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CAPÍTULO 1
UMA ANÁLISE FUNCIONAL DO COMPORTAMENTO
VERBAL
Os homens agem sobre o mundo, modificam-no e, por sua vez são modificados
pelas conseqüências de sua ação. Alguns processos que o organismo humano
compartilha com outras espécies alteram o comportamento para que ele obtenha
um intercâmbio mais útil e mais seguro em determinado meio ambiente. Uma vez
estabelecido um comportamento apropriado, suas conseqüências agem através de
processos semelhantes para permanecerem ativas. Se, por acaso, o meio se modifica,
formas antigas de comportamento desaparecem, enquanto novas conseqüências
produzem novas formas.
O comportamento altera o meio através de ações mecânicas, e suas propriedades ou
dimensões se relacionam freqüentemente, de uma forma simples, com os efeitos
produzidos. Quando um homem caminha em direção a um objeto, ele se vê mais
próximo deste; quando procura alcançá-lo, é provável que se siga um contacto
físico; se ele o segura, levanta, empurra ou puxa, o objeto costuma mudar de
posição, de acordo com as direções apropriadas. Tudo isso decorre de simples
princípios geométricos e mecânicos.
Muitas vezes, porém, um homem age apenas indiretamente sobre o meio do qual
emergem as conseqüências últimas de seu comportamento. Seu primeiro efeito é
sobre outros homens. Um homem sedento, por exemplo, em vez de dirigir-se a uma
fonte, pode simplesmente "pedir um copo d'água", isto é, pode produzir um
comportamento constituído por certo padrão sonoro, o qual por sua vez induz
alguém a lhe dar um copo d'água. Os sons em si mesmos são facilmente descritíveis
em termos físicos, mas o copo de água só chega ao falante como conseqüência de
uma série complexa de acontecimentos que incluem o comportamento de um
ouvinte. A conseqüência última, o recebimento de água, não mantém qualquer
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Formulações Tradicionais
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1. Ogden, C. K. e Richards, I. A., O significado do Significado (Nova Iorque, 1923).
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expressões. Mas nós não alcançaremos esse "algo" mesmo que expressemos uma
idéia de todas as maneiras concebíveis.
Outra resposta comum é o apelo às imagens. Diz-se que a idéia é aquilo que passa
pela mente do falante, aquilo que o falante vê, ouve e sente quando ele está "tendo"
a idéia. Foram tentadas explorações dos processos mentais subjacentes ao
comportamento verbal pedindo-se aos pensantes para que descrevessem experiências
dessa natureza. Mas apesar de alguns exemplos selecionados terem sido por vezes
convincentes, apenas uma pequena parte das idéias expressas em palavras pôde ser
identificada com o tipo de acontecimento físico sobre o qual repousa a noção de
imagem. Um livro sobre Física é muito mais do que a descrição das imagens das
mentes dos físicos.
Há, é óbvio, algo suspeito na facilidade com a qual descobrimos num conjunto de
idéias precisamente aquelas propriedades necessárias para explicar o comportamento
que as expressa. Nós, evidentemente, construímos as idéias à vontade, a partir do
comportamento a ser explicado. Não há, é claro, uma verdadeira explicação.
Quando dizemos que uma observação é confusa porque a idéia não é clara, parece
que estamos falando acerca de dois níveis de observação, embora só exista, de fato,
um único. É a observação que é confusa. Esta prática pode ter sido defensável
quando as investigações acerca dos processos verbais eram filosóficas, e não
científicas, e quando se pensava que uma ciência das idéias pudesse um dia ordenar
melhor o assunto; mas hoje o assunto é encarado de outra forma. É função de uma
ficção explicativa mitigar a curiosidade e levar a investigação a um fim. A doutrina
das idéias teve esse efeito na medida em que ela parecia transferir problemas
importantes do comportamento verbal a uma psicologia de idéias. Os problemas
pareciam então ir além do alcance das técnicas do estudante de linguagem ou
pareciam ter-se tornado excessivamente obscuros para qualquer estudo ulterior
proveitoso.
Talvez hoje em dia ninguém mais seja enganado por uma "idéia" como uma ficção
explicativa. Idiomas e expressões que parecem explicar o comportamento verbal em
termos de idéias são tão comuns em nossa língua que é impossível evitá-las, mas elas
podem ser pouco mais que figuras de retórica moribundas. A formulação básica
todavia foi preservada. O sucessor imediato da "idéia" foi o "significado" e o lugar
deste último está correndo o risco de ser disputado por um recém-chegado, a
"informação". Todos esses termos têm o mesmo efeito, o de desencorajar uma
análise funcional e o de copiar certas práticas inicialmente associadas com a
doutrina das idéias.
Uma conseqüência funesta é a crença de que a fala tem uma existência
independente do comportamento do falante. As palavras são encaradas como
ferramentas ou instrumentos, análogos a marcas, fichas ou bandeiras de sinalização
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que são, algumas vezes, empregadas para fins verbais. É verdade que o
comportamento verbal comumente produz entidades objetivas. A gravação de uma
fala, as palavras numa página, os sinais transmitidos por telefone ou telégrafo são
registros produzidos pelo comportamento verbal. Como fatos objetivos, todos eles
podem ser estudados, como já o foram ocasionalmente, pela lingüística, pela
engenharia de comunicações, pela crítica literária e por outras disciplinas. Mas
embora as propriedades formais dos registros das expressões vocais sejam
interessantes, temos de preservar a distinção entre uma atividade e seus traços.
Devemos, particularmente, evitar a formulação artificial do comportamento verbal
como "uso de palavras". Não temos maiores razões para dizer que um homem "usa
a palavra água" ao pedir para beber do que para dizer que ele "usa um instrumento
de alcance" ao pegar o copo oferecido. Nas artes, nos ofícios, nos esportes,
especialmente onde a instrução é verbal, os atos às vezes são nomeados. Dizemos
que um jogador de tênis usa um drop stroke2 ou que um nadador é campeão no
estilo crawl. Mas provavelmente ninguém se enganará quando nos referimos a drop
stroke e a crawl como coisas, mas as palavras são um assunto diferente. Uma
compreensão errônea tem sido comum e freqüentemente desastrosa.
Uma prática complementar tem sido a de atribuir uma existência independente aos
significados. O "significado", bem como a "idéia", tem sido entendido como algo
que é expresso ou comunicado por uma expressão vocal. Um significado explica a
ocorrência de um conjunto particular de palavras com o sentido de que, se houvesse
um significado diferente a ser expresso, um conjunto diferente de palavras teria sido
empregado. Uma expressão vocal será afetada dependendo de o significado ser claro
ou vago, e assim por diante. O conceito tem certas vantagens. Onde quer que
"idéias" (assim como "sentimentos" e "desejos", que são também considerados
como exprimíveis por palavras) devam estar no interior do organismo, há uma
possibilidade promissora de que os significados possam ser mantidos do lado de fora
da pele. Nesse sentido, eles são tão observáveis como qualquer parte física.
Podemos nós, porém, identificar de uma forma objetiva o significado de uma
alocução? Um argumento promissor pode ser apresentado no caso de nomes
próprios e de alguns substantivos comuns, verbos, adjetivos e advérbios — palavras
em relação às quais a doutrina das idéias dificilmente poderia ser sustentada por
meio do apelo às imagens. Mas, e no caso de palavras como átomo, ou gen, ou
menos um, ou o espírito do tempo, nas quais entidades não-verbais correspondentes
não são facilmente discerníveis? E para palavras tais como todavia, contudo, embora
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