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- Aspectos históricos
- Dispositivos constitucionais. Origem e finalidade.
- Princípios que norteiam as relações consumeristas.
- A Política Nacional das Relações de Consumo.
- Conceitos: consumidor, fornecedor, produtos e serviços.
- O consumidor perante a Teoria Finalista, Maximalista e
Finalista Atenuada.
I - ASPECTOS HISTÓRICOS
1
Cediço que o CDC foi editado em 11/09/1990. Antes mesmo de sua
criação já existiam relações de consumo que eram protegidas,
inadequadamente, pelas regras do direito civil. Nesse sentido, aplicamos
durante quase um século às relações de consumo a lei civil e tal
aplicação, naturalmente, influenciou na nossa formação jurídica, fato este
que dificultou a compreensão da nova era jurídica, iniciada com sobredita
lei que regula as relações jurídicas de consumo.
2
Dentre as diversas características do aludido modelo, existem duas
que interessam de perto para o estudo do direito do consumidor. A
primeira caracteriza-se pela produção unilateral do fabricante, que tem
como escopo ofertar um grande número de produtos ou serviços para
serem adquiridos por um número cada vez maior de pessoas. Para tanto,
ele cria um modelo e depois o reproduz milhares de vezes. A segunda
resta evidenciada pelo gritante desequilíbrio da relação contratual que
se formou, onde a parte mais fraca da relação, o consumidor, fica
subordinada as regras impostas pela mais forte, o fornecedor.
3
adesão, experimentando uma completa diminuição do seu poder de
deliberar que evidencia uma das vertentes de sua vulnerabilidade diante
do fornecedor.
4
No Brasil, este rol de direitos básicos do consumidor foi acolhido
pelo Código de Defesa do Consumidor e ampliado por seu art. 6º, bem
como o dia 15 de março foi proclamado como o Dia Nacional do
Consumidor pela Lei 10.504 de 08 de julho de 2002.
5
II – Eficácia Horizontal (direta ou indireta) do direito
fundamental – o Estado deverá garantir que os fornecedores respeitem
o direito do consumidor. Será direta, quando utilizar o texto constitucional
para proteção dos direitos dos consumidores; será indireta, quando se
utilizar norma infraconstitucional para proteção, por exemplo, as normas
do CDC dentre outras.
Além da eficácia vertical dos direitos fundamentais, entendida como
a vinculação dos Poderes estatais aos direitos fundamentais, podendo os
particulares exigi-los diretamente do Estado, surgiu na Alemanha, com
expansão na Europa e, atualmente, no Brasil, a teoria da eficácia
horizontal dos direitos fundamentais.
6
Segundo essa teoria, se há uma ineficácia horizontal, significa que
os direitos fundamentais não podem ser aplicados às relações entre
particulares. É a teoria adotada nos Estados Unidos, onde se entende
(doutrina e jurisprudência) que os direitos fundamentais têm apenas a
eficácia clássica, vertical. Aplicam-se às relações entre Estado e
particular, mas não seria aplicado às relações entre particulares.
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Ainda nas palavras do autor: “A equiparação de determinados atos
privados a atos estatais.”, é o artifício utilizado para aplicação da eficácia
horizontal em determinados atos privados.
8
Esta teoria curiosamente surgiu na Alemanha, na década de 50,
por meio de um magistrado do Tribunal Federal do Trabalho, chamado
Hans Carl Nipperdey. A curiosidade reside no fato de que, apesar de ter
surgido na Alemanha, não prevalece naquele país.
INFLUÊNCIA
O Código de defesa do consumidor foi inspirado em vários modelos
legislativos estrangeiros, mas foi o Código de Consumo Francês nossa
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principal influência. Salienta-se que o CDC foi uma norma
extremamente revolucionária, servindo, hoje, como modelo para outros
países da América Latina.
CONCEITO
CARACTERÍSTICAS DA LEI
OBJETO e FINALIDADE
O direito consumerista é concebido como conjunto de princípios e
regras destinadas à proteção do consumidor, logo se verifica que não é o
consumo o objeto central da tutela instituída (como ocorre na França), e
sim o próprio consumidor.
TERMINOLOGIA
11
que seja preservado o interesse do consumidor e o interesse social.
Assim, o juiz pode inverter o ônus da prova de oficio, declarar nulidade
de cláusula abusivas etc. Assim sendo, fica claro que representa uma
total afronta ao princípio do protecionismo do consumidor o teor da
Súmula 381 do Superior Tribunal de Justiça, segundo a qual, nos
contratos bancários, é vedado ao julgador conhecer de ofício das
abusividades das cláusulas contratuais.
12
protetiva, muito similar da legislação trabalhista, da criança e do
adolescente, do idoso e outras leis ou estatutos tendentes a criar uma
esfera particular de normatização.
13
material, formal, mas que, frisa-se, se caracterize uma relação jurídica de
consumo.
14
Diante disso, não é mendaz afirmar por força constitucional surgiu
um novo direito que figura na relação de consumo e como tal, tem campo
de aplicação próprio, objeto próprio e princípios próprios.
Sua aplicação não retroage a sua vigência, exceto nos casos de
prestações sucessivas, em que o contrato é por prazo indeterminado, a
exemplo dos planos de saúde.
15
dignidade, saúde e segurança, bem como a proteção de seus interesses
econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, transparência e
harmonia nas relações entre eles e seus fornecedores de produtos ou
serviços.
Art. 4° (…)
I – reconhecimento da vulnerabilidade do
consumidor no mercado de consumo.
PRINCÍPIO DA TRANSPARÊNCIA
16
O principio da transparência consta em diversos artigos do CDC de
forma implícita e explicita como é o caso do caput do artigo 4.°do CDC,
conforme segue:
PRINCÍPIO DA INFORMAÇÃO
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Visa suprir a deficiência técnica do consumidor, ou seja, a
vulnerabilidade técnica do consumidor diante do produto e serviço
colocado a disposição no mercado de consumo. O fornecedor deve
informar o consumidor tudo que ele precisa saber sobre aquele
produto/serviço, em especial, no que tange a sua segurança, qualidade,
características, funcionamento, preço, etc.
PRINCÍPIO DA SEGURANÇA
18
O princípio de segurança resta contemplado no caput do artigo 4°, e
inciso I do 6°, bem como na estrutura do sistema de responsabilidade
civil. Por isso mesmo é que vamos encontrá-lo no parágrafo dos artigos
12 e 14 do CDC.
PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE
Art. 7º ( ... )
Parágrafo único - Tendo mais de um autor a
ofensa, todos responderão solidariamente pela
reparação dos danos previstos nas normas de
consumo.
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deixando firmado a obrigação de todos os partícipes da cadeia de
produção, conforme se extrai da leitura dos artigos 12 a 20.
PRINCÍPIO DA BOA-FÉ
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do CDC, como cláusula geral de uma relação jurídica de consumo, o que
importa dizer que ela estará inserida em toda relação assim considerada.
21
Com o conceito acima noticiado, podemos identificar os elementos
da relação jurídica de consumo em subjetivos e objetivos. No primeiro
encontram-se os sujeitos da relação, consumidores e fornecedores no
segundo o objeto, a razão pela qual realizaram a relação, sendo este os
produtos ou serviços.
CONSUMIDOR STANDARD
22
Art. 2º Consumidor é toda pessoa física ou
jurídica que adquire ou utiliza produto ou
serviço como destinatário final.
23
consigne-se a hipótese de uma prefeitura como consumidora, conforme o
entendimento jurisprudencial:
24
fornecedores, como antes exposto, cabendo, do mesmo modo, a sua
qualificação como consumidores.
TEORIAS
DESTINO FINAL
Cumpre registrar desde inicio que destinação final deve ser
compreendida sob o aspecto fático e econômico. Aonde a destinação
fática seria aquela que retira o produto, por exemplo, da cadeia de
25
produção e o atribui destino pessoal ou familiar. Por sua vez, o destino
final econômico é aquele que não admite revenda, uso profissional, pois
o bem seria novamente um instrumento de produção, cujo preço será
incluído no preço final do profissional para adquiri-lo, já que nesse caso o
destino seria intermediário.
26
seja ele pessoa física ou jurídica desde que esta não desenvolva
atividade econômica organizada e ainda, não objetive o
desenvolvimento de outra atividade negocial ainda que a sua
utilização não esteja vinculada a atividade fim.
27
caracterização da pessoa jurídica como consumidora
em eventual relação de consumo, devendo, portanto,
ser destinatária final econômica do bem ou serviço
adquirido (REsp 541.867/BA). 2. Para que o
consumidor seja considerado destinatário econômico
final, o produto ou serviço adquirido ou utilizado não
pode guardar qualquer conexão, direta ou indireta,
com a atividade econômica por ele desenvolvida; o
produto ou serviço deve ser utilizado para o
atendimento de uma necessidade própria, pessoal do
consumidor. 2. No caso em tela, não se verifica tal
circunstância, porquanto o serviço de crédito tomado
pela pessoa jurídica junto à instituição financeira
decerto foi utilizado para o fomento da atividade
empresarial, no desenvolvimento da atividade
lucrativa, de forma que a sua circulação econômica
não se encerra nas mãos da pessoa jurídica,
sociedade empresária, motivo pelo qual não resta
caracterizada, in casu, relação de consumo entre as
partes. 3. Cláusula de eleição de foro legal e válida,
devendo, portanto, ser respeitada, pois não há
qualquer circunstância que evidencie situação de
hipossuficiência da autora da demanda que possa
dificultar a propositura da ação no foro eleito. 4.
Conflito de competência conhecido para declarar
competente o Juízo Federal da 12ª Vara da Seção
Judiciária do Estado de São Paulo” (STJ – CC
92.519/SP – Segunda Seção – Rel. Min. Fernando
Gonçalves – j. 16.02.2009 – DJe 04.03.2009).
28
Especializada de Defesa do Consumidor, para
decretar a nulidade dos atos praticados e, por
conseguinte, para determinar a remessa do feito a
uma das Varas Cíveis da Comarca” (STJ – REsp
541.867/BA – Segunda Seção – Rel. Min. Antônio de
Pádua Ribeiro – Rel. p/Acórdão Min. Barros Monteiro –
j. 10.11.2004 – DJ 16.05.2005, p. 227).
29
Igualmente ocorreria no caso de hipotético de uma grande pessoal
jurídica ao adquirir um computador como instrumento de trabalho de um
de seus funcionários de um pequeno fonercedor, ou seja, a única
exigência é que se dê ao bem ou serviço uma destinação final fática,
pouco importanto se há ou não desequilíbrio na relação decorrente da
vulnerabilidade deste adquirente.
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taxista ou por uma empresa de ônibus, colocaria ambos sob a êgide
do CDC. Portando, sendo o taxista ou a grande empresa
destinatários finais, podem ser perfeitamente considerados
consumidores.
POSIÇÃO DO STJ
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unânime, DJ 01/08/2000; Resp 329.587/SP, Rel.
Min. Carlos Alberto Menezes Direito. Terceira
Turma, unânime, DJ 24/06/2002, Resp
286.441/RS, Min. Rel. Antônio de Pádua Ribeiro,
DJ 03/02/2003.
32
“A jurisprudência do STJ adota o conceito
subjetivo ou finalista de consumidor, restrito à
pessoa física ou jurídica que adquire o produto
no mercado a fim de consumi-lo. Contudo, a
teoria finalista pode ser abrandada a ponto de
autorizar a aplicação das regras do CDC para
resguardar, como consumidores (art. 2º daquele
Código), determinados profissionais
(microempresas e empresários individuais) que
adquirem o bem para usá-lo no exercício de sua
profissão. Para tanto, há que demonstrar sua
vulnerabilidade técnica, jurídica ou econômica
(hipossuficiência). No caso, cuida-se do contrato
para a aquisição de uma máquina de bordar
entabulado entre a empresa fabricante e a
pessoa física que utiliza o bem para sua
sobrevivência e de sua família, o que demonstra
sua vulnerabilidade econômica. Destarte, correta
a aplicação das regras de proteção do
consumidor, a impor a nulidade da cláusula de
eleição de foro que dificulta o livre acesso do
hipossuficiente ao Judiciário. Precedentes
citados: REsp 541.867-BA, DJ 16.05.2005; REsp
1.080.719-MG, DJe 17.08.2009; REsp 660.026-
RJ, DJ 27.06.2005; REsp 684.613-SP, DJ
1º.07.2005; REsp 669.990-CE, DJ 11.09.2006, e
CC 48.647-RS, DJ 05.12.2005” (STJ – REsp
1.010.834-GO – Rel. Min. Nancy Andrighi – j.
03.08.2010).
33
especial interposto pela Marbor Máquinas Ltda., de Goiás, que pretendia
mudar decisão de primeira instância. A decisão beneficiou uma
compradora que alegou ter assinado, com a empresa, contrato que
possuía cláusulas abusivas.
34
maximalista. Dessa forma, agregaram novos argumentos a favor do
conceito de consumo, de modo a tornar tal conceito "mais amplo e justo",
conforme destacou.
REsp 476428 / SC
RECURSO ESPECIAL 19/04/2005
2002/0145624-5 Direito do Consumidor. Recurso
especial. Conceito de consumidor. Critério
subjetivo ou finalista. Mitigação. Pessoa Jurídica.
Excepcionalidade. Vulnerabilidade.
35
Constatação na hipótese dos autos. (...) - A
relação jurídica qualificada por ser "de
consumo" não se caracteriza pela presença
de pessoa física ou jurídica em seus pólos,
mas pela presença de uma parte vulnerável
de um lado (consumidor), e de um
fornecedor, de outro.
- Mesmo nas relações entre pessoas
jurídicas, se da análise da hipótese concreta
decorrer inegável vulnerabilidade entre a
pessoa-jurídica consumidora e a
fornecedora, deve-se aplicar o CDC na busca
do equilíbrio entre as partes. Ao consagrar o
critério finalista para interpretação do conceito
de consumidor, a jurisprudência deste STJ
também reconhece a necessidade de, em
situações específicas, abrandar o rigor do
critério subjetivo do conceito de consumidor,
para admitir a aplicabilidade do CDC nas
relações entre fornecedores e consumidores-
(...). (grifei)
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processual, justificando, pela excepcionalidade,
o julgamento do REsp, sem que ele
permanecesse retido, conforme tem admitido a
jurisprudência. A Turma também reconheceu a
legitimidade ativa da recorrida, pois cabe à
locatária, no caso a empresa, o pagamento das
despesas de luz (art. 23 da Lei do Inquilinato).
Mas proveu o recurso quanto à inexistência de
consumo e a consequente incompetência da
vara especializada em Direito do Consumidor.
Argumentou-se que a pessoa jurídica com fins
lucrativos caracteriza-se, na hipótese, como
consumidora intermediária e a uniformização
infraconstitucional da Segunda Seção deste
Superior Tribunal perfilhou-se à orientação
doutrinária finalista ou subjetiva, na qual o
consumidor requer a proteção da lei. O Min.
Relator ressaltou que existe um certo
abrandamento na interpretação finalista a
determinados consumidores profissionais, como
pequenas empresas e profissionais liberais,
tendo em vista a hipossuficiência. Entretanto, no
caso concreto, a questão da hipossuficiência da
empresa recorrida em momento algum restou
reconhecida nas instâncias ordinárias. Isso
posto, a Turma reconheceu a nulidade dos atos
processuais praticados e determinou a
distribuição do processo a um dos juízos cíveis
da comarca. Precedente citado: REsp 541.867-
BA” (STJ – REsp 661.145/ES – Rel. Min. Jorge
Scartezzini – j. 22.02.2005).
37
CONTATO FEITO COM REPRESENTANTE
COMERCIAL, NO BRASIL. PAGAMENTO DE
PARTE DO PREÇO MEDIANTE REMESSA AO
EXTERIOR, E DE PARTE MEDIANTE
DEPÓSITO AO REPRESENTANTE
COMERCIAL. POSTERIOR FALÊNCIA DA
EMPRESA
ESTRANGEIRA. CONSEQUÊNCIAS.
APLICAÇÃO DO CDC. IMPOSSIBILIDADE.
DEVOLUÇÃO DO PREÇO TOTAL PELO
REPRESENTANTE COMERCIAL.
IMPOSSIBILIDADE. DEVOLUÇÃO
DA PARCELA DO PREÇO NÃO TRANSFERIDA
AO EXTERIOR. POSSIBILIDADE. APURAÇÃO.
LIQUIDAÇÃO. 1. A relação jurídica entre clínica
de oncologia que compra equipamento para
prestar serviços de tratamento ao câncer,
e representante comercial que vende esses
mesmos equipamentos, não é de consumo,
dada a adoção da teoria finalista acerca da
definição das relações de consumo, no
julgamento do REsp 541.867/BA (Rel.
Min. Barros Monteiro, Segunda Seção, DJ de
16/5/2005). 2. Há precedentes nesta Corte
mitigando a teoria finalista nas hipóteses em que
haja elementos que indiquem a presença de
situações de clara vulnerabilidade de uma das
partes, o que não ocorre na situação concreta. 3.
Pela legislação de regência, o representante
comercial age por conta e risco do
representando, não figurando, pessoalmente,
como vendedor nos negócios que intermedia.
Tendo isso em vista, não se pode imputar a ele
a responsabilidade pela não conclusão da
venda decorrente da falência da sociedade
estrangeira a quem ele representa. 4. Não tendo
sido possível concluir a entrega da
mercadoria, contudo, por força de evento
externo pelo qual nenhuma das partes responde,
é lícito que seja resolvida a avença, com a
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devolução, pelo representante, de todos os
valores por ele recebidos diretamente, salvo os
que tiverem sido repassados à
sociedade estrangeira, por regulares operações
contabilmente demonstradas. 5. Recurso
especial conhecido e parcialmente provido.
(Recurso Especial Nº 1.173.060,
Terceira Turma, Superior Tribunal de Justiça,
Relator: Nancy Andrighi, Julgado em
16/10/2012)
39
Como vimos, a vulnerabilidade do consumidor decorre dos
fenômenos de massificação da produção e da contratação em massa e
pode, em sintese, ser verificada em algumas situações distintas, quais
sejam: econômica, técnica, jurídica, fática e informacional, não obstante
a doutrina abarque outras searas da vulnerabilidade, como a científica,
entre outras.
VULNERABILIDADE ECONÔMICA
A regra, é que o consumidor é sempre o mais fraco na relação sob o
enfoque econômico que, como vimos, é resultado do sistema capitalista
estruturado na chamada produção em série, a Standartização da
produção, ou seja, a homogeneização da produção.
VULNERABILIDADE JURÍDICA
Essa espécie de vulnerabilidade se manifesta pela falta de
conhecimentos jurídico, contábil e econômico do consumidor, o que o
fragiliza diante do poderio do fornecedor que, sob a alegação de
legalidade de suas práticas, fragiliza e anula uma possível discussão
sobre o tema, fazendo com que o consumidor simplesmente acate as
exigências do fornecedor e acabe por pagar tarifas indevidas, aceitar
obrigações que não são licitas, condicionar a aquisição de um produto ou
serviço a outro, entre outras práticas abusivas.
VULNERABILIDADE TÉCNICA
Mesmo na sociedade de massa em que vivemos é possível, ainda
que mesmo remotamente, o consumidor não seja o mais fraco da relação
sob o aspecto econômico, poderá ser quanto ao conhecimento técnico,
pois, inegavelmente, é o fornecedor que possui conhecimentos sobre o
processo produtivo, pois a ela cabe o monopólio da cadeia produtiva.
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A vulnerabilidade técnica é decorrente do fato de o consumidor não
possuir conhecimentos específicos sobre produtos ou serviços por ele
adquiridos, ficando sujeito a vontade dos fornecedores e tendo como
única garantia a confiança na boa-fé da outra parte, no proceder honesto,
leal do fornecedor, fato que lhe deixa sensivelmente exposto.
VULNERABILIDADE FÁTICA
Ocorre quando, em determinados mercados, somente existem um
ou poucos fornecedores e o consumidor na impossibilidade de ter seu
direito de escolha respeitado fica sujeito a estes fornecedores.
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fornecedor, de outro, o que permite seu reconhecimento mesmo nas
relações entre pessoas jurídicas, desde que da análise do caso
concreto verificar inegável vulnerabilidade entre a pessoa-jurídica
consumidora e a fornecedora.
VULNERABILIDADE INFORMACIONAL
DA COLETIVIDADE DE PESSOAS
Art. 2º (...)
42
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a
coletividade de pessoas, ainda que
indetermináveis, que haja intervindo nas
relações de consumo.
43
condomínio equipara-se ao consumidor,
enquanto coletividade que haja intervindo na
relação de consumo. Aplicação do disposto no
parágrafo único do art. 2º do CDC. Imposição de
ônus probatório excessivamente complexo para
o condomínio demandante, tendo a empresa
demandada pleno acesso às provas necessárias
à demonstração do fato controvertido” (STJ –
REsp 1.560.728/MG – Terceira Turma – Rel.
Min. Paulo de Tarso Sanseverino – j. 18.10.2016
– DJe 28.10.2016).
44
O mestre Sérgio Cavalieri Filho interpreta de forma diversa o
referido artigo quando diz que a regra afirma o caráter difuso do direito
do consumidor, ou seja, explica que a norma visa tratar da classe dos
consumidores de forma difusa ou coletiva, permitindo com isso que
esteja amparado pela tutela jurisdicional coletiva. Por isso, teria no CDC
previsão tanto da tutela individual, quanto da coletiva, conforme artigos
81 e 91 do CDC. Assim, para o renomado Mestre, entra em cena,
portanto, a defesa dos interesses individuais homogêneos, coletivos e
difusos, que podem ser objeto de ações coletivas, inclusive intentadas
por associações voltadas à proteção dos direitos do consumidor,
Ministério Público etc.
45
produção). Neste caso, embora o comerciante não seja consumidor
stricto sensu, poderá se socorrer da proteção consumerista.
46
EXPOSTOS ÀS PRÁTICAS ABUSIVAS
47
Conclui-se, que na sistemática adotada pelo Código de Defesa do
Consumidor a definição de consumidor se alarga, indo além da figura do
cosumidor strito sensu do produto e/ou serviço descrita no caput do art.
2º, para contemplar toda a coletividade de consumidores, de acordo com
parágrafo único do art. 2°, além das vítimas do acidente decorrente do
fato de produto e/ou serviço, na forma do art. 17, bem como aqueles que
estejam expostos às práticas consideradas abusivas, conforme reza o
art. 29.
FORNECEDOR
Art. 3º - Fornecedor é toda pessoa física ou
jurídica, pública ou privada, nacional ou
estrangeira, bem como os entes
despersonalizados, que desenvolvem
atividades de produção, montagem, criação,
construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de
produtos ou prestação de serviços.
CONCEITO
48
naturais ou jurídicas, bem como os entes despersonalizados e os
considerados como entes de personalidade anômala, que mediante suas
atividades de caráter profissional ofereçam no mercado, produtos ou
serviços.
Como exemplo, suponha que uma pessoa queira vender seu carro
usado para adquirir um novo e assim o faz. Diante do conceito de
consumidor, anteriormente estudado, verificamos que o comprador será
um consumidor se adquirir o veiculo como destinatário final e não para
revendê-lo. Entretanto, a relação jurídica celebrada não estará sob a
égide do CDC, pois o vendedor não será considerado fornecedor já que
a venda não tem caráter atividade profissional. A atividade tem que ser
de caráter profissional habitual, seja cíclica ou continua, como no caso
do estudante que, apesar de ser funcionário de uma empresa, vende
roupas para ajudar a pagar a mensalidade. Nesse caso, sua atividade de
venda é exercida com características de atividade profissional, pois faz
dela uma atividade regular ainda que seja realizada de forma cíclica, já
que só vende seus produtos em determinados períodos. Igual ocorre
com os vendedores ambulantes das praias brasileiras, que trabalham
somente alguns meses do ano.
DA PESSOA JURÍDICA
49
Com relação as pessoas jurídicas não há qualquer exclusão, pois o
Código declarou que todas as espécies de pessoa jurídica,
personalizadas ou não, podem ser fornecedores, ou seja, qualquer
pessoa jurídica de direito público, interno ou externo, privado,
nacional ou estrangeira, poderá figurar na relação jurídica de consumo
na qualidade de fornecedora.
50
como afastar a aplicação do CDC, igualmente ocorreria com a morte de
um prestador de serviço.
DA PESSOA FÍSICA
51
torcedor é considerado consumidor. Segundo o STJ, o STJD não é
equiparado a fornecedor.
Na verdade, o que interessa mesmo na caracterização do
fornecedor ou prestador é o fato de ele desenvolver uma atividade, que
vem a ser a soma de atos coordenados para uma finalidade específica,
como bem pontua Antonio Junqueira de Azevedo:
52
Pelo mesmo raciocínio, não pode ser tido como fornecedor aquele
que vende esporadicamente uma casa, a fim de comprar outra, para a
mudança de seu endereço. Do mesmo modo, alguém que vende coisas
usadas, de forma isolada, visando apenas desfazer-se delas. Ainda, para
a visualização da atividade do fornecedor, pode servir como amparo o
art. 966 do Código Civil, que aponta os requisitos para a caracterização
do empresário, in verbis:
53
Atividade de criação – situação de um autor de obra intelectual
que coloca produtos no mercado.
Atividade de construção – caso de uma construtora e
incorporadora imobiliária.
Atividade de transformação – comum na panificação das
padarias, supermercados e afins.
Atividade de importação – como no caso das empresas que
trazem veículos fabricados em outros países para vender no Brasil.
Atividade de exportação – caso de uma empresa nacional que
fabrica calçados e vende seus produtos no exterior.
Atividades de distribuição e comercialização – de produtos e
serviços de terceiros ou próprios, desenvolvidas, por exemplo, pelas
empresas de telefonia e pelas grandes lojas de eletrodomésticos.
54
“Indenização. Fornecedor. Contratação de
empréstimo e financiamento. Fraude.
Negligência. Injusta negativação. Dano moral.
Montante indenizatório. Razoabilidade e
proporcionalidade. Prequestionamento. Age
negligentemente o fornecedor, equiparado à
instituição financeira, que não prova ter tomado
todos os cuidados necessários, a fim de evitar
as possíveis fraudes cometidas por terceiro na
contratação de empréstimos e financiamentos.
(…)” (TJMG – Apelação cível 1.0024.08.958371-
0/0021, Belo Horizonte – Nona Câmara Cível –
Rel. Des. José Antônio Braga – j. 03.11.2009 –
DJEMG 23.11.2009).
55
Impossibilidade. Vedação ao enriquecimento
sem causa. Parcelas quitadas não foram objeto
do pedido inicial. Apelação Cível 1 e Recurso
adesivo conhecidos e parcialmente providos.
Apelação Cível 2 conhecida e não provida”
(TJPR – Apelação Cível 1284659-8, Londrina –
Oitava Câmara Cível – Rel. Des. Guilherme
Freire de Barros Teixeira – DJPR 24.02.2015, p.
335).
56
a parte demandante e o banco privado. Caso
concreto em que a parte autora encaminhou, na
via administrativa, de forma expressa, o pedido
de cancelamento da cobrança de contribuição à
FUSEPE, após o total adimplemento do contrato
de empréstimo intermediado, razão pela qual,
diante do direito de não ser compelida a manter-
se filiada – Art. 8º, V, CF/88 – Têm-se por
indevidas as cobranças realizadas a partir do
protocolo do pedido de desligamento. Pela
aplicação do conceito de fornecedor equiparado,
tendo os demandados participado de alguma
forma da execução do contrato de mútuo
bancário que configura relação de consumo,
cabível a aplicação do Código de Defesa do
Consumidor para obrigar a parte demandada à
devolução em dobro dos valores indevidamente
descontados, a teor do artigo 42, parágrafo
único, do CDC, na medida em que à conduta
lesiva não se pode conferir a qualidade de erro
justificável. (…)” (TJRS – Recurso Cível
0058556-77.2015.8.21.9000, Caxias do Sul –
Segunda Turma Recursal da Fazenda Pública –
Rel. Des. Mauro Caum Gonçalves – j.
26.08.2016 – DJERS 27.09.2016).
MERCADO DE CONSUMO
57
- Serviços advocatícios
- Contratos de crédito educativo
- Relação condominial
- Locação predial urbana
- Previdência privada complementar fechada (Súmula 563)
Súmula 563-STJ: O Código de Defesa do Consumidor
é aplicável às entidades abertas de previdência
complementar, não incidindo nos com tratos
previdenciários celebrados com entidades
fechadas.
PRODUTO
Conceito de produto
58
O CDC conceitua produto como sendo qualquer bem, novo ou
usado, seja ele móvel, imóvel, material ou imaterial (ambiente virtual,
softwares), suscetível de apropriação e que seja destinado a satisfazer
uma necessidade do consumidor, isto é, aquilo que resulta do processo
de produção ou fabricação. Diante do dialogo das fontes, como o CDC
não traz o que é bem móvel ou imóvel, utilizam-se os artigos 79 a 84 do
CC.
Bens, portanto, podem ser definidos como coisa que, diante da sua
utilidade e raridade, passam a ter valor econômico e tornam-se
suscetíveis de apropriação pelo homem.
VALOR ECONÔMICO
AMOSTRA GRÁTIS
MATERIAL OU IMATERIAL
59
A segunda característica do produto é diz respeito sua materialidade
ou imaterialidade. O diploma consumerista não restringe os produtos
quanto à materialidade.
60
MÓVEL OU IMÓVEL
Por sua vez, produto não durável, é aquele que acaba com o uso,
ou seja, não possui qualquer durabilidade, pois quando usado, ele se
extingue ou, ao menos, vai se extinguindo. A extinção poderá ser
imediata, como os produtos alimentícios in natura, como a pesca, grão,
vegetais, ou enlatados, engarrafados, os remédios, cosméticos etc., ou,
paulatina, como sabonete, caneta, etc.
61
Assim, o que diferencia um produto durável do não durável é a
maneira de extinção enquanto é utilizado, pois enquanto aquele
(durável) permanece tal como era após ser utilizado, o não durável
perde totalmente ou parcialmente a sua existência com o uso ou vai.
SERVIÇO
CDC Art. 3º (...)
§ 2º - Serviço é qualquer atividade fornecida no
mercado de consumo, mediante remuneração,
inclusive as de natureza bancária, financeira, de
crédito e securitária, salvo as decorrentes das
relações de caráter trabalhista.
62
Apesar do conceito de serviço conduzir ao enquadramento de uma
atividade não durável, o mercado acabou criando os chamados serviços
duráveis, assim considerados àqueles que tiverem sido estabelecidos no
contrato de prestação, como contínuo a exemplo dos educacionais, de
saúde, fornecimento de energia, etc., ou os que deixarem como resultado
um produto, como pintura, buffet, etc. Com isso, o CDC também regulou
os serviços como duráveis e não duráveis, no mesmo artigo 26, I e II,
que adiante será estudado.
REMUNERAÇÃO
A característica principal do serviço, para incidência do CDC, é
a remuneração.
Para efeitos de proteção do Código do Consumidor os serviços
devem ser prestados de forma profissional e habitual, no mercado
de consumo, mediante remuneração, excluindo-se os de caráter
trabalhista e fiscal, conforme veremos a seguir.
63
fidelidade, dos estacionamentos em shoppingcenters, lojas e
supermercados, do serviço gratuito de instalação de som no automóvel,
manobristas, transportes gratuitos para estudante de escola pública,
idoso e deficiente físico, atendimento em hospitais beneficentes etc. Sem
dúvida, haverá nestes casos, a incidência das regras contidas no CDC
apesar de ser a remuneração indireta, pois todos esses serviços não são
considerados gratuitos já que, por serem facilidades utilizadas para atrair
potenciais clientes, os custos estão embutidos no preço do que foi pago
ou subsidiado por alguém, como nos exemplos, na anuidade do cartão,
compras no Shopping, no som, do atendimento hospitalar em rede
beneficente que recebe verba pública ou privada, etc.
64
cabível. Súmula 130 do STJ. Dever de indenizar.
Responsabilidade civil do Estado. Não
configuração. Recurso conhecido e não provido.
O estabelecimento que permite, mesmo a título
gratuito, o estacionamento de veículo em seu
pátio, tem responsabilidade pela guarda e
vigilância do bem, e responde por qualquer dano
causado. Nos termos do art. 14 do CDC, o
fornecedor de serviços ou de produtos responde
para com o consumidor em caso de dano,
independentemente de culpa. A teor do art. 29
do CDC, equiparam-se aos consumidores todas
as pessoas determináveis ou não, expostas às
práticas nele previstas. O furto de veículo em
estacionamento privativo de empresa gera a
obrigação de indenizar conforme prevê a
Súmula 130 do STJ. Não há como imputar ao
Estado a responsabilidade por prejuízo sofrido
pelo furto ocorrido em estacionamento privado
de supermercado. Recurso conhecido e não
provido” (TJMG – Apelação Cível
1.0702.06.285022-8/0011, Uberlândia – Décima
Sétima Câmara Cível – Rel. Des. Márcia de
Paoli Balbino – j. 24.04.2008 – DJEMG
09.05.2008).
65
pertencente a possível locador de unidade
comercial. Existência de vigilância no local.
Obrigação de guarda. Indenização devida.
Precedentes. Recurso provido. I. Nos termos do
enunciado n. 130/STJ, ‘a empresa responde,
perante o cliente, pela reparação de dano ou
furto de veículo ocorridos em seu
estacionamento’. II. A jurisprudência deste
Tribunal não faz distinção entre o consumidor
que efetua compra e aquele que apenas vai ao
local sem nada despender. Em ambos os casos,
entende-se pelo cabimento da indenização em
decorrência do furto de veículo. A
responsabilidade pela indenização não decorre
de contrato de depósito, mas da obrigação de
zelar pela guarda e segurança dos veículos
estacionados no local, presumivelmente seguro”
(STJ – REsp 437.649/SP – Quarta Turma – Rel.
Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira – j.
06.02.2003 – DJ 24.02.2003, p. 242).
Nesse sentido:
66
extrapatrimoniais”. A menção à reparação
integral segue a linha exposta neste livro, de
afastar qualquer tarifação da indenização nas
relações de consumo.
PÚBLICO OU PRIVADO
67
CDC, a exemplo do serviço de iluminação pública. Igualmente, os
serviços próprios do Estado (saúde, educação, segurança pública) não
podem ser tutelados pelo CDC, diante da ausência da relação de
consumo.
Assim, não se pode confundir taxa com tarifa ou preço público, aliás,
o STF editou a Súmula n.° 545, nesse sentido, pois afirma que: Se o
serviço Público é remunerado por taxa, não podem as partes cessar a
prestação ou contraprestação por conta própria, característica só
pertinente às relações contratuais, na esfera do direito civil.
68
Conlui-se que é a partir do sistema da remuneração que se
define a natureza da relação de serviço público prestado, fazendo
com que o CDC incida apenas sobre as relações remuneradas por
tarifa ou preço público, conforme decisão do STJ, proferida no Resp
n;° 525.520/AL.
SERVIÇO NOTARIAL
Atualmente, o STJ possui precedente afastando a aplicação do CDC
aos serviços notarias, sob o argumento de que o STF entende que as
custas e emolumentos possuem natureza administrativo-tributária e por
isso não há como reconhecer a relação e consumo, pois no lugar de
consumidor há contribuinte, bem como não há como considerar que os
cartórios de notas e registros sejam fornecedores, eis que seus serviços
não integram o mercado de consumo.
69
sensivelmente, essas pessoas jurídicas quanto à administração, forma
de associação, obtenção e repartição de receitas, diverso doscontratos
firmados com empresas que exploram essa atividade no mercado e
visam ao lucro. Não se aplica o Código de Defesa do Consumidor ao
contrato de plano de saúde administrado por entidade de autogestão, por
inexistência de relação de consumo” (STJ – REsp 1.285.483/PB –
Segunda Seção – Rel. Min. Luis Felipe Salomão – j. 22.06.2016 – DJe
16.08.2016).
Nos termos do voto do Ministro Relator, “a inegável diferença
estrutural existente entre os planos de saúde oferecidos pelas entidades
constituídas sob aquele modelo, de acesso restrito a um grupo
determinado, daqueles comercializados por operadoras que oferecem
seus produtos ao mercado geral e objetivam o lucro, ensejam a retomada
do tema e encorajam submeter a questão ao criterioso exame desta
Seção”.
70
ADEQUADOS: o dever de qualidade-adequação também é
imposto ao serviço público, o qual deve ter um bom
desempenho, sendo adequado ao fim a que se destina;
71
O STJ entende que é possível a interrupção, quando, após o aviso, o
consumidor continua inadimplente.
72
Ação declaratória de inexistência de dívida.
Fornecimento de energia elétrica. Falta de
pagamento. Corte do fornecimento. Aviso prévio
efetuado. (BRASIL. TJRJ. 16ª CC. Ap. Civ
2007.001.66429 rel. Carlos José Martins Gomes.
J. 15/04/2008)
SERVIÇO BANCÁRIO
CONCLUSÃO
Por tudo que foi estudado podemos concluir que o CDC incidirá nas
relações jurídicas de consumo, consubstanciada pela presença do
consumidor em um dos pólos e noutro o fornecedor, transacionando um
produto ou serviço. Poderá ainda ser aplicado se a prática comercial
puder se tornar relação de consumo, pelo simples fato de expor e poder
se impor a um consumidor em potencial ou lhe causar algum acidente de
consumo.
73
Os direitos básicos do consumidor estão elencados no artigo 6° do
CDC e são considerados princípios fundamentais que nunca poderão ser
afastados pela vontade do fornecedor, já que o CDC é considerado
norma cogente. Qualquer cláusula inserida no contrato de consumo que
pretender afastar ou mitigar esses direitos será nula de pleno direito,
conforme se depreende do artigo 1° do CDC.
74
VIII- Facilitação de defesa de seus direitos=
inversão do ônus da prova;
IX - Qualidade dos serviços públicos.
Vimos acima que o acesso à justiça que foi tratado como princípio
garantidor dos direitos básicos do consumidor que visa garantir uma
resposta do Estado rápida e efetiva, a fim de conferir utilidade ao
provimento jurisdicional. Para tanto, o CDC criou regras que tornam o
acesso e a resposta ao judiciário mais eficiente.
Nessa toada, o CDC trouxe inúmeros direitos e garantias aos
consumidores. Visando a efetivação de tais direitos e garantias, trouxe os
meios, igualmente, os meios de defesa do consumidor em juízo, tanto de
forma coletiva quanto de forma individual, os quais iremos analisar a
partir de agora.
FORO DE ELEIÇÃO
75
Insta salientar, que a competência territorial, está classificada
como relativa, permitindo, portanto, a livre disposição das partes. Essa
faculdade, aliás, vai mais longe que própria temática da prorrogação da
competência. Com efeito, mesmo antes da existência do litígio, podem as
partes estabelecer convenção de competência de foro, através de
contrato escrito. A única exigência feita pela lei é a vinculação do ajuste a
um negócio jurídico certo e determinado. Sendo tal foro de livre escolha
das partes, dá-se o nome de foro de eleição. Nesse contexto, pontua
Arruda Alvim:
"O foro de eleição decorre do ajuste entre dois
ou mais interessados, devendo constar de
contrato escrito e se referir especificamente a
um dado negócio jurídico (disponível), para que
as demandas oriundas de tal negócio jurídico
possam ser movidas em tal lugar" (Manual de
direito processual civil, vol. I, p. 277).
76
officio de incompetência territorial. Vale colacionar alguns arestos para
ilustrar o tema:
77
Assim, ainda que a competência territorial possa ser prorrogada
pela vontade das partes (foro de eleição), deve-se esclarecer que não irá
prevalecer o foro contratual de eleição caso dificulte a defesa do
consumidor, em face do ônus que terá para acompanhar o processo em
local distante daquele em que reside e, também, onde foi celebrado o
negócio ainda que tal indicação não constitua mera adesão a cláusula
preestabelecida pelo fornecedor.
FORO PRIVILEGIADO
CDC
78
Art. 84 - Na ação que tenha por objeto o
cumprimento da obrigação de fazer ou não
fazer, o Juiz concederá a tutela específica da
obrigação ou determinará providências que
assegurem o resultado prático equivalente ao do
adimplemento.
Art. 497. Na ação que tenha por objeto a
prestação de fazer ou de não fazer, o juiz, se
procedente o pedido, concederá a tutela
específica ou determinará providências que
assegurem a obtenção de tutela pelo resultado
prático equivalente. Parágrafo único. Para a
concessão da tutela específica destinada a inibir
a prática, a reiteração ou a continuação de um
ilícito, ou a sua remoção, é irrelevante a
demonstração da ocorrência de dano ou da
existência de culpa ou dolo.
Art. 499. A obrigação somente será convertida
em perdas e danos se o autor o requerer ou se
impossível a tutela específica ou a obtenção de
tutela pelo resultado prático equivalente.
Art. 500. A indenização por perdas e danos dar-
se-á sem prejuízo da multa fixada
periodicamente para compelir o réu ao
cumprimento específico da obrigação.
Art. 536. No cumprimento de sentença que
reconheça a exigibilidade de obrigação de fazer
ou de não fazer, o juiz poderá, de ofício ou a
requerimento, para a efetivação da tutela
específica ou a obtenção de tutela pelo resultado
prático equivalente, determinar as medidas
necessárias à satisfação do exequente. § 1o
Para atender ao disposto no caput, o juiz poderá
determinar, entre outras medidas, a imposição
de multa, a busca e apreensão, a remoção de
pessoase coisas, o desfazimento de obras e o
impedimento de atividade nociva, podendo, caso
necessário, requisitar o auxílio de força policial.
§ 2o O mandado de busca e apreensão de
pessoas e coisas será cumprido por 2 (dois)
79
oficiais de justiça, observando-se o disposto no
art. 846, §§ 1o a 4o, se houver necessidade de
arrombamento. § 3o O executado incidirá nas
penas de litigância de má-fé quando
injustificadamente descumprir a ordem judicial,
sem prejuízo de sua responsabilização por crime
de desobediência. § 4o No cumprimento de
sentença que reconheça a exigibilidade de
obrigação de fazer ou de não fazer, aplica-se o
art. 525, no que couber. § 5o O disposto neste
artigo aplica-se, no que couber, ao cumprimento
de sentença que reconheça deveres de fazer e
de não fazer de natureza não obrigacional.
Art. 537. A multa independe de requerimento da
parte e poderá ser aplicada na fase de
conhecimento, em tutela provisória ou na
sentença, ou na fase de execução, desde que
seja suficiente e compatível com a obrigação e
que se determine prazo razoável para
cumprimento do preceito. § 1o O juiz poderá, de
ofício ou a requerimento, modificar o valor ou a
periodicidade da multa vincenda ou excluí-la,
caso verifique que: I - se tornou insuficiente ou
excessiva; II - o obrigado demonstrou
cumprimento parcial superveniente da obrigação
ou justa causa para o descumprimento. § 2o O
valor da multa será devido ao exequente. § 3º A
decisão que fixa a multa é passível de
cumprimento provisório, devendo ser depositada
em juízo, permitido o levantamento do valor
após o trânsito em julgado da sentença favorável
à parte. (Redação dada pela Lei nº 13.256, de
2016) (Vigência) § 4o A multa será devida
desde o dia em que se configurar o
descumprimento da decisão e incidirá enquanto
não for cumprida a decisão que a tiver
cominado. § 5o O disposto neste artigo aplica-
se, no que couber, ao cumprimento de sentença
que reconheça deveres de fazer e de não fazer
de natureza não obrigacional.
80
Ainda do ponto de vista processual, o CDC outorga poderes ao juiz
para conferir ao processo de consumo praticidade e aderência às
peculiaridades do caso concreto. Em se tratando de ação que tenha por
objeto o cumprimento da obrigação de fazer ou não fazer, o juiz, além de
conceder a tutela específica da obrigação, poderá determinar
providências que assegurem o resultado prático equivalente ao
adimplemento.
Vale dizer, que se a tutela específica não puder ser cumprida por
impossibilidade do meio ou desaparecimento do bem pretendido, pode o
juiz criar condições e condenar o fornecedor a entrega de outro bem que
tenha o mesmo efeito real ao do adimplemento e, se este também não
for possível, poderá ser convertida a tutela específica em perdas e
danos.
81
conceder a tutela liminarmente ou após
justificação prévia, citado o réu.
82
§ 5º - Para a tutela específica ou para a
obtenção do resultado prático equivalente,
poderá o Juiz determinar as medidas
necessárias, tais como busca e apreensão,
remoção de coisas e pessoas, desfazimento de
obra, impedimento de atividade nociva, além de
requisição de força policial.
CDC
Art. 88 - Na hipótese do artigo 13, parágrafo
único, deste Código, a ação de regresso poderá
83
ser ajuizada em processo autônomo, facultada a
possibilidade de prosseguir-se nos mesmos
autos, vedada a denunciação da lide.
85
indenização diretamente contra o segurador,
vedada a denunciação da lide ao Instituto de
Resseguros do Brasil e dispensado o
litisconsórcio obrigatório com este.
86
Art. 373 O ônus da prova incumbe:
I - Ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu
direito;
II – Ao réu, quanto à existência de fato
impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do
autor.
CDC
Art. 6º - São direitos básicos do consumidor:
(...)
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos,
inclusive com a inversão do ônus da prova, a
seu favor, no processo civil, quando, a critério do
juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele
hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiências;
87
Sérgio Cavalieri Filho afirma que a inversão do ônus da prova
serviria para retirar dos ombros do consumidor a carga da prova
referente aos fatos do seu interesse. Presumem-se, portanto,
verdadeiros os fatos por ele alegados, cabendo ao fornecedor a prova
em contrário.
EFEITOS DA INVERSÃO
88
No que pertine ao custeio, da prova a inversão seria indireta, pois
se for deferida a inversão do ônus da prova em favor do consumidor e,
para esclarecer o fato necessite de uma prova pericial, o fornecedor não
tem o dever de arcar com os custos, não obstante responda pela sua não
realização, pois os fatos alegados pelo autor foram tidos por verdadeiro.
Essa é a posição do STJ de acordo com os precedentes da 3ª Turma,
uma vez que fala: “No entanto, o fornecedor assume as consequências
processuais advindas da sua não produção”.
ESPÉCIES DE INVERSÃO
89
Resulta da interpretação acima que caberá ao juiz avaliar a
situação concreta antes de deferir a inversão, devendo adotar o critério
da verossimilhança em relação aos fatos afirmados pelo consumidor
mesmos nos casos de hipossuficiência, mesmo porque não cabe ao
fornecedor fazer prova de fato negativo.
90
Nesses casos, a prova torna-se ao consumidor, extremamente
difícil, ao contrário do que acontece com o fornecedor, pois este detém
os documentos técnicos, científicos e contábeis, como os registros,
contratos, extratos bancários, banco de dados, etc..
91
Defendendo a necessidade de pronunciamento nos autos ela cita o
seguinte exemplo: Pode muito bem o consumidor ser um engenheiro que
tinha claras condições de conhecer o funcionamento do produto, de
modo a elidir a sua presumida hipossuficiência. Pode ainda o mesmo
engenheiro desconhecer o funcionamento do produto, caracterizando a
sua hipossuficiência. Diante disso, torna-se necessário que o juiz se
manifeste no processo invertendo ou não o ônus da prova.
92
de informação ou comunicação publicitária, sendo, portanto, taxativa as
suas possibilidades.
93
Assim, quando um fabricante de pneus disser que seu
produto dura 50.000 Km, deverá manter consigo os testes de
qualidade e durabilidade que comprovem a afirmação.
94
Da mesma maneira, em quaisquer demandas judiciais, seja no
pólo ativo ou passivo, quem figura é a pessoa jurídica e não a pessoa
natural que a representa, seja este sócio, associado, administrador, etc.
ABUSO DE DIREITO
95
O abuso de direito decorre quando o titular de um direito, ao
exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim
econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes, de acordo
com o artigo 187 do CC, a seguir transcrito.
Código Civil
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de
um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim
econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons
costumes.
96
No que tange a infração da lei ou prática de ato ilícito também
será possível desconsiderar a pessoa jurídica e atingir o patrimônio do
sócio se o ato por ele praticado em nome da sociedade for contrário a lei,
violar um dever jurídico de qualquer ordem e causar dano. Como dito
será praticado em nome da sociedade e nesse caso com nítida violação
do estatuto ou contrato social, posto que esses não podem buscar o
ilícito.
NCPC E DESCONSIDERAÇÃO
98
Desta forma, dentre as espécies de sociedades coligadas temos os
grupos societários, as sociedades controladoras e as sociedades
consorciadas, sendo as suas responsabilidades subsidiária, para as duas
primeiras (grupos societários e sociedades controladoras) e solidária
para a última (consorciadas), não obstante, as suas responsabilidades
dependem da prova da culpa, sendo, portanto, subjetiva, conforme
segue:
CDC
Art. 28 (...)
§ 2º - As sociedades integrantes dos grupos
societários e as sociedades controladas são
subsidiariamente responsáveis pelas obrigações
decorrentes deste Código.
§ 3º - As sociedades consorciadas são
solidariamente responsáveis pelas obrigações
decorrentes deste Código.
§ 4º - As sociedades coligadas só responderão
por culpa.
RESPONSABILIDADE CIVIL
DEVER JURÍDICO
99
Entende-se por dever jurídico como a forma de conduta que o
homem deve adotar em razão das regras impostas pelo Direito Positivo,
por exigência da conivência social.
FUNÇÃO
100
O anseio de obrigar o agente causador do dano a repará-lo, tem seu
âmago no mais elementar sentimento de justiça. O dano causado pelo
ilícito rompe o equilíbrio jurídico-econômico anteriormente existente entre
o agente e a vitima. Há uma necessidade fundamental de se restabelecer
esse equilíbrio, o que se procura fazer recolocando o prejudicado no
statu quo ante. Isso se faz através de uma indenização fixada na
proporção ao dano experimentado.
ESPÉCIES
101
RESPONSABILIDADE CIVIL E PENAL
Como vimos, quando a norma violada for penal, haverá um ato ilícito
penal e, consequentemente, a responsabilidade será penal. Na mesma,
linha teremos responsabilidade civil, quando a ofensa for perpetrada
contra a respectiva norma de Direito Privado.
102
obrigado a reparar o dano aos descendentes da vítima, decorrente do
ilícito civil. Em tal caso, como se vê, haverá dupla sanção: a penal, de
natureza repressiva, consistente em uma pena privativa de liberdade ou
restritiva de direitos, e a civil, de natureza reparatória, consubstanciada
na indenização.
Responsabilidade
Responsabilidade
Penal
Civil
103
conduta humana (culposa ou dolosa) torna-se irrelevante, pois o que
importa é a demonstração do elo de causalidade entre o dano e a
conduta do agente quando desempenhada uma atividade de risco, para
que surta o dever de indenizar.
104
Seria então do fabricante? A sua alegação, que também afastaria a
sua responsabilidade, seria que não existe qualquer relação jurídica
estabelecida com o consumidor, pois nada vendeu a este, bem como que
não poderia responder pelo fato da coisa, pois esta não estava sob sua
guarda, comando ou direção.
105