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APRESENTAÇÃO
AGRADECIMENTOS
Autores
Leopoldo Cavaleri Gerhardinger – Coordenador - MSc. Oceanógrafo
Luciara Duarte Figueira – Socióloga
Tatiana Walter – MSc. Oceanóloga
Equipe Técnica
Carlos Rangel (biólogo)
Hugo Lamas Diogo (oceanógrafo)
Leopoldo Cavaleri Gerhardinger (oceanógrafo)
Liandra Caldasso (economista)
Luciara Duarte Figueira (socióloga)
Naila (geógrafa)
Paulo Roberto de Castro Beckenkamp (oceanólogo)
Tiago Duque Estrada (biólogo)
Tatiana Walter (oceanóloga)
ÍNDICE
LISTA DE FIGURAS..................................................................................................................... i
LISTA DE TABELAS .................................................................................................................... v
LISTA DE ANEXOS ................................................................................................................. viii
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 1
7. JURUJUBA – NITERÓI
ASPECTOS
GERAIS
DA
COMUNIDADE
PESQUEIRA .........................................................................................................................................125
7.1.1
Aspectos
socioeconômicos........................................................................................................................................................................125
7.1.2
Conflitos
identificados.................................................................................................................................................................................127
7.1.3
Aspectos
gerais
da
organização
social
dos
pescadores............................................................................................................128
ALMARJ.................................................................................................................................................................................................................128
Associações
na
Ponta
da
Ilha ......................................................................................................................................................................129
Colônia
Z-‐8 ..........................................................................................................................................................................................................128
7.1.4
Aspectos
da
infra-estrutura
e
comercialização
do
pescado
em
Jurujuba .....................................................................130
MARICULTURA
E
EXTRATIVISMO
DE
MEXILHÕES
PERNA
PERNA ........................................................................................................134
7.2.1
Divisão
e
relações
de
trabalho................................................................................................................................................................134
7.2.2
Composição
da
Renda
Familiar
–
Atuação
das
mulheres........................................................................................................139
Extrativismo
de
Mexilhões...........................................................................................................................................................................140
7.2.3
Dinâmica
da
pescaria
e
recursos
necessários ...............................................................................................................................140
Cultivo
de
Mexilhões.......................................................................................................................................................................................142
7.2.4
Produção,
sazonalidade
e
rendimento ..............................................................................................................................................144
7.2.5
Áreas
e
locais
de
pesca ................................................................................................................................................................................145
7.2.6
Infra-estrutura,
comercialização
e
mercado..................................................................................................................................147
Mexilhões
de
associado
da
ALMARJ
recebido
na
sede
da
associação .......................................................................................147
Mexilhões
de
não
associado
da
ALMARJ
recebido
na
sede
da
associação ..............................................................................148
Mexilhões
‘pirata’
cozido
vendido
para
intermediário....................................................................................................................148
7.2.7
Tecnologia
do
pescado ................................................................................................................................................................................148
Estrutura
física
e
dinâmica
do
beneficiamento...................................................................................................................................148
Mexilhões
ALMARJ ..........................................................................................................................................................................................148
Mexilhões
pirata ...............................................................................................................................................................................................149
7.2.8
Insumos
pesqueiros,
meios
de
produção
e
despesas................................................................................................................151
Mexilhões
ALMARJ ..........................................................................................................................................................................................151
Mexilhões
pirata ...............................................................................................................................................................................................151
7.2.9
Demanda
de
mercado ..................................................................................................................................................................................151
Mexilhões
pirata ...............................................................................................................................................................................................151
7.2.10
Estruturação
da
cadeia
produtiva .....................................................................................................................................................152
Mexilhões
pirata ...............................................................................................................................................................................................152
Mexilhões
Ponta
da
Ilha
e
Praia
de
Salinas...........................................................................................................................................154
7.2.11
Gestão
ambiental
e
qualidade
do
produto....................................................................................................................................154
Defeso
mexilhão ...............................................................................................................................................................................................154
Qualidade
do
produto ....................................................................................................................................................................................155
REDES
DE
CERCO
/
TRAINEIRAS...............................................................................................................................................................................156
7.3.1
Divisão
e
relações
de
trabalho
na
pesca ...........................................................................................................................................156
7.3.2
Divisão
de
trabalho
e
renda
–
produção
e
comercialização ..................................................................................................157
7.3.3
Dinâmica
da
pescaria
e
recursos
necessários ...............................................................................................................................158
7.3.4
Gestão
ambiental............................................................................................................................................................................................158
Defeso
sardinha ................................................................................................................................................................................................158
Portaria
IBAMA
43
de
2007 ........................................................................................................................................................................158
PESCA
COM
REDES
DE
CAIÇARA ...............................................................................................................................................................................159
7.4.1
Divisão
e
relações
de
trabalho
na
pesca ...........................................................................................................................................159
7.4.2
Produção
e
comercialização ....................................................................................................................................................................160
7.4.3
Dinâmica
da
pescaria
e
recursos
necessários ...............................................................................................................................161
7.4.4
Produção,
sazonalidade
e
rendimento ..............................................................................................................................................162
REDEIROS ..............................................................................................................................................................................................................................164
7.5.1
Divisão
e
relações
de
trabalho
na
pesca ...........................................................................................................................................164
7.5.2
Serviços
oferecidos
e
renda .....................................................................................................................................................................164
PESCA
COM
BALEEIRAS .................................................................................................................................................................................................166
7.6.1
Divisão
de
trabalho
e
renda .....................................................................................................................................................................166
LISTA DE FIGURAS
enfeite”). .................................................................................................................140
Figura 58 – Sementes de mexilhão retiradas do costão rochoso, aguardando o ‘plantio’ nas
cordas da maricultura em Jurujuba..............................................................................144
Figura 59 – Redinha confeccionada pelas mulheres, e utilizada para o plantio do mexilhão em
Jurujuba. .................................................................................................................144
Figura 60 – Técnicos da ECOMAR e maricultores da ALMARJ descrevendo as principais área
utilizadas para a coleta de mexilhão. ...........................................................................147
Figura 61 – Estrutura disponível para processamento e beneficiamento do mexilhão na sede
física da ALMARJ, Jurujuba. ........................................................................................150
Figura 62 – Mexilhão ‘pirata’ é beneficiado em pequenas unidades familiares (barraquinhas, à
esquerda), onde é cozido, descascado (meio) e encaminhado para o atravessador
em tabuleiros de plástico (direita). ..............................................................................151
Figura 63 – O uso da lenha para o cozimento do mexilhão (esquerda) é altamente prejudicial
à saúde (foto meio), mas continua sendo empregado por maricultores da Ponta da
Ilha, que estão se organizando para conseguir apoio governamental para melhoria
na estrutura física disponível para o beneficiamento do mexilhão.....................................151
Figura 64 – A estrutura física da ALMARJ é também utilizada para a comercialização de
pescados como o camarão proveniente de carcinicultura (esquerda), e peixes
(direita). ..................................................................................................................153
Figura 65 – Vista da praia do Cascarejo (esquerda) e detalhe da qualidade da água na beira
da praia (direita), em Jurujuba, Niterói. .......................................................................155
Figura 66 - Traineira de Jurujuba (esquerda) e uma das áreas para manutenção de redes de
cerco.......................................................................................................................157
Figura 67 - Aplicação de ferramenta participativa em Jurujuba – matriz de divisão do
trabalho na peca de Caiçara. ......................................................................................159
Figura 68 – Banca de peixe no Mercado São Pedro, Niterói. ...........................................................160
Figura 69 – Redeiros fazendo a manutenção em redes tipo caiçara (esquerda em cima e à
direita) e redes de cerco para traineira (esquerda abaixo), em Jurujuba, Niterói. ...............165
Figura 70 – Pescador utilizando embarcação do tipo ‘baleeira’ preparando-se para uma
pescaria com redes de caiçara nas Ilhas Cagarras. ........................................................167
Figura 71 - Espaço utilizado por um ‘torneiro’ em Jurujuba, Niterói. ................................................168
Figura 72 – Pescador de polvos em sua baleeira ou caiaque, utilizados para a pesca do polvo
(esquerda) e ‘Estaleirinho’, o principal Porto de desembarque dos polvos em
Jurujuba, Niterói. ......................................................................................................169
Figura 73 – Praia de Itaipu - ponto vermelho – Niterói. .................................................................170
Figura 74 – Pescadores e banhistas ajudam a retirada do barco do mar em Itaipu, Niterói. ................172
Figura 75 – Canoa tradicional, utilizada para a pesca de arrasto de praia em Itaipu, Niterói................178
Figura 76 – Embarcações em Itaipú, Niterói. ................................................................................180
Figura 77 – Mapas preliminares aplicados com pescadores de Itaipu, Niterói. ...................................184
Figura 78 – Caixas de plástico são comumente utilizadas para o armazenamento e transporte
durante a comercialização do pescado. ........................................................................185
Figura 79 – Clientes e arrematadores se aproximam das embarcações que chegam para
comprar o pescado, muitas vezes vendido em lotes pelos pescadores. .............................186
iii
iv
LISTA DE TABELAS
vii
LISTA DE ANEXOS
viii
1. INTRODUÇÃO
Este estudo de Caracterização da Pesca Artesanal no Entorno das Ilhas Cagarras foi
deflagrado em função de demanda que surgiu dos próprios pescadores. Estes sentiram-se em
certo nível ‘desconsiderados’ do processo, argumentando duramente que o órgão ambiental
não apresentou em sua proposta, dados sobre a pesca artesanal na área em questão.
O suporte financeiro da Secretaria Especial da Aqüicultura e Pesca (SEAP) à ECOMAR
vêm assim preencher esta lacuna de conhecimento, e especialmente trazer a voz e
conhecimento dos pescadores para dentro do processo de gestão pesqueira e conservação da
biodiversidade marinha na região. Entretanto, a necessidade de se conhecer e entender a
pesca artesanal na região não se limita a atender à iniciativa do ICMBio de se criar uma UC no
local. Tanto a ECOMAR como a SEAP entendem como extremamente importante que se
promova um amplo debate sobre a gestão e fomento da atividade pesqueira no Rio de Janeiro
e Niterói, especialmente a pesca artesanal. Para tanto, é preciso trazer à discussão a
possibilidade de se trabalhar com outras ferramentas de gestão do espaço marinho oferecidas
pelo arcabouço legal Brasileiro. Dentre outras possibilidades estão os acordos de pesca,
portarias e instruções normativas, entre outros. No entanto, desde o início é preciso ressaltar
que nenhuma ferramenta de gestão será efetiva caso não exista um compromisso e presença
efetiva do IBAMA na fiscalização das regras de uso e acesso aos recursos naturais marinhos da
região.
Neste contexto, o presente relatório apresenta uma caracterização pesqueira gerada de
maneira participativa. Esperamos que estas informações possam contribuir para trazer a tona
os conhecimentos e práticas de um grupo social em posse de uma cultura rica, mas fragilizado,
dentre outros motivos, pela falta de suporte governamental e depauperação dos recursos
naturais de uma região que sublima todos os pontos negativos e positivos do desenvolvimento
urbano e econômico.
Neste relatório, descrevemos inicialmente um histórico do processo de criação de uma
Unidade de Conservação na área do arquipélago das Ilhas Cagarras. Em uma leitura analítica
dos documentos que compõem o processo legal corrente no ICMBio, procuramos entender e
avaliar como se deu a participação dos pescadores no processo.
Posteriormente, apresentamos os dados obtidos em cinco comunidades foco: Itaipu e
Jurujuba (Niterói), Urca, Copacabana e Quebra-Mar (Rio de Janeiro).
Trazemos por fim uma breve reflexão sobre os principais conflitos identificados, e os
possíveis papéis de diferentes ferramentas de gestão e ordenamento do espaço marítimo na
resolução destes.
Tabela 1 - Resumo das principais iniciativas e estratégias Brasileiras para a criação de um Sistema
Nacional de Áreas Protegidas.
Iniciativas governamentais Resumo descritivo Instituições e departamentos
relacionadas às Áreas que interagem
Marinhas Protegidas
Áreas Prioritárias para Legislação estabelecendo as Ministério do Meio Ambiente
Conservação, Uso Sustentável e áreas prioritárias para a criação (MMA), através do Núcleo da
Repartição de Benefícios da de novas AMPs. Zona Costeira e Marinha (NZCM),
Biodiversidade Brasileira coordenam a revisão do
documento a cada 5 anos. O
Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade
(ICMBio) está procurando utilizar
este documento como um guia
para o estabelecimento das
novas AMPs.
2. ABORDAGEM METODOLÓGICA
Municípios costeiros
A área de abrangência deste diagnóstico inclui dois grandes centros urbanos do estado
do Rio de Janeiro, os municípios de Niterói e Rio de Janeiro.
O Rio de Janeiro é a segunda maior metrópole do pais, a maior em área costeira, com
mais de 6 milhões de habitantes (sem considerar as cidades metropolitanas). A cidade é
considerada um ícone nacional e internacional da cultura Brasileira, em ambos aspectos
positivo e negativos.
O Rio de Janeiro é um município de contrastes sociais e econômicos, com enormes
disparidades entre ricos e pobres. Alguns bairros da cidade possuem o Índice de
Desenvolvimento Humano correspondente a países nórdicos (Gávea: 0.970; Leblon: 0.967;
Jardim Guanabara: 0.963; Ipanema: 0.962; Barra da Tijuca: 0.959), enquanto outros estão
muito abaixo da media municipal (Complexo do Alemão: 0.711, Rocinha: 0.732). Uma
significativa parcela dos mais de 6 milhões de habitantes vivem em condições de pobreza em
favelas ou outros aglomerados urbanos com condições de segurança, educação, saúde e
moradia muito ruins. Em algumas favelas, muitos destes serviços públicos são fracos ou
inexistentes. O Rio de Janeiro apresenta também altíssimas taxas de violência urbana,
ganhando espaço na mídia nacional e internacional de destaque, principalmente em função do
tráfico de drogas e taxas elevadas de homicídio.
Niterói, por sua vez, possui cerca de 477 mil habitantes e o terceiro mais alto IDH do
Brasil. Representa um dos principais centros financeiros, comerciais e industriais do estado do
Rio de Janeiro. É a terceira cidade do Rio de Janeiro em numero de turistas, que procuram o
local atrás dos seus centros culturais e históricos e suas praias. Contudo, o desenvolvimento
acelerado vêm trazendo problemas como o surgimento de grandes favelas.
Embora apresente uma das mais magnífica paisagens naturais do planeta, Rio de
Janeiro e Niterói sofrem com a altíssima poluição atmosférica e de suas águas (quinta capital
mais poluída do Brasil).
Figura 2– Arquipélago das ilhas Cagarras próximo à praia de Ipanema e lagoa Rodrigo de
Freitas, Rio de Janeiro (RJ) (Foto: André Bonacin, disponível no Google Earth).
A área situada entre as Ilhas Maricás e Ilhas Tijucas forma um único sistema, composto
por ambientes de fundo rochoso, cascalhoso e lamoso e com uma alta influência da dinâmica
da Baia de Guanabara.
Tal sistema é utilizado por uma diversidade de pessoas que fazem da pesca seu
principal meio de vida, ou possuem nela, um complemento da renda familiar. Estima-se, no
mínimo, a existência de dez pontos de desembarque de pescado oriundo das adjacências do
Arquipélago de Cagarras, sendo o arquipélago mais ou menos utilizado de acordo,
principalmente, com a localização geográfica do ponto de desembarque e da autonomia das
embarcações utilizadas na atividade pesqueira.
Considerando a complexidade em caracterizar todas as pescarias realizadas na área no
âmbito deste projeto, optou-se por uma estratégia amostral, onde as localidades do Posto 6
(em Copacabana), Quadrado da Urca e Jurujuba (em Niterói) constituem localidades que
fazem uso intenso da área. As duas primeiras pela proximidade geográfica e a terceira, por
se constituir uma comunidade maior e com mais poder de pesca.
Outras duas localidades foram selecionadas pois estão situadas no extremo do
sistema, sendo ao norte1, Itaipu (em Niterói) e ao sul, Quebra-Mar, na Barra da Tijuca.
1
Na verdade, a localidade situada no extremo norte é Itaipuaçu em Maricá, mas considerando que sua frota é
composta por apenas 12 embarcações com características similares a de Itaipu, acredita-se que Itaipu é uma
comunidade mais representativa, tendo sido selecionada para realização de coletas primárias.
Calendário Sazonal
O calendário sazonal deve ser elaborado com vistas a ampliar o entendimento dos
ciclos dentro do sistema de vida local. A distribuição pode ser feita pelas estações do ano, por
meses, ou ainda pelo ciclo da maré e lua.
Rotina diária
Técnica que pode ser usada para descrever as tarefas realizadas e revelar a carga
horária de trabalho durante um dia. A partir dela, podem ser também evidenciadas as
diferenças existentes entre as atividades exercidas por homens e mulheres.
Matriz de avaliação
Essa ferramenta permite avaliar determinados aspectos constitutivos da produção
pesqueira (trabalho de beneficiamento, características dos recursos, composição da mão-de-
obra na embarcação, custos operacionais e de manutenção e etc) a partir de categorias que
podem ser estabelecidas a priori ou em conjunto com os participantes.
Matriz de conflitos
Permite a identificação dos conflitos existentes e dos atores sociais nele envolvidos.
Depois de identificados, propõe-se que sejam feitas, de forma comparativa a avaliação e a
classificação desses conflitos em ordem de importância.
Mapeamento preliminar
Em posse de uma cópia da carta náutica em campo, aplicou-se esta ferramenta com
pescadores que demonstram ter grande conhecimento e experiência em determinada arte ou
área de pesca. Utilizando-se de canetas e marcadores, constrói-se com o informante um
desenho sobre a base cartográfica impressa dos principais pesqueiros, marcas de terra,
correntes, conflitos, e outras categorias de informação que se julgar relevante de acordo com
os conhecimentos e interesses do informante e do pesquisador.
Mapeamento participativo
As reuniões de mapeamento participativo foram realizadas com o propósito de registrar
a distribuição espacial-temporal das principais artes de pesca nas comunidades de Quebra-
Mar, Copacabana e Urca (ex. sazonalidade de uso, freqüência da pesca, temperatura da água).
Este esforço trouxe também informações qualitativas sobre cada pesqueiro (ex. recursos
principais, características do fundo, aspectos econômicos e culturais), além da categorização
das áreas de maior relevância para a pesca (índice econômico) nestas comunidades.
10
para cada oficina é composta por um mediador (este sendo a única pessoa a conduzir o
diálogo do grupo), um ajudante de mediação (apóia o mediador com os materiais necessários,
intervém na mediação sob autorização do mediador, pode também fazer anotações) e dois
anotadores (cuidam do registro das oficinas e todas as anotações). Em algumas oficinas mais
extensas e cansativas, o mediador era substituído recorrentemente à cada mudança de arte de
pesca trabalhada. As reuniões foram filmadas, gravadas em áudio e fotografadas.
11
de 1-5 cifrões).
8o – Perguntava-se para o grupo definir e apontar em todo o mapa outros conflitos
existentes na região que pudessem ser espacializados. O grupo também era solicitado a
apontar as principais áreas de abrigo para atracação e refúgio em condições oceanográficas
desfavoráveis à navegação. Por fim, discutia-se a próxima arte de pesca a ser trabalhada pelo
grupo e então retornava-se à 5o etapa acima.
Tabela 2– Informações sobre as cartas náutica utilizada para o Sistema de Informação Geográfica.
Nome da Escala Primeira Última edição Datum Limites
Carta edição
Carta 1501 - 1:50000 1938 4ª (2001) World Geodetic Lg 43º0,0' W Lt
Baía de System 1984 22º40,0' S
Guanabara (WGS 84)
1506 - 1:75000 1957 3ª (2003) World Geodetic Lg 43º19,10' W
Proximidade de System 1984 Lt 23º5,50' S
Baía de (WGS 84)
Guanabara
2
http://www.mar.mil.br/dhn/chm/cartas/download/cartasbsb/cartas_eletronicas_Internet.htm
12
produtividade de hoje e de 20 anos atrás, conflitos dessa pesca com outras atividades
exercidas na área, aspectos culturais e informações qualitativas do pesqueiro, observações que
os pescadores tenham sobre o pesqueiro e a relevância econômica do mesmo. Os shapefiles
dos abrigos, áreas de conflito e referências terrestres têm como atributos os dados referentes
a colônia de pescadores e arte de pesca que descreveram este objeto e observações
vinculadas ao mesmo. Finalmente o shapefile de Legislação reguladora da atividade pesqueira
tem como atributos a numeração da legislação, o título dessa lei, o ente federativo que
produziu a lei e observações necessárias.
3o – A terceira etapa consiste na conversão dos shapefiles consolidados para um banco
de dados geográficos. Essa ação foi realizada utilizando o software Spring (versão 5.0.4) e
utilizou a ferramenta de importação de shapefiles. Além disso, as Cartas Náuticas Digitais
foram integradas após conversão para o formato GeoTIFF através do software GDAL.
4o - A última etapa ficou para a confecção dos mapas apresentados anexos ao relatório.
Estes foram realizados usando os softwares de apoio do Spring (Scarta e Impima).
13
Entidades ligadas à pesca: Uso de dados secundários, incluindo o processo sobre a UC;
representatividades e aspectos da Aporte de informações coletadas em outras ferramentas.
organização social dos pescadores
Infra-estrutura, Tecnologia do pescado: forma e Ferramenta: Entra e sai com pescadores; Aporte de
comercialização e acondicionamento do pescado a informações da matriz de avaliação da divisão do trabalho e
mercado bordo e forma de beneficiamento e aporte de informações do entra e sai com atravessadores.
comercialização
14
Percebe-se com isto que o debate emerge novamente no âmbito do IBAMA, quando o
órgão decide criar um Grupo de Trabalho para rever a situação da ARIE e propor a criação de
15
uma UC no local. O GT era composto pela equipe técnica do Parque Nacional da Tijuca.
Diversas reuniões aconteceram entre o órgão ambiental e grupos de interesse sobre a área
(pescadores, mergulhadores, pesquisadores, etc) entre o final do ano de 2002 e início de
2003.
Ainda ao final do ano de 2002, outra matéria publicada no jornal “O Globo” e na revista
“Veja Rio” cita que o órgão estaria estudando categorizar a UC como Parque Nacional.
Importante notar que à época já encontrava-se regulamentada a Lei do Sistema Nacional de
Unidades de Conservação (SNUC), que instituía e regulamentava as diferentes categorias de
Unidades de Conservação do país.
Em fevereiro de 2003 foi finalizado o que parece ser o primeiro “Diagnóstico sobre a
Unidade de Conservação Federal das Ilhas Cagarras”, assinado pelos analistas ambientais
lotados no Parque Nacional da Tijuca. Este documento reconhece que “...o arquipélago é
bastante utilizado pela população”, e aponta que a pesca é realizada principalmente na face
oceânica da Ilha Comprida. Este documento afirma que foram mapeadas as atividades de
pesca e ecoturismo, através de reuniões específicas com Pescadores (colônia Z-13 e
Associação dos Usuários do Quadrado da Urca), mergulhadores e praticantes da pesca
subaquática. Com base nestas reuniões e duas visitas técnicas às ilhas, os técnicos fizeram
uma análise de cenários sobre a melhor categoria de UC para a área. Dentre as principais
justificativas para a criação de uma Área Protegida são destacados os diversos atributos
ecológicos e a necessidade de controle de ameaças como a ocupação desordenada das ilhas,
turismo de mergulho sem controle, poluição e sobre-pesca. O documento aponta que a
Marinha do Brasil e a prefeitura do Rio de Janeiro estariam interessados em uma gestão e
fiscalização tripartite da UC. O melhor cenário, segundo o documento, seria a criação de um
Parque Nacional que incluiria as ilhas Cagarras, Palmas, Comprida e ilhotas adjacentes (estas
últimas já presentes na proposta de ARIE do CONAMA), Redonda, Rasa, Cotunduba (apenas
porção terrestre), do Meio, Alfavaca, Pontuda, incluindo a área marinha entre as ilhas
Cagarras, Comprida, Rasa e o arquipélago das Tijucas (apenas ilha do Meio). O texto ressalta
que esta opção é a mais restritiva para combater a degradação do ecossistema local. No
entanto, assegura que o impacto sobre a pesca seria pequeno visto que “as atividades de
pesca profissional, amadora e subaquática concentram-se em áreas específicas nas
proximidades das ilhas e nas áreas marinhas entre os grupos de ilhas”. A proposta permitiria a
pesca na área ao Sul da Ilha Comprida e a lage da Redonda, já que argumenta haver uma
grande utilização pela pesca comercial. Neste aspecto, o documento diversas vezes reforça o
esforço da equipe em conciliar os interesses do setor pesqueiro com a proposta de
delineamento da UC, conforme pode ser observado na seguinte colocação:
“A permissão da pesca em alguns pontos das proximidades das ilhas traz vantagens sociais, já
que não priva os pescadores da região de seu sustento e assegura o abastecimento de pescado
para a cidade. As artes de pesca praticadas na região são artesanais (linhas e redes), o que
16
-‐ as principais artes de pesca descritas pelos pescadores foram linha com anzol próximo às ilhas;
-‐ redes a partir de 200m das praias e preferencialmente em áreas rasas de cascalho;
-‐ denúncia sobre a presença de redes abandonadas sobre as pedras da Ilha Redonda;
17
-‐ áreas mais usadas para a pesca são a vertente oceânica da ilha Comprida, vertente oceânica da
ilha Redonda e laje da Redonda (chamada também de Banco do Brasil), Ilhas Tijuca (pesca de
linha);
-‐ pouca utilização da ilha do Meio e parte interna do arquipélago das Cagarras pelos pescadores;
-‐ pesca nas ilhas ocorre a uma distância de 10-15m das mesmas.
Neste mesmo período, a resistência de parte do setor pesqueiro artesanal à criação de uma
Unidade de Conservação na área já podia ser notada. Por exemplo, algumas importantes
reivindicações e expectativas estão bem objetivadas em ofício encaminhado pela Colônia de
Pescadores Z-7 (Niterói) ao IBAMA na época. O presidente desta colônia protestava
argumentando que a UC iria prejudicar ‘substancialmente’ pescadores profissionais e amadores
das diversas colônias de pesca da região. Nesta mesma oportunidade, cobra ainda
explicitamente que nenhuma UC fosse criada sem um amplo debate com os pescadores e
organizações da classe pesqueira, além de solicitar a viabilização de projetos para compensar
os profissionais que se utilizam das áreas.
Em nota publicada na revista “Veja Rio” (19/02/2003), os analistas ambientais do IBAMA
encarregados pelo processo de criação da UC afirmam:
O segundo “Diagnóstico sobre a Unidade de Conservação Federal das Ilhas Cagarras” foi
finalizado em maio/2003, novamente pela equipe do PARNA Tijucas e agora com a
contribuição ao processo do Núcleo de Unidades de Conservação do IBAMA-RJ, que volta a se
envolver no processo. Este documento é muito similar ao primeiro, inclusive no
reconhecimento de que o arquipélago é bastante utilizado pela população local, principalmente
a atividade da pesca na face oceânica da ilha Comprida. Esta nova proposta, contudo, altera o
encaminhamento relacionado à categoria proposta, desta vez sugerindo um Monumento
Natural, argumentando que esta categoria é apropriada às ilhas Cagarras tendo em vista sua
expressiva beleza cênica, importância ecológica e pequena dimensão.
Quanto à pesca extrativista, o documento cita que “...a solução encontrada seria a mesma
que a aplicada em outras unidades de conservação marinhas de proteção integral (como os
Parques Nacionais de Fernando de Noronha e de Abrolhos), qual seja: a delimitação da UC de
modo que sejam mantidas áreas onde as atividades de pesca possam ser efetuadas”. O
documento menciona ainda que no caso do Monumento Natural das Ilhas Cagarras “o desenho
de seus limites com este objetivo seria facilitado visto que as atividades de pesca profissional,
amadora e subaquática concentram-se em áreas específicas nas proximidades das ilhas e nas
18
áreas marinhas entre os grupos de ilhas”. Cita que a proibição da pesca em certas áreas
funcionaria como repositório das populações de peixe capturadas. Explica que a restrição à
pesca estaria nos 10m ao redor das ilhas que compõem o arquipélago. Entre estas áreas, na
parte marinha e lajes, a pesca seria então permitida, embora controlada de acordo com
orientações do Plano de Manejo. O documento novamente cita que este desenho traria
vantagens sociais, já que não priva os pescadores do seu sustento e assegura o abastecimento
de pescado para a cidade, reconhecendo que a prática da pesca artesanal causa baixíssimo
impacto às populações de peixes. Foram ainda produzidos outras duas versões deste
diagnóstico no primeiro semestre de 2003, com poucas alterações em seu conteúdo. Um deles,
por exemplo, apenas incorporou uma análise de cenários das possíveis categorias de UC para a
área, mas chegando a conclusões idênticas ao outro diagnóstico, qual seja, sugerindo um
Monumento Natural para a área.
Em 05/07/2003, os jornais “O Globo” e “Jornal do Brasil” anunciam que o deputado
Fernando Gabeira apresentou à ministra seu projeto para transformar as Ilhas Cagarras em
uma UC. O projeto de Lei do Deputado previa a inclusão na UC das ilhas Cagarras, Palmas,
Comprida, ilhota Filhote da Cagarra, Redonda, filhote da Redonda, bem como área de 10m ao
redor das ilhas e das ilhotas. Incorpora também a ilha Rasa e um raio de 200m ao redor desta.
A justificativa deste Projeto de Lei ressalta que a proposta de UC vêm sendo discutida por
um GT criado para este fim e que várias entidades manifestaram interesse pelo arquipélago,
além de mergulhadores, ONGs, colônias de pesca, pesquisadores da UERJ, Confederação e
Federação de caça submarina, operadoras de ecoturismo e clubes náuticos. Ressalta-se ainda
neste documento as várias reuniões realizadas, incluindo a participação da prefeitura, Marinha
e o mapeamento das atividades de pesca e turismo. Este mapeamento, segundo o documento,
subsidiou diversos cenários de dimensionamento e categorização da Unidade. Por fim, cita
que:
“O grupo de trabalho do arquipélago das ilhas Cagarras, baseado na análise das contribuições
oferecidas pelos pesquisadores e demais usuários das ilhas e adjacências, sugere a categoria de
Monumento Natural para a unidade de conservação federal das ilhas Cagarras.”
“...os locais onde atualmente a pesca é praticada (nas áreas marinhas entre os grupos de ilhas e
nas lajes da Redonda e das Cagarras) devem ficar fora dos limites da UC”.
19
caso o município tivesse uma Área Marinha Protegida na cidade. Nesta minuta de Decreto,
foram incluídas também as lajes Marias e Praça XI e aumentou-se a área de restrição à pesca
a 15m ao redor de cada ilha, ilhota e laje. Não foi possível, através da observação cuidadosa
dos documentos, identificar as justificativas e a procedência desta alteração na minuta de
Decreto. No início do ano de 2004, matérias no jornal “O Globo” voltam a anunciar a ‘possível
medida de criação de um Monumento Natural’ no arquipélago.
Em março de 2004, um novo projeto de Lei, agora estadual, foi apresentado, propondo
a criação do “Parque Estadual Marinho das Ilhas Cagarras, Rasa e Redonda. Esta proposta
incorpora as ilhas Rasa e Redonda e a área marítima interna do arquipélago das Cagarras e
um rio de 500m em torno de cada ilha. Embora na categoria Parque já sejam proibidas as
atividades de pesca, a proposta relata que a Zona de Proteção Integral seria definida em plano
de manejo da UC. Em documento anexo à proposta consta uma justificativa com base nos
importantes atributos bioecológicos e dos impactos atualmente presentes na área. Em maio de
2004, a Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro solicita informações ao IBAMA
sobre as propostas de UC existentes na região. Dentre as colocações, afirmam que o
arquipélago das Cagarras é área integrante do território do Rio de Janeiro segundo a Lei
Orgânica do Município. Durante o ano de 2004, pouco mais aconteceu no âmbito do processo
de criação de uma UC na região, apesar do projeto estar tramitando na Câmara dos Deputados
e poder entrar em pauta a qualquer momento, segundo relatos da época.
Um quarto documento foi apresentado em fevereiro de 2005 entitulado “Proposta de
Criação do Monumento Natural das Ilhas Cagarras”, apresentando as atividades realizadas pela
equipe do IBAMA do Rio de Janeiro e sugestões sobre o dimensionamento, categorização e
gestão. Poucas alterações são observadas neste novo documento quando comparado ao último
encaminhado em 2003. Esta proposta de UC incorpora as seguintes ilhas:
-‐ Ilhas Cagarra, Palmas, Comprida, Rasa e Redonda, ilhotas Filhote da Cagarra e filhote da
Redonda, lajes Matias, Praça XI e da Redonda, próximas ao largo de Ipanema;
O documento aponta que em função de reuniões com pescadores que utilizam as ilhas,
optou-se por restringir a proposta do Monumento Natural à parte emersa das ilhas e a seus
costões rochosos, de modo a permitir, portanto a pesca sustentável no arquipélago. Exceção
se faz às ilhas Rasa, Redonda e o filhote da Redonda. Neste caso se optou pela inclusão no
Monumento de uma faixa de 200m a partir do limite das ilhas. Ainda segundo o documento:
“Estas são as ilhas mais isoladas do Monumento, menos utilizados para pesca e com mais
significativa biota marinha, o que justifica sua proteção integral.”
Esta proposta descreve alguns pontos positivos e avanços, como o apoio da Marinha e da
20
“...os pescadores da Colônia Z-13 de Copacabana, que sempre vivemos da subsistência da pesca
diária nas ilhas, e que somos os maiores conhecedores e interessados nos problemas que afligem o
21
nosso arquipélago, não podemos aceitar ser deixados de lado de um grupo gestor que vai administrar
uma área que é nosso local de trabalho, visto que temos uma situação geográfica única de estar em
um perímetro de apenas quatro quilômetros das ilhas, e fazemos questão de participar, com voz
ativa dentro desse grupo, e contribuir com nossa experiência e conhecimento, para a melhor
proteção possível do arquipélago”.
Parece claro neste momento que a o longo espaço de tempo transcorrido sem reuniões do
órgão ambiental com os pescadores (mais de 1 ano sem encontros presenciais documentados
no processo administrativo), somado às mudanças inesperadas até pelo próprio órgão
ambiental no texto da minuta do Decreto aprovado na Câmara dos Deputados, causaram
dúvidas do setor pesqueiro quanto a legitimidade do processo de criação da UC.
Ao longo dos próximos meses, pouco aconteceu no processo de criação de UC na área. Até
abril de 2006, os documentos existentes no processo administrativo tratam apenas sobre a
proposta de Resolução Conama 011/1989 e sua validade. Através da análise jurídica e técnica,
ficou esclarecido que a ARIE das ilhas Cagarras não existe e portanto seus artigos não
possuem efeitos legais.
Em abril de 2006, o Deputado Estadual Carlos Minc (RJ) encaminha à Ministra de Meio
Ambiente Marina Silva uma solicitação para que fosse criada com urgência o que chamou de
“Monumento Natural das Ilhas Cariocas”, abrangendo praticamente todas as ilhas e ilhotas do
litoral dos municípios de Niterói e Rio de Janeiro. Carlos Minc informa também que o Deputado
Fernando Gabeira apoia este projeto, já que amplia a proposta apresentada por ele. A minuta
de Decreto encaminhada junto ao ofício inclui no Monumento Natural:
-‐ as Ilhas Rasa de Guarativa, Urupira, das Pecas e a ilhota próxima à Urupira, o arquipélago das
Tijucas, ilhas Cagarras, Palmas, Comprida, Filhote da Cagarra, Matias, Praça Onze, Ilha Redonda,
Filhote da Redonda, Ilha rasa, Ilha Cotunduba e a área marítima num raio de 50 metros ao redor
das ilhas;
-‐ as ilhas do Pai, Mãe e Menina e a área marítima num raio de 30 metros ao redor das ilhas.
Vale ressaltar que esta proposta não foi discutida com os atores sociais da região. Em
outubro de 2006, o Núcleo de Unidades de Conservação do IBAMA-RJ produz documento onde
argumenta que o processo do “Monumento Natural das ilhas Cariocas” trará dificuldades de
operacionalização em vista da grande magnitude da proposta. A inclusão de diversas ilhas
acarretaria também a desvalorização daquelas com importância mais relevante à conservação.
Sugerem assim a continuidade do processo de criação do “Monumento Natural das Ilhas
Cagarras”.
Em novembro de 2006, uma reunião foi realizada no IBAMA, com a participação de
diversos atores sociais interessados na área, incluindo pesquisadores, pescadores profissionais
e amadores. Durante a reunião foi apresentado ao grupo a proposta do Deputado Carlos Minc
22
e uma outra proposta da Marinha, restrita ao arquipélago das Cagarras. A proposta da Marinha
propõe uma área interna de proteção integral e uma zona externa de amortecimento. A Ata da
reunião inclui algumas observações feitas pelos diferentes grupos ali representados. Enquanto
um pesquisador da UFRJ argumentou que todas as ilhas cariocas deveriam ser integralmente
protegidas, um pescador da Colônia Z-13 fortalece a idéia de que mais importante que a
preservação dos peixes é a das pessoas, pois o maior dano à vida marinha está sendo causado
pela poluição ‘monstruosa’ do emissário submarino. A Ata afirma que nenhum dos
representantes presentes se opôs à criação do Monumento Natural, havendo dúvidas apenas
quanto a seus limites (diferentes propostas apresentadas). Descreve também que houve um
consenso no meio acadêmico sobre a importância ecológica das ilhas Rasa e Redonda. Deu-se
o prazo de 15 dias para as instituições presentes encaminharem a sua proposta de UC para o
IBAMA, os quais seriam utilizados pelo IBAMA para preparar para a audiência pública.
Diversos ofícios foram recebidos e incorporados ao processo administrativo de criação da
UC. O primeiro deles oi encaminhado pela Colônia de Pesca Z-13 em 21/11/2006, o qual
pontuou 8 tópicos de relevância para a Colônia:
Outro ofício de destaque foi assinado por várias instituições3 representantes da pesca
esportiva, pesca subaquática, turismo, pesca profissional e ONG. O ofício apresenta 8 tópicos
de argumentação para por fim prestar apoio à proposta apresentada pela Marinha do Brasil na
reunião realizada em novembro de 2006. Dentre os tópicos, comenta que a proposta
apresentada pela Marinha “...limita-se ao Arquipélago das Ilhas Cagarras, viabilizando ainda
instrumentos, no âmbito do Plano de Manejo da UC a ser criada, para o desenvolvimento da
pesca artesanal na sua Zona de Amortecimento, em suas diversas modalidades”. Este
documento apresenta também uma minuta de Decreto de Unidade de Conservação, que em
3
Iate Clube do Rio de Janeiro (ICRJ), Clube Marimbas, Confederação Brasileira de Caça Submarina
(CBCS), Federação de Caça Submarina do Estado do Rio de Janeiro (FCSERJ), Marina Barra Clube,
Associação Brasileira dos Construtores de Barcos e Seus Implementos (ACOBAR), ONG VIVAMAR, MBC,
Neltur–Niterói Tur, Colônia Z-7 (Niterói) e Riotur.
23
seu artigo segundo, institui duas zonas: 1) zona de proteção integral e 2) zona de
amortecimento. A primeira seria composta pelas ilhas Cagarra, Palmas, Comprida e filhote da
Cagarra, bem como a área marítima interna do arquipélago, limitada pelos costões internos
dessas ilhas e pelos segmentos de reta que unem as tangentes externas das extremidades
dessas ilhas. Esta área proibiria atividades danosas ao ecossistemas, competições esportivas,
acampamento, porte de armas de fogo e outras atividades previstas em plano de manejo. A
segunda área seria composta por faixa de 500m no entorno da zona de proteção integral, onde
seria proibida a pesca com redes, armadilhas e outros petrechos danosos a fauna marinha,
além daqueles previstos em plano de manejo. A proposta ainda autoriza a prática de mergulho
na Zona de Proteção Integral, o afundamento deliberado de navios (recifes artificiais) e o
fundeio de embarcações em situações de mau tempo.
Foram também encaminhados neste período diversos pareceres técnicos de
pesquisadores da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e UFF (Universidade Federal
Fluminense). Um dos documentos da UFRJ recomenda a inclusão, na área de maior restrição
de uso, da porção interna do arquipélago da ilha Cagarras e a totalidade das ilhas Redonda e
Rasa em função da alta diversidade de esponjas. Argumenta também que a pesca poderia ser
permitida na porção externa das Ilhas Cagarras e nas ilhas Cotunduba, Tijucas e Maricás, sem
prejuízo para a proteção da fauna da região. O parecer encaminhado pela UFF traz algumas
observações sobre as características ecológicas marinhas da área e recomendações:
“...parte da região rochosa sublitorânea das Ilhas está visivelmente empobrecida em termos de
invertebrados, algas e peixes bentônicos, em relação ao esperado para esses ambientes”,
principalmente se tratando de espécies de peixes predadores, o que “corrobora a criação urgente
de uma área de proteção marinha no local”;
“...uma unidade de conservação local, contribuirá para a recuperação e manutenção dos recursos
ambientais do arquipélago, potencializando o desenvolvimento de atividades econômicas
sustentáveis, e maximizando o rendimento das pescarias artesanais em áreas adjacentes como
acontece em outras partes do mundo”;
“...baseado na análise das contribuições oferecidas pelos pesquisadores e demais usuários das
ilhas e adjacências, sugeriu a categoria de Monumento Natural para a unidade de conservação
federal das Ilhas Cagarras”.
24
O texto procura também deixar claro que a minuta de Decreto foi baseada no Projeto de
Lei do Deputado Fernando Gabeira, e que foram atendidas as reivindicações dos pescadores:
25
Neste momento, a ONG VIVAMAR aparece como uma importante instituição nas
articulações referentes à criação da UC em Cagarras. O processo documental inclui uma
publicação veiculada no site desta ONG, trazendo sérias criticas ao processo de criação e ao
conteúdo da proposta apresentada pelo IBAMA-RJ. O texto da ONG VIVAMAR é apresentado no
site em tom de denúncia:
“...numa reviravolta inesperada, em que foi afastado o projeto original do deputado Fernando
Gabeira, o IBAMA propôs uma nova unidade de conservação nas ilhas Cagarras (RJ) que
prejudicará o setor náutico na região”
Informa também que em novembro de 2006 o IBAMA convocou uma reunião para levar ao
conhecimento público uma proposta ‘fechada e para aprovação rápida’ que surpreendeu a
todos os presentes pois era diferente da proposta do Dep. Fernando Gabeira, que previa
apenas uma zona de amortecimento de 10m, a qual não prejudicava o setor náutico,
26
navegação e pesca amadora. Informa que o IBAMA pediu a arquivação da proposta do Dep.
Gabeira e propôs uma UC que inclui ainda as Ilhas Rasa, Redonda e uma zona de
amortecimento de dois quilômetros. Comenta que a Marinha apresentou uma emenda que
exclui as Ilhas Rasa e Redonda da nova UC e reduz a zona de amortecimento para 500m.
Informa que houve uma reunião entre diversas entidade para apreciação da proposta da
Marinha, onde participaram a VIVAMAR, Acobar, representantes da ICRJ, federações de pesca
e dirigentes de colônias de pesca. À cerca desta reunião, o texto afirma que os presentes
foram:
“surpreendidos por essa iniciativa do IBAMA em isolar mais ilhas do litoral brasileiro do setor náutico,
comprovadamente totalmente sustentável, gerador de empregos e recursos”.
Por fim, informa que embora não concordassem com a íntegra da proposta da Marinha, foi
decidido o apoio de todos à alternativa apresentada, na qual a nova unidade ficasse restrita às
quarto principais ilhas do arquipélago, excluindo as ilhas Rasa e Redonda, e que a chamada
zona de amortecimento se limitasse a 500m.
Esta articulação desconstrutiva da ONG VIVAMAR parece ter sido relevante ao processo,
pois provocou por parte do IBAMA um documento respondendo às informações relatadas pelo
site da ONG.
No primeiro ponto, o texto do IBAMA esclarece que a proposta inicial de criação do
Monumento Natural é do IBAMA e não do Deputado Fernando Gabeira. Informa que desde
2002, diversas instituições participaram do processo de criação através das reuniões. Relata
ainda que:
“Desse democrático processo de discussão culminou, em junho de 2003, a proposta apresentada pelo
referido grupo de trabalho à Diretoria de Ecossistemas do IBAMA Sede, em Brasília...”
27
Marinha do Brasil, em reunião realizada entre as duas instituições (com ata constituinte do
processo). Segundo o documento:
-‐ A analista ambiental Adriana Carvalhal apresentou uma palestra sobre o uso de Áreas Marinhas
Protegidas enquanto ferramenta de gestão pesqueira;
-‐ O analista ambiental Breno Herrera apresentou a proposta de UC, incluindo justificativas e
histórico do processo. Segundo consta na ATA, foram comparadas as diversas propostas até a
mais recente. Explica os motivos pela exclusão da Ilha Rasa (solicitação da Marinha do Brasil) e
das ilhas Niterói e Cotunduba (pesca artesanal), bem como algumas lajes submersas. Apresentou
também as perspectivas de gestão caso a UC fosse implementada;
-‐ Foi proposto por alguns a votação para cancelamento da consulta pública, oque foi negado em
função de que esta não é deliberativa;
-‐ A plenária reclamou que não há estudos socioeconômicos sobre a área, sendo respondido que os
estudos foram feitos e estão disponíveis para todos;
-‐ Eduardo Bracony (CBPDS) – não é contrário, e gostaria que fosse proibida a pesca predatória e
subaquática por amadores, além de aumento de fiscalização;
28
-‐ Roberto Negraes – ONG VIVAMAR – Afirma que não existem estudos apontando que a pesca
artesanal e amadora são responsáveis pela diminuição de recursos pesqueiros. Chamou a
atenção que o Conselho Gestor de um Monumento Natural não é deliberativo. Acredita que a UC
vai gerar desemprego, principalmente de pescadores. Encaminhou também uma proposta
alternativa para discussão, que foi elaborada consensualmente entre a ONG que ele representa e
a colônia de pesca Z13;
-‐ Eduardo Souto de Oliveira (Vice-Presidente Confederação Brasileira Pesca Submarina) – solicitou
que o IBAMA apresentasse dados estatísticos dos impactos de cada atividade, incluindo a pesca
subaquática na proposta de UC;
-‐ Fernando Farina (Associação de Pesca Submarina) – não concorda com a proposta na forma atual
e comenta que é tão ruim que até uniu setores que se históricamente discordavam;
-‐ Luiz Antônio Pereira (Presidente Federação Internacional de Pesca em Apnéia) – duvida que
exista transbordo de Cagarras para outras áreas, e que se os pescadores serão proibidos de
pescar na área, então não se beneficiarão. Não concorda com a anexação de outras ilhas pois irá
gerar desemprego.
-‐ Sergio Aníbal (UFRJ, Fundação Brasileira de Conservação da Natureza) – Diz que participou da
primeira proposta do CONAMA. Defende que seja uma UC de uso sustentável. Argumentou que a
área ainda conserva suas riquezas conforme a apresentação do próprio IBAMA. Acha que não
houve estudos sobre a parte pesqueira.
-‐ Marcelo Vianna (UFRJ) – acredita que o IBAMA esteja motivado pela possibilidade de recursos de
compensação ambiental, e que isto é legítimo. Acredita no entanto que uma APA seja a categoria
adequada, em que houvessem áreas específicas de exclusão da pesca. Considerou os estudos
apresentados para a criação da UC como superficiais.
-‐ Nilton José Lobato Filho (pescador subaquático) – gostaria de continuar a utilizar a área. Sugere
um estudo de viabilidade para que se possa continuar a haver atividades como esta. Sugere uma
votação.
-‐ Fernando (Museu Nacional) – defende que as ilhas são pontos de apoio para pesca subaquática e
artesanal, e acredita que o problema está na falta de fiscalização, sendo que a UC não resolverá
o problema. Sugere mais esforço em Educação Ambiental. Acha que as pesquisas apresentadas
são válidas e não devem ser desmerecidas pela plenária.
-‐ Bianca (Sociedade Vegetariana Brasileira) – favorável à proposta. Se manifestou com pesar pela
não participação do Ministério Publico. Parabenizou o estudo do IBAMA;
29
-‐ Luís Carlos Varella (Colônia Z-13) – segundo a Ata, “criticou a proposta porque engloba toda a
parte marinha no entornodas Cagarras e em virtude disso os pescadores que atuam na área não
desejam a pesca predatória e critica que o estudo realizdo pelo IBAMA foi fraco e que a
fiscalização não é atuante, pois barcos atuneiros entream na praia de Copacabana e nas
proximidades das Cagarras, provocando o sumiço das sardinhas no mar de Copacabana”.
-‐ Ricardo Nehrer (Instituto Baía de Guanabara) – ainda que rudimentar, indicou que os pescadores
possuem uma gestão dos recursos e utilizam arrastão de mutirão como atividade tradicional, mas
estão perdendo suas tradições. Indica que já existe uma utilização de UCs pelos pescadores de
forma sustentável. Para ele, existe um histórico de uso sustentável dos recursos. Argumenta que
pescadores podem inclusive realizar atividades de controle juntamente ao poder público.
-‐ Manoel Arthur Vilaboim (Revista Linha Verde) – criticou que a UC seja criada com base na falta
de fiscalização, indicando que a Marinha e IBAMA falham na realização conjunta da fiscalização.
Comentou que faltam estudos sobre os estoques pesqueiros no Brasil.
-‐ Após acordar em não abrir para novas inscrições, o analista ambiental Breno deu
esclarecimentos. Disse que o trânsito de embarcações não seria impedido, o ecoturismo será
incentivado, comentou que a fiscalização é acentuada e focada em UCs, disse que embora
pesquisadores desejem ampliar o tempo de pesquisa, os estudos na área foram realizados a
contento, esclareceu que existem outras proibições ou restrições à pesca (espaciais e temporais),
esclareceu que o abrigo de embarcações é autorizado em qualquer ilha em caso de mau tempo,
citou que embora uma UC de proteção integral atraia recursos de compensação integral esta não
é o principal motivo;
-‐ O presidente da mesa disse que ninguém foi contrário à criação de uma UC na área, e que então
se proponha uma UC de uso sustentável, comentando que as propostas serão discutidas e
incorporadas ao processo de criação;
-‐ A Sra. Kátia Janine (presidente da colônia Z13) comentou que a colônia pode dar apoio à
fiscalização do IBAMA;
-‐ Sr. Gilberto Huet (Marinha) disse que a Marinha não é contraria a proposta pois não interfere com
suas atividades;
-‐ Sr. Jaime Tavares (SEAP) comentou que as manifestações contrárias são saudáveis;
30
informações sobre o tipo e quantidade de embarcações que utilizam a área, quais artes de
pesca e espécies alvos, sendo que estas são informações importantes para o processo. O
documento sugere também que seja firmado um compromisso entre SEAP/IBAMA/Marinha do
Brasil para o desenvolvimento de ações de fiscalização na UC e seu entorno.
Em matéria publicada no jornal “O Globo” intitulada “As ilhas da Discórdia”, a autora apresenta
a sua experiência durante a audiência pública de criação da UC. Comenta sobre as discórdias e
discussões acirradas, apresentando os principais argumentos narrados no evento. Por fim,
informa que o IBAMA abriu a discussão da criação e que haveria nova audiência onde seria
apresentada uma nova proposta.
Durante a audiência, a ONG VIVAMAR encaminhou uma proposta de minuta de Decreto. O
texto inclui as ilhas Pontuda, Alfavaca e do Meio, Ilhas Redonda e filhote da Redonda, ilhas
Cagarra, Palmas, Comprida e filhote da Cagarra, e a área marítima interna do Arquipélago das
Ilhas Cagarras. Sugere também uma Zona de Amortecimento nas áreas marítimas situadas em
volta das ilhas e da área marítima que compõe a unidade, com 500m de largura.
Esta última proposta se difere daquela apresentada em audiência pelo IBAMA no que se
refere aos limites da porção marinha de proteção integral. A discordância ocorre na medida
em que proposta do IBAMA a pesca em faixa de 200m no entorno das Ilhas Redonda e Filhote
da Redonda, assim como 200m ao redor da área marítima interna do arquipélago das
Cagarras.
31
Figura 4 – Início da praia da Barra (ponto vermelho à esquerda) e Quebra-Mar (ponto vermelho à
direita), Rio de Janeiro.
4.1 Metodologia
32
Figura 5 – Canal da Barra, elevado do Joá e espaço tradicionalmente ocupado pelos pescadores da Barra
da Tijuca, Rio de Janeiro.
33
34
35
Ainda que a pesca seja a principal atividade econômica exercida pelos pescadores do
Quebra-Mar, é possível que estes realizem outra função remunerada por meio da prestação de
serviços temporários e eventuais fora do período diário dedicado à pesca, os chamados
“bicos”, pois as atividades de captura e comercialização de pescado geralmente ocorrem entre
a manhã e o início da tarde. Segundo as informações obtidas cerca de 30% das esposas dos
pescadores trabalham fora, enquanto as restantes dedicam-se aos serviços domésticos em
suas próprias residências.
Pesca de Rede
A pesca de rede pode ser exercida por até três pescadores em cada embarcação
(Tabela 6), sendo mais usual que dois pescadores a realizem: o dono do barco e o ajudante.
Durante a pescaria os pescadores realizam as mesmas funções dentro da embarcação (escolha
dos pesqueiros e puxada de rede), porém, ao chegar em terra as tarefas se diferenciam,
cabendo ao ajudante a limpeza e a venda da produção nas bancas, bem como, o remendo das
redes.
Dono do barco* barco com motor, 2 partes (uma pelo barco e uma
por ser pescador)
incluindo sua manutenção
mecânica e as redes
Ajudante* Força de trabalho 1 parte
Combustível Combustível
*Quando o dono do barco não sai p/ pescar fica com uma parte da produção total.
**Quando o ajudante possui rede a partilha pode ser feita meio a meio e o combustível é bancado pelo dono do
barco.
Local: Quebra-mar Data: 02.10.08
Participantes: Valtinho e Alexandre
Quando o proprietário do barco não participa da saída de pesca, ele delega a função a
um pescador específico e retira somente a parte da embarcação, sendo o restante dividido
entre os pescadores, mas esta não é uma prática usual no local.
Pesca de Linha
A pescaria de linha é bem menos praticada nessa localidade se comparada à de rede e
está direcionada, principalmente, à captura de anchova nas ilhas e lajeados (durante o ano
36
todo) e à lula (zangarelho) no verão, ainda que outros recursos estejam presentes nas
capturas, tais como: olho de cão, marimbá, olho de boi e etc. Nas pescarias de linha, utilizam
normalmente molinetes e iscas artificiais, sendo a mais comum a rapala para capturar
anchova.
Nas saídas dedicadas a essa pescaria vão, normalmente, dois pescadores que, depois
de descontadas as despesas com combustível e gelo, utilizado para conservação do pescado a
bordo, dividem a produção igualmente. A opção por dividir a produção em 50% para cada um,
decorre do fato de que em uma saída de pesca, um pescador pode capturar mais que o outro
de forma intercalada e da tendência de maior valorização desse tipo de pescado no mercado
consumidor.
37
38
39
A sobreposição de áreas de pesca tem resultado na perda e avaria das redes, trazendo
prejuízos financeiros aos pescadores, seja do ponto de vista da produção seja do ponto de
vista de gastos com a reposição e confecção desses petrechos. A depender da área de pesca
utilizada, os envolvidos podem incluir a frota artesanal ou industrial do estado e de outras
unidades da federação.
O roubo de redes costuma ocorrer mais perto da costa e atinge, principalmente, na
área onde colocam a rede alta (de fundo), perto das Ilhas Tijucas, nos lajeados, e na praia da
Barra. Essa área é também utilizada pelas traineiras de cerco de até 10 metros de
comprimento, a quem são atribuídos as “perdas” (roubos). Os pescadores relataram que é
possível que os barcos de cerco ao não conseguirem fazer uma boa captura roubem,
eventualmente, as redes dispostas por eles perto da costa.
A maior queixa, contudo, se refere aos barcos de maior poder de pesca, como os
arrasteiros de camarão e peixes, chamados chifrudos e, os de cerco chamados pau broca
(porto de origem: Jurujuba, Ilha da Conceição, Cabo Frio e sul do país), que operam a partir
da profundidade de 30 metros (Figura 8). Essa frota, além de danificar o material utilizado
pela pesca artesanal, possui instrumental tecnológico avançado, compete pelos mesmos
recursos capturados nas redes dos pescadores do Quebra-Mar e contribui para a queda da
produtividade de suas pescarias. Dessa forma, a partir dessa profundidade, consideram área
de risco, podendo haver avaria ou perda de petrechos, sendo os mais danificados: as redes
corvineiras, as redes de caceia e a rede alta.
A fim de ilustrar a influência dos barcos de grande porte na disponibilidade e
produtividade dos recursos capturados pela pesca artesanal, um pescador relatou, em
fevereiro de 2009, que a safra da corvina (“peixe do mês de janeiro”) estava prejudicada, pois
esse peixe ainda não havia aparecido e sua produção estava bastante irregular se comparada
a anos passados. Afirmou que o “sumiço” da corvina ocorreu durante a semana santa do ano
de 2006 ou 2007, quando os grandes barcos de cerco (pau broca) arrasaram os cardumes que
subiam para meia-água, a fim de comer o camarão que tinha invadido a costa e não havia
ficado no fundo. Na sua concepção, desde então, a corvina deve estar crescendo e quando
aparecer de novo (em quantidades maiores) virá do fundo, aumentando a chance de captura
de quem trabalha com rede de emalhe.
40
Dessa forma, a pesca ilegal e a ausência de fiscalização por parte do IBAMA, além de
comprometer a sustentabilidade dos recursos pesqueiros e refletir na sustentação material dos
pescadores, tem contribuído bastante para a falta de efetividade das medidas de ordenamento
existentes e para o descrédito das políticas e ações dos órgãos de governo junto aos
pescadores. Em decorrência desse processo, temem que a criação de uma Unidade de
Conservação em Cagarras venha a significar aumento da pressão de pesca em áreas que
possuem grande importância econômica para suas pescarias, tais como as Ilhas Tijucas e
lajeados adjacentes.
Mesmo às frotas artesanais de cerco e arrasto são imputadas condutas consideradas
prejudiciais e conflituosas em relação à pesca de rede. As áreas onde ocorrem os maiores
conflitos, também envolvendo avaria dos petrechos são a Praia de São Conrado, onde os
barcos artesanais de arrasto operam a menos de 100 metros da praia (porto de origem: Ilha
da Conceição, Niterói e Jurujuba), e o local onde as traineiras de 8 a 10 metros fazem o cerco
(profundidade de 10 metros). No trecho que vai do emissário da Barra até o início da praia do
Recreio, a avaria de material é causada por pescadores amadores de caça submarina, uma vez
que essa região possui diversas lajes que são freqüentadas por esse público.
Nas Ilhas Tijucas, os pescadores relataram ter crescido bastante o turismo de pesca
esportiva nesse último verão, principalmente nos pesqueiros Pargueira e Surriá, aumentando a
competição pelos recursos capturados na linha com a isca rapala. Segundo relatos dos
41
42
Figura 9 – Foto aérea publicada no site do jornal “O Globo”, no dia mundial do meio
ambiente. A imagem revela a mancha de sedimentos em suspensão (incluindo poluição)
que parte do canal da Barra. Observa-se as ilha Cagarras (ao fundo à direita) e as Ilhas
Tijucas (ao centro, à direita).
43
registrados na Colônia Z-13 para obter suas carteiras de pesca. No entanto, conforme
legislação em vigor, a Colônia continua sendo a responsável pelo seguro-defeso e
aposentadoria no INSS.
44
Rede linguadeira
Além do linguado, a rede linguadeira (Tabela 8) captura arraia e ainda viola em grande
quantidade no verão. É colocada paralelamente à linha de costa, a partir de uma distância de
500 metros da praia até uma profundidade de 12 metros.
A rede linguadeira é a mais barata de todas as utilizadas pelos pescadores do Quebra-
Mar, já que quanto maior a malha, menor o custo. Tanto a linguadeira como a corvineira são
chamadas de redes “dorminhocas” ou “come-dormes”, pois que são fixadas num dia e
recolhidas no outro.
Rede de robalo
Esse petrecho costuma ser utilizado perto dos costões para capturar o robalo (Tabela 8)
que gosta da pedra, mas também se captura corvinas médias. Um pano de rede de robalo
custa cerca R$ 80,00, sendo que são utilizados 2 panos de altura.
Rede corvineira
A rede corvineira (Tabela 8) é dividida em dois tipos: uma de fio mais fino, com malha
40 a 55, colocada até 30 metros de profundidade; e outra de malha mais graúda (de 55 a 80)
e fio mais grosso (60), utilizada mais distante da costa.
Os principais recursos capturados com a corvineira miúda são: corvina miúda, pescada,
anchova, olho de cão, robalo, espada, cabrilha, xerelete, bonito, tira e vira, merluzinha e
prego. Já com a corvineira graúda capturam: viola, tubarão, pescada, pargo, marimba, corvina
(corvina gold), corvina castanha, cavaquinha, cherne, cação anjo, tamboril e cação.
Outra particularidade revelada pelos pescadores sobre essas redes é a posição em que
se colocadas; até os 30 m, a rede é colocada perpendicularmente à praia; nas profundidades
maiores, principalmente no pesqueiro Bin Laden (60m), a posição da corvineira é colocada
paralelamente à linha de costa, em função do risco de a rede ser levada pela operação e maior
45
Corvineira Corvina; Perto da costa e no Coloca pela manhã Primeira mais cara
Bin Laden (10 a 12 e recolhe no dia
Cação;
milhas da costa) seguinte
Viola;
Anchova;
Pescadas
Rede Alta (de Anchova (na boca Nos lajeados perto Lances que duram Segunda mais cara
fundo) e de caceio da noite ou no das ilhas (caceia) e de 30 a 40 minutos
(de superfície) clarear do dia, por terra (rede (caceia)
“quando o peixe alta)
come”;
Xerelete
Robalo Robalo Perto dos costões Do dia para a noite Terceira mais cara
(“onde o robalo
Corvina (média)
gosta de ficar”)
Tainheira Tainha; Perto dos costões Do dia para a noite Terceira mais cara
Corvina
46
preços de venda praticados ao longo do ano para cada um dos recursos listados. Pode-se
observar que determinados recursos têm safras no verão, outros no inverno e alguns
apresentam uma captura estável ao longo do ano. Nos meses em branco não existe captura
das espécies correspondentes (Tabela 9).
A base da produção local está centrada na corvina, anchova e linguado, peixes que
apresentam regularidade de captura, ainda que o tamanho varie conforme a época do ano.
Para o pescador, o peixe gosta de movimento e vem atrás de comedoria; porém, a
temperatura e a cor da água também influenciam a captura do recurso. Alguns exemplos são
colocados a seguir:
Corvina: dá o ano todo, porém no verão capturam mais graúdas; com o mar agitado dá maior
quantidade;
Olho-de-cão: essa espécie (Figura 10) se alimenta da lêndea do camarão e dá muito na praia
da Barra, onde o camarão se cria; no verão podem capturar até 300 quilos por dia.
Porém se entra vento forte e o mar fica mexido, ele some.
Perna de moça: não é muito pescada na Barra. Segundo os pescadores, apareceu mais 2008
por causa do espante dos barcos de arrasto lá fora;
Maria mole, anchova e xerelete: gostam de água fria e aparecem mais no verão. A anchova
tem mais regularidade alterando-se só as estratégias utilizadas para sua captura, pois,
na água gelada vai para o fundo e na água quente encosta e anda na meiágua;
Goete: capturam ao longo de todo o ano – espécie que “vem” na rede corvineira,
acompanhando as espécies mais capturadas;
Tainha: normalmente captura-se em maior quantidade nos meses de maio, junho e julho, mas
em 2008 chegou só em agosto;
Cavalinha: apareceu muito em 2008, depois de alguns anos sem dar produção, porém, os
barcos industriais também efetuaram boas capturas.
Sardinha: capturam muito pouco; só de tarrafa em alto-mar.
Dourado: capturam mais no verão, de setembro a março, depois disso ele some;
Olho-de-boi: é um peixe de passagem, gosta da água quente e clara e de comer lula;
Lula: gosta de água quente e aparece mais no verão, nos meses de janeiro a março;
Bonito: gosta de água morna; contudo tem bastante disponibilidade, pois nem com água fria
essa espécie desaparece e, na visão dos pescadores, atrapalha outras pescarias;
Pampo: peixe de verão, pesca-se quando o mar deixa;
Pargo: peixe de água gelada;
Espada: costuma ser capturado na época de lula (que é seu alimento), peixe que “detona a
rede” (danifica);
Cação: o inverno é a época de captura, porém é um peixe que não chega mais porque os
barcos de arrasto capturaram a comida do cação; peixe que gosta de água morna e limpa.
47
48
49
Anchova grande 10 12
Anchova pequena 8 12
Arraia 5 6
Badejo 20 23
Bagre 4 5
Bonito 3 4
Cação 10 12
Carapeba 10 12
Cioba 10 15
Corvina grande 6 8
Corvina pequena 5 7
Espada 4 5
Galo 12 15
Garoupa 20 25
Linguado 20 25
Lula 15 15
Marimbá 6 7
Olhete 15 18
Olho de Boi 18 18
Polvo 15 16
Pampo 12 15
Piragica 4 5
Robalo 20 25
Sardinha 5 6
Sargo 8 10
Serra 5 7
Tainha 7 9
Pargo grande 12 15
Pargo pequeno 8 8
50
51
52
53
Confecção de redes
O material utilizado para a confecção e remendo das redes são adquiridos em lojas
comerciais especializadas de Niterói e da Zona Oeste do Rio de Janeiro. Os remendos são
feitos no próprio Quebra-Mar pelo ajudante de pesca e eventualmente pelo dono da rede, pois,
hoje em dia, está cada vez mais difícil encontrar profissionais especializados nesse tipo de
serviço.
No Quebra-Mar de quatro a cinco pessoas entralham as redes. Para cada pano de rede
consertada paga-se R$ 20,00/dia. As despesas relativas à mão-de-obra necessária para esse
serviço custam cerca de R$300,00 por rede. A Tabela 12 descreve os custos envolvidos na
confecção de uma rede corvineira.
54
55
Tabela 14 – Pescadores mais experientes nas diferentes modalidades de pesca, segundo a recomendação
dos pescadores do Quebra-Mar, Rio de Janeiro.
Nome do Modalidade de pesca
informante rede linha mergulho
Luiz Carlos Boréo, Valtinho e Luiz - -
Carlos
Alexandre Boréo, Gilson e Valtinho Marcelo, Fabio e Pica- Marquinhos
Pau (Aluísio)
João Cardoso João Cardoso, Valtinho e Marquinhos e Pica-Pau
Luiz Carlos (Aluísio)
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Situado no extremo sul da praia de Copacabana (Figura 13), o Posto 6 (Figura 14) é
constituído pela sede da Colônia de Pescadores Z-13, por uma área destinada as operações
regulares de pesca – chegada e saída de embarcações, incluindo um guincho para tal – e por
uma área utilizada para manutenção das redes e comercialização do pescado.
O Posto 6 possui os pescadores que, a priori, estão dentre aqueles que utilizam mais
intensamente as áreas adjacentes ao Arquipélago de Cagarras, tendo sido suas lideranças que
solicitaram a revisão de categoria de Unidade de Conservação proposta na Audiência Pública
realizada em 02.05.2007 e que gerou a demanda pelo estudo aqui apresentado.
5.1 Metodologia
As atividades relativas a primeira etapa do projeto consistiram em visitas ao Posto 6
realizadas entre os meses de abril e julho de 2008. Em cada uma das visitas, previamente
agendadas, um grupo de pessoas que está associado à atividade pesqueira era abordado:
pescadores de rede, pescadores de linha, pescadores de mergulho, pescadores que atuam em
mais de uma arte de pesca, donos de embarcação, vendedores de peixe, tratadores de peixe,
arrematadores de rede ou diretoria da Colônia de Pescadores Z-13 de Copacabana.
57
Figura 13– Praia de Copacabana (ponto vermelho na imagem à esquerda) e Posto 6 (ponto vermelho na
imagem na figura à direita), Rio de Janeiro.
58
59
60
A divisão da força de trabalho entre os pescadores do Posto 6 foi analisada para as três
principais artes de pesca realizadas nas áreas adjacentes ao Arquipélago das Cagarras: linha,
rede e mergulho.
Considerando que a cadeia produtiva do pescado desembarcado no Posto 6 é curta e as
atividades de comercialização são desenvolvidas ali, a divisão de trabalho entre
pescadores/dono de barcos e vendedores de pescado também foi contemplada.
De maneira análoga, as atividades de comercialização do pescado e manutenção das
redes foram objeto de análise. Em especial, foram entrevistadas duas mulheres que atuam
nessas atividades, em função da necessidade de avaliar o papel feminino nas atividade
pesqueira do Posto 6.
Pesca de Linha
A pescaria de linha comumente é realizada por três pescadores, sendo que o
proprietário da embarcação, quando participa da atividade, atua como mestre.
As variações ocorrem em relação ao número de tripulantes, podendo ser praticada por
dois, três ou quatro pescadores, e pela presença ou não do proprietário do barco no exercício
da atividade. O proprietário do barco cede a embarcação para pescaria e é responsável por
sua manutenção (Tabela 16). Cada pescador é responsável por seu equipamento de pesca e,
dentre eles, o mestre é quem define o pesqueiro a ser utilizado.
4
A pesca de tarrafa ocorre principalmente na Lagoa Rodrigo de Freitas, localidade que não foi objeto de análise deste
diagnóstico. Contudo, os pescadores do Posto 6 podem usá-la eventualmente, a depender das condições de mar.
61
Despesas com rancho, combustível e gelo são divididas entre todos os participantes.
Contudo, algumas viagens ocorrem apenas no sentido de verificar se há disponibilidade do
recurso, ou seja, “se está dando peixe”. Nesses casos, os pescadores não investem nesses
insumos.
A produção é dividida pelo número de pescadores presentes no barco mais uma parte
para o proprietário da embarcação, após descontadas as despesas citadas acima. Após o
desembarque, a produção total do barco é repassada aos vendedores de peixe pelo dono do
barco para a venda nas bancas da Colônia e o acerto da produção é realizado após a
comercialização, em dinheiro.
Pesca de Rede
A pesca de rede é exercida por dois ou três pescadores, sendo mais usual a atividade
ser exercida por três pescadores: o mestre e dois pescadores que puxam a rede e retiram os
peixes (puxadores de rede). Comumente, uma única pessoa é proprietária da embarcação e
dos petrechos.
Quando o proprietário do barco pesca, este atua como mestre. Quando o mesmo não
pesca, ele tira um pouco de sua parte e dá ao mestre. Desta forma, o mestre ganha um
pequeno percentual a mais que os demais pescadores, que atuam como puxadores.
O debate em torno da divisão da produção oriunda da pesca de rede foi bastante
polêmico, denotando que há vários sistemas em vigência, sendo considerados mais ou menos
justos pelos pescadores e, até mesmo, por alguns proprietários de embarcação.
O sistema mais comum e também o considerado mais justo é a divisão da produção
em seis partes, depois de retirada as despesas com combustível: três partes são do
proprietário da embarcação e as outras três para os pescadores, sendo uma para cada (Tabela
17).
Os pescadores podem vender por conta própria sua parte da produção aos
consumidores ou entregá-la ao dono do barco que coloca à venda nas bancas. Nesses casos, o
dono do barco é responsável pelo pagamento dos vendedores de peixe e a partilha ocorre em
dinheiro, após a comercialização.
62
Há uma tendência, entretanto, de aumento do número de partes para sete, oito e até
nove, dependendo do dono do barco e de como é realizada a manutenção dos petrechos e da
embarcação. Destaca-se que cada nova parte é sempre destinada para o dono dos meios de
produção.
63
seja, aqueles cuja divisão é em maior número de partes, encontravam-se, à época, sem
tripulação ou com dificuldades de mantê-la.
Sem tripulantes, os donos de barco têm buscado um sistema de parceria, ou seja, se
associam a pescadores igualmente experientes e que possuem equipamentos de pesca e
passam a atuar diretamente na atividade, mesmo quando ambos são donos de barco e uma
das embarcações fique inoperante. Nestes casos, o serviço prestado pelos puxadores de rede é
dispensado e custos com manutenção e a produção são divididos igualmente entre os dois
pescadores/donos de equipamentos de pesca.
64
65
Já o pescado oriundo da rede é vendido em lotes, sem ser pesado (Figura 16). Os
donos de barco sabem mais ou menos a receita total oriunda da venda dos lotes, em virtude
da quantidade de pescado e do tamanho dos exemplares.
Os peixes oriundos da pesca de mergulho e linha são considerados produtos de
primeira qualidade, tanto pelas características das espécies pescadas como por serem
considerados mais frescos em relação ao pescado oriundo da rede. Conseqüentemente,
possuem melhor preço.
Os vendedores não limpam o pescado, sendo esta tarefa exercida por dois tratadores e
que pode ser complementada por uma terceira pessoa, em dias de movimento intenso. Após a
venda, repassam o dinheiro ao dono do barco que lhes dá dez por cento, do que foi vendido,
independente da arte de pesca (Tabela 19). Descontos oferecidos aos fregueses são arcados
pelos vendedores.
66
menor valor pago ao tratador é previamente estabelecido: R$2,00. Os tratadores arcam com
todos os equipamentos e insumos necessários ao processamento do pescado: facas, bandejas,
sacolas plásticas, papel toalha, etc, estimando-se um gasto entre R$ 60 e 70,00 por mês.
Enquanto um dos tratadores tem se ocupado preferencialmente do tratamento do pescado, o
segundo combina essa atividade à pescaria de mergulho e linha, no período da tarde.
Por meio das entrevistas semi-estruturadas foi possível identificar que as duas
mulheres que atuam na manutenção de redes e comercialização do pescado exercem uma
série de atividades para compor a renda familiar (Figuras 18, 19 e 20).
A primeira delas é contratada por um dono de barco do local, para trabalhar cinco horas
por dia atando redes. Sua remuneração é realizada semanalmente em dinheiro, com base na
partilha da produção de pescado daquela mesma semana.
Como o proprietário possui três redes, a manutenção é contínua de forma que duas
redes são utilizadas na pescaria enquanto uma é retirada para realização dos reparos.
A trabalhadora relatou que aprendeu o ofício numa iniciativa de capacitação ocorrida há
alguns anos na Colônia, fomentada pela Petrobrás e pela Matte Leão. Antes de se dedicar
exclusivamente a esse serviço, pescava de rede e linha no mar, entretanto, desistiu assim que
julgou não valer mais a pena o esforço de saída frente ao decréscimo da produção obtida.
67
Sua renda é composta em 50% das atividades relacionadas à pesca e 50% como vigia,
entretanto, considera o trabalho realizado na pesca mais prazeroso. Nos períodos de maior
produção, a receita oriunda da pesca ganha maior importância que o trabalho como vigia. Pela
limpeza das redes recebe entre R$15,00 e R$20,00 por dia de trabalho.
O papel das mulheres na dinâmica da pesca em Copacabana foi alvo de matéria
jornalística recente no Jornal do Brasil (Anexo 1).
68
69
70
Furto de
material de
●●●●●
pesca (redes)
Falta de ●●●●●
fiscalização
Traineiras de ●●●●●
grande porte
71
72
mergulhadores contemplativos serem pessoas de alto poder aquisitivo (possuem lanchas, são
associados a clubes nobres) e capturarem o recurso por diversão, o que é injusto para quem
vive da atividade pesqueira.
Para Seu Nonô, um dos pescadores mais antigos do Posto 6, os conflitos na pesca de
uma forma geral começaram com o advento da pesca de rede. Para ele a pesca de linha possui
características distintas, não havendo tanta competição pelo uso do espaço e exigindo uma
maior habilidade do pescador.
Argumentou que a pesca de arrastão também não gerava conflito entre os pescadores,
pois era fundada, sobretudo, no respeito, no direito a vez de se fazer o lanço. Esta pescaria,
contudo, desapareceu há mais de seis anos devido à diminuição de pescadores que continham
o conhecimento necessário para sua prática e da falta de espaço na praia para puxar a rede ou
seja, ao conflito com as atividades de lazer.
Para outro participante, os pescadores de rede não deveriam ser considerados
pescadores, dado que esta pescaria faz pouco uso do conhecimento tradicional e requer pouco
esforço físico, apenas o de colocar e retirar a rede. Pescadores de rede são considerados por
alguns como “come e dorme”, pois as redes são colocadas de um dia para ou outro. Os
pescadores mais novos rebateram tal argumentação sustentando que, atualmente, os conflitos
decorrem principalmente da diminuição da produção pesqueira quando comparada ao passado
e não em decorrência das pescarias de rede.
Informantes presentes na oficina de mapeamento participativo relataram a ocorrência
de conflitos eventuais entre os pescadores de linha e os mergulhadores pelo uso do mesmo
pesqueiro. Em geral existe um acordo entre pescadores de linha e de mergulho. Quando um
dos dois está no pesqueiro o outro não entra (ordem de chegada). No entanto, este conflito
ocorre com maior freqüência nas ilhas Tijucas, onde alguns pescadores de linha cortam as
bóias de marcação dos mergulhadores.
73
74
Ausência de Fiscalização
Este conflito se expressa na percepção dos participantes sobre a pesca predatória, a
pesca informal e a falta de fiscalização por parte dos agentes do Estado (Figura 27),
especialmente o IBAMA. É resultante das diversas categorias de pesca, principalmente da
75
77
conflitos já listados na matriz. Este se colocou claramente contrário ao fechamento das ilhas à
pesca (nas palavras dele, contrário à criação de uma UC no lugar), dizendo que essa é a
principal preocupação deles. Para alguns pescadores, o IBAMA em nenhum momento sugeriu a
possibilidade de criação de uma Reserva Extrativista porque não tem o objetivo de promover
um processo de gestão compartilhada, reiterado, sobretudo, pela categoria de unidade de
conservação proposta pelo órgão na audiência pública.
Outros pescadores observam que as ilhas são importantes na geração de renda dos
pescadores, seja para a pesca, seja para o turismo. Salientaram que os barcos da Urca, por
exemplo, levam turistas tanto para a pesca de linha amadora, quanto para o mergulho
contemplativo. Os pescadores de Copacabana também levam pessoas para pescar no
Arquipélago, inclusive descendo na Ilha das Palmas, como uma atividade complementar a
pesca.
Provavelmente, devido à motivação do diagnóstico sempre exposta no diálogo com os
pescadores e a participação ativa destes na Audiência Pública que propôs a criação de uma UC
de Proteção Integral, este tema fez parte de praticamente todas as abordagens em
Copacabana.
Ressalta-se que os pescadores, em sua maioria, desconhecem a criação do Instituto
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio, imputando ao IBAMA, até os dias
de hoje, a responsabilidade sobre a criação da UC.
Para a maioria dos pescadores, a motivação do IBAMA é sempre duas: i) pessoal, ou
seja, alguns gestores se privilegiariam pessoalmente do processo; e ii) as Ilhas são de
interesse turístico e serão fechadas com o intuito de promover o turismo que será
implementado por poucos empresários, principalmente aqueles que operam na área com
grandes embarcações.
Em relação à manutenção da biodiversidade e da proposição de medidas de
conservação, muitos consideram que deve haver uma análise integrada de todos os vetores
econômicos presentes na área e não somente responsabilizar o pescador pela diminuição dos
estoques e degradação ambiental. Neste sentido, a demanda da Colônia e dos pescadores
seria por uma participação deliberativa no processo de criação e de gestão da UC e não
somente consultiva, como lhes foi colocado em princípio.
A falta de confiança no órgão, devido ao seu histórico de omissão e de criação da UC
cujo conflito culminou na Audiência Pública; a falta de compreensão sobre as categorias de
Unidades existentes; a presença de outros vetores econômicos considerados mais
determinantes no processo de degradação ambiental – em especial, a pesca industrial e a
poluição –; e o receio em perderem sua principal fonte de renda, leva a grande maioria dos
pescadores a se posicionar contra a criação de qualquer categoria de unidade na área.
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Dessa forma, para eles, qualquer medida neste sentido visa principalmente à exclusão
dos pescadores de menor poder aquisitivo e não uma medida de proteção ambiental, dado que
dificilmente haverá controle e regulação sobre os demais vetores de degradação ambiental.
79
Tráfego de embarcações
O tráfego de lanchas e outras embarcações implica riscos de atropelamento aos
mergulhadores, principalmente o jet-sky, segundo relataram os informantes presentes na
oficina de mapeamento participativo. Segundo eles, há falta de respeito às bandeiras
(vermelhas com símbolo branco no meio) que sinalizam a presença de mergulhadores na
água. Dessa forma, muitas pessoas passam por cima das bóias de marcação. Este tipo de
conflito foi relatado para as Ilhas Tijucas e Laje Santo Antônio principalmente.
81
Segundo relato dos pescadores mais antigos, o arrastão de praia, caracterizado por
Nehrer (1997), é uma pescaria que foi extinta há seis anos.
As três pescarias fazem uso de embarcações similares: casco de alumínio, comprimento
médio de 5 metros, propulsão a motor a diesel e gasolina. As embarcações não possuem
capacidade para a pesca em alto mar, tendo autonomia inferior a um dia. Foram estimadas
onze embarcações e uma canoa ativos. Considerando todas as embarcações atracadas na
área, incluindo aquelas em manutenção e aquelas inativas, estima-se uma frota composta por
29 embarcações.
Pesca de Rede
Os tipos de redes utilizadas pelos pescadores em Copacabana são:
ci) Rede Linguadeira: Possui a malha mais larga e é utilizada na beira da praia até
grandes profundidades (30 a 40m, por exemplo, na captura do linguado de cascalho).
Espécies capturadas com este tipo de rede são o linguado (beira de praia e cascalho),
tamboril, cação anjo, viola, enxada e tamboril. Os pescadores evitam colocar esta rede
em cima dos parcéis.
cii) Rede Alta: diferentes malhas (12mm, 45mm para capturar pescadinha). São duas as
formas de utilização: 1) rede solta na correnteza na superfície (velada) vai derivando e
os peixe malhando, e depois o lance é dado para recuperar a rede; 2) rede poitada na
beira da praia, ancorada com garatéias nas pontas, rede menor do que a primeira pois
caso contrário as garatéias não seguram a rede. Nomes utilizados: rede de parada,
come-dorme, rede de espera.
A pesca de rede (Tabela 17) é caracterizada por uma operação em que a equipe de
pesca, composta pelo mestre e por dois puxadores de rede, dispõe as redes e a retira no outro
dia. Se a rede não estiver necessitando de manutenção, na mesma viagem em que é realizada
a despesca, o equipamento é disposto para uma nova captura. Em geral, as operações de
pesca ocorrem pela manhã, entre cinco e nove horas. Todos os pescadores de Copacabana
(rede, linha e mergulho) utilizam marcas em terra para a localização dos pesqueiros.
Geralmente são utilizados como referências os prédios altos, montanhas.
82
Figura 28 – Pesca com redes de emalhar é atualmente o mais importante meio de produção
dos pescadores de Copacabana.
83
Pesca de linha
A pesca de linha ocorre principalmente entre junho e outubro. É realizada nas primeiras
horas da manhã ou no final da tarde, de forma que a operação de pesca possui duração de
algumas horas. Envolve entre uma a quatro pessoas (Tabela 16), sendo mais comum a
participação de três pescadores. Está voltada à captura de diversas espécies, especialmente a
bicuda, anchova, marimba e olho de cão. Outros peixes também são importantes, como a lula,
polvo, garoupa, badejo, olhete, olho de boi, cavala e espada.
Conforme o recurso alvo, utiliza-se linha e isca específica. As iscas utilizadas são
lambreta (isca artificial), sardinha, lula (viva e morta) e outros peixes pequenos. Para a
anchova e a corvina, a linha é 0,70 mm e a isca mais utilizada é a sardinha. Segundo alguns
depoimentos, a sardinha é considerada a melhor isca, pois captura uma grande diversidade de
espécies (os peixes gostam mais). Em sua ausência, utiliza-se cavalinha, bonito e lula. O
badejo, por sua vez, é capturado com camarão vivo. Para pesca de lula utiliza-se o zangarilho
e linha de 30 ou 40 mm.
Pesca de mergulho
No mergulho de compressor captura-se: garoupa, badejo, cavaquinha, polvo, mexilhão,
olhete, olho de boi, robalo e cherne (Tabela 18). Contudo, os mergulhadores observaram que
esta pescaria volta-se a recursos mais específicos quando comparada ao mergulho “de peito”,
em que há uma variedade maior de recursos capturados: anchova, tainha, marimbá, pampo,
polvo, garoupa, badejo, cavaquinha, vermelho, robalo, xerelete, sargo, mangangá, olhete,
olho de boi, serra, enxada e cherne. Dentre elas, as principais espécies capturadas são:
anchova, tainha e olho de boi.
A pesca de mergulho é bastante dependente de fatores como tipo de água, temperatura
da água, corrente e visibilidade. Os pescadores de mergulho em apnéia descem a uma
profundidade de até 20m. A sua pescaria dura, em média, 6 horas de trabalho na água.
Assim, um dia dia de pesca corresponde de 6 a 8 horas no mar.
Relataram que não pescam mais de dois ou três dias seguidos em um mesmo
pesqueiro, para dar um descanso. Em geral dão um descanso de 5 dias até uma semana. O
pescador, quando mais experiente já conhece pontos específicos das ilhas que possuem
maior produtividade, dividindo-as em setores que são explorados sequencialmente.
A pesca de mergulho é altamente dependente da transparência da água. Segundo os
pescadores , a água é considerada de baixa transparência quando a corrente na região é
predominante de Leste a Sul. Corrente de Leste traz água suja e muito alimento
(microorganismos), de novembro a abril. Nestas ocasiões, o aporte de água da Baia é em
direção ao arquipélago das Cagarras e o esforço de mergulho é direcionado para a região das
Ilhas Pai, Mãe e Menina. Entre os meses de agosto a novembro ocorrem muitos eventos
84
conhecidos como “Lestada” (vento forte proveniente de Leste). Já entre novembro e abril a
água normalmente possui baixa transparência e o mar é bastante calmo e rico em nutrientes
Quando a corrente é de Sul para Leste, a água normalmente é mais quente. A corrente
Sudoeste traz água clara para a região das Cagarras, e as águas da Baía de Guanabara
escoam para Itaipu. Geralmente, por fora das ilhas a corrente é mais forte e gera
alimentação, além disso favorece a transparência da água para capturar o peixe. Os
mergulhadores estimaram que em apenas 15% do ano há visibilidade adequada ao mergulho
no Arquipélago de Cagarras.
Assim como os pescadores de linha, os mergulhadores utilizam bastante os costões
rochosos e lajes na região. Segundo os pescadores presentes na oficina de mapeamento
participativo, existe um acordo entre pescadores de mergulho e linha onde quem chega
primeiro no pesqueiro tem o direito de permanecer.
85
possuem barcos, de forma que há uma preferência pela pescaria nas adjacências das diversas
ilhas, pois assim, são evitados conflitos pelo uso do espaço.
Anchova e bicuda foram recursos descritos como presentes na proximidade das ilhas do
Arquipélago de Cagarras, sendo que a anchova ocorre principalmente na saída do emissário.
Segundo os pescadores, a lula está se concentrando na Ponta do Arpoador e no arco
interno das ilhas Cagarras pesqueiro pois estes são locais protegido das traineiras. Desta
forma, a manjuba encontra refúgio nesta área e a lula aproxima para predá-la. Em 2009, a
lula apareceu próximo ao VIP (motel localizado na Avenida Niemeyer), no Arpoador e em
frente ao canal da Barra segundo os informantes. Há dois anos se pescou muita lula no Leme.
No entanto, neste ano uma traineira descobriu e cercou todo o recurso, segundo os pescadores
e por isso, a a pescaria de lula está muito fraca no Leme.
Pesca de rede
A pesca de rede é realizada principalmente em ambientes livres de pedra, que possuem
cascalho ou lama. A Tabela 22 resume as principais áreas utilizadas pelos pescadores de rede
em Copacabana e a importância de cada uma delas para a composição da renda do pescador.
88
Dentre estes pesqueiros, as áreas mais importantes na constituição da renda dos pescadores
de rede em Copacabana são: 1o Largo; 2o Beira da Praia e a Boca da Barra Grande; 3o praia de
Copacabana.
1o Largo $5
2o Beira da Praia $4
3o Copacabana $2
Nota: As áreas próximas à praia são mais importantes no verão. No inverno, a boca da barra
tem uma importância maior. O largo é importante tanto no inverno quanto no verão, e a
produção é mais regular.
Importância: $ 5 (muito)
$ 1 (pouco)
Pesca de linha
No arquipélago das Cagarras, a região entre a Ilha Comprida até depois da Redonda (na
laje) é formada por diversos pesqueiros de linha, dado o fundo ser constituído principalmente
por pedras. Os pescadores de linha e mergulho possuem a prática de manter alguns parcéis
em segredo.
Um dos pesqueiros mais valorizados chama-se Banco do Brasil (Laje da Redonda)
(Tabela 23), alusão à instituição financeira tida como inabalável, ou seja, onde sempre se
encontra o peixe. Contudo, segundo os informantes, a produtividade no pesqueiro Banco do
Brasil caiu muito por causa da quantidade de redes que estão sendo colocadas no local.
Outro pesqueiro que merece destaque atualmente é o “Emissário Submarino” (de
Ipanema). Este local é utilizado o ano todo, praticamente todos os dias segundo os
informantes. O local possui 30 m de profundidade e está a 40 minutos de Copacabana.
Segundo um dos informantes, o emissário tem três “bocas”. Para garantir uma boa pescaria o
pescador tem que saber como chegar ao ponto certo, que é na “ressolhada”. Não são todos
que conhecem a localização exata do emissário submarino, onde se concentram grandes
cardumes de peixes.
Um local com abundância de anchovas são as Ilhas Redonda, Banco do Brasil e Focinho
de Porco. No entanto, a produção da pescaria de linha destes pesqueiros diminuiu. Alguns
pescadores consideram a “boca do emissário” o melhor de todos os pesqueiros. Um bom dia
de pesca neste local, por exemplo, pode render aproximadamente 400 reais (2 caixas de
anchova, ou 50-70kg). Contudo, existem controvérsias quanto ao emissário submarino. Outros
informantes, por exemplo, gostariam que o emissário fosse mais afastado da costa.
89
Pesca de mergulho
Os pesqueiros mais importantes para os praticantes da pesca de mergulho são: 1o Ilhas
Cagarras; 2o Ilhas Redonda e Filhote, Ilha Rasa, Ilhas Tijucas; 3o Laje Banco do Brasil; 4o Ilhas
Pai, Mãe e Menina, Laje de Santo Antônio e Ilha Cotunduba (Tabela 24).
Em ilhas como a Ilha Rasa, mais distantes e onde a profundidade é maior, a água custa
mais a clarear. Já nas Ilhas Cagarras, que são mais rasas, correntes de sudoeste clareiam a
água mais rapidamente. Por este motivo os mergulhadores preferem pescar nas Cagarras pois
a distância é menor e onde a água fica clara com maior frequência. Na ilha Rasa, as vezes
(raramente) no verão entra corrente do sul, clareando a água para o mergulho. Peixes de
passagem passam pela Ilha Rasa em função de suas lajes. Nesta ilha, arrasteiros pedem ajuda
para os mergulhadores para dar manutenção nos equipamentos.
Conforme já descrito por fora das ilhas, geralmente, a corrente é mais forte, e esta
gera alimentação para as espécies de maior interesse. Normalmente a pesca de mergulho é
realizada circulando as ilha pelo lado de fora, mas também passam com freqüência pela parte
abrigada. Na porção abrigada e interna das Ilhas Cagarras, por exemplo, o costão é mais raso,
sendo esta explorada quando as condições do mar estão desfavoráveis.
Uma laje pouco utilizada pelos pescadores de Copacabana é a laje Santo Antônio. Os
informantes presentes na oficina de mapeamento participativo relataram que não fazem saídas
exclusivamente para este pesqueiro, somente. Comentam que passam por lá quando os
cardumes estão visivelmente presentes, deixando esse local para o desfruto dos
mergulhadores amadores.
Tabela 23 – Principais pesqueiro utilizados na pesca de linha e sua relativa importância na constituição da
renda entre os pescadores de Copacabana.
Pesqueiro Importância para Recursos principais
constituição da
renda
SAMBAIA $3 Anchova.
BAIXIO DA RASA $3
91
Cagarras 5$ Moluscos: lula e polvo. Anchova, Pesca com maior freqüência no inverno (junho
serranídeos: garoupa e badejo a setembro) com ventos de Lestada. No verão,
(parte de saltão. Os principais são garoupa e somente quando a água está boa. Ilhas são
fora, que é polvo. muito pouco utilizadas pelos pescadores de
mais funda e mergulho, cerca de 1 vez por semana, não
tem mais havendo frequência regular de uso. Pesca
peixe) depende do tipo de pescado disponível no local
e das condições da água. A ilha do Pai é a mais
utilizada destas três ilhas.
Redonda e 4$ Garoupa e badejo (principalmente). Mais visitada entre junho a outubro, 2 vezes
Filhote Sargo e espécies de segunda por semana, em função da maior ocorrência de
quando as de primeiras faltam. água transparente neste período.
Banco do 3$ (porque Principalmente peixes de passagem No verão é muito pouco utilizada (1 vez por
Brasi tem pouca como anchova e olhete. A garoupa semana a 3 vezes por mês). Quando a corrente
variedade de e bicuda também são comuns no de sul traz água clara (evento raro), a pesca é
peixes) local. melhor. No verão neste apenas quando existe
uma “intuição ou indicação”.
Eventualmente cardumes de
enxada.
Pai, Mãe e 2$ Robalo. Em um local próximo desta Utilizado durante o ano todo. No verão pratica-
Menina laje há pesqueiro de lula. O olhete se a pesca em média 2 vezes por semana.
se concentra neste pesqueiro Durante o inverno (maio a outubro), é utilizado
quando vem atrás da lula. com grande freqüência (3 vezes por semana).
Santo 2$ Robalo (principal), linguado, Costumam ir com maior freqüência nas Ilhas
Antonio anchova, olhete, bicuda, xaréu, Redonda e Filhote pela proximidade (6
garoupa, polvo e olho de boi. minutos). Por esse mesmo motivo, vão menos
no Banco do Brasil.
Cotunduba 2$ Muitas garoupas e badejos Ao longo do ano todo, pois as ilhas estão
pequenos ocorrem no local. O local próximas de Copacabana. No inverno é melhor
é considerado um importante distante da costa por causa da corrente de sul
criadouro e por isso não capturam para leste. Nesta época, as Cagarras
essa garoupa pequena. “descansam”. Usam aproximadamente 4 vezes
por semana no verão e no inverno.
92
Rede Largo e perto da costa (terra). Corvina, anchova, No verão a pesca com rede
Corvineira serra, bonito, corvineira ocorre na beira de
Do Surriá à beira da praia até a ponta do marimba, pescada, praia (novembro até março).
Malha 50- arpoador. Raramente chegam até a praia viola, cação anjo, No inverno as redes são
60mm e três de Copacabana. A rede corvineira não é robalo, colocadas no largo (março a
metros de colocada em Copacabana, mas é perna de moça junho).
altura. empregada do Leme até a ilha de
Cotunduba.
Rede Alta Beira da praia, do Leme ao Juá (Costa Tainha, Pampo, Durante o ano todo.
Come- Brava). Robalo, pouca corvina,
Dorme bonito, pescada perna
Esta rede é colocada desde a arrebentação de moça, roncador
No máximo até 150 m para fora. amarelo, pescada,
150m de parati, pescadinha,
comprimento A rede come-dorme trabalha na faixa de 15 carapeba, anchoveta,
(três panos). a 20m de profundidade. serra, olho de cão
Malha
45mm.
Rede Alta de Qualquer lugar, depende do pescador Anchova, serra, bonito, Durante o ano todo,
Caceia descobrir um cardume. cavala e outros peixes eventualmente.
que nadam próximos à
Similar a A pescaria dura aproximadamente meia superfície.
“rede-alta” hora e é lançada somente depois da
localização do cardume.
Qualquer fundo.
Rede BEIRA DE PRAIA - Desde a ponta do Leme Linguado, anchova, Durante o inverno (julho e
Linguadeira até o Recreio dos Bandeirantes. bonito corvina, xerelete agosto com maior
na Beira da freqüência, mas também
Praia. Limite mínimo de profundidade é dado pela pesca-se em setembro)
arrebentação das ondas. Limite máximo de ocorre a temporada do
Malha 110 profundidade 20-25m. É colocada em linguado. Pesca-se todos os
Tem 30 posição paralela à praia, ou por fora do dias neste Período, a não ser
panos. costão. que as condições do mar
não permitam a navegação
Beira de praia (areia). (ex. ressaca).
Rede No largo (dos 30 aos 40m de Viola, tamboril, cação No verão (principalmente de
Linguadeira profundidade), entre as Ilhas Redonda e anjo, cação bicudo, novembro a janeiro, pois
no cascalho Rasa e por fora da ilha Comprida. enxada, cação martelo, em fevereiro já começa a
linguado de cascalho e falhar) praticam a pesca
Igual “Rede Cascalho. outros peixes que cerca de 3 x por semana,
Linguadeira” ocorrem em fundos de aproximadamente um dia
cascalho. sim outro não.
93
94
95
Legalização = R$700,00
96
97
Tabela 27 – Ferramenta ‘entra e sai, de onde vem, para onde vai’ em Copacabana.
Marimbá __________
______ Copa
Parati _______
Pampo __________
______
Mero
Cavalinha _______
Bagre ____
Arraia ___
98
Mangangá __
_
Cocoroca ___
Mexilhão ______
____
____________
Olhete ___
__
_____
Copa
Olho de boi ___
__
______
Serra _____
_
Bonito ___
Enxada ___
_
Baiacú ____
Cherne ______
__________
__________
Dourado ___
Peroá _______
Legenda: -------- Linha e Rede
-------- Pesca de Compressor
-------- Mergulho de Peito
5
Em dias de muito movimento, a atadora de rede também realiza esta atividade.
100
101
Para alguns, o fato de serem produtores de alimento deveria ser considerado na isenção
de impostos para aquisição de meios de produção, tais como embarcações, motor e petrechos
de pesca.
102
103
6
http://portalgeo.rio.rj.gov.br/armazenzinho/web/BairrosCariocas
104
6.1 Metodologia
As atividades relativas à primeira etapa do diagnóstico consistiram em 7 visitas ao
Quadrado da Urca, realizadas entre os meses de abril e setembro de 2008. Durante a segunda
etapa, entre os meses de janeiro e fevereiro de 2009, foram feitas mais duas visitas: uma
dedicada à atividade de mobilização para realização da oficina de mapeamento e, a outra para
a oficina propriamente dita, ocorrida no dia 17 de fevereiro de 2009.
Todas as visitas ao campo foram previamente agendadas com os próprios pescadores, a
fim de que se garantisse, na medida do possível a participação dos envolvidos durante a coleta
de dados. Assim, o diagnóstico envolveu grande parte dos os pescadores dessa localidade
(Figura 42) que intercalam as atividades de pesca com a atividade de turismo de pesca
esportiva e passeio, na área de Baía e no mar.
Tal como ocorrido nas demais localidades, as atividades relativas à primeira etapa do
trabalho foram conduzidas por dois técnicos, sendo um o responsável pela aplicação da
ferramenta e mediação do debate, e o outro pelas anotações dos comentários realizados pelos
participantes e pelo registro fotográfico. Posteriormente, as informações coletadas foram
inseridas no roteiro, de forma que se pudesse avaliar a necessidade de mais visitas à
localidade.
A definição de especialistas que participariam da elaboração dos mapas mentais foi
realizada ao longo do trabalho. Contudo, devido à dinâmica do local, no dia agendado para
realização da oficina diversos pescadores participaram da atividade. Dado que a definição de
105
especialistas se constitui num procedimento para a seleção dos participantes da segunda etapa
do projeto, e não numa ferramenta de diagnóstico propriamente dita, esta atividade não
consta da (Tabela 30). Durante a oficina de mapeamento dos pesqueiros, participaram 4
técnicos, sendo dois deles responsáveis pela mediação e dois pelas anotações, seguindo roteiro
de perguntas previamente elaborado.
Junto à descrição dos resultados, é apresentada a síntese das principais características
da atividade pesqueira no Quadrado da Urca, representadas pelas ilustrações elaboradas a
partir das ferramentas e pelos registros fotográficos efetuados durante as atividades de
campo. Ressalta-se que uma ferramenta pode acrescer informações em mais de um item do
roteiro.
106
107
Mesmo nessas ocasiões, o pescador capturar pescados para consumo doméstico. Foi estimado
o número de 5 pescadores dedicados regularmente à pesca de linha.
As saídas de pesca de traineira podem durar até 3 dias e contar com uma tripulação de
3 ou 4 pescadores. As diferenciações ocorrentes entre os trabalhadores estão atreladas
substancialmente à propriedade da embarcação, uma vez que depois de divididas as despesas
com os insumos necessários para armar o barco, o lucro da produção é apropriado
individualmente.
Turismo
O turismo é efetuado em 3 modalidades: de pesca esportiva, passeio e mergulho
(Tabela 32). O dono do barco contrata um ajudante por diária, o qual tem a função de ajudar a
preparar o barco e manter a embarcação em bom estado de limpeza e organização para o
usufruto dos clientes. Ao dono do barco compete a definição das rotas conforme o público e o
passeio vendido.
A estrutura oferecida pelos barcos, geralmente, é a seguinte: churrasqueira, banheiro,
mesa, água e refrigerantes. A depender da “turma” que se esteja levando ao passeio, os
próprios clientes trazem as bebidas e carnes para o churrasco.
Tabela 32 - Matriz de avaliação do trabalho empreendido no turismo por pescadores da Urca, Rio de
Janeiro.
CRITÉRIOS/ATIVIDADES TRABALHO QUE DÁ LUGARES VISITADOS VALOR COBRADO*
Passeio O dono trabalha menos Baía de Guanabra
Suja pouco o barco Ilha Cagarras
Público fácil de se lidar R$ 300,00
Mergulho O dono trabalha menos Cagarras
a
Suja pouco o barco Redonda
Público fácil de se lidar Redondinha
450,00
Banco do Brasil (Laje da
Redonda)
Pesca esportiva Trabalha mais porque Cagarras
está difícil achar peixe Redonda
Suja o barco Redondinha
Público chato de se lidar Banco do Brasil (Laje da
Redonda)
Ilhas Tijucas
* Cobra-se esse valor para grupos de 10 pessoas (passeio) ou por saída para outras modalidades;
* Os gastos com combustível são de R$ 100,00, em média, por saída (atividade com duração de 8 horas +ou-)
* Diária paga ao ajudante: R$ 50,00.
Local: Quadrado da Urca Data: 16.05.2008
Participantes: Sílvio, Roberto e Zé.
Existem clientes que solicitam que o pescador capture peixes e em outras situações o
pescador entrega o peixe que captura para agradar o cliente. Em outros casos, enquanto os
clientes pescam, o pescador também pesca destinando esse pescado para consumo próprio
(familiar).
109
Ficou evidenciado que a pesca profissional e o turismo de pesca esportiva são as duas
atividades-base responsável por ingresso de recursos financeiros regulares ao pescados e
possuem características sazonais: a pesca esportiva é a principal fonte de renda no verão e a
pesca profissional, garante o sustento no inverno (Tabela 33). Já o turismo de passeio, que
também acontece no verão, costuma ter uma frequência de procura mais reduzida se
comparado à pesca esportiva.
Legenda:
Importância: ••• Muito
•• -
• Pouco
Local: Quadrado da Urca Data: 15.07.2008
Participantes: Sidney; Donato; Amauri; Ricardo; Kátia; Matilde
Quanto à regularidade de renda, a pesca esportiva garante uma renda mais estável
quando comparada à atividade de pesca profissional, dado que, nessa última, existe forte
influência sazonal na captura dos recursos. A atividade de turismo, por outro lado, exige o
estabelecimento de estratégias de divulgação junto ao público-alvo, sendo as mais utilizadas:
a produção de folders e a internet.
Para os pescadores, nem a pesca profissional, nem a atividade de turismo causam
grandes impactos ao meio ambiente, pois há prevalência de uso de linha de fundo e molinete
nessas duas modalidades, permitindo que os peixes capturados abaixo do tamanho adequado
sejam novamente soltos na água. Sustentaram, contudo, que a pesca de traineira ocorrente
no entorno das Ilhas Cagarras, é a que mais contribui para a depredação do ambiente.
110
de pesqueiros alguns aspectos foram destacados e outros surgiram. Dessa forma, ao debate
produzido em torno da matriz de conflitos (Tabela 34) foram acrescidas informações oriundas
dos demais encontros.
A apropriação dos recursos naturais na área de baía e no mar e o crescente número de
embarcações de grande porte que invadem a área costeira tem gerado inúmeros problemas e
conflitos para os pescadores que, sem uma atuação e controle efetivo por parte do órgão
fiscalizador, experimentaram uma queda significativa na produção pesqueira se comparada há
15 anos.
Os pescadores relataram por diversas vezes que os pescadores que utilizam redes
representam um dos principais atores envolvidos nas disputas pelos recursos pesqueiros,
comprometendo a garantia de reprodução dos mesmos.
Desrespeito •••••
ao defeso
Pesca de •••
Bomba
Coleta •••••
irregular de
marisco
Pesca em •••••
área costeira
(cerco;
parelha;
arrasto)
Pesca de •••••
compressor
Poluição da ••••
baía e dos
emissários no
mar
111
112
A pescaria com bomba, embora acreditem que não seja tão frequente como no
passado, foi colocada como um conflito na medida em que seus efeitos sobre a produtividade e
o ambiente ainda são percebidos. Os pescadores relataram que era bastante comum no
período anterior à semana santa, quando canoas de Niterói e lanchas que atendiam
encomendas com influência política, arrasavam com pescados na volta da Ilha Cotunduba.
Mergulhadores retiravam muitos peixes de grande valor comercial: cherne, badejo e garoupa.
Segundo relataram, após uma ação da Polícia Federal esse tipo de pesca desapareceu.
O quinto conflito é decorrente da coleta de mexilhão em 3 ilhas do arquipélago das
Cagarras (Cagarra Grande, Palmas e Comprida) por embarcações provenientes de Jurujuba.
Segundo os pescadores da Urca, a coleta é realizada, muitas vezes, de forma predatória
afetando o ambiente e os pescados em geral.
A operação dos barcos de grande porte que realizam pesca de cerco, parelha e arrasto
é entendida como prejudicial a todas às demais pescarias e foi definida com o sexto conflito
identificado. Afeta, principalmente, a reprodução das espécies pois não há seletividade, o
arrasto das redes depreda o fundo, prejudicando o ambiente e a reprodução dos recursos (na
área de baía) e não há fiscalização que coíba tal conduta. Embora tenha recebido a pontuação
máxima permitida na avaliação, os pescadores relataram que esse é o principal conflito.
Relataram também que, em determinada época do ano, observam dois barcos japoneses
atuando com atração luminosa próximo às Cagarras. A técnica utilizada, segundo eles, é a de
puxar a lula através de uma mangueira junto com água, devolvendo a água e ficando somente
a lula.
A pesca de compressor envolve pessoas da cidade do Rio de Janeiro, cujos barcos
ficam sediados nos clubes, em geral, pequenas lanchas bem equipadas. É considerada uma
pescaria cara, estimando seus custos em torno de R$3.000,00 por saída. Os proprietários sub-
locam os barcos para os pescadores que fazem essa pescaria, a fim de atender encomendas
efetuadas por consumidores fiéis (japoneses). Além dos peixes ornamentais, costumam
capturar polvo, cavaquinha, garoupa e lagosta.
O último conflito listado diz respeito à poluição da Baía de Guanabara e do mar, esse
último causado pelo despejo de dejetos pelo emissários submarinos, os quais não possuem
tratamento primário. Apesar de de prover aporte de nutrientes, preocupam-se com a
qualidade do pescado comercializado.
A criação de uma Unidade de Conservação em Cagarras embora não tenha sido
colocada como um conflito durante a elaboração da matriz descrita acima, permeou, como não
poderia deixar de ser, várias das discussões durante o diagnóstico. Sendo assim, vale colocá-
las dentro desse item uma vez que, a formulação da proposta pelo IBAMA/ICMbio se define
como um conflito estabelecido.
Em uma das oportunidades, um dos pescadores, com o endosso dos demais presentes,
foi enfático ao dizer que os pescadores não querem uma UC que restrinja o exercício da pesca.
113
Se mostram mais favoráveis a discutir propostas e estratégias que permitam o uso sustentável
do ambiente a partir de um certo regramento e ordenamento de recursos, pois entendem que
se deva preservar o meio ambiente e a atividade de pesca. Para eles o IBAMA não existe como
órgão fiscalizador; várias foram as denúncias efetuadas sem que o órgão tenha tomado
qualquer providência.
A ausência de ações de fiscalização foi citada como um fator que inviabiliza a solução e
controle de vários conflitos existentes e, acaba por contribuir, para a própria redução dos
estoques pesqueiros. Assim, na opinião deles, caso a legislação existente fosse cumprida e a
fiscalização ocorresse de forma estratégica e efetiva, não se precisaria discutir a criação de
unidade de conservação. Como exemplo, sugeriram que poderia haver corredores livres de
pesca; sustentaram também que se a legislação que proíbe o cerco de traineira fosse
cumprida, muitas espécies se recuperariam, pois, recentemente em que se estava no período
de defeso, o xerelete, anchova e a cavalinha voltaram a aparecer.
Acreditam também em inciativas em que os pescadores possam colaborar nas ações
(fiscal colaborador). Porém, são totalmente contrários a denúncias onde o pescador tenha que
que se identificar, pois temem por represálias dos barcos maiores (arrastões do sul do país –
SC e RS e das traineiras) quando estiverem no mar.
114
115
116
Olho de Cão X X X X X X X X X X X X
Lula X X X X X X X X X X X X
Corvina X X X X X X X X X X X X
Maria Mole X X X X X X X X X X X X
Anchova X X X X X X X X X X X X
Bicuda X X X X X X X X X X X X
Xerelete X X X X X X X X X X X X
Marimbá X X X X X X X X X X X X
Olho de Boi X X X X X X X X X X X X
Olhete X X X X X X X X X X X X
Peixe Espada X X X X X X X X X X X X
Pargo X X X X X X X X X X X X
Robalo X X X X X X X X X X X X
Badejo X X X X X X X X X X X X
Legenda: X Boa X Razoável X Pouco
Local: Quadrado da Urca Data: 15.07.2008
Participantes:Donato; Amauri; Ricardo; Kátia
A base da produção local está centrada na anchova, olhete, espada e pargo pois são
peixes que apresentam regularidade de captura durante o ano, ainda que o tamanho varie
conforme a época. Para o pescador, o peixe gosta de movimento e vem atrás de comedoria;
porém, a temperatura e a cor da água também influenciam a captura do recurso. Alguns
exemplos são colocados a seguir:
118
-‐ Parte interna das Cagarras: utilizam para abrigo e pesca de lula a noite, na ponta sul da
Comprida pescam muito;
-‐ Ponta leste da Comprida: quando entra o sudoeste
Tabela 37 – Principais pesqueiros utilizados na pesca de linha e sua relativa importância na constituição
da renda entre os pescadores de Quadrado da Urca.
Pesqueiro Importância para Recursos principais
constituição da
renda
PONTA SUL DA COMPRIDA $5 Garoupa, olhete, moréia, bicuda, espada
(entra em fevereiro), olho-de-boi
BAIXIO DA RASA $2 -
ÂNCORA $2 -
120
121
Tabela 39 - Custos e preços de saída de barco para o turismo na Urca, Rio de Janeiro.
Item Custo
Combustível – diesel (40 litros X R$ 1,95) R$ 78,00
Pagamento do ajudante (por saída) R$ 100,00
Preço do pacote R$ 250,00*
*R$250,00 para 13 pessoas; R$300,00 para 10 pessoas e R$350,00 a 400 para 8 pessoas
122
7. JURUJUBA - NITERÓI
123
124
Segundo a autora, cerca de 17% dos chefes de família entrevistados (n=249) eram
pescadores, dos quais aproximadamente a metade se engajavam em atividades produtivas
fora da pesca como complemento econômico. Soares (2003) notou também que a média de
rendimentos daqueles chefes de família que de alguma maneira se inseriam na pesca é 18%
menor do que os não pescadores.
No entanto, alguns informantes do nosso estudo entendem que diante da crise social
presente no Rio de Janeiro, a prática da pesca ainda pode trazer as condições econômicas
mínimas dignas de uma vida próxima ao mar e afastado da criminalidade e prostituição.
Segundo uma liderança comunitária entrevistada, a pesca em Jurujuba é muito diversificada
em sua composição tecnológica e áreas/recursos explorados. Isto pode oferecer alternativas
ao pescador, que pode dependendo da situação e contexto, inserir-se na complexa e diversa
cadeia produtiva (ex. pesca artesanal ou industrial, maricultura, manutenção).
Quanto à escolaridade dos chefes de família pescadores, Soares (2003) não observou
pescadores com nível médio completo. Enquanto isto, o nível de escolaridade dos não
pescadores foi acentuadamente maior.
O padrão de desenvolvimento da comunidade em Jurujuba segue um modelo observado
em outras localidades do litoral brasileiro (Diegues, 1983). Por um lado, a rápida modernização
tecnológica dos meios de produção pesqueira (instrumentos de navegação e localização de
cardumes) afasta o pescador do domínio e conhecimento sobre todo o processo de trabalho.
Por outro lado, a acumulação de variáveis poluentes e impactantes nesta região altamente
urbanizada soma-se ao número de embarcações pesqueiras cada vez maiores que compõem
uma frota com crescente poder de pesca. Nota-se ainda que os estoques mais abundantes de
pescado são encontrados cada vez mais distantes, dificultando assim o acesso pelos pequenos
pescadores.
Soares (2003) estudou a crise da atividade pesqueira em Jurujuba. Segundo ela, a
sustentação de uma identidade era baseada na reprodução de um know-how e da prática do
extrativismo pesqueiro na Baía de Guanabara e adjacências. A dificuldade é grande para o
pequeno pescador, aquele que deseja uma maior independência sobre a prática produtiva
individual. A saída tem sido procurar outras alternativas, como o trabalho em barcos maiores
(ex. pesca de traineiras e de redes caiçaras), ou abandonando a atividade pesqueira. Soares
125
(2003) constata o que chama de ‘dissolução da identidade’ dos pescadores, que garantia a sua
reprodução sócio-cultural de forma autônoma.
Não são apenas os pequenos pescadores que enfrentam problemas, armadores e donos
de embarcações maiores também já demonstram claros indícios de crise pesqueira. O caso de
Jurujuba evidencia assim os custos sociais da falta de uma política ambiental presente e de
ações efetivas relacionadas à gestão da atividade.
São muitas as práticas de pesca em Jurujuba, refletindo a diversidade de recursos
pesqueiros da região e várias escalas da produção pesqueira do local (ex. variando de
pequenos pescadores artesanais autônomos até proprietários de médias e grandes
embarcações). Parece-nos, ao observar a diversidade de práticas pesqueiras existentes nesta
comunidade, que um grande número de nichos de pesca estão ocupados em certo grau.
Descrevemos aqui aqueles que consideramos como principais atividades práticas pesqueiras,
seja em função da representatividade de captura e número de pescadores/embarcações, ou
pelo próprio reconhecimento enquanto importante prática cultural pelos nossos informantes.
Em Jurujuba, enquanto as embarcações menores (<8m) ocupam-se na Baía de
Guanabara, costões e ilhas da região, grandes embarcações (9-11m) equipadas com redes de
cerco (traineiras) e emalhe (caiçaras) utilizam uma área maior, incluindo a zona costeira do
estado e entorno das ilhas Cagarras. Embarcações provenientes de Angra dos Reis (RJ)
também são frequentemente observadas em Jurujuba, utilizando a estrutura presente no local
para o desembarque do pescado.
126
127
“Tão criando ultimamente tantos obstáculos para o pescador, que o pescador está ficando
desorientado. Ele já perdeu o Norte dele. Então, pra o pescador passar a entender Leis
Ambientais, Leis não sei do quê...Então eles têm que trazer as informações de maneiras claras,
tipo o Bê A Bá...Para que então se integrem a tantos e tantos projetos de estudiosos aí que está
colocando.” Vilmar.
Colônia Z-8
Existem cerca de 12.000 associados na Colônia Z-8, cuja jurisdição vai de Jurujuba à
São Gonçalo, no entanto apenas 400 pescadores estão legalizados em Jurujuba. A
mensalidade é de R$2,00. A secretária da filial da colônia afirmou que mesmo com esse valor
baixo, os pescadores somente pagam quando precisam solicitar o seguro-desemprego. A sede
da Colônia, situada no centro da cidade, dispõe de serviço de dentista e de assitência jurídica
para os associados.
ALMARJ
A ALMARJ (Associação Livre de Maricultores do Rio de Janeiro) é uma entidade
representativa dos maricultores de mexilhão Perna perna, fundada em 1992 na comunidade de
Jurujuba. Esta é a associação com maior organização administrativa e estrutura física de
128
129
trabalho na maricultura é feito de maneira conjunta. A idéia inicial de formar uma única
associação de Ponta da Ilha era ter um grupo forte para romper com a ALMARJ. No entanto,
em função de motivos não muito claros, houve um momento de separação em Ponta da Ilha
na formação de uma única associação.
O Sr. Ademir, ligado à diretoria da Colônia Z-08 arrenda parte da estrutura do píer,
provendo insumos aos barcos que ali desembarcam (Tabela 41). Além de terceirizar o óleo
diesel e o gelo no píer da, é também armador e proprietário de 5 embarcações (três barcos de
12m, duas de 13m e uma de 13,5m de comprimento) que operam com redes de cerco, emalhe
e espera na região. Entre outubro e fevereiro, sua frota também pode atuar utilizando a linha
para a captura do dourado.
Sua frota opera entre de Macaé à Ubatuba, atuando a 5 milhas da costa segundo seu
relato. Segundo ele, suas traineiras não operam na região das Ilhas Cagarras, a não ser
quando estão atrás do peixe denominado ‘boca torta’. Possui 6 pessoas trabalhando na
comercialização do gelo e do óleo, 35 pessoas trabalhando em seus barcos (aproximadamente
7 em cada barco), 5 mestres de rede (redeiros) que cuidam do material em terra
(manutenção), 1 auxiliar de mecânica, 1 torneiro mecânico, 1 pintor e 1 carpinteiro. Seu
pescado é entregue no CEASA Rio; Itaipava (Atum do Brasil); Mercado de São Pedro, Cabo
Frio e em Vitória (Viola Pesca/Espírito Santo).
Outro local onde o pescado é comercializado em Jurujuba é na sede da ALMARJ (Tabela
42). Embora a estrutura física disponível seja prioritariamente utilizada para o beneficiamento
e comercialização do mexilhão, os caminhões de propriedade da associação servem para
transportar qualquer produção que seja desembarcada no píer da colônia até o entreposto da
CEASA no Rio de Janeiro. Ou seja, a associação opera comercialmente na comunidade também
como armadora de barcos e como transportadora de pescados até os pregoeiros.
130
131
132
133
Figura 52 – Vista dos fundos da ALMARJ (esquerda) e paisagem da área de maricultura mais utilizada
pelos associado da ALMARJ (direita).
135
136
Depois de
descontadas as
despesas de óleo,
Mestre: mergulhador
recebe o valor líquido
e responsável pelo
conforme a produção
barco mãe
Baleeira (depois de
processado). O
Pescador:
Força de trabalho mestre recebe R$
mergulhador e
1,00/kg da produção
responsável pela sua
Mestre e/ou Pescador Material de mergulho total;
baleeira
Cavadeira Segurador: recebe
Segurador: fica na
por diária, sendo: R$
baleeira, dá apoio ao
Contrata o segurador 20 a 25,00 quando
mergulhador e
vão para as ilhas
arruma a produção
(viagem mais longa e
no barco
cansativa) e R$ 15,00
a 20,00 na área de
baía
Local: Sede da ALMARJ Data: 27.08.08
Participantes: Célio, Paulinho, Ivan
Após retornarem com a produção para Jurujuba, dois diferentes caminhos podem
ocorrer dependendo do tipo de operação realizada, cultivo ou comercialização. Quando o
mexilhão é retirado para comercialização, este segue para o beneficiamento no mesmo dia.
Uma série de etapas se desdobram após o desembarque, as quais serão descritas adiante.
Neste momento é importante destacar as diferentes atribuições e funções exercidas pelas
mulheres e homens, do beneficiamento à venda. Maricultores da ALMARJ entregam a produção
na associação , podendo ter o restante do dia para descansar ou trabalhar em outra atividade,
pois a ALMARJ dispõe de trabalhadores que dão prosseguimento ao beneficiamento, como as
mulheres, por exemplo, que fazem o desconchamento e empacotamento do mexilhão. Os
137
138
** No verão, quando o marisco está graúdo nas ilhas, os pescadores saem mais de uma vez para a coleta.
Nesses casos, a rotina das marisqueiras é alterada, pois podem fazer o beneficiamento em 2 turnos e trabalhar
até as as 18:00. Nessa época podem beneficiar até 33 caixas.
139
Extrativismo de Mexilhões
O extrativismo de mexilhões para a comercialização é realizado com intensidade entre
outubro a março em Jurujuba. Quando comparado ao trabalho no cultivo, o extrativismo para
comercialização direta é reconhecido como atividade menos trabalhosa e mais rentável do que
o cultivo.
O extrativistmo do mexilhão para a comercialização é geralmente realizado em grupos
de extrativistas (Tabelas 45 e 46). Nestas ocasiões, um barco denominado ‘mãe’ reboca as
pequenas baleeiras (caícos) até os pontos de extração nos costões e ilhas da região. Os
maricultores da ALMARJ saem normalmente em 20-25 caícos em cada operação de
extrativismo. Na Ponta da Ilha também há um barco de apoio que, embora seja utilizado por
todos os maricultores, é uma embarcação de posse privada de dois maricultores . Cada caíco é
utilizado por 2 pessoas. O barco mãe para em uma base próxima do local de trabalho, no
máximo a 100m do local e as baleeiras vão mais longe para tentar encontrar o mexilhão.
Para a extração, os equipamentos utilizados são: cavadeira de ferro com cabo de
madeira, luvas, máscara, nadadeira, snorkel (aspirador ou canudo), baleeira, tabuleiro (caixas
de plástico). Cada extrativista em apnéia utiliza uma pá (especial para esta atividade) para
raspar os mexilhões das rochas. Cada raspagem extrai uma ‘penca’ da rocha, que é
armazenada nos caícos e, posteriormente, carregada até o barco ‘mãe’. Cada extrativista
identifica suas caixas de plástico (tabuleiros), separando-as dos demais colegas de trabalho. O
mexilhão obtido do processo de raspagem não é seletivo, agregando todas as classes de
tamanho de mexilhão presentes no costão naquele determinado momento.
A saída para o mar deve sempre ser calculada em função da maré para que cheguem
ao local de retirada do mexilhão em tempo de realizar o máximo de trabalho possível no local.
140
5h Acorda
5.30 Sai para o mar Pega a sua baleeira e se junta ao barco
‘mãe’ para o mar.
6-7.30h Chega na área de Caso optem por extração nos costões
extração (ex. Itaipú) a viagem dura cerca de uma
hora. Se a extração é nas Ilhas
Cagarras, chegam por volta das 7.30 da
manhã.
Até as 11h Extração do Nas Cagarras, trabalham até as 11 da
mexilhão manhã colhendo o mexilhão.
Eventualmente se as condições são boas
podem produzir bastante em tempo
menor, retornando até mesmo as 10h da
manhã.
12-13h Chegada na ALMARJ Descarrega o mexilhão para a produção.
O maricultor/produtor então vai
descansar e o trabalho é realizado por
outra equipe que está aguardando. A
associação recebe e dá início à segunda
etapa do trabalho.
13h em diante Termino das Segue para descansar o restante do dia.
atividades de
extração
Local: Sede da ALMARJ Data: agosto de 2008
Participante: Jeremias
141
Tabela 46 - Relógio de rotina dos maricultores da Ponta da Ilha em exploração de mexilhões adultos.
Horário O que faz Descrição da atividade
Cultivo de mexilhões
O cultivo de mexilhões se consitui em alternativa complementar de renda. Em muitos
casos, em meses cujo extrativismo é reduzido ou nulo (ex. inverno), o cultivo oferece a única
alternativa de renda. Alguns maricultores, no entanto, possuem produção de mexilhões de
cultivo praticamente o ano todo. O cultivo é reconhecido como atividade mais trabalhosa e
menos rentável em função da mão de obra despendida (Tabela 47).
Em termos gerais, o mexilhão jovem (semente) é extraído dos costões (Tabela 48) e
levado ao cultivo por 5-6 meses (mexilhões menores), podendo estender até 7-8 meses
(mexilhões grandes) antes da sua despesca. Segundo um maricultor da Ponta da Ilha, as
sementes provenientes das Ilhas Cagarras não são de boa qualidade, desenvolvendo menos
que aquelas retiradas de áreas costeiras. Por este motivo, optam por utilizar as Ilhas Cagarras
apenas para a extração dos mexilhões adultos para comercialização direta.
A alternativa à extração das sementes dos costões sãos os ‘coletores’, ou seja,
estruturas dispostas na água para o assentamento das larvas e desenvolvimento da fase inicial
dos mexilhões antes de transeferí-lo ao cultivo. No entanto, a tecnologia existente atualmente
em Jurujuba não permite que os cultivos se tornem independentes dos costões.
Para plantar a semente, os maricultores de Jurujuba inventaram um sistema que utiliza
canos de PVC e redinhas tecidas por eles próprios. Primeiramente, a redinha é inserida no cano
de PVC. As sementes são então colocadas no cano de PVC com o ‘bisso’ direcionado para o
centro. Isto proporciona uma menor mortalidade das sementes.
142
Tabela 48 - Relógio de rotina de um dia típico de ‘plantação’ de mexilhão pelos maricultores da Ponta
da Ilha.
Horário O que faz Descrição da atividade
143
145
Tabela 49 - Áreas utilizadas para a coleta de sementes de mexilhão por maricultores de Jurujuba
(ALMARJ).
Locais para a coleta de sementes
Pontos mais próximos (Dentro da Baía) Boa viagem, Ilha dos Carlos, Adão e Eva, Icaraí
Pontos mais distantes (Fora da Baía) 1o Veado, 2o Itaipu, 3o Praia Vermelha, 4o Urca,
5o Aeroporto
Nota: informações obtidas em conversa com Célio e Paulinho, maricultores da ALMARJ.
Maricás Itaipu Tijucas Cagarra Cotundu Redonda Rasa Pais Pime Veado
ba nta /Piratini
nga
Verão X X X X X X X X X X
Inver
X X X X X X X
no
146
147
Após sofrer o processamento inicial, a carne do mexilhão é vendida para um dos dois
atravessadores de Jurujuba. O preço pago por Kg varia entre R$ 4 a 5,00. De uma forma
geral, os preços de venda ao atravessador são regulados pelo preço praticado pela ALMARJ e
também leva em consideração a gordura da carne do mexilhão. O atravessador faz então a
embalagem dos pacotes e transporta o produto para os pontos de comercialização (ex.
Mercado São Pedro, CEASA ou a particulares que fazem encomendas).
Mexilhões ALMARJ
Após o retorno das áreas de extração, a produção diária de mexilhões é desembarcada
na sede da ALMARJ, onde são selecionados em classes de tamanho e então iniciam o processo
148
Mexilhões pirata
Ao contrário do mexilhão beneficiado pela ALMARJ, o mexilhão ‘pirata’ de Jurujuba é
processado nas barraquinhas (Figura 62) pela unidade familiar (maricultor, esposa e outros
parentes) e eventual participação de terceiros (homens e mulheres) que trabalham por diária.
Ao chegar do mar, o próprio maricultor coloca o produto para cozinhar em recipientes
como latas ou panelas de ferro (Figura 63). Para o cozimento, pode-se usar a lenha comprada
(pelo valor de R$ 10,00 a baleeira cheia) ou “dada” por amigos, que possuem pedaços e restos
de madeira sem utilidade em casa. Alguns maricultores preferem utilizar o gás em função do
desgaste físico causado pelo trabalho extenso junto ao calor do fogo. O trabalho no cozimento
149
traz problemas de saúde freqüentes para aqueles envolvidos nesta etapa. No entanto, a opção
pelo gás traz uma despesa adicional ao processo.
Após o cozimento o mexilhão é desconchado principalmente pelas mulheres, com a
ajuda dos maricultores e ajudantes. Muitas mulheres apresentaram unhas e mãos cortadas em
função do trabalho no desconchamento que muitas vezes é feito sem luvas.
Na Ponta da Ilha, fomos informados que em dias de produção elevada, cerca de 20
famílias trabalham na mesma área, onde existem 7 fogões à lenha que são revezados entre os
maricultores. Apesar do grande número de pessoas trabalhando no local, não existe banheiro e
balcão apropriado para o trabalho. Há uma demanda urgente da comunidade por apoio técnico
e estrutura para melhorar as condições sanitárias e trabalhistas.
A casca do mexilhão é um problema para os maricultores, pois ainda não há utilização
para o material, que é descartado para o lixão. Na Ponta da Ilha, as cascas são eventualmente
colocadas num barco e levadas para outros locais para evitar o acúmulo demasiado.
150
Figura 63 – O uso da lenha para o cozimento do mexilhão (esquerda) é altamente prejudicial à saúde (foto
meio), mas continua sendo empregado por maricultores da Ponta da Ilha, que estão se organizando para
conseguir apoio governamental para melhoria na estrutura física disponível para o beneficiamento do mexilhão.
Mexilhões ALMARJ
Mexilhões pirata
Em Jurujuba, alguns maricultores que não possuem embarcação própria alugam do
atravessador pelo custo de R$0,50 por quilo de mexilhão (limpo e cozido) entregue ao
comerciante. Neste caso, o gasto com óleo é dividido pelos maricultores que utilizam a
embarcação.
chegam no CEASA, o mexilhão é entregue ao pregoeiro pois a ALMARJ não possui banca
própria. Segundo os maricultores desta associação, eles são dependentes dos atravessadores
do CEASA, onde uma banca custa em torno de R$50.000,00. A sede e estrutura da ALMARJ
também é eventualmente, segundo informantes, utilizada para o beneficiamento e venda de
camarões provenientes de carcinicultura (Figura 64). O mesmo maricultor que leva o mexilhão
para o CEASA (César), também traz camarões descascar e limpar, trabalho este realizado
também por mulheres. Alguns maricultores, como o Sr. Heleno (vice-presidente) também
compram peixes para vender na peixaria da ALMARJ como complemento de renda. Os
maricultores reclamam que não existe ampla divulgação de seu produto.
Mexilhões pirata
O mexilhão ‘pirata’ é normalmente entregue aos atravessadores, que normalmente
fazem a embalagem e destinam o produto ao mercado São Pedro. Ocasionalmente, o mexilhão
fresco pode ser vendido para a ALMARJ. Neste último caso, o mexilhão continua no processo
de beneficiamento padrão da associação.
Em Ponta da Ilha, um maricultor da associação Amigos do Mar argumentou que esta
comunidade é a maior produtora de mexilhão de Jurujuba em volume produzido, conseguindo
atender demandas maiores. Este mesmo maricultor diz poder atender uma demanda de até
1500kg considerando a produção de sua família (pai, dois irmãos e um tio). Sozinho
conseguiria produzir 600kg em duas semanas. Esta maior produtividade, no entanto, não pode
se sustentar por muito tempo em função das adversidades climáticas na região. Embora cada
maricultor de sua família tenha cerca de 9 cordas de mexilhão, grande parte dos maricultores
não possui nenhuma.
Mexilhões pirata
Apesar de dois atravessadores trabalharem com o mexilhão ‘pirata’ de forma
permanente em Jurujuba. eventualmente, atravessadores de outras localidades também vêm
a este bairro à procura do produto. Um dos atravessadores de Jurujuba (Sr. João) diz comprar
o produto cozido e descascado de cerca de 5-6 produtores locais. Este trabalha juntamente
com o filho e a nora, produzindo cerca de 500-600kg /semana no inverno e 1000kg/semana
no verão (Tabela 52).
Os atravessadores podem também influenciar a demanda de produção do mexilhão
diretamente, já que detém os canais de comercialização junto à CEASA, Mercado São Pedro e
restaurantes de Niterói. Os produtores de mexilhão ‘pirata’ no geral preferem vender seu
produto para atravessadores ao invés da ALMARJ, pois os preços praticados por esta
associação são muitas vezes considerados abusivos (Tabelas 53 e 54).
152
* Se o atravessador fornece o barco motorizado para a pescaria, costuma descontar o valor de R$ 0,50 a 1,00 sobre o
mexilhão já cozido e desconchado entregue pelo pescador.
** O mexilhão miúdo (magro) é comprado a preços mais baixos R$ 2 a 3,00
Local: Ponto de beneficiamento e venda de Seu João Data: 29.08.08
Participante: Seu João
2 freezers;
Isopores;
* Serviço feito normalmente por uma mulher que trabalha no período da tarde, entre 13 e 18 horas. No verão há
necessidade de contratação de mais trabalhadoras, que são pagas por diárias de R$ 30,00.
153
Gordo: R$ 5 a 7,00/Kg
Magro: R$ 5,00/Kg R$ 10 a 14,00/Kg
Despesas:
R$ 20,00 p/ cada mulher que
trabalha no desconchamento;
R$20 a 40 p/ os cozinhadores;
R$ 5,00 p/ o jogador de cascas;
R$ 150,00 com botijão de
gás/semana ou R$ 10,00 por uma
baleeira cheia de lenha
Local: Praia de Salinas Data: 04.09.08
Participante: Valmir
Defeso Mexilhão
O defeso da extração da semente ocorre de setembro a dezembro de todos os anos,
começando a impactar as atividades produtivas desde o final de 2005.
O período estipulado para o defeso é muito criticado pelos maricultores. Para muitos, foi
instituído em época errada. Para o presidente da ALMARJ, a justificativa do defeso não
encontra respaldo no conhecimento tradicional das pessoas que ali vivem há 40-50 anos. A
época foi definida, segundo ele, através de pesquisas realizadas no estado de Santa Catarina,
não aplicando-se assim ao contexto do Rio de Janeiro. Por diversas vezes durante o
diagnóstico argumentou que a decisão sobre o defeso foi feita ‘dentro de gabinete’, sem
conhecimento da realidade.
Outro fator alvo de reclamações é o conflito entre a técnica de extração de mexilhões
154
Qualidade do produto
Em diversas ocasiões os maricultores da ALMARJ lembraram que a qualidade do seu
produto era garantida por monitoramentos sistemáticos da qualidade da água na área dos
cultivos. Raldan & Christensen (2004) também apontaram que os bancos de mexilhão eram
monitorados e que a extração era paralisada quando as condições sanitárias estavam
impróprias para o consumo humano. Estes autores citam uma série de parcerias feitas para o
monitoramento microbiológico e da qualidade da água com a Pontifícia Universidade Católica
(PUC-Rio), Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro (UFRRJ) e Laboratório Mattos & Mattos.
No entanto, as precárias condições de poluição da Baía de Guanabara traz sérias
preocupações relacionadas às condições do produto comercializado. Pereira et al. (2004), por
exemplo, em suas conclusões sobre um estudo microbiológico realizado com mexilhões de
Jurujuba (Figura 65):
Figura 65 – Vista da praia do Cascarejo (esquerda) e detalhe da qualidade da água na beira da praia
(direita), em Jurujuba, Niterói.
155
156
Figura 66 - Traineira de Jurujuba (esquerda) e uma das áreas para manutenção de redes de cerco.
A pesca de traineira é feita com embarcações grandes (até 20-40 toneladas e 18-20
metros) e redes de até 500 braças de comprimento e 50 braças de altura. Alguns pescadores
classificam as traineira em função do seu tamanho, traineiras pequenas (até 8m de
comprimento), médias (entre 12 e 14m de comprimento) e grandes (a partir de 18 metros).
As traineiras de Jurujuba costumam pescar até os 30m profundidade, pois a rede ‘baixa’
(quando jogada em áreas fundas) não ‘trabalha’ direito, segundo os pescadores.
As ilhas Cagarras são eventualmente importantes para as traineiras, principalmente em
função de cardumes de Xerelete (Carangidae) e Cavalinha (Scombridae) que ‘encostam’ nas
ilhas. Os cardumes de Xerelete são mais comuns nestas áreas nos meses de agosto a outubro.
Alguns barcos (ex. Sr. Ademir) podem utilizar a área das Ilhas Cagarras eventualmente para a
captura do peixe chamado ‘boca-torta’. A importância das ilhas para os pescadores de
traineiras é também relativa ao tamanho das embarcações. Embarcações grandes possuem
uma área de atuação significativamente maior, e dificilmente utilizam as ilhas para a pesca.
Em contrapartida, pequenas traineiras parecem fazer uso mais intenso da área imediatamente
adjacente a algumas das ilhas para o cerco destes cardumes.
160
Corvina X X X XX X X X X X X X
Enchova X X X X X X X X X X X X
Bonito X X X X X X X XX X X X
Serra X X X X X X X XX X X X
Cação X X X X X X X XX X X X
Guaibira X X X X X X X X X X X X
Pitangola X X X X X X X X X X X X
Peroá XX X X X X X X X
Tainha X X X X X X X X X X X X
Palombeta X X XX
Espada X X X
Legendas:
X Bom X Razoável X Ruim Em branco: não há comercialização
Tabela 58 - Custos mínimo e máximo aproximado por recurso, conforme informação dos
pescadores de Caiçara
Pescado Preço mínimo Preço máximo
aproximado (R$) aproximado (R$)
CAÇÃO 8,00 9,00
PITANGOLA 7,00 12,00
ENCHOVA 6,00 reais em média
CORVINA 2,00 3,50
PALOMBETA 2,00 4,00
TAINHA 2,00 reais em média
SERRA 1,00 1,50
ESPADA 1,00 1,20
BONITO 0,50 1,80
OBS: Os preços tendem a ser bastante maiores no feriado da Semana Santa.
Local: Praça próxima ao Cais de Jurujuba Data: 28.08.08
Participantes: Jaime, Gilson, Alexandre e Leandro
A pesca de Caiçara, em alguns casos, chega até mar aberto (80m profundidade). A
redes utilizadas pelas embarcações maiores são classificadas em dois tipos, rede corvineira (ou
rede baixa ) e rede alta (Tabela 59). A rede tipo corvineira é exclusivamente utilizada para a
161
captura da corvina Micropogonias furnieri, um recurso demersal capturado com a rede disposta
no fundo. Esta rede é mais curta (150-200 braças) e mais baixa (apenas 1,5 braças) do que a
rede alta (aproximadamente 1500 braças de comprimento e 7 de altura). Esta última, por sua
vez, é utilizada para capturar maior variedade de peixes, sendo disposta na superfície (rede
boiada). As redes são diferenciadas também pela malha e fio utilizado. Enquanto a rede
corvineira é empregada com malha e fio 60’’, a rede alta é comumente utilizada com malha
50’’ e fios 50’’ ou 60’’.
A pescaria de caiçara em Jurujuba dura aproximadamente 8-10 dias de mar. Em termos
gerais, gasta-se aproximadamente R$3.000,00 a R$4.000,00 por pescaria.
X X X X X X X X X X X X
1- Serra
X X X X
2- Palombeta
X X X X X X X X
3- Corvina
X X X X X X X X X X X X
4- Enchova
X X X X X X X X X X X X
5- Cação
X X X X X X X X X X X X
6- Guaibira
X X X
7- Espada
X X X X X X X X X
8- Peroá
X X X X X X X X X X X X
9- Tainha
X X X X X X X X X X X X
10- Pitangola
Legendas:
X Muito X Razoável X Pouco Em branco: não há produção
Numeração (1-10) representa ordem decrescente de importância do recurso para o grupo.
Local: Praça próxima ao Cais de Jurujuba Data: 28.08.08
Participantes: Jaime, Gilson, Alexandre e Leandro
163
REDEIROS
164
Figura 69 – Redeiros fazendo a manutenção em redes tipo caiçara (esquerda em cima e à direita) e redes
de cerco para traineira (esquerda abaixo), em Jurujuba, Niterói.
Criação (cultivo)
em Jurujuba
Figura 70 – Pescador utilizando embarcação do tipo ‘baleeira’ preparando-se para uma pescaria com
redes de caiçara nas Ilhas Cagarras.
167
DOURADEIROS
MANUTENÇÃO DE EMBARCAÇÕES
168
PESCA DO POLVO
Figura 72 – Pescador de polvos em sua baleeira ou caiaque, utilizados para a pesca do polvo (esquerda)
e ‘Estaleirinho’, o principal Porto de desembarque dos polvos em Jurujuba, Niterói.
169
8. ITAIPÚ - NITERÓI
8.1 Metodologia
As atividades relativas a primeira etapa do projeto consistiram em 4 visitas à Itaipu,
realizadas nos dias 25, 26 e 27 de abril e 02 de maio de 2008 (Tabela 64).
As atividades realizadas em abril foram previamente agendadas com a Diretoria da
Colônia de Pescadores Z-07 de Itaipu que mobilizou um grupo de pescadores atuante das três
principais artes de pesca: rede de espera, linha e arrastão de praia (lanço à sorte). Este grupo
auxiliou na mobilização de outros pescadores ao longo das atividades que também foram
apresentando outros grupos, de forma a compor o universo de participantes dos trabalhos.
A atividade realizada no dia 02.05 foi agendada com a Diretoria da Associação Livre dos
Pescadores de Itaipu – ALPAPI, entretanto, seu representante não mobilizou os pescadores
como proposto, tendo sido realizadas entrevistas semi-estruturadas com alguns pescadores,
7
KANT DE LIMA, R. & PEREIRA, L.F. (1997). Pescadores de Itaipu. Meio Ambiente, Conflito e
Ritual no Litoral do Estado do Rio de Janeiro. Niterói, RJ, EDUFF, 331p.
170
171
173
8
Para o arrastão de praia são necessários em média seis pescadores para cada operação de pesca.
9
Destaca-se que o pescador não apenas vivenciou o processo de ocupação da praia pelos
condomínios na década de setenta como se opôs a ele e atualmente continua articulado a movimentos
que buscam a valorização dos pescadores artesanais.
174
Tabela 65 – Estratificação social dos pescadores tradicionais de Itaipu elaborada pelo Sr. Chico –
Presidente da ALPAPI.
Situação No Critérios
Social estimado
de famílias
Pior 30 famílias Possui baleeira a remo; casa própria; mora em região de risco
social no Cantagalo (favela) ou em Itaipu.
Tabela 66 – Estratificação social dos pescadores tradicionais de Itaipu elaborada por Lidiane –
Secretária da Colônia Z-07 de Itaipu.
Situação No estimado Critérios (Lidiane - Colônia)
Social de
pescadores
Pior 6 famílias Mora com os pais; pesca de ajudante e esposa não trabalha.
175
176
A tainha era pescada nos meses de maio a agosto, mas sua pescaria está se
extinguindo.
O pescador é proprietário de quatro canoas de um pau só e das redes, além de
comandar a pescaria. Segundo ele, desde os 19 anos já atuava como mestre na pesca de
arrastão10. É fato, que Sr. Cambuci é um dos participantes da pesquisa de Kant Lima, na
década de setenta.
Nesta arte, canoas e redes são específicas para a captura de cada recurso-alvo: tainha,
parati e lula. A quarta canoa é utilizada na pescaria de rede.
Na pesca de arrastão vão 3 pescadores na canoa, além do mestre, e são chamadas
outras pessoas para ajudarem a puxar a rede em terra. Em geral, são necessárias quatro
pessoas de cada lado da rede para puxarem-na.
A manutenção dos equipamentos de pesca também é realizada pelo mestre.
A partilha do arrastão é feita da seguinte forma: o dono dos equipamentos de pesca fica
com 3 partes da produção de pescado devido à propriedade dos meios de produção e mais
uma pelo comando da pescaria; os pescadores ficam com uma parte e meia cada um. Para as
pessoas que ajudaram apenas na puxada é reservada uma caixa de peixe.
10
Atualmente, Sr. Cambuci está com 53 anos.
177
Linha
A maior parte dos pescadores de linha atua com um companheiro. As despesas são
divididas igualmente e a receita é oriunda de sua própria produção, ou seja, cada um fica com
o que pescou.
Destaca-se, entretanto, que ao menos um pescador vai sozinho para o mar.
Mergulho
No mergulho de peito, paga-se uma diária para o ajudante, responsável por cuidar do
barco.
178
179
180
181
182
Espada X X X X X X X X X
Garoupa X X X X X X X X X X X X
Corvina X X X X X X X X X X X X
Anchova X X X X X X X X X X X X
Xerelete X X X X X X X X X X X X
Baiacu X X X X X X X X X X X X
Olho de Cão X X X X X X X X X X X X
Cangulo X X X X X X X X X X X X
Maria Mole X X X X X X X X X
Lula X X X X X X X X X
183
184
185
11
A abordagem foi realizada de forma individual por dois motivos. Em primeiro, porque era o
horário de trabalho dos arrematadores. Em segundo, porque poderia haver estratégias de
comercialização diferenciada e a aplicação de ferramenta coletiva geraria desconfiança.
186
*os tratadores trabalham em média 6 horas/dia nos finais de semana, quando há mais movimento na praia;
além das gorjetas que podem receber dos consumidores de peixe, recebem um pagamento do próprio
arrematador. Segundo relatos de um dos tratadores é possível se ganhar de R$ 30 a 40,00 por dia no final de
semana;
** espada para o frigorífico Funelli em Ponta de areia
*** somente quando há muita produção; nesse caso há um fretamento coletivo de transporte para levar o
peixe.
188
Tabela 71 – Pescadores mais experientes nas diferentes modalidades de pesca, segundo a recomendação
do pescadores de Itaipú, Niterói.
Nome do Modalidade de pesca
informante rede linha mergulho
Rômulo Edson, Cipó, Jairo Valdeci (Cachorro), -
Pedro
Sr. Pedro - Cachorro, Mazico, Pedro, -
Neguinho
Valdeci (Cachorro) - Silvão -
Mazito - Valdeci (Cachorro), -
Silvão
Sr. Cambuci É sorte, não tem melhor Pedro, Cachorro, Primo -
Mauro Marco, Edson, Paulo Pedro, Valdeci, Heraldo
Roberto, Joni, Ricardo
Celso Marcos, Joni, Kate, Edson Valdeci, Pedro, Lúcio,
Eraldo
Para baleeira de alumínio: Cachorro, Pedro, Tripa Sr. Chico, Marco,
Bolinha, Cati, Eric e Limão (Marco) Reinaldo, Reny
189
9. DEVOLUTIVAS
190
191
192
Ao longo da execução deste estudo, a ECOMAR lançou mão de várias abordagens para
registrar o principais conflitos no uso do espaço marinho no entorno das Ilhas Cagarras,
incluindo: 1) matriz de conflitos; 2) entrevistas individuais abertas; 3) mapeamento preliminar
individuais ou em pequeno grupos e; 4) mapeamento participativo. Apresentamos aqui um
resumo dos principais conflitos identificados no estudo (Tabela 72). Um detalhamento mais
aprofundado sobre as especificidades e localização espacial dos conflitos estão contidos no
corpo deste relatório. Vale lembrar que os conflitos que se exprimem aqui representam o olhar
dos pescadores artesanais das 5 comunidades investigadas, e não de todas as comunidades
pesqueiras presentes no Rio de Janeiro e Niterói. Reconhecemos que podem e devem existir
outros conflitos na área sob o olhar de outros pescadores e grupos de usuários (ex. mergulho
contemplativo, ambientalistas, pesca esportiva, etc), e que estes são igualmente relevantes na
condução de um processo de Gestão Ambiental Pública na região.
193
194
Falta de fiscalização
Este parece ser a maior reivindicação do pescadores artesanais das 5 comunidades
visitadas. O órgão ambiental IBAMA é duramente criticado por sua ausência institucional, e é
visto com total descrédito entre os pescadores de uma forma geral. A falta da presença do
IBAMA no mar parece trazer um sentimento de frustração relacionada a qualquer nova
iniciativa de ordenamento que parta deste órgão. Por este motivo, o espaço marinho torna-se
um local onde se pode fazer de tudo, onde vigora a impunidade. Sem esta presença mínima do
Estado, a motivação em seguir as leis não é retro-alimentada pelos pescadores, e uma
situação observada de ‘livre-acesso’ se instaura.
Oakerson (1992) argumenta que a maneira como os outros se comportam cria
obstáculos e incitações para cada indivíduo escolher entre alternativas comportamentais na
apropriação de um recurso de uso comum. O espaço marinho no entorno das Ilhas Cagarras é
ocupado e utilizado por dezenas de diferentes grupos e setores da sociedade, provenientes de
diversas localidades da região. Este contexto caótico parece trazer a impessoalidade da
grande cidade para o mar, uma certa ‘urbanidade’ no espaço marinho. Em conseqüência, há
a possibilidade de sair-se impune quando o indivíduo opta por uma estratégia ‘free-rider’ de
comportamento. Para o ‘free-rider’, o rendimento a curto prazo é maior. A alternativa
individual de um pescador, por exemplo, seria a opção pela cooperação com as leis de
ordenamento vigentes. Um único ‘free-rider’, dependendo de sua capacidade de subtração do
total dos recursos pesqueiros, pode desencadear um padrão geral de não cooperação. A
escolha mútua pelos pescadores de estratégias cooperativas, por outro lado, fortaleceria um
padrão geral de reciprocidade. A reciprocidade entre os pescadores em cumprir as regras
existentes ou desencadear uma ação coletiva voltada ao respeito das normas ambientais é
totalmente desfavorecida no entorno das Ilhas Cagarras em função da ausência institucional
do IBAMA, mas também pela lógica de mercado que engendra a atividade pesqueira e os
coloca cada vez mais numa situação de vulnerabilidade social.
195
Uso de mesmos Grandes barcos de cerco (pau Perda, roubo ou dano de material de pesca (rede alta, de
pesqueiros por broca), de arrasto (chifrudos) caceia e corvineiras)
pescadores de outras vindos do estado do RJ e de
comunidades SC
Crescimento urbano População em geral e Poluição do mar e das lagoas, afetando os pescados e a
desordenado e falta de governos (poder público) produção pesqueira
saneamento
Falta de ordenamento Pesca de pequeno/grande Invasão das áreas de pesca e queda da produção
e fiscalização portes/governo artesanal
URCA
Desrespeito ao defeso Barcos de grande e pequeno Praticado por diversas embarcações na área de baía e no
porte mar. É decorrente da falta de fiscalização
Rede de malha miúda Barcos de pesca industrial Embarcações de grande porte e alto poder de pesca, dado
operada pelos barcos o aparelhamento tecnológico avançado de que dispõem.
pau broca Atuam em áreas costeiras, solapando recursos
importantes para a continuidade da pesca artesanal, como
a sardinha, que constitui a base da cadeia alimentar de
espécies que capturam.
Rede de caceia Barcos de grande tonelagem Colocada por barcos de grande porte na área entre as
(ES/SC/Angra dos Reis e Cabo Ilhas Redonda e Palmas. Essas redes impedem o percurso
Frio) das espécies e prejudica a captura. É também colocada
muito próxima aos costões.
Pesca de bomba Barcos de traineiras, lanchas e Embora não seja tão frequente como no passado, os
canoas efeitos sobre a produtividade e o ambiente ainda são
percebidos
Coleta irregular de Barcos de Jurujuba A coleta é realizada, muitas vezes, de forma predatória
mariscos (mexilhão) afetando o ambiente e os pescados em geral.
Pesca de grande porte Barcos de grande e pequeno Prejudicial a todas às demais pescarias. Afeta,
em área costeira porte principalmente, a reprodução das espécies pois não há
(cerco; parelha; seletividade e nem fiscalização que a coíba.
arrasto)
Pesca de compressor Barcos de traineiras, lanchas e Feita de forma indiscriminada e predatória. Também
canoas voltada para a venda de peixes ornamentais
Poluição da Baía e dos Órgãos de governo Afeta a qualidade do pescado, apesar de prover aporte de
emissários no mar nutrientes
COPACABANA
Uso do mesmo Pescadores de linha / Conflito ocorre quando um pescador não respeita o outro,
pesqueiro pescadores de rede / colocando a rede ou pescando próximo de quem chegou
pescadores amadores primeiro.
Furto de material de Pescadores de Copacabana / Roubo de materiais de pesca que estão operando nos
pesca (redes) pescadores de outras colônias pesqueiros
Lixo e poluição Pescadores / Órgãos públicos Aumento da quantidade de poluentes na água do mar.
Falta de fiscalização Pescadores / IBAMA Pescadores reivindicam uma maior presença do IBAMA no
mar
Criação de uma UC em Pescadores / IBAMA Receio dos pescadores em perder mais áreas para a
Cagarras prática da pesca
Pesca com bombas Pescadores de Copacabana / Segundo os pescadores, a pesca com bombas não ocorre
pescadores de outras mais, mas trouxe muitos danos à região
localidades
Risco de atropelamento Mergulhadores de Copacabana O tráfego de lanchas e outras embarcações implica riscos
por embarcações / turistas e praticantes de de atropelamento aos mergulhadores, principalmente o
esportes náuticos jet-sky
Risco de prender-se Pescadores de mergulho / Redes colocadas próximas a canais e junto aos costões
em redes pescadores de rede em geral oferecem perigo para os mergulhadores de Copacabana,
principalmente
Redes perdidas que Pescadores em geral / Redes que são perdidas ou esquecidas na água continuam
continuam a pescar pescadores de rede a pescar, trazendo grande mortalidade de peixes que não
indefinitivamente são consumidos
ITAIPÚ
Poluição Pescadores / órgãos públicos Aumento da quantidade de poluentes na água do mar,
e sociedade em geral principalmente o óleo despejado e o despejo das dragas
próximo às ilhas Pai, Mãe e Menina.
Pesca de mergulho Pescadores de Itaipú em geral Muitos pescadores de Itaipú consideram a pesca de
com equipamento de / pescadores de mergulho mergulho com compressor extremamente predatória.
respiração autônoma com compressor
Especulação imobiliária Pescadores de Itaipú / órgãos Pescadores estão receosos de que um projeto de
e ordenamento da orla públicos ordenamento da praia venha a limitar ainda mais o uso do
com prejuízo aos espaço por eles, agravando o problema já causado pela
pescadores especulação imobiliária.
Trânsito da barcaça Pescadores e maricultores / Pescadores reclamam ter perdido áreas de pesca
pela enseada de empresa de barcaças localizados na rota da barca, além da suspensão de
Jurujuba sedimentos causada por ela principalmente nas áreas
mais rasas da enseada de Jurujuba. Maricultores também
reclamam que a barca, quando parte em velocidade
superior àquela permitida, produz ondas prejudiciais ao
sistema de cultivo de mexilhões.
197
Poluição da água
A altíssima taxa de poluição é algo preocupante para todos os pescadores artesanais
das 5 comunidades visitadas. A poluição compreende resíduos sólidos (lixo), assim como o
dejeto de efluentes domésticos e industriais, emissários submarinos, óleo de embarcações e o
efeito de dragas e barcaças que aumentam a suspensão de resíduos na coluna d’água lançados
ao mar, na Baía Guanabara e nas lagoas. Os pescadores recorrentemente associam de
maneira determinante a crise dos recursos pesqueiros da região, dentre outros fatores, à
poluição. Talvez não exista outro setor da sociedade mais afetado pela poluição do que os
pescadores artesanais, que têm no mar a fonte de renda e alimento (Figura 87).
Seria pertinente também considerar os efeitos causados por essa poluição no próprio
processo de discussão de criação uma unidade de conservação contrapondo-os às finalidades
dispostas no SNUC. Da mesma forma, se entende que se deva provocar uma discussão mais
focada nas responsabilidades, competências e atribuições dos entes públicos que respondem
pela gestão ambiental pública na região.
198
Pescarias predatórias
Fora os impactos e conflitos da pesca industrial e/ou com grandes embarcações, outras
três práticas são consideradas especialmente predatórias: 1) pesca com explosivos; 2) pesca
de arrasto; 3) pesca subaquática com equipamento de respiração autônoma.
A pesca com bombas parece não existir mais na área segundo relatos, mas permanece
na memória dos pescadores como uma prática que prejudicou a condição dos recursos
pesqueiros da área.
199
12
Para visualizar o video http://www.youtube.com/watch?v=pkfN4uhCJME Outra alternativa é buscar pelo seguinte
vídeo no Youtube “DENÚNCIA - Crime Ambiental e Covardia em Saquarema”
200
201
sendo do IBAMA). A falta de confiança no órgão ambiental gera receio e pessimismo dos
pescadores sobre o impacto da possível UC na prática diária de sua atividade de pesca. Em
meio a tantos outros conflitos, os pescadores artesanais contrários à proposta de UC temem
perder mais pesqueiros, ou ainda, que se aumente a competição pelos recursos em
determinadas áreas. A maneira como a proposta anterior foi construída pelo órgão e
apresentada em audiência pública também parece reforçar este temor. A audiência pública foi
frequentemente lembrada como o momento ícone de mobilização e vitória dos pescadores
artesanais. Parece claro contudo que existe um grande desconhecimento dos detalhes da
proposta apresentada pelo IBAMA, especialmente sobre o delineamento das áreas de exclusão
de pesca e na gestão da Unidade.
No entanto, alguns pescadores das comunidades visitadas não são desfavoráveis à
medidas de conservação no local. Assim como foi evidenciado durante a audiência pública,
vários grupos de usuários são favoráveis e inclusive encaminharam propostas alternativas de
criação de UC nas Ilhas Cagarras, e concordam sobre a necessidade de ordenamento e
controle das atividades produtivas desenvolvidas no espaço marinho.
A pesquisa realizada por Ferketic et al. (in press) sobre a percepção dos diferentes
atores sociais do Rio de Janeiro sobre a proposta de criação da UC em Cagarras sugerem que a
proposta possui um grande potencial de trazer benefícios tangíveis para todos os grupos.
Todos os grupos, incluindo os pescadores, possuem interesses e acreditam na conservação,
segundo os autores deste estudo. Segundo eles, o entendimento dos interesses e necessidades
específicas de cada grupo são fundamentais para o sucesso de propostas de conservação no
local.
Entretanto, é importante considerar que a sociedade não é um todo homogêneo, pois a
causa, a finalidade e as possibilidades de intervenção estão colocadas, desde o início do
processo, de forma diferenciada e assimétrica para os diferentes grupos sociais envolvidos.
Reconhecer esse princípio é considerar que a criação de uma UC ou a institucionalização de
qualquer outro instrumento de gestão ambiental semelhante, é objeto de disputa na
sociedade, produto da objetivação de determinados grupos sociais que se definem no campo
ambiental pelas relações de concorrência e poder que estabelecem entre si. Assim, a maneira
como esta nova proposta será construída, ou seja, a forma como o processo será conduzido
pelo poder público e dialogado com os grupos de interesse, ditará em grande parte o sucesso
das futuras iniciativas.
Nesse sentido, entende-se que o Estado como mediador principal do processo de gestão
ambiental no país deverá prever mecanismos que assegurem a participação qualificada dos
pescadores no processo de discussão de criação da UC, bem como a inclusão de sua agenda de
prioridades.
Outro ponto que guarda estreita relação com a condução desse processo, é o que diz
respeito à gestão da atividade pesqueira, também incumbência do poder público. Nesse
202
204
limitação de recursos disponíveis no órgão, a adoção desta estratégia não resolve o atual
problema, que é fortalecer um processo de gestão participativo mesmo antes da UC ser criada.
Um processo de criação de AMP mal conduzido pode trazer dificuldades ainda maiores para a
sua implementação no futuro.
O atual contexto institucional do ICMBio pode favorecer uma abordagem centralizadora
nas decisões e encaminhamentos. É preciso observar observar a capacidade operacionais,
recursos humanos e financeiros do órgão para efetiva implantação da unidade, bem como para
a condução de um diálogo amplo com a sociedade. Uma vez que o ‘processo’ de gestão
ambiental pública é deflagrado, é importantíssimo dar continuidade e respaldo institucional ao
mesmo. No entanto, o contexto urbano e a dinâmica de uma metrópole costeira impõem,
como relatado anteriormente (tópico ‘mobilização’ na seção ‘abordagem metodológica’),
desafios ainda maiores para a mobilização e coordenação contínua de reuniões e encontros
sistemáticos com um grupo diverso de atores. No Rio de Janeiro, a realidade atual é de falta
de recursos humanos, financeiros e logísticos para a condução e implantação de um processo
participativo de gestão ambiental robusto e de longo prazo.
Entendemos que a intermitência, a morosidade e, por fim o pouco conhecimento
das condições sociais da produção pesqueira atuante na região, durante o processo de
construção da proposta, foram fatores determinantes da fragilidade que a mesma encontrou
diante da audiência pública. Foram 20 anos de trâmites no total. Entre 2002 e 2007, momento
em que a proposta tomou corpo e os encaminhamentos mais evidentes e claros junto ao órgão
ambiental, o diálogo com os atores envolvidos foi limitado a poucas reuniões em grandes
intervalos de tempo. Notamos também que talvez por este motivo, houve pouca continuidade
e recorrência na participação dos representantes e atores-chave no processo.
Não queremos com isso argumentar que o processo de criação de uma Área Marinha
Protegida deva ser conduzido com rapidez. A idéia é que a construção e ‘amarração’ com os
atores chave deve ser consistente, respeitando a dinâmica própria e o tempo que o contexto
exigir. Neste aspecto, um ponto fraco no histórico foi não-inclusão participação dos pescadores
artesanais no Grupo de Trabalho criado pelo órgão ambiental para coordenar a criação da UC
nas Ilhas Cagarras, evidente em um ofício encaminhado pela Colônia Z-13 à SEAP:
“...os pescadores da Colônia Z-13 de Copacabana, que sempre vivemos da subsistência da pesca
diária nas ilhas, e que somos os maiores conhecedores e interessados nos problemas que afligem o
nosso arquipélago, não podemos aceitar ser deixados de lado de um grupo gestor que vai administrar
uma área que é nosso local de trabalho, visto que temos uma situação geográfica única de estar em
um perímetro de apenas quatro quilômetros das ilhas, e fazemos questão de participar, com voz
ativa dentro desse grupo, e contribuir com nossa experiência e conhecimento, para a melhor
proteção possível do arquipélago”.
Tal afirmação deixa claro que a pesca surge como uma categoria oriunda de uma
prática comum que os define na esfera social e os opõe àqueles que tem outras opções de
205
atividade e emprego. Corrobora também a idéia de que o espaço marinho não é apenas um
ambiente natural, mas um espaço significado, cujas práticas sociais que ali se desenvolvem
(seu trabalho) lhes atribui sentido e, por isso, devem ser consideradas na construção de
qualquer proposta que venha a ter relação com a reprodução social desse grupo.
Como resultado do processo de construção coletiva, proporcionado pela metodologia
aplicada nesse diagnóstico, se pode observar que, em meio a realidade urbana de uma
metrópole como o Rio de Janeiro, existe uma grande diversidade de pessoas que fazem da
pesca artesanal seu principal meio de vida, ou possuem nela, um complemento importante
para a renda familiar. As saídas diárias em busca do pescado que abastece parte do comércio
local e regional, não se resumem ao estabelecimento de estratégias de captura dos pescados,
pois são inúmeros os conflitos vivenciados com embarcações de porte industrial que disputam
o mesmo espaço marinho e os recursos pesqueiros, expondo aspectos cruciais que envolvem a
gestão da atividade pesqueira, e também um cenário de crescente degradação ambiental que
tem agravado processos sociais geradores de maior vulnerabilidade para esse grupo social.
Assim, qualquer lei, norma ou regulamento que se apresente descolada do mundo real,
terá sua aplicação profundamente questionada pelo meio social sobre o qual incide. Nesse
sentido, sustenta-se que qualquer estratégia de implementação de instrumentos de gestão
ambiental que venha a ser levada a cabo pelo poder público, requer um mínimo de
funcionalidade e, para que tenha efeito, deverá levar em consideração essa realidade, sob
pena de não cumprir seu objetivo. Para garantir uma gestão ambiental pública inclusiva e
democrática é necessário assegurar que os diferentes grupos sociais tenham participação
garantida e qualificada dentro do processo decisório que envolve a distribuição social dos
custos e benefícios decorrentes do uso e exploração dos recursos ambientais.
A inconsistente articulação prévia do IBAMA com os atores locais deixou vulnerável a
proposta apresentada em audiência pública, mesmo que ela tenha sido fruto de algumas
reuniões com os pescadores, marinha e outros atores sociais, onde o IBAMA parece ter
procurado estabelecer um algum nível de mediação de interesses. Prova disto pôde ser
percebida no grande impacto das informações equivocadas veiculadas pela ONG VIVAMAR
sobre a proposta do órgão ambiental. Esta ONG parece ter articulado pesadamente em
diversas instâncias políticas e na mídia, com o aparente objetivo de confundir as pessoas sobre
os detalhes da proposta de UC.
Por este motivo, acreditamos que o processo de gestão compartilhada na região deva
se dar através de parcerias interinstitucionais com as universidades e organizações não-
governamentais com atuação local, agências governamentais com atuação na área marinha e
usuários dos recursos pesqueiros. O órgão ambiental precisa de apoio neste difícil, complexo e
dinâmico contexto socioambiental. Alem disto, este já demonstrou ser um ótimo mecanismo
para o sucesso de iniciativas de gestão pesqueira em outras localidades do litoral brasileiro
(Gerhardinger, 2009; Seixas et al., 2009).
206
Tabela 73– Relatos obtidos durante as oficinas de mapeamento participativo, sobre a variação histórica na
produtividade dos principais pesqueiros no entorno das ilhas Cagarras.
Comunidade /Pesqueiro/tipo Produção de um bom dia de pesca, se Produção atual de um bom
pesca possível, a 20 anos atrás dia de pesca
COPACABANA
Rede
Rede linguadeira na beira da
praia.
Cerca de 100 a 200 kg de linguado na Barra Em torno de 10 a 15 kg de
Mais freqüente entre o hotel linguado. O linguado está cada
Costa Brava até a Ponta do vez mais difícil de ser capturado
Leme.
Rede linguadeira no cascalho.
No largo (dos 30 aos 40m de Há 10 anos atrás capturavam cerca de 200kg de Cerca de 40kg (dependendo do
profundidade), entre as Ilhas peixe (incluindo tamboril, badejo e viola). tamanho da rede). Uma boa
Redonda e Rasa e por fora da Antigamente pescavam todos os dias com este produção seria 20kg de tamboril
ilha Comprida. artefato mais 20kg de cação viola
Rede corvineira.
Largo e perto da costa Há 20 anos não precisavam ir tão longe para pescar. Uma boa pesca no largo rende
(terra). Do Surriá à beira da Começaram a freqüentar o largo a partir de 1995. atualmente 100 a 200kg. A
praia até a ponta do Nesta época, capturavam entre 1000 a 2000 kg pesca na beira da praia não
Arpoador. Raramente na numa boa pescaria produz em grande quantidade.
praia de Copacabana. Do
Leme até a ilha de
Cotunduba.
Rede alta come-dorme.
Beira da praia, do Leme ao Antigamente, uma boa pescaria produzia entre 100 a Atualmente uma rede come-
Juá (Costa Brava). Desde a 300kg. Um peixe que se capturava muito era a dorme produz 30kg de pescado.
arrebentação até 150 m para sororoca, espécie que hoje quase não se encontra Captura-se muitos peixes
fora. pequenos.
Pesca de linha no Emissário A produção era considerada muito melhor Aproximadamente 400 reais (2
antigamente caixas de anchova, ou 50-70kg)
Mergulho
Pai, Mãe, Menina De sete a dez anos atrás podiam capturar 40 kg de A captura caiu muito, está dez
badejo e garoupa em uma boa pescaria. De dez anos vezes menor do que
para cá mudou muito. Em qualquer ilha podia-se ver antigamente. Hoje em dia é
cardumes de badejos (cerca de 50 peixes juntos). muito difícil capturar 10kg de
Mergulhavam numa profundidade de 5 metros é já pescado, que é o valor
viam o peixe, hoje descem 20 metros e está difícil considerado para uma ótima
encontrar qualquer coisa. pescaria nos dias de hoje
Ilha Rasa Era possível capturar em torno de 50 quilos de Dependendo das condições de
peixes de passagem em uma pescaria. água, é possível capturar até 20
quilos de peixe (peixes de
passagem, pelágicos).
Redonda e Filhote Há 10 anos esta era a melhor ilha. Não se pescava Uma boa pescaria captura em
menos que 50kg de pescado em uma pescaria. Nos torno de 15kg de peixe.
anos 1990 a 1992, já chegaram a pescar 80kg de
anchova em um dia. O acentuado declínio de peixes
ocorreu depois que começaram a pescar muito com
redes de malha e arrastões.
Laje da Redonda – Banco do Idem Redonda e Redondinha. A produtividade era Idem Redonda e Redondinha.
Brasil muito alta antigamente, sendo possível capturar 50
quilos de anchova em uma pescaria.
Ilhas Cagarras 50 a 60kg. 15kg de pescado em uma boa
pescaria O polvo é um recurso
que acabou nas Cagarras.
Ilhas Tijucas Uma boa pescaria há cerca de 10 anos atrás, rendia 20 kg
50 – 60kg.
URCA
Linha Pescavam muito anchova grande (de Podem capturar em torno de
Lajinha das Cagarras aproximadamente 8 Kg) na entrada da Barra. Não 300Kg de peixe se pescar a noite
precisavam ir longe. Explicam que há 20 anos atrás toda entre 3 pescadores.
nem iam para as Cagarras. Começaram na Laje das Explicam que este é um ponto
Cagarras quando os barcos industriais começaram a de passagem dos peixes e que
207
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210
211
ANEXO 1 - Matérias Jornal do Brasil
212
Na colônia Z-13 a mulher não fica esperando o marido voltar
Carlos Braga, Jornal do Brasil
RIO - Pescaria sempre foi considerada coisa de macho. Até hoje é difícil encontrar moças que listem o
esporte entre as suas preferências na hora de lazer. Que dirá, então, fazer dessa atividade o seu
sustento? Pois Kátia Janine não só viveu disso por muito tempo como é a presidente, há mais de dois
anos, da colônia de pescadores Z-13. E se candidatou a pedidos. Nem por isso se livrou de atritos com
alguns de seus companheiros, homens do mar. Na primeira reunião que presidiu, um dos associados se
levantou e lhe disse na cara que não a queria no comando por que era mulher.
– Em outras ocasiões teve gente avisando que não ia aceitar ordem de mulher. Expliquei que não queria
mandar em ninguém e tal. Hoje somos muito amigos, mas na hora tivemos esse problema. Até hoje tem
uns turrões que não me aceitam na presidência – conta Kátia, rindo.
O mandato é de quatro anos. Kátia se candidatou porque pensara que ainda era de dois anos. Por um
lado achou bom, dois é pouco; mas, por outro, não vê a hora de sair. Quer voltar para a pescaria, mas
não arranja tempo. A Z-13 abrange os núcleos que vão da Urca até o Pontal do Recreio. Chega à colônia
por volta das 8 e vai embora às 15h. Não há rotina. Cada dia tem os seus pepinos, ou melhor, ouriços.
Na quarta-feira, ajudava um associado a comprar peças novas para seu barco. Intermediou toda a
negociação entre o enrolado pescador e um atrapalhado vendedor.
– Eles falam que tinha que ter uma mulher aqui para arrumar a casa. Acho que homem, às vezes, é meio
preguiçoso, meio mole – avalia.
Pesca e ombros largos
Kátia começou seu caso de amor com o mar ao lado marido, na Ilha do Governador, em 1988. Ele se
dividia entre o emprego de motorista da Comlurb e a pesca. Os casal botava o barco na água, todo dia,
às 7h30, depois de Kátia levar os filhos para a escola. Parecia letra de Caymmi. Era dureza. O barco era a
remo. De vez em quando eles improvisavam uma vela de plástico para aproveitar o vento e se cansar
menos. Da época, ficou a habilidade em lidar com os apetrechos de pesca e os ombros de nadadora.
– Por isso que fiquei larga aqui (aponta com as duas mãos para os ombros). Quando vi, não tinha mais
jeito – lamenta-se, bem humorada, Kátia, que não gosta de peixe, só de camarão.
Mas Kátia não é a única mulher na associação de homens do mar. Dona Tininha, como é conhecida
Logina Lazarini Rodrigues, de 72 anos, já trabalhou 10 anos como pescadora, com o marido. Mineira de
Ponte Nova, veio para o Rio por recomendações médicas, devido a uma bronquite. Apaixonou-se pelo
mar e não voltou mais. Hoje mora em Madureira, na Zona Norte. Pescava de rede e de arrastão, na beira
da praia, o que não faz mais.
– Adoro pescar, mas tenho osteoporose. Não dá mais. Gosto de pescar e de comer o peixe, mas peixe de
segunda, como corvina. Desses peixes caros não gosto muito não – explica Dona Tininha, reclamando
que hoje o produto anda escasso.
20:10 - 07/03/2009
213
ANEXO 2 - Lista de nomes populares e científicos dos recursos pesqueiros utilizados pelas
comunidades de entorno das Ilhas Cagarras
214
Polvo Octopodidae Octopus vulgaris
Rhinobatos sp
Robalo Centropomidae Centropomus sp
Roncador amarelo Sciaenidae
Sargo de beiço Sparidae Anisotremus surinamensis
Serra Scombridae Scomberomorus brasiliensis
Sororoca Sphyraenidae Scomberomorus brasiliensis
Tainha Mugilidae Mugil sp
Tamboril Lophiidae Lophius gastrophysus
Tira vira Synodontidae Synodus foetens
Xaréu Carangidae
Xerelete Carangidae Carangoides sp
215
ANEXO 3 - Fichas de Conteúdo das Oficinas de Mapeamento Participativo
216
(fio mais grosso). Já até 30 metros de profundidade pescam com malha de 35 até 40 (fio mais fino). É
utilizada em posição perpendicular à praia. Só no Bin Laden que pesca de flo flé. Entretanto, quando
utilizada mais distante da costa os pescadores mudam a posição da corvineira em função do risco da rede
ser arrastada por embarcações de arrasto. Para fora utilizam as redes de fio mais grosso (60) e malha
maior (55).
Pesqueiro: do Leblon até depois do quiosque localizado antes do canal.
Época: O ano todo.
Freqüência: todo dia. Obs. Só não vão quando o mar está bravo.
Recursos principais: corvina miúda, pescada, anchova, olho de cão, robalo, espada, cabrilha, xerelete,
bonito (muito), tira e vira (esse ano deu bastante), merluzinha, prego.
Tipo de Fundo: cascalho/pedra
Aspectos qualitativos da produtividade:
Hoje: uma boa pescaria é de no máximo 200, 250 a 300 quilos.
20 anos: Até 15 anos atrás tinha camarão. Antes da Barra crescer era necessário fazer três viagens para
trazer todo o peixe capturado, não tinha muita venda, mas dava muito peixe, não tinha tanto arrasto,
não tinha esgoto, a lagoa era um berçário. Pescava-se corvina de 3 a 4 kg e robalo. De julho a agosto,
pegava-se muito camarão dentro da lagoa.
Conflitos:
Poluição (a lagoa é muito poluída) e desde então a lagoa não dá muito peixe.
Traineiras que cercam próximo da praia, o que é proibido: elas cercam com apenas 10m de
profundidade. A traineira não chega a levar a rede, mas a rasga, danificando o material. A origem destas
traineiras: Jurujuba, Ilha da Conceição, Cabo Frio e do sul do país.
Arrasto: Na praia de São Conrado os arrastos pequenos chegam a menos de 100m da praia. Sempre tem
barcos de Jurujuba, Ilha da Conceição e Niterói.
Menos 30 metros de profundidade, os chifrudos não chegam, daí em diante é área de risco de perda de
material, colocam por cima da gente. Costa Brava (última laje) para fora é área de risco, de perda de
material com o arrasto.
QUEBRA MAR: REDE CORVINEIRA GRANDE (ESPERA)
Descrição do petrecho: Rede com fio 50/60 (“arame”), malha de 55 a 80. É utilizada dos 30 a 60m de
profundidade.
Pesqueiros: Banco de cascalho, perto das ilhas redondas. Bin Laden (20 a 30 min navegando).
Época: “tá tudo descontrolado”, agora todo ano. Mas pesca-se mais no verão, principalmente na semana
Santa, quando está no período de defeso do camarão. Pois no defeso do camarão os barcos de arrasto
não estão lá. Pescava-se também no inverno, mas a corvina sumiu um pouco.
Freqüência: no Bin Laden (10 a 12 milhas), preferem pescar na semana santa e durante o defeso do
camarão, porque assim os barcos estão proibidos de arrastar (chifrudos) e podem ir mais para fora. O
nome Bin Laden é porque não sabem se as redes estarão lá no outro dia, podem roubar ou arrastar.
Recursos principais: viola, tubarão, pescada, pargo, marimba, corvina (corvina gold), corvina
castanha, cavaquinha, cherne, cação anjo, tamboril, cação.
Tipo de Fundo: cascalho
Aspectos qualitativos da produtividade:
Hoje: uma boa pescaria chega a 50 – 60kg no máximo. (Faz dois anos que não entra corvina)
20 anos: Nesta época não se pescava lá. Começaram a explorar este pesqueiro a partir de 2001, devido
à escassez na costa. No início colocava-se todos os dias, com apenas dois panos de rede capturava-se
cerca de 200kg.
Conflitos: chifrudos, cerco grande (pau broca), caceia.
Os arrastões mudam de rede para subir no cascalho.
Cerco grande e chifrudo. Quando utilizamos rede de caceia corta a bandeira e somem com a nossa rede.
Observações: Como sabem que tem peixe lá? de vez em quando vai um pescador e sonda “cobaia”,
“pescador sonda”. Hoje em dia Valtinho e Alexandre são os que se arriscam mais.
“Hoje é o pescador artesanal que está invadindo a área dos arrastos, mas isso porque aqui perto esses
217
arrastos já pescaram tudo, então tivemos que ir pra fora”.
Pesqueiro banco de cascalho: Pescada, castanha, marimba, cavaquinha, cherne, dourado. Vão todo
ano, “se aventuram”.
QUEBRA MAR: ARTE DE PESCA: REDE ALTA (FUNDO)
Pesqueiro: Ilhas Tijuca e praia da Barra.
Rede alta: pesca-se em toda beira da praia, mas não tão utilizada como a corvineira.
Época: o ano todo (“o mar deixando”). Condições: água gelada e turva (varia com a maré). Obs. A
Anchova e o xerelete gostam de água clara.
Recursos principais: pega de tudo. Anchova, serra, bonito, xerelete, olho de cão, enxada, pitangola,
sargo, pirangica, olho de boi, pampo. Na beira da praia pesca-se mais corvina. Rede alta: pampo, sargo,
anchova, corvina
Tipo de Fundo: costão, pedra.
Aspectos qualitativos da produtividade:
Hoje: Depende muito da sorte. Uma boa pescaria é 40-45kh de anchova. 70-75kg de pampo, pitangola,
pirangica.
20 anos: O barco afundava. Era muito peixe. O Badejo era farto, e hoje não tem mais nada.
Conflitos: Com pescador esportivo e mergulhador. Roubo de redes também é um problema. Se os
pescadores de Jurujuba não pescam nada eles pescam a nossa rede. Outro problema é que a rede alta é
muito atropelada: por isso não é tão utilizada.
Observações:
É a rede que mais se perde, “estão sendo muito atropeladas”.
As redes que são abandonadas no fundo, não são tão prejudiciais ao meio ambiente como dizem, pois
vira área de criador, tem muito camarão miúdo. Ressaca faz esta rede virar bola de neve.
QUEBRA MAR: ARTE DE PESCA: REDE DE CACEIA (SUPERFÍCIE)
Descrição do petrecho: Rede de deriva, anda na maré.
Pesqueiros: nos mesmos lugares em que se pesca de linha (em cima das lajes). Surriá e nas pedras ao
redor das Ilhas Tijucas. Referencias em terra: torre, navio, azul, emissário.
Rede de caceia: utilizada nos costões (maior produtividade que a alta).
Época: Verão: de setembro até o começo de abril
Recursos principais: xerelete, bonito, serra, olho-de-cão, tainha, anchova, enxada, espada, marimba,
pirangica, pampo, sororoca, olho-de-boi.
Hoje: Depende do pesqueiro. Este ano pegaram muita anchova. Uma boa pescaria, se tiver sorte, chega
a 100kg.
20 anos: Há 20 anos só utilizavam caceia no Surriá, faziam uma caceia fixa, e tiravam facilmente 300kg
de peixe. Muita produção de badejo.
Observações:
Os mesmos locais que pesca de rede de caceia, pesca de linha também.
Colocam a rede de caceia: na boca da noite ou no clarear do dia.
QUEBRA MAR: ARTE DE PESCA: REDE DE CERCO – BATIDA – BATE POITA
Descrição do petrecho: Somente utilizado quando a corvina não malha, quando o cardume está
parado, de barriga cheia. Ou seja, na escassez da corvina vai para o bate poita. Com a maré parada é
mais produtiva (melhor de por).
Pesqueiro: só na costa. Profundidade: 12 a 20m.
Época: mar deixando (quando corvina está parada, sem fome)
Freqüência: de acordo com o fluxo de maré, não é diário.
Recursos principais: robalo, garapeba, cocoroca, papaterra, pargo, serra, pescada, pirajica, sargo,
bonito, pescada miúda (vem direto), Maria-mole, pampo.
Tipo de Fundo: arenoso, beira de pedra e cascalho. Quando maré ta parada, pesca em cima da pedra,
porque nessa condição não rasga a rede. Não é uma pescaria diária como a corvineira.
218
Aspectos qualitativos da produtividade:
Hoje: 300 quilos
20 anos: muita produção
Observações:
Não são todos que se utilizam desta arte de pesca.
QUEBRA-MAR: ARTE DE PESCA: LINHA E RAPALA
Pesqueiro: da praia da Barra até Praia do Recreio – nesta área tem muito recife: é pedra emendada.
Profundidade: da beira da praia até 30-40m.
Época: ano todo.
Recursos principais: pargo, pescada, maria-mole, badejinho, corvina, anchova (maior freqüência na
rapala), sargo (tem muito), pampo, robalo, (peixes de fundo em geral)
Tipo de Fundo: pedra, recifes, lajeados
Aspectos qualitativos da produtividade:
Hoje: boa pescaria é 40 a 60 kg.
20 anos: Antes eram poucos pescadores, pescava-se tanto peixe que não tinha vendedor. Como hoje
tem mais gente na pesca – hoje tem muita gente na barra – talvez a produtividade, no geral, seja até
maior. Antes o pescador tinha que dar o peixe praticamente de graça. Hoje tem mais procura o preço é
melhor. Antes dois pescadores voltavam com 400kg, hoje voltam 10 pescadores com 400kg. Antes tinha
muito peixe e tinha que dar o peixe praticamente de graça, porque o preço cai. Todo dia tem peixe, pega
todo dia embora com menor quantidade. Diminuiu muito o peixe, mas aumentou muito o número de
pescadores, então a quantidade capturada continua estável ao longo do tempo.
Conflitos: muito explorada pela pesca de mergulho na água clara, mas segundo Boréo não chega ser 1
conflito. O que acontece também é que um pescador esconde o pesqueiro que está “dando” dos outros
pescadores, mas também não é conflito.
Observações: Os pescadores de linha e mergulho são os únicos que conseguem manter algum
pesqueiro em segredo. Mergulhadores e pescadores de linha tem muitos pesqueiros em comum.
QUEBRA MAR: ARTE DE PESCA: LINHA E RAPALA
Descrição do petrecho:
Pesqueiro: Ilhas: Redonda (laje) e Redondinha, Banco do Brasil e Ilhas das Tijucas
Época: ano todo. Mas varia muito as espécies capturadas.
Recursos principais: anchova, olho de cão (verão), xerelete, marimbá. O olho de cão não come isca de
material barato. Em janeiro deu bastante anchova com a rapala. A corvina está sumida.
Conflitos: Barcos de turma (pesca esportiva) invadiram a Barra da Tijuca. Muitos desses barcos estavam
no pesqueiro da Pargueira e no Surriá. Mas tem um aspecto positivo: os pescadores esportivos não
guardam segredo, para se gabar revelam onde, o quê e quanto pescaram.
Observações:
Boréo: Em 2007 ou 2006, na páscoa, os barcos grandes arrasaram a corvina. O camarão subiu para meia
água e a corvina subiu atrás, e aí os paus brocas arrasaram.
“A linha é mais um lazer, a gente usa mais mesmo é a rapala para a anchova”.
QUEBRA MAR: ARTE DE PESCA - ZANGAREJO (PESCA DA LULA)
Descrição do petrecho:
Pesqueiro: Ilhas Cagarras, do VIPS até o emissário, em frente ao Costa Brava, em frente a Barra
(principal local de pesca), enfim, na costa toda. Profundidade: até 20m.
Recursos principais: Lula
Aspectos qualitativos da produtividade:
Hoje: uma boa pescaria é 40 kg. Depende da maré e da água (temperatura).
20 anos: Não pescavam lula. Começaram a pescar de 8 anos para cá com a dica dos pescadores
esportivos
Conflitos: Não há conflito, é pura harmonia. Quanto mais zangareio melhor.
219
QUEBRA MAR: QUESTÕES ABORDAGEM INTEGRADA DOS MAPAS
Hoje em dia é covardia a tecnologia.
Recreio: brigam com os pescadores de fora “metem bala”
Conflito nas Tijucas: em função do número grande de pescadores de outras localidades.
Identificação de áreas de abrigo: os pescadores não utilizam, em caso de mar bravo eles voltam às
pressas para a Barra, pois os pesqueiros são próximos.
Relevância econômica dos pesqueiros – importância para constituição da renda
• Ilhas Tijucas: 5$ – porque são os pesqueiros mais próximos (5 minutos). “É o pesqueiro mais
importante para a gente, embora esteja tomada por pescadores de outros locais”
• Bin Laden: 2$ – não vale o custo: material (alto risco de perder redes) e combustível (em função
da distância que precisam percorrer para chegar ao pesqueiro)
• Meio da Barra: 5$ – para a pesca de rede
• Costão de São Conrado: 4$, local de arrastões e cerco, por isso é área de risco e não recebe 5$
• Surriá: 4$
• Cagarras (Redonda, Redondinha, Banco do Brasil) (verificar) não houve consenso: $ 3 para pesca
de rede. 4$ para pesca de linha e mergulho.
220
Conrado até o Vidigal, na marcação do hotel Sherington.
O roubo de rede também traz prejuízos para os pescadores de rede linguadeira. Na praia de São
Conrado, por exemplo, as vezes pessoas vem até a rede em pranchas e a despescam, roubando toda a
produção.
Atualmente não chegam a ir até a praia do Recreio com tanta freqüência, já que a poluição reduziu muito
a produtividade desta área.
A poluição do emissário também é um problema, segundo os informantes. Os problemas com o emissário
ocorrem em função da poluição que este gera na região. O emissário também traz grande quantidade de
lixo que se prende nas redes em enorme quantidade. Nunca atravessam com rede o emissário, já que
estas podem se prender na estrutura submersa.
Observações:
Os pescadores de Copacabana se utilizam da internet para obter informações meteorológicas, pois há
grande risco de perder redes com tempestades.
221
arpoador. Raramente chegam até a praia de Copacabana. A rede corvineira não é colocada em
Copacabana, mas é empregada do Leme até a ilha de Cotunduba
Um dos limites da pesca com corvineira na região do largo é a área onde os arrastos passam.
Utilizam em posição perpendicular à costa. A linha de arrebentação é o limite mínimo de profundidade,
enquanto o limite máximo (na pesca de beira de praia) é a Cagarrinha.
Descrição do petrecho: Malha 50-60mm e três metros de altura.
Época e freqüência de uso:
No verão a pesca com rede corvineira ocorre na beira de praia (novembro até março). No inverno as
redes são colocadas no largo (março a junho).
No entanto, tudo depende das condições oceanográficas. Quando a corrente está de L-S, pescam na beira
da praia. Quando a corrente está de S-L, água esquenta mais no fundo e a rede é colocada mais distante
da praia. Atualmente existe muita poluição na água da baía, não permitindo a pescaria próximo à praia
nestas condições.
Recursos principais: Corvina (segundo pescadores, este peixe não nada com água parada), anchova,
serra, bonito, marimbá, pescada, viola, cação anjo e robalo. No largo tem alguns pontos onde o cascalho
é mais alto, e se encontram outros tipos de peixe, como garoupa e badejo.
Próximo a barra da baía capturam robalo e perna de moça. No entanto, o principal recurso pesqueiro
neste local é a corvina.
Tipo de Fundo: Areia na beira da praia. No largo o fundo é de cascalho.
Aspectos qualitativos da produtividade:
Hoje: A pesca no largo rende atualmente 100 a 200kg em uma boa pescaria. A pesca na beira da praia
não produz em grande quantidade.
20 anos: Há 20 anos não precisavam ir tão longe para pescar. Os pescadores começaram a freqüentar o
largo a partir de 1995. Nesta época, capturavam entre 1000 a 2000 kg numa boa pescaria.
Conflitos: Os conflitos são quase os mesmos da rede linguadeira.
Segundo os pescadores, a poluição “espantou” os peixes.
Na beira de praia há o conflito com a pesca de cerco, que operam muito próximo da praia.
Roubo de redes é um problema recorrente. Alguns pescadores roubam a rede de noite. Estas redes
podem ser vendidas para outros pescadores.
No largo há problema com o trânsito de navios e suas âncoras, que podem agarrar na rede.
Observações:
Os pescadores iniciam a pesca da corvina no largo quando no verão. Segundo eles, quando a água esfria,
esta espécie começa a aparecer na rede linguadeira. A corvina vem do norte segundo os pescadores
presentes na reunião de mapeamento.
COPACABANA LINHA: REDE ALTA “COME E DORME”
Pesqueiros: Beira da praia, do Leme ao Juá (Costa Brava)
Descrição do petrecho: Esta rede é colocada desde a arrebentação até 150 m para fora. A rede é
disposta no período da tarde, pois as pessoas nadam na praia durante o dia. Ela é posicionada
perpendicular à praia. Em alguns locais onde existem pedras é possível armar as redes pois os
pescadores já conhecem os riscos. A rede come-dorme trabalha na faixa de 15 a 20m de profundidade. O
tamanho é de no máximo 150m (três panos).
Época: todo ano.
Recursos principais: Tainha, pampo, robalo, pouca corvina, bonito (peixe que dá bastante trabalho
quando é capturado), pescada perna de moça. Pescam robalo e tainha se dá ressaca. Espécies que são
vulneráveis a malha 45mm são a pescada, parati, pescadinha, carapeba, anchoveta, serra, olho de cão,
roncador amarelo (em geral peixes miúdos de beira de praia).
Aspectos qualitativos da produtividade:
Hoje: Atualmente uma rede come-dorme produz 30 kg de pescado. Segundo os pescadores, captura-se
muitos peixes pequenos.
20 anos: Antigamente uma boa pescaria produzia entre 100 a 300kg. Um peixe que se capturava muito
era a sororoca, espécie que hoje quase não se encontra.
222
Conflitos:
Um problema recorrente ocorre em função dos esportes náuticos, pois a rede é utilizada bem próxima à
praia. Entre os potenciais conflitos estão os banhistas que nadam depois da arrebentação, Jet-skis e
pescadores de molinete (que pescam a partir do Forte de Copacabana).
Traineiras também conflitam com a pesca de rede come-dorme, pois pode chegar muito próximo à beira
da praia.
Observações:
Esta rede é utilizada para capturar corvina com a água parada.
COPACABANA REDE ALTA DE CACEIA
Pesqueiro: qualquer lugar, depende do pescador descobrir um cardume.
Descrição do petrecho: A pescaria dura aproximadamente meia hora e é lançada somente depois da
localização do cardume. Quanto este é localizado, os pescadores calculam a correnteza e a rede é então
lançada ao mar. Esta pesca é rara atualmente, e é empregada quando o pescador de linha
ocasionalmente localiza o cardume nadando próximo ao parcel, quando este possui a rede de caceia.
Recursos principais: Anchova, serra, bonito, cavala e outros peixes que nadam próximos à superfície.
Conflitos:
A rede de caceia compete com os pescadores de linha. Em geral, não pescam com este tipo de rede para
não causar conflito com colegas pescadores de linha de Copacabana, pois a quantidade de peixes nos
parceis diminuiu significativamente.
Observações:
Esta rede foi criada para pescar tainha, mas é utilizada amplamente para outras espécies que formam
cardumes.
Não é uma pescaria muito comum atualmente.
COPACABANA ÁREAS DE ABRIGO
Identificação de áreas de abrigo:
Relevância econômica dos pesqueiros – importância para constituição da renda
1. Largo: $ 5
2. Beira da Praia: $ 4
3. Boca da Barra Grande (da ponta do Leme até a boca da barra): $ 4
4. Copacabana: $ 2
As áreas próximas à praia são mais importantes no verão. No inverno, a boca da barra tem uma
importância maior. O largo é importante tanto no inverno quanto no verão, e a produção é mais regular.
COPACABANA LINHA: PESQUEIRO 01: EMISSÁRIO – “BOCA DO CANO”
Arte de Pesca: pesca de linha
Legenda: preto no mapa
Época e freqüência de uso: Durante o ano todo. Alguns pescadores pescam praticamente quase todos
os dias no local.
Recursos principais: Anchova, marimbá, corvina. Muitos peixes pequenos são encontrados no local, os
quais são chamados de “resolho”.
Tipo de Fundo: 30 m de profundidade. Tubulação do emissário submarino.
Aspectos qualitativos da produtividade:
Hoje: Atualmente, uma boa pescaria rende aproximadamente 400 reais (2 caixas de anchova, ou 50-
70kg).
20 anos: A produção era considerada muito melhor antigamente.
Observações:
O tempo gasto para chegar ao pesqueiro é de 40min.
Segundo um dos informantes, o emissário tem três “bocas”. Para garantir uma boa pescaria o pescador
tem que saber como chegar ao ponto certo, que é na “ressolhada”. Não são todos que conhecem a
localização exata do emissário submarino, onde se concentram os cardumes.
223
Um dos informantes nota que as vezes pesca em outras localidades, como a ilha Redonda, e se a pesca
está ruim, volta para o “cano”, de onde retira o peixe para salvar a pescaria.
Um dos informantes ressalta que atualmente existem 30 ou 40% do número de pescadores de linha em
Copacabana. Segundo ele, os outros 70% saíram da pesca de linha. Há tempos atrás um local com
abundância de anchovas era na Ilha Redonda, Banco do Brasil e Focinho de Porco. No entanto, a
produção diminuiu produção da pescaria de linha destes pesqueiros. Nos dias de hoje, a “boca do
emissário”é considerado o melhor de todos os pesqueiros por este pescador. Contudo, existem
controvérsias quanto ao emissário submarino. Outro pescador, por exemplo, gostaria que o emissário
fosse mais afastado da costa, conforme pode-se observar no seguinte relato:
“Eu vejo gente defendendo a boca do emissário, ele tem razão, eu só não gostaria que ele
dissesse para o governador que não quer que o emissário vá mais para fora. Porque tudo que a
gente quer é alongar o emissário. Eu queria que ele fosse mais para fora. Se alguém polui o
arquipélago das Cagarras é o emissário. (...) Para mim uma das maiores fontes de renda para os
pescadores de linha é o arquipélago das Cagarras.
COPACABANA LINHA: PESQUEIRO 02: SURRIÁ
Arte de Pesca: pesca de linha
Legenda: preto no mapa
Época e freqüência de uso:
No verão, utilizam este pesqueiro para a captura da Anchova (novembro e dezembro).
No inverno a pesca neste local é melhor (julho a setembro), quando se captura maior quantidade da
bicuda.
Recursos principais: anchova, garoupa, bicuda
Observações:
Utilizam bastante a Ilha do Meio para capturar o “engodo”.
No Surriá existe maior concorrência pelo pesqueiro, pois os pescadores da Barra também utilizam este
pesqueiro. É um pesqueiro pequeno
COPACABANA LINHA: PESQUEIRO 03: TIJUCAS (E TODAS SUAS LAJES)
Arte de Pesca: pesca de linha
Época e freqüência de uso: No inverno principalmente. A pesca depende da água neste local.
Recursos principais: Anchova e bicuda (muito bom pesqueiro na época da bicuda)
Observações:
Segundo um informante presente na reunião de mapeamento, nas Tijucas ainda existem vários
pesqueiros que os pescadores de Copacabana desconhecem. Daí a importância de se preservar. Pois o
mercado mudou, segundo ele:
“Há 10 anos ninguém queria bonito, se um pescador levasse um bonito para comer era um
carniceiro, hoje a gente vende o bonito”.
COPACABANA LINHA: PESQUEIRO 04: FOCINHO DO PORCO
Arte de Pesca: pesca de linha
Época e freqüência de uso: As épocas de pescaria mudaram muito do que eram antigamente.
Atualmente os pescadores estão indo na época da manjuba (verão) pescar neste local.
Recursos principais: Anchova, olhete, olho de boi.
COPACABANA LINHA: PESQUEIRO 05: SOMBRA DA MULATA
Arte de Pesca: pesca de linha
Recursos principais: anchova, olhete, olho de boi.
COPACABANA LINHA: PESQUEIRO 06: ÂNCORA
Arte de Pesca: pesca de linha
Recursos principais: anchova, olhete, olho de boi.
COPACABANA LINHA: PESQUEIRO 07: BANCO DO BRASIL
Arte de Pesca: pesca de linha
224
Recursos principais: anchova, olhete, olho de boi.
Observações:
Segundo os informantes, a produtividade no pesqueiro Banco do Brasil caiu muito por causa da
quantidade de redes que estão sendo colocadas.
COPACABANA LINHA: PESQUEIRO 08: REDONDA E FILHOTE
Arte de Pesca: pesca de linha
Freqüência: de noite
Recursos principais: Olhete (ocorre em lajes e nos costões), bicuda (preferencialmente no costão, se
alimentam de noite), olhete, olho de boi e anchova (espécies que se alimentam durante o dia).
COPACABANA LINHA: PESQUEIRO 09: BAIXIO DA REDONDA
Arte de Pesca: pesca de linha
Recursos principais: Olhete e bicuda (se alimenta durante o dia). olhete, olho de boi e anchova
(espécies que se alimentam durante o dia). vPesqueiro 10: PONTA SUL DA COMPRIDA
Arte de Pesca: pesca de linha
COPACABANA LINHA: PESQUEIRO 11: BURACÃO DA COMPRIDA
Arte de Pesca: pesca de linha
Recursos principais: bicuda
COPACABANA LINHA: PESQUEIRO 12: MATHIAS
Arte de Pesca: pesca de linha
Recursos principais: bicuda
COPACABANA LINHA: PESQUEIRO 13: LAJE DAS CAGARRAS
Arte de Pesca: pesca de linha
Recursos principais: anchova
COPACABANA LINHA: PESQUEIRO 14: SAMBAIA
Arte de Pesca: pesca de linha
Recursos principais: anchova
COPACABANA LINHA: PESQUEIRO 15: BAIXIO DA RASA
Arte de Pesca: pesca de linha
COPACABANA LINHA: PESQUEIRO 16: PALMAS
Arte de Pesca: pesca de linha
Recursos principais: marimbá, bicuda, olho de cão, xerelete.
COPACABANA LINHA: PESQUEIRO 17: PONTA LESTE
Arte de Pesca: pesca de linha
Recursos principais: bicuda, anchova
COPACABANA LINHA: PESQUEIRO 18: CANAL ENTRE CAGARRA GRANDE E FEDORENTA
Arte de Pesca: pesca de linha
Recursos princi
COPACABANA LINHA: PESQUEIRO 19: PARTE DE DENTRO DA COMPRIDA
Arte de Pesca: pesca de linha
Recursos principais: lula
Segundo os pescadores, a lula está se concentrando neste pesqueiro pois este é um local protegido das
traineiras. Desta forma, a manjuba encontra refúgio nesta área.
COPACABANA LINHA: PESQUEIRO 20: PONTA DO ARPOADOR
Arte de Pesca: pesca de linha
225
Recursos principais: lula
Observações:
Segundo os pescadores, a lula está se concentrando neste pesqueiro pois este é um local protegido das
traineiras. Desta forma, a manjuba encontra refúgio nesta área.
Neste ano, a lula apareceu próximo ao VIP, no Arpoador e em frente ao canal da Barra segundo os
informantes.
Há dois anos atrás se pescou muita lula no Leme. No entanto, uma traineira descobriu e cercou todo o
recurso segundo os pescadores. Neste ano a pescaria está muito fraca neste pesqueiro.
COPACABANA LINHA: OBSERVAÇÕES GERAIS:
Identificação de áreas de abrigo:
Relevância econômica dos pesqueiros – importância para constituição da renda
PESCA DE LINHA
Pesqueiro 01: EMISSÁRIO – “boca do cano”: $ 5 (Pixico queria dar 10)
Pesqueiro 02: SURRIÁ: $ 4
Pesqueiro 03: TIJUCAS (E TODAS SUAS LAJES): $ 4
Pesqueiro 04: FOCINHO DO PORCO: $ 2-3
Pesqueiro 05: SOMBRA DA MULATA: $ 2-3
Pesqueiro 06: ÂNCORA: $ 2-3
Pesqueiro 07: BANCO DO BRASIL: $ 3
Pesqueiro 08: REDONDA E FILHOTE: $ 2
Pesqueiro 09: BAIXIO DA REDONDA: $ 2
Pesqueiro 10: PONTA SUL DA COMPRIDA: $ 4 (bicuda)
Pesqueiro 11: BURACÃO DA COMPRIDA: $ 4 (bicuda)
Pesqueiro 12: MATHIAS: $ 3-4 (bicuda)
Pesqueiro 13: LAJE DAS CAGARRAS: $ 2-3 (anchova)
Pesqueiro 14: SAMBAIA: $ 3 (anchova)
Pesqueiro 15: BAIXIO DA RASA: $ 3
Pesqueiro 16: PALMAS: $ 3 (bicuda)
Pesqueiro 17: PONTA LESTE: $ 3 (bicuda)
Pesqueiro 18: CANAL ENTRE CAGARRA GRANDE E FEDORENTA: $ 2
Pesqueiro 19: PARTE DE DENTRO DA COMPRIDA: $ 5 (lula)
Pesqueiro 20: PONTA DO ARPOADOR: $ 5 (lula)
PAIS: bicuda
COPACABANA MERGULHO PESQUEIRO 01: PAI, MÃE E MENINA
Arte de Pesca: Mergulho em apnéia
Época e Frequência de Utilização: A pesca de mergulho nestas ilhas ocorre com maior freqüência no
inverno (junho a setembro) com ventos de Lestada. No verão, só praticam o mergulho somente quando a
água está boa. Estas ilhas são muito pouco utilizadas pelos pescadores de mergulho, cerca de 1 vez por
semana, não havendo frequência regular de uso. A pesca neste local depende do tipo de pescado que
está disponível no local e das condições da água. A ilha do Pai é a mais utilizada destas três ilhas.
Recursos principais: moluscos: lula e polvo, anchova. Serranídeos: garoupa e badejo saltão. Os
principais são garoupa e polvo.
Tipo de Fundo: rochoso/ pedra.
Aspectos qualitativos da produtividade:
Hoje: A captura caiu muito, está dez vezes menor do que antigamente. Hoje em dia é muito difícil
capturar 10kg de pescado, valor máximo considerado para uma ótima pescaria nos dias de hoje.
226
20 anos: De sete a dez anos atrás podiam capturar 40 kg de badejo e garoupa em uma boa pescaria. De
dez anos para cá mudou muito. Em qualquer ilha podia-se ver cardumes de badejos (cerca de 50 peixes
juntos). Mergulhavam numa profundidade de 5 metros é já viam o peixe, hoje descem 20 metros e está
difícil encontrar qualquer coisa.
Conflitos:
Não foi relatado nenhum conflito específico deste pesqueiro.
O que tem para ser contado sobre este pesqueiro? (Aspectos culturais e informações
qualitativas)
Normalmente pescam por fora das ilhas, mas sempre depende das condições da água.
A melhor das ilhas é o Pai.
Observações:
Geralmente por fora das ilhas a corrente é mais forte e esta gera maior quantidade de alimento para os
peixes de interesse.
Itaipuaçu e Itacoatiara são locais com abundância de manjuba (comedoria).
COPACABANA MERGULHO PESQUEIRO 02: RASA
Arte de Pesca: mergulho em apnéia
Época e Frequência de Utilização:
No verão é muito pouco utilizada (1 vez por semana a 3 vezes por mês). No entanto, quando a corrente
de sul que traz água clara (evento raro) entra, a pesca é praticada no local. A pesca no verão neste
pesqueiro é realizada apenas quando existe uma “intuição ou indicação”.
No inverno esta ilha é mais visitada (junho a outubro, 2 vezes por semana) em função da maior
ocorrência de água transparente.
Recursos principais: principalmente peixes de passagem como anchova e olhete. A garoupa e bicuda
também são comuns no local. Eventualmente encontram cardumes de enxada.
Aspectos qualitativos da produtividade:
Hoje: A pesca declinou bastante atualmente no local. Dependendo das condições de água, é possível
capturar até 20 quilos de peixe (peixes de passagem, pelágicos).
20 anos: Era possível capturar em torno de 50 quilos de peixes de passagem em uma pescaria.
Conflitos: Não há conflito nesse pesqueiro com os mergulhadores.
Observações:
Em ilhas como esta, mais distantes onde a profundidade é maior, a água custa mais a clarear. Já nas
Ilhas Cagarras, que são mais rasas, qualquer corrente de sudoeste clareia mais rápido. Por este motivo
os mergulhadores preferem pescar nas Cagarras porque a distância é menor e porque a água fica clara
com maior frequência. As vezes (raramente) no verão entra corrente do sul, clareando a água para o
mergulho.
Os peixes de passagem gostam de passar pela Ilha Rasa pois na área existem muitas lages.
Nesta área, muitas vezes os barcos de arrasto pedem ajuda para os mergulhadores para dar manutenção
nos equipamentos.
COPACABANA MERGULHO PESQUEIRO 03: REDONDA E FILHOTE
Arte de Pesca: mergulho em apnéia
Época e Frequência de Utilização:
Pescam o ano todo no local dependendo da transparência da água. No verão pescam em média 2 vezes
por semana. No inverno (maio a outubro) costumam ir até 3 vezes por semana. Costumam ir com maior
freqüência na Redonda e Filhote em função de sua proximidade (aproximadamente 15 minutos de
barco). O pesqueiro Banco do Brasil é menos visitado por ser considerado distante da costa.
No inverno a freqüência de uso é muito maior pois a água é mais adequada para a pratica do mergulho
no local.
Recursos principais: garoupa e badejo (principalmente). Sargo e espécies de segunda quando as de
primeiras faltam.
Tipo de Fundo: pedraria que termina em cascalho.
227
Aspectos qualitativos da produtividade:
Hoje: Hoje em dia, uma boa pescaria captura em torno de 15kg de peixe.
20 anos: Há 10 anos esta era a melhor ilha. Não se pescava menos que 50kg de pescado em uma
pescaria. Nos anos 1990 a 1992, já chegaram a pescar 80kg de anchova em um dia. O acentuado
declínio de peixes ocorreu depois que começaram a pescar muito com redes de malha e arrastões.
Conflitos: Alguns pescadores atravessam rede no canal entre as ilhas, o que é bastante perigoso em
função da navegação e da prática do mergulho. Não é comum o pessoal da Colônia pescar com rede
muito perto das ilhas, pescam só no entorno, não em cima das ilhas. Rede muito próximo do costao é
considerado um problema maior que o tráfego de Jet-Ski, principalmente as redes de grandes
embarcações. As redes que são perdidas atrapalham, pois ficam agarradas nas pedras e continuam
matando peixes. Os próprios pescadores de linha começaram a pescar de rede nas ilhas porque sabiam
que tinha muito peixe, mas hoje em dia esse conflito não é significativo. Alguns pescadores de mergulho
retiram as redes dos costões.
Embarcações de arrasto operam muito próximo à Redonda, assim como a rede parada.
Há muitos anos não é observada a pesca com bomba nas ilhas. Segundo os pescadores, a pesca com
bombas era realizada de madrugada. No local onde se praticava este crime, a pedra ficava branca,
estéril, e muitos peixes mortos no fundo, segundo eles. Segundo eles, as bombas são artesanais
(dinamite), e colocadas dentro de um tubo de PVC com duas roscas nas extremidades.
Outra pesca considerada predatória é aquela praticada com potes para a captura de polvos. Segundo
eles, são colocadas em torno de 1000 – 2000 potes por espinhel.
Observações:
Em meia hora de navegação chega-se ao pesqueiro. Pesca é realizado bem próximo da ilha.
Depois que tem experiência, o mergulhador sabe quais as épocas do ano e os locais que são melhores.
Não caem sempre no mesmo pesqueiro.
COPACABANA MERGULHO PESQUEIRO 04: LAJE DA REDONDA – BANCO DO BRASIL
Arte de Pesca: mergulho em apnéia
Época e Frequência de Utilização:
Pesqueiro utilizado durante o ano todo. No verão pratica-se a pesca no local em média 2 vezes por
semana. Durante o inverno (maio a outubro), este pesqueiro é utilizado com grande freqüência (3 vezes
por semana).
Costumam ir com maior freqüência nas Ilhas Redonda e Filhote pela proximidade (6 minutos). Por esse
mesmo motivo, vão menos no Banco do Brasil.
Recursos principais: Ocorrem principalmente peixes de passagem/pelágicos como o olhete, anchova,
olho de boi, xerelete, enxada e xaréu.
Tipo de Fundo: Pedraria que termina em cascalho.
Aspectos qualitativos da produtividade:
Hoje: idem Redonda e Redondinha
20 anos: idem Redonda e Redondinha. A produtividade era muito alta antigamente, sendo possível
capturar 50 quilos de anchova em uma pescaria.
Conflitos: mesmos do pesqueiro da Redonda e Filhote
Observações:
Geralmente por fora das ilhas a corrente é mais forte, e esta gera alimentação para as espécie-alvo. A
pesca é realizada circulando a ilha por fora, mas também passam pela parte abrigada.
Um dos pescadores comenta que os barcos de arrasto mapearam a áreas das Ilhas Cagarras,
identificando as lajes. Argumenta que hoje em dia os arrastões levantam a rede quando se aproximam
de alguma laje. A tecnologia disponível permite que esses barcos façam esse mapeamento, ou seja, não
há mais um impeditivo para essa pesca ao redor das ilhas. Segundo eles, algumas embarcações usam
armas para ameaçar os pescadores artesanais.
Um dos pescadores disse que contou 17 barcos de arrasto ao redor das ilhas para a captura da sardinha.
Reclamam que não adianta denunciar, pois não são atendidos.
COPACABANA MERGULHO PESQUEIRO 05: ILHAS CAGARRAS
Arte de Pesca: mergulho em apnéia
228
Época e Frequência de Utilização: A pesca é praticada ao longo do ano todo, verão e inverno, pois as
ilhas estão próximas à base dos pescadores em Copacabana. No inverno a pesca é melhor distante da
costa por causa da corrente de sul para leste. Nesta época, dizem que as Cagarras “descansam”. A
pescaria sempre depende da transparência da água. De forma geral, no verão as Cagarras são melhor
para pescar. A freqüência de uso é de aproximadamente 3 a 4 vezes por semana no verão e no inverno.
Recursos principais: Os principais recursos explorados são os peixes de passagem, que só aparecem
com corrente forte (evento associado à maior ocorrência de alimentos). Na porção externa das ilhas
existe uma maior variedade de espécies, como a anchova, garoupa, olhete, badejo, sargo, xaréu,
xerelete, bodião e olho de boi. A porção interna das ilhas são mais protegidas, e as espécies-alvo
preferem a correntes, como a garoupa, o badejo (não é tão comum aparecer) e a lagosta.
Tipo de Fundo: Cascalho e pedra.
Aspectos qualitativos da produtividade:
Hoje: 15kg de pescado em uma boa pescaria. Dizem que o polvo é um recurso que acabou nas
Cagarras.
20 anos: 50 a 60kg.
Conflitos: Alguns barcos de arrasto manobram e escapam das lajes, que não os impedem de arrastar ao
redor das Cagarras. Normalmente arrastam da Ilha Comprida para o Sul e por Fora da Redonda.
No geral não relatam grandes conflitos na área.
Observações:
Na porção abrigada e interna, o costão é mais raso. Pescam na porção interna quando o mar está
batendo muito.
COPACABANA MERGULHO PESQUEIRO 06: LAJE SANTO ANTONIO
Arte de Pesca: mergulho em apnéia
Época e Frequência de Utilização: Ano todo, eventualmente.
Recursos principais: Robalo. Em um local próximo desta laje há pesqueiro de lula. O olhete se
concentra neste pesqueiro quando vem atrás da lula.
Tipo de Fundo: Pedras. O local é bastante raso, pois é bem próximo da praia.
Conflitos: Risco de atropelamento, por causa do tráfico intenso de embarcações.
Observações:
Comentam que não fazem saídas exclusivamente para este pesqueiro. Comentam que passam por lá
apenas quando os cardumes estão presentes. Comentam que os mergulhadores profissionais deixam
esse local para os mergulhadores amadores.
COPACABANA MERGULHO PESQUEIRO 07: ILHAS TIJUCAS
Arte de Pesca: mergulho em apnéia
Época e Frequência de Utilização: O ano todo, aproximadamente 2 vezes por semana em média.
Recursos principais: Robalo (principal), linguado, anchova, olhete, bicuda, xaréu, garoupa, polvo e
olho de boi.
Tipo de Fundo: pedra e cascalho.
Aspectos qualitativos da produtividade:
Hoje: 20 kg em uma boa pescaria.
20 anos: Uma boa pescaria há cerca de 10 anos atrás, rendia 50 – 60kg.
Conflitos:
A água do canal da Barra influi diretamente na quantidade e na qualidade do pescado. Com chuvas a
influência da poluição do canal fica bem maior. A profundidade das Tijucas é menor que das Cagarras e
com isso vem muita água do canal da Barra.
Muita rede nas proximidades das ilhas torna a pescaria perigosa.
O tráfico de embarcações é um grande problema, principalmente o Jet-sky. Falta conscientização dos
pescadores de outras modalidades de pesca em relação ao mergulho, falta respeito às bandeiras
(vermelhas com símbolo branco no meio) que sinalizam a presença de mergulhadores na água.
Muitos passam por cima das bóias de marcação. Muitas embarcações que navegam por lá não conhecem
229
a área.
Crescimento urbano.
Conflitos com a pesca de linha e a pesca de curríco.
Um conflito ocorre quando se está pescando de linha e o mergulhador entra na água, ou o contrario
acontece. Em geral existe um acordo entre pescadores de linha e de mergulho. Quando um dos dois está
no pesqueiro o outro não entra (ordem de chegada). O conflito acontece mais nas Tijucas com os
pescadores de linha. Nas Ilhas Tijucas, alguns pescadores de linha cortam as bóias de marcação dos
mergulhadores.
Observações:
Gastam cerca de 12 litros de gasolina para ir até as ilhas Tijucas.
COPACABANA MERGULHO PESQUEIRO 08: COTUNDUBA
Arte de Pesca: mergulho em apnéia
Época e Freqüência de Utilização: Só podem pescar em condições estritas de maré alta e lua fraca
(longe da Lua Nova e longe da Lua Cheia daí dá para cair melhor), durante apenas 1 hora. Praticam a
pesca no local no verão e no inverno com muito pouca freqüência.
Recursos principais: Muitas garoupas e badejos pequenos ocorrem no local. O local é considerado um
importante criadouro e por isso não capturam essa garoupa pequena.
COPACABANA MERGULHO OBSERVAÇÕES GERAIS:
Identificação de áreas de abrigo:
Quando sopra o vento Sudoeste ou um forte Nordeste (lestada forte) procuram abrigo.
• Em frente por dentro da Comprida (abrigo de todo mundo quando venta nordeste, sudoeste e
lestada). Dependendo da intensidade do vento não conseguem voltar para praia e daí só
buscando esse abrigo.
• Por trás da Rasa
• Nas Ilhas Tijucas (onde tem um funil)
Relevância econômica dos pesqueiros – importância para constituição da renda
1. Cagarras: 5$ (nota referente a parte de fora, que é mais funda e tem mais peixe, peixe não fica
no raso)
2. Banco do Brasil: 3$ (porque tem pouca variedade de peixes)
3. Redonda e Filhote: 4$
4. Rasa: 4$
5. Tijucas: 4$
6. Pai, Mãe e Menina: 2$
7. Santo Antonio 2$
8. Cotunduba 2$
URCA INTRODUÇÃO
Pontos de terra:
1- Forte de Copacabana
2- Ponta de Itaipu
3- Ponta do Costa Brava – Prédios perto do Posto 9 – 10
4- Ponta da entrada da Barra
5- Antigo hotel Meridiam
6- –Sheraton (São Conrado)
7- Othon
Principais pesqueiros:
1- Lajinha das Cagarras (tanto pelo lado de dentro como pelo lado de fora) – Arquipélago Cagarras
OBS.: na opinião de Ricardo e Elenildo é o principal pesqueiro (profundidade 20 metros, mas é mais
comum pescarem até profundidade de 12 metros)
2- Canal do Passarinho (olho-de-cão) - Arquipélago Cagarras
230
3- Área em volta das Palmas (também 12 metros) - Arquipélago Cagarras
4- Ponta sul da Comprida - Arquipélago Cagarras
5- Laje de fora Comprida - Buracão - Arquipélago Cagarras
6- Canal entre Redonda e filhote
7- Rasa
8- Banco do Brasil
9- Canal entre BB e redondinha
10- Cangolândia (13 a 14 metros de profundidade – pargueiro) - Arquipélago Cagarras
11- Pesqueiro Ricardo (12 a 13 metros de profundidade - pargueiro) - Arquipélago Cagarras
12- Sambaia (chamado também de pargueiro)
13- Âncora
14- Focinho de porco - Arquipélago Cagarras
15- Ilha Cotunduba (principalmente a ponta da ilha)
16- Praia Vermelha (lula)
17- Laje
18- Ponta Santa Cruz
19- Madalena (hoje não dá muita pesca, mas no passado já foi bastante produtivo)
20- Surriá/Meio
21- Tijucas/Lajeados das Tijucas (olho de cão e olho de boi)
22- Matias - Arquipélago Cagarras
23- Fedorenta e Praça XI - Arquipélago Cagarras
24- ???
25- Belo Jardim – Arquipélago Cagarras
26- Sombra da Mulata
27- Jacaré
28- Vilar (12 milhas fora – não são todos os pescadores que vão)
Luciara pergunta se existe uma diferença muito grande de época que os pescadores freqüentam os
lugares citados acima. No que Ricardo responde que não é possível trabalhar todos em conjunto porque
cada peixe tem sua época de chegar nas Cagarras. Cita que nessa época (meados de fevereiro), está
chegando olho de cão e cavalinha. E que nos últimos dias, o olho de cão está começando a desaparecer e
está chegando a espada e assim que a espada desaparece entra a bicuda.
Explicam que levam os turistas muito nas Cagarras, pois é próximo e tem muitos pesqueiros.
Evanildo explica que para os pescadores que usam isca artificial, como é o seu caso, todos os pesqueiros
são importantes ao longo de todo ano. Já aqueles que pescam com linha de fundo, há mais sazonalidade
com relação aos pesqueiros. Citou que no canal das Tijucas e no canal da Redonda pescam com lula no
arame.
URCA PESQUEIRO 1: LAJINHA DAS CAGARRAS
Época e freqüência: vão em todas as épocas do ano
Alguns vão uma vez por semana, principalmente aqueles que levam turistas para pesca esportiva
(aluguel de embarcação); outros vão toda semana (aqueles que vão mais para a pesca), nesse caso
depende da quantidade capturada. O turismo esportivo concentra-se mais ao redor das Cagarras.
Recursos principais: anchova, bicuda, olho-de-cão, xerelete, pampo, galhudo, olho-de-boi, olhete,
xaréu, lula, marimbá, espada (principalmente agora).
Tipo de Fundo: rochoso
Aspectos qualitativos da produtividade:
Hoje: muito relativo (depende da maré), mas podem pegar em torno de 300 quilos de peixe, isso
quando pescam a noite toda entre 3 pescadores. Ricardo explica que é um ponto de passagem dos peixes
231
e que esses peixes param muito na laje. Ricardo diz que quando a água dá condições, vão para outros
pesqueiros onde tem pescaria, “então a gente muda, quando a água está mais ou menos, a pesca é em
cima dos pargueiros (pontos 11 e 12). Para a pesca esportiva uma boa pesca é 30 a 40kg.
20 anos: no passado pegavam muito anchova grande (com aproximadamente 8 quilos) na entrada da
Barra, era um ótimo pesqueiro. Não precisavam ir longe. Explicam que há 20 anos atrás nem iam para as
Cagarras. Começaram a ir para a Laje das Cagarras quando “os barcos industriais começaram a tirar
tudo nosso aqui (boca da barra)” - Ricardo. “Quando começaram a vir principalmente os barcos de Itajaí
(SC), nos anos 1980, a partir daí a pesca começa a cair muito” – Valdeci. “Hoje as Cagarras é nosso
principal pesqueiro”.
Conflitos:
- pesca artesanal x pesca profissional (industrial de rede de emalhe). Os pescadores perdem as redes (de
emalhe) e as redes ficam pescando.
Arrasto industrial (chifrudo), cerco (pau broca) e traineiras menores. Ricardo acha que deveria ter um
ordenamento dos locais permitidos para cada tipo de pescaria, assim permitiria o repovoamento das
espécies e reduziria conflito.
-‐ pesca de compressor “mata tudo”.
URCA DEMAIS PESQUEIROS DO ENTORNO DAS ILHAS CAGARRAS
Pesqueiros: Canal do Passarinho (2), Área em volta das Palmas (3), Ponta sul das Cagarras (4), Laje de
fora Comprida – Buracão (5), Cangolândia (10), Pesqueiro Ricardo (11), Focinho de porco (14), Matias
(22), Fedorenta e Praça XI (23), etc.
Época e Freqüência: idem Lajinha das Cagarras (pesqueiro 1). Ficam rodando até achar o peixe. Nas
Tijucas que não vão com tanta freqüência (setembro em diante – primavera e verão).
Recursos principais:
CANAL DO PASSARINHO (2): bicuda, marimba, olho-de-cão, olho-de-boi, pirajica, boca de fogo.
ILHA DAS PALMAS(3): pargo, xerelete (muita quantidade), cavalinha, bicuda, espada (ta entrando
agora)
PONTA SUL COMPRIDA (4): garoupa, olhete, moréia, bicuda, espada (ta entrando agora), olho-de-boi
BURACÃO (5): anchova, marimba e bicuda.
CANGOLÂNDIA (10): pargo, pitangola, cangulo (por isso o nome), piruá, cavalinha, xixarro, peixe
porco, olho-de-cão (está na época)
PESQUEIRO RICARDO (11): olho-de-cão, cherne, cangulo, peruá, xixarro e cavalinha.
Tipo de Fundo (10 e 11): cascalho/pedraria alta ou barco afundado.
FOCINHO DE PORCO (14): pargo, anchova, bicuda, espada, pescadinha, marimbá
MATIAS (22): pescadinha e pargo.
OBS.: são peixes migratórios, quase todos esses peixes citados ocorrem em todas as ilhas do arquipélago
(Praça XI, Canal do Passarinho, Fedorenta, ponta sul comprida, dentro das Palmas)
Aspectos qualitativos da produtividade:
Hoje:
20 anos:
Conflitos:
O que tem para ser contado sobre este pesqueiro? (Aspectos culturais e informações
qualitativas)
Observações:
PESQUEIROS PRÓXIMOS DA REDONDA E FILHOTE (REDONDINHA)
URCA DEMAIS PESQUEIROS PRÓXIMOS DA ILHA REDONDA
Pesqueiros: Banco do Brasil (8), Canal entre BB e redondinha (9), Redonda e filhote (6).
Época e Freqüência: idem Lajinha Cagarras (pesqueiro 1)
BANCO DO BRASIL (8)
Recursos principais: marimbá, pirangica, anchova
232
Obs. É muito longe e tem muita rede. Vão pouco.
CANAL ENTRE BB E REDONDA (9)
Recursos principais: mesmos peixes do BB
Tipo de Fundo: pedraria
REDONDA E FILHOTE (6)
Recursos Principais: olhete, olho-de-boi
OBS: garoupa, cherne e badejo matam raramente, precisa de isca viva: problema de redução por causa
da pesca com compressor.
URCA PESQUEIROS PRÓXIMOS DAS ILHAS TIJUCAS
Pesqueiro: Surriá e Ilha do Meio (20), Jacaré (27)
Época: o ano todo
Freqüência
SURRIÁ E ILHA DO MEIO (20)
Recursos principais: anchova, olho-de-cão, marimba, bicuda, enxada (difícil de pegar na linha),
cangulo- peruá, peixe porco, (as últimas três espécies são mais encontradas na ilha do meio). Entre as
ilhas capturam pargo.
Tipo de Fundo: pouca pedra, no centro é só areia. Xurriá é pedra
JACARÉ (27)
Recursos principais: lula
Tipo de fundo: pedraria, tem que ter cuidado porque é muito raso entre 3 e 4 metros de profundidade
(só dá para pescar com mar calmo e maré cheia)
ILHA DAS TIJUCAS E LAJEADOS (21)
Principais recursos: olho-de-cão (principalmente), anchova, bicuda (peixes migratórios que vem
desovar dentro da Baia da Guanabara), peruá (raro), cangulo, marimbá (come junto com a bicuda).
VILAR (28) 12 milhas para fora (não é qualquer barco que consegue ir lá)
Principais recursos: peixes maiores - anchova
Conflitos nas Tijucas: os barcos de arrasto cercam com corrente os barcos artesanais da Urca. “O que
um barco de arrasto pesca num dia, é tudo que todos nós aqui pescamos em um mês inteiro”
PONTOS DE PESCA DE LULA NAS TIJUCAS:
Sai do costão, boca do canal e canto do Costa Brava (VER LEGENDA PARA LULA NAS FOTOS)
URCA PESQUEIROS PRÓXIMOS DA BOCA DA BARRA
Pesqueiros: Cotonduba (15), boca da barra, Praia Vermelha (16), laje (17), Ponta de Santa Cruz (18),
Madalena (19)
COTUNDUBA (15)
Recursos Principais: marimbá, anchova
BOCA DA BARRA
Recursos Principais: anchova, pororoca, bicuda, marimba, olho-de-cão, bagre (canal), robalo (boca da
Barra com isca viva).
PRAIA VERMELHA (16)
Recursos Principais: lula, corvina
LAJE (SAÍDA) (17)
Recursos Principais: anchova, garoupa, espada, marimbá, corvina, cocoroca.
PONTA DE SANTA CRUZ – FORTE (18)
Recursos Principais: anchova, olhete, corvina (por dentro).
OBS: não pescam muito porque é arriscado (pedra), além disso é proibido.
MADALENA (19)
233
Recursos principais: anchova (já foi um bom pesqueiro, hoje não mais)
URCA CONFLITOS
Barcos predatórios porque mesmo que os pescadores artesanais coloquem redes (redes paradas), não
impacta como os barcos industriais. Amedrontam e espantam os pescadores artesanais. O pior problema
é o cerco (VER LEGENDA DE CERCO NAS FOTOS – X vermelho problema com barco de cerco); eles
cercam toda área de beira de praia. Estão cercando na volta das Cagarras. No Surriá os barcos de arrasto
colocam por cima dos barcos.
Arrasto maior: por fora, não vão onde tem muita pedra.
Arrasto menor (X azul nas fotos): dentro da baía para captura de camarão, destrói os berçários. Usam
armas para ameaçar os pescadores. Os peixes capturados são destinados para ração, já que grande
parte da quantidade capturada é em tamanho muito pequeno.
OBSERVAÇÃO quanto ao IBAMA: “Mas o IBAMA não está preocupado com isso não, o que eles querem é
criar áreas para poder ganhar dinheiro. A primeira atitude que eles deveriam ter era proibir a pesca com
malha pequena (que não passa 1 dedo)”.
Críticas ao Breno do IBAMA, pela falta de diálogo com os pescadores da Colônia Z-13, imposição.
Denunciaram a presença de 14 barcos de arrasto na enseada de Botafogo. Avisaram as autoridades, mas
nada foi feito
URCA IDENTIFICAÇÃO DAS ÁREAS DE ABRIGO
Parte interna das Cagarras: utilizam para abrigo e pesca de lula a noite, na ponta sul da Comprida
pescam muito.
Quando entra o sudoeste vão para a ponta leste da Comprida (em amarelo)
URCA RELEVÂNCIA ECONÔMICA DOS PESQUEIROS – IMPORTÂNCIA PARA
CONSTITUIÇÃO DA RENDA
Ponta sul da Comprida: 5$
Lajinha das Cagarras: 5$
Surriá: 5$
Palmas: 5$
Redonda: 5$
Baixio da Rasa: 2$
Canal do Passarinho: 4$
Buracão da Comprida: 5$
Cangolândia: 3$
Banco do Brasil: 1$
OBS: tem muito pano de rede rasgado lá, por isso não vão muito mais para lá
Canal entre Redonda e BB, Sombra da Mulata: 4$
Âncora: 2$
Focinho de porco e Sombra da Mulata: 2$
Cotunduba: 1$
Boca da Barra: 1$
Praia Vermelha (16): 2$
OBS: é bom para pesca de lula pela produtividade e pela tranqüilidade (é protegido)
Todos pesqueiros de lula: 2$
234
12. ANEXOS
17/Fev/1992
Abertura do processo (Processo 0200100613/2005-99) junto ao protocolo.
20/Fev/1992
Ofício de encaminhamento do Chefe de Departamento de Unidades de Conservação (DEUC) ao Chefe da
Procuradoria Jurídica (PROJUR), das minutas de exposição de motivos e Decreto de criação da ARIE Ilhas
Cagarras. Encaminhamento foi dado pelo Procurador Geral Sabastião em 19/02/92.
20/Fev/1992
Parecer PROGE/IBAMA favorável ao encaminhamento do processo 0652/92-AC à Secretaria do Meio
Ambiente assinado por Gracia Maria Baldoni Cantanhede, Advogada.
11/Mar/1992
De acordo do Procurador Geral Sebastião Azevedo à Materia e solicitando urgência.
16/Mar/1992
Solicitação de encaminhamento do dossiê á Secretaria de Meio Ambiente assinada por Aureo Araújo
Faleiros, Chefe DEUC-DIREC/IBAMA.
??/Mar/1992
Solicitação de prosseguimento ao processo de criação da ARIE á Secretaria de MEio Ambiente assinada
por Mario do Nascimento Moraes, Diretor Substituto DIREC.
??/Mar/1992
De ordem, ao Ibama, assinada por Suely Sampaio.
10/Abr/1992
Nota ao chefe da DICOI (???) Sergio Brandt para uma reavaliação da proposta quanto a categoria de
manejo e demais aspectos técnicos e legais com urgencia.
??? 1992
Ofício assinado sem data pela presidente (???) Maria Tereza Jorge Pádua ao Secretário do Meio Ambiente
– Interino José Goldemberg. Submete à apreciação a proposta de Decreto de criação e minuta de
exposição de motivos.
???/Mar/1992
Minuta de ofício sem data do Secretário de Meio Ambiente (Interino) José Goldemberg ao Presidente da
República apresentando um projeto de Decreto propondo a criação da Área de Relevante Interesse
Ecológico das Ilhas Cagarras bem como a Exposição de Motivos.
Anexos/Exposição de Motivos
O documento cita a importância da área como sítio de pouso e criadouro de aves, com maior referência
ao Atobá (Sula leucogaster) e da Fragata (Fregata magnificens). O ofício ressalta a Lei No 5.196 de 03 de
janeiro de 1967, que coloca os ninhos e criadouros de animais sob pertencimento do Estado. Ressalta
também o componente paisagístico que o as ilhas oferecem. Lembra por fim que esta ARIE já havia sido
aprovada pelo CONAMA em dezembro de 1989.
Notadamente, a proposta de de decreto presidencial encaminhada: 1) constitui também como parte da
ARIE uma área de 2km em torno de cada ilha; 2) autoriza a Marinha a continuar suas atividades; 3)
proibe qualquer atividade que coloque em risco o ecossistema local e a harmonia da paisagem; 4) proíbe
a pesca com redes, armadilhas e outros petrechos que o IBAMA considere danoso bem como a posse e
utilização de explosivos, granadas, e outros equipamentos para abate de animais.
O quadrante proposto no documento é 43o 00’00’’ a 23o15’00’’de latitude Sul e 43o00’00’ de longitude
oeste.
???/???/1992
Minuta de Decreto de Criação da ARIE do Arquipélago das Ilhas Cagarras . O documento possui mais 2
parágrafos e 3 artigos que não constam no documento exposto acima. Notadamente, além dos 4 pontos
ressaltados, esta minuta de Decreto ainda proíbe: 1) competições esportivas ou qualquer atividades que
perturbem a fauna aquatica e as aves marinhas da ilha e seu entorno; 2) utilização de barracas ou
qualquer tipo de acampamento sem autorização do Ibama. Adicionalmente, a proposta ainda traz outros
2 artigos.
???/???/1992
Minuta de Exposição de Motivos praticamente idêntica à acima descrita.
???/???/1992
Minuta de ofício sem data do Secretário de Meio Ambiente José A. Lutzanberger ao Presidente da
República apresentando um projeto de Decreto propondo a criação da Área de Relevante Interesse
Ecológico do Arquipélago das Ilhas Cagarras bem como a Exposição de Motivos.
??? 1992
Minuta de ofício sem data pelo presidente (???) Eduardo de Souza Martins ao Secretário do Meio
Ambiente José A. Lutzanberger. Submete à apreciação a proposta de Decreto de criação e minuta de
exposição de motivos.
235
12. ANEXOS
29/04/2002
Matéria publicada na Folha de São Paulo (seção Turismo), onde se descreve as características ambientais
do arquipélago das Cagarras e pesquisas em andamento. Destaca-se o trecho seguinte:
“A importância ambiental, cultural e econômica das ilhas Cagarras levou o Ministério do Meio Ambiente,
através do IBAMA, a propor a classificação da região como Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE).
Foi garantida uma vaga para o arquipélago no primeiro concurso para analista ambiental do IBAMA”.
27/12/2002
Matéria publicada no jornal O Globo, informando sobre a proteção almejada nas Ilhas Cagarras. No texto,
cita-se que o Diretor de Ecossistemas estuda a possibilidade de alterar a categoria para Parque.
31/01/2003
Ofício encaminhado pela Colônia de Pescadores Z-7 (Niterói) Sr. Aurivaldo José Almeida ao Sr. Carlos
Henrique Abreu Mendes, Gerente Executivo do IBAMA-RJ. O ofício protesta contra a criação da UC, visto
que prejudicará substancialmente pescadore profissionais e amadores das diversas colônias de pesca da
região. Prejudicará também o turismo de pesca e a industria e comercio de equipamentos de pesca, que
empregam diversas pessoas na região. Cita que estas atividades não são predatórias e que já solicitaram
medidas aos órgãos competentes para coibir a degradação ambiental na área. Por fim, solicita que a UC
não seja criada sem antes realizar um “amplo debate com a Federação de Caça Submarina do Estado do
Rio de Janeiro, FEPERJ e, as Colônias de Pescadores que se utilizam à área, principalmente pelo fato da
área em questão ser o limite estipulado pela Capitania dos Portos do Estado do Rio de Janeiro para a
pesca de embarcações de pequeno porte”. Pede também que na eventualidade de se criar áreas de
exclusão, sejam viabilizados projetos para compensar os profissionais que se utilizam destas áreas.
12/02/2003
Matéria publicada na VEJA RIO sob título “Rio Selvagem”, que trata sobre as belezas das ilhas Cagarras e
o uso de pescadores, mergulhadores, caçadores subaquáticos e turistas das ilhas. A matéria trata
também da criação de um Parque Nacional na área e as opiniões da chefe do Parna Tijucas, do presidente
da Colônia de Pesca z-13 e representante da caça subaquática sobre a criação da UC.
19/02/2003
Nota publicada na Revista Veja Rio, onde a equipe do Parna Tijuca, responsáveis pela coordenação da
proposta de Unidade de Conservação Federal nas Ilhas Cagarras, esclarece pontos publicados pela
própria revista em matéria anterior “Rio Selvage – 12/02/03”. Nesta nota, afirmam que “Antes de
chegarmos às propostas de categorização e delimitação da Unidade de Conservação, foram consultados
todos os usuários da área (pescadores, praticantes de caça submarina, pesquisadores, Marinha,
mergulhadores e operadores de ecoturismo) em reuniões conjuntas e particulares. A partir das sugestões
e críticas, foram desenvolvidos cenários para a Unidade das Ilhas Cagarras”.
Fev/2003
Documento entitulado Diagnóstico sobre a Unidade de Conservação Federal das Ilhas Cagarras”, assinado
por Sônia L. Peixoto (Chefe Parna Tijuca/Ibama), Celso Junius (Diretor Executivo do Parna
Tijuca/Prefeitura), Breno Herrera da Silva Coelho (Analista Ambiental/ Parna Tijuca), Maria de Lourdes
Figueira (Analista Ambiental/ Parna Tijuca).
O diagnóstico apresenta as atividades realizadas pela equipe do Parna Tijuca no processo de criação de
UC no arquipelago das ilhas Cagarras. O documento apresenta: 1) Descrição da Área (aspectos bióticos);
2) Usos Atuais da Área; 3) Situação Legal; 4) Histórico Recente; 5) Propostas (cenário A: Ampliação da
ARIE, cenário B: Recategorização para Parna das Ilhas Cagarras, Cenário C: Incorporação ao Parna
Tijuca); 6) Conclusão; 7) Bibliografia; 8) Anexos.
O diagnóstico apresenta 1 parágrafo explicando os usos atuais da área, onde ressalta que “…o
arquipélago é bastante utilizado pela população”, sendo as principais apontadas o turismo ecológico,
mergulho recreativo e pesca (amadora, profissional e submarina). Aponta ainda que a pesca é realizada
principalmente na face oceânica da Ilha Comprida.
No tópico Situação Legal, o texto aponta a existência de uma ARIE criada por resolução CONAMA 011 de
14 de setembro de 1989 que inclui 2km no entorno de cada ilha, lembrando que a proposta de Decreto
“ainda não foi assinada”.
Em Histórico Recente, são apontados os seguintes eventos:
1) em 2001, ONG Viva Rio apresenta à GEREX-RJ (encaminhado ao MMA) propostas de estudos para a
elaboração de Plano de Gestão e monitoramento de espécies ameaçadas na ARIE;
2) ressalta que o MMA foi procurado (2001) por mergulhadores para o inicio de ações para a revitalização
do arquipelago;
3) após outubro de 2001, entidades como a Confederação de mergulhadores, colônias de pesca,
pesquisadores da UERJ e Clubes nauticos procuraram a GEREX-RJ em busca de esclarecimentos sobre a
ARIE, e após isto a questão começou a ocupar maior espaço na mídia;
4) em maio de 2002, o gerente executivo do IBAMA-RJ se comprometeu a criar grupo de trabalho para
rever a situação da ARIE e propor criação de uma UC na localidade;
5) foi designada a equipe técnica do PARNA Tijuca para a condução do processo de criação da UC;
6) em novembro de 2002 é realizada a primeira reunião congregando interessados no arquipélago. Cita
que estiveram presentes representantes do Ibama (Parna Tijuca), colônias de pescadores, pesquisadores
236
12. ANEXOS
(peixes, crustáceos e aves), Confederação e Federação de caça submarina e ONG Viva Rio, os quais
apresentaram seus interesses, propostas, problemas e soluções para o arquipélago. Alguns participantes
enviaram relatórios sobre suas atividades no arquipelago, incluindo alguns pesquisadores (poriferos,
carcinologia, ictiologia, ornitologia da UFRJ e geografia da PUC-RJ), pescadores da colônia z13, fotógrafo
Carlos Secchin, operadora de ecoturismo Tangará e Federação de Caça Submarina do RJ (Anexo 2 do
documento);
7) no Segundo encontro em janeiro de 2003 estiveram presentes também a marinha, operadoras de
mergulho, operadoras de ecoturismo e pesquisadores das areas de flora terrestre e esponjas. O
documento afirma que foram mapeadas as atividades de pesca e ecoturismo. Explica também que este
mapeamento foi feito em reuniões específicas com Pescadores (colônia z13 e Associação dos Usuários do
Quadrado da Urca), mergulhadores (Associação Brasileira de Empresas de Mergulho Recreativo e demais
operadoras que operam na área) e praticantes da pesca-subaquática (Federação de Caça Submarina do
Estado do Rio de Janeiro (Anexo 3 do documento);
8) em janeiro de 2003, a equipe do Parna Tijuca analisou os documentos enviados pelos usuários e
interessados e formulou os cenários de dimensionamento e categorização da UC. Cita que aconteceram
reuniões com o Secretário de Meio Ambiente do município do Rio de Janeiro, Capitania dos Portos e
Departamento de Hidrografia e Navegação da Marinha, onde manifestou-se o interesse pela co-gestão
tripartite da UC (Marinha IBAMA e Prefeitura) ou termo de co-gestão entre IBAMA/Prefeitura, com
interveniência da Marinha, fundamentadas em convênios a cada 2 anos;
9) em fevereiro de 2003 aconteceram duas visitas técnicas às ilhas (Anexo 4 do documento).
No tópico Justificativas, vários argumentos são listados:
1) a área apresenta um dos últimos remanescentes de ecossistema insular de Mata Atlântica bem
preservados, fato grave diante da inexistência de UCs marinha no RJ frente às ameaças aos ecossistemas
em questão (poluição, sobrepesca, ocupação desordenada, despejo de dejetos urbanos);
2) importância enquanto sítio de nidificação de aves e diversidade faunistica em função de sua posição
biogeográfica;
3) tendência de atividades humanas potencialmente degradantes, como a pesca e mergulho, que devem
ser devidamente reguladas antes de assumirem grande escala;
4) evidências de espécies novas e possivelmente endêmicas à área;
5) pressão da opinião pública e comunidade acadêmica para a fiscalização da área;
6) existência de resolução Conama ha 13 anos sem oficialização através de Decreto;
7) possibilidade de atuação conjunta entre Ibama, Prefeitura e Marinha facilitará a gestão e fiscalização
da Unidade.
Foram apresentadas três alternativas para a criação de Unidade de Conservação na área.
O primeiro cenário considerou a ampliação da ARIE existente de acordo com prerrogativa legal do SNUC
(art.22 parag.6o), já que somente considera as ilhas Cagarra, Palmas, Comprida e ilhotas adjacentes. A
fundamentação para a ampliação foi descrita tendo-se em vista que as ilhas Redonda, Rasa, Cotunduba,
do Meio, Alfavaca e Pontuda possuem características similares às atualmente inseridas na ARIE. O texto
ainda considera a inserção da área que separa as Ilhas Cagarras das ilhas Comprida, Rasa e o
arquipelago das Tijucas na proposta de UC, já que a categoria ARIE não restringe atividades pesqueiras
amadora e commercial. Estas seriam ordenadas pelo Plano de Manejo. Foram duas as vantagens
apontadas na eventual ampliação da ARIE: 1) a própria ampliação da área; 2) possibilidade de
conciliação de diversos usos na área. Foram também listadas quarto desvantagens: 1) menor eficácia na
aplicação de recursos oriundos de taxa de visitação; 2) possível desacordo entre prefeitura e marinha; 3)
menor representatividade turística; 4) discordância da comunidade acadêmica em função do carater
pouco restritivo.
O segundo cenário considerou a recategorização da ARIE para Parque NAcional das Ilhas Cagarras,
segundo prerrogativa legal do SNUC (art.11). A proposta seria incorporar à atual ARIE, as demais ilhas
citadas no primeiro cenário. Fundamenta-se esta alternativa no objetivo de assegurar uma conservação
mais restritiva da área, face à rápida degradação ambiental que as ilhas vêm sofrendo. Com relação aos
possíveis impactos à pesca, o diagnótico considera que seria pequeno visto que “as atividades de pesca
profissional, amadora e subaquática concentram-se em areas específicas nas proximidades das ilhas e
nas areas marinhas entre os grupos de ilhas”. A pesca seria também controlada nas areas marinhas de
entorno através do Plano de Manejo. Esta proposta apresenta também um possível esboço do eventual
Parna. O texto aponta que a área ao Sul da ilha Comprida ficaria for a dos limites, já que concentra
grande atuação da pesca commercial e amadora (subaquática). O contorno do Parque se situaria a 1km
de distância das ilhas e lages deste setor. A lage da Redonda também ficaria fora da proposta pela
grande utilização pela pesca comercial. Nas ilhas Tijucas, apenas a ilha do Meio seria incluída no Parque,
enquanto as ilhas Alfavaca e Pontuda teriam apenas suas porções terrestres incluídas. Na ilha
Cotunduba, penas a porção terrestre seria incluída.
Ainda no secundo cenário, o documento indica que “A permissão da pesca em alguns pontos das
proximidades das ilhas traz vantagens sociais, já que não priva os pescadores da região de seu sustento
e assegura o abastecimento de pescado para a cidade. As artes de pesca praticadas na região são
artesanais (linhas e redes), o que causa baixíssimo impacto às populações de peixes”.
237
12. ANEXOS
As vantagens listadas para este cenário são: 1) ampliação da área protegida; 2) possibilidade de
conciliação dos diversos usos através da definição dos limites da unidade de modo a não incluir as areas
de pesca; 3) agilidade na obtenção de recursos oriundos de taxa de visitação; 4) aprovação dos
eventuais parceiros da UC, Marinha e prefeitura; 5) maior representatividade do setor turistico; 6) apoio
da comunidade acadêmica tendo em vista o caráter conservacionista da proposta. Uma única
desvantagem foi apontada, sendo esta uma eventual morosidade legal no processo de recategorização.
A figura 2, que exibe a área delineada para o Parna de CAgarras envolve todas as ilhas, sem no entanto
fazer distinção as areas de pesca citadas.
O terceiro cenário considerou a incorporação da ARIE ao Parna Tijuca. O documento explica que o
referido Parna possui maior autonomia frente a GEREX-RJ e uma equipe técnica bem qualificada, fatos
que marcaram a delegação da responsabilidade pela implementação de uma UC em Cagarras ao seu
corpo técnico. O documento justifica uma eventual incorporação pelo fato das areas estarem próximas.
No entanto aponta que esta opção, caso considerada, deveria necessariamente vir acompanhada de
maior aporte orçamentário. Os limites aqui propostos são idênticos ao cenário B. As vantagens listadas
foram: 1) ampliação da área protegida; 2) possibilidade de conciliação de usos. As desvantagens
descritas foram: 1) ausência de dotação orçamentária no Parna Tijuca; 2) ausência de infra-estrutura no
Parna Tijuca; 3) ausência de pessoal qualificado para operar na área marinha; 4) falta de recursos
humanos.
O diagnóstico apresenta em suas Conclusões que uma UC no arquipelago das Cagarras teria sua gestão
facilitada pela participação conjunta do Ibama, prefeitura do Rio de Janeiro e da Marinha. Descreve ainda
que a parceria do Parna Tijuca com a prefeitura tem sido exitosa, e que este modelo poderia ser pensado
no caso de Cagarras. Por fim, o diagnóstico sugere o cenário B como o mais apropriado, tendo em vista
“o grau de importância ecológica e turística das ilhas, que seriam protegidas de forma apropriada através
da instituição de um Parque Nacional marinho”.
Nos anexos, encontram-se diversos documentos, como:
1) Portaria Conama que institui a ARIE das ilhas Cagarras;
2) Lista da flora do arquipelago;
3) Parecer técnico sobre a transformação do arquipélago em Parque. Este documento é assinado por
Paulo S. Young (Carcinologia, UFRJ) e Gustavo Nunan (ictiologia, UFRJ). Este documento assinala a
grande diversidade faunística do arquipélago e aponta que não existem outras áreas que as protejam no
estado do Rio de Janeiro.
Ressaltam que “Apesar do arquipélago das Cagarras e ilhas adjacentes não apresentar qualquer espécie
endêmica, abrigam inúmeras espécies raras ou de interesse que apesar de apresentarem ampla
distribuição, não estão protegidas em nenhuma região. Considerando estes aspectos a proteção do
Arquipélago já se justifica plenamente”.
Apontam também que “As ilhas vêm sendo utilizadas como pontos de pesca comercial e esportiva sem
qualquer critério sustentável, sofrendo sua população de peixes, crustáceos e moluscos de valor
comercial, exploração desordenada e predatória”.
Os pesquisadores indicam a necessidade de um zoneamento, realizada em um estudo que defina areas
para diferentes atividades, como 1) reserva; 2) turismo (mergulho); 3) pesca esportiva (caça
submarina); 4) pesca comercial (linha e redes). Sugerem também a condução de programas de
monitoramento ambiental para avaliar os impactos de cada atividade na área.
O parecer ainda sugere que todas os desembarques devam ser banidos, salvo em emergências.
4) Documento elaborado por Carlos Secchin. Sugere a Ilha Rasa como a mais indicada para servir de
base para o Parque, argumentando sobre as características desta ilha. Comenta da importância de cada
área para a pesca amadora e artesanal e mergulho.
Carlos Secchin também indica sugestões relacionadas a pesca. “Sem critério científico, mas por
observação prática e vivencia do local, na tentative de atender a todos os interesses, sem querer
beneficiar o grupo A ou B, sugiro que se proíba as práticas de: pesca esportiva de linha de fundo, currico,
rede de espera, de arrasto, caça submarina, ou retirada de mariscos em toda a extensão da Ilha
Comprida e em todo o complexo Rasa/Redonda incluindo suas lages”.
Além destas últimas, o documento ainda sugere diversas normatizações para a área.
5) Documento da Federação de Caça Submarina do Estado do Rio de Janeiro contendo informações
pontuais e pouco detalhadas sobre capturas realizadas no arquilago de CAgarras nos anos 2000/2001.
6) Ofício elaborado pela Federação de Caça Submarina do Estado do Rio de Janeiro, assinado por Cícero
Forain Filho (presidente). Apresenta o interesse da instituição em participar e contribuir com o IBAMA no
processo de criação de uma reserva em Cagarras, no que tange a fiscalização, controle, educação e
pesquisa, assim como a delimitação de área para a continuidade da realização dos campeonatos e prática
da pesca subaquática. O documento também propõe uma série de sugestões: proibição pesca
subaquática com equipamento respiratório, redes de espera nas lajes, pesca de arrasto; início de projeto
de controle e educação à pescadores profissionais, para que estes “aprendam, não apenas como
trabalharem de forma não predatória, mas principalmente a importância deste para sua comunidade”;
criação de um selo para as carteirinhas da FCSERJ, para que os filiados possam receber e repassar
ensinamentos necessários a preservação do local; implementação de projetos de pesquisa realizados
238
12. ANEXOS
239
12. ANEXOS
Representantes da pesca subaquática relataram as atividades que exercem nas ilhas Cagarras (ex.
campeonatos de pesca), e não se incomodam se a pesca seja proibida em alguns locais. O presidente da
colonia z-13 informou que a área é bastante utilizada, principalmente para a pesca de linha. Denunciou a
posse de armas por pescadores de outras regiões, a pesca de bomba e o abandono de redes em lajes,
desembarque de pessoas e consequente lixo no local, diminuição da quantidade de pescado. O
representante do Quadrado da Urca informou da importância do turismo para os pescadores (pesca
amadora). Pesquisador Paulo Young descreve as atividades realizadas na área e acredita ser possível a
coexistência de todas. Diz não haver estudos aprofundados sobre a fauna aquatica do local. Considera a
área importante para a conservação embora desconheça espécies endêmicas. O pesquisador Gustavo
Nunan comentou que as Cagarras são representativas de costões rochosos do sudeste brasileiro, e
acredita que para o grupo dos corais a área seja mais importante. Destacou a ausência das operadoras
de mergulho na reunião. A pesquisadora de aves Ana Beatriz destacou que embora a riqueza de aves não
seja grande, a área é importante como sítio de nidificação, e que sofre impactos pelo desembarque ,
alpinismo e lixo. O fotógrafo Carlos Secchin destacou a pesca predatória e a falta de fiscalização.
13) Ata da Reunião sobre a ARIE do Arquipélago de Cagarras em 08/01/2003. Estiveram presentes
240
12. ANEXOS
Foi apresentado o parecer técnico de Paulo Young e Gustavo Nunan. O Capitão tenente Carvalho expôs
que a DGN possui interesse em apoiar a conservação nas ilhas. Quando perguntado sobre a ampliação da
ARIE, disse que teria de consultar superiores. Ângela Saade informou sobre a sua realização de
monografia sobre a vegetação das ilhas. Representante da ABEM solicitou que fosse feita uma legislação
específica para Unidades de Conservação Marinhas. Alertou sobre a poluição do emissário e que área está
sendo degradada pois a obra não foi finalizada. Comentou também que os Serranideos estão acabando
na área. Quanto a cobrança de taxas, sugeriu que esta fosse cobrada pelo IBAMA e não ONGs.
Representantes da Tangará Turismo informaram sobre suas atividades de passeio na área. Sr. Gilberto
comentou sobre a necessidade de se proteger a Ilha Rasa, Redonda, do Meio e laje das Tijucas em
função das aves das ilhas, alertando a presença de ratos domesticos. Professor Muricy informou sobre
suas pesquisas e a descoberta de novas espécies de esponjas na área. Foi então solicitado que os
participantes apontassem suas areas de uso específicas. A pesca subaquática informaram que atuam em
todo o arquipélago (ilha Comprida, laje Praça XI, Laje das Cagarras e Filhote da Cagarras, Ilha Redonda),
principalmente na face oceânica das Cagarras. Os representantes do setor turístico informaramque
utilizam a parte interna da Ilha Comprida. Os pescadores da colônia de pescadores z-13 pescam a 500 a
600m das ilhas (área continental), e utilizam rede de espera. Informaram que também fazem currico
241
12. ANEXOS
próximo as ilhas na área continental. Sônia Peixoto (PArna Tijucas) discursou sobre as vantagens de se
ter um Parque Nacional, em função da visibilidade e facilidade de captação de recursos. A ata também
descreve que a chefe do Parna Tijucas comenta que “Sabendo que é uma categoria de manejo de
Proteção Integral, onde não se pode utilizar os recursos naturais da área, poderia se prever soluç!oes que
viabilizassem o uso por aqueles que já se utilizam da área, por exemplo pescadores”. Foi sugerido a
possibilidade de um mosaico de UCs, com áreas de uso sustentáve, o que foi acatado como sugestão pela
chefe do Parna Tijucas. Por fim, representantes do IBAMA se comprometeram a realizar reuniões
menores com representantes de cada segmento para que se identificasse as áreas de atuação de cada
atividade visando preparar uma proposição para a criação de um Parque Nacional e seu zoneamento
prévio.
14) Ata de reunião com representantes das associações de mergulho em 13/01/2002 realizada na sede
do Parna Tijuca. Participaram Rogério Khan (ABEM), Pedro Bonfatti (Rio Mar Escola Mergulho), Claudio
Brandileone (Aquatic World Awareness Responsibility & Education), Breno Coelho (Parna Tijuca). Foi
apontada a porção interna da ilha Comprida, Palmas, Cagarra e Rasa como prioritárias à prática do
mergulho. Sugeriram a proibição da pesca nas proximidades da ilha Rasa, principalmente no naufrágio
próximo à costa leste da ilha, de modo a manter a integridade do local para a prática do mergulho.
Informaram que pescadores da Urca utilizam a vertente norte (continental) da ilha Comprida. Sugeriram
a colocação de poitas de atracação.
15) Ata de reunião com pescadores da colônia Z-13 e Associação dos Usuários do Quadrado da Urca em
24/01/2003 na sede do Parna Tijuca. Não consta lista de participantes. Foram obtidas uma série de
informações sobre a pesca e ecologia da área. As principais artes de pesca empregadas são: Linha com
anzol próximo às ilhas; engodo com barco ancorado de noite (linha e anzol); currico, distante das ilhas
principalmente; redes a partir de 200m das praias e preferencialmente em áreas rasas de cascalho; não
é praticado o espinhel. Na Urca se utilizam basicamente linha e isca viva. Foi denunciada a presença de
redes abandonadas sobre as pedras da Ilha Redonda, manchas brancas no costão por causa do uso de
bombas, remanso natural ao norte da Ilha Comprida apropriado ao desembarque na ilha. As
embarcações da z-13 pequenas (5-6m) e duas canoas (7m), enquanto na Urca estão aproximadamente
20 traineiras, 30 barcos pequenos (boca aberta) e 2-3; lanchas. De acordo com os participantes, as áreas
mais usadas para a pesca são a vertente oceânica da ilha Comprida, a vertente oceânica da ilha Redonda
e laje da Redonda (chamada também de Banco do Brasil), Ilhas Tijuca (pesca de linha). Consta na ata
que a ilha do Meio e a parte interna do aruipélago das CAgarras São muito pouco usados, e que a pesca
nas ilhas ocorre a uma distância de 10-15m das mesmas. Por fim, consta que os pescadores da Urca
operam com o turismo no verão e no inverno pescam comercialmente.
16) Ata de reunião com representantes da CBCS em 01/02/2003 na sede do Parna Tijuca. Participaram
Eduardo Souto de Oliveira (CBCS), Álvaro Henrique Matos (CBCS), Maria de Lourdes de O. A. Figueira
(Parna Tijuca), Breno H.S. Coelho (Parna Tijuca) e Ivandy N. Castro Astor (Parna Tijuca).
Representantes da pesca sub criticaram o parecer dos pesquisadores, dizendo que os mesmos não
conhecem bem a área como eles. Argumentam que a pesca sub não é impactante e que utilizam todo o
arquipélago, questionando a mudança de categoria, que prejudicaria a atividade praticada por eles.
Relataram por fim que estariam de acordo com a proposta de Parna caso fossem excluídas: todo costão
de for a da Ilha Comprida, as Lajes da Praça XV, Matias, filhote da Ilha Cagarras, laje da Redonda e toda
a área marinha das Ilhas Tijucas.
17) Relatório de vistoria ao Arquipélago das Cagarras em 06/02/2003 juntamente à escola e operadora
de mergulho RioMar. Foi verificada a presença de duas embarcaçoes de pesca de linha e subaquática na
Ilha Cotunduba. Verificaram a presença de vegetação exuberante, levando-os a sugerir a incorporação de
sua porção emersa na proposta de UC. No lado de fora da Ilha Comprida foram observados
mergulhadores, fazendo uso inclusive de compressor. Verificaram grande presença de lixo no lado
continental da Ilha Comprida, com vegetação degradada. Nas proximidades da Ilha de Palmas,
verificaram a presença de uma traineira sendo abastecidas por pelo menos três embarcações a remo
menores com caixas de mexilhões coletados nos costões rochosos das ilhas. No trajeto de retorno,
cruzaram outras 2 lanchas em direção as ilhas para a prática da pesca subaquática. O texto termina
concluindo que “a área apresnta seus recursos naturais explorados pelos usuários, constatado pela
grande presença de pescadores na área e verificamos que a mesma apresenta diversos atributos que
merecem ser preservados”.
18) Relatório de vistoria às ilhas Rasa e Redonda em 13 de fevereiro de 2003. Estiveram presentes, além
da equipe do Parna Tijuca, um sargento da Marinha, 2 fotógrafos e uma bióloga marinha. Na ilha Rasa,
descrevem as estruturas fisicas observadas, incluindo casas construidas que eventualmente poderiam
servir de base para a Unidade de Conservação. Passaram pela Ilha Redonda, e no retorno, citam a
observação de 3 atuneiros e um barco com rede de arrasto próximo à Ilha Cotunduba.
06/03/2003
Ofício encaminhado pela chefe do Parna Tijuca Sônia Lucia Peixoto à DIREC, solicitando orientações ao
andamento da criação de uma UC em Cagarras. O documento explica que a Prefeitura e a MArinha são
favoráveis a uma gestão compartilhada da UC, como ocorre no Parna Tijuca. Informa que a Marinha é
242
12. ANEXOS
favorável à cessão de estrutura na Ilha Rasa para a implementação da sede da UC. Por fim solicita a
presença de representante da DIREC em reunião agendada na reunião com o primeiro Distrito Naval.
??/05/2003
Diagnóstico sobre a Unidade de Conservação Federal das Ilhas Cagarras produzido por Breno Herrera da
Silva Coelho e Sônia L. Peixoto (Parna Tijuca). O texto apresenta uma proposta de criação de um
Monumento Natural das Ilhas Cagarras, com sugestões sobre seu dimensionamento, categorização e
gestão. O documento descreve vastamente a fauna e flora das ilhas Cagarras e Tijucas. RElata
rapidamente que o arquipélago é bastante utilizado pela população local, com atividades de turismo
ecológico, mergulho recreativo e pesca (amadora, profissional e submarina), esta última principalmente
na face oceânica da Ilha Comprida. Em Situação Legal, referen-se à criação pelo CONAMA da ARIE, e
posteriormente citam que esta foi apenas uma proposta de decreto. Citam também que “na prática não
há presença do IBAMA na fiscalização ou gestão da Unidade”. Em Histórico Recente, relatam
praticamente os mesmos tópicos descritos no Diagnóstico anterior, além de outros 2 pontos. O primeiro
cita a submissão da primeira versão do “Diagnóstico sobre a Unidade…”. O segundo cita que com a
mudança de cargos na Gerência Executiva do Rio de Janeiro, houve a reativação do Núcleo de Unidades
de Conservação sendo que este departamento volta a se envolver diretamente no processo de
implementação da UC das Ilhas Cagarras. Na descrição da Proposta, o documento sugera a categoria
Monumento Natural, argumentando que esta é apropriada à Cagarras tendo-se em vista sua expressiva
beleza cênica, importância ecológica e pequena dimensão. Argumenta que embora a resolução CONAMA
tenha sugerido a criação de uma ARIE, optou-se por uma categoria de proteção integral face a rápida
degradação ambiental que as ilhas vêm sofrendo. Além disto, lembra que a esta categoria permite a
continuidade de visitação, não prejudicando o turismo no local. Quanto a pesca extrativista, o documento
cita que “a solução encontrada seria a mesma que a aplicada em outras unidades de cosnervação
marinhas de proteção integral (como osParques Nacionais de Fernando de Noronha e de Abrolhos), qual
seja: a delimitação da UC de modo que sejam mantidas áreas for a da mesma onde as atividades de
pesca possam ser efetuadas”. O documento menciona ainda que no caso do Monumento Natural das
Ilhas Cagarras “o desenho de seus limites com este objetivo seria facilitado visto que as atividades de
pesca profissional, amadora e subaquática concentram-se em áreas específicas nas proximidades das
ilhas e nas áreas marinhas entre os grupos de ilhas”. Cita que a ausência de pesca em certas áreas
funcionaria como repositório das populações de peixe capturadas. Explica que no setor “Cagarras”, a UC
estaria a 10m das ilhas que compõem o arquipélago. Esta mesma distância se aplica ao setor “Redonda”.
Entre estes setores, na parte marinha e lajes, a pesca seria então permitida, embora controlada de
acordo com orientações do Plano de Manejo. O texto então cita que todas as áreas terrestres seriam
incluídas e que a permissão da pesca a partir de 10m de distância das ilhas “traz vantagens sociais, já
que não priva os pescadores da região de seu sustento e assegura o abastecimento de pescado para a
cidade”. Menciona ainda que “As artes de pesca praticadas na região são artesanais (linha e redes), o
que causa baixíssimo impacto às populações de peixes”. A seguir, o diagnóstico apresenta as vantagens
da criação do Monumento Natural, detre elas: 1) conciliação de diversos usos; 2) agilidade na obtenção e
aplicação de recursos oriundos de taxa de visitação e outras rendas; 3) aprovação da Prefeitura e
Marinha; 4) maior representatividade turística; 5) aprovação da comunidade acadêmica em função do
caráter conservacionista. Nas conclusões, os autores do diagnóstico citam a predisposição da Marinha e
Prefeitura em cooperar com a proposta, e lembram que esta seria o primeiro Monumento Natural da
brasileiro na proximidade das internacionalmente conhecidas praias do Rio de Janeiro.
???/05/2003
Diagnóstico sobre a Unidade de Conservação Federal das Ilhas Cagarras, produzido por Breno Herrera da
Silva Coelho e Sônia L. Peixoto (Parna Tijuca). Este documento é muito similar ao Dianóstico anterior. No
entanto, apresenta outros 2 cenários além da proposta de criação de um Monumento Natural. O primeiro
apresentado seria a ampliação da ARIE (conforme igualmente apresentado no primeiro diagnóstico). O
segundo cenário é o mesmo apresentado no segundo diagnóstico para a recategorização para
Monumento Natural, adicionando uma possível desvantagem. Esta seria a eventual morosidade no
processo legal. O terceiro cenário é o mesmo apresentado no primeiro diagnostico e sugere a
incorporação da área ao PARNA Tijuca. Nas conclusões, o documento sugere o segundo cenário, ou seja,
a recategorização para Monumento Natural.
???/06/2003
Diagnóstico sobre a Unidade de Conservação Federal das Ilhas Cagarras, produzido por Breno Herrera da
Silva Coelho e Sônia L. Peixoto (Parna Tijuca). Este documento é similar aos outros encaminhados
previamente. No tópico 6 (Proposta), o documento cita que “o grupo de trabalho do arquipélago das Ilhas
Cagarras, baseado na análise das contribuições oferecidas pelos pesquisadores e demais usuários das
ilhas e adjacências, sugere a categoria de Monumento Natural para a unidade de conservação federal das
Ilhas Cagarras”. O restante do documento é idêntico ao conteúdo do segundo Diagnóstico apresentado. A
figura que apresenta o esboço dos limites apresenta estes em melhor nível de detalhamento do que
aquela apresentada em documentos anteriores.
05/07/2003
Matéria no jornal O Globo informando que o Dep. Fernando Gabeira apresentou à ministra seu projeto
243
12. ANEXOS
244
12. ANEXOS
02/03/04
Projeto de Lei No. 1268/2004, que Cria o Parque Estadual Marinho das Ilhas Cagarras, Rasa e Redonda e
dá outras providências. O documento apresenta uma proposta de Unidade de Conservação Estadual.
Define que a área do Parque Estadual envolve as ilhas Rasa e Redonda, incluindo a área marítima interna
do arquipálago das Cagarras e um raio de 500 metros em torno de cada ilha. Delimita que a Zona de
Proteção Integral será definida no Plano de Manejo da UC. Institui como órgão implantador e gestor do
Parque a Comissão de Gestão Compartilhada do Parque Estadual Marinho das Ilhas Cagarras, Rasa e
Redonda, presidida pelo órgão estadual e com composição paritária, com representantes de órgãos
públicos municipal, estadual e federal, com membro permanente da Marinha do Brasil, e a sociedade civil
(ONGs, pescadores, associações de mergulho, clubes náuticos, universidades).
No documento anexado, existe uma justificativa para a criação da referida UC, incluindo uma descrição
dos atributos bioecológicos mais relevantes e dos impactos atualmente presentes na área.
11/05/04
Ofício encaminhado pelo Deputado Paulo Melo da Comissão de Constituição e Justiça da Assembléia
Legislativa do Estado do Rio de Janeiro ao Deputado Jorge Picciani, presidente da Assembléia Legislativa
do Estado do Rio de Janeiro. O ofício solicita que seja baixado em diligência informações ao IBAMA. As
informações solicitadas são:
-‐ Pergunta sobre qual a ingerência do IBAMA no arquipélago das CAgarras, já que este consta na
Lei Orgânica do Município do Rio de Janeiro como área integrante do território da Capital.
-‐ Pergunta se o IBAMA reconhece o projeto de Lei 1683/2003, de autoria do Deputado Fernando
Gabeira, que dispõe sobre a criação de Monumento Natural no arquipélago.
-‐ Solicita manifestação do IBAMA sobre o documento “Diagnóstico sobre a Unidade de Conservação
das Ilhas Cagarras”.
23/06/04
Encaminha ao Gerente Regional do IBAMA-RJ copia de ofício que baixou em diligência o Projeto de Lei No
1268/2004, de autoria do Deputado Alessantre Calazans. Encaminha junto ao ofício uma copia do
referido projeto de Lei.
21/07/04
Memo encaminhado pela Gerencia Executiva do IBAMA-RJ à Coordenação Geral de Ecossistemas
(DIREC). O texto solicita reunião entre CGECO E NUC/GEREX/RJ para tratar da recategorização da ARIE
das Ilhas Cagarras.
24/08/04
Ofício encaminhado pela Chefe da Assessoria Parlamentar Jaura Rodrigues ao Assesor Parlamentar do
IBAMA Ronaldo Alexandre. O ofício solicita que este se manifeste rapidamente sobre a viabilidade do
projeto de LEI No 1683/03, já que este projeto pode entrar a qualquer momento na pauta da Câmara
dos Deputados.
18/12/2004
Matéria sobre os 17 golfinhos já identificados por pesquisadores nas Ilhas Cagarras.
18/02/2005
Cópia da “Proposta de Criação do Monumento Natural das Ilhas Cagarras”, apresentando as atividades
realizadas pela equipe do IBAMA do Rio de Janeiro e sugestões sobre o dimensionamento, categorização
e gestão.
O documento inicia com uma descrição da área (aspectos bióticos). Apresenta também os usos da área,
destacando a alta freqüência de utilização da área. Descreve que a principal área onde a pesca é
realizada é a face oceânica da Ilha Comprida. Ao apresentar a situação legal, discorre sobre a Resolução
CONAMA 011 de 14 de setembro de 1989, que cria a ARIE do arquipélago das Cagarras além do mar
territorial em um raio de 2km em torno de cada ilha. Afirma que esta ARIE ainda não foi decretada e que
na prática não há presença do IBAMA na fiscalização ou gestao da Unidade. O documento apresenta a
seguir o histórico recente. O histórico acrescenta alguns pontos em relação ao Diagnóstico encaminhado
em fevereiro de 2003:
1) no histórico, informa que em Março de 2003, com a mudança do gerente executivo (assumindo
Edson Bedim de Azeredo), houve a reativação do núcleo de Unidades de Conservação, a qual
volta a se envolver com o processo de Cagarras;
2) relata que em meados de 2003, o Deputado Federal Fernando Gabeira apresentou versão
preliminar do relatório à Ministra Marina Silva, que propôs a criação de Projeto-Lei, enviado então
ao Congresso Nacional;
3) relata que no verão de 2004/2005 o IBAMA/RJ foi novamente acionado em relação às Cagarras
pela opinião pública, mídia e a estudos sobre os golfinhos-fliper realizados pelo Instituto
ECOMAMA, que constatou grande abundancia da espécie no arquipélago.
Em justificativas, o documento apresenta os mesmos argumentos que no diagnóstico anterior,
acrescentando que o arquipélago representa um ‘símbolo de conservação do Rio de Janeiro’ e já ser
considerado um Monumento Natural.
Em Proposta, o documento relata que o Grupo de Trabalho sugere a categoria Monumento Natural em
baseado na análise das contribuições oferecidas pelos pesquisadores e demais usuários das ilhas e
245
12. ANEXOS
adjacências. Argumenta também que “objetivando assegurar uma conservação mais restritiva da área a
face à rápida degradação ambiental que as ilhas vêm sofrendo, pretende-se instituir uma Unidade do
Grupo de Proteção Integral”.
Um Monumento Natural foi sugerido pois permite a visitação pública e um grande potencial de fomentar o
turismo. Fazem parte da proposta:
-‐ ilhas, cagarra, palmas, comprida, rasa e redonda, ilhotas filhote da cagarra e filhote da redonda,
lajes Matias, praça XI e da redonda, próximas ao largo de Ipanema;
-‐ ilhas do meio, alfavaca e pontuda, nas Tijucas
O documento aponta que em função de reuniões com pescadores que utilizam as ilhas, optou-se por
restringir a proposta do Monumento Natural à parte emersa das ilhas e a seus costões rochosos, de modo
a permitir, portanto a pesca sustentável no arquipélago. Exceção se faz a duas ilhas (Rasa e Redonda) e
um ailha (filhote da Redonda). Neste caso se optou pela inclusão no Monumento de uma faixa de 200m a
partir do limite das ilhas. Ainda segundo o documento:
“Estas são as ilhas mais isoladas do Monumento, menos utilizados para pesca e com mais significativa
biota marinha, o que justifica sua proteção integral.”
“O desenho da UC proposto, contemplando a permissão da pesca; traz vantagens sociais, já que não
priva os pescadores da região de seu sustento e assegura o abastecimento de pescado para a cidade. As
artes depesca praticadas na região são artesanais (linha e redes), o que causa baixíssimo impacto às
populações de peixes. Artes de pesca predatórias, como redes de arrasto e uso de explosivos serão
expressamente proibidas.”
Dentre as vantagens da ciação do Monumento Natural estão apontadas:
-“possibilidade de concilliação de diversos usos (conservação e uso sustentável de recursos, no caso,
pescado), através da definição dos limites da unidade de modo a deixar fora do Monumento as áreas de
pesca”.
- maior agilidade na obtenção e aplicação de recursos de taxa de visitação e outras provenientes de
arrecadação;
- apoio da Prefeitura e Marinha à proposta;
- maior representatividade turística
- aprovação da comunidade acadêmica, em virtude do caráter conservacionista da categoria;
- conservação e tombamento do Farol da Ilha Rasa e seu complexo arquitetônico;
Nas conclusões, o analista ambiental Breno Herrero ressalta a necessidade de criação de uma UC Federal,
dentre os motivos, pelo apoio que a proposta recebe da Prefeitura e Marinha, que seriam parceiros na
Gestão da UC.
???/03/2005
Matéria de jornal não identificado pela fotocópia com o título “Aprovado o projeto para a proteção das
Ilhas Cagarras – Arquipélago pode ser declarado monumento natural”. Informa a aprovação do projeto
na câmara dos deputados, que agora segue para o Senado. Informa também que a idéia seria que a
Unidade pudesse receber visitantes durante os Jogos Pan-Americanos de 2007. Cita também algumas
idéias em vigência para o manejo e promoção do turismo na área.
12/03/2005
Matéria no jornal “Rio”, sobre o arquipélago das Cagarras. A matéria informa que foi aprovado na câmara
dos deputados o projeto de lei de autoria do deputado Fernando Gabeira. A matéria afirma que a
proposta de criação estava sendo acelerada tendo em vista que Gabeira gostaria que esta Unidade de
Conservação já recebesse visitantes durante o Pan-Americano de 2007 no Rio. A matéria descreve que
serão proibidas a pesca predatória e os campeonatos de pesca nas ilhas, alem do acampamento no
arquipélago.
20/03/2005
Matéria na revista “O Globo” com o título “Pequenas maravilhas dos mares do Rio”. A material discursa
sobre algumas pesquisas em andamento no arquipélago das Cagarras, incluindo as esponjas. Cita o
andamento do projeto de criação do Monumento Natural, projeto do Deputado Fernando Gabeira
idealizado pelo analista ambiental Breno Herrera.
22/03/05
Ofício encaminhado pelo ex-presidente da colônia z13, Sr. Ovídio Collisteu de Araújo Neto, ao Secretário
Especial de Aqüicultura e Pesca, José Fritsch, solicitando que este intervisse no processo de criação do
Monumento Natural do Arquipélago das Ilhas Cagarras. O argumento é que esta UC traria conflito com o
os pescadores profissionais e amadores. Ainda argumenta que não existe pesca predatória no Rio de
Janeiro. Esta afirmação mostra que foi entendido que a “pesca predatória” mencionada pela matéria
publicada no jornal O Globo diz respeito às atividades realizadas pelos pescadores artesanais.
20/04/05
Memo encaminhado por Márcia Moreira (Gerante Substituta/IBAMA-RJ) ao diretor da DIREC sobre o
projeto de lei do Sr. Fernando Gabeira. Esta comunica que na forma como foi aprovado pela Câmara dos
Deputados, os limites propostos poderão gerar conflitos com alguns segmentos da sociedade pelo fato
das Ilhas Cagarras (ilha Cagarra, Palmas e Comprida; ilhotas Cagarra, Pequena e Grande) serem
246
12. ANEXOS
intensamente utilizadas para a pesca artesanal e mergulho recreativo. O ofício considera ainda que a
decretação desta UC de proteção integral incluindo as faixas marinhas dessas ilhas afetará diretamente a
pesca realizada na área, prejudicando os pescadores que dela dependem para seu sustento e de suas
famílias. O documento argumenta que somente as ilhas Rasa e Redonda e a ilhota da Redonda, por
apresentarem atributos ecológicos de destaque, justificam a inclusão da porção marinha em área de
proteção integral. O documento finaliza solicitando que sejam tomadas as medidas cabíveis para
alteração ao texto do projeto de Lei, visando a alteração dos seus limites físicos.
17/08/05
Ofício encaminhado pela SEAP ao IBAMA solicitando esclarecimentos ao ofício encaminhado pelo Sr.
Ovídio à SEAP. É solicitada explicação sobre “os impactos negativos para a pesca profissional ao
transformar o Arquipélago das Cagarras em Monumento Natural do Arquipélago das Ilhas Cagarras.”
23/08/2005
Cópia do Diário Oficial em que se institui a Comissão Permanente de Assessoramento à Criação de
Unidades de Conservação da Natureza que envolvam áreas costeiras e marítimas. Dentre os membros
estão representantes do IBAMA, Marinha, Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da
República, entre outros.
20/09/2005
Ofício encaminhado pela Colônia de Pesca Z13 à SEAP (Secretário Especial da Aqüicultura e Pesca Dr.
José Fritsch). Inicialmente o texto informa sobre a criação de um Grupo Gestor para tomar decisões
sobre procedimentos e administração das Ilhas Cagarras. O documento relata que “pescadores da
Colônia Z-13 de Copacabana, que sempre vivemos da subsistência da pesca diária nas ilhas, e que somos
os maiors conhecedores e interessados nos problemas que afligem o nossso arquipélago, não podemos
aceitar ser deixados de lado de um grupo gestor que vai administrar uma área que é nosso local de
trabalho, visto que temos uma situação geográfica única de estar em um preímetro de apenas quatro
quilômetros das ilhas, e fazemos questão de participar, com voz ativa dentro desse grupo, e contribuir
com nossa experiência e conhecimento, para a melhor proteção possível do arquipélago”. O documento
ainda descreve o uso histórico das ilhas, e afirma que conta hoje com 20 embarcações de pequeno porte.
Solicita também que seja estimulado o ecoturismo marítimo nas ilhas.
07/10/05
Memo encaminhado à Coordenadora Geral de Ecossistemas pela Coordenação de Ordenamento Pesqueiro
solicitanto informações sobre a validade da ARIE CAGARRAS.
10/01/06
Nota Técnica sobre a ARIE das Cagarras, elaborada pelo analista ambiental do IBAMA Reuber
Albuquerque Brandão. O texto apresenta as características bioecológicas do arquipélago e argumenta
sobre a relevância deste no aspecto de conservação, ressaltando os conflitos e impactos atuais sobre a
área. Informa sobre a confusão que existe em torno da Resolução Conama 011/1989, relatando que esta
pretendia “enviar à Presidência da República a seguinte proposta de Decreto”. Assim, segundo o texto,
não há nenhum Decreto Presidencial criando a ARIE das Ilhas Cagarras e estabelecendo restrições às
atividades de pesca. Justifica que por este motivo é necessário criar um instrumento legal de proteção,
ordenação e controle das atividades na área. Ao longo do texto, apresenta as ferramentas possíveis,
incluindo o SNUC e algumas categorias que seriam pertinentes na área. Por fim, justifica que não há
argumento para se criar uma ARIE na área, mas sim uma Unidade de Conservação como um Monumento
Natural. Relata que mesmo que a procuradoria jurídica do IBAMA reconheça que a Resolução CONAMA
tenha efetivamente criado a ARIE, a proposta de Monumento Natural não é imcompatível com a ARIE já
que a o MNatural é uma categoria de proteção integral. Finaliza descrevendo que a criação do
Monumento Natural irá possibilitar a conciliação e o ordenamento dos diversos usos que são
desenvolvidos no local.
17/01/06
Memo de Walmir Ortega solicitando à Procuradoria Geral Federal esclarecimento sobre a validade da
Resolução CONAMA 011/1989 que trata da ARIE das CAGARRAS.
07/04/09
Ofício encaminhado pela Procuradora Federal Conceição de Maria Jinkings Campos respondendo à
solicitação sobre informação de validade da Resolução CONAMA 011/1989 que trata da ARIE das
CAGARRAS. O ofício esclarece que a ARIE do Arquipélago das Ilhas Cagarras nunca foi criado, trantando-
se a Resolução apenas de uma proposta de criação. Assim, não estão valendo as restrições previstas no
artigo 3o da mesma.
20/06/06
Ofício encaminhado pelo deputado estadual Carlos Minc (RJ) à Ministra de Meio Ambiente Marina Silva.
Solicita que seja criada com urgência o Monumento Natural das Ilhas Cariocas, que abrange praticamente
todas as ilhas e ilhotas do litoral dos municípios de Niterói e Rio de Janeiro. Informou que o Deputado
Fernando Gabeira apoiou este projeto, já que amplia a proposta apresentada por ele.
A minuta de Decreto encaminhada junto ao ofício inclui no Monumento Natural:
247
12. ANEXOS
-‐ as Ilhas Rasa de Guarativa, Urupira, das Pecas e a ilhota próxima à Urupira, o arquipélago das
Tijucas, ilhas Cagarras, Palmas, Comprida, Filhote da Cagarra, Matias, Praça Onze, Ilha Redonda,
Filhote da Redonda, Ilha rasa, Ilha Cotunduba e a área marítima num raio de 50 metros ao redor
das ilhas.
-‐ as ilhasdo Pai, Mãe e Menina e a área marítima num raio de 30 metros ao redor das ilhas
20/06/06
Ofício ao Sr. Valmir Gabriel Ortega, com o mesmo conteúdo do ofício encaminhado pelo Carlos Minc à
Ministra Marina Silva em 20/06/06.
23/08/06
Ofício de abertura do processo no IBAMA que trata sobre a proposta de Carlos Minc para a criação do
Monumento Natural das Ilhas Cariocas.
28/08/06
Memo encaminhado pela COMAR/DIREC de Brasília à superintendência do IBAMA/RJ. Foi encaminhado o
à COMAR os processos No. 02001006613/2005 referente a criação do Monumento Natural das ilhas
Cagarras e o processo No. 02001004116/2006-37 referente a criação do Monumento Natural das Ilhas
Cariocas. O Memo solicita manifestação da superintendência sobre qual o processo é prioridade, já que
somente um deles será dado prosseguimento.
11/10/06
Memo encaminhado pelo IBAMA-RJ (NUC), ao superintendente do IBAMA-RJ. O documento argumento
que o processo do Monumento Natural das ilhas Cariocas trará dificuldades de operacionalização em vista
da grande magnitude da proposta. A inclusão de diversas ilhas acarretaria também a desvalorização
daquelas com importância mais relevante à conservação. Sugerem assim a continuidade do processo
de criação do Monumento Natural das Ilhas CAgarras.
09/11/06
Ata de Reunião sobre a criação de unidade de conservação federal nas Ilhas Cagarras, no auditório da
SUPES/IBAMA-RJ
Reunião presidida por Breno Herrera e Ricardo Calmon. Foi apresntado um resumo do historio co
processo de criação. Foi apresentada pelo Sr. André Ilha a proposta do deputado estadual Carlos Minc,
que abrange todas as ilhas oceânicas entre Guarativa e a ponta de Itaipú. Breno apresentou as propostas
do Deputado Gabeira e a proposta do IBAMA, que acrescenta à proposta do Deputado Gabeira as Ilhas
Tijucas. Foi também apresentada a proposta da Marinha, restrita ao arquipélago das Cagarras, propondo
uma área interna de proteção integral e uma zona externa de amortecimento. representante da Pesca
subaquática reclama da falta de fiscalização e a falta de relativização dos impactos das diversas artes de
pesca na fauna de peixes, afirmando que a pesca sub é a que menos impacta. Breno diz que a UC não
resolverá o problema da pesca industrial predatória. Roberto da Colônia z13 disse que tão ou mais
importante que a preservação dos peixes é a das pessoas, que o dano maior à vida é causado pela
poluição monstruosa do emissário submarino. Breno solicita aos representantes da academia
monifestação sobre a importância relativa de cada ilha, e informa que o que motivou a retirada de ilhas
em relação ao projeto do Minc foi a importância do impacto dssa restrição sobre a pesca. Dentre algumas
manifestações da academia destaco a de Gustavo Nunan da UFRJ, que reforçou a importância da
proteção integral de todas as ilhas cariocas, dado o atual quadro de sobre-pesca e a grande
biodiversidade biológica das mesmas, portanto defende a proposta do dep. Minc, informando ainda que a
Redonda apresenta a maior biodiversidade de peixes. Leonardo do IBAMA comentou que a UC iria focar
as ações do IBAMA na fiscalização e melhorar a captação de recursos através de compensação ambiental.
Adriana expõe o que acreditou ser uma proposta consensual do grupo. Bernadette propôs formalizar esta
proposta para que ela pudesse ser discutida, e identificar e quantificar instituições e pessoas envolvidas
com a pesca, aventando a possibilidade de ressarcimento aos atores sociais atingidos pela criação da
unidade, e a capacitação e fomento das atividades tradicionais. Ao final, Breno faz um resumo dos pontos
consensuais. A Ata afirma que nenhum dos representantes presentes sse opõe à criação do Mionumento
Natural, havendo dúvidas apenas quanto a seus limites (diferentes propostas apresentadas) e há um
consenso no meio acadêmico sobre a importância ecológica das ilhas Rasa e Redonda. Deu-se o prazo de
15 dias para as instituições presentes encaminharem a sua proposta de UC para o IBAMA, os quais
seriam utilizados pelo IBAMA para preparar para a audiência pública.
14/11/2006
Ofício enviado pelo chefe da APA Guapimirim Breno Herrera da Silva Coelho à COMAR/DIREC/IBAMA,
encaminhando um dossiê com matérias publicadas sobre a criação do Monumento Natural das Ilhas
Cagarras.
21/11/2006
Ofício encaminhado pela Colônia de PEsca Z-13 sobre a criação de Unidade de Cosnervação das Ilhas
Cagarras. O ofício pontua 8 itens, incluindo: 1) participação da colônia no conselho deliberativo; 2)
criação de UC de uso sustentável incluindo Cagarras, Redonda, Rasa e Tijucas; 3) Limitação da zona de
maior preservação à área interna do arquipélago das Cagarras, equivalente à delimitação apresentada
pelo representante da Marinha, excluindo a ponta sudoeste e a lajinha da Ilha das Palmas e o Canal dos
Passarinhos; 4) proibição do uso de rede, arrastão e cerco em toda a ára da UC; 5) permissão para a
248
12. ANEXOS
pesca artesanal e esportiva na UC, exceto na zona de presevação, para aqueles cadastrados, observadas
as normas previstas na lei e em plano de manejo; 6) ordenamento da extração do mexilhão; 7) estudos
sobre os fluxos migratórios do polvo, lagosta, cavaca e outras espécies; 8) aumento da fiscalização para
cumprir com legislação já existente.
24/11/2006
Ofício encaminhado para o Superintendente Regional do IBAMA/RJ, Sr. Rogério Geraldo Rocco, assinado
por diversas instituições, sobre o processo de criação do Monumento Natural das Ilhas Cagarras.
Apresentam 8 tópicos de argumentação para por fim prestar apoio à propsota apresentada pela Marinha
do Brasil em reunião realizada no dia 09 de novembro de 2006. Dentre os tópicos, comenta que a
proposta apresentada pela Marinha “limita-se ao Arquipélago das Ilhas Cagarras, viabilizando ainda
instrumentos, no âmbito do Plano de Manejo da UC a ser criada, para o desenvolvimento da pesca
artesanal na sua Zona de Amortecimento, em suas diversas modalidades”. Em anexo, este ofício
apresenta uma minuta de Decreto Federal. Esta minuta, em seu artigo segundo, institui duas zonas: 1)
zona de proteção integral e 2) zona de amortecimento. A primeira seria composta pelas ilhas Cagarra,
Palmas, Comprida e Filhote da Cagarra, bem como a área maritime interna do arquipélago, limitada pelos
costões internos dessas ilhas e pelos segmentos de reta que unem as tangentes externas das
extramidades dessas ilhas. Esta área proibiria atividades danosas ao ecossistemas, competições
esportivas, acampamento, porte de armas de fogo e outras atividades previstas em plano de manejo. A
segunda área seria composta por faixa de 500m no entorno da zona de proteção integral, onde seria
proibida a pesca com redes, armadilhas e outros petrechos danosos a fauna marinha, além daqueles
previstos em plano de manejo. A proposta ainda autoriza a prática de mergulho na Zona de Proteção
Integral, o afundamento deliberado de navios (recifes artificiais) e o fundeio de embarcações em
situações de mau tempo.
Assinaram Iate Clube do Rio de Janeiro, Marina Barra Clube, Associação Brasileira dos Construtores de
Barcos e Implementos, VIVAMAR ONG, Federação de Caça Submarina do Estado do Rio de Janeiro,
Confederação Brasileira de Caça Submarina, Colônia de Pesca Z-7, Clube dos Marimbás, Riotur, alguns
pescadores da colônia Z-13.
24/11/2006
Parecer técnico encaminhado pelo Dr. Guilherme Muricy, especialista em esponjas (UFRJ). Apresenta a
função ecológica das esponjas e sua distribuição. Descreve a distribuição da poluição da água do mar na
região citando estudos já feitos no local. Considera importante a criação de UC na área pois fomentará o
ecoturismo sustentáve, aumentando o conhecimento da população sobre a beleza e importância das
ilhas. Acrescenta que a proteção pode aumentar a pressão para a despoluição da Baía de Guanabara e
para o tratamento do esgoto lançado pelo emissário. Recomenda a inclusão, na área de maior restrição
de uso, a porção interna do arquipélago da ilha Cagarras e a totalidade das ilhas Redonda e Rasa em
função da alta diversidaded e esponjas. Argumenta também que a pesca poderia ser permitida na
porção externa das Ilhas Cagarras e nas ilhas Cotunduba, Tijucas e Maricás, sem prejuízo para a
249
12. ANEXOS
27/11/2006
Parecer da Universidade Federal Fluminense, Instituto de Biologia, Departamento de Biologia Marinha
sobre o processo de criação de UC nas Ilhas Cagarras. Assinam os Dr. Cassiano Monteiro Neto, Roberto
Campos Villaça e Carlos Eduardo Leite Ferreira. O documento informa que o grupo de pesquisa está
conduzindo diversas atividades nas ilhas Cagarras, incluindo: 1) levantamento ictiofauna e bentofauna,
com marco referencial de abundância e distribuição; 2) banco de dados em um SIG; 3) Análise da
descontinuidade do bentos e ictiofauna, entendendo os fatores que determinam estas descontinuidades;
4) sensibilização pública e discussão dos aspectos referentes à conservação do arquipélago.
Relatam que poucos ambientes como os encontrados em Cagarras encontram-se protegidos pelo SNUC, e
que funcionam como “verdadeiros bancos de organismos marinhos, suprindo as regiões costeiras com
larvas e juvenis de diversas espécies de interesse à pesca e a conservação da biodiversidade”. Este
aspecto é dito como ainda mais relevante em função as ameaças antrópicas que a região vêm sofrendo.
Ainda na argumentação, o documento informa que “parte da região rochosa sublitorânea das Ilhas está
visivelmente empobrecida em termos de invertebrados, algas e peixes bentônicos, em relação ao
esperado para esses ambientes”, principalmente se tratando de espécies de peixes predadores, o que
“corrobora a criação urgente de uma área de proteção marinha no local”. O documento traz o exemplo de
alguns estudos realizados por pesquisadores Brasileiros e internacionais sobre a efetividade de áreas
marinhas protegidas. Apresenta também uma descrição das políticas vigentes no país para a conservação
dos ambientes costeiros e marinhos (ex. Projeto de Gestão Integrada dos Ambientes Costeiro e Marinho,
Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, resolução do CONAMA criando a ARIE das Cagarras). O
documento conclui que “uma unidade de conservação local, contribuirá para a recuperação e manutenção
dos recursos ambientais do arquipélago, potencializando o desenvolvimento de atividades econômicas
sustentáveis, e maximizando o rendimento das pescarias artesanais em áreas adjacentes como acontece
em outras partes do mundo”. Ressalta também que “dado o histórico de utilização destes recursos por
pescadores artesanais, mergulhadores e pescadores esportivos, é preciso que se estabeleça uma agenda
de consenso”.
29/11/2006
E-mail encaminhado por Gilberto Huet (Marinha do Brasil), solicitando inclusão de informação na minuta
de Ata de reunião onde se discutiu a criação da UC em Cagarras. O texto para inclusão informa que caso
o IBAMA ainda inclua a Ilha Rasa na proposta de UC, que este assunto seja levado para discussão no
âmbito da “Comissão Permanente de Assessoramento à criação de Unidades de Conservação da Natureza
em Territórios Marinhos”.
??/??/2006
Minuta de Exposição de Motivos acompanhada de minuta de Decreto sobre a UC das Ilhas Cagarras, não
constando data precisa e procedência/autoria dos documentos. O texto da exposição de motivos
apresenta inicialmente os atributos bioecológicos e biofísicos da área e tece um breve histórico sobre o
processo de criaçã de UCs na área. No histórico, lembra que diversos atores locais se propuseram a
colaborar na revitalização do arquipélago (inclusive pescadores). Lembra também das atribuições e
composição do grupo de trabalho que assumiu o processo de criação da UC. Informa que este grupo de
trabalho, “baseado na análise das contribuições oferecidas pelos pesquisadores e demais usuários das
ilhas e adjacências, sugeriu a categoria de Monumento Natural para a unidade de conservação federal
das Ilhas Cagarras”. Inclui também no texto que “limitando-se a proibição da pesca artesanal somente à
área marítima interna do arquipélago, atende-se às reivindicações das sete colônias de pesca situadas
próximas às ilhas, que há anos desenvolvem atividades de pesca artesanal na região”.
Esta minuta acompanha dois mapas onde se plota a proposta de Monumento Natural, incluindo-se uma
zona de proteção integral e uma zona de amortecimento.
Na minuta de Decreto Federal que é vista como anexo, sugere-se que esta minuta foi elaborada tendo
como referência o Projeto de Lei do Dep. Fenando Gabeira (2003). A minuta propõe:
Zona de Proteção Integral, composta pelas ilhas Cagarra, Palmas, Comprida e Filhote da CAgarra, bem
como área interna marítima do arquipélago, limitada pelos costões internos dessas ilhas e pelos
segmentos de reta que unem as tangentes externas das extremidades dessas ilhas. Não é fornecido os
ponto entretanto. Proibi-se atividades que coloquem em risco a integridade dos ecossistemas e a
harmonia da paisagem, caça, pesca, competições esportivas, acampamentos, porte de equipamentos
capazes de abater animais.
Zona de Amortecimento, composta pela faixa marítima com quinhentos metros de largura, no entorno da
Zona de Proteção Integral. Proíbe-se a pesca com redes, armadilhas e outros petrechos considerados
danosos em plano de manejo.
O documento autoriza o mergulho, o afundamento de embarcações (conforme regulamentação
específica) e fundeio em situação de mau tempo em todas as áreas. O texto também dispõe sobre a
atuação da Marinha e sobre a previsão de um Conselho Consultivo.
13/12/2006
Parecer do fotógrafo Carlos Secchin, autor do livro Mar do Rio e 30 anos de experiência nas ilhas Rasa,
250
12. ANEXOS
Redonda e filhote da Redonda. Descreve as razões pelas quais acredita ser necessária a proteção através
de UC. Comenta que a ilha Rasa é a mais procurada por praticantes do turismo subaquatico, descrevendo
os motivos. Descreve também os ambientes das ilhas Redonda e filhote da Redonda.
???/12/2006
Parecer técnico sobre a fauna de Equinodermos (estrelas-do-mar, ouriços e holotúrias) produzido pelo
Dr. Carlos Renato Rezende Ventura (UFRJ). Apresenta rapidamente a função ecológica do grupo, listando
as espécies que ocorrem na área de Cagarras. Lista também algumas ameaças que sofrem estas
espécies, como a aquariofilia e pesca predatória. Algumas das espécies ocorrentes na área estão listadas
pela União Internacional para a Conservação da Natureza na categoria “vulnerável”. Por fim, levanta a
importância de proteção oficial contra a coleta e uso indiscriminado das espécies mencionadas.
???/12/2006
Parecer técnico produzido pelos Drs. Gustavo W. Nunan (ictiologia) e Paulo S. Young (carcinologia) da
UFRJ. Apresentam as características oceanográficas da área que por serem constrastantes, como a
Corrente do Brasil e a Agua Central do Atlântico Sul, agregam uma rica fauna marinha, principalmente
nas ilhas Redonda e Rasa. Descrevem os principais grupos faunísticos presentes e seu tipo de habitat.
Comentam que predadores de topo como as garoupas e o mero são principais cobiçados. Este ultimo é
retratado como desaparecido por completo das ilhas a partir da década de 1960 em função dos primeiros
campeonatos de pesca subaquática realizadas no local. Existem também espécies raras e de interesse da
aquariofilia. Argumentam que algumas das espécies, apesar de ampla distribuição, não encontram-se
protegidas em outras localidades, e que estas ilhas apresentam as melhores condições marinhas do
município. Reforçam também a importância da proteção da porção terrestre.
???/01/2007
E-mails trocados entre funcionários do IBAMA e Marinha a respeito da criação da UC em Cagarras. Em
um deles, explicam as três propostas existentes: 1) proposta do Deputado Carlos Minc, ainda em termos
de minuta para ser apresentada na Assembléia Legislativa Estadual, abrangendo todas as ilhas oceânicas
localizadas entre Guarativa e a Ponta de Itaipú e suas águas marítimas adjacentes; 2) Proposta do
Deputado Federal Fernando Gabeira, consubstanciada no Projeto de Lei Federal de sua autoria ora
retirado de pauta, restrita às Ilhas do Arquipelago das Cagarras mais as Ilhas Rasa e Redonda, e uma
faixa de 10 metros no entorno das ilhas; 3) Proposta do IBAMA/RJ, que acrescenta à proposta do
Deputado Fernando Gabeira as Ilhas Tijucas e passa a considerar uma faixa marítima de duzentos metros
no entorno da Ilha Rassa e de cem metros no entorno das demais ilhas. O e-mail comenta que após a
discussão destas propostas, chegaram à conclusão que se deveria criar um Monumento Natural. Esta UC
abrangeria as Ilhas do arquipélago das Cagarras, ilha Rasa, Redonda e uma faixa marítima de 200m no
entorno da ilha Rasa e 100m nas demais ilhas. Posteriormente o documento apresenta uma outra
proposta feita pela Marinha, que divide a área em 2 zonas (Zona de Proteção Integral e Zona de
Amortecimento). Esta proposta, segundo a marinha, não atrapalha o tráfego marinho e não traz
interferência significativa à pesca, permitindo ainda o estímulo do ecoturismo. Cita também que a
proposta da Marinha conta com o apoio de diversas instituições, como Colônias de Pesca, Riotur, ONGs,
iates clubes e outras entidades com interesse na área (conforme ofício encaminhado em 28/11/2006). O
ofício solicita também a exclusão da Ilha Rasa da proposta de UC em função das atividades que exerce
nesta ilha.
24/01/2007
O ofício assinado por Fernando Sérgio Nogueira de Araújo (Capitão-de-Mar-e-Guerra RM1) lista as
razões para não incluir a Ilha Rasa na proposta de Unidade de Conservação. Dentre as razões, ressalta-
se a possibilidade do Ministério Publico entender que a Marinha deva solicitar permissão ao IBAMA para
instalar novos equipamentos no futuro. Pesa também o apoio de diversas instituições à proposta da
Marinha de UC apresentada anteriormente.
Ainda nesta data, houve uma reunião entre a Marinha e Ibama para negociar uma proposta de decreto, o
qual foi consensuado entre as partes e encontra-se também em anexo.
251
12. ANEXOS
Alves de Oliveira
Keity Corbani Ferraz MB-EMA Keity@dpc.mar.mil.br 21-21045752
CMG (RM1) Gilberto DPC gilberto@dpc.mar.mil.br 21-21045752
Huet
CMG (RM1) DPC faraujo@dpc.mar.mil.br 21-21045176
Fernando S. N. de
Araújo
Na minuta de Decreto, inclui-se as Ilhas Pontuda, Alfavaca e do Meio, Ilhas Cagarra, Palmas, Comprida e
Filhote de Cagarra, área marítima interna do arquipélago das llhas Cagarras, limitada pela poligonal
formada por pontos listados na minuta, e outros 200m ao redor desta área. Inclui-se também as ilhas
Redonda, Filhote da Redonda e faixa de 200mno entorno das ilhas Redonda e filhote da Redonda. Proíbe-
se as atividades que coloquem em risco o ecossistema local, harmonia da paisagem, acampamentos e
competições esportivas.
??/??/2007
Documento contendo o histórico do processo da proposta de UC em Cagarras para fins de informar sobre
a consulta pública marcada para o dia 02 de maio de 2007. Assinado pela Analista Ambiental Adriana
Carvalhal Fonseca. Varios eventos são citados no documento, incluindo:
-‐ resolução do CONAMA que cria a ARIE
-‐ elaboração de proposta de plano de gestão e monitoramento de espécies ameaçadas pela ONG
Viva Rio. Entidades procuram o IBAMA sobre informações a respeito da ARIE
-‐ criação, em 2002, de grupo de trabalho para conduzir o processo de criação da UC. Cita 5
reuniões realizadas entre 2002-2003 para buscar consenso, onde participaram: Colônia de
Pescadores Z13, CBCS, FCSRJ, Ong Viva Rio, opesquisadores UFRJ, UERJ e PUC/RJ, Associação B.
Empresas de Mergulho Recreativo, Turístico e Lazer, Associação dos Usuários do Quadrado da
Urca e Instituto ECOMAMA, Capitania dos Portos e Departamento de Hidrografia e Navegação,
Secretaria de MEio Ambiente do RJ e 2 vistorias realizadas no arquipelago
-‐ cita que foram feitos mapeamentos das atividades de pesca e ecoturismo e foram formulados
diversos cenários de dimensionamento e categorização da UC.
-‐ o grupo de trabalho sugere em parecer de junho/2003 a criação de um Monumento Natural
composto pelo Arquipelago das Cagarras, Ilha Redonda e filhote da Redonda, com entorno
marinho num raio de 10m, além da ilha Rasa e seu entorno num raio de 200m.
-‐ em meados de 2003, o Dep. Fernando Gabeira elabora o projeto de lei no. 1683 que dispõe sobre
a criação da UC, e o apresenta à Ministra de Meio Ambiente Marina Silva
-‐ em 2004 o Dep. Estadual Alessandro Calanzas propõe um projeto de Lei no. 1268/2004 propondo
a criação de um Parque Estadual Marinho das Ilhas Cagarras, Rasa e Redonda, incluindo a porção
interna do arquipélago e um raio de 500m em torno de cada ilha.
-‐ em fevereiro de 2005, o grupo de trabalho reapresenta uma proposta à DIREC sugerindo que a
UC ficasse restrita a parte emersa das ilhas Cagarras, acrescido da parte emersa das ilhas
Tijucas, além da ilha Rasa, Redonda e filhote da Redonda e seu respective entorno marinho num
raio de 200m.
-‐ em meados de 2006, o então deputado estadual Carlos Minc apresenta à ministra a proposta de
se criar um Monumento Natural das Ilhas Cariocas, formado por várias ilhas do litoral, incluindo
Arquipélago das Cagarras, Tijucas, ilha Rasa, Redonda e filhote Redonda e raio marinho de 50m.
-‐ em novemtro de 2006 foi realizada uma outra reunião para retomar os diálogos
-‐ em março de 2007, após o recebimento de propostas, pareceres técnicos e considerações a
respeito da delimitação do Monumento Natural das Ilhas Cagarras, bem como reuniões com a
Marinha, colônia de pescadores z13. Definiu-se então a proposta final composto pela parte
emersa das ilhas dos arquipelago das Tijucas (Alfavaca, Pontuda e ilha do Meio), área emersa do
arquipélago das ilhas Cagarras (Comprida, Cagarras, Filhote Cagarras e Palmas) e incluindo a
área marinha interna e seu entorno marinho externo num raio de 200m, ilha Redonda e filhote da
Redonda com raio marinho de 200m.
Posteriormente este documento apresenta um tópico de Justificativas à criação da UC. Dentre os
argumentos, apresenta que “devido à proximidade da coasta, o arquipélago é bastante utilizado pela
população carioca. As principais atividades são: pesca (amadora, profissional e submarina), turismo
ecológico e recreativo”. O documento ainda argumenta que “no que se refere as atividades de pesca,
diversos estudos já demonstraram que o fechamento de uma pequena área para a atividade, permite
o repovoamento de áreas adjacentes, levando ao incremento da pesca em escala regional”.
03/04/2007
Ofício informando o encaminhamento de aviso de consulta pública para publicação no Diário Oficial da
União.
03/04/2007
Memorando solicitando a publicação de aviso de consulta pública em jornais do Rio de Janeiro (Jornal do
Brasil e O Globo, publicação no domingo da 22/4/2007) encaminhado pela COMAR/DIREC.
252
12. ANEXOS
04/04/2007
Ofício encaminhado à Divisão de Comunicações Administrativas/DCA pelo Coordenador do Bioma Marinho
e Costeiro (COMAR/DIREC), solicitando o apensamento dos processos 02001000652/92-70,
02001003813/2003-28, 02022000609/2005-79, 0200104116/2006-37 e 0200100613/2005-99 ao
processo de criação de uma unidade de conservação no arquipelago das Cagarras (RJ).
07/04/2007
Manuscrito assinado por Fernando com nota ‘Para a Presidente Assinar’, explicando os procedimentos
para encaminhar o processo para o Presidente da Republica assinar.
09/04/2007
Termo de Juntada por Apensação encaminhado à DIREC/COMAR pela Chefe de Divisão da
DCA/COSEG/CGEAD Luciana Dos Santos Oliveira, fazendo-se apensar ao processo 02001000652/92-70
os processos 02001003813/2003-28, 02022000609/2005-79, 0200104116/2006-37 e
0200100613/2005-99.
12/04/2007
Publicação no DOU de ‘Aviso de Consulta Pública’ sobre o processo de criação do Monumento Natural do
Arquipélago das Ilhas Cagarras (RJ). O texto cita os atributos ecológicos, justificando que a área é de
interesse científico e conservacionista. Cita ainda que “esta proposta de unidade de conservação de
proteção integral visa promover a integração harmoniosa entre as atividades turísticas e recreativas da
região, com a conservação de um dos últimos exemplares de ecossistema insular do domínio da Mata
Atlântica, ainda bem preservado”. O documento não menciona a relação da proposta com a atividade da
pesca. Informa então a consulta pública no dia 02 de maio, às 19hs no auditório da Universidade Cândido
Mendes (RJ). Informa os contatos para recebimento de sugestões e contribuições.
???/???/2007
Cópia impressa de materia veiculada pela internet pela ONG VIVAMAR
(www.cagarras.com.br/vivamar_1.php). O texto informa “numa reviravolta inesperada, em que foi
afastado o projeto original do deputado Fernando Gabeira, o Ibama propos uma nova unidade de
conservação nas ilhas Cagarras (RJ) que prejudicará o setor náutico na região”. Informa também que em
novembro de 2006 o IBAMA convocou uma reunião para levar ao conhecimento público uma proposta
‘fechada e para aprovação rápida’ que surpreendeu a todos os presentes pois era diferente da proposta
do Dep. Fernando Gabeira, que previa apenas uma zona de amortecimento de 10m, a qual não
prejudicava o setor nautico, navegação e pesca amadora. Informa que o Ibama pediu a arquivação da
proposta do Dep. Gabeira e propos uma UC que inclui ainda as Ilhas Rasa, Redonda e uma zona de
amortecimento de dois quilometros. Comenta que a Marinha apresentou uma emenda que exclui as Ilhas
Rasa e Redonda da nova UC e reduz a zona de amortecimento para 500m. Informa que houve uma
reunião entre diversas entidade para apreciação da proposta da Marinha, onde participaram a Vivamar,
Acobar, representantes da ICRJ, federações de pesca e dirigentes de colônias de pesca. Nesta reuião,
afirma que todos foram “surpreendidos por essa iniciativa do IBAMA em isolar mais ilhas do litoral
brasileiro do setor náutico, coprovadamente totamente sustentável, gerador de empregos e recursos”.
Por fim, informa que embora não concordassem com a íntegra da proposta da Marinha, foi decidido o
apoio de todos à alternativa apresentada, na qual a nova unidade ficasse restrita às quarto principais
ilhas do arquipélago, excluindo as ilhas Rasa e Redonda, e que a chamada zona de amortecimento se
limite a 500m.
12/04/2007
Texto de esclarecimento produzido pela COMAR/DIREC/IBAMA (Ricardo Castelli) em resposta à material
veiculada pela ONG Vivamar no site www.cagarras.com.br. O documento apresenta diversas explicações
sobre 3 pontos levantados pelo texto da ONG VIVAMAR.
No primeiro ponto, esclarece que a proposta inicial de criação do Monumento Natural é do IBAMA e não
do Dep.Gabeira. Informa que desde 2002, diversas instituições participaram do processo de criação
através das reuniões. Relata ainda que “Desse democrático processo de discussão culminou, em junho de
2003, a proposta apresentada pelo referido grupo de trabalho à Diretoria de Ecossistemas do IBAMA
Sede, em Brasília...” Informa ainda que a proposta do deputado é complementar e não antagônica.
Ressalta que na proposta do deputado as ilhas Redonda e filhote da Redonda, bem como a ilha Rasa, já
estavam incorporadas, como já era de conhecimento do próprio grupo (www.cagarras.com.br) que
publicou a proposta do Deputado online. Diz ainda que o Ibama nunca solicitou arquivamento do projeto
de Lei do deputado, e nem teria competencia para tal ato.
No segunto ponto, esclarece que as ilhas do arquipélago das Cagaras e Ilhas Redonda e filhote da
Redonta e seu entorno de 200m foram incluidas desde a primeira proposta, e não os 2km publicados no
texto da VIVAMAR. Informa ainda que apenas as atividades de pesca subaquática e pesca serão proibidas
dentro da UC. Atividades nauticas e mergulho recreativo serão, ao contrário do que se afirma na matéria.
No terceiro ponto, afirma que a proposta apresentada pelo IBAMA foi consensuada com a Marinha do
Brasil, em reunião realizada entre as duas instituições (com ata constituinte do processo). Segundo o
documeto “A retirada da Ilha Rasa da proposta se deu após um comprometimento da Marinha do Brasil
em efetivamente promover a proteção da ilha sob sua jurisdição, bem como do seu entorno de 200m”.
Nas considerações finais, lembra que no próprio site constam denúncias sobre a má utilização da área do
253
12. ANEXOS
254
12. ANEXOS
-‐ Eduardo Souto de Oliveira (Vice-Presidente Confederação Brasileira Pesca Submarina) – solicitou
que o IBAMa apresentasse dados estatísticos dos impactos de cada atividade, incluindo a pesca
subaquática na proposta de UC;
-‐ Fernando Farina (Associação de Pesca Submarina) – não concorda com a proposta na forma atual
e comenta que é tão ruim que até uniu setores que se históricamente discordavam;
-‐ Luiz Antônio Pereira (Presidente Federação Internacional de Pesca em Apnéia) – duvida que
exista transbordo de Cagarras para outras áreas, e que se os pescadores serão proibidos de
pescar na área, então não se beneficiarão. Não concorda com a anexação de outras ilhas pois irá
gerar desemprego.
-‐ Cláudio Sideral (Greenpeace) – favorável e alertou a necesidade de preservação de ecossistemas
Brasileiros.
-‐ Sergio Aníbal (UFRJ, Fundação Brasileira de Conservação da Natureza) – Diz que participou da
primeira proposta do CONAMA. Defende que seja uma UC de uso sustentável. Argumentou que a
área ainda conserva suas riquezas conforme a apresentação do próprio IBAMA. Acha que não
houve estudos sobre a parte pesqueira.
-‐ Marcelo Vianna (UFRJ) – acredita que o IBAMA esteja motivado pela possibilidade de recursos de
compensação ambiental, e que isto é legítimo. Acredita no entanto que uma APA seja a categoria
adequada, em que houvessem áreas específicas de exclusão da pesca. Considerou os estudos
apresentados para a criação da UC como superficiais.
-‐ Nilton José Lobato Filho (pescador subaquático) – gostaria de continuar a utilizar a área. Sugere
um estudo de viabilidade para que se possa continuar a haver atividades como esta. Sugere uma
votação.
-‐ Fernando (Museu Nacional) – defende que as ilhas são pontos de apoio para pesca subaquática e
artesanal, e acredita que o problema está na falta de fiscalização, sendo que a UC não resolverá
o problema. Sugere mais esforço em Educação Ambiental. Acha que as pesquisas apresentadas
são válidas e não devem ser desmerecidas pela plenária.
-‐ Gilberto Huet (Marinha) – esclareceu sobre os papéis e competências na fiscalização;
-‐ Bianca (Sociedade Vegetariana Brasileira) – favorável à proposta. Se manifestou com pesar pela
não participação do Ministério Publico. Parabenizou o estudo do IBAMA;
-‐ Luís Carlos Varella (Colônia Z-13) – segundo a Ata, “criticou a proposta porque engloba toda a
parte marinha no entornodas Cagarras e em virtude disso os pescadores que atuam na área não
desejam a pesca predatória e critica que o estudo realizdo pelo IBAMA foi fraco e que a
fiscalização não é atuante, pois barcos atuneiros entream na praia de Copacabana e nas
proximidades das Cagarras, provocando o sumiço das sardinhas no mar de Copacabana”.
-‐ Ricardo Nehrer (Instituto Baía de Guanabara) – ainda que rudimentar, indicou que os pescadores
possuem uma gestão dos recursos e utilizam arrastão de mutirão como atividade tradicional, mas
estão perdendo suas tradições. Indica que já existe uma utilização de UCs pelos pescadores de
forma sustentável. Para ele, existe um histórico de uso sustentável dos recursos. Argumenta que
pescadores podem inclusive realizar atividades de controle juntamente ao poder público.
-‐ Manoel Arthur Vilaboim (Revista Linha Verde) – cricitou que a UC seja criada com base na falta
de fiscalização, indicando que a Marinha e IBAMA falham na realização conjunta da fiscalização.
Comentou que faltam estudos sobre os estoques pesqueiros no Brasil.
-‐ Após consensuar em não abrir para novas inscrições, o analista ambiental Breno deu
esclarecimentos. Disse que o trânsito de embarcações não seria impedido, o ecoturismo será
incentivado, comentou que a fiscalização é acentuada e focada em UCs, disse que embora
pesquisadores desejem ampliar o tempo de pesquisa, os estudos na área foram realizados a
contento, esclareceu que existem outras proibições ou restrições à pesca (espaciais e temporais),
esclareceu que o abrigo de embarcações é autorizado em qualquer ilha em caso de mau tempo,
citou que embora uma UC de proteção integral atraia recursos de compensação integral esta não
é o principal motivo;
-‐ O presidente da mesa disse que ninguém foi contrário à criação de uma UC na área, e que então
se proponha uma UC de uso sustentável, comentando que as propostas serão discutidas e
incorporadas ao processo de criação;
-‐ A Sra. Kátia Janine (presidente da colônia Z13) comentou que a colônia pode dar apoio à
fiscalização do IBAMA;
-‐ O IBAMA se comprometeu a rever o processo e realizar nova consulta;
-‐ Sr. Gilberto Huet (Marinha) disse que a Marinha não é contraria a proposta pois não interfere com
suas atividades;
-‐ Sr. Jaime Tavares (SEAP) comentou que as manifestações contrárias são saudáveis;
-‐ Registraram-se 51 questões por escrito e finalizou-se a audiência.
02/05/2007
Ofício encaminhado pela Federação Brasileira de Pesca Esportiva, destacando a frase “Preservar sim –
Proibir não”.
02/05/2007
255
12. ANEXOS
Ofício encaminhado pela Federação Estadual de Pesca e Desportos Subaquáticos, destacando a frase
“Preservar sim – Proibir não”. Manifestam-se também contrários ao fechamento das ilhas.
04/05/2007
Nota técnica sobre o processo de criação da UC produzido pela Secretaria Especial da Aqüicultura e Pesca
(SEAP), por Leonardo Tortoriello Messias. O documento aponta 12 observações e posteriormente tece
conclusões. Dente as observações, estão:
-‐ nota que a proposta de UC partiu do deputado Fernando Gabeira e foi posteriormente assumida
pelo IBAMA;
-‐ nota que a proposta têm apoio da Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Rio de Janeiro (que
anteriormente previa a inclusão de todas as ilhas) e da Marinha do Brasil;
-‐ informa a abrangência da proposta em terra e mar;
-‐ lembra que a proposta é de uma UC de proteção integral;
-‐ lembra que segundo estudos da Universidade Federal Fluminense, a área abriga uma fauna de
peixes relativamente diversa e impactada, onde a ausência de predadores sugere que a região
está sofrendo grande impacto ambiental, motivo pelo qual se propõe a UC;
-‐ cita a publicação do MMA, onde se exemplifica experiências bem sucedidas na aplicação de UCs
marinhas para a gestão pesqueira e conservação da biodiversidade;
-‐ nota que a “SEAP incorpora a idéia das áreas protegidas como importantes instrumentos para a
recuperação, ordenamento e gestão pesqueira, sendo que o tema objeto de discussão recente no
processo de planejamento interno da Secretaria”;
-‐ nota que por outro lado a secretaria se preocupa com os impactos negativos da criação de UCs de
proteção integral sobre a pesca, especialmente a artesanal;
-‐ cita que “entende-se que a proteção da área das Ilhas Cagarras e Redonda, associada a um
processo de ordenamento pesqueiro nas outras ilhas adjacentes, além das ações de fiscalização,
são importantes instrumentos para recuperação dos estoques pesqueiros da região;
-‐ considera que a área a ser protegida (200m no entorno das Ilhas) é relativamente pequena, se
comparada com o litoral à frente das praias da Barra da Tijuca, São Gonçalo e Ipanema;
-‐ ressalta que em reunião com técnicos da COMAR/DIREC, foi esclarecido que algumas áreas não
foram incluídas para evitar conflitos com a pesca;
-‐ lembra que a área em questão é utilizada por pescadores principalmente das colônias Z13 e Z7,
mas não foram apresentados levantamentos sobre esta atividade, informações sobre o tipo e
quantidade de embarcações que utilizam a área, quais artes de pesca e espécies alvos, sendo
que estas são informações importantes para o processo
O documento conclui sugerindo que a SEAP seja favorável à criação do Monumento Natural das Ilhas
Cagarras, após a apresentação de estudos sobre a pesca artesanal pelo IBAMA. Sugere também que
seja firmado um compromisso entre SEAP/IBAMA/Marinha do Brasil para o desenvolvimento de ações
de fiscalização na UC e seu entorno.
05/05/2007
Matéria publicada no jornal O Globo entitulada “As ilhas da Discórdia”, onde a autora apresenta a sua
experiência durante a audiência pública de criação da UC. Comenta sobre as discórdias e discussões
acirradas, apresentando os principais argumentos narrados no evento. Por fim, informa que o IBAMA
abriu a discussão da criação e que haveria nova audiência onde seria apresentada uma nova proposta.
07/05/2007
Matéria jornal O Globo com foto e texto denunciando o acampamento nas ilhas e os impactos causados
por esta atividade.
??/??/2007
Matéria sem data no jornal O Globo, relatando insatisfação dos pescadores protestando contra a proibição
da pesca nas ilhas Cagarras. A notícia relata o protesto dos pescadores antes da audiência pública e
publica a posição de alguns atores, como:
Roberto Negraes (ONG VIVAMAR): comenta que vai propor a criação de ARIE ao invés de Monumento
Natural, visto que a primeira não exclui o homem de seus usos.
Breno Herrera (IBAMA): comenta que serão apresentados na audiência estudos de caso de sucesso no
que se refere o uso de áreas de exlusão de pesca na gestão pesqueira, e o incremento do turismo em
áreas similares do Brasil.
Ricardo Montovani (Colônia Z13): afirma que a entidade é contraria à proposta apresentada pelo IBAMA,
e diz que gostaria de ver o órgão presente na fiscalização. Propõe que seja criada uma UC de uso
sustentável, com fiscalização efetiva. Diz que 50% os pescadores da Z13 dependem da pesca nas ilhas
Cagarras.
??/??/2007
Proposta de decreto elaborado pela ONG VIVAMAR para criação de um Monumento Natural do
Arquipélago das Ilhas Cagarras. O texto inclui na unidade de conservação as ilhas Pontuda, Alfavaca e do
Meio, Ilhas Redonda e filhote da Redonda, ilhas Cagarra, Palmas, Comprida e filhote da Cagarra, e a área
marítima interna do Arquipélago das Ilhas Cagarras, limitada pela poligonal formada pelos pontos:
256
12. ANEXOS
Sugere uma Zona de Amortecimento as áreas marítimas situadas em volta das ilhas e da área marítima
que compõe a unidade, com 500m de largura. Proíbe competições esportivas, desembarque nas ilhas e a
pesca. Autoriza o trânsito e fundeio de embarcações, atividade de mergulho contemplativo e o
afundamento de embarcações conforme regulamentado pelo plano de manejo. Proíbe, na zona de
amortecimento, a pesca de arrasto, espinhel, rede e armadilhas, pesca de mergulho com ar comprimido.
Permite na Zona de amortecimento a pesca desportiva subaquática e de linha e a pesca artesanal de
linha. Sugere a revisão dos limites da UC em um prazo de até 5 anos.
30/08/07
Memória de Reunião entre a SEAP e ICMBio para discutir um Diagnóstico da Pesca no Arquipélago das
Cagarras/RJ. Estiveram presentes Leonardo Messias (SEAP/PR), Karin Bacha (SEAP/PR), Adriana
Carvalhal (DIPI/ICMBio), Eduardo Godoy (DIPI/ICMbio), Alexandre Marques (DIPI/ICMBio). O documento
relata que a reunião tratou da discussão de uma proposta de estudo da pesca na área, que traria
informações para um refinamento dos limites da unidade de conservação que está sendo proposta. Ficou
definido que a SEAP iria subsidiar um convênio com uma empresa de consultoria (SOMA) que faria o
estudo em parceria com a ONG ECOMAR.
05/09/2007
Ofício de encerramento do primeiro volume do processo 02001006613/2005-99 e abertura do segundo
volume.
12/02/2008
Pauta da 1a reunião ordinária da Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e
Controle. No seu item 4 está o projeto de Lei da Câmara No.19 de 2005. O relator é o Senador Ademir
Santana, em cujo parecer vota pela aprovação do substitutivo. Este substitutivo encontra os mesmos
termos daquele encaminhado pela Câmara dos Deputados (Comissão de Cidadania e Justiça). Constam
também uma lista com 14 assinaturas de senadores ao parecer.
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12. ANEXOS
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