Вы находитесь на странице: 1из 8

História da Antropologia: Autores Clássicos I

João Lucas Moraes Passos

Entre a história e a sociologia: os métodos de Boas e Radcliffe-Brown

No início do século XX, a Antropologia encontrava-se divida em dois grandes

paradigmas. De um lado do Atlântico, tínhamos o culturalismo norte-americano

praticado por Boas e seus alunos. Do outro do atlântico, na Grã-Bretanha, tínhamos

uma antropologia que gradativamente abandonava as ideias de Frazer e Tylor para

uma visão mais “sociológica” dos fatos. A divisão mostra-se presente até hoje nos

programas de antropologia dos Estados Unidos e do Reino Unido. No primeiros caso,

rotula-se a disciplina Antropologia Cultural, enquanto no segunda ela recebe a

alcunha de Antropologia Social. Esses dois paradigmas têm como “mentores”

intelectuais Boas e Radcliffe-Brown. Assim sendo, este trabalho busca lançar um

olhar sobre as proposições desses autores, em especial no que se refere à metodologia,

procurando as diferenças e intersecções nas duas “agendas” antropológicas.

No que se refere a Boas, podemos definir como ponto de partida da análise o

artigo “As limitações do método comparativo” (2004 [1896]) e perceber pequenas

diferenças em relação a outro artigo de cunho metodológico que apareceria pouco

mais de duas décadas depois, quando já havia estabelecido uma dominância no

cenário antropológico norte-americano. Refiro-me a “Os métodos da etnologia” (2004

[1920]).

Essas duas décadas entre um artigo e outro coincidem justamente com o

período em que Radcliffe-Brown começa a ganhar destaque na Antropologia

britânica. Proponho que atenhamo-nos também ao desenvolvimento de seu

pensamento, que vai desde seu maior apreço pela diacronia no início do século XX e
culmina em um período de maior maturidade dos seus pressupostos teóricos como

bem exemplificado na Huxley Memorial Lecture de 1951 (“The comparative method

in Anthropology” (1951). Antes, porém, é de bom grado apresentar as propostas

metodológicas dos dois autores para a Antropologia.

A antropologia de Boas

Boas nasceu na Alemanha e lá fez seu doutorado em Geografia. Seu interesse

a princípio era a Geografia física – sua tese foi sobre a o reconhecimento de cores da

água (Lowie, 1943) – mas seu professor foi aos poucos direcionando-o para um lado

mais histórico e etnográfico da Geografia. Dois anos após conseguir o título de

doutor, Boas participou de uma expedição expedição à Baffinland – com interesses

geográficos, lembre-se –, onde teve contato com os Inuit. Essa viagem, que acabou

rendendo a monografia “The Central Eskimo”, foi decisiva para sua virada para a

Antropologia.

Em 1986, já quase uma década após ter se mudado para os Estados Unidos,

Boas publicou um artigo em que critica o método comparativo evolucionista e

começa a definir grande parte da agenda antropológica norte-americana que ainda

hoje sente sua influência. Nesse artigo, Boas lembra que as atenções do mundo se

voltaram para a Antropologia depois que, a partir das similaridades culturais

encontras ao redor do globo, foi-se sugerido que o desenvolvimento da humanidade

era governado por leis gerais que poderiam ser aplicadas à própria sociedade

ocidental. Iniciou-se então um período marcado pelo método comparativo, que

buscava descobrir que leis eram essas tendo como proposição basilar a ideia de um

caminhar humano único calcado na uniformidade psíquica da humanidade. Mas para

Boas, instituições semelhantes não significam histórias semelhantes. Em lugares


diferentes, um fator comum pode ter um desenvolvimento histórico bastante distinto,

impedindo generalizações pautadas em análises superficiais de povos

geograficamente distantes. Por essa razão, a pergunta “quais as origens das ideias

universais?” não possui resposta simples. Sendo assim, a Antropologia deve se

concentrar em tentar responder a outra pergunta, a saber, “como essas ideias se

desenvolveram em diferentes culturas?”. E esse processo – é esse o termo que

utilizado por Boas para definir o objeto da Antropologia – é influenciado por fatores

ambientais, psicológicos e sociológicos1.

Atentando-se para o processo ocorrido em diferentes contextos, Boas formula

sua crítica ao método comparativo mostrando exemplos de instituições bastante

distribuídas, mas com desenvolvimentos distintos em cada lugar. Já que “like effects”

não significa necessariamente “like causes”, Boas postula que a comparação só deve

se dar quando atestada a “comparabilidade” do material, ou seja, após estudos

detalhados de povos vizinhos que compartilhem determinados traço culturais. Dessa

forma, Boas define seu método como “estudo detalhado de costumes em sua relação

coma cultura total da tribo que os pratica, em conexão com uma investigação da sua

distribuição geográfica entre tribos vizinhas, propicia-nos quase sempre um meio de

determinar com considerável precisão as acusas históricas que levaram à formação

dos costumes em questão e os processos psicológicos que atuaram em seu

desenvolvimento”(:33). Ao restringir a comparação para regiões pequenas e bem

definidas, Boas se afasta do “antigo” método histórico que colocava lado a lado

elementos de culturas geograficamente muito distantes. Ao antigo método histórico,

1
Aqui Boas se refere ao aumento populacional. Pergunto-me se ele tem em mente o então
recém-publicado “Divisão do Trabalho Social” (Durkheim, 1893) que postulava que o
aumento demográfico conduzia a passagem da solidariedade mecânica para a solidariedade
orgânica.
creio que ele se refere às conjecturações do difusionismo de Ratzel, com qual teve

contato quando ainda residia na Alemanha.

Mais estabelecido como um grande nome da Antropologia, em 1920 (“Os

métodos de Etnologia”) Boas formula críticas aos métodos postos em prática pelo

evolucionismo cultural e pelo difusionismo dando “nome aos bois”, diferentemente

do que faz no artigo acima apresentado. Segundo Boas, ambas as escolas utilizam os

dados para ilustrar pressupostos e não para prová-los, produzindo uma argumentação

tautológica. Esses pressupostos seriam “a uniformidade da mente humana”, no caso

evolucionista, e as conexões de migração e difusão entre partes distantes do globo – o

que acabou por gerar a alcunha de world-diffusionism – no caso difusionista. Vale

lembrar que Boas também pratica um difusionismo, mas de outro modo. Ao mesmo

tempo que sua análise de difusão restringe-se a regiões bem delimitadas, ele

acrescenta como causa ao desenvolvimento dos traços culturais os processos internos

à cada cultura. Notemos que no artigo de 1896, ele fala em processos que ocorrem em

cada povo. Em 1920, mais seguro do dinamismo cultural que marca sua teoria, ele

utiliza a expressão “mudança cultural”. Não dispondo de evidências concretas – a não

ser no caso de se dispor de descobertas arqueológicas relevantes – para atestar a

mudança, Boas sugere que o método se dá por inferências indiretas: “comparação de

fenômenos estáticos, combinada com o estudo de sua distribuição”. Isso leva Boas a

admitir que esse método indireto nunca poderá gerar dados incontestáveis, mas

apenas “esboços gerais amplos com alto grau de probabilidade”(:45).


a Sociologia comparada de Radcliffe-Brown

É justamente essa inferência indireta que constitui para Radcliffe-Brown a

origem de toda a desconfiança em relação à análise histórica nos estudos de sociedade

ágrafas. Não dispor de fontes históricas seguras invalida a investigação diacrônica.

Por isso, na introdução de “Estrutura e função na sociedade primitiva”, escrita em

1952, diferencia a etnografia – que ele liga à corrente boasiana em maior parte – da

história, pois a primeira deriva seus dados da observação e não de fontes

“cientificamente” confiáveis. Em “The comparative method in Anthropology” (1951),

Radcliffe-Brown defende que a Sociologia comparada é a via para o estudo teórico do

“fenômeno social humano”. A sociologia comparada pauta-se na análise sincrônica

dos fatos observados. Radcliffe-Brown retirou essa ideia da leitura das “Regras do

Método Sociológico, onde, no quinto capítulo, Durkheim defende essa orientação

(Durkheim, 1895 apud Stocking, 1988).

Mas vale lembrar que nem sempre foi assim. As primeiras versões de

Andaman Islanders tinham um viés explicitamente diacrônico, boasiano poderia se

dizer. Mas a leitura sistemática de Durkheim, afastou cada vez mais Radcliffe-Brown

das ideias de evolucionistas de Rivers. Eventualmente, ele acabou classificado por

Lowie (1937) como um “sociólogo francês”. Mauss também o considerava como tal e

ele próprio fazia essa afiliação teórica (Fourmier, :294).

Em lugar do fato social durkheimiano, Radcliffe-Brown mirava a “estrutural

social”. Por estrutura social, Radcliffe-Brown entende “espécie de ajuste ordenado

das partes ou dos componentes”. As partes são as pessoas, consideradas não como

organismo, mas como ocupando uma posição social. A estrutura social é tão real

como as pessoas, e pode ser abstraída empiricamente da observação. É sintomático da

proximidade desse conceito com aquele de fato social uma passagem de Radcliffe-
Brown: “At the present day there is an arrangement of persons into nations, and the

fact that for seventy years I have belonged to the English nation, although I have lived

much of my life in other countries, is a fact of social structure.” (Radcliffe-Brown,

1952: 10, ênfase minha).

O estudo sincrônico da estrutura social dos povos primitivos era o elemento

sui generis da Antropologia de Radcliffe-Brown, assim o fato social o era para a

Sociologia. Por essa razão, o autor inglês considera que a Antropologia social é um

ramo da Sociologia. Assim ele diferencia ela da Etnologia praticada por Boas:

ideográfica, que busca reconstruir a história de regiões e povos particulares. A

Antropologia seria, por outro lado, nomotética, aquela capaz de formular leis gerais.

Lembremos que para Boas – o próprio Radcliffe-Brown nos lembra aliás – a

Antropologia é a junção dessas duas coisas, mas a segunda só seria possível quando a

primeira estivesse bastante avançada.

os dois métodos em jogo

Convém agora chamar atenção para algumas semelhanças e diferenças entre

os dois paradigmas apresentados. Talvez a análise de um termo que os dois autores

utilizam em comum, mas com significados diferentes, pode ajudar a ilustrar melhor a

comparação.

Tomemos o caso de “processo”. Mostrei que Boas utiliza a palavra para

definir o objeto da antropologia norte-americana, que consistiria nas transformações

pelas quais uma cultura passaria, transformações deduzidas a partir de estudos

detalhados de um povo e dos seus vizinhos. Radcliffe-Brown também defende que os

“processos” são o objeto da Antropologia, mas ele tem uma ideia bastante diferente.

Na introdução de “Structure and Function in Primitive Society”, preocupado na


definição clara de conceitos necessária a uma ciência bem estabelecida, ele procura

definir alguns conceitos que julga importantes. Entre eles está o de “processo social”,

que seria enorme multidão de ações e interações de seres humanos, agindo como

indivíduos em combinação ou grupos. Os aspectos gerais significativos desse

processo constitui a forma de vida social de um determinado povo.

Podemos perceber os dois paradigmas em ação na análise que totemismo. É o

exemplo utilizado por Radcliffe-Brown para ilustra o seu método. Ele procura

responder à questão “por que grupos sociais são associados a espécies naturais?”

Radcliffe-Brown recorre aos mitos australianos e percebe que neles os animais se

relacionam como os humanos se relacionam na vida em sociedade, com sentimentos

como amizade, solidariedade e conflito. Quando se tem uma divisão em dois grupos,

escolhe-se dois animais que se assemelhem em algum ponto mas que formem um par

de oposição em outro. Percebendo que esse fenômeno ocorre em diversas partes da

Austrália, Melanésia e América do Norte, Radcliffe-Brown postula que, quando existe

um estrutura social de metades exogâmicas, elas são pensadas como estando em uma

relação de oposição. A partir do caso particular de uma sociedade australiana, ele

passou por exemplos retirados ao redor de todo o mundo para fazer uma

generalização de que os totens representam as relações de “união de oposição” que se

dão entre clãs ou outros grupos exogâmicos. Em última instância, a própria

organização em grupos se daria devido a um processo inerente de classificação em

“oposições”.

No artigo de 1896, Boas condena generalizações do tipo que comparam povos

bastante distintos de continentes diferentes. Ele cita como, dentro do próprio

continente americano, diferentes povos chegaram a sua atual configuração clânica por

vias distintas. Alguns por divisão de um grupo maior, outros por reintegração, por
absorção de um grupo menor de um povo vizinho. Nota-se que as duas formulações

não necessariamente se contradizem, mas os caminhos pelos quais são feitas e os

aspectos mais focados mostram que elas possuem naturezas bastante distintas.

Referências

BOAS, Franz. Antropologia cultural. Zahar, 2004.

FOURMIER,

LOWIE, Robert. Franz Boas. Memoir 61, American Anthropological Association.

1943.

RADCLIFFE-BROWN, Alfred R. The comparative method in social anthropology.

The Journal of the Royal Anthropological Institute of Great Britain and Ireland, v. 81,

n. 1/2, p. 15-22, 1951.

STOCKING JR, George. Introcution. In: STOCKING JR., George. A Franz Boas

reader: the shaping of American anthropology, 1883-1911. University of Chicago

Press, 1989.

STOCKING JR, George. Dr. Durkheim and Mr. Brown. In: STOCKING JR, George.

Functionalism Historicized. The University of Winscosin Press, 1984.

FOURMIER, Marcel. Marcel Mauss: a biography. Princeton University Press, 1986.

Вам также может понравиться