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O Pai é o não gerado, por isso falamos que o Pai é a fonte, a origem da vida
divina. “É essa manancialidade pura, é esse gratuito extravasar do amor amante, é
essa originária difusividade do eterno amor que faz do pai o Generante, o Pai do Filho
eterno: não é o seu amor um amor egoísta por si mesmo, cativeiro e prissão do eu; o
seu amor é amor gerado, originante, fecundo (...). A paternidade é a outra propriedade
do amor do Pai, juntamente com o ser ‘princípio sem principio’ (...). E, no entanto, não
gerou outro que o que ele próprio é: Deus (gerou) Deus, a luz (gerou) a luz. Dele é,
portanto, ‘toda paternidade no céu e na terra’ (Ef 3, 15). Bruno Forte, A Trindade como
história, pp. 95-96).
Nessa relação pericorética, “cada uma das pessoas entrega tudo às outras
(todas as perfeições) menos aquilo que é próprio e exclusivo dela e que por isso é
incomunicável: no Pai a paternidade, no Filho a filiação, no Espírito Santo a expiração
passiva” (Boff, Trindade, sociedade e libertação, p. 120). Votaremos em outros
capítulos na questão das processões (geração e espiração). Faremos aqui apenas uma
aceno para ver a correspondência entre a Filiação imanente do Verbo e a experiência
econômica de Jesus que se sente filho do Pai, e revela a Deus como seu Pai e nosso
Pai.
De onde ‘vem’ o Filho? É eterno, mas não a fonte de si mesmo (geração não
criação). Deus Pai é o Pai do Filho. É o gerador eterno do Filho. O Pai não procede de
nenhuma outra fonte divina. É o não originado. O Pai é determinado por si e por sua
relação com o Filho e o Espírito. Quem é o Filho? É o único – unigênito. Tudo tem em
comum desde sempre com o Pai, menos a paternidade. Só o Filho tem a filiação. O Pai
transmite tudo ao Filho menos a capacidade de ser fonte da divindade. O Filho é da
necessidade essencial do Pai (geração), não da vontade.
“Jesus invoca Deus como Abbá (Pai) e o faz de maneira característica (quatro
vezes em Mc; oito em Lc e Mt; sete em Lc; 22 em Mt) É interessante observar que, ao
fazê-lo, introduz sutilmente para os discípulos uma diferença relacional que distingue
meu Pai (Mc 14, 36; Mt 11, 25) e vosso Pai (Lc 6, 36; 12, 30.32; Mc 11, 25; Mt 28, 9).
Sua relação com o Pai não é igual àquela que os discípulos vão poder ter com o mesmo
Pai. Os discípulos só poderão chamar Deus de Pai porque ele- Jesus, o Filho- lhes abre
o caminho” (Bingemer; Feller, Deus Trindade, p. 76). “Somos por graça o que Ele é por
natureza” (Idem).
Ele vive uma relação de comunhão plena com seu Deus, a quem descobre como
Pai. ‘Eu e Pai somos um’. Resulta daí motivos para sua condenação: ‘porque chamava
a Deus seu próprio Pai, se fazendo igual a Deus’ (Jo, 5, 16). “Essa consciência de Jesus
não passou despercebida aos adversários que decidiram condená-lo à morte, ‘porque
chamava a Deus seu próprio Pai, se fazendo igual a Deus (Jo 5, 16)” Boff, Trindade,
sociedade e libertação, p. 205).
Descobre o Pai dentro da criação (Mt 6, 26), no cuidado para com as aves do
céu. Não se trata da percepção de um Deus criador, mas de um Pai, cuja paternidade
se irradia na criação.
Vive uma relação de confiança e obediência. “A vida de Jesus foi uma entrega
total de pura confiança a Deus, pondo-se numa atitude de disponibilidade
incondicional. Tudo que fazia, fazia-o animado por essa genuína, pura, espontânea e
de confiança no seu Pai. Procurava a vontade sem receio,calculismo, nem estratégias.
Não se apoiava na religião do templo nem na doutrina dos escribas nem nas tradições
de Israel” (Pagola, Jesus: uma abordagem histórica, p. 323-324).
Enfim, o Deus cristão não é outro senão o Pai de nosso senhor Jesus Cristo.
Trata-se da novidade do cristianismo. “O que significa honrar o Pai senão proclamar
que ele tem um Filho? Porque uma coisa é quando te falam de Deus enquanto Deus,
outra quando te falam de Deus como Pai. Quando te falam enquanto Deus, indicam o
criador, o onipotente, o sumo espírito, eterno, invisível, imutável; quando te falam
dele como Pai, recomendam a ti o Filho, porque Deus não se poderia chamar de Pai se
não tivesse um Filho, nem Filho se não tivesse um Pai”.
Jesus revela Deus Pai através das palavras, gestos e sinais, numa relação de
intimidade e confiança. “Na sua humanidade, Jesus é tão intimamente “do Pai”, que é
exatamente nisso que ele é Filho de Deus. Isso por si sugere que o centro da
humanidade de Jesus não estava dentro dele mesmo, mas em Deus Pai. Os dados
históricos sobre Jesus também o mostram; o centro, o apoio, a “hypóstasis” (no
sentido de algo que dá estabilidade) era o seu relacionamento com o Pai, com a causa
do qual se identificava. Como ser humano que ele é, Jesus é constitutivamente
“alocêntrico”: voltado para o Pai e para a salvação que vem de Deus para todos; é isso
que lhe dá o seu perfil e o seu rosto. É isso que identifica Jesus de Nazaré. A sua
autonomia como Jesus de Nazaré é a sua relação constitutiva total com aquele que ele
chama de Pai, o Deus voltado para o humano. É essa a sua experiência com o “Abba”,
alma, fonte e base do que ele faz e deixa de fazer, de sua vida e de sua morte”
Schillebeeckx, Jesus, a história de um vivente, p. 663)
Para refletir:
Quais os caminhos para resgatar a importância da figura do pai e de Deus como Pai?
As pessoas que estão nas periferias existências conseguem sentir-se filhas de Deus Pai?
Qual a relação entre acolhida eclesial e experiência de sentir-se filho amado de Deus?
Qual a diferença entre o batismo de João Batista e a boa nova de Jesus? João
pregou a conversão na ‘ultima hora’. ‘O machado está posto à raiz das árvores’ (Mt 3,
10). “João anunciava o reino vindouro como o juízo da ira divina pelos pecados dos
homens (...). Jesus anuncia o reino vindouro como o reino da graça e da misericórdia
de Deus, que há de vir” (Moltmann, p. 82). Em que se funda essa diferença? “Funda-se
em que Jesus reconhece e anuncia o Senhor do reino vindouro como sendo o seu Pai
...). O conteúdo da revelação feita a Jesus, por ocasião do batismo e do seu chamado,
deve repousar naquele nome de Deus que ele empregou de modo único e
intransferível: Abbá, meu Pai” (Motmann, p. 83).
Qual a relação do Reino anunciado por Jesus e sua experiência de Deus como
seu Pai? “Não é o domínio que determina a paternidade de Deus, mas, ao contrário, a
paternidade divina em relação a Jesus, o Filho, é que determina o domínio e o reino
anunciados por Jesus. Isso confere uma nova dimensão ao reino por ele proclamado. A
realeza subsiste tão somente no âmbito da paternidade divina. Nesse reino não há
servidores, mas apenas filhos de Deus, livres. Nesse reino não se pergunta pela
obediência e submissão, mas sim pelo amor e livre participação” (Motmann, p 84).