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Capítulo 99

Lutei contra a sensação de ser arrastado para dentro de um buraco negro


e usei todas as minhas forças para conseguir me mover. Embora se possa
dizer que apenas tive a impressão de que me movi. Quando finalmente
consegui mexer uma parte do meu corpo foi que minha consciência
despertou. As folhas das árvores flutuavam acima da minha
cabeça. Parecia que eu estava em uma densa floresta de natureza
exuberante.

“Ah, é verdade... Depois de me encherem de comida, eles me


abandonaram nesse círculo mágico, não foi? Pode ter sido para que eu
aprendesse a etapa de expulsar a energia mágica, mas aquela dupla de
velhos me enganou direitinho.”

Meu corpo estava cansado e eu não tinha qualquer força restando.


Pensando bem, o meu estômago estava completamente vazio. Talvez esse
cansaço fosse por causa da fome. Enquanto ainda olhava para cima, um
som de folhas sendo pisadas veio de trás de mim. Eu estava muito
cansado para me levantar, então apenas virei a cabeça para ver o que era.

…Foi Eliza. Ela estava sentada ao meu lado e por algum motivo, segurava
um sanduíche nas mãos. Percebendo que eu tinha acordado, seus olhos se
arregalaram um pouco, mas ela continuou a comer o sanduíche.

— Eliza... você ficou aqui cuidando de mim todo esse tempo?

— Ah, Não. Você dormiu o tempo todo, então fiquei jogando com os
outros. O Moran-ji disse que você deveria acordar em breve e me pediu
para lhe trazer um pouco de comida. É por isso que estou aqui.

“Ahh, entendi. Ela estava no jogo de tabuleiro, hein... Ah, tanto faz.”

Tive a sensação de que dormi por um longo tempo, então, na verdade,


seria um absurdo ter esperado que ela aguardasse esse tempo todo.
— Certo, então você me trouxe alguma coisa para comer. Obrigado Eliza,
você não faz idéia de como estou com fome agora.

— Kururi-sama… Eu... eu sinto muito… Temo que posso ter comido o seu
sanduíche.

“POR QUE, ELIIIIIIIIIIIZA???”

— Fiquei esperando aqui por tanto tempo que acabei por impulso… Eu
sinto muito. O sanduíche estava tão delicioso que não consegui me
controlar. Não tinha nada que pudesse me impedir...

Ela olhou para o chão com uma cara tão triste que me senti muito mal por
culpá-la sendo que ela teve todo o trabalho de trazer comida até aqui. Eu
nem estava tão bravo assim mesmo.

— Está tudo bem, Eliza. Vou comer alguma coisa quando voltarmos para a
casa de Petel. Odeio ter que pedir isso, mas teria como você me dar uma
mão? Eu mal posso ficar de pé agora, muito menos conseguir andar
sozinho.

— Sim, claro! Terei prazer em ajudá-lo assim que terminar de comer o


sanduíche!

“DÁ ISSO PRA MIM, DIABO!”

Se bem que talvez não seja uma experiência tão ruim... A Eliza está
fazendo uma cara tão fofa enquanto come. Seu sorriso é tão lindo... Foi
até engraçado a reação dela quando o sanduíche entalou na garganta.

— Heeh.

— Hã? O que foi?

— Não, é só que você é tão determinado. É divertido ficar te olhando


assim, sabe?
— Mesmo? É tão engraçado assim? Bem… se isso te faz feliz, então pode
me olhar o quanto quiser!

Rimos o caminho todo até a casa de Petel. Caminhar colado nela


enquanto sentindo o seu cheiro foi muito agradável. Fico impressionado
que alguém consiga se manter perfumado mesmo em um lugar tão estéril
como esse. Poderia ser algo a ver com seus genes? A nível celular? Sim,
definitivamente é algo genético! Não sei porque eu estava me sentindo
orgulhoso, mas isso só mostrava como ela cheirava bem.

— A verdade é que… eu falhei na hora fazer o sanduíche de hoje. Tentei


prová-lo um pouco e… ah não! Tinha um gosto horrível! Então pensei,
“Não posso deixar o Kururi-sama coma isso”...foi assim que decidi comê-
lo sozinha.

— Por acaso não sabe da minha capacidade de comer qualquer coisa que
você fizer e ainda achar delicioso?

— Fufufu... Vou me lembrar disso da próxima vez.

◇◇◇

Quando chegamos à casa de Petel, pude comer uma sopa caseira que a
Eliza preparou para mim. Comer algo quente depois de acordar é ótimo. A
comida cai muito bem no estômago. Enquanto eu comia, os velhos Moran
e Petel me explicaram o resultado da investigação deles. Parecia que o
terceiro passo tinha corrido bem, mas também me falaram um detalhe
chocante.

— COMO É QUE É!? EU DORMI MESMO POR UMA SEMANA


INTEIRA!? SÉRIO!?
— É isso mesmo, Jovem Mestre. Sendo bem sincero, parecia até que o
senhor estava morto.

“Ei, qual é a dessa comparação sinistra!? Bom, pelo menos eu estou


bem.”

— Também achei que você tivesse morrido, nari!

“Ele realmente não sabe escolher bem suas palavras...”

— O senhor não deveria fazer gente velha como nós se preocupar tanto,
Jovem Mestre.

Eles podiam até dizer isso, mas não era como se eu pudesse fazer alguma
coisa. Antes que eu percebesse, fui entupido de comida e depois me
colocaram para dormir.

— Ficamos tão preocupados que até pedimos para Eliza-sama tentar lhe
despertar com um beijo. Mas depois de pensar logicamente, vimos que
não haveria qualquer propósito.

“POR QUE SÓ USAM A CABEÇA QUANDO NÃO É PRECISO, HEIM???”

— De todo modo, fico feliz que tudo deu certo. Tudo está bem quando
acaba bem.

“Ah, ele vai lá e termina o assunto como se não fosse nada, mesmo
depois de ter feito uma sacanagem monstruosa comigo.”

— Talvez você esteja certo. Já que tudo foi tão bem, deveríamos aproveitar
o momento e ir direto para o quarto passo. Moran-ji, podemos fazer isso
agora?

— Claro, sei o que estou fazendo. No entanto, seria bom que o senhor
descansasse um pouco mais. A última parte será bastante cansativa
também.
“Cansativa, hein... essa não é a parte de absorver a energia mágica com
a propriedade da morte? Não sei qualquer detalhe, mas será intensa…
Vão me mandar tomar veneno?”

Eu me preparei para começar o quarto passo com a mesma mentalidade


de um rato de laboratório. Depois disso, nem Petel, nem o Velho Moran
disseram mais nada para mim. Tinha mesmo alguma razão para não me
dizerem nada específico? Por outro lado, percebi que os dois cochichavam
muito com Eliza. Talvez a estivessem dizendo alguma coisa
importante. Poderia ser sobre a magia usada para a próxima etapa? Eu
entendi que esse era o caso alguns dias depois. Eliza me contou, depois
que os dois confirmaram que minha condição de saúde havia voltado ao
normal, que seria o papel dela liberar o feitiço com a propriedade da
morte.

— Vai ser algo muito perigoso. Enquanto você dormia, eu aprendi sobre
todos os perigos que envolvem este feitiço. Na pior das hipóteses, é bem
possível que você morra durante esse passo...

Eu já pressentia que seria assim e agora estava confirmado. Minha mente


estava preparada para encarar qualquer desafio, não importava o que
fosse. No entanto...

— Eu... eu não posso deixar que você assuma um fardo tão pesado assim,
Eliza...

— Não Kururi-sama. Se algo der errado, você pode acabar morrendo. Não
permitirei que mais ninguém se encarregue de usar esta magia.

Eliza me encarou com olhos inabaláveis. Ela era tão linda que eu me
sentia sendo sugado enquanto a olhava de volta, mas agora, a força de sua
determinação era ainda mais forte que a sua beleza. Em minha mente,
comecei a pensar que talvez fosse melhor deixá-la se encarregar dessa
missão. Não, eu queria que ela fizesse isso. Eliza era a única pessoa que eu
deixaria cuidar do último passo.

— Se... Se é para o Kururi-sama morrer! Eu mesma irei matá-lo!


…E foi isso o que ela disse. Soava meio que assustador a forma como tinha
falado, mas a intenção era boa, portanto o melhor seria não levar tão a
sério.

— Isso é algo que ninguém vai me persuadir! Se for preciso, vou espremer
até seu último suspiro com minhas próprias mãos!

“Ei, já não estamos passando dos limites aqui??? A intenção é que eu


saia vivo disso e não para tentar me matar!!!”

Talvez fosse melhor evitar discutir por besteira. Caso contrário, a


resolução de Eliza poderia seguir uma direção ainda pior.

— Hohoho, mas que cena tocante. Houve um tempo em que também tive
uma paixão tão ardente.

“Você só pode estar tirando com a minha cara! Eu duvido que a garota
que você gostava tenha te declarado sua intenção assassina!”

— É quase ofuscante, nari. Isso me faz relembrar do passado, nari.

“Talvez eu simplesmente não soubesse disso e esses dois tiveram casos de


amor tão perigosos quanto o meu... Não, não pode ser! Não tem como
isso ser normal!”

— Não é tão difícil usar o feitiço com as propriedades da morte. Eu pude


aprender enquanto você dormia.

— Entendo. Acho que vou deixar tudo para você então.

— Sim, mas também há algo que você deve fazer também. As pessoas
mantêm seu poder constantemente ativado para resistir a qualquer
feitiço, especialmente aqueles com efeitos negativos. Então a magia com
as propriedades da morte normalmente teria força zero quando atingisse
uma pessoa comum.

— Em outras palavras, preciso me livrar dessa resistência. É isso?


— Exatamente. Você precisa acreditar em mim e aceitar tudo.

Concentrei-me na fina camada de magia que me cercava e a trouxe de


volta para dentro do meu corpo. Mesmo em lugares onde eu normalmente
não estava consciente, toda a magia foi trazida e contida. Nesse estado,
até mesmo o menor dos feitiços com as propriedades da morte
desencadeado por uma pessoa mal-intencionada, me mandaria para a
vida após a morte. Ou pelo menos era o que eu sentia, mas a outra pessoa
era Eliza e sabia que podia confiar nela.

Embora tenha sido um pouco tarde, comecei a pensar, e se Eliza fosse à


única pessoa no mundo cuja magia com as propriedades da morte eu
poderia absorver sem resistência? Se fosse o velho Moran, Petel ou até
mesmo outros que não estavam aqui, como Iris e Lahsa, eu
provavelmente, mesmo que por um momento, mostraria sinais de
resistência quando desencadeassem a magia.

No entanto, eu não faria tal coisa com Eliza. Com ela, eu poderia me
entregar por completo, afinal ainda não lhe contei claramente os meus
sentimentos. Eu estava apaixonado por ela e adorava sua essência, sua
verdadeira essência. Não tinha como meu corpo rejeitá-la. Ela disse que
se fosse para eu morrer pelas mãos de alguém, que ao menos fosse pelas
mãos dela. Da mesma forma, se eu tivesse que morrer, queria que fosse
nos braços de Eliza.

E se, e se não fosse uma coincidência que nos encontramos aquele dia na
floresta? O nosso encontro aconteceu porque tinha de ser assim. Nesse
caso, então tudo acabaria bem...

— Eliza, quando você estiver pronta, pode lançar o feitiço. Eu já estou


preparado.

— Sim…!

Eliza começou a recitar o encantamento. A magia que começava a emergir


não era muito grande, mas tinha uma aparência sombria como nunca
tinha visto antes. Então, essa era a magia com as propriedades da morte…
Quando o feitiço ficou completo, uma esfera negra apareceu ao meu
alcance. Ela iria lançar isso em mim?

Relaxando os meus músculos, esperei por esse momento. Ao comando de


Eliza, a esfera negra disparou em minha direção a grande velocidade e me
atingiu no centro do peito. Quando entrou em mim, pude sentir que a
tinha sido absorvido em um instante.

Meu corpo estava frio, muito frio, como se estivesse deitado na neve
durante o inverno. Não havia sensação na ponta dos meus dedos, mas eu
podia pelo menos ficar de pé. Não era uma sensação de completa
frieza. No fundo, havia um calor fraco que emana. Lá, eu podia sentir toda
a emoção que Eliza havia colocado nesse feitiço.

Uma vez que me acostumei com aquele estado, pouco a pouco fui capaz de
absorver o que estava acontecendo ao meu redor. Eliza estava olhando
para mim com uma expressão preocupada. O velho Moran e Petel
estavam encharcados de suor frio. Foi uma reação muito assustadora.

— E…liza. Está tudo bem. Não vou morrer por causa do seu feitiço... eu
prometo. Além disso, não posso partir ainda. Há muitas coisas que
preciso fazer!

Depois de colocar essas palavras para fora, perdi toda a habilidade de


controlar meu corpo, como se meu sangue tivesse sido drenado. Foi
apenas um segundo de tontura, mas me fez cair para trás. No entanto, não
houve impacto. Eliza me pegou antes que eu caísse no chão.

— Eu... sinto muito. Como homem... eu que deveria estar te apoiando...

— ...Hoje será apenas uma exceção.

— Obrigado…

O Feitiço Supremo de Helan estava completo.


“Agora eu sei. Um redemoinho muito maior do que qualquer coisa que já
conheci acabou de despertar em mim.”

Com isso, finalmente concluímos os preparativos necessários para iniciar


a batalha contra a maldição.
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