Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
HISTÓRIA DA MATEMÁTICA
05 a 08 de abril de 2009
Belém – Pará – Brasil
ISBN – 978-85-7691-081-7
CC 65
Sandra Magina
PUC/SP
sandra@pucsp.br
Aida Vita
UESC/ PUC/SP
aida_vita@hotmail.com
Resumo
O presente artigo é parte integrante de um estudo de doutoramento que pretende discutir como tem sido o
processo de institucionalização do Soroban em Escolas Regulares, caracterizadas como inclusivas no Sul
da Bahia e em São Paulo. Nesse contexto, voltamos o nosso interesse para a inclusão escolar de alunos
cegos respaldados em um conjunto de ações governamentais que promovem uma Educação Inclusiva para
todos. Buscamos conhecer sobre a mediação do Soroban na aprendizagem das operações fundamentais
por alunos cegos, fundamentando as nossas reflexões na Teoria de Instrumentação de Rabardel (1995) e
Verillon (1996). Em nossas incursões iniciais nas escolas do Sul da Bahia observamos que o Soroban tem
seu uso restrito aos alunos cegos e as professoras da sala de apoio, utilizam-no apenas reproduzindo os
algoritmos tradicionalmente ensinados na escola. A análise instrumental nos permitiu, por um lado,
compreender o papel mediador do Soroban na aprendizagem das operações fundamentais por alunos
cegos e, por outro, investigar o potencial desse recurso didático nas operações fundamentais. Por fim, a
análise sinalizou que a institucionalização escolar do Soroban está para além das leis, visto que ela
também depende do envolvimento de todos na construção de uma escola inclusiva.
S N H M – 2009 1
ISBN – 978-85-7691-081-7
VIII SEMINÁRIO NACIONAL DE
HISTÓRIA DA MATEMÁTICA
05 a 08 de abril de 2009
Belém – Pará – Brasil
ISBN – 978-85-7691-081-7
Sandra Magina
PUC/SP
sandra@pucsp.br
Aida Vita
UESC/ PUC/SP
aida_vita@hotmail.com
S N H M – 2009 2
ISBN – 978-85-7691-081-7
VIII SEMINÁRIO NACIONAL DE
HISTÓRIA DA MATEMÁTICA
05 a 08 de abril de 2009
Belém – Pará – Brasil
ISBN – 978-85-7691-081-7
Unidas (ONU) para discutir questões referentes à educação, ciência e cultura. Neste encontro se constatou
a persistência de inúmeras dificuldades relacionadas à garantia do direito à educação.
No ano de 1994, na Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais, em
Salamanca, Espanha, reconheceu-se a escola regular como o meio mais capaz de combater atitudes
discriminatórias e construir uma Educação para Todos. Nessa ocasião surgiu uma nova proposta de
Educação Inclusiva que proclamou, entre outros princípios, o direito de todos à educação,
independentemente das diferenças individuais.
Neste novo contexto, observamos que os princípios norteadores da Declaração de Salamanca têm
respaldo legal na LDB, nº 9394/96 (BRASIL, 1996), que no Capítulo V, Art. 58, define a rede regular de
ensino como a modalidade de educação escolar oferecida para os educandos portadores de necessidades
especiais.
Na busca de oferecer condições para a implementação do exposto na LDB nº 9394/96, foi
elaborado os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN): Adaptações Curriculares e Estratégias para a
Educação de Alunos com Necessidades Educacionais Especiais (1998). Esse documento oferece aos
educadores referências para a identificação dos que podem necessitar de adaptações curriculares, bem
como os tipos de adaptações possivelmente necessárias, as quais devem resguardar o caráter de
flexibilidade e dinamicidade curricular. O PCN chama atenção para evitar a cristalização do ato
pedagógico igualmente produzido para todos na sala de aula.
Vale salientar que o PCN reconhece que a escola não dispõe sempre de uma estrutura apropriada
para realizar um fazer pedagógico adequado a que o educando deve se adaptar a ela, portanto o documento
salienta que o aluno e a escola devem se aprimorar para alcançar a eficiência da educação a partir da
interatividade mútua.
Apesar de todas essas ações governamentais, Carvalho (2001) afirma que ainda é preciso buscar
compreender o significado de inclusão, conceito presente no palco das discussões sobre a construção de
uma escola inclusiva ou integradora. Entendemos por integração escolar, conforme exposto na Política
Nacional Especial (1944), a participação efetiva de todos os integrantes do processo de aprendizagem
gradual e dinâmico de acordo com as necessidades e habilidades dos alunos envolvidos. No entanto, as
escolas integradoras apresentaram a necessidade de reestruturar a Educação Especial numa dimensão
inclusiva, conceito que supõe garantir a integração, tornando possível uma educação de qualidade a todos,
sem nenhum tipo de exclusão (MARCHESI, 2004).
S N H M – 2009 3
ISBN – 978-85-7691-081-7
VIII SEMINÁRIO NACIONAL DE
HISTÓRIA DA MATEMÁTICA
05 a 08 de abril de 2009
Belém – Pará – Brasil
ISBN – 978-85-7691-081-7
Recentemente, buscando minimizar os desafios apresentados na construção de uma escola
inclusiva, o Decreto nº 6.571 (de 17/09/2008), em seu Art. 1o, dispõe que a União prestará apoio técnico e
financeiro aos sistemas públicos de ensino, com a finalidade de ampliar a oferta do atendimento
educacional especial na rede pública de ensino regular. Este atendimento refere-se ao conjunto de
atividades, de recursos pedagógicos e acessibilidade, organizados institucionalmente. A lei prevê que este
atendimento seja prestado de forma complementar, ou suplementar, à formação dos alunos no ensino
regular, integrando a proposta pedagógica da escola e com a participação da família.
Amparados nesse conjunto de ações governamentais para promover a inclusão de todos, voltamos
nosso interesse em investigar sobre a inclusão de alunos cegos em escolas regulares, a partir da reflexão
sobre o processo de institucionalização de suas ferramentas de aprendizagem em Matemática. Tal
investigação sofreu influência direta do Artigo 1º da Conferência Mundial sobre a Educação para Todos
(1990) que expõe que cada pessoa - criança, jovem ou adulto - poderá aproveitar as oportunidades
educativas destinadas a satisfazer suas necessidades básicas de aprendizagem, incluindo as ferramentas
essenciais e os conceitos básicos nesta aprendizagem.
Dessa forma, o presente artigo é parte integrante de um estudo de doutoramento que pretende
discutir como tem sido o processo de institucionalização do Soroban em Escolas Regulares, caracterizadas
como inclusivas no Sul da Bahia e em São Paulo.
S N H M – 2009 5
ISBN – 978-85-7691-081-7
VIII SEMINÁRIO NACIONAL DE
HISTÓRIA DA MATEMÁTICA
05 a 08 de abril de 2009
Belém – Pará – Brasil
ISBN – 978-85-7691-081-7
da própria Matemática, por fim a CBS ainda enfatiza que tais metodologias podem dificultar o domínio
desta ferramenta, convertendo-o em algo rígido, enfadonho e pouco prazeroso para os deficientes visuais.
Em 2004, foram disponibilizados pela Secretaria de Educação Especial - SEESP/MEC às
Secretarias Estaduais e Municipais de Educação e Distrito Federal para distribuição aos alunos com
deficiência visual. Vale salientar que a partir desta distribuição foi detectado o pouco domínio do Soroban
dos alunos. (FERNANDES et al., 2006).
Assim, em 2006 o MEC/SEESP buscando solucionar o pouco domínio detectado, publicou e
distribuiu um material didático-pedagógico produzido pela CBS e intitulado “A Construção do Conceito
de Número e o Pré-Soroban”. Este material é embasado nas duas metodologias de uso e ensino do
Soroban vigentes no Brasil colaborando, assim, com a transformação do sistema educacional inclusivo.
Vale salientar que a instituição de Leis que amparam o direito de Educação Inclusiva em Escola
Regular tem incrementado a procura dos deficientes visuais por vagas nessas escolas. Assim, nos últimos
anos, as escolas brasileiras, buscando se adequar a essa nova demanda, têm trazido ao palco das
discussões educacionais o uso do Soroban por pessoas com deficiência visual.
I - Soroban
Tarefa
S(i)-O
S-i i-O
O - Operações
S - Cego
S-O
Figura 2. Modelo SAI na pesquisa
Concordamos com Vygotsky (2000) que a relação do homem com o mundo é mediada pelos
instrumentos e signos. No caso específico da deficiência visual, o conhecimento é mediado basicamente
pelo sistema auditivo/fonador e pelo sistema háptico/tato ativo.
Neste contexto, o modelo SAI nos permite, por um lado, compreender o papel mediador do
Soroban na aprendizagem das operações fundamentais por alunos cegos e, por outro, investigar o
potencial desse recurso didático nas operações fundamentais. Nessa ótica o Soroban atua como um
instrumento para fazer pensar, permitindo diferentes formas de registro numérico.
Conseqüentemente, esses conhecimentos nos possibilitam contribuir para institucionalização dessa
ferramenta na escola regular, bem como, estimular os professores a fazerem uso deste instrumento em seu
trabalho pedagógico, incluindo os alunos cegos e seus instrumentos. No entanto, esse trabalho demanda
um processo de adaptação e conscientização de todos os envolvidos nessas escolas para as necessidades
do aluno cego, minimizando os desafios em seu processo de aprendizagem da Matemática.
S N H M – 2009 8
ISBN – 978-85-7691-081-7
VIII SEMINÁRIO NACIONAL DE
HISTÓRIA DA MATEMÁTICA
05 a 08 de abril de 2009
Belém – Pará – Brasil
ISBN – 978-85-7691-081-7
Figura 3. Luzia operando com o Soroban e utilizando seus dedos como instrumento
Fonte: Vita et al (2008).
Investigando a relação S(i)-O podemos pontuar que para Luzia o Soroban é um instrumento de
cálculo, sendo fundamental seu papel mediador nos cálculos feitos por ela. No entanto, em seu processo
de gênese instrumental, Luzia demonstra apenas saber utilizá-lo reproduzindo o algoritmo que aprendeu
na escola.
Salientamos que ainda é desafiador para a escola esse contexto das quatro operações fundamentais,
tem-se buscado minimizar tais desafios a partir de alternativas que substituam a aprendizagem mecânica
com uso do algoritmo os quais aparecem carregados de expressões como “vai um” ou “toma emprestado”.
Assim, a utilização do Soroban, poderá contribuir para minimizar esses desafios, bem como, colaborar
para que os alunos cegos compartilhem com seus colegas o manuseio de seus instrumentos.
Um caminho a percorrer...
A necessidade de sermos educadores para todos nos induz a buscar formas que potencializem uma
aprendizagem que, também, envolva a todos. A inclusão escolar dos diferentes se faz tanto pela adaptação
dele ao nosso meio, quanto pelo nosso ajustamento às suas possibilidades de aprendizagem. No entanto, a
formação pedagógica do educador conflita, na maioria das vezes, com as necessidades especiais
requeridas por seus alunos, visto que, nem sempre ele possui domínio sobre as formas de se comunicar e
sobre os instrumentos que promovem a aprendizagem deles. Os alunos cegos, os mais interessados pela
aprendizagem do uso do Soroban, ficam a mercê de uma formação específica dos professores, na qual
essas ferramentas estariam presentes.
Entendemos que a institucionalização do Soroban está para além das leis, visto que ela depende de
uma certa conscientização dos envolvidos. Assim, é necessário envidar esforços para compreender o
S N H M – 2009 9
ISBN – 978-85-7691-081-7
VIII SEMINÁRIO NACIONAL DE
HISTÓRIA DA MATEMÁTICA
05 a 08 de abril de 2009
Belém – Pará – Brasil
ISBN – 978-85-7691-081-7
potencial dessa ferramenta e o processo de gênese instrumental com ela, voltada para aprendizes cegos e
videntes.
Neste sentido o Modelo SAI apresenta-se como um possível caminho de pesquisa e ação didática,
na medida em que nos permite conhecer como o aprendiz cego lida com o objeto matemático (operações
fundamentais), mediado por um instrumento eficaz (Soroban).
Por fim, entendemos que o uso do Soroban não pode, nem deve, ser restrito para os alunos cegos,
tendo em vista que esta ferramenta traz no seu bojo formas alternativas de lidar com os números e
operações, o que poderá contribuir significativamente para a aprendizagem de conceitos matemáticos.
Referências Bibliográficas
BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais: Adaptações Curriculares / Secretaria de Educação
Fundamental. Secretaria de Educação Especial. Brasília: MEC/SEF/SEESP, 1998. 62p.
BRASIL. Secretaria de Educação Especial. Brasília: MEC/SEESP. Lei nº 9394/96 – LDBN. Disponível
em: http://portal.mec.gov.br/seesp/index.php?option=content&task=view&id=159&Itemid=311, 1996.
Acesso em: 05 de jul. 2007.
BRASIL. Secretaria de Educação Especial. Brasília: MEC/SEESP. Portaria nº 1.010/2006, de 11 de maio
de 2006. Disponível em: http://www.universia.com.br/html/noticia/noticia_dentrodocampus_cjfcg.html .
Acesso em: 05 de set. 2007.
BRASIL. Secretaria de Educação Especial – SEESP. Decreto nº 6.571 (17/07/2008). Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Decreto/D6571.htm
Acesso em : 05 de out. 2008.
FERNANDES, C. T. et al. (2006). A construção do conceito de número e o Pré-Soroban. Secretaria de
Educação Especial. Brasília: MEC/SEESP.
Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/seesp/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=150 Acesso em 20 de mar
2008.
MARCHESI, A. (2004). Da Linguagem da deficiência às escolas inclusivas. In: COLL, C.; PALACIOS,
J.; MARCHESI, A. (Org). Desenvolvimento Psicológico e Educação 3: Transtornos de desenvolvimento
e necessidades educativas especiais. Tradução Fátima Murad. 2ª Ed. Porto Alegre: Artes Médicas, Cap. 1
e 2.
S N H M – 2009 10
ISBN – 978-85-7691-081-7
VIII SEMINÁRIO NACIONAL DE
HISTÓRIA DA MATEMÁTICA
05 a 08 de abril de 2009
Belém – Pará – Brasil
ISBN – 978-85-7691-081-7
PEIXOTO, Jurema L. B.; SANTANA, Eurivalda, R. dos S. e CAZORLA, Irene M. Soroban: uma
ferramenta para a compreensão das quatro operações. Itabuna-BA: Via Litterarum, 2006.
RABARDEL, Pierre. Les hommes et les technologies: approche cognitive des instruments
contemporains. Paris: Armand Colin, 1995. 239 p.
VERILLON, Pierre. La problématique de l’enseignement: Un cadre pour penser l’enseignement du
graphisme, Revue GRAF & TEC. v. 0 n° 0, Université Fédérale Santa Catarina, Brésil. 1996.
VITA, Aida Carvalho; HENRIQUES, Afonso; CAZORLA, Irene. Mauricio; SALAZAR, Jesus Victoria
Flores. Reflections about the use of the Soroban with blind students within the Brazilian school
system. In: ICME 11 - 11th International Congress of Mathematical Education, México, 2008.
VYGOTSKY, L. S. (2001). A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes.
S N H M – 2009 11
ISBN – 978-85-7691-081-7