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Unidade 01
Direito da Infância e da Juventude - Unidade 01
Créditos
O trabalho Direito da Infância e da Juventude - Unidade 01: O Direito da Infância e da Juventude de Anarda Pinheiro Araújo, Ana Paula
Araújo de Holanda, Cláudio Alcântara Meireles Júnior, Diane Espindola Freire Maia, Núcleo de Educação a Distância da UNIFOR está
licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
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Direito da Infância e da Juventude - Unidade 01
Sumário
1. Conceito 3
2. Evolução Histórica 4
4. Princípios Fundamentais: 9
Referências 13
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Direito da Infância e da Juventude - Unidade 01
Olá, seja bem-vindo à Nota de Aula da 1ª unidade da disciplina de Direito da Infância e da Juventude.
Para alcançar uma melhor compreensão do assunto, é importante que você acompanhe a web-aula, pois lá você tem acesso a
vídeos e quizes sobre a temática da unidade, além de dicas e complementos sugeridos no decorrer da disciplina. Boa leitura!
Objetivo
1. Conceito
O Direito da Infância e da Juventude tem como objeto de estudo o tratamento jurídico dado às
crianças e adolescentes no Brasil, delimitando a autonomia desse ramo do Direito em relação aos demais,
analisando seus princípios, a evolução no tratamento da problemática infantojuvenil, bem como os diplomas
legais pertinentes.
Como será visto adiante, atualmente, o ramo do direito pátrio em estudo tem como enfoque
jurídico basilar a doutrina da proteção integral, respeitando a condição peculiar da criança e do
adolescente como pessoas em desenvolvimento, além de haver contemplado a concepção dos infantes
como sujeitos de direito.
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Para que possamos melhor compreender a autonomia desse segmento, bem como seus princípios
norteadores e toda a lógica do sistema jurídico voltado à questão infantojuvenil, faz-se necessário, antes
de adentrarmos no estudo dogmático da legislação e dos institutos atuais, realizarmos um breve resgate
histórico do tratamento dado a esse segmento da sociedade na conjuntura pátria.
2. Evolução Histórica
Primeiramente, no que diz respeito aos escritos que descrevem o desenvolver da humanidade pela
perspectiva da história tradicional, inexistia espaço para a criança e o adolescente, sendo a sua presença
meramente secundária, geralmente como uma espécie de propriedade de sua família.
No que concerne ao lapso temporal compreendido entre o Brasil Colonial até o início da época
pós-independência, a autoridade paternal era absoluta, inclusive sendo permitido ao pai aplicar
castigos severos ao seu filho, conforme lhe melhor aprouvesse. Ainda nesse período histórico, existia certa
preocupação com os órfãos, inclusive com a utilização da chamada “Roda dos Expostos”, uma espécie
de mecanismo no qual a criança era deixada em instituições de caridade.
Já na fase do Brasil Império, a repressão aos infratores era a tônica do tratamento dedicado aos
infantes, inclusive com previsão de pena de morte por enforcamento, época em que a imputabilidade penal
ocorria aos sete anos de idade e a crueldade das penas era a principal característica da seara punitiva.
Ainda nesse período imediatamente após a independência, mais precisamente em 1823, foi assegurada
à mãe negra e escrava a possibilidade de permanecer com seu filho recém-nascido sob seus cuidados.
Entretanto, como fruto da sociedade escravagista dessa época, percebe-se que o escopo dessa medida não
seria assegurar à criança o convívio familiar, pois o que se pretendia era a manutenção das crianças sob o
poder do senhor de escravos, como propriedade, para tornar-se mais uma mão de obra no futuro.
Em 1871 ocorre a decretação da Lei do Ventre Livre, que concedeu liberdade aos escravos
nascidos no Brasil após sua data de promulgação. Porém, novamente, isso não representava grande ruptura
tampouco benesse. Até a idade de 8 (oito) anos, os filhos de mulheres escravas, chamados de ingênuos,
seriam sustentados pelos senhores, permanecendo em seu poder em troca de trabalho. Quando atingida
essa idade, poderia o proprietário entregá-lo ao Estado mediante indenização ou mantê-lo consigo até que
completasse 21 (vinte e um) anos, período no qual o ingênuo prestaria serviços gratuitos em contrapartida
ao sustento, ou seja, permanecia em regime servil (COSTA, 1986).
Posteriormente, já no período republicano, observa-se novamente o tratamento legal direcionado
às crianças e aos adolescentes com ênfase na lógica punitiva, isso por meio do Decreto nº 17.973-A de 12
de outubro de 1927, o chamado Código de Menores de 1927 ou Código Mello Mattos, nome dado em
razão de seu mentor, o jurista José Cândido de Albuquerque Mello Mattos.
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Nessa linha, em 1942 – período especialmente autoritário do Estado Novo – foi criado o Serviço
de Assistência ao Menor (SAM), ligado ao Ministério da Justiça. O SAM tinha orientação correcional
e previa atendimento diferenciado para adolescentes autores de ato infracional (crime e contravenção) e
para menores carentes ou abandonados.
Para os adolescentes autores de atos infracionais, eram reservados os Internatos, Reformatórios e
Casas de Correção, já para os menores carentes ou abandonados, os Patronatos Agrícolas e Escolas de
Aprendizagem de Ofícios Urbanos. Pela forma como os infantes eram tratados nesses estabelecimentos e
nesse contexto social, o SAM adquire a imagem de repressor e desumano.
Em 1946 é promulgada a quarta Constituição Federal Brasileira, após o período ditatorial do
Estado Novo, retornando a democracia e propiciando que projetos com influência dos movimentos pós-
Segunda Guerra Mundial em favor dos direitos humanos influenciassem o tratamento dado à criança e ao
adolescente no Brasil, inclusive com a instalação em João Pessoa-PB do primeiro escritório do UNICEF
no Brasil, mais precisamente em 1950, voltado à proteção de crianças e gestantes do nordeste.
Entretanto, o Golpe Militar de 1964 viria a mudar radicalmente esse panorama ao interromper
o avanço da democracia no Brasil, o que na seara jurídica correspondeu à entrada em vigor dos Atos
Institucionais (AIs).
Na área da infância e da juventude, para substituir o SAM, a Lei nº 4.513, de 1964, criou a Fundação
Nacional do Bem-Estar do Menor (FUNABEM), que, apesar da nomenclatura aparentemente
progressista, nada mais era do que “um instrumento de controle do regime político autoritário exercido
pelos militares”, uma vez que “Em nome da segurança nacional buscava-se reduzir ou anular ameaças
ou pressões antagônicas de qualquer origem, mesmo se tratando de menores”, razão pela qual enquanto
perdurou a Ditadura Militar “a cultura da internação, para carentes ou delinquentes foi a tônica”, ou seja,
“A segregação era vista, na maioria dos casos, como única solução.” (AMIN, 2010, p. 7).
Nesse sentido, em 1979, foi publicada a Lei nº 6.697, o “Novo” Código de Menores, que indicava
a visão que então imperava, introduzindo o conceito de “menor em situação irregular”. Assim, infância
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e juventude desamparadas eram vistas como detentoras de uma patologia social única, não fazendo
diferenciação entre as situações concretas distintas, ocasionando com que o menor se encontrasse nesta
chamada “situação irregular”.
Contudo, mesmo com a política autoritária presente na sociedade setentista, além de toda a repressão
de ideologias dissidentes, no final dos anos de 1970 e início dos anos de 1980, diversos movimentos sociais
resultantes das inquietações da sociedade descontente com a política imperante, assim como a consciência
humanista, começam a difundir-se, das quais decorre repúdio ético e político sobre a precária assistência
oferecida à infância e juventude fruto da PNBEM e do Código de Menores de 1979.
Esse momento histórico, o qual pode ser considerado de transição, nasce a perspectiva de que um
trabalho educativo e social destinado às crianças e adolescentes, aplicando alternativas e propostas vindas
da comunidade, poderia figurar como o início de uma mudança no panorama político nacional.
Entre 1982 e 1983, com o apoio do UNICEF, é implantado o Projeto Alternativas de Atendimento
a Meninos de Rua, por meio da sociedade civil organizada, que traz à discussão experiências bem-
sucedidas de trato com crianças e adolescentes que viviam nas ruas, despertando, assim, o interesse de cada
vez mais pessoas para esse assunto. Tais encontros serviam também como programas de capacitação no
atendimento e entendimento desses jovens que, pelas mais variadas circunstâncias, tinham como residência
as ruas das cidades.
O Projeto expandiu-se de tal forma que, em novembro de 1984, Brasília sediou o I Seminário Latino-
Americano de Alternativas Comunitárias de Atendimento a Meninos e Meninas de Rua que acabou tendo
como consequência, já em 1985, a criação da Coordenação Nacional do Movimento de Meninos e
Meninas de Rua.
Já em maio de 1986, aconteceu o I Encontro Nacional de Meninos e Meninas de Rua em que foram
debatidos assuntos como família, saúde, trabalho, escola, sexualidade e, principalmente, as denúncias de
violências praticadas por e contra os jovens.
Já no período de redemocratização, foi convocada uma Assembleia Nacional Constituinte que, ao
desenvolver uma nova carta maior para este país, terminaria por inserir em seu conteúdo os direitos da
criança e do adolescente no Brasil tendo como fundamento a Doutrina da Proteção Integral, que será
melhor estudada na Unidade II.
A respeito da Constituição Federal de 1988, sabe-se que é caracterizada por possuir conteúdo
extremamente amplo, exatamente por haver aglutinado durante o processo constituinte diversos atores
sociais. A Carta Magna definiu fins e objetivos para o Estado e a Sociedade, e, nessa linha, o Art. 227
trazido em seu bojo, no que diz respeito à proteção especial dedicada à infância, assim dispôs:
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Tal dispositivo constitucional foi fruto da pressão dos movimentos sociais e da sociedade civil
organizada, em especial o Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua (MNMMR). Na
verdade, com a abertura da Assembleia Constituinte, houve a previsão de mecanismos de participação
popular direta na formulação do texto constitucional. Era possível, por exemplo, a apresentação de
emendas populares ao anteprojeto de Constituição.
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Finalmente, surge, como fase mais recente, a doutrina da proteção integral, com destaque para os
direitos fundamentais da criança e do adolescente. Dentre essas diretrizes, surge o próprio ECA,
passando a abranger uma gama variada de disciplinas voltadas à proteção dos direitos da criança e
do adolescente. (ISHIDA, 2014, p.7)
O ECA trouxe de forma mais profunda em seu conteúdo o disposto no Art. 227 da Carta Magna,
consolidando a Doutrina da Proteção Integral e o reconhecimento das crianças e dos adolescentes como
sujeitos de direitos e garantias fundamentais próprias, merecedores de uma legislação específica.
Destaque-se ainda que no cerne da Constituição Federal e do ECA estão os princípios e garantias
assegurados pela Declaração Universal dos Direitos da Criança e do Adolescente, aprovada pelas
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Nações Unidas em 20 de novembro de 1959, tendo o Brasil como seu signatário. Assim, passaram a figurar
como responsáveis pela infância e juventude de sua nação, o Estado e a Sociedade, os quais têm como
obrigação realizar os deveres e compromissos postos a seu cargo um direito inalienável.
Não por acaso, nos atuais diplomas legislativos, como nos dispositivos de nossa hodierna Constituição,
as crianças e adolescentes passaram a ser considerados não como meros objetos de tutela, controle
ou repressão, mas como sujeitos de direitos, pessoas em condição de desenvolvimento, promovendo a
infância brasileira de “menor em situação irregular” para cidadãos de direitos e garantias.
Portanto, não restam dúvidas a respeito da autonomia dessa seara jurídica dedicada ao direito dos
infantes, dotada de legislação específica e institutos próprios. No entanto, cabe ressaltar que está intima e
intrinsecamente correlacionada com outros campos do conhecimento, tais quais: psicologia, sociologia,
assistência social, pedagogia, dentre outros.
Passando à análise do princípio da absoluta prioridade dos direitos das crianças e dos adolescentes,
diga-se que foi instituído pela primeira vez no direito positivo brasileiro por meio da CF/88, mais
precisamente em seu Art. 227, cujo teor foi em parte reproduzido no Art. 4º do ECA. Sobre o referido
princípio, leciona Andréa Amin (2010, p. 20):
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Estabelece primazia em favor das crianças e dos adolescentes em todas as esferas de interesses. Seja
no campo judicial, extrajudicial, administrativo, social ou familiar, o interesse infanto-juvenil deve
preponderar. Não comporta indagações ou ponderações sobre o interesse a tutelar em primeiro
lugar, já que a escolha foi realizada pela nação através do legislador constituinte.
Nesse azo, repita-se que não só o Estado, mas a sociedade como um todo, incluso seu núcleo basilar,
a família, devem atuar de maneira a concretizar a proteção integral da infância e da juventude, contribuindo
para a consecução da efetividade dos direitos fundamentais da criança e do adolescente, movidos por essa
lógica da corresponsabilidade social, ganhando a sociedade civil organizada especial protagonismo.
No que tange à atuação do poder público, interessante observar que a própria lei, por meio do
parágrafo único do Art. 4º do ECA, elencou o que compreenderia a garantia de prioridade. Impede
destacar que se trata de um rol mínimo, ou seja, não é exaustivo, não determina as únicas situações possíveis
ou todos os casos específicos, em verdade, pode ser considerada como norma aberta, que possibilita ao
aplicador do direito realizar interpretação de amplitude alargada.
Quanto ao princípio do melhor interesse das crianças e dos adolescentes, trata-se de fundamento
basilar que deverá influir na interpretação de qualquer caso que envolva os infantes, como explica Andréa
Amin (2010, p. 28):
Trata-se de princípio orientador tanto para o legislador como para o aplicador, determinando
a primazia das necessidades da criança e do adolescente como critérios de interpretação da lei,
deslinde de conflitos, ou mesmo para elaboração de futuras regras.
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O referido princípio está delineado no Art. 3º, Item 1, da Convenção Sobre os Direitos da Criança,
promulgada no Brasil pelo Decreto nº 99.710/90, in verbis: “Todas as ações relativas às crianças, levadas a efeito
por instituições públicas ou privadas de bem-estar social, tribunais, autoridades administrativas ou órgãos legislativos, devem
considerar, primordialmente, o interesse maior da criança.”
Destaque-se que, como o dever de assegurar os direitos fundamentais da criança e do adolescente é
partilhado pela família, sociedade e Estado, conforme prescrição constitucional, o referido princípio não
se restringe à atuação das autoridades governamentais, mas estende-se a todas as condutas referentes aos
diversos atores sociais, as quais deverão ser tomadas levando em consideração o que é melhor para o infante.
Importante ainda observar que o que é de melhor interesse da criança ou adolescente não necessariamente
coincidirá com o desejo do mesmo.
Tal princípio tem sido bastante utilizado como base de fundamentação de diversos julgados, em
especial em decisões que tratam de colocação em família substituta, tema que será abordado futuramente.
Dessa maneira, na análise do caso concreto, o julgador por vezes, no momento de decidir uma querela
quanto à guarda ou adoção do infante, leva em consideração o que considera do melhor interesse para o
desenvolvimento adequado do infante, mesmo que contrário ao próprio desejo deste.
O princípio da municipalização é prescrição contida no Art.. 204 da CF/88, ao tratar das ações
governamentais na área da assistência social, e é pertinente à seara jurídica da infância e juventude em
razão do § 7º do já exaustivamente referido Art. 227 da CF/88. Remeta-se novamente à lição de Andréa
Amin (2010, p. 29-30):
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o Art. 227, § 6º da CF/88 regulamenta esta participação da população por meio de suas organizações
representativas, tanto na formulação como no controle das ações em todos os níveis.
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Referências
ALVES, Roberto Barbosa. Direito da Infância e da Juventude. São Paulo: Saraiva, 2005.
AMIN, Andréa Rodrigues. In MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade (Coord). Cur-
so de Direito da Criança e do Adolescente. 4.ed. Rio de Janeiro: Ed. Lumen Juris, 2010.
ARIÈS, Philippe. História Social da Criança e da Família. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1981.
CHAVES, Antônio. Comentários ao estatuto da criança e do adolescente. 2 ed. São Paulo: Ltr, 1997.
COSTA, Emília Viotti da. A Abolição. 1. ed. São Paulo: Global, 1986.
jf.estacio.br/revista/edicao06/EC06_politicas_publicas.pdf>.
VASCONCELOS, Arnaldo. Teoria da Norma Jurídica. 6. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2006.
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