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HISTÓRIA E FUNDAMENTOS DA PSICOPEDAGOGIA

Daniel Caraúna da MOTTA1

INTRODUÇÃO

"A palavra "Psicopedagogia", especialmente após 1990, começou a fazer parte dos
debates sobre educação escolar de modo intenso. Todavia, tal terminologia, ainda hoje,
tem sua história e significados perdidos em meio a discursos que em muito enfraquecem
o potencial científico dos estudos psicopedagógicos, fundamentalmente no campo da
educação escolar. Com base nessa observação inicial, este COMPÊNDIO APOSTILADO
tem o objetivo de resgatar a história (passada e presente) e o significado da
Psicopedagogia, bem como o papel de seu profissional, a partir de uma análise
bibliográfica que busca recuperar e unir os dados que se encontram dispersos na
literatura sobre o tema".

1 O QUE É PSICOPEDAGOGIA?

"A psicopedagogia é um campo de atuação em Saúde e Educação que lida com o


processo de aprendizagem humana; seus padrões normais e patológicos, considerando a
influência do meio _ família, escola e sociedade _ no seu desenvolvimento, utilizando
procedimentos próprios da psicopedagogia". (Código de Ética da Associação Brasileira de
Psicopedagogia)

Se consultarmos um dicionário clássico de termos técnicos encontraremos:

Psicopedagogia: Termo cujo aparecimento no início do século XX não pôde


causar admiração, de tal modo parecia evidente, na época, a privilegiada relação
da pedagogia com a psicologia, que era considerada renovadora do conhecimento
do sujeito da educação: a criança. No final do século, esse privilégio é contestado.
As realidades da educação dependem igualmente, e até mais, de uma
sociopedagogia, cuja ausência no inventário das ciências demonstraria a força de
ideologia psicologista. A psicopedagogia é uma das possíveis abordagens da
situação educacional, a que leva em consideração seus componentes
psicológicos: característicos dos indivíduos e dos grupos, relações professores-
alunos, articulação dos conteúdos e dos métodos com os processos
individualizados de aprendizagem, etc. (HOMELINE, apud DORON e PAROT,
1998; p. 634)

2 COMO E ONDE SURGIU

Quanto à possibilidade do resgate dos primórdios históricos dos fundamentos da


Psicopedagogia, é consenso a admissão da França como país pioneiro, porém podemos
deparar com duas datas distintas quanto aos seus primórdios factuais; apesar de ambas
apontarem à França como o país genitor, há duas datas divergentes com base no
julgamento dos fatos: uma que nos remete ao século XIX e a outra que data do século
XX.
1
Disponivel em: <http://www.artigonal.com/ciencia-artigos/fundamentos-da-psicopedagogia-4890392.html>
2.1 SÉCULO XIX

A idéia da gênese psicopedagógica do século XIX, é fundamentada no fato de que


no final desse século educadores pioneiros como Itart, Pereire, Pestalozzi e Leguin
começaram a se dedicar às crianças que apresentavam problemas de aprendizagem
devido a múltiplos fatores - período próximo a 1898, - quando Clarapéde e Neville,
introduziu na escola pública as "classes especiais", destinadas à educação de crianças
com retardo mental. Esta foi a primeira iniciativa registrada de médicos e educadores no
campo da reeducação. Outro fato importante quanto a data do século XIX, é que ainda
antes do seu termino, surgiu Seguin e Esquirol, dando ênfase à neuropsiquiatria infantil
que passou a se ocupar dos problemas neurológicos que afetam a aprendizagem. Nessa
época a psiquiatra italiana Maria Montessori criou um método de aprendizagem destinado
inicialmente às crianças com algum retardo, tendo como sua principal preocupação a
educação da vontade e a alfabetização, via estimulação dos órgãos dos sentidos –
(método sensorial).

2.2 SÉCULO XX

Entre 1904 e 1908 (século XX) iniciam-se as primeiras consultas médico-


pedagógicas, cujo objetivo era encaminhar crianças para as classes especiais. Mery
(1985) aponta esses educadores como pioneiros no tratamento dos problemas de
aprendizagem, observando, porém, que eles se preparavam mais pelas deficiências
sensoriais e pela debilidade mental do que propriamente pela desadaptação infantil.

Segundo Andrade (2004), a gênese da psicopedagogia teria acontecido na década


de 1920 (século XX), momento em que se instituiu o primeiro Centro de Psicopedagogia
do mundo. Ligado ao pensamento psicanalítico de Lacan, tal centro, de acordo com a
autora, fundamentou aquilo que posteriormente foi nomeado de Psicopedagogia Clínica.
Bossa (1994) e Masini (1993), por outro lado, apontam que a Psicopedagogia teria
nascido no ano de 1946, período em que se deu a criação dos primeiros Centros
Psicopegagógicos na Europa, em Paris, por Juliet Favez-Boutonier e George Mauco.

2.3 SURGIMENTO DO TERMO: Psicopedagógico

Conforme Masini et al. (1993), Mauco teria explicado que o termo


"psicopedagógico" foi utilizado na nomenclatura desses centros em substituição à
expressão "médico-pedagógico", já que os pais aceitavam mais facilmente encaminhar
suas crianças para consultas psicopedagógicas, do que médicas.

2.4 OBJETIVOS E FUNDAMENTOS PRIMÁRIOS

A Psicopedagogia iniciada nesses centros tinha entre os seus objetivos centrais


auxiliar as crianças e os adolescentes que apresentavam dificuldades de comportamento
(na escola ou na família), segundo os padrões da época, no intuito de reeducá-las para o
seu ambiente por meio de um acompanhamento psicopedagógico (BOSSA, 1994). A
prática da reeducação consistia em identificar e tratar dificuldades de aprendizagem, a
partir de ações de medição, de classificação de desvios e de elaboração de planos de
trabalho. A base do conhecimento utilizado provinha fundamentalmente da Psicologia, da
Psicanálise e da Pedagogia e o tipo de enfoque predominante era o médico-pedagógico.
Apesar das equipes desses centros serem formadas por profissionais de várias áreas
(psicólogos, psicanalistas, pedagogos, reeducadores de psicomotricidade, de escrita etc.),
era o médico o responsável pela realização do diagnóstico do sujeito (MASINI et. al,
1993). Por intermédio da investigação da vida familiar, das relações conjugais, das
condições de vida, dos métodos educativos, dos resultados dos testes de QI da pessoa,
ele dava a orientação sobre o tipo de tratamento cabível, visando corrigir a falta de
adaptação detectada no sujeito.

2.5 AMPLIAM-SE OS OBJETIVOS

2.5.1 Diagnóstico

Em 1948, para além da consideração dos casos de problema de comportamento, o


estudioso Maurice Debesse inseriu, ainda, como preocupação psicopedagógica, a
ocorrência de crianças e adolescentes que, embora fossem considerados inteligentes,
apresentavam problemas de aprendizagem. Nesses casos, o tipo de atuação privilegiada
também era de cunho médico-pedagógico e o objetivo da ação era diferenciar esses
sujeitos daqueles que possuíam deficiências físicas, mentais e ou sensoriais, (diagnóstico
limitado) bem como lhes possibilitar ações reeducadoras que contribuíssem para o
desaparecimento de seus sintomas. Segundo Drouet (1995), esse tipo de atuação
recebeu o nome de "Psicopedagogia Curativa" ou "Pedagogia Curativa" e designava,
além de uma ação de reeducação especializada, exercícios de readaptação. Embora,
desde a década de 60, vários pesquisadores não concordassem com essa conceituação
diagnóstica, tal enfoque perdurou na história da Psicopedagogia por muito tempo, vindo a
influenciar os cursos de formação que se seguiram na área, bem como o desenvolvimento
do campo psicopedagógico na Argentina.

3 DESENVOLVIMENTO DA PSICOPEDAGOGIA NA ARGENTINA

3.1 ARGENTINA

Na Argentina, as primeiras influências psicopedagógicas surgem no final dos anos


50, segundo Fernández (1990, p. 130), "[...] em função dos altos índices de insucessos
escolares provocados especialmente pela inadequação didático-metodológica, pela
expansão demográfica do pós-guerra, pela evasão e repetência escolar". Diante desses
fatos passa-se a investir em estudos com objetivos de desenvolver a memória, a
percepção, a atenção, a motricidade e o pensamento. Estes fatores, dentre outros,
impulsionaram a necessidade da formação de profissionais qualificados nesse país.

A Psicopedagogia Argentina é bem marcada por autores franceses como Jacques


Lacan, Maud Mannoni, Fraçoise Dolto, Júlian de Ajuriaguerra, Janine Mery, Michel Lobrot,
Pierre Vayer, Maurice Debesse, René Diatkine, George Mauco, Pichón-Riviére etc.
3.2 PRIMEIRO CURSO UNIVERSITÁRIO EM PSICOPEDAGOGIA

Embora a França tenha sido o berço da psicopedagogia, foi na Argentina em


Buenos Aires que foi instituído a primeira faculdade de psicopedagogia, no ano de 1956.

Ocorre também nesse país, a criação dos primeiros Centros de Saúde Mental por
volta dos anos 70. Eles se localizavam em Buenos Aires e possuíam equipes de
psicopedagogos que atuavam no diagnóstico e no tratamento dos casos, com ênfase em
trabalhos de reeducação de psicomotricidade e escrita, desenvolvendo assim a atuação
clínica. Alguns anos depois, percebe-se a importância de também permitir que o aluno se
expressasse e falasse de suas angustias, desejos, medos, dores e necessidades sem
que apresentasse receio de ser julgado ou criticado. O que causa uma mudança na
atuação do psicopedagogo, que passa a ouvir não só o aluno, mas compreender o seu
convívio social e familiar. A observação e validade desses fatos trouxeram
esclarecimentos à compreensão da pluricausalidade que envolve esse fenômeno
chamado - educação.

Já na segunda metade do século XX surgem os primeiros centros de reeducação


para delinqüentes infantis e juvenis. Nos Estados Unidos cresce o número de escolas
particulares e de ensino individualizado para crianças de aprendizagem lenta.

3.3 SURGE A ESCUTA PSICOPEDAGÓGICA

Maria Regina Peres (2008) citando Fernández (1990) expõe que através dos
fatores citados nas paginas anteriores é que surge a chamada "escuta
psicopedagógica", que tem sua origem no "olhar" e na "escuta clínica" da Psicanálise. O
que contribuiu para a reorganização da psicopedagogia na Argentina ampliando seus
trabalhos tradicionais restritos na área da saúde para os também desafiantes trabalhos na
área da educação.

Nesta nova modalidade de ação o psicopedagogo passa a atuar sob a ótica de


identificar possíveis dificuldades de aprendizagem e diagnosticar os possíveis problemas
dela decorrentes. Para tal, o psicopedagogo argentino pode recorrer a um variado número
de testes, como, dentre outros citamos: teste de inteligência, os projetivos, os
psicomotores, que na Argentina são liberados tanto ao uso do psicólogo como do
psicopedagogo.

3.4 EXPANSÃO NOS CAMPOS DE ATUAÇÃO

Segundo Muller et al. (2000) a psicopedagogia argentina segue a tendência


européia que, dentre outras questões, valoriza o dialogo interdisciplinar entre as varias
áreas do conhecimento, sendo influenciada diretamente pelos conhecimentos da
psicologia social. Com isso, se considera a importância das relações interpessoais,
sócio/culturais, políticas, econômicas e outras no processo educacional. Também se
passa a enfatizar a idéia de que o processo educacional não pode se restringir apenas à
aprendizagem de conhecimentos escolares, mas sim na busca de construção de sentidos
para a vida. Diante desta perspectiva, novos campos de atuação ganham espaço na
atividade do psicopedagogo, dentre elas atividades psicopedagógicas:

Com grupos de terceira idade;

• com vitimas da violência;


• com grupos considerados socialmente excluídos;
• com jovens adictos (dependente químico);
• atendimento clínico particular e em hospitais;
• em organizações com problemas de recursos humanos em questões de adaptabilidade
social, convivência, bloqueios de desempenho, liderança, seleção de pessoas etc.

4 A PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL

O contexto que originou o surgimento da psicopedagogia no Brasil foi semelhante


aos de outros países, ou seja, as situações de insucessos escolares.

No Brasil perdurou durante algum tempo a crença de que os problemas de


aprendizagem tinham como causa fatores orgânicos. Podemos verificar essa concepção
organicista de "problema de aprendizagem" em vários trabalhos que tratam da questão
como "distúrbio", onde em geral a sua causa é atribuída a uma disfunção do sistema
nervoso central. Em 1970, por exemplo, foi amplamente divulgado o trabalho dos
brasileiros Antonio Lefèvre (médico) e sua esposa Beatriz Lefèvre (pedagoga). Eles
trabalharam com crianças agitadas, que apesar do bom potencial de inteligência, rendiam
de modo inadequado nas atividades escolares. Essas crianças que hoje são
denominadas com Déficits de Atenção (com e sem hiperatividade) eram consideradas
portadoras de Disfunção Cerebral Mínima (D.C.M.).

Devido à proximidade geográfica e ao acesso fácil à literatura (inclusive pela


facilidade dos brasileiros compreenderem o espanhol), as idéias dos argentinos muito
influenciaram e têm influenciado nossas práticas. O movimento da Psicopedagogia no
Brasil remete-nos portanto à Argentina e por conseqüência às influências da França.

A psicopedagogia, tal qual proposta por este movimento é ainda ensinada no Brasil
por muitos argentinos, além disso, autores argentinos escreveram os primeiros artigos,
resultando dos primeiros esforços no sentido de sistematizar um corpo teórico próprio da
psicopedagogia. Vale citar: Sara Paín, Jorge Visca, Alicia Fernández etc.

O famoso psicopedagogo argentino Jorge Visca, recentemente falecido


(2000/2001), ao criar a Epistemologia Convergente (Visca 1987) na clínica
psicopedagógica, assunto que estudaremos detalhadamente em Psicopedagogia
institucional I, fez convergir a Psicanálise de Freud, a Epistemologia Genética de Piaget e
a Psicologia Social de Enrique Pichon Riviere, o que causou um grande salto nas práticas
psicopedagógicas inclusive em nosso país (Brasil) e que perduram até os dias atuais.

5 FUNDAMENTAÇÃO PSICOLÓGICA
Quando se fala sobre as fundamentações psicológicas da psicopedagogia se pensa
basicamente no desenvolvimento e aprendizagem do ser humano. Os autores mais
influentes que contribuíram para a esta fundamentação foram:

• Jean Piaget (epistemologia genética),


• David Ausubel (Teoria da aprendizagem singnifitcativa),
• Jerome Bruner (Teoria dos formatos),
• Lev Vygotsky (Teoria sócio-histórica-cognitiva),
• Sigmund Freud (Teoria do inconsciente),
• Call Rogers (Teoria humanista),
• Paulo Freire (Pedagogia do amor) etc.,
• e na educação especial ou inclusiva, temos Mary Warnock (trabalho voltado para a
atenção a adversidade).

6 INTERDISCIPLINARIDADE NA PSICOPEDAGOGIA

A atuação psicopedagógica como a sua eficiência e eficácia em determinadas


situações perpassa pela interdisciplinaridade de vários conhecimentos como:
neuropsicologia, neuromotricidade, fonoaudiólogo, psicanálise, medicina, etc., e
não apenas a pedagogia e psicologia como alguns podem pensar. A práxis
psicopedagógica apresenta propostas educacionais que convidam a criança a participar
ativamente de seu processo de aprendizagem, o que configura a necessidade de uma
mudança qualitativa no ensinar e no aprender. O aprender vivido de forma mais integrada
propõe intrínsecas e extrínsecas {questões} à aquisição do conhecimento.

Segundo Visca (1987), a psicopedagogia nasceu com uma ocupação empírica pela
necessidade de atender crianças com dificuldades de aprendizagem, cujas causas eram
estudadas pela medicina e psicologia. Com o decorrer do tempo, o que inicialmente foi
uma ação subsidiária destas disciplinas, foi se perfilando como um conhecimento
independente e complementar, possuidor de um objeto de estudo (o processo de
aprendizagem) e de recursos diagnósticos, corretores/tratamento e preventivos próprios.

7 MULTIDISCIPLINARIDADE PSICOPEDAGÓGICA

Geralmente, o caráter multidisciplinar da Psicopedagogia se revela pelo número de


graduações diferenciadas que freqüentemente comparecem a tal curso: pedagogos,
psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, licenciados,
médicos (pediatras, psiquiatras, neurologistas etc.).

8 PROPOSTA PSICOPEDAGÓGICA

O especialista em Psicopedagogia pode atuar tanto em nível clínico quanto


institucional, pois ele se propõe compreender e atuar nos vínculos presentes entre o ato
de ensinar e a ação de aprender, assim como nas possíveis barreiras que impedem seu
fluir harmonioso. Para Fagali (1987) a proposta de Psicopedagogia é trabalhar
basicamente com as relações afetivas ocorridas durante a aprendizagem, de modo a
garantir que o sujeito seja criativo, espontâneo, perseverante e transforma-dor ao
trabalhar seu próprio pensamento.

9 OBJETO DE ESTUDO

A Psicopedagogia então passa a ser um ramo do conhecimento aplicado que estuda a


conduta humana em situações sócio/educativas como também dos processos de
aprendizagem a partir da contextualização teórica-prática de várias ciências. A ela se
interrelacionam a psicologia evolutiva, psicologia da aprendizagem, psicologia da
educação, didática, epistemologia, psicolingüística etc. São importantes sua atuação nos
campos da:

• educação especial,
• terapias educativas,
• avaliação curricular,
• programas educativos e,
• política educativa.

10 ATIVIDADES PSICOPEDAGÓGICAS

O psicopedagogo, para Allessandrini (1996), pode:

• reprogramar projetos educacionais, facilitadores de uma aprendizagem mais dinâmica


e significante;
• supervisionar programas, treinando educadores e atuando junto a profissionais de
educação;
• aprimorar a qualidade de aprendizagem do sujeito que apresenta dificuldades
escolares.

11 CAMPOS NORTEADORES DA AÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

Fernández (1987), no livro "Inteligência Aprisionada", Pinel (2001/2002) sugere que


o discente deve ser considerado em quatro aspectos: seu ORGANISMO, seu CORPO,
seu DESEJO e sua INTELIGÊNCIA.

O aluno/a deve ser abordado/a no seu ser total, que envolve o ORGANISMO,
o CORPO, o DESEJO e a INTELIGÊNCIA.

• O ORGANISMO deve ser entendido no seu funcionamento – normal ou não


– fisiológico. Doenças perturbam a aprendizagem, a dor – física etc. Entretanto,
deficiências físicas, em si mesmas não são anormais, mas sim a sociedade onde este
organismo está inserido, pois é a sociedade que não apresenta pré-requisitos para a
inclusão do diferenciado. A sociedade foi e é construída para uma maioria dominante, e
para uma elite dominante.
• Quanto ao CORPO deve ser apreendido o modo como o aluno se percebe. Também:
Como o corpo discente se percebe e se movimenta no espaço? Qual o seu Esquema
Corporal: Imagem e Conceito Corporal? Como o corpo é introjetado pelo discente:
introjeção das partes do corpo e todo o corpo? Quais reações da pessoa frente ao
espelho? Etc.
• Poderíamos falar em motivação, em demanda, em necessidade, em vontade do
discente. Recorremos ao termo DESEJO do aluno/a. Qual a sua vontade de sentido?
Qual a sua motivação mais profunda, o seu querer, a sua auto-estima, as suas forças e
fragilidades? etc.
• Finalmente a INTELIGÊNCIA é o aspecto não mensurável do desenvolvimento
cognitivo. Pode ser até avaliado por intermédio de Testes de Inteligência – utilizados
em termos clínicos, ou seja: qualitativos. A inteligência refere-se a capacidade do
aluno/pessoa solucionar os desafios que se interpõem à sua frente, no seu cotidiano de
ser. O modo como ele aborda - criativo ou não – os problemas, solucionando-os ou
não.

Dentro desse contexto psiconeurológico, os distúrbios biológicos do crescimento e


do desenvolvimento que for capaz de interferir prolongadamente no METABOLISMO
refletem de modo negativo no crescimento e desenvolvimento.

12 MODELOS DE ABORDAGEM

a) Abordagem psiconeurológica

Abordagem fundamentada na biologia, psicologia e processos educativos e de


treinamento. Pinel (2001/2002) estudou as bases neurais da aprendizagem/
desenvolvimento, buscando compreender alguns mecanismos psicofisiológicos e
neuropsicológicos associados aos aspectos cognitivos. Destaca Pinel (2001/2002; p.108)
que é importante ao estudioso da Psicopedagogia uma atitude de compreensão e esforço
intelectual na pesquisa do aluno com dificuldades de aprendizagem escolar.

Os principais fatores podem ser agrupados em:

1. Disfunções endócrinas: Ex.: Nanismo hipofisário e tireoidiano; gigantismo; puberdade


precoce etc.

2. Fatores genéticos: Ex.: Acondroplasia; síndrome de Down; síndrome de Turner etc.

3. Desnutrição: o mecanismo de desnutrição gera um atraso no desenvolvimento-


aprendizagem, e esse é muito complexo e inclui a formação escassa de somatomedina C.

4. Doenças crônicas: essas doenças, quando de longa duração perturbam o


metabolismo, atrasando o crescimento. Como é o caso da insuficiência digestiva e de
certas afecções renais, pulmonares e cardíacas.

5. Dificuldades emocionais no berço familiar: conflitos e violências no lar; o modo de


ser da criança diante do alcoolismo paterno, por exemplo, e o sentimento da criança
diante dos jogos psicopatológicos da família; abuso sexual etc.) e infecções freqüentes
(verminoses e intoxicações etc.) também prejudicam o desenvolvimento/aprendizagem.

Podemos considerar ainda como sexto (6º fator) as características físicas de


uma criança que podem estimular seus familiares, coleguinhas, professores e outras
pessoas significativas em sua vida-vivida, a criar, de modo fantasioso, a respeito dela,
uma imagem marcada pelos estigmas, estereótipos e preconceitos. Muitas vezes, esses
algozes são destruidores do ser, e então persistem nas condutas e atitudes prejudiciais
ao crescimento do individuo.

b) Abordagem neuropsiquiátrica

Abordagem fundamentada na medicina e medicalização dos problemas de


aprendizagem. Pode haver exageros nessa área, como a prescrição de tratamento
medicamentoso a base psicotrópicos como antidepressivos, ansiolíticos etc., para
crianças com problemas comuns de atenção escolar. Nesse caso é adequado consultar
um médico com residência em neurologia, e com compreensão do movimento inclusivo.

c) Abordagem comportamental

Abordagem fundamentada nos trabalhos de laboratório de Psicologia experimental


de Watson (Behaviorismo Metodológico) e B.F. Skinner (Behaviorismo Radical). O
enfoque está na observação e descrição clara dos comportamentos inadequados, a
identificação daquilo que mantém (reforço/recompensa) esse comportamento
desviado/patológico – segundo o contexto do meio - e a intervenção de modificação, por
meio de técnicas de controle do comportamento e a instalação de um novo e mais
adequado comportamento.

Programas psicopedagógicos como a ANÁLISE DE TAREFAS (Pinel, 1987)


utlizam-se das propostas do neobehaviorismo de Madame Jordam. Filosoficamente o
behaviorismo é condenável, pois defende a tese que o homem é uma tabula rasa, sem
história e dele fazemos o que quizermos, a nosso bel prazer. Entretanto, mesmo
psicólogos sócio-históricos como Bock et al.; tem defendido as benesses desses
treinamentos para a Psicologia do Excepcional.

d) Abordagem Fenomenológica

O mais importante nessa abordagem são as atitudes e posturas do cuida(dor). É


vital o envolvimento existencial com aquilo que se põe ao meu ser Total (Holismo) e o
necessário distanciamento reflexivo da coisa mesma, e então apreender o sentido ou o
significado do que é vivido pelo outro/orientando.

Heidegger e Sartre são dois filósofos que fundamentam tais práticas. Viktor Emil ou
Emmanuel Frakl, Medard Boss, Binswanger, Franz Rúdio, J. Wood/ Doxsey et al.,
Angerami-Camom e Pinel são alguns psicólogos, que fundamentados nos filósofos,
recriaram alternativas de diagnóstico, prevenção e tratamento psicopedagógico.

OBSERVAÇÃO: Outro campo norteador da Psicopedagogia é a abordagem da


Epistemologia Convergente de Jorge Visca e os trabalhos projetivos, que tamanha sua
importância estaremos estudando com profundidade em outras disciplinas.

13 FUNDAMENTOS PSICANALÍTICOS

Em relação as colaborações da Psicanálise de Freud, é importante que se estude


as seguintes categorias psicanalíticas: inconsciente; transferência; contra-transferência,
bloqueios, sistemas de defesa etc., e que será (psicanálise) nosso objeto de estudo para
aquisição de conhecimentos e sua importante aplicabilidade na psicopedagogia, e que
para tal, teremos uma disciplina unicamente com essa finalidade (Contribuições da
Psicanálise Para a Psicopedagogia).

14 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DA PSICOPEDAGOGIA

Aspectos filosóficos da psicopedagogia podem ser compreendidos pelos mais


diversos enfoques. Poderíamos estudar Heidegger e Sartre, por exemplo, que embasam
psicólogos em algumas práticas psicopedagógicas fenomenológicas existenciais.

Neste tópico, entretanto estaremos nos referindo à filosofia da inclusão. Para


alcançar esse objetivo recorreremos a Correia (1999), a André et al (1999) e um texto
organizado por Carvalho (1997).

15 FILOSOFANDO A PSICOPEDAGOGIA COMO FATOR DE INCLUSÃO SOCIAL

As sociedades têm, ao longo da história, utilizado de recursos punitivos para


pessoas que "ousam" ou são diferentes, bem como agridem simbólica ou concretamente
pessoa com necessidades (de saúde; educação; de afeto; de alimentação etc.) especiais
e o aluno com necessidades educativas (Adaptação Curricular: individual e/ou grupal)
especiais.

Ser portador de deficiência nunca foi fácil. Não se aceita o diferente e suas
diferenças. Pode-se esconder essa diferença, tanto melhor, pois a sociedade é hipócrita e
finge que não vê a dor do outro que não pode dizer a que veio! Com base nos padrões de
normalidade estabelecidos pelo contexto sociocultural, legitima-se a ideologia do domina-
dor. Assim, desde a Antiguidade até os nossos dias, as sociedades demonstram
dificuldade em lidar com o diferente, as diferenças, aquilo que é novo.

Todos resistem ao que é ameaça-dor à nossa estrutura de personalidade, ao nosso


pretenso e harmonioso ser. A humanidade tem toda uma história para comprovar como os
caminhos das pessoas com deficiência têm sido repletos de obstáculos, riscos e
limitações. O que observamos é o quanto tem sido difícil a sobrevivência do ser, seu
desenvolvimento e sua convivência (consigo mesmo e para com a sociedade).

Pessoas nascem com deficiências em todas as culturas, etnias e níveis sócio-


econômicos e sociais, e de "perto são pessoas" (gente como a gente: o que é humano
não nos pode ser estranho) e se olharmos bem, também portamos temporária ou
definitivamente nossos déficits. Somos diferentes e temos o direito de expressá-la.

A forma de conceber a deficiência e de lidar com seus portadores tem variado ao


longo dos séculos. Atualmente, os preconceitos ainda existem em diferentes graus.

Os mitos são perpetuados - em detrimento dos fatos científicos - as contradições


conceituais prevalecem, assim como as atitudes ambivalentes, as resistências, a
inquietação e as muitas formas de discriminações. Isso acontece, não que seja um sinal
dos tempos modernos, nem dos avanços contemporâneos do conhecimento, nem da
evolução dos costumes ou dos valores essenciais do homem ou algo da "monstruosidade
que é a pós-modernidade", justo ela que propões a convivência na diversidade do ser! Ao
contrário, os preconceitos, estigmas e estereótipos tem raízes psicológicas, psicanalíticas
(inconscientes), históricas e culturais. As atuais posturas discriminativas fortaleceram-se
no tempo, no equívoco compartilhado e transmitido culturalmente.

A evolução da concepção de deficiência sofreu alguma evolução, entretanto,


vivenciamos, ainda, uma fase assistencialista. Nesta etapa a pessoa diferente é vista
como aquela que precisa de ajuda. Há, nesse sentido, as pessoas que se dedicam a esse
atendimento, fazendo-o (e aí é o assistencialismo) de forma caritativa, negando que o ser
diferente deve ser incluído, aceito com suas diferenças.

Ser da Inclusão significa isso: conviver saudavelmente com as diferenças.

Saudável é entrar em conflito, sem deixar de respeitar e advogar ali mesmo há


diferenças e necessidades educativas ou outra necessidade que clamam por serem
satisfeitas.

Na visão da caridade, os ajuda-dor-es não reconhecem o impacto do social e


político no ser. Tais caridosos devem ser cuidadosamente cuidados, pois podem ser
perigosos, pois sua atuação tende a "calar" a voz do oprimido, gerando nele culpa e
subserviência a quem doa alimentos, roupas etc. Obviamente é que em um país em crise
como o Brasil, é essencial assitir, mas ao fazê-lo é vital que se faça com dignidade,
reconhecendo no outro seu direito de cidadão de receber o que lhe é concreta ou
simbolicamente tirado, usurpado!

Os técnicos, mesmo os especializados são vistos como beneméritos, e as pessoas


que se dedicam como voluntárias à causa dos portadores de deficiência, as que criam as
instituições e lutam pela sua manutenção, costumam ser exaltados pelo seu espírito
humanitário. (Carvalho, 1997; p.19).

Porque exaltar?

Muitos desses beneméritos abatem, com suas ações, no imposto de renda. Muitos
ainda ganham tanto, e tanto, que o mínimo que a sociedade espera deles é sua
contribuição, o seu retorno e não depósitos em bancos suíços!

Goffman escreveu um excelente livro chamado "Estigma" e Foucoult escreveu


"Vigiar e Punir". Esses livros valem a pena serem lidos, estudados. A leitura servirá para
se compreender os modos como as pessoas diferentes são tratadas, abordadas... Nestes
livros podemos detectar, sem entrarmos em detalhes, que:

a) as pessoas diferentes ainda são identificadas e socialmente rotuladas;

b) tende-se a generalizar as suas limitações e a minimizar as suas limitações e a


minimizar os seus potenciais;

c) a diferença está sempre tão presente e enfatizada para o seu portador (porta a dor?) e
para os que o cercam, que justifica os seus sucessos e fracassos, os seus atos e
realizações.

Para se chegar à filosofia inclusiva e a luta atual para a sua efetivação prática, a
sociedade passou pela exclusão, segregação, institucionalização, integração e
inclusão. A integração propunha (na prática) a colocação do aluno diferente ou com
necessidades educativas especiais em sala comum, sem reconhecer-lhe as diferenças,
sem propor modificações quer na instituição, na organização, quer no desenvolvimento do
processo ensino-aprendizagem.

Hoje, no Brasil, a inclusão é garantida pela Constituição Federal. Entretanto, desde


1986, no mundo, esse tema é discutido, pelo menos quando utilizamos o termo inclusão.

Madeleine Will, Secretária de Estado para a Educação Especial dos Estados


Unidos da América, fez um discurso que apelava para uma mudança radical no que dizia
respeito ao atendimento das crianças com n.e.e. (Necessidades Educativas Especias)
e em "risco educacional" (de rua; sob domínio de Ganges, drogadas e prostituídas etc).

Dizia ela que, dos 39 milhões de alunos matriculados em escolas públicas, cerca
de 10% eram alunos com n.e.e. e que outros 10 a 20% embora fossem considerados com
n.e.e., demonstravam problemas de aprendizagem e comportamento que interferiam com
a sua realização escolar.

A solução para Will passava por uma cooperação entre professores - do ensino
regular e de educação especial - que permitisse a análise das necessidades educativas
dos alunos com problemas de aprendizagem e o desenvolvimento de estratégias que
respondessem a essas mesmas necessidades. Essa proposta consagrou-se como
princípio da filosofia de inclusão.

Nesse sentido é cada vez maior o número de pais e educadores que defendem a
integração (no sentido mesmo da inclusão) da criança deficiente na classe regular,
incluindo as deficientes mentais severas ou profundas. Afirma-se que as necessidades
educativas dos alunos não devem requerer um sistema dual, pois ele pode fomentar
atitudes injustas e desapropriadas em relação à sua educação.

Em junho de 1994, realizou em SALAMANCA, na Espanha, a "Conferência


Mundial sobre necessidades educativas especiais (N.E.E): Acesso e Qualidade". Esse
evento inspirou-se no "princípio da inclusão" e no reconhecimento da necessidade de
atuar com o objetivo de conseguir escola para todos, instituições que incluam todas as
pessoas, aceitem as diferenças, apoiem a aprendizagem e respondam as necessidades
educativas especiais individuais e em pequenos grupos.

Segundo a maioria dos especialistas, a inclusão significa atender o aluno com


N.E.E, incluindo aquele com N.E.E severas, na classe regular com o apoio de serviços
especiais pertencentes à educação especial (sala de apoio, de recursos e/ou consultórios
ou sala de psicopedagogia, por exemplo, dentro ou fora da escola). Entretanto para
efetivar a inclusão é necessária a participação total do Estado, bem como da comunidade,
da escola, da família e finalmente do aluno.

Todo o sentir-pensar-agir a inclusão na escola, junto ao aluno com N.E.E., tende


estimular o seu desenvolvimento nos planos acadêmicos, sócio-emocional e pessoal.
Nem sempre esta tarefa é fácil, mas existem relatos técnicos-científicos onde se
desenvolveram os sucessos como os encontrados em André et al. (1999). Entretanto
quando se lê a DECLARAÇÃO DE SALAMANCA o que se checa é um texto legal -
situado no plano ideal – cheio de "discursos" que não chegam à prática. Tal como toda
boa lei, sua cristalização está se processando de modo muito lento.

Para essa temática vale a pena ler:


Mantoan (2003): Inclusão Escolar: O que é? Por quê? Como fazer? – Editora
Moderna.

• Bader SAWAIA et al: As artimahas da exclusão. Ed. Vozes.


• José Leon Crochík: Preconceito. Robe Editorial.

16 A ATUAÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA

"Entende-se como atendimento psicopedagógico clínico a investigação e a


intervenção para que se compreenda o significado, a causa e a modalidade de
aprendizagem do sujeito, os seus significados semióticos, com o intuito de sanar suas
dificuldades".

O foco da psicopedagogia clinica é o vetor da aprendizagem.

A psicopedagogia clínica procura compreender de forma global e integrada os


processos cognitivos, emocionais, sociais, culturais, orgânicos e pedagógicos que
interferem na aprendizagem, a fim de possibilitar situações que estimulem e resgatem ou
ativem o prazer de aprender em sua totalidade, incluindo a promoção da integração entre
pais, professores, orientadores educacionais e demais especialistas que transitam no
universo educacional do "ser".

16.1 Relação com o cliente/aluno

Quando nos referimos ao(s) cliente(s) das práticas clínica psicopedagógicas nos
portamos a qualquer pessoa que necessite dos benefícios dessa prática, que geralmente
apresentam determinadas dificuldades relacionadas à aprendizagem, o que nos remete
como público alvo àqueles que fazem parte do universo educacional escolar, que em
geral, são crianças de qualquer idade encaminhadas por seus responsáveis com queixas
de dificuldades na aprendizagem. Assim, na relação com o aluno ou com seu cliente, o
profissional da psicopedagogia clínica em espaço clínico particular ou não, estabelece
uma investigação cuidadosa, que permite levantar uma série de hipóteses indicadoras
das estratégias capazes de criar a situação terapêutica que facilite uma vinculação
satisfatória mais adequada para a aprendizagem. Ao lado deste aspecto mais técnico,
esse profissional também trabalha a atitude, a disponibilidade e a relação com a
aprendizagem, a fim de que o aluno/cliente torne-se o agente de seu processo (o
aprender), aproprie-se do seu saber, alcançando autonomia e independência para
construir seu conhecimento e exercitar-se na tarefa de uma correta auto-valorização de
modo a alcançar o máximo possível de seu potencial.

No ensino público, uma das opções para a realização da atuação clínica seria o
serviço público de atendimento, onde os profissionais da psicopedagogia poderiam
contribuir com uma visão mais integrada de aprendizagem e, conseqüentemente, com a
aprendizagem reconduzindo e integrando o aprendizado do processo normal de
construção de conhecimento, contando com melhores condições para detectar com
clareza os problemas de aprendizagem dos alunos, atendendo-os em suas necessidades
e contribuindo para sua permanência no ensino regular.
16.2 PARA R RELFETIR:

Quando se refere ao termo APRENDIZAGEM quanto objeto de estudo e atuação


do psicopedagogo pode-se incorrer no risco de acentuar as abrangências das práticas
dessa profissão. Condicionar a atuação do psicopedagogo quanto a tudo que abranja o
ato de aprender seria como não limitar sua atuação, considerando que a aprendizagem
esta contida em todos os aspectos do viver. Assim, quando se apresenta dificuldades
para aprender a nadar, dirigir, tocar um determinado instrumento ou mesmo uma
profissão a qual profissão estaria vinculada a tentativa de resolução desses problemas?
Apesar de cada profissão ter sua área de abrangência definida, seria incoerente não
admitir a interdisciplinaridade da dissolução da diversidade de desafios que a vida nos
apresenta.

Considerando os dados dos séculos XIX e XX como primórdios históricos do


surgimento da psicopedagogia como relacionada às dificuldades de aprendizagem no
âmbito escolar, e a consideração do estudo etimológico do termo como segue: "psico" de
psicologia; (gr. Psiquê) = mente + logia (gr. Logos) estudo + pedagogia (gr. Paidagogós)
= instruir, conduzir, orientar a criança.

A psicopedagogia poderia ser compreendida como área do conhecimento voltada a


observar, descrever, analisar, avaliar, desenvolver e empregar técnicas que estimulem o
ato de ensinar e o desejo pelo aprender, minimizando o surgimento de problemas e
apontando intervenções para dissolução de dificuldades da aprendizagem já instaladas.

Nesse caso, busca ensinar e instruir a criança através de técnicas


comportamentais , verbais e não-verbais que estimulem os aspectos físico/motor e
psicológico que corrijam as dificuldades ou facilitem sua aprendizagem.

Com base nesses poucos dados, poderia se concluir que a atividade do


psicopedagogo abrange áreas do conhecimento concernentes às questões "a tudo"
relacionadas às dificuldades de aprendizagem referentes a questões da aquisição do
conhecimento acadêmico, através do emprego de técnicas também psicológicas e que
por sua vez teria como publico alvo (não limite) as crianças.

Levantamos aqui um questionamento: O psicopedagogia cuida das dificuldades de


aprendizagem da criança, das dificuldades instaladas na criança, da criança com
determinadas dificuldades ou das possíveis dificuldades que podem surgir na infância e
se estender por outras fases da vida? A resposta às estas indagações pode determinar os
limites de sua atuação. No entanto, é compreensivo que dificuldades apresentadas na
infância possam também ser instaladas ou acompanhar o ser em toda sua fase de
desenvolvimento, assim, o público se tornaria universal. Com tudo, como se trata de
dificuldades diversas, a existência da interdisciplinaridade será uma verdade. O que
significa que: a dissolução ou minimização de determinadas dificuldades quanto ao
aprender, considerando possibilidades de variadas junções que podem dificultar o ato,
tanto o psicopedagogo pode recorrer ao auxilio de outros profissionais que
complementam e integram sua atividade, como, outros profissionais de áreas diversas
solicitar o auxilio psicopedagógico. Dessa forma, por exemplo: a pessoa com dificuldades
de aprendizagem quanto ao ato de nadar, teria um duplo apoio profissional, se assim
exigisse o caso – o professor de natação auxiliado, pelas técnicas psicopedagógicas
orientadas por um psicopedagogo, teria conhecimento quanto às melhores práticas
relacionais a aprendizagem poderiam ser adaptadas ao ato de "ensinar" a "aprender a
nadar" contribuindo assim para a aceleração de tal aprendizagem.
Conclui-se, pois, que a psicopedagogia apesar de ter como foco de estudo as
questões relacionadas à aprendizagem, ao mesmo tempo em que se limita às
dificuldades do aprender, mais especificamente, no ambiente escolar com base na
interdisciplinaridade se expande com tudo que envolve a aprendizagem.

17 A ATUAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA INSTITUCIONAL

A psicopedagogia assume um compromisso com a melhoria da qualidade do


ensino expandindo sua atuação para o espaço escolar, atendendo, sobretudo, aos
problemas cruciais da educação.

Na escola, o profissional da psicopedagogia utiliza instrumental especializado,


sistema específico de avaliação e estratégias capazes de atender aos alunos em sua
individualidade e de auxiliá-los em sua produção escolar e para além dela, colocando-os
em contato com suas reações diante da tarefa e dos vínculos com o objeto do
conhecimento. A meta é sempre resgatar de modo prazeroso o ato de aprender.

A psicopedagogia institucional pode ser compreendida de dois modos:

1. Trabalhando a escolaridade "in loco" escolar, tal como sugere Fagali e vale (1999);

2. Trabalhando a instituição enquanto aparelho e estrutura resistente à mudança, pois


tende a legitimar a ideologia dominante: Por que o aluno não aprende? Por que ele nega
o ato de estudar? Por que um aluno com potencial mental bem estruturado apresenta
dificuldade com a aprendizagem acadêmica?

Esse primeiro modo engloba a tarefa clínica. Clinicar significa cuidar do outro que,
explícita ou implicitamente, sofre. O clínico, na instituição, contribui com o diagnóstico e
intervenção frente às dificuldades do aluno em relação à aprendizagem. Aqui cabe uma
observação, pois compreendemos o diagnóstico, se bem efetuado, como um processo de
intervenção que gera mudanças no próprio ser do aluno/cliente!

No modo institucional-escolar o profissional da psicopedagogia procura refletir


sobre a aprendizagem do aluno, na relação com a informação e os conceitos em
diferentes áreas do conhecimento, buscando os diagnósticos e ampliação da prática em
sala de aula, junto a professores e pedagogos. Assim, na psicopedagogia institucional os
trabalhos em salas de aula, salas de apoio e/ou salas de recursos contaminam os outros
profissionais da instituição. Como esses profissionais são agentes que fornecem sentido à
instituição, a proposta psicopedagógica acaba por ser institucional. Esse trabalho é um
novo espaço, onde se aprofundam as questões sobre as dificuldades de aprender e com
isso, vai construindo para a instalação da intervenção preventiva: os profissionais da
psicopedagogia passam a sentir-pensar-agir novas ações frente aos aprendizados dos
conceitos, na escola. Nesse contexto, o profissional da psicopedagogia facilita a
ampliação e a abertura para novas construções onde estejam presentes a integração
cognitivo-afetivo-social e a transdisciplinaridade. O educador passa, nesse processo
dialético, a rever o seu próprio processo de aprender. O profissional de psicopedagogia
contribui intelectual, mas principalmente com vivências e práticas por meio de oficinas,
por exemplo.
No segundo modo, encontramos respaldo em Guirado (1987) que trabalha com a
psicologia institucional de José Bleger, Georges Lapassade, René Lourou e Guilhon de
Albuquerque. A análise institucional, modo de atuar do psicopedagogo institucional, pode
ser compreendida de três modos:

1. disciplina que se detém em estudar e penetrar nas entranhas institucionais


(relações de poder; ideologia etc.);
2. política de intervenção psicosociopedagógica em instituições, organizações, grupos
etc;
3. movimento destinado a planejar, executar/desenvolver e avaliar programas de
intervenção objetivando transformar a realidade, pois dificilmente sob determinados
pontos de vistas teóricos, é impossível, nessa estrutura atual, mudar a realidade de
modo total.

Severa (1993) sugere que o psicopedagogo institucional deve:

a. distanciar-se afetivamente segundo o "ambiente" em que pretende ingressar;

b. manter um "relacionamento harmonioso" com toda a equipe e superiores diretos e


indiretos, não confundindo: situações de conflitos que necessitam ser enfrentados;
relacionamentos afetivos e laços de amizade;

c. dominar a ansiedade, isto é, não pode e nem deve ter pressa;

d. efetuar sóbria, segura, estruturada e bem planejada observação;

e. aproximar-se do poder instituindo (chefes; supervisores; coordenadores; diretores;


presidente etc.), evitando, contudo a carga de estereótipos que temos contra esses atores
mandantes em seus "locus descontroles" e que condicionam os relacionamentos pessoais
e interpessoais - buscando sempre preservar pela qualidade do trabalho do que segurar o
emprego de um determinado ator.

Cabe, ainda, ao profissional da psicopedagogia assessorar a escola, prestar


consultorias etc. trabalhando o papel que lhe compete, seja propondo para com a
reestruturação de uma atuação da própria instituição junto a alunos e professores. Pode
também colaborar para com o redimensionamento do processo de aquisição e
incorporação do conhecimento dentro do espaço escolar, seja, por exemplo,
reconhecendo seus limites e então, encaminhando alunos para outros profissionais.

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