (RJ)
também são frequentemente observadas em Jurujuba, utilizando a estrutura presente no local
para o desembarque do pescado.

Figura 48 - Panorama da praia do Cascarejo, onde habita uma


parcela dos pescadores e maricultores de Jurujuba, Niterói.
 

126

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

7.1.2 Conflitos identificados


Embora não tenha sido possível aplicar a ferramenta de matriz coletiva de conflitos
para os pescadores de Jurujuba, descrevemos aqui as principais problemáticas apontadas
pelos pescadores ao longo do trabalho de campo.
A falta de fiscalização na área marinha da região é sem dúvidas o mais recorrente
problema apontado pelos pescadores e maricultores de Jurujuba, como identificado também
por Soares (2003). Normalmente, quando o IBAMA de alguma forma foi citado em
determinado assunto, sempre foi acompanhado de reclamações quanto à ausência institucional
deste órgão na fiscalização. Os problemas e ilegalidades praticadas na atividade pesqueira da
região são muitos, assim como a poluição e outros problemas ambientais. Parece, no entanto,
muito latente a percepção dos pescadores quanto à ineficiência total deste órgão. Em alguns
contatos realizados, a competência do IBAMA em fiscalizar uma possível Unidade de
Conservação marinha foi alvo de questionamentos. Os pescadores também desconheciam as
recentes mudanças institucionais e atribuições do novo órgão gestor das unidades de
conservação, ICMBio. A ineficiência dos órgãos municipais e estaduais de meio ambiente na
fiscalização também foram criticados por alguns.
Outro conflito frequentemente citado é o impacto causado pela barca que transita pela
enseada de Jurujuba com bastante freqüência, fazendo a linha Charitas-Praça XV. Os
pescadores reclamam haver perdido áreas de pesca localizados na rota da barca, além da
suspensão de sedimentos causada por ela principalmente nas áreas mais rasas da enseada de
Jurujuba. Maricultores também reclamam que a barca, quando parte em velocidade superior
àquela permitida, produz ondas prejudiciais ao sistema de cultivo de mexilhões. Torres (2006)
verificou que a comunidade de Jurujuba reconhece que o terminal hidroviário trouxe uma série
de desvantagens, entre elas: não beneficiou comunidades mais pobres; transtornou o local
que era tranqüilo e prejudicou o meio ambiente.
A sistemática perda de áreas de pesca para outras atividades econômicas foi
frequentemente citada pelos pescadores de Jurujuba. O problema, algumas vezes, serve de
argumento para sustentar a previsão pessimista de que os pescadores artesanais estão
desaparecendo no Rio de Janeiro. A este problema soma-se à diminuição da produtividade dos
pesqueiros mais próximos da costa. Em tempos recentes, há um perceptível aumento da
demanda pela área marinha para os seguintes usos: i) tráfego crescente de navios (incluindo
petroleiros); ii) maior número de plataformas de petróleo; iii) maior número de embarcações
pesqueiras; iv) aumento do número de barcaças (Figura 49) e rotas de tráfego; v) tubulações
de óleo e gás criam grandes áreas de exclusão da pesca (500m) ou impedimento de acesso;
vi) aterros em diferentes locais diminuíram áreas de pesca; vii) proibição de pescar próximo ao
arsenal da marinha, aeroporto e Iate Clubes;
Este uso múltiplo e intenso do espaço marinho traz enormes desafios em termos de
gestão. No entanto, a legislação vigente é complexa e pouco compreendida pelos pescadores

127

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

de maneira abrangente, conforme pode ser percebido no discurso de um pescador de


Jurujuba:

“Tão criando ultimamente tantos obstáculos para o pescador, que o pescador está ficando
desorientado. Ele já perdeu o Norte dele. Então, pra o pescador passar a entender Leis
Ambientais, Leis não sei do quê...Então eles têm que trazer as informações de maneiras claras,
tipo o Bê A Bá...Para que então se integrem a tantos e tantos projetos de estudiosos aí que está
colocando.” Vilmar.

Figura 49 – Balsa rápida durante travessia entre Rio de Janeiro e


Niterói (Charitas).

7.1.3 Aspectos gerais da organização social dos pescadores

Colônia Z-8
Existem cerca de 12.000 associados na Colônia Z-8, cuja jurisdição vai de Jurujuba à
São Gonçalo, no entanto apenas 400 pescadores estão legalizados em Jurujuba. A
mensalidade é de R$2,00. A secretária da filial da colônia afirmou que mesmo com esse valor
baixo, os pescadores somente pagam quando precisam solicitar o seguro-desemprego. A sede
da Colônia, situada no centro da cidade, dispõe de serviço de dentista e de assitência jurídica
para os associados.

ALMARJ
A ALMARJ (Associação Livre de Maricultores do Rio de Janeiro) é uma entidade
representativa dos maricultores de mexilhão Perna perna, fundada em 1992 na comunidade de
Jurujuba. Esta é a associação com maior organização administrativa e estrutura física de

128

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

beneficiamento de mexilhões em Jurujuba.


Segundo Roldan & Christensen (2004) a ALMARJ foi criada tendo como base 30 famílias
de marisqueiros, com o apoio da Secretaria de Educação, Secretaria de Urbanismo e Meio
Ambiente (prefeitura Niterói) e a Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro
(FIPERJ).
A estrutura física e equipamentos para o beneficiamento foram construídos na década
de 1990, através de doações recebidas junto ao programa LIFE/PNUD (Local Initiative Facility
for Urban Environment / Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) em 1994 (US$
30mil), a Prefeitura de Niterói (US$ 30mil) em 1998 e o governo do Estado do Rio de Janeiro
(US$ 30mil) em 1999.
Em 2004, Roldan & Christensen (2004) relatam a existência de 90 sócios e 1250
pessoas trabalhando direta e indiretamente através da ALMARJ. Destes 90, cerca de 50 eram
“profissionais” (sem direito a cargos de diretoria) e 30 “fundadores” (com direito a cargos na
diretoria).
A ALMARJ possui um histórico de parcerias com universidades e outros órgãos de
assistência técnica, as quais possibilitaram a melhoria do processo de beneficiamento e o
direito ao SIE (Serviço de Inspeção Estadual). Com esta certificação, possuem acesso a um
mercado consumidor mais amplo em todo estado do Rio de Janeiro. Embora o SEBRAE já
tenha oferecido o apoio à formação de uma cooperativa, os maricultores optaram pelo trabalho
através de uma associação. As instalações de produção da ALMARJ começaram em 1991.
Alguns pescadores não associados à ALMARJ comentam que no início parecia que a
intenção era criar apenas uma associação, mas houve um momento de separação. Esta
separação ocorreu gradualmente no momento que os sócios fundadores começaram a ter
privilégios. Segundo Vilmar e Anderson (maricultores), o estatuto da ALMARJ agora está sendo
revisado para poder dar maior inclusão para outras pessoas. No entanto alguns associados não
aceitam que pessoas que não participaram do início e esforço original consigam benefícios
iguais.

Associações na Ponta da Ilha


No local chamado Ponta da Ilha permanecem mais de 10 famílias que possuem na
maricultura importante atividade econômica. A área de cultivo utilizada por eles encontra-se
na porção mais externa da praia e do costão rochoso.
Existem duas iniciativas de associativismo no local. Tivemos a chance de conversar com
os maricultores (Vilmar e Anderson) que estão organizando a Associação de Maricultores
Amigos do Mar (já com CNPJ). A associação ainda não possui estrutura própria, mas estão
atuando junto ao Patrimônio da União para obter concessão legal de uso da área onde estão
instalados.
Embora os maricultores da Ponta da Ilha estejam divididos em duas associações, o

129

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

trabalho na maricultura é feito de maneira conjunta. A idéia inicial de formar uma única
associação de Ponta da Ilha era ter um grupo forte para romper com a ALMARJ. No entanto,
em função de motivos não muito claros, houve um momento de separação em Ponta da Ilha
na formação de uma única associação.

7.1.4 Aspectos da infra-estrutura e comercialização do pescado em Jurujuba


O píer da Colônia Z-8 (Figuras 50 e 51) é o principal ponto de desembarque de pescado
em Jurujuba (em termos de volume desembarcado), e pode ser utilizado por qualquer
pescador, desde que este pague uma taxa de desembarque no valor de R$ 20,00/tonelada
desembarcada. Exceção é feita para as pequenas embarcações baleeiras, que não pagam pelo
uso do píer. A colônia não fornece nenhuma outra estrutura, sendo as caixas (tabuleiros)
fornecidas pelo comprador do pescado e o gelo adquirido por conta do armador. A
comercialização é normalmente feita entre o pescador e o transportador (este último embarca
o peixe no caminhão e transporta até o destino). Aqueles que compram para a revenda
possuem estrutura de transporte e comercialização. Quem se responsabiliza pelo transporte é
o comprador do pescado. O destino do pescado varia entre o Mercado São Pedro, CEAGESP,
CEASA-Rio e no Espírito Santo.

O Sr. Ademir, ligado à diretoria da Colônia Z-08 arrenda parte da estrutura do píer,
provendo insumos aos barcos que ali desembarcam (Tabela 41). Além de terceirizar o óleo
diesel e o gelo no píer da, é também armador e proprietário de 5 embarcações (três barcos de
12m, duas de 13m e uma de 13,5m de comprimento) que operam com redes de cerco, emalhe
e espera na região. Entre outubro e fevereiro, sua frota também pode atuar utilizando a linha
para a captura do dourado.
Sua frota opera entre de Macaé à Ubatuba, atuando a 5 milhas da costa segundo seu
relato. Segundo ele, suas traineiras não operam na região das Ilhas Cagarras, a não ser
quando estão atrás do peixe denominado ‘boca torta’. Possui 6 pessoas trabalhando na
comercialização do gelo e do óleo, 35 pessoas trabalhando em seus barcos (aproximadamente
7 em cada barco), 5 mestres de rede (redeiros) que cuidam do material em terra
(manutenção), 1 auxiliar de mecânica, 1 torneiro mecânico, 1 pintor e 1 carpinteiro. Seu
pescado é entregue no CEASA Rio; Itaipava (Atum do Brasil); Mercado de São Pedro, Cabo
Frio e em Vitória (Viola Pesca/Espírito Santo).
Outro local onde o pescado é comercializado em Jurujuba é na sede da ALMARJ (Tabela
42). Embora a estrutura física disponível seja prioritariamente utilizada para o beneficiamento
e comercialização do mexilhão, os caminhões de propriedade da associação servem para
transportar qualquer produção que seja desembarcada no píer da colônia até o entreposto da
CEASA no Rio de Janeiro. Ou seja, a associação opera comercialmente na comunidade também
como armadora de barcos e como transportadora de pescados até os pregoeiros.

130

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Figura 50 – Entreposto de pesca – cais da Colônia Z-8 em Jurujuba, Niterói.

Figura 51 – Entreposto de pesca – cais da Colônia Z-8 em Jurujuba, Niterói.

131

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Tabela 41 - Entra e sai adaptado ao Armador e dono de entreposto.


De onde vem Produto Para onde vai

5 barcos próprios (emalhe e Principais Recursos: Itaipava/ES (Atum do Brasil)


linha):
Corvina CEASA
2 barcos de 12m
Anchova Mercado São Pedro
2 barcos de 13m
Serra Cabo Frio
1 barco de 13,5m
Bonito Vitória
35 pescadores (7 em cada
Dourado Fábricas de Sardinha
barco);
1 auxiliar de mecânica;
Estrutura de que dispõe:
1 torneiro mecânico;
1 pintor;
Preço do gelo no varejo:
1 carpinteiro;
Saco: R$8,00
Tabuleiro: R$6,00
Meio saco: R$4,00
Para o pescador: R$2,60 o
6 pessoas trabalham no
tabuleiro de 30 Kg
entreposto de gelo e óleo;
2 Câmaras frias (caminhões) com
capacidade de produzir 850
pedras;
1 Tanque de óleo: capacidade de
15.000 litros (preço de custo em
Caxias: R$ 2,01);
Preço de venda do óleo ao
pescador: R$ 2,13/litro;

Local: Cais de Jurujuba Data: 30.09.08


Participante: Seu Ademir (armador e dono do entreposto de gelo e óleo)

132

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Tabela 42 - Entra e Sai de comprador/armador.


De onde vem Produto Para onde vai

Compra a produção de qualquer Principais Recursos: CEASA


barco que desembarque no cais
de Jurujuba (já comprou de 140 Dourado Jurujuba (ALMARJ)
barcos)
Corvina
Arca com as despesas das
embarcações: Anchova

óleo (Jurujuba ou Ponta da Marlim


Areia);
Cação
gelo;
Bicuda
rancho
Badejo
Estrutura de que dispõe:
Espada
2 caminhões para o transporte;
Caixas (tabuleiros) para o peixe; Tainha
Motorista e ajudante
etc.

Local: Sede da ALMARJ Data: 04.02.09


Participante: Misael

133

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

MARICULTURA E EXTRATIVISMO DE MEXILHÕES PERNA PERNA

A denominação ‘maricultura’ empregada em Jurujuba refere-se a ambas atividades de


extrativismo do mexilhão Perna perna dos costões rochosos continentais (área de baía) e ilhas
costeiras, assim como o cultivo do molusco em sistema de cordas e pencas na enseada de
Jurujuba (Figura 52).
A maricultura representa uma significativa atividade produtiva em Jurujuba. Lage &
Jablonski (2008) estimam que Jurujuba represente de 50-70% da produção total (aprox. 20-
65t/mês de produto in natura) de mexilhões na região da Baía de Guanabara. Nesta
comunidade, a maricultura é entendida como a prática que associa o extrativismo nos costões
próximos à comunidade e nas ilhas costeiras ao cultivo de mexilhões, sendo praticada no local
há pelo menos 40 anos (extrativismo). De acordo com o presidente da ALMARJ (Associação
Livre de Maricultores do Rio de Janeiro), são mais de 80 famílias que só em Jurujuba, possuem
esta como a principal ou exclusiva atividade econômica. Em diversos relatos esta atividade foi
considerada em expansão, já que muitos pescadores artesanais começam a encontrar nela
uma forma de complemento econômico frente ao colapso da atividade pesqueira na região.

Figura 52 – Vista dos fundos da ALMARJ (esquerda) e paisagem da área de maricultura mais utilizada
pelos associado da ALMARJ (direita).

A ALMARJ é a associação mais organizada, e tem sua estrutura física localizada na


avenida principal da praia do Cascarejo. Outro grupo está concentrado em local conhecido
como ‘Ponta da Ilha’ (Figura 53). Neste local, mais de 10 famílias (entre trabalhadores homens
e mulheres) dividem o espaço de produção. Estes últimos, juntamente com outras famílias que
estão de alguma forma espalhadas na área costeira à praia (Figura 54), são conhecidos como
‘Piratas’. O termo faz referência ao mexilhão de Jurujuba que não recebe beneficiamento na
ALMARJ.
Aparentemente o extrativismo de mexilhões é também atividade praticada em outra
comunidade do município de Niterói, próximo ao ‘Morro do Palácio’. Alguns relatos indicam que
aproximadamente 100 maricultores praticam esta atividade neste local. Estes maricultores
trabalham em áreas mais próximas pois possuem apenas pequenas embarcações.
134

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Figura 53 – Unidades de beneficiamento do mexilhão ‘pirata’ em Ponta da Ilha,


Jurujuba.

Figura 54 – Unidades de beneficiamento do mexilhão ‘pirata’ entre a praia do


Cascarejo e a Ponta da Ilha, Jurujuba.

135

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

7.2.1 Divisão e relações de trabalho


Na atividade de maricultura trabalham homens e mulheres em diferentes etapas do
processo produtivo. Descreveremos cada etapa do processo com maior detalhamento adiante.
Aqui descrevemos a divisão de funções e atribuições nas atividades de extração, cultivo,
beneficiamento e comercialização do mexilhão em Jurujuba. Em termos gerais, a operação de
extrativismo de mexilhões para o cultivo (sementes) ou para comercialização direta são
semelhantes entre os diferentes grupos de maricultores de Jurujuba. A descrição abaixo é feita
de uma forma generalizada, salvo as circunstâncias em que diferenciações no processo
produtivo entre grupos de maricultores distintos merecem destaque.
Em Jurujuba, o mexilhão adulto pode ser extraído diretamente dos costões da região.
Existem na comunidade praticamente duas categorias de maricultores, aqueles que estão
associados à ALMARJ e os produtores de mexilhão ‘pirata’ (em diferentes níveis de
associativismo).
Os maricultores que não estão associados à ALMARJ, por sua vez, trabalham em
diferentes localidades de Jurujuba, tais como a Praia de Salinas e a Ponta da Ilha e também na
própria unidade doméstica, mais especificamente, no quintal de casa. O trabalho de coleta e
beneficiamento de mariscos é feito em grupo ou de maneira independente, mas compreende
todas as etapas do processo produtivo, desde a coleta até o beneficiamento do recurso.
O grupo de maricultores da ‘Ponta da Ilha’, divide o mesmo espaço geográfico em
diversas unidades de beneficiamento do marisco chamadas ‘barraquinhas’ (Figura 54). Cada
‘barraquinha’ possui o espaço para um fogareiro chamado localmente de “forno de cozimento”
e uma mesa para as descascadeiras (Figura 55). Quando uma família não está utilizando a
estrutura, outras podem fazer uso da mesma. Maricultores e familiares que não estão
diretamente envolvidos em sua produção, podem trabalhar por diária para outros maricultores.
O grupo de maricultores da Praia de Salinas também desenvolvem o trabalho de
processamento do marisco de maneira similar ao da Ponta da Ilha (Figura 54).
Quando diversos maricultores seguem para a extração, normalmente o fazem de forma
conjunta em grupos de vários pessoas e suas baleeiras. As baleeiras individuais são rebocadas
até a área de extração pelo barco ‘mãe’, uma embarcação de maior porte (Figura 56). Os
associados da ALMARJ contam com dois barcos ‘mãe’ próprios (‘Maricultor I’ e ‘Maricultor II’),
enquanto os maricultores da Ponta da Ilha utilizam embarcação sob posse de dois
maricultores. As embarcações ‘mãe’ estão são conduzidas pelo mestre, que fica responsável
pela embarcação em todo trajeto. O mestre neste caso não acumula o papel de decidir as
áreas de extração, função esta negociada entre todos os maricultores de maneira conjunta.
Outros maricultores são mais independentes, utilizando embarcações menores (próprias ou
alugadas) para chegar até as áreas de extração.
Na atividade de extrativismo (Tabela 43), o pescador é o dono da baleeira, que
mergulha para extrair o mexilhão no costão. O produto retirado da rocha é entregue ao

136

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

segurador, que permanece na baleeira, apoiando o mergulhador e organizando a produção no


barco.
Existe ainda a possibilidade de extração do mexilhão a partir de pequenas baleeiras que
não contam com o apoio de embarcações maiores. Nesses casos, o pescador possui a
embarcação ou pode alugá-la junto a atravessadores/intermediários locais, levando consigo
mais um companheiro para ajudar na atividade extrativa. Pelo fornecimento do barco, o
atravessador/intermediário recebe R$ 1,00 por kg do mexilhão processado e entregue a ele
para comercialização.

Tabela 43 - Matriz da divisão do trabalho no extrativismo de mexilhão (ALMARJ).


Quem participa da Partilha da
Entra com o que Função na pescaria
pescaria produção
Fica com 50% da
produção líquida para
Fornece barco mãe
pagar as despesas de
Barco de apoio
óleo, embarcação,
Associação (ALMARJ) Responsável pelo
descascadeira,
Combustível processamento e
cozinhador, jogador
venda do marisco
de casca e etc.

Depois de
descontadas as
despesas de óleo,
Mestre: mergulhador
recebe o valor líquido
e responsável pelo
conforme a produção
barco mãe
Baleeira (depois de
processado). O
Pescador:
Força de trabalho mestre recebe R$
mergulhador e
1,00/kg da produção
responsável pela sua
Mestre e/ou Pescador Material de mergulho total;
baleeira
Cavadeira Segurador: recebe
Segurador: fica na
por diária, sendo: R$
baleeira, dá apoio ao
Contrata o segurador 20 a 25,00 quando
mergulhador e
vão para as ilhas
arruma a produção
(viagem mais longa e
no barco
cansativa) e R$ 15,00
a 20,00 na área de
baía
Local: Sede da ALMARJ Data: 27.08.08
Participantes: Célio, Paulinho, Ivan

Após retornarem com a produção para Jurujuba, dois diferentes caminhos podem
ocorrer dependendo do tipo de operação realizada, cultivo ou comercialização. Quando o
mexilhão é retirado para comercialização, este segue para o beneficiamento no mesmo dia.
Uma série de etapas se desdobram após o desembarque, as quais serão descritas adiante.
Neste momento é importante destacar as diferentes atribuições e funções exercidas pelas
mulheres e homens, do beneficiamento à venda. Maricultores da ALMARJ entregam a produção
na associação , podendo ter o restante do dia para descansar ou trabalhar em outra atividade,
pois a ALMARJ dispõe de trabalhadores que dão prosseguimento ao beneficiamento, como as
mulheres, por exemplo, que fazem o desconchamento e empacotamento do mexilhão. Os
137

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

passos iniciais, como o cozimento, são automatizados na ALMARJ.


Os maricultores ‘piratas’, por sua vez, são obrigados a continuar o processo produtivo
após o desembarque. Com o apoio de suas esposas e/ou mulheres e homens diaristas, fazem
o cozimento, desconchamento e por fim encaminhamento para o atravessador. Em Jurujuba,
dois atravessadores compram o mexilhão ‘pirata’ cozido e desconchado. No entanto, qualquer
maricultor não associado tem a opção de vender sua produção bruta (sem processamento)
diretamente na sede da ALMARJ, embora muitas vezes o custo-benefício não lhes pareça
atrativo.

Figura 55 – Descascadeiras de mexilhão ‘pirata’ na praia do


Cascarejo, Jurujuba.

Figura 56 – Barco mãe utilizado por maricultores da Ponta da


Ilha, Jurujuba.

138

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

7.2.2 Composição da Renda Familiar – Atuação das mulheres


As mulheres desempenham papel fundamental na produção pesqueira de Jurujuba
(Tabela 44). Normalmente estão envolvidas nas etapas de beneficiamento do pescado, como
acontece no desconchamento e cozimento do mexilhão (Figura 57). Algumas mulheres
também saem para o extrativismo do mexilhão quando necessário. Nos cultivos, seu papel é
importante na costura das pequenas redes que abrigam as ‘sementes’ do mexilhão na primeira
etapa do cultivo em cordas. Embora a mulher desempenhe um papel importantíssimo nesta
atividade, é pouco reconhecida pelas autoridades e não vêm recebendo o direito ao defeso
anual. Na atividade de maricultura, diversos produtores argumentaram sobre a relevância da
mulher em todo o processo. Percebe-se que há um insurgente debate na comunidade acerca
desta falta de reconhecimento da mulher na produção da maricultura.

Tabela 44- Relógio de Rotina da Mulher no beneficiamento do Mexilhão (Verão)*

Horário O que faz Descrição da atividade

6h Acorda, limpa a casa, leva o


filho para escola, lava a roupa
e adianta o almoço.

8h-12h Chega ao local de trabalho: Desconchamento do mexilhão


Ponta da Ilha ou Praia de
Salinas

12h-12:15h Almoço O almoço ou merenda pode ser


fornecido pelo
pescador/contratante que
desconta o valor da diária

12:30-15/18h Trabalha no desconchamento O tempo dedicado ao trabalho


e/ou empacotamento do vai variar conforme a produção
mexilhão obtida, a gordura do mexilhão
(graúdo ou miúdo) e a rapidez
da trabalhadora**.
18h Vai para casa
19-20h Serviços domésticos
21-22h Assiste TV
22h Vai dormir
* No inverno, o dia de trabalho é um pouco mais longo porque nessa época os mariscos são de diversos
tamanhos: pequeno, médio e grande. Os mexilhões maiores, são oriundos dos cultivos, sendo o pequeno mais
comum nesta época (aquele que desovou e está magro) e, por isso, é mais demorado de limpar (às vezes,
dependendo do manuseio, rasga a carne quando se está limpando).

** No verão, quando o marisco está graúdo nas ilhas, os pescadores saem mais de uma vez para a coleta.
Nesses casos, a rotina das marisqueiras é alterada, pois podem fazer o beneficiamento em 2 turnos e trabalhar
até as as 18:00. Nessa época podem beneficiar até 33 caixas.

Local: Praia de Salinas Data: 04.09.08


Participantes: Tatiana, Jéssica e D.Glória

139

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Figura 57 – Trabalho das descascadeiras em Jurujuba e o ensacamento da produção (“o enfeite”).

7.2.3 Dinâmica da pescaria e recursos necessários

Extrativismo de Mexilhões
O extrativismo de mexilhões para a comercialização é realizado com intensidade entre
outubro a março em Jurujuba. Quando comparado ao trabalho no cultivo, o extrativismo para
comercialização direta é reconhecido como atividade menos trabalhosa e mais rentável do que
o cultivo.
O extrativistmo do mexilhão para a comercialização é geralmente realizado em grupos
de extrativistas (Tabelas 45 e 46). Nestas ocasiões, um barco denominado ‘mãe’ reboca as
pequenas baleeiras (caícos) até os pontos de extração nos costões e ilhas da região. Os
maricultores da ALMARJ saem normalmente em 20-25 caícos em cada operação de
extrativismo. Na Ponta da Ilha também há um barco de apoio que, embora seja utilizado por
todos os maricultores, é uma embarcação de posse privada de dois maricultores . Cada caíco é
utilizado por 2 pessoas. O barco mãe para em uma base próxima do local de trabalho, no
máximo a 100m do local e as baleeiras vão mais longe para tentar encontrar o mexilhão.
Para a extração, os equipamentos utilizados são: cavadeira de ferro com cabo de
madeira, luvas, máscara, nadadeira, snorkel (aspirador ou canudo), baleeira, tabuleiro (caixas
de plástico). Cada extrativista em apnéia utiliza uma pá (especial para esta atividade) para
raspar os mexilhões das rochas. Cada raspagem extrai uma ‘penca’ da rocha, que é
armazenada nos caícos e, posteriormente, carregada até o barco ‘mãe’. Cada extrativista
identifica suas caixas de plástico (tabuleiros), separando-as dos demais colegas de trabalho. O
mexilhão obtido do processo de raspagem não é seletivo, agregando todas as classes de
tamanho de mexilhão presentes no costão naquele determinado momento.
A saída para o mar deve sempre ser calculada em função da maré para que cheguem
ao local de retirada do mexilhão em tempo de realizar o máximo de trabalho possível no local.

140

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Com vento de Sudoeste os maricultores conseguem trabalhar, mas o mar engrossa e em


alguns pontos não é possível realizar o extrativismo. A área de exploração é escolhida
coletivamente pelos maricultores, em função dos seguintes critérios:

i) Gordura do mexilhão:Preferência a locais com mexilhões que não desovaram e


permanecem com peso maior. Quando chegam a um determinado local, alguém
retira alguns mexilhões e os quebra para verificar as suas condições (bastam cerca
de 5 mexilhões para comprovar o estado de qualquer determinado pesqueiro);
ii) Tamanho do mexilhão: Buscam áreas com os maiores mexilhões;
iii) Quantidade de mexilhões: Buscam áreas com maior volume de mexilhões no
costão;
iv) Maré: Marés de lua cheia ou nova são as melhores, já que permitem a maior
amplitude. Para colher o mexilhão, quanto mais baixa a maré melhor;
v) Vento: Algumas áreas são melhores que outras dependendo do padrão de ventos;
vi) Distância: Favorecem locais próximos onde as características acima se somam.

Tabela 45 - Relógio de rotina de maricultor da ALMARJ em exploração de mexilhões adultos.

Horário O que faz Descrição da atividade

5h Acorda
5.30 Sai para o mar Pega a sua baleeira e se junta ao barco
‘mãe’ para o mar.
6-7.30h Chega na área de Caso optem por extração nos costões
extração (ex. Itaipú) a viagem dura cerca de uma
hora. Se a extração é nas Ilhas
Cagarras, chegam por volta das 7.30 da
manhã.
Até as 11h Extração do Nas Cagarras, trabalham até as 11 da
mexilhão manhã colhendo o mexilhão.
Eventualmente se as condições são boas
podem produzir bastante em tempo
menor, retornando até mesmo as 10h da
manhã.
12-13h Chegada na ALMARJ Descarrega o mexilhão para a produção.
O maricultor/produtor então vai
descansar e o trabalho é realizado por
outra equipe que está aguardando. A
associação recebe e dá início à segunda
etapa do trabalho.
13h em diante Termino das Segue para descansar o restante do dia.
atividades de
extração
Local: Sede da ALMARJ Data: agosto de 2008
Participante: Jeremias

141

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Tabela 46 - Relógio de rotina dos maricultores da Ponta da Ilha em exploração de mexilhões adultos.
Horário O que faz Descrição da atividade

5h Acorda e sai para o Sai sem comer nada praticamente. O


mar barco ‘mãe’ puxa as outras
embarcações.
7h Chega nas Ilhas Chega no horário que a maré está
Cagarras secando.
7-12h Trabalho na retirada Extração dos mexilhões no costão.
do mexilhão Ingestão de pão e café no retorno para
casa.
14h Chegada na Ponta Esposa aguarda com almoço pronto,
da Ilha consumido enquanto se trabalha. O
mexilhão é descarregado e inicia-se o
processo de beneficiamento.
14-18h Beneficiamento O mexilhão é beneficiado antes de ser
vendido. Mulheres e homens trabalham
no fogão cozinhando e desconchando o
mexilhão. Finaliza-se o processo entre
16-18h, dependendo da quantidade de
mexilhão retirada, somente após
embalar ou entregar o produto para o
intermediário.
Nota: Principais Ilhas Utilizadas: Cagarras, Tijucas, Maricás, Palmas, Comprida. Também utilizam as áreas mais
próximas eventualmente.
Local: Ponta da Ilha Data: 29.08.08
Participantes: Anderson e Vilmar

Cultivo de mexilhões
O cultivo de mexilhões se consitui em alternativa complementar de renda. Em muitos
casos, em meses cujo extrativismo é reduzido ou nulo (ex. inverno), o cultivo oferece a única
alternativa de renda. Alguns maricultores, no entanto, possuem produção de mexilhões de
cultivo praticamente o ano todo. O cultivo é reconhecido como atividade mais trabalhosa e
menos rentável em função da mão de obra despendida (Tabela 47).
Em termos gerais, o mexilhão jovem (semente) é extraído dos costões (Tabela 48) e
levado ao cultivo por 5-6 meses (mexilhões menores), podendo estender até 7-8 meses
(mexilhões grandes) antes da sua despesca. Segundo um maricultor da Ponta da Ilha, as
sementes provenientes das Ilhas Cagarras não são de boa qualidade, desenvolvendo menos
que aquelas retiradas de áreas costeiras. Por este motivo, optam por utilizar as Ilhas Cagarras
apenas para a extração dos mexilhões adultos para comercialização direta.
A alternativa à extração das sementes dos costões sãos os ‘coletores’, ou seja,
estruturas dispostas na água para o assentamento das larvas e desenvolvimento da fase inicial
dos mexilhões antes de transeferí-lo ao cultivo. No entanto, a tecnologia existente atualmente
em Jurujuba não permite que os cultivos se tornem independentes dos costões.
Para plantar a semente, os maricultores de Jurujuba inventaram um sistema que utiliza
canos de PVC e redinhas tecidas por eles próprios. Primeiramente, a redinha é inserida no cano
de PVC. As sementes são então colocadas no cano de PVC com o ‘bisso’ direcionado para o
centro. Isto proporciona uma menor mortalidade das sementes.
142

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

O ensacamento e plantio do mexilhão é feito pelo próprio maricultor. O ensacamento é


feito em cima da embarcação ou em terra, na praia. O horário de término desta importante
etapa depende da quantidade de sementes de mexilhão recolhida dos costões naquele dia. Em
dias de plantio de mexilhão, praticamente não há almoço pois o trabalho é intenso e as
sementes precisam retornar para a água rapidamente. O trabalho nesta etapa do cultivo é
tanto que alguns pescadores disseram perder 3-4 quilos em uma semana intensa.

Tabela 47 - Matriz de avaliação do trabalho envolvido no extrativismo e cultivo de mexilhão.


Critérios / Época do ano Renda Obtida Intervalo de O que dá mais
Atividade que trabalha tempo para trabalho
colher (Esforço)

Mexilhão do mar Outubro a Março ●●● 6 meses ●

Mexilhão do Durante o ano ● à ●● 7 a 8 meses ●●●


Espinhel todo no defeso
(Cultivo)
Em época de
menor produção
no mar ou no
inverno
(poupança)

Legenda: ●●● (Muito), ●● (Razoável), ● (Pouco)


Local: Sede da ALMARJ Data: 27.08.08
Participantes: Célio, Ivan e Paulinho

Tabela 48 - Relógio de rotina de um dia típico de ‘plantação’ de mexilhão pelos maricultores da Ponta
da Ilha.
Horário O que faz Descrição da atividade

5h Acorda e sai para o mar Sai sem comer nada


praticamente. O barco ‘mãe’
puxa as outras embarcações.
7h Chegada ao costão Chega no horário que a maré
está secando.
7h-11h Extrativismo Extração das sementes do
costão. As vezes também
extraem mexilhões adultos
para a comercialização.
Ingestão de pão e café no
retorno para casa.
11-21h Chegada e preparação do Preparo das sementes,
cultivo ensacamento e plantio. O
trabalho tem de ser feito no
mesmo dia, então só finaliza
quando todo o mexilhão
recolhido dos costões for
plantado.
Nota: Principais locais utilizados: Piratininga, Itaipú, Boa Viagem, Ilha dos Carlos, Itapuca, SEABRA, Aterro do
Flamengo, Urca, Pão de Açúcar, Fortaleza de Santa Cruz, Imbuim, Rio Branco.
Local: Ponta da Ilha Data: 29.08.08
Participantes: Anderson e Vilmar

143

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

7.2.4 Produção, sazonalidade e rendimento


No inverno os maricultores dependem da maricultura. As sementes são plantadas o ano
todo, mas as melhores fases para o mexilhão no cultivo vai de janeiro a abril (Figuras 58 e
59). Nos meses de junho-agosto começa a piorar, pois o mexilhão cresce muito devagar.
Muitos maricultores argumentam que o cultivo de mexilhões funcionam como bancos
repositores de larvas da espécie para os costões adjacentes. Esta observação é feita também
por Roldan & Christensen (2004).

Figura 58 – Sementes de mexilhão retiradas do


costão rochoso, aguardando o ‘plantio’ nas
cordas da maricultura em Jurujuba.

Figura 59 – Redinha confeccionada pelas


mulheres, e utilizada para o plantio do mexilhão
em Jurujuba.
144

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

7.2.5 Áreas e locais de pesca


Maricultores da ALMARJ apontaram as Ilhas Cagarras como a área de maior relevância
para a atividade. Em segundo lugar indicaram os costões e ilhas costeiras de Itaipú, incluindo,
principalmente, as ilhas Pais e Pimenta. Em seguida, na categorização de relevância
reconheceram as ilhas Veado e Piratininga, e, por fim, a ilha Cotunduba como importantes
áreas de exploração do mexilhão para a comunidade.
As áreas de Itaipú, Cagarras, Cotunduba, Pais, Pimenta e Veado/Piratininga, são as
mais utilizadas com freqüência variável tanto no inverno quanto no verão.
No verão, muitas áreas e pesqueiros são utilizados para a extração de mexilhões pelos
maricultores da ALMARJ. No inverno, as áreas mais distantes são muito pouco utilizadas em
função das dificuldades oceanográficas deste período. Neste período áreas mais próximas
como os costões de Itaipú são intensamente explorados.
A coleta de sementes para os cultivos não é realizada nas Ilhas Cagarras com
freqüência. Conforme já citado, os costões rochosos e as ilhas costeiras são preferidos, sendo
divididos entre os de ‘fora’ (distantes) e os de ‘dentro’ (próximos) (Tabela 49).
Em termos gerais, a coleta de sementes e de adultos para a comercialização, quando a
‘maré’ (ondulação) vêm de leste, ocorre nas áreas mais internas e abrigadas (áreas de
dentro), enquanto que com a ‘maré’ de sul a atividade se direciona para áreas afastadas
(áreas de fora), como as ilhas mais distantes (Tabela 50).
As ilhas Redonda e Rasa também são exploradas eventualmente, apesar de esta última
ser proibida pela Marinha do Brasil que mantém o farol lá existente. Os maricultores possuem
receio de explorar mexilhões nestas ilhas. No entanto, algumas pessoas as utilizam quando há
falta de opção.
As ilhas Tijucas, apesar da distância, também são utilizadas ocasionalmente. No
entanto, existe uma rivalidade com os pescadores locais, que não permitem a entrada dos
maricultores.
Os mexilhões das ilhas Cagarras são reconhecidos por seu maior tamanho e,
conseqüentemente, por sua qualidade para a comercialização. Em várias ocasiões maricultores
argumentaram que se não puderem retirar o mexilhão das ilhas mais distantes, a grande
demanda vai aumentar a pressão sobre os costões mais próximos.
Maricultores da Ponta da Ilha argumentam que, em caso de criação de uma unidade de
conservação, a proibição da retirada de mexilhões da porção interna das Ilhas Cagarras irá
prejudicá-los. Segundo eles, a porção interna das ilhas é a melhor área para retirar o mexilhão
nas Cagarras em função da estabilidade das condições do mar no local. Informaram também
que a proibição da pesca no arco interno das Ilhas Cagarras também prejudicaria a captura de
olhetes, anchovas e lula, que ocorrem ocasionalmente nesta área. Esta área oferece também
importante abrigo para todos os pescadores da região.
O cultivo em algumas localidades encontra-se ainda em processo de legalização junto à

145

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

SEAP e Marinha. Na Ponta da Ilha, os maricultores estão também articulando a implementação


de um centro de beneficiamento para a comunidade. Existe ainda a intenção de expandir as
áreas cultivadas de mexilhão em Jurujuba, demanda observada no discurso de vários
maricultores. A expansão no entanto esbarra no suprimento de sementes, assistência técnica
e, principalmente, na concessão de novas áreas para o desenvolvimento da atividade.

Tabela 49 - Áreas utilizadas para a coleta de sementes de mexilhão por maricultores de Jurujuba
(ALMARJ).
Locais para a coleta de sementes
Pontos mais próximos (Dentro da Baía) Boa viagem, Ilha dos Carlos, Adão e Eva, Icaraí

Pontos mais distantes (Fora da Baía) 1o Veado, 2o Itaipu, 3o Praia Vermelha, 4o Urca,
5o Aeroporto
Nota: informações obtidas em conversa com Célio e Paulinho, maricultores da ALMARJ.

Tabela 50 - Calendário Sazonal de Pesqueiros para extrativismo de mexilhões adultos.

Maricás Itaipu Tijucas Cagarra Cotundu Redonda Rasa Pais Pime Veado
ba nta /Piratini
nga

Verão X X X X X X X X X X

Inver
X X X X X X X
no

Maré Maré de leste: pesca por dentro

Maré de Sul: pesca por fora

Legendas: X Muito X Razoável X Pouco


Local: Sede da ALMARJ Data: 27.08.08
Participantes: Célio, Ivan e Paulinho

146

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Figura 60 – Técnicos da ECOMAR e maricultores da ALMARJ


descrevendo as principais área utilizadas para a coleta de
mexilhão.

7.2.6 Infra-estrutura, comercialização e mercado


A atividade de maricultura (cultivo e extração) em Jurujuba assume uma diversidade de
meios de produção e comercialização. Podemos assim encontrar destinações possíveis para o
mexilhão retirado do cultivo ou da rocha para a comercialização.

Mexilhões de associado da ALMARJ recebido na sede da associação


O maricultor, também reconhecido como ‘sócio-produtor’, entrega o mexilhão para
processamento e o produto final é negociado pelo presidente da ALMARJ. Normalmente o
mexilhão é comercializado no Mercado São Pedro (Niterói).
O mexilhão chega do mar em tabuleiros (caixas de plástico) individualizados por
maricultor. Antes de entrar no sistema de produção, a produção obtida por cada extrativista é
registrada e compõe um banco de dados digital organizado e controlado pela ALMARJ. São
descontados deste valor os custos de produção, incluindo combutível, etc. No final de cada
ano, cada associado da ALMARJ recebe um bônus de participação, o pagamento de uma
porcentagem de sua produção anual (10%).
A ALMARJ tem somente 2 empregados, o cozinheiro e o motorista do caminhão que faz
o transporte dos pescados e do mexilhão até o CEASA. As mulheres que trabalham como
‘descascadeiras’ recebem semanalmente por produção. O acerto com o produtor de marisco é
quinzenal, mas pode ser recebido conforme a necessidade da pessoa. O maricultor ganha
sobre o peso líquido final produzido (variando entre 2-3 reais). O percentual que a ALMARJ
acumulou é dividido com quem produziu (10% fixo).

147

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Mexilhões de não associado da ALMARJ recebido na sede da associação


O maricultor não associado à ALMARJ possui a opção de vender a produção (mexilhão
bruto) para esta associação. No entanto, os preços praticados pela ALMARJ são muitas vezes
considerados baixos e não vantajosos. Um dos informantes argumentou que ele perde 50% do
valor se o produto é entregue à ALMARJ.

Mexilhões ‘pirata’ cozido vendido para intermediário


O mexilhão ‘pirata’ (Tabela 51) sofre o processamento (cozimento e desconchamento)
nas próprias unidades familiares de beneficiamento, as chamadas ‘barraquinhas’. Quando a
produção é familiar, o maricultor e sua esposa/filhos tomam conta do serviço. No entanto, se a
produção é grande e/ou a mão de obra não é suficiente, pode-se procurar o serviço de
contratação de trabalhadores que são remunerados por diária, sendo os valores praticados: R$
20,00 para as mulheres desconchadeiras (normalmente são contratadas 3 mulheres), de R$ 20
a 40,00 para os cozinhadores e R$ 5,00 para os jogadores de casca. Um maricultor ‘pirata’
entrevistado disse gastar aproximadamente R$ 150,00 por semana na compra do botijão de
gás (cada um cozinha aprox. 80kg de mexilhão). Nos meses de boa produção (verão,
dezembro a fevereiro) chega a ganhar R$ 1200,00/mês, enquanto no inverno cerca de R$
400-450,00.

Tabela 51 - Matriz de Avaliação do trabalho de beneficiamento do mexilhão pirata.


Tamanho Trabalho que Rendimento Preferência Época do Ano Ganho
dá (mão-de- (em Kg) para trabalhar
obra)

Gordo Menos Mais Maior Verão e Inverno


(depende da lua
p/ o cultivo)
Igual
Magro Mais Menos Menor Inverno
Local: Praia de Salinas Data: 04.09.08
Participantes: Tatiana, Jéssica e D. Glória

Após sofrer o processamento inicial, a carne do mexilhão é vendida para um dos dois
atravessadores de Jurujuba. O preço pago por Kg varia entre R$ 4 a 5,00. De uma forma
geral, os preços de venda ao atravessador são regulados pelo preço praticado pela ALMARJ e
também leva em consideração a gordura da carne do mexilhão. O atravessador faz então a
embalagem dos pacotes e transporta o produto para os pontos de comercialização (ex.
Mercado São Pedro, CEASA ou a particulares que fazem encomendas).

7.2.7 Tecnologia do pescado: estrutura física e dinâmica do beneficiamento

Mexilhões ALMARJ
Após o retorno das áreas de extração, a produção diária de mexilhões é desembarcada
na sede da ALMARJ, onde são selecionados em classes de tamanho e então iniciam o processo

148

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

de beneficiamento (Figura 61). O processamento do mexilhão adulto para comercialização é


geralmente realizado no mesmo dia de sua extração. Apenas quando a extração é realizada
em pontos muito distantes é que o processamento dos mexilhões é feito no dia seguinte.
Quando o tamanho do mexilhão é pequeno, este pode a critério de cada maricultor, retornar
para a água nos cultivos. Abaixo descrevemos as principais etapas do processamento dos
mexilhões na sede da ALMARJ:
1o - DESEMBARQUE
Mexilhão chega do mar por volta das 12-13h, quando é desembarcado. A produção
individual está separada em diferentes tabuleiros. A produção permanece separada por
produtor durante todo o processo.
2o - LAVAGEM
Mexilhões passam na máquina lavadeira, que também separa os mexilhões maiores dos
menores (que podem eventualmente retornar para os cultivos).
3O - COZIMENTO
Mexilhões são cozidos enquanto passam pela esteira de beneficiamento automático.
4o - DESCONCHAMENTO
Após o cozimento, mexilhões seguem para o ‘desconchamento’, que é feito por
mulheres em ambiente higienizado. O processamento do mexilhão é realizado em 4 mesas,
onde trabalham aproximadamente 48 mulheres
5o - LIMPEZA FINA
Após o desconchamento, três mulheres fazem uma limpeza fina de fios de bisso,
pedaços de concha e outros materiais que possam ficar retidos na carne do mexilhão.
6o TRATAMENTO QUÍMICO
Após a limpeza fina, os mexilhões são transferidos para um tanque com água clorada e
posteriormente para um tanque com ácido lático, onde permanece por 5 minutos.
7o – EMBALAGEM E ACONDICIONAMENTO
O mexilhão é embalado por três mulheres e transferido para a câmara fria onde
permanece armazenado para a comercialização.

Mexilhões pirata
Ao contrário do mexilhão beneficiado pela ALMARJ, o mexilhão ‘pirata’ de Jurujuba é
processado nas barraquinhas (Figura 62) pela unidade familiar (maricultor, esposa e outros
parentes) e eventual participação de terceiros (homens e mulheres) que trabalham por diária.
Ao chegar do mar, o próprio maricultor coloca o produto para cozinhar em recipientes
como latas ou panelas de ferro (Figura 63). Para o cozimento, pode-se usar a lenha comprada
(pelo valor de R$ 10,00 a baleeira cheia) ou “dada” por amigos, que possuem pedaços e restos
de madeira sem utilidade em casa. Alguns maricultores preferem utilizar o gás em função do
desgaste físico causado pelo trabalho extenso junto ao calor do fogo. O trabalho no cozimento

149

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

traz problemas de saúde freqüentes para aqueles envolvidos nesta etapa. No entanto, a opção
pelo gás traz uma despesa adicional ao processo.
Após o cozimento o mexilhão é desconchado principalmente pelas mulheres, com a
ajuda dos maricultores e ajudantes. Muitas mulheres apresentaram unhas e mãos cortadas em
função do trabalho no desconchamento que muitas vezes é feito sem luvas.
Na Ponta da Ilha, fomos informados que em dias de produção elevada, cerca de 20
famílias trabalham na mesma área, onde existem 7 fogões à lenha que são revezados entre os
maricultores. Apesar do grande número de pessoas trabalhando no local, não existe banheiro e
balcão apropriado para o trabalho. Há uma demanda urgente da comunidade por apoio técnico
e estrutura para melhorar as condições sanitárias e trabalhistas.
A casca do mexilhão é um problema para os maricultores, pois ainda não há utilização
para o material, que é descartado para o lixão. Na Ponta da Ilha, as cascas são eventualmente
colocadas num barco e levadas para outros locais para evitar o acúmulo demasiado.

Figura 61 – Estrutura disponível para processamento e beneficiamento do mexilhão na sede física da


ALMARJ, Jurujuba.

150

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Figura 62 – Mexilhão ‘pirata’ é beneficiado em pequenas unidades familiares (barraquinhas, à esquerda),


onde é cozido, descascado (meio) e encaminhado para o atravessador em tabuleiros de plástico (direita).

Figura 63 – O uso da lenha para o cozimento do mexilhão (esquerda) é altamente prejudicial à saúde (foto
meio), mas continua sendo empregado por maricultores da Ponta da Ilha, que estão se organizando para
conseguir apoio governamental para melhoria na estrutura física disponível para o beneficiamento do mexilhão.

7.2.8 Insumos pesqueiros, meios de produção e despesas

Mexilhões ALMARJ

O processo sanitariamente rigoroso de beneficiamento na sede da ALMARJ implica em


custos adicionais para a associação, tornando o produto mais caro que o mexilhão ‘pirata’.
Enquanto este último chega a um valor de R$5,00/kg, o mexilhão da ALMARJ é comercializado
por R$10,00/kg. Os gastos da associação, além daqueles do próprio maricultor, incluem
pessoas para desconchar, lavar, cozinhar e fiscalizar. São também relevantes os gastos com
energia elétrica, água, produtos químicos (ex. cloro e ácido lático) e freezer.

Mexilhões pirata
Em Jurujuba, alguns maricultores que não possuem embarcação própria alugam do
atravessador pelo custo de R$0,50 por quilo de mexilhão (limpo e cozido) entregue ao
comerciante. Neste caso, o gasto com óleo é dividido pelos maricultores que utilizam a
embarcação.

7.2.9 Demanda de mercado


Mexilhões ALMARJ
O produto da ALMARJ é praticamente todo destinado à CEASA. Pequeno volume pode
ser encontrado para comercialização na própria peixaria da sede da associação. Quando
151

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

chegam no CEASA, o mexilhão é entregue ao pregoeiro pois a ALMARJ não possui banca
própria. Segundo os maricultores desta associação, eles são dependentes dos atravessadores
do CEASA, onde uma banca custa em torno de R$50.000,00. A sede e estrutura da ALMARJ
também é eventualmente, segundo informantes, utilizada para o beneficiamento e venda de
camarões provenientes de carcinicultura (Figura 64). O mesmo maricultor que leva o mexilhão
para o CEASA (César), também traz camarões descascar e limpar, trabalho este realizado
também por mulheres. Alguns maricultores, como o Sr. Heleno (vice-presidente) também
compram peixes para vender na peixaria da ALMARJ como complemento de renda. Os
maricultores reclamam que não existe ampla divulgação de seu produto.

Mexilhões pirata
O mexilhão ‘pirata’ é normalmente entregue aos atravessadores, que normalmente
fazem a embalagem e destinam o produto ao mercado São Pedro. Ocasionalmente, o mexilhão
fresco pode ser vendido para a ALMARJ. Neste último caso, o mexilhão continua no processo
de beneficiamento padrão da associação.
Em Ponta da Ilha, um maricultor da associação Amigos do Mar argumentou que esta
comunidade é a maior produtora de mexilhão de Jurujuba em volume produzido, conseguindo
atender demandas maiores. Este mesmo maricultor diz poder atender uma demanda de até
1500kg considerando a produção de sua família (pai, dois irmãos e um tio). Sozinho
conseguiria produzir 600kg em duas semanas. Esta maior produtividade, no entanto, não pode
se sustentar por muito tempo em função das adversidades climáticas na região. Embora cada
maricultor de sua família tenha cerca de 9 cordas de mexilhão, grande parte dos maricultores
não possui nenhuma.

7.2.10 Estruturação da cadeia produtiva

Mexilhões pirata
Apesar de dois atravessadores trabalharem com o mexilhão ‘pirata’ de forma
permanente em Jurujuba. eventualmente, atravessadores de outras localidades também vêm
a este bairro à procura do produto. Um dos atravessadores de Jurujuba (Sr. João) diz comprar
o produto cozido e descascado de cerca de 5-6 produtores locais. Este trabalha juntamente
com o filho e a nora, produzindo cerca de 500-600kg /semana no inverno e 1000kg/semana
no verão (Tabela 52).
Os atravessadores podem também influenciar a demanda de produção do mexilhão
diretamente, já que detém os canais de comercialização junto à CEASA, Mercado São Pedro e
restaurantes de Niterói. Os produtores de mexilhão ‘pirata’ no geral preferem vender seu
produto para atravessadores ao invés da ALMARJ, pois os preços praticados por esta
associação são muitas vezes considerados abusivos (Tabelas 53 e 54).

152

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Tabela 52 – Preço praticados na venda de mexilhões.


Verão Inverno
Preço de compra* R$ 3 a 4,00** R$ 4 a 5,00**

Preço de venda R$ 5,00 R$ 5 a 6,00

* Se o atravessador fornece o barco motorizado para a pescaria, costuma descontar o valor de R$ 0,50 a 1,00 sobre o
mexilhão já cozido e desconchado entregue pelo pescador.
** O mexilhão miúdo (magro) é comprado a preços mais baixos R$ 2 a 3,00
Local: Ponto de beneficiamento e venda de Seu João Data: 29.08.08
Participante: Seu João

Figura 64 – A estrutura física da ALMARJ é também utilizada para a comercialização de pescados


como o camarão proveniente de carcinicultura (esquerda), e peixes (direita).

Tabela 53 - Entra e Sai adaptado ao atravessador.


De quem compra Produto Para onde vai
De 5 a 6 pessoas Mexilhão de cultivo e do mar CEASA
(varia conforme a oferta e
procura) Mercado São Pedro

Estrutura de que dispõe: Encomenda particular

2 freezers;

Isopores;

Caixas para transporte;

Material para embalagem (sacos


plásticos);

Carro para transportar (Fiorino


térmica);

Contrata mão-de-obra para


embalar o marisco*

* Serviço feito normalmente por uma mulher que trabalha no período da tarde, entre 13 e 18 horas. No verão há
necessidade de contratação de mais trabalhadoras, que são pagas por diárias de R$ 30,00.

153

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Tabela 54 - Fluxograma do Produto (Mexilhão).


Produtor Atravessador Mesa do consumidor

Gordo: R$ 5 a 7,00/Kg
Magro: R$ 5,00/Kg R$ 10 a 14,00/Kg

Retira o mexilhão dos costões, ?


ilhas e cultivo Enfeita o mexilhão (mistura gordo
e magro) e detém os canais de
comercialização
Faz todo o processo inicial de
beneficiamento: cozinha,
desconcha, contrata mão-de-obra
para isso

Despesas:
R$ 20,00 p/ cada mulher que
trabalha no desconchamento;

R$20 a 40 p/ os cozinhadores;
R$ 5,00 p/ o jogador de cascas;
R$ 150,00 com botijão de
gás/semana ou R$ 10,00 por uma
baleeira cheia de lenha
Local: Praia de Salinas Data: 04.09.08
Participante: Valmir

Mexilhões Ponta da Ilha e Praia de Salinas


Os maricultores dessas localidades argumentam que os atravessadores ganham a vida
à custa dos maricultores, entretanto, consideram que não é possível encurtar a cadeia
produtiva, pois a carga de trabalho e as horas dedicadas já são muito pesadas para o
produtor. Sem escritório, espaço, estrutura, fica impossível avançar neste sentido.
Como forma de ilustrar as diferenças existentes entre o trabalho empreendido pelo
produtor e pelo atravessadores, bem como os custos envolvidos em cada uma das atividades,
aplicou-se uma ferramenta a um maricultor de baleeira.

7.2.11 Gestão ambiental e qualidade do produto

Defeso Mexilhão
O defeso da extração da semente ocorre de setembro a dezembro de todos os anos,
começando a impactar as atividades produtivas desde o final de 2005.
O período estipulado para o defeso é muito criticado pelos maricultores. Para muitos, foi
instituído em época errada. Para o presidente da ALMARJ, a justificativa do defeso não
encontra respaldo no conhecimento tradicional das pessoas que ali vivem há 40-50 anos. A
época foi definida, segundo ele, através de pesquisas realizadas no estado de Santa Catarina,
não aplicando-se assim ao contexto do Rio de Janeiro. Por diversas vezes durante o
diagnóstico argumentou que a decisão sobre o defeso foi feita ‘dentro de gabinete’, sem
conhecimento da realidade.
Outro fator alvo de reclamações é o conflito entre a técnica de extração de mexilhões

154

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

vigente (raspagem) e o defeso da semente. De acordo com o presidente da ALMARJ, a técnica


de raspagem impede que separem apenas o mexilhão gordo durante o defeso da semente.
Assim, a extração apenas dos indivíduos adultos é impossível. Ele também comenta que
‘entrou na justiça’ contra o IBAMA e ganhou a causa sobre a problemática do defeso.
Um argumento freqüente entre os maricultores lembra que o ciclo de vida do mexilhão
é rápido. A criação de uma reserva nas Ilhas Cagarras iria proteger o mexilhão mas ninguém
iria tirar o proveito deste recurso.

Qualidade do produto
Em diversas ocasiões os maricultores da ALMARJ lembraram que a qualidade do seu
produto era garantida por monitoramentos sistemáticos da qualidade da água na área dos
cultivos. Raldan & Christensen (2004) também apontaram que os bancos de mexilhão eram
monitorados e que a extração era paralisada quando as condições sanitárias estavam
impróprias para o consumo humano. Estes autores citam uma série de parcerias feitas para o
monitoramento microbiológico e da qualidade da água com a Pontifícia Universidade Católica
(PUC-Rio), Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro (UFRRJ) e Laboratório Mattos & Mattos.
No entanto, as precárias condições de poluição da Baía de Guanabara traz sérias
preocupações relacionadas às condições do produto comercializado. Pereira et al. (2004), por
exemplo, em suas conclusões sobre um estudo microbiológico realizado com mexilhões de
Jurujuba (Figura 65):

“A análise microbiológica dos mexilhões in natura e pré-cozidos revelou a alta incidência de


microrganismos do gênero Aeromonas, o que constitui sérios riscos para o homem, pois estas
bactérias estão associadas ao surgimento de gastrenterites sob a forma de surtos e também
outras infecções extraintestinais. Portanto, assinala-se a necessidade urgente de adoção de
medidas corretivas e preventivas nos campos das Vigilâncias Sanitária e Epidemiológica.”

Figura 65 – Vista da praia do Cascarejo (esquerda) e detalhe da qualidade da água na beira da praia
(direita), em Jurujuba, Niterói.

155

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

REDES DE CERCO / TRAINEIRAS

7.3.1 Divisão e relações de trabalho na pesca


A pescaria realizada com traineiras (Figura 66) é uma das atividades que abriga o maior
número de pescadores em Jurujuba. Esta pescaria é direcionada ao cerco da sardinha e outros
peixes com as redes de traineira, sendo realizada com embarcações de médio a grande porte
conforme descrito adiante.
A pescaria de cerco em barcos de traineira requer a divisão do trabalho em diversas
especialidades a bordo. O mestre da embarcação é normalmente o pescador mais experiente
e com o maior arcabouço de conhecimento sobre o know-how de todas as etapas da pescaria.
Possui também vasto conhecimento ecológico, o que o auxilia na determinação da rota e
escolha das áreas de pesca. Enfim, além da estratégia de pesca, é quem responde pela
embarcação e sua tripulação.
O contra-mestre está no segundo grau na hierarquia da traineira, colaborando com o
mestre em suas funções e dirigindo a embarcação sob comando do mesmo. O motorista
encarrega-se da manutenção e funcionamento dos motores da embarcação, atividade esta que
exige um maior grau de especialização técnica em mecânica de motores a diesel. O gelador
responsabiliza-se pela manutenção do pescado sob as melhores condições possíveis no freezer
da embarcação pesqueira. O cozinheiro cuida de planejar, regular e preparar o rancho
(alimentação) durante a pescaria.
Três especialidades são importantes durante a atividade de pesca:
O chumbereiro é aquele que solta o chumbo ao mar na largada da rede, o caiqueiro
conduz a extremidade da rede para fazer o cerco (navegando em embarcações menores
chamadas ‘pangas’), enquanto o corticeiro arruma a cortiça no momento de recolhida da
rede. Para os serviços gerais de limpeza e manutenção da embarcação encontra-se a função
de homem de convés. Nas traineiras, podem haver até 4 homens de convés, que fazem de
tudo um pouco e eventualmente substituem outras funções (gelador, cozinheiro, chumbereiro
e caiqueiro).
Em traineiras grandes, a mesma estrutura se mantém, mas pode-se também incluir a
participação de um ‘olheiro’ que cuida da localização dos cardumes através da sonda. Existe
também a função de ‘pregoeiro’, que no RJ fica com 8-1% (não trabalha embarcado). Todos
na embarcação puxam a rede. Não foram observadas mulheres vinculadas à pesca de
traineiras

156

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Figura 66 - Traineira de Jurujuba (esquerda) e uma das áreas para manutenção de redes de cerco.

Tabela 55 - Matriz de divisão do trabalho a bordo na pesca de traineira (barcos de 10m).


Quem vai na Resumo da Função Recebe
pescaria

Mestre Cerca o peixe, determina a 5 partes


rota, responde pelos pescadores
e barco (equipe)
Contra-Mestre Dirige o Barco e Auxilia o 4 partes
Mestre
Motorista Cuida do Motor 3 partes
Gelador Gela o peixe 2 partes e ½
Cozinheiro Cozinha 2 partes
Homem de Serviços gerais 1 parte
convés
Chumbereiro Solta o chumbo ao mar na 1 parte e ½
largada da rede
Caiqueiro Leva a ponta da rede para fazer 1 parte e ½
o cerco
Corticeiro Arruma a cortiça na hora de 1 parte e ½
recolher a rede
Local: Sede da ALMARJ – Jurujuba Data: 06.06.08
Participantes: Vilmar e Nilson

7.3.2 Divisão de trabalho e renda – produção e comercialização


Embora a divisão do recurso resultante de uma pescaria possa variar conforme o
armador, descrevemos a seguir um exemplo de uma boa pescaria de traineira num barco de
10m, típico em Jurujuba. Uma boa pescaria utilizando esta traineira pode render
aproximadamente R$10.000,00 (com despesas) a cada 15 dias. As despesas com óleo, gelo e
rancho (comida) para a tripulação chegam a aproximadamente R$2.000,00. Dos R$ 8.000,00
que restam, metade (R$ 4.000,00) pertence ao dono da embarcação, e a outra metade é
distribuída para a “Companha” em diferentes ‘partes’. Cada parte, das 22 que restam, tem o
valor de R$182,00. Podemos observar na Tabela 55 que a distribuição das partes entre os
tripulantes é variável dependendo do tipo de trabalho desempenhado em uma pescaria. A
157

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

definição do preço do pescado é dada em conjunto entre o Mestre e o Armador, a partir de


oferta feita pelo atravessador/pregoeiro.

7.3.3 Dinâmica da pescaria e recursos necessários

A pesca de traineira é feita com embarcações grandes (até 20-40 toneladas e 18-20
metros) e redes de até 500 braças de comprimento e 50 braças de altura. Alguns pescadores
classificam as traineira em função do seu tamanho, traineiras pequenas (até 8m de
comprimento), médias (entre 12 e 14m de comprimento) e grandes (a partir de 18 metros).
As traineiras de Jurujuba costumam pescar até os 30m profundidade, pois a rede ‘baixa’
(quando jogada em áreas fundas) não ‘trabalha’ direito, segundo os pescadores.
As ilhas Cagarras são eventualmente importantes para as traineiras, principalmente em
função de cardumes de Xerelete (Carangidae) e Cavalinha (Scombridae) que ‘encostam’ nas
ilhas. Os cardumes de Xerelete são mais comuns nestas áreas nos meses de agosto a outubro.
Alguns barcos (ex. Sr. Ademir) podem utilizar a área das Ilhas Cagarras eventualmente para a
captura do peixe chamado ‘boca-torta’. A importância das ilhas para os pescadores de
traineiras é também relativa ao tamanho das embarcações. Embarcações grandes possuem
uma área de atuação significativamente maior, e dificilmente utilizam as ilhas para a pesca.
Em contrapartida, pequenas traineiras parecem fazer uso mais intenso da área imediatamente
adjacente a algumas das ilhas para o cerco destes cardumes.

7.3.4 Gestão ambiental


Defeso sardinha
A Instrução Normativa do IBAMA n. 128 de 26 de outubro de 2006 instituiu o defeso da
sardinha verdadeira Sardinella brasiliensis dos anos de 2006 a 2009. São quase 5 meses de
proibição da pesca por ano, divididos em 2 períodos de interrupção. Em diversos momentos
no decorrer dos contatos de campo, pescadores se mostraram insatisfeitos com o pequeno
número de licenças concedidas para o estado do Rio de Janeiro, e com o atraso no pagamento
do seguro-defeso aos pescadores (atraso de 3 anos, segundo um informante). Como somente
pescadores que trabalham em barcos licenciados possuem o direito ao seguro, a maioria dos
trabalhadores de traineira em Jurujuba não recebe este benefício. Segundo um informante,
apenas 3 barcos possuem são licenciados em Jurujuba. Mesmo assim muitas traineiras
arriscam a praticar a atividade sem a licença. A crise na produção pesqueira de sardinha vêm
levando pescadores a diversificar sua fonte de renda, dentre outras formas, ao ingresso na
maricultura e pesca de baleeiras, entre outros.

Portaria IBAMA 43 de 2007


A proibição de pesca da corvina, castanha, pescadinha-real e pescada-olhuda pela frota
de cerco também atingiu os pescadores de Jurujuba, entretanto, alguns pescadores admitiram
que algumas embarcações ainda fazem essa pescaria de forma ilegal.
158

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

PESCA COM REDES DE CAIÇARA

7.4.1 Divisão e relações de trabalho na pesca


Assim como o mestre das embarcações de traineira, na pesca de Caiçara o mestre é
também a autoridade máxima a bordo, responsável pela tripulação, equipamentos e pela
própria embarcação (Tabela 56). Alem disto, em função do maior domínio sobre a ecologia e
todo o processo produtivo, o mestre decide a rota e local onde largar a rede para a pescaria.
As funções de motorista, gelador, cozinheiro e homens de convés são também similares
àquelas descritas para a pesca de traineiras. Na caiçara todo mundo também puxa a rede.

Tabela 56 - Matriz de divisão do trabalho a bordo na pesca de Caiçara (barcos de 10m)


Quem vai na Resumo da Função Recebe
pescaria
Mestre Determina onde largar a rede e 5 partes
a rota, responde pelos
pescadores, equipamenos e
barco (equipe)
Motorista Cuida do Motor 2-3 partes
Gelador Gela o peixe 1½ - 2 partes
Cozinheiro Cozinha 2 partes
Homem de Serviços gerais 1 - 1½
convés
Local: Sede da ALMARJ – Jurujuba Data: 06.06.08
Participantes: Vilmar e Nilson

Figura 67 - Aplicação de ferramenta participativa em Jurujuba – matriz de


divisão do trabalho na peca de Caiçara.
159

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

7.4.2 Produção e comercialização

A divisão do recurso na pesca de caiçaras também pode variar entre diferentes


armadores. No entanto, a regra geral de divisão segue a seguinte lógica descrita a seguir. As
despesas são as mesmas da pescaria de traineira (óleo, gelo e rancho), só que gasta-se mais
(cerca de R$3.000,00 a R$4.000,00) pois as embarcações permanecem mais dias no mar (6-8
dias). Sempre que alguém acumula outras funções, recebe um bônus no pagamento que varia
de acordo com o mestre.
O pescado obtido na pescaria de Caiçara é normalmente vendido no Mercado São Pedro
(Figura 68) ou no CEASA. Apesar de sofrer razoável variação, a variação anual (Tabela 57) e o
preço de cada tipo de pescado (Tabela 58) pôde ser estimado pelos pescadores.
Os recursos que atingem o mais elevado preço de mercado (R$ 6,00 a R$12,00/Kg) são
os Cações, a Pitangola e a Enchova, todos mantendo um bom preço de mercado ao longo do
ano. Porém, a disponibilidade destes recursos é pequena durante o ano todo. O preço da
Corvina e da Palombeta também são razoáveis (R$2,00 a R$4,00/Kg). A Corvina, no entanto,
perde muito seu valor de mercado justamente na safra (maio-julho), pois a sua disponibilidade
no mercado aumenta bastante. O preço da Palombeta é considerado melhor no período que
antecede o pico da safra (entre setembro-novembro), que ocorre em dezembro. O preço das
Tainhas, Serra, Espada e Bonito são os mais baixos, variando entre R$0,50 a R$ 2,00 por
quilo. Destes, o preço da tainha é o que se mantém estável e razoável ao longo de todo o ano.
O preço do Serra e do Bonito é considerado baixo praticamente o ano todo pelos pescadores, a
não ser no mês que antecede o seu período de maior ocorrência na região (agosto). O preço
da Espada é considerado razoável durante a sua safra (novembro a janeiro). Por fim, o preço
da Guaibira é baixo o ano todo, enquanto o Peroá é comercializado com bom preço somente
no início de sua safra (abril).

Figura 68 – Banca de peixe no Mercado São Pedro, Niterói.

 
160

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Tabela 57 - Calendário sazonal de preço na pesca de Caiçara


PESCADO/MÊS Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Corvina X X X XX X X X X X X X

Enchova X X X X X X X X X X X X

Bonito X X X X X X X XX X X X

Serra X X X X X X X XX X X X

Cação X X X X X X X XX X X X

Guaibira X X X X X X X X X X X X

Pitangola X X X X X X X X X X X X

Peroá XX X X X X X X X

Tainha X X X X X X X X X X X X

Palombeta X X XX

Espada X X X

Legendas:
X Bom X Razoável X Ruim Em branco: não há comercialização

Tabela 58 - Custos mínimo e máximo aproximado por recurso, conforme informação dos
pescadores de Caiçara
Pescado Preço mínimo Preço máximo
aproximado (R$) aproximado (R$)
CAÇÃO 8,00 9,00
PITANGOLA 7,00 12,00
ENCHOVA 6,00 reais em média
CORVINA 2,00 3,50
PALOMBETA 2,00 4,00
TAINHA 2,00 reais em média
SERRA 1,00 1,50
ESPADA 1,00 1,20
BONITO 0,50 1,80
OBS: Os preços tendem a ser bastante maiores no feriado da Semana Santa.
Local: Praça próxima ao Cais de Jurujuba Data: 28.08.08
Participantes: Jaime, Gilson, Alexandre e Leandro

7.4.3 Dinâmica da pescaria e recursos necessários

A pesca de Caiçara, em alguns casos, chega até mar aberto (80m profundidade). A
redes utilizadas pelas embarcações maiores são classificadas em dois tipos, rede corvineira (ou
rede baixa ) e rede alta (Tabela 59). A rede tipo corvineira é exclusivamente utilizada para a

161

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

captura da corvina Micropogonias furnieri, um recurso demersal capturado com a rede disposta
no fundo. Esta rede é mais curta (150-200 braças) e mais baixa (apenas 1,5 braças) do que a
rede alta (aproximadamente 1500 braças de comprimento e 7 de altura). Esta última, por sua
vez, é utilizada para capturar maior variedade de peixes, sendo disposta na superfície (rede
boiada). As redes são diferenciadas também pela malha e fio utilizado. Enquanto a rede
corvineira é empregada com malha e fio 60’’, a rede alta é comumente utilizada com malha
50’’ e fios 50’’ ou 60’’.
A pescaria de caiçara em Jurujuba dura aproximadamente 8-10 dias de mar. Em termos
gerais, gasta-se aproximadamente R$3.000,00 a R$4.000,00 por pescaria.

Tabela 59 - Matriz de avaliação pesca de Caiçara em Jurujuba


Tipo de rede Pescado- Tipo de Dias de mar Área de Despesas
(caiçara) alvo Malha atuação por saída
Corvineira Corvina 60 com fio 60 8 a 10 dias Macaé a São R$ 3 a 4 mil
(rede baixa e Sebastião (R$ 500 de
de fundo) 1 (SP); nas rancho + 200l
braça e meia ilhas do de óleo)
de altura e arquipélago
150-200 das Cagarras
braças de atuam,
comp. preferencialm
ente, das
Rede alta ou Palombeta; 50 com fio 60 ilhas p/fora;
velada bonito; procuram no
(boiada) 7 anchova; ou embate
braças de cação; e (abrigo)
altura e 1500 todos outros 50 com fio 50
braças de peixes
comp.

Local: Praça próxima ao Cais de Jurujuba Data: 28.08.08


Participantes: Gilson e Alexandre

7.4.4 Produção, sazonalidade e rendimento

A pescaria de Caiçara é bastante dinâmica e multi-específica. Em conversa com um


grupo de pescadores, foram apontadas 10 espécies de maior relevância (Tabela 60). O Bonito
e a Serra foram apontados como os principais recursos em nível de importância para a pesca
de Caiçara. A pescaria do Bonito e da Serra é importante o ano todo, mas principalmente na
primavera entre os meses de setembro a dezembro. A Palombeta aparece como recurso muito
importante também na primavera e início do verão, com capturas crescentes a partir de
setembro culminando com pico de produção em dezembro. A pesca da corvina é bastante
significativa no final do outono e inverno, com maiores capturas concentradas nos meses de
maio-julho, entendendo-se até dezembro. Outras espécies como a Enchova, os Cações,
Guaibira, Tainhas e Pitangola ocorrem eventualmente durante o ano todo. O Espada por sua
vez é capturado principalmente no verão (entre novembro a janeiro), enquanto o Peroá é
capturado principalmente no outono (abril a maio) com capturas decrescentes durante o
restante do ano.
162

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Tabela 60 - Calendário Sazonal de produção na pesca de Caiçara.


PESCADO/MÊS Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
X X X X X X X X X X X X
1- Bonito

X X X X X X X X X X X X
1- Serra
X X X X
2- Palombeta
X X X X X X X X
3- Corvina

X X X X X X X X X X X X
4- Enchova
X X X X X X X X X X X X
5- Cação

X X X X X X X X X X X X
6- Guaibira
X X X
7- Espada
X X X X X X X X X
8- Peroá

X X X X X X X X X X X X
9- Tainha
X X X X X X X X X X X X
10- Pitangola
Legendas:
X Muito X Razoável X Pouco Em branco: não há produção
Numeração (1-10) representa ordem decrescente de importância do recurso para o grupo.
Local: Praça próxima ao Cais de Jurujuba Data: 28.08.08
Participantes: Jaime, Gilson, Alexandre e Leandro

163

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

REDEIROS

7.5.1 Divisão e relações de trabalho na pesca


O redeiro trata da manutenção e confecção de redes, principalmente para as pescarias
de Traineira e Caiçaras (Figura 69). São normalmente especialistas (não desempenham outra
função na pesca), pescadores aposentados ou pescadores com conhecimento das técnicas de
trabalho. Existem também os mestres de rede, com mais experiência e responsáveis pela
contratação dos demais ajudantes e pelo cumprimento do serviço encomendado pela
embarcação a que estão vincluados. Dentre os redeiros há aqueles que optam por trabalhar
apenas com redes de caiçara e aqueles que prestam serviços apenas às redes de traineira.
Os redeiros de Jurujuba trabalham em espaços específicos na orla das praias. Pelo
menos um destes espaços é registrado na prefeitura. No entanto, reclamam da estrutura física
precária existente para este trabalho, que é feito ao relento e sob o sol, o que potencializa
problemas na vista e queimaduras. Os redeiros também reinvidicam um galpão e banheiro
para uso coletivo. Nestes locais, o espaço físico é dividido em acordo pelo conjunto de redeiros
que utilizam o espaço, de modo que todos possam trabalhar. Redeiros mais velhos possuem
um conhecimento maior sobre as técnicas e procedimentos. Jovens por sua vez parecem não
se interessar neste tipo de conhecimento e trabalho. Não foram observadas mulheres redeiras
trabalhando nas redes de traineira e caiçara.

7.5.2 Serviços oferecidos e renda


Diferentes serviços são oferecidos pelos redeiros em Jurujuba (Tabelas 61 e 62). O
custo do serviço varia conforme a complexidade do trabalho, o tipo de rede e o tempo de
realização. O trabalho tende a ser mais complexo e demorado quando a rede está bastante
danificada. No verão o serviço de manutenção das redes de caiçara aumenta razoavelmente
devido à pescaria da Serra e do Bonito, peixes que estragam mais as redes. Remendar cortes
nas malhas é mais simples do que trabalhos que envolvem entralhamento (cordas, bóias e
chumbo presentes na porção superior e inferior das redes). Malhas menores são mais difíceis
de trabalhar e demandam maior tempo de dedicação para ‘atar’ os nós das malhas (ex. rede
de traineira).
Os redeiros podem trabalhar por diárias. Neste caso, a diária nas redes de caiçara
(R$30,00) são menores que nas redes de traineira (R$60,00), pelos motivos descritos acima.
Em ambos os casos, a diária incorre em 8h de trabalho. Alguns proprietários de embarcação
podem ter redeiros próprios, podendo inclusive pagar através de carteira assinada. Outro tipo
de serviço é a empreitada, quando o redeiro recebe em sua própria casa diversas redes que
sofreram danos maiores, necessitando de reparos extensos e entralhamento. A empreitada
pode ser solicitada para a confecção de redes novas de caiçara. Este serviço exige trabalho
intensivo do redeiro (12h/dia), que trabalha até de noite para entregar a empreitada
encomendada (cerca de R$3.000,00).

164

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Normalmente o dono da rede fornece o material necessário para a manutenção (fio,


carretilha, corda, bóia), aos mestres de rede e os redeiros fazem o serviço de mão-de-obra
utilizando agulhas e facas próprias.

Figura 69 – Redeiros fazendo a manutenção em redes tipo caiçara (esquerda em cima e à direita) e redes
de cerco para traineira (esquerda abaixo), em Jurujuba, Niterói.

Tabela 61 - Matriz de avaliação do trabalho envolvido na manutenção de redes caiçaras e de cerco.


Quantidade de
tempo para
Tipos de rede/critérios Mão-de- Valor pago Tamanho da
fazer o serviço
obra (diária) malha
Rede de cerco Maior R$ 60,00 Menor Maior

Rede de emalhe (caiçara) Menor R$ 30,00 Maior Menor

Local: Praia do Cais de Jurujuba Data: 29.08.08


Participantes: Chico e Antônio Carlos

Tabela 62 - Matriz de avaliação do trabalho do redeiro de rede caiçara.


Critérios / Tipo de Trabalho O que dá Freqüência Valor Quantas
mais renda de Serviço cobrado horas por dia
Manutenção da rede caiçara (remendo ●●● ●●● R$ 30,00- 8h/dia
+ entralhe) 35,00
(diária)

Entralhe de rede caiçara nova ●● ● Empreitada 12h/dia


(R$300,00)
Local: Praia do Cais de Jurujuba Data: 29.08.08
Participantes: Chico e Antônio Carlos
165

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

PESCA COM BALEEIRAS

7.6.1 Divisão de trabalho e renda


A pescaria com pequenas baleeiras em Jurujuba (Figura 70) são praticadas
principalmente por pescadores que desembarcam na praia de Salinas e na porção interna da
enseada de Jurujuba, onde existem alguns pontos de atracação. Parece-nos que a partilha do
pescado, áreas de pesca e tecnologia empregados possuem um certo grau de variação. Como
exemplo, citamos a divisão acordada por um pescador de baleeira entrevistado.
Normalmente dois pescadores (o dono da embarcação e um ajudante) saem juntos
para o mar na pescaria com rede de caiçara. Quando a produção vendida fica abaixo de
R$500,00 o dono da baleeira desconta as despesas com combustível (em torno de R$100,00
de gasolina/saída), e divide igualmente o valor obtido. Quando a produção fica acima de
R$500,00 a partilha final é feita em três partes (duas do dono do barco, por este ser pescador
e dono do petrecho e barco) e uma para o companheiro.
No entanto, a pesca com baleeiras também encontra dificuldades em se sustentar. Em
um outro encontro, conversamos com um pescador de baleeira que estava prestes a sair para
o mar. Segundo ele, as quatro últimas pescarias haviam dado prejuízo, ou seja, não havia
conseguido pagar nem o combustível.

7.6.2 Dinâmica da pescaria e recursos necessários

A pesca com baleeiras em Jurujuba é feita por pequenos pescadores artesanais


autônomos, que utilizam redes de caiçara (ex. rede boiada de 50 ou 45mm de malha)
principalmente nas ilhas costeiras da região (inclusive Ilhas Cagarras) (Tabela 63).
Normalmente pescam em áreas mais próximas, dentro da Baía e nos costões, indo para fora
somente no verão. Alguns destes pescadores também são maricultores ou embarcam
eventualmente na pesca de traineira, dividindo seu tempo de esforço produtivo. Quando a
produção está boa, estes pescadores costumam sair para o mar no fim da tarde e retornar por
volta das 23hs a 1h da manhã. Quando a produção está fraca, saem no final da tarde e
retornam pela manhã do outro dia.
A pescaria de rede nas baleeiras varia conforme a direção e intensidade da maré.
Quando a força da maré é predominante de leste a pesca é realizada na direção de Itaipu.
Quando a maré corre de sul, a pesca é feita na direção de Copacabana. No entanto, se as
condições do tempo são boas, a pesca pode ser feita até em áreas mais afastadas. Para as
pequenas embarcações, um dos fatores impeditivos para se colocar a rede caiçara é a força da
maré, ou seja, com a maré “correndo” a pesca fica comprometida porque a rede corre um
risco maior de ‘embolar’.
Um dos pescadores de baleeira que foram contatados (Sr. Adilson) relatou que a sua
pesca é realizada em áreas distantes, sendo citados pesqueiros como Cagarras, Barra, laje
Banco do Brasil.
166

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Tabela 63 - Matriz de avaliação da pescaria de baleeira em Jurujuba.


Tipo de pesca Pescado que Área que usa Tempo de Vende pra
pega permanência quem
no mar

Rede caiçara Anchova; Cagarras; Rasa; 10 a 12 horas, Mercado São


(boiada) bonito; serra; Redonda; incluindo o Pedro ou ALMARJ
xerelete; Maricás tempo de
pirangica; viagem. Sai às
marimbá; olhete 17h e volta às 7
e etc. da manhã

Mexilhão Graúdo e miúdo “Lá fora”: Itaipu 8 a 10 horas Atravessador


(pai e mãe); local
Comprida; Rasa;
Cagarras; Boa
Viagem e Seabra
(Niterói área de
baía)

Criação (cultivo)
em Jurujuba

Local: Praia de Salinas Data: 04.09.08


Participante: Valmir

Na pesca com pequenas baleeiras os gastos incluem principalmente o combustível das


embarcações. Algumas baleeiras utilizam motores de popa à gasolina, o que torna a pescaria
bastante cara. Em uma ocasião, um pescador de baleeira (Sr. Adilson) comentou que estava
atualmente no prejuízo, tendo gastado 500 reais com combustível sem capturar pescado
algum. Estava no entanto saindo novamente para o mar com a expectativa de recuperar o
dinheiro gasto nas últimas 4 saídas.

Figura 70 – Pescador utilizando embarcação do tipo ‘baleeira’ preparando-se para uma pescaria com
redes de caiçara nas Ilhas Cagarras.

167

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

DOURADEIROS

Alguns barcos (n<10 em Jurujuba) preparados para a captura de dourados Coryphaena


hippurus através da linha e anzol permanecem ancorados em Jurujuba. Pelo menos dois donos
de embarcações douradeiras moram no local (Sr. Carlinho Índio e Sr. Fernandinho). Estes
barcos estão equipados com ‘tinas’, e realizam a pescaria quase exclusivamente no mês de
dezembro. Nesta época, muitos barcos de Cabo Frio descem o litoral atrás dos cardumes de
dourados (aproximadamente 40-50 barcos conforme um dos informantes).
A pesca do dourado ocorre principalmente entre os meses de outubro e fevereiro,
quando barcos de outras localidades também atracam e utilizam a estrutura disponível no píer
de Jurujuba para o desembarque do pescado, abastecimento de rancho, óleo e gelo. Estas
embarcações são normalmente provenientes do Espírito Santo e norte do Rio de Janeiro (ex.
Cabo Frio e Macaé)
A isca utilizada para a captura do dourado é o bonito e a cavalinha (Scombridae). Os
barcos maiores utilizam o espinhel para a sua captura.

MANUTENÇÃO DE EMBARCAÇÕES

Em Jurujuba não há mecânico de motores residente no local apesar do grande numero


de embarcações da comunidade. Quando necessário, o mecânico é chamado de outras
localidades. Existem no entanto alguns ‘torneiros’ (manufatura e serviços em peças dos
motores dos barcos) (Figura 71).

Figura 71 - Espaço utilizado por um ‘torneiro’ em Jurujuba,


Niterói.

168

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

PESCA DO POLVO

A pescaria do polvo é atividade artesanal e tradicional em Jurujuba. Identificamos cerca


de 10 pescadores desta modalidade por meio de informação de terceiros. Esta é uma prática
tradicional na comunidade, havendo pescadores de mais de 90 anos especializados nesta
prática. Para a pescaria de polvos, até dois pescadores embarcam em pequenas baleeiras a
remo (caiaques) (Figura 72), utilizando o seguinte material: arame 20’, garatéia de 250g, 4
anzóis, isca de peixe (savelha ou cocoroca).
com o uso de garatéias, em locais aproximadamente uma hora distantes de Jurujuba.
Dentre os pesqueiros, destacam-se principalmente o costão da Fortaleza de Sta Cruz e Forte
de São Miguel. A ilha dos Pais também é utilizada para a captura de polvos.
O principal ponto atual de desembarque é um local chamado ‘estaleirinho’ (Figura 72),
no caminho para a ‘Ponta da Ilha’, local também onde habita o principal comprador dos polvos
na comunidade (Sr. Linésio). Não foram observadas mulheres na pesca de polvo.

Figura 72 – Pescador de polvos em sua baleeira ou caiaque, utilizados para a pesca do polvo (esquerda)
e ‘Estaleirinho’, o principal Porto de desembarque dos polvos em Jurujuba, Niterói.

169

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

8. ITAIPÚ - NITERÓI

A comunidade de Itaipu está situada em Niterói, em sua região oceânica e consiste no


limite norte da área delimitada para a realização das atividades de campo do presente projeto
(Figura 73).
Pode ser considerada uma comunidade tradicional de pesca amplamente estudada, em
especial, pelo antropólogo Kant de Lima que a caracterizou na década de setenta e
posteriormente comparou-a com os trabalhos de Pereira, realizado na década de noventa. Tais
estudos analisam as principais transformações que ocorreram em relação ao uso do espaço em
Itaipu e conseqüentemente em relação à reprodução social dos pescadores devido à expansão
do turismo de segunda residência7.

Figura 73 – Praia de Itaipu - ponto vermelho – Niterói.

8.1 Metodologia
As atividades relativas a primeira etapa do projeto consistiram em 4 visitas à Itaipu,
realizadas nos dias 25, 26 e 27 de abril e 02 de maio de 2008 (Tabela 64).
As atividades realizadas em abril foram previamente agendadas com a Diretoria da
Colônia de Pescadores Z-07 de Itaipu que mobilizou um grupo de pescadores atuante das três
principais artes de pesca: rede de espera, linha e arrastão de praia (lanço à sorte). Este grupo
auxiliou na mobilização de outros pescadores ao longo das atividades que também foram
apresentando outros grupos, de forma a compor o universo de participantes dos trabalhos.
A atividade realizada no dia 02.05 foi agendada com a Diretoria da Associação Livre dos
Pescadores de Itaipu – ALPAPI, entretanto, seu representante não mobilizou os pescadores
como proposto, tendo sido realizadas entrevistas semi-estruturadas com alguns pescadores,

7
KANT DE LIMA, R. & PEREIRA, L.F. (1997). Pescadores de Itaipu. Meio Ambiente, Conflito e
Ritual no Litoral do Estado do Rio de Janeiro. Niterói, RJ, EDUFF, 331p.

170

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

no sentido de se aprofundar sobre a atividade pesqueira em Itaipu e não “perder” a viagem de


campo.
As atividades envolveram pescadores de linha, de rede de espera, de arrastão de praia
e de mergulho; atravessadores, localmente denominados de arrematadores ou pombeiros;
pescadores eventuais (pescadores “de verão”); diretoria da Colônia de Pescadores Z-07 de
Itaipu e diretoria da Associação Livre dos Pescadores de Itaipu – ALPAPI.
Após esclarecimentos sobre os objetivos do projeto, o grupo era convidado a participar
de uma atividade específica. Destaca-se que em virtude da dinâmica da pesca em Itaipu –
onde parte dos pescadores ao finalizarem a faina da pesca se desloca para as áreas de
moradia – foram aplicadas ferramentas com pequenos grupos e feito uso significativo de
entrevistas semi-estruturadas.

Table 64– Resumo das atividades de campo realizadas em Itaipu.

Data Ferramenta Itens do roteiro Participantes

25.04 Mobilização dos grupos; Diversos 10 pescadores de artes


reconhecimento da área, entrevistas diversas; diretoria da
semi-estruturada Colônia

26.04 Observação do desembarque e Características das 6 pescadores de rede; 2


comercialização; Mapas preliminares pescarias, pescadores de linha; 1
para rede; Entrevistas semi- comercialização, pescador de arrastão.
estruturadas; Calendário sazonal demanda de mercado;
áreas de pesca;
diversos; sazonalidade

27.04 Matriz de avaliação com Comercialização, infra- 4 atravessadores;


atravessador; entrevista semi- estrutura e demanda diretoria da ALPAPI;
estruturada; estratificação social; de mercado; diversos; diretoria da Colônia;
matriz de divisão do trabalho para caracterização pescadores de rede
rede e linha socioeconômica;
divisão e relações de
trabalho;

02.05 Entrevista semi-estruturada Diversos Diretoria da ALPAPI

As informações coletadas foram complementadas com informações secundárias,


oriundas do cadastro de pescadores da Colônia Z-07 de Itaipu, da Estatística de Produção
Pesqueira relativa à 2006/2007 (IBAMA, 2007) e da monografia para conclusão de curso de
Margem (2004).

171

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

ASPECTOS DA COMUNIDADE PESQUEIRA

8.2 Dados socioeconômicos


Estima-se entre cem e cento e cinqüenta pescadores que exercem a atividade pesqueira
em Itaipu ao longo de todo ano. Destes, uma parte reside na própria localidade de Itaipu e
outra reside em outros bairros de Niterói e viaja diariamente para o exercício da atividade.
Segundo diversos depoimentos, os pescadores que não mais residem em Itaipu são
aqueles que foram expulsos na década de setenta (ou seus descendentes) devido ao processo
de instalação dos condomínios voltados à segunda residência no bairro que é hoje denominado
de Camboinhas, fenômeno este descrito por Kant de Lima & Pereira (1997).
Há ainda um segundo grupo de pescadores, denominados de “pescadores eventuais”
ou “ pescadores de verão”. São pessoas cuja renda principal é proveniente de outras
atividades econômicas, mas que durante o verão – meses onde a pescaria é mais fácil devido
às condições climáticas – ou em fins de semana exercem a atividade como fonte de renda
complementar.
Em vários relatos foi afirmado que alguns desses pescadores, em geral aqueles que
realizam outra atividade profissional de forma autônoma, registram-se na Colônia e acessam
direitos como seguro-defeso e aposentadoria.
Estima-se umas quatrocentas e cinqüenta pessoas realizam a atividade pesqueira em
Itaipu de forma eventual. Por se tratar de um grupo muito diversificado em termos de geração
de renda, origem da residência, prática e conhecimento sobre a pesca, este grupo não foi alvo
do diagnóstico em questão. Apenas um pescador eventual foi convidado por outro a participar
de uma ferramenta, além dos diversos relatos acerca desse tipo de prática de pesca.

Figura 74 – Pescadores e banhistas ajudam a retirada do barco do


mar em Itaipu, Niterói.
172

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Segundo os depoimentos, os pescadores de verão fazem uso principal de redes e


eventualmente de linha e mergulho, são dotados de embarcação e de GPS. Marcam seus
pontos por meio de duas estratégias: i) a partir do conhecimento de um pescador tradicional,
que os leva até os pesqueiros em passeios voltados à pesca de lazer ou ii) chegam à um
determinado pesqueiro observando a captura dos pescadores tradicionais no desembarque e
quais os locais tais pescadores utilizam no dia seguinte.
A medida em que memoriza os pontos de pesca, o GPS pode ser considerado um
equipamento que substitui o conhecimento tradicional, permitindo àqueles que atuam
eventualmente o conhecimento necessário para obter sucesso na captura. Esta prática nos
permite inferir que tais pescadores utilizam os mesmos pesqueiros que os pescadores
tradicionais de Itaipu, o que denota uma maior intensidade de uso do ambiente e um maior
contingente de pessoas que busca na atividade pesqueira uma fonte de renda, dado às
adversidades de uma região metropolitana como a do Rio de Janeiro.
A atividade pesqueira eventual pode complementar a renda dos pescadores tradicionais
no verão, uma vez que os mesmos são contratados para levá-los aos pesqueiros. Em alguns
depoimentos, os pescadores observaram que a diária para passeios de pesca variam de
R$130,00 a R$200,00.
Quanto aos pescadores tradicionais, estima-se que dezoito deles dedicam-se ao lanço a
sorte, também conhecido como arrastão de praia, distribuídos em três equipes de pesca8.
Antigamente eram 13 equipes dedicadas a essa pescaria envolvendo cerca de 130 pescadores.
A pescaria de rede de emalhe foi estimada em 25 a 30 redes, envolvendo 2 pescadores
por barco (sessenta pescadores ao todo). Antes eram somente 4 redes de emalhe. Somente
quatro barcos maiores costumam colocar suas redes próximo ao Arquipélago de Cagarras.
A pesca de mergulho de peito é praticada por 6 pescadores.
A coleta de mexilhão envolve 8 pescadores, seja nas fazendas que existem próximas à
Ilha Menina ou na extração junto às três ilhas (Pai, Mãe e Menina).
Kant de Lima & Pereira (1997) mencionam que o cerco era uma pescaria tradicional em
Itaipu, tendo sido gradativamente substituída pela rede de espera. Três tipos de rede de
espera são utilizadas em Itaipu: corvineira, linguadeira e rede alta.
Atualmente na pesca de linha estão envolvidos cerca de 10 barcos, acredita-se que 8
deles freqüentam Cagarras com mais regularidade.
Além dos pescadores, há quatro arrematadores que atuam sistematicamente na
comercialização do pescado e cada um trabalha com mais um ou dois ajudantes, responsáveis
pela evisceração e processamento do pescado.
A análise sobre a situação socioeconômica da comunidade ocorreu por meio de uma
ferramenta denominada “Estratificação Social” junto às lideranças constituídas, ou seja,
aquelas pessoas que possuem uma maior interface com os pescadores da localidade, e são

173

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

referendadas pelos próprios. Assim, os participantes da ferramenta definem quais


características comuns possuem as famílias que são consideradas com uma situação social
melhor, mediana e pior e o número de famílias que se encontra em cada estrato. No caso de
Itaipu, a ferramenta foi aplicada junto ao Presidente da ALPAPI (Sr. Chico) e a secretária da
Colônia de Pescadores (Lidiane). Destaca-se que o primeiro consiste em um pescador muito
antigo da comunidade enquanto à secretária representa o grupo mais jovem. É filha e esposa
de pescador, contendo um grande vínculo com a comunidade.
Apesar de alguns dos critérios apontados por cada um terem sido distintos, a maioria
deles foi coincidente e o número de famílias distribuída em cada estrato também se aproxima
(Tabelas 65 e 66).
Existem entre quatro e seis famílias de pescadores em melhor situação social em Itaipu.
Para os entrevistados, tais famílias são aquelas que possuem: i) os meios de produção
necessários ao exercício da pesca: rancho, barco e petrechos; ii) casa e carro próprio; iii)
renda complementar à pesca ou por meio do trabalho da esposa ou por conta da expansão do
turismo no local (proprietários de restaurante ou de comércio de beira de praia). Sr. Chico
observa que essas famílias são descendentes de pescadores tradicionais e que resistiram ao
processo de ocupação na praia pelo turismo, mantendo as propriedades na praia (ranchos),
seja para guardar os equipamentos de pesca seja como comércio voltado ao turismo. Para este
pescador, a condição social dos pescadores na atualidade é resultante do fenômeno que
ocorreu na década de setenta, de forma que dentre seus critérios encontra-se o resultado
daquele processo9. Sr. Chico observa que parte dos pescadores, especialmente aqueles que
moravam no extremo da praia de Itaipu, resistiram ao processo de ocupação, permanecendo
no bairro. Dentre aqueles pescadores que moravam na região onde é Camboinhas, localidade
que sofreu mais sensivelmente o fenômeno de ocupação, houve os que venderam suas
propriedades por valores muito baixos e não conseguiram comprar uma nova propriedade em
mesma condições, residindo hoje em áreas de alto risco social. Encontram-se em no extrato
social mais baixo.
Outros resistiram ao processo de ocupação e apesar de terem sido deslocados, foram
ressarcidos pela perda da propriedade de forma menos injusta, residem em áreas mais simples
ou até de risco, mas possuem casa própria e seus bens de produção. São famílias que estão
situadas no estrato médio, em melhores condições que o grupo descrito anteriormente.
Tal fenômeno, entretanto, não surge na fala da jovem da Colônia que atribui a situação
social à presença de bens e as condições de trabalho. Contudo, os demais critérios, o número
de famílias em cada extrato e as áreas em que residem são condizentes com os comentários
do pescador.

8
Para o arrastão de praia são necessários em média seis pescadores para cada operação de pesca.
9
Destaca-se que o pescador não apenas vivenciou o processo de ocupação da praia pelos
condomínios na década de setenta como se opôs a ele e atualmente continua articulado a movimentos
que buscam a valorização dos pescadores artesanais.
174

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Tabela 65 – Estratificação social dos pescadores tradicionais de Itaipu elaborada pelo Sr. Chico –
Presidente da ALPAPI.
Situação No Critérios
Social estimado
de famílias

Melhor/Boa 4 famílias Possui rancho de pesca; barco ou canoa própria; descende de


família de canoeiros tradicionais da comunidade, dos quais herdou
a canoa e/ou rancho de pesca; casa própria (“boa”); filhos
estudam; família estruturada; comércio de praia (restaurante/bar);
carro; reside em Itaipu

Média 20 a 30 Possui baleeira (madeira ou alumínio); pesca de rede de emalhar


famílias ou linha; possui “quartinho” (lugar onde se guardam os petrechos e
motor); mora em bairros afastados (Cantagalo, Engenho do Mato,
Av. Central, Tribobó); casa própria

Pior 30 famílias Possui baleeira a remo; casa própria; mora em região de risco
social no Cantagalo (favela) ou em Itaipu.

Tabela 66 – Estratificação social dos pescadores tradicionais de Itaipu elaborada por Lidiane –
Secretária da Colônia Z-07 de Itaipu.
Situação No estimado Critérios (Lidiane - Colônia)
Social de
pescadores

Melhor/Boa 6 famílias Possui barco próprio e é dono de pescaria (canoas, petrechos e


rancho); carro próprio; casa própria; renda complementar
(comércio de beira de praia)

Média 24 famílias Dono de barco; mora em bairros afastados (Cantagalo, Engenho


do Mato, Av. Central, Tribobó) e usa transporte público ou
bicicleta para vir pescar; casa própria; renda familiar
complementada pelo trabalho da mulher

Pior 6 famílias Mora com os pais; pesca de ajudante e esposa não trabalha.

Os pescadores de Itaipu acessam o seguro defeso de dois recursos: pelo camarão


capturado na Lagoa de Itaipu, são 55 pescadores inscritos; pelo mexilhão são apenas três.
Foi destacado também que no período de 2004 a 2006 o governo do Estado, por meio
da FIPERJ, pagava um benefício de R$ 100,00, denominado Cheque Pescador, aos pescadores
com filhos entre 0 a 14 anos. Com a troca de governo esse benefício foi suspenso.

8.3 Divisão e relações de trabalho


As relações de trabalho são abordadas, principalmente, a partir da aplicação da
ferramenta “matriz de avaliação da divisão do trabalho na embarcação”. Tal ferramenta é
aplicada para cada tipo de pescaria, com o objetivo de compreender o papel de cada um dos
participantes na pesca e o valor dado ao seu trabalho por meio da participação em parte da
produção.

175

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

De maneira análoga ao Posto 6 em Copacabana, a maior parte do pescado de Itaipu é


comercializado na praia, de forma que a cadeia produtiva é curta. Conseqüentemente, foram
analisadas as relações de trabalho entre pescadores e comerciantes, também por meio da
ferramenta “matriz de avaliação da divisão do trabalho”, tendo sido esta aplicada junto a cada
um dos quatro arrematadores (pombeiros) que atuam na localidade.

Pesca de Rede de Espera


Na pesca de rede comumente participam dois pescadores: o mestre e proprietário da
embarcação e um ajudante que auxilia na retirada da rede.
Ao mestre cabe a decisão sobre a escolha do pesqueiro e a responsabilidade sobre os
meios de produção utilizados na pescaria.
O ajudante entra principalmente com a força de trabalho, podendo ser também,
proprietário de rede.
A partilha é feita depois de ser igualmente dividido os valores da despesa da pescaria:
combustível e lanche. A manutenção das redes pode ser realizada pelos dois pescadores ou
por terceiros. Neste caso, constitui parte das despesas que são divididas.
A produção é dividida em três partes, duas para o mestre e uma para o ajudante
(Tabela 67). O pescado, após desembarcado é arrematado pelos comerciantes na praia, em
uma espécie de leilão.
Segundo o relato dos pescadores, o acerto entre pombeiro e pescadores, ou seja, o
pagamento pelo pescado capturado semanalmente ocorre aos domingos.

Tabela 67 - Divisão da força de trabalho na pesca de rede.


Quem participa da pescaria Entra com o que Partilha

Mestre (dono do barco) Conhecimento; decide o 2 partes: 1 pescaria


pesqueiro e rede (manutenção do barco; motor e
compra de petrecho: panos de
rede)

Pescador Força de trabalho 1 parte

Local: Praia de Itaipu Data: 27.04.08


Participantes: Paulo, Oscar, Seu Chico, Eduardo, Celso

Arrastão de Praia – Lanço a sorte


Foi feita uma matriz de avaliação da pesca de arrastão (“lanço a sorte”) com seu
Cambuci, um dos três proprietários e mestre dessa pescaria que ainda está ativa em Itaipu
(Tabela 68).
Ele explicou que a pescaria de arrastão ocorre nos meses de verão (outubro a março),
quando os recursos-alvo encostam na praia. Nos meses de inverno (abril a setembro), ele
realiza a pesca de camarão com tarrafa, na lagoa de Itaipu ou a pesca com rede de emalhe, no
mar.

176

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

A tainha era pescada nos meses de maio a agosto, mas sua pescaria está se
extinguindo.
O pescador é proprietário de quatro canoas de um pau só e das redes, além de
comandar a pescaria. Segundo ele, desde os 19 anos já atuava como mestre na pesca de
arrastão10. É fato, que Sr. Cambuci é um dos participantes da pesquisa de Kant Lima, na
década de setenta.
Nesta arte, canoas e redes são específicas para a captura de cada recurso-alvo: tainha,
parati e lula. A quarta canoa é utilizada na pescaria de rede.
Na pesca de arrastão vão 3 pescadores na canoa, além do mestre, e são chamadas
outras pessoas para ajudarem a puxar a rede em terra. Em geral, são necessárias quatro
pessoas de cada lado da rede para puxarem-na.
A manutenção dos equipamentos de pesca também é realizada pelo mestre.
A partilha do arrastão é feita da seguinte forma: o dono dos equipamentos de pesca fica
com 3 partes da produção de pescado devido à propriedade dos meios de produção e mais
uma pelo comando da pescaria; os pescadores ficam com uma parte e meia cada um. Para as
pessoas que ajudaram apenas na puxada é reservada uma caixa de peixe.

Tabela 68 - Divisão da força de trabalho na pesca de arrasto de praia realizada em Itaipu,


Niterói.
Quem participa da Entra com o que Partilha
pescaria

Dono e mestre Canoa e redes, conhecimento 4 partes, 3 pelos


equipamentos e 1 pelo
comando da pescaria

Pescadores Trabalho de remar, cercar o 1 parte e ½ para cada


cardume, jogar e puxar a rede

Ajudam na puxada Trabalho de puxar a rede na É reservado 1 caixa de peixe


praia

Nota: 26.04.2008 - Matriz de divisão do trabalho no lanço a sorte (Sr. Cambuci)

10
Atualmente, Sr. Cambuci está com 53 anos.

177

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Figura 75 – Canoa tradicional, utilizada para a pesca de arrasto de praia em Itaipu,


Niterói.

Linha
A maior parte dos pescadores de linha atua com um companheiro. As despesas são
divididas igualmente e a receita é oriunda de sua própria produção, ou seja, cada um fica com
o que pescou.
Destaca-se, entretanto, que ao menos um pescador vai sozinho para o mar.

Mergulho
No mergulho de peito, paga-se uma diária para o ajudante, responsável por cuidar do
barco.

8.4 Conflitos e interferências externa


Ao longo deste projeto, os conflitos foram comumente avaliados por meio da aplicação
de uma ferramenta específica, denominada “Matriz de Conflitos”. Nesta, os diversos
pescadores debatem os principais conflitos que envolvem sua comunidade e pontuam sua
importância.
Em Itaipu esta ferramenta não foi aplicada, dado que as tentativas em convidar
pescadores oriundos de artes de pesca distintas foram todas fracassadas. O pequeno número
de participantes em cada ferramenta, associado ao fato do mesmo ser sempre um grupo
homogêneo, ou seja, de participarem de uma mesma pescaria não permitiu sua aplicação.
Conseqüentemente, as informações aqui aportadas são oriundas dos debates em torno

178

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

da aplicação de outras ferramentas.


Destaca-se, entretanto, que dentre os problemas apontados, a criação de uma Unidade
de Conservação em Cagarras não apareceu em nenhum dos debates. Para maioria dos
pescadores de Itaipu, Cagarras é utilizada com pouca freqüência não se configurando como um
conflito a possibilidade de uma UC.
Por outro lado, a perspectiva de criação de uma Reserva Extrativista em Itaipu,
envolvendo sua porção litorânea e a lagoa ali existente é bastante polêmica. Alguns dos
pescadores, em geral vinculados à ALPAPI, são favoráveis à criação da Unidade e acreditam
que a mesma seria um mecanismo de ordenamento territorial e de valorização da pesca
artesanal.
Outros posicionam-se contra, acreditando que serão proibidos de pescar ou mesmo que
a RESEX privilegiará o turismo em detrimento da pesca.
De maneira geral, há bastante desinformação em torno do processo de criação da
Unidade e das implicações disto para a pesca local.
Um segundo conflito, bastante expressivo, é o alijamento de material oriundo da Baia
de Guanabara atrás das Ilhas Pai, Mãe e Menina. Segundo os pescadores, o aporte de
poluentes próximo a costa, oriundo de dragas que operam na Baia está destruindo pesqueiros
e poluindo a praia. O fundo cascalhoso encontra-se encharcado com óleo, o que tem gerado o
desaparecimento de recursos importantes, como o pargo e o namorado.
Um terceiro conflito é a presença da pesca industrial, com maior poder de captura. De
maneira análoga as demais localidades, os pescadores de Itaipu observam a presença de
grandes traineiras, oriundas principalmente de Santa Catarina e São Paulo, que pescam na
boca da Baia de Guanabara e se aproximam da costa, de maneira ilegal.
Para os pescadores, os recursos não “encostam”, ou seja, não entram na Baia de
Guanabara porque são capturados na boca da baia pelos barcos de cerco, tornando-se
indisponíveis a pesca artesanal.
A pesca de compressor surge em algumas falas como responsável pela extinção de
diversas espécies de importância para pesca artesanal.
Por fim, o processo de especulação imobiliária e a perspectiva de ordenamento da praia
de Itaipu, retirada dos barcos e das barracas, são apontados como ameaças aos pescadores.

8.5 Entidades representativas da classe pesqueira e aspectos da organização


social dos pescadores
Duas são as entidades de pesca atuantes em Itaipu: a Colônia de Pescadores Z-07 de
Itaipu, cuja jurisdição diz respeito a Itaipu, Camboinhas e Piratininga, no município de Niterói e
a totalidade do município de Maricá e a Associação Livre dos Pescadores de Itaipu – ALPAPI,
cuja atuação é restrita à localidade.
A colônia possui sede na praia de Itaipu e mencionou cobrar uma mensalidade de

179

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

R$5,00 de cada sócio. Integra o sistema confederado e articula-se as demais colônias do


Estado do Rio de Janeiro.
A ALPAPI não possui sede própria e sua atuação volta-se principalmente a criação da
RESEX de Itaipu. Seus dirigentes apresentam um discurso de oposição ao sistema confederado
e bastante articulado sobre questões ambientais, sociais e culturais relacionadas à pesca
artesanal.
Não foi identificado nenhum projeto atuante em Itaipu. Entretanto, foi destacado por
vários pescadores a realização de pesquisas acadêmicas de forma sistemática pela
Universidade Federal Fluminense – UFF, com bastante ênfase na pesca e nos peixes da
localidade.

Figura 76 – Embarcações em Itaipú, Niterói.

180

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

ASPECTOS TECNOLÓGICOS E BIOLÓGICOS DA PRODUÇÃO PESQUEIRA ARTESANAL

8.6 Características das Pescarias: petrechos de pesca e da frota


Segundo levantamento realizado por EVEREST/PGS (2007) há cinqüenta embarcações
que atuam ao longo de todo o ano em Itaipu.
Destas, três são embarcações com casario de maior porte. Atuam na pesca de emalhe e
possuem autonomia de mais de um dia, sendo capazes de atuar nas adjacências do
Arquipélago de Cagarras.
Outras seis canoas de madeira realizam a pesca de arrastão de praia, contudo, quatro
delas são do mesmo proprietário, sendo utilizadas para recursos distintos.
As demais embarcações são de alumínio, motorizadas, de pequeno porte e sem casario.
Sua autonomia é inferior a um dia e seus tripulantes atuam na pesca de rede de espera, linha
e mergulho de peito.
Das pescarias realizadas em Itaipu - arrasto de praia, rede de espera, linha, mergulho,
zangareio e puçá – o arrasto é a arte de pesca com maior aporte de informações.
O arrasto de praia é direcionado aos peixes de passagem e àqueles que utilizam as
águas rasas da enseada. A rede utilizada para o arrasto possui um saco na porção central com
malha de 20mm, e extensões laterais ou mangas com malha de 24 a 90mm. Seu comprimento
total varia entre 240 e 500 metros e sua altura chega a 16 metros. A rede é levada a partir da
linha da praia com uma canoa, sendo colocada paralela à praia com um distância máxima de
500 metros. A rede é arrastada em direção à praia. A operação de pesca dura de noventa a
cento e vinte minutos (Margem, 2004).
A rede de espera, contudo, ganha importância a medida que tem surgido em
substituição a outras artes de pesca. Ressalta-se que nesta arte é realizada pela maior parte
dos pescadores da localidade.
A rede de espera pode ser subdivididas em três tipos: corvineira, linguadeira e rede
alta.
A rede tipo corvineira é voltada para captura da corvina. Sua malha varia de 80 a 140
mm, seu comprimento é entre 500 e 2000 metros, com alta de 2 metros. Essa rede
permanece imersa por 24 horas, sendo a captura retirada diariamente pelos pescadores
(Margem, 2004).
A rede tipo linguadeira visa a captura do linguado e cações demersais. Possui malha
entre 180 e 220 milímetros, sendo a rede de maior malha utilizada na região. Seu
comprimento varia entre 200 e 1800 metros e possui altura de dois metros. É verificada a
cada 24 ou 48 horas (Margem, 2004). Foi mencionado pelos pescadores que mesmo quando a
captura é bem sucedida, a cada dois ou três dias a posição da linguadeira precisa ser
modificada.
A rede alta é aquela que possui maior altura, entre 5 e 8 metros, o que propicia a

181

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

captura de pelágicos de passagem. Sua malha varia de 80 a 100 milímetros e seu


comprimento entre 150 e 500 metros. É utilizada durante a noite, permanecendo imersa por
um período de três a seis horas.
Foi mencionado por um pescador que a rede alta visa a captura de recursos como
anchova e xerelete, com peso entre um e dois quilos.
A pesca de linha é realizada fazendo uso de iscas, principalmente lula e sardinha. Para
adquiri-la, o pescador pode comprar no mercado ou capturá-las com tarrafa.

8.7 Produção por recurso, sazonalidade e rendimento


O principal recurso pescado em Itaipu é a corvina. Segundo MARGEM (2004) esse
recurso constitui praticamente sessenta por cento da produção local, sendo que a pesca de
emalhe tipo corvineira é responsável por 68% de sua captura e o lanço à sorte por 31,5%. A
pesca de linha e os demais tipos de rede capturam muito pouco este recurso.
Sua captura ocorre principalmente em águas rasas, pouco salinas e durante o período
do verão.
Para análise sobre a importância da produção, sazonalidade e rendimento dos principais
recursos oriundos da pesca de linha em Itaipu, cuja diversidade de espécies é maior, foi
aplicado o calendário sazonal de produção (Tabela 69).
Para os participantes da ferramenta, o melhor período de pesca é entre outubro e
fevereiro. Neste período, destaca-se a produção de espada, corvina, anchova, xerelete, baiacu,
olho de cão e lula.
A disponibilidade da espada está relacionada ao clima, sendo que nos meses quentes
ela é abundante, desaparecendo nos meses frios.
De maneira análoga, a disponibilidade da corvina e da maria-mole é maior no verão.
Contudo, há uma preferência pela captura de espada em relação a corvina, dado o valor do
recurso.
A anchova foi descrita como o “13º do pescador”. É um recurso cuja safra limita-se aos
meses de novembro e dezembro, quando a espécie encosta para desovar. Por apresentar um
melhor valor de mercado, permite que os pescadores invistam em manutenção e novos
equipamentos de trabalho.
A garoupa foi descrita como um recurso presente o ano todo. Contudo, para tornar-se
disponível para captura é necessário a entrada de “água quente”. No verão, quando a água é
muito fria, a pesca de garoupa é fraca.
Durante o verão, os pescadores de linha buscam pesqueiros situados em áreas mais
distantes. Já no inverno, por conta das condições oceanográficas e meteorológicas,
restringem-se aos costões.

182

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Tabela 69 - Calendário Sazonal de Produção na pesca de linha em Itaipu,


Niterói.
Mês/Pescado Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Espada X X X X X X X X X

Garoupa X X X X X X X X X X X X

Corvina X X X X X X X X X X X X

Anchova X X X X X X X X X X X X

Xerelete X X X X X X X X X X X X

Baiacu X X X X X X X X X X X X

Olho de Cão X X X X X X X X X X X X

Cangulo X X X X X X X X X X X X

Maria Mole X X X X X X X X X

Lula X X X X X X X X X

Legenda: X Boa X Razoável X Pouco


Local: Praia de Itaipu Data: 26.04.08
Participantes: Cachorro e Mazico.

8.8 Áreas e locais de pesca


As principais áreas de pesca foram analisadas por meio de entrevistas semi-
estruturadas e através da aplicação de mapas preliminares (Figura 77).
Os pescadores de Itaipu atuam predominantemente nas adjacências desta praia,
incluindo as praias de Piratininga, Camboinhas, Andorinha, Itacoatiara e as ilhas Pai, Mãe e
Menina.
Os pesqueiros do lanço a sorte (arrastão de praia) são todos costeiros e dividem-se
entre a ponta de Itaipu e a praia de Camboinhas, sendo um dos divisores o canal.
As frotas de rede e de linha atuam até o canal, ou seja, até a entrada da Baia de
Guanabara, mas predomina o uso dos costões e ilhas, próximos a Itaipu.
Também foi comum o relato sobre o uso de áreas próximas ao município de Maricá.
Entretanto, com menor frequência, dado o alto custo com combustível.
Segundo a maior parte dos depoimentos, há pouca atuação no Arquipélago de
Cagarras, sendo que três embarcações com casario fazem maior uso da área, por terem maior
autonomia e esporadicamente, barcos de alumínio que atuam na rede podem se arriscar para
aquela área.

183

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Figura 77 – Mapas preliminares aplicados com pescadores


de Itaipu, Niterói.

184

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

INFRA-ESTRUTURA, COMERCIALIZAÇÃO E MERCADO

8.9 Tecnologia do pescado: forma e acondicionamento do


pescado a bordo e forma de beneficiamento e comercialização
As embarcações de Itaipu, a exceção das poucas que possuem casario, não possuem
porão, dispondo de pouco espaço para armazenar o pescado. Em geral, os pescadores fazem
uso de caixas de plástico para acondicioná-lo (Figura 78).
Para as pescarias de linha e mergulho, geralmente o pescado inteiro é acondicionado
em caixa térmica ou de isopor com gelo, logo após a captura, ou seja, na própria embarcação.
Na pesca de rede este insumo não é utilizado, devido ao pouco tempo despendido entre
a retirada do pescado do mar e de seu desembarque em terra.
Após o desembarque, os peixes são vendidos frescos, inteiros e sem eviscerar para os
arrematadores ou pombeiros, nome dado aos atravessadores locais. A venda é realizada na
própria praia, por meio de leilões.
Os arrematadores dispõem o pescado em gelo e vendem-no ao consumidor também na
praia. Cada arrematador é auxiliado por um tratador, responsável pelo processamento do
pescado adquirido pelo consumidor. Como equipamentos de trabalho, possuem um guarda-sol,
uma cadeira e uma banca para processamento do pescado.

Figura 78 – Caixas de plástico são comumente utilizadas para o


armazenamento e transporte durante a comercialização do pescado.

185

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

8.10 Estruturação da cadeia produtiva


De maneira análoga à Copacabana, a cadeia produtiva do pescado de Itaipu é curta,
sendo o pescado comercializado principalmente na própria praia e envolvendo apenas duas
transações, a primeira entre o pescador e o arrematador e a segunda entre este e o
consumidor.
O processo de aquisição do pescado é realizado por meio de um leilão. Ao desembarcar
na praia, os arrematadores se aproximam do barco e dão lances para captura do pescado
(foto). Aparentemente, não há qualquer relação de dependência entre o pescador e o
atravessador e a compra é realizada com base na qualidade do pescado (espécie, tamanho,
quantidade e frescor).
Alguns pescadores observaram que, quando o arrematador oferece um preço muito
baixo, estes assumem a comercialização de sua produção naquele dia, como uma forma de
castigo para o arrematador.
São quatro os atravessadores que atuam em Itaipu. Destes, três foram
entrevistados11. O resultado das entrevistas foi sistematizado em um “entra e sai com
atravessadores” (Tabela 70).

Figura 79 – Clientes e arrematadores se aproximam das embarcações que chegam


para comprar o pescado, muitas vezes vendido em lotes pelos pescadores.

11
A abordagem foi realizada de forma individual por dois motivos. Em primeiro, porque era o
horário de trabalho dos arrematadores. Em segundo, porque poderia haver estratégias de
comercialização diferenciada e a aplicação de ferramenta coletiva geraria desconfiança.
186

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Figura 80 – Arrematadora vende os peixes em lotes em Itaipú, Niterói.

Segundo os depoimentos, os arrematadores possuem uma longa relação com a


localidade, atuando ali a bastante tempo.
A maior parte do pescado é vendido aos consumidores em pequenas porções.
Entretanto, alguns fazem questão do pescado ser pesado. Cada arrematador possui clientes
(consumidores) relativamente fixos.
A comercialização do pescado é lucrativa no verão, quando a praia é bastante
frequentada por veranistas. Os melhores dias são sábado e domingo.
Foi comentado que no inverno os atravessadores vendiam principalmente aos
restaurantes e barracas locais. Contudo, a prefeitura os fechou, com vistas ao ordenamento da
praia, o que acabou afetando os arrematadores.
Foi bastante evidenciado, por pescadores e arrematadores, que o pescado em Itaipu
vale mais, ou seja, que nesta transação, tanto o pescador como o comerciante ganham mais
do que se comercializassem junto aos grandes entrepostos, como o Mercado São Pedro,
Frigorífero Funelli e em Jurujuba.
Consequentemente, há uma relação ética que não permite ao atravessador trazer
pescado de outra localidade para vender na praia ao mesmo tempo, que o pescador privilegia
a venda junto ao comerciante do que diretamente ao consumidor.
Quando há excedente no final do dia, o comerciante limpa e fileta o pescado para
187

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

entregar a clientes fixos.


Os insumos necessários aos comerciantes são: cadeira, guarda-sol, gelo, instrumentos
para armazenamento e beneficiamento do pescado.
O pagamento do tratador é de responsabilidade do arrematador, mas é comum que os
consumidores dêem uma gorjeta. Ao todo, o tratador recebe entre R$30,00 a R$40,00.
Um dos arrematadores observou que o lucro é em torno de quinze por cento.
Quando a captura é muito alta, de forma que não é possível seu escoamento no
comércio de praia, os pescadores se unem e levam o pescado em um automóvel para os
principais entrepostos em Niterói. Foi citada a seguinte ordem de preferência:Frigorífero
Funelli, Mercado São Pedro, Jurujuba (ALMARJ).
Os arrematadores observaram que quando a água está quente, a corvina vem ruim, ou
seja, já em processo de decomposição. Por isso, oferecem um preço mais baixo, dado que ela
não pode ficar exposta ao longo do dia na praia.

Tabela 70 – Ferramenta de ‘entra e sai’ aplicada com atravessadores em Itaipu, Niterói.


Entra Produtos (pescados) Destino (p/ onde vai)
Mesa Corvina Venda direta ao consumidor na
praia
Cadeira vagalume
Restaurantes locais
Guarda-sol Bagre
Encomendas a particulares
gelo Dourado
(freguesia certa)
facas/descamador Vermelho
Frigorífico**
tábua p/ limpar o peixe Robalo
Mercado de São Pedro***
caixas para armazenar os Pescada
pescados antes e depois de
lula
limpos
isopores
freezer em casa p venda a
particulares
Contratação de tratadores*

*os tratadores trabalham em média 6 horas/dia nos finais de semana, quando há mais movimento na praia;
além das gorjetas que podem receber dos consumidores de peixe, recebem um pagamento do próprio
arrematador. Segundo relatos de um dos tratadores é possível se ganhar de R$ 30 a 40,00 por dia no final de
semana;
** espada para o frigorífico Funelli em Ponta de areia
*** somente quando há muita produção; nesse caso há um fretamento coletivo de transporte para levar o
peixe.

188

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

8.11 Seleção de especialistas

Abaixo segue os pescadores indicados ao longo das atividades de campo para


comporem os especialistas que serão convidados a participar da próxima etapa de campo
(Tabela 71).

Tabela 71 – Pescadores mais experientes nas diferentes modalidades de pesca, segundo a recomendação
do pescadores de Itaipú, Niterói.
Nome do Modalidade de pesca
informante rede linha mergulho
Rômulo Edson, Cipó, Jairo Valdeci (Cachorro), -
Pedro
Sr. Pedro - Cachorro, Mazico, Pedro, -
Neguinho
Valdeci (Cachorro) - Silvão -
Mazito - Valdeci (Cachorro), -
Silvão
Sr. Cambuci É sorte, não tem melhor Pedro, Cachorro, Primo -
Mauro Marco, Edson, Paulo Pedro, Valdeci, Heraldo
Roberto, Joni, Ricardo
Celso Marcos, Joni, Kate, Edson Valdeci, Pedro, Lúcio,
Eraldo
Para baleeira de alumínio: Cachorro, Pedro, Tripa Sr. Chico, Marco,
Bolinha, Cati, Eric e Limão (Marco) Reinaldo, Reny

Para barco com casario:


Ció, Jairo, Marquinho

189

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

9. DEVOLUTIVAS

Devolutivas comunitárias são importantíssimas no processo de qualquer pesquisa ou


iniciativa que busca envolver comunidades locais e fortalecer um certo nível de participação. A
idéia destas reuniões expositivas é formada por alguns pontos centrais como: 1) informar e
comunicar à comunidade os resultados principais do estudo; 2) permitir um espaço de diálogo
de avaliação e complementação das informações que irão compor o estudo em questão; 3)
comunicar à comunidade as próximas etapas previstas do estudo e seus desdobramentos,
abrindo para sugestões e impressões para que os pescadores possam exercer algum nível de
influência sobre os próximos passos.
As atividades de campo foram finalizadas em fevereiro de 2009, havendo agregado
informações substanciais de 5 comunidades que possuem uma frota operante na porção
externa à Baia de Guanabara.
A expectativa geral que deixamos transparecer e fortalecemos durante o projeto e
principalmente nas devolutivas foi de que o processo de criação está sendo repensado, e o
papel da ECOMAR (desempenhando projeto sob demanda da SEAP) é somente o de
interlocutor ou mediador entre a percepção/conhecimentos dos pescadores e a SEAP.
Deixamos claro que nossa equipe não terá o poder de decisão, sendo a intenção da ECOMAR
trazer definitivamente a perspectiva da pesca artesanal para dentro do processo de criação de
UCs na área. Outro ponto fortalecido em todos os encontros é que, após nosso relatório final
ser submetido, o ICMBio se comprometeu a realizar novas reuniões com as comunidades para
discussão dos limites da(s) UC(s) proposta(s).
Na etapa das devolutivas do presente estudo (Março/209), a dinâmica imprevisível e a
dificuldade de construir uma agenda prévia com as comunidades foram fatores que
favoreceram a opção pela exposição dos resultados de maneira aberta e flexível, respeitando o
ritmo natural e o fluxo de trabalho presente em cada local. Assim, ao invés de marcar uma
reunião de apresentação dos resultados do projeto, a equipe adotou o seguinte procedimento
nas 5 comunidades:
1o – Mobilização local com a finalidade de encontrar uma data factível para as principais
lideranças e pescadores que se envolveram nas outras etapas do estudo;
2o – Preparação de 4 banners em tamanho A0 por cada comunidade, inserindo
informações resumidas e as principais ferramentas construídas de forma participativa com
cada comunidade, alem de imagens ilustrando as atividades de campo;
3o - Início da exposição dos banners em cada comunidade se deu por volta das 9hs da
manhã, estendendo até o início da tarde, dependendo da quantidade de pessoas presentes e
ritmo próprio de cada comunidade. O horário da manhã é mais apropriado, já que após a
pescaria os pescadores de uma forma geral se dispersam e retornam para suas casas, na
maioria dos casos localizadas em locais distantes;

190

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

4o- Durante a exposição, muitos pescadores e outros interessados no estudo se


aproximaram e a equipe, então, individualmente ou em pequenos grupos apresentava os
banners e seus conteúdos, repetindo este procedimento ao longo de todo o período de
exposição;
5o- Por fim, antes de retirar os Banners, a equipe definia juntamente com os
participantes, alguma instituição receptora do material. Este foi então entregue e
disponibilizado para as comunidades para a sua utilização conforme interesse próprio.

Figura 81 – Devolutiva realizada na comunidade de Quebra-Mar, praia da Barra da


Tijuca, Rio de Janeiro.

191

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Figura 82 – Devolutiva realizada na comunidade de Itaipú, Niterói.

Figura 83 – Devolutiva realizada na comunidade de Jurujuba, Niterói.

192

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

10. GESTÃO DO ESPAÇO MARINHO NO ENTORNO DA ILHAS CAGARRAS

10.1 Resumo dos conflitos identificados

Ao longo da execução deste estudo, a ECOMAR lançou mão de várias abordagens para
registrar o principais conflitos no uso do espaço marinho no entorno das Ilhas Cagarras,
incluindo: 1) matriz de conflitos; 2) entrevistas individuais abertas; 3) mapeamento preliminar
individuais ou em pequeno grupos e; 4) mapeamento participativo. Apresentamos aqui um
resumo dos principais conflitos identificados no estudo (Tabela 72). Um detalhamento mais
aprofundado sobre as especificidades e localização espacial dos conflitos estão contidos no
corpo deste relatório. Vale lembrar que os conflitos que se exprimem aqui representam o olhar
dos pescadores artesanais das 5 comunidades investigadas, e não de todas as comunidades
pesqueiras presentes no Rio de Janeiro e Niterói. Reconhecemos que podem e devem existir
outros conflitos na área sob o olhar de outros pescadores e grupos de usuários (ex. mergulho
contemplativo, ambientalistas, pesca esportiva, etc), e que estes são igualmente relevantes na
condução de um processo de Gestão Ambiental Pública na região.

Competição por espaço e recursos: Pesca industrial VS pesca artesanal


O conflito entre pescadores artesanais e industriais foi muito evidente em todas as
comunidades visitadas (Figuras 84, 85 e 86). Embarcações grandes como atuneiros e
traineiras (Pau-Broca), se aproximam muito das ilhas e praias da região, ocupando um espaço
e capturando recursos que são importantes para os pescadores artesanais. Mesmo não
direcionando elevado esforço de pesca para a manjuva e sardinha, os pescadores artesanais
argumentam que estas espécies representam os principais ‘comidios’ (recurso alimentar) dos
peixes importantes para a composição da renda (ex. enchova, corvina, olho de boi, etc).
Barcos de Itajaí (SC) e Jurujuba (RJ) estão entre os mais criticados pelos pescadores do Rio
de Janeiro.

Competição por espaço e recursos: Pesca amadora VS pesca artesanal


A região que compreende a área de estudo é muito utilizada por pescadores amadores
e esportivos para a prática da pesca embarcada ou subaquática. As Ilhas Cagarras, por
exemplo, são frequentemente utilizadas para campeonatos de pesca esportiva. Estes
pescadores amadores utilizam pequenas lanchas particulares ou alugam os barcos dos
pescadores artesanais (principalmente na URCA) para sair em pequenos ou grandes grupos.
Muitos pescadores artesanais reclamam que estes visitantes podem atrapalhar a prática da
pescaria comercial, competindo por espaço nos pesqueiros e pelos mesmos recursos. Em
alguns pesqueiros, pescadores afirmam ter observado a concentração de dezenas de
embarcações da pesca amadora.

193

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Figura 84 – Tira de “Nicanor” publicada


no jornal “Diarinho” de Itajaí (Santa
Catarina) em fevereiro de 2009,
retratando uma problemática muito
comum aos pescadores do Rio de Janeiro
e Niterói.

Figura 85 – Traineira de cerco navegando no entorno das Ilhas Cagarras,


município do Rio de Janeiro ao fundo.

194

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Competição por espaço e recursos: Pesca artesanal VS pesca artesanal


Não registramos relatos de grave conflito entre pescadores artesanais de comunidades
distintas, mostrando que a divisão e ocupação do território marinho pelas diferentes
comunidades não parece ser um problema central. No entanto, diversos relatos mencionam
que alguns pescadores não respeitam quem chega primeiro aos pesqueiros. O conflito pode
ocorrer, por exemplo, quando um pescador de linha está fazendo uso de um pesqueiro e outro
pescador lança sua rede em local muito próximo. O mesmo ocorre quando um pescador de
rede não respeita outro pescador de rede, ao colocar seu petrecho próximo do outro.

Falta de fiscalização
Este parece ser a maior reivindicação do pescadores artesanais das 5 comunidades
visitadas. O órgão ambiental IBAMA é duramente criticado por sua ausência institucional, e é
visto com total descrédito entre os pescadores de uma forma geral. A falta da presença do
IBAMA no mar parece trazer um sentimento de frustração relacionada a qualquer nova
iniciativa de ordenamento que parta deste órgão. Por este motivo, o espaço marinho torna-se
um local onde se pode fazer de tudo, onde vigora a impunidade. Sem esta presença mínima do
Estado, a motivação em seguir as leis não é retro-alimentada pelos pescadores, e uma
situação observada de ‘livre-acesso’ se instaura.
Oakerson (1992) argumenta que a maneira como os outros se comportam cria
obstáculos e incitações para cada indivíduo escolher entre alternativas comportamentais na
apropriação de um recurso de uso comum. O espaço marinho no entorno das Ilhas Cagarras é
ocupado e utilizado por dezenas de diferentes grupos e setores da sociedade, provenientes de
diversas localidades da região. Este contexto caótico parece trazer a impessoalidade da
grande cidade para o mar, uma certa ‘urbanidade’ no espaço marinho. Em conseqüência, há
a possibilidade de sair-se impune quando o indivíduo opta por uma estratégia ‘free-rider’ de
comportamento. Para o ‘free-rider’, o rendimento a curto prazo é maior. A alternativa
individual de um pescador, por exemplo, seria a opção pela cooperação com as leis de
ordenamento vigentes. Um único ‘free-rider’, dependendo de sua capacidade de subtração do
total dos recursos pesqueiros, pode desencadear um padrão geral de não cooperação. A
escolha mútua pelos pescadores de estratégias cooperativas, por outro lado, fortaleceria um
padrão geral de reciprocidade. A reciprocidade entre os pescadores em cumprir as regras
existentes ou desencadear uma ação coletiva voltada ao respeito das normas ambientais é
totalmente desfavorecida no entorno das Ilhas Cagarras em função da ausência institucional
do IBAMA, mas também pela lógica de mercado que engendra a atividade pesqueira e os
coloca cada vez mais numa situação de vulnerabilidade social.

195

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Tabela 72 – Conflitos, envolvidos e detalhes sobre as causalidades.


Conflito ou problema Envolvidos Detalhes sobre o conflito
BARRA
Uso de mesmas áreas Barcos de passeio de turma e Aumento do número de pessoas pescando na Barra:
pela pesca profissional mergulhadores principalmente nas Tijucas, Pargueira e no Surriá
e amadora

Uso de mesmos Grandes barcos de cerco (pau Perda, roubo ou dano de material de pesca (rede alta, de
pesqueiros por broca), de arrasto (chifrudos) caceia e corvineiras)
pescadores de outras vindos do estado do RJ e de
comunidades SC

Traineiras de Jurujuba (8-


10m) e barcos pequenos de
arrasto da Ilha da Conceição e
de Jurujuba

Crescimento urbano População em geral e Poluição do mar e das lagoas, afetando os pescados e a
desordenado e falta de governos (poder público) produção pesqueira
saneamento

Falta de ordenamento Pesca de pequeno/grande Invasão das áreas de pesca e queda da produção
e fiscalização portes/governo artesanal

URCA
Desrespeito ao defeso Barcos de grande e pequeno Praticado por diversas embarcações na área de baía e no
porte mar. É decorrente da falta de fiscalização
Rede de malha miúda Barcos de pesca industrial Embarcações de grande porte e alto poder de pesca, dado
operada pelos barcos o aparelhamento tecnológico avançado de que dispõem.
pau broca Atuam em áreas costeiras, solapando recursos
importantes para a continuidade da pesca artesanal, como
a sardinha, que constitui a base da cadeia alimentar de
espécies que capturam.
Rede de caceia Barcos de grande tonelagem Colocada por barcos de grande porte na área entre as
(ES/SC/Angra dos Reis e Cabo Ilhas Redonda e Palmas. Essas redes impedem o percurso
Frio) das espécies e prejudica a captura. É também colocada
muito próxima aos costões.
Pesca de bomba Barcos de traineiras, lanchas e Embora não seja tão frequente como no passado, os
canoas efeitos sobre a produtividade e o ambiente ainda são
percebidos
Coleta irregular de Barcos de Jurujuba A coleta é realizada, muitas vezes, de forma predatória
mariscos (mexilhão) afetando o ambiente e os pescados em geral.
Pesca de grande porte Barcos de grande e pequeno Prejudicial a todas às demais pescarias. Afeta,
em área costeira porte principalmente, a reprodução das espécies pois não há
(cerco; parelha; seletividade e nem fiscalização que a coíba.
arrasto)
Pesca de compressor Barcos de traineiras, lanchas e Feita de forma indiscriminada e predatória. Também
canoas voltada para a venda de peixes ornamentais
Poluição da Baía e dos Órgãos de governo Afeta a qualidade do pescado, apesar de prover aporte de
emissários no mar nutrientes
COPACABANA
Uso do mesmo Pescadores de linha / Conflito ocorre quando um pescador não respeita o outro,
pesqueiro pescadores de rede / colocando a rede ou pescando próximo de quem chegou
pescadores amadores primeiro.

Furto de material de Pescadores de Copacabana / Roubo de materiais de pesca que estão operando nos
pesca (redes) pescadores de outras colônias pesqueiros

Lixo e poluição Pescadores / Órgãos públicos Aumento da quantidade de poluentes na água do mar.

Falta de fiscalização Pescadores / IBAMA Pescadores reivindicam uma maior presença do IBAMA no
mar

Pesca/ licença Pescadores / IBAMA Pescadores reclamam de excessiva burocratização dos


(ordenamento) procedimentos necessários para obter o
permissionamento, e questionam a finalidade das medidas
de ordenamento

Traineiras de grande Pescadores de Copacabana / Grandes embarcações de outros estados se aproximam


porte Pescadores de outros estados dos pesqueiros costeiros e capturam o pescado que
196

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

segundos os pescadores de Copacabana deveriam ser dos


pescadores artesanais

Criação de uma UC em Pescadores / IBAMA Receio dos pescadores em perder mais áreas para a
Cagarras prática da pesca

Pesca de mergulho Pescadores de Copacabana Muitos pescadores de Copacabana consideram a pesca de


com equipamento de em geral / pescadores de mergulho com compressor extremamente predatória.
respiração autônoma mergulho com compressor
Barcos de arrastão Pescadores de Copacabana / Pescadores consideram a pesca de arrasto extremamente
atuando próximo às pescadores de outras predatória
ilhas localidades

Pesca com bombas Pescadores de Copacabana / Segundo os pescadores, a pesca com bombas não ocorre
pescadores de outras mais, mas trouxe muitos danos à região
localidades

Risco de atropelamento Mergulhadores de Copacabana O tráfego de lanchas e outras embarcações implica riscos
por embarcações / turistas e praticantes de de atropelamento aos mergulhadores, principalmente o
esportes náuticos jet-sky

Risco de prender-se Pescadores de mergulho / Redes colocadas próximas a canais e junto aos costões
em redes pescadores de rede em geral oferecem perigo para os mergulhadores de Copacabana,
principalmente

Redes perdidas que Pescadores em geral / Redes que são perdidas ou esquecidas na água continuam
continuam a pescar pescadores de rede a pescar, trazendo grande mortalidade de peixes que não
indefinitivamente são consumidos

ITAIPÚ
Poluição Pescadores / órgãos públicos Aumento da quantidade de poluentes na água do mar,
e sociedade em geral principalmente o óleo despejado e o despejo das dragas
próximo às ilhas Pai, Mãe e Menina.

Embarcações de Pescadores de Itaipú / barcos Presença de grandes traineiras, oriundas principalmente


grande porte grandes (principalmente de Santa Catarina e São Paulo, que pescam na boca da
Traineiras) de outros estados Baia de Guanabara e se aproximam da costa, de maneira
ilegal

Pesca de mergulho Pescadores de Itaipú em geral Muitos pescadores de Itaipú consideram a pesca de
com equipamento de / pescadores de mergulho mergulho com compressor extremamente predatória.
respiração autônoma com compressor

Especulação imobiliária Pescadores de Itaipú / órgãos Pescadores estão receosos de que um projeto de
e ordenamento da orla públicos ordenamento da praia venha a limitar ainda mais o uso do
com prejuízo aos espaço por eles, agravando o problema já causado pela
pescadores especulação imobiliária.

JURUJUBA Pescadores de Jurujuba / Pescadores reivindicam uma maior presença do IBAMA no


A falta de fiscalização IBAMA mar

Trânsito da barcaça Pescadores e maricultores / Pescadores reclamam ter perdido áreas de pesca
pela enseada de empresa de barcaças localizados na rota da barca, além da suspensão de
Jurujuba sedimentos causada por ela principalmente nas áreas
mais rasas da enseada de Jurujuba. Maricultores também
reclamam que a barca, quando parte em velocidade
superior àquela permitida, produz ondas prejudiciais ao
sistema de cultivo de mexilhões.

Perda de áreas de Pescadores artesanais de Em tempos recentes, há um perceptível aumento da


pesca para outras Jurujuba / outros setores da demanda pela área marinha para os seguintes usos: 1)
atividades sociedade / órgãos públicos quantidade de navios aumentando (incluindo petroleiros);
2) maior número de plataformas de petróleo; 3) maior
número de embarcações pesqueiras; 4) aumento do
número de barcaças e rotas de tráfego; 5) tubulações de
óleo e gás criam grandes áreas de exclusão da pesca
(500m); 6) aterros em diferentes locais diminuíram áreas
de pesca; 7) proibição de pescar próximo ao arsenal da
marinha, aeroporto e Iate Clubes;

197

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Poluição da água
A altíssima taxa de poluição é algo preocupante para todos os pescadores artesanais
das 5 comunidades visitadas. A poluição compreende resíduos sólidos (lixo), assim como o
dejeto de efluentes domésticos e industriais, emissários submarinos, óleo de embarcações e o
efeito de dragas e barcaças que aumentam a suspensão de resíduos na coluna d’água lançados
ao mar, na Baía Guanabara e nas lagoas. Os pescadores recorrentemente associam de
maneira determinante a crise dos recursos pesqueiros da região, dentre outros fatores, à
poluição. Talvez não exista outro setor da sociedade mais afetado pela poluição do que os
pescadores artesanais, que têm no mar a fonte de renda e alimento (Figura 87).
Seria pertinente também considerar os efeitos causados por essa poluição no próprio
processo de discussão de criação uma unidade de conservação contrapondo-os às finalidades
dispostas no SNUC. Da mesma forma, se entende que se deva provocar uma discussão mais
focada nas responsabilidades, competências e atribuições dos entes públicos que respondem
pela gestão ambiental pública na região.

Figura 86 – Matéria do jornal “O Globo”, relatando a pratica de cerco de


sardinha a 3 metros da orla de uma das áreas mais urbanizadas do Brasil
(bairro da URCA, Rio de Janeiro), enquanto a legislação ambiental permite
apenas esta atividade a 200m da costa. A matéria também destaca a
impunidade devido à falta de fiscalização do IBAMA.

198

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Furto de material de pesca e peixes no mar


Um problema recorrente relatado em diversas ocasiões é o roubo de redes no mar.
Muito pescadores deixam suas redes do mar por um longo período de tempo ou de uma noite
por outra, por exemplo. As redes podem ser roubadas por inteiro ou em partes, ou então é
despescada por outros pescadores antes do dono da rede aparecer. A alta recorrência deste
tipo de conflito em nossos contatos com as comunidades de pescadores fortalece a idéia de
que o contexto urbano de uma grande metrópole (criminalidade, impunidade e
impessoalidade) e estende ao espaço marinho. Em várias ocasiões registramos relatos de
pescadores que foram ameaçados por armas de fogo no mar, por exemplo, ao reclamar de
uma ação ilegal ou predatória (ex. barcos de arrastão ou traineiras).

Figura 87 – Matéria publicada no jornal “O Globo”, no dia mundial do meio ambiente. A


notícia destaca a poluição causada pelo efluente domestico na Barra da Tijuca. Ao fundo
podem ser observadas as Ilhas Tijucas.

Pescarias predatórias
Fora os impactos e conflitos da pesca industrial e/ou com grandes embarcações, outras
três práticas são consideradas especialmente predatórias: 1) pesca com explosivos; 2) pesca
de arrasto; 3) pesca subaquática com equipamento de respiração autônoma.
A pesca com bombas parece não existir mais na área segundo relatos, mas permanece
na memória dos pescadores como uma prática que prejudicou a condição dos recursos
pesqueiros da área.
199

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

A pesca de arrasto de fundo com portas (chifrudos) é feita eventualmente por


embarcações provenientes de comunidades do interior da Baía de Guanabara (ex. Ilha da
Conceição). A captura e mortalidade de juvenis de peixes e outros organismos marinhos sem
discriminação é considerada extremamente prejudicial à integridade e sustentabilidade dos
recursos naturais do entorno da ilhas Cagarras. Vale ressaltar que o único relato da presença
de embarcações arrasteiras nas 5 comunidades pesqueiras visitadas foi em Jurujuba, onde um
informante indicou a existência de aproximadamente 3-4 pescadores de arrasto. O
conhecimento da localização das lajes e fundos rochosos permite que os arrasteiros se
aproximem bastante dos pesqueiros utilizados pelos pescadores artesanais, potencializando o
conflito (ex. ilha Cagarras, Redonda e praia de São Conrado).
A prática da pesca subaquática com equipamento de respiração autônoma (ex. pesca
de compressor) é também considerada como extremamente predatória. Esta prática permite
que o pescador permaneça por bastante tempo no fundo, aumentando de forma considerável
seu poder de pesca relativo àquele das pescarias de rede, linha e pesca subaquática em
apnéia. Foi relatado que pescadores amadores, não permissionados, também fazem uso desta
técnica na região. Por exemplo, em um vídeo recentemente divulgado na internet, um grupo
de pescadores subaquáticos mostra uma pescaria com equipamento SCUBA que ocorreu no
estado do Rio de Janeiro no início de 2009, onde capturam tubarão e garoupas em uma
profundidade de 50 metros12.
A prática de pesca com redes de malha pequena também foi frequentemente citada
como predatória, devendo ser alvo de estudo prévio e normatização específica.

Burocracia e ineficácia no permissionamento e ordenamento da pesca


Pescadores reclamam de excessiva burocratização dos procedimentos necessários para
obter o permissionamento, e questionam a finalidade das medidas de ordenamento.

Pesca Subaquática VS outros usos do espaço marinho


O pescadores de mergulho (Copacabana) relataram que a prática da sua atividade em
alguns locais se opõe a usos do espaço marinho. A presença de redes muito próxima aos
costões e entre canais de ilha e lajes traz o risco dos mesmos se prenderem às redes durante
o mergulho. O mesmo acontece com a redes abandonadas ou perdidas que permanecem
agarradas ao fundo e à meia água. Além destes riscos, destaca-se o elevado tráfego de
embarcações em alta velocidade na região, e o desrespeito à bandeira vermelha que indica a
presença de mergulhadores na água. Neste aspecto, o problema maior parece estar
relacionado ao Jet ski.

12
Para visualizar o video http://www.youtube.com/watch?v=pkfN4uhCJME Outra alternativa é buscar pelo seguinte
vídeo no Youtube “DENÚNCIA - Crime Ambiental e Covardia em Saquarema”

200

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Desenvolvimento Urbano VS pescadores artesanais


Pescadores de Itaipu estão receosos de que um projeto de ordenamento da praia venha
a limitar ainda mais o uso do espaço por eles, agravando o problema já causado pela
especulação imobiliária. O problema da especulação imobiliária é comum em diversas
comunidades pesqueiras no litoral Brasileiro. A valorização constante da orla e a elitização das
praias contribuem para o alijamento dos pescadores dos espaços tradicionalmente ocupados
na beira do mar. O resultante é que a ocupação e urbanização da orla por residências
estabelecimentos comerciais, restando aos pescadores a opção de morar nas favelas ou em
áreas bastante afastada do espaço de trabalho, manutenção e permanência dos instrumentos
de pesca (barcos, petrechos, comercialização).

Redes de emalhar perdidas no mar


Além de oferecer riscos aos mergulhadores, as redes de emalhar perdidas nos costões e
lajes da região são alvo de duras criticas pelos pescadores. Segundo as reclamações, estas
matem o seu poder de pesca por anos até que se degrade completamente, e continuam a
capturar recursos pesqueiros importantes, além de tartarugas marinhas.

Pesca artesanal VS outros usos do espaço marinho


A pesca artesanal vêm perdendo sistematicamente a predominância sobre o território
marinho ocupado tradicionalmente, para outras atividades e usos humanos. Somado à
escassez de recursos pesqueiros e poluição das águas costeiras, este conflito dificulta ainda
mais a prática da pesca artesanal, já que obriga os pescadores a explorar cada vez áreas e
pesqueiros mais distantes. Para muitos, o futuro da pesca artesanal é incerto. Dentre os outros
fatores que competem por espaço com a pesca no entorno das Ilhas Cagarras estão: 1)
tráfego crescente de navios (incluindo petroleiros e embarcações de apoio à atividade
petrolífera); 2) maior número de plataformas de petróleo; 3) maior número de embarcações
pesqueiras; 4) aumento do número de barcaças e rotas de tráfego onde não é permitido
pescar; 5) tubulações de óleo e gás criam grandes áreas de exclusão da pesca (500m); 6)
aterros em diferentes locais diminuíram áreas de pesca; 7) proibição de pescar próximo ao
arsenal da marinha, aeroporto e Iate Clubes;

Criação de uma UC em Cagarras


Este potencial conflito surgiu em muitos contatos da equipe com os pescadores das 5
comunidades. Como dito anteriormente, existe uma enorme resistência do setor pesqueiro
sobre as iniciativas que surgem do IBAMA ou ICMBio (este último órgão é completamente
desconhecido dos pescadores e ações de sua competência são sempre reportadas como ainda

201

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

sendo do IBAMA). A falta de confiança no órgão ambiental gera receio e pessimismo dos
pescadores sobre o impacto da possível UC na prática diária de sua atividade de pesca. Em
meio a tantos outros conflitos, os pescadores artesanais contrários à proposta de UC temem
perder mais pesqueiros, ou ainda, que se aumente a competição pelos recursos em
determinadas áreas. A maneira como a proposta anterior foi construída pelo órgão e
apresentada em audiência pública também parece reforçar este temor. A audiência pública foi
frequentemente lembrada como o momento ícone de mobilização e vitória dos pescadores
artesanais. Parece claro contudo que existe um grande desconhecimento dos detalhes da
proposta apresentada pelo IBAMA, especialmente sobre o delineamento das áreas de exclusão
de pesca e na gestão da Unidade.
No entanto, alguns pescadores das comunidades visitadas não são desfavoráveis à
medidas de conservação no local. Assim como foi evidenciado durante a audiência pública,
vários grupos de usuários são favoráveis e inclusive encaminharam propostas alternativas de
criação de UC nas Ilhas Cagarras, e concordam sobre a necessidade de ordenamento e
controle das atividades produtivas desenvolvidas no espaço marinho.
A pesquisa realizada por Ferketic et al. (in press) sobre a percepção dos diferentes
atores sociais do Rio de Janeiro sobre a proposta de criação da UC em Cagarras sugerem que a
proposta possui um grande potencial de trazer benefícios tangíveis para todos os grupos.
Todos os grupos, incluindo os pescadores, possuem interesses e acreditam na conservação,
segundo os autores deste estudo. Segundo eles, o entendimento dos interesses e necessidades
específicas de cada grupo são fundamentais para o sucesso de propostas de conservação no
local.
Entretanto, é importante considerar que a sociedade não é um todo homogêneo, pois a
causa, a finalidade e as possibilidades de intervenção estão colocadas, desde o início do
processo, de forma diferenciada e assimétrica para os diferentes grupos sociais envolvidos.
Reconhecer esse princípio é considerar que a criação de uma UC ou a institucionalização de
qualquer outro instrumento de gestão ambiental semelhante, é objeto de disputa na
sociedade, produto da objetivação de determinados grupos sociais que se definem no campo
ambiental pelas relações de concorrência e poder que estabelecem entre si. Assim, a maneira
como esta nova proposta será construída, ou seja, a forma como o processo será conduzido
pelo poder público e dialogado com os grupos de interesse, ditará em grande parte o sucesso
das futuras iniciativas.
Nesse sentido, entende-se que o Estado como mediador principal do processo de gestão
ambiental no país deverá prever mecanismos que assegurem a participação qualificada dos
pescadores no processo de discussão de criação da UC, bem como a inclusão de sua agenda de
prioridades.
Outro ponto que guarda estreita relação com a condução desse processo, é o que diz
respeito à gestão da atividade pesqueira, também incumbência do poder público. Nesse

202

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

sentido, seria importante que houvesse a predisposição de os órgãos competentes


convergirem ações e esforços que culminassem na aplicação de alguns instrumentos
normativos vigentes (portarias de proibição de pesca), por meio da fiscalização, dando, assim,
uma resposta efetiva aos problemas e conflitos existentes, tais como a atuação de barcos de
grande porte em áreas costeiras (na baía e no mar). Acredita-se que tal resposta poderia
contribuir para uma mudança positiva nas desgastadas relações entre poder público e
pescadores e, talvez, diminuísse a sensação de impotência frente à desfavorável correlação de
forças existente nesse cenário.

10.2 Estado atual dos recursos pesqueiros


Durante as oficinas de mapeamento participativo, os informantes especialistas foram
solicitados a discorrer sobre as mudanças na condição dos recursos pesqueiros explorados nos
principais pesqueiros da região.
Em termos gerais, é notável a grande diminuição na abundância dos cardumes em
todas as localidades (Tabela 73). O aumento do numero de pescadores e a exploração de
pesqueiros cada vez mais distante da costa contribuem para a manutenção da produção
pesqueira artesanal na região.

10.3 Considerações Finais sobre a Gestão Ambiental do Espaço Marinho no


Entorno das ilhas Cagarras
Pescadores de todas as comunidades visitadas utilizam o arquipélago das ilhas Cagarras
para diferentes pescarias, cada uma com um grau particular de importância econômica.
Através do presente estudo, foi possível verificar que as áreas propostas para restrição de
pesca na proposta apresentada pelo órgão ambiental em audiência pública, são muito
utilizadas pelos pescadores de Copacabana e Urca (pescarias de linha e mergulho
principalmente), maricultores de Jurujuba (extração de mexilhão adulto) e para a pesca de lula
por diversas comunidades.
Entendemos que a Gestão Ambiental Pública é acima de tudo um ‘processo’. Assim, é
preciso que os atores envolvidos na gestão ambiental pública dos recursos pesqueiros e da
conservação da biodiversidade marinha presente na área de entorno do arquipélago da Ilhas
Cagarras (instituições públicas e sociedade): 1) identifiquem e conheçam os instrumentos de
gestão existentes, 2) reflitam sobre as alternativas possíveis, 3) tomem (preferencialmente
juntos) as decisões e acima de tudo; 4) compartilhem as responsabilidades.
Em vista do contexto observado, destacamos a importância de se deflagrar um ‘processo’
participativo de gestão do uso do espaço marinho da região. Isto pode se dar através da
constituição de um ou mais ‘coletivos’ ou ‘fóruns’ de representantes das diversas instituições
com interesses e atribuições para tratar da resolução dos problemas atinentes à área. Em
qualquer processo de gestão participativa, se faz necessário “espaços/tempos” para se discutir
e construir alternativas para a resolução dos conflitos e problemas e tomar decisões em grupo.
203

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

No entanto, a escala de abrangência geográfica, atribuições e objetivos deste(s) ‘fóruns’ deve


atender as demandas e o contexto complexo de uso do espaço marinho na Baía de Guanabara
e zona costeira adjacente.
O presente estudo potencializou, em função da abordagem participativa adotada, um
ambiente e um conjunto de relações propícios para o diálogo e discussão sobre gestão
ambiental e da pesca. Os órgãos ambientais poderão utilizar destas parcerias construídas pela
ECOMAR para melhor se aproximar das comunidades para a continuidade das iniciativas de
gestão ambiental. Dentre os diferentes usos do espaço marinho, a atividade da pesca é uma
das mais importantes, pois compreende a sustentabilidade econômica e cultural de milhares de
pessoas. Por isto, entendemos que os pescadores artesanais das 5 comunidades estudadas
devem ser integrados em todas as discussões, principalmente naquelas com influência sob o
entorno das Ilhas Cagarras.
Embora uma ou mais Unidades de Conservação possam fomentar a instituição deste
fórum (ex. através de um conselho gestor), algumas categorias de conflitos podem ser
trabalhados através de acordos de pesca, um instrumento de gestão pesqueira que vêm
sendo utilizado com muito sucesso em diversas localidades do Brasil (De Castro, 2001). O
estudo aqui apresentado contribuiu para o conhecimento de alguns destes conflitos, os quais
devem ser levados em consideração neste processo de gestão. Embora ainda outras
ferramentas de gestão sejam possíveis de implementar, incluindo os chamados Fórums de
Pesca e Câmaras Técnicas, é importante ressaltar que já existe na região um conjunto de
legislação para o ordenamento da pesca, que se for devidamente aplicado (fiscalização),
contribuirá significativamente para a conservação marinha, diminui os conflitos hoje existente
e aumentando a predisposição dos usuários para a cooperação na gestão.
O ICMBio encontra-se sob total fragilidade e imprevisibilidade institucional no que se
refere à implementação das AMPs no Brasil. Gerhardinger (2008), avaliando a gestão de 9
AMPs no Brasil através do olhar dos próprios gestores, revelou 8 dramas que vem
atrapalhando, senão impedindo, que o pais cumpra com seus compromissos assumidos junto à
Convenção da Diversidade Biológica e outras convenções: 1) falta de motivação dos gestores;
2) fraquíssimo manejo sendo executado; 3) divisão institucional do IBAMA; 4) desconexão
entre as políticas e sua execução; 5) problemas com os mosaico de AMPs; 6) conexões trans-
escalares muito limitadas entre órgãos governamentais de gestão marinha; 7) limitação
financeira criando problemas estruturais e; 8) um incrivelmente burocrático sistema
administrativo.
No Rio de Janeiro, a realidade atual é de falta de recursos humanos, financeiros e
logísticos para a condução e implementação de um processo participativo de gestão ambiental
robusto e de longo prazo. Um do argumentos utilizado pelo órgão ambiental é que a própria
Unidade de Conservação de proteção integral nas Ilhas Cagarras, quando criada, atrairia
recursos para a implementação da UC. Embora seja esta uma solução possível para a atual

204

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

limitação de recursos disponíveis no órgão, a adoção desta estratégia não resolve o atual
problema, que é fortalecer um processo de gestão participativo mesmo antes da UC ser criada.
Um processo de criação de AMP mal conduzido pode trazer dificuldades ainda maiores para a
sua implementação no futuro.
O atual contexto institucional do ICMBio pode favorecer uma abordagem centralizadora
nas decisões e encaminhamentos. É preciso observar observar a capacidade operacionais,
recursos humanos e financeiros do órgão para efetiva implantação da unidade, bem como para
a condução de um diálogo amplo com a sociedade. Uma vez que o ‘processo’ de gestão
ambiental pública é deflagrado, é importantíssimo dar continuidade e respaldo institucional ao
mesmo. No entanto, o contexto urbano e a dinâmica de uma metrópole costeira impõem,
como relatado anteriormente (tópico ‘mobilização’ na seção ‘abordagem metodológica’),
desafios ainda maiores para a mobilização e coordenação contínua de reuniões e encontros
sistemáticos com um grupo diverso de atores. No Rio de Janeiro, a realidade atual é de falta
de recursos humanos, financeiros e logísticos para a condução e implantação de um processo
participativo de gestão ambiental robusto e de longo prazo.
Entendemos que a intermitência, a morosidade e, por fim o pouco conhecimento
das condições sociais da produção pesqueira atuante na região, durante o processo de
construção da proposta, foram fatores determinantes da fragilidade que a mesma encontrou
diante da audiência pública. Foram 20 anos de trâmites no total. Entre 2002 e 2007, momento
em que a proposta tomou corpo e os encaminhamentos mais evidentes e claros junto ao órgão
ambiental, o diálogo com os atores envolvidos foi limitado a poucas reuniões em grandes
intervalos de tempo. Notamos também que talvez por este motivo, houve pouca continuidade
e recorrência na participação dos representantes e atores-chave no processo.
Não queremos com isso argumentar que o processo de criação de uma Área Marinha
Protegida deva ser conduzido com rapidez. A idéia é que a construção e ‘amarração’ com os
atores chave deve ser consistente, respeitando a dinâmica própria e o tempo que o contexto
exigir. Neste aspecto, um ponto fraco no histórico foi não-inclusão participação dos pescadores
artesanais no Grupo de Trabalho criado pelo órgão ambiental para coordenar a criação da UC
nas Ilhas Cagarras, evidente em um ofício encaminhado pela Colônia Z-13 à SEAP:

“...os pescadores da Colônia Z-13 de Copacabana, que sempre vivemos da subsistência da pesca
diária nas ilhas, e que somos os maiores conhecedores e interessados nos problemas que afligem o
nosso arquipélago, não podemos aceitar ser deixados de lado de um grupo gestor que vai administrar
uma área que é nosso local de trabalho, visto que temos uma situação geográfica única de estar em
um perímetro de apenas quatro quilômetros das ilhas, e fazemos questão de participar, com voz
ativa dentro desse grupo, e contribuir com nossa experiência e conhecimento, para a melhor
proteção possível do arquipélago”.

Tal afirmação deixa claro que a pesca surge como uma categoria oriunda de uma
prática comum que os define na esfera social e os opõe àqueles que tem outras opções de
205

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

atividade e emprego. Corrobora também a idéia de que o espaço marinho não é apenas um
ambiente natural, mas um espaço significado, cujas práticas sociais que ali se desenvolvem
(seu trabalho) lhes atribui sentido e, por isso, devem ser consideradas na construção de
qualquer proposta que venha a ter relação com a reprodução social desse grupo.
Como resultado do processo de construção coletiva, proporcionado pela metodologia
aplicada nesse diagnóstico, se pode observar que, em meio a realidade urbana de uma
metrópole como o Rio de Janeiro, existe uma grande diversidade de pessoas que fazem da
pesca artesanal seu principal meio de vida, ou possuem nela, um complemento importante
para a renda familiar. As saídas diárias em busca do pescado que abastece parte do comércio
local e regional, não se resumem ao estabelecimento de estratégias de captura dos pescados,
pois são inúmeros os conflitos vivenciados com embarcações de porte industrial que disputam
o mesmo espaço marinho e os recursos pesqueiros, expondo aspectos cruciais que envolvem a
gestão da atividade pesqueira, e também um cenário de crescente degradação ambiental que
tem agravado processos sociais geradores de maior vulnerabilidade para esse grupo social.
Assim, qualquer lei, norma ou regulamento que se apresente descolada do mundo real,
terá sua aplicação profundamente questionada pelo meio social sobre o qual incide. Nesse
sentido, sustenta-se que qualquer estratégia de implementação de instrumentos de gestão
ambiental que venha a ser levada a cabo pelo poder público, requer um mínimo de
funcionalidade e, para que tenha efeito, deverá levar em consideração essa realidade, sob
pena de não cumprir seu objetivo. Para garantir uma gestão ambiental pública inclusiva e
democrática é necessário assegurar que os diferentes grupos sociais tenham participação
garantida e qualificada dentro do processo decisório que envolve a distribuição social dos
custos e benefícios decorrentes do uso e exploração dos recursos ambientais.
A inconsistente articulação prévia do IBAMA com os atores locais deixou vulnerável a
proposta apresentada em audiência pública, mesmo que ela tenha sido fruto de algumas
reuniões com os pescadores, marinha e outros atores sociais, onde o IBAMA parece ter
procurado estabelecer um algum nível de mediação de interesses. Prova disto pôde ser
percebida no grande impacto das informações equivocadas veiculadas pela ONG VIVAMAR
sobre a proposta do órgão ambiental. Esta ONG parece ter articulado pesadamente em
diversas instâncias políticas e na mídia, com o aparente objetivo de confundir as pessoas sobre
os detalhes da proposta de UC.
Por este motivo, acreditamos que o processo de gestão compartilhada na região deva
se dar através de parcerias interinstitucionais com as universidades e organizações não-
governamentais com atuação local, agências governamentais com atuação na área marinha e
usuários dos recursos pesqueiros. O órgão ambiental precisa de apoio neste difícil, complexo e
dinâmico contexto socioambiental. Alem disto, este já demonstrou ser um ótimo mecanismo
para o sucesso de iniciativas de gestão pesqueira em outras localidades do litoral brasileiro
(Gerhardinger, 2009; Seixas et al., 2009).

206

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Tabela 73– Relatos obtidos durante as oficinas de mapeamento participativo, sobre a variação histórica na
produtividade dos principais pesqueiros no entorno das ilhas Cagarras.
Comunidade /Pesqueiro/tipo Produção de um bom dia de pesca, se Produção atual de um bom
pesca possível, a 20 anos atrás dia de pesca
COPACABANA
Rede
Rede linguadeira na beira da
praia.
Cerca de 100 a 200 kg de linguado na Barra Em torno de 10 a 15 kg de
Mais freqüente entre o hotel linguado. O linguado está cada
Costa Brava até a Ponta do vez mais difícil de ser capturado
Leme.
Rede linguadeira no cascalho.
No largo (dos 30 aos 40m de Há 10 anos atrás capturavam cerca de 200kg de Cerca de 40kg (dependendo do
profundidade), entre as Ilhas peixe (incluindo tamboril, badejo e viola). tamanho da rede). Uma boa
Redonda e Rasa e por fora da Antigamente pescavam todos os dias com este produção seria 20kg de tamboril
ilha Comprida. artefato mais 20kg de cação viola
Rede corvineira.
Largo e perto da costa Há 20 anos não precisavam ir tão longe para pescar. Uma boa pesca no largo rende
(terra). Do Surriá à beira da Começaram a freqüentar o largo a partir de 1995. atualmente 100 a 200kg. A
praia até a ponta do Nesta época, capturavam entre 1000 a 2000 kg pesca na beira da praia não
Arpoador. Raramente na numa boa pescaria produz em grande quantidade.
praia de Copacabana. Do
Leme até a ilha de
Cotunduba.
Rede alta come-dorme.
Beira da praia, do Leme ao Antigamente, uma boa pescaria produzia entre 100 a Atualmente uma rede come-
Juá (Costa Brava). Desde a 300kg. Um peixe que se capturava muito era a dorme produz 30kg de pescado.
arrebentação até 150 m para sororoca, espécie que hoje quase não se encontra Captura-se muitos peixes
fora. pequenos.

Pesca de linha no Emissário A produção era considerada muito melhor Aproximadamente 400 reais (2
antigamente caixas de anchova, ou 50-70kg)
Mergulho
Pai, Mãe, Menina De sete a dez anos atrás podiam capturar 40 kg de A captura caiu muito, está dez
badejo e garoupa em uma boa pescaria. De dez anos vezes menor do que
para cá mudou muito. Em qualquer ilha podia-se ver antigamente. Hoje em dia é
cardumes de badejos (cerca de 50 peixes juntos). muito difícil capturar 10kg de
Mergulhavam numa profundidade de 5 metros é já pescado, que é o valor
viam o peixe, hoje descem 20 metros e está difícil considerado para uma ótima
encontrar qualquer coisa. pescaria nos dias de hoje
Ilha Rasa Era possível capturar em torno de 50 quilos de Dependendo das condições de
peixes de passagem em uma pescaria. água, é possível capturar até 20
quilos de peixe (peixes de
passagem, pelágicos).
Redonda e Filhote Há 10 anos esta era a melhor ilha. Não se pescava Uma boa pescaria captura em
menos que 50kg de pescado em uma pescaria. Nos torno de 15kg de peixe.
anos 1990 a 1992, já chegaram a pescar 80kg de
anchova em um dia. O acentuado declínio de peixes
ocorreu depois que começaram a pescar muito com
redes de malha e arrastões.
Laje da Redonda – Banco do Idem Redonda e Redondinha. A produtividade era Idem Redonda e Redondinha.
Brasil muito alta antigamente, sendo possível capturar 50
quilos de anchova em uma pescaria.
Ilhas Cagarras 50 a 60kg. 15kg de pescado em uma boa
pescaria O polvo é um recurso
que acabou nas Cagarras.
Ilhas Tijucas Uma boa pescaria há cerca de 10 anos atrás, rendia 20 kg
50 – 60kg.
URCA
Linha Pescavam muito anchova grande (de Podem capturar em torno de
Lajinha das Cagarras aproximadamente 8 Kg) na entrada da Barra. Não 300Kg de peixe se pescar a noite
precisavam ir longe. Explicam que há 20 anos atrás toda entre 3 pescadores.
nem iam para as Cagarras. Começaram na Laje das Explicam que este é um ponto
Cagarras quando os barcos industriais começaram a de passagem dos peixes e que
207

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

o capturar o pescado da barra. “Quando começaram esses peixes param muito na


a vir principalmente os barcos de Itajaí (SC), nos laje. Ricardo diz que quando a
anos 1980, a partir daí a pesca começa a cair muito” água dá condições, vão para
(Ricardo). outros pesqueiros onde tem
pescaria, “então a gente muda,
quando a água está mais ou
menos, a pesca é em cima dos
pargueiros. Para a pesca
esportiva uma bom dia é 30-
40kg
BARRA
Rede
Rede linguadeira. Pescava-se 100 – 150kg de linguado. Boa pescaria: 8 linguados em
Do pontal até o Hotel Costa média, de 2 a 7kg. Hoje tem
Brava. Da praia até a 500m muito mais redes linguadeiras e
fora. A praia da Barra é um não pegam tanto quanto
bom pesqueiro de linguado. pescavam (linguado). Motivo da
redução: poluição da Lagoa.
Hoje pesca-se no máximo 20 ou
30kg de linguado.
Corvineira pequena (rede de
espera)
Até 15 anos atrás tinha muito camarão. Antes da No máximo 200-300 quilos
Do Leblon até o quiosque Barra crescer era necessário fazer três viagens para
antes do canal trazer todo o peixe capturado, não tinha muita
venda, mas dava muito peixe, não tinha tanto
arrasto, não tinha esgoto, a lagoa era um berçário.
Pescava-se corvina de 3 a 4 kg e robalo. De julho a
agosto, pegava-se muito camarão dentro da lagoa.
Corvineira grande (rede de
espera).
Não se pescava lá ha 20 anos. Começaram a partir Uma boa pescaria chega a 50 –
Banco de cascalho perto das de 2001, devido à escassez na costa. No início 60kg no máximo (No entanto faz
ilhas Redondas. ‘Bin Laden’ colocava-se todos os dias, com apenas dois panos de dois anos que não entra corvina)
(20 a 30 min navegando). rede capturava-se cerca de 200kg.
Rede Alta (fundo)
Ilhas Tijuca e praia da Barra. O barco afundava. Era muito peixe. O Badejo era Depende muito da sorte. Uma
farto, e hoje não tem mais nada boa pescaria é 40-45kg de
anchova. 70-75kg de pampo,
pitangola, pirangica
Rede de caceia.
Costões e em cima das lajes. Há 20 anos só utilizavam caceia no Surriá, faziam Depende do pesqueiro. Este ano
Surriá e nas pedras ao redor uma caceia fixa, e tiravam facilmente 300kg de pegaram muita anchova. Uma
das Ilhas Tijucas. peixe. Muita produção de badejo. boa pescaria, se tiver sorte,
chega a 100kg.
Rede de cerco - batida – bate
poita
Muita produção 300 quilos
Só na costa, de 12 a 20m.
Linha
Linha e rapala. Antes eram poucos pescadores, pescava-se tanto
Da praia da Barra até Praia peixe que não tinha vendedor. Antes o pescador
Boa pescaria é 40 a 60 kg.
do Recreio, da beira da praia tinha que dar o peixe praticamente de graça. Hoje
até 30-40m. tem mais procura o preço é melhor. Antes dois
pescadores voltavam com 400kg, hoje voltam 10
pescadores com 400kg. Antes tinha muito peixe e
tinha que dar o peixe praticamente de graça, porque
o preço cai. Diminuiu muito o peixe, mas aumentou
muito o número de pescadores, então a quantidade
capturada continua estável ao longo do tempo.
Lula
Ilhas Cagarras, do VIPS até o Não pescavam lula. Começaram a pescar de 8 anos Uma boa pescaria é 40 kg.
emissário, em frente ao Hotel para cá com a dica dos pescadores esportivos Depende da maré e da água
Costa Brava, em frente à (temperatura).
Barra

208

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

11. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Abdallah, PR; Sumaila, UR (2007). An historical account of Brazilian public policy on fisheries
subsidies, Marine Policy, 31, pp.444-450.
BRASIL (2000) Lei No 9.985, de 18 de Julho de 2000, institui o Sistema Nacional de Unidades
de Conservação - SNUC
Bunce, L.; Townsley, P.; Pomeroy, R., Pollnac, R. (2000). Socioeconomic manual for coral reef
management. Global Coral Reef Management Network, NOAA, IUCN. 180p.
Cordioli, S. 2001. Enfoque participativo no trabalho com grupos. IN:Metodologias
participativas: uma introdução a 29 instrumentos. Markus Brose (org). Porto Alegre:
Tomo editorial.
De Castro, F. (2001). O manejo comunitário de lagos na Amazônia, Parcerias Estratégicas,
n°12, Setembro 2001 : 112-126.
Diegues, AC. (1983) Pescadores, camponeses e trabalhadores do mar. São Paulo, Ática, 1983.
Duarte, LFD. (1978) As redes do suor; a reprodução social dos trabalhadores da produção do
pescado em Jurujuba. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) - Programa de
Pós-Graduação em Antropologia Social, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1978.
EL PASO (2007). Relatório Descritivo do Plano de Compensação da Atividade Pesqueira, Fase
III – Segunda Campanha de Perfuração Exploratória do Bloco BM-CAL-4 – Bacia de
Camamu-Almada. Revisão 00. 163 p.
FAO. 2001. Análisis Socioeconómico y de género: Manual para el nível de campo. 140p.
Ferketic, JS; Allen, JM; Monteiro-Neto, C; Silander, J. (in press). Conservation Justice in
Metropolitan Rio de Janeiro: A Case Study at the Cagarras Archipelago. Biological
Conservation.
Gerhardinger, Leopoldo C. ; Godoy, Eduardo A.S. ; Jones, Peter J.S. (2009). Local ecological
knowledge and the management of marine protected areas in Brazil. Ocean & Coastal
Management, v. 52, p. 154-165,
Gerhardinger, LC. (2008) Local Ecological Knowledge and Marine Protected Areas for Marine
Conservation in Brazil. Msc in Conservation dissertation. University College London.
Jones, PJS. (2007) Arguments for conventional fisheries management and against no-take
marine protected areas: only half of the story? Reviews in Fish Biology and Fisheries
17(1), 31-43..
Kareiva, P. (2006) Conservation Biology: Beyond Marine Protected Areas, Current Biology,
16(14), pp.533-534.
Kant de Lima, R; Pereira, LF. (1997) Pescadores de Itaipu: Meio ambiente, conflito e ritual no
litoral do Estado do Rio de Janeiro. Niterói: EdUFF, 1997.
Lage, H; Jablonski, S. (2008). Mussel Perna perna extraction and commercialization in
Guanabara bay, Brazil.

209

Apoio financeiro Execução


Caracterização da Atividade Pesqueira no Entorno das Ilhas Cagarras, Rio De Janeiro

Margem, BC. (2004). Crescimento e Mortalidade de /Micropogonias furnieri/ (Desmarest,


1823) (Teleostei: Sciaenidae) na pesca artesanal de Itaipu, Noterói - RJ. Monografia
(graduação) - Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Centro de Ciências
Biológicas e Saúde, Bacharelado em Ciências Biológicas, 27p.
Nehrer, R. (1997). Colônia de Pescadores no Posto Seis - Copacabana: Tecnologia e Recursos
Pesqueiros. Dissertação de mestrado em Ecologia. Unicamp.

Oakerson, RJ. (1992) Analyzing the Commons: a framework. In: BROMLEY, D. W. et al.
Making the Commons Work: theory, practice and policy. San Francisco: ICS Press,
1992, pp. 41-59.
Ortiz, M; Pompeia, S. 2005. Diagnóstico Participativo. Curso em Capacitação em DRP – El
Paso. 25p.
Pereira, CS; Possas, CA; Viana, CM; Rodrigues, DP. (2004). Aeromonas spp. e Plesiomonas
shigelloides isoladas a partir de mexilhões (Perna perna) in natura e pré-cozidos no Rio
de Janeiro, RJ. Ciênc. Tecnol. Aliment. 24(4): 562-566.
Pido, D. M; Pomeroy; R. S; Carlos, B. M; Garces, R. L. (1997). A handbook for rapid appraisal
of fisheries management systems (version 01). ICLARM. Educ. Ser. 16, 85p.
Rangel, CA; Chaves, LCT; Monteiro-Neto, C. 2007. Baseline Assessment of the Reef
Assemblage from Cagarras Archipelago, Rio de Janeiro, Southeastern Brazil. Brazilian
Journal of Oceanography, 55(1):7-17.
Roldan, OFM; Christensen, EV. (2004). Desenvolvimento econômico local: Geração de
Emprego, Renda e Qualificação Profissional: Estudo de caso da Associação Livre de
Maricultores de Jurujuba – Niterói, Rio de Janeiro. 10pg.
Seixas, CS; Minte-Vera, CV; Ferreira, RG; Moura, RL; Curado, IB; Pezzuti, J; Thé, APG;
Francini-Filho, RB. (2009) Co-managing commons: Advancing aquatic resources
management in Brazil. In: Current Trends in Human Ecology. Cambridge University
Press, Chap. 7.
Soares, MTC. (2003) Degradação sócio-ambiental: a crise da atividade pesqueira em Jurujuba
- Niterói/RJ. Dissertação (Mestrado em Sistemas de Gestão) Departamento de
Engenharia de Produção, Universidade Federal Fluminense, 2003.
Soares, MTC; Alves-Lima, GB; Brandão, AAP. 2005. Impactos econômicos da degradação
ambiental: A crise da atividade pesqueira em Jurujuba – Niterói/RJ. REAd – Edição
44(11)2: 1-9.
Torres, CM. (2006). Cultura local: saber, ilustração, instrução para a sustentabilidade
ambiental urbana. Estudo de Caso: Terminal Hidroviário, recém implantado, no Bairro
de Charitas, localizado na Cidade de Niterói / RJ.

210

Apoio financeiro Execução


12. ANEXOS

211
ANEXO 1 - Matérias Jornal do Brasil

Colônia Z-13 de Copacabana reclama da pesca predatória


Carlos Braga, Jornal do Brasil
RIO - Muita coisa mudou desde que pescadores fundaram uma colônia, em junho de 1923, em uma das
pontas da Praia de Copacabana, onde atualmente é o Posto 6. Os edifícios subiram, a praia foi aterrada
para a duplicação da pista da Avenida Atlântica, os peixes sumiram e o pessoal que tira o sustento do
mar passou a ser comandado por uma mulher.
Na colônia Z-13 trabalham cerca de 40 pescadores, entre donos de barcos, que são 20, e ajudantes, em
geral dois para cada embarcação. O dia começa por volta das 5h30, quando saem os primeiros barcos.
Na rua, só gente que madruga para correr no calçadão e os primeiros a desertar das pistas de dança.
Para entrar na água, eles empurram o barco pela areia até sobre tocos de madeira, que vão tirando do
fim e colocando no início. Há dias em que vão até as Ilhas Cagarras, em Ipanema. Quando acham que
vale a pena, navegam até a Barra, são duas horas e meia para ir e outras para voltar.
– Pescador é que nem cão farejador. A gente vê o peixe “malhado” na rede e sabe de onde ele vem.
Antigamente era bom ir para a Barra para pescar linguado. Hoje em dia o pessoal de lá aprendeu a
pescá-lo – conta o cearense de Aracati José Manoel Pereira Rebouças, o Pavão, de 49 anos.
Mas ele não gosta de comer.
– Na minha terra é amaldiçoado, tem a boca torta e os dois olhos do mesmo lado – explica, rindo.
“Malhado” é o jeito como o peixe é pego na rede. Sua posição denuncia de onde vem, lugar para onde
vão os pescadores assim que percebem a dica. Atualmente nem sempre é garantido segui-la. Todos se
queixam da queda brusca na quantidade que cai na rede ou na linha dos barcos. Culpam a pesca
predatória, feita por empresas que dispõem de barcos com tecnologia que permite localizar e capturar
cardumes inteiros. Com sua técnica artesanal, os pescadores da Z-13 conseguem, num dia muito bom,
pegar de 200 kg a 300 kg. Na quarta-feira, a média era de 15.
Paulo Cesar Tavares, 49 anos, lembra do tempo, uns oito anos atrás, em que na entrada da boca da
barra dava mil quilos de peixe, que pediam três viagens de barco. Se não é conversa de pescador, a
coisa piorou bastante. Paulo Cesar diz que, por conta dessa escassez, peixes que não faziam muito
sucesso hoje não param mais na bancada.
– Tinha um peixe chamado el diablo, ou diabinho, que ninguém queria. A gente jogava fora. Hoje está
todo mundo comprando. Que nem o peixe-sapo. Quando vinha na rede a gente pensava, lá vem esse
monstro! Hoje os italianos levam tudo. Baiacu também. Antigamente ninguém comia. Hoje, quando
chega a época, o mar fica cheio de lancha de riquinho pescando baiacu – conta.
Favela, asfalto e areia
A maioria dos pescadores mora nos morros próximos, como Pavão-Pavãozinho, Cantagalo e Tabajaras. A
renda está entre um e três salários, a depender do tempo, do mar e dos peixes. Preferem o verão para
trabalhar. Dizem que o inverno é uma tristeza, tem muita ressaca e o mar fica ruim. José Manoel diz que
nessa época há quem chegue a “garimpar” na areia da praia para garantir o sustento, procurando por
cordões, dinheiro e anéis.
– Os melhores meses são março, abril e maio. Aparece muito peixe: anchova, corvina, olho-de-cão e
pescada. A gente vende direto para o cliente, para tentar se livrar do atravessador, que acaba lucrando
mais do que a gente – lamenta José Manoel, dizendo que um quilo de linguado na colônia sai por R$ 20 e
nas peixarias por R$ 25.
Por volta das 8h30 voltam os primeiros barcos. Quarta-feira realmente não foi um dia bom. Os
pescadores acomodam, em apenas quatro dos 20 boxes de exposição, sardinhas, robalos, garoupas,
pampos, bagres e pacus. Um polvo é colocado numa caixa com gelo. A maioria é vendida no olho,
negociada com cada cliente. Só peixes nobres, como robalo, são pesados na balança. São limpos ali
mesmo.
O francês Mattheus Stanic, 25 anos, fica por ali, ajudando um e outro. Veio de Nice e está há oito meses
no Rio, na casa da namorada brasileira, no Leme. Em bom português, explica que veio de uma família de
pescadores e que procura trabalho. Diz que em sua cidade a pesca está mais mecanizada, apesar de o
estilo mais artesanal, como o que encontrou aqui, ainda sobreviver. Prefere o sabor do peixe do
Mediterrâneo, apesar de achar que aqui a quantidade é maior.
– Me falaram que tem um barco que vai sair daqui a pouco. Vou com ele. Se não, volto outro dia – conta,
no melhor estilo Caymmi.
20:08 - 07/03/2009

212
Na colônia Z-13 a mulher não fica esperando o marido voltar
Carlos Braga, Jornal do Brasil
RIO - Pescaria sempre foi considerada coisa de macho. Até hoje é difícil encontrar moças que listem o
esporte entre as suas preferências na hora de lazer. Que dirá, então, fazer dessa atividade o seu
sustento? Pois Kátia Janine não só viveu disso por muito tempo como é a presidente, há mais de dois
anos, da colônia de pescadores Z-13. E se candidatou a pedidos. Nem por isso se livrou de atritos com
alguns de seus companheiros, homens do mar. Na primeira reunião que presidiu, um dos associados se
levantou e lhe disse na cara que não a queria no comando por que era mulher.
– Em outras ocasiões teve gente avisando que não ia aceitar ordem de mulher. Expliquei que não queria
mandar em ninguém e tal. Hoje somos muito amigos, mas na hora tivemos esse problema. Até hoje tem
uns turrões que não me aceitam na presidência – conta Kátia, rindo.
O mandato é de quatro anos. Kátia se candidatou porque pensara que ainda era de dois anos. Por um
lado achou bom, dois é pouco; mas, por outro, não vê a hora de sair. Quer voltar para a pescaria, mas
não arranja tempo. A Z-13 abrange os núcleos que vão da Urca até o Pontal do Recreio. Chega à colônia
por volta das 8 e vai embora às 15h. Não há rotina. Cada dia tem os seus pepinos, ou melhor, ouriços.
Na quarta-feira, ajudava um associado a comprar peças novas para seu barco. Intermediou toda a
negociação entre o enrolado pescador e um atrapalhado vendedor.
– Eles falam que tinha que ter uma mulher aqui para arrumar a casa. Acho que homem, às vezes, é meio
preguiçoso, meio mole – avalia.
Pesca e ombros largos
Kátia começou seu caso de amor com o mar ao lado marido, na Ilha do Governador, em 1988. Ele se
dividia entre o emprego de motorista da Comlurb e a pesca. Os casal botava o barco na água, todo dia,
às 7h30, depois de Kátia levar os filhos para a escola. Parecia letra de Caymmi. Era dureza. O barco era a
remo. De vez em quando eles improvisavam uma vela de plástico para aproveitar o vento e se cansar
menos. Da época, ficou a habilidade em lidar com os apetrechos de pesca e os ombros de nadadora.
– Por isso que fiquei larga aqui (aponta com as duas mãos para os ombros). Quando vi, não tinha mais
jeito – lamenta-se, bem humorada, Kátia, que não gosta de peixe, só de camarão.
Mas Kátia não é a única mulher na associação de homens do mar. Dona Tininha, como é conhecida
Logina Lazarini Rodrigues, de 72 anos, já trabalhou 10 anos como pescadora, com o marido. Mineira de
Ponte Nova, veio para o Rio por recomendações médicas, devido a uma bronquite. Apaixonou-se pelo
mar e não voltou mais. Hoje mora em Madureira, na Zona Norte. Pescava de rede e de arrastão, na beira
da praia, o que não faz mais.
– Adoro pescar, mas tenho osteoporose. Não dá mais. Gosto de pescar e de comer o peixe, mas peixe de
segunda, como corvina. Desses peixes caros não gosto muito não – explica Dona Tininha, reclamando
que hoje o produto anda escasso.
20:10 - 07/03/2009

213
ANEXO 2 - Lista de nomes populares e científicos dos recursos pesqueiros utilizados pelas
comunidades de entorno das Ilhas Cagarras

Nome comum Família Espécie


Anchova Pomatomidae Pomatomus saltatrix
Anchoveta Engraulidae
Badejo saltão Serranidae Mycteroperca acutirostris
Bagre Ariidae Genidens sp
Batata Malacanthidae
Bicuda Sphyraenidae
Bodião Labridae
Bonito cachorro Scombridae Auxis sp
Cabrilha Triglidae
Cação anjo Squatinidae Squatina occulta
Cação bicudo ??? ???
Cação martelo Sphyrnidae Sphyrna sp
Cação viola Rhinobatidae
Carapeba Gerreidae Diapterus rhombeus
Cavala Sphyraenidae
Cavalinha Carangidae Scomber japonicus
Cavaquinha Scyllaridae Scyllarides deceptor
Cherne Serranidae Epinephelus niveatus
Cioba Lutjanidae Ocyurus chrysurus
Cocoroca Haemulidae
Corvina Scianidae Micropogonias furnieri
Dourado Coryphaenidae Coryphaena hippurus
Enxada Ephippidae Chaetodipterus faber
Espada Trichiuridae Trichiurus lepturus
Galo Carangidae Selene vomer
Epinephelus marginatus (=
Garoupa Serranidae Mycteroperca marginata)
Gordinho Stromateidae Peprilus paru
Guaibira Carangidae Oligoplites SP
Guaibira Carangidae Oligoplites
Linguado Paralichthyidae
Maria mole Sciaenidae
Marimbá Sparidae Diplodus argenteus
Mexilhão Mytilidae Perna perna
Miracéu Uranoscopidae Astrocopus sp
Olhete Carangidae Seriola
Olho de boi Carangidae
Olho de cão Priacanthidae Priacanthus arenatus
Palombeta Carangidae Chloroscombrus chrysurus
Pampo Carangidae Trachinotus sp
Papa terra Sciaenidae
Parati Mugilidae
Pargo Sparidae Pagrus pagrus
Peixe aipim Serranidae Diplectrum sp
Peixe porco Monacanthidae Stephanolepis hispidus
Perna de moça Sciaenidae
Peroá Balistidae Balistes carolinensis
Pescada Scianidae
Pirangica Kyphosidae Kyphosus sp
Piraúna Serranidae Cephalopholis fulva
Pitangola Carangidae Seriola sp

214
Polvo Octopodidae Octopus vulgaris
Rhinobatos sp
Robalo Centropomidae Centropomus sp
Roncador amarelo Sciaenidae
Sargo de beiço Sparidae Anisotremus surinamensis
Serra Scombridae Scomberomorus brasiliensis
Sororoca Sphyraenidae Scomberomorus brasiliensis
Tainha Mugilidae Mugil sp
Tamboril Lophiidae Lophius gastrophysus
Tira vira Synodontidae Synodus foetens
Xaréu Carangidae
Xerelete Carangidae Carangoides sp

215
ANEXO 3 - Fichas de Conteúdo das Oficinas de Mapeamento Participativo

QUEBRA MAR INTRODUÇÃO


Mapeamento participativo – Caracterização da pesca – Arquipélago Cararras
Comunidade: Barra – Quebra-Mar Data: 12/02/2009
Moderadores: Leopoldo e Luciara Anotador: Naila e Liandra
Participantes: Fábio, Valtinho, Pica-Pau, Alexandre, Boréo, Jorge (senhor que anotou e-mail e conversou
ao final com Leopoldo)
As principais marcas são (do sul para o norte):
1. Quiosque (laje) do Pontal
2. Torre
3. Navio afundado
4. Emissário
5. Azul (prédios do condomínio Alfabarra): laje
6. Via 11
7. Shell (posto combustível - posto 7 da Barra): laje – fundo de pedra com 12 a 20 metros
profundidade
8. Barramares (Condomínio) – laje em frente a Barra – fundo cascalho
9. Praça do O:
10. Laje Dinabá – em frente restaurante
11. Costão (dobra esquerda do Quebra-Mar)
12. Clube do Costa Brava
13. Meio do Elevado (2 lajes)
14. Pedra dos cachorros
15. Praia de São Conrado – Igrejinha
16. Costão do Niemayer (chapéu do pescador)
17. VIPS (hotel)
QUEBRA MAR: ARTE DE PESCA: REDE LINGUADEIRA
Descrição do petrecho: limite de profundidade 12m. A rede é colocada paralela à praia.
Pesqueiro: do pontal até a o Costa Brava. Da praia até a 500m fora. Não pescam mais em São Conrado,
pois lá pescam os pescadores de Copacabana. A praia da Barra é um bom pesqueiro de linguado.
Época: de agosto a outubro (época grossa: muito peixe). Janeiro a Abril, neste período a espécie alvo é
o cação viola, que gosta de lula, mas também pesca-se sargo e pirangica.
Freqüência:
Recursos principais: Linguado (inverno) e viola (verão)
Tipo de Fundo: areia, cascalho, lajes (Shell até os Cabritos – até 12 metros profundidade)
Aspectos qualitativos da produtividade:
Hoje: Boa pescaria: 8 linguados em média, de 2 a 7kg. Hoje tem muito mais redes linguadeiras e não
pegam tanto quanto pescavam (linguado). Motivo da redução: poluição da Lagoa. Hoje pesca-se no
máximo 20 ou 30kg de linguado. Neste ano Alexandre voltou com 20 kg (verificar se foi a melhor
pescaria do ano).
20 anos: pescava-se 100 – 150kg de linguado. “Entrava aqui dentro na lagoa”
Conflitos: as pessoas respeitam seus espaços, não há conflito entre os pescadores da Barra. O problema
é com a traineira que cerca em cima deles.
O que tem para ser contado sobre este pesqueiro? (Aspectos culturais e informações
qualitativas)
A posição em que se coloca a rede é chamada de Forflé, em homenagem a um amigo que morreu e que
tinha a mania de colocar nomes nos pesqueiros, outro nome que ele deu foi o do pesqueiro Bin landen.
Observações: A pesca do linguado é uma pescaria de paciência. Alexandre comentou que na
linguadeira, pega muito lixo: cabelo, escova, canga, etc.
Pesca fló flé: sentido da rede, paralelo a praia, sentido da maré.
QUEBRA MAR: ARTE DE PESCA: REDE CORVINEIRA PEQUENA (REDE DE ESPERA)
Descrição do petrecho: A rede corvineira pequena para fora tem malha de 40, 45,50 e 55, com fio 40

216
(fio mais grosso). Já até 30 metros de profundidade pescam com malha de 35 até 40 (fio mais fino). É
utilizada em posição perpendicular à praia. Só no Bin Laden que pesca de flo flé. Entretanto, quando
utilizada mais distante da costa os pescadores mudam a posição da corvineira em função do risco da rede
ser arrastada por embarcações de arrasto. Para fora utilizam as redes de fio mais grosso (60) e malha
maior (55).
Pesqueiro: do Leblon até depois do quiosque localizado antes do canal.
Época: O ano todo.
Freqüência: todo dia. Obs. Só não vão quando o mar está bravo.
Recursos principais: corvina miúda, pescada, anchova, olho de cão, robalo, espada, cabrilha, xerelete,
bonito (muito), tira e vira (esse ano deu bastante), merluzinha, prego.
Tipo de Fundo: cascalho/pedra
Aspectos qualitativos da produtividade:
Hoje: uma boa pescaria é de no máximo 200, 250 a 300 quilos.
20 anos: Até 15 anos atrás tinha camarão. Antes da Barra crescer era necessário fazer três viagens para
trazer todo o peixe capturado, não tinha muita venda, mas dava muito peixe, não tinha tanto arrasto,
não tinha esgoto, a lagoa era um berçário. Pescava-se corvina de 3 a 4 kg e robalo. De julho a agosto,
pegava-se muito camarão dentro da lagoa.
Conflitos:
Poluição (a lagoa é muito poluída) e desde então a lagoa não dá muito peixe.
Traineiras que cercam próximo da praia, o que é proibido: elas cercam com apenas 10m de
profundidade. A traineira não chega a levar a rede, mas a rasga, danificando o material. A origem destas
traineiras: Jurujuba, Ilha da Conceição, Cabo Frio e do sul do país.
Arrasto: Na praia de São Conrado os arrastos pequenos chegam a menos de 100m da praia. Sempre tem
barcos de Jurujuba, Ilha da Conceição e Niterói.
Menos 30 metros de profundidade, os chifrudos não chegam, daí em diante é área de risco de perda de
material, colocam por cima da gente. Costa Brava (última laje) para fora é área de risco, de perda de
material com o arrasto.
QUEBRA MAR: REDE CORVINEIRA GRANDE (ESPERA)
Descrição do petrecho: Rede com fio 50/60 (“arame”), malha de 55 a 80. É utilizada dos 30 a 60m de
profundidade.
Pesqueiros: Banco de cascalho, perto das ilhas redondas. Bin Laden (20 a 30 min navegando).
Época: “tá tudo descontrolado”, agora todo ano. Mas pesca-se mais no verão, principalmente na semana
Santa, quando está no período de defeso do camarão. Pois no defeso do camarão os barcos de arrasto
não estão lá. Pescava-se também no inverno, mas a corvina sumiu um pouco.
Freqüência: no Bin Laden (10 a 12 milhas), preferem pescar na semana santa e durante o defeso do
camarão, porque assim os barcos estão proibidos de arrastar (chifrudos) e podem ir mais para fora. O
nome Bin Laden é porque não sabem se as redes estarão lá no outro dia, podem roubar ou arrastar.
Recursos principais: viola, tubarão, pescada, pargo, marimba, corvina (corvina gold), corvina
castanha, cavaquinha, cherne, cação anjo, tamboril, cação.
Tipo de Fundo: cascalho
Aspectos qualitativos da produtividade:
Hoje: uma boa pescaria chega a 50 – 60kg no máximo. (Faz dois anos que não entra corvina)
20 anos: Nesta época não se pescava lá. Começaram a explorar este pesqueiro a partir de 2001, devido
à escassez na costa. No início colocava-se todos os dias, com apenas dois panos de rede capturava-se
cerca de 200kg.
Conflitos: chifrudos, cerco grande (pau broca), caceia.
Os arrastões mudam de rede para subir no cascalho.
Cerco grande e chifrudo. Quando utilizamos rede de caceia corta a bandeira e somem com a nossa rede.
Observações: Como sabem que tem peixe lá? de vez em quando vai um pescador e sonda “cobaia”,
“pescador sonda”. Hoje em dia Valtinho e Alexandre são os que se arriscam mais.
“Hoje é o pescador artesanal que está invadindo a área dos arrastos, mas isso porque aqui perto esses

217
arrastos já pescaram tudo, então tivemos que ir pra fora”.
Pesqueiro banco de cascalho: Pescada, castanha, marimba, cavaquinha, cherne, dourado. Vão todo
ano, “se aventuram”.
QUEBRA MAR: ARTE DE PESCA: REDE ALTA (FUNDO)
Pesqueiro: Ilhas Tijuca e praia da Barra.
Rede alta: pesca-se em toda beira da praia, mas não tão utilizada como a corvineira.
Época: o ano todo (“o mar deixando”). Condições: água gelada e turva (varia com a maré). Obs. A
Anchova e o xerelete gostam de água clara.
Recursos principais: pega de tudo. Anchova, serra, bonito, xerelete, olho de cão, enxada, pitangola,
sargo, pirangica, olho de boi, pampo. Na beira da praia pesca-se mais corvina. Rede alta: pampo, sargo,
anchova, corvina
Tipo de Fundo: costão, pedra.
Aspectos qualitativos da produtividade:
Hoje: Depende muito da sorte. Uma boa pescaria é 40-45kh de anchova. 70-75kg de pampo, pitangola,
pirangica.
20 anos: O barco afundava. Era muito peixe. O Badejo era farto, e hoje não tem mais nada.
Conflitos: Com pescador esportivo e mergulhador. Roubo de redes também é um problema. Se os
pescadores de Jurujuba não pescam nada eles pescam a nossa rede. Outro problema é que a rede alta é
muito atropelada: por isso não é tão utilizada.
Observações:
É a rede que mais se perde, “estão sendo muito atropeladas”.
As redes que são abandonadas no fundo, não são tão prejudiciais ao meio ambiente como dizem, pois
vira área de criador, tem muito camarão miúdo. Ressaca faz esta rede virar bola de neve.
QUEBRA MAR: ARTE DE PESCA: REDE DE CACEIA (SUPERFÍCIE)
Descrição do petrecho: Rede de deriva, anda na maré.
Pesqueiros: nos mesmos lugares em que se pesca de linha (em cima das lajes). Surriá e nas pedras ao
redor das Ilhas Tijucas. Referencias em terra: torre, navio, azul, emissário.
Rede de caceia: utilizada nos costões (maior produtividade que a alta).
Época: Verão: de setembro até o começo de abril
Recursos principais: xerelete, bonito, serra, olho-de-cão, tainha, anchova, enxada, espada, marimba,
pirangica, pampo, sororoca, olho-de-boi.
Hoje: Depende do pesqueiro. Este ano pegaram muita anchova. Uma boa pescaria, se tiver sorte, chega
a 100kg.
20 anos: Há 20 anos só utilizavam caceia no Surriá, faziam uma caceia fixa, e tiravam facilmente 300kg
de peixe. Muita produção de badejo.
Observações:
Os mesmos locais que pesca de rede de caceia, pesca de linha também.
Colocam a rede de caceia: na boca da noite ou no clarear do dia.
QUEBRA MAR: ARTE DE PESCA: REDE DE CERCO – BATIDA – BATE POITA
Descrição do petrecho: Somente utilizado quando a corvina não malha, quando o cardume está
parado, de barriga cheia. Ou seja, na escassez da corvina vai para o bate poita. Com a maré parada é
mais produtiva (melhor de por).
Pesqueiro: só na costa. Profundidade: 12 a 20m.
Época: mar deixando (quando corvina está parada, sem fome)
Freqüência: de acordo com o fluxo de maré, não é diário.
Recursos principais: robalo, garapeba, cocoroca, papaterra, pargo, serra, pescada, pirajica, sargo,
bonito, pescada miúda (vem direto), Maria-mole, pampo.
Tipo de Fundo: arenoso, beira de pedra e cascalho. Quando maré ta parada, pesca em cima da pedra,
porque nessa condição não rasga a rede. Não é uma pescaria diária como a corvineira.

218
Aspectos qualitativos da produtividade:
Hoje: 300 quilos
20 anos: muita produção
Observações:
Não são todos que se utilizam desta arte de pesca.
QUEBRA-MAR: ARTE DE PESCA: LINHA E RAPALA
Pesqueiro: da praia da Barra até Praia do Recreio – nesta área tem muito recife: é pedra emendada.
Profundidade: da beira da praia até 30-40m.
Época: ano todo.
Recursos principais: pargo, pescada, maria-mole, badejinho, corvina, anchova (maior freqüência na
rapala), sargo (tem muito), pampo, robalo, (peixes de fundo em geral)
Tipo de Fundo: pedra, recifes, lajeados
Aspectos qualitativos da produtividade:
Hoje: boa pescaria é 40 a 60 kg.
20 anos: Antes eram poucos pescadores, pescava-se tanto peixe que não tinha vendedor. Como hoje
tem mais gente na pesca – hoje tem muita gente na barra – talvez a produtividade, no geral, seja até
maior. Antes o pescador tinha que dar o peixe praticamente de graça. Hoje tem mais procura o preço é
melhor. Antes dois pescadores voltavam com 400kg, hoje voltam 10 pescadores com 400kg. Antes tinha
muito peixe e tinha que dar o peixe praticamente de graça, porque o preço cai. Todo dia tem peixe, pega
todo dia embora com menor quantidade. Diminuiu muito o peixe, mas aumentou muito o número de
pescadores, então a quantidade capturada continua estável ao longo do tempo.
Conflitos: muito explorada pela pesca de mergulho na água clara, mas segundo Boréo não chega ser 1
conflito. O que acontece também é que um pescador esconde o pesqueiro que está “dando” dos outros
pescadores, mas também não é conflito.
Observações: Os pescadores de linha e mergulho são os únicos que conseguem manter algum
pesqueiro em segredo. Mergulhadores e pescadores de linha tem muitos pesqueiros em comum.
QUEBRA MAR: ARTE DE PESCA: LINHA E RAPALA
Descrição do petrecho:
Pesqueiro: Ilhas: Redonda (laje) e Redondinha, Banco do Brasil e Ilhas das Tijucas
Época: ano todo. Mas varia muito as espécies capturadas.
Recursos principais: anchova, olho de cão (verão), xerelete, marimbá. O olho de cão não come isca de
material barato. Em janeiro deu bastante anchova com a rapala. A corvina está sumida.
Conflitos: Barcos de turma (pesca esportiva) invadiram a Barra da Tijuca. Muitos desses barcos estavam
no pesqueiro da Pargueira e no Surriá. Mas tem um aspecto positivo: os pescadores esportivos não
guardam segredo, para se gabar revelam onde, o quê e quanto pescaram.
Observações:
Boréo: Em 2007 ou 2006, na páscoa, os barcos grandes arrasaram a corvina. O camarão subiu para meia
água e a corvina subiu atrás, e aí os paus brocas arrasaram.
“A linha é mais um lazer, a gente usa mais mesmo é a rapala para a anchova”.
QUEBRA MAR: ARTE DE PESCA - ZANGAREJO (PESCA DA LULA)
Descrição do petrecho:
Pesqueiro: Ilhas Cagarras, do VIPS até o emissário, em frente ao Costa Brava, em frente a Barra
(principal local de pesca), enfim, na costa toda. Profundidade: até 20m.
Recursos principais: Lula
Aspectos qualitativos da produtividade:
Hoje: uma boa pescaria é 40 kg. Depende da maré e da água (temperatura).
20 anos: Não pescavam lula. Começaram a pescar de 8 anos para cá com a dica dos pescadores
esportivos
Conflitos: Não há conflito, é pura harmonia. Quanto mais zangareio melhor.

219
QUEBRA MAR: QUESTÕES ABORDAGEM INTEGRADA DOS MAPAS
Hoje em dia é covardia a tecnologia.
Recreio: brigam com os pescadores de fora “metem bala”
Conflito nas Tijucas: em função do número grande de pescadores de outras localidades.
Identificação de áreas de abrigo: os pescadores não utilizam, em caso de mar bravo eles voltam às
pressas para a Barra, pois os pesqueiros são próximos.
Relevância econômica dos pesqueiros – importância para constituição da renda
• Ilhas Tijucas: 5$ – porque são os pesqueiros mais próximos (5 minutos). “É o pesqueiro mais
importante para a gente, embora esteja tomada por pescadores de outros locais”
• Bin Laden: 2$ – não vale o custo: material (alto risco de perder redes) e combustível (em função
da distância que precisam percorrer para chegar ao pesqueiro)
• Meio da Barra: 5$ – para a pesca de rede
• Costão de São Conrado: 4$, local de arrastões e cerco, por isso é área de risco e não recebe 5$
• Surriá: 4$
• Cagarras (Redonda, Redondinha, Banco do Brasil) (verificar) não houve consenso: $ 3 para pesca
de rede. 4$ para pesca de linha e mergulho.

QUEBRA MAR: OBSERVAÇÕES GERAIS:


Hoje em dia é covardia a tecnologia.
Pescadores do Recreio: brigam com os pescadores de fora “metem bala”.
Conflito nas Tijucas: em função do número grande de pescadores de outras localidades.
COPACABANA LINHA: REDE LINGUADEIRA NA BEIRA DE PRAIA
Comunidade: Copacabana – Colônia Z-13 Data: 16/02/2009
Moderadores: Leopoldo e Luciara Anotador: Naila e Liandra
Pesqueiros: BEIRA DE PRAIA - Desde a ponta do Leme até o Recreio dos Bandeirantes (Área 1)
Os pescadores de rede raramente se deslocam até o a praia do “recreio”, a não ser em ocasiões em que
algum pescador traga a informação de que a abundância de peixes está grande. As embarcações de
Copacabana levam aproximadamente se 2 horas para chegar até a Barra. Antigamente os pescadores de
rede chegavam a pescar até a Macumba. No entanto, hoje a maior freqüência deste tipo de pesca é entre
o hotel Costa Brava até a Ponta do Leme.
Um dos pontos de referência utilizados pelos pescadores de rede linguadeira é o emissário submarino.
Estes nunca soltam rede em cima do emissário.
Descrição do petrecho: Malha 110mm com 30 panos. Limite mínimo de profundidade é dado pela
arrebentação das ondas. Limite máximo de profundidade 20-25m. É colocada em posição paralela à
praia, ou por fora do costão.
Época e freqüência de uso: Durante o inverno (julho e agosto com maior freqüência, mas também
pesca-se em setembro) ocorre a temporada do linguado. Pesca-se todos os dias neste Período, a não ser
que as condições do mar não permitam a navegação (ex. ressaca).
Recursos principais: O linguado (julho a setembro) sai da baía de Guanabara e circula nos costões.
Junto com o linguado aparecem peixes como a anchova e o bonito. A corvina aparece apenas se a água
estiver correndo de Sul para Leste. A fauna acompanhante das redes linguadeiras são o bonito, anchova
e o xerelete.
Tipo de Fundo: Beira de praia (areia).
Aspectos qualitativos da produtividade:
Hoje: Uma boa pescaria atualmente produz em torno de 10 a 15 kg de linguado. Segundo os
pescadores, o linguado está cada vez mais difícil de ser capturado.
20 anos: Uma pescaria boa produzia cerca de 100 a 200 kg de linguado na Barra.
Conflitos:
Embarcações atuneiras e traineiras rasgam as redes. O maior conflito é com os barcos de cerco
(traineiras), os quais cercam em toda beira de praia, justo onde fica a rede linguadeira está localizada. As
traineiras pequenas (8-10m) chegam a cercar com até 10m de profundidade.
Embarcações de arrasto também geram conflitos com as redes, principalmente na área entre São

220
Conrado até o Vidigal, na marcação do hotel Sherington.
O roubo de rede também traz prejuízos para os pescadores de rede linguadeira. Na praia de São
Conrado, por exemplo, as vezes pessoas vem até a rede em pranchas e a despescam, roubando toda a
produção.
Atualmente não chegam a ir até a praia do Recreio com tanta freqüência, já que a poluição reduziu muito
a produtividade desta área.
A poluição do emissário também é um problema, segundo os informantes. Os problemas com o emissário
ocorrem em função da poluição que este gera na região. O emissário também traz grande quantidade de
lixo que se prende nas redes em enorme quantidade. Nunca atravessam com rede o emissário, já que
estas podem se prender na estrutura submersa.
Observações:
Os pescadores de Copacabana se utilizam da internet para obter informações meteorológicas, pois há
grande risco de perder redes com tempestades.

COPACABANA LINHA: REDE LINGUADEIRA NO CASCALHO


Pesqueiros: A pesca com a rede linguadeira em fundos de cascalho ocorre no largo (dos 30 aos 40m de
profundidade), entre as Ilhas Redonda e Rasa e por fora da ilha Comprida.
Para o sul da ilha Redonda não colocam rede por causa dos arrastões (risco de perder a rede).
Descrição do petrecho: É a mesma rede empregada próximo à praia (malha 110).
A posição da rede depende da corrente e se há transito de embarcações. O peixe normalente nada contra
ou a favor da correnteza, segundo os pescadores. Muitas vezes as redes são colocadas no sentido no
sentido da correnteza (ex. S-L) pois o risco de perder a rede é menor, mas neste caso o peixe também é
capturado em menor quantidade.
Quando a rede é colocada longe da costa os pescadores fazem uma marcação terrestre para recuperá-la.
Época e freqüência de uso: No verão (principalmente de novembro a janeiro, pois em fevereiro já
começa a falhar) praticam a pesca cerca de 3 x por semana, aproximadamente um dia sim outro não.
Antigamente pescavam todos os dias segundo os pescadores.
Recursos principais: Viola, tamboril, cação anjo, cação bicudo, enxada, cação martelo, linguado de
cascalho e outros peixes que ocorrem em fundos de cascalho.
Entre as ilhas Rasa e Redonda, numa profundidade de 40m, existem pesqueiros de viola, cação anjo,
cação bicudo, cação martelo e tamboril. Alguns colocam a rede para fora da ilha Rasa.
Tipo de Fundo: Cascalho.
Aspectos qualitativos da produtividade:
Hoje: Atualmente, uma boa pescaria produz cerca de 40kg (dependendo do tamanho da rede). Por
exemplo, uma boa produção seria 20kg de tamboril mais 20kg de viola.
20 anos: Há 10 anos atrás capturavam cerca de 200kg de peixe em uma boa pescaria (incluindo
tamboril, badejo e viola). Antigamente pescavam todos os dias segundo os pescadores.
Conflitos:
Perda e danificação de redes por navios que passam por cima das bóias e/ou cortam a rede , que vai
para o fundo. Por este motivo os pescadores dizem que é sempre bom manter uma boa marcação para
poder recuperar a rede com a garatéia nestes casos. Outro risco recorrente é quando os navios jogam as
ancoras e estas agarram na rede do pescador.
Um problema recorrente é o roubo de redes. Algumas embarcações passam, localizam as bóias e roubam
a rede.
Quando a correnteza está forte, a rede pode agarrar no cascalho.
COPACABANA LINHA: REDE CORVINEIRA
Pesqueiro: Largo e perto da costa (terra)
Os pescadores que utilizam a rede corvineira dizem saber que é proibido pescar no canal da baía pois
este está na rota de navios. No entanto, muitos afirmam pescar nesta localidade, assim como o fazem os
pescadores de cerco.
A área utilizada pelos pescadores para a rede corvineira vai do Surriá à beira da praia até a ponta do

221
arpoador. Raramente chegam até a praia de Copacabana. A rede corvineira não é colocada em
Copacabana, mas é empregada do Leme até a ilha de Cotunduba
Um dos limites da pesca com corvineira na região do largo é a área onde os arrastos passam.
Utilizam em posição perpendicular à costa. A linha de arrebentação é o limite mínimo de profundidade,
enquanto o limite máximo (na pesca de beira de praia) é a Cagarrinha.
Descrição do petrecho: Malha 50-60mm e três metros de altura.
Época e freqüência de uso:
No verão a pesca com rede corvineira ocorre na beira de praia (novembro até março). No inverno as
redes são colocadas no largo (março a junho).
No entanto, tudo depende das condições oceanográficas. Quando a corrente está de L-S, pescam na beira
da praia. Quando a corrente está de S-L, água esquenta mais no fundo e a rede é colocada mais distante
da praia. Atualmente existe muita poluição na água da baía, não permitindo a pescaria próximo à praia
nestas condições.
Recursos principais: Corvina (segundo pescadores, este peixe não nada com água parada), anchova,
serra, bonito, marimbá, pescada, viola, cação anjo e robalo. No largo tem alguns pontos onde o cascalho
é mais alto, e se encontram outros tipos de peixe, como garoupa e badejo.
Próximo a barra da baía capturam robalo e perna de moça. No entanto, o principal recurso pesqueiro
neste local é a corvina.
Tipo de Fundo: Areia na beira da praia. No largo o fundo é de cascalho.
Aspectos qualitativos da produtividade:
Hoje: A pesca no largo rende atualmente 100 a 200kg em uma boa pescaria. A pesca na beira da praia
não produz em grande quantidade.
20 anos: Há 20 anos não precisavam ir tão longe para pescar. Os pescadores começaram a freqüentar o
largo a partir de 1995. Nesta época, capturavam entre 1000 a 2000 kg numa boa pescaria.
Conflitos: Os conflitos são quase os mesmos da rede linguadeira.
Segundo os pescadores, a poluição “espantou” os peixes.
Na beira de praia há o conflito com a pesca de cerco, que operam muito próximo da praia.
Roubo de redes é um problema recorrente. Alguns pescadores roubam a rede de noite. Estas redes
podem ser vendidas para outros pescadores.
No largo há problema com o trânsito de navios e suas âncoras, que podem agarrar na rede.
Observações:
Os pescadores iniciam a pesca da corvina no largo quando no verão. Segundo eles, quando a água esfria,
esta espécie começa a aparecer na rede linguadeira. A corvina vem do norte segundo os pescadores
presentes na reunião de mapeamento.
COPACABANA LINHA: REDE ALTA “COME E DORME”
Pesqueiros: Beira da praia, do Leme ao Juá (Costa Brava)
Descrição do petrecho: Esta rede é colocada desde a arrebentação até 150 m para fora. A rede é
disposta no período da tarde, pois as pessoas nadam na praia durante o dia. Ela é posicionada
perpendicular à praia. Em alguns locais onde existem pedras é possível armar as redes pois os
pescadores já conhecem os riscos. A rede come-dorme trabalha na faixa de 15 a 20m de profundidade. O
tamanho é de no máximo 150m (três panos).
Época: todo ano.
Recursos principais: Tainha, pampo, robalo, pouca corvina, bonito (peixe que dá bastante trabalho
quando é capturado), pescada perna de moça. Pescam robalo e tainha se dá ressaca. Espécies que são
vulneráveis a malha 45mm são a pescada, parati, pescadinha, carapeba, anchoveta, serra, olho de cão,
roncador amarelo (em geral peixes miúdos de beira de praia).
Aspectos qualitativos da produtividade:
Hoje: Atualmente uma rede come-dorme produz 30 kg de pescado. Segundo os pescadores, captura-se
muitos peixes pequenos.
20 anos: Antigamente uma boa pescaria produzia entre 100 a 300kg. Um peixe que se capturava muito
era a sororoca, espécie que hoje quase não se encontra.

222
Conflitos:
Um problema recorrente ocorre em função dos esportes náuticos, pois a rede é utilizada bem próxima à
praia. Entre os potenciais conflitos estão os banhistas que nadam depois da arrebentação, Jet-skis e
pescadores de molinete (que pescam a partir do Forte de Copacabana).
Traineiras também conflitam com a pesca de rede come-dorme, pois pode chegar muito próximo à beira
da praia.
Observações:
Esta rede é utilizada para capturar corvina com a água parada.
COPACABANA REDE ALTA DE CACEIA
Pesqueiro: qualquer lugar, depende do pescador descobrir um cardume.
Descrição do petrecho: A pescaria dura aproximadamente meia hora e é lançada somente depois da
localização do cardume. Quanto este é localizado, os pescadores calculam a correnteza e a rede é então
lançada ao mar. Esta pesca é rara atualmente, e é empregada quando o pescador de linha
ocasionalmente localiza o cardume nadando próximo ao parcel, quando este possui a rede de caceia.
Recursos principais: Anchova, serra, bonito, cavala e outros peixes que nadam próximos à superfície.
Conflitos:
A rede de caceia compete com os pescadores de linha. Em geral, não pescam com este tipo de rede para
não causar conflito com colegas pescadores de linha de Copacabana, pois a quantidade de peixes nos
parceis diminuiu significativamente.
Observações:
Esta rede foi criada para pescar tainha, mas é utilizada amplamente para outras espécies que formam
cardumes.
Não é uma pescaria muito comum atualmente.
COPACABANA ÁREAS DE ABRIGO
Identificação de áreas de abrigo:
Relevância econômica dos pesqueiros – importância para constituição da renda
1. Largo: $ 5
2. Beira da Praia: $ 4
3. Boca da Barra Grande (da ponta do Leme até a boca da barra): $ 4
4. Copacabana: $ 2
As áreas próximas à praia são mais importantes no verão. No inverno, a boca da barra tem uma
importância maior. O largo é importante tanto no inverno quanto no verão, e a produção é mais regular.
COPACABANA LINHA: PESQUEIRO 01: EMISSÁRIO – “BOCA DO CANO”
Arte de Pesca: pesca de linha
Legenda: preto no mapa
Época e freqüência de uso: Durante o ano todo. Alguns pescadores pescam praticamente quase todos
os dias no local.
Recursos principais: Anchova, marimbá, corvina. Muitos peixes pequenos são encontrados no local, os
quais são chamados de “resolho”.
Tipo de Fundo: 30 m de profundidade. Tubulação do emissário submarino.
Aspectos qualitativos da produtividade:
Hoje: Atualmente, uma boa pescaria rende aproximadamente 400 reais (2 caixas de anchova, ou 50-
70kg).
20 anos: A produção era considerada muito melhor antigamente.
Observações:
O tempo gasto para chegar ao pesqueiro é de 40min.
Segundo um dos informantes, o emissário tem três “bocas”. Para garantir uma boa pescaria o pescador
tem que saber como chegar ao ponto certo, que é na “ressolhada”. Não são todos que conhecem a
localização exata do emissário submarino, onde se concentram os cardumes.

223
Um dos informantes nota que as vezes pesca em outras localidades, como a ilha Redonda, e se a pesca
está ruim, volta para o “cano”, de onde retira o peixe para salvar a pescaria.
Um dos informantes ressalta que atualmente existem 30 ou 40% do número de pescadores de linha em
Copacabana. Segundo ele, os outros 70% saíram da pesca de linha. Há tempos atrás um local com
abundância de anchovas era na Ilha Redonda, Banco do Brasil e Focinho de Porco. No entanto, a
produção diminuiu produção da pescaria de linha destes pesqueiros. Nos dias de hoje, a “boca do
emissário”é considerado o melhor de todos os pesqueiros por este pescador. Contudo, existem
controvérsias quanto ao emissário submarino. Outro pescador, por exemplo, gostaria que o emissário
fosse mais afastado da costa, conforme pode-se observar no seguinte relato:
“Eu vejo gente defendendo a boca do emissário, ele tem razão, eu só não gostaria que ele
dissesse para o governador que não quer que o emissário vá mais para fora. Porque tudo que a
gente quer é alongar o emissário. Eu queria que ele fosse mais para fora. Se alguém polui o
arquipélago das Cagarras é o emissário. (...) Para mim uma das maiores fontes de renda para os
pescadores de linha é o arquipélago das Cagarras.
COPACABANA LINHA: PESQUEIRO 02: SURRIÁ
Arte de Pesca: pesca de linha
Legenda: preto no mapa
Época e freqüência de uso:
No verão, utilizam este pesqueiro para a captura da Anchova (novembro e dezembro).
No inverno a pesca neste local é melhor (julho a setembro), quando se captura maior quantidade da
bicuda.
Recursos principais: anchova, garoupa, bicuda
Observações:
Utilizam bastante a Ilha do Meio para capturar o “engodo”.
No Surriá existe maior concorrência pelo pesqueiro, pois os pescadores da Barra também utilizam este
pesqueiro. É um pesqueiro pequeno
COPACABANA LINHA: PESQUEIRO 03: TIJUCAS (E TODAS SUAS LAJES)
Arte de Pesca: pesca de linha
Época e freqüência de uso: No inverno principalmente. A pesca depende da água neste local.
Recursos principais: Anchova e bicuda (muito bom pesqueiro na época da bicuda)
Observações:
Segundo um informante presente na reunião de mapeamento, nas Tijucas ainda existem vários
pesqueiros que os pescadores de Copacabana desconhecem. Daí a importância de se preservar. Pois o
mercado mudou, segundo ele:
“Há 10 anos ninguém queria bonito, se um pescador levasse um bonito para comer era um
carniceiro, hoje a gente vende o bonito”.
COPACABANA LINHA: PESQUEIRO 04: FOCINHO DO PORCO
Arte de Pesca: pesca de linha
Época e freqüência de uso: As épocas de pescaria mudaram muito do que eram antigamente.
Atualmente os pescadores estão indo na época da manjuba (verão) pescar neste local.
Recursos principais: Anchova, olhete, olho de boi.
COPACABANA LINHA: PESQUEIRO 05: SOMBRA DA MULATA
Arte de Pesca: pesca de linha
Recursos principais: anchova, olhete, olho de boi.
COPACABANA LINHA: PESQUEIRO 06: ÂNCORA
Arte de Pesca: pesca de linha
Recursos principais: anchova, olhete, olho de boi.
COPACABANA LINHA: PESQUEIRO 07: BANCO DO BRASIL
Arte de Pesca: pesca de linha

224
Recursos principais: anchova, olhete, olho de boi.
Observações:
Segundo os informantes, a produtividade no pesqueiro Banco do Brasil caiu muito por causa da
quantidade de redes que estão sendo colocadas.
COPACABANA LINHA: PESQUEIRO 08: REDONDA E FILHOTE
Arte de Pesca: pesca de linha
Freqüência: de noite
Recursos principais: Olhete (ocorre em lajes e nos costões), bicuda (preferencialmente no costão, se
alimentam de noite), olhete, olho de boi e anchova (espécies que se alimentam durante o dia).
COPACABANA LINHA: PESQUEIRO 09: BAIXIO DA REDONDA
Arte de Pesca: pesca de linha
Recursos principais: Olhete e bicuda (se alimenta durante o dia). olhete, olho de boi e anchova
(espécies que se alimentam durante o dia). vPesqueiro 10: PONTA SUL DA COMPRIDA
Arte de Pesca: pesca de linha
COPACABANA LINHA: PESQUEIRO 11: BURACÃO DA COMPRIDA
Arte de Pesca: pesca de linha
Recursos principais: bicuda
COPACABANA LINHA: PESQUEIRO 12: MATHIAS
Arte de Pesca: pesca de linha
Recursos principais: bicuda
COPACABANA LINHA: PESQUEIRO 13: LAJE DAS CAGARRAS
Arte de Pesca: pesca de linha
Recursos principais: anchova
COPACABANA LINHA: PESQUEIRO 14: SAMBAIA
Arte de Pesca: pesca de linha
Recursos principais: anchova
COPACABANA LINHA: PESQUEIRO 15: BAIXIO DA RASA
Arte de Pesca: pesca de linha
COPACABANA LINHA: PESQUEIRO 16: PALMAS
Arte de Pesca: pesca de linha
Recursos principais: marimbá, bicuda, olho de cão, xerelete.
COPACABANA LINHA: PESQUEIRO 17: PONTA LESTE
Arte de Pesca: pesca de linha
Recursos principais: bicuda, anchova
COPACABANA LINHA: PESQUEIRO 18: CANAL ENTRE CAGARRA GRANDE E FEDORENTA
Arte de Pesca: pesca de linha
Recursos princi
COPACABANA LINHA: PESQUEIRO 19: PARTE DE DENTRO DA COMPRIDA
Arte de Pesca: pesca de linha
Recursos principais: lula
Segundo os pescadores, a lula está se concentrando neste pesqueiro pois este é um local protegido das
traineiras. Desta forma, a manjuba encontra refúgio nesta área.
COPACABANA LINHA: PESQUEIRO 20: PONTA DO ARPOADOR
Arte de Pesca: pesca de linha

225
Recursos principais: lula
Observações:
Segundo os pescadores, a lula está se concentrando neste pesqueiro pois este é um local protegido das
traineiras. Desta forma, a manjuba encontra refúgio nesta área.
Neste ano, a lula apareceu próximo ao VIP, no Arpoador e em frente ao canal da Barra segundo os
informantes.
Há dois anos atrás se pescou muita lula no Leme. No entanto, uma traineira descobriu e cercou todo o
recurso segundo os pescadores. Neste ano a pescaria está muito fraca neste pesqueiro.
COPACABANA LINHA: OBSERVAÇÕES GERAIS:
Identificação de áreas de abrigo:
Relevância econômica dos pesqueiros – importância para constituição da renda
PESCA DE LINHA
Pesqueiro 01: EMISSÁRIO – “boca do cano”: $ 5 (Pixico queria dar 10)
Pesqueiro 02: SURRIÁ: $ 4
Pesqueiro 03: TIJUCAS (E TODAS SUAS LAJES): $ 4
Pesqueiro 04: FOCINHO DO PORCO: $ 2-3
Pesqueiro 05: SOMBRA DA MULATA: $ 2-3
Pesqueiro 06: ÂNCORA: $ 2-3
Pesqueiro 07: BANCO DO BRASIL: $ 3
Pesqueiro 08: REDONDA E FILHOTE: $ 2
Pesqueiro 09: BAIXIO DA REDONDA: $ 2
Pesqueiro 10: PONTA SUL DA COMPRIDA: $ 4 (bicuda)
Pesqueiro 11: BURACÃO DA COMPRIDA: $ 4 (bicuda)
Pesqueiro 12: MATHIAS: $ 3-4 (bicuda)
Pesqueiro 13: LAJE DAS CAGARRAS: $ 2-3 (anchova)
Pesqueiro 14: SAMBAIA: $ 3 (anchova)
Pesqueiro 15: BAIXIO DA RASA: $ 3
Pesqueiro 16: PALMAS: $ 3 (bicuda)
Pesqueiro 17: PONTA LESTE: $ 3 (bicuda)
Pesqueiro 18: CANAL ENTRE CAGARRA GRANDE E FEDORENTA: $ 2
Pesqueiro 19: PARTE DE DENTRO DA COMPRIDA: $ 5 (lula)
Pesqueiro 20: PONTA DO ARPOADOR: $ 5 (lula)
PAIS: bicuda  
COPACABANA MERGULHO PESQUEIRO 01: PAI, MÃE E MENINA
Arte de Pesca: Mergulho em apnéia
Época e Frequência de Utilização: A pesca de mergulho nestas ilhas ocorre com maior freqüência no
inverno (junho a setembro) com ventos de Lestada. No verão, só praticam o mergulho somente quando a
água está boa. Estas ilhas são muito pouco utilizadas pelos pescadores de mergulho, cerca de 1 vez por
semana, não havendo frequência regular de uso. A pesca neste local depende do tipo de pescado que
está disponível no local e das condições da água. A ilha do Pai é a mais utilizada destas três ilhas.  
Recursos principais: moluscos: lula e polvo, anchova. Serranídeos: garoupa e badejo saltão. Os
principais são garoupa e polvo.
Tipo de Fundo: rochoso/ pedra.
Aspectos qualitativos da produtividade:
Hoje: A captura caiu muito, está dez vezes menor do que antigamente. Hoje em dia é muito difícil
capturar 10kg de pescado, valor máximo considerado para uma ótima pescaria nos dias de hoje.

226
20 anos: De sete a dez anos atrás podiam capturar 40 kg de badejo e garoupa em uma boa pescaria. De
dez anos para cá mudou muito. Em qualquer ilha podia-se ver cardumes de badejos (cerca de 50 peixes
juntos). Mergulhavam numa profundidade de 5 metros é já viam o peixe, hoje descem 20 metros e está
difícil encontrar qualquer coisa.
Conflitos:
Não foi relatado nenhum conflito específico deste pesqueiro.
O que tem para ser contado sobre este pesqueiro? (Aspectos culturais e informações
qualitativas)
Normalmente pescam por fora das ilhas, mas sempre depende das condições da água.
A melhor das ilhas é o Pai.
Observações:
Geralmente por fora das ilhas a corrente é mais forte e esta gera maior quantidade de alimento para os
peixes de interesse.
Itaipuaçu e Itacoatiara são locais com abundância de manjuba (comedoria).
COPACABANA MERGULHO PESQUEIRO 02: RASA  
Arte de Pesca: mergulho em apnéia
Época e Frequência de Utilização:  
No verão é muito pouco utilizada (1 vez por semana a 3 vezes por mês). No entanto, quando a corrente
de sul que traz água clara (evento raro) entra, a pesca é praticada no local. A pesca no verão neste
pesqueiro é realizada apenas quando existe uma “intuição ou indicação”.
No inverno esta ilha é mais visitada (junho a outubro, 2 vezes por semana) em função da maior
ocorrência de água transparente.
Recursos principais: principalmente peixes de passagem como anchova e olhete. A garoupa e bicuda
também são comuns no local. Eventualmente encontram cardumes de enxada.
Aspectos qualitativos da produtividade:
Hoje: A pesca declinou bastante atualmente no local. Dependendo das condições de água, é possível
capturar até 20 quilos de peixe (peixes de passagem, pelágicos).
20 anos: Era possível capturar em torno de 50 quilos de peixes de passagem em uma pescaria.
Conflitos: Não há conflito nesse pesqueiro com os mergulhadores.
Observações:
Em ilhas como esta, mais distantes onde a profundidade é maior, a água custa mais a clarear. Já nas
Ilhas Cagarras, que são mais rasas, qualquer corrente de sudoeste clareia mais rápido. Por este motivo
os mergulhadores preferem pescar nas Cagarras porque a distância é menor e porque a água fica clara
com maior frequência. As vezes (raramente) no verão entra corrente do sul, clareando a água para o
mergulho.
Os peixes de passagem gostam de passar pela Ilha Rasa pois na área existem muitas lages.
Nesta área, muitas vezes os barcos de arrasto pedem ajuda para os mergulhadores para dar manutenção
nos equipamentos.
COPACABANA MERGULHO PESQUEIRO 03: REDONDA E FILHOTE
Arte de Pesca: mergulho em apnéia
Época e Frequência de Utilização:  
Pescam o ano todo no local dependendo da transparência da água. No verão pescam em média 2 vezes
por semana. No inverno (maio a outubro) costumam ir até 3 vezes por semana. Costumam ir com maior
freqüência na Redonda e Filhote em função de sua proximidade (aproximadamente 15 minutos de
barco). O pesqueiro Banco do Brasil é menos visitado por ser considerado distante da costa.
No inverno a freqüência de uso é muito maior pois a água é mais adequada para a pratica do mergulho
no local.
Recursos principais: garoupa e badejo (principalmente). Sargo e espécies de segunda quando as de
primeiras faltam.
Tipo de Fundo: pedraria que termina em cascalho.

227
Aspectos qualitativos da produtividade:
Hoje: Hoje em dia, uma boa pescaria captura em torno de 15kg de peixe.
20 anos: Há 10 anos esta era a melhor ilha. Não se pescava menos que 50kg de pescado em uma
pescaria. Nos anos 1990 a 1992, já chegaram a pescar 80kg de anchova em um dia. O acentuado
declínio de peixes ocorreu depois que começaram a pescar muito com redes de malha e arrastões.
Conflitos: Alguns pescadores atravessam rede no canal entre as ilhas, o que é bastante perigoso em
função da navegação e da prática do mergulho. Não é comum o pessoal da Colônia pescar com rede
muito perto das ilhas, pescam só no entorno, não em cima das ilhas. Rede muito próximo do costao é
considerado um problema maior que o tráfego de Jet-Ski, principalmente as redes de grandes
embarcações. As redes que são perdidas atrapalham, pois ficam agarradas nas pedras e continuam
matando peixes. Os próprios pescadores de linha começaram a pescar de rede nas ilhas porque sabiam
que tinha muito peixe, mas hoje em dia esse conflito não é significativo. Alguns pescadores de mergulho
retiram as redes dos costões.
Embarcações de arrasto operam muito próximo à Redonda, assim como a rede parada.
Há muitos anos não é observada a pesca com bomba nas ilhas. Segundo os pescadores, a pesca com
bombas era realizada de madrugada. No local onde se praticava este crime, a pedra ficava branca,
estéril, e muitos peixes mortos no fundo, segundo eles. Segundo eles, as bombas são artesanais
(dinamite), e colocadas dentro de um tubo de PVC com duas roscas nas extremidades.
Outra pesca considerada predatória é aquela praticada com potes para a captura de polvos. Segundo
eles, são colocadas em torno de 1000 – 2000 potes por espinhel.
Observações:
Em meia hora de navegação chega-se ao pesqueiro. Pesca é realizado bem próximo da ilha.
Depois que tem experiência, o mergulhador sabe quais as épocas do ano e os locais que são melhores.
Não caem sempre no mesmo pesqueiro.
COPACABANA MERGULHO PESQUEIRO 04: LAJE DA REDONDA – BANCO DO BRASIL
Arte de Pesca: mergulho em apnéia
Época e Frequência de Utilização:  
Pesqueiro utilizado durante o ano todo. No verão pratica-se a pesca no local em média 2 vezes por
semana. Durante o inverno (maio a outubro), este pesqueiro é utilizado com grande freqüência (3 vezes
por semana).
Costumam ir com maior freqüência nas Ilhas Redonda e Filhote pela proximidade (6 minutos). Por esse
mesmo motivo, vão menos no Banco do Brasil.
Recursos principais: Ocorrem principalmente peixes de passagem/pelágicos como o olhete, anchova,
olho de boi, xerelete, enxada e xaréu.
Tipo de Fundo: Pedraria que termina em cascalho.
Aspectos qualitativos da produtividade:
Hoje: idem Redonda e Redondinha
20 anos: idem Redonda e Redondinha. A produtividade era muito alta antigamente, sendo possível
capturar 50 quilos de anchova em uma pescaria.
Conflitos: mesmos do pesqueiro da Redonda e Filhote
Observações:
Geralmente por fora das ilhas a corrente é mais forte, e esta gera alimentação para as espécie-alvo. A
pesca é realizada circulando a ilha por fora, mas também passam pela parte abrigada.
Um dos pescadores comenta que os barcos de arrasto mapearam a áreas das Ilhas Cagarras,
identificando as lajes. Argumenta que hoje em dia os arrastões levantam a rede quando se aproximam
de alguma laje. A tecnologia disponível permite que esses barcos façam esse mapeamento, ou seja, não
há mais um impeditivo para essa pesca ao redor das ilhas. Segundo eles, algumas embarcações usam
armas para ameaçar os pescadores artesanais.
Um dos pescadores disse que contou 17 barcos de arrasto ao redor das ilhas para a captura da sardinha.
Reclamam que não adianta denunciar, pois não são atendidos.
COPACABANA MERGULHO PESQUEIRO 05: ILHAS CAGARRAS
Arte de Pesca: mergulho em apnéia

228
Época e Frequência de Utilização: A pesca é praticada ao longo do ano todo, verão e inverno, pois as
ilhas estão próximas à base dos pescadores em Copacabana. No inverno a pesca é melhor distante da
costa por causa da corrente de sul para leste. Nesta época, dizem que as Cagarras “descansam”. A
pescaria sempre depende da transparência da água. De forma geral, no verão as Cagarras são melhor
para pescar. A freqüência de uso é de aproximadamente 3 a 4 vezes por semana no verão e no inverno.
Recursos principais: Os principais recursos explorados são os peixes de passagem, que só aparecem
com corrente forte (evento associado à maior ocorrência de alimentos). Na porção externa das ilhas
existe uma maior variedade de espécies, como a anchova, garoupa, olhete, badejo, sargo, xaréu,
xerelete, bodião e olho de boi. A porção interna das ilhas são mais protegidas, e as espécies-alvo
preferem a correntes, como a garoupa, o badejo (não é tão comum aparecer) e a lagosta.
Tipo de Fundo: Cascalho e pedra.
Aspectos qualitativos da produtividade:
Hoje: 15kg de pescado em uma boa pescaria. Dizem que o polvo é um recurso que acabou nas
Cagarras.
20 anos: 50 a 60kg.
Conflitos: Alguns barcos de arrasto manobram e escapam das lajes, que não os impedem de arrastar ao
redor das Cagarras. Normalmente arrastam da Ilha Comprida para o Sul e por Fora da Redonda.
No geral não relatam grandes conflitos na área.
Observações:
Na porção abrigada e interna, o costão é mais raso. Pescam na porção interna quando o mar está
batendo muito.
COPACABANA MERGULHO PESQUEIRO 06: LAJE SANTO ANTONIO
Arte de Pesca: mergulho em apnéia
Época e Frequência de Utilização: Ano todo, eventualmente.
Recursos principais: Robalo. Em um local próximo desta laje há pesqueiro de lula. O olhete se
concentra neste pesqueiro quando vem atrás da lula.
Tipo de Fundo: Pedras. O local é bastante raso, pois é bem próximo da praia.
Conflitos: Risco de atropelamento, por causa do tráfico intenso de embarcações.
Observações:
Comentam que não fazem saídas exclusivamente para este pesqueiro. Comentam que passam por lá
apenas quando os cardumes estão presentes. Comentam que os mergulhadores profissionais deixam
esse local para os mergulhadores amadores.
COPACABANA MERGULHO PESQUEIRO 07: ILHAS TIJUCAS
Arte de Pesca: mergulho em apnéia
Época e Frequência de Utilização: O ano todo, aproximadamente 2 vezes por semana em média.
Recursos principais: Robalo (principal), linguado, anchova, olhete, bicuda, xaréu, garoupa, polvo e
olho de boi.
Tipo de Fundo: pedra e cascalho.
Aspectos qualitativos da produtividade:
Hoje: 20 kg em uma boa pescaria.
20 anos: Uma boa pescaria há cerca de 10 anos atrás, rendia 50 – 60kg.
Conflitos:
A água do canal da Barra influi diretamente na quantidade e na qualidade do pescado. Com chuvas a
influência da poluição do canal fica bem maior. A profundidade das Tijucas é menor que das Cagarras e
com isso vem muita água do canal da Barra.
Muita rede nas proximidades das ilhas torna a pescaria perigosa.
O tráfico de embarcações é um grande problema, principalmente o Jet-sky. Falta conscientização dos
pescadores de outras modalidades de pesca em relação ao mergulho, falta respeito às bandeiras
(vermelhas com símbolo branco no meio) que sinalizam a presença de mergulhadores na água.
Muitos passam por cima das bóias de marcação. Muitas embarcações que navegam por lá não conhecem

229
a área.
Crescimento urbano.
Conflitos com a pesca de linha e a pesca de curríco.
Um conflito ocorre quando se está pescando de linha e o mergulhador entra na água, ou o contrario
acontece. Em geral existe um acordo entre pescadores de linha e de mergulho. Quando um dos dois está
no pesqueiro o outro não entra (ordem de chegada). O conflito acontece mais nas Tijucas com os
pescadores de linha. Nas Ilhas Tijucas, alguns pescadores de linha cortam as bóias de marcação dos
mergulhadores.
Observações:
Gastam cerca de 12 litros de gasolina para ir até as ilhas Tijucas.
COPACABANA MERGULHO PESQUEIRO 08: COTUNDUBA
Arte de Pesca: mergulho em apnéia
Época e Freqüência de Utilização: Só podem pescar em condições estritas de maré alta e lua fraca
(longe da Lua Nova e longe da Lua Cheia daí dá para cair melhor), durante apenas 1 hora. Praticam a
pesca no local no verão e no inverno com muito pouca freqüência.
Recursos principais: Muitas garoupas e badejos pequenos ocorrem no local. O local é considerado um
importante criadouro e por isso não capturam essa garoupa pequena.
COPACABANA MERGULHO OBSERVAÇÕES GERAIS:
Identificação de áreas de abrigo:
Quando sopra o vento Sudoeste ou um forte Nordeste (lestada forte) procuram abrigo.
• Em frente por dentro da Comprida (abrigo de todo mundo quando venta nordeste, sudoeste e
lestada). Dependendo da intensidade do vento não conseguem voltar para praia e daí só
buscando esse abrigo.
• Por trás da Rasa
• Nas Ilhas Tijucas (onde tem um funil)
Relevância econômica dos pesqueiros – importância para constituição da renda
1. Cagarras: 5$ (nota referente a parte de fora, que é mais funda e tem mais peixe, peixe não fica
no raso)
2. Banco do Brasil: 3$ (porque tem pouca variedade de peixes)
3. Redonda e Filhote: 4$
4. Rasa: 4$
5. Tijucas: 4$
6. Pai, Mãe e Menina: 2$
7. Santo Antonio 2$
8. Cotunduba 2$

URCA INTRODUÇÃO
Pontos de terra:
1- Forte de Copacabana
2- Ponta de Itaipu
3- Ponta do Costa Brava – Prédios perto do Posto 9 – 10
4- Ponta da entrada da Barra
5- Antigo hotel Meridiam
6- –Sheraton (São Conrado)
7- Othon
Principais pesqueiros:
1- Lajinha das Cagarras (tanto pelo lado de dentro como pelo lado de fora) – Arquipélago Cagarras
OBS.: na opinião de Ricardo e Elenildo é o principal pesqueiro (profundidade 20 metros, mas é mais
comum pescarem até profundidade de 12 metros)
2- Canal do Passarinho (olho-de-cão) - Arquipélago Cagarras

230
3- Área em volta das Palmas (também 12 metros) - Arquipélago Cagarras
4- Ponta sul da Comprida - Arquipélago Cagarras
5- Laje de fora Comprida - Buracão - Arquipélago Cagarras
6- Canal entre Redonda e filhote
7- Rasa
8- Banco do Brasil
9- Canal entre BB e redondinha
10- Cangolândia (13 a 14 metros de profundidade – pargueiro) - Arquipélago Cagarras
11- Pesqueiro Ricardo (12 a 13 metros de profundidade - pargueiro) - Arquipélago Cagarras
12- Sambaia (chamado também de pargueiro)
13- Âncora
14- Focinho de porco - Arquipélago Cagarras
15- Ilha Cotunduba (principalmente a ponta da ilha)
16- Praia Vermelha (lula)
17- Laje
18- Ponta Santa Cruz
19- Madalena (hoje não dá muita pesca, mas no passado já foi bastante produtivo)
20- Surriá/Meio
21- Tijucas/Lajeados das Tijucas (olho de cão e olho de boi)
22- Matias - Arquipélago Cagarras
23- Fedorenta e Praça XI - Arquipélago Cagarras
24- ???
25- Belo Jardim – Arquipélago Cagarras
26- Sombra da Mulata
27- Jacaré
28- Vilar (12 milhas fora – não são todos os pescadores que vão)
Luciara pergunta se existe uma diferença muito grande de época que os pescadores freqüentam os
lugares citados acima. No que Ricardo responde que não é possível trabalhar todos em conjunto porque
cada peixe tem sua época de chegar nas Cagarras. Cita que nessa época (meados de fevereiro), está
chegando olho de cão e cavalinha. E que nos últimos dias, o olho de cão está começando a desaparecer e
está chegando a espada e assim que a espada desaparece entra a bicuda.
Explicam que levam os turistas muito nas Cagarras, pois é próximo e tem muitos pesqueiros.
Evanildo explica que para os pescadores que usam isca artificial, como é o seu caso, todos os pesqueiros
são importantes ao longo de todo ano. Já aqueles que pescam com linha de fundo, há mais sazonalidade
com relação aos pesqueiros. Citou que no canal das Tijucas e no canal da Redonda pescam com lula no
arame.
URCA PESQUEIRO 1: LAJINHA DAS CAGARRAS
Época e freqüência: vão em todas as épocas do ano
Alguns vão uma vez por semana, principalmente aqueles que levam turistas para pesca esportiva
(aluguel de embarcação); outros vão toda semana (aqueles que vão mais para a pesca), nesse caso
depende da quantidade capturada. O turismo esportivo concentra-se mais ao redor das Cagarras.
Recursos principais: anchova, bicuda, olho-de-cão, xerelete, pampo, galhudo, olho-de-boi, olhete,
xaréu, lula, marimbá, espada (principalmente agora).
Tipo de Fundo: rochoso
Aspectos qualitativos da produtividade:
Hoje: muito relativo (depende da maré), mas podem pegar em torno de 300 quilos de peixe, isso
quando pescam a noite toda entre 3 pescadores. Ricardo explica que é um ponto de passagem dos peixes

231
e que esses peixes param muito na laje. Ricardo diz que quando a água dá condições, vão para outros
pesqueiros onde tem pescaria, “então a gente muda, quando a água está mais ou menos, a pesca é em
cima dos pargueiros (pontos 11 e 12). Para a pesca esportiva uma boa pesca é 30 a 40kg.
20 anos: no passado pegavam muito anchova grande (com aproximadamente 8 quilos) na entrada da
Barra, era um ótimo pesqueiro. Não precisavam ir longe. Explicam que há 20 anos atrás nem iam para as
Cagarras. Começaram a ir para a Laje das Cagarras quando “os barcos industriais começaram a tirar
tudo nosso aqui (boca da barra)” - Ricardo. “Quando começaram a vir principalmente os barcos de Itajaí
(SC), nos anos 1980, a partir daí a pesca começa a cair muito” – Valdeci. “Hoje as Cagarras é nosso
principal pesqueiro”.
Conflitos:
- pesca artesanal x pesca profissional (industrial de rede de emalhe). Os pescadores perdem as redes (de
emalhe) e as redes ficam pescando.
Arrasto industrial (chifrudo), cerco (pau broca) e traineiras menores. Ricardo acha que deveria ter um
ordenamento dos locais permitidos para cada tipo de pescaria, assim permitiria o repovoamento das
espécies e reduziria conflito.
-­‐ pesca de compressor “mata tudo”.
URCA DEMAIS PESQUEIROS DO ENTORNO DAS ILHAS CAGARRAS
Pesqueiros: Canal do Passarinho (2), Área em volta das Palmas (3), Ponta sul das Cagarras (4), Laje de
fora Comprida – Buracão (5), Cangolândia (10), Pesqueiro Ricardo (11), Focinho de porco (14), Matias
(22), Fedorenta e Praça XI (23), etc.
Época e Freqüência: idem Lajinha das Cagarras (pesqueiro 1). Ficam rodando até achar o peixe. Nas
Tijucas que não vão com tanta freqüência (setembro em diante – primavera e verão).
Recursos principais:
CANAL DO PASSARINHO (2): bicuda, marimba, olho-de-cão, olho-de-boi, pirajica, boca de fogo.
ILHA DAS PALMAS(3): pargo, xerelete (muita quantidade), cavalinha, bicuda, espada (ta entrando
agora)
PONTA SUL COMPRIDA (4): garoupa, olhete, moréia, bicuda, espada (ta entrando agora), olho-de-boi
BURACÃO (5): anchova, marimba e bicuda.
CANGOLÂNDIA (10): pargo, pitangola, cangulo (por isso o nome), piruá, cavalinha, xixarro, peixe
porco, olho-de-cão (está na época)
PESQUEIRO RICARDO (11): olho-de-cão, cherne, cangulo, peruá, xixarro e cavalinha.
Tipo de Fundo (10 e 11): cascalho/pedraria alta ou barco afundado.
FOCINHO DE PORCO (14): pargo, anchova, bicuda, espada, pescadinha, marimbá
MATIAS (22): pescadinha e pargo.
OBS.: são peixes migratórios, quase todos esses peixes citados ocorrem em todas as ilhas do arquipélago
(Praça XI, Canal do Passarinho, Fedorenta, ponta sul comprida, dentro das Palmas)
Aspectos qualitativos da produtividade:
Hoje:
20 anos:
Conflitos:
O que tem para ser contado sobre este pesqueiro? (Aspectos culturais e informações
qualitativas)
Observações:
PESQUEIROS PRÓXIMOS DA REDONDA E FILHOTE (REDONDINHA)
URCA DEMAIS PESQUEIROS PRÓXIMOS DA ILHA REDONDA
Pesqueiros: Banco do Brasil (8), Canal entre BB e redondinha (9), Redonda e filhote (6).
Época e Freqüência: idem Lajinha Cagarras (pesqueiro 1)
BANCO DO BRASIL (8)
Recursos principais: marimbá, pirangica, anchova

232
Obs. É muito longe e tem muita rede. Vão pouco.
CANAL ENTRE BB E REDONDA (9)
Recursos principais: mesmos peixes do BB
Tipo de Fundo: pedraria
REDONDA E FILHOTE (6)
Recursos Principais: olhete, olho-de-boi
OBS: garoupa, cherne e badejo matam raramente, precisa de isca viva: problema de redução por causa
da pesca com compressor.
URCA PESQUEIROS PRÓXIMOS DAS ILHAS TIJUCAS
Pesqueiro: Surriá e Ilha do Meio (20), Jacaré (27)
Época: o ano todo
Freqüência
SURRIÁ E ILHA DO MEIO (20)
Recursos principais: anchova, olho-de-cão, marimba, bicuda, enxada (difícil de pegar na linha),
cangulo- peruá, peixe porco, (as últimas três espécies são mais encontradas na ilha do meio). Entre as
ilhas capturam pargo.
Tipo de Fundo: pouca pedra, no centro é só areia. Xurriá é pedra
JACARÉ (27)
Recursos principais: lula
Tipo de fundo: pedraria, tem que ter cuidado porque é muito raso entre 3 e 4 metros de profundidade
(só dá para pescar com mar calmo e maré cheia)
ILHA DAS TIJUCAS E LAJEADOS (21)
Principais recursos: olho-de-cão (principalmente), anchova, bicuda (peixes migratórios que vem
desovar dentro da Baia da Guanabara), peruá (raro), cangulo, marimbá (come junto com a bicuda).
VILAR (28) 12 milhas para fora (não é qualquer barco que consegue ir lá)
Principais recursos: peixes maiores - anchova
Conflitos nas Tijucas: os barcos de arrasto cercam com corrente os barcos artesanais da Urca. “O que
um barco de arrasto pesca num dia, é tudo que todos nós aqui pescamos em um mês inteiro”
PONTOS DE PESCA DE LULA NAS TIJUCAS:
Sai do costão, boca do canal e canto do Costa Brava (VER LEGENDA PARA LULA NAS FOTOS)
URCA PESQUEIROS PRÓXIMOS DA BOCA DA BARRA
Pesqueiros: Cotonduba (15), boca da barra, Praia Vermelha (16), laje (17), Ponta de Santa Cruz (18),
Madalena (19)
COTUNDUBA (15)
Recursos Principais: marimbá, anchova
BOCA DA BARRA
Recursos Principais: anchova, pororoca, bicuda, marimba, olho-de-cão, bagre (canal), robalo (boca da
Barra com isca viva).
PRAIA VERMELHA (16)
Recursos Principais: lula, corvina
LAJE (SAÍDA) (17)
Recursos Principais: anchova, garoupa, espada, marimbá, corvina, cocoroca.
PONTA DE SANTA CRUZ – FORTE (18)
Recursos Principais: anchova, olhete, corvina (por dentro).
OBS: não pescam muito porque é arriscado (pedra), além disso é proibido.
MADALENA (19)

233
Recursos principais: anchova (já foi um bom pesqueiro, hoje não mais)
URCA CONFLITOS
Barcos predatórios porque mesmo que os pescadores artesanais coloquem redes (redes paradas), não
impacta como os barcos industriais. Amedrontam e espantam os pescadores artesanais. O pior problema
é o cerco (VER LEGENDA DE CERCO NAS FOTOS – X vermelho problema com barco de cerco); eles
cercam toda área de beira de praia. Estão cercando na volta das Cagarras. No Surriá os barcos de arrasto
colocam por cima dos barcos.
Arrasto maior: por fora, não vão onde tem muita pedra.
Arrasto menor (X azul nas fotos): dentro da baía para captura de camarão, destrói os berçários. Usam
armas para ameaçar os pescadores. Os peixes capturados são destinados para ração, já que grande
parte da quantidade capturada é em tamanho muito pequeno.
OBSERVAÇÃO quanto ao IBAMA: “Mas o IBAMA não está preocupado com isso não, o que eles querem é
criar áreas para poder ganhar dinheiro. A primeira atitude que eles deveriam ter era proibir a pesca com
malha pequena (que não passa 1 dedo)”.
Críticas ao Breno do IBAMA, pela falta de diálogo com os pescadores da Colônia Z-13, imposição.
Denunciaram a presença de 14 barcos de arrasto na enseada de Botafogo. Avisaram as autoridades, mas
nada foi feito
URCA IDENTIFICAÇÃO DAS ÁREAS DE ABRIGO
Parte interna das Cagarras: utilizam para abrigo e pesca de lula a noite, na ponta sul da Comprida
pescam muito.
Quando entra o sudoeste vão para a ponta leste da Comprida (em amarelo)
URCA RELEVÂNCIA ECONÔMICA DOS PESQUEIROS – IMPORTÂNCIA PARA
CONSTITUIÇÃO DA RENDA
Ponta sul da Comprida: 5$
Lajinha das Cagarras: 5$
Surriá: 5$
Palmas: 5$
Redonda: 5$
Baixio da Rasa: 2$
Canal do Passarinho: 4$
Buracão da Comprida: 5$
Cangolândia: 3$
Banco do Brasil: 1$
OBS: tem muito pano de rede rasgado lá, por isso não vão muito mais para lá
Canal entre Redonda e BB, Sombra da Mulata: 4$
Âncora: 2$
Focinho de porco e Sombra da Mulata: 2$
Cotunduba: 1$
Boca da Barra: 1$
Praia Vermelha (16): 2$
OBS: é bom para pesca de lula pela produtividade e pela tranqüilidade (é protegido)
Todos pesqueiros de lula: 2$

234
12. ANEXOS

ANEXO 4 - Histórico Documental do Processo de Criação de Unidade de Conservação na


Área do Aquipélago de Cagarras (RJ).  

17/Fev/1992
Abertura do processo (Processo 0200100613/2005-99) junto ao protocolo.
20/Fev/1992
Ofício de encaminhamento do Chefe de Departamento de Unidades de Conservação (DEUC) ao Chefe da
Procuradoria Jurídica (PROJUR), das minutas de exposição de motivos e Decreto de criação da ARIE Ilhas
Cagarras. Encaminhamento foi dado pelo Procurador Geral Sabastião em 19/02/92.
20/Fev/1992
Parecer PROGE/IBAMA favorável ao encaminhamento do processo 0652/92-AC à Secretaria do Meio
Ambiente assinado por Gracia Maria Baldoni Cantanhede, Advogada.
11/Mar/1992
De acordo do Procurador Geral Sebastião Azevedo à Materia e solicitando urgência.
16/Mar/1992
Solicitação de encaminhamento do dossiê á Secretaria de Meio Ambiente assinada por Aureo Araújo
Faleiros, Chefe DEUC-DIREC/IBAMA.
??/Mar/1992
Solicitação de prosseguimento ao processo de criação da ARIE á Secretaria de MEio Ambiente assinada
por Mario do Nascimento Moraes, Diretor Substituto DIREC.
??/Mar/1992
De ordem, ao Ibama, assinada por Suely Sampaio.
10/Abr/1992
Nota ao chefe da DICOI (???) Sergio Brandt para uma reavaliação da proposta quanto a categoria de
manejo e demais aspectos técnicos e legais com urgencia.
??? 1992
Ofício assinado sem data pela presidente (???) Maria Tereza Jorge Pádua ao Secretário do Meio Ambiente
– Interino José Goldemberg. Submete à apreciação a proposta de Decreto de criação e minuta de
exposição de motivos.
???/Mar/1992
Minuta de ofício sem data do Secretário de Meio Ambiente (Interino) José Goldemberg ao Presidente da
República apresentando um projeto de Decreto propondo a criação da Área de Relevante Interesse
Ecológico das Ilhas Cagarras bem como a Exposição de Motivos.
Anexos/Exposição de Motivos
O documento cita a importância da área como sítio de pouso e criadouro de aves, com maior referência
ao Atobá (Sula leucogaster) e da Fragata (Fregata magnificens). O ofício ressalta a Lei No 5.196 de 03 de
janeiro de 1967, que coloca os ninhos e criadouros de animais sob pertencimento do Estado. Ressalta
também o componente paisagístico que o as ilhas oferecem. Lembra por fim que esta ARIE já havia sido
aprovada pelo CONAMA em dezembro de 1989.
Notadamente, a proposta de de decreto presidencial encaminhada: 1) constitui também como parte da
ARIE uma área de 2km em torno de cada ilha; 2) autoriza a Marinha a continuar suas atividades; 3)
proibe qualquer atividade que coloque em risco o ecossistema local e a harmonia da paisagem; 4) proíbe
a pesca com redes, armadilhas e outros petrechos que o IBAMA considere danoso bem como a posse e
utilização de explosivos, granadas, e outros equipamentos para abate de animais.
O quadrante proposto no documento é 43o 00’00’’ a 23o15’00’’de latitude Sul e 43o00’00’ de longitude
oeste.
???/???/1992
Minuta de Decreto de Criação da ARIE do Arquipélago das Ilhas Cagarras . O documento possui mais 2
parágrafos e 3 artigos que não constam no documento exposto acima. Notadamente, além dos 4 pontos
ressaltados, esta minuta de Decreto ainda proíbe: 1) competições esportivas ou qualquer atividades que
perturbem a fauna aquatica e as aves marinhas da ilha e seu entorno; 2) utilização de barracas ou
qualquer tipo de acampamento sem autorização do Ibama. Adicionalmente, a proposta ainda traz outros
2 artigos.
???/???/1992
Minuta de Exposição de Motivos praticamente idêntica à acima descrita.
???/???/1992
Minuta de ofício sem data do Secretário de Meio Ambiente José A. Lutzanberger ao Presidente da
República apresentando um projeto de Decreto propondo a criação da Área de Relevante Interesse
Ecológico do Arquipélago das Ilhas Cagarras bem como a Exposição de Motivos.
??? 1992
Minuta de ofício sem data pelo presidente (???) Eduardo de Souza Martins ao Secretário do Meio
Ambiente José A. Lutzanberger. Submete à apreciação a proposta de Decreto de criação e minuta de
exposição de motivos.

235
12. ANEXOS

29/04/2002
Matéria publicada na Folha de São Paulo (seção Turismo), onde se descreve as características ambientais
do arquipélago das Cagarras e pesquisas em andamento. Destaca-se o trecho seguinte:
“A importância ambiental, cultural e econômica das ilhas Cagarras levou o Ministério do Meio Ambiente,
através do IBAMA, a propor a classificação da região como Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE).
Foi garantida uma vaga para o arquipélago no primeiro concurso para analista ambiental do IBAMA”.
27/12/2002
Matéria publicada no jornal O Globo, informando sobre a proteção almejada nas Ilhas Cagarras. No texto,
cita-se que o Diretor de Ecossistemas estuda a possibilidade de alterar a categoria para Parque.
31/01/2003
Ofício encaminhado pela Colônia de Pescadores Z-7 (Niterói) Sr. Aurivaldo José Almeida ao Sr. Carlos
Henrique Abreu Mendes, Gerente Executivo do IBAMA-RJ. O ofício protesta contra a criação da UC, visto
que prejudicará substancialmente pescadore profissionais e amadores das diversas colônias de pesca da
região. Prejudicará também o turismo de pesca e a industria e comercio de equipamentos de pesca, que
empregam diversas pessoas na região. Cita que estas atividades não são predatórias e que já solicitaram
medidas aos órgãos competentes para coibir a degradação ambiental na área. Por fim, solicita que a UC
não seja criada sem antes realizar um “amplo debate com a Federação de Caça Submarina do Estado do
Rio de Janeiro, FEPERJ e, as Colônias de Pescadores que se utilizam à área, principalmente pelo fato da
área em questão ser o limite estipulado pela Capitania dos Portos do Estado do Rio de Janeiro para a
pesca de embarcações de pequeno porte”. Pede também que na eventualidade de se criar áreas de
exclusão, sejam viabilizados projetos para compensar os profissionais que se utilizam destas áreas.
12/02/2003
Matéria publicada na VEJA RIO sob título “Rio Selvagem”, que trata sobre as belezas das ilhas Cagarras e
o uso de pescadores, mergulhadores, caçadores subaquáticos e turistas das ilhas. A matéria trata
também da criação de um Parque Nacional na área e as opiniões da chefe do Parna Tijucas, do presidente
da Colônia de Pesca z-13 e representante da caça subaquática sobre a criação da UC.
19/02/2003
Nota publicada na Revista Veja Rio, onde a equipe do Parna Tijuca, responsáveis pela coordenação da
proposta de Unidade de Conservação Federal nas Ilhas Cagarras, esclarece pontos publicados pela
própria revista em matéria anterior “Rio Selvage – 12/02/03”. Nesta nota, afirmam que “Antes de
chegarmos às propostas de categorização e delimitação da Unidade de Conservação, foram consultados
todos os usuários da área (pescadores, praticantes de caça submarina, pesquisadores, Marinha,
mergulhadores e operadores de ecoturismo) em reuniões conjuntas e particulares. A partir das sugestões
e críticas, foram desenvolvidos cenários para a Unidade das Ilhas Cagarras”.
Fev/2003
Documento entitulado Diagnóstico sobre a Unidade de Conservação Federal das Ilhas Cagarras”, assinado
por Sônia L. Peixoto (Chefe Parna Tijuca/Ibama), Celso Junius (Diretor Executivo do Parna
Tijuca/Prefeitura), Breno Herrera da Silva Coelho (Analista Ambiental/ Parna Tijuca), Maria de Lourdes
Figueira (Analista Ambiental/ Parna Tijuca).
O diagnóstico apresenta as atividades realizadas pela equipe do Parna Tijuca no processo de criação de
UC no arquipelago das ilhas Cagarras. O documento apresenta: 1) Descrição da Área (aspectos bióticos);
2) Usos Atuais da Área; 3) Situação Legal; 4) Histórico Recente; 5) Propostas (cenário A: Ampliação da
ARIE, cenário B: Recategorização para Parna das Ilhas Cagarras, Cenário C: Incorporação ao Parna
Tijuca); 6) Conclusão; 7) Bibliografia; 8) Anexos.
O diagnóstico apresenta 1 parágrafo explicando os usos atuais da área, onde ressalta que “…o
arquipélago é bastante utilizado pela população”, sendo as principais apontadas o turismo ecológico,
mergulho recreativo e pesca (amadora, profissional e submarina). Aponta ainda que a pesca é realizada
principalmente na face oceânica da Ilha Comprida.
No tópico Situação Legal, o texto aponta a existência de uma ARIE criada por resolução CONAMA 011 de
14 de setembro de 1989 que inclui 2km no entorno de cada ilha, lembrando que a proposta de Decreto
“ainda não foi assinada”.
Em Histórico Recente, são apontados os seguintes eventos:
1) em 2001, ONG Viva Rio apresenta à GEREX-RJ (encaminhado ao MMA) propostas de estudos para a
elaboração de Plano de Gestão e monitoramento de espécies ameaçadas na ARIE;
2) ressalta que o MMA foi procurado (2001) por mergulhadores para o inicio de ações para a revitalização
do arquipelago;
3) após outubro de 2001, entidades como a Confederação de mergulhadores, colônias de pesca,
pesquisadores da UERJ e Clubes nauticos procuraram a GEREX-RJ em busca de esclarecimentos sobre a
ARIE, e após isto a questão começou a ocupar maior espaço na mídia;
4) em maio de 2002, o gerente executivo do IBAMA-RJ se comprometeu a criar grupo de trabalho para
rever a situação da ARIE e propor criação de uma UC na localidade;
5) foi designada a equipe técnica do PARNA Tijuca para a condução do processo de criação da UC;
6) em novembro de 2002 é realizada a primeira reunião congregando interessados no arquipélago. Cita
que estiveram presentes representantes do Ibama (Parna Tijuca), colônias de pescadores, pesquisadores

236
12. ANEXOS

(peixes, crustáceos e aves), Confederação e Federação de caça submarina e ONG Viva Rio, os quais
apresentaram seus interesses, propostas, problemas e soluções para o arquipélago. Alguns participantes
enviaram relatórios sobre suas atividades no arquipelago, incluindo alguns pesquisadores (poriferos,
carcinologia, ictiologia, ornitologia da UFRJ e geografia da PUC-RJ), pescadores da colônia z13, fotógrafo
Carlos Secchin, operadora de ecoturismo Tangará e Federação de Caça Submarina do RJ (Anexo 2 do
documento);
7) no Segundo encontro em janeiro de 2003 estiveram presentes também a marinha, operadoras de
mergulho, operadoras de ecoturismo e pesquisadores das areas de flora terrestre e esponjas. O
documento afirma que foram mapeadas as atividades de pesca e ecoturismo. Explica também que este
mapeamento foi feito em reuniões específicas com Pescadores (colônia z13 e Associação dos Usuários do
Quadrado da Urca), mergulhadores (Associação Brasileira de Empresas de Mergulho Recreativo e demais
operadoras que operam na área) e praticantes da pesca-subaquática (Federação de Caça Submarina do
Estado do Rio de Janeiro (Anexo 3 do documento);
8) em janeiro de 2003, a equipe do Parna Tijuca analisou os documentos enviados pelos usuários e
interessados e formulou os cenários de dimensionamento e categorização da UC. Cita que aconteceram
reuniões com o Secretário de Meio Ambiente do município do Rio de Janeiro, Capitania dos Portos e
Departamento de Hidrografia e Navegação da Marinha, onde manifestou-se o interesse pela co-gestão
tripartite da UC (Marinha IBAMA e Prefeitura) ou termo de co-gestão entre IBAMA/Prefeitura, com
interveniência da Marinha, fundamentadas em convênios a cada 2 anos;
9) em fevereiro de 2003 aconteceram duas visitas técnicas às ilhas (Anexo 4 do documento).
No tópico Justificativas, vários argumentos são listados:
1) a área apresenta um dos últimos remanescentes de ecossistema insular de Mata Atlântica bem
preservados, fato grave diante da inexistência de UCs marinha no RJ frente às ameaças aos ecossistemas
em questão (poluição, sobrepesca, ocupação desordenada, despejo de dejetos urbanos);
2) importância enquanto sítio de nidificação de aves e diversidade faunistica em função de sua posição
biogeográfica;
3) tendência de atividades humanas potencialmente degradantes, como a pesca e mergulho, que devem
ser devidamente reguladas antes de assumirem grande escala;
4) evidências de espécies novas e possivelmente endêmicas à área;
5) pressão da opinião pública e comunidade acadêmica para a fiscalização da área;
6) existência de resolução Conama ha 13 anos sem oficialização através de Decreto;
7) possibilidade de atuação conjunta entre Ibama, Prefeitura e Marinha facilitará a gestão e fiscalização
da Unidade.
Foram apresentadas três alternativas para a criação de Unidade de Conservação na área.
O primeiro cenário considerou a ampliação da ARIE existente de acordo com prerrogativa legal do SNUC
(art.22 parag.6o), já que somente considera as ilhas Cagarra, Palmas, Comprida e ilhotas adjacentes. A
fundamentação para a ampliação foi descrita tendo-se em vista que as ilhas Redonda, Rasa, Cotunduba,
do Meio, Alfavaca e Pontuda possuem características similares às atualmente inseridas na ARIE. O texto
ainda considera a inserção da área que separa as Ilhas Cagarras das ilhas Comprida, Rasa e o
arquipelago das Tijucas na proposta de UC, já que a categoria ARIE não restringe atividades pesqueiras
amadora e commercial. Estas seriam ordenadas pelo Plano de Manejo. Foram duas as vantagens
apontadas na eventual ampliação da ARIE: 1) a própria ampliação da área; 2) possibilidade de
conciliação de diversos usos na área. Foram também listadas quarto desvantagens: 1) menor eficácia na
aplicação de recursos oriundos de taxa de visitação; 2) possível desacordo entre prefeitura e marinha; 3)
menor representatividade turística; 4) discordância da comunidade acadêmica em função do carater
pouco restritivo.
O segundo cenário considerou a recategorização da ARIE para Parque NAcional das Ilhas Cagarras,
segundo prerrogativa legal do SNUC (art.11). A proposta seria incorporar à atual ARIE, as demais ilhas
citadas no primeiro cenário. Fundamenta-se esta alternativa no objetivo de assegurar uma conservação
mais restritiva da área, face à rápida degradação ambiental que as ilhas vêm sofrendo. Com relação aos
possíveis impactos à pesca, o diagnótico considera que seria pequeno visto que “as atividades de pesca
profissional, amadora e subaquática concentram-se em areas específicas nas proximidades das ilhas e
nas areas marinhas entre os grupos de ilhas”. A pesca seria também controlada nas areas marinhas de
entorno através do Plano de Manejo. Esta proposta apresenta também um possível esboço do eventual
Parna. O texto aponta que a área ao Sul da ilha Comprida ficaria for a dos limites, já que concentra
grande atuação da pesca commercial e amadora (subaquática). O contorno do Parque se situaria a 1km
de distância das ilhas e lages deste setor. A lage da Redonda também ficaria fora da proposta pela
grande utilização pela pesca comercial. Nas ilhas Tijucas, apenas a ilha do Meio seria incluída no Parque,
enquanto as ilhas Alfavaca e Pontuda teriam apenas suas porções terrestres incluídas. Na ilha
Cotunduba, penas a porção terrestre seria incluída.
Ainda no secundo cenário, o documento indica que “A permissão da pesca em alguns pontos das
proximidades das ilhas traz vantagens sociais, já que não priva os pescadores da região de seu sustento
e assegura o abastecimento de pescado para a cidade. As artes de pesca praticadas na região são
artesanais (linhas e redes), o que causa baixíssimo impacto às populações de peixes”.

237
12. ANEXOS

As vantagens listadas para este cenário são: 1) ampliação da área protegida; 2) possibilidade de
conciliação dos diversos usos através da definição dos limites da unidade de modo a não incluir as areas
de pesca; 3) agilidade na obtenção de recursos oriundos de taxa de visitação; 4) aprovação dos
eventuais parceiros da UC, Marinha e prefeitura; 5) maior representatividade do setor turistico; 6) apoio
da comunidade acadêmica tendo em vista o caráter conservacionista da proposta. Uma única
desvantagem foi apontada, sendo esta uma eventual morosidade legal no processo de recategorização.
A figura 2, que exibe a área delineada para o Parna de CAgarras envolve todas as ilhas, sem no entanto
fazer distinção as areas de pesca citadas.
O terceiro cenário considerou a incorporação da ARIE ao Parna Tijuca. O documento explica que o
referido Parna possui maior autonomia frente a GEREX-RJ e uma equipe técnica bem qualificada, fatos
que marcaram a delegação da responsabilidade pela implementação de uma UC em Cagarras ao seu
corpo técnico. O documento justifica uma eventual incorporação pelo fato das areas estarem próximas.
No entanto aponta que esta opção, caso considerada, deveria necessariamente vir acompanhada de
maior aporte orçamentário. Os limites aqui propostos são idênticos ao cenário B. As vantagens listadas
foram: 1) ampliação da área protegida; 2) possibilidade de conciliação de usos. As desvantagens
descritas foram: 1) ausência de dotação orçamentária no Parna Tijuca; 2) ausência de infra-estrutura no
Parna Tijuca; 3) ausência de pessoal qualificado para operar na área marinha; 4) falta de recursos
humanos.
O diagnóstico apresenta em suas Conclusões que uma UC no arquipelago das Cagarras teria sua gestão
facilitada pela participação conjunta do Ibama, prefeitura do Rio de Janeiro e da Marinha. Descreve ainda
que a parceria do Parna Tijuca com a prefeitura tem sido exitosa, e que este modelo poderia ser pensado
no caso de Cagarras. Por fim, o diagnóstico sugere o cenário B como o mais apropriado, tendo em vista
“o grau de importância ecológica e turística das ilhas, que seriam protegidas de forma apropriada através
da instituição de um Parque Nacional marinho”.
Nos anexos, encontram-se diversos documentos, como:
1) Portaria Conama que institui a ARIE das ilhas Cagarras;
2) Lista da flora do arquipelago;
3) Parecer técnico sobre a transformação do arquipélago em Parque. Este documento é assinado por
Paulo S. Young (Carcinologia, UFRJ) e Gustavo Nunan (ictiologia, UFRJ). Este documento assinala a
grande diversidade faunística do arquipélago e aponta que não existem outras áreas que as protejam no
estado do Rio de Janeiro.
Ressaltam que “Apesar do arquipélago das Cagarras e ilhas adjacentes não apresentar qualquer espécie
endêmica, abrigam inúmeras espécies raras ou de interesse que apesar de apresentarem ampla
distribuição, não estão protegidas em nenhuma região. Considerando estes aspectos a proteção do
Arquipélago já se justifica plenamente”.
Apontam também que “As ilhas vêm sendo utilizadas como pontos de pesca comercial e esportiva sem
qualquer critério sustentável, sofrendo sua população de peixes, crustáceos e moluscos de valor
comercial, exploração desordenada e predatória”.
Os pesquisadores indicam a necessidade de um zoneamento, realizada em um estudo que defina areas
para diferentes atividades, como 1) reserva; 2) turismo (mergulho); 3) pesca esportiva (caça
submarina); 4) pesca comercial (linha e redes). Sugerem também a condução de programas de
monitoramento ambiental para avaliar os impactos de cada atividade na área.
O parecer ainda sugere que todas os desembarques devam ser banidos, salvo em emergências.
4) Documento elaborado por Carlos Secchin. Sugere a Ilha Rasa como a mais indicada para servir de
base para o Parque, argumentando sobre as características desta ilha. Comenta da importância de cada
área para a pesca amadora e artesanal e mergulho.
Carlos Secchin também indica sugestões relacionadas a pesca. “Sem critério científico, mas por
observação prática e vivencia do local, na tentative de atender a todos os interesses, sem querer
beneficiar o grupo A ou B, sugiro que se proíba as práticas de: pesca esportiva de linha de fundo, currico,
rede de espera, de arrasto, caça submarina, ou retirada de mariscos em toda a extensão da Ilha
Comprida e em todo o complexo Rasa/Redonda incluindo suas lages”.
Além destas últimas, o documento ainda sugere diversas normatizações para a área.
5) Documento da Federação de Caça Submarina do Estado do Rio de Janeiro contendo informações
pontuais e pouco detalhadas sobre capturas realizadas no arquilago de CAgarras nos anos 2000/2001.
6) Ofício elaborado pela Federação de Caça Submarina do Estado do Rio de Janeiro, assinado por Cícero
Forain Filho (presidente). Apresenta o interesse da instituição em participar e contribuir com o IBAMA no
processo de criação de uma reserva em Cagarras, no que tange a fiscalização, controle, educação e
pesquisa, assim como a delimitação de área para a continuidade da realização dos campeonatos e prática
da pesca subaquática. O documento também propõe uma série de sugestões: proibição pesca
subaquática com equipamento respiratório, redes de espera nas lajes, pesca de arrasto; início de projeto
de controle e educação à pescadores profissionais, para que estes “aprendam, não apenas como
trabalharem de forma não predatória, mas principalmente a importância deste para sua comunidade”;
criação de um selo para as carteirinhas da FCSERJ, para que os filiados possam receber e repassar
ensinamentos necessários a preservação do local; implementação de projetos de pesquisa realizados

238
12. ANEXOS

durante os campeonatos de pesca subaquática, entre outros.


7) Ofício elaborado pela FCSERJ e CBCS, assinado por Cícero Forain Filho (FCSERJ) e Alvaro Mattos
(CBCS) em 03/02/2003. Apresenta um posicionamento sobre o parecer dos Doutores Paulo S.Young e
Gustavo Nunan sobre a criação de um Parna e indicam que possuem 40 anos de dados de estatística da
pesca no arquipelago. Afirma que Meros são observados raramente nas ilhas, normalmente de novembro
a fevereiro, tendo-se observado 5 no mes de janeiro de 2003. Relatam que a captura desta espécie é
proibida pelas associações desde 1992. Indicam que lagosta e cavaquinho e polvo são vistos no
arquipelagoem boa quantidade e que estes são capturados sobretudo por arrastões. Afirmam que
serranideos são pouco capturados (10%) por um pescador sub. Perguntam sobre os motivos da sugestão
de mudança de ARIE para PARNA numa área que abriga a atividade de mais de 20000 pescadores
artesanais radicados em sete colônias de pesca. Por fim, sugerem a Ilha Rasa como a única que poderia
ser integralmente protegida em função da pequena atividade de pesca.
8) Ofício encaminhado pela Colônia de Pescadores Z-13 (RJ) em 03/02/2003. O texto argumenta que
embora existam diversas colônias no estado (25), suas respectivas areas de atuação não são respeitadas
porquê o pescado está escasso, existe poluição e pesca predatória. Indica 5 colônias de pesca dentro da
Baía de Guanabara (Z8, z9, z10, z11, z12), 9 clubes nauticos dentro e outros 2 fora da Baía. Assim,
afirma que existirá conflitos entre pescadores profissionais e amadores caso as pesca de puxa-puxa,
corrico e parqueira junto às ilhas e lajeados seja proibida. Indica que a sede é em Copacabana (20
embarcações) e as capatazias são: Urca (60 embarcações), Lagoa Rodrigo de Freitas, Canal da Barra,
Quebra-mar (19 embarcações), Muzema, Marapendi, Camorim e Pontal de Sernambetiba (15
embarcações). Sugere parceria entre IBAMA e Capitania dos Portos ou Diretoria de Portos e Costas do
Rio de Janeiro, para combater a pesca predatória principalmente na Ilha Comprida (parte de fora).
Indicam que o IBAMA deveria realizar um estudo da pesca no Rio de Janeiro, incluindo tipos de peixes,
locais e épocas de captura e desova, que nunca os foi apresentado. Relata que o pescador de Arrastão
Sr. Nilton Alves Carneiro narra que nos anos 40-70 havia muito mais peixes. De novembro-Março, os
arrastões pescavam sardinha-verdadeira, cascudas e laje, palombeta, xicharro, olho de cão, cocoroca,
pescadinha verdadeira, pescada bicuda, camarão, lula, xerelete, cavalinha, guete, sororoca, serra, bonito
cachorro, carapeba, corvinota, carapicú, quaibira. De abril-outubro, pescavam tainhas, robalo, xereletes,
parati, pampo, galhudo, linguado, corvinas grandes, anchovas, entre outros. O pescador de linha
Claudionor José da Silva narra que em 1941 já havia a pesca de arrastão, e que sua especialidade já era
a pesca de linha nas CAgarras e Tijucas (corrico, puxa-puxa e pargueira). No verão (Novembro-Março)
havia abundância de pargos, anchova, xerelete, olho de boi, olhete, olho de cão, badejo, garoupa, maria
mole, lulata, tirivira, chernote, galo de penacho, caçoa, cangulo e michole, entre outros. De Abril-Outubro
(Inverno) aparecem as anchovas grandes, olho de boi, olhetes, pescada, bicuda, marimba, xaréu,
dourado, pargo, entre outros. O documento lembra da possibilidade de parceria entre a Petrobrás e
Ibama para intensificar a fiscalização. Sugere por fim que a pesca de rede seja limitada nas ilhas a 500
metros de distância de cada ilha e a malha somente entre 50-150mm.
9) Ofício encaminhado pela Colônia de Pescadores Z-13 (RJ) em 13/01/2003. Sugere alguns caminhos
em função de recente reunião no auditório do IBAMA (08/01/2003). Sugere a intensificação da
fiscalização nas ilhas. Indica que a pesca da colônia z-13 é artesanal, empregada com rede corvineira,
malha 50mm (entre nós), rede linguadeira de 150mm (entre nós) e linha. Indica que a maioria dos
peixes são de passagem e têm a sua época.
10) Ofício encaminhado pela Colônia de Pescadores Z-13 (RJ) em 13/12/2002. Encaminha sugestões
para o IBAMA em função de reunião recente (27/11/02) na sede do IBAMA. O documento anexa um
histórico da pesca brasileira, um histórico da colônia z-13 e a certidão da Confederação Nacional dos
Pescadores, relativa à área da z-13 que abrange as Cagarras e Tijucas. O documento também denuncia a
existência de um tipo de rede que chegam a medir 500-1000m de comprimento que estão sendo
colocadas junto as ilhas Cagarras, TIjucas, Redonda e Laje da Redonda. Denuncia também que desde
1973 já comunicaram às autoridades a existência de pesca predatória com arrasto, atuneiros, bomba,
compressor, redes e catador de mariscos com compressor (referencia o Jornal do Brasil de 25/07/1973 à
página 9). Denuncia que pescadores de outras localidades carregam armas de fogo ao mar e intimidam
aqueles da z-13 que trabalham nestas areas. Sugere uma parceria do IBAMA com a PEtrobrás na
fiscalização (combustível). Indica a existência do perigo à navegação devido a barcos naufragados no
interior da Baía de Guanabara. Sugere, em folha anexa, a intensificação da fiscalização e o incentivo ao
turismo ecológico e pesca esportiva com o acompanhamento de pessoas credenciadas pela Colônia e
Prefeitura. Entre os anexos também constam algumas reinvidicações da Z13 ao poder público municipal,
estadual e federal para a melhoria das condições da pesca artesanal. Outro anexo descreve um relato
interessante sobre a história da pesca em Copacabana ha mais de um século, os primeiros conflitos e
práticas que entraram em desuso. As sugestões finais são: 1) fiscalização intensa nos arquipélagos das
Cagarras e Tijucas e; 2) incentivo ao turismo ecológico e pesca esportiva, com o acompanhamento de
pessoas credenciadas pela Colônia e a Prefeitura.
11) Anexo com detalhamentos sobrea a avifauna nas Ilhas Cagarras, Ilha Rasa, Ilha Redonda, Ilha do
Meio e Ilhas Tijucas.
12) Ata da Reunião sobre a ARIE do Arquipélago de Cagarras em 27/11/2002. Estiveram presentes

239
12. ANEXOS

pesquisadores, funcionários IBAMA, representantes pescadores e de entidades de pesca subaquática


listados na tabela abaixo.

Celso Junius F. Santos Diretor Parna Tijuca (prefeitura)


cjunius@pcrjrj.gov.br
24954863/24922252/24922253
Sônia L. Peixoto Diretora Parna Tijuca/IBAMA
2492522252/24922253
Maria de Lourdes de O. A. Figueira Biologa Parna Tijuca
lfcaf@uninet.com.br
24922252 ramal 24
Ivandy N. de Castro Astor Biologa Parna Tijuca
ivandy@alternex.com.br
24922252 ramal 24
Roberto Huet de Salvo Souza Biologo Parna Tijuca
rhuet@yahoo.com.br
2492522252/24922253
Ricardo Mantovane Presidente colônia z-13
Cel:96919146/fax.25131903
Luiz Varella Colôniaz-13
luizvarella@hotmail.com
25442764
Lenilson da Silva Santos Associação dos Usuários do Quadrado da
Urca
Cel. 91976007
Ana Beatriz Aroeira Soares Bióloga/UFRJ – Aves
Ana.aroeira@uol.com.br
Fone.5605993 ramal 25
Carlos Secchin Fotógrafo
2286550 (IFP)
Paulo Young Biologo Museu Nacional – Crustáceos
psyoung@acd.ufrj.br
cel.99968636
Eduardo Souto Iate Clube do Rio de Janeiro/CBCS
38138651/cel.96697974
Cícero Fontain Filho Presidente CBCS
www.sportsub.com.br
Álvaro Henrique Matos CBCS
alvaromattos@infolink.com.br
22536679/cel.96171666
Ilana Rodrigues Coordenação Meio Ambiente – Viva Rio
ilana@vivario.org.br
claudison@vivario.org.br
25553771
Gustavo Wilson Nunan Biólogo Museu NAcional – Ictiologia
gwanunan@acd.ufrj.br
25688262 ramal 249

Representantes da pesca subaquática relataram as atividades que exercem nas ilhas Cagarras (ex.
campeonatos de pesca), e não se incomodam se a pesca seja proibida em alguns locais. O presidente da
colonia z-13 informou que a área é bastante utilizada, principalmente para a pesca de linha. Denunciou a
posse de armas por pescadores de outras regiões, a pesca de bomba e o abandono de redes em lajes,
desembarque de pessoas e consequente lixo no local, diminuição da quantidade de pescado. O
representante do Quadrado da Urca informou da importância do turismo para os pescadores (pesca
amadora). Pesquisador Paulo Young descreve as atividades realizadas na área e acredita ser possível a
coexistência de todas. Diz não haver estudos aprofundados sobre a fauna aquatica do local. Considera a
área importante para a conservação embora desconheça espécies endêmicas. O pesquisador Gustavo
Nunan comentou que as Cagarras são representativas de costões rochosos do sudeste brasileiro, e
acredita que para o grupo dos corais a área seja mais importante. Destacou a ausência das operadoras
de mergulho na reunião. A pesquisadora de aves Ana Beatriz destacou que embora a riqueza de aves não
seja grande, a área é importante como sítio de nidificação, e que sofre impactos pelo desembarque ,
alpinismo e lixo. O fotógrafo Carlos Secchin destacou a pesca predatória e a falta de fiscalização.
13) Ata da Reunião sobre a ARIE do Arquipélago de Cagarras em 08/01/2003. Estiveram presentes

240
12. ANEXOS

pesquisadores, funcionários IBAMA, representantes de pescadores e de entidades de pesca subaquática,


mergulhadores, ecoturismo listados na tabela abaixo.

Guilherme Muricy Lab. Poríferas/ Museu NAcional /UFRJ/


2681149 R.227
Leandro de Campos Monteiro Lab. Poríferas/ Museu NAcional
/UFRJ/22660668
Eduardo Vilanova Lab. Poríferas/ Museu NAcional /UFRJ
Gilberto S. Couto Lab. Ornitologia/UFPR
Juliana Botafogo Tangará Passeios Ecológicos
Fernanda Leo Pardo Tangará Passeios Ecológicos
André B. Amador IBAMA/RJ/ 22528202/96561460
Lenilson da Silva Santos Associação dos Usuários do Quadrado da
Urca
Cel. 91976007
Rogério Kahn ABEM – Ass.Bras. das Empresas de
Mergulho recreativo, turistico e de lazer/
25170850/789360490/96272073/22200839
Carlos Secchin Fotógrafo
2286550 (IFP)
Breno H. S. Coelho IBAMA/RJ/ 97950196
Eduardo Souto Iate Clube do Rio de Janeiro/CBCS
38138651/cel.96697974
Cícero Fontain Filho Presidente CBCS
www.sportsub.com.br
Celso Teixeira Associação dos Usuários do Quadrado da
Urca
33715141
Pedro Bonfatti Rio Mar Escola e Operadora de Mergulho.
Rua Santo Alfredo n. 27/TJ
22243479/98731244
Bruno Pereira Stto Mare Centro de Mergulho. 22459525
Angela Saade Rodrigues Dpto.de Geografia/PUC/RJ/
99855365/22951254
Paulo Young Biologo Museu Nacional – Crustáceos
psyoung@acd.ufrj.br
cel.99968636
Cap. De Corveta Emir Pitzer Capitania dos Portos/RJ/
38705316/38705314/38705313
Capitão Tenente Carvalho Centro de Sinalização Nautica Alte.Moraes
Rego/ 27161430/27161435/27161431
Ovídio C. de Araújo Neto Colônia de pescadores z-13/
1531903/25234151
Adriana Carvalhal Fonseca Ibama/RJ
Ivandy N. Castro Astor Ibama/RJ
Claudison Rodrigues Viva Rio

Foi apresentado o parecer técnico de Paulo Young e Gustavo Nunan. O Capitão tenente Carvalho expôs
que a DGN possui interesse em apoiar a conservação nas ilhas. Quando perguntado sobre a ampliação da
ARIE, disse que teria de consultar superiores. Ângela Saade informou sobre a sua realização de
monografia sobre a vegetação das ilhas. Representante da ABEM solicitou que fosse feita uma legislação
específica para Unidades de Conservação Marinhas. Alertou sobre a poluição do emissário e que área está
sendo degradada pois a obra não foi finalizada. Comentou também que os Serranideos estão acabando
na área. Quanto a cobrança de taxas, sugeriu que esta fosse cobrada pelo IBAMA e não ONGs.
Representantes da Tangará Turismo informaram sobre suas atividades de passeio na área. Sr. Gilberto
comentou sobre a necessidade de se proteger a Ilha Rasa, Redonda, do Meio e laje das Tijucas em
função das aves das ilhas, alertando a presença de ratos domesticos. Professor Muricy informou sobre
suas pesquisas e a descoberta de novas espécies de esponjas na área. Foi então solicitado que os
participantes apontassem suas areas de uso específicas. A pesca subaquática informaram que atuam em
todo o arquipélago (ilha Comprida, laje Praça XI, Laje das Cagarras e Filhote da Cagarras, Ilha Redonda),
principalmente na face oceânica das Cagarras. Os representantes do setor turístico informaramque
utilizam a parte interna da Ilha Comprida. Os pescadores da colônia de pescadores z-13 pescam a 500 a
600m das ilhas (área continental), e utilizam rede de espera. Informaram que também fazem currico

241
12. ANEXOS

próximo as ilhas na área continental. Sônia Peixoto (PArna Tijucas) discursou sobre as vantagens de se
ter um Parque Nacional, em função da visibilidade e facilidade de captação de recursos. A ata também
descreve que a chefe do Parna Tijucas comenta que “Sabendo que é uma categoria de manejo de
Proteção Integral, onde não se pode utilizar os recursos naturais da área, poderia se prever soluç!oes que
viabilizassem o uso por aqueles que já se utilizam da área, por exemplo pescadores”. Foi sugerido a
possibilidade de um mosaico de UCs, com áreas de uso sustentáve, o que foi acatado como sugestão pela
chefe do Parna Tijucas. Por fim, representantes do IBAMA se comprometeram a realizar reuniões
menores com representantes de cada segmento para que se identificasse as áreas de atuação de cada
atividade visando preparar uma proposição para a criação de um Parque Nacional e seu zoneamento
prévio.
14) Ata de reunião com representantes das associações de mergulho em 13/01/2002 realizada na sede
do Parna Tijuca. Participaram Rogério Khan (ABEM), Pedro Bonfatti (Rio Mar Escola Mergulho), Claudio
Brandileone (Aquatic World Awareness Responsibility & Education), Breno Coelho (Parna Tijuca). Foi
apontada a porção interna da ilha Comprida, Palmas, Cagarra e Rasa como prioritárias à prática do
mergulho. Sugeriram a proibição da pesca nas proximidades da ilha Rasa, principalmente no naufrágio
próximo à costa leste da ilha, de modo a manter a integridade do local para a prática do mergulho.
Informaram que pescadores da Urca utilizam a vertente norte (continental) da ilha Comprida. Sugeriram
a colocação de poitas de atracação.
15) Ata de reunião com pescadores da colônia Z-13 e Associação dos Usuários do Quadrado da Urca em
24/01/2003 na sede do Parna Tijuca. Não consta lista de participantes. Foram obtidas uma série de
informações sobre a pesca e ecologia da área. As principais artes de pesca empregadas são: Linha com
anzol próximo às ilhas; engodo com barco ancorado de noite (linha e anzol); currico, distante das ilhas
principalmente; redes a partir de 200m das praias e preferencialmente em áreas rasas de cascalho; não
é praticado o espinhel. Na Urca se utilizam basicamente linha e isca viva. Foi denunciada a presença de
redes abandonadas sobre as pedras da Ilha Redonda, manchas brancas no costão por causa do uso de
bombas, remanso natural ao norte da Ilha Comprida apropriado ao desembarque na ilha. As
embarcações da z-13 pequenas (5-6m) e duas canoas (7m), enquanto na Urca estão aproximadamente
20 traineiras, 30 barcos pequenos (boca aberta) e 2-3; lanchas. De acordo com os participantes, as áreas
mais usadas para a pesca são a vertente oceânica da ilha Comprida, a vertente oceânica da ilha Redonda
e laje da Redonda (chamada também de Banco do Brasil), Ilhas Tijuca (pesca de linha). Consta na ata
que a ilha do Meio e a parte interna do aruipélago das CAgarras São muito pouco usados, e que a pesca
nas ilhas ocorre a uma distância de 10-15m das mesmas. Por fim, consta que os pescadores da Urca
operam com o turismo no verão e no inverno pescam comercialmente.
16) Ata de reunião com representantes da CBCS em 01/02/2003 na sede do Parna Tijuca. Participaram
Eduardo Souto de Oliveira (CBCS), Álvaro Henrique Matos (CBCS), Maria de Lourdes de O. A. Figueira
(Parna Tijuca), Breno H.S. Coelho (Parna Tijuca) e Ivandy N. Castro Astor (Parna Tijuca).
Representantes da pesca sub criticaram o parecer dos pesquisadores, dizendo que os mesmos não
conhecem bem a área como eles. Argumentam que a pesca sub não é impactante e que utilizam todo o
arquipélago, questionando a mudança de categoria, que prejudicaria a atividade praticada por eles.
Relataram por fim que estariam de acordo com a proposta de Parna caso fossem excluídas: todo costão
de for a da Ilha Comprida, as Lajes da Praça XV, Matias, filhote da Ilha Cagarras, laje da Redonda e toda
a área marinha das Ilhas Tijucas.
17) Relatório de vistoria ao Arquipélago das Cagarras em 06/02/2003 juntamente à escola e operadora
de mergulho RioMar. Foi verificada a presença de duas embarcaçoes de pesca de linha e subaquática na
Ilha Cotunduba. Verificaram a presença de vegetação exuberante, levando-os a sugerir a incorporação de
sua porção emersa na proposta de UC. No lado de fora da Ilha Comprida foram observados
mergulhadores, fazendo uso inclusive de compressor. Verificaram grande presença de lixo no lado
continental da Ilha Comprida, com vegetação degradada. Nas proximidades da Ilha de Palmas,
verificaram a presença de uma traineira sendo abastecidas por pelo menos três embarcações a remo
menores com caixas de mexilhões coletados nos costões rochosos das ilhas. No trajeto de retorno,
cruzaram outras 2 lanchas em direção as ilhas para a prática da pesca subaquática. O texto termina
concluindo que “a área apresnta seus recursos naturais explorados pelos usuários, constatado pela
grande presença de pescadores na área e verificamos que a mesma apresenta diversos atributos que
merecem ser preservados”.
18) Relatório de vistoria às ilhas Rasa e Redonda em 13 de fevereiro de 2003. Estiveram presentes, além
da equipe do Parna Tijuca, um sargento da Marinha, 2 fotógrafos e uma bióloga marinha. Na ilha Rasa,
descrevem as estruturas fisicas observadas, incluindo casas construidas que eventualmente poderiam
servir de base para a Unidade de Conservação. Passaram pela Ilha Redonda, e no retorno, citam a
observação de 3 atuneiros e um barco com rede de arrasto próximo à Ilha Cotunduba.

06/03/2003
Ofício encaminhado pela chefe do Parna Tijuca Sônia Lucia Peixoto à DIREC, solicitando orientações ao
andamento da criação de uma UC em Cagarras. O documento explica que a Prefeitura e a MArinha são
favoráveis a uma gestão compartilhada da UC, como ocorre no Parna Tijuca. Informa que a Marinha é

242
12. ANEXOS

favorável à cessão de estrutura na Ilha Rasa para a implementação da sede da UC. Por fim solicita a
presença de representante da DIREC em reunião agendada na reunião com o primeiro Distrito Naval.
??/05/2003
Diagnóstico sobre a Unidade de Conservação Federal das Ilhas Cagarras produzido por Breno Herrera da
Silva Coelho e Sônia L. Peixoto (Parna Tijuca). O texto apresenta uma proposta de criação de um
Monumento Natural das Ilhas Cagarras, com sugestões sobre seu dimensionamento, categorização e
gestão. O documento descreve vastamente a fauna e flora das ilhas Cagarras e Tijucas. RElata
rapidamente que o arquipélago é bastante utilizado pela população local, com atividades de turismo
ecológico, mergulho recreativo e pesca (amadora, profissional e submarina), esta última principalmente
na face oceânica da Ilha Comprida. Em Situação Legal, referen-se à criação pelo CONAMA da ARIE, e
posteriormente citam que esta foi apenas uma proposta de decreto. Citam também que “na prática não
há presença do IBAMA na fiscalização ou gestão da Unidade”. Em Histórico Recente, relatam
praticamente os mesmos tópicos descritos no Diagnóstico anterior, além de outros 2 pontos. O primeiro
cita a submissão da primeira versão do “Diagnóstico sobre a Unidade…”. O segundo cita que com a
mudança de cargos na Gerência Executiva do Rio de Janeiro, houve a reativação do Núcleo de Unidades
de Conservação sendo que este departamento volta a se envolver diretamente no processo de
implementação da UC das Ilhas Cagarras. Na descrição da Proposta, o documento sugera a categoria
Monumento Natural, argumentando que esta é apropriada à Cagarras tendo-se em vista sua expressiva
beleza cênica, importância ecológica e pequena dimensão. Argumenta que embora a resolução CONAMA
tenha sugerido a criação de uma ARIE, optou-se por uma categoria de proteção integral face a rápida
degradação ambiental que as ilhas vêm sofrendo. Além disto, lembra que a esta categoria permite a
continuidade de visitação, não prejudicando o turismo no local. Quanto a pesca extrativista, o documento
cita que “a solução encontrada seria a mesma que a aplicada em outras unidades de cosnervação
marinhas de proteção integral (como osParques Nacionais de Fernando de Noronha e de Abrolhos), qual
seja: a delimitação da UC de modo que sejam mantidas áreas for a da mesma onde as atividades de
pesca possam ser efetuadas”. O documento menciona ainda que no caso do Monumento Natural das
Ilhas Cagarras “o desenho de seus limites com este objetivo seria facilitado visto que as atividades de
pesca profissional, amadora e subaquática concentram-se em áreas específicas nas proximidades das
ilhas e nas áreas marinhas entre os grupos de ilhas”. Cita que a ausência de pesca em certas áreas
funcionaria como repositório das populações de peixe capturadas. Explica que no setor “Cagarras”, a UC
estaria a 10m das ilhas que compõem o arquipélago. Esta mesma distância se aplica ao setor “Redonda”.
Entre estes setores, na parte marinha e lajes, a pesca seria então permitida, embora controlada de
acordo com orientações do Plano de Manejo. O texto então cita que todas as áreas terrestres seriam
incluídas e que a permissão da pesca a partir de 10m de distância das ilhas “traz vantagens sociais, já
que não priva os pescadores da região de seu sustento e assegura o abastecimento de pescado para a
cidade”. Menciona ainda que “As artes de pesca praticadas na região são artesanais (linha e redes), o
que causa baixíssimo impacto às populações de peixes”. A seguir, o diagnóstico apresenta as vantagens
da criação do Monumento Natural, detre elas: 1) conciliação de diversos usos; 2) agilidade na obtenção e
aplicação de recursos oriundos de taxa de visitação e outras rendas; 3) aprovação da Prefeitura e
Marinha; 4) maior representatividade turística; 5) aprovação da comunidade acadêmica em função do
caráter conservacionista. Nas conclusões, os autores do diagnóstico citam a predisposição da Marinha e
Prefeitura em cooperar com a proposta, e lembram que esta seria o primeiro Monumento Natural da
brasileiro na proximidade das internacionalmente conhecidas praias do Rio de Janeiro.
???/05/2003
Diagnóstico sobre a Unidade de Conservação Federal das Ilhas Cagarras, produzido por Breno Herrera da
Silva Coelho e Sônia L. Peixoto (Parna Tijuca). Este documento é muito similar ao Dianóstico anterior. No
entanto, apresenta outros 2 cenários além da proposta de criação de um Monumento Natural. O primeiro
apresentado seria a ampliação da ARIE (conforme igualmente apresentado no primeiro diagnóstico). O
segundo cenário é o mesmo apresentado no segundo diagnóstico para a recategorização para
Monumento Natural, adicionando uma possível desvantagem. Esta seria a eventual morosidade no
processo legal. O terceiro cenário é o mesmo apresentado no primeiro diagnostico e sugere a
incorporação da área ao PARNA Tijuca. Nas conclusões, o documento sugere o segundo cenário, ou seja,
a recategorização para Monumento Natural.
???/06/2003
Diagnóstico sobre a Unidade de Conservação Federal das Ilhas Cagarras, produzido por Breno Herrera da
Silva Coelho e Sônia L. Peixoto (Parna Tijuca). Este documento é similar aos outros encaminhados
previamente. No tópico 6 (Proposta), o documento cita que “o grupo de trabalho do arquipélago das Ilhas
Cagarras, baseado na análise das contribuições oferecidas pelos pesquisadores e demais usuários das
ilhas e adjacências, sugere a categoria de Monumento Natural para a unidade de conservação federal das
Ilhas Cagarras”. O restante do documento é idêntico ao conteúdo do segundo Diagnóstico apresentado. A
figura que apresenta o esboço dos limites apresenta estes em melhor nível de detalhamento do que
aquela apresentada em documentos anteriores.
05/07/2003
Matéria no jornal O Globo informando que o Dep. Fernando Gabeira apresentou à ministra seu projeto

243
12. ANEXOS

para transformar as Ilhas Cagarras em monumento ecológico nacional.


20/07/2003
Matéria de capa do Jornal do Brasil no caderno Cidade sobre as ilhas Cagarras e projeto de lei para
criação de UC.
19/08/2003
Oficio encaminhado por Jaura M.C. Rodrigues (Chefe da Assessoria PArlamentar) solicitando parecer
técnico e encaminhando cópia do Projeto N. 1683/2003 de autoria do Deputado Fernando Gabeira, que
“Dispõe sobre a criação do Monumento Natural do Arquipélago das Ilhas Cagarras”. Em anexo seguiu a
minuta do projeto de lei, onde prevê-se a inclusão na UC das Ilhas CAgarras, Palmas, Coprida, ilhota
Filhote da Cagarra, bem como área de 10m ao redor das ilhas e da ilhota. Inclui-se também a Ilha
Redonda e a Ilhota Filhote da Redonda, bem como área marinha num raio de dez metros ao redor. Inclui-
se também a Ilha Rasa e um raio de duzentos metros ao seu redor. Proíbe-se diversas atividades,
incluindo a pesca. Prevê-se a criação do Conselho Consultivo. Nota-see que o texto desta minuta é
diferente da proposta de Decreto encaminhada em outras instâncias. Em anexo a este ofício também
consta uma justificativa. Esta primeiramente apresenta as caractarísticas ecológicas que merecem
proteção e posteriormente apresenta um histórico do processo. Lembra que a proposta vêm sendo
discutida por um GT criado para este fim. Relata que várias entidades manifestaram interesse pelo
arquipélago, além de mergulhadores, ONGs, colônias de pesca, pesquisadores da UERJ, Confederação e
Federação de caça submarina, operadorass de ecoturismo e clubes náuticos. Ressalta-se no documento
as várias reuniões realizadas, a participação da prefeitura, Marinha e o mapeamento das atividades de
pesca e turismo. Este mapeamento, segundo o documento, subsidiou diversos cenários de
dimensionamento e categorização da Unidade encaminhado no Diagnóstico de Março de 2003. Por fim,
cita que “O grupo de trabalho do arquipélago das ilhas Cagarras, baseado na análise das contribuições
oferecidas pelos pesquisadores e demais usuários das ilhas e adjacências, sugere a categoria de
Monumento Natural para a unidade de conservação federal das ilhas Cagarras. Cita que “os locais onde
atualmente a pesca é praticada (nas áreas marinhas entre os grupos de ilhas e nas lajes da Redonda e
das Cagarras) devem ficar for a dos limites da UC”.
21/08/2003
Ofício à Divisão de Comunicação Administrativa encaminhado pela Assessoria Parlamentar,
encaminhando documento sobre o projeto de lei n. 1683/2003, sob interesse do deputado Fernando
Gabeira.
28/08/2003
Comunicação Interna encamihado por Bazileu Alves Margarido Neto (chefe de Gabinete), requerendo
informações sobre o processo do Monumento Natural das Ilhas Cagarras em nome de solicitação do
Deputado Fernando Gabeira à Ministra Marina Silva.
01/9/2003
Ofício encaminhado por Bazileu Alves Margarido Neto, chefe de gabinete da Ministra Marina Silva, a chefe
de Gabinete do IBAMA, solicitando informações sobre o andamento do do processo de criação do
Monumento Natural das Ilhas Cagarras e encaminhando Diagnóstico entregado pelo Deputado Fernando
Gabeira à Ministra.
24/09/2003
Assessora Parlamentar Ana Lucia Tostes de Aquino Leite solicita o encaminhamento, pela DIREC, dos
pareceres técnicos ao(s) Projeto(s) de Lei sobre o processo de UC conforme a lista que seguiu anexo.
25/9/2003
Ofício encaminhado pelo Gerente Executivo do Ibama (RJ) Edson Bedim de Azeredo à DIREC
encaminhando a minuta de criação do Monumento Natural das Ilhas Cagarras e solicitando urgencia no
processo de criação visto que segundo exigências da UNESCO, o município do Rio de Janeiro só poderia
ser proclamada Patrimônio da Humanidade na existência de área marinha protegida na cidade. Comunica
ainda que os estudos técnicos e atas de reuniões de consulta pública com os atores sociais envonvidos na
área encontram-se na Coordenação Geral de Regularização Fundiária com o analista ambiental Reuber
Brandão.
A minuta de decreto anexa ao ofício prevê a inclusão da Ilha Cagarra, Palmas, Comprida, Rasa e
Redonda, ilhotas filhote da Cagarra e filhote da Redonda, lajes Marias e Praça XI. Constitui também como
parte da UC o mar territorial no entorno de 15m ao redor de cada ilha, ilhota e laje. Autoriza a Marinha a
exercer suas atividades. Proíbe qualquer atividade que coloque em risco a integridade dos ecossistemas e
a harmonia da paisagem, a pesca com redes, armadilhas e outros petrechos que o IBAMA considerar
danosos, explosivos, granadas, armas de fogo e outros equipamentos capazes de abater animais. Proíbe
competições esportivas e outra atividades que perturbem as aves e fauna aquatica. Proíbe a utilização de
barracas ou qualquer tipo de acampamento sem autorização do IBAMA.
11/01/2004
Matéria no jornal ‘O Globo’ que anuncia a ameaça ecológica que ronda a costa do Rio de Janeiro e
anuncia a possível medida de criação de um Monumento Natural no arquipélago.
Outra materia no jornal ‘O Globo’ trata sbre as ilhas da costa do Rio, não apresentando a data na
fotocópia incluída no processo.

244
12. ANEXOS

02/03/04
Projeto de Lei No. 1268/2004, que Cria o Parque Estadual Marinho das Ilhas Cagarras, Rasa e Redonda e
dá outras providências. O documento apresenta uma proposta de Unidade de Conservação Estadual.
Define que a área do Parque Estadual envolve as ilhas Rasa e Redonda, incluindo a área marítima interna
do arquipálago das Cagarras e um raio de 500 metros em torno de cada ilha. Delimita que a Zona de
Proteção Integral será definida no Plano de Manejo da UC. Institui como órgão implantador e gestor do
Parque a Comissão de Gestão Compartilhada do Parque Estadual Marinho das Ilhas Cagarras, Rasa e
Redonda, presidida pelo órgão estadual e com composição paritária, com representantes de órgãos
públicos municipal, estadual e federal, com membro permanente da Marinha do Brasil, e a sociedade civil
(ONGs, pescadores, associações de mergulho, clubes náuticos, universidades).
No documento anexado, existe uma justificativa para a criação da referida UC, incluindo uma descrição
dos atributos bioecológicos mais relevantes e dos impactos atualmente presentes na área.
11/05/04
Ofício encaminhado pelo Deputado Paulo Melo da Comissão de Constituição e Justiça da Assembléia
Legislativa do Estado do Rio de Janeiro ao Deputado Jorge Picciani, presidente da Assembléia Legislativa
do Estado do Rio de Janeiro. O ofício solicita que seja baixado em diligência informações ao IBAMA. As
informações solicitadas são:
-­‐ Pergunta sobre qual a ingerência do IBAMA no arquipélago das CAgarras, já que este consta na
Lei Orgânica do Município do Rio de Janeiro como área integrante do território da Capital.
-­‐ Pergunta se o IBAMA reconhece o projeto de Lei 1683/2003, de autoria do Deputado Fernando
Gabeira, que dispõe sobre a criação de Monumento Natural no arquipélago.
-­‐ Solicita manifestação do IBAMA sobre o documento “Diagnóstico sobre a Unidade de Conservação
das Ilhas Cagarras”.
23/06/04
Encaminha ao Gerente Regional do IBAMA-RJ copia de ofício que baixou em diligência o Projeto de Lei No
1268/2004, de autoria do Deputado Alessantre Calazans. Encaminha junto ao ofício uma copia do
referido projeto de Lei.
21/07/04
Memo encaminhado pela Gerencia Executiva do IBAMA-RJ à Coordenação Geral de Ecossistemas
(DIREC). O texto solicita reunião entre CGECO E NUC/GEREX/RJ para tratar da recategorização da ARIE
das Ilhas Cagarras.
24/08/04
Ofício encaminhado pela Chefe da Assessoria Parlamentar Jaura Rodrigues ao Assesor Parlamentar do
IBAMA Ronaldo Alexandre. O ofício solicita que este se manifeste rapidamente sobre a viabilidade do
projeto de LEI No 1683/03, já que este projeto pode entrar a qualquer momento na pauta da Câmara
dos Deputados.
18/12/2004
Matéria sobre os 17 golfinhos já identificados por pesquisadores nas Ilhas Cagarras.
18/02/2005
Cópia da “Proposta de Criação do Monumento Natural das Ilhas Cagarras”, apresentando as atividades
realizadas pela equipe do IBAMA do Rio de Janeiro e sugestões sobre o dimensionamento, categorização
e gestão.
O documento inicia com uma descrição da área (aspectos bióticos). Apresenta também os usos da área,
destacando a alta freqüência de utilização da área. Descreve que a principal área onde a pesca é
realizada é a face oceânica da Ilha Comprida. Ao apresentar a situação legal, discorre sobre a Resolução
CONAMA 011 de 14 de setembro de 1989, que cria a ARIE do arquipélago das Cagarras além do mar
territorial em um raio de 2km em torno de cada ilha. Afirma que esta ARIE ainda não foi decretada e que
na prática não há presença do IBAMA na fiscalização ou gestao da Unidade. O documento apresenta a
seguir o histórico recente. O histórico acrescenta alguns pontos em relação ao Diagnóstico encaminhado
em fevereiro de 2003:
1) no histórico, informa que em Março de 2003, com a mudança do gerente executivo (assumindo
Edson Bedim de Azeredo), houve a reativação do núcleo de Unidades de Conservação, a qual
volta a se envolver com o processo de Cagarras;
2) relata que em meados de 2003, o Deputado Federal Fernando Gabeira apresentou versão
preliminar do relatório à Ministra Marina Silva, que propôs a criação de Projeto-Lei, enviado então
ao Congresso Nacional;
3) relata que no verão de 2004/2005 o IBAMA/RJ foi novamente acionado em relação às Cagarras
pela opinião pública, mídia e a estudos sobre os golfinhos-fliper realizados pelo Instituto
ECOMAMA, que constatou grande abundancia da espécie no arquipélago.
Em justificativas, o documento apresenta os mesmos argumentos que no diagnóstico anterior,
acrescentando que o arquipélago representa um ‘símbolo de conservação do Rio de Janeiro’ e já ser
considerado um Monumento Natural.
Em Proposta, o documento relata que o Grupo de Trabalho sugere a categoria Monumento Natural em
baseado na análise das contribuições oferecidas pelos pesquisadores e demais usuários das ilhas e

245
12. ANEXOS

adjacências. Argumenta também que “objetivando assegurar uma conservação mais restritiva da área a
face à rápida degradação ambiental que as ilhas vêm sofrendo, pretende-se instituir uma Unidade do
Grupo de Proteção Integral”.
Um Monumento Natural foi sugerido pois permite a visitação pública e um grande potencial de fomentar o
turismo. Fazem parte da proposta:
-­‐ ilhas, cagarra, palmas, comprida, rasa e redonda, ilhotas filhote da cagarra e filhote da redonda,
lajes Matias, praça XI e da redonda, próximas ao largo de Ipanema;
-­‐ ilhas do meio, alfavaca e pontuda, nas Tijucas

O documento aponta que em função de reuniões com pescadores que utilizam as ilhas, optou-se por
restringir a proposta do Monumento Natural à parte emersa das ilhas e a seus costões rochosos, de modo
a permitir, portanto a pesca sustentável no arquipélago. Exceção se faz a duas ilhas (Rasa e Redonda) e
um ailha (filhote da Redonda). Neste caso se optou pela inclusão no Monumento de uma faixa de 200m a
partir do limite das ilhas. Ainda segundo o documento:
“Estas são as ilhas mais isoladas do Monumento, menos utilizados para pesca e com mais significativa
biota marinha, o que justifica sua proteção integral.”
“O desenho da UC proposto, contemplando a permissão da pesca; traz vantagens sociais, já que não
priva os pescadores da região de seu sustento e assegura o abastecimento de pescado para a cidade. As
artes depesca praticadas na região são artesanais (linha e redes), o que causa baixíssimo impacto às
populações de peixes. Artes de pesca predatórias, como redes de arrasto e uso de explosivos serão
expressamente proibidas.”
Dentre as vantagens da ciação do Monumento Natural estão apontadas:
-“possibilidade de concilliação de diversos usos (conservação e uso sustentável de recursos, no caso,
pescado), através da definição dos limites da unidade de modo a deixar fora do Monumento as áreas de
pesca”.
- maior agilidade na obtenção e aplicação de recursos de taxa de visitação e outras provenientes de
arrecadação;
- apoio da Prefeitura e Marinha à proposta;
- maior representatividade turística
- aprovação da comunidade acadêmica, em virtude do caráter conservacionista da categoria;
- conservação e tombamento do Farol da Ilha Rasa e seu complexo arquitetônico;
Nas conclusões, o analista ambiental Breno Herrero ressalta a necessidade de criação de uma UC Federal,
dentre os motivos, pelo apoio que a proposta recebe da Prefeitura e Marinha, que seriam parceiros na
Gestão da UC.
???/03/2005
Matéria de jornal não identificado pela fotocópia com o título “Aprovado o projeto para a proteção das
Ilhas Cagarras – Arquipélago pode ser declarado monumento natural”. Informa a aprovação do projeto
na câmara dos deputados, que agora segue para o Senado. Informa também que a idéia seria que a
Unidade pudesse receber visitantes durante os Jogos Pan-Americanos de 2007. Cita também algumas
idéias em vigência para o manejo e promoção do turismo na área.
12/03/2005
Matéria no jornal “Rio”, sobre o arquipélago das Cagarras. A matéria informa que foi aprovado na câmara
dos deputados o projeto de lei de autoria do deputado Fernando Gabeira. A matéria afirma que a
proposta de criação estava sendo acelerada tendo em vista que Gabeira gostaria que esta Unidade de
Conservação já recebesse visitantes durante o Pan-Americano de 2007 no Rio. A matéria descreve que
serão proibidas a pesca predatória e os campeonatos de pesca nas ilhas, alem do acampamento no
arquipélago.
20/03/2005
Matéria na revista “O Globo” com o título “Pequenas maravilhas dos mares do Rio”. A material discursa
sobre algumas pesquisas em andamento no arquipélago das Cagarras, incluindo as esponjas. Cita o
andamento do projeto de criação do Monumento Natural, projeto do Deputado Fernando Gabeira
idealizado pelo analista ambiental Breno Herrera.
22/03/05
Ofício encaminhado pelo ex-presidente da colônia z13, Sr. Ovídio Collisteu de Araújo Neto, ao Secretário
Especial de Aqüicultura e Pesca, José Fritsch, solicitando que este intervisse no processo de criação do
Monumento Natural do Arquipélago das Ilhas Cagarras. O argumento é que esta UC traria conflito com o
os pescadores profissionais e amadores. Ainda argumenta que não existe pesca predatória no Rio de
Janeiro. Esta afirmação mostra que foi entendido que a “pesca predatória” mencionada pela matéria
publicada no jornal O Globo diz respeito às atividades realizadas pelos pescadores artesanais.
20/04/05
Memo encaminhado por Márcia Moreira (Gerante Substituta/IBAMA-RJ) ao diretor da DIREC sobre o
projeto de lei do Sr. Fernando Gabeira. Esta comunica que na forma como foi aprovado pela Câmara dos
Deputados, os limites propostos poderão gerar conflitos com alguns segmentos da sociedade pelo fato
das Ilhas Cagarras (ilha Cagarra, Palmas e Comprida; ilhotas Cagarra, Pequena e Grande) serem

246
12. ANEXOS

intensamente utilizadas para a pesca artesanal e mergulho recreativo. O ofício considera ainda que a
decretação desta UC de proteção integral incluindo as faixas marinhas dessas ilhas afetará diretamente a
pesca realizada na área, prejudicando os pescadores que dela dependem para seu sustento e de suas
famílias. O documento argumenta que somente as ilhas Rasa e Redonda e a ilhota da Redonda, por
apresentarem atributos ecológicos de destaque, justificam a inclusão da porção marinha em área de
proteção integral. O documento finaliza solicitando que sejam tomadas as medidas cabíveis para
alteração ao texto do projeto de Lei, visando a alteração dos seus limites físicos.
17/08/05
Ofício encaminhado pela SEAP ao IBAMA solicitando esclarecimentos ao ofício encaminhado pelo Sr.
Ovídio à SEAP. É solicitada explicação sobre “os impactos negativos para a pesca profissional ao
transformar o Arquipélago das Cagarras em Monumento Natural do Arquipélago das Ilhas Cagarras.”
23/08/2005
Cópia do Diário Oficial em que se institui a Comissão Permanente de Assessoramento à Criação de
Unidades de Conservação da Natureza que envolvam áreas costeiras e marítimas. Dentre os membros
estão representantes do IBAMA, Marinha, Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da
República, entre outros.
20/09/2005
Ofício encaminhado pela Colônia de Pesca Z13 à SEAP (Secretário Especial da Aqüicultura e Pesca Dr.
José Fritsch). Inicialmente o texto informa sobre a criação de um Grupo Gestor para tomar decisões
sobre procedimentos e administração das Ilhas Cagarras. O documento relata que “pescadores da
Colônia Z-13 de Copacabana, que sempre vivemos da subsistência da pesca diária nas ilhas, e que somos
os maiors conhecedores e interessados nos problemas que afligem o nossso arquipélago, não podemos
aceitar ser deixados de lado de um grupo gestor que vai administrar uma área que é nosso local de
trabalho, visto que temos uma situação geográfica única de estar em um preímetro de apenas quatro
quilômetros das ilhas, e fazemos questão de participar, com voz ativa dentro desse grupo, e contribuir
com nossa experiência e conhecimento, para a melhor proteção possível do arquipélago”. O documento
ainda descreve o uso histórico das ilhas, e afirma que conta hoje com 20 embarcações de pequeno porte.
Solicita também que seja estimulado o ecoturismo marítimo nas ilhas.
07/10/05
Memo encaminhado à Coordenadora Geral de Ecossistemas pela Coordenação de Ordenamento Pesqueiro
solicitanto informações sobre a validade da ARIE CAGARRAS.
10/01/06
Nota Técnica sobre a ARIE das Cagarras, elaborada pelo analista ambiental do IBAMA Reuber
Albuquerque Brandão. O texto apresenta as características bioecológicas do arquipélago e argumenta
sobre a relevância deste no aspecto de conservação, ressaltando os conflitos e impactos atuais sobre a
área. Informa sobre a confusão que existe em torno da Resolução Conama 011/1989, relatando que esta
pretendia “enviar à Presidência da República a seguinte proposta de Decreto”. Assim, segundo o texto,
não há nenhum Decreto Presidencial criando a ARIE das Ilhas Cagarras e estabelecendo restrições às
atividades de pesca. Justifica que por este motivo é necessário criar um instrumento legal de proteção,
ordenação e controle das atividades na área. Ao longo do texto, apresenta as ferramentas possíveis,
incluindo o SNUC e algumas categorias que seriam pertinentes na área. Por fim, justifica que não há
argumento para se criar uma ARIE na área, mas sim uma Unidade de Conservação como um Monumento
Natural. Relata que mesmo que a procuradoria jurídica do IBAMA reconheça que a Resolução CONAMA
tenha efetivamente criado a ARIE, a proposta de Monumento Natural não é imcompatível com a ARIE já
que a o MNatural é uma categoria de proteção integral. Finaliza descrevendo que a criação do
Monumento Natural irá possibilitar a conciliação e o ordenamento dos diversos usos que são
desenvolvidos no local.
17/01/06
Memo de Walmir Ortega solicitando à Procuradoria Geral Federal esclarecimento sobre a validade da
Resolução CONAMA 011/1989 que trata da ARIE das CAGARRAS.
07/04/09
Ofício encaminhado pela Procuradora Federal Conceição de Maria Jinkings Campos respondendo à
solicitação sobre informação de validade da Resolução CONAMA 011/1989 que trata da ARIE das
CAGARRAS. O ofício esclarece que a ARIE do Arquipélago das Ilhas Cagarras nunca foi criado, trantando-
se a Resolução apenas de uma proposta de criação. Assim, não estão valendo as restrições previstas no
artigo 3o da mesma.
20/06/06
Ofício encaminhado pelo deputado estadual Carlos Minc (RJ) à Ministra de Meio Ambiente Marina Silva.
Solicita que seja criada com urgência o Monumento Natural das Ilhas Cariocas, que abrange praticamente
todas as ilhas e ilhotas do litoral dos municípios de Niterói e Rio de Janeiro. Informou que o Deputado
Fernando Gabeira apoiou este projeto, já que amplia a proposta apresentada por ele.
A minuta de Decreto encaminhada junto ao ofício inclui no Monumento Natural:

247
12. ANEXOS

-­‐ as Ilhas Rasa de Guarativa, Urupira, das Pecas e a ilhota próxima à Urupira, o arquipélago das
Tijucas, ilhas Cagarras, Palmas, Comprida, Filhote da Cagarra, Matias, Praça Onze, Ilha Redonda,
Filhote da Redonda, Ilha rasa, Ilha Cotunduba e a área marítima num raio de 50 metros ao redor
das ilhas.
-­‐ as ilhasdo Pai, Mãe e Menina e a área marítima num raio de 30 metros ao redor das ilhas
20/06/06
Ofício ao Sr. Valmir Gabriel Ortega, com o mesmo conteúdo do ofício encaminhado pelo Carlos Minc à
Ministra Marina Silva em 20/06/06.
23/08/06
Ofício de abertura do processo no IBAMA que trata sobre a proposta de Carlos Minc para a criação do
Monumento Natural das Ilhas Cariocas.
28/08/06
Memo encaminhado pela COMAR/DIREC de Brasília à superintendência do IBAMA/RJ. Foi encaminhado o
à COMAR os processos No. 02001006613/2005 referente a criação do Monumento Natural das ilhas
Cagarras e o processo No. 02001004116/2006-37 referente a criação do Monumento Natural das Ilhas
Cariocas. O Memo solicita manifestação da superintendência sobre qual o processo é prioridade, já que
somente um deles será dado prosseguimento.
11/10/06
Memo encaminhado pelo IBAMA-RJ (NUC), ao superintendente do IBAMA-RJ. O documento argumento
que o processo do Monumento Natural das ilhas Cariocas trará dificuldades de operacionalização em vista
da grande magnitude da proposta. A inclusão de diversas ilhas acarretaria também a desvalorização
daquelas com importância mais relevante à conservação. Sugerem assim a continuidade do processo
de criação do Monumento Natural das Ilhas CAgarras.
09/11/06
Ata de Reunião sobre a criação de unidade de conservação federal nas Ilhas Cagarras, no auditório da
SUPES/IBAMA-RJ
Reunião presidida por Breno Herrera e Ricardo Calmon. Foi apresntado um resumo do historio co
processo de criação. Foi apresentada pelo Sr. André Ilha a proposta do deputado estadual Carlos Minc,
que abrange todas as ilhas oceânicas entre Guarativa e a ponta de Itaipú. Breno apresentou as propostas
do Deputado Gabeira e a proposta do IBAMA, que acrescenta à proposta do Deputado Gabeira as Ilhas
Tijucas. Foi também apresentada a proposta da Marinha, restrita ao arquipélago das Cagarras, propondo
uma área interna de proteção integral e uma zona externa de amortecimento. representante da Pesca
subaquática reclama da falta de fiscalização e a falta de relativização dos impactos das diversas artes de
pesca na fauna de peixes, afirmando que a pesca sub é a que menos impacta. Breno diz que a UC não
resolverá o problema da pesca industrial predatória. Roberto da Colônia z13 disse que tão ou mais
importante que a preservação dos peixes é a das pessoas, que o dano maior à vida é causado pela
poluição monstruosa do emissário submarino. Breno solicita aos representantes da academia
monifestação sobre a importância relativa de cada ilha, e informa que o que motivou a retirada de ilhas
em relação ao projeto do Minc foi a importância do impacto dssa restrição sobre a pesca. Dentre algumas
manifestações da academia destaco a de Gustavo Nunan da UFRJ, que reforçou a importância da
proteção integral de todas as ilhas cariocas, dado o atual quadro de sobre-pesca e a grande
biodiversidade biológica das mesmas, portanto defende a proposta do dep. Minc, informando ainda que a
Redonda apresenta a maior biodiversidade de peixes. Leonardo do IBAMA comentou que a UC iria focar
as ações do IBAMA na fiscalização e melhorar a captação de recursos através de compensação ambiental.
Adriana expõe o que acreditou ser uma proposta consensual do grupo. Bernadette propôs formalizar esta
proposta para que ela pudesse ser discutida, e identificar e quantificar instituições e pessoas envolvidas
com a pesca, aventando a possibilidade de ressarcimento aos atores sociais atingidos pela criação da
unidade, e a capacitação e fomento das atividades tradicionais. Ao final, Breno faz um resumo dos pontos
consensuais. A Ata afirma que nenhum dos representantes presentes sse opõe à criação do Mionumento
Natural, havendo dúvidas apenas quanto a seus limites (diferentes propostas apresentadas) e há um
consenso no meio acadêmico sobre a importância ecológica das ilhas Rasa e Redonda. Deu-se o prazo de
15 dias para as instituições presentes encaminharem a sua proposta de UC para o IBAMA, os quais
seriam utilizados pelo IBAMA para preparar para a audiência pública.
14/11/2006
Ofício enviado pelo chefe da APA Guapimirim Breno Herrera da Silva Coelho à COMAR/DIREC/IBAMA,
encaminhando um dossiê com matérias publicadas sobre a criação do Monumento Natural das Ilhas
Cagarras.
21/11/2006
Ofício encaminhado pela Colônia de PEsca Z-13 sobre a criação de Unidade de Cosnervação das Ilhas
Cagarras. O ofício pontua 8 itens, incluindo: 1) participação da colônia no conselho deliberativo; 2)
criação de UC de uso sustentável incluindo Cagarras, Redonda, Rasa e Tijucas; 3) Limitação da zona de
maior preservação à área interna do arquipélago das Cagarras, equivalente à delimitação apresentada
pelo representante da Marinha, excluindo a ponta sudoeste e a lajinha da Ilha das Palmas e o Canal dos
Passarinhos; 4) proibição do uso de rede, arrastão e cerco em toda a ára da UC; 5) permissão para a

248
12. ANEXOS

pesca artesanal e esportiva na UC, exceto na zona de presevação, para aqueles cadastrados, observadas
as normas previstas na lei e em plano de manejo; 6) ordenamento da extração do mexilhão; 7) estudos
sobre os fluxos migratórios do polvo, lagosta, cavaca e outras espécies; 8) aumento da fiscalização para
cumprir com legislação já existente.
24/11/2006
Ofício encaminhado para o Superintendente Regional do IBAMA/RJ, Sr. Rogério Geraldo Rocco, assinado
por diversas instituições, sobre o processo de criação do Monumento Natural das Ilhas Cagarras.
Apresentam 8 tópicos de argumentação para por fim prestar apoio à propsota apresentada pela Marinha
do Brasil em reunião realizada no dia 09 de novembro de 2006. Dentre os tópicos, comenta que a
proposta apresentada pela Marinha “limita-se ao Arquipélago das Ilhas Cagarras, viabilizando ainda
instrumentos, no âmbito do Plano de Manejo da UC a ser criada, para o desenvolvimento da pesca
artesanal na sua Zona de Amortecimento, em suas diversas modalidades”. Em anexo, este ofício
apresenta uma minuta de Decreto Federal. Esta minuta, em seu artigo segundo, institui duas zonas: 1)
zona de proteção integral e 2) zona de amortecimento. A primeira seria composta pelas ilhas Cagarra,
Palmas, Comprida e Filhote da Cagarra, bem como a área maritime interna do arquipélago, limitada pelos
costões internos dessas ilhas e pelos segmentos de reta que unem as tangentes externas das
extramidades dessas ilhas. Esta área proibiria atividades danosas ao ecossistemas, competições
esportivas, acampamento, porte de armas de fogo e outras atividades previstas em plano de manejo. A
segunda área seria composta por faixa de 500m no entorno da zona de proteção integral, onde seria
proibida a pesca com redes, armadilhas e outros petrechos danosos a fauna marinha, além daqueles
previstos em plano de manejo. A proposta ainda autoriza a prática de mergulho na Zona de Proteção
Integral, o afundamento deliberado de navios (recifes artificiais) e o fundeio de embarcações em
situações de mau tempo.
Assinaram Iate Clube do Rio de Janeiro, Marina Barra Clube, Associação Brasileira dos Construtores de
Barcos e Implementos, VIVAMAR ONG, Federação de Caça Submarina do Estado do Rio de Janeiro,
Confederação Brasileira de Caça Submarina, Colônia de Pesca Z-7, Clube dos Marimbás, Riotur, alguns
pescadores da colônia Z-13.

NOME ENTIDADE EMAIL TELEFONE


Eduardo Souto ICRJ esa@oi.com.br 21-87624927
Luiz A. Correia Clube Marimbás contato@laca.com.br 21-86124042
de Araujo
Alvaro Henrique CBCS Mattos.alvaro@ig.com.br 21-81229908
Mattos
Clovis Soares FCSERJ Dec.engenharia@veloxmail.com.br 21-88441525
Dutra Filho
Marcelo Marina Barra mrrabello@globo.com.br 21-99183359
Rodrigues Clube
Rabelo
Lemilson ACOBAR ACOBAR@acobar.org.br 21-22622483
Marcelo Bezerra
Roberto VIVAMAR Robertonegraes@vivamar.org.br 11-30798927
Negraes
João C.S. Diniz Pescador 21-22267288
profissional
Flávio Campos MBC marlinegro@globo.com.br 21-24473368
Reis
Liberato Pinto Neltur – Niterói Turismo@neltur.com.br 21-27102727
Tur
Aurivaldo Colônia z-7 21-26094332
Ameira
José Carlos Sá Riotur Kaleco.riotur@perj.rj.gov.br 21-22177504

24/11/2006
Parecer técnico encaminhado pelo Dr. Guilherme Muricy, especialista em esponjas (UFRJ). Apresenta a
função ecológica das esponjas e sua distribuição. Descreve a distribuição da poluição da água do mar na
região citando estudos já feitos no local. Considera importante a criação de UC na área pois fomentará o
ecoturismo sustentáve, aumentando o conhecimento da população sobre a beleza e importância das
ilhas. Acrescenta que a proteção pode aumentar a pressão para a despoluição da Baía de Guanabara e
para o tratamento do esgoto lançado pelo emissário. Recomenda a inclusão, na área de maior restrição
de uso, a porção interna do arquipélago da ilha Cagarras e a totalidade das ilhas Redonda e Rasa em
função da alta diversidaded e esponjas. Argumenta também que a pesca poderia ser permitida na
porção externa das Ilhas Cagarras e nas ilhas Cotunduba, Tijucas e Maricás, sem prejuízo para a

249
12. ANEXOS

proteção da fauna da região.

27/11/2006
Parecer da Universidade Federal Fluminense, Instituto de Biologia, Departamento de Biologia Marinha
sobre o processo de criação de UC nas Ilhas Cagarras. Assinam os Dr. Cassiano Monteiro Neto, Roberto
Campos Villaça e Carlos Eduardo Leite Ferreira. O documento informa que o grupo de pesquisa está
conduzindo diversas atividades nas ilhas Cagarras, incluindo: 1) levantamento ictiofauna e bentofauna,
com marco referencial de abundância e distribuição; 2) banco de dados em um SIG; 3) Análise da
descontinuidade do bentos e ictiofauna, entendendo os fatores que determinam estas descontinuidades;
4) sensibilização pública e discussão dos aspectos referentes à conservação do arquipélago.
Relatam que poucos ambientes como os encontrados em Cagarras encontram-se protegidos pelo SNUC, e
que funcionam como “verdadeiros bancos de organismos marinhos, suprindo as regiões costeiras com
larvas e juvenis de diversas espécies de interesse à pesca e a conservação da biodiversidade”. Este
aspecto é dito como ainda mais relevante em função as ameaças antrópicas que a região vêm sofrendo.
Ainda na argumentação, o documento informa que “parte da região rochosa sublitorânea das Ilhas está
visivelmente empobrecida em termos de invertebrados, algas e peixes bentônicos, em relação ao
esperado para esses ambientes”, principalmente se tratando de espécies de peixes predadores, o que
“corrobora a criação urgente de uma área de proteção marinha no local”. O documento traz o exemplo de
alguns estudos realizados por pesquisadores Brasileiros e internacionais sobre a efetividade de áreas
marinhas protegidas. Apresenta também uma descrição das políticas vigentes no país para a conservação
dos ambientes costeiros e marinhos (ex. Projeto de Gestão Integrada dos Ambientes Costeiro e Marinho,
Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, resolução do CONAMA criando a ARIE das Cagarras). O
documento conclui que “uma unidade de conservação local, contribuirá para a recuperação e manutenção
dos recursos ambientais do arquipélago, potencializando o desenvolvimento de atividades econômicas
sustentáveis, e maximizando o rendimento das pescarias artesanais em áreas adjacentes como acontece
em outras partes do mundo”. Ressalta também que “dado o histórico de utilização destes recursos por
pescadores artesanais, mergulhadores e pescadores esportivos, é preciso que se estabeleça uma agenda
de consenso”.
29/11/2006
E-mail encaminhado por Gilberto Huet (Marinha do Brasil), solicitando inclusão de informação na minuta
de Ata de reunião onde se discutiu a criação da UC em Cagarras. O texto para inclusão informa que caso
o IBAMA ainda inclua a Ilha Rasa na proposta de UC, que este assunto seja levado para discussão no
âmbito da “Comissão Permanente de Assessoramento à criação de Unidades de Conservação da Natureza
em Territórios Marinhos”.
??/??/2006
Minuta de Exposição de Motivos acompanhada de minuta de Decreto sobre a UC das Ilhas Cagarras, não
constando data precisa e procedência/autoria dos documentos. O texto da exposição de motivos
apresenta inicialmente os atributos bioecológicos e biofísicos da área e tece um breve histórico sobre o
processo de criaçã de UCs na área. No histórico, lembra que diversos atores locais se propuseram a
colaborar na revitalização do arquipélago (inclusive pescadores). Lembra também das atribuições e
composição do grupo de trabalho que assumiu o processo de criação da UC. Informa que este grupo de
trabalho, “baseado na análise das contribuições oferecidas pelos pesquisadores e demais usuários das
ilhas e adjacências, sugeriu a categoria de Monumento Natural para a unidade de conservação federal
das Ilhas Cagarras”. Inclui também no texto que “limitando-se a proibição da pesca artesanal somente à
área marítima interna do arquipélago, atende-se às reivindicações das sete colônias de pesca situadas
próximas às ilhas, que há anos desenvolvem atividades de pesca artesanal na região”.
Esta minuta acompanha dois mapas onde se plota a proposta de Monumento Natural, incluindo-se uma
zona de proteção integral e uma zona de amortecimento.
Na minuta de Decreto Federal que é vista como anexo, sugere-se que esta minuta foi elaborada tendo
como referência o Projeto de Lei do Dep. Fenando Gabeira (2003). A minuta propõe:
Zona de Proteção Integral, composta pelas ilhas Cagarra, Palmas, Comprida e Filhote da CAgarra, bem
como área interna marítima do arquipélago, limitada pelos costões internos dessas ilhas e pelos
segmentos de reta que unem as tangentes externas das extremidades dessas ilhas. Não é fornecido os
ponto entretanto. Proibi-se atividades que coloquem em risco a integridade dos ecossistemas e a
harmonia da paisagem, caça, pesca, competições esportivas, acampamentos, porte de equipamentos
capazes de abater animais.
Zona de Amortecimento, composta pela faixa marítima com quinhentos metros de largura, no entorno da
Zona de Proteção Integral. Proíbe-se a pesca com redes, armadilhas e outros petrechos considerados
danosos em plano de manejo.
O documento autoriza o mergulho, o afundamento de embarcações (conforme regulamentação
específica) e fundeio em situação de mau tempo em todas as áreas. O texto também dispõe sobre a
atuação da Marinha e sobre a previsão de um Conselho Consultivo.
13/12/2006
Parecer do fotógrafo Carlos Secchin, autor do livro Mar do Rio e 30 anos de experiência nas ilhas Rasa,

250
12. ANEXOS

Redonda e filhote da Redonda. Descreve as razões pelas quais acredita ser necessária a proteção através
de UC. Comenta que a ilha Rasa é a mais procurada por praticantes do turismo subaquatico, descrevendo
os motivos. Descreve também os ambientes das ilhas Redonda e filhote da Redonda.
???/12/2006
Parecer técnico sobre a fauna de Equinodermos (estrelas-do-mar, ouriços e holotúrias) produzido pelo
Dr. Carlos Renato Rezende Ventura (UFRJ). Apresenta rapidamente a função ecológica do grupo, listando
as espécies que ocorrem na área de Cagarras. Lista também algumas ameaças que sofrem estas
espécies, como a aquariofilia e pesca predatória. Algumas das espécies ocorrentes na área estão listadas
pela União Internacional para a Conservação da Natureza na categoria “vulnerável”. Por fim, levanta a
importância de proteção oficial contra a coleta e uso indiscriminado das espécies mencionadas.
???/12/2006
Parecer técnico produzido pelos Drs. Gustavo W. Nunan (ictiologia) e Paulo S. Young (carcinologia) da
UFRJ. Apresentam as características oceanográficas da área que por serem constrastantes, como a
Corrente do Brasil e a Agua Central do Atlântico Sul, agregam uma rica fauna marinha, principalmente
nas ilhas Redonda e Rasa. Descrevem os principais grupos faunísticos presentes e seu tipo de habitat.
Comentam que predadores de topo como as garoupas e o mero são principais cobiçados. Este ultimo é
retratado como desaparecido por completo das ilhas a partir da década de 1960 em função dos primeiros
campeonatos de pesca subaquática realizadas no local. Existem também espécies raras e de interesse da
aquariofilia. Argumentam que algumas das espécies, apesar de ampla distribuição, não encontram-se
protegidas em outras localidades, e que estas ilhas apresentam as melhores condições marinhas do
município. Reforçam também a importância da proteção da porção terrestre.
???/01/2007
E-mails trocados entre funcionários do IBAMA e Marinha a respeito da criação da UC em Cagarras. Em
um deles, explicam as três propostas existentes: 1) proposta do Deputado Carlos Minc, ainda em termos
de minuta para ser apresentada na Assembléia Legislativa Estadual, abrangendo todas as ilhas oceânicas
localizadas entre Guarativa e a Ponta de Itaipú e suas águas marítimas adjacentes; 2) Proposta do
Deputado Federal Fernando Gabeira, consubstanciada no Projeto de Lei Federal de sua autoria ora
retirado de pauta, restrita às Ilhas do Arquipelago das Cagarras mais as Ilhas Rasa e Redonda, e uma
faixa de 10 metros no entorno das ilhas; 3) Proposta do IBAMA/RJ, que acrescenta à proposta do
Deputado Fernando Gabeira as Ilhas Tijucas e passa a considerar uma faixa marítima de duzentos metros
no entorno da Ilha Rassa e de cem metros no entorno das demais ilhas. O e-mail comenta que após a
discussão destas propostas, chegaram à conclusão que se deveria criar um Monumento Natural. Esta UC
abrangeria as Ilhas do arquipélago das Cagarras, ilha Rasa, Redonda e uma faixa marítima de 200m no
entorno da ilha Rasa e 100m nas demais ilhas. Posteriormente o documento apresenta uma outra
proposta feita pela Marinha, que divide a área em 2 zonas (Zona de Proteção Integral e Zona de
Amortecimento). Esta proposta, segundo a marinha, não atrapalha o tráfego marinho e não traz
interferência significativa à pesca, permitindo ainda o estímulo do ecoturismo. Cita também que a
proposta da Marinha conta com o apoio de diversas instituições, como Colônias de Pesca, Riotur, ONGs,
iates clubes e outras entidades com interesse na área (conforme ofício encaminhado em 28/11/2006). O
ofício solicita também a exclusão da Ilha Rasa da proposta de UC em função das atividades que exerce
nesta ilha.
24/01/2007
O ofício assinado por Fernando Sérgio Nogueira de Araújo (Capitão-de-Mar-e-Guerra RM1) lista as
razões para não incluir a Ilha Rasa na proposta de Unidade de Conservação. Dentre as razões, ressalta-
se a possibilidade do Ministério Publico entender que a Marinha deva solicitar permissão ao IBAMA para
instalar novos equipamentos no futuro. Pesa também o apoio de diversas instituições à proposta da
Marinha de UC apresentada anteriormente.
Ainda nesta data, houve uma reunião entre a Marinha e Ibama para negociar uma proposta de decreto, o
qual foi consensuado entre as partes e encontra-se também em anexo.

CC Fabiano Ferro 1o DN 22346188/8110/6119


Vilela
CMG Antonio Carlos 1o DN 21046104
Frade Carneiro
José Luiz Seabra IBAMA/RJ NUC.RJ@ibama.gov.br 30774292
Filho
Breno Herrera IBAMA/RJ Breno.coelho@ibama.gov.br 26330079
Ricardo Castelli IBAMA/RJ Ricardo.vieira@ibama.gov.br 61-30353479
Vieira
CMF(RM1) Luiz MB-DGN lmarins@conimar.mil.br 21-21046748
Alberto Marins
Nascimento
CMG (RM1) Tarcisio MB-EMA tarcisio@ema.mar.mil.br 61-3490991

251
12. ANEXOS

Alves de Oliveira
Keity Corbani Ferraz MB-EMA Keity@dpc.mar.mil.br 21-21045752
CMG (RM1) Gilberto DPC gilberto@dpc.mar.mil.br 21-21045752
Huet
CMG (RM1) DPC faraujo@dpc.mar.mil.br 21-21045176
Fernando S. N. de
Araújo

Na minuta de Decreto, inclui-se as Ilhas Pontuda, Alfavaca e do Meio, Ilhas Cagarra, Palmas, Comprida e
Filhote de Cagarra, área marítima interna do arquipélago das llhas Cagarras, limitada pela poligonal
formada por pontos listados na minuta, e outros 200m ao redor desta área. Inclui-se também as ilhas
Redonda, Filhote da Redonda e faixa de 200mno entorno das ilhas Redonda e filhote da Redonda. Proíbe-
se as atividades que coloquem em risco o ecossistema local, harmonia da paisagem, acampamentos e
competições esportivas.
??/??/2007
Documento contendo o histórico do processo da proposta de UC em Cagarras para fins de informar sobre
a consulta pública marcada para o dia 02 de maio de 2007. Assinado pela Analista Ambiental Adriana
Carvalhal Fonseca. Varios eventos são citados no documento, incluindo:
-­‐ resolução do CONAMA que cria a ARIE
-­‐ elaboração de proposta de plano de gestão e monitoramento de espécies ameaçadas pela ONG
Viva Rio. Entidades procuram o IBAMA sobre informações a respeito da ARIE
-­‐ criação, em 2002, de grupo de trabalho para conduzir o processo de criação da UC. Cita 5
reuniões realizadas entre 2002-2003 para buscar consenso, onde participaram: Colônia de
Pescadores Z13, CBCS, FCSRJ, Ong Viva Rio, opesquisadores UFRJ, UERJ e PUC/RJ, Associação B.
Empresas de Mergulho Recreativo, Turístico e Lazer, Associação dos Usuários do Quadrado da
Urca e Instituto ECOMAMA, Capitania dos Portos e Departamento de Hidrografia e Navegação,
Secretaria de MEio Ambiente do RJ e 2 vistorias realizadas no arquipelago
-­‐ cita que foram feitos mapeamentos das atividades de pesca e ecoturismo e foram formulados
diversos cenários de dimensionamento e categorização da UC.
-­‐ o grupo de trabalho sugere em parecer de junho/2003 a criação de um Monumento Natural
composto pelo Arquipelago das Cagarras, Ilha Redonda e filhote da Redonda, com entorno
marinho num raio de 10m, além da ilha Rasa e seu entorno num raio de 200m.
-­‐ em meados de 2003, o Dep. Fernando Gabeira elabora o projeto de lei no. 1683 que dispõe sobre
a criação da UC, e o apresenta à Ministra de Meio Ambiente Marina Silva
-­‐ em 2004 o Dep. Estadual Alessandro Calanzas propõe um projeto de Lei no. 1268/2004 propondo
a criação de um Parque Estadual Marinho das Ilhas Cagarras, Rasa e Redonda, incluindo a porção
interna do arquipélago e um raio de 500m em torno de cada ilha.
-­‐ em fevereiro de 2005, o grupo de trabalho reapresenta uma proposta à DIREC sugerindo que a
UC ficasse restrita a parte emersa das ilhas Cagarras, acrescido da parte emersa das ilhas
Tijucas, além da ilha Rasa, Redonda e filhote da Redonda e seu respective entorno marinho num
raio de 200m.
-­‐ em meados de 2006, o então deputado estadual Carlos Minc apresenta à ministra a proposta de
se criar um Monumento Natural das Ilhas Cariocas, formado por várias ilhas do litoral, incluindo
Arquipélago das Cagarras, Tijucas, ilha Rasa, Redonda e filhote Redonda e raio marinho de 50m.
-­‐ em novemtro de 2006 foi realizada uma outra reunião para retomar os diálogos
-­‐ em março de 2007, após o recebimento de propostas, pareceres técnicos e considerações a
respeito da delimitação do Monumento Natural das Ilhas Cagarras, bem como reuniões com a
Marinha, colônia de pescadores z13. Definiu-se então a proposta final composto pela parte
emersa das ilhas dos arquipelago das Tijucas (Alfavaca, Pontuda e ilha do Meio), área emersa do
arquipélago das ilhas Cagarras (Comprida, Cagarras, Filhote Cagarras e Palmas) e incluindo a
área marinha interna e seu entorno marinho externo num raio de 200m, ilha Redonda e filhote da
Redonda com raio marinho de 200m.
Posteriormente este documento apresenta um tópico de Justificativas à criação da UC. Dentre os
argumentos, apresenta que “devido à proximidade da coasta, o arquipélago é bastante utilizado pela
população carioca. As principais atividades são: pesca (amadora, profissional e submarina), turismo
ecológico e recreativo”. O documento ainda argumenta que “no que se refere as atividades de pesca,
diversos estudos já demonstraram que o fechamento de uma pequena área para a atividade, permite
o repovoamento de áreas adjacentes, levando ao incremento da pesca em escala regional”.
03/04/2007
Ofício informando o encaminhamento de aviso de consulta pública para publicação no Diário Oficial da
União.
03/04/2007
Memorando solicitando a publicação de aviso de consulta pública em jornais do Rio de Janeiro (Jornal do
Brasil e O Globo, publicação no domingo da 22/4/2007) encaminhado pela COMAR/DIREC.

252
12. ANEXOS

04/04/2007
Ofício encaminhado à Divisão de Comunicações Administrativas/DCA pelo Coordenador do Bioma Marinho
e Costeiro (COMAR/DIREC), solicitando o apensamento dos processos 02001000652/92-70,
02001003813/2003-28, 02022000609/2005-79, 0200104116/2006-37 e 0200100613/2005-99 ao
processo de criação de uma unidade de conservação no arquipelago das Cagarras (RJ).
07/04/2007
Manuscrito assinado por Fernando com nota ‘Para a Presidente Assinar’, explicando os procedimentos
para encaminhar o processo para o Presidente da Republica assinar.
09/04/2007
Termo de Juntada por Apensação encaminhado à DIREC/COMAR pela Chefe de Divisão da
DCA/COSEG/CGEAD Luciana Dos Santos Oliveira, fazendo-se apensar ao processo 02001000652/92-70
os processos 02001003813/2003-28, 02022000609/2005-79, 0200104116/2006-37 e
0200100613/2005-99.
12/04/2007
Publicação no DOU de ‘Aviso de Consulta Pública’ sobre o processo de criação do Monumento Natural do
Arquipélago das Ilhas Cagarras (RJ). O texto cita os atributos ecológicos, justificando que a área é de
interesse científico e conservacionista. Cita ainda que “esta proposta de unidade de conservação de
proteção integral visa promover a integração harmoniosa entre as atividades turísticas e recreativas da
região, com a conservação de um dos últimos exemplares de ecossistema insular do domínio da Mata
Atlântica, ainda bem preservado”. O documento não menciona a relação da proposta com a atividade da
pesca. Informa então a consulta pública no dia 02 de maio, às 19hs no auditório da Universidade Cândido
Mendes (RJ). Informa os contatos para recebimento de sugestões e contribuições.
???/???/2007
Cópia impressa de materia veiculada pela internet pela ONG VIVAMAR
(www.cagarras.com.br/vivamar_1.php). O texto informa “numa reviravolta inesperada, em que foi
afastado o projeto original do deputado Fernando Gabeira, o Ibama propos uma nova unidade de
conservação nas ilhas Cagarras (RJ) que prejudicará o setor náutico na região”. Informa também que em
novembro de 2006 o IBAMA convocou uma reunião para levar ao conhecimento público uma proposta
‘fechada e para aprovação rápida’ que surpreendeu a todos os presentes pois era diferente da proposta
do Dep. Fernando Gabeira, que previa apenas uma zona de amortecimento de 10m, a qual não
prejudicava o setor nautico, navegação e pesca amadora. Informa que o Ibama pediu a arquivação da
proposta do Dep. Gabeira e propos uma UC que inclui ainda as Ilhas Rasa, Redonda e uma zona de
amortecimento de dois quilometros. Comenta que a Marinha apresentou uma emenda que exclui as Ilhas
Rasa e Redonda da nova UC e reduz a zona de amortecimento para 500m. Informa que houve uma
reunião entre diversas entidade para apreciação da proposta da Marinha, onde participaram a Vivamar,
Acobar, representantes da ICRJ, federações de pesca e dirigentes de colônias de pesca. Nesta reuião,
afirma que todos foram “surpreendidos por essa iniciativa do IBAMA em isolar mais ilhas do litoral
brasileiro do setor náutico, coprovadamente totamente sustentável, gerador de empregos e recursos”.
Por fim, informa que embora não concordassem com a íntegra da proposta da Marinha, foi decidido o
apoio de todos à alternativa apresentada, na qual a nova unidade ficasse restrita às quarto principais
ilhas do arquipélago, excluindo as ilhas Rasa e Redonda, e que a chamada zona de amortecimento se
limite a 500m.
12/04/2007
Texto de esclarecimento produzido pela COMAR/DIREC/IBAMA (Ricardo Castelli) em resposta à material
veiculada pela ONG Vivamar no site www.cagarras.com.br. O documento apresenta diversas explicações
sobre 3 pontos levantados pelo texto da ONG VIVAMAR.
No primeiro ponto, esclarece que a proposta inicial de criação do Monumento Natural é do IBAMA e não
do Dep.Gabeira. Informa que desde 2002, diversas instituições participaram do processo de criação
através das reuniões. Relata ainda que “Desse democrático processo de discussão culminou, em junho de
2003, a proposta apresentada pelo referido grupo de trabalho à Diretoria de Ecossistemas do IBAMA
Sede, em Brasília...” Informa ainda que a proposta do deputado é complementar e não antagônica.
Ressalta que na proposta do deputado as ilhas Redonda e filhote da Redonda, bem como a ilha Rasa, já
estavam incorporadas, como já era de conhecimento do próprio grupo (www.cagarras.com.br) que
publicou a proposta do Deputado online. Diz ainda que o Ibama nunca solicitou arquivamento do projeto
de Lei do deputado, e nem teria competencia para tal ato.
No segunto ponto, esclarece que as ilhas do arquipélago das Cagaras e Ilhas Redonda e filhote da
Redonta e seu entorno de 200m foram incluidas desde a primeira proposta, e não os 2km publicados no
texto da VIVAMAR. Informa ainda que apenas as atividades de pesca subaquática e pesca serão proibidas
dentro da UC. Atividades nauticas e mergulho recreativo serão, ao contrário do que se afirma na matéria.
No terceiro ponto, afirma que a proposta apresentada pelo IBAMA foi consensuada com a Marinha do
Brasil, em reunião realizada entre as duas instituições (com ata constituinte do processo). Segundo o
documeto “A retirada da Ilha Rasa da proposta se deu após um comprometimento da Marinha do Brasil
em efetivamente promover a proteção da ilha sob sua jurisdição, bem como do seu entorno de 200m”.
Nas considerações finais, lembra que no próprio site constam denúncias sobre a má utilização da área do

253
12. ANEXOS

arquipélago, evidenciando a necessidade desta proteção.


13/04/2007
Memorando encaminhado pela COMAR/DIREC à assessoria parlamentar do IBAMA (Sr. Ronaldo
Alexandre). O documento inicialmente informa que tramita paralelamente ao projeto do Deputado, um
processo no IBAMA para criação de uma UC. Relata que foram agregados os estudos científicos, reuniões
com atores locais e pareceres. Descreve que foram feitas análises de diferentes cenários e que chegaram
à conclusão que o Monumento Natural é a categoria mais adequada. Informa sobre a audiência pública
marcada para 02/05/2007. Diante destes fatos, sugere que o projeto de lei No. 19 da senadora Patrícia
Saboya não é pertinente.
Anexo ao documento está a redação final do projeto de Lei No 1.683-B de 2003. Este dispõe sobre a
criação do Monumento Natural do Arquipélago das Ilhas Cagarras. Inclui na UC as ilhas Cagarras, Palmas
e Comprida, filhote das Cagarras e um raio de 10m no entordo de cada ilha e ilhota. Inclui a ilha Redonda
e a ilhota Filhote da Redonda, bem como a área marinha num raio de 10m ao redor da ilha e da ilhota.
Inclui a Ilha Rasa, bem como a área marinha num raio de 200m. Probe atividades em desacordo com o
plano de manejo, competições esportivas, acampamentos, porte de equipamentos capazes de abater
animais (ex. Explosivos), pesca com utilização de redes, armadilhas e outras artes de pesca predatórias.
Faz sugestões quanto a elaboração do plano de manejo, presença do conselho consultivo, possibilidade
de convênios para a implantação da UC.
Consta também como anexo um parecer da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania sobre o
projeto de Lei da Câmara dos Deputados que dispõe sobre a criação de UC em Cagarras. A relatora foi a
senadora Patrícia Saboya. Este relatório apresenta a proposta de projeto de lei de autoria do Dep.
Fernando Gabeira. Informa que a Justificação do projeto e a sugestão de categoria em Monumento
Natural partiu de um grupo de trabalho instituído pela Gerencia Executiva do IBAMA, onde participaram
representantes do Parna da Tijuca. Em sua análise, considera indispensável a criação da referida UC, mas
cita que ainda faltam estudos técnicos e audiências públicas que se impõe como obstáculos. Cita a
incompatibilidade da atual proposta com a Marinha do Brasil. Com base nas observações, o documento
vota favorável pela aprovação do projeto, mas propõe um texto substitutivo. O texto substitutivo propõe
projeto de lei que apóia o processo de criação da UC em Cagarras, proibindo qualquer atividade que
coloque em risco a integridade dos ecossistemas e a harmonia da paisagem enquanto a UC não é criada.
Esta proposta inclui as Ilhas Cagarras, Filhote de Cagarras, Palma e Comprida e área marinha de 10m no
entorno. Ilhas Redonda e filhote da Redonda, e área marinha num raio de 10m no entorno.
15/04/2007
Reportagens publicadas na revista National Geographic sobre experiências da Nova Zelândia com áreas
marinhas protegidas.
02/05/2007
Documentos referentes à audiência pública (Ata e lista de presença), onde assinaram 312 pessoas.
A ata apresenta pontos gerais discutidos durante a audiência. Alguns deles são descritos a seguir.
-­‐ Após a composição da mesa, a platéia se manifestou pedindo a presença de representante da
colônia Z13;
-­‐ Houve uma apresentação sobre as características da categoria proposta;
-­‐ A analista ambiental Adriana Carvalhal apresentou uma palestra sobre o uso de Áreas Marinhas
Protegidas enquanto ferramenta de gestão pesqueira;
-­‐ O analista ambiental Breno Herrera apresentou a proposta de UC, incluindo justificativas e
histórico do processo. Segundo consta na ATA, foram comparadas as diversas propostas até a
mais recente. Explica os motivos pela exclusão da Ilha Rasa (solicitação da Marinha do Brasil) e
das ilhas Niterói e Cotunduba (pesca artesanal), bem como algumas lajes submersas. Apresentou
também as perspectivas de gestão caso a UC fosse implementada;
-­‐ O presidente da colônia Z13 teve 5 minutos para se expressar;
-­‐ O presidente da mesa esclareceu sobre o tópico ‘compensação ambiental’
-­‐ Foi proposto por alguns a votação para cancelamento da consulta pública, oque foi negado em
função de que esta não é deliberativa;
-­‐ A plenária reclamou que não há estudos socioeconômicos sobre a área, sendo respondido que os
estudos foram feitos e estão disponíveis para todos;
-­‐ Partiram para as manifestações orais;
-­‐ Eduardo Bracony (CBPDS) – não é contrário, e gostaria que fosse proibida a pesca predatória e
subaquática por amadores, além de aumento de fiscalização;
-­‐ Roberto Negraes – ONG VIVAMAR – Afirma que não existem estudos apontando que a pesca
artesanal e amadora são responsáveis pela diminuição de recursos pesqueiros. Chamou a
atenção que o Conselho Gestor de um Monumento Natural não é deliberativo. Acredita que a UC
vai gerar desemprego, principalmente de pescadores. Encaminhou também uma proposta
alternativa para discussão, que foi elaborada consensualmente entre a ONG que ele represnta e a
colônia de pesca Z13;

254
12. ANEXOS

-­‐ Eduardo Souto de Oliveira (Vice-Presidente Confederação Brasileira Pesca Submarina) – solicitou
que o IBAMa apresentasse dados estatísticos dos impactos de cada atividade, incluindo a pesca
subaquática na proposta de UC;
-­‐ Fernando Farina (Associação de Pesca Submarina) – não concorda com a proposta na forma atual
e comenta que é tão ruim que até uniu setores que se históricamente discordavam;
-­‐ Luiz Antônio Pereira (Presidente Federação Internacional de Pesca em Apnéia) – duvida que
exista transbordo de Cagarras para outras áreas, e que se os pescadores serão proibidos de
pescar na área, então não se beneficiarão. Não concorda com a anexação de outras ilhas pois irá
gerar desemprego.
-­‐ Cláudio Sideral (Greenpeace) – favorável e alertou a necesidade de preservação de ecossistemas
Brasileiros.
-­‐ Sergio Aníbal (UFRJ, Fundação Brasileira de Conservação da Natureza) – Diz que participou da
primeira proposta do CONAMA. Defende que seja uma UC de uso sustentável. Argumentou que a
área ainda conserva suas riquezas conforme a apresentação do próprio IBAMA. Acha que não
houve estudos sobre a parte pesqueira.
-­‐ Marcelo Vianna (UFRJ) – acredita que o IBAMA esteja motivado pela possibilidade de recursos de
compensação ambiental, e que isto é legítimo. Acredita no entanto que uma APA seja a categoria
adequada, em que houvessem áreas específicas de exclusão da pesca. Considerou os estudos
apresentados para a criação da UC como superficiais.
-­‐ Nilton José Lobato Filho (pescador subaquático) – gostaria de continuar a utilizar a área. Sugere
um estudo de viabilidade para que se possa continuar a haver atividades como esta. Sugere uma
votação.
-­‐ Fernando (Museu Nacional) – defende que as ilhas são pontos de apoio para pesca subaquática e
artesanal, e acredita que o problema está na falta de fiscalização, sendo que a UC não resolverá
o problema. Sugere mais esforço em Educação Ambiental. Acha que as pesquisas apresentadas
são válidas e não devem ser desmerecidas pela plenária.
-­‐ Gilberto Huet (Marinha) – esclareceu sobre os papéis e competências na fiscalização;
-­‐ Bianca (Sociedade Vegetariana Brasileira) – favorável à proposta. Se manifestou com pesar pela
não participação do Ministério Publico. Parabenizou o estudo do IBAMA;
-­‐ Luís Carlos Varella (Colônia Z-13) – segundo a Ata, “criticou a proposta porque engloba toda a
parte marinha no entornodas Cagarras e em virtude disso os pescadores que atuam na área não
desejam a pesca predatória e critica que o estudo realizdo pelo IBAMA foi fraco e que a
fiscalização não é atuante, pois barcos atuneiros entream na praia de Copacabana e nas
proximidades das Cagarras, provocando o sumiço das sardinhas no mar de Copacabana”.
-­‐ Ricardo Nehrer (Instituto Baía de Guanabara) – ainda que rudimentar, indicou que os pescadores
possuem uma gestão dos recursos e utilizam arrastão de mutirão como atividade tradicional, mas
estão perdendo suas tradições. Indica que já existe uma utilização de UCs pelos pescadores de
forma sustentável. Para ele, existe um histórico de uso sustentável dos recursos. Argumenta que
pescadores podem inclusive realizar atividades de controle juntamente ao poder público.
-­‐ Manoel Arthur Vilaboim (Revista Linha Verde) – cricitou que a UC seja criada com base na falta
de fiscalização, indicando que a Marinha e IBAMA falham na realização conjunta da fiscalização.
Comentou que faltam estudos sobre os estoques pesqueiros no Brasil.
-­‐ Após consensuar em não abrir para novas inscrições, o analista ambiental Breno deu
esclarecimentos. Disse que o trânsito de embarcações não seria impedido, o ecoturismo será
incentivado, comentou que a fiscalização é acentuada e focada em UCs, disse que embora
pesquisadores desejem ampliar o tempo de pesquisa, os estudos na área foram realizados a
contento, esclareceu que existem outras proibições ou restrições à pesca (espaciais e temporais),
esclareceu que o abrigo de embarcações é autorizado em qualquer ilha em caso de mau tempo,
citou que embora uma UC de proteção integral atraia recursos de compensação integral esta não
é o principal motivo;
-­‐ O presidente da mesa disse que ninguém foi contrário à criação de uma UC na área, e que então
se proponha uma UC de uso sustentável, comentando que as propostas serão discutidas e
incorporadas ao processo de criação;
-­‐ A Sra. Kátia Janine (presidente da colônia Z13) comentou que a colônia pode dar apoio à
fiscalização do IBAMA;
-­‐ O IBAMA se comprometeu a rever o processo e realizar nova consulta;
-­‐ Sr. Gilberto Huet (Marinha) disse que a Marinha não é contraria a proposta pois não interfere com
suas atividades;
-­‐ Sr. Jaime Tavares (SEAP) comentou que as manifestações contrárias são saudáveis;
-­‐ Registraram-se 51 questões por escrito e finalizou-se a audiência.
02/05/2007
Ofício encaminhado pela Federação Brasileira de Pesca Esportiva, destacando a frase “Preservar sim –
Proibir não”.
02/05/2007

255
12. ANEXOS

Ofício encaminhado pela Federação Estadual de Pesca e Desportos Subaquáticos, destacando a frase
“Preservar sim – Proibir não”. Manifestam-se também contrários ao fechamento das ilhas.
04/05/2007
Nota técnica sobre o processo de criação da UC produzido pela Secretaria Especial da Aqüicultura e Pesca
(SEAP), por Leonardo Tortoriello Messias. O documento aponta 12 observações e posteriormente tece
conclusões. Dente as observações, estão:
-­‐ nota que a proposta de UC partiu do deputado Fernando Gabeira e foi posteriormente assumida
pelo IBAMA;
-­‐ nota que a proposta têm apoio da Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Rio de Janeiro (que
anteriormente previa a inclusão de todas as ilhas) e da Marinha do Brasil;
-­‐ informa a abrangência da proposta em terra e mar;
-­‐ lembra que a proposta é de uma UC de proteção integral;
-­‐ lembra que segundo estudos da Universidade Federal Fluminense, a área abriga uma fauna de
peixes relativamente diversa e impactada, onde a ausência de predadores sugere que a região
está sofrendo grande impacto ambiental, motivo pelo qual se propõe a UC;
-­‐ cita a publicação do MMA, onde se exemplifica experiências bem sucedidas na aplicação de UCs
marinhas para a gestão pesqueira e conservação da biodiversidade;
-­‐ nota que a “SEAP incorpora a idéia das áreas protegidas como importantes instrumentos para a
recuperação, ordenamento e gestão pesqueira, sendo que o tema objeto de discussão recente no
processo de planejamento interno da Secretaria”;
-­‐ nota que por outro lado a secretaria se preocupa com os impactos negativos da criação de UCs de
proteção integral sobre a pesca, especialmente a artesanal;
-­‐ cita que “entende-se que a proteção da área das Ilhas Cagarras e Redonda, associada a um
processo de ordenamento pesqueiro nas outras ilhas adjacentes, além das ações de fiscalização,
são importantes instrumentos para recuperação dos estoques pesqueiros da região;
-­‐ considera que a área a ser protegida (200m no entorno das Ilhas) é relativamente pequena, se
comparada com o litoral à frente das praias da Barra da Tijuca, São Gonçalo e Ipanema;
-­‐ ressalta que em reunião com técnicos da COMAR/DIREC, foi esclarecido que algumas áreas não
foram incluídas para evitar conflitos com a pesca;
-­‐ lembra que a área em questão é utilizada por pescadores principalmente das colônias Z13 e Z7,
mas não foram apresentados levantamentos sobre esta atividade, informações sobre o tipo e
quantidade de embarcações que utilizam a área, quais artes de pesca e espécies alvos, sendo
que estas são informações importantes para o processo
O documento conclui sugerindo que a SEAP seja favorável à criação do Monumento Natural das Ilhas
Cagarras, após a apresentação de estudos sobre a pesca artesanal pelo IBAMA. Sugere também que
seja firmado um compromisso entre SEAP/IBAMA/Marinha do Brasil para o desenvolvimento de ações
de fiscalização na UC e seu entorno.
05/05/2007
Matéria publicada no jornal O Globo entitulada “As ilhas da Discórdia”, onde a autora apresenta a sua
experiência durante a audiência pública de criação da UC. Comenta sobre as discórdias e discussões
acirradas, apresentando os principais argumentos narrados no evento. Por fim, informa que o IBAMA
abriu a discussão da criação e que haveria nova audiência onde seria apresentada uma nova proposta.
07/05/2007
Matéria jornal O Globo com foto e texto denunciando o acampamento nas ilhas e os impactos causados
por esta atividade.
??/??/2007
Matéria sem data no jornal O Globo, relatando insatisfação dos pescadores protestando contra a proibição
da pesca nas ilhas Cagarras. A notícia relata o protesto dos pescadores antes da audiência pública e
publica a posição de alguns atores, como:
Roberto Negraes (ONG VIVAMAR): comenta que vai propor a criação de ARIE ao invés de Monumento
Natural, visto que a primeira não exclui o homem de seus usos.
Breno Herrera (IBAMA): comenta que serão apresentados na audiência estudos de caso de sucesso no
que se refere o uso de áreas de exlusão de pesca na gestão pesqueira, e o incremento do turismo em
áreas similares do Brasil.
Ricardo Montovani (Colônia Z13): afirma que a entidade é contraria à proposta apresentada pelo IBAMA,
e diz que gostaria de ver o órgão presente na fiscalização. Propõe que seja criada uma UC de uso
sustentável, com fiscalização efetiva. Diz que 50% os pescadores da Z13 dependem da pesca nas ilhas
Cagarras.

??/??/2007
Proposta de decreto elaborado pela ONG VIVAMAR para criação de um Monumento Natural do
Arquipélago das Ilhas Cagarras. O texto inclui na unidade de conservação as ilhas Pontuda, Alfavaca e do
Meio, Ilhas Redonda e filhote da Redonda, ilhas Cagarra, Palmas, Comprida e filhote da Cagarra, e a área
marítima interna do Arquipélago das Ilhas Cagarras, limitada pela poligonal formada pelos pontos:

256
12. ANEXOS

A – 23o 02’15”S – 043o 12’28” W


B - 23o 01’35”S – 043o 12’21” W
C - 23o 01’36”S – 043o 11’30” W
D - 23o 02’03”S – 043o 11’52” W
F - 23o 02’10”S – 043o 12’06” W

Sugere uma Zona de Amortecimento as áreas marítimas situadas em volta das ilhas e da área marítima
que compõe a unidade, com 500m de largura. Proíbe competições esportivas, desembarque nas ilhas e a
pesca. Autoriza o trânsito e fundeio de embarcações, atividade de mergulho contemplativo e o
afundamento de embarcações conforme regulamentado pelo plano de manejo. Proíbe, na zona de
amortecimento, a pesca de arrasto, espinhel, rede e armadilhas, pesca de mergulho com ar comprimido.
Permite na Zona de amortecimento a pesca desportiva subaquática e de linha e a pesca artesanal de
linha. Sugere a revisão dos limites da UC em um prazo de até 5 anos.
30/08/07
Memória de Reunião entre a SEAP e ICMBio para discutir um Diagnóstico da Pesca no Arquipélago das
Cagarras/RJ. Estiveram presentes Leonardo Messias (SEAP/PR), Karin Bacha (SEAP/PR), Adriana
Carvalhal (DIPI/ICMBio), Eduardo Godoy (DIPI/ICMbio), Alexandre Marques (DIPI/ICMBio). O documento
relata que a reunião tratou da discussão de uma proposta de estudo da pesca na área, que traria
informações para um refinamento dos limites da unidade de conservação que está sendo proposta. Ficou
definido que a SEAP iria subsidiar um convênio com uma empresa de consultoria (SOMA) que faria o
estudo em parceria com a ONG ECOMAR.
05/09/2007
Ofício de encerramento do primeiro volume do processo 02001006613/2005-99 e abertura do segundo
volume.
12/02/2008
Pauta da 1a reunião ordinária da Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e
Controle. No seu item 4 está o projeto de Lei da Câmara No.19 de 2005. O relator é o Senador Ademir
Santana, em cujo parecer vota pela aprovação do substitutivo. Este substitutivo encontra os mesmos
termos daquele encaminhado pela Câmara dos Deputados (Comissão de Cidadania e Justiça). Constam
também uma lista com 14 assinaturas de senadores ao parecer.

257
12. ANEXOS

ANEXO 5 - Mapas SIG – Resultado das oficinas de mapeamento participativo.

258

Вам также может понравиться